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    O RETORNOSORIGENS: UMAINTERPRETAOMTICADEOSERMODASEXAGSIMA

    LVAROCARDOSOGOMES*ALZIRALOBODEARRUDACAMPOS**

    RESUMO

    Este artigo analisa a estrutura e a retrica discursiva empregada pelo Pe.Antnio Vieira, para convencer e converter o el. Ao mesmo tempo, procuramostrar que o religioso faz do sermo um instrumento para um retorno mticoao princpio dos tempos.

    PALAVRAS-CHAVE: sermo, persuaso, mito, retorno s origens.

    O Sermo da sexagsima, do Padre Antnio Vieira, avulta naextensa obra do pregador luso-brasileiro, em virtude de sua intrnsecapeculiaridade: o fato de o autor compor uma pea oratria, na qual tratados elementos essenciais que compem esse tipo de discurso. Criticandoos vcios dos pregadores de seu tempo, mais interessados nos efeitosretricos do que na persuaso dos ouvintes, aponta para o que deveriaconstituir o cerne de um bom sermo. Por essa peculiaridade, pareceque era inteno de Vieira servir-se do Sermo da sexagsimapara abrir

    * Professor Titular da Universidade de So Paulo, So Paulo, So Paulo, Brasil. Coordenadordo Mestrado em Cincias Humanas da UNISA.

    E-mail: [email protected]

    ** Professora da Universidade Estadual Paulista Jlio de Mesquita Filho, Franca, So Paulo,Brasil.

    E-mail: [email protected]

    ARTIGOS

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    sua obra de carter parentico, como o armao crtico Francisco Maciel Silveira (1993):

    Qualquer cogitao que se faa acer-

    ca da parentica vieiriana h de partirdo Sermo da Sexagsima. Se no nosobrigasse o texto, por si s eloquente noque diz respeito s diretrizes retricasadotadas por Vieira, obrigar-nos-iam asconsideraes que, guisa de prlogo,abrem o primeiro dos quinze volumesem que est contida sua obra sermons-tica. (p. 107)

    De fato o que nos diz o Padre Antnio Vieira, a respeito de umprojeto de 1769, mas que no chegou a ser publicado:

    Se chegar a receber a ltima forma um livro, que tenho ideado comttulo dePregador e Ouvinte Cristo, nele vers as regras, no seise da arte, se do gnio, que me guiaram por este novo caminho.Entretanto, se quiseres saber as causas porque me apartei do maisseguido e ordinrio, no sermo de Semen est verbum Dei as achars;

    o qual por isso se pe em primeiro lugar, como prlogo dos demais.(VIEIRA, 1943, v. I)

    Dessa perspectiva, no difcil ver nesta pea oratria dopregador seu carter metalingustico, de acordo com a j clssicacategorizao de Roman Jakobson (1973, p. 127). Segundo o linguista,entre as funes da linguagem, h aquela em que o discurso se voltapara o prprio discurso, em que os signos tm a funo precpua de maisdo que remeter aos objetos do mundo remeter a eles mesmos, fazendo

    com que estes se transformem em coisas entre coisas. O Sermo dasexagsima congura-se, assim, como um autntico discurso sobrea arte de pregar e, por conseguinte, sobre a arte da persuaso. Emconsequncia, se pensarmos nos elementos essenciais que remetem aoesquema bsico da comunicao:

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    vericaremos que, no texto de Vieira, o primeiro seria identicado com oPregador, a segunda com o Sermoe o terceiro com o Ouvinte. Contudo, preciso chamar a ateno para o seguinte: no intento de o sermonistadescrever apenas os elementos constitutivos de um bom sermo, como se

    sua pea oratria fosse mais um tratado de retrica. Muito pelo contr-rio, movido por uma f de autntico catequista, Vieira tem como escopoprincipal indagar o porqu do pouco fruticar da palavra de Deus, ouconforme as palavras do pregador, na parte II do sermo:

    Este grande fruticar da palavra de Deus o em que reparo hoje; e uma dvida ou admirao que me traz suspenso e confuso, depoisque subo ao plpito. Se a palavra de Deus to ecaz e to pode-rosa, como vemos to pouco fruto da palavra de Deus? [...] Nuncana Igreja de Deus houve tantas pregaes, nem tantos pregadorescomo hoje. Pois se tanto se semeia a palavra de Deus, como to

    pouco o fruto? No h um homem que em um sermo entre em sie se resolva, no h um moo que se arrependa, no h um velhoque se desengane. Que isto? Assim como Deus no hoje menosonipotente, assim a sua palavra no hoje menos poderosa do quedantes era. Pois se a palavra de Deus to poderosa; se a palavra deDeus tem hoje tantos pregadores, por que no vemos hoje nenhumfruto da palavra de Deus? Esta, to grande e to importante dvida,ser a matria do sermo. Quero comear pregando-me a mim. Amim ser, e tambm a vs; a mim, para aprender a pregar; a vs, queaprendais a ouvir. (VIEIRA, 1975, p. 27-28)

    Por conseguinte, o Sermo da sexagsima constitui uma peade oratria sacra que tem como princpio, alm da demonstrao doque deve ser essencial para um bom sermo, uma funo pedaggica,ou seja, serve para persuadir e converter o ouvinte. Sendo assim,

    o discurso, alm de se voltar para si mesmo, cumprindo a funometalingustica, tambm se volta de maneira declarada para o ouvinte,cumprindo a chamada funo conativa, que, ainda segundo Jakobson(1973), acontece quando o discurso se orienta para o Destinatrio.Nesse caso, acaba por encontrar

    sua expresso gramatical mais pura no vocativo e no imperativo,que sinttica, morfolgica e amide at fonologicamente, se afastamdas outras categorias nominais e verbais. As sentenas imperativas

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    diferem fundamentalmente das sentenas declarativas: estas podeme aquelas no podem ser submetidas prova de verdade. (p. 125)

    No difcil perceber, ao longo do sermo, momentos em que o

    sermonista se dirige ao Destinatrio, lanando perguntas retricas, emnmero abundante, para as quais tem sua resposta (Ser nalmente acausa, que h tanto buscamos, a voz com que hoje falam os pregadores),ou se utilizando de um ns, que serve para irmanar, na mesmamisso apostlica, tanto o Emissor quanto o Destinatrio (Mas quediremos orao de Moiss?) ou ainda, dirigindo-se de modo direto aointerlocutor, usando assim o vocativoe o imperativo, como na seguinteinvectiva contra os falsos pregadores:

    Dizei-me, pregadores, (aqueles com quem eu falo, indignos verdadei-ramente de to sagrado nome), dizei-me: esses assuntos inteis quetantas vezes levantais, essas empresas ao vosso parecer agudas que

    prosseguis, achaste-las alguma vez nos profetas do Testamento Velho,ou nos apstolos e evangelistas do Testamento Novo, ou no autor deambos os testamentos, Cristo? (VIEIRA, 1975, p. 44; grifos nossos)

    Mas adentremos ao sermo para ver como o padre Antnio

    Vieira organiza a matria de seu discurso e de que recursos retricosse utiliza para persuadir e converter os ouvintes. Observa-se que osermo, composto num todo de dez partes, obedece, em sua estrutura,ao princpio tridico do discurso clssico:

    Conforme os preceitos retricos clssicos, oriundos principalmen-te de Aristteles, Quintiliano e Horcio, o discurso oratrio deviaapresentar determinada estrutura. Divergentes, contudo, eram as

    opinies acerca das partes que a integrariam, numa escala de varia-o entre duas e sete. No geral, predominava a disposio em quatrosees fundamentais, suscetveis de reduzir-se a trs: o exrdio (lat.exordium, comeo), oupromio (gr. proomion, canto introdutrio,

    pelo lat.prooemum), ouprincpio (Iat. principium, o que torna oprimeiro lugar); o desenvolvimento e a perorao (lat. peroratio,onis, longo discurso, ltima parte do discurso), ou concluso (lat.conclusio, onis, ao de fechar, terminar), ou eplogo (gr. eplogos,fecho de discurso). (MOISS, 2004, p. 126; grifos do original )

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    Sendo el a esse princpio, o Sermo da sexagsimaconta comum Exrdio (compreendendo a I e a II partes), um Desenvolvimento(compreendendo as III, IV, V, VI, VII e VIII partes) e uma Perorao(IX e X partes). No chamado Exrdio, o que importava era tornar o

    ouvinte benevolente, atento e dcil (CURTIUS, 1996, p. 108), desde quese lhe revele, com argumentos e efeitos retricos, a matria a ser ex-plorada no sermo, de maneira a torn-lo mais atento e interessado naspalavras do sermonista. ODesenvolvimentocompreende a narrao ea argumentao. A primeira implica a exposio minuciosa do que vemexpresso j no exrdio. Segundo Massaud Moiss (2004, p. 126), oorador seleciona os fatos que convm sua causa e focaliza-os na pers-pectiva que mais lhe favorece o intento, emprestando relevo a alguns e

    minimizando outros, de acordo com o interesse do momento. Quanto argumentao, abrange todos os elementos causativos, explicativos,para que se possa dar credibilidade ao discurso. Para que a argumen-tao seja slida, no basta apenas o encadeamento de explicaes decarter lgico e silogstico, necessrio tambm um nmero bastantevariado de exemplos, muitas vezes, fundados numa parbola. No casodo sermo de Vieira, a do Semeador (Mateus, 13, 3), que, ao lado deoutros exemplos bblicos secundrios, ser glosada ao longo de todo

    o seu discurso. Por m, quanto Perorao, o orador deve se dirigirao corao dos ouvintes para lev-los ao estado de nimo desejado(CURTIUS, 1996, p. 108), para que se cumpra o efeito planejado pelosermonista, qual seja, o da persuaso e converso.

    Tendo, pois, como matriado sermo, uma dvida do pregador,a que resulta da indagao por que no se v hoje nenhum fruto dapalavra de Deus, Vieira estrutura e fundamenta o Exrdio para o Sermoda sexagsima. O Desenvolvimento organiza-se a partir do instanteem que Vieira determina de maneira categrica, na parte III, quem

    o responsvel pelo falhano dos sermes, que fazem pouco fruto juntoaos is. Levanta de incio trs hipteses: Fazer pouco fruto a palavrade Deus no Mundo, pode proceder de trs princpios: ou da parte dopregador ou da parte do ouvinte, ou da parte de Deus (p. 28). Logo,descarta a ideia de que Deus seja responsvel pela no fruticao desua prpria palavra, pois esta proposio de f, denida no ConclioTridentino, e no nosso Evangelho a temos e, mais adiante, descartatambm que essa responsabilidade caiba aos ouvintes:

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    Sendo, pois, certo que a palavra divina no deixa de fruticar porparte de Deus, segue-se que ou por falta do pregador ou por faltados ouvintes. Por qual ser? Os pregadores deitam a culpa aos ou-vintes, mas no assim. Se fora por parte dos ouvintes, no zera

    a palavra de Deus muito grande fruto, mas no fazer nenhum frutoe nenhum efeito, no por parte dos ouvintes. Provo. Os ouvintesou so maus ou so bons; se so bons, faz neles fruto a palavra deDeus; se so maus, ainda que no faa neles fruto, faz efeito. NoEvangelho o temos. (VIEIRA, 1975, p. 29)

    No sendo culpa de Deus nem dos ouvintes o mau efeito dapalavra divina, conclui-se ento que a culpa caber de modo exclusivoaos pregadores:

    Supostas estas duas demonstraes; suposto que o fruto e efeitosda palavra de Deus no ca, nem por parte de Deus, nem por partedos ouvintes, segue-se por consequncia clara, que ca por parte do

    pregador. E assim . Sabeis, cristos, por que no faz fruto a palavrade Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por que nofaz fruto a palavra de Deus? Por culpa nossa. (VIEIRA, 1975, p. 31)

    na parte IV doDesenvolvimentoque Vieira comea a analisar

    o porqu de os pregadores no conseguirem cumprir o seu papel de au-tnticos pregadores. As partes de IV a VIII, em sua estrutura, obedecemao princpio retrico daDisseminaoe daRecolha,1ou seja, primei-ro, o autor explica como uma determinada circunstncia num pregadorpode ser responsvel pela falha no ato de pregar, numa sequncia depargrafos elucidativos e, num segundo momento, no ltimo pargra-fo, fecha a argumentao, com uma contraproposta. Em sntese, Vieirautiliza-se de uma autntica tcnica contrapontstica barroca, fazendouma longa explanao, apoiando-se em exemplos, para depois deneg--la, caminhando assim, de circunstncia em circunstncia, at chegar aoponto fulcral do problema. Mas que circunstncias seriam essas que de-terminariam o falhano dos pregadores? So cinco: a pessoa, a cincia,a matria, o estilo, a voz. A pessoa que , a cincia que tem, a matriaque trata, o estilo que segue, a voz com que fala (VIEIRA, 1975, p. 31).

    Quanto circunstncia dapessoa, Vieira argumenta, utilizando--se de vrios exemplos, para determinar que ter o nome de pregador, ouser pregador de nome, no importa nada; as aes, a vida, o exemplo, as

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    obras, so as que convertem o Mundo (p. 31). Ou seja: entre a pessoado pregador e o que ele prega deve haver uma perfeita interao. No seconcebe que um pregador pregue algo que no pratique, pois palavrassem obras so tiros sem balas; atroam, mas no ferem e para falar ao

    vento, bastam palavras; para falar ao corao, so necessrias obras(p. 32). Contudo, nem sempre essa circunstncia da pessoa suciente,porquanto o prprio Evangelho aponta para exemplos contrrios a ela. o que Vieira diz na recolhadessa parte, ao fazer referncia ao caso de Jo-nas que, sendo fugitivo de Deus, desobediente, contumaz, [...] iracun-do, impaciente, pojuco caritativo, pouco misericordioso (p. 34), aindaassim converteu o rei de Nnive, a maior corte e o maior reino do mundo.

    Na parte V, Vieira trata da circunstncia do estiloe comea por

    contestar aquele violento e tirnico que hoje se usa; isso porque eleacredita que este dever ser muito fcil e natural (p. 34), o que revelaque o sermonista tem uma atitude contrria aos princpios estilsticosdo barroco ornamental, ou se se quiser do Culteranismo. Essa correnteliterria, tambm conhecida por Gongorismo, levava em considerao

    que a percepo cognoscitiva das coisas se processaria por meio dadescrio dos seus aspectos plsticos (contorno, forma, cor, volume,etc.; o resultado consistia num verdadeiro frenesi cromtico; visan-

    do a surpreender o comodos objetos, em arte literria esse procedi-mento exprimia-se pelo uso indiscriminado de metforas. (MOISS,2004, p. 53; grifo do original)

    Em razo disso tudo, a chamada literatura de carter gongricoacabou padecendo de um estilo opulento, afetado, hermtico, o queservia para encantar os ouvidos dos is, sem, contudo, lev-los aoarrependimento dos pecados. Opondo-se ao Gongorismo, em virtude deseu hermetismo e culto da forma, Vieira seria considerado um escritorconceptista, na medida em que ele visava a

    pesquisar a essncia dos objetos, buscar saber o que so, apreen-der-lhes a face oculta e profunda apenas acessvel ao pensamento,ou seja, aos conceitos; assim, a inteligncia, a lgica e o raciocnioocupam o lugar dos sentidos, gerando a coniso e a ordem ondereinava o luxo exuberante e de cores e de formas. (MOISS, 2004, p.53; grifos do original)

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    Eis porque defende a simplicidade da forma. De acordo com seuponto de vista, o semear uma arte que tem mais de natureza que dearte. Em sua crtica aos pregadores conceptistas, permeada de muita iro-nia, diga-se de passagem,2Vieira se detm em dois pontos principais. No

    primeiro caso, esmera-se em comentar o uso indiscriminado das anttesesnos sermes que to s buscam os efeitos retricos, mais dirigidos aosouvidos que ao entendimento, como acontece na seguinte passagem:

    No fez Deus o cu em xadrez de estrelas, como os pregadores fa-zem o sermo em xadrez de palavras. Se de uma parte h de estar

    branco, da outra h de estar negro; se de uma parte dizem luz, daoutra ho de dizer sombra; se de uma parte dizem desceu, da outraho de dizer subiu. Basta que no havemos de ver num sermo duas

    palavras em paz? Todas ho de estar sempre em fronteira com o seucontrrio? (VIEIRA, 1975, p. 35)

    Em outro ponto do sermo, Vieira destaca o exagero no uso dasantonomsias pelos pregadores. Essa gura se caracteriza como uma

    variedade da metonmia que consiste em substituir um nome de ob-jeto, entidade, pessoa etc. por outra denominao que pode ser umnome comum (ou uma perfrase), um gentlico, um adjetivo etc.,

    que seja sugestivo, explicativo, laudatrio, eufmico, irnico ou pe-jorativo e que caracterize uma qualidade universal ou conhecida dopossuidor. (HOUAISS, 2001, p. 239)

    De grande fora e efeito retrico, a antonomsia, quando usadaem excesso ou mesmo de um modo em que haja uma grande distnciaentre a pessoa, a entidade, o objeto e a gurao, pode causar noleitor uma sensao de estranhamento, que se v obrigado a decifrar acomplexa imagem, para poder chegar ao verdadeiro sentido do texto.Segundo Lausberg (1993), o motivo principal da substituio de umnome prprio por uma perfrase, marca registrada da antonomsia, ochamado estranhamento que pode mais ser motivado pela variaocondicionada pelo contexto (p. 154-155). No que diz respeito a esseestranhamento, Vieira, ao levantar um sem-nmero de antonomsiasusadas pelos pregadores do seu tempo, d a entender que isso leva elaborao de um estilo negro, e negro boal e muito cerrado, prontoa causar confuso na mente dos ouvintes:

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    Eu ao menos o tomara para os nomes prprios, porque os cultostm desbatizados os santos, e cada autor que alegam um enigma.Assim o disse o Cetro Penitente, assim o disse o Evangelista Apeles,assim o disse a guia de frica, o Favo de Claraval, a Prpura de

    Belm, a Boca de Ouro. H tal modo de alegar! O Cetro Penitentedizem que David, como se todos os cetros no foram penitncia;o Evangelista Apeles, que S. Lucas; o Favo de Claraval, S. Ber-nardo; a guia de frica, Santo Agostinho; a Prpura de Belm, S.Jernimo; a Boca de Ouro, S. Crisstomo. E quem quitaria ao outrocuidar que a Prpura de Belm Herodes que a guia de frica Cipio, e que a Boca de Ouro Midas? (VIEIRA, 1975, p. 36)

    Observe-se o tom irnico do autor, quando d a entender que

    a antonomsia pode causar um efeito contrrio do que se pretende nesse caso, S. Jernimo, identicado pelo epteto Prpura de Belm,gura santicada , acabaria por se confundir, nesse jogo capcioso depalavras, com a gura perversa de Herodes e assim por diante. Mas, nonal de seu arrazoado, Veira volta a se autocontestar, dando a entenderque, apesar de suas consideraes, ao lado de pregadores polidos eestudados, houve os de prosa escura e dura. Sendo assim, descarta oestilo como a circunstncia fundamental para a no fruticao das

    sementes dos pregadores.Na parte seguinte, Vieira discute a circunstncia da matria, dan-do a entender que um bom sermo deve ter um s assunto e uma smatria, que deve ser denida logo de incio, para depois ser divididaem partes. Alm disso, ela necessita ser exemplicada com parbolas daescritura, para que possa nalmente ser comprovada. Para tanto, ele uti-liza uma metfora muito feliz, ao comparar o sermo com uma rvore:

    Quereis ver tudo isto com os olhos? Ora vede. Uma rvore tem

    razes, tem tronco, tem ramos, tem folhas, tem varas, tem ores,tem frutos. Assim h de ser o sermo: h de ter razes fortes e sli-das, porque h de ser fundado no Evangelho; h de ter um tronco,

    porque h de ter um s assunto e tratar uma s matria; deste tron-co ho de nascer diversos ramos, que so diversos discursos, masnascidos da mesma matria e continuados nela; estes ramos hode ser secos, seno cobertos de folhas, porque os discursos ho deser vestidos e ornados de palavras. H de ter esta rvore varas, queso a repreenso dos vcios; h de ter ores, que so as sentenas;

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    e por remate de tudo, h de ter frutos, que o fruto e o m a quese h de ordenar o sermo. De maneira que h de haver frutos, hde haver ores, h de haver varas, h de haver folhas, h de haverramos; mas tudo nascido e fundado em um s tronco, que uma s

    matria. (p. 38)

    Com isso, Vieira cumpre uma de suas premissas fundamentais:fazer com que o sermo no seja s lanado aos ouvidos, mas tambmaos olhos, para que cause um efeito mais duradouro no destinatrio.Com a fora, o poder da imagem, ele provoca uma rpida identicaoentre uma coisa articial (o sermo) e outra natural (a rvore),fazendo com que aquele adquira as qualidades desta: a naturalidade, aespontaneidade. Mas no s isso: a lio, por meio da metfora natural,transmite-se de modo instantneo, graas ao poder encantatrio daimagem. Ao nal da exposio dessa circunstncia, mantendo o mesmoprincpio estilstico, Vieira descarta tambm a da matriaque no dconta de todos os problemas dos pregadores.

    Nas partes VII e VIII do sermo, Vieira fala das circunstnciasda cinciae da voz. No primeiro caso, discute o fato de que o pregadordeva pregar o que seu e no alheio e, como sempre acontece, dfartos exemplos tirados das Sagradas Escrituras:

    Porque no servem todas as lnguas a todos, seno a cada um a sua.Uma lngua s sobre Pedro, porque a lngua de Pedro no serve aAndr; outra lngua s sobre Andr, porque a lngua de Andr noserve a Filipe; outra lngua s sobre Filipe, porque a lngua de Filipeno serve a Bartolomeu, e assim dos mais. (p. 40)

    Quanto voz, diz que antigamente a primeira parte do pregadorera boa voz e bom peito. E verdadeiramente, como o Mundo se

    governa tantos pelos sentidos, podem s vezes mais os brados que arazo. Mas tanto uma quanto outra circunstncia sero contrariadas,porque, de acordo com o Livro Sagrado, Batista pregou o que tinhapregado Isaas, ou seja, palavras de outrem, e a voz de Moiss destilabrandamente e sem rudo (p. 41) como o orvalho.

    Chega-se nesse ponto concluso quanto s circunstncias:nenhuma delas suciente para explicar a razo de por que no fazemhoje fruto os pregadores com a palavra de Deus, o que obriga Vieira,

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    em sua perorao (partes IX e X), a determinar que as palavrasdos pregadores so palavras, mas no palavras de Deus (p. 43). Ospregadores, enm, interpretam mal as Escrituras, e o efeito disso negativo, na medida em que, como em todo ritual, a no observncia

    de certas regras, como a entonao e interpretao correta dos signos,pode levar a um referencial errado, provocando uma espcie de rudona comunicao. O resultado disso que os pregadores, preocupadosem brilhar no plpito e querendo chamar a ateno para si, acabam, naspalavras de Vieira, por transformar o ato de pregar numa farsa, numacomdia. Ao desvirtuarem as palavras de Deus, constroem discursosrequintados, opulentos, que satisfaam ouvidos aristocrticos, maisempenhados em se deliciar com a msica das palavras do que com

    a penitncia. O sermo, considerado em sua intrnseca verdade, aocontrrio do que se costumava pregar no tempo, deveria causar oseguinte efeito sobre o ouvinte:

    No que os homens saiam contentes de ns, seno que saiam muitodescontentes de si; no que lhes paream bem os nossos conceitos,mas que lhes paream mal os seus costumes, as suas vidas, as suasvidas, os seus passatempos, as suas ambies e enm, todos os eus

    pecados. (p. 48-49)

    Como todo bom conceptista, Vieira pretende que o sermo notenha um m em si e, sim, que seja um meio para um m: a converso ecorreo dos pecados. Deve, nesse caso, dirigir-se inteligncia, com osornamentos servindo para elucidar e ilustrar melhor os conceitos e nodirigir-se to s aos sentidos, de maneira que a profuso de imagens,eptetos sirva apenas a uma esttica de efeitos. Vieira, ao cabo, concebea pea oratria sacra com uma nalidade pragmtica, segundo aconcepo de M. A. Abrams (1962). De acordo com o autor de The

    mirror and the lamp, a chamada teoria pragmtica,

    considera a obra de arte principalmente como meio para um m,como instrumento para se conseguir que se faa algo, e tende a jul-gar seu valor segundo seja seu xito, conforme se alcance esse pro-

    psito. (p. 29)

    Mas no se pode esquecer que essa funo pragmtica s podeatingir seu desiderato, ou seja, o efeito da persuaso, se, conforme Ccero,

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    em De oratore, conseguir ganhar a simpatia, informar e comover aalma de seus ouvintes(apud ABRAMS, 1962, p. 30). Para tanto, teria defundir o til (a persuaso em si) com o prazeroso, conforme a lio deHorcio doprodesse aut delectare, assim expresso em suaArte potica:

    recebe sempre os votos o que soube misturar o til ao agradvel, poisdeleita e ao mesmo tempo ensina o leitor (s.d., p. 107).

    Mas a reexo sobre o tpico das palavras de Deus impeoutra reexo, que diz respeito aos efeitos ritualsticos da repetio e/ou glosa de um discurso sagrado. Como vimos no exrdio do Sermo dasexagsima, Vieira, para sustentar todo o seu discurso, obriga-se a evocarum outro discurso, o religioso e/ou divino, instaurado in illo temporee qued toda a legitimidade sua fala argumentativa. A parbola escolhida a

    do Semeador, cujo incipit Ecce exxit qui seminat, seminaree que serdesdobrado, em suas partes constitutivas, ao longo doDesenvolvimento,como bem observa Francisco Maciel Silveira (1993):

    Denido por uma metfora (Semen est verbum Dei), o Verbo gerao circuito metafrico da pea oratria, tornando-se-lhe a espinhadorsal: sermo = rvore. Seufruto(a concluso: a palavra de Deus to ecaz e poderosa que promove a persuaso), remete semente(verbum Dei), concretizando um grande crculo. (p. 107)

    O carter circular de todo o sermo bem evidente na sentena daparbola que lhe serve de epgrafe Semen est Verbum Dei, na fraseparablica que servir para abrir oExrdioExiit qui seminat seminare e na frase que fecha a Perorao Et fecit fructum centuplum, demodo a acentuar o carter tautolgico do discurso. Isso faz com que,como num processo ritualstico, Vieira procure, com seu sermo, voltarao princpio dos tempos, para buscar o pai de todos os discursos, aquele

    em que o signo, em vez de remeter diretamente s coisas, volta-se parasi mesmo, ou melhor, o signo chega mesmo a se congurar como coisa.Da a linguagem desse discurso primordial fundamentar-se na metforaou, se se quiser, na imagem, que, segundo Octavio Paz (1982), longede aumentar, a distncia entre a palavra e a coisa se reduz ou desaparecepor completo: o nome e o nomeado so a mesma coisa. Nesse caso,

    a linguagem deixa de ser um utenslio. O retorno da linguagem natureza original, que parecia ser o m ltimo da imagem, apenas

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    o passo preliminar para uma operao ainda mais radical: a lingua-gem, tocada pela poesia, cessa imediatamente de ser linguagem. Ouseja: conjunto de signos mveis e signicantes. (p. 135-137)

    Isso acontece pelo fato de a linguagem imagtica diminuir demodo radical a distncia entre o discurso e as coisas. Octavio Pazarma ainda que, no mbito da poesia, isto aquilo, o que servepara acentuar no s a radicalidade dessa linguagem primordial, mastambm sua capacidade de signicar plurivocamente.

    Mas uma questo ainda se impe, no que diz respeito a essaretomada do discurso original, ponto de partida de todo o sermo. Comoj dissemos, o comportamento do orador, ao tomar por base do sermoas palavras de Mateus, lembra o que Mircea Eliade (1963) chama deretorno s origens, uma forma de ele legitimizar o seu discurso,elaborado num presente em crise, retornando a um passado em que ohomem estava mais prximo de Deus. Segundo o autor romeno,

    O retorno origem oferece a esperana de um renascimento [...].Tem-se a impresso de que, para as sociedades arcaicas, a vida no

    pode ser reparada, mas somente recriadamediante um retorno sfontes. E a fonte por excelncia o prodigioso jorrar de energia,

    de vida e fertilidade ocorrido durante a Criao do Mundo. (p. 32-33;grifos do original)

    Esse voltar no tempo tem como meta repetir um discurso de origens,para anular o tempo: denitivamente, trata-se sempre de abolir o Tempodecorrido, de voltar atrs e de recomear a existncia com todas as suasvirtuosidades intatas (ELIADE, 1963, p. 79). O autor tambm arma:

    O Tempo sagrado se apresenta sob o aspecto paradoxal de um

    Tempo circular, revesvel e recupervel, espcie de eterno presentemtico que se reintegra periodicamente por meio dos ritos. [...] adurao temporal profana suscetvel de ser periodicamente sus-

    pensa pela inserao, por meio dos ritos de um Tempo sagrado, nohistrico. (ELIADE, 1972, p. 61-62)

    Esse retorno, por meio de rituais, implica o domnio de umdiscurso primordial e/ou de uma histria primordial exemplar, queservir de parmetro para todos os discursos sagrados posteriores.

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    Para Vieira, essa histria exemplar a parbola bblica elaboradapor Mateus, que tem um sentido gurado, metafrico, simblico, como,alis, o tinham os discursos primordiais, conforme nos d a entender opensador americano Emerson (1968):

    Devido radical correspondncia entre as coisas visveis e os pen-samentos humanos, os selvagens, que tm somente o que neces-srio, conversam por meio de guras. Na medida em que voltamosna Histria, a linguagem se torna mais Pitoresca, at sua infncia,quando toda poesia; ou todos os fatos espirituais so representa-dos por coisas naturais. Os mesmos smbolos so encontrados paraconstituir os elementos originais de todas as linguagens. (p. 36)

    Ora, servindo-se dessa linguagem original, o sermonista recupe-ra as verdades manifestas no Velho e no Novo Testamento e as traz parao presente, revitalizando-as, a m de que de novo se tornem atuantes. o que nos arma com bastante propriedade Francisco Maciel Silveira(1993):

    Como se v, repousa nessa acomodao analgica o mecanismobsico da metfora: a identicao por semelhana entre dois fa-tos, duas coisas. Bem considerado o problema, o passado acaba porconstituir-se numa metfora pregurativa do futuro, cujo ponto deinterseco o presente. Se o presente igual ao passado, forma-seuma equao temporalsui generis. Em funo do tempo pretrito,o presente seu futuro ento, o presente futuro do passado. Emfuno do presente, o passado, ao identicar-se com o hoje do ser-monista, concretiza-se, reatualiza-se logo, o presente passado dofuturo. Mesclam-se nessa concepo o retrospectivo e o prospecti-vo, a tal ponto ligados que passado e futuro acabam por tornar-seuma e mesma coisa. O futuro est contido no passado futuro re-trospectivo. O presente sempre uma atualizao do passado pas-sado prospectivo. (p. 110-111; grifo do original)

    O presente, enquanto instncia temporal, s existe em relaoao passado que o sustenta e em relao ao futuro que pregurar o quedeterminou a histria exemplar a parbola de Mateus no passado.

    Com esse comportamento ritualstico, Vieira volta s origens,tentando ritualizar a palavra de Deus, nico meio, a seu ver, de salvar

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    o pecador do presente. A repetio, de carter tautolgico, como queanula o tempo, ou melhor, recupera o Grande Tempo, quando ento adivindade se comunicava diretamente com o homem, servindo-se daspalavras imantadas que modicavam conscincias.

    THERETURNTOORIGINS: AMYTHICALINTERPRETATIONOFTHESERMODASEXGESIMA

    ABSTRACT

    This paper analyzes the structure and discursive rhetoric employed by FatherAntnio Vieira, to convince and convert the audience. At the same time, itseeks to show that religion makes the sermon an instrument of a mythical

    return to origins.KEYWORDS: sermon, persuasion, myth, return to origins.

    ELRETORNOALOSORGENES: UNAINTERPRETACINMTICADELSERMNDELASEXAGSIMA

    RESUMEN

    Este artculo analiza la estructura y la retrica discursiva empleada por el P.Antnio Vieira para convencer y convertir al el. Al mismo tiempo, se procuramostrar que el religioso hace del sermn un instrumento para un retorno mticoal principio de los tiempos.

    PALABRASCLAVE: sermn, persuasin, mito, retorno a los orgenes.

    NOTAS

    1 interessante observar que ambos os termos so metafricos e remetem,como todo o sermo, ao ato da semeadura.

    2 Essa ironia aparece de maneira mais contundente no instante em que Vieiradiz que deveria existir um vocabulrio do plpito, do mesmo modo queh o Lexicon para o grego (p. 36).

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    Recebido em 7 de maro de 2014

    Aprovado em 15 de julho de 2014