PEQUI: UMA ALTERNATIVA VIÁVEL NA...

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PEQUI: UMA ALTERNATIVA VIÁVEL NA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR DOS POVOS DO CERRADO 1 João Antonio Pereira 1 RESUMO O pequizeiro (caryocar brasiliense caryocaceae) é uma planta nativa do cerrado e da Amazônia brasileira, cujo fruto, polpa, amêndoa e casca são ricos em nutrientes como vitaminas, sais minerais, ácidos graxos, fibras, proteínas e hidratos de carbono. O objetivo deste artigo é demonstrar que o consumo regular de pequi na alimentação escolar pode trazer grandes benefícios à saúde física e mental do educando. Estudos da caracterização química desse fruto evidenciam que tanto a polpa , quanto a amêndoa do pequi são ricas em lípides, (predominando os ácidos graxos oléico e palmítico), fibra alimentar (sobretudo a pectina), compostos antioxidantes (ácido ascórbico, vitamina E, carotenóides, licopeno, entre outros), sais minerais (ferro, cálcio, cobre, zinco, , entre outros) e fenólicos totais. Esses compostos demonstram que esse alimento consumido de forma moderada poderá trazer amplos benefícios para a saúde humana, tendo em vista que tradicionalmente a dieta alimentar do brasileiro é pobre em fibras, vitaminas e sais minerais; além do que, os carotenóides, atuam como precursores da vitamina A, ajudando diretamente no combate aos radicais livres formados no interior do organismo; esses radicais livres quando em excesso podem lesar várias moléculas, como proteínas, ácidos graxos insaturados dos fosfolipídios de membranas, carboidratos e DNA, estando relacionados com o surgimento e/ou desenvolvimento de uma série de doenças crônicas não transmissíveis, como aterosclerose, diabetes, doenças da visão, câncer, mal de Alzheimer dentre outras. Palavras Chaves: Caryocar brasiliense; alimentação escolar; vitaminas; sais minerais. ________________________________ 1 Professor De Educação Básica da Rede Pública Estadual de Mato Grosso e Especialista de Educação da Rede Municipal.Este artigo contou com as contribuições técnicas da Drª. Rosa Schneider CRN 33 47 1ª Região Nutricionista que atua na Alimentação Escolar da Rede Municipal de Ensino de Guiratinga-MT.

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PEQUI: UMA ALTERNATIVA VIÁVEL NA ALIMENTAÇÃO

ESCOLAR DOS POVOS DO CERRADO1

João Antonio Pereira1

RESUMO

O pequizeiro (caryocar brasiliense – caryocaceae) é uma planta nativa do cerrado e da Amazônia brasileira, cujo fruto, polpa, amêndoa e casca são ricos em nutrientes como vitaminas, sais minerais, ácidos graxos, fibras, proteínas e hidratos de carbono. O objetivo deste artigo é demonstrar que o consumo regular de pequi na alimentação escolar pode trazer grandes benefícios à saúde física e mental do educando. Estudos da caracterização química desse fruto evidenciam que tanto a polpa , quanto a amêndoa do pequi são ricas em lípides, (predominando os ácidos graxos oléico e palmítico), fibra alimentar (sobretudo a pectina), compostos antioxidantes (ácido ascórbico, vitamina E, carotenóides, licopeno, entre outros), sais minerais (ferro, cálcio, cobre, zinco, , entre outros) e fenólicos totais. Esses compostos demonstram que esse alimento consumido de forma moderada poderá trazer amplos benefícios para a saúde humana, tendo em vista que tradicionalmente a dieta alimentar do brasileiro é pobre em fibras, vitaminas e sais minerais; além do que, os carotenóides, atuam como precursores da vitamina A, ajudando diretamente no combate aos radicais livres formados no interior do organismo; esses radicais livres quando em excesso podem lesar várias moléculas, como proteínas, ácidos graxos insaturados dos fosfolipídios de membranas, carboidratos e DNA, estando relacionados com o surgimento e/ou desenvolvimento de uma série de doenças crônicas não transmissíveis, como aterosclerose, diabetes, doenças da visão, câncer, mal de Alzheimer dentre outras. Palavras Chaves: Caryocar brasiliense; alimentação escolar; vitaminas; sais minerais.

________________________________ 1 Professor De Educação Básica da Rede Pública Estadual de Mato Grosso e Especialista de Educação da Rede

Municipal.Este artigo contou com as contribuições técnicas da Drª. Rosa Schneider CRN 33 47 – 1ª Região

Nutricionista que atua na Alimentação Escolar da Rede Municipal de Ensino de Guiratinga-MT.

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1. INTRODUÇÃO

O Brasil possui cerca de trinta por cento das espécies de plantas e de animais

conhecidas no mundo, que estão distribuídas em seus diferentes ecossistemas. É o

país detentor da maior diversidade biológica do planeta. A região dos cerrados, com

seus 204 milhões de hectares – aproximadamente 25% do território nacional –

apresenta grande diversificação faunística e florística em suas diferentes fisionomias

vegetais. A área de estudo está localizada essencialmente no Planalto Central onde

se encontra o divisor de águas das três grandes bacias hidrográficas do Brasil, a

Amazônica, a do Paraná e a do São Francisco. (AVIDOS; FERREIRA, 2003, p. 15).

Esta unidade da paisagem brasileira apresenta uma rica biodiversidade em

alimentos de origem vegetal, entre os quais destacamos uma série de frutos com

elevado potencial para a alimentação humana, tais como o buriti, jatobá, mangaba,

macaúba, muricis, gabirobas, entre outros, no entanto, com o avanço do cultivo das

lavouras de soja e algodão, sobretudo nos topos dos chapadões guiratinguense,

espécies como o pequi (caryocar brasiliense) estão sofrendo ameaças de extinção,

por descaso ou falta de conhecimentos específicos de sua potencialidade, observe:

Todavia, o desconhecimento do potencial e uso dos recursos naturais,

o desrespeito das leis de proteção ambiental, as queimadas a

intensidade de exploração agrícola têm provocado prejuízos

incalculáveis ao solo, à fauna, à flora e aos recursos hídricos,

comprometendo a sustentabilidade desse ecossistema e colocando

muitas espécies animais e vegetais em risco de extinção,

principalmente no tocante às espécies fruteiras nativas (SILVA et al.,

2001, p. 07).

Apesar de nomes bastante sugestivos como “carne dos pobres”, “ouro dos

cerrados” que demonstram mesmo que empiricamente os altos valores econômicos

e nutricionais desta planta, são raros os estudos na área da ciência da nutrição que

estimulem o consumo, o comércio e até mesmo o cultivo do pequi.

Neste artigo abordaremos as contribuições nutricionais do ponto de vista de

sua composição química, sobretudo quanto aos aspectos de proteínas, lipídios,

glicídios, vitaminas, sais minerais e fibras e seus efeitos na saúde do ser humano.

Tradicionalmente este fruto é consumido em pratos típicos tais como: arroz

com pequi, peixe com pequi, licor de pequi; no entanto existem inúmeras outras

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formas que a população nativa dos cerrados vem utilizando este fruto ao longo dos

séculos, algumas ainda carecem comprovação científica quanto a sua eficácia, mas

convém destacá-las: Óleo: tem efeito tonificante, eficaz para o tratamento de

bronquites, gripes e resfriados além de ser utilizado na fabricação de cosméticos; a

Farinha da Amêndoa: de sabor forte, é utilizada na gastronomia como condimento, a

amêndoa tem efeito revigorante para a pele e cabelo devido seu alto teor de

vitamina A e pela grande quantidade de óleo fino; seu alto teor de ferro contribui

para o combate de anemia ferropriva, entre outros.

Com tantos adjetivos, é difícil entender o porquê desta planta ser tão

maltratada, chegando a desaparecer completamente da paisagem em extensas

áreas local, não se trata apenas de uma competição entre este fruto nativo e a

agricultura de exportação, trata-se entre outros de valorizar um produto brasileiro

com ampla aceitação no consumo dos povos do cerrado e que pode inclusive ser

acrescentado no cardápio da merenda escolar com muitos benefícios a saúde do

povo brasileiro, em função de seus componentes nutricionais, este será nosso

intento nessa jornada.

2. A ESCOLA E A PROMOÇÃO DE HÁBITOS SAUDÁVEIS DE ALIMENTAÇÃO

A educação nutricional tem um papel muito importante com relação à

promoção de hábitos alimentares saudáveis desde a infância. Cerqueira (1985) a

considera medida de alcance coletivo com o fim primordial de "proporcionar os

conhecimentos necessários e a motivação coletiva para formar atitudes e hábitos de

uma alimentação sadia, completa, adequada e variada".

Franco (1992) demonstra que a educação alimentar deve ser incentivada

pois além de melhorar os hábitos alimentares da coletividade, colaborar

decisivamente, inclusive com a redução da mortalidade infantil, gerando maior

resistência às infecções e maior produtividade no trabalho.

Por outro lado, FNDE (2006) através da Portaria Interministerial Nº. 1.010,

de 8 de maio que Institui as diretrizes para a Promoção da Alimentação Saudável

nas Escolas de educação infantil, fundamental e nível médio das redes públicas e

privadas, em âmbito nacional, considerando que os Parâmetros Curriculares

Nacionais orientam sobre a necessidade de que as concepções sobre saúde ou

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sobre o que é saudável, valorização de hábitos e estilos de vida, atitudes perante as

diferentes questões relativas à saúde perpassem todas as áreas de estudo, possam

processar-se regularmente e de modo contextualizado no cotidiano da experiência

escolar; considerando os objetivos e dimensões do Programa Nacional de

Alimentação Escolar ao priorizar o respeito aos hábitos alimentares regionais e à

vocação agrícola do município, por meio do fomento ao desenvolvimento da

economia local; considerando o grande desafio de incorporar o tema da alimentação

e nutrição no contexto escolar, com ênfase na alimentação saudável e na promoção

da saúde, reconhecendo a escola como um espaço propício à formação de hábitos

saudáveis e à construção da cidadania; considerando que no padrão alimentar do

brasileiro encontra-se a predominância de uma alimentação densamente calórica,

rica em açúcar e gordura animal e reduzida em carboidratos complexos e fibras em

seu art 2º destaca que devemos:

Reconhecer que a alimentação saudável deve ser entendida como

direito humano, compreendendo um padrão alimentar adequado às

necessidades biológicas, sociais e culturais dos indivíduos, de acordo

com as fases do curso da vida e com base em práticas alimentares que

assumam os significados sócio-culturais dos alimentos.

Com a finalidade de estudar e difundir a composição nutricional do pequi

(caryocar brasiliense), e incentivar o consumo do mesmo na alimentação de

escolares é que nos propomos a escrever este artigo, uma vez que o pequi é

tradicionalmente consumido por milhões de habitantes do cerrado brasileiro. Para

tanto estrategicamente, faremos a abordagem do mesmo baseado no potencial de

vitaminas, sais minerais, fibras, lipídeos, proteínas e carboidratos, analisando

individualmente cada um de seus componentes e por vezes comparando-o com

outros alimentos tradicionalmente consumidos na dieta básica do brasileiro. Observe

as tabelas abaixo:

2.1 AS FUNÇÕES BIOQUÍMICAS DAS VITAMINAS PRESENTES NO PEQUI

Se existe algo que de fato possa caracterizar a modernidade, é a velocidade

da circulação das informações e o avanço da pesquisa científica, as sociedades

modernas têm se tornado cada vez mais complexas, as fronteiras geográficas já não

se constituem barreiras para o intercâmbio alimentar e nutricional, ao contrário a era

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digital aproximou povos, cristalizou idéias, derrubou mitos e está provocando uma

verdadeira revolução nos padrões de vida.

Anjo, (2004) demonstra que os paises que tem tradição no consumo de

alimentos funcionais apresentam baixa incidência de câncer, acidentes

cardiovasculares, acidentes vascular cerebral, arterioscleroses, enfermidades

hepáticas, dentre outros.

Oficialmente as vitaminas só foram descobertas no início do século XX, por

cientistas que pesquisavam os efeitos de diferentes tipos de alimentos no corpo

humano, no entanto há inúmeros registros relacionados a pesquisa da importância

das substâncias químicas nas dietas, desde o século XV com o advento das

grandes navegações marítimas e comerciais européias, período em que além das

especiarias, os europeus traziam na bagagem doenças como escorbuto, beribéri

chegando até mesmo a óbito em função de espasmos musculares, tonteiras, falta de

apetite, sangramento nas gengivas, deterioração da pele, infecções, desordens

neurológicas, paralisia, perda de peso, entre outros; A descoberta das vitaminas deu

origem ao campo da nutrição.

O termo “vitamina” surgiu para descrever um grupo de micronutrientes

essenciais para a vida, necessários em doses muito baixas, algumas delas, medidas

em microgramas. Elas desempenham a função de catalisadores no organismo

humano. Por esse motivo, são incluídas no grupo dos biocatalisadores, juntamente

com as enzimas, as hormonas e os oligoelementos.

As vitaminas ativam a oxidação dos alimentos, as reações metabólicas e

facilitam a libertação e a utilização de energia. Desta forma, permitem que o

organismo possa aproveitar as substâncias plásticas e energéticas proporcionadas

pela ingestão de alimentos: as proteínas, os açúcares, as féculas e as gorduras.

São compostos orgânicos imprescindíveis para algumas reações

metabólicas específicas, agindo muitas vezes como coenzimas ou como parte de

enzimas responsáveis por reações químicas essenciais à saúde humana. São

usualmente classificadas em dois grupos, com base na sua solubilidade,

estabilidade, ocorrência em alimentos, distribuição nos fluídos corpóreos e sua

capacidade de armazenamento nos tecidos:

Hidrossolúveis: ácido ascórbico, tiamina, riboflavina, niacina, piridoxina,

biotina, ácido pantotênico, folato e cobalamina. A maioria das vitaminas

hidrossolúveis são componentes de sistemas de enzima essenciais. Várias delas

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estão envolvidas em reações de manutenção do metabolismo energético, nosso

organismo normalmente encontra dificuldades para armazena-la em quantidades

apreciáveis e são absorvidas por mecanismo passivo e ativo e transportadas por

carreadores. Estas vitaminas ou seus metabólitos são excretados na urina.

Lipossolúveis: A, D, E, e K tem um papel fisiológico separado e distinto. Na

maior parte, são absorvidos com outros lipídios, e uma absorção eficiente requer a

presença da bile e suco pancreático. São transportadas para o fígado através da

ninfa como uma parte de lipoproteína e são estocadas em vários tecidos corpóreos,

embora não todas nos mesmos tecidos, nem na mesma extensão. Normalmente são

excretadas nas fezes através da circulação êntero-hepática. Observe na Tabela

abaixo a composição vitamínico do pequi

Tabela Nº 01 – Composição Química do Pequi - Vitaminas

A C B1 B2 B3 B6

20.000 mcg 8,3 mg 0,17 mg 0,48 mg 2,57 mg 0,6 mg

Fonte: TACO, 2006, p. 33 ; FRANCO, 1992, p.97.

Como podemos observar, a composição vitamínico do pequi demonstra que

o pequi pode contribuir decisivamente para uma vida mais saudável, mas é

interessante analisar cada uma de suas propriedades nutricional para melhor

compreendermos sua viabilidade na merenda escolar, para tanto passaremos a

análise bioquímica dos componentes do pequi.

O conhecimento das propriedades vitamínicas dos alimentos, que

consumimos diariamente é de fundamental importância, pois com essa atitude

simples, utilizada de forma planejada evitamos a ingestão desorganizada de

nutrientes e restauramos o equilíbrio do organismo evitando danos à saúde. A

importância do pequi como componente da alimentação de escolares pode ser

avaliada também a partir dos seguintes fatores: É o fruto com maior teor de Vitamina

A (retinol); em Vitamina B-1 (tiamina) é igual ao caju, morango, jenipapo e mamão;

em Vitamina B-2 (riboflavina) é igual a uma gema de ovo; em teor protéico é igual ao

abacate e a banana prata; em gordura é igual ao abacate e o buriti; em açúcar

compara-se a jabuticaba e a uva; em cálcio é igual ao caju, maracujá e a laranja; em

ferro é igual ao tomate; em cobre é igual ao amendoim, figo e uva. Observem na

tabela abaixo suas principais funções bioquímicas:

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Tabela Nº. 02 PRINCIPAIS FUNÇÕES BIOQUÍMICAS DAS

VITAMINAS DO PEQUI

Vitamina Função Deficiência Fontes

Tiamina Coenzima em metabolismo de CH, função normal de coração, nervos e músculos.

Beribéri, perda apetite, neuropatia, fatiga, paralisia, insuficiência cardíaca.

Carnes, grãos enriquecidos, legumes.

Riboflavina Coenzima no metabolismo protéico e energético.

Queiloses, língua avermelhada, erupções cutâneas.

Leite, carnes, vegetais verdes.

Niacina B3 (precursor: triptofano)

Metabolismo (COA), atividade gástrica e intestinal normais, sistema nervoso.

Pelagra, fraqueza e falta de apetite, neurite, dermatite, confusão mental.

Carnes, amendoim, legumes.

Piridoxina B6

essencial ao Sistema nervoso e à pele, contribui com o metabolismo dos aminoácidos, produção de células do sangue, anticorpos, age como diurético natural, reduz os sintomas de vômito e náuseas, etc.

Caspa (dermatite seborréia, Anemia; Lesões na boca e na língua, Gengivite, Náuseas e vômitos, Irritabilidade, etc.

Levedo de cerveja, Farelo de trigo, Melado, Leite, Arroz integral, Cereais integrais, Aveia, Banana, Batata, Melão, Aves, Ovos, Carnes, etc.

Vitamina C Parede capilar, colágeno Absorção do ferro.

Escorbuto Anemia;

Frutas cítricas, tomate, folhas.

Vitamina A Adaptação visual, crescimento de pele e mucosas.

Cegueira noturna, xeroftalmia, alteração pele e membranas.

Retinol: alimento animal Caroteno: vegetais

Vitamina E Antioxidante. Fragilidade hemácias, anemia, neuropatia periférica.

Óleos vegetais, ovos, carnes, cereais, etc.

Fonte: RAMALHO, 2004, p. 464.

É comum a imprensa brasileira dar ênfase a problemas ligados a saúde do

brasileiro, quase sempre as notícias referem-se a epidemias e surtos endêmicos, no

entanto existem problemas crônicos e que afetam parcelas populacionais que por

não se enquadrarem nos grupos de risco passam quase que desapercebidos na

sociedade; a deficiência de vitamina A (DVA) entre alunos da educação infantil e do

ensino fundamental seguramente chega a ser um problema de saúde pública no

Brasil, uma vez que via de regra desenvolvemos campanhas e um

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acompanhamento mais próximo ao ideal apenas com os grupos populacionais

considerados como de risco nutricional, ou seja, gestantes, recém-nascidos e pré-

escolares.

São amplamente conhecidos os resultados da hipovitaminose A, chegando

inclusive a ser apontada como a principal causa de cegueira evitável no mundo. È

conhecido também no meio científico que a as carências vitamínicas na faixa etária

que compreende a pré-adolescência e a adolescência podem comprometer o

crescimento, a maturação sexual, o desenvolvimento intelectual e o desempenho

escolar, e isto incide diretamente nos custos com a manutenção da saúde pública.

(RAMALHO, et al, 2004, p. 465) afirma:

Para as mulheres em idade fértil a DVA, mesmo que em níveis

marginais ou subclínicos, pode representar maior risco de resultado

obstétrico desfavorável. Esta assertiva justifica-se, uma vez que a

vitamina A é importante para a reprodução normal, crescimento e

desenvolvimento fetais, constituição da reserva hepática fetal e para o

crescimento tecidual materno. Por não serem considerados

classicamente como de risco, os indivíduos em idade escolar

(incluindo os adolescentes) têm sido sistematicamente excluídos de

estudos investigativos e de programas de controle e combate à DVA.

Porém, estudos realizados na última década têm encontrado resultados

que apontam elevados níveis de carência de vitamina A em escolares

em diferentes países.

Tradicionalmente os países latinos não dispõem de inquéritos nacionais

sobre o estado nutricional de vitamina A, o que impede avaliar-se adequadamente a

real magnitude da DVA sobre a saúde desses segmentos, o Brasil apesar de

economicamente ser um gigante e figurar entre as maiores potências do planeta não

se difere dos paises localizados nessa parte do globo.

A ONU enquadra o Brasil como um país com deficiência marginal e de

importância moderada no tocante a questão da DVA e os resultados de estudos de

casos de diversas regiões brasileiras demonstram que este é um problema nacional

e não local e deveria ser tratado de forma diferenciada por nossas autoridades. Por

sua composição vitamínica e, sobretudo pelo alto teor de retinol acreditamos que se

justifique acrescentar na dieta dos escolares, alimentos como o pequi.

2.2 FUNÇÕES BIOQUÍMICAS DAS VITAMINAS PRESENTES NO PEQUI

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Apesar de constituir em média apenas 5 a 6% do corpo humano, embora

certos macroelementos como o cálcio, o ferro, o magnésio, o sódio o potássio, e o

fósforo, se encontrem em quantidades mais significativas, os sais minerais fazem

parte do grupo de elementos denominados essenciais à nossa saúde. Eles não

podem ser sintetizados pelo organismo, mas podem ser obtidos através de uma

alimentação saudável.

Os sais minerais representam cerca de 1% do total da composição celular e

podem ser encontrados sob a forma insolúvel, entrando na composição de

estruturas esqueléticas e de sustentação, como os ossos. Quando os sais minerais

se encontram dissolvidos em água, formam os íons. É sob essa forma que eles

desempenham a sua atividade reguladora fundamental.

A quantidade de cada mineral que deve ser consumido diariamente varia de

microgramas a gramas. Dessa maneira, o excesso ou falta na ingestão pode

acarretar prejuízos ao organismo, devendo-se tomar cuidado com o uso de

suplementos.

Minerais como cálcio, fósforo, sódio, potássio, cloro, magnésio e enxofre

podem ser classificados como macrominerais, pois são necessários em quantidades

acima 100mg por dia. Já os minerais como o ferro, cobre, cobalto, zinco, manganês,

iodo, molibdênio, selênio, flúor e cromo são classificados como microminerais, pois

são necessários em pequenas quantidades, miligramas ou microgramas por dia.

Riveira, et al. (2001) realizaram estudo de suplementação de múltiplos

micronutrientes (Vitaminas A, D, E, K, C, B1, B6, B12, riboflavina, niacina, biotina,

ácido fólico, ácido pantotênico e ferro, zinco, iodo, cobre, manganês e selênio) e

concluíram que deficiências de micronutrientes são determinantes no crescimento

humano, Observe na tabela abaixo os principais sais minerais presentes no pequi.

Tabela Nº. 03 – Composição Química do Pequi - Sais Minerais

Análise Química em Mg/100

Ca Fe P Cu Na Mg Mn Zn

32 0,3 298 0,21 2,1 30 0,64 1,0

Fonte: Fonte: TACO, 2006, p.32-33 ; FRANCO, 1992, p.143.

Com a finalidade de destacar as funções bioquímicas dos sais minerais

encontrados no pequi bem como sua contribuição para a saúde daqueles que optam

por colocá-lo em sua dieta, é interessante observar a tabela Nº. 4:

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Tabela Nº 04 - Principais funções bioquímicas dos sais minerais do pequi

Mineral Ingestão/dia

Função Deficiência Principais fontes

Cálcio 800mg - homem

1.200mg - mulher (19-24

anos)

Atua na formação de tecidos, ossos e dentes; contração muscular; na transmissão de impulsos nervosos (regulação da batida cardíaca), age na coagulação do sangue e na oxigenação dos tecidos; auxilia a neurotransmissão, está envolvido no transporte de membranas celulares, ativação ou liberação de enzimas.

Deformações ósseas; tetania na gravidez.

Leite e derivados, chicória, feijão, lentilha, vegetais de folhas verdes (como brócolis, couve e mostarda) cereais, grãos, frutas, carnes, mariscos, sardinha, salmão e ostras.

Cobre 1.5- 3.0mg

Formação dos ossos; síntese da hemoglobina e colágeno. Importante como componente de diversas enzimas e coenzimas. Colabora na síntese da hemoglobina, dos citocromos, da elastina e mielina.

Não existem evidências em humano. Doença de Menke é um problema genético que resulta na deficiência.

Vísceras, mariscos, leguminosas, frutas secas, cereais integrais.

Ferro 10mg - homem 15mg - mulher

Constituinte da hemoglobina e

mioglobina; transporte de oxigênio;

componentes de enzimas. O ferro

tem papel no transporte

respiratório do oxigênio e dióxido

de carbono e é parte ativa das

enzimas envolvidas no processo

de respiração celular; auxilia na

função imunológica e no

desenvolvimento cognitivo,

participando da contração

muscular, nos líquidos

intercelulares, linfa e no plasma

sangüíneo,

Anemia ferropriva. Carne, ovo, peixes, aves, gema de ovo, cereais, leguminosas, vegetais verde-escuros (espinafre), feijão e ervilha.

Fósforo 800mg - homem

1.200mg -

Estrutura de ossos e dentes; constituinte celular, no metabolismo dos glucídios, lipídios e protídeos a nível muscular; no

Normalmente não ocorre, desde que a ingestão de proteínas e cálcio

Leite e derivados, ovo, tecido animal, cereais e

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mulher (19-24 anos)

metabolismo do sistema nervoso, colabora como componente em muitos sistemas enzimáticos.

esteja adequada. leguminosas, as amêndoas.

Magnésio 350mg - homem 280mg - mulher

Componente estrutural das células e ossos; ativador de diversas enzimas no metabolismo energético do nosso organismo. Cereais, soja, nozes, amêndoas, amendoins e caju são muito ricos em magnésio.

O déficit de magnésio, embora raro, pode levar a um aumento de irritabilidade muscular originando tremores e convulsões. Parece interferir com a capacidade de recuperação muscular.

Leite, leguminosas, tecidos animais, cereais integrais, vegetais, caju.

Sódio 500 -

3.000mg

Contração muscular; regula osmolaridade, pH e volume dos líquidos corpóreos.

A diarreia e os vómitos intensos originam grandes perdas de sódio, cãibras musculares, fraqueza; dores de cabeça e colapso vascular.

Abundante em quase todos os alimentos. Leite e derivados, pão, cenoura, espinafre.

Fonte: Pesquisa de Campo

Todos os elementos destacados na tabela são muito importantes para a

formação física e mental dos alunos, mas destacaremos particularmente a influência

do ferro e do cálcio, sobretudo porque na infância e na adolescência apresentam

necessidades aumentadas desses minerais seja na formação de tecidos ósseos,

seja na construção da massa muscular que é acompanhada por volume sangüíneo

maior. As exigências do ferro são aumentadas durante a adolescência, quer para

alcançar o pico máximo de crescimento, quer pelas perdas menstruais. As

exigências de ferro são ainda maiores em países em desenvolvimento devido às

doenças infecciosas, às infestações por parasitas que causam a perda do ferro e à

baixa biodisponibilidade do ferro e das dietas limitadas, observe:

A deficiência de ferro é a deficiência nutricional mais comum, assim

como a causa mais comum de anemia entre crianças e mulheres.

Sendo considerado um problema de saúde pública, especialmente no

período da infância, no qual suas necessidades estão aumentadas O

período de rápido crescimento da lactância é marcado por um aumento

tanto na hemoglobina como na massa de ferro total. Além disso, neste

período as crianças não consomem alimentos ricos em ferro,

ressaltando assim os cuidados quanto à quantidade de ferro nos

alimentos, especialmente aqueles de origem vegetal. Muitos estudos

mostram que a deficiência de ferro em crianças pequenas está

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associada com desenvolvimento neurológico deficiente, mas não está

claro se este quadro pode ser evitado pela suplementação de ferro

(BUENO & CZEPIELEWSKI, 2007 p. 50)

Por outro lado convém destacar que aproximadamente 70% do peso

corporal é composto por cristais cálcio-fosfato fornecendo informação suficiente para

sugerirmos que o cálcio seja um dos principais nutrientes para o adequado

crescimento ósseo e estatural. Anormalidades na estrutura óssea devido à

deficiência de cálcio ocorrem na osteoporose, osteomalacia e raquitismo, entre

outros.

Além do cálcio, outros minerais e elementos estão envolvidos no

crescimento ósseo, alguns deles como constituintes da matriz, como magnésio e

flúor, outros como componentes do sistema enzimático envolvido nos mecanismos

da matriz, como zinco, cobre e manganês. Uma dieta insuficiente nestes nutrientes

resulta na redução de crescimento ósseo na formação do osso definitivo. Vitaminas

também desempenham papel importante no metabolismo do cálcio como a vitamina

D e as vitaminas C e K, como co-fatores de enzimas chaves no metabolismo ósseo.

Estudos recentes e recomendações dietéticas têm enfatizado a importância

nutricional do cálcio em crianças, especialmente naquelas em fase de rápido

crescimento e de mineralização óssea associados ao desenvolvimento puberal. O

atual consumo dietético de cálcio entre crianças e adolescentes está bem abaixo

dos níveis ótimos de recomendação.

2.3 PROPRIEDADES FISICO-QUÍMICA DAS FIBRAS PRESENTES NO PEQUI

O conceito de fibra alimentar (FA) vem-se modificando a medida em que

ocorrem avanços nas metodologias de análise da fibra, e nos estudos sobre o

comportamento dos alimentos no trato digestivo de humanos. Segundo

KANASHIRO, 2005, p. 95, os conceitos recentes mais adotados são:

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa (Resolução RDC n.40 de

21/03/2001) define FA como“.. qualquer material comestível que não seja hidrolisado

pelas enzimas endógenas do trato digestivo de humanos e determinado segundo os

métodos publicados pela AOAC em sua edição mais atual”.

Associação Americana de Químicos de Cereais: “A fibra da dieta é a parte

comestível das plantas ou carboidratos análogos que são resistentes à digestão e

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absorção no intestino delgado de humanos com fermentação completa ou parcial no

intestino grosso. A fibra da dieta inclui polissacarídeos, oligossacarídeos, lignina, e

substâncias associadas à planta. A fibra da dieta promove efeitos fisiológicos

benéficos, incluindo laxação, e/ou atenuação do colesterol do sangue e/ou

atenuação da glicose do sangue”.

Os componentes da FA estão presentes na maioria das vezes em dietas

consumidas diariamente pelas populações e são encontrados principalmente em

vegetais, frutas e grãos integrais e podem, também, ser extraídos de sementes,

exsudatos de plantas, algas marinhas e raízes tuberosas. Compostos como

lactulose, lactose, amido resistente, inulina e frutoligossacarídeos, podem ser

incorporados aos alimentos com a finalidade de melhorar seus atributos sensoriais e

suas características funcionais. Proteínas não digeridas e produtos de reações

formados durante o processamento de alimentos também podem estar presentes na

fração fibra.

Estudos recentes demonstram que o pequi se constitui uma importante fonte

de fibras alimentares, OLIVEIRA, et al 2006, p.1 demonstra que o teor de pectina

total na polpa varia de 178,8 U/g a 197,3 U/g, não apresentando uma tendência de

variação definida em função do grau de maturação dos frutos. Observe o teor de

fibras existentes nesse alimento.

Tabela Nº 05 - Teor de fibras totais no pequi – comparação

com alimentos tradicionais

Tipo de alimento Total de fibras % Casca do pequi 39,97

Polpa do pequi 10

Amêndoa do pequi 5,5

Arroz cozido 0,4

Aveia farelo 17,0

Batata frita 2,3

Beterraba 1,7

Cenoura cozida 2,5

Laranja 1,9

Maçã com casca 2,7

Pão francês 2,7

Farinha de milho fina

1,5

Flocos de cereais (milho)

4,3

Fonte: Pesquisa de Campo

14

GARBELOTTI, et al 2003, p. 19 demonstram que o papel da fibra alimentar

(FA) na dieta passou a ser reconhecido na nutrição e saúde somente após a década

de 60. Desde então, muitos estudos epidemiológicos têm sido realizados para

verificar os possíveis efeitos da fibra na saúde, o que tem demonstrado importância

considerável no tratamento e na prevenção de doenças. Segundo Hernandez, o

termo fibra alimentar foi proposto por Hipsely (1953) e definido por TrowelL (1972),

como sendo o componente da parede celular de vegetais incluído na dieta humana

que resiste à ação das secreções do nitrato gastrintestinal.

MAHAN & STUMP, 2004, p. 02 recomenda uma quantidade entre 19 e 26

g/dia aos alunos em idade escolar no ensino fundamental com variação significativa

entre meninos e meninas. Observe as propriedades físico-químico bem como suas

funções no organismo humano.

Tabela Nº 06 - Propriedades físico-química do pequi

Propriedade físico-Quimíca

Tipo de fibra Efeito Fisiológico Significância Clínica

-viscosidade Gomas, mucilagens e pectinas

Descreve o esvaziamento gástrico, descreve a taxa de absorção no intestino grosso

-diabetes, hipercolesterolemia

Tamanho da partícula e capacidade de se ligar à àgua

Farelo de trigo, conteúdo pentosana

Aumenta o esvaziamento gástrico, descreve o tempo de trânsito trato gastrointestinal, descreve pressão intraluminal no cólon, aumento do volume fecal

- constipação, úlcera péptica, doença diverticular, dilui potencial carcinogênico.

Absorção e não específcos efeitos

Lignina, misturas de fibras-pectina

Aumento da produção de esteróide fecal, aumento da perda de gordura e hodrogênio

-hipercolesterolemia, anticarcinogenio

Troca catiônica Polissacarídeos ácidico (pectinas)

Aumento da perda de minerais, traço de elementos, metais pesados.

-negativo balanço mineral, efeito antioxidante.

15

Antioxidante Lignina (reduz grupos fenólicos)

Diminui os radicais livres no trato digestivo

-anticarcinogênico

Degradabilidade (colônia bacteriana)

Polissacarídeos (menos a lignina)

-aumenta produções de gás e ácidos graxos de cadeia curta, descreve pH fecal

-flatulência, produção de energia, anticarconogênico, Metabolismo/carboidratos/lípideos

Fonte: GARBELOTTI, 2003, p. 19

Existem alimentos denominados de funcionais, e o pequi se enquadra nesta

denominação que apresentam componentes nutricionais tão interessantes que

convêm destacar, observe:

“Nas últimas décadas, novas tecnologias, como a biotecnologia,

engenharia genética, processamento de alimentos, inovações de

produtos e produção em massa, habilitaram os cientistas de alimentos

a planejar novos produtos saudáveis. Há em todo o mundo um

crescente interesse pelo papel desempenhado na saúde por alimentos

que contêm componentes que influenciam em atividades fisiológicas

ou metabólicas, ou que sejam enriquecidos com substâncias isoladas

de alimentos que possuam uma destas propriedades, os quais estão

sendo chamados "alimentos funcionais" e que estão invadindo os

mercados, tendo em vista as perspectivas de ganhos nesta área.

(VIEIRA et al, 2006, p. 2)

Enquanto o mundo todo investe milhões em pesquisa visando obter

alimentos mais saudáveis e assim gastar menos com a saúde curativa, o Brasil

simplesmente destrói milhares de hectares de matas nativas contendo plantas que

seguramente poderiam contribuir para uma melhor qualidade de vida de sua

população pois como afirmara Hipócrates “somos aquilo que comemos”.

2.4 COMPOSIÇÃO LIPÍDICA DO PEQUI

Lípides ou lipídios são ésteres elaborados pelos organismos vivos, que por

hidrólise fornecem ácidos graxos ao lado de outros compostos e classificam-se em

Lipídeos simples, (não saponificáveis) Representados pelos esteróis; carotenóides e

tocoferóis. Complexos (saponificáveis) Representados pelos Acilgliceróis; ceras;

fosfolipídeos; diglicerídeos e monoglicerídeos, D´Arc (2006). A matéria

insaponificável corresponde à quantidade total de substâncias dissolvidas nos óleos

e gorduras que após saponificação com álcalis são insolúveis em solução aquosa,

mas solúveis em solventes comuns de gorduras (KOBORI; JORGE, 2005).

16

Os lipídeos de modo geral podem ser definidos como um conjunto de

substâncias químicas que, ao contrário das outras classes de compostos orgânicos,

não são caracterizadas por algum grupo funcional comum, e sim pela sua alta

solubilidade em solventes orgânicos e baixa solubilidade em água. Juntamente com

as proteínas, ácidos nucléicos e carboidratos, os lipídios são componentes

essenciais das estruturas biológicas, e fazem parte de um grupo conhecido como

biomoléculas. Os lipídios se encontram distribuídos em todos os tecidos,

principalmente nas membranas celulares e nas células de gordura.

Existem diversos tipos de moléculas diferentes que pertencem à classe dos

lipídios. Embora não apresentem nenhuma característica estrutural comum todas

elas possuem muito mais ligações carbono-hidrogênio do que as outras

biomoléculas, e a grande maioria possui poucos heteroátomos. Isto faz com que

estas moléculas sejam pobres em dipolos localizados. Embora possam apresentar

uma estrutura química relativamente simples, as funções dos lipídios são complexas

e diversas, atuando em muitas etapas cruciais do metabolismo e na definição das

estruturas celulares.

Os óleos vegetais e as gorduras animais pertencem a este grupo de

compostos orgânicos chamados ésteres, e são produzidos pela união entre um

ácido e um álcool. Em síntese podemos afirmar que os óleos e gorduras, vegetais ou

animais, são substâncias que contém glicerina combinada com vários ácidos graxos.

Há uma variedade de plantas das quais se podem extrair óleo, tais como soja,

amendoim, girassol, algodão, milho, canola, coco, mamona, pequi, macaúba,

babaçu, dendê, pequi que contém cerca de 60% de óleo comestível em sua polpa e

é rico em proteínas e vitaminas, entre outros.

Dados da composição em ácidos graxos do óleo da polpa e da amêndoa do

pequi (Caryocar brasiliense Camb) mostram que são constituídos na sua maior parte

por ácido oléico e ácido palmítico (Tabela nº 07 e Tabela 08 ) (FACIOLI e

GONÇALVES, 1998), estudos recentes tem comprovado que a adoção de dietas

equilibradas contendo esses elementos pode contribuir decisivamente para melhoria

da qualidade de vida, pois não basta viver mais; precisamos viver melhor.

Tabela Nº 07 - Composição em ácidos graxos do óleo do pequi.

17

ÁCIDO GRAXO

TEOR DE ÓLEO DE PEQUI % (p/p) 100g

POLPA AMÊNDOA CASCA

Palmítico (16:0) 40,2 34,4 34,0

Palmitoléico (16:1) 1,4 2,1 1,6

Esteárico (C18:0) 2,3 1,8 3,7

Oléico (C18:0) 53,9 57,4 54,3

Linoléico (C18:2) 1,5 2,8 4,2

Linolênico (C18:3) 0,7 1,0 1,8

Araquidico (C20:0) 0,2 - -

SATURADOS 36,2 34,1 37,7

INSATURADOS 63,8 65,9 62,3

FONTE: (FACIOLI; GONÇALVES, 1998 & EMBRAPA 1987).

Tabela Nº 08 - Composição triglicerídia do óleo do pequi

TEOR DE TRIGLICERÍDEOS NO ÓLEO DO PEQUI % (p/p) 100g

TRIGLICERÍDEOS POLPA

LOO 3,8

POL 2,7

OOO 5,4

POO 22,9

POP 27,6

SOO 9,1

POS 18,2

PPS 0,3

SOS 8,7

Fonte: (FACIOLI; GONÇALVES, 1998).

(PIMENTEL, et al., 2005).demonstram que os principais ácidos graxos da

família ômega 3 são o alfa-linolênico (C18:3 – 18 carbonos e 3 insaturações), o

eicosapentanóico-EPA (C20:5 – 20 carbonos e 5 insaturações) e o

docasahexanóico-DHA (C22:6 – 22 carbonos e 6 insaturações). Os ácidos graxos da

família ômega 6 mais importantes são o linoléico (C18:2 – dezoito carbono e 2

insaturações) e o araquidônico (C20:4 – 20 carbonos e 4 insaturações)

18

Os ácidos graxos de cadeia longa da família ômega 3 (EPA e DHA) são

sintetizados nos seres humanos a partir do ácido linolênico. Este ácido graxo é

também o precursor primordial das prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos

com atividade antiinflamatória, anticoagulante, vasodilatadora e antiagregante, na

prevenção do câncer (mama, próstata e cólon) e redução da incidência de

arteriosclerose, Rodruguez, et al (2003)

Os ácidos graxos ômega 3 são também indispensáveis para os recém-

nascidos por representarem um terço da estrutura de lipídeos no cérebro, carências

destas substâncias podem ocasionar redução da produção de enzimas relacionadas

às funções do aprendizado. O suprimento adequado de DHA na alimentação dos

bebês é fundamental para o desenvolvimento da retina.

(MORAES; COLLA, 2006 p. 118) destaca que além de seu papel nutricional

na dieta, os ácidos graxos ômega 3 podem ajudar a prevenir ou tratar uma

variedade de doenças, incluindo doenças do coração, câncer, artrite, depressão e

mal de Alzheimer entre outros, no entanto devem ser consumidos numa proporção

equilibrada com os ácidos graxos ômega 6 numa proporção de aproximadamente de

5:1 de ômega 6 para ômega 3.

O ácido linoléico, presente no óleo de pequi, pertencente ao grupo dos

ácidos graxos ômega 6, é transformado pelo organismo humano no ácido

araquidônico e em outros ácidos graxos poliinsaturados. Os ômega 6 derivados do

ácido linoléico exercem importante papel fisiológico: participam da estrutura de

membranas celulares, influenciando a viscosidade sangüínea, permeabilidade dos

vasos, ação antiagregadora, pressão arterial, reação inflamatória e funções

plaquetárias. Estudos mostram os efeitos causados pela substituição de gordura

saturada por gordura monoinsaturada na dieta, com a redução nos níveis de

colesterol total e de LDL, sem alterar significativamente os níveis de HDL.

2.5 COMPOSIÇÃO PROTEICA DO PEQUI

O termo proteína deriva do grego “proteios”, “que tem prioridade”, “o mais

importante”, são compostos orgânicos de alto peso molecular, formadas pelo

encadeamento de aminoácidos. Podem ser classificadas em proteínas simples,

denominadas também de homoproteínas (albuminas, globulinas, escleroproteínas

ou proteínas fibrosas), conjugadas, denominadas também de heteroproteínas

19

(cromoproteínas,fosfoproteínas, glicoproteínas, lipoproteínas, nucleoproteínas) e

derivadas (proteoses e as peptonas).

As proteínas desempenham as funções estrutural, enzimática, hormonal, de

defesa, nutritivo, coagulação sangüínea e transporte nos seres vivos estas podem

ser de origem animal ou vegetal. As proteínas formam o que chamamos de massa

corporal magra, juntamente com os ossos e líquidos corporais. Além disso, são de

extrema importância tanto dentro das células quanto fora delas, pois cumprem as

mais diversas funções no nosso organismo.

A principal função das proteínas no nosso organismo é sem dúvida a de

constituir os nossos músculos e vísceras, uma vez que a maioria absoluta da

proteína corporal está presente neles. A proteína muscular tem a função de executar

a contração muscular, função primordial que possibilita movimentarmos. Outras

funções de extrema importância são as proteínas que constituem os hormônios que

regulam o funcionamento dos mais diversos órgãos do nosso corpo. Além disso,

existem proteínas que têm o objetivo de defender o nosso corpo de agentes

agressores são os anticorpos.

As enzimas que fazem o nosso organismo funcionar, metabolizando os

alimentos em energia, reconstruindo a nossa massa corporal que está sempre em

processo de degradação e reconstrução, são outros tipos importantes de proteínas.

Por fim, existem proteínas que transportam substâncias no nosso sangue, como a

hemoglobina, a albumina e as lipoproteínas HDL, LDL e VLDL, entre outras.

Ocorrem muitas divergências quanto ao teor de proteína encontrados tanto

na polpa, como na casca ou amêndoa, (Ribeiro, 2000) afirma ser (13,5) o teor da

polpa, superior ao encontrado no arroz, na batata , entre outros.

Vilela (1998) afirma que os teores da polpa variam entre 3,54 e 6,0%. Para

frutos coletados na localidade de Brasilândia-MG, respectivamente. Em frutos

procedentes de outras regiões, Ferreira et al. (1987) obtiveram um valor de

1,61g/100g (Luiziânia-GO).

Existem inúmeras explicações plausíveis para a variação que podem estar

ligados desde a fase de maturação, incidência solar ou se o fruto estava caído no

chão há muitos dias ou não, mas o que todas as pesquisas confirmam é que este

fruto do cerrado faz valer o nome popular que recebe, “a carne do cerrado”.

Franco, (1982) destaca que, dos frutos tropicais mais consumidos pela

população brasileira, o teor protéico da polpa do pequi só está abaixo do coco da

20

Bahia, que apresenta um teor de 5,5g/100g, os dados demonstram de forma

inequívoca que o pequi é um alimento que merece ser tratado com mais atenção

principalmente nesse momento em que o planeta todo inicia acalorados debates no

tocante a produção de alimentos e biocombustíveis, pois o pequi se enquadra em

ambos os casos, há que destacar que é uma planta nativa, logo aclimatada e pode

contribuir inclusive com a recuperação de áreas degradadas unindo o útil ao

agradável, somente paises tão antagônicos como o Brasil pode se dar ao luxo de

desperdiçar ao longo de séculos essa fonte inesgotável de vida e alimento.

2.6 HIDRATOS DE CARBONO PRESENTES NO PEQUI

Os carboidratos são substâncias orgânicas chamadas de hidratos de

carbono. Estes nomes foram dados porque, na molécula da maior parte dos

carboidratos, para cada carbono presente existem 2 átomos de hidrogênio e 1 átomo

de oxigênio, na mesma proporção existente na molécula de água. Sua fórmula

empírica é (CH2O)n. Daí o nome carbo (carbono) hidrato (hidros = água).Os

carboidratos são a maior reserva de energia de todo o reino vegetal, sendo produto

do processo fotossintético. Por outro lado, no reino animal, os carboidratos são

encontrados em pequenas quantidades no sangue, sob a forma de glicose, e no

fígado e músculos, sob a forma de glicogênio. Os carboidratos também são

conhecidos como açúcares.

Os carboidratos têm função estrutural (construtora ou plástica) e

armazenamento energético nos animais, sob a forma de glicogênio, e principalmente

nos vegetais, sob a forma de polissacarídeos. Também tem função anticoagulante

(heparina), lubrificante, cicatrizante (quitina) e antigênica (ativa o sistema

imunológico, por exemplo, a alergia causada por crustáceos). Segundo a ocorrência

ou não de hidrólise os carboidratos são classificados em:

Monossacarídeos: São glicídios simples que não sofrem hidrólise são

nomeados de acordo com a quantidade de Carbono da cadeia. Os mais importantes

são as Hexoses (6C) e as pentoses (5C). As Pentoses mais importantes são Ribose

e Desoxirribose componentes estruturais do RNA e DNA respectivamente. Hexoses

mais importantes são: Glicose, Frutose e Galactose todos com funções energéticas.

Oligossacarídeos: São glicídios formados pela junção de 2 a 10

Monossacarídeos através de uma ligação covalente denominada Ligação

21

Glicosídica sofrem hidrólise e os mais importantes oligossacarídeos são os

dissacarídeos formandos pela junção de 2 monossacarídeos os mais importantes

são: Sacarose (glicose+frutose); Lactose(Glicose+Galactose);

Maltose(Glicose+Glicose).

Polissacarídeos: São glicídios formados pela junção de mais de 10

Monossacarídeos os mais importantes são: Amido, Glicogênio, Celulose, Quitina.

As principais fontes de hidratos de carbono na alimentação do Homem são

os cereais, raízes, tubérculos, leguminosas, vegetais e frutos e produtos lácteos. Os

hidratos de carbono, e os açúcares em particular, são as principais fontes de energia

para o corpo, mas também desempenham um papel importante no prazer que

sentimos ao alimentar-mo-nos. Eles adicionam sabor doce, aroma, textura,

palatabilidade a uma larga variedade de alimentos que de outra forma não

conseguiríamos ingerir.

Os hidratos de carbono têm efeitos fisiológicos como o impacto na

saciedade e esvaziamento gástrico e influência sobre a glicemia. A fibra dietética é

conhecida como um importante moderador da digestão no intestino delgado e como

o principal substrato de fermentação ao nível do cólon. Os hidratos de carbono

desempenham um papel importante na manutenção da saúde como parte integrante

de uma alimentação equilibrada e saudável e na prevenção de doenças.

Damaso, (2001) aponta cinco importantes funções dos hidratos de carbono

no organismo humano:

Fonte energética: uma das principais funções dos carboidratos é fornecer

energia para o desenvolvimento e manutenção das funções celulares, sendo que as

reservas de glicogênio promovem um equilíbrio no organismo pela geração de ATP

e coenzimas ativas no metabolismo;

Ação poupadora de proteínas: um nível adequado de carboidratos na dieta

impede que ocorra uma degradação das proteínas para geração de energia, mesmo

quando o organismo é exposto a situações que aumentam significativamente a

demanda energética. Esta poupança de substrato protéico promove uma maior

quantidade de proteína armazenada, o que favorece a "construção" dos tecidos;

Efeito anticetogênico: a cetose é uma condição na qual são observadas

elevações da produção de corpos cetônicos decorrentes da grande mobilização de

gordura. Tal situação resulta em aumento da acidez dos fluidos orgânicos, o que

pode ser prejudicial. Isto ocorre quando as quantidades de hidratos de carbono

22

ingeridas são insuficientes e prejudicam o transporte de glicose para dentro das

células. Este quadro é freqüentemente observado em casos de administração de

dietas restritivas e/ou realização de esforços físicos extenuantes;

Constituição de compostos estruturais: a função plástica dos hidratos de

carbono é representada pela constituição da ribose e da desoxirribose na estrutura

do DNA e RNA. Além destes, as glicoproteínas das membranas plasmáticas, dos

anticorpos, de alguns fatores de coagulação sangüínea, entre outros, têm em sua

estrutura componentes glicídicos;

Combustível para o sistema nervoso central: é de conhecimento geral

que o tecido cerebral "alimenta-se" quase que exclusivamente de glicose, o que

numa situação de interrupção prolongada glicêmica resulta em danos irreversíveis

ao cérebro.

Existem diferentes dados acerca da composição química do pequi, no

tocante aos carboidratos não é diferente. TACO (2006) demonstra que existem

13,0g para cada 100 gramas da parte comestível do pequi cru. Lima et al (2007)

demonstra que cerca de 8,33% da polpa é formado por carboidratos. já o Relatório

Institucional – Núcleo de Ciências Agrárias, Universidade Federal de Minas Gerais,

Montes Claros, 2003 aponta um valor total de 8,95%. Há uma carência enorme de

pesquisas seguras nessa área com o objetivo de padronizar os valores, as margens

aceitáveis de erros e até mesmo detectar as diferenças regionais que ocorrem desde

o período de maturação e colheita dos frutos até mesmo as variações que ocorrem

de plantas da mesma família mas com variedades diferentes tais como o pequi anão

e o pequi sem espinhos que vem sendo estudado pela EMBRAPA isso tudo só

valorizaria ainda mais este fruto e colocaria na discussão sobretudo dos povos do

cerrado a importância de desenvolver leis específicas que protejam essa planta

como também a difusão nas mídias locais sobre a importância do consumo do

mesmo sobretudo, mas não somente, por crianças em idade escolar.

3. REVISÃO DE LITERATURA

O pequi (Caryocar brasilense) planta típica do cerrado brasileiro ocorre em

boa parte do território nacional. (PEREIRA 2004 p. 08) afirma que esse fruto de

aspecto bruto é o mais utilizado pela culinária guiratinguense; podendo-se concluir

que tempo de pequi é essencialmente tempo de festa.

23

FERREIRA, et al, 1988 p. 01 demonstra que a polpa do pequi contém 61,79%

de óleo e 42,2% de proteína e a amêndoa possui 6,71% e 24,6% respectivamente

se configurando em um importante complemento alimentar.

Convém destacar que a amêndoa do pequi, pela alta quantidade de óleo que

contém e por suas características químicas, pode ser também utilizada com

vantagem na indústria de cosméticos para a produção de sabonetes e cremes, entre

outros.

Franco, (1996) demonstra que foram encontradas 20.0000 mcg de vitamina A

e 463 mcg de vitamina B2. Dados da Organização Mundial de Saúde afirma que

10% dos alunos da 1ª série do ensino fundamental público apresentam deficiências

visuais, necessitando de medidas corretivas; o problema é tão grave que em 1984 o

Ministério da Educação criou o “PNSE”, Programa Nacional Saúde do Escolar e

desde então vem concedendo apoio financeiro aos municípios em caráter

suplementar para a realização de consultas oftalmológicas, aquisição e distribuição

de óculos para os alunos com problemas visuais regularmente matriculados na rede

pública. Contraditoriamente, o pequizeiro, planta que poderia oferecer enorme apoio

no combate a deficiência de visão, em função da rápida expansão das fronteiras

agrícolas no cerrado mato-grossense vem sendo eliminado da paisagem regional.

Almeida; Silva (1994) destacam que o fruto do pequizeiro apresenta alto teor

de caroteno (120mg). A polpa de pequi contém 78,272mg de vitamina C, valor acima

de quatro frutas tradicionalmente cultivadas e consumidas pela população brasileira

como laranja-pera (40,9mg), limão (26,4mg), banana d’água (6,4mg) e maçã

argentina (59mg) Sano;Almeida, (1998).

A polpa de pequi é composta de 66% de óleo e 13,5% de proteína e a

amêndoa tem 47% de óleo e 54% de proteína (Oliveira, 1988). O percentual de

proteínas presente na polpa do pequi (13,5%) é superior ao encontrado no arroz e

na batata Ribeiro, (2000).

Parece incrível como uma fruta tão pequena pode conter tantos antioxidantes,

as célebres substâncias que combatem os radicais livres. Uma das que mais

aparecem no pequi é a vitamina C, mas o licopeno, composto que protege a próstata

e o coração, não fica tão atrás, ressalta José Orlando Madalena 2001, técnico da

EMBRAPA.

Mondine, et al (2007) demonstra a importância dos frutos do cerrado no

combate a anemia de crianças indígenas da nação Kaiamurá do Alto Xingu, Brasil

24

central.

Pereira, (2004) define o pequi como “o ouro do cerrado” e relata como uma

cidade inteira do Estado de Minas Gerais, conseguiu gerar emprego e renda a uma

comunidade rural que graças ao sucesso do projeto provocou a emancipação

política do distrito.

Campbeell, (1996) afirma que cerca de cinqüenta milhões de pessoas que

vivem nas florestas e nas redondezas dependem de produtos fornecidos por ela, tais

como frutos, óleos essenciais, alimentos corantes entre outros para sobreviver.

Moço, (2008) demonstra que além do sabor marcante é uma das plantas do

cerrado que apresenta enorme número de antioxidantes “as célebres substâncias

que combatem os radicais livres”. O pequi apresenta uma enorme quantidade de

vitamina C, mas o licopeno composto que protege a próstata e o coração, não fica

tão atrás ressalta José Orlando Madalena- engenheiro agrônomo da Embrapa.

Existem relatos do estudo do pequi desde o início do século XX por ser um

fruto altamente nutritivo, com polpa rica em vitaminas (é o fruto mais rico em

vitamina A, com uma quantidade 20 vezes maior que a cenoura), gorduras (o

óleo extraído é utilizado para vários fins) e proteínas, é considerado um alimento

indispensável para a população do cerrado Carvalho;Burguer, (1960.Vitaminas...,

2007; Vilela, 1998).

Araújo, (1995); Almeida et al., (1998), afirmam que o pequi é um fruto

proveniente de uma planta arbórea da família Caryocaraceae, gênero Caryocar L. e

existem, aproximadamente, vinte espécies dessa planta, sendo a espécie C.

brasiliense Camb. encontrada com maior incidência no Brasil, especialmente

no cerrado. Os estados que apresentam esta espécie são Bahia, Distrito Federal,

Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Tocantins,

Ceará, Piauí e Maranhão. Esse fruto, de acordo com a região de ocorrência, é

conhecido como pequi, piqui, pequiá, piquiá, piquiá-bravo, entre outros.

4. METODOLOGIA

a produção deste artigo conduziu-se terminantemente pelas seguintes fases

e ou/ metodologias:

1ª Fase - Pesquisa Bibliográfica: Nesta fase visando obter fontes

bibliográficas concernentes ao tema abordado realizamos visitas a Biblioteca Pública

25

Municipal Castro Alves, Biblioteca Pública da UFMT/ CUR - Centro Universitário

Rondonopolitano e visitas a sítios da web voltados à divulgação de trabalhos

científicos.

2ª Fase - Pesquisa de Campo: Nesta etapa realizou-se uma série de visitas

a zona rural do município de Guiratinga MT, localizado na Região Sul de MT visando

coletar dados e imagens no habitat natural do pequi..

3ª Fase: Elaboração dos textos provisórios.

4ª Fase: Revisões e elaboração dos textos definitivos.

5. RESULTADOS ALCANÇADOS

O Ministério da Saúde e o Ministério de Educação através de ações

conjuntas têm estimulado a implantação de programas de educação alimentar para

incentivar o consumo de alimentos ricos em vitamina A e em outros nutrientes.

Muitos destes alimentos, como as frutas nativas, apresentam custo acessível,

mesmo para as populações mais carentes.

O uso sustentado das fruteiras nativas pode ser uma excelente opção para

melhorar a saúde da população brasileira e para agregar valor aos recursos naturais

disponíveis no cerrado, melhorando a renda das pequenas comunidades rurais e

favorecendo a preservação das espécies nativas. Partindo dessa premissa bem

como das propriedades nutricionais destacadas ao longo desta pesquisa, algumas

das quais destacadas na Tabela Nº 09 recomenda-se a utilização do pequi na

merenda escolar como uma forma de evitar e ou corrigir doenças que

tradicionalmente afetam nossos alunos e prejudicam diretamente o desempenho dos

mesmos se constituindo seguramente em um dos principais responsáveis pela

repetência e ou mau desempenho dos mesmos.

Observe algumas das principais substâncias presentes no pequi que podem

ser são consideradas como funcionais:

Tabela Nº 09 - Substância funcionais presentes no pequi1

1 Sgarbieri & Pacheco (1999): "qualquer alimento, natural ou preparado, que contenha uma ou mais

substâncias, classificadas como nutrientes ou não nutrientes, capazes de atuar no metabolismo e na fisiologia humana, promovendo efeitos benéficos, para a saúde, podendo retardar o estabelecimento de doenças crônico-degenerativas e melhorar a saúde e a expectativa de vida das pessoas". ANVISA define Alimento funcional como sendo "aquele alimento ou ingrediente que, além das funções nutritivas básicas, quando consumido como parte da dieta usual, produza efeitos metabólicos

26

Substância funções fontes alimentares

ÁCIDOS GRAXOS MONO-

INSATURADOS

Efeito protetor sobre cânceres de

mama e de próstata

Azeite de oliva

ÔMEGA – 3: Efeito protetor de doenças

cardiovasculares

Evita a formação de coágulos

sanguíneos na parede arterial

Diminui a pressão sanguínea

Aumenta o HDL plasmático

(colesterol bom) e reduz o

colesterol LDL (ruim)

Pode diminuir a quantidade de

triglicérides no sangue

Peixes de água fria e

frutos do mar.

ÔMEGA – 6: Efeito protetor para as doenças

cardiovasculares.

Óleos vegetais, como

azeite, óleo de canola,

milho e girassol, bem

como nas nozes, soja

e gergelim

FITOESTERÓIS Age precipitando o colesterol

dietético presente no intestino,

pode colaborar a redução da

absorção do colesterol.

Têm propriedade de auxiliar no

controle de alguns hormônios

sexuais e, eventualmente aliviar os

sintoma de TPM por atenuar a

queda de estrógeno que ocorre

nesta fase

Óleos vegetais,

cremes vegetais com

adição desta

substância, legumes,

gergelim, e semente

de girassol

FITOESTRÓGENOS

isoflavona

(genisteína e a daidzina)

Menor incidência de doenças

cardiovasculares

Câncer de mama

Câncer de próstata

Osteoporose

Soja

Inhame

Antocianinas (flavonóides) Possuem propriedades anti-

carcinogênicas, anti-inflamatórias

e anti - alérgicas

cerejas, jambolão,

uvas, vinho, morangos,

amoras vermelhas,

uvas, vinho, berinjelas

entre outros

Antoxantinas (flavinóides) Possuem propriedades anti-

carcinogênicas, anti-inflamatórias

e anti - alérgicas

batata e repolho

branco

CAROTENÓIDES Essenciais para a visão,

diferenciação das células,

desenvolvimento embriológico e

Cenoura, abóbora e

mamão

e/ou fisiológicos e/ou efeitos benéficos à saúde, devendo ser seguro para consumo sem supervisão médica" (RDC 18/99)

27

outros processos fisiológicos, e

ainda possuem ação estimulante

ao sistema imunológico, inibem a

mutagênese e protegem contra a

oxidação e contra doenças

cardiovasculares

LICOPENO Reduz a concentração de radicais

livres

Previne o ataque cardíaco por

impedir a oxidação de LDL

Tomate, melancia

FIBRAS SOLÚVEIS Absorvente sobre os ácidos e sais

biliares que atenuam a velocidade

de absorção de diversos

nutrientes, entre eles a glicose e o

colesterol

Algumas frutas,

vegetais, leguminosas

(feijão, lentilha)

FIBRAS INSOLÚVEIS Como celulose e lignina, por não

serem digeridos favorecem o bom

funcionamento dos intestinos,

aumentando o volume fecal, e

atualmente sendo citados como

fator importante na redução de

incidência de câncer de intestino

(cólon).

cascas de cereais

Fonte: VIEIRA, et al, 2006 p. 3

Por outro lado, o consumo de frutas e vegetais tem sido associado a uma

menor incidência e mortalidade por diversas doenças crônicas não-transmissíveis. A

proteção que esses alimentos oferecem contra as enfermidades degenerativas,

como câncer, doenças cardiovasculares e cerebrovasculares, está associada ao seu

alto conteúdo de constituintes químicos com propriedades importantes, como as de

antioxidantes (vitamina C, E, carotenóides e polifenóis).

6. CONCLUSÃO

Estudos de literatura existente acerca do pequi exaustivamente abordado ao

longo deste artigo demonstram que a polpa do fruto de pequi é rica em lipídios

(33,4%) se constituindo em uma fonte importante de fibra alimentar (10,02%) e um

teor de 13,5% de proteínas, fornecendo cerca de 358Kcal/100g de material, as quais

correspondem a 18% das necessidades calóricas de um adulto com uma dieta de

2.000Kcal e 40% das necessidades de fibra alimentar. Isso mostra que o consumo

da polpa de pequi poderá trazer benefícios à saúde da população, tendo em vista o

28

conhecimento de que o consumo regular de fibra alimentar na dieta está relacionado

com a redução do risco de diversos quadros patológicos Lima et al, (2007).

Na amêndoa do pequi os quatros componentes majoritários foram os lipídios

(51,51%), as proteínas (25,27%), os carboidratos (8,33%) e a fibra alimentar (2,2%),

apresentando um baixo teor de umidade e um teor elevado de minerais

representado pelas cinzas. Tanto na polpa como na amêndoa do pequi, pode ser

observado o predomínio dos ácidos graxos insaturados com 61,35% e 52,17%,

respectivamente. O ácido oléico está presente em maior concentração na polpa,

com 55,87%, sendo seguido pelo ácido palmítico (35,17%). Na amêndoa do pequi,

predominam os ácidos palmítico e oléico em quantidades praticamente iguais,

43,76% e 43,59%, respectivamente. Também estão presentes o ácido linoléico com

5,51%, esteárico com 2,04%, palmitoléico com 1,23%, sendo detectado em menores

quantidades outros ácidos graxos. Assim, tanto a polpa como a amêndoa do pequi

possuem ácidos graxos importantes para compor uma dieta saudável.

A polpa do pequi possui 209mg/100g de fenólicos totais, valores superiores

aos encontrados na maioria das polpas de frutas consumidas no Brasil, como: Açaí

(Euterpe oleracea), com 136,8mg/100g; goiaba (Psidium guayava), com

83,1mg/100g; morango (Gingo biloba), com 132,1mg/100g; abacaxi (Ananas sativa),

com 21,7mg/100g; graviola (Anona muricato), com 84,3mg/100g, e maracujá

(Passiflora edulis), com 20,2mg/100g, sendo inferior apenas à acerola (Malpighia

glabra), com 580,1mg/100g, e à manga (Mangifera indica), com 544mg/100g. Esses

resultados indicam que a polpa do pequi é um alimento com elevada capacidade

antioxidante, demonstrando a correlação existente entre a quantidade de fenólicos

totais e a proteção antioxidante, Kuskoski et al., (2005).

Constata-se que, na polpa e na amêndoa do pequi, os lipídios são os

constituintes predominantes, prevalecendo nestes os ácidos graxos oléico e

palmítico. Na polpa, também se detectam um teor elevado de fibra alimentar e a

presença de compostos fenólicos e carotenóides totais, os quais estão associados à

prevenção de processos oxidativos. Os teores vitamínicos e de sais minerais

presentes nesse fruto podem contribuir positivamente para o crescimento e

desenvolvimento da saúde física e mental de crianças e jovens em idade escolar,

corroborando com as orientações do Ministério da Saúde e do Ministério de

Educação de nosso país. Diante dos resultados obtidos, sugere-se que o pequi seja

adotado regularmente nas merendas escolares nas regiões de cerrado; sugere se

29

ainda uma maior investigação visando aferir e padronizar os dados referentes aos

micro e macronutrientes para elaborar cardápios que atendam as necessidades de

cada fase da vida do escola.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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