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PLANEJAMENTO DE VENDAS E
OPERAÇÕES (S&OP): UM ESTUDO DE
CASO NUMA PETROQUÍMICA
Ana Paula Maia Tanajura (UFBA)
Sandro Cabral (UFBA)
O planejamento de vendas e operações, também conhecido como Sales
and Operation Planning (S&OP), é um processo de planejamento
agregado que ocorre num horizonte de tempo de um a dois anos e que tem
por meta compatibilizar os níveis de serviiço ao cliente com uma gestão
adequada dos ativos e dos custos da organização. No presente trabalho
buscou-se analisar o funcionamento do S&OP numa indústria
petroquímica de grande porte e relacioná-lo com os aspectos preconizados
na literatura. Por meio de entrevistas com os funcionários da empresa e de
análise documental, o estudo de caso revelou que o S&OP contribuiu para
a construção de um ambiente multidisciplinar para a tomada de decisão;
para a redução da assimetria de informações entre as áreas da empresa e
para a ampliação do envolvimento dos membros da empresa na tentativa
de seguir um único plano, reconhecido e pactuado como a melhor
alternativa para a organização. Constatou-se também que, diferentemente
das proposições teóricas, o S&OP na empresa em tela incorpora rotinas
de programação detalhada da produção, revelando um aspecto de
natureza mais operacional em detrimento de uma orientação tática.
Palavras-chaves: Planejamento de Vendas e Operações, Planejamento
Agregado, Indústria Petroquímica
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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1.1
1-Introdução
Em meio a cenários cada vez mais turbulentos, as organizações têm intensificado o uso de
técnicas de planejamento como forma de alcançar as metas estabelecidas na estratégia
corporativa
Partindo-se da premissa de que uma estratégia competitiva bem delineada é condição essencial
para o atendimento dos objetivos organizacionais, a coordenação das várias atividades que uma
empresa precisa realizar para atingir os seus objetivos normalmente requer um direcionamento
único e plenamente conhecido pela organização (PROENÇA; CAULLIRAUX; CAMEIRA,
2001).
Em meio a esse contexto, o processo de Planejamento de Vendas e Operações, do inglês Sales
and Operation Planning (S&OP), surge como uma resposta utilizada pelas organizações para
atender os anseios estratégicos das corporações. Com efeito, os processos de planejamento
buscam definir capacidades futuras a partir de uma inércia intrínseca dos processos decisórios.
Segundo Corrêa, Gianese e Caon (2001, p.36), “esta inércia é entendida como o tempo que
necessariamente tem de decorrer desde que se toma determinada decisão até que a decisão tome
efeito”. Como não é possível decidir alterações no processo produtivo de forma imediata, torna-
se necessário planejar. Diferentes decisões possuem diferentes inércias e, por isso, os efeitos das
decisões acontecem em diferentes momentos, o que justifica a necessidade de sub-horizontes
dentro do horizonte de planejamento (CORRÊA; GIANESE; CAON, 2001). O S&OP utiliza um
horizonte de 12 a 24 meses de planejamento com períodos de replanejamento de um a dois
meses, que trata principalmente de decisões agregadas que requerem visão de longo prazo do
negócio. Possui como diferencial a criação de uma equipe de trabalho entre Vendas, Operações,
Finanças e Desenvolvimento de Produtos e que dá a alta administração um real controle sobre os
negócios. Outro fator importante é a inclusão da alta direção da empresa no processo decisório
que compõe a definição das metas durante a elaboração do planejamento de operação e vendas
(WALLACE, 2001).
Muito embora o S&OP seja um processo institucionalizado e amplamente aceito pela
comunidade dedicada ao estudo da gestão de cadeia de suprimentos (LAPIDE, 2004b), uma
rápida inspeção na literatura evidencia uma quantidade incipiente de relatos sobre experiências
reais de implantação do S&OP nas organizações, seus dilemas, suas idiossincrasias e resultados
efetivamente alcançados (NAVARRO; LIMA, 2006; LINARES, 2004). Sendo assim, suscitam-se
algumas perguntas: Como o S&OP ocorre na prática? Há diferenças entre o preconizado na
literatura e a realidade observada? Se sim, quais são os condicionantes para que o S&OP
contribua para o alinhamento estratégico das organizações? O setor de atuação da organização
determina o sucesso do S&OP? O presente trabalho não pretende responder a todas essas
questões, em absoluto. A intenção aqui é mais modesta e passa pela tentativa de realizar um
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confronto entre o que é preconizado na literatura e o que efetivamente foi implantado numa
organização que implantou o processo S&OP.
Para tal, foi realizado um estudo de caso numa petroquímica de grande porte, que iniciou a
implantação de um processo colaborativo de planejamento nos moldes do S&OP em 2003,
motivada pela aquisição de um software de otimização para a construção dos balanços de
produção, vendas e estoque. A organização em questão busca operar em sua máxima capacidade
para obter os mais altos índices de utilização dos ativos e melhores índices de eficiência
energética. Como nem sempre níveis máximos de utilização de capacidade guardam relação com
níveis máximos de lucratividade, o S&OP surgiu na empresa com a proposta de tornar o processo
mais flexível e adaptável à realidade de um mercado em transformação.
Desta forma, espera-se que o presente trabalho possa aportar contribuições tanto aos
pesquisadores debruçados sobre o tema, quanto aos profissionais das organizações envolvidos
com questões relacionadas ao planejamento e controle da produção.
O trabalho é estruturado da seguinte maneira. Num primeiro momento confronta-se o S&OP com
outras abordagens utilizadas no planejamento de operações. Uma vez realizada essa
contextualização, a seção seguinte aborda de forma sucinta os objetivos preconizados pelo S&OP
e demais características. Na sequencia, são apresentados os aspectos metodológicos da pesquisa
empírica e os resultados obtidos com o trabalho de campo. A pesquisa empírica fornece pistas
importantes sobre os fatores que contribuem para as diferenças observadas entre o preconizado na
literatura e a realidade observada.
2-Revisão Teórica
2.1-A contextualização do S&OP frente a outros sistemas
Para compreender o S&OP e sua relação com os sistemas de administração da produção,
primeiramente é importante compreender de forma ampla o planejamento e controle de
operações, bem como as diferentes hierarquias de planejamento existentes, nas quais se insere o
S&OP.
As atividades de planejamento e controle são responsáveis pela ligação de duas entidades. Por um
lado, os recursos disponíveis para a operação, com capacidade de atender a demanda, mas sem a
orientação para isso. Por outro lado, um conjunto de demandas, tanto gerais quanto específicas,
dos consumidores, atuais e potenciais, para os bens ou serviços da operação. As atividades de
planejamento e controle estão, de alguma forma, dirigidas para a conciliação das capacidades de
fornecimento de uma operação com as demandas dirigidas para ela.
Do planejamento e controle provêm as informações que sustentam os processos de compra de
matérias-primas, atendimento a clientes e elaboração do plano de produção. O sistema surge
como uma ferramenta de suporte ao planejamento estratégico nos níveis tático e operacional,
relativo ao médio e curto prazo, respectivamente. O planejamento estratégico da produção, por
sua vez, conjunto de objetivos de longo prazo, servirá como um guia a estas decisões.
De acordo com Donato, Mayerle e Figueiredo (2009), planejar a produção de forma agregada tem
o objetivo de interligar os planejamentos de longo e de curto prazo. Além disso, dentro da
empresa, o planejamento agregado da produção é o elo entre diversos setores, como o financeiro,
vendas, produção, marketing, dentre outros. Em meio a um planejamento hierárquico da
produção, três níveis de agregação são sugeridos: por item ou produto final; por tipo de produto,
grupos de item que possuem estrutura de custo, processos produtivos e sazonalidades
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semelhantes; e por família, grupos de item pertencentes a um mesmo tipo de produto e que
compartilham tempos de preparação semelhantes.
Dempster et al. (1981) apontam algumas razões para uma abordagem hierárquica: a redução da
complexidade de solução do problema ao se agregar itens em famílias e tipos de produto; a
redução da incerteza, já que decisões de médio prazo são tomadas com base num plano agregado
enquanto decisões relacionadas a níveis mais detalhados de planejamento são postergadas até o
ponto em que são realmente necessárias; e a facilitação do processo decisório na empresa, já que
o planejamento hierárquico acompanha a própria estrutura hierárquica da maioria das empresas.
De maneira esquemática, o planejamento de médio prazo, onde o S&OP se insere com seus
volumes agregados, desdobra-se no curto prazo em um Plano Mestre de Produção ou
Planejamento Mestre. Nesta etapa, o plano é desagregado até o nível de Stock Keeping Unit
(SKU), ou seja, até o produto final, unidade produtiva em que será estocado e comercializado.
Também faz parte do curto prazo o Material Requirements Planning (MRP) que gera os
planejamentos de compra de matérias-primas e de fabricação de componentes a partir de uma
dependência entre a demanda e os itens componentes de produtos acabados ao longo do tempo
(WALLACE e STAHL, 2003), conforme pode ser verificado na figura 1 abaixo.
Fonte: Adaptado de Wallace e Stahl (2003)
Figura 1- O modelo de planejamento de recursos
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Apesar da ligação existente entre Planejamento de Vendas e Operações e o Planejamento Mestre
de Produção é importante o entendimento da diferenciação que há entre estes nos aspectos de
volume e mix. De acordo com Berry, Vollmann e Whybark (2006), o papel do Planejamento
Mestre de Produção é de converter o S&OP desagregado em um programa específico de
produção. Enquanto o S&OP fornece um relatório agregado do volume de produção necessário
para atingir os objetivos estratégicos da empresa, o planejamento mestre é um relatório dos
produtos específicos que compõem tal volume.
2.2- O S&OP – Sales and Operations Planning – uma breve descrição
De acordo com Corrêa, Gianese e Caon (2001), resumem-se em seis os macro objetivos do
S&OP. Esses objetivos, segundo os autores, também podem ser utilizados para caracterizá-lo e se
não forem alcançados impossibilitarão uma execução eficaz do S&OP. São eles: suportar o
planejamento estratégico do negócio, garantir que os planos sejam realísticos, fazer o
gerenciamento de mudanças de forma eficaz, gerenciar estoques e carteira de pedidos garantindo
o bom desempenho nas entregas, avaliar o desempenho do processo de planejamento através da
incorporação de medidas para identificar desvios e desenvolver o trabalho em equipe.
A Política do S&OP, segundo Wallace (2001) e Lapide (2004b), é um documento que reúne as
diretrizes e regras que garantem a rotina de execução das atividades e, contribui na divulgação
das etapas da rotina mensal, dos objetivos específicos e no compartilhamento de
responsabilidades. Ressalta-se que o modelo de política proposto por Wallace (2001) não aborda
a revisão crítica do processo, item fundamental para o processo de melhoria contínua. Palmatier e
Crum (2003) sugerem que, adicionalmente à Política de S&OP, devam existir três procedimentos
documentados que detalhem as atividades de pré-S&OP, a reunião executiva de S&OP e o pós-
S&OP. Portanto, em algum desses procedimentos pode ser incluída a revisão crítica do processo.
Quanto aos participantes sugeridos para reunião executiva de S&OP e as responsabilidades
destes, itens que também devem fazer parte da Política, as figuras 2 e 3, apresentam as
contribuições de Wallace (2001) e Corrêa, Gianese e Caon (2001). Em ambas, pode-se notar o
caráter estratégico do S&OP a partir do envolvimento do mais alto nível hierárquico da empresa e
de decisões que afetam o médio e longo prazo.
Participantes obrigatórios Potenciais Participantes Área
Diretor Geral Alta administração
Diretor de Vendas Gerente de Vendas
Gerente de Atendimento ao Cliente
Gerente de Distribuição
Gerente de Assistência Técnica
Vendas
Diretor de Marketing Gerente de Produto
Gerente de Demanda
Marketing
Diretor de Manufatura ou
Industrial
Gerente Industrial, de Produção ou de
Fábrica
Gerente de Suprimentos
Gerente de Garantia da Qualidade
Manufatura
Diretor de Engenharia ou
P&D
Gerente de Desenvolvimento
Gerente de Métodos e Processos
Engenharia ou P&D
Diretor Financeiro Gerente de Orçamento
Gerente de Custos
Finanças
Diretor de Recursos Humanos Gerente de Pessoal Recursos Humanos
Fonte: Adaptado de Corrêa, Gianese e Caon (2001) e Wallace (2001)
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Figura 2 - Participantes sugeridos na reunião executiva de S&OP
Decisões Responsáveis
Capital para formação de estoque Diretor Geral, Diretor Industrial, Diretor
Financeiro
Capital para investimento em equipamentos e melhorias Diretor Geral, Diretor Industrial
Acréscimo ou redução de horas extras Diretor Industrial, Gerente de Fábrica
Transferência de funcionários entre departamentos, centros de
trabalho ou linhas de produção
Diretor Industrial, Gerente de Fábrica ou
Industrial
Ampliação ou redução de subcontratação e fornecimento Diretor Industrial, Gerente de Fábrica ou
Industrial, Gerente de Suprimentos
Admissão e demissão de pessoal (temporário ou permanente) Diretor Geral, Diretor Industrial, Gerente
Industrial ou de Fábrica, Gerente de Recursos
Humanos
Fonte: Adaptado de Corrêa, Gianese e Caon (2001), Wallace (2001) e Lapide(2005)
Figura 3 - A atribuição de responsabilidades no S&OP, alguns exemplos
Em relação a agregação de produtos, criação das famílias, Wallace (2001) sugere como número
ideal entre seis e doze. Para o autor quanto maior o número de famílias, ou itens planejados,
maior será o desinteresse da alta administração e consequentemente o processo se tornará um
fracasso. As famílias devem ser organizadas com base no que faz sentido para a equipe de
Vendas, deve-se certificar que as famílias se alinhem com os segmentos de mercado, com os
grupos de clientes, ou quando for apropriado, com os grandes clientes individuais.
De acordo com Lapide (2005b) e Grimson e Pyke (2007) a forma mais rudimentar de execução
do ciclo de S&OP, mais simples e rápida, é através de planilhas. Esses mesmo autores
consideram que, em níveis mais avançados, utiliza-se um software de otimização integrado com
interfaces de colaboração externa e com o ERP em vez da realização de otimização através do
Microsoft Excel, que não tem a mesma facilidade para gerar cálculos avançados.
De acordo com Sheldon (2006), as empresas não utilizam o ERP para gerenciar seus processos de
S&OP porque, simplesmente, esses sistemas não existem. Os desenvolvedores de ERP não
abraçaram a causa do S&OP, mas segundo o autor, isso é irrelevante já que o Microsoft Excel
funciona bem com essa finalidade e muitas empresas obtêm sucesso utilizando-o.
Basicamente, segundo os autores, IOMA (2003, 2004, 2005), Lapide (2004b, 2004a), Wallace
(2001), Arozo (2006) e Corrêa, Gianese e Caon (2001), um ciclo de S&OP ocorre em cinco
etapas.
Figura 4 - Etapas do processo de S&OP, baseado em Arozo (2006).
Inicia-se com o levantamento de dados históricos que apresentem o estado atual da empresa em
relação a vendas, produção, estoques, e o desempenho passado em relação a estes e outros
aspectos. Na sequência, é elaborado um plano de vendas tentativo que indicará o que a empresa
está disposta a vender ou oferecer ao mercado. A etapa Planejamento de Produção e Suprimentos,
fará planos alternativos de produção que procurem dar suporte ao planejamento de vendas gerado
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na etapa anterior. A Reunião Prévia de S&OP, será fórum para a discussão de todos os pontos de
distanciamento entre o planejamento da demanda e o planejamento de produção, realizados nas
etapas anteriores, bem como a avaliação dos impactos financeiros destes. Por fim, a Reunião
Executiva de S&OP, que deve ser encerrada com todo o planejamento fechado e formalizado
para a empresa, sem que existam pendências.
De acordo com Corrêa, Gianese e Caon (2001), criar planos de produção e vendas coerentes entre
si, com antecedência de doze meses e que relacionam a estratégia da empresa com a operação,
não é algo trivial. Um dos motivos que levam a essa dificuldade é a existência de fatores nas
empresas que impedem a manutenção da coerência nas decisões entre diferentes níveis
hierárquicos (coerência vertical) e entre as diferentes áreas funcionais nas empresas (coerência
horizontal) que podem comprometer ou dificultar a criação de planos únicos. O S&OP surge
como uma proposta de solução a estes problemas.
3-Metodologia Para a investigação na indústria petroquímica escolhida foi utilizada a pesquisa de natureza
aplicada e exploratória. Aplicada por gerar conhecimentos para a aplicação prática e exploratória
no aspecto de proporcionar maior familiaridade com o problema com vistas a torná-lo explícito
(GIL, 1988). A pesquisa envolveu o levantamento bibliográfico, entrevistas com profissionais
que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e a análise de exemplos que
estimulam a compreensão. Cada um desses itens foi explorado na pesquisa através de um estudo
de caso, onde se busca examinar eventos contemporâneos e efetuar uma inquirição empírica de
forma qualitativa através da investigação de um fenômeno dentro de um contexto da vida real,
onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas (YIN, 2005).
A pesquisa contou com observação participante, devido a atuação de um dos autores na empresa
pesquisada, participando da implantação, construção de relatórios, agendas e capacitação de
integrantes na empresa no processo S&OP. A vantagem da observação participante é a facilidade
de acesso sobre situações habituais em que os membros se encontram envolvidos, possibilitando
captar palavras de esclarecimento que acompanham o comportamento dos observados (GIL,
1999). A associação da observação direta ao método da entrevista visou facilitar o registro das
informações. A presença do segundo autor foi fundamental na etapa de triangulação dos dados
mitigando vieses de interpretação decorrentes da atuação na organização do primeiro autor, na
linha do sugerido por Myers (2009).
O tipo de entrevista escolhido pelos pesquisadores foi a por pautas, semiestruturada, devido à
flexibilidade proporcionada. Esse formato foi fundamental para os variados perfis dos
entrevistados: tempo de empresa, nível hierárquico na organização e área de atuação. As
entrevistas foram conduzidas fazendo-se uso de um roteiro básico de perguntas que visava
diagnosticar o entendimento do processo por parte dos colaboradores na empresa e o
comprometimento dos participantes. O questionário foi dividido em três partes: informações
gerais do entrevistado, o conhecimento e inserção no S&OP da empresa, e a avaliação através dos
objetivos específicos do S&OP.
Entrevistado Função Área da empresa
Tempo de empresa
(anos)
A Analista de planejamento e mercado Matérias-primas 21
B Gerente Planejamento 25
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C Coordenador Planejamento 8
D Analista de planejamento e mercado Planejamento 14
E Gerente Exportação 10
F Diretor Comercial 7
G Gerente Controladoria 4
H Gerente Planejamento 20
I Engenheira de Produção Industrial 3
J Analista Logística 4
Figura 5 - Relação de participantes das entrevistas
4-Resultados
Para caracterizar o processo de S&OP na empresa, em termos de organização e estruturação,
verificou-se a política do S&OP, o cronograma de atividades e os participantes. Na sequência, já
conhecidos os aspectos de estruturação do S&OP, analisou-se a definição das famílias de
produtos. Por último, analisou-se o software de otimização utilizado na construção de cenários e
as etapas que compõem o ciclo de planejamento na empresa comparando-as com as cinco etapas
propostas pela literatura.
4.1-Organização e estruturação
Na empresa não foi identificado um registro oficial denominado política de S&OP, que reúna
todos os aspectos sugeridos pelos autores. O que existem são diversos registros, roteiros de
trabalho, que armazenam alguma das informações listadas e que são de uso exclusivo da equipe
de planejamento. Apenas o calendário anual com prazos para execução das etapas do ciclo
mensal de S&OP é divulgado.
A inexistência de uma política de S&OP pode dificultar a identificação clara dos objetivos e dos
resultados esperados ao final de cada processo de S&OP. Segundo Wallace (2001) e Grimson e
Pyke (2007) é fundamental a existência de objetivos específicos para a medição do desempenho e
melhoria contínua.
Na lista de participantes da reunião executiva de S&OP na empresa, que conta com os diretores e
gerentes industriais, comerciais e de supply chain, toda a equipe de planejamento, além dos
analistas comerciais, de matérias-primas e logística e o representante da controladoria, não foi
verificada a participação do principal executivo conforme indicado por Wallace (2001).
A atividade que seria atribuída ao principal executivo do negócio, o vice-presidente da Unidade
de Negócio, segundo os entrevistados, é delegada aos diretores participantes. Quando
questionados, os entrevistados atribuem tais ausências a agenda lotada do vice-presidente e a
capacidade de gestão dos diretores. Também foi mencionado que, em existindo um plano único
que maximiza o resultado de toda a empresa fruto do processo de S&OP, os diretores entram
naturalmente em acordo sem precisar de um nível superior para solucionar possíveis impasses
durante a reunião executiva.
Observou-se também que durante a reunião executiva a equipe da controladoria não apresenta
análises financeiras. Sem a participação da alta direção e sem o embasamento financeiro através
das análises da controladoria, o S&OP pode perder o comprometimento dos principais líderes do
negócio (WALLACE, 2001).
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Alguns entrevistados se posicionaram quanto a importância do líder do S&OP na gestão do
processo e qualidades que este deve possuir: “Um líder do processo de S&OP deve ter a
capacidade analítica, o conhecimento do processo, flexibilidade e relacionamento pessoal”
Diretor de Supply Chain. “Um líder do processo de S&OP deve ter organização, penetração em
todas as áreas envolvidas e conhecimento técnico dos processos” (Analista de planejamento e
mercado).
De acordo com Lapide (2004b), o gerente de planejamento, líder do processo de S&OP na
empresa, na ausência da participação do vice-presidente, deve ter um papel atuante entre as
demais áreas participantes. Deve ser capaz de dirimir impasses, quando surgirem, e também
garantir a participação colaborativa de todos no processo, as decisões não poderão ser adiadas
para uma etapa posterior. Ainda segundo este autor, o líder do processo de S&OP deve possuir
capacidade de relacionamento interpessoal, ser proativo e bem organizado, e capaz de liderar uma
reunião com eficiência.
4.2- Agregação de produtos
Na empresa os balanços de produção, vendas e estoque do S&OP contemplam todos os 25
produtos finais. Não estão definidas famílias de produto. Grimson e Pyke (2007) afirmam que
existem exemplos recentes de empresas que discutem seus S&OPs em nível de SKU nas reuniões
executivas. A vantagem de discutir nesse nível, segundo os autores, é que não se corre o risco de
numa etapa posterior, onde o plano será detalhado, encontrar algum impedimento para o
cumprimento do plano. Por exemplo, o volume de vendas definido no nível agregado ser
incompatível com o número de navios disponíveis no nível detalhado. Mesma justificativa
encontrada na petroquímica pesquisada.
Para adequação ao tempo da reunião executiva, no máximo 3h, a empresa apresenta apenas
alguns produtos de maior relevância e os demais ficam disponíveis para consulta no relatório. São
considerados relevantes para o S&OP na empresa pesquisada os produtos de maior faturamento,
ou que estão em desenvolvimento para atuar em algum novo seguimento, ou aqueles que
apresentam algum fator crítico como estoque ou queda significativa na produção ou venda.
Em relação ao impacto no faturamento, os produtos finais eteno e propeno juntos representam
53%, conforme mostrado na figura 6. Adicionando o benzeno, o para-xileno e o butadieno
totaliza-se 75% do faturamento com apenas cinco produtos. Neste caso, estes poderiam ser
utilizados como famílias individuais e os vinte produtos restantes agrupados em famílias como
Combustíveis, Solventes, Utilidades e Petroquímicos, denominações já existem na empresa.
Figura 6 - Perfil de faturamento por produto no ano de 2005.
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4.3-Construção dos balanços de produção e vendas
A empresa analisada não se limitou a planilhas. Entendendo que um nível mais avançado na
identificação de oportunidades poderia ser alcançado, a organização adquiriu um software de
otimização que consegue interagir com o ERP e com o Microsoft Excel tanto na importação
quanto na exportação de dados.
Dos cinco estágios de integração do S&OP, propostos por Grimson e Pyke (2007), em termos de
tecnologia a empresa encontra-se no estágio 4, avançado, em que há a aplicação de um software
de otimização integrado ao ERP, mas sem otimização conjunta com este, e um banco de dados
que pode ser consultado por todas as áreas. O nível mais preliminar, de acordo com os autores,
seria a utilização de planilhas individuais por cada gerente sem consolidação entre elas, e o nível
mais avançado seria a ligação do otimizador com o ERP e com interfaces de colaboração externa,
e a utilização de um solver em tempo real.
4.4-Etapas do processo mensal
O processo de planejamento mensal da empresa tem similaridade com as propostas dos autores
pesquisados na literatura e porém apresenta algumas particularidades como a execução prévia do
software de otimização pela equipe de planejamento antes das reuniões com as áreas,
apresentando soluções diversas e dinamizando o processo.
Em seu turno, a Figura 7 representa o ciclo na organização estudada.
Figura 7 - Etapas do processo de S&OP, a partir das etapas propostas pelos autores.
A mudança visa destacar o desdobramento da segunda etapa em três partes, realizadas por áreas
distintas, comercial (demanda), matérias-primas (suprimentos) e industrial (produção), e não
apenas pela área comercial, como propõe a literatura na etapa Planejamento de Demanda. Outra
mudança está na etapa de planejamento de produção e suprimentos, denominada na figura 5 de
Planejamento, já que é realizada apenas pela equipe de Planejamento através do software de
otimização. A reunião prévia, na empresa pesquisada, difere da proposta da literatura. Será
apenas um momento de validação do cenário ótimo, identificado através da ferramenta de
otimização na etapa anterior, com as demais equipes. A figura 8 ilustra o desdobramento da etapa
Planejamento, onde são elaborados os cenários de produção e vendas.
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Figura 8 - Detalhamento da etapa de planejamento
A etapa de Planejamento é realizada em cinco dias. Esta contempla o módulo Planning do
software de otimização, executado com um horizonte trimestral e períodos mensais, seguido da
execução do módulo Scheduling, com o horizonte de um mês e períodos diários. O módulo
Scheduling tem o objetivo de detalhar as orientações do Planning para o primeiro mês e enviar
ordens de produção para o ERP. Os cinco dias da etapa de planejamento dividem-se em três dias
para a execução do Planning e dois dias para a execução do Scheduling. De acordo com os
autores Wallace (2001) e Corrêa, Gianese e Caon (2001), a execução do Scheduling é uma etapa
incompatível com o S&OP já que a execução do Scheduling equivaleria a realização do
planejamento mestre de produção, etapa que na literatura é posterior ao S&OP.
Durante os três dias de execução do módulo Planning a equipe de planejamento trabalha na
identificação de oportunidades sinalizadas pelo software. O software é executado diversas vezes
até que os planejadores encontrem uma solução ótima, que maximize o resultado, superando o
máximo de restrições possíveis. Essa etapa do S&OP assemelha-se aos cinco passos de
focalização propostos por Goldratt (1997): identificar a(s) restrição(ões) do sistema; decidir como
explorar a(s) restrição(ões) do sistema; subordinar qualquer outra coisa à decisão anterior; elevar
a(s) restrição(ões) do sistema; se nos passos anteriores uma restrição for quebrada, volte ao passo
1, mas não deixe que a inércia se torne uma restrição do sistema.
A Reunião Executiva de S&OP é a etapa final do processo, que se encerra com o plano
formalizado para a empresa (WALLACE, 2001). Normalmente, não são realizadas mudanças na
reunião executiva, apenas comentários para o cenário trimestral que se apresenta conforme a
seguinte agenda de reunião: panorama de mercado para o próximo trimestre, premissas
industriais e comerciais para o trimestre, balanço de produção e venda dos principais produtos,
destaques do mês anterior.
5-Considerações Finais Diante de uma série de desafios que se apresentam para a construção de um S&OP de sucesso, o
objetivo deste trabalho foi compreender o funcionamento desse processo numa indústria
petroquímica de grande porte. Para isso, foi conduzido um estudo de caso que contou com a
observação participante dos autores, também embasado pelas entrevistas semiestruturadas
realizadas com diversos integrantes da empresa.
O quadro abaixo resume os principais pontos de distanciamento entre o S&OP proposto na
literatura pesquisada e o realizado na empresa pesquisada.
Item Literatura Empresa pesquisada
Ênfase Tática / Estratégica Operacional
Itens planejados Agregados Desagregados
Horizonte de
planejamento
12 meses 3 meses
XXXI ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Inovação Tecnológica e Propriedade Intelectual: Desafios da Engenharia de Produção na Consolidação do Brasil no
Cenário Econômico Mundial Belo Horizonte, MG, Brasil, 04 a 07 de outubro de 2011.
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Periodicidade Mensal Mensal
Participação do
presidente
Sim Não
Numero itens
planejados
Máximo 15 25
Análise Financeira Atuante no processo e durante a
reunião executiva
Apenas através dos cálculos de
otimização do software de
planejamento
Analise crítica do
processo
Após a reunião executiva, com
procedimento definido
Não realizada
Documentação Abrange todas as etapas do
processo, de conhecimento geral
Restrita aos membros da equipe
de planejamento
Figura 9 - Resumo comparativo entre a literatura e o S&OP implantado na empresa.
De forma geral, pelos pontos apresentados pode-se afirmar que a empresa confere ao processo de
S&OP um caráter operacional em detrimento de uma abordagem tática / estratégica. Também
não se observa o engajamento da liderança e procedimentos que medem a evolução do processo
dificultando a melhoria contínua. Observa-se ainda que as atividades referentes ao mix são
tratadas no mesmo nível de volumes agregados. Neste caso, a empresa contempla o S&OP em si
e o planejamento mestre, onde são criadas ordens diárias de produção, numa mesma etapa de
planejamento chamada S&OP.
A partir do trabalho já realizado, pode-se sugerir estudos e pesquisas futuras relacionadas a:
a) A contribuição do processo de Planejamento de Vendas e Operações (S&OP) para a
redução dos custos da empresa, objetivando quantificar a redução de custos obtida com a
implantação do S&OP. Análises custo versus benefício podem contribuir para sua maior
divulgação;
b) Avaliar, por tipo de negócio, que indicadores podem ser adequados para medir a
eficiência do S&OP em empresas com esse processo já consolidado. Nesse caso, uma pesquisa
com empresas de diferentes setores pode revelar quais são os diferentes indicadores utilizados
para medir a eficiência do S&OP;
c) Avaliar, por tipo de negócio, o perfil dos profissionais que fazem a gestão do processo de
S&OP nas empresas. Com isso, pode-se caracterizar o profissional adequado para exercer a
função de líder no processo de S&OP auxiliando empresas e escolas na formação desses recursos.
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