Plano de Aula Merleau Ponty

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Plano de Aula

Área: Teoria do conhecimento

História da Filosofia: Filosofia Contemporânea.

Interdisciplinaridade: Filosofia da Arte, Filosofia da Linguagem, Ética e Psicologia da forma (Gestalt).

Objetivos:

Fazer compreender o esforço filosófico da corrente fenomenológica em repensar os fundamentos da racionalidade, retomando a clássica questão da relação sujeito-objeto, colocada desde o idealismo cartesiano na teoria do conhecimento, da qual manifesta e preserva o dualismo psicofísico da separação corpo-alma.

Secundário: Processo de sacralização e profanação do corpo à separação e integração corpo-consciência.

Metodologia:

Retomar de maneira linear a manifestação do corpo na história da Filosofia mostrando aos alunos como o homem sempre teve dificuldades em ver claramente e sem preconceitos o seu próprio corpo.

De maneira geral sempre houve na história da filosofia uma tendência em explicar o homem não como uma unidade, mas composto de duas partes diferentes e separadas: o corpo (matéria) e a alma (consciência), da qual chamamos dualismo psicofísico. Essa dicotomia corpo-consciencia já aparece no pensamento grego no século V A.C, com a idéia de que a alma antes de receber o corpo vive na contemplação, imaculando a idéia de pureza e perfeição. Depois da união da alma e corpo,

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todo drama humano consiste, para Platão, por exemplo, na tentativa de domínio da alma sobre as vontades do corpo.

No período do final da antiguidade com as diversas invasões e destruições fazem surgir interpretações pessimistas em relação às ações do homem, surge às manifestações moralistas que pregavam a busca da perfeição se afastando da fonte de todos os pecados – a vida mundana (o mundo, natureza). Partindo do principio de que o corpo é sinal de pecado e corpo inicia seu mais longo e doloroso período – flagelos, suplícios e tortura moral -

A filosofia cartesiana contribui para nova abordagem a respeito do corpo, Descarte inicia um processo de dúvida metódica, considerando que o homem é constituído de duas diferentes substancias – a pensante e a extensa de natureza material. Tal posicionamento determina a nova visão do corpo diferente da posição inicial, pois agora ele é corpo-objeto, associado à idéia mecanicista do homem máquina.

A posição da fenomenologia insiste na radicalização do inicio do

saber- quer superar não apenas a dicotomia corpo-alma como também

consciência-objeto e homem-mundo. Se o corpo não é mais uma coisa, nem

obstáculo ele se torna parte integrante da totalidade do ser humano, meu

corpo não é a coisa que tenho, eu sou meu corpo – ao estabelecer contato

com outras pessoas, eu me mostro pelos gestos, mímicas, olhares –

MOVIMENTO – ou seja, o corpo é mais que manifestação ele é expressão,

movimento, forma, vontade, intenção.

Assim a fenomenologia surge como Tratado científico sobre a

descrição e classificação dos fenômenos, que se propõe a ser uma ciência

do subjetivo, dos fenômenos e dos objetos como objetos.

Fenomenologia deriva das palavras gregas phainesthai que significa

aquilo que se mostra, e logos que significa estudo, sendo etimologicamento

então "o estudo do que se mostra".

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Na filosofia de Edmund Husserl é o método de apreensão da essência

absoluta das coisas.

A fenomenologia tem como objeto de estudo o próprio fenômeno, isto é, as

coisas em si mesmas e não o que é dito sobre elas, assim sendo a

investigação fenomenológica busca a consciência do sujeito através da

expressão das suas experiências internas. A fenomenologia busca a

interpretação do mundo através da consciência do sujeito formulada com

base em suas experiências.

O método fenomenológico consiste em mostrar o que é apresentado e

esclarecer este fenômeno. Para a fenomenologia um objeto é como o

sujeito o percebe, e tudo tem que ser estudado tal como é para o sujeito e

sem interferência de qualquer regra de observação cabendo a abstração da

realidade e perda de parte do que é real, pois tendo como objeto de estudo o

fenômeno em si, estuda-se, literalmente, o que aparece. Para a

fenomenologia um objeto, uma sensação, uma recordação, enfim, tudo tem

que ser estudado tal como é para o espectador.

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Programação:

1ª Aula

Titulo: O corpo e sua história.

Apresentação sumária pela história da filosofia da relação corpo-alma. Utilizando-se dos textos; Platão, sobre escravidão – evidenciando o uso do corpo material e não pensante. E ainda em Foucault fazer panorama dos períodos dos suplícios – tendo em vista trabalhar fundamentos da docialização, sacralização e punição do corpo até a contemporaneidade. Estratégia disciplinar na sociedade produtiva no interior da escola (Michel Foucault – Vigiar e Punir/corpos dóceis).

Estratégias de dominação do corpo da criança - proibição de expressar-se livremente através do recurso mais significativo de seu desenvolvimento: a brincadeira.

Compreender: preocupar com o percurso histórico da escola, com os mecanismos de produção de verdades e com as relações de poder-saber, elementos micropolíticas organizados que nem sempre se fazem ver com nitidez (ver e falar).

Processo de controle - disciplinamento do corpo infantil pela instituição educativa associado aos mecanismos das estruturas do poder da sociedade capitalista ocidental supervaloriza a cognição em detrimento aspectos sensoriais.

Segunda metade do XVIII - higiene pública e medicina social (campanhas de vacinas, epidemias, seguridade).

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Século XIX - re-inscrito um quadro geral que Foucault chama de bio-política.

Em nome da saúde e do progresso - o poder médico passa a determinar quais os espaços de vida da população, definindo as normas a serem seguidas para a manutenção da saúde de seus corpos.

Nas sociedades de controle, não há energia a extrair, senão informação a circular.

Uma preocupação com três campos: o asseio, a dietética e a cultura física.

Final do século XX - generalização de atividades físicas, tendo como fim o próprio corpo: sua aparência, seu bem estar, sua realização...

Os indivíduos precisam se espelhar nos outros (estrelas, atletas, homens políticos ) que vivem em seu lugar.

Anos 60-70 surge um movimento que abarca não só artistas, mas toda a juventude que experimenta um outro modo de vida - “contracultura”.

2ª Aula.

Título: Fenomenologia como reinicio da fundamentação do conhecimento do homem-mundo.

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Nesta aula problematizar a crítica ao positivismo e o surgimento do olhar humano para a própria ciência humana. Propondo a superação da dicotomia corpo-alma, utilizando de algumas partes da obra fenomenologia da percepção (Paginas – 18- 103- 78-77. 205. 276)- Merleau-Ponty onde evidencia que conhecer o mundo visualmente é uma operação do olhar e das movimentações que o ser faz no mundo vida. Ainda

Conteúdo:

1ª Aula

Texto complementar- O mito do Caverna – livro VII de A república.

2ªAula - textos

“O que é a fenomenologia? Pode parecer estranho que ainda se precise colocar essa questão meio século depois dos primeiros trabalhos de Husserl. Todavia, ela está longe de estar resolvida. A fenomenologia é o estudo das essências, e todos os problemas, segundo ela, resumem-se em definir essências: a essência da percepção, a essência da consciência, por exemplo. Mas a fenomenologia é também uma filosofia que repõe as essências na existência, e não pensa que se possa compreender o homem e o mundo de outra maneira senão a partir de sua "facticidade".

Prefácio pág. 1 – Fenomenologia da Percepção, Merleau-Ponty.

“A ciência não tem e não terá jamais o mesmo sentido de ser que o mundo percebido, pela simples razão de que ela é uma determinação ou uma explicação dele. Eu sou não um "ser vivo" ou mesmo um "homem" ou mesmo "uma consciência", com todos os caracteres que a zoologia, a anatomia social ou a psicologia indutiva reconhecem a esses produtos da natureza ou da história — eu sou a fonte absoluta; minha experiência não

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provém de meus antecedentes, de meu ambiente físico e social, ela caminha em direção a eles e os sustenta, pois sou eu quem faz ser para mim (e, portanto ser no único sentido que a palavra possa ter para mim) essa tradição que escolho retomar “...

Prefácio pág. 3 – Fenomenologia da Percepção, Merleau-Ponty.

“Assim como a compreensão, a crítica deverá ser encaminhada em todos os planos e, bem entendido, não poderemos contentar-nos, para refutar uma doutrina, em ligá-la a tal acidente da vida do autor: ela significa para, além disso, e não existe acidente puro na existência nem na coexistência, já que uma e outra assimilam os acasos para formar com eles a razão. Enfim, assim como é indivisível no presente, a história o é na sucessão. Em relação às suas dimensões fundamentais, todos os períodos históricos aparecem como manifestações de uma única existência ou episódios de um único drama — do qual não sabem

Se tem um desenlace. “Porque estamos no mundo, estamos condenados ao sentido, e não podemos fazer nada nem dizer nada que não adquira um nome na história.”

Página 18 -

“A Gestalttheorie faz compreender que a percepção da posição dos objetos não passa pelo meandro de uma consciência expressa do corpo: em nenhum momento eu sei que as imagens permaneceram imóveis na retina, eu vejo diretamente a imagem se deslocar para a esquerda. Mas a consciência não se limita a receber um fenômeno ilusório inteiramente acabado que causas fisiológicas fora dela engendrariam. Para que a ilusão se produza, é preciso que o paciente tenha tido a intenção de olhar para a esquerda, e que tenha pensado mover seu olho. A ilusão sobre o corpo próprio acarreta a aparência do movimento no objeto. Os movimentos do corpo próprio são naturalmente investidos de certa significação perceptiva, eles formam, com os fenômenos exteriores, um sistema tão bem ligado que a percepção externa "leva em conta" o deslocamento dos órgãos perceptivos, encontra neles, senão a explicação expressa, pelo menos o motivo das mudanças que intervieram no espetáculo, e assim pode compreendê-las imediatamente.

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Quando tenho a intenção de olhar para a esquerda, este movimento do olhar traz nele, como sua tradução natural, uma oscilação do campo visual: os objetos permanecem no seu lugar, mas depois de terem vibrado por um instante. Essa conseqüência não é aprendida, ela faz parte das montagens naturais do sujeito psicofísico, ela é nós o veremos, um anexo de nosso ' 'esquema corporal", é a significação imanente de um deslocamento do "olhar".

Os PREJUÍZOS CLÁSSICOS E O RETORNO AOS FENÔMENOS, P. 78-79

“Ver um objeto é ou possuí-lo à margem do campo visual e poder fixá-lo, ou então corresponder efetivamente a essa solicitação, fixando-o. Quando eu o fixo, ancoro-me nele, mas esta "parada" do olhar é apenas uma modalidade de seu movimento: continuo no interior de um objeto a exploração que, há pouco, sobrevoava-os a todos, com um único movimento fecho a paisagem e abro o objeto. As duas operações não coincidem por acaso: não são as contingências de minha organização corporal, por exemplo, a estrutura de minha retina, que me obrigam a ver obscuramente a circunvizinhança se quero ver claramente o objeto. Mesmo se eu nada soubesse de cones e de bastonetes, conceberia que é necessário adormecer a circunvizinhança para ver melhor o objeto, e perder em fundo o que se ganha em figura, porque olhar o objeto é entranhar- se nele, e porque os objetos formam um sistema em que ura não pode se mostrar sem esconder outros. Mais precisamente, o horizonte interior de um objeto não pode se tornar objeto sem que os objetos circundantes se tornem horizonte, e a visão é um ato com duas faces. Pois não identifico o objeto detalhado que agora tenho com aquele sobre o qual meu olhar há pouco deslizava, comparando expressamente estes detalhes com uma recordação da primeira visão de conjunto. Quando, em um filme, a câmera se dirige a um objeto e aproxima- se dele para apresentá-lo a nós em primeiro plano, podemos muito bem lembrar-nos de que se trata do cinzeiro ou da mão de um personagem, nós não o identificamos efetivamente. Isso ocorre porque a tela não tem horizontes. Na visão, ao contrário, apoio meu olhar em um fragmento da paisagem, ele se anima e se desdobra, os outros objetos recuam para a margem e adormecem, mas não deixam de estar ali.”

O corpo – página 104

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Atividades e Avaliações:

Durantes as duas aulas conduzir um debate dos alunos entre si, com as necessárias interferências de direcionamento para o conteúdo trabalhado, a fim de lhes conscientizarem sobre posicionamento da teoria do conhecimento em relação ao sujeito e ainda a manutenção do ser humano em processo de integração psicofísica.

Levantamentos: Posição platônica em relação ao corpo; Punição do corpo na idade média; O que significa dizer que o homem sente-age-quer-pensa¿ O corpo não é coisa, nem obstáculo, mas é parte integrante a

totalidade do ser humano. O que quer dizer¿

Imagens para relações da Gestalt com a Fenomenologia

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Bibliografia

MERLEAU-PONTY, M. Fenomenologia da percepção 2ª edição, Ed. Martins fontes, São Paulo, 1999.

Filosofando Introdução à Filosofia – Maria Graça Aranha, Maria Helena Pires Martins, Ed. Moderna, São Paulo, 2ª 1993.

Fundamentos da Filosofia – História e grandes temas – Gilberto Cotrim, Ed. Saraiva 16ªed. 2007.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

Esp. Questões Filosóficas Fundamentais e Ensino de Filosofia

Disciplina: Questões Filosóficas – Filosofia Contemporânea

Prof. Dr. Fábio Di Clemente

Plano de Aula

Caroline Christine Garcia do Nascimento

Cuiabá, Fevereiro de 2011

O objeto é objeto de uma lado a outro e a consciência, consciência de um lado a outro.

Merleau-Ponty, Fenomenologia da percepção, p.208