Manejo de Doencas do Trigo - Anderson Rietjens - Prof. Milton L. Paz Lima
PAULO JUNIOR PAZ DE LIMA - Repositorio da Producao Cientifica … · 2018. 8. 26. · PAULO JUNIOR...
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i
PAULO JUNIOR PAZ DE LIMA
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS
MENTAIS COMUNS DE RESIDENTES EM ÁREAS RURAIS
CAMPINAS
2014
ii
iii
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
Faculdade de Ciências Médicas
PAULO JUNIOR PAZ DE LIMA
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA E TRANSTORNOS MENTAIS
COMUNS DE RESIDENTES EM ÁREAS RURAIS
Tese apresentada à Faculdade de Ciências
Médicas da Universidade Estadual de
Campinas como parte dos requisitos exigidos
para obtenção do título de Doutor em Saúde
Coletiva, na área de concentração
Epidemiologia.
Orientadora: Helenice Bosco de Oliveira
CAMPINAS
2014
ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA
TESE DEFENDIDA PELO ALUNO PAULO JUNIOR PAZ DE
LIMA E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. HELENICE BOSCO
DE OLIVEIRA.
_____ __________________
Assinatura da Orientadora
iv
v
vi
vii
RESUMO
A precariedade do acesso à educação, aos serviços de saúde e de
segurança no trabalho, à moradia, ao saneamento básico e ao
abastecimento de água potável, no contexto rural brasileiro, instiga a
reflexão sobre os impactos de tais condições na saúde física e mental e
na qualidade de vida (QV), além dos efeitos destas condições em relação
à prevalência de transtornos mentais comuns (TMC), em comunidade rural
no Brasil. A discussão sobre qualidade de vida e TMC não é recente. No
entanto, o contexto rural tem ficado fora do debate, principalmente no
contexto nacional, na área da saúde pública. A discussão sobre a
concepção de QV e TMC no contexto do rural é importante. Estes temas
têm assumido um aspecto secundário, dada a urgência cotidiana pela
garantia da própria sobrevivência, da empregabilidade, ainda que em
condições precárias, e de outras demandas mais urgentes no campo.
OBJETIVOS: O presente estudo tem como objetivo principal avaliar a
qualidade de vida e transtornos mentais comuns, bem como avaliar a
qualidade de vida relacionada a aspectos do estado de saúde de
residentes em áreas rurais, em Atibaia/SP. Também se propõe a
identificar alteração dos domínios da QV entre os residentes da área de
estudo; avaliar os domínios da qualidade de vida em relação à função
desempenhada no campo; identificar diferenças nos domínios da QV em
relação ao sexo; identificar a relação entre sobrecarga (quantidade de
viii
horas) de trabalho semanal e alteração dos domínios da QV e identificar a
prevalência de alcoolismo e de tabagismo entre a população rural .
MÉTODOS: Trata-se de um estudo de caráter transversal, entre abril e
dezembro/2011, com residentes em áreas rurais, em Atibaia/SP, com
idade acima de 18 anos. A amostra foi composta por 355 participantes.
Foram aplicados um questionário sociodemográfico, os instrumentos
WHOQOL-Bref (Word Health Organization Quality of Life Instrument Bref),
SF-36 (Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health Survey),
SRQ-20 (Self Reporting Questionnaire) e CAGE (Screening test for
alcohol dependence). Foram realizadas análises descritivas e regressão
linear múltipla para os instrumentos WHOQOL-Bref e SF-36 e regressão
logística múltipla para o SRQ-20 e as variáveis sociodemográficas. O
ponto de corte adotado como sugestivo de TMC, avaliado pelo SRQ-20,
foi pontuação maior ou igual a sete respostas positivas. Foram utilizados o
programa SAS, versão 9.2, e o SPSS, versão 17.0, para análise dos
dados. O nível de significância adotado para os testes estatísticos foi de
5% (p<0,05), com intervalo de confiança (IC) de 95%. Foram considerados
variáveis dependentes os domínios do WHOQOL-Bref (físico, psicológico,
relação social e meio ambiente) e do SF-36 (capacidade funcional,
aspectos físicos, aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental,
dor, estado geral de saúde, vitalidade) e as categorias do SRQ-20
(diminuição da energia, sintomas somáticos, humor depressivo/ansioso,
pensamentos depressivos). Foram consideradas independentes as
variáveis demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado civil),
ix
socioeconômicas (renda, escolaridade, ocupação, trabalhador rural,
trabalho prévio ou anterior na agricultura, carga horária de trabalho
semanal, tipo de moradia e de posse da propriedade), uso de agrotóxico
no processo de trabalho, contato com agrotóxico, intoxicação por
agrotóxico, ingestão de bebida alcoólica, tabagismo, problema de saúde e
uso de medicamento. Foi utilizado o modelo stepwise forward como
critério para a seleção das variáveis. Foi realizado ajuste das variáveis:
idade, sexo, estado civil, escolaridade e renda. RESULTADOS: A idade
média dos participantes foi 38,3 anos, a maioria do sexo feminino (64,5%),
de cor/etnia branca (57,5%) e casados/amasiados (70,5%). A escolaridade
média observada foi de 5,8 anos de estudos (DP = 3,6); 55,8% não
concluíram o ensino fundamental e 7,9% eram analfabetos. Entre os
participantes do estudo, 33,5% estavam desempregados e 66,5%
mencionaram empregos com ou sem registros; 30,4% eram trabalhadores
rurais e 72,2% mencionaram ter já trabalhado na agricultura. Ainda, 87,2%
tinham renda mensal de até dois salários mínimos, sendo a média salarial
de R$ 619,20 (DP=483,5). O uso de agrotóxicos no processo de trabalho
foi relatado por 13,5% dos participantes e 12,4% referiram ter sofrido
intoxicação por agrotóxicos. A prevalência de transtorno mental comum
(TMC) entre os residentes foi de 23,4%, de tabagismo, de 20,3% e de
alcoolismo, de 19,1%. Entre os participantes, 40,0% referiram ter algum
problema de saúde e 40,3% revelaram fazer uso de medicamentos. Na
análise de regressão linear múltipla, os resultados apontaram associação
estatística entre os domínios de qualidade de vida (WHOQOL-Bref e SF-
x
36) e as variáveis idade, sexo, estado civil, escolaridade, cor/etnia, renda,
carga horária de trabalho, trabalho rural, trabalho prévio ou anterior na
agricultura, tipo de posse de propriedade, alcoolismo, tabagismo,
problemas de saúde e fazer uso de medicamento. Na análise de
regressão logística, os resultados evidenciaram associação negativa das
variáveis sexo (RC=3,1), problemas de saúde (RC=4,6) e autorreferência
a intoxicação por agrotóxico (RC=2,5), cor/etnia (RC=4,4) e
autorreferência a intoxicação por agrotóxico (RC=5,5), entre os homens,
com o aumento de chances de desenvolver TMC. CONCLUSÃO: Os
resultados do presente estudo apresentam dados sobre a qualidade de
vida, a qualidade de vida relacionada a aspectos do estado de saúde
física e mental de residentes em comunidades de áreas rurais, em
contexto rural brasileiro. Os achados apontaram as contribuições de
variáveis socioeconômicas e demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado
civil, escolaridade, renda, trabalho rural, carga horária de trabalho
semanal, tipo de moradia e de posse da propriedade), tabagismo,
alcoolismo, intoxicação por agrotóxicos, problemas de saúde e uso de
medicação para melhores desempenhos da qualidade de vida, da
qualidade de vida relacionadas aos aspectos do estado de saúde, bem
como para TMC da população rural. Tais resultados, embora limitados e
relativos a uma localidade específica, podem ser importantes para nortear
novos estudos em áreas rurais.
PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de vida, transtorno mental, população
rural, saúde rural.
xi
ABSTRACT
The lack of access to education, health and work safety services,
housing, sanitation and drinkable water supply, in Brazilian rural
context, instigates reflection on the impact said conditions have on
physical and mental health and in the quality of life (QOL), and on the
effects they have on the prevalence of common mental disorders (CMD)
in rural communities in Brazil. The discussion on quality of life and CMD
is not recent. However, the rural context has stayed out of the debate,
especially in a national context, in public health. The discussion about
the definition of QOL and CMD in rural context is important. These
themes have been taking on a secondary role, given the daily urgency in
guaranteeing one's survival, the possibility of work, even if in precarious
conditions, and other more urgent demands in the field. OBJECTIVES:
This study has as its main objective evaluating quality of life and
common mental disorders, as well as evaluating quality of life issues
related to the health status of the population of rural areas in Atibaia,
São Paulo. It also aims at identifying alteration domains of quality of life
among residents of the study area; at assessing quality of life domains
in relation to the function performed in the field; at identifying
differences in quality of life domains in relation to sex; at identifying the
relationship between workload (number of hours worked per week) and
alteration of quality of life domains and at identifying the prevalence of
xii
alcohol and tobacco use among the rural population. METHODOLOGY:
This is a cross-sectional study, taking place from April to December,
2011, with the rural area population of Atibaia, in São Paulo; all
subjects were older than 18. The sample had 355 subjects. Social -
demographic questionnaires, the WHOQOL-Bref (World Health
Organization Quality of Life Instrument Bref), SF-36 (Medical Outcomes
Study 36 – Item Short-Form Health Survey), SRQ-20 (Self Reporting
Questionnaire), and CAGE (Screening test for alcohol dependence)
instruments were used. Descriptive analysis and multiple linear
regression were used for WHOQOL-Bref and SF-36, and multiple
logistic regression was used for SRQ-20 and social-demographic
variables. Cutoff criteria suggestive of CMD, as evaluated by SRQ -20,
were a score of seven or higher positive answers. As for software, SAS
9.2 and SPSS 17.0 were used for data analysis. Adopted significance
level for statistical tests was 5% (p<0.05), with a confidence interval of
95%. Domains from WHOQOL-Bref (physical, psychological, social and
environment) and from SF-36 (vitality, physical functioning, bodily pain,
general health perceptions, physical role functioning, emotional role
functioning, social role functioning, mental health) and SRQ-20
categories (decreased energy, somatic symptoms, depressive mood,
depressive thoughts) were considered dependent variables.
Demographic variables (sex, age, race/ethnicity, marital status),
socioeconomic variables (income, education, occupation, rural worker,
previous work in agriculture, hours worked per week, housing and
xiii
ownership of property), working with pesticides, having had contact with
pesticides, pesticide poisoning while working, alcohol ingestion,
smoking, health problems and regular use of medication were
considered independent variables. Stepwise forward model was used as
variable selection criterion. The following variables were adjusted: age,
sex, marital status, education and income. RESULTS: Subjects had an
average age of 38.3, were mostly female (64.5%), white (57.5%) a nd
married (70.5%). The observed average time spent on education was
5.8 years (SD=3.6), 55.8% did not f inish elementary school and 7.9%
were illiterate. Among study participants, 33.5% were unemployed, and
66.5% reported being employed, some registered and some not; 30.4%
were rural workers, and 72.2% reported having worked in agriculture.
Still, 87.2% had a monthly income of up to two times minimum salaries,
with an average income of R$ 619.20 (SD=483.5). The use of pesticides
in the work process was reported by 13.5% and 12.4% self -report
pesticide poisoning. 23.4% of the population presented with common
mental disorders (CMD), 20.3% were smokers and 19.1% presented with
alcoholism. Amongst the subjects, 40.0% reported having some health
problems and 40.3% reported using medication. In multiple regression
analysis, results reveal statistically significant association between
quality of life domains (WHOQOL-Bref and SF-36) and variables age,
sex, marital status, education, color/ethnicity, income, workload, rural
worker, having worked in agriculture, property ownership, alcoholism,
smoking, health problems and use of medication. Logistic regression
xiv
analysis' results showed a negative association between sex (OR=3.1),
health problems (OR=4.6) and self-reference to pesticide poisoning
(OR=2.5), and color/ethnicity (OR=4.4) and self-reference to pesticide
poisoning (OR=5.5), among men, with increased chances of developing
CMD. CONCLUSION: The results of this study provide data about
quality of life, quality of l ife related to aspects of the physical and
mental health of residents in rural areas, in the Brazilian rural context.
Findings indicated the contributions of socioeconomic and demographic
variables (sex, age, race/ethnicity, marital status, education, income,
rural employment, hours worked per week, type of housing and property
ownership), smoking, alcohol use, intoxication by pesticides, health
problems and use of medication for best performances in quality of life,
quality of life related to aspects of health, as well as to development of
CMD's in rural area communities. Said results, although limited and
restricted to a specific location, may be important to guide further
studies in rural areas.
KEYWORDS: Quality of life, mental disorders, rural populatio n, rural
health.
xv
SUMÁRIO
DEDICATÓRIA xix
AGRADECIMENTOS xxi
EPÍGRAFE xxv
LISTA DE TABELAS xxvii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xxxi
LISTA DE SÍMBOLOS xxxv
1. INTRODUÇÃO 1
1.1. Conceituando o rural 8
1.2. Qualidade de vida e estado de saúde no contexto rural 13
1.3. Transtorno Mental Comum (TMC) no contexto rural 18
1.4. Alcoolismo 21
1.5. Instrumento de avaliação de qualidade de vida e estado
de saúde
25
1.5.1. WHOQOL-100 e WHOQOL-Bref 25
1.5.2. Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form
Health Survey (SF-36)
29
1.6. Instrumentos de avaliação de transtornos mentais
comuns (TMC)
33
1.6.1. Self-Reporting Questionnaire – 20 (SRQ-20) 33
1.7. Instrumentos de avaliação do uso abusivo de álcool 37
1.7.1. CAGE – Cut-down; Annoyed; Guilty e Eye-opener 37
xvi
1.8. Justificativas do estudo 38
2. OBJETIVOS 39
2.1. Geral 39
2.2. Específicos 39
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 41
3.1. Desenho da pesquisa 41
3.2. Caracterização da população de estudo 41
3.3. Cálculo amostral 42
3.4. Variáveis de análises 44
3.5. Instrumentos adotados 45
3.6. Coleta de dados 45
3.7. Análise dos dados 48
3.8. Ética na pesquisa 50
4. RESULTADOS 51
4.1. Artigo 1 – Avaliação da qualidade de vida de residentes
em áreas rurais
53
4.2. Artigo 2 – Avaliação de transtornos mentais comuns em
comunidades rurais em Atibaia/SP – Brasil
93
4.3. Artigo 3 – Aspectos de saúde e qualidade de vida de
residentes em comunidades rurais
125
5. DISCUSSÃO 161
6. CONCLUSÃO 173
7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 177
xvii
APÊNDICES 203
ANEXOS 219
ANEXO I – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido –
TCLE
221
ANEXO II – Termo de Responsabilidade do Pesquisador 223
ANEXO III – Questionário: Sociodemográfico e condições de
Trabalho
225
ANEXO IV – WHOQOL Abreviado – WHOQOL-Bref 227
ANEXO V – Self Report Questionnaire (SRQ) – SRQ-20 231
ANEXO VI – Questionário CAGE 233
ANEXO VII – Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form
Health Survey (SF-36)
235
xviii
xix
DEDICATÓRIA:
Dedico este trabalho a todos os residentes, trabalhadores e
trabalhadoras rurais.
Aos meus queridos e amados pais: Manoel Paz de Lima e Maria
Paz de Lima. Analfabetos em leitura e escrita, porém, sábios e
intelectuais em saberes da roça. A quem dedico, principalmente,
este trabalho.
Aos meus queridos irmãos: Antônio, Carlos, Marcondes, Gerre,
Marcos e, em especial, ao Neto e à Nádia, dois guerreiros, que estão
travando uma batalha pela vida, onde serão vitoriosos.
Aos meus sobrinhos (as): Júnior, Allan, Vitor Hugo, Jeferson, Maria,
Cristina, Talita e Isabella.
Às memórias das Profa. Dra. Geraldina Porto Witter e Profa.
Dra. Fúlvia Rosemberg.
xx
xxi
AGRADECIMENTOS :
A Deus, companheiro incondicional. Que me acompanha todos os dias e
em todas as jornadas. Por tornar realidade, o que era um sonho
distante. Meu senhor e salvador.
Aos meus queridos e amados pais: Manoel Paz de Lima e Maria
Paz de Lima, pelo amor incondicional, pelo apoio e investimento ético e
moral na minha formação acadêmica.
Aos meus queridos irmãos: Neto, Antônio, Carlos, Marcondes, Nádia,
Gerre e Marcos pela amizade e por me incluir em suas orações.
À Profa. Dra. Helenice Bosco de Oliveira, pela orientação e contribuição
para conclusão deste trabalho. Sem isso, este trabalho não seria
possível.
À Profa. Dra. Letícia Marin-Léon pela contribuição e apontamentos na
banca de qualificação e de defesa desta tese.
À Profa. Dra. Maria Luiza Gava Schmidt, por ter aceitado fazer parte da
banca de defesa e por suas contribuições neste trabalho.
À Profa. Dra. Maria da Penha Vasconcellos, pela boa vontade,
disponibilidade e por fazer parte de minha formação acadêmica e
defesa de tese.
À Profa. Dra. Priscila Maria Stolses Bergamo Francisco, por compor a
banca de defesa, pelos apontamentos e contribuições para finalização
desta tese.
xxii
À Profa. Dra. Maria Regina Alves Cardoso por aceitar o convite para
compor a banca de defesa, mas por problemas de agenda foi
substituída de última hora.
Ao Prof. Dr. Ângelo Zanaga Trapé por participar da banca de
qualificação.
À Profa. Dra. Aparecida Mari Iguti por aceitar fazer parte da banca de
qualificação e defesa (suplente).
Ao Prof. Dr. Alberto Olavo Advincula Reis por aceitar o convite para
compor a banca de defesa (suplente).
Ao Prof. Dr. Luiz Augusto Facchini, pela atenção e por aceitar compor a
banca de defesa (suplente).
À Profa. Dra. Maria Rita Donalisio Cordeiro e Profa. Dra. Rosana
Tereza Onocko Campos, pelo apoio e por se colocar a disposição
sempre que precisei.
A todos os funcionários da pós-graduação, especialmente, a Paula Léa
e Vera, que me ajudaram sempre nos momentos que as recorri. À
Maisa, pela simpatia, dedicação e disposição em ajudar a todos.
A todos os professores da FCM/UNICAMP que muito me ensinaram.
Aos funcionários do apoio estatístico: Cleide e Helymar pelas análises
estatísticas deste trabalho.
À Ana Carolina Nunes Mafra, Rosemeire Ferraz e Amanda Aparecida
Silva pelas contribuições no cálculo amostral e análises estatísticas.
Ao Alberto Dias, à Meire Blanche e demais co legas que contribuíram
nas traduções (resumos) para o espanhol e inglês.
xxiii
Ao Dr. Luiz Ricardo Gonzalez, pelos inúmeros favores de entrega de
documentos, caronas e pela amizade.
À Ana Cláudia pela amizade que construímos e por ter sempre uma
palavra de conforto.
Aos meus primos (as) queridos (as): Ana, Célia, Vera, Lucimar, Joaquim
(Begue), Jaqueline, Riane, Ruth, Rubens, Nathan (Val e Amanda), Rui,
Josias, Joel, Joaquim, Valcisa, Valdenir e Valdenisa, Marcos, Cláudio,
Adriana, Raiane, Raissa, Ruama, Maria Eduarda e aos demais parentes
(não mencionados para não se estender) pelo carinho e apoio sempre e
também compreenderam minhas ausências nas reuniões familiares. Em
especial à Nilda Coelho, ao Sérgio Paz, à Célia Maciel e à Jucilene
Glades, que acompanharam mais de perto a conclusão deste trabalho.
Aos meus queridos sobrinhos (as): Junior, Allan, Vitor Hugo, Jeferson,
Talita, Maria, Cristina e Isabela, pela alegria e leveza de espírito. Em
especial, ao grande Vitor Hugo, que quase todos os dias me
perguntava, como está indo a tese?
Aos meus queridos tios (as): Tarcisio e Terezinha, Anita e Liliu (in
memory), que me receberam em suas casas e me apoiaram quando
precisei de ajuda para estudar na cidade. Foram meus outros pais e
mães. Suas acolhidas e apoios foram fundamentais em minha formação
acadêmica e moral.
À Secretaria de Saúde do Município de Atibaia e à coordenação do PSF
de Atibaia, por permitir a realização deste trabalho no município.
xxiv
A todos (as) da Equipe do Programa de Saúde da Família de Rio
Abaixo: Alessandra, Andressa, Ana Maria, Emerson, Elisângela, Edjane,
Luciana, Lucineia, Susy, Claudia, Dr. Conceição e Patrícia, pelo apoio,
atenção, carinho e a imensa contribuição para construção deste
trabalho. Principalmente as agentes de saúde, que realizaram o
trabalho de pesquisa de campo. Sua dedicação, disposição e
contribuição tornaram possível a realização da pesquisa de campo.
Agradeço a todos os amigos e colegas que contribuíram de forma
direita e indiretamente, mas que não foram citados aqui, não pe la
importância, mas porque foram muitos e não teria como citar todos.
Agradeço, principalmente, as pessoas mais importantes e fundamentais
para a construção deste trabalho: os residentes, os trabalhadores e as
trabalhadoras rurais dos bairros de Rio Abaixo, Pedreira, Ponte Alta e
Laranjal, que disponibilizaram seu tempo, abriram suas casas e
expuseram suas histórias de vida e de luta no campo para garantir sua
sobrevivência e responsáveis pela produção de alimentos necessária à
humanidade.
À CAPES, pela concessão de bolsa.
xxv
EPÍGRAFE
“Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé.
Desde agora, a Coroa da Justiça me está guardada, a qual o
Senhor, Justo Juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim,
mas também a Todos os que amarem a sua vinda .”
(II Timóteo 4:7,8).
xxvi
xxvii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – População de estudo por sexo e faixa etária (anos).
Bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em
Atibaia/São Paulo, Brasil, 2012
42
Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas rura is
Tabela 1 – Características demográficas, socioeconômicas,
condições de trabalho, alcoolismo, tabagismo, problemas de
saúde e uso de medicamento entre residentes dos bairros:
Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP –
Brasil, 2011.
72
Tabela 2 – Análise descritiva dos domínios do WHOQOL-Bref
entre os residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte
Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.
74
Tabela 3 – Regressão linear múltipla: variáveis que influenciam
na qualidade de vida avaliada pelo WHOQOL-Bref.
76
Tabela 4 – Regressão linear múltipla de variáveis que
influenciam nos aspectos da qualidade de vida avaliada pelo
WHOQOL-Bref, por sexo.
78
Avaliação de transtornos mentais comuns em comunidades
rurais em Atibaia/SP – Brasil
Tabela 1 – Resultados do SRQ-20 segundo variáveis
sociodemográficas e epidemiológicas de residentes rurais dos
120
xxviii
bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em
Atibaia/SP – Brasil, 2011.
Tabela 2 – Modelo de regressão logística múlt ipla para TMC,
avaliado pelo SRQ-20, entre residentes rurais dos bairros:
Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP –
Brasil, 2011.
122
Tabela 3 – Modelo de regressão logística múltipla para TMC,
avaliado pelo SRQ-20, entre residentes rurais dos bairros:
Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP –
Brasil, 2011, segundo sexo.
123
Tabela 4 – Estatística descritiva de características
demográficas e socioeconômicas dos residentes rurais dos
bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em
Atibaia/SP – Brasil, 2011.
124
Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em
comunidades rurais
Tabela 1 – Características demográficas, socioeconômicas e de
condições de saúde dos residentes dos bairros rurais: Laranjal,
Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil,
2011.
154
Tabela 2 – Estatística descritiva de características
demográficas e socioeconômicas dos residentes rurais dos
bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em
156
xxix
Atibaia/SP – Brasil, 2011.
Tabela 3 – Estatística descritiva dos domínios do SF-36 entre
os residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta
e Rio Abaixo, em Atibaia/SP, 2011.
157
Tabela 4 – Regressão linear múltipla de variáveis que
influenciam nos aspectos do estado de saúde e na qualidade de
vida avaliada pelo SF-36
158
Tabela 5 – Regressão linear múltipla de variáveis que
influenciam nos aspectos do estado de saúde e qualidade de
vida avaliada pelo SF-36, por sexo.
159
xxx
xxxi
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AE Aspecto Emocional
AF Aspecto Físico
AS Aspecto Social
AUDIT Alcohol Use Disorders Identification Test
C/ comp Com Companheiro
CAGE Screening test for alcohol dependence
CF Capacidade Funcional
CMD Common Mental Disorders
DP Desvio Padrão
EGS Estado Geral de Saúde
EP Erro Padrão
ESF Estratégia de Saúde da Família
EUA Estados Unidos da América
IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IC Intervalo de Confiança
IDH Índice de Desenvolvimento Humano
ISA 2008 Inquérito de Saúde na Cidade de São Paulo
km2 Quilometro Quadrado
n Tamanho da Amostra
OMS Organização Mundial de Saúde
OPAS Organização Pan-Americana da Saúde
xxxii
PSF Programa de Saúde da Família
QOL Quality of Life
QV Qualidade de Vida
QVRS Qualidade de Vida Relacionada à Saúde
RC Razão de Chance
R2 1 R2 Parcial
R2 2 R2 Modelo
S/ comp Sem Companheiro
SAS Statistical Analysis System (System for Windows)
SF-36 Medical Outcomes Study 36-Item Short-Form
Health Survey
SIAB Sistema de Informação de Atenção Básica
SM Salário Mínimo
SM Saúde Mental
SPSS Statistical Package for the Social Sciences
SRQ-20 Self Reporting Questionnaire 20
TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
TMC Transtorno Mental Comum
UNICAMP Universidade Estadual de Campinas
VI Vitalidade
WHO World Health Organization
WHOQOL World Health Organization Quality of Life
WHOQOL-100 World Health Organization Quality of Life
xxxiii
(WHOQOL-100)
WHOQOL-Bref World Health Organizat ion Quality of Life
(WHOQOL-Bref)
xxxiv
xxxv
LISTA DE SÍMBOLOS
< Menor
> Maior
≤ Menor ou igual
≥ Maior ou igual
p Valor de p
β Beta coeficiente
xxxvi
1
Avaliação da qualidade de vida e transtornos mentais
comuns de residentes em áreas rurais
1. INTRODUÇÃO
A preocupação com a realidade e vivência de residentes de áreas
rurais no Brasil, muitos deles privados do acesso à educação, ao
saneamento básico, à saúde e à segurança no trabalho, instiga a
reflexão sobre as condições de vida, de moradias e de trabalho a e les
impostas e, consequentemente, sobre os impactos de tais condições na
saúde física e mental e em sua qualidade de vida (QV) .
Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,
2010a; 2010b; 2010c) informam que, até 2009, apenas 5,4% dos
domicílios em áreas rurais no Brasil tinham acesso à rede coletora de
esgotamento sanitário, 48,3% possuíam sistema de esgoto a partir de
fossas rudimentares e 19,0% não possuíam nenhum sistema de coleta
de esgoto sanitário. No que se refere ao sistema de abastecimento de
água, 32,8% tinham acesso ao sistema de abastecimento de água,
55,3% possuíam poços ou nascente e 11,9% possuíam outro tipo.
Vilarta et al. (2010) apontam que a qualidade de vida é determinada
pelas condições de saneamento básico, situação financeira, acesso à
2
saúde e educação, além do acesso aos bens de consumo e a adoção de
um estilo de vida saudável.
Nos últimos anos, a temática qualidade de vida tem despertado o
interesse de pesquisadores sobre vários aspectos de saúde da
população em todo o mundo. No entanto, quando o objeto de
investigação é a população rural, a literatura – principalmente a
brasileira – silencia. Parte expressiva de tais trabalhos tem explorado a
QV em pessoas portadoras de enfermidades ou doenças crônicas ,
transtornos psicoemocionais, portadoras de HIV/Aids, idosos,
alcoolistas, trabalhadores urbanos, entre outras (Fleck, 2008a; Ware Jr
et al., 1998; Bjorner et al. , 1998; Gandek et al., 1998; Bech, 1995;
Bullinger et al., 1993).
Todavia, é possível que parte desse silenciamento, em relação à
temática saúde e qualidade de vida no campo, possa ser atribuída ao
fato de que as preocupações com as condições de moradia, trabalho
precário e insalubre e conflitos no campo tornam-se, quase sempre,
invisíveis diante dos problemas decorrentes do desemprego e das
urgências diárias como conflitos no campo por reforma agrária.
A discussão sobre a temática qualidade de vida não é recente. A
preocupação com temática QV surgiu da necessidade de pensar
políticas públicas, de economia e de bem-estar para as classes menos
favorecidas. Esta preocupação teve início em 1913 e continuou em
1920 e 1960, com um grupo de economistas que, entre outros
3
profissionais, incluindo Pigou (Aslanbeigui, 2009). De início, segundo
Aslanbeigui (2009), a discussão se dava em torno de como o impacto
financeiro de tais políticas públicas poderia interferir sobre o indivíduo e
o Estado. Considerava-se que a transferência de renda dos mais ricos
para os pobres tornava possível o desenvolvimento em si a partir da
educação e da capacidade de adaptação.
A expressão qualidade de vida (QV) teria sido empregada por
Pigou, em 1920, ao discutir políticas públicas de bem-estar para
população mais pobre e o papel do estado e dos mais ricos na
diminuição da desigualdade social. Todavia, a partir da década de 60, a
crítica à desigualdade social deu origem aos movimentos sociais e
iniciativas de políticas públicas com a finalidade de melhorar a vida das
pessoas, no sentido de alcançar o bem-estar para todos (Wood-
Dauphinee, 1999).
O conceito de QV diz respeito às satisfações das necessidades de
uma população, em âmbito econômico, social, psicológico, espiritual e
ambiental. Trata-se de um conceito subjetivo que varia entre indivíduos
e entre sociedades, evoluindo com o progresso científ ico e tecnológico
nos mais variados domínios como saúde, habitação e transportes
(Oliveira, 2006).
O termo qualidade de vida diz respeito, ainda, à percepção do
indivíduo em relação a aspectos de vida, de saúde e de relacionamento
interpessoal, entre outros, a partir do contexto cultural, dos sistemas de
4
valores e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões,
preocupações, subjetividade e multidimensionalidade (Seidl e Zannon,
2004; Fleck et al., 2000a; Fleck, 2000b; WHO, 1997; The WHOQOL
Group, 1995).
O conceito de QV difere entre pessoas, não sendo constante ao
longo da vida. Todavia, há consenso de que há múltiplos fatores que
determinam a QV das pessoas e comunidades. Alguns destes fatores
dizem respeito a fenômenos e situações associadas ao estado de
saúde, longevidade, satisfação no trabalho, salário, lazer, relações
familiares, disposição, prazer e espiritualidade. Num sentido mais
amplo, a QV pode ser entendida como uma medida da dignidade
humana, pressupondo o suprimento das necessidades fundamentais do
indivíduo (Fleck, 2008a).
Os termos qualidade de vida e estado de saúde aparecem muitas
vezes na literatura como sinônimos. Contudo, a qualidade de vida
relacionada à saúde engloba dimensões como o funcionamento físico,
social, papel funcional, sexual e saúde mental, não ignorando que a QV
pode ser afetada por mudanças no estado de saúde (Seidl e Zannon,
2004; Cleary et al., 1995; WHO, 1994).
Bech (1995) acrescenta que o conceito QV pode ser entendido
também como uma tentativa de valorizar parâmetros mais amplos que o
controle de sintomas, a diminuição da mortalidade ou aumento da
expectativa de vida. O autor constata que a avaliação da QV foi
5
acrescentada nos ensaios clínicos randomizados como a terceira
dimensão a ser avaliada, além da eficácia, ou seja, modificação da
doença pelo efeito da droga, e da segurança pela reação adversa às
drogas.
A definição de qualidade de vida é mais abrangente que estado
de saúde e capacidade funcional, pois inclui aspectos do meio ambiente
que podem ou não ser afetados pela saúde. As medidas de estado
funcional referem-se a limitações no desempenho de papéis sociais ou
limitação das atividades. As medidas de bem-estar, por sua vez,
referem-se a percepções subjetivas, incluindo sensações desagradáveis
ou agradáveis e avaliações globais de saúde ou de estado subjetivo.
Pessoas com limitações funcionais podem desfrutar de alta qualidade
de vida a partir de suporte do ambiente, da perspectiva de vida e de
suas necessidades e desejos (Fleck, 2008a; Patrick, 2008).
Patrick (2008) destaca que “estado de saúde, estado funcional,
bem-estar, QV e qualidade de vida relacionada à saúde (QVRS) são
conceitos que costumam ser usados sem muita exatidão e de forma
alterada”, pois não há consenso amplamente definido para qualidade de
vida, visto que o termo é empregado em contextos diferentes por
pessoas diferentes, sendo a saúde apenas um domínio. Os conceitos de
estado de saúde e de QVRS incluem sintomas (sensações físicas e
psicológicas); estado funcional, percepções (que var iam de
preocupações especificas sobre a saúde ao bem-estar global) e
6
oportunidade (que diz respeito às percepções de estigma ou relatos
negativos por causa da saúde, como habilidade para lidar ou resistir ao
estresse e à doença).
Chatterji e Bickenbach (2008) destacam que estado de saúde é
diferente de categorias diagnósticas usadas para nomear e caracterizar
a condição de saúde subjacente: doença, distúrbio ou lesão. Por ser
este um fenômeno multidimensional, o estado de saúde deve ser um
atributo intrínseco do corpo humano, descrito e medido conforme os
níveis de funcionalidade em diferentes domínios.
Fleck (2008) defende como sendo a melhor definição de qualidade
de vida a preconizada pela Organização Mundial de Saúde, que
incorpora a saúde física, o estado psicológico, o nível de
independência, as relações sociais, as crenças pessoais e a relação QV
como aspectos significativos do meio ambiente. Herculano (2000)
recomenda, ainda, acrescentar aos instrumentos de avaliação e
mensuração o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), somado às
condições econômicas, ambientais, científ ico-culturais e políticas
coletivas pelas quais os indivíduos realizam suas potencialidades.
O IDH foi criado com a intenção de deslocar o foco do debate,
outrora centrado nos progressos econômicos (nível de renda, produto
interno bruto (PIB) e nível de emprego), para aspectos de natureza
social e cultural (Minayo, et al., 2000). Os autores identificam o IDH
como um indicador sintético de QV que, de forma simplificada, reúne a
7
renda (avaliada pelo PIB real per capita), a saúde (avaliada pela
esperança de vida ao nascer) e a educação (avaliada pelas taxas de
alfabetização de adultos e de matrículas nos níveis escolares
combinados). Outra direção importante para a QV, segundo Patrick
(2008), é a abordagem baseada nas necessidades pessoais, que guiam
e motivam os indivíduos. A QV provém da habilidade e da capacidade
do indivíduo de satisfazer suas necessidades (Patrick, 2008).
8
1.1. Conceituando o rural
Há um senso comum por parte de boa parcela da população
urbana ao retratar e pensar o rural como lugar de atraso, parado no
tempo; um espaço tipicamente de atividades agrícolas, de produção de
alimento e bucólico. Por sua vez, o espaço urbano é idealizado como
um lugar de progresso e desenvolvimento. Na contramão deste
pensamento, Correa (2005) descreve o meio rural como um espaço
onde a população desenvolve atividades nas mais diversas áreas, como
agrícola, do artesanato, de pequenas e médias indústrias, do comércio,
de serviços, da pecuária, da pesca, da mineração, da extração de
recursos naturais e do turismo, etc.
Para Correa (2005), o espaço rural transcende a atividade
agrícola e mantém fortes ligações de troca com o espaço urbano,
proporcionando troca não só de alimentos, mas também de bens e
serviços, como o fornecimento de alimento, cuidado de recursos
naturais, espaços para o descanso e manutenção e desenvolvimento da
cultura. Martins (2001), por sua vez, apresenta o mundo rural como um
lugar de criatividade, de inovação e de luta contra modelos econômicos,
políticos e pensamentos acadêmicos distorcidos.
Para Siqueira e Osório (2001), os conceitos sobre o que é rural e
urbano são construídos sobre as mesmas representações, estando
estas em constante troca e mediação. Com o passar do tempo, são
9
agregados novos elementos às representações do rural e do urbano.
Para estes autores, a conceituação de rural depende diretamente da
localidade a que nos referimos. O conceito de rural utilizado pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por exemplo, é
definido a partir daquilo que o plano diretor do município define como
rural. Portanto, são critérios políticos que definem o que é urbano e o
que é rural (Siqueira e Osório, 2001).
Neste sentido, Marques (2002) afirma que os Estados têm
estabelecido definições oficiais sobre o que é espaço rural e urbano
para fins estatísticos e administrativos, sendo adotados, para isso,
critérios como discriminação populacional, predominância da atividade
agrícola e delimitação político-administrativa.
O IBGE (2010d) conceitua e define domicílios como pertencentes
a áreas rurais levando em conta as seguintes considerações:
aglomerado rural, áreas não urbanizadas de cidade ou vila e povoado.
Define-se como aglomerado rural um conjunto de edificações
adjacentes com 50 metros ou menos de distância entre si. Á reas não
urbanizadas de cidade ou vila são caracterizadas por ocupação
predominantemente rural. Já povoado é definido como aglomerado rural
isolado sem caráter privado ou empresarial, não vinculado a um único
proprietário do solo.
A população rural no Brasil decresceu drasticamente entre o
período de 1950 e 2010, passando de 63,84% a 15,64%, em 2010, e a
10
13,09%, em 2011 (IBGE, 2011; 2010e). Baudel Wanderley (2005)
defende ser o esvaziamento no campo fruto das mudanças ocorridas no
setor rural nas últimas décadas, assim como Martins (2001) e Ferreira
(2002), que também atribuem a modernização da agricultura como um
fator que contribuiu para expulsão do homem do campo.
Ferreira (2002) afirma que o processo de modernização da
agricultura brasileira, adotado a partir da década de 50, ao invés de
resolver a questão agrária no Brasil, acabou aprofundando ainda mais a
concentração fundiária, com quase 60,0% das propriedades rurais
pertencentes a 3,0% dos proprietários. O autor destaca, ainda, que, ao
confundir modernização agrícola com desenvolvimento rural, o Brasil
contribuiu para acentuar ainda mais as desigualdades sociais, além de
colaborar, segundo Baudel Wanderley (2005), para o processo de
esvaziamento do campo.
Santo (2001) afirma que, durante décadas, “as megapropriedades
serviram mais como reserva de valor para afirmação de poder político e
econômico do que para garantir produção e produtividade, não
cumprindo sua função social. ” Com a revolução tecnológ ica, ainda
segundo este autor, a produtividade do trabalho no campo tornou -se
uma variável mais importante, de forma semelhante ao que ocorrera no
meio urbano.
Diante deste novo cenário de transformação do contexto rural,
Ponte (2004) destaca a importância de nova conceituação do rural, em
11
decorrência das mudanças dos territórios rurais, “de modo a
proporcionar um entendimento mais claro e que corresponda a esse
contexto metamorfoseado”. Para este autor, “entender o rural possibilita
ressaltar sua importância para o conjunto da sociedade, bem como um
território residual.”
Siqueira e Osório (2001), assim como Ponte (2004), apontam para
uma reelaboração do conceito de rural. Ponte (2004) defende a
necessidade de considerar o ambiente rural, “como principal fator de
estabelecimento dos tipos de relações econômicas, políticas e sociais
da população do campo com a terra” . Para Ponte (2004), as relações
sociais no campo são marcadas por dimensões simbólicas e culturais
com a terra, além do sentido de coletividade e cooperação.
No contexto das relações políticas, Ponte (2004) considera o
espaço rural a partir das lutas e reivindicações por terra e direitos
enquanto cidadão rural, além das condições econômicas, políticas e
sociais mais dignas no campo. Nas relações econômicas, o rural está
atrelado às atividades agropecuárias, bem como ao uso da terra para
atividades de prestação de serviços, de espaço de moradia e de
ocupações não-agrícolas.
Contribuindo com o debate, Martins (2001) aponta um equívoco
da sociologia rural ao considerar que a modernização econômica no
setor rural seria responsável pela modernização social no campo, assim
como pelo bem-estar da população rural. Para este autor, “a
12
modernização rural é um valor dos sociólogos rurais ” e não da
população rural, tendo em vista esta modernização ter sido responsável
pelo desemprego, o desenraizamento do campo, a desagregação da
família e da comunidade, além de responder pela migração e expulsão
em massa da população rural para as cidades.
Côrtes (2008) alerta que a ideia de vida saudável e bucólica no
campo tropeça nos impactos causados pelas atividades agropecuárias.
Acrescenta, ainda, que as atividades não-agrícolas desenvolvidas no
meio rural contribuem para diminuição da produção agrícola sem que se
atente para impactos sociais. A atividade turística, por exemplo, causa
impactos ambientais, bem como o aumento do despejo de esgoto e lixo
a céu aberto, além do desmatamento para construção de infraestrutura,
alargamento de trilhas etc.
13
1.2. Qualidade de vida e estado de saúde no contexto rural
Ainda são limitados os estudos internacionais e, principalmente,
nacionais sobre a temática qualidade de vida de residentes de áreas
rurais. No cenário internacional, autores como Liu et al. (2010),
Nzeadibe e Ajaero (2010), Mammen et al. (2009), Rėklaitienė et al.
(2008), Fernández et al. (2006), Wallace et al. (2006), Borders et al.
(2004), Patrick et al. (2004), Sabbah et al. (2003), Fuh et al. (2000)
estudaram a QV no contexto rural. Os resultados destes estudos
revelam uma maior prevalência para déficits na QV entre indivíduos que
residem em comunidades rurais.
No contexto rural brasileiro, identificam-se os estudos de Paz de
Lima e Oliveira (2014), Sena et al. (2013), Faker (2009), Martins et al.
(2007), Martins (2001) e Silva (1997). Embora a temática QV ainda seja
pouco abordada, é possível identificar uma relação entre a QV do
trabalhador do campo, o modo de organização e realização do trabalho
(Faker, 2009).
Um problema comum apontado por Scopinho (1996), em relação à
saúde de residentes rurais, é o fato dos trabalhadores do campo não
estarem conscientizados para enfrentar a questão da saúde do ponto de
vista coletivo e preventivo. De modo geral, o trabalhador do campo não
entende a saúde como um direito básico de cidadania. Nesse sentido,
Gemma (2008) sugere a inserção da saúde ocupacional nas políticas e
14
estratégias de desenvolvimento e da QV no meio rural, enfatizando a
prevenção e a proteção ambiental sistêmica, como desafio atual e
futuro.
No panorama internacional, Rėklaitienė et al. (2008) avaliaram a
QV em comunidades rurais na Lituânia. Os resultados sugerem que
variáveis como estilo de vida e os aspectos sociodemográficos podem
explicar parte substancial das diferenças entre QV de homens e de
mulheres. Os autores defendem que fatores como menor nível de
escolaridade, sedentarismo e obesidade são mais prevalentes entre as
mulheres. No mesmo sentido, Mammen et al. (2009) avaliaram a
influência da saúde e do capital humano, social e pessoal em relação à
satisfação com a vida entre mães de baixa renda de áreas rurais nos
EUA.
Ainda nos Estados Unidos, autores como McGranahan e Beale
(2002) destacam os limites da prosperidade econômica na década de 90
quando analisada sob a perspectiva do campo. A pobreza manteve -se
elevada em muitas zonas rurais e os municípios rurais perderam
aproximadamente um quarto da população ao longo da década. Os
autores traçam um paralelo entre as más condições econômicas e os
níveis de QV na população rural sugerindo que o declínio econômico e
o êxodo rural em massa são fatores a serem levados em consideração
ao se analisar QV.
15
Na China, Zhang et al. (2009) denunciam o rápido crescimento
econômico como responsável pelo aumento da disparidade de renda
entre as zonas urbana e rural a um nível his toricamente elevado. Tal
disparidade tem se traduzido em drástico impacto na qualidade de vida
dos habitantes das áreas rurais do país. A disparidade crescente de
renda proporcionou, segundo estes autores, um forte incentivo para os
residentes rurais migrarem para áreas urbanas em busca de uma vida
melhor. Zhang et al. (2009) sugerem, ainda, que as mudanças
demográficas tiveram profundos impactos não apenas no campo, mas
também na QV dos migrantes. Os resultados apontam que a maioria
dos migrantes sofreu algum tipo de discriminação devido ao status de
residência rural, à baixa escolaridade e à baixa renda.
Rėklaitienė et al. (2008) destacam que idade avançada, baixa
escolaridade, ausência de cônjuge e baixa renda devem ter prioridade
na atenção às dificuldades especiais. Os autores apontam, ainda, que
os índices de função física e emocional, saúde geral, funcionamento
social e saúde mental diminuíram significativamente com a idade em
mulheres pós-menopausa. Como as populações rurais femininas
necessitam de cuidados de saúde pública no período pós-menopausa,
as variáveis associadas com as redes sociais e de apoio social foram
menos preditivas de QV quando as medidas econômicas foram
contabilizadas. A privação material, segundo Rėklaitienė et al. (2008),
tem influência direta sobre o estado de saúde e a QV.
16
Baudel Wanderley (2005) e Silva (1997) afirmam que a população
residente de áreas rurais é a principal vítima da pobreza, do isolamento
e da submissão política. Silva (1997) chama a atenção para o fato da
renda e dos padrões de vida dos residentes e trabalhadores rurais
serem iguais ou superiores a dos pobres urbanos. Neste sentido, El -
Osta (2007) considera que políticas públicas voltadas para a população
do campo podem contribuir para a melhoria na QV e, principalmente,
para a permanência do homem no campo.
O debate sobre as concepções de saúde, qualidade de vida e
transtornos mentais no contexto de vivência e de trabalho no campo é
fundamental. Nos trabalhos que relacionam trabalho rural e QV, esta,
segundo Uchoa et al. (2002) e Siqueira et al. (2012), é abordada a
partir da articulação entre condições objetivas (estado de saúde,
serviços disponíveis, bens e redes sociais de apoio) e o universo de
representações objetivas e subjetivas (avaliação do estado de saúde,
satisfação com os serviços, recursos materiais e redes sociais de
apoio).
Siqueira et al. (2012) destacam a pouca expressividade dos
estudos relacionados à QV de trabalhadores rurais. Os autores alertam
que as pesquisas não consideram as questões subjetivas, a percepção
do indivíduo em relação à posição da vida no campo, no contexto da
cultura e sistema de valores e, principalmente, que há ausência de
17
estudos relacionando o uso de agrotóxicos e a QV de trabalhadores
rurais.
18
1.3. Transtorno Mental Comum (TMC) no contexto rural
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS) os transtornos
mentais e comportamentais afetam mais de 25% de todas as pessoas
em algum momento durante suas vidas. Os t ranstornos mentais,
neurológicos e por uso de substâncias são responsáveis por 14% da
carga global de doenças, sendo que 75% da carga global de doenças
neuropsiquiátricas advém de países de baixa renda. Estes são os
principais contribuintes para morbidade e mortalidade prematura (WHO,
2008a; 2008b; 2001).
Os transtornos mentais comuns (TMC) são universais, afetando
pessoas de todos os países e sociedades, bem como indivíduos em
todas as idades, mulheres e homens, ricos e pobres, em ambientes
urbanos e rurais. Todavia, as doenças mentais não têm recebido a
mesma importância despendida à saúde física, principalmente quando
se trata dos países em desenvolvimento. Para a OMS, as despesas com
saúde mental são mais de 200 vezes superiores em países de alta
renda per capita em comparação com os países de baixa renda (WHO,
2011a). Os custos gerados indiretamente pela desassistência do
tratamento, pelos pacientes, superam os custos diretos, tendo em vista
o prolongamento dos transtornos e suas incapacitações, além do
impacto sobre a sociedade e sobre a qualidade de vida dos indivíduos e
das famílias (WHO, 2011a, 2001).
19
Ludermir (2008) afirma que os transtornos mentais envolvem as
dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais, expressando -se
diferentemente nas classes sociais e nas relações de gênero. Para a
OMS (WHO, 2001), os transtornos mentais não são problemas apenas
das sociedades industrializadas e ricas; as comunidades rurais também
são vulneráveis.
No contexto brasileiro, os estudos de Costa e Ludermir (2005)
apontaram uma prevalência de TMC de 36% entre a população rural da
Zona da Mata de Pernambuco. Os resultados destes achados, no
cenário rural, não diferem de estudos realizados em Olinda,
Pernambuco, com população urbana, onde a prevalência foi de 35%
(Ludermir e Melo Filho, 2002). Far ia et al. (1999) destacaram uma
prevalência de transtornos psiquiátricos menores de 38% entre
agricultores da Serra Gaúcha, dos municípios de Antônio Prado e Ipê
(RS), em 1996.
Patrick et al. (2004) avaliaram os efeitos do afeto deprimido na
incapacidade funcional entre idosos rurais de West Virginia, entre 1998
e 1999. Para os autores, o afeto deprimido está diretamente associado
à incapacidade funcional. Os pacientes, principalmente rurais, podem
estar relutantes em se autoidentificarem para os serviços de saúde
mental devido a visões estereotipadas sobre o tema (Patrick et al.,
2004).
20
Ainda em relação a distúrbios mentais de comunidade rural,
Nakimuli-Mpungu et al. (2012), apontaram uma prevalência de 24% de
transtorno depressivo entre portadores de HIV positivos em comunidade
rural de Uganda.
21
1.4. Alcoolismo
O uso abusivo de bebida alcoólica é, atualmente, um grave
problema de saúde pública (Marques e Mangia, 2010; Gallassi et al.,
2008; Laranjeira et al., 2007). Esta realidade levou, em 2010, a
Assembleia Nacional de Saúde (WHA) da OMS a aprovar uma resolução
de estratégia global para reduzir o uso nocivo do álcool (WHO, 2011b).
O alcoolismo ou síndrome de dependência do álcool (SDA) é
considerado um transtorno psiquiátrico com consequências de ordem
individual, familiar, social e econômica em todo o mundo, sendo este
responsável por mortes no trânsito, contribuindo, ainda, para aumento
de morbidades e de violência urbana e doméstica (Tran et al., 2012;
WHO, 2011b).
Tran et al. (2012) verif icaram a relação entre abuso de álcool e
violência doméstica entre casais de população rural e de baixa renda,
no Vietnã. Pires et al. (2012), em estudo nacional com população de
Moçambique, em 2005, sendo a maioria mulheres e de área rurais,
indicaram prevalência de 28,9% de consumo de bebida alcoólica entre
mulheres e 57,7% entre os homens. Silva-Matos e Beran (2012), assim
como Padrão et al. (2011) associaram a relação entre uso abusivo de
álcool e fatores como idade mais avançada e menor escolaridade entre
as mulheres e menor renda entre homens de população rural.
22
Inder et al. (2012) também identif icaram uso excessivo de álcool
como um problema significativo entre a população rural, na Austrália.
Para estes autores, a alta prevalência de alcoolismo entre a população
rural está associada a fatores como desvantagens socioeconômicas,
taxas de mudança da população, adversidade do meio ambiente e
afastamento dos serviços de saúde e/ou centros populacionais.
Haan et al. (2009) verif icaram a associação entre desvantagem
econômica e uso de álcool entre jovens de população rural, nos EUA.
No entanto, Haan e Boljevac (2009) atribuem o uso abusivo de álcool
na adolescência a problema de dependência diagnosticado nos pais.
Os estudos de Coomber et al. (2011), por sua vez, abordaram o
impacto do uso de álcool, tabaco e substâncias ilícitas em comunidades
rurais na Austrália e nos Estados Unidos. Para os autores,
adolescentes rurais usam tais substâncias com mais frequência quando
comparados com outros de áreas urbanas, o que coloca os
adolescentes rurais em maior risco.
Gordon et al. (2011) estudaram o uso abusivo de álcool entre
adolescentes de comunidades rurais, na Pensilvânia, EUA, indicando
que o problema do alcoolismo, entre os jovens, poderia ser melhor
abordado a partir de intervenções de prevenção.
Shannon et al. (2011) defendem a importância da intervenção
precoce contra o abuso de substâncias químicas, como álcool e outras
drogas ilícitas, e os esforços para prevenção e tratamento, no
23
Appalachia Kentucky, EUA. Neste sentido, Siriwardhaba et al. (2012)
também destacam a importância de programa de políticas públicas de
educação para prevenção e redução no uso de álcool entre a população
rural do Sri Lanka.
No contexto brasileiro, Araújo et al. (2007) verificaram elevada
prevalência do alcoolismo (60,8%) entre agricultores da microbacia de
São Lourenço, Nova Friburgo, sendo 45,2% deles com consumo
elevado ou acentuado. No Vale do Taquari (RS), em 2005, o consumo
de álcool entre a população rural foi de 54,4% (Souza et al., 2011).
Faria et al. (2000) apontaram 7,0% de trabalhadores rurais da Serra
Gaúcha, Rio Grande do Sul, com problemas de bebidas alcoólicas,
avaliados a partir do teste CAGE positivo.
Estudos também indicam distinção em relação à prevalência de
uso abusivo de bebida alcoólica entre população urbana e rural e entre
os Estados Brasileiros (OPAS, 2008; Laranjeira et al., 2007). Laranjeira
et al. (2007) apontaram 52,0% dos brasileiros, maiores de 18 anos de
idade, classificados como bebedores leves (pelo menos uma vez ao
ano) e 12,0% da população brasileira com algum problema com o uso
de álcool. O relatório da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas,
em 2005, identif icou uma prevalência de 12,3% de dependência de uso
de álcool entre a população de 108 cidades com ma is de 200 habitantes
(Duarte et al., 2009).
24
O uso abusivo de bebida alcoólica, segundo Marín -León et al.
(2007a), sinaliza um problema de saúde pública. Em 2012, o Ministério
da Saúde (Brasil, 2013) apontou que “27,9% dos homens e 10,3 das
mulheres, da população brasileira adulta, havia feito uso abusivo de
bebidas alcoólicas, nos últimos 30 dias. ” As consequências da
dependência alcoólica, no Brasil, segundo dados do Ministério da
Saúde (Brasil, 2008), entre 2000 e 2006, foram responsáveis por 3,2%
dos óbitos entre os homens e 0,5% entre as mulheres.
25
1.5. Instrumentos de avaliação de qualidade de vida e
estado de saúde
1.5.1. WHOQOL-100 e WHOQOL-BREF
Nas últimas décadas, tem havido o surgimento de instrumentos de
avaliação de qualidade de vida, sendo a maioria desenvolvida nos
Estados Unidos, com interesse em traduzi -los para aplicação em outras
culturas (Fleck et al. 1999a; Bullinger et al., 1993). No entanto, Fox -
Rushby et al. (1995) alertam para os riscos da aplicação direta de tais
instrumentos de avaliação de QV sem levar em conta as especificidades
de cada cultura, uma vez que as ferramentas estão impregnadas com a
cultura de origem e refletem crenças e valores dos pesquisadores
participantes de sua construção. Estes autores destacam, ainda, que,
apesar do bem-estar – proporcionado por equilíbrio psicológico, físico e
social – ser considerado um benefício estendível a todos os humanos, o
conceito de qualidade de vida não poderá ser entendido como categoria
universal.
O desenvolvimento de instrumentos de medidas genéricas de
qualidade de vida teve início nos anos 1970, no intuito de avaliar a QV
de pacientes com doenças crônicas específicas. Nas décadas de 80 e
90, registrou-se um aumento no rigor metodológico e mais ênfase nas
abordagens analíticas, na interpretação dos escores da escala, nas
26
questões culturais e linguísticas, bem como sobre no desenvolvimento
de medidas mais curtas (Wood-Dauphinee, 1999).
Para Fleck (2008), a partir da década de 70, seis vertentes
convergiram para o conceito de QV: (1) os estudos de base
epidemiológica sobre a felicidade e o bem-estar, visto que, nos países
desenvolvidos, a eliminação da miséria passou a ser insuficiente diante
das demandas de sociedades cada vez mais ricas e com objetivos mais
amplos; (2) a busca de indicadores soc iais, como a renda per capita e o
índice de morbidade infantil e, recentemente, o índice de
desenvolvimento humano (IDH), elaborado pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento, que inclui aspectos de natureza social
e cultural; (3) a insuficiência das medidas objetivas de desfecho em
saúde, uma vez que as medidas tradicionais baseadas em exames
laboratoriais e na avaliação clínica avaliam muito mais a doença do que
o doente; (4) a psicologia positiva, que considera aspectos positivos da
experiência humana, como resiliência, esperança, sabedoria,
criatividade e espiritualidade; (5) a satisfação do cliente, grau de
satisfação do usuário com os serviços de saúde oferecidos; (6) o
movimento de humanização da medicina, visando à reumanização do
atendimento, com a preocupação de resgatar a relação médico -paciente
como responsável pelo sucesso das intervenções na área da saúde.
A busca por um instrumento que avaliasse a QV sob uma
perspectiva internacional levou a OMS a desenvolver um projeto
27
multicêntrico que resultou no Grupo de Qualidade de Vida (The
WHOQOL Group). O WHOQOL Group agregou vários cientistas do
mundo todo para estruturar um protocolo internacional abordando a
avaliação dos parâmetros da QV e desenvolveu dois instrumentos, o
WHOQOL-100 (Word Health Organization Quality of Life Instrument
100) e o WHOQOL-Bref (Word Health Organization Quality of Life
Instrument Bref) (Fleck, 2000b; WHO, 1997; The WHOQOL Group,
1995).
O grupo WHOQOL aponta três aspectos fundamentais para o
constructo qualidade de vida: (1) a subjetividade, estando relacionada à
perspectiva do indivíduo sobre o que está em questão; (2) a
multidimensionalidade, composta por dimensões avaliadas por meio de
escores dos domínios físicos, mental, social e meio ambiente e (3) a
bipolaridade, que inclui a presença de elementos de dimensões
positivas (mobilidade) e ausências de dimensões negativas (dor),
necessárias para qualidade de vida (Fleck, 2008a).
O WHOQOL-100 e o WHOQOL-Bref são instrumentos usados em
extensa literatura internacional avaliando QV em pacientes portadores
de doenças crônicas (distúrbios psiquiátricos, neurológicos, portadores
de HIV/Aids, hipertensos) (Fleck, 2008a; WHO, 1997).
O WHOQOL-100 é composto por 100 itens, subdivididos em seis
domínios: físico, psicológico, nível de independência, relações sociais,
28
meio-ambiente e espiritualidade/crenças pessoais (Fleck, 2000b; Fleck
et al., 1999a; Fleck et al., 1999b).
O WHOQOL-Bref, por sua vez, é uma versão abreviada do
WHOQOL-100. O instrumento abreviado consta de 26 questões, sendo
duas questões gerais de qualidade de vida. As demais representam as
24 facetas constituintes do instrumento original, que é composto por
quatro domínios: físico (7 facetas), psicológico (6 facetas), relações
sociais (3 facetas) e meio ambiente (8 facetas) (Fleck et al., 2000a;
WHO, 1996; The WHOQOL Group, 1995).
O WHOQOL-Bref apresenta um escore que varia de 0 a 100,
sendo que quanto maior for o valor nos domínios, melhor é a qualidade
de vida avaliada. As questões são formuladas para escala L ikert, com
quatro tipos de escala de respostas: intensidade (nada, muito pouco,
mais ou menos, bastante e extremamente), capacidade (nada, muito
pouco, médio, muito e completamente), frequência (nunca, algumas
vezes, frequentemente, muito frequentemente e sempre) e avaliação
(muito insatisfeito, insatisfeito, nem satisfeito nem insatisfeito, satisfeito
e muito satisfeito; muito ruim, ruim, nem ruim nem bom, bom e muito
bom). As palavras âncoras (nada e extremamente; nada e
completamente; nunca e sempre; muito insatisfeito e muito satisfeito e
muito ruim e muito bom) são pontuadas de um a cinco, sendo que, nas
questões de número 3, 4 e 26, os escores são invertidos (Fleck et al.,
2000a; Fleck, 1998; WHO, 1996).
29
1.5.2. Medical Outcomes Study 36 – Item Short-Form Health
Survey (SF-36)
Outro instrumento genérico que tem sido frequentemente utilizado
para a avaliação da qualidade de vida é o Item Short-Form Health
Survey (SF-36). O SF-36 foi desenvolvido por Ware e Sherbourne
(1992) para medir a saúde funcional em médias e grandes populações,
sendo utilizado em serviços de saúde, testes clínicos, condições
crônicas da população em geral e tratamentos clínicos de varias
condições de saúde, abordando aspectos físicos e mentais da
qualidade de vida do indivíduo (Walters, 2004; Ciconelli et al., 1999;
Ciconelli, 1997; Ware e Sherbourne, 1992).
Apesar do SF-36 avaliar qualidade de vida relacionada à saúde,
este instrumento tem sido cada vez mais selecionado para avaliar
resultados de serviços de atendimentos. O instrumento vem sendo
traduzido e adaptado cultural e psicometricamente por vários países,
incluindo o Brasil (Suzukamo et al., 2011; Morimoto et al., 2006; Fuh et
al., 2000; Ciconelli et al., 1999; Bjorner et al., 1998; Pierre et al., 1998;
Ware Jr et al., 1998; Achat et al., 1998; Raczek et al., 1998; Gandek et
al., 1998; Ciconelli, 1997; Jenksone et al. 1993).
O questionário do SF-36 é composto de 36 itens, distribuídos em
oito escalas ou domínios (aspecto físico, aspecto emocional, aspecto
30
social, capacidade funcional, dor, estado de saúde geral, saúde mental
e vitalidade), sendo quatro escalas associadas à saúde física (funções
físicas, postura de vida, dor corporal e saúde geral) e quatro à saúde
mental (vitalidade, funções sociais, postura emocional e saúde mental) .
O SF-36 apresenta um escore final de 0 a 100, sendo 0 o pior escore de
estado geral de saúde e 100, o melhor (Ciconelli et al., 1999; Ciconelli,
1997).
O domínio de capacidade funcional (10 itens) avalia o impacto das
limitações físicas (dificuldade para tomar banho sozinho, vestir-se,
praticar esportes ou atividades físicas, carregar sacos de compras,
ajoelhar-se, andar ou caminhar determinada distância) na qualidade de
vida. Os domínios referentes aos aspectos físicos (4 itens) e
emocionais (3 itens) avaliam os impactos e limitações na saúde devido
a problemas físicos e emocionais, além de detectar se tais problemas
interferem no tipo e na quantidade de trabalho realizado. O domínio de
aspecto social (2 itens) avalia a quantidade e a qualidade das
atividades sociais e o impacto dos problemas físicos e emocionais
nestas atividades. O domínio de dor (2 itens) avalia a intensidade e
desconforto causados pela dor e o modo como esta interfere no
trabalho. O domínio de estado de saúde geral (5 itens) avalia a
percepção geral do indivíduo sobre sua saúde atual, a resistência a
doenças e o aspecto saudável. O domínio de saúde mental (5 itens)
inclui os conceitos de ansiedade, depressão, perda de controle
31
comportamental ou emocional e de bem-estar psicológico. O domínio de
vitalidade (4 itens) mede os níveis de energia e de fadiga (Ware Jr,
2012; Ciconelli et al., 1999; Ciconelli, 1997).
Zanei (2006) e Ciconelli et al. (1999) afirmam ser o SF-36 o
instrumento mais utilizado para avaliar qualidade de vida em pacientes
crônicos. Por ser um instrumento de avaliação de qualidade de vida
relacionada à saúde (QVRS), considera-se que seja mais adequado
para ser aplicado a qualquer tipo de paciente internado em unidade de
tratamento intensivo (UTI), permitindo descrever o pe rfil de saúde do
paciente, apreender melhor o impacto da doença aguda e da internação
na UTI em diferentes aspectos da vida. Entretanto, o SF-36 não inclui
questões relacionadas à vida sexual e ao sono, fatores que podem
influenciar na QV dos pacientes após a alta (Zanei, 2006; Ciconelli et
al., 1999).
Huang et al. (2006) afirmam ser complexo mensurar a QV. Os
profissionais de saúde e pesquisadores devem ser criteriosos na
seleção do instrumento a ser utilizado em sua pesquisa. Os autores
destacam, ainda, que, embora o SF-36 (instrumento genérico que avalia
qualidade de vida relacionada à saúde) e o WHOQOL-Bref sejam
utilizados como sinônimos para medir QV, estes parecem avaliar a QV
em diferentes constructos. Enquanto o SF-36 avalia a qualidade de vida
relacionada à saúde (QVRS) o WHOQOL-Bref avalia a QV global.
32
Liu et al. (2010) apontam que a maioria dos estudos existentes
sobre QV são baseados em ambientes urbanos. Os autores
investigaram a validade do uso de um questionário de saúde urbana e
do estilo de vida baseado em indivíduos com um estilo de vida rural
tradicional a partir da utilização do SF-36. Estes autores defendem que
instrumentos de avaliação de QV com base no regime urbano de vida
não podem ser confiavelmente utilizados em indivíduos que vivem em
ambientes rurais.
33
1.6. Instrumentos de avaliação de transtornos mentais
comuns (TMC)
1.6.1. Self-Reporting Questionnaire – 20 (SRQ-20)
Em relação às questões relacionadas à saúde mental, um
instrumento que tem sido bastante utilizado para avaliar transtornos
mentais comuns (TMC) é o Self-Reporting Questionnaire – 20 (SRQ-20).
O SRQ-20 é um instrumento proposto pela OMS para detectar
morbidade psiquiátrica na população geral. Foi desenvolvido por
Harding et al. (1980) e validado no Brasil por Mari e Williams (1986a)
com uma sensibilidade de 83% e especificidade de 80% para
rastreamento de transtorno psicoemocional, sendo os melhores pontos
de cortes entre 5 e 6 para os homens e de 7 e 8 para as mulheres (Mari
e Williams, 1986a; WHO, 1994a).
O SRQ-20 é composto de 20 questões com respostas sim/não. O
SRQ-20 tem sido bastante utilizado no Brasil para avaliar TMC em
comunidades urbanas e rurais e em portadores de enfermidades. Alguns
autores têm adotado pontos de corte menores e distintos para sexo
masculino e feminino e para população de estudo específica (Ulhôa et
al., 2010; Faker, 2009; Marín-León et al. 2007b; Silva et al., 2006; Mari
e Williams, 1986a).
34
Costa e Ludermir (2005) consideraram com suspeitas de TMC os
indivíduos que apresentaram seis ou mais respostas afirmativas. Os
estudos de Giang et al. (2010; 2006) adotaram ponto de corte de 7, em
comunidade rural no Vietnã, e Nakimuli -Mpungu et al. (2012), em
Uganda, adotaram ponto ≥ 6 (maior ou igual).
Nos estudos de Faker (2009), com população rural de Mato
Grosso do Sul, e da Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo (ISA
2008) (São Paulo, 2011), com população urbana de São Paulo, foi
adotado ponto ≥ 8 para ambos os sexos.
Os estudos de Faria et al. (1999), com população rural na Serra
Gaúcha (RS), definiram ponto de corte ≥ 6 para homens e ≥ 8 para
mulheres. Os autores esclarecem que, devido à ausência de validação
específica do SRQ-20, no Brasil, para população rural, optou-se por
realizar comparação com resultados de outro estudo em população
urbana.
Carlotto et al. (2011), estudando trabalhadores urbanos em Porto
Alegre, adotaram como sugestivos de TCM ponto ≥ 7 para ambos os
sexos. Santos et al. (2010), em área urbana de Feira de Santana (BA),
afirmaram que pontos de corte de 6 ou 7 apresentaram melhor
desempenho, sendo 7 o melhor ponto de corte entre as mulheres e 5,
entre os homens.
Scazufca et al. (2009), por sua vez, definiram ponto ≥ 4/5 para
detectar TMC entre a população adulta de São Paulo. Para Tavares et
35
al. (2011) o ponto de corte do SRQ-20 é apenas sugestivo de
sofrimento psíquico ou de distúrbios psíquicos menores.
A distinção em relação ao ponto de corte do SRQ-20 se deve a
fatores socioeconômicos e demográficos, com menor ponto de corte
para homens, devido a sua maior dificuldade em expressar questões
emocionais e problema de saúde etc. (Santa Helena et al., 2010;
Santos et al., 2010; Mari e Williams, 1986a, 1986b).
Quando o instrumento avalia o evento de interesse em
uma escala contínua, é necessário o estabelecimento de
um ponto de corte, abaixo e acima do qual seja possível
definir-se ausência ou presença de um dado desfecho...
A análise do desempenho de um instrumento deve,
portanto, levar em consideração um conjunto de
indicadores, analisando-se a sua capacidade de
discriminar caso/ não caso, a definição do melhor ponto
de corte, bem como fatores que podem interferir no seu
desempenho em contextos específ icos (Santos et al.,
2010).
Os estudos de Lee et al. (2006) e Faria et al. (1999) referem à
necessidade de validação de instrumentos para avaliação de
transtornos mentais comuns (TMC) em comunidade rural, em países em
desenvolvimento e não ocidentais, bem como a limitação de estudos de
saúde mental direcionados à população rural. Apontam, também, para a
36
necessidade de estudos específicos de saúde mental direcionada a
população que reside e trabalha em área rural.
37
1.7. Instrumentos de avaliação do uso abusivo de álcool
Em relação ao rastreamento e identif icação de pessoas com
problemas relacionados ao uso abusivo de bebida alcoólica, destacam -
se dois instrumentos que têm sido bastante utilizados para esta
finalidade: o AUDIT (Alcohol Use Disorder Identification Test) e o CAGE
(Screening test for alcohol dependence) – Cut-down; Annoyed; Guilty e
Eye-opener. Ambos os instrumentos já foram validados para população
brasileira (Méndez, 1999; Mansur e Monteiro, 1983).
1.7.1. CAGE – Cut-down; Annoyed; Guilty e Eye-opener
O CAGE (Screening test for alcohol dependence) – instrumento
adotado neste projeto de pesquisa – é composto de quatro questões,
com respostas sim/não. Uma resposta afirmativa indica ser um sinal de
abuso de álcool, enquanto que duas respostas afirmativas indicam
abuso de álcool. Este instrumento foi criado por Mayfield et al. (1974) e
validado no Brasil por Mansur e Monteiro (1983).
38
1.8. JUSTIFICATIVAS DO ESTUDO
A limitação de estudos brasileiros sobre as temáticas qualidade
de vida, qualidade de vida relacionada à saúde, transtorno mental
comum (TMC), tabagismo, alcool ismo e aspectos de saúde da
população rural no Brasil, além da hipótese de maior prevalência de
TMC entre a população de comunidades rurais, em decorrências da
exposição e intoxicação por agrotóxico e das condições de trabalho no
campo, instigaram a realização deste estudo.
39
2. OBJETIVOS
2.1. Geral
A pesquisa tem como objetivo geral avaliar a qualidade de vida
(QV) e transtornos mentais comuns (TMC) de residentes em áreas
rurais, bem como avaliar a qualidade de vida relacionada aos aspectos
do estado de saúde nesta população de estudo.
2.2. Específicos
2.2.1. Identificar alteração dos domínios da QV entre os
residentes da área de estudo;
2.2.2. Avaliar os domínios da qualidade de vida em relação à
função desempenhada no campo;
2.2.3. Identificar diferenças nos domínios da QV em relação ao
sexo;
2.2.4. Identificar a relação entre sobrecarga (quantidade de
horas) de trabalho semanal e alteração dos domínios da
QV;
2.2.5. Identificar a prevalência de alcoolismo e de tabagismo
entre a população rural estudada.
40
41
3. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
3.1. Desenho da pesquisa
Trata-se de um estudo de caráter epidemiológico transversal, para
avaliar a qualidade de vida, a qualidade de vida relacionada à saúde e
transtornos mentais comuns de residentes de áreas rurais, com idade
acima de 18 anos, dos bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio
Abaixo, no município de Atibaia, Estado de São Paulo.
3.2. Caracterização da população de estudo
As áreas de estudo compreendem os bairros de Laranjal,
Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, município de Atibaia, SP. Atibaia
possui, segundo o IBGE (2010f), uma população de 126.603 habitantes
(62.211 homens e 64.392 mulheres), assim distribuída: população
urbana – 115.229 habitantes (56.235 homens e 58.994 mulheres);
população rural – 11.374 (5.976 homens e 5.398 mulheres). A mesma
fonte informa que o território de Atibaia corresponde a 478,448 km2; a
densidade demográfica é de 264,61 habitantes/km 2 e o Produto Interno
Bruto (PIB), R$ 3.062.680,00, em 2010.
42
Segundo dados do Sistema de Informações de Atenção Básica
(SIAB), do Ministério da Saúde e informações da Secretaria Municipal
de Atibaia, os bairros específicos deste estudo possuem uma população
de 2.699 habitantes, conforme se observa na Tabela 1. O número de
habitantes na faixa etária de idade de interesse desta pesquisa
(maiores de 18 anos) somam aproximadamente 2.100 habitantes
(Brasil, 2012).
Tabela 1 – População de estudo por sexo e faixa etária (anos). Bairros:
Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/São Paulo,
Brasil, 2012.
SEXO
FAIXA ETÁRIA (Anos)
< 1 1 a 4 5 a 6 7 a 9 10 a 14 15 a 19 20 a 39 40 a 49 50 a 59 > 60 TOTAL
Masculino 3 61 39 59 129 146 527 185 117 130 1396
Feminino 4 64 32 55 123 133 486 181 111 114 1303
TOTAL 7 125 71 114 252 279 1013 366 228 244 2699
Fonte: Ministério da Saúde. Sistema de Informação de Atenção Básica
(SIAB). Dados atualizados fornecidos (em 11/12/2012) pela Secretaria
Municipal de Saúde de Atibaia para o ano de 2012 (Brasil, 2012).
3.3. Cálculo amostral
Considerando o objetivo geral de (1) avaliar a qualidade de vida
de residentes em área rural e dada a escolha do instrumento WHOQOL-
43
Bref, o cálculo do tamanho da amostra se baseou nas medidas de
média de variância deste instrumento para uma população normal,
preconizadas por Fleck (2000a).
A definição do tamanho amostral para o WHOQOL-Bref teve como
intuito observar uma diferença de pelo menos 0,5 entre a escala média
dos residentes rurais e a média da população normal em pelo menos
um dos quatro domínios deste instrumento, para um poder de teste de
80%, com um erro alfa de 5%, considerando uma possível perda de
20% das informações da amostra (Elashoff e Lemeshow, 2006).
Para os demais objetivos, (2) avaliar transtornos mentais comuns,
a partir do SRQ-20 e (3) avaliar a qualidade de vida relacionada à
saúde, a partir do SF-36, de residentes em áreas rurais, o cálculo da
amostra se baseou nas medidas de média de variância para uma
população normal. Considerou-se um poder de teste de 80%, com um
erro alfa de 5% e uma possível perda de informação em 20% dos
indivíduos amostrados (Berni, 2002).
Considerando a possibilidade de perda de 20%, o tamanho da
amostra determinada, a partir do projeto piloto, para os instrumentos
WHOQOL-Bref, SF-36 e SRQ-20 seriam de, no mínimo, 300
participantes. Ao final, a amostra foi composta de 355 residentes das
áreas de estudo. Houve uma perda de seis participantes (questionários)
que foram excluídos da pesquisa. Os questionários foram considerados
inválidos pelos seguintes motivos: incompletos, duplicidade no
44
preenchimento devido à mudança de endereço do partic ipante durante a
coleta de dados e devido à desistência do participante em continuar a
pesquisa.
3.4. Variáveis de análises
Nas análises, foram consideradas como variáveis dependentes os
domínios do WHOQOL-Bref (físico, psicológico, relação social e meio
ambiente), os domínios do SF-36 (capacidade funcional, aspectos
físicos, aspectos sociais, aspectos emocionais, saúde mental, dor,
estado geral de saúde, vitalidade) e as categorias (fatores) do SRQ -20,
segundo critérios de classificação proposto por Iacoponi e Mari (1989):
diminuição da energia, sintomas somáticos, humor depressivo/ansioso,
pensamentos depressivos.
Como independentes, foram consideradas as variáveis
demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado civil), socioeconômicas
(renda, escolaridade, ocupação, ser trabalhador rural, ter trabalhado na
agricultura, carga horária de trabalho semanal, tipo de moradia e de
posse da propriedade), uso de agrotóxico no processo de trabalho,
contato com agrotóxico, intoxicação por agrotóxico, ingestão de bebida
alcoólica, tabagismo, problema de saúde e uso de medicamento.
45
3.5. Instrumentos adotados
3.5.1. Aplicação de questionário sociodemográfico (semiestruturado),
em residentes das áreas de estudo, com idade acima de 18
anos.
3.5.2. Aplicação do WHOQOL-Bref para avaliação de qual idade de
vida.
3.5.3. Aplicação do SF-36 – The Medical Outcomes Study 36 – Item
Short-Form Health Survey (SF-36).
3.5.4. Aplicação do Self Reporting Questionnaire – SRQ-20.
3.5.5. Aplicação do questionário CAGE (Screening test for alcohol
dependence).
3.6. Coleta de dados
A coleta de dados ocorreu entre abril e dezembro de 2011. Os
participantes foram selecionados por conveniência e de acordo com o
interesse dos residentes em participar, voluntariamente, da pesquisa.
Foi realizado um projeto piloto com 17 residentes dos quatro
bairros de estudo: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo. O
objetivo do projeto piloto foi testar a aplicabilidade dos instrumentos.
46
Os participantes do projeto piloto não foram incluídos nas análises
finais do projeto de pesquisa.
As entrevistas foram realizadas por agentes e ex-agentes de
saúde do Programa de Saúde da Família de Rio Abaixo (PSF Rural de
Rio Abaixo), atual programa de Estratégia de Saúde da Família (ESF)
(Brasil, 2011a), após receberem treinamentos para aplicação dos
questionários.
Durante o período de coleta de dados (abril a dezembro de 2011),
houve mudança na equipe do Programa de Saúde da Família (PSF rural
de Rio Abaixo) em Atibaia. No final de abril de 2011, outra enfermeira
assumiu a coordenação de equipe do PSF de Rio Abaixo. Alguns meses
depois, a médica do serviço também foi substituída. A maioria dos
funcionários que compunha a equipe de PSF estava no programa há
mais de cinco anos. Estas mudanças trouxeram insegurança e
instabilidade, principalmente por parte das agentes de saúde, que
tiveram que se adaptar às mudanças propostas pela nova
coordenadora.
A coleta dos dados foi realizada, inicialmente, por oito
entrevistadores (agentes de saúde). Ao final do trabalho de campo,
apenas quatro dos entrevistadores(as) permaneciam no projeto de
pesquisa desde o início da coleta. Com isso, o número reduzido de
entrevistadores(as) contribuiu para um prolongamento do processo de
coleta de dados. Outro fato que também influenciou para ampliação da
47
pesquisa de campo foi o período de chuva no decorrer do
desenvolvimento da mesma. Durante os dias chuvosos, os agentes
eram impossibilitadas de sair a campo, em estradas de “barro” que
impediam a locomoção e deslocamentos.
A substituição da coordenadora de equipe do PSF, muito
provavelmente, fez com que alguns agentes desistissem de continuar
fazendo a coleta de dados para a pesquisa, mesmo que as entrevistas
fossem realizadas fora do horário de trabalho. As justificativas dadas
pelas agentes de saúde para a desistência da pesquisa era o fato da
nova coordenadora questionar se a pesquisa não estaria atrapalhando o
rendimento do trabalho delas em relação às visitas domiciliares.
Os(as) entrevistadores(as) informaram que houve recusa e
resistência dos residentes, principalmente dos homens, em participar da
pesquisa. Estes justificavam a falta de tempo ou de interesse em
participar.
Embora reiterado para os(as) entrevistadores(as) a importância
de registrar no caderno de campo a recusa e motivos de desistências,
isto não foi feito. A recusa em participar da pesquisa fugiu do controle
do pesquisador responsável, uma vez que não foram feitas anotações
no caderno de campo, conforme esclarecido no treinamento. Diante
disso, não foi possível determinar o número de residentes que se
recusaram a participar da pesquisa.
48
As entrevistas – questionários sociodemográficos – e os
instrumentos WHOQOL-Bref, SF-36, SRQ-20 e CAGE foram digitados
em planilhas do Excel 2010.
3.7. Análise dos dados
Foram realizadas análises descritivas das variáveis demográficas
(sexo, idade, cor/etnia, estado civil), socioeconômicas (renda,
escolaridade, ocupação, ser trabalhador rural, ter trabalhado na
agricultura, carga horária de trabalho semanal, tipo de moradia e posse
de propriedade), uso de agrotóxico no processo de trabalho, contato
com agrotóxico, intoxicação por agrotóxico, ingestão de bebida
alcoólica, tabagismo, problema de saúde e uso de medicamento e dos
domínios do WHOQOL-Bref, do SF-36 e do SRQ-20, a partir do
programa SAS, versão 9.2 e do SPSS, 17.0.
Para identif icar variáveis que influenciam na qualidade de vida
(WHOQOL-Bref) e na qualidade de vida relacionada ao estado de saúde
(SF-36), empregou-se a análise de regressão linear múltipla. Para
identificar fatores que discriminam transtorno mental comum, avaliado
pelo SRQ-20, realizou-se análise de regressão logística múltipla
(Tabachnick e Fidell, 2001; Stevens, 1992).
49
Devido à ausência de normalidade, foi aplicada a transformação
por postos nas variáveis dependentes. O modelo stepwise forward
serviu como critério para a seleção das variáveis. O nível de
significância adotado para os testes estatísticos foi de 5% e intervalo
de confiança (IC) de 95%.
Na análise binomial, considerou-se (sim/não) para as variáveis:
intoxicação, exposições a agrotóxicos, tabagismo, consumo de bebidas
alcoólicas, situação ocupacional, problemas de saúde, uso de
medicamentos. Tais fatores foram correlacionados aos domínios do
WHOQOL-Bref: físico, psicológico, social e ambiental e do SF-36:
capacidade funcional, aspecto físico, social, emocional, estado geral de
saúde, saúde mental e vitalidade e com as categorias do SRQ-20.
Foi adotado ponto de corte de sete respostas positivas, para
ambos os sexos, como sendo sugestivos de transtornos mentais
comuns (TMC) entre os residentes rurais.
Realizou-se a análise de correlação em relação ao tempo (anos)
de trabalho na função atual, condições relacionadas ao trabalho –
jornada de trabalho (quantidade de horas trabalhadas semanalmente)
com os domínios do WHOQOL-Bref, SF-36 e SRQ-20 – ajustado para
idade, sexo, estado civil, escolaridade e renda.
50
3.8. Ética na pesquisa
O projeto teve aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(FCM/UNICAMP) sob o parecer CEP 1154/2010. A participação dos
entrevistados foi voluntária. Os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE – ANEXO I) e receberam um
Termo de Responsabilidade do Pesquisador (ANEXO II). Todos os
participantes foram informados dos objetivos da pesquisa e sobre a
possibilidade de desistência em qualquer etapa do trabalho, sem
prejuízo para os desistentes.
51
4. RESULTADOS
Os resultados do presente estudo são apresentados em formatos de
artigos científ icos.
52
53
4.1. ARTIGO 1 – ATENDENDO AO PRIMEIRO OBJETIVO DO
ESTUDO
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE RESIDENTES EM
ÁREAS RURAIS1
Assessment of quality of life of residents in rural areas
Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las
zonas rurales
Autores: Paulo Junior Paz de Lima; Helenice Bosco de Oliveira .
1 Publicado na Revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente, v. 2, n. 3, jun. 2014. Encontra-se disponível, na íntegra, no apêndice. Paz de Lima, Paulo Junior; Oliveira, Helenice Bosco. Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas rurais. Revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente. 2014, 2(3):9-12.
54
55
Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas
rurais
Assessment of quality of life in residents of rural areas
Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las
zonas rurales
RESUMO
A discussão sobre qualidade de vida (QV) no contexto rural tem
assumido um aspecto secundário, dada a urgência de outras
prioridades. Objetivos: Avaliar a qualidade de vida de residentes em
áreas rurais em Atibaia/SP e identif icar alterações nos domínios do
WHOQOL-Bref, quando relacionados a fatores sociodemográficos.
Métodos: Estudo transversal realizado entre abril e dezembro de 2011,
com 355 participantes com idade acima de 18 anos. Foram aplicados
questionários sociodemográficos e o WHOQOL-Bref. Foram realizadas
análises descritivas e de regressão linear múltipla das
variáveis sociodemográficas e dos domínios do WHOQOL-Bref. Foi
realizado ajuste para idade, sexo, estado civil, escolaridade e renda.
Foi utilizado o programa SAS, versão 9.2, nas análises. Nível de
significância de 5% e intervalo de confiança (IC) de 95%. Resultados:
56
Os resultados apontaram associação estatística entre os domínios do
WHOQOL-Bref e as variáveis: idade ( físico e social), sexo (físico e
psicológico), estado civil (social), escolaridade (psicológico), renda
(social e ambiental), tipo de propriedade (ambiental), problema de
saúde (físico e psicológico) e uso de medicamento (psicológico e
social). Conclusão: Os resultados destacaram a contribuição de
variáveis sociodemográficas ( idade, sexo, estado civil, escolaridade,
renda, tipo de propriedade), problema de saúde e uso de medicamento
para melhor QV de residentes em áreas rurais, em um contexto
brasileiro. Estes podem servir de parâmetro para estudos futuros com
população rural.
PALAVRAS-CHAVE: Qualidade de vida, população rural, perfil
epidemiológico.
57
Assessment of quality of life in residents of rural areas
Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas
rurais
Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las
zonas rurales
ABSTRACT
The discussion on quality of life (QOL) in the rural context has assumed
a secondary aspect given the urgency of other priorities. Objectives: To
evaluate the quality of life of rural residents in Atibaia/SP, and to
identify changes in the domains of WHOQOL-Bref, when related to
socio-demographic factors. Methods: Cross-sectional study between
April and December 2011, with 355 participants over the age of 18. We
applied a sociodemographic questionnaire and the WHOQOL-Bref. We
applied descriptive statistic and multiple linear regression of
sociodemographic variables and of the WHOQOL-Bref domains.
Adjustment in the variables for age, sex, marital status, education and
income were conducted. Data were analyzed using SAS, version 9.2.
The significance level was 5%, and confidence intervals (CI) were of
95%. Results: The results showed statistically significant association
58
between the domains of WHOQOL-Bref, and the variables: age (physical
and social), sex (physical and psychological), marital status (social),
education (psychological), income (social and environmental), type of
property (environmental), health problem (physical and psychological),
and medication use (psychological and social). Conclusion: The results
highlighted the contribution of sociodemographic variables (age, sex,
marital status, education, income, type of property), health problems,
and medication use for a better QOL in residents of rural areas, in a
Brazilian context. These may serve as parameters for future studies with
rural population.
KEY-WORDS: Quality of life, rural population, epidemiologic profile.
59
Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las
zonas rurales
Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas
rurais
Assessment of quality of life in residents of rural areas
RESUMEN
El debate sobre la calidad de vida (CV) en el contexto rural ha asumido
un aspecto secundario, debido a la urgencia de otras prioridades.
Objetivos: Evaluar la calidad de vida de los residentes rurales en
Atibaia/SP e identif icar cambios en WHOQOL-Bref, en relación a
factores sociodemográficos. Métodos: Se realizó un estudio transversal
entre abril y diciembre de 2011, con 355 participantes, mayores de 18
años. Se aplicaron cuestionarios sociodemográficos y WHOQOL-Bref.
Se realizaron análisis descriptivos y de regresión linear múltiple de las
variables sociodemográficas y WHOQOL-Bref. Fue realizado ajuste por
edad, sexo, estado civil, educación y renta. Se utilizó el programa SAS,
versión 9.2 para los análisis. El nivel de significación (5%) y el intervalo
de confianza (IC) de 95%. Resultados: Los resultados mostraron una
asociación estadísticamente significativa entre los dominios el
60
WHOQOL-Bref y las variables: edad ( físico y social), sexo (físico y
psicológico), estado civil (social), educación (psicológico), renta (social
y ambiental), tipo de propiedad (ambiental), problema de salud (físico y
psicológico) y el uso de medicamentos (psicológico y social).
Conclusión: Los resultados ponen de relieve la contribución de las
variables sociodemográficas (edad, sexo, estado civil, educación , renta,
tipo de propiedad), problema de salud e el uso de medicamentos a una
mejor calidad de vida de los residentes en las zonas rurales, en el
contexto brasileño. Estos pueden servir como punto de referencia para
futuros estudios en la población rural.
PALABRAS CLAVE: Calidad de vida, población rural, perfil
epidemiológico.
61
AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DE VIDA DE RESIDENTES EM ÁREAS
RURAIS
Assessment of quality of life in residents of rural areas
Evaluación de la calidad de vida de los residentes en las
zonas rurales
INTRODUÇÃO
A realidade de grande parte dos residentes em áreas rurais do
Brasil estimula a reflexão sobre as condições de vida, de trabalho e de
moradia a eles impostas e, consequentemente, sobre o impacto de tais
condições em sua qualidade de vida (QV).
Embora o tema qualidade de vida tenha merecido a atenção de
pesquisadores em todo o mundo, quando o objeto da investigação é a
população rural, a literatura – principalmente a brasileira – silencia.
Tais trabalhos têm explorado a QV em pessoas portadoras de
enfermidades ou doenças crônicas, transtornos psicoemocionais,
portadoras de HIV/Aids, idosos, alcoólatras, trabalhadores urbanos,
entre outras (Fleck, 2008a).
A discussão sobre as concepções de saúde e QV no contexto e
trabalho no campo é importante porque tem assumido um aspecto
62
secundário, dada a urgência de outras prioridades, bem como a
garantia da sobrevivência, mesmo em condições de trabalho
degradantes. Neste sentido, Uchoa et al. (2002) destacam que, nos
poucos trabalhos que relacionam QV e trabalho rural, a QV é discutida
a partir da articulação entre condições objetivas (estado de saúde,
serviços disponíveis, bens e redes sociais de apoio) e o universo de
representações objetivas e subjetivas (avaliação do estado de saúde,
satisfação com os serviços, recursos materiais e redes sociais de
apoio).
Qualidade de vida no contexto rural
Os estudos sugerem que as comunidades localizadas em áreas
dependentes da agricultura, ou com pobreza persistente, têm uma
propensão para maiores déficits na QV (Nzeadibe e Ajaero, 2010;
Mammen et al., 2009).
Rėklaitienė et al. (2008) avaliaram a QV em comunidades rurais
na Lituânia. Os resultados sugerem que o est ilo de vida e os aspectos
sociodemográficos podem explicar uma parte substancial das
diferenças entre a QV de homens e de mulheres. Fatores como meno r
escolaridade, sedentarismo e obesidade são mais prevalentes entre as
mulheres.
63
No contexto dos Estados Unidos, McGranahan e Beale (2002) ,
sugerem que o declínio econômico e o êxodo rural em massa são
fatores a serem considerados na análise da QV. No contexto chinês,
segundo Zhang et al. (2009), o rápido crescimento econômico aumentou
a disparidade de renda entre as zonas urbana e rural a níveis elevados.
Com isso, houve drástico impacto na QV dos habitantes das áreas
rurais do país, que foram estimulados a migrar para áreas urbanas em
busca de uma vida melhor. Essas mudanças demográficas tiveram
profundos impactos não apenas no campo, mas também na QV dos
migrantes.
No cenário brasileiro, os poucos estudos também identificam
relações entre a QV no campo, o modo de organização e realização do
trabalho (Sena et al., 2013; Faker, 2009).
64
OBJETIVOS
Avaliar a qualidade de vida dos residentes em áreas rurais ;
identificar a importância das variáveis sociodemográficas nos domínios
da qualidade de vida no contexto rural, bem como da função
desempenhada no campo e da relação entre carga horária (quantidade
de horas) de trabalho semanal, nos domínios de qualidade de vida.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal , com residentes maiores de 18
anos em áreas rurais dos bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio
Abaixo, no município de Atibaia, SP. Atibaia possui, segundo o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE, 2010), uma população de
126.603 habitantes (62.211 homens e 64.392 mulheres), assim
distribuída: população urbana – 115.229 habitantes (56.235 homens e
58.994 mulheres); população rural – 11.374 (5.976 homens e 5.398).
Em 2010, Atibaia tinha um Produto Interno Bruto (PIB) de R$
3.062.680,00.
65
Cálculo amostral
Foi utilizado cálculo de tamanho amostral para estimativa de
médias, nos domínios do WHOQOL-Bref, esperado para uma população
normal (Fleck et al., 2000). Considerou-se um poder de teste de 80%,
com um erro alfa de 5% e uma possível perda de informação em 20%
dos indivíduos amostrados (Elashoff e Lemeshow, 2006).
Variáveis de análises
Foram consideradas como variáveis dependentes os domínios do
WHOQOL-Bref: físico, psicológico, social e ambiental e, como
independentes, as variáveis sociodemográficas (sexo, idade, estado
civil, cor/etnia, escolaridade, tipo de moradia e propriedade, renda,
ocupação, ser trabalhador rural, se trabalhou na agricultura, carga
horária de trabalho semanal), uso de agrotóxicos, contato com
agrotóxicos, intoxicação por agrotóxicos, ingestão de bebida alcoólica ,
tabagismo, uso de medicamento e problema de saúde.
66
Instrumentos adotados
Foram aplicados questionários sociodemográficos
(semiestruturado) e o WHOQOL-Bref.
O WHOQOL-Bref foi desenvolvido pela Organização Mundial de
Saúde (The WHOQOL Group, 1995) e validado para população
brasileira por Fleck et al. (2000). O instrumento consta de 26 questões,
sendo duas questões gerais de QV e as demais representativas dos
quatro domínios: físico (7 questões), psicológico (6 questões), relação
social (3 questões) e meio ambiente (8 questões).
Coleta de dados
A coleta de dados ocorreu entre abril e dezembro de 2011. Os
participantes foram selecionados por conveniência e de acordo com o
interesse dos residentes em participar, voluntariamente, da pesquisa.
Foram aplicados 361 questionários, sendo a amostra final
composta por 355 participantes. Houve uma perda de seis participantes
(questionários) que foram excluídos da pesquisa por apresentarem
informações incompletas, desistência, duplicidades no preenchimento
67
do questionário pelo mesmo participante e mudança de endereço
durante a coleta de dados.
Os critérios de inclusão para participar da pesquisa foram ser
maiores de 18 anos e residir nos bairros de estudos no momento da
pesquisa. Foram excluídos da pesquisa residen tes menores de 18 anos
de idade.
Utilizou-se um projeto piloto com 17 participantes das áreas de
estudos, com objetivo testar aplicabilidade dos instrumentos. Os
participantes do projeto piloto não foram incluídos nas análises finais
do projeto de pesquisa.
As entrevistas foram realizadas por oito (8) agentes e ex -agentes
de saúde do Programa de Saúde da Família de Rio Abaixo (PSF Rural
de Rio Abaixo), após receberem treinamentos para aplicação dos
questionários. As questões eram lidas pelos entrevistadores e anotadas
nos questionários, conforme as respostas dadas pelos participantes.
Os entrevistadores informaram sobre a recusa e resistência dos
residentes, principalmente dos homens, em participar da pesquisa.
Estes justificavam pela falta de tempo ou de interesse em participar.
Embora reiterado sobre a importância de registrar no caderno de campo
a recusa e motivo dos residentes em não participar da pesquisa, isto
não foi feito pelos entrevistadores. É provável que a maior recusa por
parte dos homens em participar da pesquisa tenha influenciado os
68
entrevistadores em maior abordagem/convite às mulheres, o que poderá
ter contribuído para maior participação destas.
A informação sobre o número de pessoas que se recusaram a
participar da pesquisa fugiu do contro le do pesquisador responsável,
uma vez que não foram registradas no caderno de campo, conforme
esclarecido no treinamento. Diante disso, não foi possível determinar o
número de residentes que se recusaram a participar da pesquisa.
Análise dos dados
As informações dos questionários sociodemográficos e dados do
WHOQOL-Bref foram digitados em planilhas do programa Excel 2010.
Os dados foram analisados a partir do programa SAS, versão 9.2.
Foram realizadas análises descritivas e de regressão linear
múltipla das variáveis: sexo, idade, estado civil, cor/etnia, escolaridade,
renda, ocupação, ser trabalhador rural, carga horária (quantidade de
horas) de trabalho semanal, tipo de moradia e propriedade, uso de
agrotóxicos, contato com agrotóxicos, intoxicação por agrotóxicos,
ingestão de bebida alcoólica, tabagismo, uso de medicamento e
problema de saúde, além dos domínios do WHOQOL-Bref.
A análise binomial, por sua vez, considerou (sim/não) para as
seguintes variáveis: situação ocupacional, exposições a agrotóxicos ,
69
intoxicação por agrotóxico, consumo de bebidas alcoólicas, tabagismo e
uso de medicamentos. Tais fatores foram correlacionados aos domínios
físico, psicológico, social e ambiental, do WHOQOL-Bref.
Realizou-se a análise de associação quanto ao tempo na função,
condições relacionadas ao trabalho – jornada de trabalho (número de
horas trabalhadas semanalmente) com os domínios do WHOQOL-Bref –
e ajustado para as variáveis de idade, sexo, estado civil, escolaridade e
renda.
Para identif icar variáveis que influenciam na QV, empregou-se a
análise de regressão linear múltipla. Devido à ausência de normalidade,
foi aplicada a transformação por postos nas variáveis dependentes. O
modelo stepwise forward serviu como critério para a seleção das
variáveis. O nível de significância adotado para os testes estatísticos
foi de 5%, com intervalo de confiança (IC) de 95%.
Ética na pesquisa
O projeto foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(FCM/UNICAMP) sob o parecer CEP 1154/2010. A participação dos
entrevistados foi voluntária. Os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e receberam um Termo de
70
Responsabilidade do Pesquisador. Todos foram informados dos
objetivos da pesquisa e sobre a possibilidade de desistência em
qualquer etapa do trabalho, sem prejuízo para os desistentes.
RESULTADOS
A idade média dos participantes é 38,3 anos, com desvio padrão
(DP) de 14,9 anos, com 61,7% entre 18 e 40 anos de idade. A maior ia é
do sexo feminino (64,5%), de cor/etnia branca (57,5%); 70,4% são
casados/amasiados e 38% residem em propriedade própria (Tabela 1).
A escolaridade média é de 5,8 anos de estudos, com desvio
padrão (DP) de 3,6 anos. A maioria (55,8%), excluindo os que não
estudaram (7,9%), não chegou a concluir o ensino fundamental, ou
seja, não possuíam 8 anos de estudos concluídos; 8,7% concluíram 8
anos de estudos e 20% têm mais de 11 anos de estudos; 23,4% não
possuem renda; 64,2% recebem entre menos de 1 e 2 salários mínimos
(SM). Dentre os entrevistados, 30,4% desempenham atividades
agrícolas, 72,2% relataram já ter trabalhado na agricultura, 33,5% estão
desempregados e 66,5% estão empregados com ou sem registro em
carteira profissional (Tabela 1). A média de tempo de trabalho na
função atual é 12,7 anos (DP=12,2) e a média de horas de trabalho
semanal é 40,6 horas (DP=13,8).
71
As frequências de tabagismo e alcoolismo entre os participantes
foram de 20,3% e 19,1%, respectivamente; 40,0% mencionaram ter
problemas de saúde e 40,3% faziam uso de algum tipo de medicamento
(Tabela 1).
72
Tabela 1 – Características demográficas, socioeconômicas, condições
de trabalho, alcoolismo, tabagismo, problemas de saúde e uso de
medicamento entre residentes dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte
Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.
VARIÁVEIS
SEXO
n
%
Masculino Feminino
n % n %
Sexo 126 35,5 229 64,5 355 100,0
Idade (anos)
18 – 30 44 12,4 84 23,7 128 36,1
31 – 40 30 8,5 61 17,1 91 25,6
41 – 50 18 5,1 39 11,0 57 16,1
51 – 60 17 4,8 32 9,0 49 13,8
≥ 61 17 4,8 13 3,6 30 8,4
Cor/Etnia
Branca 74 20,9 130 36,6 204 57,5
Preta/Parda 49 13,8 90 25,3 139 39,1
Amarela 3 0,9 9 2,5 12 3,4
Estado Civil
Casado/amasiado 81 22,9 168 47,5 249 70,4
Solteiro 36 10,1 36 10,2 72 20,3
Separado/divorciado/viúvo 9 2,5 24 6,8 33 9,3
Escolaridade (anos concluídos)
Não estudou 11 3,1 17 4,8 28 7,9
1 – 4 48 13,5 89 25,1 137 38,6
5 – 7 19 5,4 42 11,8 61 17,2
8 14 3,9 17 4,8 31 8,7
73
9 – 10 8 2,3 19 5,3 27 7,6
≥ 11 26 7,3 45 12,7 71 20,0
Tipo de propriedade
Alugada/Arrendatário 28 7,9 58 16,3 86 24,2
Cedida 46 13,0 88 24,8 134 37,8
Própria 52 14,6 83 23,4 135 38,0
Renda mensal (em R$)
Sem renda 11 3,1 72 20,3 83 23,4
≤ 1 SM* 19 5,4 73 20,5 92 25,9
> 1 ≤ 2 SM 59 16,6 77 21,7 136 38,3
> 2 ≤ 3 SM 26 7,3 7 2,0 33 9,3
> 3 ≤ 5,5 SM 11 3,1 0 0,0 11 3,1
Ocupação
Desempregado 20 5,6 99 27,9 119 33,5
Empregado com registro 72 20,3 76 21,4 148 41,7
Empregado sem registro 34 9,6 54 15,2 88 24,8
Trabalhador rural 44 13,0 64 18,0 108 30,4
Trabalhou na agricultura 93 26,2 162 46,0 255 72,2
Usa agrotóxico no processo de trabalho 23 6,5 25 7,5 48 13,5
Tem contato com agrotóxico 28 8,1 39 11,0 67 18,9
Sofreu intoxicação por agrotóxico 20 6,1 24 7,2 44 12,4
Sentiu-se mal durante aplicação de agrotóxico 20 6,2 33 10,4 53 14,9
Alcoolismo 39 11,2 29 8,3 68 19,1
Tabagismo 31 9,0 41 11,8 72 20,3
Refere ter problema de saúde 50 14,1 92 26,0 142 40,0
Refere uso de medicamento 31 8,8 112 32,1 143 40,3
SM – Salário mínimo (R$ 545,00, em 2011).
74
As médias de respostas nos domínios físico (72,7), psicológico
(71,4) e social (73,3) do WHOQOL-Bref apresentaram melhores
aspectos, enquanto o ambiental apresentou uma média de 56,9 (Tabela
2).
Tabela 2 – Análise descritiva dos domínios do WHOQOL-Bref entre os
residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio
Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.
WHOQOL-BREF n Média Mínimo Mediana Máximo Desvio Padrão
Domínios
Físico 350 72,7 28,6 75,0 100,0 16,2
Psicológico 342 71,4 29,2 75,0 100,0 14,1
Social 344 73,3 8,3 75,0 100,0 15,8
Ambiental 345 56,9 9,4 56,3 100,0 15,4
No modelo de regressão (Tabela 3), os resultados apontaram
associações estatísticas das variáveis idade (p=0,000), sexo (p=0,000)
e problemas de saúde (p<0,000) com domínio físico de qualidade de
vida. Em relação ao domínio psicológico, verificou-se associação com
sexo (p=0,003), escolaridade (p=0,000), problemas de saúde (p=0,026)
e uso de medicamento (p=0,010). O domínio social apontou associação
com idade (p=0,002), estado civil (p=0,005), renda (p=0,003) e
problemas de saúde (p=0,005). Quanto ao domínio ambiental, a
75
associação foi entre renda (p=0,000) e ter residência própria (p=0,000)
em relação à alugada e arrendada. Menor idade, sexo masculino,
estado civil com união estável, maior renda e nível de escolaridade, ter
residência própria, não ter problemas de saúde e não fazer uso de
medicação mostraram associações com melhores domínios de
qualidade de vida.
76
Tabela 3 – Regressão linear múltipla: variáveis que influenciam na qualidade de vida avaliada pelo
WHOQOL-Bref.
VARIAVEIS
WHOQOL-BREF
Domínio Físico Domínio Psicológico Domínio Social Domínio Ambiental
β p R2 1 R
2 2 β p R
2 1 R
2 2 β p R
2 1 R
2 2 β p R
2 1 R
2 2
Idade -1,50 0,000 0,03 0,25 – – – – -1,16 0,002 0,04 0,12 – – – –
Sexo: masculino x feminino 42,28 0,000 0,04 0,25 33,64 0,003 0,02 0,17 – – – – – – – –
Estado Civil: c/ comp x s/comp – – – – – – – – 35,62 0,005 0,02 0,12 – – – –
Escolaridade: anos concluídos – – – – 5,25 0,000 0,05 0,17 – – – – – – – –
Renda (salário mínimo) – – – – – – – – 19,57 0,003 0,03 0,12 25,77 0,000 0,06 0,10
Propriedade – – – – – – – – – – – – – – 0,04 0,10
Própria X alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – 49,55 0,000 – 0,10
Cedida X alugada/arrendada – – – – – – – – – – – 25,50 0,080 – 0,10
Problema de saúde (sim x não) -68,57 <0,000 0,18 0,25 -27,84 0,026 0,01 0,17 – – – – – – – –
Uso medicamento (sim x não) – – – – -32,79 0,010 0,09 0,17 -32,57 0,005 0,03 0,12 – – – –
R2 1 = R2 parcial – proporção da variabilidade da resposta explicada exclusivamente pelo preditor em questão.
R2 2 = R2 modelo – proporção de explicação da variável dependente pela variação das variáveis independentes que ficaram no
modelo.
77
No modelo de regressão linear múltipla, quando analisado por
sexo (Tabela 4), os resultados mostraram que quanto menor a idade
melhor a QV, referentes aos domínios físico (masculino) e social
(feminino). Cor/etnia (p=0,046) apontou associação estatística com o
domínio físico. Entre os homens, ser branco indicou melhor QV em
relação ao não branco. Em relação ao estado civil: com companheiro e
sem companheiro também houve associação (p<0,019). Ter
companheira indicou melhor QV no domínio social (masculino). Maior
nível de escolaridade apontou associação com melhor QV em relação
aos domínios psicológico (feminino) e social (masculino). Maior renda
apontou melhor QV referente ao domínio ambiental (masculino). Não ter
trabalhado na agricultura apresentou associação com melhor QV no
domínio psicológico (masculino). Maior quantidade de horas de trabalho
semanal esteve associada ao domínio social, entre os homens. Ter
casa própria mostrou associação com melhor QV quanto aos domínios
ambiental (feminino) e residir em casa cedida no psicológico
(masculino). Não ter problema de saúde indicou melhor QV nos
domínios físico e psicológico entre os homens e físico entre mulheres.
Não fazer uso de medicamento mostrou melhor QV nos domínios
psicológico , social e ambiental entre as mulheres.
78
Tabela 4 – Regressão linear múltipla de variáveis que influenciam nos aspectos da qualidade de vida
avaliada pelo WHOQOL-Bref, por sexo.
VARIAVEIS
WHOQOL-BREF
Domínio Físico Domínio Psicológico Domínio Social Domínio Ambiental
β p R2 1 R
2 2 β p R
2 1 R
2 2 Β p R
2 1 R
2 2 β p R
2 1 R
2 2
Sexo Feminino
Idade – – – – – – – – -1,01 0,003 0,05 0,08 – – – –
Escolaridade (anos concluídos) – – – – 3,63 0,004 0,05 0,11 – – – – – – – –
Propriedade – – – – – – – – – – – – _ _ 0,07 0,10
Própria X alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – 42,17 0,000 _ 0,10
Cedida X alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – 18,15 0,123 _ 0,10
Problema de saúde (sim x não) -52,22 <0,000 0,16 – – – – – – – – – – – –
Uso medicamento (sim x não) – – – – -28,22 0,002 0,06 0,11 -19,50 0,038 0,03 0,08 -21,03 0,023 0,03 0,10
Sexo Masculino
Idade - 0,70 0,000 0,10 0,38 – – – – – – – – – – – –
Escolaridade (anos concluídos) – – – – – – – – 1,79 0,045 0,03 0,15 – – – –
Estado Civil: c/ comp x s/comp – – – – – – – – 15,85 0,019 0,04 0,15 – – – –
Cor/Etnia: Branca x Não Branca 11,94 0,046 0,03 0,38 – – – – – – – – – – – –
Renda (salário mínimo) – – – – – – – – – – – – 13,37 0,000 – 0,14
Trabalhou agricultura (sim x não) – – – – -28,80 0,000 0,13 0,29 – – – – – – – –
Carga horária de semanal – – – – – – – – 0,39 0,027 0,08 0,15 – – – –
Propriedade – – – – _ _ 0,06 0,29 – – – – – – – –
Própria X alugada/arrendada – – – – 12,40 0,137 0,29 – – – – – – _ _
Cedida X alugada/arrendada – – – – 28,40 0,001 0,29 – – – – – – _ _
Problema de saúde (sim x não) -26,33 <0,000 0,25 0,38 -21,81 0,000 0,10 0,29 – – – – – – – –
R2 1 = R2 parcial – proporção da variabilidade da resposta explicada exclusivamente pelo preditor em questão.
R2 2 = R2 modelo – proporção de explicação da variável dependente pela variação das variáveis independentes que ficaram no
modelo.
79
DISCUSSÃO
A população de estudo era relativamente jovem, 61,7% com idade
até 40 anos. A maioria do sexo feminino, casados/amasiados e branca.
O trabalho doméstico feminino e/ou a proximidade das lavouras em
relação às residências podem ter contribuído para maior participação
das mulheres na pesquisa. Foi mais comum encontrá -las em casa. A
maior participação das mulheres, neste trabalho, se deu, também, pela
maior recusa por parte dos homens em participar da pesquisa sob a
justif icativa de falta de tempo ou de interesse. É provável que os
entrevistadores tenham convidado mais as mulheres do que os homens,
por prever sua recusa. Essa última informação não pôde ser con firmada
devido à falta registro sobre recusa no caderno de campo, embora
reiterada sua importância.
Os residentes rurais, em específico os trabalhadores rurais,
geralmente temem participar de pesquisas e dar informações sobre o
processo de trabalho. Eles desconfiam que as pesquisas estejam
relacionadas à investigação sobre emprego de praguicidas na lavoura,
visto que muitos desses produtos, embora proibidos em seus países de
origem, ainda são empregados no Brasil. Nos estudos de Lima (2009) e
Fernández et al. (2006), também se verifica uma maior participação de
mulheres. Lima (2009) atribui a recusa dos homens em participar de
pesquisas à dificuldade de expor seus problemas.
80
A renda mensal dos participantes era de até dois salários
mínimos, com média salarial de R$ 619,90, considerados como pessoas
de baixa renda. Dados do IBGE (2010a) destacaram 32,7% de pessoas
ocupadas no Brasil, em 2010, com rendimento médio de até dois
salários mínimos.
A maioria dos participantes (63,7%), incluindo os que não
estudaram, não chegou a concluir o ensino fundamental. Segundo o
IBGE (2010a), houve um aumento no nível de instrução da população
brasileira entre 2000 e 2010. O percentual de pessoas com mais de 10
anos de idade sem instrução ou com ensino fundamental incompleto
caiu de 65,1% para 50,2%.
Estudos apontam as dif iculdades econômicas e a falta de
exigência de escolaridade para o trabalho rural como responsáveis pelo
fato dos homens abandonarem a escola muito cedo, no intuito de
reforçar o sustento da família (Lima, 2009). O emprego de novas
tecnologias para produção e desenvolvimento da agricultura (voltada
para a exportação de alimentos, principalmente) tem exigido melhor
qualificação e maior escolaridade do homem do campo (Peres, 2009).
Investimentos em educação, segundo Mammen et al. (2009),
podem proporcionar melhores oportunidades de emprego e de rendas
mais elevadas. Melhores níveis de educação geralmente são
associados a maiores níveis de renda e melhor satisfação com a vida.
Famílias de baixa renda e famílias rurais são especialmente vulneráveis
81
à pobreza, mudanças de emprego e menor renda, doenças e mudanças
de estado civil. É mais provável encontrar taxas elevadas de pobreza
persistente nas comunidades rurais (Mammen et al., 2009).
As médias dos domínios do WHOQOL-Bref foram melhores em
relação aos aspectos físico, psicológico e social. A exceção foi o
ambiental (56,9), que indicou pior desempenho quando comparado com
outros estudos. Lima (2009) também identificou o domínio ambiental
como fator de pior aspecto na QV, entre trabalhadores rurais de Três
Pontas/MG, em 2005.
Os resultados do presente estudo apontaram as variáveis idade,
sexo, estado civil, escolaridade, renda, tipo de posse de propriedade,
problemas de saúde e uso de medicamento como associadas
estatisticamente aos domínios de qualidade de vida. Na estratificação
por sexo, além das variáveis já relacionadas, cor/etnia branca, não ter
trabalhado na agricultura e maior quantidade de horas de trabalho
semanal também mostraram associação com melhor qualidade de vida
entre os homens, principalmente em relação aos domínios físico,
psicológico e social, respectivamente.
Fatores como idade avançada, baixa escolaridade, assim como
sofrimento mental, problemas de saúde e efeito colateral de
medicamento contribuem para um baixo nível de QV. Tais variáveis
podem contribuir negativamente para autoavaliação de saúde e a fetar
diferencialmente domínios de QV devido a fatores específicos da
82
doença (Jakobsson et al., 2004; Patrick et al., 2004). Pereira et al.
(2011) destacaram a associação entre sexo feminino e baixos escores
no domínio ambiental e, ainda, o uso de medicamento como variáveis
associadas a baixos escores de QV no domínio psicológico. Jakobsson
et al. (2004) identificaram idade, problema de saúde, sexo femin ino,
renda e falta de companheiro associados à baixa QV.
Embora o estudo tenha sido realizado com residentes de áreas
rurais, apenas 30,4% dos residentes eram trabalhadores rurais. A
maioria desempenhava atividades laborais em áreas não agrícolas. A
maioria (72,2%) mencionou ter trabalhado na agricultura e 36,3%
relataram ter trabalhado no campo antes da função atual.
Em relação ao contato e exposição a agrotóxico, seja no processo
de trabalho ou por residir próximos as lavouras, 18,9% relataram ter
contato. Quando questionados sobre como ocorre o contato, 25,2%
mencionaram morar próximo às plantações, sentir o cheiro durante a
aplicação de agrotóxicos, puxar a mangueira para aplicação de
agrotóxico por outras pessoas, permanecer próximo quando os
agrotóxicos são aplicados e lavar roupas usadas durante a aplicação
desses produtos. Em relação à intoxicação por agrotóxico, 12,4%
mencionaram ter sofrido intoxicação. No entanto, o número dos que
relataram ter se sentido mal durante a aplicação desse tipo de
defensivo foi maior, 14,9%. Os estudos de Sena et al. (2013) com
trabalhadores rurais de Lagarto, em Sergipe, apontaram piores escores
83
de QV entre os agricultores que utilizavam agrotóxicos no processo de
trabalho, quando comparados aos que não utilizavam.
A inclusão, neste estudo, de variáveis referentes à exposição e
intoxicação por agrotóxicos tinha como finalidade verif icar a
associações entre essas variáveis e domínios de qualidade de vida do
WHOQOL-Bref. Por se tratar de um estudo com residentes em
comunidades rurais, esperava-se encontrar relação entre QV e
variáveis como uso de agrotóxico no processo de trabalho, contato com
agrotóxico e intoxicação por agrotóxico. No entanto, esta hipótese não
foi confirmada, embora estudos apontem uma taxa média de leta lidade
de 0,4% e mortalidade por agrotóxicos de 3,4%, no Brasil, em 2001,
além de altas taxas de intoxicações (Faria et al., 2007; Pires et al.,
2005).
Entre a população rural estudada, as frequências de tabagismo
foram de 20,3% e de alcoolismo, de 19,1%. Esses números podem estar
subestimados. Esses dados sobre a “negação” de hábitos foram
contestados, no momento da entrevista, por pessoas próximas que
informaram sobre os hábitos de fumar e de ingerir bebida alcoólica dos
entrevistados. A prevalência de tabagismo entre os Estados brasileiros
e Distrito Federal, em 2008, foi de 16,1%. A frequência de adultos
tabagistas variou entre 9,7% e 20,9% entre as capitais (Malta et al.,
2010).
84
Em relação ao alcoolismo, Laranjeira et al. (2007) apontaram que
52% dos brasileiros acima de 18 anos de idade podem ser classificados
como bebedores e 12% da população tem algum problema com o álcool.
Na população rural do Vale do Taquari (RS), em 2005, Souza et al.
(2011) verif icaram consumo de álcool em 54,4% dos participantes .
Outros achados, como morbidade e uso de medicamento, também
são importantes para entender QV no contexto rural. A taxa de
morbidade é relativamente alta na população investigada, pois 40,0%
dos entrevistados mencionaram ter algum problema de saúde e 40,3%
fazem uso de algum tipo de medicamento. Pavão et al. (2013),
baseados em dados do inquérito domiciliar nacional de 2008, a partir da
Pesquisa Dimensão Social das Desigualdades, apontaram prevalência
de 40% de autoavaliação do estado de saúde ruim. As mulheres
apresentaram 10% mais chance de ter uma autoavaliação de saúde
ruim em relação aos homens.
Pavão et al. (2013) apontaram associação entre autoavaliação do
estado de saúde ruim da população brasileira e fatores como idade
avançada, baixos níveis de escolaridade e renda, tabagismo,
sedentarismo, não consumo de bebida alcoólica e presença de
morbidades crônicas e obesidade.
Os estudos de Pavão et al. (2013) e Barros et al. (2011), quando
comparados aos de Pinheiro et al. (2002), apontaram para um aumento
85
na prevalência de problemas de saúde e autoavaliação ruim em relação
ao estado de saúde de população brasileira.
Barros et al. (2011), a partir de dados da PNAD de 2008,
apontaram que 40,6% dos brasileiros com idade acima de 18 anos
referiram pelo menos uma doença crônica e 31,3% mencionaram ter
pelo menos um problema de saúde entre os 12 pesquisados, contra
29,9%, de 2003. A prevalência foi maior entre as mulheres e pessoas
com idade mais avançada.
Pinheiro et al. (2002) informam que, segundo dados da Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 1998, 23,0% da
população autoavaliavam seu estado de saúde como deficiente, sendo
que 31,6% apresentavam, pelo menos, uma doença crônica e 6,9%
referiram restrição de atividades por motivo de saúde. As mu lheres, por
sua vez, apresentavam maior percentual de restrição de atividades em
relação aos homens. Estes autores defendem que as diferenças entre
gêneros estreitam-se a partir dos 65 anos nas áreas urbanas e rurais,
mas variam com a situação de moradia urbana ou rural.
86
CONCLUSÃO
Neste estudo, o reduzido diálogo com estudos nacionais se deve
à limitação de pesquisa sobre QV no contexto rural brasileiro, havendo
necessidade de assumir outros estudos como referências .
Os resultados apontaram associação estatisticamente significativa
entre variáveis sociodemográficas (idade, sexo, estado civil,
escolaridade, renda, tipo de posse de propriedade), problemas de
saúde e uso de medicamento e os domínios de qualidade de vida. Na
estratificação por sexo, cor/etnia branca, não ter trabalhado na
agricultura e maior quantidade de horas de trabalho semanal também
apresentaram associação com melhor qualidade de vida entre os
homens.
Os resultados destacaram a contribuição de fatores
sociodemográficos como idade, sexo, estado civil, escolaridade, renda,
tipo de posse de propriedade, ausências morbidades e uso de
medicação para melhores desempenhos nos domínios de qualidade de
vida de residentes em áreas rurais, em um contexto brasileiro. Estes
resultados, embora limitados para comunidade rural brasileira, podem
servir de parâmetro para estudos futuros com população do campo.
87
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92
93
4.2. ARTIGO 2 – ATENDENDO AO SEGUNDO OBJETIVO DO
ESTUDO
AVALIAÇÃO DE TRANSTORNOS MENTAIS COMUNS EM
COMUNIDADES RURAIS EM ATIBAIA/SP – BRASIL
Assessment of common mental disorders in rural communities
in Atibaia/SP – Brazil
Autor: Paulo Junior Paz de Lima
Submetido à Revista: Cadernos Brasileiros de Saúde Mental 2, em
14/07/2012.
2 Situação: Em avaliação 23/12/13 (revisões requeridas). http://incubadora.periodicos.ufsc.br/index.php/cbsm/author/submissionReview/1668.
94
95
Avaliação de transtornos mentais comuns em
comunidades rurais em Atibaia/SP – Brasil
Assessment of common mental disorders in rural communities
in Atibaia/SP – Brazil
RESUMO
Transtornos mentais afetam 25% da população no mundo. Objetivos:
avaliar transtornos mentais comuns (TMC) em comunidade rural,
analisar associação entre TMC e variáveis sociodemográficas, de saúde
e ocupação de residentes de área rural. Métodos: Estudo transversal
entre abril e dezembro de 2011, com 355 residentes rurais, com idade
acima de 18 anos. Foram aplicados questionário sociodemográfico e
Self Reporting Questionnaire (SRQ-20). Foram realizadas análises
descritivas das variáveis sociodemográficas e regressão logística
múltipla. Foi adotado nível de significância de 5% e intervalo de
confiança de 95%. Foram utilizados os programas SAS 9.2 e SPSS 17.0
nas análises. Foi adotado um ponto de corte ≥ 7 no SRQ-20.
Resultados: 64,5% eram mulheres; 39,1% referiram cor/etnia
preta/parda e 57,5%, branca. Escolaridade média de 5,8 anos de
estudos. 30,4% eram trabalhadores rurais. A prevalência de TMC foi
23,4%, de tabagismo, 20,3% e de alcoolismo, 19,1%. 40,0% referiram
96
ter problema de saúde. TMC foi maior entre mulheres, desempregados,
não trabalhador rural, com renda inferior a um salário mínimo, cor/etnia
preta/parda, com escolaridade entre 1 e 4 anos de estudos, não
alcoolistas, não tabagistas, não expostos a agrotóxicos e que
autoreferiram ter problema de saúde e usar medicamento. Sexo
(RC=3,1), problema de saúde (RC=4,6) e autorreferência a intoxicação
por agrotóxico (RC=2,5) apontaram associação com maior chance de
desenvolver TMC. Cor/etnia (RC=4,4) e autorreferência a intoxicação
por agrotóxico (RC=5,5) apontaram associação para maior chance de
TMC entre homens. Conclusão: A prevalência de TMC foi alta. Sexo,
cor/etnia, intoxicação por agrotóxico e problema de saúde estiveram
associadas ao TCM entre residentes rurais.
PALAVRAS-CHAVE: Transtorno mental, saúde mental, comunidade
rural.
97
Assessment of common mental disorders in rural
communities in Atibaia/SP – Brazil
Avaliação de transtornos mentais comuns em comunidades
rurais em Atibaia/SP – Brasil
ABSTRACT
Mental disorders affect 25% of the population worldwide. Objectives:
To assess common mental disorders (CMD) in rural communities, to
analyze the association between CMD and social-demographic
variables, health, and occupation of residents of rural areas. Methods:
Cross-sectional study between April and December 2011, with 355 rural
residents over the age of 18. A socialdemographic questionnaire and
the Self Reporting Questionnaire (SRQ-20) were applied. Descriptive
analysis of the socialdemographic variables and logistic multiple
regression were performed. The significance level was 5% and the
confidence interval was 95%. The SAS 9.2 and SPSS 17.0 programs
were used for analysis. A ≥ 7 score was adopted on the SRQ -20.
Results: 64.5% were women. 39.1% reported race/ethnicity as
black/brown, and white 57.5%. Average schooling of 5.8 years. 30,4%
were rural workers. The prevalence of CMDs was 23.4%, of smoking
20.3%, and of alcohol use 19.1%. 40.0% self -report health problem.
98
CMD were more present among subjects who were women, unemployed,
not rural workers, nonalcoholic, and nonsmokers, who had not been not
exposed to pesticides, who had income below one minimum salary,
schooling between 1 and 4 years of study, and health problems, who
self-reported color/ethnicity as black/brown, and drug users. Gender
(OR=3.1), health problems (OR=4.6), and self-reference to pesticide
poisoning (OR=2.5) reveal association to a greater chance of
developing CMD. Color/ethnicity (OR=4.4), and self-reference to
pesticide poisoning (OR=5.5) are more likely to show association with
CMD among men. CONCLUSION: The prevalence of CMD was high.
The variables age, sex, educational level, race/ethnicity, workload,
pesticide poisoning and health problems suggest association with
development of CMD among rural residents.
KEYWORDS: Mental disorders, mental health, rural community.
99
Avaliação de transtornos mentais comuns em
comunidades rurais em Atibaia/SP – Brasil
Assessment of common mental disorders in rural communities
in Atibaia/SP – Brazil
INTRODUÇÃO
Os transtornos mentais, neurológicos e por uso de substâncias
(álcool e drogas) representam 14% da carga de doenças no mundo
(WHO, 2008). Os transtornos mentais e comportamentais afetam mais
de 25% de todas as pessoas em algum momento durante suas vidas.
Tais transtornos são universais, acometem pessoas de todos os países
e sociedades, indivíduos em todas as idades, ricos e pobres, em
ambientes urbanos e rurais. Contudo, as doenças mentais não recebem
a mesma atenção dada à saúde física, sobretudo nos países em
desenvolvimento. Os custos indiretos gerados pela desassistência
acabam por superar os custos diretos, tendo em vista o prolongamento
dos transtornos e suas incapacitações, além do impacto sobre a
sociedade e a qualidade de vida dos indivíduos e das famílias (WHO,
2008).
100
Considera-se que transtornos mentais são problemas de
sociedades industrializadas e ricas, portanto há a crença de que as
comunidades rurais, pouco afetadas pelo ritmo acelerado da vida
moderna, não têm transtornos mentais (WHO, 2008). Os distúrbios
mentais envolvem dimensões econômicas, sociais, políticas e culturais,
expressando-se diferentemente nas classes sociais e nas relações de
gênero (Ludermir, 2008).
O SRQ-20 tem sido bastante utilizado para avaliar transtornos
mentais comuns (TMC) entre a população geral. O instrumento foi
proposto pela OMS para detectar morbidade psiquiátrica na população
geral e validado no Brasil por Mari e Williams (1986). A escala é
composta de 20 questões com respostas de sim/não, sendo os
melhores pontos de cortes entre 5 e 6 para os homens e de 7 e 8 para
as mulheres, para o rastreamento de transtorno psicoemocional Mari e
Williams, 1986; WHO, 1994).
Alguns autores têm adotado escores menores e distintos para
sexo masculino e feminino, além de população de estudo específica
(Nakimuli-Mpungu et al.2012; Santos et al., 2010; Costa e Ludermir,
2005; Ludermir e Melo Filho, 2002; Mari e Williams, 1986) .
Costa e Ludermir (2005) consideram indivíduos com suspeitas de
TMC os que apresentam ponto de corte maior ou igual a seis respostas
(≥ 6) afirmativas. Ludermir e Melo Filho (2002) definem como ponto de
corte ≥ 5/6 positivos, enquanto Santos et al. (2010), em área urbana no
101
Brasil, afirmam que ponto de corte ≥ 6/7 apresentam melhor
desempenho.
Nos estudos de Carlotto et al. (2011), com trabalhadores urbanos
em Porto Alegre (RS), foi considerado como sugestivo de TMC ponto de
corte ≥ 7 para ambos os sexos. Outros estudos definiram ponto de corte
distinto para homens e mulheres. Husain et al. (2006) sugeriram, em
1996, ponto de corte a partir de 5, em população rural do Paquistão,
para ambos os sexos. Faker (2009) e São Paulo (2011) adotaram ponto
≥ 8 para ambos os sexos . Scazufca et al. (2009) definiram ponto ≥ 4/5
para detectar TMC.
No Brasil, Costa e Ludermir (2005) verificaram uma prevalência
de TMC de 36,0% entre a população rural, em Pernambuco, em 2000.
Os achados não diferem de estudos realizados em Olinda, Pernambuco,
em 1993, com população urbana, onde a prevalência foi 35,0%
(Ludermir e Melo Filho, 2002). Faria et al. (1999) apontaram, em 1996,
uma prevalência de transtornos psiquiátricos menores de 38% entre
agricultores na Serra Gaúcha (Brasil). Para os autores, os resultados
são superiores à maioria dos achados de outros estudos sobre TMC em
populações urbanas e rurais.
102
JUSTIFICATIVA PARA O ESTUDO
A limitação de estudos brasileiros sobre o tema transtorno mental
comum (TMC) em residentes de áreas rurais no Brasil e a hipótese de
maior prevalência de TMC entre a população de comunidades rurais,
em decorrentes da exposição e intoxicação por agrotóxico e das
condições de trabalho no campo, instigaram a realização deste estudo.
OBJETIVOS
Avaliar transtornos mentais comuns (TMC) em comunidade rural e
analisar as associações entre TMC e variáveis sociodemográficas, de
saúde e ocupação, de residentes de área rural.
MÉTODOS
Trata-se de um estudo transversal com residentes em áreas rurais
dos bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, no município
de Atibaia, interior de São Paulo/Brasil, com idade acima de 18 anos.
Atibaia conta, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE, 2010), uma população de 126.603 habitantes, sendo a
103
população urbana de 115.229 habitantes e a rural, de 11.374
habitantes.
A amostra foi calculada com base nas medidas de média de
variância para uma população normal. Foi considerado um poder de
teste de 80%, com um erro alfa de 5% e possível perda de informação
em 20% dos indivíduos amostrados. O cálculo foi feito com base no
trabalho de Berni (2002). Participaram da pesquisa 355 residentes das
áreas de estudo, de um universo de aproximadamente 2.100 residentes
com idade acima de 18 anos (Brasil , 2012).
Foram aplicados um questionário sociodemográfico
(semiestruturado) e o Self Reporting Questionnaire – SRQ-20 para
avaliar transtornos mentais comuns entre os residentes das áreas de
estudo com idade acima de 18 anos.
Os dados foram coletados entre abril e dezembro de 2011. Os
participantes foram selecionados, por conveniência, dentro das regiões
de estudo e de acordo com o interesse dos residentes em participar da
pesquisa voluntariamente.
As entrevistas foram realizadas pelas agentes e ex-agentes de
Saúde do Programa de Saúde da Família de Rio Abaixo (PSF Rural de
Rio Abaixo, Atibaia), após receberem treinamento. Foi realizado um
teste piloto com 17 participantes das áreas de estudo para testar os
instrumentos. Os participantes do teste piloto não foram incluídos no
banco de dados.
104
Foi adotado ponto de corte de sete ou mais respostas positivas no
SRQ-20, para ambos os sexos, como sugestivo de TMC. O SRQ-20
ainda não foi validado no Brasil para população rural, embora já tenha
sido empregado em pesquisas em comunidades rurais. A opção pelo
ponto de corte maior ou igual 7 se baseou em estudos nacionais e
internacionais, com população rural e urbana (Carlotto et al., 2011;
Giang et al., 2010; Santos et al., 2010).
Foram realizadas análises descritivas das variáveis
sociodemográficas e das relacionadas ao trabalho. Foram estimadas
razões de chance (odds ratio, OR), brutas e ajustadas e os respectivos
intervalos de confiança de 95% para o TMC por meio de regressão
logística múltipla. As variáveis que apresentaram p<0,20 na análise
descritiva foram selecionadas para o modelo múltiplo. Permaneceram
no modelo as variáveis com valor de p<0,05. Foi utilizado o
procedimento stepwise forward para a seleção de variáveis.
As entrevistas, questionários sociodemográficos e o questionário
do SRQ-20 foram digitados em planilhas do Excel 2010. As análises
foram realizadas a partir do programa SAS, versão 9.2 e do SPSS 17.0.
105
Ética na pesquisa
O projeto foi aprovado pelo comitê de Ética em Pesquisa da
Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas
(FCM/UNICAMP). A participação foi voluntária. Os participantes
assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e
receberam um Termo de Responsabilidade do Pesquisador. Todos
foram informados dos objetivos da pesquisa e que poderiam desistir do
estudo a qualquer momento, sem que houvesse prejuízo para eles.
106
RESULTADOS
A amostra foi composta por 355 participantes, sendo 64,5%
mulheres e 35,5% homens. A média de idade foi 38,3 anos, com desvio
padrão (DP) de 14,9 anos. Em relação à idade dos participantes, 7,9%
tinham entre 18 e 20 anos, 53,8% entre 21 e 40 anos e 8,5% tinham
mais de 60 anos. Quanto à situação conjugal, 70,4% eram
casados/amasiados. Em relação à cor/etnia, preta/parda somaram
39,1% e branca foram 57,5%. A escolaridade média foi de 5,8 anos de
estudos (DP=3,6). 27,6% tinham 9 ou mais anos de estudos, sendo que
7,6% possuíam entre 9 e 10 anos de estudos e 20% tinham mais de 11
anos (Tabelas 1 e 2).
Quanto à renda mensal e situação ocupacional dos par ticipantes,
25,9% ganhavam até um salário mínimo e 38,3% recebiam entre 1 e 2
salários mínimos, com média de renda de R$ 619,20 e desvio padrão de
R$ 483,50. 33,5% estavam desempregados e 30,4% desempenhavam
atividades na agricultura. Em relação à exposição aos agrotóxicos,
13,5% mencionaram fazer uso de agrotóxicos no processo de trabalho,
18,9% disseram ter exposição a agrotóxicos e 12,4% referiram já ter
sofrido intoxicação por agrotóxicos (Tabelas 1 e 4).
A prevalência de transtorno mental comum (TMC) foi de 23,4%.
Em relação às frequências entre os participantes considerados
107
suspeitos de apresentarem TMC, estas foram maiores entre pessoas
que não utilizavam agrotóxico no processo de trabalho (86,8%), do sexo
feminino (81,9%), não tabagistas (79,5%), não alcoolistas (78,3%), não
expostas a agrotóxicos (78,3%), com companheiros (73,5%), não
trabalhadores rurais (72,3%), que faziam uso medicação (62,7%), que
mencionaram ter algum problema de saúde (60,3%), com idade entre 21
e 40 anos (55,4%), de cor/etnia parda/preta (51,8%), desempregadas
(45,8%), com escolaridade entre 1 e 4 anos de estudos (42,2%) e
pessoas com renda inferior a 1 salário mínimo (34,9%) e sem renda
(33,8%) (Tabela 1).
As prevalências de tabagismo e de alcoolismo entre os
participantes foram de 20,3% e de 19,1% respectivamente. 40,0%
relataram ter algum problema de saúde (Tabela 1), em média, há 10,3
anos, com desvio padrão de 10,8 anos (Tabela 4).
Na análise de regressão logística múltipla (Tabela 2) as variáveis
idade (p=0,03), sexo (p<0,01), escolaridade (p<0,00), ter problema de
saúde (p<0,00) e autorreferência à intoxicação por agrotóxico (p=0,01)
apresentaram associação estatística com maior chance de desenvolver
TMC entre residentes rurais, sendo 3,1 vezes maior entre o sexo
feminino e 4,6 vezes entre pessoas que mencionaram ter problemas de
saúde. Autorreferência à intoxicação por agrotóxico no processo de
trabalho apontou associação estatística de 2,5 vezes maior chance para
108
TMC, quando excluídas, do modelo de regressão, as variáveis
problemas de saúde e uso de medicamento.
Na tabela 3, quando estratif icada por sexo, a escolaridade
(p<0,01), entre as mulheres, e a cor (p=0,03), carga horária (quantidade
de horas) de trabalho semanal (p<0,01) e ter referido intoxicação por
agrotóxico no processo de trabalho (p=0,03), entre os homens,
apresentaram associação estatisticamente significativa com o TMC na
população rural. Os resultados associaram cor/etnia branca como um
fator de proteção para TMC (RC=4,4) e autorreferência à intoxicação
por agrotóxico com 5,5 vezes maior chance de desenvolver TMC entre a
população masculina (RC=5,5).
DISCUSSÃO
Considerando-se a limitação de literatura nacional e internacional
que abordam a temática sobre transtorno mental comum em contexto
rural a partir do SRQ-20, buscou-se dialogar, também, com outros
estudos realizados em populações urbanas.
A prevalência de transtornos mentais comuns (TMC), assim como
as taxas de alcoolismo, tabagismo, morbidades e uso de medicamento
foram relativamente altas entre a população de estudo. A taxa de TMC
(23,4%) na população de estudo superou os 12,0% apontados por Faker
109
(2009) entre cortadores de cana, em Nova Andradinha (MS), e foi
inferior aos 33,8% entre trabalhadores rurais da microrregião de
Ituporanga, em Alto Vale do Itajaí, Santa Catarina (Poletto, 2009). Na
capital paulista, em 2008, a prevalência de TMC em pessoas acima de
16 anos foi de 16,5%, sendo quase três vezes maior entre as mulheres,
com maior prevalência entre os pardos, separados, desquitados,
divorciados e viúvos, com renda per capita menor que meio salário
mínimo e entre pessoas que apresentam problemas de saúde (São
Paulo, 2011).
Os resultados deste estudo apontaram idade mais avançada, sexo
feminino, menor nível de escolaridade, cor/etnia não branca, menor
quantidade de horas de trabalho semanal, autorreferência à intoxicação
por agrotóxico no processo de trabalho e queixas de problema de saúde
associados à maior chance de desenvolver TMC entre residentes rurais.
Poletto (2009), em Ituporanga (SC), também obteve maior prevalência
de TMC associada ao sexo feminino, idade, estado civil casado e
viúvo/separado, uso de agrotóxico no processo de trabalho e nos que
tiveram intoxicação por agrotóxico na família.
Vários fatores podem estar associados ou contribuir para
desencadeamento de TMC. Darviri et al. (2012) indicam que fatores
como idade, sexo feminino e baixa escolaridade podem contribuir
negativamente na autoavaliação da saúde. Estudos têm apontado maior
prevalência de TMC entre as mulheres tanto em pa íses desenvolvidos
110
como em desenvolvimento. Fatores como pobreza, baixa escolaridade e
renda, desemprego, sexo feminino, idade avançada, ser divorciado,
separado e viúvo e cor/etnia preta e parda estão associados à maior
chance de desenvolver TMC (Farias e Araújo, 2011; São Paulo, 2011;
Phillips et al., 2009; Marín-León et al., 2007a; Fernández et al., 2006).
Neste estudo, 20,0% dos residentes rurais concluíram o ensino
médio. Em Farias e Araújo (2011), São Paulo (2011), Phillips et al.
(2009) e Fernández et al. (2006), o baixo nível de escolaridade
apresentou associação estatisticamente significante com TMC. Faria et
al. (1999) apontaram, também, maior nível de escolaridade com menor
prevalência de indicadores de saúde mental entre agricultores.
Ludermir e Melo Filho (2002) consideram que a educação reflete
as circunstâncias sociais reproduzidas de uma geração à outra. Para
estes autores, a condição socioeconômica dos pais influencia a
permanência dos filhos na escola e a necessidade precoce de trabalhar.
Alguns autores consideram as dificuldades econômicas e a falta de
cobrança de escolaridade no trabalho rural como responsáveis por
retirarem os homens da escola, ainda jovens, com o intuito de reforçar
o sustento da família (Lima et al., 2010; Lima, 2009).
As prevalências de tabagismo (20,3%) e de alcoolismo (19,1%),
neste estudo, com população predominante feminina (64,5%), embora
não tenham apresentado associações com TMC, foram próximas ou
superiores a de outros estudos. O Inquérito de Saúde na Cidade de São
111
Paulo (ISA 2008) (São Paulo, 2011) apontou prevalência de tabagismo
na Capital Paulista de 19,3%, entre pessoas acima de 12 anos. Nos
Estados Brasileiros e Distrito Federal, em 2008, foi de 16,1%, com
variação entre 9,7% e 20,9% nas capitais e entre adu ltos (Malta et al.,
2010).
Para a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS, 2008), a
prevalência de alcoolismo pode ser distinta entre área urbana e rural e
entre Estados Brasileiros. Na população rural, no Vale do Taquari (RS),
em 2005, o consumo de álcool foi de 54,4% (Souza et al., 2011). Na
microbacia de São Lourenço, Nova Friburgo, Araújo et al. (2007),
verif icaram prevalência de 60,8% entre agricultores, sendo 45,2% com
consumo alcoólico elevado ou acentuado. Marín-León et al. (2007b)
informam que a dependência alcoólica no Brasil, em 2002, foi
responsável por 0,8% dos óbitos entre os homens e 0,1% entre as
mulheres, o que sinaliza um problema de saúde pública.
Foram observadas maiores frequências de TMC entre os
participantes da pesquisa que mencionaram exposição a agrotóxico,
que referiram ter sofrido intoxicação por agrotóxico e que relataram ter
se sentido mal durante a aplicação de agrotóxico. A exposição aos
agrotóxicos se dá pelo fato dos participantes residirem próximo às
lavouras, por “sentir o cheiro” de agrotóxico durante a aplicação, por
aplicar, puxar a mangueira ou permanecer no local durante a aplicação
112
do produto na lavoura e, ainda, por lavar a roupa utilizada na aplicação
de agrotóxico.
A hipótese de que poderia haver associação estatis ticamente
significativa entre TMC e as variáveis trabalhador rural, exposição e uso
de agrotóxico no processo de trabalho não pôde ser confirmada neste
estudo. Embora não se tenha apontado associação estatística entre
TMC e exposição e uso de agrotóxico entre a população de estudo, esta
associação foi verif icada entre os participantes da pesquisa que
referiram ter sofrido intoxicação por agrotóxico durante o processo de
trabalho, sendo maiores as chances para TMC entre a população
masculina.
Faria et al. (1999) também apontaram associação entre
intoxicação aguda por agrotóxico e transtornos mentais entre
trabalhadores rurais em municípios de Serra Gaúcha (RS). Levigard e
Rozemberg (2004) encontraram associação entre queixas de nervoso
(irritabilidade, insônia, depressão etc.) e intoxicação por agrotóxico no
discurso dos profissionais de saúde de área rural, em Nova Friburgo,
Rio de Janeiro. Sena et al. (2013), estudando a relação entre trabalho
rural e qualidade de vida, em Lagarto, Sergipe, identificaram melhor
aspecto de saúde mental entre aqueles que não utilizavam agrotóxicos
no processo de trabalho em relação aos que utilizavam.
Paz de Lima (2009, 2008) destaca ser a intoxicação e exposição a
agrotóxico percebida pelo trabalhador apenas quando ocorre de f orma
113
aguda, ou seja, quando há necessidades de cuidados médicos ou
internação, além da presença de maiores sinais e sintomas. Singer et
al. (1978) afirmam que a doença só é sentida quando os sinais que
percebe em si correspondem a sintomas reconhecidos soc ialmente
como indicadores de enfermidade.
CONCLUSÃO
Assim como em estudos com população urbana, constatou-se que
variáveis socioeconômicas e demográficas ( idade, sexo, escolaridade e
cor/etnia), problemas de saúde e autorreferência à intoxicação por
agrotóxico estiveram significativamente associadas aos transtornos
mentais comuns em população rural.
A prevalência de TMC foi considerada alta para população do
estudo, para um ponto de corte igual ou maior a sete respostas
positivas. Os resultados apontaram que fatores como ser mais jovem,
sexo masculino, maior nível de escolaridade, não ter sofrido intoxicação
por agrotóxico e não ter problema de saúde podem contribuir para
diminuir a chance de desenvolver TMC. Já entre os homens, não
brancos, com menor quantidade de hora de trabalho semanal e que
autoreferiram intoxicação por agrotóxico, as chances para TMC foram
maiores.
114
Os resultados deste estudo não podem ser generalizados para a
população rural brasileira. Contudo, estes achados são importantes
para nortear novas investigações, podendo ainda, contribuir para
elaboração de políticas de saúde voltadas à população no campo.
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120
Tabela 1 – Resultados do SRQ-20 segundo variáveis sociodemográficas
e epidemiológicas de residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira,
Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.
TMC
SRQ-20 + SRQ-20 –
VARIÁVEL n=355 % n=83 % n=272 %
SRQ-20 ≥ 7 TMC + 355 100,0 83 23,4 272 76,6
Idade anos 355 100,0 83 100,0 272 100,0
18 – 20 28 7,9 5 6,0 23 8,5
21 – 40 191 53,8 46 55,4 145 53,3
41 – 60 106 29,8 24 28,9 82 30,1
≥ 61 30 8,5 8 9,7 22 8,1
Sexo 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Masculino 126 35,5 15 18,1 111 40,8
Feminino 229 64,5 68 81,9 161 59,2
Estado civil 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Com companheiro 250 70,4 61 73,5 189 69,5
Sem companheiro 104 29,3 22 26,5 82 30,2
Não respondeu 1 0,3 0 0,0 1 0,3
Cor/Etnia 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Branca 204 57,5 36 43,4 168 61,8
Parda/Preta 139 39,1 43 51,8 96 35,3
Amarela 12 3,4 4 4,8 8 2,9
Escolaridade em anos 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Não estudou 28 7,9 12 14,5 16 5,9
1 – 4 137 38,6 35 42,2 102 37,5
5 – 8 92 25,9 20 24,1 72 26,5
9 – 10 27 7,6 8 9,6 19 7,0
11 – 13 71 20,0 8 9,6 63 23,1
Ocupação 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Desempregado 119 33,5 38 45,8 81 29,8
Empregado com registro 148 41,7 26 31,3 122 44,8
Empregado sem registro 88 24,8 19 22,9 69 25,4
Renda R$ 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sem renda 83 23,4 28 33,8 55 20,2
≤ 1 SM* 92 25,9 29 34,9 63 23,2
> 1 SM < 2 SM 136 38,3 23 27,7 113 41,5
121
≥ 2 SM 44 12,4 3 3,6 41 15,1
Trabalhador rural 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 108 30,4 22 26,5 86 31,6
Não 240 67,6 60 72,3 180 66,2
Não informa 7 2,0 1 1,2 6 2,2
Usa agrotóxico no processo de trabalho
355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 48 13,5 10 12,0 38 14,0
Não 294 82,8 72 86,8 222 81,6
Não informa 13 3,7 1 1,2 12 4,4
Exposição a agrotóxico 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 67 18,9 18 21,7 49 18,0
Não 284 80,0 65 78,3 219 80,5
Não informa 4 1,1 0 0,0 4 1,5
Refere intoxicação por agrotóxico 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 44 12,4 17 20,5 27 9,9
Não 288 81,1 62 74,7 226 83,1
Não informa 23 6,5 4 4,8 19 7,0
Refere sentir-se mal durante aplicação 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 53 14,9 20 24,1 33 12,1
Não 266 74,9 54 65,1 212 77,9
Não informa 36 10,2 9 10,8 27 10,0
Alcoolismo 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 68 19,1 17 20,5 51 18,8
Não 280 78,9 65 78,3 215 79,0
Não informa 7 2,0 1 1,2 6 2,2
Tabagismo 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 72 20,3 16 19,3 56 20,6
Não 274 77,2 66 79,5 208 76,5
Não informa 9 2,5 1 1,2 8 2,9
Problema de saúde 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 142 40,0 50 60,3 92 33,8
Não 212 59,7 33 39,7 179 65,8
Não informa 1 0,3 0 0,0 1 0,4
Usa medicamento 355 100,0 83 100,0 272 100,0
Sim 143 40,3 52 62,7 91 33,5
Não 208 58,6 31 37,3 177 65,0
Não informa 4 1,1 0 0,0 4 1,5
* SM = Salário mínimo (R$ 545,00)
122
Tabela 2 – Modelo de regressão logística múltipla para TMC, avaliado
pelo SRQ-20, entre residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira,
Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.
Variável Razão de chances (RC) IC 95% Valor de p
Idade 0,97 (1,03) 0,94 – 0,99 (1,00; 1,06) 0,026
Sexo (masculino x feminino) 3,1 1,53 – 6,18 0,001
Escolaridade (anos concluídos) 0,82 (1,22) 0,73 – 0,92 (1,09; 1,36) 0,000
Problema de saúde (não x sim) 4,6 2,38 – 9,00 <0,000
Sofreu Intoxicação (não x sim) 2,5 1,20 – 5,32 0,014
123
Tabela 3 – Modelo de regressão logística múltipla para TMC, avaliado pelo SRQ -20, entre residentes
rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011, segundo
sexo.
VARIÁVEIS
Sexo
Homem Mulher
RC IC 95% p RC IC 95% P
Escolaridade (anos concluídos) _ _ _ 0,85 (1,20) 0,77 – 0,94 (1,07; 1,30) 0,001
Cor/etnia (branco x não branco) 4,4 1,12 – 16,99 0,033 _ _ _
Carga horária trabalho semanal 0,96 (1,05) 0,93 – 0,99 (1,02; 1,08) 0,003 _ _ _
Sofreu intoxicação (não x sim) 5,5 1,21 – 24,92 0,027 _ _ _
124
Tabela 4 – Estatística descritiva de características demográficas e
socioeconômicas dos residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira,
Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.
VARIÁVEIS Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máxima
Idade 38,3 35,0 14,9 18 81
Escolaridade (anos concluídos) 5,8 5,0 3,6 0 13
Renda mensal (R$) 619,20 560,00 483,5 0,00 3.000,00
Carga horária de trabalho semanal 40,6 44,0 13,8 0 90
Quanto tempo tem problema (anos) 10,3 6,0 10,8 0 69
Quanto tempo usa medicamento (anos) 6,8 5,0 7,6 0 40
125
4.3. ARTIGO 3 – ATENDENDO AO TERCEIRO OBJETIVO DO
ESTUDO
ASPECTOS DE SAÚDE E QUALIDADE DE VIDA DE
RESIDENTES EM COMUNIDADES RURAIS
Aspects of health and quality of life of residents of rura l
communities
Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de las
comunidades rurales
Autores: Paulo Junior Paz de Lima; Helenice Bosco de Oliveira
Submetido à Revista Baiana de Saúde Pública3
3 http://inseer.ibict.br/rbsp/index.php/rbsp/author
126
127
Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em
comunidades rurais
Aspects of health and quality of life of residents of rural communities
Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de las
comunidades rurales
RESUMO
Estado de saúde e qualidade de vida (QV) estão relacionados a fatores
educacionais, saneamento, renda e serviços de saúde, entre outros.
Incluem aspectos físicos, cognitivos, emocionais, culturais e
socioeconômicos, além da saúde mental, vitalidade e capacidade
funcional. Objetivos: avaliar a qualidade de vida relacionada a
aspectos do estado de saúde de comunidades rurais e verificar a
associação entre estado de saúde e variáveis demográficas,
socioeconômicas e de trabalho. Métodos: Estudo transversal com 355
indivíduos residentes em área rural no município de Atibaia, com idade
acima de 18 anos. Foram aplicados um questionário sociodemográfico e
o SF-36. Foram realizadas análises descritivas e de regressão linear
múltipla para identificar variáveis relacionadas aos aspectos de saúde e
qualidade de vida, com nível de significância de 5% e IC de 95%.
Resultados: A idade média foi de 38,3 anos e 64,5% eram mulheres. A
128
escolaridade média foi de 5,8 anos de estudos e 30,4% eram
trabalhadores rurais. A frequência de tabagismo foi de 20,3% e de
alcoolismo, de 19,1%. Da amostra, 40,0% relataram problema de saúde
e 40,3% usavam medicamentos à época da pesquisa. Idade, sexo, cor,
estado civil, renda, quantidade de horas de trabalho semanal,
tabagismo, problema de saúde e uso de medicamento apresentaram
associação estatística com domínios do SF-36. Conclusão: Variáveis
demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado civil) e socioeconômicas
(renda e escolaridade), alcoolismo, tabagismo, trabalhador rural e ter
trabalhado na agricultura, carga horária de trabalho semanal, tipo de
posse de propriedade, problema de saúde e uso de medicação
apontaram contribuir para aspectos do estado de saúde e de qualidade
de vida da população rural.
Palavras-Chave: Saúde rural; qualidade de vida; população rural.
129
Aspects of health and quality of life of residents of rural
communities
Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de las
comunidades rurales
Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em comunidades
rurais
ABSTRACT
The health status and quality of life (QOL) factors are related to
education, sanitation, income, and health services, among others.
Health status and quality of life include physical, cognitive, emotional,
cultural and socioeconomic factors, in addition to mental health, vitality,
and physical functioning. Objectives: To assess quality of life issues
related to aspects of health status in rural communities and the
association between health status, and demographic factors,
socioeconomic factors, and work of rural residents. Methods: Cross-
sectional study with 355 rural residents over the age of 18. We applied a
sociodemographic questionnaire and the SF-36. Descriptive analysis
and multiple linear regression were used to identify variables related to
health aspects and quality of life; the significance level was 5%, and the
confidence interval was 95%. Results: The average age was 38.3 years
130
and 64.5% were women. The average schooling was of 5.8 years of
studies. 30.4% were rural workers. The prevalence of smoking was
20.3%, and the prevalence of alcohol use was 19.1%. Of the sample,
40.0% reported having health problems and 40,3% used drugs at the
time of the survey. Age, sex, race, marital status, income, number of
weekly working hours, smoking, health problems, and medication use
are statistically associated with the SF-36. Conclusion: Demographic
(gender, age, race/ethnicity, marital status) and socioeconomic
variables (income and education), alcoholism, smoking, working in a
rural environment, having worked in agriculture, weekly working hours,
type of property owned, health problems, and medication use were
indicated as contributing to aspects of health status and quality o f life of
the rural population.
Keywords: Rural health; quality of life; rural popu lation.
131
Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de
las comunidades rurales
Aspects of health and quality of life of residents of rural communities
Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em comunidades
rurais
RESUMEN
Estado de salud y calidad de vida están relacionados con factores
educacionales, saneamiento, renta y servicios de salud, entre otros.
Incluye aspectos físicos, cognitivos, emocionales, culturales y
socioeconómicas, además de salud mental, vitalidad y capacidad
funcional, Objetivos : Evaluar la calidad de vida relacionada con el
estado de salud de las comunidades rurales y verificar la asociación
entre el estado de salud y las variables demográf icas, socioeconómicas
y trabajo. Métodos: Estudio transversal con 355 individuos que viven en
áreas rurales en Atibaia, mayores de 18 años. Fueron aplicados un
cuestionario sociodemográfico y el SF-36. Se realizaron análisis
descriptivos y de regresión linear múltiple para identif icar variables
relacionadas los aspectos de salud y calidad de vida. El nivel de
significación (5%) y el IC (95%). Resultados : La edad media fue de
38,3 años y el 64,5% eram mujeres. El promedio de escolaridad fue de
132
5,8 años de estudio. 30,4% eran trabajadores rurales. La frequência de
tabaquismo fue del 20,3% y de alcoholismo, el 19,1%. De la muestra,
40,0% reportó tener problemas de salud y el 40,3% los medicamentos
utilizados el momento de la encuesta. La edad, sexo, raza, estado civil,
tabaquismo, renta, horas semanales de trabajo, problemas de salud y
uso de fármacos se asoció estadísticamente con el SF-36, Conclusión:
Las variables demográficas (edad, sexo, raza/etnia, estado civil) y
socioeconómicas (ingresos y educación), el alcoholismo, el tabaquismo,
trabajador rural y han trabajado en la agricultura, las horas semanales
de trabajo, tipo de propiedad, problema la salud y los medicamentos
demostraron contribuir para aspectos de la situación de salud y calidad
de vida de la población rural.
Palabras-Chave: Salud rural, calidad de vida, población rural.
133
Aspectos de saúde e qualidade de vida de residentes em
comunidades rurais
Aspects of health and quality of life of residents of rural communities
Aspectos de salud y calidad de vida de los habitantes de las
comunidades rurales
INTRODUÇÃO
A crítica à desigualdade social, a partir da década de 60, deu
origem aos movimentos sociais e iniciativas de políticas públicas com a
finalidade de melhorar a qualidade de vida da população (Fleck et
al.,1999; Wood-Dauphinee,1999). A partir de 1970, os conceitos de
qualidade de vida, bem-estar e estado de saúde passaram a ter
importância entre os estudos acadêmicos (Zubaran et al., 2008; Fleck,
2008; Galinha e Pais Ribeiro, 2005).
Estado de saúde, bem-estar e qualidade de vida do indivíduo
estão atrelados a fatores como o acesso à educação, saneamento
básico, saúde e segurança no trabalho, renda per capita e serviços de
saúde, entre outros. A definição de estado de saúde inclui aspectos
físicos, cognitivos, emocionais, culturais, socioeconômicos e aspectos
do estado de saúde (Sturgis et al., 2001). O conceito pessoal de saúde
se relaciona com a percepção que cada indivíduo tem do seu estado de
134
saúde, sendo este definido pela Organização Mundial de Saúde como
um estado de completo bem-estar físico, mental e social (Zubaran et
al., 2008; Sen, 2002; The WHOQOL Group, 1994).
O estado de saúde de um indivíduo pode estar diretamente
associado à sua qualidade de vida (QV) e seu bem-estar, avaliado por
percepções subjetivas, incluindo sensações desagradáveis ou
agradáveis e avaliações globais de saúde ou de estado subjetivo. Desta
forma, pessoas com limitações funcionais podem desfrutar de alta
qualidade de vida a partir de suporte do ambiente, da perspectiva de
vida e avaliação de suas necessidades e desejos (Fleck, 2008; Patrick,
2003).
Os conceitos de estado de saúde, estado funcional, bem-estar,
qualidade de vida (QV) e qualidade de vida relacionada à saúde
(QVRS), segundo Patrick (2003), costumam ser empregados sem
exatidão e de forma alterada. Não há consenso em relação à definição
do uso do termo qualidade de vida entre os pesquisadores, sendo o
termo utilizado em diferentes contextos. A saúde, no entanto, é tão
somente um domínio dos instrumentos de avaliação de QV. Os
conceitos de estado de saúde e de QVRS envolvem sintomas físicos e
psicológicos, estado funcional, percepções de saúde e de bem-estar
global, além de oportunidade, entendida por Patrick (2003) como
habilidade para lidar ou resistir ao estresse e à doença.
135
O estado de saúde é diferente de categorias diagnósticas usadas
para nomear e caracterizar a condição de saúde subjacente: doença,
distúrbio ou lesão. Por ser este um fenômeno multidimensional, o
estado de saúde deve ser um atributo intrínseco do corpo humano,
descrito e medido conforme os níveis de funcionalidade em diferentes
domínios (Chatterji e Bickenbach, 2008). Sentir-se doente não se refere
exclusivamente a sentimentos de dor física, desconforto, mas também
às consequências psicológicas e sociais de se ter um problema
(Szwarcwald et al., 2005; Sen, 2002; Blank e Diderichsen, 1996).
As políticas de saúde para a população rural no Brasil sempre
estiveram atreladas a interesses econômicos, com finalidade de
potencializar a exploração dos recursos naturais, o que, por sua vez,
necessitava de mão de obra saudável (Carneiro, 2007). A política
econômica neoliberal vigente restringe o papel do Estado e contribui
para que a população do campo continue sem acesso aos serviços
básicos como saúde, saneamento, transporte coletivo, educação de
qualidade, capacitação profissional entre outros fatores importantes e
necessários ao desenvolvimento no campo.
Para Carneiro et al. (2009), a modernização da agricultura
brasileira contribuiu para precariedade das relações de trabalho, além
da elevação dos riscos socioambientais. A modernização da agricultura
foi responsável, ainda, pela expulsão das famílias da terra que, por sua
136
vez, migraram para as cidades em busca de trabalho e melhores
condições de acesso à saúde e de outros serviços.
JUSTIFICATIVA PARA O ESTUDO
A preocupação com questões relacionadas às temáticas sobre
estado de saúde e qualidade de vida relacionada à saúde da população
tem sido objeto de investigação em todo o mundo. Embora as temáticas
sejam recorrentes entre os pesquisadores, quando analisado sob a
ótica da população de área rural, a literatura, principalmen te a
brasileira, não tem explorado o assunto, embora seja este de extrema
importância para o contexto atual.
OBJETIVOS
Avaliar a qualidade de vida relacionada a aspectos do estado de
saúde de residentes em comunidades rurais e verificar a associação
entre estado de saúde e variáveis demográficas, socioeconômicas e de
trabalho.
137
MATERIAL E MÉTODOS
Estudo transversal com residentes em áreas rurais, com idade
acima de 18 anos, dos bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio
Abaixo, no município de Atibaia/São Paulo, Brasil. Atibaia contava,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística de
2010, com uma população de 126.603 habitantes, sendo 11.374
residentes de áreas rurais (IBGE, 2010). Os bairros estudados, segundo
dados do Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB) do
Ministério da Saúde, possuíam, em 2011, período de realização da
pesquisa de campo, uma população de aproximadamente 2.100
habitantes maiores de 18 anos (Brasil, 2012) .
A pesquisa contou com a participação de 355 indivíduos. No
cálculo amostral, considerou-se um poder de teste de 80%, com um
erro alfa de 5% e possível perda de informação em 20% dos indivíduos
amostrados.
A coleta dos dados ocorreu entre abril e dezembro de 2011. Os
participantes foram selecionados, por conveniência, dentro da região de
estudo e de acordo com o interesse dos residentes em participar do
estudo voluntariamente.
As entrevistas foram realizadas pelos(as) agentes e ex-agentes
de saúde do Programa de Saúde da Família de Rio Abaixo (PSF Rura l
138
de Rio Abaixo), em Atibaia, após receberem treinamento para aplicação
do questionário. Os dados foram digitados em planilhas do Excel 2010.
Foram aplicados o SF-36 – Medical Outcomes Study 36 – Item
Short-Form Health Survey para avaliar a qualidade de vida relacionada
aos aspectos do estado de saúde da população de estudo e um
questionário sociodemográfico (semiestruturado) com questões, em sua
maioria, fechadas.
O Medical Outcomes Study Item Short -Form Health Survey (SF-
36) é um instrumento genérico que tem sido utilizado para a avaliação
da qualidade de vida de médias e grandes populações, além de avaliar
o estado de saúde de pacientes crônicos, serviços de saúde, testes
clínicos, condições crônicas da população em geral e tratamentos
clínicos de várias condições de saúde, abordando aspectos físicos e
mentais, do estado de saúde e da qualidade de vida do indivíduo
(Zanei, 2006; Sturgis et al., 2001; Ciconelli et al., 1999).
O SF-36 contém oito dimensões, sendo quatro associadas à
saúde física (funções fís icas, postura de vida, dor corporal e saúde
geral) e quatro à saúde mental (vitalidade, funções sociais, postura
emocional e saúde mental). O SF-36 tem sido traduzido e adaptado
cultural e psicometricamente em vários países, inclusive no Brasil
(Morimoto et al., 2006; Ciconelli et al., 1999).
Foram consideradas como variáveis dependentes os oito domínios
do SF-36 (capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor,
139
estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, emocionais e saúde
mental). Como independentes, foram consideradas as variáveis
demográficas, socioeconômicas, uso de agrotóxico no processo de
trabalho, contato com agrotóxico, intoxicação por agrotóxico, ingestão
de bebida alcoólica, tabagismo, uso de medicamento, problema de
saúde.
Foram realizadas análises descritivas por meio de frequências
absolutas e relativas e de regressão linear múltipla das variáveis
demográficas, socioeconômicas, epidemiológicas e dos domínios do SF -
36. Os modelos de análises de regressão linear múltipla foram
construídos para verif icar a influência destas variáveis nos domínios do
SF-36. Foi realizado ajuste para as variáveis idade, sexo, estado civil,
escolaridade e renda.
Foi utilizado o stepwise forward como procedimento para seleção
de variáveis. O nível de significância adotado para os testes
estatísticos foi de 5%, com intervalo de confiança (IC) de 95%. Os
dados foram analisados a partir do programa computacional SAS 9.2 e
do SSPS 17.0.
O projeto de pesquisa foi aprovado, com parecer CEP 1154/2010,
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas
da Universidade Estadual de Campinas (FCM/UNICAMP). A
participação foi voluntária. Os participantes assinaram o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e receberam um Termo de
140
Responsabilidade do Pesquisador. Todos foram informados dos
objetivos da pesquisa e que poderiam desistir do estudo a qualquer
momento, sem que houvesse prejuízo para eles.
RESULTADOS
A maioria dos participantes (61,7%) tinha entre 18 e 40 anos de
idade, com idade média de 38,3 anos e desvio padrão (DP) de 14,9
anos. Da amostra, 64,5% eram mulheres, 70,4% eram
casados/amasiados, 57,5% pertencentes à cor/etnia branca e 39,1% à
preta/parda. A maioria (64,5%) possuía entre 1 e 8 anos de estudos
(Tabela 1). A escolaridade média é de 5,8 anos de estudos (DP=3,6)
(Tabela 2).
Quanto à renda e situação ocupacional dos entrevistados, 87,2%
tinham rendimentos mensais de até dois salários mínimos, sendo que
66,5% estavam empregados com ou sem registros e 33,5%,
desempregados (Tabela 1). A média salarial era de R$ 619,20 (DP=
483,5) (Tabela 2). Entre participantes, 30,4% desempenhavam
atividades agrícolas, ou seja, eram trabalhadores rurais, 13,5%
mencionaram fazer uso de agrotóxicos no processo de trabalho e 12,4%
referiram ter sofrido intoxicação por agrotóxicos (Tabela 1).
141
As frequências de tabagismo e de alcoolismo entre os residentes
rurais foram de 20,3% e 19,1%, respectivamente; 40,0% mencionaram
queixas de problemas de saúde e 40,3% faziam uso de algum tipo de
medicamento (Tabela 1).
Em relação às médias dos escores do SF-36, os domínios de
aspecto físico, emocional, social e de capacidade funcional (81,3 a
87,7) apresentaram os melhores escores, sendo o domínio estado de
saúde geral o que obteve o menor (73,1) (Tabela 3).
No modelo de regressão linear múltipla (Tabela 4), as variáveis
idade, sexo, estado civil, cor/etnia, tabagismo, renda, carga horária
(quantidade de horas) de trabalho semanal, problemas de saúde e uso
de medicamento apontaram associações estatísticas significativas com
os domínios do SF-36. Menor idade, maior renda, maior quantidade de
horas de trabalho semanal e estado civil sem união estável (sem
companheiro em relação ao com companheiro) apresentaram melhores
desempenhos em alguns dos domínios de qual idade de vida e aspectos
do estado de saúde avaliados pelo SF-36.
O domínio relacionado à capacidade funcional apontou
associação estatística com idade (p=0,000), cor/etnia branca (p=0,003)
e amarela (p=0,026) em relação à preta e parda, quantidade de horas
de trabalho semanal (p=0,002), problemas de saúde (p=0,000) e uso de
medicamento (p=0,012). O domínio referente ao aspecto físico
apresentou associação com cor/etnia branca (p=0,001) e amarela
142
(p=0,026) em relação à preta e parda e queixas de problemas de saúde
(p<0,000).
Em relação ao domínio aspecto social, cor/etnia branca (p=0,007)
em relação à preta/parda e problemas de saúde (p=0,005) mostraram
associações estatisticamente significativas. As variáveis cor/etnia
branca (p=0,000) em relação à preta/parda, tabagismo (p=0,043) e
problemas de saúde (p<0,000) evidenciaram associações com o
domínio emocional. Referências a problemas de saúde (p=0,014) e uso
de medicamento (p=0,024) também estiveram associadas ao domínio
dor.
Quanto ao domínio estado geral de saúde, as associações foram
em relação à idade (p=0,039), ao estado civil (p=0,027) e à renda
(p=0,022). No domínio saúde mental, sexo (p=0,000) e problemas de
saúde (p=0,000) apresentaram associações estatísticas. O domínio
relacionado à vitalidade indicou associação com idade (p=0,003), sexo
(p=0,000) e cor/etnia branca (p=0,017) em relação à preta/parda
(Tabela 4).
Na estratif icação por sexo (Tabela 5), além das variáveis
relacionadas na tabela 4, entre as mulheres, a escolaridade (p=0,001)
apresentou associação com capacidade funcional e cor/etnia com
aspectos físico (p=0,026) e emocional (p=0,002). Trabalho rural
(p=0,034) esteve associado ao domínio dor.
143
Entre os homens, as associações foram entre alcoolismo e estado
geral de saúde (p=0,041); trabalho rural e capacidade funcional
(p=0,002) e aspecto emocional (p=0,006); ter trabalhado na agricultura
mostrou-se associado à saúde mental (p=0,011) e vitalidade (p=0,005);
e residir em propriedade cedida (p=0,008) em relação à
alugada/arrendada, com domínio saúde mental.
DISCUSSÃO
Os resultados deste trabalho são de uma população relativamente
jovem, a maioria do sexo feminino. A natureza do trabalho doméstico
feminino e/ou a proximidade das lavouras em relação às residências
podem ter contribuído para maior participação das mulheres na
pesquisa. Nas visitas às residências, foi mais comum encontrá -las em
casa.
O estudo apontou baixo nível de escolaridade entre os residentes
rurais. A maioria não concluiu oito anos de estudos. Carneiro (2007)
também verif icou baixa escolaridade, em 2005, entre residentes de
comunidade rural em Unaí (MG), sendo a média de 3,4 anos de estudo
entre os homens e 4,3 entre as mulheres. Marangon et al. (2004)
atribuem à falta de emprego e de meio de transporte público, no campo,
e à participação dos filhos nas atividades agrícolas, como forma de
144
complementação de renda familiar, a responsabilidade por incentivar a
desvalorização da educação formal e desestimular a regularidade dos
estudos.
Fatores como maior nível de renda e satisfação com a vida,
segundo Mammen et al. (2009), geralmente estão associados a
melhores níveis de educação. Para estes autores, investimentos em
educação podem proporcionar melhores oportunidades de emprego e de
renda. Famílias de baixa renda e famílias rura is são, especialmente,
vulneráveis à pobreza, mudanças de emprego e menor renda, doenças
e mudanças de estado civil (Mammen et al., 2009). Alexandre et al.
(2009) verificaram que melhor situação financeira amplia a autonomia
das pessoas com relação às suas escolhas de lazer, acesso a bens e
serviços, relacionamentos e arranjos familiares, o que contribui para
melhor qualidade de vida.
Em relação às morbidades e ao uso de medicamento, o estudo
verif icou uma prevalência de morbidade relativamente alta na
população investigada (40,0%), bem como de uso de medicamento
(40,3%). Barcellos et al. (2002) consideram a doença uma manifestação
do indivíduo. A situação de saúde é uma manifestação do lugar,
resultado de uma acumulação de situações históricas, ambientais e
sociais que promovem condições particulares para a produção de
doenças.
145
Neste estudo, os homens apresentaram melhor desempenho em
relação às mulheres, principalmente nos aspectos de saúde mental e
vitalidade do SF-36. Ser mais jovem foi associado estatist icamente a
melhores capacidade funcional, estado geral de saúde e vitalidade.
Além das variáveis idade e sexo, as categorias não ter união estável,
cor/etnia branca, não ser tabagista, maior renda, maior quantidade de
horas de trabalho semanal, não ter problemas de saúde e não fazer uso
de medicamento indicaram associações com melhores domínios de
qualidade de vida e aspectos relacionados ao estado de saúde da
população rural.
Ao excluir as variáveis-problemas de saúde e uso de medicação
do modelo de regressão, na estratif icação por sexo, as variáveis idade,
estado civil, renda e alcoolismo apontaram associações estatísticas
com o domínio estado geral de saúde . Não ter companheiro e menor
idade apresentaram associações com este domínio entre as mulheres e
não ser alcoolista e maior renda, entre os homens. Menor nível de
escolaridade esteve associado negativamente à capacidade funcional
entre as mulheres.
Faker (2009) apontou idades entre 20 e 29 anos como tendo
melhor avaliação nos domínios estado geral de saúde e aspecto social
entre cortadores de cana em Nova Andradinha (MS), em 2008. O autor
destacou, ainda, os tabagistas como tendo pior avaliação nos domínios
vitalidade, aspecto social, emocional e saúde mental em relação aos
146
que não fumam. Para Faker (2009), pessoas que trabalhavam no corte
de cana há um ano apresentaram pior desempenho nos domínios
aspecto físico, social, dor, vitalidade e saúde mental quando
comparadas com as que trabalhavam há mais de quatro anos.
Não foram verificadas, neste trabalho, associações entre
exposição e intoxicação por agrotóxicos e os domínios de QV. Contudo,
entre a população feminina, o trabalho no âmbito rural apresentou
associação estatisticamente significativa com domínio dor. O estudo
também apontou associação estatíst ica entre trabalho rural e os
domínios de capacidade funcional e aspecto emocional e ter trabalhado
na agricultura e saúde mental e vitalidade, entre os homens.
Sena et al. (2013) apontaram associação entre trabalhadores
expostos a agrotóxicos e menores escores dos domínios dor e
vitalidade e maior dif iculdade nas relações sociais. Para estes autores,
trabalhadores expostos a agrotóxicos apresentaram associações
significativamente inferiores em todos os domínios de QV em relação
aos não expostos, com exceção da capacidade funcional.
Os estudos de Sabbah et al.(2003), com população urbana e rural
no Líbano, em 2000, apontaram associações entre os domínios do SF -
36 e variáveis categóricas como idade, sexo feminino, estado civil
(casado), menor renda, morbidade, bem como satisfação com o
trabalho. Para estes autores, as mulheres apresentaram piores
147
desempenhos em relação à capacidade funcional, aspecto físico, dor,
estado geral de saúde e vitalidade em relação aos homens.
Para Lebrão e Laurenti (2003), o estado de saúde de um indivíduo
está diretamente relacionado à baixa qualidade de vida, influenciados
pelo gênero, escolaridade, idade, condição econômica e presença de
incapacidade, além das doenças crônicas, principalmente nas mulheres.
Szwarcwald et al. (2005) destacam que os indicadores de saúde
variam de acordo com fatores sociais desfavoráveis aos grupos de
níveis socioeconômicos mais baixos: renda, escolaridade, ocupação ou
classe social. Dachs (2002) acrescenta, também, características
geográficas (áreas urbanas e rurais), cor/etnia e sexo como variáveis
de determinação de estado de saúde.
Avaliar qualidade de vida em comunidade rural a partir de
questões baseadas em população urbana, segundo Liu et al. (2010),
pode levar a erros na interpretação de resultados, em relação aos que
vivem em áreas rurais. Para estes autores, é difícil determinar como as
características de nível de educação e circunstâncias de vida afetam as
propriedades psicométricas. Por outro lado, o estado de saúde
relacionado à qualidade de vida mede a saúde percebida e diferentes
valores de autoavaliação têm sido frequentemente encontrados entre o
urbano e o rural (Liu et al., 2010).
148
CONCLUSÃO
Os resultados apontaram as contribuições e influências de
variáveis demográficas e socioeconômicas (idade, sexo, estado civil,
escolaridade, cor/etnia, renda, trabalho rural), condições de trabalho e
tipo de posse da propriedade, alcoolismo, tabagismo, condição de
saúde e doença e uso de medicação no desempenho dos domínios de
qualidade de vida e, consequentemente, sobre o estado de saúde da
população rural.
Estes resultados identificam a necessidade de políticas públicas
que garantam aos residentes de comunidades rurais o acesso a
serviços de saúde, à promoção de saúde e prevenção de doenças
(alcoolismo, tabagismo e outras morbidades), além de melhor nível de
escolaridade, melhores condições de trabalho e de renda, no intuito de
contribuir para redução da desigualdade social, da melhoria da
qualidade de vida e estado de saúde da população no campo.
149
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154
Tabela 1 – Características demográficas, socioeconômicas e de
condições de saúde dos residentes dos bairros rurais: Laranjal,
Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.
VARIÁVEIS n = 355 %
Idade (anos)
18 – 30 128 36,1
31 – 40 91 25,6
41 – 50 57 16,1
51 – 60 49 13,8
61 – 81 30 8,4
Sexo
Masculino 126 35,5
Feminino 229 64,5
Cor/Etnia
Branca 204 57,5
Preta/Parda 139 39,1
Amarelo 12 3,4
Estado Civil
Casado/amasiado 249 70,3
Solteiro/Separado/divorciado/viúvo 105 29,7
Escolaridade (anos concluídos)
Não estudou 28 7,9
1 – 4 137 38,6
155
5 – 8 92 25,9
9 – 10 27 7,6
≥ 11 71 20,0
Renda mensal (em R$)
≤ 1 SM * 162 47,4
> 1 ≤ 2 SM 136 39,8
< 2 ≤ 3 SM 33 9,6
> 3 ≤ 5,5 SM 11 3,2
Ocupação
Desempregado 119 33,5
Empregado com registro 148 41,7
Empregado sem registro 88 24,8
Trabalhador rural 108 30,4
Trabalhou na agricultura 255 72,2
Usa agrotóxico no processo de
trabalho
48 13,5
Refere intoxicação por agrotóxico 44 12,4
Alcoolismo 68 19,1
Tabagismo 72 20,3
Tem problema de saúde 142 40,0
Faz uso de medicamento 143 40,3
* SM = Salário mínimo (R$ 545,00, em 2011).
156
Tabela 2 – Estatística descritiva de características demográficas e
socioeconômicas dos residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira,
Ponte Alta e Rio Abaixo, em Atibaia/SP – Brasil, 2011.
VARIÁVEIS Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máxima
Idade 38,3 35,0 14,9 18 81
Escolaridade (anos concluídos) 5,8 5,0 3,6 0 13
Renda mensal (R$) 619,20 560,00 483,5 0,00 3.000,00
Carga horária de trabalho semanal 40,6 44,0 13,8 0 90
Quanto tempo tem problema (anos) 10,3 6,0 10,8 0 69
Quanto tempo usa medicamento (anos) 6,8 5,0 7,6 0 40
157
Tabela 3 – Estatística descritiva dos domínios do SF-36 entre os
residentes rurais dos bairros: Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio
Abaixo, em Atibaia/SP, 2011.
DOMINIOS SF-36 n Média Mediana Desvio Padrão Mínimo Máximo
Aspecto físico 355 81,3 100,0 32,1 0,0 100,0
Aspecto emocional 355 83,8 100,0 31,8 0,0 100,0
Aspecto social 355 87,7 100,0 18,7 12,5 100,0
Capacidade funcional 355 84,4 95,0 22,5 0,0 100,0
Dor 355 75,3 74,0 23,6 0,0 100,0
Estado de saúde geral 355 73,1 77,0 19,7 12,0 100,0
Saúde mental 355 76,2 80,0 21,0 4,0 100,0
Vitalidade 355 73,6 75,0 20,7 0,0 100,0
158
Tabela 4 – Regressão linear múltipla de variáveis que influenciam nos aspectos do estado de saúde e na
qualidade de vida avaliada pelo SF-36.
VARIAVEIS
SF-36
CF AF AS AE DOR EGS SM VI
β p R21 R
2
2
β p R21 R
22 β p R
2 1 R
22 β p R
21 R
2 2 β p R
21 R
22 β P R
21 R
2 2 β p R
21 R
22 β p R
21 R
22
Idade - 1.5 0,000 0,05 0,27 – – – – – – – – – – – – – – – – - 0,8 0,039 0,02 0,06 – – – – -1,2 0,003 0,03 0,09
Sexo: masculino x
feminino
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 45,2 0,000 0,04 0,08 41,0 0,000 0,04 0,09
Estado Civil: c/comp x
s/comp
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –29,2 0,027 0,02 0,06 – – – – – – – –
Cor/etnia 0,03 0,27 0,04 0,16 0,03 0,06 0,04 0,13 – – – – – – – – – – – – 0,02 0,09
Branca x Preta/Parda 30,7 0,003 31,2 0,001
29.7 0,007 0,06 31,8 0,000 0,13 – – – – – – – – – – – – 28,9 0,017 0,09
Amarela x Preta/Parda 61,1 0,026 55,5 0,026 0,4 0,988 0,06 40,3 0,088 0,13 – – – – – – – – – – – – 26,6 0,395 0,09
Tabagismo (sim x não) – – – – – – – – – – – – -22,4 0,043 0,02 0,13 – – – – – – – – – – – – – – – –
Renda – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 15,6 0,022 0,02 0,06 – – – – – – – –
Quantidade de horas de
trabalho semanal
0,7 0,002 0,03 0,27 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
Problema saúde (sim x
não)
-42,0 0,000 0,15 0,27 - 62,0 <0,000 0,12 0,16 - 30,4 0,005 0,03 0,06 -42,0 <0,000 0,07 0,13 -32,8 0,014 0,05 0,07 – – – – -42,3 0,000 0,04 0,08 – – – –
Uso medicamento (sim x
não)
-29,9 0,012 0,01 0,27 – – – – – – – – – – – – -30,4 0,024 0,02 0,07 – – – – – – – – – – – –
Domínios do SF-36: Capacidade Funcional = CF, Aspecto Físico = AF, Aspecto Social = AS, Aspecto Emocional = AE, Estado
Geral de Saúde = EGS, Saúde Mental = SM, Vitalidade = VI.
R21 = R2 parcial – proporção da variabilidade da resposta explicada exclusivamente pelo preditor em questão.
R22 = R2 modelo – proporção de explicação da variável dependente pela variação das variáveis independentes que ficaram no
modelo.
159
Tabela 5 – Regressão linear múltipla de variáveis que influenciam nos aspectos do estado de saúde e
qualidade de vida avaliada pelo SF-36, por sexo.
VARIAVEIS
SF-36
CF AF AS AE DOR EGS SM VI
β p R21 R
22 Β p R
21 R
22 β p R
21 R
22 Β p R
21 R
22 β p R
21 R
22 β P R
21 R
22 β p R
21 R
22 β p R
21 R
22
FEMININO
Idade – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – - 0,8 0,026 0,03 0,06 – – – – – – – –
Cor/etnia: branca x não branca – – – – 17,7 0,026 0,02 0,12 – – – – 22,9 0,002 0,05 0.14 – – – – – – – – – – – – – – – –
Escolaridade (ano concluído) 3,9 0,001 0,04 0,23 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
Estado civil: c/ comp x s/com – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – - 25,1 0,027 0,03 0,06 – – – – – – – –
Trabalhador rural (sim x não) – – – – – – – – – – – – – – – – -22,3 0,034 0,03 0,11 – – – – – – – – – – – –
Renda – – – – – – – – – – – – -13,5 0,023 0,03 0,14 – – – – – – – – – – – – – – – –
Problema de saúde (sim x não) - 37,2 <0,001 0,16 0,23 - 34,7 <0,001 0,10 0,12 – – – – -27,0 <0,001 0,06 0,14 -24,7 0,023 0,06 0,11 – – – – – – – – – – – –
Uso medicamento (sim x não) - 22,5 0,019 0,03 0,23 – – – – - 21,9 0,015 0,04 0,04 – – – – -22,1 0,038 0,02 0,11 – – – – - 35,3 <0,001 0,07 0,07 - 29,5 0,002 0,05 0,05
MASCULINO
Idade - 0,7 <0,001 0,22 0,40 – – – – – – – – – – – – - 0,5 0,015 0,06 0,06 – – – – – – – – – – – –
Cor/etnia: branca x não branca 15,8 0,004 0,6 0,40 – – – – 12,8 0,038 0,04 0,11 – – – – – – – – – – – – – – – – 14,4 0,029 0,04 0,22
Alcoolismo (sim x não) – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – - 14,5 0,041 0,04 0,08 – – – – – – – –
Trabalhador rural (sim x não) 16,7 0,002 0,7 0,40 – – – – – – – – 14,8 0,006 0,07 0,15 – – – – – – – – – – – – – – – –
Trabalhou agricultura (sim X
não)
– – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – - 22,1 0,011 0,06 0,13 - 20,9 0,005 0,06 0,22
Renda – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 7,3 0,037 0,04 0,08 – – – – – – – –
Carga horária trabalho semana – – – – – – – – 0,4 0,017 0,07 0,11 – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
Propriedade – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 0,07 0,13 – – – –
Própria x Alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 2,7 0,781 – 0,13 – – – –
Cedida x Alugada/arrendada – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – 27,0 0,008 – 0,13 – – – –
Problema de saúde (s im X não) -17,3 0,003 0,5 0,40 - 24,6 <0,001 0,17 0,17 – – – – - 15,5 0,003 0,08 0,15 – – – – – – – – – – – – - 24,0 <0,001 0,12 0,22
SF-36: Capacidade Funcional = CF, Aspecto Físico = AF, Aspecto Social = AS, Aspecto Emocional = AE, Estado Geral de
Saúde = EGS, Saúde Mental = SM, Vitalidade = VI.
R21 = R2 parcial – proporção da variabilidade da resposta explicada exclusivamente pelo preditor em questão.
R22 = R2 modelo – proporção de explicação da variável dependente pela variação das variáveis independentes que ficaram no
modelo.
160
161
5. DISCUSSÃO
Este trabalho se propõe a discutir questões sobre a realidade de
residentes em áreas rurais, em um contexto brasileiro, a partir de
fatores demográficos, socioeconômicos, condições de trabalho,
tabagismo, alcoolismo, morbidade e dos resultados sobre qualidade de
vida, qualidade de vida relacionada ao estado de saúde e transtornos
mentais comuns (TMC) que acometem a população do campo.
Os aspectos de qualidade de vida, qualidade de vida relacionada
ao estado de saúde e transtornos mentais comuns (TMC) de uma
população podem ser avaliados a partir de instrumentos específicos
como o WHOQOL-Bref, o SF-36 e o SRQ-20, respectivamente,
associados às variáveis demográficas e socioeconômicas desta
população (Darviri et al., 2012; Nakimuli-Mpungu et al., 2012; Carlotto
et al., 2011; Giang et al. , 2010; Faker, 2009; Fleck, 2008a; Marín-León
et al., 2007b; Borders et al., 2004; Ciconel li et al., 1999, The WHOQOL
Group, 1995).
Os resultados deste estudo apontaram idade, sexo, cor/etnia,
estado civil, escolaridade, tipo de posse de propriedade (residência),
renda, carga horária de trabalho semanal, trabalho rural, ter trabalhado
na agricultura, autorreferência à intoxicação por agrotóxicos,
alcoolismo, tabagismo, queixas de problemas de saúde e fazer uso de
medicamento como associados estatisticamente com domínios de
162
qualidade de vida, de qualidade de vida relacionada ao estado de saúde
e com TMC, entre residentes de áreas rurais.
A variável idade esteve associada com os domínios capacidade
funcional, estado geral de saúde e vitalidade (SF-36) e com os
domínios físico e social do WHOQOL-Bref, além de estar associada,
ainda, à TMC. Quanto menor a idade, melhor é a qualidade de vida e
menor são as chances de desenvolvimento de TMC entre os residentes
rurais.
Faker (2009), em 2008, também identificou idades entre 20 e 29
anos como tendo melhor desempenho no estado geral de saúde entre
população rural de Mato Grosso do Sul, quando comparadas com
maiores de 40 anos. No entanto, pessoas mais velhas tendem a
procurar momentos de confraternização e diversão com os amigos, ao
contrário dos mais jovens.
Em relação à variável sexo, ser do sexo masculino mostrou
associação com os domínios físico e psicológico do WHOQOL-Bref, com
os domínios saúde mental e vitalidade do SF-36 e TMC do SRQ-20. As
mulheres apresentaram maior razão de chance (RC) para TMC, bem
como pior avaliação nos domínios da qualidade de vida.
Em estudos sobre TMC e QV de jovens de áreas urbanas de
Pelotas (RS), Jansen et al. (2011) identif icaram as mulheres com
escores menores em sete domínios do SF-36. Pereira et al. (2011),
entre idosos, em Teixeiras e Zona da Mata de Minas Gerais, também
163
encontraram associação entre sexo feminino e baixos escores no
domínio ambiental e, ainda, o uso de medicamento como variável
associada a baixos escores no domínio psicológico do WHOQOL-Bref.
Ser branco esteve associado com os domínios capacidade
funcional, aspecto físico, aspecto social, aspecto emocional e
vitalidade, enquanto ser de cor/etnia amarela apresentou associação
com os domínios capacidade funcional e aspecto físico do SF-36,
quando comparadas com cor/etnia preta/parda. Ser branco é um fator
de proteção para aspectos da qualidade de vida e melhor estado de
saúde. Esta associação também foi apontada em relação à presença de
TMC entre os homens (domínios capacidade funcional, aspecto social e
vitalidade) e entre as mulheres (domínios aspectos físico e emocional),
quando estratificada por sexo. Homens não brancos apresentaram
maior razão de chance de desenvolver TMC em relação aos brancos.
Os estudos de Farias e Araújo (2011), em Feira de Santana, com
trabalhadores urbanos, e de Gureje et al. (2007), na Nigéria, com
idosos, apontaram maior prevalência de TMC, bem como transtorno de
humor, depressivos e de ansiedade entre pessoas de cor/etnia
preta/parda. Estes autores identificaram fatores como pobreza, baixa
escolaridade e renda, desemprego, sexo feminino, idade avançada e
ser divorciado, separado e viúvo como apresentando maior chance de
desenvolver TMC.
164
Em relação à escolaridade, os resultados apresentaram
associação estatística com o domínio psicológico do WHOQOL-Bref e
com capacidade funcional do SF-36 e TMC. O baixo nível de
escolaridade apontou associação com presença de TCM, bem como
com pior desempenho do domínio psicológico do WHOQOL-Bref e
capacidade funcional do SF-36 entre as mulheres. Farias e Araújo
(2011) e Marín-León et al. (2007b) também identificaram associação
entre baixa escolaridade e presença de TCM em seus estudos, em
áreas urbanas.
No presente trabalho, também foram apontadas influências de
variáveis como estado civil, renda e tipo de propriedade (moradia),
associadas aos domínios social, ambiental e psicológico (entre os
homens), do WHOQOL-Bref e estado geral de saúde e saúde mental
(entre os homens), do SF-36. Quanto maior a renda, melhor a qualidade
de vida e o estado de saúde da população de estudo. Indicadores de
saúde, segundo Szwarcwald et al. (2005), podem ser influenciados,
quando observados a partir de fatores socioeonômicos desfavoráveis
como: baixa renda, escolaridade, ocupação ou classe social .
Corroborando, Dachs (2002) acrescenta características geográficas
(áreas urbanas e rurais), cor/etnia e sexo como variáveis de
determinação de estado de saúde.
Minayo et al. (2000), por sua vez, sugerem renda, educação e
saúde como atributos da expressão das capacidades humanas. Para
165
estes autores, tais variáveis estão relacionadas com o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH). Neste sentido, Lebrão e Laurenti
(2003) asseguram que o estado de saúde de um indivíduo está
relacionado à baixa qualidade de vida, influenciados pelo gênero,
escolaridade, idade, condição econômica, presença de incapacidade e
doenças crônicas, principalmente nas mulheres.
A situação ocupacional desempenhada no campo também pode
ter influência na qualidade de vida e no estado de saúde dos
residentes. Ser trabalhador rural mostrou associação com pior
desempenho no domínio dor (SF-36) entre as mulheres. Trabalho rural
e ter trabalhado na agricultura apresentaram associações com
capacidade funcional, aspecto emocional, saúde mental e vitalidade
(SF-36) e domínio psicológico (WHOQOL-Bref), entre os homens.
A quantidade de horas de trabalho semanal também mostrou
associação com capacidade funcional (SF-36) e domínio social
(WHOQOL-Bref) entre os homens. Quanto maior a quantidade de horas
de trabalho, maior a capacidade funcional do indivíduo e melhor o
desempenho no domínio social. Menor quantidade de horas de semanal
indicou maior chance de TMC entre a população masculina. Faker
(2009) identificou que pessoas que trabalhavam no corte de cana há um
ano apresentavam piores desempenhos em relação aos domínios de
aspecto físico, social, dor, vitalidade e saúde mental, quando
comparadas com as que trabalhavam há mais de quatro anos.
166
Os resultados do presente estudo mostraram que a intoxicação
prévia por agrotóxico aumenta as chances para TMC em 5,5 vezes,
entre os homens, e 2,5 vezes, entre a amostra. Embora ainda limitada,
a literatura, nacional e internacional, também aponta associações entre
TMC e intoxicação por agrotóxico no contexto rural (Baldi et al., 2001;
Faria et al., 1999).
Poletto (2009), em Ituporanga (SC), verif icou maior prevalência de
TMC associada ao uso de agrotóxico no processo de trabalho e entre
pessoas que tiveram intoxicação por agrotóxico na família. Levigard e
Rozemberg (2004) identificaram, em 2000, a associação entre queixas
dos ‘nervos’ (irritabilidade, insônia, depressão etc.) e intoxicação por
agrotóxico no discurso dos profissionais de saúde de área rural, em
Nova Friburgo, Rio de Janeiro.
O percentual dos que mencionaram ter se sentido mal durante a
aplicação de defensivo agrícola na lavoura (14,9%), neste estudo, foi
superior aos verif icados por Faria (2005), com trabalhadores rurais, na
Serra Gaúcha (RS) e Soares et al. (2005), em Teresópolis (RJ).
Observa-se distinção quanto à percepção do trabalhador rural em
relação à intoxicação, o sentir-se mal durante a aplicação e a exposição
a agrotóxico. O trabalhador mostra perceber e/ou sentir a intoxicação
quando esta ocorre de forma aguda, havendo a necessidade de
cuidados médicos ou internação, além da presença de maiores sinais e
sintomas (Paz de Lima, 2009, 2008). Para Singer et al. (1978), a
167
doença é percebido pelo indivíduo quando os sinais e sintomas são
reconhecidos socialmente como indicadores de enfermidades.
Câmara e Tambellini (2003) atribuem a dif iculdade de diagnosticar
as intoxicações por produtos químicos ao fato de não haver um quadro
clínico clássico para a maioria das substâncias químicas. As exposições
costumam ser múltiplas e associadas a diferentes sinais e sintomas,
podendo o indivíduo ser atingido por várias substâncias qu ímicas e ser
lesado da mesma forma se fosse exposto a uma única substância.
Intoxicações e mortes por agrotóxicos, no contexto rural
brasileiro, são problemas de saúde pública e que necessitam de maior
atenção do poder público, no intuito de preveni -las. Em 2009, o Sistema
Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (SINITOX), do
Ministério da Saúde (Brasil, 2011), registrou 171 óbitos e 5.253 casos
de intoxicação por agrotóxicos de uso agrícola. As intoxicações e
mortes por envenenamento por agrotóxico, no campo, não se
restringem apenas ao setor rural do Brasil. Estudos têm apontado maior
taxa de suicídio em populações rurais, na Austrália, em relação à
população urbana (Handley et al., 2012).
Phillips el al. (2009) verif icaram que população de comunidade
rural é mais propensa a ter transtornos depressivos e ser dependente
de álcool, quando comparada à população urbana. Patel et al. (2007)
encontraram maior prevalência de distúrbios mentais entre pessoas de
áreas rurais, em Moçambique. Somando-se à maior prevalência de
168
transtornos mentais no campo, destaca-se, ainda, segundo Rohrer et al.
(2005), menor oferta de serviços de saúde mental em áreas rurais em
relação às urbanas. É provável que a ausência de programas de
promoção, tratamento e prevenção de saúde mental no campo
contribuam para maior taxa de TMC entre a população rural.
Tsai et al. (2004), em Taiwan, compararam o estado de saúde das
populações urbana e rural. Os resultados foram melhores em sete das
oito escalas do SF-36 na população urbana, quando comparada com a
rural. As mulheres apresentaram menores escores que os homens em
todas as escalas do SF-36, exceto para o funcionamento social. Para os
autores, o fato de o indivíduo ter uma doença crônica pode contribuir
para pior pontuação nos aspectos de saúde.
Martins et al. (2007), avaliando QV de idosos de áreas urbana e
rural, na Paraíba, verificaram maiores pontuações nos domínios social e
psicológico da população rural em relação à urbana, enquanto os
domínios físico e meio ambiente foram melhores entre idosos urbanos.
Os autores não identificaram diferenças na QV em relação ao gênero e
ao tipo de áreas (urbana e rural). Alencar et al. (2010) também não
constataram diferenças na QV entre mulheres idosas residentes em
ambientes rurais e urbanos de Juazeiro do Norte e Crato, no Ceará.
Darviri et al. (2012), estudando população rural na Grécia,
alertam que fatores como idade, sexo feminino e baixa escolaridade
podem contribuir negativamente na autoavaliação da saúde. Para
169
Mammen et al. (2009), nos EUA, as variáveis sexo, idade, grau de
instrução, estado civil, situação financeira, satisfação com o trabalho,
percepção de QV e morbidade tiveram maior efeito sobre a qualidade
de vida entre mulheres de áreas rurais,.
Neste estudo, referências a morbidades (hipertensão, diabetes,
colesterol, dores lombares, dores de cabeça, problemas pulmonares,
cardíacos e psicoemocionais etc.) e o uso de medicação apresentaram
associações com piores desempenhos nos domínios físico, psicológico
e social (WHOQOL-Bref) e capacidade funcional , aspecto físico, social,
emocional, dor e saúde mental (SF-36) e maiores chances de
desenvolver TMC. Nos estudos de Rėklaitienė et al. (2008), em
comunidade rural na Lituânia, os homens pontuaram mais nos domínios
físico e psicológico. Tay et al. (2004), estudando população rural na
Irlanda, assim como Hoi et al. (2010), no Vietnã e Zhou et al. (2010), na
China, defendem que fatores sociodemográficos e estilo de vida podem
explicar as diferenças entre homens e mulheres nas dimensões de QV.
Pinheiro et al. (2002), analisando o perfil de morbidades da
população brasileira, com exceção da população rural dos Estados da
Região Norte, destacam que o percentual de pessoas com queixas de
problemas de saúde varia em função do indicador analisado, sendo
maior entre as mulheres do que entre os homens. As diferenças entre
eles se estreitam a partir dos 65 anos, mas variam com a situação de
moradia urbana ou rural.
170
Vital et al. (2012) associaram baixo nível de qualidade de vida no
trabalho, entre trabalhadores rurais de Pedra Grande/RN, a fatores
como condições de trabalho, relação interpessoal entre os
trabalhadores, alto nível de preocupação com o estado saúde e,
principalmente, renda, falta de reconhecimento pelo trabalho realizado
e idade.
Neste sentido, Barcellos (2002) considera a doença uma
manifestação do indivíduo. Portanto, a situação de saúde é uma
manifestação do lugar. Os lugares são resultados de uma acumulação
de situações históricas, ambientais e sociais que promovem condições
particulares para a produção de doenças. Uma das questões
importantes para o diagnóstico de situações de saúde, nesse sentido, é
o desenvolvimento de indicadores capazes de detectar e refletir
condições de risco à saúde como consequência das condições
ambientais e sociais adversas. Pessoas e áreas com pior nível
socioeconômico apresentam piores condições de saúde.
No entendimento de Singer et al. (1978).
... Nas classes mais desfavorecidas, as imposições
econômicas e a vida do dia-a-dia tornam muito dif ícil o
abandono do trabalho [abandono no sentido de
afastamento do trabalho para tratamento de saúde, grifo
nosso]. Esta impossibilidade inibe a expressão das
sensações físicas e a percepção de sintomas
171
anunciadores da doença. Esta menor escuta do corpo
está ligada à sua utilização mais intensiva. Eis porque a
doença será para eles um fenômeno brutal que torna
impossível a atividade cotidiana (Singer et al., 1978 p.
72-73).
172
173
6. CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo apontaram associação
estatisticamente significativa entre variáveis socioeconômicas e
demográficas (sexo, idade, cor/etnia, estado civil, escolaridade, renda,
trabalho rural, carga horária de trabalho semanal, tipo de moradia e de
posse da propriedade), tabagismo, alcoolismo, autorreferência à
intoxicação por agrotóxicos, problemas de saúde e uso de medicamento
com os domínios de avaliação de qualidade de vida, qualidade de vida
relacionada à saúde e transtornos mentais entre a população rural.
As variáveis idade, sexo, cor/etnia, escolaridade, carga horária
(quantidade de horas) de trabalho semanal e problemas de saúde
apresentaram associações estatísticas significativas,
concomitantemente, nos três instrumentos adotados neste trabalho
(WHOQOL-Bref, SF-36 e SRQ-20), cujos objetivos foram avaliar a
qualidade de vida, qualidade de vida relacionadas aos aspectos do
estado de saúde e transtornos mentais comuns em contexto rural. Tais
variáveis mostraram contribuições e influências para aspectos de
saúde, de saúde mental e para a qualidade de vida rural. A
autorreferência à intoxicação por agrotóxico indicou associação com
maior chance de desenvolver TMC entre a população de estudo.
A partir dos resultados, considera-se que o acesso à educação e
a serviços de saúde de qualidade são condições fundamentais para a
174
melhoria da qualidade de vida, da qualidade de vida relacionada à
saúde, da saúde mental e para o exercício pleno da cidadania.
Entende-se que o baixo nível de escolaridade da população rural tem se
apresentado como um grande entrave ao mercado de trabalho e ao uso
adequado das novas tecnologias.
Maior nível de escolaridade e de renda, além de melhores
condições de trabalho e de moradia e capitação de mão de obra da
população rural, poderiam contribuir para melhorar a qualidade de vida,
a saúde física e mental e o desenvolvimento no campo.
São urgentes, e também necessárias, a capacitação da mão de
obra no campo, bem como polí ticas públicas que visem à prevenção de
intoxicação e mortes no campo por exposição a agrotóxicos.
Deve-se considerar as limitações desta pesquisa. Por ser tratar
de um estudo de caráter transversal, não é possível determinar ou
apontar as relações de causas e efeitos em relação aos resultados
apontados. Neste tipo de estudo, é possível apontar apenas as
associações entre os domínios de avaliação de qualidade de vida, dos
aspectos do estado de saúde e suspeitas de transtornos mentais
comuns (TMC) na população rural de estudos e as variáveis
socioeconômicas e demográficas, entre outras .
Por se tratar ainda de um estudo local, é importante salientar que
os resultados não podem ser generalizados para população rural
175
brasileira. No entanto, podem contribuir para formulação de políticas
públicas de saúde voltadas à população rural.
176
177
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202
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APÊNDICES
PERMISSÃO DA REVISTA INTERFACES CIENTÍFICAS – SAÚDE
AMBIENTE PARA INSERÇÃO DE ARTIGO NA TESE
204
Paz de Lima, Paulo Junior; Oliveira, Helenice Bosco. Avaliação da qualidade de vida de residentes em áreas rurais. Revista Interfaces Científicas – Saúde e Ambiente. 2014, 2(3):9-12.
205
206
207
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ANEXOS
ANEXO I – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
ANEXO II – TERMO DE RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR
ANEXO III – QUESTIONÁRIO: SOCIODEMOGRÁFICO E CONDIÇÕES DE TRABALHO
ANEXO IV – WHOQOL ABREVIADO (WHOQOL BREF)
ANEXO V – SELF REPORT QUESTIONNAIRE (SRQ) – SRQ-20
ANEXO VI – QUESTIONÁRIO CAGE
ANEXO VII – QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA – SF-36
220
221
ANEXO I
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – TCLE
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido dos voluntários que participarão do Projeto
de Pesquisa: “Avaliação da qualidade de vida de residentes em área rural no
município de Atibaia/SP”.
Responsável pelo projeto: Paulo Junior Paz de Lima – Doutorando em Saúde Coletiva –
FCM/UNICAMP.
Orientadora: Profa. Dra. Helenice Bosco de Oliveira
Local de Desenvolvimento do Projeto: Bairros de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio
Abaixo, no município de Atibaia, no interior do Estado de São Paulo em parceria com a
Faculdade de Ciências Médicas, vinculado ao Programa de Pós-Graduação da
FCM/UNICAMP.
Eu,_________________________________________, RG_______________, ____ anos
de idade, residente à ___________________________________, voluntariamente
concordo em participar do projeto de pesquisa acima mencionado, que será detalhado a
seguir, e sabendo que para a sua realização as despesas monetárias serão de
responsabilidade do pesquisador.
É de meu conhecimento que este projeto será desenvolvido em caráter de pesquisa
científica e objetiva avaliar a qualidade de vida dos residentes em áreas rurais dos bairros
de Laranjal, Pedreira, Ponte Alta e Rio Abaixo, de Atibaia/SP. A avaliação será realizada a
partir de um questionário formado por questões semi-estruturadas e pelos instrumentos
de analise de qualidade de vida: WHOQOL-Bref; SF-36; saúde mental: SRQ-20; hábito de
alcoolismo: CAGE.
Estou ciente ainda, de que, as informações obtidas durante as avaliações serão mantidas
em sigilo e não poderão ser consultadas por pessoas leigas, sem a minha devida
autorização. Esses dados coletados, no entanto, poderão ser usados para fins de
pesquisa científica, desde que a minha privacidade seja totalmente resguardada.
222
Comprometo-me, na medida das minhas possibilidades, responder os questionários da
melhor forma possível a fim de colaborar para um bom desempenho do trabalho científico
do responsável por este projeto.
Estou ciente também que poderei abandonar a pesquisa a qualquer tempo sem ter
nenhum prejuízo, e, caso ocorram danos decorrentes desta pesquisa, terei meus direitos
assegurados diante do item IV da Resolução 196/96. Em caso de dúvidas ou denúncias,
as mesmas poderão ser esclarecidas através dos telefones abaixo relacionados.
Li e entendi as informações precedentes, sendo que eu e o responsável pelo projeto já
discutimos todos os riscos e benefícios decorrentes deste, onde as dúvidas futuras que
possam vir a ocorrer poderão ser prontamente esclarecidas, bem como o
acompanhamento dos resultados.
Assim, estando de acordo com estes termos relacionados, me proponho a contribuir para
esta pesquisa a partir de minha assinatura abaixo firmada.
CAMPINAS, _____ de ______________________ de 2011.
_____________________________________
VOLUNTÁRIO (A)
______________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Helenice Bosco de
Oliveira
Telefone de contato: (19) 3521-8036
SCPG – Saúde Coletiva/Unicamp
_______________________________
Pesquisador: Paulo Junior Paz de Lima
Doutorando em Saúde Coletiva –
FCM/UNICAMP
Contatos: (11) 3361-5642/9317-4685
Comitê de Ética/Informações ou Denúncias Fone: (19) 3521-8936
223
ANEXO II
TERMO DE RESPONSABILIDADE DO PESQUISADOR
Eu, Paulo Junior Paz de Lima – Doutorando em Saúde Coletiva – FCM/UNICAMP,
pesquisador responsável pelo projeto de pesquisa intitulado: “Avaliação da qualidade de
vida de residentes em área rural no município de Atibaia/SP” assumo a
responsabilidade de comunicar imediatamente a Faculdade de Ciência Médicas –
Universidade Estadual de Campinas – FCM/UNICAMP (e demais Instituições envolvidas)
e ao patrocinador (se houver, informar qual patrocinador) toda e qualquer complicação
ocorrida durante a realização do referido projeto que coloque em risco o voluntário ou
bens incluídos neste trabalho de pesquisa.
Responsabilizo-me, igualmente, a acompanhar as diligências necessárias à imediata e
integral assistência aos voluntários participantes ou à reposição ou restauração de bens
eventualmente danificados durante a pesquisa.
CAMPINAS, ______ de ________________________ de 2011.
__________________________________
Pesquisador: Paulo Junior Paz de Lima
Doutorando em Saúde Coletiva –
FCM/UNICAMP
Contatos: (11) 3361-5642 / 9317-4685
_________________________________________
Orientadora: Profa. Dra. Helenice Bosco de Oliveira
Telefone de contato: (19) 3521-8036
SCPG – Saúde Coletiva/Unicamp
Comitê de Ética/ Informações ou Denúncias Fone: (19) 3521-8936
224
225
ANEXO III
QUESTIONÁRIO: SOCIODEMOGRÁFICO E CONDIÇÕES DE TRABALHO
Data da Entrevista: ____ /____ / 2011 No da Entrevista: _______
1. Data de nascimento: ____/____/_____ (dia/mês/ano) 2. Idade: __ anos
3. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
4. Cor/Etnia: ( ) Branca ( ) Preta ( ) Parda ( ) Amarela ( ) Indígena
5. Estado Civil: ( ) Casado ( ) Solteiro ( ) Viúvo ( ) Separado ( ) Outro:_
6. Escolaridade:
( ) Ensino Fundamental _______ anos ( ) Ensino médio __ anos
( ) Ensino médio técnico _______ anos ( ) Superior _____ anos
7. Tempo de escola (em anos): ________________________
8. Fuma atualmente: ( ) Sim ( ) Não
9. Ex-fumante: ( ) Sim ( ) Não Há quanto tempo é ex-fumante? __
10. Tem o hábito de ingerir bebida alcoólica: ( ) Sim ( ) Não
Se sim, responder questionário ANEXO VI – CAGE.
11. Situação ocupacional:
( ) Empregado com registro ( ) Empregado sem registro ( ) Desempregado
12. Renda mensal do entrevistado (em Real): R$ _________________
13. Tipo de moradia/casa: ( ) Alvenaria ( ) Taipa ( ) madeira
14. Propriedade: ( ) Própria ( ) Arrendatário ( ) Alugada ( ) Cedida
15. Trabalhador Rural: ( ) Sim ( ) Não
16. Se trabalhador rural, utiliza algum produto químico (agrotóxico) no processo de
trabalho? ( ) Sim ( ) Não
226
17. Já trabalhou na agricultura: ( ) Sim ( ) Não
18. Horas trabalhadas semanalmente: ______ horas/semanal
19. Tem contato com agrotóxicos: ( ) Sim ( ) Não
20. Se sim, como é esse contato:
( ) Você mora próximo a plantação
( ) Sente o “cheiro” de agrotóxico quando estão aplicando
( ) Faz aplicação de agrotóxicos
( ) Puxa mangueira para outro aplicar
( ) Permanece próximo quando estão aplicando agrotóxico na lavoura
( ) Lava a roupa utilizada para aplicação de agrotóxico
21. Alguma vez já sofreu algum tipo de intoxicação por agrotóxico:
( ) Sim ( ) Não
22. Alguma vez já se sentiu mal durante a aplicação de agrotóxico?
( ) Sim ( ) Não
23. Se sentiu mal, em que momento foi isso?
( ) Quando fazia a aplicação de agrotóxico ( ) Quando puxava a mangueira
( ) Quando passava por perto da aplicação/lavoura ( ) Mora próximo a lavoura
24. Foi ao médico? ( ) Sim ( ) Não
25. Tem algum problema de Saúde? ( ) Sim ( ) Não
26. Se sim, qual o problema? _____________________________________
27. Há quanto tempo tem o problema de saúde? _____________ anos
28. Faz uso de algum tipo de medicamento: ( ) Sim ( ) Não
29. Há quanto tempo utiliza tais medicamentos? ________________ (anos)
227
ANEXO IV
WHOQOL-BREF
INSTRUÇÕES: Este questionário é sobre como você se sente a respeito de sua
qualidade de vida, saúde e outras áreas de sua vida. Por favor, responda todas as
questões. Se você não tem certeza sobre que resposta dar em uma questão, por
favor, escolha entre as alternativas a que lhe parece mais apropriada. Esta, muitas
vezes, poderá ser a sua primeira escolha. Por favor, tenha em mente seus
valores, aspirações, prazeres e preocupações. Nós estamos perguntando o que
você acha da sua vida, tomando com referência às DUAS ÚLTIMAS SEMANAS.
1. Como você avaliaria
sua qualidade de vida?
Muito ruim Ruim Nem ruim
Nem boa
Boa Muito boa
1 2 3 4 5
2. Quão satisfeito você
está com sua
saúde?
Muito
insatisfeito Insatisfeito
Nem
satisfeito
Nem
insatisfeito
Satisfeito Muito
Satisfeito
1 2 3 4 5
As questões seguintes são sobre o quanto você tem sentido algumas coisas nas
últimas DUAS semanas.
Nada
Muito
pouco
Mais ou
Menos Bastante Extremamente
3. Em que medida você acha que
sua dor (física) impede você de
fazer o que você precisa?
1 2 3 4 5
4. Quanto você precisa de algum
tratamento médico para levar
sua vida diária?
1 2 3 4 5
228
5. Quanto você aproveita a vida? 1 2 3 4 5
6. Em que medida você acha que
sua vida tem sentido?
1 2 3 4 5
7. Quanto você consegue se
concentrar?
1 2 3 4 5
8. Quão seguro(a) você se sente
em sua vida diária?
1 2 3 4 5
9. Quão saudável é o seu
ambiente físico (clima, barulho,
poluição, atrativos)?
1 2 3 4 5
As questões seguintes perguntam sobre quão completamente você tem sentido
ou é capaz de fazer certas coisas nestas últimas DUAS semanas.
Nada Muito pouco Médio Muito Completamente
10. Você tem energia suficiente
para seu dia-a- dia? 1 2 3 4 5
11. Você é capaz de aceitar sua
aparência física? 1 2 3 4 5
12. Você tem dinheiro suficiente
para satisfazer suas
necessidades?
1 2 3 4 5
13. Quão disponíveis para você
estão as informações que
precisa no seu dia-a-dia?
1 2 3 4 5
14. Em que medida você tem
oportunidades de atividade
de lazer?
1 2 3 4 5
229
As questões seguintes perguntam sobre quão bem ou satisfeito você se sentiu a
respeito de vários aspectos de sua vida nas últimas DUAS semanas.
Muito
ruim Ruim
Nem ruim
Nem bom Bom Muito bom
15. Quão bem você é capaz
de se locomover? 1 2 3 4 5
Muito
insatisfeito Insatisfeito
Nem
satisfeito
Nem
insatisfeito
Satisfeito Muito
Satisfeito
16. Quão satisfeito(a) você
está com o seu sono?
1 2 3 4 5
17. Quão satisfeito(a) você
está com sua capacidade
de desempenhar as
atividades do seu dia-a-
dia?
1 2 3 4 5
18. Quão satisfeito(a) você
está com sua capacidade
para o trabalho?
1 2 3 4 5
19. Quão satisfeito(a) você
está consigo mesmo?
1 2 3 4 5
20. Quão satisfeito(a) você
está com suas relações
pessoais (amigos,
parentes, conhecidos,
colegas)?
1 2 3 4 5
21. Quão satisfeito(a) você
está com sua vida
sexual?
1 2 3 4 5
22. Quão satisfeito(a) você está
com o apoio que você
1 2 3 4 5
230
recebe de seus amigos?
23. Quão satisfeito(a) você
está com as condições
do local onde mora?
1 2 3 4 5
24. Quão satisfeito(a) você
está com o seu acesso
aos serviços de saúde?
1 2 3 4 5
25. Quão satisfeito(a) você
está com o seu meio de
transporte?
1 2 3 4 5
As questões seguintes referem-se a com que freqüência você sentiu ou
experimentou certas coisas nas últimas DUAS semanas.
Nunca
Algumas
vezes Freqüentemente
Muito
freqüentemente Sempre
26. Com que freqüência
você tem sentimentos
negativos tais como
mau humor,
desespero, ansiedade,
depressão?
1 2 3 4 5
231
ANEXO V
SELF REPORT QUESTIONNAIRE (SRQ) – SRQ-20
1. Tem dores de cabeça freqüentes? 1 – Sim 2 – Não
2. Tem falta de apetite? 1 – Sim 2 – Não
3. Dorme mal? 1 – Sim 2 – Não
4. Assusta-se com facilidade? 1 – Sim 2 – Não
5. Tem tremores de mão? 1 – Sim 2 – Não
6. Sente-se nervoso(a), tenso(a) ou preocupado(a) 1 – Sim 2 – Não
7. Tem má digestão? 1 – Sim 2 – Não
8. Tem dificuldade de pensar com clareza? 1 – Sim 2 – Não
9. Tem se sentido triste ultimamente? 1 – Sim 2 – Não
10. Tem chorado mais do que de costume? 1 – Sim 2 – Não
11. Encontra dificuldades para realizar com satisfação suas atividades diárias?
1 – Sim 2 – Não
12. Tem dificuldades para tomar decisões? 1 – Sim 2 – Não
13. Tem dificuldades no serviço (seu trabalho é penoso, causa sofrimento)?
1 – Sim 2 – Não
14. É incapaz de desempenhar um papel útil em sua vida? 1 – Sim 2 – Não
15. Tem perdido o interesse pelas coisas? 1 – Sim 2 – Não
16. Você se sente uma pessoa inútil, sem préstimo? 1 – Sim 2 – Não
17. Tem tido idéias de acabar com a vida 1 – Sim 2 – Não
18. Sente-se cansado(a) o tempo todo? 1 – Sim 2 – Não
19. Tem sensações desagradáveis no estômago? 1 – Sim 2 – Não
20. Você se cansa com facilidade? 1 – Sim 2 – Não
A – Total de sim |___||___|
21. Sente que tem alguém que de alguma maneira quer lhe fazer mal? 1 – Sim 2 – Não
22. Você é alguém muito mais importante do que a maioria das pessoas pensa?
1 – Sim 2 – Não
23. Tem notado alguma interferência ou outro problema estranho com seu pensamento?
1 – Sim 2 – Não
24. Ouve vozes que não sabe de onde vêm, ou que outras pessoas não podem ouvir?
1 – Sim 2 – Não
B – Total de sim |___||___|
TOTAL A + B |___||___|
232
233
ANEXO VI
CAGE – Cut-down, Annoyed, Guilty e Eye-opener
Screening test for alcohol dependence
Atenção: Este teste só será marcado corretamente se você responder a cada uma
das perguntas.
Por favor, verifique a única resposta para cada item que melhor descreve como
você se sentiu e se comportou durante toda sua vida.
1. Você já sentiu necessidade de parar de beber? 1 – Sim 2 – Não
2. Você já se sentiu chateado por pessoas que
criticam seu hábito de beber?
1 – Sim 2 – Não
3. Você já se sentiu culpado por beber? 1 – Sim 2 – Não
4. Você já bebeu álcool de manhã para acordar? 1 – Sim 2 – Não
Criado por Mayfield e colaboradores (1974) e validado no Brasil por Mansur e Monteiro
(1983).
234
235
ANEXO VII
QUESTIONÁRIO DE QUALIDADE DE VIDA – SF-36
Instruções: Estas informações nos manterão informados de como você se sente
e quão bem você é capaz de realizar suas atividades de vida diária. Responda
cada questão marcando a resposta como indicado. Caso você esteja inseguro de
como responder, tente fazer melhor que puder.
1. Em geral, você diria que sua saúde é?
Excelente Muito boa Boa Ruim Muito ruim
1 2 3 4 5
2. Comparada a um ano atrás, como você classificaria sua saúde em geral,
agora?
Muito melhor
agora do que
um ano atrás
Um pouco melhor
agora do que um
ano atrás
Quase a
mesma de um
ano atrás
Um pouco pior
agora do que um
ano atrás
Muito pior
agora do que
um ano atrás
1 2 3 4 5
3. Os seguintes itens são sobre atividades que você poderia fazer atualmente
durante um dia comum. Devido a sua saúde, você tem dificuldade para
fazer estas atividades? Neste caso, quanto?
Atividades Sim
Dificulta
muito
Sim,
Dificulta
pouco
Não, não
Dificulta de
modo algum
A. Atividades vigorosas, que exigem muito
esforço, tais como correr, levantar objetos
1 2 3
236
pesados, participar te esportes árduos.
B. Atividades moderadas, tais como mover
uma mesa, passar aspirador de pó, jogar
bola, varrer a casa
1 2 3
C. Levantar ou carregar mantimentos 1 2 3
D. Subir vários lances de escadas. 1 2 3
E. Subir um lance de escada 1 2 3
F. Curvar-se, ajoelhar-se ou dobrar-se 1 2 3
G. Andar mais que um quilômetro 1 2 3
H. andar vários quarteirões 1 2 3
I. Andar um quarteirão 1 2 3
J. Tomar banho ou vestir-se 1 2 3
4. Durante as últimas quatro semanas, você teve algum dos seguintes
problemas com o seu trabalho ou com alguma atividade diária regular, como
conseqüência de sua saúde física?
Sim Não
A. Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu
trabalho ou a outras atividades?
1 2
B. Realizou menos tarefas do que gostaria? 1 2
C. Esteve limitado no seu tipo de trabalho ou em outras atividades? 1 2
D. Teve dificuldade de fazer seu trabalho ou outras atividades (p. ex.
necessitou de um esforço extra)?
1 2
237
5. Durante as últimas 4 semanas, você teve algum dos seguintes problemas
com o seu trabalho ou outra atividade regular diária, como conseqüência de
algum problema emocional (como sentir-se deprimido ou ansioso)?
Sim Não
A. Você diminuiu a quantidade de tempo que se dedicava ao seu
trabalho ou a outras atividades?
1 2
B. Realizou menos do que você gostaria? 1 2
C. Não trabalhou ou não fez qualquer atividade com tanto cuidado
como geralmente faz?
1 2
6. Durante as últimas 4 semanas, de que maneira sua saúde física, ou
problemas emocionais interferiram nas suas atividades sociais normais, em
relação à família, vizinhos, amigos ou em grupo?
De forma nenhuma Ligeiramente Moderadamente Bastante Extremamente
1 2 3 4 5
7. Quanta dor no corpo você teve durante as últimas quatro semanas?
Nenhuma Muito leve Leve Moderada Grave Muito grave
1 2 3 4 5 6
8. Durante as últimas 4 semanas, quanto a dor interferiu em seu trabalho
normal (incluindo tanto o trabalho fora como dentro de casa)?
De maneira alguma Um pouco Moderadamente Bastante Extremamente
1 2 3 4 5
238
9. Estas questões são como você se sente, e como tudo tem acontecido com
você durante as últimas 4 semanas. Para cada questão, de uma resposta
que mais se aproxime da maneira como você se sente.
Todo
Tempo
A maior
parte do
tempo
Um boa
parte do
tempo
Alguma
Parte do
tempo
Uma Pequena
parte do
tempo
Nunca
A. Quanto tempo você
tem se sentido cheio
de vigor, cheio de
vontade, cheio de
força?
1 2 3 4 5 6
B. Quanto tempo você
tem se sentido uma
pessoa muito
nervosa?
1 2 3 4 5 6
C. Quanto tempo você
tem se sentido tão
deprimido que nada
pode animá-lo?
1 2 3 4 5 6
D. Quanto tempo você
tem se sentido
calmo ou tranquilo?
1 2 3 4 5 6
E. Quanto tempo você
tem se sentido com
muita energia?
1 2 3 4 5 6
F. Quanto tempo você
tem se sentido
desanimado e
abatido?
1 2 3 4 5 6
G. Quanto tempo você
tem se sentido
esgotado?
1 2 3 4 5 6
239
H. Quanto tempo você
tem se sentido uma
pessoa feliz?
1 2 3 4 5 6
I. Quanto tempo você
tem se sentido
cansado?
1 2 3 4 5 6
10. Durante as últimas 4 semanas, quanto de seu tempo a sua saúde física ou
problemas emocionais interferiram em suas atividades sociais ( como visitar
amigos, parentes, etc.)?
Todo o tempo A maior parte
do tempo
Alguma parte do
tempo
Uma pequena
parte do tempo
Nenhuma parte
do tempo
1 2 3 4 5
11. O quanto verdadeiro ou falso é cada uma das afirmações para você?
Definitivamente
verdadeiro
A maioria
das vezes
verdadeiro
Não
sei
A maioria
das vezes
falsa
Definitivamente
falsa
A. Eu costumo adoecer
um pouco mais
facilmente que as
outras pessoas.
1 2 3 4 5
B. Eu sou tão saudável
quanto qualquer
pessoa que conheço.
1 2 3 4 5
C. Eu acho que a minha
saúde vai piorar.
1 2 3 4 5
D. Minha saúde é
excelente.
1 2 3 4 5
240
241
DECLARAÇÃO
As cópias de artigos de minha autoria ou de minha coautoria, já
publicados ou submetidos para publicação em revistas científicas ou
anais de congressos sujeitos a arbitragem, que constam da minha Tese
de Doutorado, intitulada “Avaliação da qualidade de vida e
transtornos mentais comuns de residentes em áreas rurais”, não
infringem os dispositivos da Lei nº 9.610/98, nem o direito autoral de
qualquer editora.
Campinas, 20 de outubro de 2014.
Autor: Paulo Junior Paz de Lima
RG: 1899885-90
_________________________________________
Orientadora: Profa Dra. Helenice Bosco de Oliveira
RG: 3.791.495-9