Os efeitos das gorduras no cérebro
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fevereiro de 2016 www.revistapesquisa.fapesp.br
n.2
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Dieta rica em ômega 3 pode promover o nascimento de neurônios e diminuir lesões
causadas pelos ácidos graxos saturados
Projetos exploram potencial de nova técnica de edição de DNA
Instituto Adolfo Lutz e UFRJ sequenciam genoma do vírus zika
Medições em nuvens identificam partículas formadoras de chuva na Amazônia
Troca cultural entre Brasil e Europa foi intensa no século XIX
Simulação sugere que nanotecnologia aumentaria produção em poços de petróleo
Mata Atlântica teria ocupado a plataforma continental na Era do Gelo
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n.240
os efeitos das
gorduras no
cérebro
O que a ciência brasileira produz você encontra aqui
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PESQUISA FAPESP 240 | 3
A floresta renasceParece um mero matagal? Não para um especialista em regeneração
florestal. Nesta foto, o biólogo Sergius Gandolfi enxerga polinizadores,
dispersores de sementes e uma variedade de microambientes.
Passados 30 anos do início do projeto de restauração dessa área de
floresta em Iracemápolis, no interior paulista, sementes de paineira envoltas
nas características fibras brancas e plantas muito jovens, em meio a
troncos de árvores adultas, são sinais de sucesso. “A restauração se dá
quando os processos ecológicos que criam e mantêm as populações típicas
daquela vegetação são recuperados”, explica o pesquisador, e as sementes
são sinal disso. “Espécies como os jequitibás florescerão 20 anos após o
plantio e só então jogarão sementes no solo.”
Imagem enviada por Sergius Gandolfi, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP)
FotolAb
Se você tiver uma imagem relacionada à sua pesquisa, envie para [email protected], com resolução de 300 dpi (15 cm de largura) ou com no mínimo 5 MB. Seu trabalho poderá ser selecionado pela revista.
CAPA16 Ácidos graxos insaturados, como o ômega 3, promovem o nascimento de neurônios e talvez possam reverter danos ao cérebro de obesos
ENTREVISTA22 Jorge KalilImunologista fala de sua gestão à frente do InCor e do Instituto Butantan e adianta resultados animadores da vacina brasileira contra a dengue
POLÍTICA CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA
28 CongressoLei cria novos incentivos à inovação, mas vetos recebem críticas
32 EnergiaFAPESP e BG Group lançam centro de pesquisa em São Paulo
34 CooperaçãoCriação de gado em campo nativo, vegetação típica do sul do país, concilia interesses de pecuaristas e ambientalistas
CIÊNCIA
38 GenéticaSistema copiado de bactérias, CRISPR-Cas9 pode catalisar descobertas em biologia e medicina e suscita temores éticos
42 SaúdeSequenciamento confirma que variedade de zika em circulação no país veio da Polinésia e projeção estima que deve se espalhar por outros países
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68 Indústria sucroalcooleiraÓleo fúsel e CO2 gerados na fabricação de etanol têm potencial para ser aproveitados na produção de substâncias químicas de uso industrial
70 Ciências farmacêuticasTrabalho suíço-brasileiro mostra que o umbu, fruto natural da Caatinga, deve dar origem a um creme que age contra o envelhecimento da pele
74 BiotecnologiaFungo é usado para produzir nanopartículas metálicas que podem ser empregadas como antibacterianos
HUMANIDADES
76 CulturaProjeto revela uma intensa circulação de bens culturais, sobretudo impressos, entre França, Inglaterra, Portugal e Brasil
82 EducaçãoEstudo aponta ganhos expressivos de saber específico e discreta melhora no conhecimento geral entre formandos de 19 cursos acadêmicos
86 HistóriaPesquisa reconstrói a importância do movimento abolicionista como força social que levou à libertação dos escravos
SEçÕES3 Fotolab5 Cartas6 On-line7 Carta do editor8 Dados e projetos9 Boas práticas10 Estratégias12 Tecnociência90 Memória94 Arte96 Carreiras98 Resenha99 Classificados
48 BiodiversidadeLeveduras do deserto do Atacama exibem resistência a uma radiação ultravioleta tão alta quanto em Marte
52 BiogeografiaMata Atlântica pode ter se espraiado para a plataforma continental na Era do Gelo
56 MeteorologiaPesquisadores encontram as partículas que faltavam para explicar a formação de nuvens na Amazônia
59 Química e físicaProduzidos artificialmente, quatro elementos químicos passam a integrar a tabela periódica, e segue a busca por outros, mais estáveis
TECNOLOGIA
64 NanogeociênciaEstudos indicam que nanopartículas de sílica podem aumentar o volume de óleo e gás extraídos dos poços de petróleo
foTo dA CAPA CAsThER / DEpOsiT phOTOs / GlOw iMAGEs
PESQUISA FAPESP 240 | 5
hidrelétrica no rio Xingu. A pesquisa sobre o tema deveria considerar outros estudos em curso no país demonstran-do os benefícios sociais e econômicos trazidos à região e ao entorno das áreas de instalação das usinas hidrelétricas durante e após sua entrada em operação.Alexei Macorin Vivan
Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico (FMASE)
São Paulo, SP
Nobel de EconomiaNa reportagem “A safra de 2015 do No-bel” (edição 237) é necessário explicitar que o que se conhece como Prêmio No-bel de Economia é um prêmio instituído pelo Banco Central da Suécia (Sveri-ges Riksbank), em 1969, em memória de Alfred Nobel. Por essa dedicatória, costuma ser incorretamente chamado de Prêmio Nobel de Economia, mas não é concedido pela Fundação Nobel como os demais. Essa incorreção desagrada a alguns descendentes de Nobel, visto que o prêmio representa alto conflito de interesses. Conflito esse que é ainda mais significativo por ser no campo da economia, matéria que define rumos de políticas e países, e na qual os espectros teóricos são por vezes epistemologica-mente incompatíveis ou dicotômicos. Não se sabe se tal prêmio estaria de acor-do com uma fundação voltada aos estu-dos para o bem-estar da humanidade.Isabela Prado Callegari
Instituto de Economia/Unicamp
Campinas, SP
CorreçãoNa reportagem “As chances das mu-lheres na universidade” (edição 238), a proporção de docentes do sexo feminino no ensino superior em 2009 passou a ser de 45% e não 55%, como indicado no texto. Em 2011, nas instituições públicas, a proporção era de 44% e não 45%.
Cartas para esta revista devem ser enviadas para o e-mail [email protected] ou para a rua Joaquim Antunes, 727, 10º andar – CEP 05415-012, Pinheiros, São Paulo-SP. As cartas poderão ser resumidas por motivo de espaço e clareza.
CArtAS [email protected]
revistaA cada novo número fico mais fã de Pes-quisa FAPESP pela escolha das repor-tagens, o conteúdo e a abordagem dos temas. É uma publicação de altíssimo nível, mesmo quando comparada com publicações internacionais. O número de janeiro traz reportagens interessan-tes, como as estratégias para enfrentar a desindustrialização, a questão da lama de Mariana, a vegetação no sul do país etc. Antonio Penteado Mendonça
São Paulo, SP
Lagartos no siteSobre a reportagem “Lagartos teiú regu-lam temperatura corporal em períodos de acasalamento”, publicada no site da revista, não tínhamos ideia de que encon-traríamos esse resultado. Eu estava em Rio Claro e “tropecei” nas temperaturas aquecidas em minhas medições. Passaram alguns anos até verificarmos que era real. Se eu não estivesse medindo tantas variá-veis quanto possível, não teria chegado às conclusões expostas na reportagem.Colin Sanders
Universidade de Alberta, Edmonton, Canadá
Via Facebook
HidrelétricasTomamos conhecimento da reportagem “Cidades alteradas” (edição 237), que se refere à pesquisa sobre o impacto social das usinas hidrelétricas no país. O texto tem algumas inconsistências: os indi-cadores que provavelmente foram con-siderados no modelo estatístico usado demonstram a baixa credibilidade desse mesmo modelo ou o desconhecimen-to técnico do tema; o impacto causado pelo início das obras não pode restrin-gir sua análise apenas à instalação dos canteiros ou às obras principais porque o empreen dimento deve ser avaliado como um todo; o texto cita “as hidrelétricas do rio Tapajós” que, no curto prazo, estão descartadas; a reportagem cita efeitos negativos sobre os povos indígenas nas regiões afetadas pelas hidrelétricas no Xingu, incluindo Belo Monte, mas desconhece que Belo Monte é a única
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6 | fevereiro De 2016
youtube.com/user/PesquisaFaPesP
on-linew w w . r e v i s t a P e s q u i s a . F a P e s P. b r
x em escavações na bacia do turkana, no quênia, pesquisadores da universidade de cambridge, na inglaterra, encontraram esqueletos inteiros, bem articulados e com sinais inequívocos de violência: pancadas na cabeça, marcas do que parecem ter sido flechadas na cabeça e no pescoço, joelhos, mãos e costelas fraturadas. em um artigo publicado em janeiro na revista Nature, eles sugerem que essas ossadas seriam o mais antigo registro de um massacre que, estima-se, teria acontecido há 10 mil anos.
x embora estejam mais escassos no campo, por causa da redução da área das matas e do uso intensivo de fertilizantes químicos, as abelhas e outros insetos polinizadores respondem em média por 24% do ganho em produtividade agrícola em pequenas propriedades rurais (até 2 hectares). os outros 76% estão associados à irrigação e a nutrientes e técnicas de cultivo, de acordo com estudo publicado em janeiro na revista Science. segundo esse trabalho, quanto maior o número de polinizadores, maior tende a ser a produtividade agrícola, principalmente nas pequenas propriedades.
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Estudo mapeia as razões da recusa familiar de doações de órgãos no Brasil
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confira no registro fotográfico de Eduardo Cesar algumas das mais belas paisagens do deserto do atacama, chile
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cArtA do EdItorJosé GoldemberGPresidente
eduardo moacyr KrieGervice-Presidente
conSElho SUPErIor
carmino antonio de souza, eduardo moacyr KrieGer, fernando ferreira costa, João fernando Gomes de oliveira, João Grandino rodas, José GoldemberG, maria José soares mendes Giannini, marilza vieira cunha rudGe, José de souza martins, Pedro luiz barreiros Passos, Pedro WonGtschoWsKi, suely vilela samPaio
conSElho técnIco-AdmInIStrAtIvo
José arana vareladiretor-Presidente
carlos henrique de brito cruzdiretor científico
Joaquim J. de camarGo enGlerdiretor AdministrAtivo
conSElho EdItorIAlcarlos henrique de brito cruz (Presidente), caio túlio costa, eugênio bucci, fernando reinach, José eduardo Krieger, luiz davidovich, marcelo Knobel, maria hermínia tavares de almeida, marisa lajolo, maurício tuffani, mônica teixeira
comItê cIEntíFIcoluiz henrique lopes dos santos (Presidente), anamaria aranha camargo, carlos eduardo negrão, fabio Kon, francisco antônio bezerra coutinho, Joaquim J. de camargo engler, José arana varela, José Goldemberg, José roberto de frança arruda, José roberto Postali Parra, lucio angnes, marie-anne van sluys, mário José abdalla saad, Paula montero, roberto marcondes cesar Júnior, sérgio robles reis queiroz, Wagner caradori do amaral, Walter colli
coordEnAdor cIEntíFIcoluiz henrique lopes dos santos
dIrEtorA dE rEdAção alexandra ozorio de almeida
EdItor-chEFE neldson marcolin
EdItorES fabrício marques (Política), márcio ferrari (Humanidades), marcos de oliveira (Tecnologia), ricardo zorzetto (Ciência); carlos fioravanti e marcos Pivetta (Editores espe ciais); bruno de Pierro (Editor-assistente)
rEvISão daniel bonomo, margô negro
ArtE mayumi okuyama (Editora), ana Paula campos (Editora de infografia), alvaro felippe Jr., Júlia cherem rodrigues e maria cecilia felli (Assistentes)
FotógrAFoS eduardo cesar, léo ramos
mídIAS ElEtrônIcAS fabrício marques (Coordenador) IntErnEt Pesquisa FAPESP onlinemaria Guimarães (Editora)rodrigo de oliveira andrade (Repórter) renata oliveira do Prado (Mídias sociais)
rádIo Pesquisa Brasilbiancamaria binazzi (Produtora)
colAborAdorES alexandre affonso, caeto, daniel almeida, daniel bueno, evanildo da silveira, fabio otubo, igor zolnerkevic, Jayne oliveira, orlando margarido, Pedro handam, valter rodrigues, yuri vasconcelos
é ProIbIdA A rEProdUção totAl oU PArcIAl dE tExtoS E FotoS SEm PrévIA AUtorIzAção
PArA FAlAr com A rEdAção (11) [email protected]
PArA AnUncIAr midia office - Júlio césar ferreira (11) 99222-4497 [email protected] Classificados: (11) 3087-4212 [email protected]
PArA ASSInAr (11) 3087-4237 [email protected]
tIrAgEm 41.800 exemplaresImPrESSão Plural indústria GráficadIStrIbUIção dinaP
gEStão AdmInIStrAtIvA instituto uniemP
PESQUISA FAPESP rua Joaquim antunes, no 727, 10o andar, ceP 05415-012, Pinheiros, são Paulo-sP
FAPESP rua Pio Xi, no 1.500, ceP 05468-901, alto da lapa, são Paulo-sP
secretaria de desenvolvimento econômico,
ciência e tecnoloGia govErno do EStAdo dE São PAUlo
issn 1519-8774
fundação de amParo à Pesquisa do estado de são Paulo
neldson marcolin | EdItor-chEFE
A reportagem de capa desta edição destaca pesquisas sobre obesida-de voltadas para o cérebro, órgão
muito menos visado do que o coração quando se trata de analisar efeitos posi-tivos ou nocivos dos vários tipos de gor-dura no organismo humano. Nos últimos anos foram publicados trabalhos cien-tíficos com indícios de que o consumo excessivo de alimentos com gorduras saturadas e trans produziria uma infla-mação constante no hipotálamo, que fica na base do cérebro. A consequência se-ria a morte dos neurônios responsáveis por controlar as sensações de fome e de saciedade e o gasto de energia. Agora, pesquisadores do Centro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades, um dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) financiados pela FAPESP, suge-rem que esse dano cerebral poderia ser parcialmente revertido por meio do con-sumo de alimentos ou compostos ricos em outro tipo de gordura, as insaturadas, as mesmas que são benéficas ao coração.
Uma das conclusões que se pode tirar das pesquisas em andamento é a confir-mação de que obesidade não deve ser vista como falta de esforço pessoal, mas como doença. As lesões no hipotálamo provavelmente não são a única causa do problema; há outros fatores que con-tribuem para o acúmulo excessivo de gordura. O caminho aberto pelos pes-quisadores ajuda a entender algumas das complexas questões que envolvem a obesidade (página 16).
* * *Uma novidade começa a aparecer com força nas pesquisas de genética de todo o mundo: a técnica de edição de DNA chamada CRISPR-Cas9. O sistema con-siste em usar uma proteína guiada por uma molécula de RNA que corta as fitas de DNA em pontos exatos para reparar o material genético, desativando genes ou inserindo alterações. Destacada pe-
la revista Science como o grande avan-ço (breakthrough) de 2015, a técnica foi descoberta em 2012, continua a ser de-senvolvida e tem grande potencial para ser utilizada em aplicações médicas. No Brasil, antes de os geneticistas começa-rem a trabalhar, era preciso conhecê-la. Pesquisadores de São Paulo foram então a laboratórios do exterior – com bolsas e auxílios financeiros da FAPESP – apren-der como funciona o CRISPR-Cas9, re-tornaram e repassaram o conhecimento para outros geneticistas.
Hoje há linhas de pesquisa usando a técnica para estudar da leucemia à sín-drome de Marfan, do Trypanossoma cru-zi ao Aedes aegypti. Os trabalhos feitos no Brasil começaram há pouco tempo e ainda são incipientes, mas devem ga-nhar volume e importância em poucos anos. Pela facilidade de trabalhar com o sistema, os procedimentos estão ao al-cance da maior parte dos laboratórios de genética brasileiros. Como toda grande inovação na área envolvendo manipu-lação gênica, o desenvolvimento trouxe consigo obstáculos éticos a serem resol-vidos – uma das possibilidades ainda não comprovadas da CRISPR-Cas9 é a de produzir bebês sob medida (página 38).
* * *Na área das ciências humanas e sociais, a novidade vem do passado. Com coorde-nação binacional na Universidade Esta-dual de Campinas (Unicamp) e na Uni-versidade de Versailles-Saint-Quentin, na França, um abrangente projeto recu-perou a intensa troca cultural que havia no século XIX entre o Brasil e a Euro-pa. Era um tipo de globalização de mão dupla que contemplava a circulação de impressos como livros, jornais, revistas, folhetins, libretos e partituras (página 76). É uma história esquecida que vale a pena conhecer.
A obesidade no cérebro
8 | fevereiro De 2016
DaDos e projetos
temáticosestudos integrados para o controle de formigas cortadeirasPesquisador responsável: João Batista Fernandesinstituição: Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia/UFSCarProcesso: 2012/25299-6Vigência: 01/02/2016 a 31/01/2020
Projeto temático em medicina translacional: nanopartículas que se ligam a receptores de lipoproteínas no tratamento da aterosclerose, do infarto agudo de miocárdio, do pós-transplante de coração, do câncer e da endometriose
temáticos e joVens Pesquisadores recentesProjetos contratados em dezembro de 2015 e janeiro de 2016
Pesquisador responsável: Raul Cavalcante Maranhãoinstituição: Instituto do Coração do Hospital das Clínicas São Paulo/SSSPProcesso: 2014/03742-0Vigência: 01/11/2015 a 31/10/2020
impactos das mudanças climáticas e ambientais sobre a fauna: uma abordagem integrativaPesquisador responsável: Carlos Arturo Navas Ianniniinstituição: Instituto de Biociências/USPProcesso: 2014/16320-7Vigência: 01/12/2015 a 30/11/2019
Populações estelares na Via Láctea: Bojo, halo, disco e regiões de formação de estrelas; instrumentação para espectroscopia de alta resoluçãoPesquisadora responsável: Beatriz Leonor Silveira Barbuyinstituição: Instituto de Astronomia e Geofísica e Ciências Atmosféricas/USPProcesso: 2014/18100-4Vigência: 01/02/2016 a 31/01/2020
ressonância magnética nuclear: além da determinação estruturalPesquisador responsável: Claudio Francisco Tormena
instituição: Instituto de Química/UnicampProcesso: 2015/08541-6Vigência: 01/12/2015 a 30/11/2020
joVens PesquisadoresHidróxidos duplos lamelares (LdH) nanoestruturados com propriedades de up e down-conversion para aplicações como sensibilizadores em células solaresPesquisador responsável: Danilo Mustafainstituição: Instituto de Física/USPProcesso: 2015/19210-0Vigência: 01/02/2016 a 31/01/2020
esforço estadual em P&dDispêndios em pesquisa e desenvolvimento (P&D) como fração da Receita Líquida Real dos estados1 – orçamento executado2 e ensino superior3 (2013)
1 Receita Líquida Real dos estados: é a receita anual do tesouro estadual, excluídas as receitas provenientes de operações de crédito, de alienação de bens, de transferências voluntárias, de doações recebidas com o fim específico de atender despesas de capital e as transferências aos municípios.2 Orçamento executado: dispêndios em P&D com origem nos orçamentos de órgãos estaduais (exceto instituições de ensino superior), incluindo institutos de pesquisa e agências/fundações de apoio à pesquisa.3 Ensino superior: dispêndios em P&D com origem nos orçamentos das instituições de ensino superior (universidades e outras) estaduais.Obs.: Foram incluídos os estados com pelo menos 0,50% de esforço em P&D; aqueles com frações abaixo desse patamar foram agregados em “Demais estados”.
Demais estados
RS
GO
RN
PE
CE
AM
PB
MG
MS
BA
SC
RJ
PR
SP
Total (estados)
Total (estados) SP PR RJ SC BA MS MG PB AM CE PE RN GO RS
Demais estados
n Orçamento executado 0,8% 1,6% 0,9% 1,1% 1,2% 0,3% 0,9% 0,8% 0,4% 0,5% 0,2% 0,4% 0,2% 0,4% 0,5% 0,2%
n Ensino Superior 1,9% 6,3% 1,5% 0,9% 0,4% 0,8% 0,3% 0,1% 0,5% 0,2% 0,5% 0,2% 0,3% 0,1% 0,0% 0,0%
Total 2,7% 7,9% 2,4% 2,0% 1,6% 1,1% 1,2% 0,9% 0,9% 0,7% 0,7% 0,6% 0,5% 0,5% 0,5% 0,2%
0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5% 3,0% 3,5% 4,0% 4,5% 5,0% 5,5% 6,0% 6,5% 7,0% 7,5% 8,0% 8,5%
PESQUISA FAPESP 240 | 9
Mecanismos de correção
Investigação concluída
Boas práticas
Houve crescimento no número de casos de má conduta científica detectados no Brasil nos últimos anos, sugere artigo publicado na revista Science and Engineering Ethics por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O estudo analisou mais de 2 mil papers indexados na biblioteca virtual brasileira SciELO (sigla de Scientific Eletronic Library On Line) e à base de dados latino-americana de informações em ciências da saúde (Lilacs) entre 2009 e 2014. Foram identificados 31 artigos que sofreram retratação, que é o cancelamento de sua publicação devido a fraudes ou erros graves. Desse total, 25 trabalhos eram de autores brasileiros.
O plágio foi a principal razão para as retratações dos artigos brasileiros, responsável por 46% dos casos. O estudo mostra que as retratações estão em ascensão nas duas bases de dados: entre 2004 e 2009, foram identificadas de uma a duas retratações por ano; já entre 2011 e 2012, a média subiu para sete. De acordo com Renan Moritz Almeida, professor da UFRJ e autor principal da pesquisa, uma hipótese que explica o aumento dos casos de plágio detectados no país é a introdução de softwares que mapeiam a repetição de trechos em mais de um texto sem o devido crédito ao autor.
Nos últimos anos, universidades, institutos de pesquisa, agências de fomento e editoras científicas vêm utilizando programas como esse para coibir abusos. “Hoje há uma maior atenção ao fenômeno, principalmente por parte dos editores”, diz Almeida, que reconhece que o número de casos é pequeno. “No entanto, é interessante ressaltar que a primeira retratação nas revistas
que estão na SciELO deu-se em 2008, menos de 10 anos atrás.” Sonia Vasconcelos, coautora do estudo, chama a atenção para o fato de os resultados apontarem para uma maior participação de periódicos científicos indexados em bases menos tradicionais no processo de correção da literatura. “Essa participação de alguma forma reflete comprometimento maior de editores com mecanismos de correção, o que, a longo prazo, pode ter um impacto positivo na qualidade das publicações”, afirma.
Sonia Vasconcelos explica que, nos últimos anos, o Brasil assumiu posição de liderança na pesquisa e iniciativas educacionais em ética na pesquisa na América Latina. Ela cita algumas experiências na promoção de uma cultura de integridade científica no país, como o Código de boas práticas científicas, produzido e lançado pela FAPESP em 2011, que contém diretrizes éticas para a atividade profissional
Um artigo publicado em 2006 na revista Nature foi retratado após uma longa investigação de seis anos conduzida pela Universidade do Alabama, nos Estados Unidos, concluir que os autores fabricaram dados deliberadamente em um estudo sobre estruturas de proteínas. Em um comunicado público, a universidade informou que também identificou outros nove papers relacionados ao estudo que provavelmente precisarão ser cancelados pelas revistas científicas que os publicaram. Além do pedido de retratação, outra medida tomada pela instituição foi responsabilizar M. Krishna Murthy, autor principal do artigo, que na época
da publicação do trabalho ainda trabalhava na Universidade do Alabama. O artigo retratado descreve a estrutura cristalina de uma proteína chama C3b, que desempenha um papel importante no sistema imunológico. Os resultados chamaram a atenção pois contradiziam outros trabalhos sobre o assunto publicados anteriormente. O Escritório de Integridade Científica da Universidade do Alabama, junto com o Escritório de Integridade de Pesquisa dos Estados Unidos (ORI, na sigla em inglês), começaram a investigação em 2007. Segundo o blog Retraction Watch, o estudo foi citado mais de 40 vezes.
dos pesquisadores que recebem bolsas e auxílios da Fundação. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) também criaram suas próprias normas de conduta.
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10 | fevereiro De 2016
estratégias
Em janeiro, a Global Alliance for Vaccine Initiative (Gavi) anunciou que pagou US$ 5 milhões a Merck, fabricante da primeira vacina contra o vírus ebola que teria apresentado níveis de eficácia aceitáveis nos testes preliminares com seres humanos. Este é o primeiro acordo de compra de uma organização de saúde pública com uma empresa farmacêutica antes de a vacina ter sido licenciada para uso amplo em pessoas. O objetivo do acordo é ter o imunizante pronto para ser usado caso surja outro surto. A Merck se comprometeu a manter um estoque de pelo menos 300 mil doses até março deste ano e trabalhar para concluir os testes e obter a aprovação das agências regulatórias até 2017. O reaparecimento do ebola
Acordo para produção de vacina contra ebola
em Serra Leoa, em 15 de janeiro, apenas um mês depois de a Organização Mundial da Saúde ter comunicado que a epidemia do vírus no oeste da África tinha sido contida, fundamenta a necessidade de estoques de vacina. Três empresas, Merck, Johnson & Johnson e GlaxoSmithKline, mantinham um estoque de cerca de 2 milhões de doses de três candidatos
Campanha de prevenção contra o ebola na Libéria, país da África Ocidental
Reforço contra o câncer
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou, no dia 28 de janeiro, que estabelecerá uma força-tarefa liderada pelo vice-presidente, Joe Biden, para impulsionar a pesquisa contra o câncer. Os objetivos são articular os esforços de diferentes agências de fomento e amenizar as dificuldades burocráticas. A iniciativa já havia sido apresentada pelo presidente ao Congresso norte- -americano no dia 12 de janeiro. “Vamos tornar os Estados Unidos o país que irá curar o câncer de uma vez por todas”, acredita Obama, que comparou a iniciativa à ida do homem à Lua. Obama contou que uma das motivações do novo plano foi Beau Biden, filho do vice-presidente, que morreu de câncer no cérebro em maio do ano passado, aos 46 anos. “Não tenho a pretensão de ser especialista no assunto, mas posso ser um catalizador de esforços no sentido de trabalharmos em parceria”, escreveu Biden em seu blog. O vice- -presidente ressaltou problemas que devem ser enfrentados, como a baixa participação de pacientes (5%) em ensaios clínicos de novos tratamentos. Outro desafio salientado por ele é o acesso limitado de médicos aos avanços mais recentes da ciência.
Joe Biden, vice-presidente dos EUA, visita
centro de pesquisa em
câncer da Universidade
da Pensilvânia, na Filadélfia,
em janeiro
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a vacinas. Mais de 20 mil pessoas foram vacinadas com esses produtos. Embora nenhuma das três candidatas a vacina tenha sido submetida à aprovação nos órgãos reguladores dos Estados Unidos ou da Europa, Serra Leoa e Guiné têm feito acordos com as empresas farmacêuticas para avaliar a segurança de uso dos imunizantes em testes clínicos.
PESQUISA FAPESP 240 | 11
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Novo reitor toma posse no ItA
No final deste mês deve tomar posse o novo reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Ribeiro Correia. Graduado em engenharia civil pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com mestrado no ITA e dou-torado na University of Calgary, no Ca-nadá, Correia era pró-reitor de Extensão e Cooperação do instituto criado em
1950, atualmente com 180 professores, 700 alunos de graduação e 1.700 de pós--graduação. Entre as metas apresenta-das, Correia pretende modernizar o ensino de engenharia e fortalecer a pós--graduação e a pesquisa em conjunto com a graduação. A renovação do qua-dro de professores – muitos estão se aposentando – é uma das metas para os
próximos anos. “O ITA é um motor para o desenvolvimento tecnológico brasilei-ro. O impacto da instituição é muito grande em toda a sociedade”, disse Cor-reia ao site do instituto. O processo de seleção do novo reitor começou em setembro do ano passado.
Em Pequim, no início de janeiro, os países do Brics (Brasil, Índia, China, Rússia e África do Sul) firmaram um acordo de R$ 24 milhões para criar um fundo de financiamento de projetos científicos conjuntos. Os representantes do governo brasileiro informaram que o país deverá contribuir com R$ 1,2 milhão, do qual R$ 1 milhão se destinaria a projetos da área de segurança cibernética e ciberdefesa e R$ 200 mil à área de prevenção e monitoramento de desastres naturais. A primeira chamada multilateral deve ser lançada em abril e contará com a participação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Três entidades que representam a comunidade científica – a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Federação das Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe) – articularam-se para evitar que o Congresso Nacional altere a Lei nº 11.794, conhecida como Lei Arouca, que regulamentou em 2008 o uso de animais para fins científicos no país. Essa possibilidade surgiu no relatório final da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre maus-tratos a animais, que, entre outras recomendações, incluiu o texto de um projeto de
lei a ser apresentado pela comissão propondo alterações no funcionamento e no organograma do Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea), instituição colegiada responsável por estabelecer normas para a experimentação animal no Brasil e substituir animais para propósitos científicos quando houver alternativas. O relatório foi aprovado em dezembro, mas pode ser modificado na votação de destaques. A justificativa para as mudanças é a presença de pesquisadores que trabalham com animais entre membros do Concea. Nas palavras do
Brics criam fundo
Projeto quer rever experimentação animal
relatório, isso criaria conflito de interesses, uma vez que “compõem o Concea pessoas envolvidas com as demandas a ele submetidas, como aprovação e credenciamento”. O projeto propõe criar uma nova câmara de recursos na estrutura do conselho. “Isso engessará e desestabilizará o funcionamento do Concea e o processo de regulamentação do uso científico de animais”, escreveram os presidentes das três entidades, helena Nader (SBPC), Jacob Palis (ABC) e Dalton Valentim (Fesbe), em carta enviada à CPI na qual pedem que o projeto seja retirado do relatório final.
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Animais de laboratório: entidades científicas reagem a relatório de CPI
O engenheiro Anderson Ribeiro Correia: novo reitor do ITA
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12 | fevereiro De 2016
Estudar mamíferos marinhos exige o uso de equipamentos de rastreamento caros, porque esses animais são capazes de nadar grandes distâncias sem se aproximar da costa e de passar boa parte do tempo debaixo da água. Uma alternativa é percorrer as praias em busca de carcaças. Este método tem limitações, afinal nem todo animal que morre na água encalha na areia. Mas é muito informativo. Em seu doutorado na Universidade Federal do Rio Grande (Furg), sob orientação de Eduardo Secchi, o oceanógrafo Jonatas Prado analisou dados de monitoramento da costa gaúcha – da lagoa dos Patos ao Chuí – entre 1976 e 2013 (PLoS One, 27 de janeiro). No período, foram achados 12.540 animais de 40 espécies.
O óleo extraído dos frutos e sementes da sucupira-branca, uma árvore do Cerrado brasileiro, e o suco das folhas do sisal, uma planta originária do México e cultivada no Brasil para extração de fibras, possuem propriedades capazes de eliminar totalmente as larvas do Aedes aegypti, o mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya, de acordo com dois grupos de pesquisadores brasileiros. O óleo da sucupira (Pterodon emarginatus) foi utilizado por pesquisadores das universidades federais do Amapá (Unifap), Goiás (UFGO) e Fluminense (UFF) para desenvolver uma nanoemulsão que diluída em água funciona
Plantas contra o mosquito
como larvicida. O estudo foi financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amapá (Fapeap) e publicado na revista PLoS One de 7 de janeiro. O produto que eles concluíram não utiliza solventes no preparo e não é tóxico ao ambiente ou para seres humanos. O mesmo princípio vale para o larvicida desenvolvido com folhas de sisal (Agave sisalana) por pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e Embrapa Algodão, de Campina Grande (PB). De acordo com os pesquisadores, o suco ataca o intestino das
TecnociênciaQuem morre na praia
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larvas e as elimina na totalidade. Eles fizeram o mesmo teste em outras fases do inseto, como ovo, pupa e adulto, e o produto não teve efeito. A explicação é que a larva se alimenta da solução e provavelmente morre de indigestão com o produto. Para ser disponibilizado ao mercado, o larvicida deverá ser oferecido na forma de pó para diluição em água porque o suco in natura se degrada rapidamente. A pesquisa teve as parcerias do Sindicato das Indústrias de Fibras Vegetais do Estado da Bahia e da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).
As folhas do sisal, à esquerda, e as sementes da sucupira possuem propriedades que matam larvas do Aedes
Leão-marinho- -do-sul: chega às
águas gaúchas a partir do
Uruguai, onde se reproduz
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Painel solar mais potente
Depois das tentativas com polímeros fo-tossensíveis e condutores de eletricidade ainda sem atingir grandes resultados, um grupo de materiais que compartilham uma estrutura molecular característica ao mineral perovskita é a mais nova op-ção para superar e substituir o silício nos painéis de energia solar. Em experimentos de laboratório, pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne (EPFL), da Suíça, conseguiram transformar 20,2%
da luz solar em eletricidade por meio de uma lâmina de perovskita, um recorde. O resultado supera os painéis comerciais de silício que ficam entre 15% e 17%. O material sintetizado de perovskita que recebeu o nome de fluoreno-ditiofeno dissimétrico (FDT) poderá, segundo es-tudo publicado na revista Nature Energy em 18 de janeiro, custar um quinto de um painel de silício. Os pesquisadores liderados por Mohammad Nazeerud-
Ilustração com moléculas de perovskita
din também desenvolveram um arranjo molecular do material que facilita a mo-vimentação de cargas positivas através da nova célula solar. O estudo teve a colaboração de pesquisadores da Itália, do Japão e do Catar.
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Favela Pau da Lima, em
Salvador: fatores sociais
e ambientais ligados à
transmissão da leptospirose
Sujeitas a alagamentos e sem acesso a saneamento básico, as favelas são áreas em que o risco de contrair leptospirose é reconhecidamente elevado. Mas esse risco não é sempre igual. Certas áreas podem apresentar uma taxa de transmissão maior dessa infecção, provocada por uma bactéria encontrada com frequência na urina de roedores. A fim de
Um drone capaz de entrar em edifícios em chamas para encontrar pessoas e identificar a causa do fogo foi desenvolvido no Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia do Sul. Além de voar com seus quatro pequenos motores, ele pode escalar paredes como uma aranha. O veículo aéreo não tripulado, de cerca de 50 centímetros de diâmetro, suporta até 1000°C de calor provocado por incêndios. O corpo do robô é coberto por camadas de aramida e um sistema de arrefecimento interno ajuda a dissipar o calor dos instrumentos eletrônicos. Uma câmera térmica reconhece pessoas e objetos dentro do edifício e transfere a informação em tempo real para os bombeiros que estiverem no local. Chamado de Faros, da sigla em inglês para Sistema Robótico Aéreo à Prova de Fogo, o drone tem sensores para voar de forma autônoma dentro do edifício.
Bombeiros ganham drone
Mais risco de leptospirose
5A maioria (97%) pertencia a cinco delas: golfinho-do-rio-da-prata, golfinho-roaz, leão- -marinho-do-sul, lobo-marinho-sul- -americano e o lobo- -marinho-do-peito-branco. O mais interessante foi relacionar os achados com o contexto ecológico. A maior mortalidade dos golfinhos coincide com a época de pesca intensiva, quando morrem presos às redes. Já os lobos- -marinhos apareceram mais na época de migração pós- -reprodutiva. As mortes dos leões-marinhos parecem estar associadas aos dois tipos de evento.
identificar os fatores que aumentam a transmissão, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) na Bahia, trabalhando com equipes dos Estados Unidos e da Inglaterra, acompanharam durante quatro anos cerca de 2 mil moradores da favela Pau da Lima, uma área em que a leptospirose é endêmica em Salvador. Analisando os casos de infecção ocorridos no período, os pesquisadores constataram que a transmissão de leptospirose é influenciada tanto por características ambientais como sociais. As famílias que vivem nas áreas de relevo mais baixo e próximo a córregos, em geral menos valorizadas, correm mais risco de ser contaminadas. O risco também é maior para adultos, jovens e do sexo masculino, em especial os que trabalham com coleta de lixo ou construção e estão mais expostos à lama, ao solo e a outros materiais contaminados (PLoS Neglected Tropical Diseases, 15 de janeiro).
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Sorvedouros de carbono
Proteger as florestas em regeneração pode ser uma forma eficiente de combater as mudanças climáticas. Metade das florestas do mundo está em recuperação e esse tipo de vegetação cresce mais rápido e sequestra mais dióxido de carbono (CO2) da atmosfera do que florestas intactas, que nunca foram convertidas em pastagem ou área agrícola. A conclusão é de um estudo internacional do qual participaram equipes das universidades federais de Pernambuco (UFPE) e do Sul da Bahia (UFSB), da Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), em Minas Gerais, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq- -USP). Os pesquisadores quantificaram a capacidade de recuperação de 1.500 parcelas florestais
espalhadas por oito países da América Latina. Eles verificaram que as florestas em regeneração ou secundárias se recuperam mais rápido em regiões onde chove mais e não onde o solo é mais fértil, como se pensava até então (Nature, 3 de fevereiro). Segundo os autores, em 20 anos, essas florestas recuperaram 122 toneladas de biomassa por hectare. Isso corresponde à absorção de 3,05 toneladas de CO2 por hectare por ano – quase 11 vezes mais do que a taxa de absorção das florestas primárias. Com base nesses dados, os pesquisadores produziram um mapa do potencial de recuperação de biomassa das florestas tropicais. A expectativa é de que ele seja usado para orientar a identificação e a preservação de áreas com baixa resiliência, mais difíceis de serem restauradas.
Rejeitos da mineração
Soluções para os rejeitos de mineração como aqueles que provocaram o acidente em Mariana, da barragem da empresa Samarco, foram apresentadas por pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) antes mesmo de ocorrer o problema ambiental que atingiu moradores da região e o rio Doce. Sob a coordenação dos professores Evandro da Gama e Abdias Gomes, eles conseguiram terminar em 2015, antes do desastre ambiental, uma casa com 46 metros quadrados (m2) com produtos originados de rejeitos e estéreis da mineração de ferro. O rejeito é o que sobra do processamento do minério de ferro e o estéril são rochas que ficam junto com o itabirito, a rocha que contém o minério. Os dois são estocados nas barragens. “Tirando telhas, vidros, pisos internos e portas, tudo pode ser feito com os
materiais que sobram da mineração”, diz Evandro. “Nós desenvolvemos um forno de calcinação chamado Flex, que calcina a poeira e a transforma em micropartículas que depois serão transformadas em areia, blocos, vigas, pedra e cimento para a construção civil”, explica o pesquisador. Evandro coordena o Laboratório de Geotecnologias e Geomateriais do Centro de Produção Sustentável da UFMG, em Pedro Leopoldo (MG). Evandro garante que o aproveitamento dos rejeitos e dos estéreis tornaria desnecessárias as grandes barragens não só da mineração de minério de ferro como também de bauxita, ouro, fosfato e calcário. Outra vantagem é que o material rejeitado processado e utilizado na construção civil deixa as casas menos quentes e com paredes que absorvem menos água.
Floresta em regeneração em meio a área de plantação de mandioca em Tefé, no Amazonas
Casa construída com materiais originados da exploração do minério de ferro que iriam para as barragens
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Ovos de galinha transgênica para doença rara
A primeira galinha transgênica aprovada pela Food and Drug Administration (FDA), agência que regula o comércio de remédios e alimentos nos Estados Unidos, não servirá para alimentação humana e sim como uma biofábrica para produzir nos ovos a enzima sebelipase alfa. Essa enzima, na forma de um medicamento injetável produzido pela empresa Alexion, é o primeiro tratamento para a Deficiência de Lipase Ácida Lisossômica (LAL), uma enfermidade genética rara conhecida também como doença de
Wolman, que na sua forma mais severa mata bebês com até 6 meses. A enfermidade provoca acúmulo de gordura no fígado, no baço e nas paredes dos vasos sanguíneos. Sem a lipase ácida lisossômica – ou se ela não funciona como deveria –, o indivíduo diminui muito a capacidade de degradar o colesterol esterificado e os triglicerídeos. A doença de Wolman afeta uma criança a cada 1 milhão de nascimentos. O medicamento tem o nome de kanuma e é purificado da clara dos ovos das galinhas transgênicas.
Centro velho, periferia nova
A partir de informações de 80 mil estre-las, um grupo internacional de astrôno-mos construiu o mais amplo mapa de idades da Via Láctea. O mapa confirma que a galáxia que abriga o Sistema Solar cresceu nos últimos 10 bilhões de anos, a partir de sua região central em direção à periferia. Apresentado no dia 8 de ja-neiro em um encontro da Sociedade Astronômica Americana, o mapa é obra da equipe liderada por Melissa Ness e Marie Martig, ambas do Instituto Max Planck para Astronomia, em Heidelberg, Alemanha. Os pesquisadores calcularam as idades de 80 mil estrelas que se en-contram distantes até 65 mil anos-luz do centro galáctico. O mapa ajuda a visualizar a história da formação da ga-láxia. Concentradas no centro da Via Láctea estão as estrelas com mais de 10 bilhões de anos, surgidas quando a ga-láxia era jovem e bem menor. Longe do centro estão as estrelas mais jovens, nascidas nos últimos 3 bilhões de anos, quando a galáxia já tinha praticamente
atingido o seu tamanho atual e assumi-do a forma espiralada, com braços curvos partindo de seu centro. Para calcular as idades das estrelas com precisão, os as-trônomos combinaram observações feitas pelo telescópio espacial Kepler, da Nasa, com as observações das mes-mas estrelas obtidas pelo instrumento Apogee, montado no telescópio do Sloan Digital Sky Survey, no Novo México, Es-tados Unidos.
Concepção artística da Via Láctea, produzida com base nas idades de 80 mil estrelas: as mais antigas aparecem em vermelho e as mais jovens, em azul
A safra pelo celular
Um aplicativo para celular chamado AgriSupport permitirá que agricultores do semiárido, no Nordeste, enviem informações e até fotos georreferenciadas para o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), de Brasília, que fará o planejamento e a tomada de decisão em caso de quebra de safra na região. Com informações sobre as culturas plantadas, datas de plantio e distribuição espacial da lavoura será possível medir a produtividade e o risco de colapso da safra de várias culturas e oferecer aos agricultores soluções e alternativas. O aplicativo foi desenvolvido pelo Cemaden e pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas, que tem sede no Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais (Inpe), em São José dos Campos, além do Instituto Internacional para Análise de Sistemas Aplicados (IIASA), com sede na Áustria.
A FDA verificou também que a enzima não afeta a saúde dos animais. A criação por parte da empresa será em ambiente seguro e os galináceos não serão ofertados à alimentação humana. O medicamento ganhou da FDA a designação de terapia única, o que significa incentivos fiscais e isenções de impostos.
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Idade (em bilhões de anos)
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Salmão e linhaça: alimentos ricos em gorduras insaturadas, como ômega 3, parecem combater inflamação cerebral associada ao ganho de peso
PESQUISA FAPESP 240 | 17
Ácidos graxos insaturados, como o ômega 3,
promovem o nascimento de neurônios e talvez
possam reverter danos ao cérebro de obesos
Uma gordura contra a obesidade
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Marcos Pivetta
s reações do corpo humano à ingestão de dietas ricas em gorduras são complexas e marcadas por aspectos positivos e negativos. O coração é provavelmente o órgão em que os po-tenciais malefícios e benefícios dessa relação dual são mais conhecidos. Alguns tipos de ácidos graxos tendem a se depo-sitar nos tecidos, elevar a pressão arterial e aumentar os riscos de problemas cardíacos. Esse é o caso das gorduras saturadas, encontradas na carne vermelha, em aves e derivados do leite integral, e das trans, produzidas a partir da modificação de óleos vegetais e usadas em grande parte dos alimentos proces-sados industrialmente. Já outras formas de gordura, como as insaturadas, parecem contribuir para manter baixos os níveis de colesterol e da pressão e relativamente limpos os vasos san-guíneos. Nas últimas duas décadas, uma relação igualmente intrincada com os diferentes tipos de gordura começou a ser esmiuçada em outro órgão vital – o cérebro.
Novos estudos têm levantado indícios de que a obesida-de, marcada geralmente por um consumo excessivo de gor-
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duras saturadas e trans como parte de hábitos alimentares e de um estilo de vida pouco sau-dáveis, produziria uma inflama-ção contínua no hipotálamo. Os danos a essa região, que fica na base do cérebro e funciona como um sensor de nutrientes, levariam à morte dos neurônios responsáveis por controlar as sensações de fome e de sacieda-de e o gasto de energia. Assim, o mau funcionamento dos cir-cuitos que regulam o comporta-mento alimentar – o indivíduo sente fome logo depois de uma farta refeição – contribuiria pa-ra perpetuar o ganho de peso. Esse é um dos efeitos deleté-rios possivelmente ocasionados pelo acúmulo de gorduras saturadas no sistema nervoso central. Um trabalho recente do Cen-tro de Pesquisa em Obesidade e Comorbidades (OCRC, na sigla em inglês), um dos 17 Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) finan-ciados pela FAPESP, sinaliza que o dano cerebral em animais obesos, alimentados com dietas ricas em gorduras saturadas, poderia ser parcialmen-te revertido por meio do consumo de alimentos ou compostos ricos em outro tipo de gordura, as insaturadas, basicamente as mesmas que são benéficas ao coração.
Pesquisadores do OCRC de-ram, de duas maneiras distintas, ácidos graxos insaturados da fa-mília dos ômega 3 para camun-dongos obesos e constataram a formação de novos neurônios no hipotálamo. Para um grupo de roedores, forneceram uma dieta rica em ômega 3, presen-te em grandes quantidades em algas, em peixes de água fria, como salmão e atum, e na linha-ça. Para outro, injetaram áci-do docosa-hexaenoico (DHA), ácido graxo poli-insaturado da família dos ômega 3, diretamen-te no hipotálamo. Um terceiro grupo recebeu apenas uma so-lução salina em sua dieta.
Oito semanas mais tarde, constataram o surgimento no hipotálamo de neu-rônios do tipo Pomc, que modulam a sensação de saciedade, nos roedores que se alimentaram de comida rica em ômega 3 e nos que receberam doses de DHA. O grupo de controle não apre-sentou formação de novos neurônios. “Esse é o primeiro trabalho que mostra neurogênese no hipotálamo induzida por um nutriente alimentar, como a dieta rica em ômega 3”, afirma o médico Lício Velloso, da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (FCM--Unicamp), coordenador do centro e do estudo
Danos no circuito da fome e saciedade as gorduras saturadas romperiam a barreira hematoencefálica e causariam uma inflamação na região do hipotálamo e a morte de neurônios
Situado na base do cérebro, o hipotálamo funciona como um sensor de nutrientes e regula as sensações de fome e saciedade e o gasto de energia
astrócitos
Hipotálamo
Vaso sanguíneo
Barreira hematoencefálica
As gorduras tidas como boas e ruins para o coração parecem ter o mesmo efeito sobre o cérebro
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com os animais. “Talvez as gorduras insaturadas possam ser uma forma de minimizar a morte de neurônios causada pela inflamação do cérebro associada à obesidade.” O estudo foi publicado na revista científica norte-americana Diabetes em 28 de outubro de 2015.
Os pesquisadores conseguem identificar os no-vos neurônios, cuja formação foi estimulada pela dieta rica em ômega 3, entre os que já existiam no cérebro dos roedores porque usam um mar-cador celular para diferenciá-los. Eles adminis-tram nos animais um marcador de proliferação celular denominado BrdU, um nucleosídeo (uma base nitrogenada ligada a um açúcar) sintético
análogo à timidina, que pode ser conjugado com um anticorpo fluorescente. Durante a síntese de DNA, o BrdU toma o lugar da timidina e se insere no material genético quando novas célu-las são geradas. Dessa forma, o composto é uma ferramenta molecular útil para averiguar se há nascimento de neurônios no cérebro.
No experimento feito no OCRC, os pesquisa-dores geraram imagens da região do hipotálamo dos camundongos obesos obtidas por micros-copia confocal. Nos animais em que não houve neurogênese, apareceram apenas células da cor vermelha, que representam os neurônios Pomc que já existiam nos roedores. Nos que produzi-ram novos neurônios induzidos pela dieta rica em DHA, surgiram também pontos em verde, novas células nervosas marcadas pelo composto BrdU. “Avaliamos outras regiões do cérebro e a neuro-gênese estimulada pelo ômega 3 parece ocorrer predominantemente em certas áreas do hipotá-lamo”, diz o biólogo Lucas Nascimento, primeiro autor do estudo, que defendeu sua tese de dou-torado sobre o tema no ano passado na Unicamp (atualmente ele faz estágio de pós-doutorado no Helmholtz Zentrum, na Alemanha). Os pesqui-sadores do Cepid também encontraram indícios de que o DHA estimularia a neurogênese ao inte-ragir com duas proteínas, o fator de crescimen-to derivado do cérebro (BDNF) e o receptor de ácidos graxos GPR40. Quando inibiram a ação dessas duas proteínas no hipotálamo, a formação de novos neurônios diminuiu.
BArrEIrA EntrE o cérEBro E o SAngUEAs gorduras parecem exercer efeitos positivos ou negativos diretamente em certas regiões do cérebro porque, em mais situações do que se supunha, conseguem atravessar a barreira hematoencefálica. Esse é o nome dado ao sis-tema de proteção que evita a entrada no cére-bro de substâncias consideradas exógenas ou
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imagens de microscopia
confocal de células do cérebro de
camundongos que receberam uma
dieta normal (à dir.) e uma alimentação
rica em ômega 3: formação de novos
neurônios (em verde) nos animais
que ganharam reforço de ácidos
graxos insaturados
Barreira hematoencefálica
sangue
células do endotélio
lâmina basal
Junções entre células
a barreira reveste os vasos sanguíneos e evita que toxinas presentes no sangue contaminem o cérebro
as gorduras saturadas romperiam a barreira na
altura do hipotálamo e causariam inflamação e morte de neurônios
toxinas
Gorduras saturadas
vaso sanguíneo
vaso sanguíneo
cérebrocérebro
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potencialmente perigosas presentes no sangue. A barreira é semipermeável, deixa passar algu-mas substâncias e bloqueia outras, e reveste todos os vasos sanguíneos do cérebro. É for-mada por células endoteliais, cujas junções (o espaço existente entre duas células contíguas) são extremamente justas e reforçadas por as-trócitos, células do cérebro com propriedades de suporte, 10 vezes mais abundantes do que os neurônios. Como regra geral, os estudiosos sempre pensaram que as gorduras do sangue não passavam pela barreira.
Mas essa percepção mudou nos últimos 10 anos. Em 2005, um artigo assinado por Velloso e colegas da Unicamp e da Universidade de São Paulo (USP), publicado na revista Endocrinology, foi um dos primeiros a sugerir que camundongos obesos apresentavam uma inflamação persistente no hipotálamo e desenvolviam resistência à in-sulina e à leptina, condições que abrem caminho para a ocorrência do diabetes. “Os neurônios dos animais que comeram uma dieta rica em gordura saturada paravam de responder a esses hormônios depois de algumas semanas”, afirma Velloso. A insulina é responsável por carregar a glicose para o interior das células, onde o açú-car é transformado em energia essencial à vida. A leptina induz a saciedade.
Essas alterações no hipotálamo são suficientes para criar um quadro que favoreceria a manu-tenção da obesidade e o surgimento de distúr-bios geralmente associados ao ganho de peso, como o diabetes e os problemas cardíacos – e a raiz desse mau funcionamento seria a morte de neurônios provocada pela adoção permanente de dietas ricas em gorduras saturadas.
ExtEnSão Do DAno cErEBrAl Em trabalhos mais recentes, o grupo coordena-do por Velloso e equipes de outros centros no exterior têm se dedicado a tentar caracterizar a extensão do dano cerebral causado por esse padrão de alimentação. Os pesquisadores acre-ditam que o consumo contínuo e excessivo de ácidos graxos saturados leva ao rompimento da barreira hematoencefálica em certas sub--regiões do hipotálamo. Desorganizado esse sistema de defesa do cérebro, ocorre a inflama-ção crônica e a eventual morte de neurônios do tipo Pomc. “Uma alteração pequena na barrei-ra pode produzir efeitos no hipotálamo, região muito sensível do cérebro”, diz o neurologista Fernando Cendes, professor da FCM-Unicamp e coordenador do Instituto de Pesquisa sobre Neurociências e em Neurotecnologia (Brainn, na sigla em inglês), outro Cepid. Os estudos em que se avalia o hipotálamo de seres humanos por ressonância magnética são fruto de intensa colaboração entre os Cepids OCRC e Brainn.
Aparentemente, o impacto de uma dieta rica em gorduras saturadas ocorre em setores bem delimitados da base do cérebro. Um estudo fei-to pela farmacêutica Albina Ramalho, que faz parte de sua tese de doutorado a ser defendida no fim deste mês na FCM-Unicamp, encontrou indícios de que os danos à barreira hematoen-cefálica induzidos pelo ganho de peso se mani-festam precocemente em uma região adjacen-te ao hipotálamo, a eminência média. “Esse é o primeiro lugar em que ocorre a desorganização da barreira”, diz Albina, que é orientada em sua pesquisa pela professora Eliana de Araújo e por Velloso. Após terem sido submetidos por quatro semanas a uma dieta com 30% de gordura satu-rada, os tanicitos, células alongadas da glia que fazem a ligação entre o sistema nervoso central e os capilares sanguíneos da barreira, apresen-taram perda de coesão e linearidade. Em outras
A obesidade estaria ligada a uma inflamação na região do hipotálamo, na base do cérebro
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três regiões cerebrais próximas à eminência mé-dia, os efeitos deletérios da dieta hiperlipídica demoraram mais tempo para aparecer.
Há evidências de que os tanicitos são as células responsáveis por “decidir” o que passa pela bar-reira. Para reforçar a hipótese de que o consumo de alimentos com alto teor de gordura saturada desestrutura o sistema de defesa do cérebro na região do hipotálamo, Albina injetou também nos animais um tipo de açúcar que normalmen-te não atravessa a barreira conjugado com uma substância que emite fluorescência. Nos roedores submetidos à dieta hiperlipídica, o polissacarídeo furou a barreira e foi encontrado na eminência média e no hipotálamo.
oBESIDADE coMo DoEnçAUma das dificuldades óbvias dos estudos sobre o impacto de dietas ricas em gorduras no cére-bro é tentar reproduzir em seres humanos os experimentos realizados com os animais. Afinal, para averiguar os impactos no sistema nervoso central é necessário sacrificar os camundongos ao final dos estudos e extrair seu cérebro. Es-sa limitação é parcialmente contornada com o emprego de técnicas de imagem não invasivas, como a ressonância magnética funcional, que permite ver a ativação de certas áreas do cérebro em tempo real. Um estudo de 2011 do grupo de Velloso, também publicado na revista Diabetes, sinaliza que o hipotálamo de indivíduos obe-sos mórbidos, ex-obesos (que se submeteram à cirurgia bariátrica, de redução do estômago) e magros reage de forma distinta a estímulos ali-mentares. Os magros se sentiam saciados mais rapidamente do que os obesos depois de terem recebido glicose. “Os que fizeram a cirurgia apre-sentaram um padrão intermediário de ativação do hipotálamo”, diz Velloso. “Mas não sabemos se isso se mantém ao longo do tempo porque muitos voltam a ganhar peso.”
O fisiologista José Donato Junior, pesquisador do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, elogia os resultados obtidos pelos colegas do Cepid OCRC. “Eles reforçam a ideia de que a obesidade não é resultado de um simples desleixo do indivíduo”, afirma Donato Junior, atualmente dedicado a estudar fatores de risco que levam as mulheres a engordar. “Ela deve ser vista como uma doença.” O pesquisador da USP, no entanto, faz algumas ressalvas. Os estudos com camun-dongos não podem ser simplesmente transpostos para a realidade humana. “Ninguém come uma dieta com 30% ou 40% de gordura saturada, co-mo a oferecida aos camundongos nos estudos”, diz Donato Junior. “Mas essa crítica serve para os experimentos de todo mundo, inclusive os meus. Os modelos animais aceleram e exageram os processos metabólicos.”
As lesões no hipotálamo induzidas pelo consu-mo excessivo de gorduras saturadas devem estar associadas a muitos casos de obesidade, mas não a todos, pondera Donato Junior. A ação do neu-rotransmissor dopamina, de importância capital para o funcionamento do sistema de recompensa, pode estar por trás de uma parcela das ocorrên-cias de indivíduos obesos. “A pessoa pode não ter lesão alguma no hipotálamo e simplesmente ser viciada em comer”, afirma ele.
Para o bioquímico brasileiro Marcelo Dietrich, pesquisador da Faculdade de Medicina da Uni-versidade Yale, nos Estados Unidos, que também estuda os efeitos de dietas ricas em gorduras sa-turadas nos circuitos da fome e da saciedade no hipotálamo, não é uma tarefa simples determinar se a inflamação cerebral é causa ou consequência da obesidade. “O hipotálamo é visto como um cir-cuito cerebral que deu certo e está presente em quase todos os mamíferos”, diz Dietrich. “Mas entre 7% e 10% dos casos de obesidade infantil são de origem genética e também ativam esse mesmo circuito.”
Ninguém dúvida de que vários fatores podem aumentar ou diminuir o risco de se tornar obeso, como o tipo de dieta, distúrbios metabólicos e ge-néticos e hábitos ligados ao estilo de vida (fazer ou não exercício regularmente, por exemplo). Tam-bém é sabido que se alimentar de produtos com muita gordura saturada ou trans engorda. E, como é hoje notório, ganhar peso em excesso aumenta o risco de diabetes, problemas cardíacos e câncer. A contribuição principal dos estudos do grupo de Velloso é reforçar o papel que os diferentes tipos de gordura – as saturadas e as insaturadas – parecem ter sobre o funcionamento do sistema regulador da fome, da saciedade e do gasto de energia loca-lizado no hipotálamo. A exemplo do que fazem no coração, as gorduras “boas” aparentemente atenuam o dano cerebral associado à ingestão das gorduras “ruins”. “A inflamação cerebral pode até não ser a causa da obesidade, mas ela modula essa condição e ajuda a perpetuá-la”, diz o neurologista Fernando Cendes. n
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projetocentro multidisciplinar de pesquisa em obesidade e doenças as-sociadas (nº 2013/07607-8); Modalidade centros de pesquisa, inovação e difusão (cepid); Pesquisador responsável lício Velloso (fcm-unicamp); Investimento r$ 14.579.597,41 (para todo o cepid).
artigos científicosnaScimento, l. f. r. et al. omega-3 fatty acids induce neuro-genesis of predominantly pomc-expressing cells in the hypothalamus. Diabetes. 28 out. 2015.Van de Sande-lee, S. et al. partial reversibility of hypothalamic dysfunction and changes in brain activity after body mass reduc-tion in obese subjects. Diabetes. v. 60, n. 6, p. 1699-704. jun. 2011.de SouSa, c. t. et al. consumption of a fat-rich diet activates a proinflammatory response and induces insulin resistance in the hypothalamus. Endocrinology. v. 146. n. 10, p. 4192-9. out. 2005.
Gorduras saturadas, presentes em carnes vermelhas, e do tipo
trans, comuns em alimentos processados,
alterariam o funcionamento dos
sensores cerebrais da fome e da saciedade
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entrevista
A habilidade de gerir grupos e identificar o cerne dos problemas colocou o imu-nologista Jorge Kalil à frente de duas grandes instituições: o Instituto do Co-
ração (InCor) da Universidade de São Paulo (USP), principal centro de pesquisa, ensino e assistência em cardiologia no país, e o Instituto Butantan, o maior produtor nacional de soros e vacinas.
Indicado presidente do conselho diretor do In-Cor e depois da entidade que o gere, a Fundação Zerbini, Kalil coordenou a equipe que equacio-nou os problemas financeiros da instituição. No Butantan, coordenou a atualização dos proto-colos de produção de soros, a modernização das fábricas e acelerou o desenvolvimento de novas vacinas, como a da dengue.
Sem receio de expressar suas opiniões, Kalil critica os entraves burocráticos à pesquisa. Seu trabalho como pesquisador contribuiu para re-duzir a rejeição em transplantes, identificar as causas da doença reumática cardíaca e criar uma vacina contra o problema.
Natural de Porto Alegre, é casado há 38 anos com Liana, com quem tem dois filhos – Emma-nuelle, formada em administração, e Fernando, engenheiro que atua no mercado financeiro. Ele
Jorge Kalil
idade 62 anos
especialidade Imunologia
formação Universidade Federal do Rio Grande do Sul (graduação), Universidade Paris VII (especialização, mestrado e doutorado)
instituição Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Instituto do Coração Instituto Butantan
produção científica 522 artigos publicados em revistas científicas e 5.600 citações; orientou 14 dissertações de mestrado e 19 teses de doutorado
domador de crisesImunologista fala de sua gestão à frente do
InCor e do Butantan e adianta resultados
animadores da vacina brasileira contra a dengue
ricardo Zorzetto | RetRato Léo Ramos
sonha em criar no Butantan um centro para o de-senvolvimento de compostos com o potencial de se tornarem medicamentos. Leia a seguir a entrevista que concedeu em novembro à Pesquisa FAPESP.
Sua fama é de bom gestor e administrador. O senhor tem um talento para resolver encrencas?Acho que sim. Apesar de ter feito carreira como cientista, desde a juventude alguns amigos diziam que eu tinha de ser administrador ou empresário. Depois de me formar em medicina e iniciar a resi-dência em clínica médica, fui para a França como estagiário em 1978. Dois anos depois, quando eu mal tinha terminado o mestrado, meu orienta-dor e chefe do laboratório, Marc Fellous, foi para Israel fazer um sabático e me deixou chefiando o grupo. Quando ele voltou, foi para o Instituto Pasteur e continuei como chefe de laboratório no Hospital Saint Louis. Fiz meu doutorado quan-do já dirigia o laboratório. Fellous me ajudava e levei o laboratório. Tanto que, quando o profes-sor Jean Dausset, meu orientador no doutorado, ganhou o Nobel de Medicina, me convidou para ficar definitivamente. Na época, eu tinha de 27 para 28 anos. Pensei na possibilidade, conversei muito com minha mulher, que não queria mais
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Kalil, diante da diretoria do Butantan, onde comandou a modernização das fábricas de soros e a produção de novas vacinas
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ficar lá, e com Fellous, que disse: “Vá pa-ra o Brasil, que lá você pode fazer a dife-rença”. Assumi isso como missão e vim.
Veio para São Paulo?Não, voltei para o Rio Grande do Sul em 1983, onde fiquei um ano e pouco até os professores Fulvio Pillegi e Adib Jatene me chamarem para trabalhar no InCor. Eu tinha 30 anos e vim montar e dirigir um labo ratório de pesquisa, primeiro instalado na Faculdade de Medicina da USP e depois no InCor. Ali eu também tinha de gerir pessoas, administrar, ser pesquisador e buscar dinheiro. Criei a Associa ção Brasileira de Transplante de Órgãos, a ABTO, e fui seu primeiro presidente aos 32 anos. Em 1991, quan-do saí para um sabático na Universidade Stanford, nos Estados Uni-dos, também me colocaram como chefe do laboratório.
Já na chegada?Fui como professor-assisten-te visitante e me colocaram como chefe de laboratório de uma pessoa muito carismáti-ca, a Rose Payne, que havia concorrido com Dausset ao Nobel. Ela estava saindo e as-sumi o Laboratório de Tipa-gem de Tecidos por um ano. Nunca estudei formalmente administração, mas sempre fui curioso, conversava com amigos empresários e, len-do, aprendia técnicas e con-ceitos. Depois de um mês em Stanford, fiquei apavorado porque tinha perdido dinhei-ro segundo um relatório financeiro que recebi. Era um laboratório de pesquisa e prestação de serviços em imunologia de transplante e tínhamos feito muitos exames. Pensei que tivéssemos ganhado bastante dinheiro. Mas o aluguel da área era altíssimo, porque, mesmo sendo da universidade, ficava no lugar mais nobre de Palo Alto. Foi uma lição de gestão. Apesar disso, acho que fui bem. Que-riam que eu continuasse administran-do o laboratório, fazendo ciência e com uma posição definitiva de professor na universidade. Mas, de novo, com a ideia de ajudar a desenvolver o país, voltei.
Se arrepende de ter retornado?Não acho que tenha feito escolhas er-
radas. Talvez lá eu tivesse feito contri-buições científicas e tecnológicas mais importantes. Mas acreditei que aqui eu ajudaria mais o país. Isso tudo para dizer que sempre estive envolvido com ciên-cia, administração e uma vontade grande de ensinar e formar grupos. Quem tra-balha comigo não quer sair.
Como consegue manter as pessoas?Valorizo quem trabalha comigo. Quan-do voltei dos Estados Unidos, por uma época achei que tinha de ganhar mais dinheiro e trabalhei no Hospital Sírio- -Libanês. Em 1995 organizei o labora-tório de análises clínicas do hospital. Fiquei 10 anos lá. O laboratório passou de deficitário a lucrativo. Como o meu pagamento dependia do resultado ope-
racional, surgiu a cobiça. Achei que a fase tinha passado e voltei para a USP. Então houve uma crise grande no InCor.
A crise da Fundação Zerbini?Primeiro foi no InCor, e me chamaram para presidir o instituto. Quando vi que o problema não era no InCor, mas em uma área da Fundação Zerbini, assumi também a presidência da fundação. Con-segui acertar o passo do InCor e, depois de dois anos, saí da presidência do insti-tuto, embora ainda presida o conselho da fundação. Ainda estamos pagando algu-mas dívidas. Mas a fundação equacionou o problema e recuperou a credibilidade ao retomar sua função primordial, que é dar apoio às atividades do InCor. Hoje
ela tem sanidade e legitimidade. É res-peitada novamente.
Os problemas surgiram na época da construção do prédio novo do InCor?Houve a questão da construção do pré-dio novo, mas também teve o InCor de Brasília e a má aplicação de recursos. A fundação estava endividada. O pagamen-to da operação era feito por meio de em-préstimos, comprometendo o patrimônio. Na época, a dívida era superior a US$ 150 milhões. Trabalhamos e equaciona-mos. Quando as coisas estabilizaram, o Giovanni Cerri assumiu a Secretaria de Estado da Saúde e me pediu para vir para o Butantan, que estava com problemas. Tinha havido o desfalque na Fundação Butantan e o incêndio no prédio das co-
leções. Além disso, existia um descontentamento geral de quem trabalhava no instituto. Havia uma ruptura grande entre o instituto e a funda-ção, embora a fundação exis-tisse para auxiliar o institu-to. Depois de um ano e meio trabalhando com o José da Silva Guedes, presidente da fundação, conversamos e ele entendeu que tínhamos de unificar a direção de ambos por questão de governança corporativa. Contratei uma consultoria da Fundação Ge-tulio Vargas, que me ajudou a estruturar um sistema de go-vernança que apliquei quan-do o Guedes achou melhor eu assumir as duas direções.
Da fundação e do instituto?Exato. Levei isso até outubro de 2015, quando o secretário estadual da Saúde, David Uip, entendeu que já era tempo de dissociar de novo. Hoje sou presi-dente do conselho da fundação e o An-dré Franco Montoro Filho, que trabalha próximo a mim, é o diretor-presidente da fundação. É importante que não haja dissociação entre as atividades da funda-ção e as do instituto. Foi o que aconteceu no InCor e aqui quando ocorreram os problemas de gestão e de administração.
O que havia mudado antes das crises?No caso da Fundação Zerbini, primei-ro se criou o InCor-Brasília. O InCor é uma instituição do estado de São Paulo,
no incor, estamos pagando as dívidas, e a fundação Zerbini recuperou a credibilidade
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com atuação aqui, ligado à Faculdade de Medicina da USP. E a Fundação Zerbini havia criado um hospital independente em Brasília. Além disso, só para citar um exemplo, a fundação pensava em atuar em coleta de lixo no Nordeste. Começou a se envolver em negócios que nada ti-nham a ver com sua atividade-fim, que é dar apoio ao InCor.
Como vocês resolveram a questão?Saneamos, cortamos projetos que a fun-dação não tinha competência para tocar e a trouxemos de volta para sua função.
E qual era a situação no Butantan?Quando cheguei, estávamos com as fá-bricas de vacinas e soros paradas. Elas eram o estado da arte quando foram cria-das. Mas envelheceram e não atendiam mais às exigências atuais da Anvisa. Os registros estavam vencendo e passariam por inspeções sérias. Um dos problemas era a qualidade da água, que não atendia às condições exigidas pela Anvisa para as unidades de produção. Também havia problema com as zonas limpas dessas unidades, que exigem aparelhos de ar--condicionado com diferentes filtros, e com o fluxo de material, porque o lim-po não pode cruzar com o sujo. Mas o maior problema talvez fosse a fábrica da vacina da influenza [gripe]. Em 1999 o Butantan assinou com a empresa far-macêutica francesa Sanofi um acordo de transferência tecnológica, do qual participei por trabalhar com Jatene no Ministério da Saúde. A transferência tecnológica havia ocorrido, mas a vaci-na não era operante. Em 2011 fizemos os primeiros lotes, mas a Anvisa não deixou repassar para o ministério.
Por causa da qualidade da água?Não. Àquela altura, já tínhamos resolvi-do os problemas. Tínhamos a licença da Anvisa para preparar a formulação da va-cina da influenza, fracioná-la e colocá-la em ampolas. Em 2011, consegui fazer a Anvisa aprovar a produção dos vírus em ovos, aqui. Se tenho a produção do vírus, a próxima etapa é formular e en-vasar. Produzimos o vírus, formulamos e envasamos. Mas a Anvisa disse que o produto não podia ser vendido ao minis-tério, porque não tínhamos licença para fazer a linha toda. Era considerado um produto novo e era preciso registrar de outra forma. É burocracia, tive brigas
enormes. A Anvisa exigiu mudanças na área de formulação e envase e, em 2012, já tínhamos feito. Em 2013 entregamos os 7 milhões de doses. De 2013 para 2014, era preciso fazer a segunda etapa das mudanças. Novamente a Anvisa disse que não terminaríamos a tempo e os se-cretários do ministério me obrigaram a comprar 10 milhões de doses da Sanofi. Produzimos os 20 milhões que eu disse que produziríamos, mas eles compraram só 10 milhões. Depois, me preparei e en-tregamos 34 milhões em 2015.
É o suficiente para o país?O Brasil usa 54 milhões de doses e imu-niza um quarto da população. Quando começou, só imunizava idosos, crian-ças e profissionais da saúde. Por isso a fábrica foi concebida no início dos anos 2000 para produzir 20 milhões de doses. O restante é fornecido por empresas de fora do país. Nós ajudamos a importar.
E o problema com os soros?Quando cheguei os soros eram produ-zidos com dificuldade. Os protocolos de imunização têm mais de 100 anos e o nível de anticorpos produzidos pelos cavalos contra difteria e tétano não era suficientemente elevado. No produto final não havia problema, porque con-trolamos a qualidade. Revimos os pro-cessos e melhoramos a imunização dos animais. Na época a Anvisa falou que os três produtores nacionais de soros não tinham condições de seguir produzindo
e precisavam fazer reformas. Em 2014 e 2015 reformamos nossa fábrica. Duplica-mos a capacidade de produção e estamos no processo de validação.
Quando inicia a produção? Farão os 12 soros antes produzidos pelo Butantan?A ideia é começar a produzir neste início de ano. Alguns dos soros só nós fazemos. Durante a reforma, organizamos uma produção compartilhada com o Instituto Vital Brazil, no Rio, e a Fundação Eze-quiel Dias, a Funed, em Minas. Pegáva-mos o plasma dos cavalos do Butantan e preparávamos os soros na Funed.
Quanto se gastou nessas reformas e readequações?Em 2014 e 2015 investimos R$ 300 mi-lhões da Fundação Butantan para renovar essas fábricas. Ainda precisamos renovar as instalações da que faz a vacina contra tétano, difteria e pertússis, a DTP, e da fábrica da vacina contra a hepatite B. Mas estamos sem recursos. O Butantan é uma instituição pública e as margens de lucro são pequenas. A vacina que entregamos para o ministério a R$ 9 é vendida pelas empresas privadas às clínicas de imuni-zação a R$ 100 ou R$ 120. Vendemos a preço de produção. É nossa missão.
Como anda a vacina da dengue?O projeto de desenvolvimento da vacina da dengue estava devagar e aceleramos muito. Ele começou em 2008 no âmbito de um projeto Pipe [Programa de Apoio
Na fundação da aBto, em 1986: Kalil, no centro, acompanhado dos cirurgiões euryclides Zerbini, terceiro a partir da esquerda, e adib Jatene, último à direita
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à Pesquisa em Parceria para a Inovação Tecnológica], da FAPESP, em parceria com o CNPq. Terminamos os testes clíni-cos de fase 2 com excelentes resultados. A produção de anticorpos neutralizan-tes aproximou-se de 90% para os quatro sorotipos da dengue. Estamos prontos para a fase 3.
Quem vai receber a vacina nessa fase?Na fase 2, foram 300 pessoas. Na fase 3, serão 17 mil. Doze mil receberão a vacina e 5 mil, placebo. Ela será testada em 14 centros no Brasil selecionados de acordo com a incidência da dengue e dos dife-rentes sorotipos do vírus. A vacina está pronta. Foi aprovada pelo conselho de éti-ca e pesquisa da FM-USP, pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, a Conep, e também pela Comissão Técnica Nacio-nal de Biossegurança, a CTNBio, porque trabalhamos com vírus recombinante. A última série de perguntas feita pela An-visa já foi respondida. Estamos esperan-do a licença para iniciar o estudo. [Em dezembro a Anvisa aprovou a fase 3 e o Butantan, seguindo novas exigências de fabricação da agência, iniciou a produção dos lotes para os testes. A imunização deve começar em fevereiro, embora falte parte dos recursos para o ensaio clínico.]
Essa vacina foi desenvolvida junto com os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos, os NIH, certo?
Os NIH fizeram as deleções que deram origem ao vírus atenuado. Eles escolhe-ram o vírus e fizeram uma formulação líquida congelada, impossível de usar em países como o Brasil e a Índia. No Bu-tantan, trabalhamos no desenvolvimento industrial. Desenvolvemos estratégias para cultivar a célula em que o vírus é inoculado e obter grande rendimento e também métodos para purificar, liofilizar e torná-lo mais estável após a reconsti-tuição. Fizemos isso e comparamos com a vacina dos NIH. Temos uma vacina nova, que deu origem a outra patente. Nosso produto é diferente.
Já compararam com a dos NIH? O que mostram os testes?Comparamos com a dos NIH e tem o mesmo grau de imunização. No estudo de fase 2, testamos a vacina em indiví-duos que haviam tido contato com a dengue e em indivíduos sem contato com o vírus. No meu laboratório com o Esper Kallas, na USP, analisamos a pro-dução de anticorpos e a resposta celular. Em geral, ninguém estuda essa segunda parte. Todos avaliam o nível de anticor-pos, que são produzidos pelos linfócitos B. Mas, para fazer anticorpos, os linfó-citos B precisam interagir com outro tipo de célula, os linfócitos T helper ou auxiliadores. Fizemos um estudo iné-dito, com resultados excepcionais, que explica por que a nossa vacina funciona
bem e as outras, feitas a partir do esque-leto do vírus da febre amarela e parte do vírus da dengue, não oferecem proteção tão boa. Quando cheguei, esse projeto estava mortinho e hoje é o principal da casa. Há farmacêuticas nacionais e in-ternacionais interessadas.
Qual a capacidade de produção da vacina da dengue no Butantan?Estamos discutindo porque ainda não temos a fábrica final. Temos um projeto que, otimizado, permitirá produzir vírus para 100 milhões de doses por ano. Mas não temos como liofilizar e formular tu-do isso. Precisaremos de mais investi-mentos ou teremos de comprar esse ser-viço. Antes, vamos construir uma fábrica cujo projeto está pronto. O tempo de construção é de pouco mais de um ano.
Vai depender do resultado da fase 3?A Sanofi construiu a fábrica da vacina da dengue quando terminou a fase 2. As em-presas competitivas internacionais têm a noção do risco, coisa que não temos no Brasil. Aqui se faz a fábrica depois de ter a encomenda do governo. Idealmente é preciso construir a fábrica sem a fase 3. Se esperarmos a conclusão dos ensaios clínicos, a chegada da vacina ao merca-do será retardada em dois anos. Mas não temos recursos para isso.
Quanto seria necessário para construir essa fábrica?Para realizar a fase 3 e construir a fábri-ca, precisaremos de US$ 100 milhões. Só na fase 3 a Sanofi gastou € 300 mi-lhões e € 1,5 bilhão em todo o projeto. Creio que o que já gastamos não chegue a US$ 10 milhões, obtidos com o apoio do BNDES [Banco Nacional de Desen-volvimento Econômico e Social], que, ao lado da Finep [Financiadora de Estudos e Projetos], é uma das instituições a se-rem preservadas no país.
Qual a situação do Butantan hoje?Há dois problemas financeiros. Em 2014 o governo federal e o Poder Judiciário disseram que havia uma resolução de-finindo que o governo não pode fazer contrato com fundações. Os contratos de compra do governo tinham de ser feitos com a instituição pública, que, no nosso caso, é a Secretaria de Estado da Saúde. Com isso, deixamos de receber dinheiro. Quando o governo de São Paulo fatura e
em ótima companhia: Kalil, com a mulher, Liana, e o prêmio Nobel francês Jean Dausset, amigo e mentor
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recebe o recurso, tem de abater a dívida federal e repassa 13% para esse fim, mais 1,5% para o pagamento de precatórios e 1% de Pasep [Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público]. A Fundação Butantan não tem lucro para pagar isso. Em 2014, retiveram 15,5%. Além disso, o repasse do dinheiro leva um tempo. Temos R$ 300 milhões zan-zando por aí, do total de R$ 1,2 bilhão que vamos faturar em 2015 com a venda de soros e vacinas. O segundo problema é que em 2014 tivemos de assinar con-tratos no exterior de compras de vacinas que são repassadas para o Ministério da Saúde e isso nos onerou. Eu não queria assinar porque o dólar começou a variar. Mas não houve jeito. O Butantan com-pra em dólar ou euro e o governo não quer repassar a diferença de custo que houve com a des-valorização do real. Por es-sas questões, o Butantan está com problemas para pagar os seus fornecedores.
De onde vem a verba da fundação?De uma margem da venda de vacinas para o governo. Gos-taria de que tivéssemos tam-bém dinheiro de royalties.
Há interesse em transferir tecnologia para empresas?Se o Butantan ganhar por is-so, sim. São 3 bilhões de pes-soas vivendo em áreas de ris-co para a dengue. O Butantan não consegue produzir para todo mundo, nem tem canais de distribuição. Se conseguirmos fazer com que a vacina se espalhe pelo mundo e o Butantan receba royalties, poderíamos dar uma lição ao Brasil. O país poderia entender que não é só plantando soja que se gera riqueza, mas também criando tec-nologias e ganhando royalties. Não sabe-mos ser competitivos. Somos amarrados em burocracia e regras. Tenho dificulda-des enormes de gestão como adminis-trador público. A toda hora o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado querem saber o que está sendo feito. No Butantan, temos o Núcleo de Inovação Tecnológica, NIT, com um grande nú-mero de patentes. Há gente interessada em trabalhar com as patentes, mas somos asfixiados pela burocracia.
Por que é difícil inovar nessa área?Porque é burocrático. As farmacêuticas brasileiras ou não fazem inovação ou fazem nos Estados Unidos e na Euro-pa. As universidades, quando têm uma descoberta, acham que vão ganhar muito dinheiro com a patente e não facilitam. Os procuradores do Estado não querem que só uma empresa seja responsável por uma patente, embora a exclusividade se-ja decorrente do pedido de patente. Ela existe para que uma empresa desenvolva um composto e obtenha retorno finan-ceiro. Poderíamos ter mais investimento em inovação. O problema é regulatório e de gestão. A lei de inovação é compli-cada. Muitas regras atrapalham. Fruto disso é que não existe inovação na área farmacêutica e de saúde no Brasil.
O senhor sofre alguma retaliação por falar desses problemas?Crio inimizades com certeza. Mas a maioria, às vezes silenciosa, concorda comigo. Claro que é complicado e me incomodo. Qualquer pessoa pode ir ao Ministério Público e dizer que estou fa-zendo algo errado e tenho de me expli-car. Eles não têm o ônus da prova; eu é que tenho o ônus da defesa. Mas, cada vez que o pessoal do Tribunal de Con-tas vem aqui e entende o que estamos fazendo, nos ajuda.
Qual é a sua contribuição científica mais importante?A comunidade científica internacional premiou os trabalhos em que, em cola-
boração com Luiza Guilherme, descrevi os mecanismos de indução e progressão de doenças autoimunes humanas, sobre-tudo o mecanismo pelo qual um agente infeccioso leva o organismo a quebrar a tolerância a si mesmo e passa a se atacar. Entre esses estão os trabalhos em que descobrimos como o Streptococcus que-bra a tolerância imunológica e provoca a doença reumática cardíaca. É um mo-delo importante de doença autoimune desencadeada por um agente infeccioso. Outras doenças parecem funcionar as-sim, como o diabetes tipo 1 e a esclerose múltipla. Com Edecio Cunha Neto, vi algo semelhante em Chagas.
Tempos atrás o senhor disse que estava num momento da carreira em que
queria fazer a ciência translacional mais rapidamente.Já estou fazendo. Assinamos um contrato de R$ 20 mi-lhões com a GSK [GlaxoS-mithKline], financiado pela FAPESP, para instalar no Bu-tantan um dos centros da em-presa para o desenvolvimento de novos fármacos. Temos vá-rios compostos em desenvol-vimento, cujos princípios ati-vos foram obtidos a partir dos venenos. Também gostaria de criar o Instituto de Inovação em Biotecnologia do Butan-tan, o IIBB. A ideia é pegar compostos com potencial de virar novos medicamentos ou vacinas e desenvolvê-los em parceria com empresas. Seria uma espécie de incubadora.
Dos laboratórios do Butantan saem vários compostos, mas eles não conseguem ultrapassar a barreira de inovação e originar novos medicamentos.Temos 40 patentes ativas nas quais esta-mos trabalhando. É o que tenho de fazer. Já tenho muitas publicações científicas e citações. Quero desenvolver algo que possa ajudar efetivamente as pessoas. Com o surgimento do Zika, reuni o pes-soal do instituto e fizemos um programa de estudos da doença. Gosto de adminis-tração porque permite colocar em práti-ca minhas ideias científicas. Para parti-cipar do grupo de países desenvolvidos, o Brasil tem de mostrar que é capaz de resolver os seus próprios problemas. n
nossa vacina da dengue gerou altos níveis de anticorpos contra os quatro sorotipos do vírus
Lei cria novos incentivos à inovação,
mas vetos recebem críticas
Uma lei sancionada com vetos pela presidente Dilma Rousseff reúne um conjunto de medidas cujo objetivo é estimular a inovação e a interação entre centros de pesquisa públicos
e privados. A Lei nº 13.243/2016, isoladamente, não chega a ser um marco legal da ciência, tec-nologia e inovação, como vem sendo chamada, mas promove atualizações e aperfeiçoamentos do arcabouço jurídico sobre tais assuntos existente no país. Uma das leis modificadas é a de Inovação (nº 10.973). Em vigor desde 2004, ela já permitia, por exemplo, que laboratórios e equipamentos universitários pudessem ser usados por empre-sas, mediante remuneração. As novas regras, que ainda precisam ser regulamentadas, permitem, por exemplo, o compartilhamento do capital inte-lectual das universidades em projetos de inovação com o setor produtivo, além de desburocratizar o processo para esse tipo de cooperação.
Outra novidade atinge a carreira nas univer-sidades federais. Novas regras ampliam as pos-sibilidades de que pesquisadores em regime de dedicação exclusiva exerçam atividades remune-radas fora das universidades, mediante permissão da instituição. Um pesquisador sob esse regime
Bruno de Pierro
Arcabouço atualizado
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poderá dedicar-se 416 horas por ano a projetos de pesquisa em cooperação com empresas, ou oito horas por semana. Até então, o limite era de 120 horas. “Quando o pesquisador atua como con-sultor nas primeiras fases de viabilização de um produto, tanto a indústria quanto a universidade ganham com isso”, avalia Naldo Dantas, assessor de relações institucionais da Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras (Anpei), uma das entidades que re-presentaram o setor produtivo nas negociações sobre a lei no Congresso. Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, destaca que o impacto maior deverá ser observado na esfera federal. Isso porque universidades federais não contam com um regime de autonomia efetivo co-mo o existente nas três universidades estaduais paulistas, USP, Unicamp e Unesp. “Nas estaduais de São Paulo, o regime de dedicação exclusiva é assegurado por normas internas, provenientes de deliberações do conselho universitário. Já as federais dependem de uma lei nacional”, ex-plica. “Pesquisadores podem usar as oito horas por semana para consultoria e colaboração com empresas. Isso acontece com frequência nas me-lhores universidades do mundo.”
o QUE DiZa NoVa lEi
DeDicAção exclusivA
professores de universidades públicas federais
contratados sob regime de dedicação exclusiva
podem dispor de 416 horas anuais (ou oito horas
semanais) para desenvolver atividades
de pesquisa ou consultoria no setor privado
infrAestruturA compArtilhADA
Além de laboratórios e equipamentos, também
os recursos humanos de instituições públicas
podem ser compartilhados com empresas para fins de
pesquisa, mediante contrapartida financeira
ou fornecimento de mão de obra e serviços
remAnejAmento De recursos
As instituições de
ciência e tecnologia
e os pesquisadores
podem remanejar ou
transferir recursos
de um projeto com o
objetivo de viabilizar
os resultados da
pesquisa
núcleos flexíveis
os núcleos de inovação Tecnológica (niTs) passam a ter
personalidade jurídica própria, podendo funcionar como fundações ou
organizações sociais. A nova configuração confere maior autonomia para firmar
parcerias e negociar acordos de transferência de tecnologia
proprieDADe intelectuAl
instituições públicas
de pesquisa podem
ceder ao parceiro
privado a totalidade
dos direitos de
propriedade
intelectual mediante
compensação
financeira contrAtAção DiretA
Órgãos e entidades públicas podem contratar, sem licitação,
empresas e instituições públicas para a realização de
atividades de pesquisa em inovação tecnológica
sem licitAção
A aquisição de produto para pesquisa está dispensada de licitação.
o pesquisador pode comprar diretamente no Brasil e no exterior, por
exemplo, equipamentos ou reagentes mais adequados para seu trabalho,
e não necessariamente as opções mais baratas existentes no país
pesquisADor estrAngeiro
A lei prevê menos
burocracia para a
concessão de vistos
temporários a
estrangeiros, na
condição de bolsista
ligado a algum
projeto de pesquisa
concedido por
órgão ou agência
de fomento,
ou na condição de
pesquisador a
serviço do governo
brasileiro
30 z fevereiro De 2016
Outro ponto da nova lei estabelece que, pa-ra apoiar a gestão de sua política de inovação, a instituição de pesquisa pública poderá dispor de um Núcleo de Inovação Tecnológica (NIT), que pode ser inclusive constituído de persona-lidade jurídica própria, como entidade privada sem fins lucrativos. Até então, os NITs eram de-partamentos das universidades, com bolsistas temporários ou funcionários públicos realoca-dos para trabalharem nesses escritórios. Agora, o núcleo pode configurar-se como uma fundação de apoio, uma organização social ou continuar sendo um departamento. “O gestor da univer-sidade ganhou flexibilidade para escolher qual modelo adotar”, diz Plonski.
Carlos Américo Pacheco, atual diretor do Cen-tro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), que foi secretário executivo do Minis-
tério da Ciência e Tecnologia entre 1999 e 2002, lembra que a nova lei não é autoaplicável, ou seja, depende de regulamenta-ção e não poderá ser executada imediatamente. Ele observa que boa parte do que consta no tex-to são possibilidades jurídicas que não necessariamente serão seguidas por todas as institui-ções. “Digamos que o cardápio da política científica brasileira aumentou. Isso não significa que tudo será implementado na prática”, diz Pacheco, para quem a lei não pode ser vista isoladamente. “Para as novas regras serem praticadas, os agentes envolvidos, incluindo as agências de fomento, preci-sam criar condições concretas, como abrir mais editais de coo-
peração entre universidades e empresas e apoiar a associação de startups com grandes companhias.”
Baixa DENsiDaDEPaulo Feldmann, professor da Faculdade de Eco-nomia e Administração da USP, considera que a lei não dispõe de instrumentos para fazer com que o desenvolvimento científico e tecnológico voltado à inovação atinja níveis próximos aos de países como Estados Unidos e Coreia. “Ela não trata, por exemplo, de uma questão muito impor-tante, que seria fazermos como na Coreia do Sul, onde os gastos das empresas com P&D [pesquisa e desenvolvimento] são abatidos diretamente da linha de ‘imposto de renda a pagar’. Além disso, há inúmeros outros desafios a enfrentar, como a baixa densidade de engenheiros e pesquisadores, a péssima relação entre universidades e empresas, a falta de incubadoras de empresas de tecnologia e
compra de equipamentos e insumos para a pesquisa também foi tratada na nova lei
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“a lei flexibiliza a legislação científica no país e simplifica a relação entre instituições públicas e privadas”, diz Helena Nader
De acordo com Sergio Gargioni, presidente do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), a nova lei oferece uma releitura da Lei de Inovação. “É uma espécie de revisão, uma vez que muitos pontos da lei de 2004 mereciam ser atualizados”, considera. Por exemplo, o poder público (União, estados e mu-nicípios) e seus respectivos órgãos de fomento, universidades e institutos de pesquisa poderão conferir apoio à criação de ambientes capazes de promover a inovação, como parques tecnoló-gicos e incubadoras de empresas. “Essa questão não estava contemplada na legislação anterior e houve situações em que procuradores da Jus-tiça questionaram a legitimidade do repasse de recursos públicos de universidades para a cons-trução de parques tecnológicos”, explica Gui-lherme Ary Plonski, coordenador do Núcleo de Política e Gestão Tecnológica da Universidade de São Paulo (PGT-USP), que acompanhou a tramitação do projeto de lei no Congresso.
Segundo Plonski, a lei re-cém-aprovada é um dos pila-res do que se pode chamar de marco legal da ciência, do qual fazem parte várias outras leis, como o regime federal de com-pras e também a Emenda Cons-titucional nº 85, aprovada em fevereiro de 2015, que promo-veu alterações na Carta Magna. Para Helena Nader, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), a lei flexibiliza e desburocratiza a legislação científica no país, simplificando a relação entre instituições públicas e privadas. “Um artigo da nova lei permite, por exemplo, a dispensa de licitação para a aquisição de equi-pamentos e insumos para a pesquisa”, explica Helena Nader.
Em 2011, quando o Confap e o Conselho Na-cional de Secretários Estaduais para Assuntos de Ciência, Tecnologia e Inovação (Consecti) leva-ram a discussão para Brasília, o objetivo inicial era elaborar um código nacional para ciência, tecnologia e inovação. Mas a ideia foi desenco-rajada pelo governo federal. A justificativa dada era de que seria complicado demais juntar em uma mesma legislação assuntos tão variados e complexos como pesquisa clínica e biodiver-sidade, por exemplo. “Assim, o projeto inicial do código foi reformulado”, conta Plonski, que também é conselheiro da Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec).
PEsQUisa faPEsP 240 z 31
a cultura do brasileiro de aversão doentia ao risco, apenas para citar alguns exemplos. A legislação é importante, mas não suficiente”, pondera.
Alguns pontos da lei, como o referente aos NITs, se tornaram alvo de críticas de sindicatos e grupos de pesquisadores. Em novembro do ano passado, um grupo de entidades publicou um documento intitulado “Carta de Campinas: Em defesa da ciência e tecnologia pública no Brasil”, no qual afirmava que o projeto de lei, à época em tramitação no Senado, implicaria mudanças regressivas à pesquisa brasileira. Assinada por grupos de instituições, dentre as quais a Asso-ciação dos Docentes da Unicamp (ADunicamp) e a Associação dos Pesquisadores Científicos do Estado de São Paulo (APqC), a carta diz que a nova lei poderia provocar “o aumento da san-gria do fundo público para empresas privadas”.
O documento ainda criticou “o alto clero da comunidade de pesquisadores brasileiros, os acadêmicos empreendedores”, que, segundo a carta, atuam em favor de uma lógica privatizan-te. “Nos últimos anos, as linhas de pesquisa estão mais atreladas aos interesses econômicos do que aos sociais”, diz Joaquim Adelino de Azevedo Fi-
lho, presidente da APqC. “A nova lei beneficiará apenas projetos que possam trazer rentabilidade direta às empresas”, afirma Adelino. “Além disso, concursos públicos podem ser direcionados para atender exclusivamente os interesses privados.”
“Nas audiências públicas realizadas desde 2011, não discutimos carreira de docente nem concur-sos públicos”, salienta Gesil Amarante, professor da Universidade Estadual de Santa Cruz, na Bahia, e diretor do Fórum Nacional de Gestores de Ino-vação e Transferência de Tecnologia (Fortec). “Debatemos a necessidade de uma interação sau-dável e transparente entre academia, governo e empresas no país”, diz Amarante, que coordenou o grupo de trabalho organizado pelo deputado Sibá Machado (PT-AC) na Câmara Federal for-mado por representantes do governo, empresas, universidades e institutos de pesquisa com o objetivo de aperfeiçoar o projeto de lei inicial.
VEtosHavia a expectativa de que o projeto fosse san-cionado sem vetos, mas isso não ocorreu. Os mi-
nistérios da Fazenda e do Planejamento manifesta-ram-se contra alguns tópi-cos da lei, apontando “con-trariedade ao interesse pú-blico”. “Não esperávamos que isso fosse acontecer. Se uma das estratégias para o país sair da crise é incentivar a produção e a inovação, com os vetos as
empresas podem ser desestimuladas a investir em pesquisa”, afirma Gargioni, do Confap.
Um dos vetos removeu o dispositivo que previa a dispensa de licitação pela administração pú-blica para contratar micros, pequenas e médias empresas com faturamento anual de até R$ 90 milhões para prestar serviços ou fornecer bens produzidos a partir da aplicação do conhecimen-to. Segundo Naldo Dantas, da Anpei, essa decisão diminui o poder de compra das estatais. “Com o veto, somente grandes empresas e institutos irão se beneficiar das encomendas do Estado. Já as startups, com estrutura e capital reduzidos, têm dificuldade de concorrer com empresas maiores em um processo de licitação.”
Entidades que integram a Aliança em Defesa do Marco Legal da Ciência, Tecnologia & Inova-ção, entre elas a SBPC, o Confap e a Academia Brasileira de Ciências (ABC), encaminharão um relatório ao Congresso com uma avaliação do im-pacto negativo dos vetos. A expectativa de Helena Nader, da SBPC, é de que eles sejam derrubados. “A lei foi apoiada e aprovada por unanimidade, na Câmara e no Senado, por todos os partidos. Por isso, não aceitaremos esses vetos”, diz ela. n
“Há outros desafios a enfrentar, como a baixa densidade de pesquisadores”, diz Paulo feldmann
32 z fevereiro De 2016
FAPESP e BG Group lançam centro
de pesquisa em São Paulo
EnErGiA y
Para desenvolver o gás natural
Pesquisadores da Escola Poli-técnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) estão estudando um método al-ternativo de armazenamen-to de gás natural que pode
levar ao desenvolvimento de tanques veiculares mais eficientes e compactos. O objetivo é aperfeiçoar uma tecnologia já conhecida, mas pouco explorada, ba-tizada de Gás Natural Adsorvido (ANG, na sigla em inglês). Nesse processo, as moléculas de gás se fixam na superfície de substâncias sólidas porosas, como o carvão ativado, e com isso diminuem o espaço existente entre elas. “O método pode diminuir o tamanho dos tanques instalados nos porta-malas dos veículos e também permitirá a fabricação de re-cipientes em outros formatos, não ape-nas o cilíndrico”, explica Emílio Carlos Nelli Silva, autor da pesquisa junto com seu aluno de doutorado Ricardo Cesare Román Amigo. “Resultados preliminares indicam que existem determinadas dis-
tribuições de porosidade que diminuem os tempos de carga e descarga de tanques ANG”, diz Silva.
O estudo é um dos 28 projetos que integram o Centro de Pesquisa para Ino-vação em Gás, iniciativa lançada no dia 1º de dezembro em São Paulo. Com sede na USP, o centro é fruto de uma parceria entre a FAPESP e a BG Brasil, empresa do britânico BG Group. Ao longo dos próximos cinco anos, a Fundação inves-tirá R$ 28 milhões e a BG Brasil, R$ 30 milhões. Em contrapartida, a USP ofe-recerá apoio institucional e administra-tivo aos pesquisadores. No total, serão envolvidos cerca de 170 pesquisadores da Poli e de outras instituições, como os institutos de Energia e Ambiente (IEE) e de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen). Haverá também participação de pesquisadores de instituições interna-cionais, entre elas o Imperial College e a University of Leeds, no Reino Unido, além de universidades dos Estados Uni-dos, França e Alemanha.
“A parceria tem o potencial de pro-porcionar aplicações reais na indústria, como no pré-sal e no enfrentamento de desafios muito particulares, como o au-mento da eficiência e o desenvolvimento de novos conceitos de propulsão híbrida para frotas de navios de metano”, disse Adam Hiller, diretor de tecnologia do BG Group, durante a cerimônia de apresen-tação do centro. Para José Goldemberg, presidente da FAPESP, trata-se de um marco da participação brasileira no que ele chamou de “revolução energética global”: “O mundo vive uma revolução que deve culminar no amplo desenvol-vimento de fontes renováveis de energia, mas nós ainda não chegamos lá”. Nesse cenário, afirma Goldemberg, o gás na-tural se apresenta como uma transição por ser o mais limpo dos combustíveis fósseis. “A FAPESP, ao lado da BG Bra-sil, financia uma iniciativa de propor-ções compatíveis com os desafios e os potenciais que São Paulo tem para gerar energia limpa. A Fundação acredita no
PESQUISA FAPESP 240 z 33
O Programa de Engenharia, coordena-do por Emílio Carlos, aborda problemas relacionados à queima do gás natural co-mo combustível e também à questão de como otimizar e utilizar novas tecnologias para seu transporte. Já o Programa de Físico-Química dedica-se ao desafio da conversão de gás natural em outros pro-dutos. “Trata-se de pensar o gás como insumo de processos da indústria quími-ca”, explica Reinaldo Giudici, professor da Poli-USP e coordenador do programa. Nessa linha de pesquisa, alguns projetos buscam converter metano em gás de sín-tese, uma mistura de monóxido de car-bono (CO) e hidrogênio, que serve de matéria-prima para a produção do me-tanol, solvente e também matéria-prima para obtenção de outros produtos quími-cos na indústria petroquímica. Outro pro-jeto trata do desenvolvimento de células de combustível. O hidrogênio é utilizado nessas células para gerar eletricidade com
emissão zero de gases que contribuem para o efeito estufa. Outro projeto envol-ve a geração híbrida de eletricidade a par-tir do gás natural e da energia solar.
Quanto ao Programa de Política Ener-gética e Economia, coordenado por Ed-milson Moutinho Santos, do Instituto de Energia e Ambiente da USP, o objetivo é promover a infraestrutura e as políticas de incentivo à utilização de gás. “A arti-culação dos programas será fundamen-tal. Teremos de desenvolver tecnologias e métodos e, paralelamente, integrar o gás natural aos sistemas de energia no contexto brasileiro emergente”, conclui Meneghini. n Bruno de Pierro
papel do conhecimento científico nessa revolução”, diz Goldemberg.
De acordo com Julio Meneghini, pro-fessor da Poli-USP e coordenador-geral do centro, os pesquisadores têm pela frente uma diversidade grande de desa-fios para enfrentar, desde buscar melho-res maneiras de separação e transporte de gás natural a partir da bacia do pré--sal de Santos até a costa, passando pelo aumento da eficiência dos processos de combustão até a promoção da produção de biogás. “No caso do biogás, é possí-vel obtê-lo por meio da biomassa, origi-nária do lixo, de resíduos da produção agrícola ou da produção do etanol. Esse gás pode ser utilizado para geração de energia e eventual substituição do óleo diesel”, diz Meneghini. Para efeito de organização, os projetos já em andamen-to foram divididos em três programas: Engenharia, Físico-Química e Política Energética e Economia.B
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Projeto
Brasil research Centre for Gas innovation (n° 2014/ 50279-4); Modalidade Centro de Pesquisa em Enge-nharia; Pesquisador responsável Julio romano Mene-ghini (Poli-uSP); Investimento r$ 28 milhões (FAPESP) e r$ 30 milhões (BG Group).
um dos objetivos do novo centro será
promover pesquisas para tornar mais
eficiente o transporte de gás em navios
34 z fevereiro De 2016
Criação de gado em campo nativo,
vegetação típica do sul do país,
concilia interesses das duas partes
em abril, supermercados do Rio Grande do Sul devem receber o primeiro lote de carne de bois criados em campos nativos, um tipo de vegetação típica do sul. É o resultado de 12 anos de negociações, debates e alianças entre ambientalistas e pecuaristas, unidos em torno de uma estratégia até agora bem-sucedida
de preservação com aproveitamento econômico de uma vege-tação nativa e de sua biodiversidade. A pecuária em campos nativos é um modo de produção que favorece a preservação do ambiente original, que de outro modo poderia ser convertido em agricultura ou pastagens dominadas por gramíneas de espécies exóticas como o capim braquiária.
Ainda que limitada a terras gaúchas e de pequena escala diante da dimensão do rebanho bovino brasileiro, calculado em 212 milhões de cabeças, essa estratégia –esperam os produ-tores – deve resultar em uma carne de qualidade melhor, com menos gordura e mais sabor, como resultado da dieta variada que os animais poderiam usufruir. Nos campos sulinos já fo-ram identificadas 450 espécies de gramíneas nativas, como o capim-forquilha, grama-tapete, barbas-de-bode e cabelos-de--porco, uma diversidade maior que em outros ambientes. As formas campestres do Cerrado, por exemplo, apresentam cerca de 100 espécies nativas de gramíneas, a maioria de baixo valor nutricional. Até o final de 2015, 50 mil bois e vacas eram criados
COOPERAÇÃO y
Carlos Fioravanti
juntos
Pecuaristas eambientalistas
PESQUISA FAPESP 240 z 35
Águia-chilena, uma das espécies de
aves encontradas nos campos sulinos
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ini
36 z fevereiro De 2016
Pesquisa FAPESP no 156). Em 2004, ao ingressar na SAVE/BirdLife, ele encon-trou em gestação o projeto de conser-vação das aves dos campos nativos, que se estendem pelos três países vizinhos. Para continuá-lo, seu primeiro desafio foi expandir o universo de interlocuto-res. “Eu conhecia apenas pesquisadores acadêmicos, mas tinha de falar também com os criadores de gado”, disse.
Em uma reunião de pecuaristas em Bagé em 2006, Develey se sentiu final-mente com sorte ao ouvir uma apresen-tação do agrônomo Fernando Adauto Loureiro de Souza, então à frente da Associação dos Produtores de Carne do Pampa Gaúcho da Campanha Me-ridional, sobre a criação de um selo de indicação geográfica a ser conferido aos criadores de bois em campos nativos. “O senhor está fazendo exatamente o que queremos fazer”, disse Develey. Souza o ouviu, gostou da proposta e percorreu
em 8 mil quilômetros quadrados (km2) de campos preservados de 110 fazendas do Rio Grande do Sul, certificadas pela Alianza del Pastizal (campos nativos, em espanhol), uma associação de produto-res criada pelas unidades da organização não governamental BirdLife no Brasil, no Uruguai, na Argentina e no Paraguai. A empresa de alimentos Marfrig fez um acordo com 24 produtores certificados para receber, abater e distribuir inicial-mente 250 animais por mês.
“Temos de conservar os campos para assegurar a perenidade do negócio”, dis-se Mathias Almeida, gerente de susten-tabilidade da empresa. Vegetação predo-minante no Pampa, ecossistema natural que ocupa 176,5 mil km2 no Rio Grande do Sul ou 2% do território brasileiro, os campos nativos estão encolhendo. Sua área passou de 41% do Pampa em 2002 para 36% em 2008, por causa da expan-são de monoculturas como a de soja e das pastagens com espécies exóticas de gramíneas, que afugentam a biodiversi-dade. Os campos abrigam cerca de 500 espécies de aves, como a ema, o joão--de-barro, o veste-amarela, a noivinha--de-rabo-preto, o sabiá-do-campo e a águia-chilena, além de 100 espécies de mamíferos, entre eles o veado-campeiro, ameaçado de extinção, e um roedor só encontrado nessa região, o tuco-tuco.
IdEntIdAdE gAúChA“A pecuária sobre campo nativo, com o adequado manejo, é uma excelente oportunidade de ganho econômico com manutenção dos serviços ecossistêmicos dos ambientes campestres”, diz o geógra-fo Heinrich Hasenack, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “O grande cuidado que se deve ter é identificar a carga animal adequada para cada tipo de campo, evitando assim a sobrecarga animal.” A Alianza propõe o limite de 0,8 animal por hectare, bem menos que os 3 ou 4 por hectare de pastagens mais adensadas, como forma de preservar a vegetação e a lucratividade.
“Se bem manejado sem sobrecarga animal, a pecuária sobre campo nativo é considerada um elemento-chave na ma-nutenção da biodiversidade e dos servi-ços ecossistêmicos da região, assim como o fogo é importante na manutenção da diversidade em algumas fisionomias do Cerrado”, reitera o biólogo Tiago Gomes, professor da Universidade Federal do
Pampa (Unipampa). “Práticas adicionais simples podem aumentar a riqueza de espécies nas propriedades rurais, como a rotação dos animais em sistemas de potreiros ou piquetes, garantindo que as plantas possam sementar antes de serem pastejadas e oferecendo campos heterogêneos, com diferentes alturas e adensamentos de moitas, aos animais.”
Pecuaristas e ambientalistas conside-ram satisfatórios os resultados obtidos até agora. “Estamos conseguindo pre-servar não só a biodiversidade e uma vegetação típica do Sul, mas também a identidade gaúcha, muito ligada à pe-cuária e aos campos nativos”, observou o biólogo Pedro Develey, diretor execu-tivo da organização não governamental SAVE/BirdLife e um dos articuladores da estratégia que incentivou a criação de gado nesse ambiente natural como forma de preservar, principalmente, a diversidade e as populações de aves (ver
A pecuária hoje é vista como importante para manter a biodiversidade dos campos nativos, como o fogo no Cerrado
limite recomendado é de 0,8 animal por
hectare como forma de preservar
a vegetação e a lucratividade
PESQUISA FAPESP 240 z 37
prepararam guias de identificação de aves e, como resultado, “os pecuaris-tas começaram a prestar mais atenção nas aves das terras deles”, disse Deve-ley. Em um levantamento publicado na edição de novembro de 2015 da revista Lavras do Sul, Glayson Bencke e outros biólogos do Museu de Ciências Natu-rais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul identificaram de 85 a 120 espécies de aves em cada uma das sete fazendas examinadas. De acordo com os pesquisadores, a diversidade e as populações de aves parecem estar se mantendo.
“O melhor negócio é produzir com mais rentabilidade, não é produzir mais”, disse Souza. Foi dele a ideia de organizar os leilões de bezerras, novilhas e vacas criadas em campos nativos para serem usadas para formar novos rebanho. To-dos os animais dos dois primeiros leilões foram vendidos – 1.115 no primeiro, em
com ele e outros biólogos as terras dos demais fazendeiros interessados em pre-servar os campos nativos, ainda que sob o impacto da convivência com o gado, que pisoteia e come a vegetação.
AvES À vIStAAos poucos, ambientalistas e pecuaris-tas venceram a resistência recíproca, acertaram o que era possível fazer e, em conjunto, prepararam os critérios de certificação ambiental, emitidos pela Alianza aos produtores que preservarem os campos nativos em pelo menos 50% de suas terras. “Sem radicalismos”, pon-derou. “Nenhum produtor deixará de ser aceito na Alianza se plantar soja ou eucalipto na metade da propriedade.” Procurando integrar os grupos, ele fez palestras em reuniões de pecuaristas e Souza, em um congresso de ornitologia.
Para fortalecer as propostas de con-servação da biodiversidade, os biólogos
2014, e 1.478 no do ano seguinte –, a um preço pelo menos 10% acima do valor de mercado, com negócios fechados de R$ 1,5 milhão e R$ 2,5 milhões. O terceiro está marcado para 23 de abril na cidade gaúcha de Lavras do Sul.
Nas próximas semanas, quando as em-balagens com as carnes dos bois chega-rem aos balcões refrigerados dos mer-cados gaúchos, começará a batalha pela conquista do consumidor. Se os compra-dores não gostarem do sabor, da con-sistência e do preço da carne dos ani-mais criados no campo nativo, o enga-jamento dos pecuaristas e as conexões entre pessoas e instituições poderiam se enfraquecer. n
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ini Artigo científico
DEVElEY, P. f. et al. Conservação das aves e da biodiver-sidade no bioma Pampa aliada a sistemas de produção animal. Revista Brasileira de Ornitologia. v. 16, n. 4, p. 308-15, 2008.
38 z fevereiro De 201638 z fevereiro De 2016
Uma ferramenta para editar o
DNA
Um sistema que permite a bac-térias reconhecer e combater invasões virais promete uma novidade significativa na ge-
nética. Trata-se de uma proteína guia-da por uma molécula de RNA que corta as fitas de DNA em pontos específicos e ativa vias de reparo. No Brasil, vários pesquisadores já se preparam para incor-porar às suas linhas de pesquisa a técnica criada em 2012. É uma história que está no início e por enquanto rendeu poucos resultados palpáveis. Vale a pena ficar de olho, tanto pelo que o sistema tem de promissor quanto pelo potencial de alterar genes humanos e produzir bebês sob medida, o que suscita cautela a ponto de se discutir uma moratória ao seu uso.
“É um grande equalizador, até nós conseguimos fazer”, brinca o médico José Xavier Neto, do Laboratório Nacio-nal de Biociências (LNBio), em Campi-nas, sobre o sistema que ficou conhecido como CRISPR-Cas9. A sigla significa
manipulações genéticas em centenas de clones de células-tronco embrionárias. Para aprender a fazer esse trabalho de escala quase industrial ela foi, ainda du-rante o doutorado, ao Centro de Câncer MD Anderson da Universidade do Texas, onde acabou aprendendo a nova técnica com o geneticista norte-americano Ri-chard Behringer. Voltou ao laboratório paulista trazendo na bagagem os vetores que injetaria nos embriões de camun-dongos para produzir os nocautes que necessitava. Deu certo: Ângela ensinou os colegas e, em pouco mais de um ano, o laboratório já produziu nocautes para quatro genes diferentes.
CombAte A DoeNçAsO potencial da CRISPR-Cas9 na pesquisa de agentes causadores de doenças tam-bém atraiu os parasitologistas venezue-lanos Noelia Lander e Miguel Chiurillo, interessados em estudar o parasita Try-panosoma cruzi, causador da doença de
maria Guimarães
CiêNCiA Genética y
Conjunto de Repetições Palindrômicas Regularmente Espaçadas, que funcio-na com uma proteína associada, a Cas. A CRISPR-Cas9 pode ser inserida em células usando vírus ou por meio de in-jeções de DNA nas fases iniciais de um embrião. Uma molécula de RNA sinte-tizada especialmente serve de guia para atingir o gene que se pretende alterar (ver infográfico ao lado). São procedi-mentos ao alcance da maior parte dos laboratórios de genética, o que confere autonomia aos pesquisadores.
No laboratório de Xavier tudo come-çou com Ângela Saito, que à época fazia doutorado sob orientação do biólogo Jörg Kobarg, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e precisava produzir um roedor com deficiência na produção de uma determinada proteí-na (nocaute) para estudar seu papel na leucemia. Nas bancadas de Xavier, ela começou o tedioso processo tradicio-nal, em que é preciso gerar e rastrear as
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edição
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sequência-alvo
FoNtes DouDna e chaRpentieR / science e ânGela saito / lnbio
Chagas, e quem sabe contribuir para o desenvolvimento de terapias alternati-vas. Atualmente em estágio de pós-dou-torado na Faculdade de Ciências Médi-cas da Unicamp em colaboração com os bioquímicos Aníbal Vercesi e Roberto Docampo, argentino que é professor na Universidade da Geórgia, nos Estados Unidos, e atua como professor visitan-te na universidade do interior paulista, Noelia já mostrou que consegue alterar genes em artigo de 2015 na revista mBio. Ela avariou genes ligados ao flagelo dos parasitas – a estrutura semelhante a uma cauda que lhes permite locomover-se. “É um fenótipo muito fácil de enxergar, porque o flagelo se separa do corpo celu-lar e o parasita fica depositado no fundo da garrafa”, explica. A prova de conceito é uma vitória porque os tripanossomos têm se mostrado muito eficazes em re-sistir a qualquer tentativa de manipu-lação genética. Agora, nos estudos com genes envolvidos na sinalização celular
Usando como referência um trecho do DNA, o RNA-guia se liga à proteína Cas9, que faz o corte próximo à sequência PAM, abrindo caminho para a inativação (no alto) ou a correção (abaixo)
Feito o corte, entra em ação o mecanismo natural de reparo, que pode alterar o gene a ponto de eliminar sua função
O acréscimo de fragmentos de tamanhos variados pode corrigir ou inserir genes
1
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para inativar genes com CRISPR-Cas9 já está razoavelmente dominada, o su-cesso na inserção de trechos específicos ainda é baixo.
A geneticista Maria Rita Passos Bue-no, do Instituto de Biociências da USP (IB-USP), também aposta na edição do DNA para estudar doenças humanas com a ajuda da pesquisadora Erika Ka-gue, que aprendeu a técnica no final do estágio de pós-doutorado na Universi-dade da Pensilvânia, nos Estados Uni-dos. O doutorando Luciano Abreu Bri-to estabeleceu uma linhagem de peixe--paulistinha, o zebrafish (ver Pesquisa FAPESP nº 209), para estudar fissura de lábio palatino. “Encontramos a mu-tação por sequenciamento em pacientes, agora posso inserir no peixe para testar se é mesmo relevante para a doença”, conta. Em células humanas isoladas, a doutoranda Danielle Moreira inseriu mutações ligadas ao autismo. No futu-ro, ela pretende usar iPSCs que possam dar origem a neurônios, para verificar se as alterações genéticas identificadas em pacientes alteram o funcionamento de células nervosas.
Lygia da Veiga Pereira, geneticista do IB-USP, também está começando a al-terar diretamente células humanas. Sua aluna de mestrado Juliana Sant’Ana es-
por cálcio, vem a parte que pode ajudar no combate a essa doença que carece de tratamento eficaz na fase crônica. “Os níveis de cálcio mudam muito quando o parasita infecta o hospedeiro”, explica. “Se conseguirmos mexer nessas proteí-nas, que são diferentes entre o parasita e o hospedeiro vertebrado, pode ser o caminho para uma terapia alternativa.”
O combate à transmissão da dengue é o objetivo do biólogo Jayme de Souza--Neto, do campus de Botucatu da Uni-versidade Estadual Paulista (Unesp). No mosquito Aedes aegypti, ele comparou os RNAs transcritos de mosquitos infecta-dos e resistentes ao vírus em populações naturais em Botucatu, interior paulista, e Neópolis, em Sergipe, e identificou genes que podem estar ligados à resistência. “Estamos começando a fazer as muta-ções nos genes dos mosquitos”, relata. Até julho, ele pretende ter no laboratório populações nas quais poderá verificar se a suscetibilidade ao vírus foi altera-da. Ainda longe no horizonte, a ideia é produzir mosquitos resistentes, que por não serem infectados também não trans-mitem a doença aos seres humanos. O projeto tem avançado no âmbito da co-laboração estabelecida entre a FAPESP, a Unesp e a Universidade de Keele, no Reino Unido (ver Pesquisa FAPESP nº
230). Souza-Neto passou três meses no laboratório de Julien Pelletier, que este-ve em Botucatu por quatro meses. “Em abril ele deve voltar para começarmos as injeções nos embriões de mosquitos”, planeja o pesquisador.
A bióloga Natália Gonçalves está li-dando com sujeitos maiores: cães da ra-ça golden retriever usados como modelo para estudos da distrofia muscular de Duchenne, uma doença degenerativa que acaba impedindo os pacientes de andar e comer (ver Pesquisa FAPESP nº 237). Durante o doutorado ela esta-beleceu linhagens de células reprogra-madas (células-tronco de pluripotência induzida, ou iPSCs) a partir de células da pele dos cães. Agora, no estágio de pós-doutorado sob supervisão de Car-los Eduardo Ambrósio, da Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da Universidade de São Paulo (FZEA-USP), pretende estabelecer a linhagem com cé-lulas de cães distróficos e corrigir o gene defeituoso para produção da proteína distrofina em parceria com o geneticista francês Jean-Paul Concordet, do Museu Nacional de História Natural, em Paris. “Já sabemos qual região do gene está fal-tando, então a ideia é produzir esse peda-cinho e inseri-lo”, planeja. Ela tem muito trabalho pela frente: enquanto a técnica
As aplicações são tantas que a possibilidade de editar genes humanos tem causado temores
mutação do albinismo: para efeito homogêneo, é preciso injetar no início da fase embrionária
40 z fevereiro De 2016
tá em contato com o geneticista Chad Cowan, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos, para aprender como uti-lizar o CRISPR-Cas9. A ideia é provocar no gene da proteína fibrilina a mutação típica da síndrome de Marfan. Uma vez bem-sucedida em células de fácil culti-vo, Lygia pretende passar à linhagem de células-tronco desenvolvida em seu la-boratório, a BR-1 (ver Pesquisa FAPESP nº 153). “Quero produzir células cardía-cas e células de osso com a mutação”, planeja. A facilidade de trabalhar com a CRISPR-Cas9 permite passar por es-sa fase com relativa rapidez e chegar ao que interessa: o estudo de como a doença se comporta em diferentes tecidos. “A ciência vai começar quando pudermos comparar essas células.”
estrUtUrA proteiCAMaria Rita explica que o conhecimen-to sobre o sistema CRISPR-Cas9 está avançando rapidamente na busca por uma exatidão cada vez maior na edição. Uma das frentes agora exploradas por Jennifer Doudna, da Universidade da Califórnia em Berkeley, uma das protago-nistas no desenvolvimento da técnica, é desvendar como a estrutura da proteína permite que ela se encaixe no DNA e o corte em um ponto específico, conforme mostra artigo publicado em janeiro na revista Science.
O bioquímico teuto-chileno Martin Würtele, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), já se dedicava a desven-dar a estrutura tridimensional dessas
proteínas antes mesmo da descoberta de Jennifer e sua colega francesa Em-manuelle Charpentier, do Instituto Max Planck de Biologia da Infecção, Alema-nha, em 2012. “Começamos a trabalhar há uns cinco anos com diversas proteí-nas CRISPR-Cas por sua contribuição para a proteção das bactérias contra os seus principais inimigos naturais, os fagos, e pela possibilidade de se fazer edição no DNA”, conta. “Mas de lá pra cá descobriram a Cas9, que, ao contrá-rio dos sistemas CRISPR-Cas com que trabalhamos, faz praticamente todo o processo com uma única proteína e é um candidato sério ao Prêmio Nobel.” Ele revelou que uma proteína chamada Csm2, retirada de uma bactéria, é forma-da por uma longa cadeia de aminoácidos em hélice, circundada por três hélices mais curtas. “A proteína Csm2 é com-pletamente diferente das descritas em outros complexos”, conta Würtele. Para ele, essa proteína é parte de uma defesa importante da bactéria e o conhecimento de como funciona pode vir a ser usado contra as próprias bactérias. “Há um in-teresse muito grande de usar fagos como potenciais substitutos de antibióticos.”
As aplicações são tantas que a possi-bilidade de editar genes humanos gera temores. Por enquanto está garantida a continuidade das pesquisas, com a pro-posta de se proibir a implantação de em-briões humanos alterados. Muitos pes-quisadores revelam preocupação, mas José Xavier Neto não acredita em um risco real. “Os malefícios de se sobrepor
à evolução podem ser muito maiores que os benefícios”, alerta. “A possibili-dade de efeitos off target [não previstos] pode fazer com que se atire no que se viu e acerte o que não se viu, produzin-do bebês ‘programados’ para aparência ou desempenho, mas com leucemia ou problemas piores.” Contra isso existem mecanismos de controle como comitês de ética e, no Brasil, a Lei de Biossegu-rança, que proíbe a engenharia genética em embriões humanos. O Reino Unido decidiu: em 1º de fevereiro autorizou a edição de genes em células humanas no âmbito de pesquisa científica. n
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projetos1. Geração de camundongo nocaute para o receptor nuclear órfão coup-tFii: investigação dos mecanismos moleculares que determinam a expressão atrial-especí-fica do promotor do gene smyhc3 (nº 2015/10166-9); Modalidade bolsa no país – pós-doutorado; Pesquisador responsável José Xavier neto (cnpem); Bolsista ângela saito (cnpem); Investimento R$ 169.558,00.2. sinalização por íons de cálcio em tripanossomatídeos (nº 2013/50624-0); Modalidade auxílio à pesquisa – pro-grama spec; Pesquisador responsável Roberto Docampo (unicamp); Investimento R$ 1.955.088,00.3. edição gênica por cRispR-cas9 na correção da Distrofia muscular de Duchenne no modelo canino (GRmD) a partir de células de pluripotência induzidas (nº 2015/09575-1); Modalidade bolsa no país – pós--doutorado; Pesquisador responsável carlos eduardo ambrósio (usp); Bolsista natalia Juliana nardelli Gon-çalves (usp); Investimento R$ 169.558,00.4. caracterização dos mecanismos de ação antiden-gue mediados pela microbiota intestinal de populações naturais do mosquito Aedes aegypti (nº 2013/11343-6) Modalidade auxílio à pesquisa – Jovens pesquisadores; Pesquisador responsável Jayme augusto de souza-neto (unesp); Investimento R$ 2.209.619,50.5. Geração de mutações no gene Fbn1 em células-tronco pluripotentes induzidas (ipscs) utilizando o sistema cRispR-cas9 (nº 2015/01339-7); Modalidade bolsa no país – mestrado / capes; Pesquisadora responsável lygia da Veiga pereira carramaschi (usp); Bolsista Juliana borsoi sant’ana (usp); Investimento R$ 38.823,80.6. análise genômica para a compreensão dos mecanis-mos genéticos etiológicos das fissuras labiopalatinas na população brasileira (nº 2011/23416-2); Modalidade bolsa no país – Doutorado; Pesquisadora responsável maria Rita dos santos e passos bueno (usp); Bolsista luciano abreu brito (usp); Investimento R$ 146.770,80.7. biologia estrutural de proteínas processadoras de ácidos nucleicos em bactérias com elevada relevância biomédica (nº 2011/50963-4); Modalidade auxílio à pesquisa – Regular; Pesquisador responsável martin Rodrigo alejandro Würtele alfonso (unifesp); Investi-mento R$ 496.766,00.
artigos científicos
JianG, F. et al. structures of a cRispR-cas9 R-loop complex primed for Dna cleavage. science. on-line. 14 jan. 2016.lanDeR, n. et al. cRispR-cas9-induced disruption of paraflagellar rod protein 1 and 2 genes in Trypanosoma cruzi reveals their role in flagellar attachment. mbio. v. 6, n. 4, e01012-15. jul-ago. 2015.Gallo, G. et al. structural basis for dimer formation of the cRispR-associated protein csm2 of Thermotoga maritima. Febs Journal. on-line. 10 dez. 2015.Gallo, G. et al. purification, crystallization, crystallo-graphic analysis and phasing of the cRispR-associated protein csm2 from Thermotoga maritima. structural biology Communications. F71, p. 1223-27. out. 2015.
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Sequenciamento confirma que variedade em
circulação no país veio da Polinésia e projeção estima
que deve se espalhar por outros países
Saúde y
Zika em expansão
Ricardo Zorzetto
abaixo, o genoma completo da variedade do vírus zika que circulou no surto de 2013 e 2014 na Polinésia Francesa
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1 tg
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Duas equipes brasileiras completaram nas últimas semanas o sequencia-mento do material genético do vírus zika isolado nos estados de São Paulo e da Paraíba. Os resultados sugerem
que a variedade do zika em circulação em dife-rentes regiões brasileiras é mesmo originária da Polinésia Francesa, onde houve um surto em 2013 e 2014. Também indicam que o vírus possivelmen-te foi introduzido no Brasil em um único evento.
No Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, o vi-rologista Renato Pereira de Souza e sua equipe sequenciaram o material genético do zika extraí-do de uma pessoa que desenvolveu a doença em Campinas. Esse indivíduo contraiu o vírus ao re-ceber uma transfusão de sangue. O doador adoe-ceu dias mais tarde e avisou ao hemocentro da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que estava com suspeita de dengue. Análises fei-tas no Adolfo Lutz descartaram a dengue e con-firmaram a infecção por zika. “Os hemocentros terão de prestar atenção também a esse vírus, uma vez que muitos casos são assintomáticos”, afirma Souza. “No caso em questão, o vírus per-maneceu viável e infectou outra pessoa”, conta o virologista, um dos coordenadores da análi-
se, realizada em parceria com pesquisadores da Unicamp e da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, e aceito para publicação na revista Genome Announcements.
O sequenciamento do material genético do vírus revelou um genoma enxuto. São cerca de 10,6 mil unidades (nucleotídeos) compondo uma fita sim-ples de ácido ribonucleico (RNA). Essa fita abriga ao todo apenas seis genes, capazes de produzir 10 diferentes proteínas – alguns genes são polivalen-tes. “A análise do genoma indica que o vírus é de uma linhagem muito próxima à que circulou na Po-linésia Francesa e na Ilha de Páscoa”, conta Souza.
Na Universidade Federal do Rio de Janeiro, o virologista Amilcar Tanuri e sua equipe também sequenciaram o genoma do zika extraído do lí-quido amniótico de duas gestantes que tiveram bebês com microcefalia na Paraíba. As conclu-sões são as mesmas. “Não tenho dúvida de que é a mesma linhagem da Polinésia”, afirma Tanuri. Segundo o virologista carioca, a diferença entre o material genético do vírus em circulação aqui e o de lá é pequena, cerca de 20 nucleotídeos e apenas 1 dos 3.500 aminoácidos (unidades for-madoras das proteínas). Tamanha semelhança, segundo ele, indica que o vírus está se espalhan-
44 z fevereiro De 2016
do muito rapidamente e foi introduzido uma única vez no Brasil. Tanuri con-ta ainda que o zika sequenciado no Rio tem grande similaridade com o vírus da dengue, em especial o sorotipo 4, o que pode dificultar o desenvolvimento de um kit de diagnóstico que identifique espe-cificamente os anticorpos contra o zika. “Teremos de driblar essa semelhança na hora de produzir o teste”, diz.
Do BRASIl pARA o mUnDoO vírus que assombra o mundo com a ameaça da microcefalia levou quase 70 anos para atravessar metade do globo. Mas em pouco tempo conquistou um potencial explosivo de disseminação. Sua capacidade de se espalhar parece ter aumentado nos últimos tempos, em especial depois de chegar ao Brasil, onde, segundo estimativas do governo, já infec-tou de 440 mil a 1,3 milhão de pessoas.
Adaptações sofridas pelo vírus duran-te a sua viagem a partir da África aparen-temente facilitaram a sua reprodução no organismo humano. Essa característica, somada à alta mobilidade da população atual e ao fato de que o vírus costuma pegar carona no sangue humano sem ser notado (em 80% dos casos a infecção não provoca sintomas), está transformando o zika em uma dor de cabeça interna-cional. Em um breve artigo apresenta-do na edição de 23 de janeiro da revista
Lancet, uma das mais importantes da área médica, um grupo de pesquisado-res do Canadá, dos Estados Unidos e da Inglaterra prevê um cenário de rápido espalhamento do zika por regiões com elevada concentração de pessoas nas Américas e na Europa.
A equipe chefiada pelo médico Kamran Khan, infectologista da Universidade de Toronto que investiga o espalhamento de doenças por viajantes, usou um mo-delo matemático que reproduz os surtos de dengue para estimar a capacidade de disseminação do zika. Os pesquisadores
alimentaram o modelo com informações sobre as áreas de ocorrência atual dos mosquitos do gênero Aedes, que, além do zika, transmitem também os vírus da fe-bre amarela, da dengue e da chikungunya, e as regiões com clima favorável à pro-liferação dos insetos. Com esses dados, eles conseguiram ter uma ideia de onde haveria condições favoráveis para o zika se espalhar, caso chegasse lá.
Numa etapa seguinte, os pesquisadores precisaram calcular a probabilidade de o vírus alcançar as regiões onde vive seu transmissor – o Aedes aegypti, nas Amé-ricas e na África, e o Aedes albopictus, na Ásia e na Europa. Para isso, mapearam o destino internacional de pessoas que entre setembro de 2014 e agosto de 2015 estiveram em regiões do Brasil onde ha-via transmissão de zika.
Nesse período, quase 10 milhões de pessoas viajaram para o exterior a partir de 146 aeroportos brasileiros situados em áreas onde circulava o vírus. Cer-ca de 6,5 milhões de pessoas (65% do total) foram para países das Américas do Sul e do Norte. Outros 27% viajaram para a Europa e 5% para a Ásia. Só os Estados Unidos receberam 2,8 milhões de pessoas vindas do Brasil, enquanto a Argentina acolheu 1,3 milhão e o Chi-le, 614 mil. Na Europa os destinos mais comuns foram Itália, Portugal e Fran-ça, cada um recebendo 400 mil pessoas.
embrião de galinha (ao lado) e
de zebrafish: modelos para
estudar o desenvolvimento
do sistema nervoso central
Desde outubro, 404 casos de microcefalia foram confirmados; 17 têm ligação comprovada com zika
ORIGIN
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6061 tcatagcctc gctctatcga cctgaggccg acaaagtagc agccattgag ggagagttca
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7081 tgttgtttgg tatgggcaaa gggatgccat tctacgcatg ggactttgga gtcccgctgc
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7201 tcgtggcgca ctacatgtac ttgatcccag ggctgcaggc agcagctgcg cgtgctgccc
7261 agaagagaac ggcagctggc atcatgaaga accctgttgt ggatggaata gtggtgactg
7321 acattgacac aatgacaatt gacccccaag tggagaaaaa gatgggacag gtgctactca
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7441 gggccctgat cacagcggca acttccactt tgtgggaagg ctctccgaac aagtactgga
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7561 ctctaatcta cacagtaaca agaaacgctg gcttggtcaa gagacgtggg ggtggaacag
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7681 actcctacaa aaagtcaggc atcaccgagg tgtgcagaga agaggcccgc cgcgccctca
7741 aggacggtgt ggcaacggga ggccatgctg tgtcccgagg aagtgcaaag ctgagatggt
7801 tggtggagcg gggatacctg cagccctatg gaaaggtcat tgatcttgga tgtggcagag
7861 ggggctggag ttactacgcc gccaccatcc gcaaagttca agaagtgaaa ggatacacaa
7921 aaggaggccc tggtcatgaa gaacccatgt tggtgcaaag ctatgggtgg aacatagtcc
7981 gtcttaagag tggggtggac gtctttcata tggcggctga gccgtgtgac acgttgctgt
8041 gtgacatagg tgagtcatca tctagtcctg aagtggaaga agcacggacg ctcagagtcc
8101 tctccatggt gggggattgg cttgaaaaaa gaccaggagc cttttgtata aaagtgttgt
8161 gcccatacac cagcactatg atggaaaccc tggagcgact gcagcgtagg tatgggggag
8221 gactggtcag agtgccactc tcccgcaact ctacacatga gatgtactgg gtctctggag
8281 cgaaaagcaa caccataaaa agtgtgtcca ccacgagcca gctcctcttg gggcgcatgg
8341 acgggcccag gaggccagtg aaatatgagg aggatgtgaa tctcggctct ggcacgcggg
8401 ctgtggtaag ctgcgctgaa gctcccaaca tgaagatcat tggtaaccgc attgaaagga
8461 tccgcagtga gcacgcggaa acgtggttct ttgacgagaa ccacccatat aggacatggg
8521 cttaccatgg aagctatgag gcccccacac aagggtcagc gtcctctcta ataaacgggg
8581 ttgtcaggct cctgtcaaaa ccctgggatg tggtgactgg agtcacagga atagccatga
8641 ccgacaccac accgtatggt cagcaaagag ttttcaagga aaaagtggac actagggtgc
8701 cagaccccca agaaggcact cgtcaggtta tgagcatggt ctcttcctgg ttgtggaaag
8761 agctaggcaa acacaaacgg ccacgagtct gtaccaaaga agagttcatc aacaaggttc
8821 gtagcaatgc agcattaggg gcaatatttg aagaggaaaa agagtggaag actgcagtgg
8881 aagctgtgaa cgatccaagg ttctgggctc tagtggacaa ggaaagagag caccacctga
8941 gaggagagtg ccagagttgt gtgtacaaca tgatgggaaa aagagaaaag aaacaagggg
9001 aatttggaaa ggccaagggc agccgcgcca tctggtatat gtggctaggg gctagatttc
9061 tagagttcga agcccttgga ttcttgaacg aggatcactg gatggggaga gagaactcag
9121 gaggtggtgt tgaagggctg ggattacaaa gactcggata tgtcctagaa gagatgagtc
9181 gcataccagg aggaaggatg tatgcagatg acactgctgg ctgggacacc cgcatcagca
9241 ggtttgatct ggagaatgaa gctctaatca ccaaccaaat ggagaaaggg cacagggcct
9301 tggcattggc cataatcaag tacacatacc aaaacaaagt ggtaaaggtc cttagaccag
9361 ctgaaaaagg gaagacagtt atggacatta tttcgagaca agaccaaagg gggagcggac
9421 aagttgtcac ttacgctctt aacacattta ccaacctagt ggtgcaactc attcggaata
9481 tggaggctga ggaagttcta gagatgcaag acttgtggct gctgcggagg tcagagaaag
9541 tgaccaactg gttgcagagc aacggatggg ataggctcaa acgaatggca gtcagtggag
9601 atgattgcgt tgtgaagcca attgatgata ggtttgcaca tgccctcagg ttcttgaatg
9661 atatgggaaa agttaggaag gacacacaag agtggaaacc ctcaactgga tgggacaact
9721 gggaagaagt tccgttttgc tcccaccact tcaacaagct ccatctcaag gacgggaggt
9781 ccattgtggt tccctgccgc caccaagatg aactgattgg ccgggcccgc gtctctccag
9841 gggcgggatg gagcatccgg gagactgctt gcctagcaaa atcatatgcg caaatgtggc
9901 agctccttta tttccacaga agggacctcc gactgatggc caatgccatt tgttcatctg
9961 tgccagttga ctgggttcca actgggagaa ctacctggtc aatccatgga aagggagaat
10021 ggatgaccac tgaagacatg cttgtggtgt ggaacagagt gtggattgag gagaacgacc
10081 acatggaaga caagacccca gttacgaaat ggacagacat tccctatttg ggaaaaaggg
10141 aagacttgtg gtgtggatct ctcatagggc acagaccgcg caccacctgg gctgagaaca
10201 ttaaaaacac agtcaacatg gtgcgcagga tcataggtga tgaagaaaag tacatggact
10261 acctatccac ccaagttcgc tacttgggtg aagaagggtc tacacctgga gtgctgtaag
10321 caccaatctt agtgttgtca ggcctgctag tcagccacag cttggggaaa gctgtgcagc
10381 ctgtgacccc cccaggagaa gctgggaaac caagcctata gtcaggccga gaacgccatg
10441 gcacggaaga agccatgctg cctgtgagcc cctcagagga cactgagtca aaaaacccca
10501 cgcgcttgga ggcgcaggat gggaaaagaa ggtggcgacc ttccccaccc ttcaatctgg
10561 ggcctgaact ggagatcagc tgtggatctc cagaagaggg actagtggtt agaggag
1
pESQUISA fApESp 240 z 45
Algumas dezenas de milhares também foram para a Ásia, em especial a China, e para a África, principalmente Angola.
Esse cenário preocupa as autoridades da saúde por várias razões. Em primeiro lugar, porque algumas regiões que rece-beram os viajantes abrigam uma elevada concentração de pessoas. “Mais de 60% da população da Argentina, da Itália e dos Estados Unidos vive em regiões fa-voráveis à transmissão sazonal do vírus”, escreveram os pesquisadores. No Méxi-co, na Colômbia e também nos Estados Unidos entre 23 milhões e 30 milhões de habitantes estariam ainda em áreas com risco de transmissão contínua, nas quais insetos podem espalhar o vírus durante o ano todo.
O segundo motivo de inquietação é que o zika parece ter adquirido a ca-pacidade de infectar mais facilmente o organismo humano no longo e lento caminho que percorreu na Ásia, des-de que deixou as florestas de Uganda por volta de 1945, até chegar à Polinésia Francesa em 2013, de onde alcançou o Brasil. Nessa travessia, mapeada recen-temente pelo biomédico Caio de Melo Freire, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e colegas da USP e do Instituto Pasteur no Senegal, o vírus se humanizou: alguns de seus genes hoje contêm receitas para fazer proteínas mais compatíveis com o organismo hu-
mano, o que facilita a infecção (ver Pes-quisa FAPESP nº 239). “Isso pode ter ocorrido porque ao longo dessa viagem o vírus circulou entre poucos vetores, provavelmente o ser humano e o inseto”, explica o biólogo Atila Iamarino, coautor do estudo. Membro da equipe da USP, Iamarino também faz divulgação cien-tífica e, com a zoóloga Sônia Carvalho Lopes, coordenou a produção de um material disponível no site Wikiversi-dade com orientações para professores do ensino básico e médio auxiliarem os alunos a desmentir boatos sobre o zika disseminados pela internet.
Enquanto o vírus avança, pesquisa-dores de todo o Brasil seguem com seus estudos para tentar entender o que o zika causa no organismo humano e como po-deria provocar os casos de microcefalia a ele atribuídos. De 22 de outubro de 2015 a 30 de janeiro deste ano, o Ministério da Saúde registrou o nascimento de 4.783 bebês com suspeita de ter microcefalia (antes da epidemia de zika a notificação não era obrigatória).
Dos 1.113 casos já analisados, 404 fo-ram confirmados. Esses bebês têm de fato o cérebro pequeno demais para a idade e, além dos sintomas clínicos, apre-sentam sinais de lesão cerebral compa-tíveis com os de uma infecção adquirida durante a gestação (congênita). Até ago-ra, porém, só se conseguiu comprovar a
infecção por zika em 17 dos 404 casos de microcefalia – os outros 387 dependem da realização de testes imunológicos, ainda não disponíveis, para descartar de vez essa associação.
SínDRomE congênItAAlguns grupos tentam caracterizar me-lhor os problemas apresentados por be-bês filhos de mães possivelmente infec-tadas pelo vírus. Sob a coordenação da médica e geneticista Lavinia Schüler--Faccini, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, especialistas em anoma-lias congênitas de diferentes instituições brasileiras realizaram exames clínicos, genéticos e de imagem em 35 crianças com microcefalia relacionada ao zika nascidas em oito estados brasileiros, en-tre eles São Paulo. “Os exames permiti-ram excluir doenças genéticas ou infec-ção por outros agentes sabidamente cau-sadores de microcefalia”, conta Lavinia.
Dessa análise, começou a emergir um padrão de alterações típico de infecções causadas por vírus durante a gestação. Embora não houvesse comprovação de que as mães tenham sido infectadas pe-lo vírus, 74% delas apresentaram sinais compatíveis com a febre zika durante a gravidez, como manchas vermelhas que coçam, febre baixa e dor nas articulações – a maior parte no primeiro trimestre da gestação, quando o feto se encontra em fase acelerada de desenvolvimento. Dos 35 bebês examinados, 25 (71% do total) tinham microcefalia grave, com o perímetro do crânio inferior a 31 centí-metros no nascimento.
Os 27 bebês que passaram por exa-mes de imagem apresentavam altera-ções neurológicas. A mais comum eram as calcificações, pequenos nódulos que funcionam como uma espécie de cica-triz no tecido cerebral. Uma em cada três crianças apresentava lisencefalia, ausência das dobras características do cérebro sadio, ou paquigiria, dobras mais alargadas. Mais graves, essas alterações sugerem que a infecção ocorreu em uma fase precoce do desenvolvimento.
Quatro bebês desenvolveram um pro-blema articular grave, a artrogripose. Es-
casos de microcefalia associados ao zika apresentam padrão que favorece hipótese de síndrome congênita
ORIGIN
1 agtatcaaca ggttttattt tggatttgga aacgagagtt tctggtcatg aaaaacccaa
61 aaaagaaatc cggaggattc cggattgtca atatgctaaa acgcggagta gcccgtgtga
121 gcccctttgg gggcttgaag aggctgccag ccggacttct gctgggtcat gggcccatca
181 ggatggtctt ggcgattcta gcctttttga gattcacggc aatcaagcca tcactgggtc
241 tcatcaatag atggggttca gtggggaaaa aagaggctat ggaaataata aagaagttca
301 agaaagatct ggctgccatg ctgagaataa tcaatgctag gaaggagaag aagagacgag
361 gcgcagatac tagtgtcgga attgttggcc tcctgctgac cacagctatg gcagcggagg
421 tcactagacg tgggagtgca tactatatgt acttggacag aaacgacgct ggggaggcca
481 tatcttttcc aaccacattg gggatgaata agtgttatat acagatcatg gatcttggac
541 acatgtgtga tgccaccatg agctatgaat gccctatgct ggatgagggg gtggaaccag
601 atgacgtcga ttgttggtgc aacacgacgt caacttgggt tgtgtacgga acctgccatc
661 acaaaaaagg tgaagcacgg agatctagaa gagctgtgac gctcccctcc cattccacta
721 ggaagctgca aacgcggtcg caaacctggt tggaatcaag agaatacaca aagcacttga
781 ttagagtcga aaattggata ttcaggaacc ctggcttcgc gttagcagca gctgccatcg
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901 ttgccccggc atacagcatc aggtgcatag gagtcagcaa tagggacttt gtggaaggta
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1021 cacaggacaa accgactgtc gacatagagc tggttacaac aacagtcagc aacatggcgg
1081 aggtaagatc ctactgctat gaggcatcaa tatcggacat ggcttcggac agccgctgcc
1141 caacacaagg tgaagcctac cttgacaagc aatcagacac tcaatatgtc tgcaaaagaa
1201 cgttagtgga cagaggctgg ggaaatggat gtggactttt tggcaaaggg agcctggtga
1261 catgcgctaa gtttgcatgc tccaagaaaa tgaccgggaa gagcatccag ccagagaatc
1321 tggagtaccg gataatgctg tcagttcatg gctcccagca cagtgggatg atcgttaatg
1381 acacaggaca tgaaactgat gagaatagag cgaaggttga gataacgccc aattcaccaa
1441 gagccgaagc caccctgggg ggttttggaa gcctaggact tgattgtgaa ccgaggacag
1501 gccttgactt ttcagatttg tattacttga ctatgaataa caagcactgg ttggttcaca
1561 aggagtggtt ccacgacatt ccattacctt ggcacgctgg ggcagacacc ggaactccac
1621 actggaacaa caaagaagca ctggtagagt tcaaggacgc acatgccaaa aggcaaactg
1681 tcgtggttct agggagtcaa gaaggagcag ttcacacggc ccttgctgga gctctggagg
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1801 tggataaact tagattgaag ggcgtgtcat actccttgtg taccgcagcg ttcacattca
1861 ccaagatccc ggctgaaaca ctgcacggga cagtcacagt ggaggtacag tacgcaggga
1921 cagatggacc ttgcaaggtt ccagctcaga tggcggtgga catgcaaact ctgaccccag
1981 ttgggaggtt gataaccgct aaccccgtaa tcactgaaag cactgagaac tctaagatga
2041 tgctggaact tgatccacca tttggggact cttacattgt cataggagtc ggggagaaga
2101 agatcaccca ccactggcac aggagtggca gcaccattgg aaaagcattt gaagccactg
2161 tgagaggtgc caagagaatg gcagtcttgg gagacacagc ctgggacttt ggatcagttg
2221 gaggcgctct caactcattg ggcaagggca tccatcaaat ttttggagca gctttcaaat
2281 cattgtttgg aggaatgtcc tggttctcac aaattctcat tggaacgttg ctgatgtggt
2341 tgggtctgaa cacaaagaat ggatctattt cccttatgtg cttggcctta gggggagtgt
2401 tgatcttctt atccacagct gtctctgctg atgtggggtg ctcggtggac ttctcaaaga
2461 aggagacgag atgcggtaca ggggtgttcg tctataacga cgttgaagcc tggagggaca
2521 ggtacaagta ccatcctgac tccccccgta gattggcagc agcagtcaag caagcctggg
2581 aagatggtat ctgtgggatc tcctctgttt caagaatgga aaacatcatg tggagatcag
2641 tagaagggga gctcaacgca atcctggaag agaatggagt tcaactgacg gtcgttgtgg
2701 gatctgtaaa aaaccccatg tggagaggtc cacagagatt gcccgtgcct gtgaacgagc
2761 tgccccacgg ctggaaggct tgggggaaat cgtacttcgt cagagcagca aagacaaata
2821 acagctttgt cgtggatggt gacacactga aggaatgccc actcaaacat agagcatgga
2881 acagctttct tgtggaggat catgggttcg gggtatttca cactagtgtc tggctcaagg
2941 ttagagaaga ttattcatta gagtgtgatc cagccgttat tggaacagct gttaagggaa
3001 aggaggctgt acacagtgat ctaggctact ggattgagag tgagaagaat gacacatgga
3061 ggctgaagag ggcccatctg atcgagatga aaacatgtga atggccaaag tcccacacat
3121 tgtggacaga tggaatagaa gagagtgatc tgatcatacc caagtcttta gctgggccac
3181 tcagccatca caataccaga gagggctaca ggacccaaat gaaagggcca tggcacagtg
3241 aagagcttga aattcggttt gaggaatgcc caggcactaa ggtccacgtg gaggaaacat
3301 gtggaacaag aggaccatct ctgagatcaa ccactgcaag cggaagggtg atcgaggaat
3361 ggtgctgcag ggagtgcaca atgcccccac tgtcgttccg ggctaaagat ggctgttggt
3421 atggaatgga gataaggccc aggaaagaac cagaaagtaa cttagtaagg tcaatggtga
3481 ctgcaggatc aactgatcac atggatcact tctcccttgg agtgcttgtg attctgctca
3541 tggtgcagga agggctgaag aagagaatga ccacaaagat catcataagc acatcgatgg
3601 cagtgctggt agctatgatc ctgggaggat tttcaatgag tgacctggct aagcttgcaa
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3721 tgatagcggc attcaaagtc agaccagcgt tgctggtatc tttcatcttc agagctaatt
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3841 ccgccttgga aggcgacctg atggttctca tcaatggttt tgctttggcc tggttggcaa
3901 tacgagcgat ggttgttcca cgcactgata acatcacctt ggcaatcctg gctgctctga
3961 caccactggc ccggggcaca ctgcttgtgg cgtggagagc aggccttgct acttgcgggg
4021 ggtttatgct cctctctctg aagggaaaag gcagtgtgaa gaagaactta ccatttgtca
4081 tggccctggg actaaccgct gtgaggctgg tcgaccccat caacgtggtg ggactgctgt
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4261 ccgcggtcgg tctgctaatt gtcagttacg tggtctcagg aaagagtgtg gacatgtaca
4321 ttgaaagagc aggtgacatc acatgggaaa aagatgcgga agtcactgga aacagtcccc
4381 ggctcgatgt ggcgctagat gagagtggtg atttctccct ggtggaggat gacggtcccc
4441 ccatgagaga gatcatactc aaggtggtcc tgatgaccat ctgtggcatg aacccaatag
4501 ccataccctt tgcagctgga gcgtggtacg tatacgtgaa gactggaaaa aggagtggtg
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4681 agggggtctt tcacactatg tggcacgtca caaaaggatc cgcgctgaga agcggtgaag
4741 ggagacttga tccatactgg ggagatgtca agcaggatct ggtgtcatac tgtggtccat
4801 ggaagctaga tgccgcctgg gacgggcaca gcgaggtgca gctcttggcc gtgccccccg
4861 gagagagagc gaggaacatc cagactctgc ccggaatatt taagacaaag gatggggaca
4921 ttggagcggt tgcgctggat tacccagcag gaacttcagg atctccaatc ctagacaagt
4981 gtgggagagt gataggactt tatggcaatg gggtcgtgat caaaaatggg agttatgtta
5041 gtgccatcac ccaagggagg agggaggaag agactcctgt tgagtgcttc gagccttcga
5101 tgctgaagaa gaagcagcta actgtcttag acttgcatcc tggagctggg aaaaccagga
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5221 ctccaaccag ggttgtcgct gctgaaatgg aggaagccct tagagggctt ccagtgcgtt
5281 atatgacaac agcagtcaat gtcacccact ctggaacaga aatcgtcgac ttaatgtgcc
5341 atgccacctt cacttcacgt ctactacagc caatcagagt ccccaactat aatctgtata
5401 ttatggatga ggcccacttc acagatccct caagtatagc agcaagagga tacatttcaa
5461 caagggttga gatgggcgag gcggctgcca tcttcatgac cgccacgcca ccaggaaccc
5521 gtgacgcatt tccggactcc aactcaccaa ttatggacac cgaagtggaa gtcccagaga
5581 gagcctggag ctcaggcttt gattgggtga cggatcattc tggaaaaaca gtttggtttg
5641 ttccaagcgt gaggaacggc aatgagatcg cagcttgtct gacaaaggct ggaaaacggg
5701 tcatacagct cagcagaaag acttttgaga cagagttcca gaaaacaaaa catcaagagt
5761 gggactttgt cgtgacaact gacatttcag agatgggcgc caactttaaa gctgaccgtg
5821 tcatagattc caggagatgc ctaaagccgg tcatacttga tggcgagaga gtcattctgg
5881 ctggacccat gcctgtcaca catgccagcg ctgcccagag gagggggcgc ataggcagga
5941 atcccaacaa acctggagat gagtatctgt atggaggtgg gtgcgcagag actgacgaag
6001 accatgcaca ctggcttgaa gcaagaatgc tccttgacaa tatttacctc caagatggcc
6061 tcatagcctc gctctatcga cctgaggccg acaaagtagc agccattgag ggagagttca
6121 agcttaggac ggagcaaagg aagacctttg tggaactcat gaaaagagga gatcttcctg
6181 tttggctggc ctatcaggtt gcatctgccg gaataaccta cacagataga agatggtgct
6241 ttgatggcac gaccaacaac accataatgg aagacagtgt gccggcagag gtgtggacca
6301 gacacggaga gaaaagagtg ctcaaaccga ggtggatgga cgccagagtt tgttcagatc
6361 atgcggccct gaagtcattc aaggagtttg ccgctgggaa aagaggagcg gcttttggag
6421 tgatggaagc cctgggaaca ctgccaggac acatgacaga gagattccag gaagccattg
6481 acaacctcgc tgtgctcatg cgggcagaga ctggaagcag gccttacaaa gccgcggcgg
6541 cccaattgcc ggagacccta gagaccatta tgcttttggg gttgctggga acagtctcgc
6601 tgggaatctt tttcgtcttg atgaggaaca agggcatagg gaagatgggc tttggaatgg
6661 tgactcttgg ggccagcgca tggctcatgt ggctctcgga aattgagcca gccagaattg
6721 catgtgtcct cattgttgtg ttcctattgc tggtggtgct catacctgag ccagaaaagc
6781 aaagatctcc ccaggacaac caaatggcaa tcatcatcat ggtagcagta ggtcttctgg
6841 gcttgattac cgccaatgaa ctcggatggt tggagagaac aaagagtgac ctaagccatc
6901 taatgggaag gagagaggag ggggcaacca taggattctc aatggacatt gacctgcggc
6961 cagcctcagc ttgggccatc tatgctgcct tgacaacttt cattacccca gccgtccaac
7021 atgcagtgac cacttcatac aacaactact ccttaatggc gatggccacg caagctggag
7081 tgttgtttgg tatgggcaaa gggatgccat tctacgcatg ggactttgga gtcccgctgc
7141 taatgatagg ttgctactca caattaacac ccctgaccct aatagtggcc atcattttgc
7201 tcgtggcgca ctacatgtac ttgatcccag ggctgcaggc agcagctgcg cgtgctgccc
7261 agaagagaac ggcagctggc atcatgaaga accctgttgt ggatggaata gtggtgactg
7321 acattgacac aatgacaatt gacccccaag tggagaaaaa gatgggacag gtgctactca
7381 tagcagtagc cgtctccagc gccatactgt cgcggaccgc ctgggggtgg ggggaggctg
7441 gggccctgat cacagcggca acttccactt tgtgggaagg ctctccgaac aagtactgga
7501 actcctctac agccacttca ctgtgtaaca tttttagggg aagttacttg gctggagctt
7561 ctctaatcta cacagtaaca agaaacgctg gcttggtcaa gagacgtggg ggtggaacag
7621 gagagaccct gggagagaaa tggaaggccc gcttgaacca gatgtcggcc ctggagttct
7681 actcctacaa aaagtcaggc atcaccgagg tgtgcagaga agaggcccgc cgcgccctca
7741 aggacggtgt ggcaacggga ggccatgctg tgtcccgagg aagtgcaaag ctgagatggt
7801 tggtggagcg gggatacctg cagccctatg gaaaggtcat tgatcttgga tgtggcagag
7861 ggggctggag ttactacgcc gccaccatcc gcaaagttca agaagtgaaa ggatacacaa
7921 aaggaggccc tggtcatgaa gaacccatgt tggtgcaaag ctatgggtgg aacatagtcc
7981 gtcttaagag tggggtggac gtctttcata tggcggctga gccgtgtgac acgttgctgt
8041 gtgacatagg tgagtcatca tctagtcctg aagtggaaga agcacggacg ctcagagtcc
8101 tctccatggt gggggattgg cttgaaaaaa gaccaggagc cttttgtata aaagtgttgt
8161 gcccatacac cagcactatg atggaaaccc tggagcgact gcagcgtagg tatgggggag
8221 gactggtcag agtgccactc tcccgcaact ctacacatga gatgtactgg gtctctggag
8281 cgaaaagcaa caccataaaa agtgtgtcca ccacgagcca gctcctcttg gggcgcatgg
8341 acgggcccag gaggccagtg aaatatgagg aggatgtgaa tctcggctct ggcacgcggg
8401 ctgtggtaag ctgcgctgaa gctcccaaca tgaagatcat tggtaaccgc attgaaagga
8461 tccgcagtga gcacgcggaa acgtggttct ttgacgagaa ccacccatat aggacatggg
8521 cttaccatgg aagctatgag gcccccacac aagggtcagc gtcctctcta ataaacgggg
8581 ttgtcaggct cctgtcaaaa ccctgggatg tggtgactgg agtcacagga atagccatga
8641 ccgacaccac accgtatggt cagcaaagag ttttcaagga aaaagtggac actagggtgc
8701 cagaccccca agaaggcact cgtcaggtta tgagcatggt ctcttcctgg ttgtggaaag
8761 agctaggcaa acacaaacgg ccacgagtct gtaccaaaga agagttcatc aacaaggttc
8821 gtagcaatgc agcattaggg gcaatatttg aagaggaaaa agagtggaag actgcagtgg
8881 aagctgtgaa cgatccaagg ttctgggctc tagtggacaa ggaaagagag caccacctga
8941 gaggagagtg ccagagttgt gtgtacaaca tgatgggaaa aagagaaaag aaacaagggg
9001 aatttggaaa ggccaagggc agccgcgcca tctggtatat gtggctaggg gctagatttc
9061 tagagttcga agcccttgga ttcttgaacg aggatcactg gatggggaga gagaactcag
9121 gaggtggtgt tgaagggctg ggattacaaa gactcggata tgtcctagaa gagatgagtc
9181 gcataccagg aggaaggatg tatgcagatg acactgctgg ctgggacacc cgcatcagca
9241 ggtttgatct ggagaatgaa gctctaatca ccaaccaaat ggagaaaggg cacagggcct
9301 tggcattggc cataatcaag tacacatacc aaaacaaagt ggtaaaggtc cttagaccag
9361 ctgaaaaagg gaagacagtt atggacatta tttcgagaca agaccaaagg gggagcggac
9421 aagttgtcac ttacgctctt aacacattta ccaacctagt ggtgcaactc attcggaata
9481 tggaggctga ggaagttcta gagatgcaag acttgtggct gctgcggagg tcagagaaag
9541 tgaccaactg gttgcagagc aacggatggg ataggctcaa acgaatggca gtcagtggag
9601 atgattgcgt tgtgaagcca attgatgata ggtttgcaca tgccctcagg ttcttgaatg
9661 atatgggaaa agttaggaag gacacacaag agtggaaacc ctcaactgga tgggacaact
9721 gggaagaagt tccgttttgc tcccaccact tcaacaagct ccatctcaag gacgggaggt
9781 ccattgtggt tccctgccgc caccaagatg aactgattgg ccgggcccgc gtctctccag
9841 gggcgggatg gagcatccgg gagactgctt gcctagcaaa atcatatgcg caaatgtggc
9901 agctccttta tttccacaga agggacctcc gactgatggc caatgccatt tgttcatctg
9961 tgccagttga ctgggttcca actgggagaa ctacctggtc aatccatgga aagggagaat
10021 ggatgaccac tgaagacatg cttgtggtgt ggaacagagt gtggattgag gagaacgacc
10081 acatggaaga caagacccca gttacgaaat ggacagacat tccctatttg ggaaaaaggg
10141 aagacttgtg gtgtggatct ctcatagggc acagaccgcg caccacctgg gctgagaaca
10201 ttaaaaacac agtcaacatg gtgcgcagga tcataggtga tgaagaaaag tacatggact
10261 acctatccac ccaagttcgc tacttgggtg aagaagggtc tacacctgga gtgctgtaag
10321 caccaatctt agtgttgtca ggcctgctag tcagccacag cttggggaaa gctgtgcagc
10381 ctgtgacccc cccaggagaa gctgggaaac caagcctata gtcaggccga gaacgccatg
10441 gcacggaaga agccatgctg cctgtgagcc cctcagagga cactgagtca aaaaacccca
10501 cgcgcttgga ggcgcaggat gggaaaagaa ggtggcgacc ttccccaccc ttcaatctgg
10561 ggcctgaact ggagatcagc tgtggatctc cagaagaggg actagtggtt agaggag
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46 z fevereiro De 2016
Colônias de bactérias do gênero Bacillus e Microbacterium (no alto): testes para avaliar se eliminam o vírus zika
ORIGIN
1 agtatcaaca ggttttattt tggatttgga aacgagagtt tctggtcatg aaaaacccaa
61 aaaagaaatc cggaggattc cggattgtca atatgctaaa acgcggagta gcccgtgtga
121 gcccctttgg gggcttgaag aggctgccag ccggacttct gctgggtcat gggcccatca
181 ggatggtctt ggcgattcta gcctttttga gattcacggc aatcaagcca tcactgggtc
241 tcatcaatag atggggttca gtggggaaaa aagaggctat ggaaataata aagaagttca
301 agaaagatct ggctgccatg ctgagaataa tcaatgctag gaaggagaag aagagacgag
361 gcgcagatac tagtgtcgga attgttggcc tcctgctgac cacagctatg gcagcggagg
421 tcactagacg tgggagtgca tactatatgt acttggacag aaacgacgct ggggaggcca
481 tatcttttcc aaccacattg gggatgaata agtgttatat acagatcatg gatcttggac
541 acatgtgtga tgccaccatg agctatgaat gccctatgct ggatgagggg gtggaaccag
601 atgacgtcga ttgttggtgc aacacgacgt caacttgggt tgtgtacgga acctgccatc
661 acaaaaaagg tgaagcacgg agatctagaa gagctgtgac gctcccctcc cattccacta
721 ggaagctgca aacgcggtcg caaacctggt tggaatcaag agaatacaca aagcacttga
781 ttagagtcga aaattggata ttcaggaacc ctggcttcgc gttagcagca gctgccatcg
841 cttggctttt gggaagctca acgagccaaa aagtcatata cttggtcatg atactgctga
901 ttgccccggc atacagcatc aggtgcatag gagtcagcaa tagggacttt gtggaaggta
961 tgtcaggtgg gacttgggtt gatgttgtct tggaacatgg aggttgtgtc accgtaatgg
1021 cacaggacaa accgactgtc gacatagagc tggttacaac aacagtcagc aacatggcgg
1081 aggtaagatc ctactgctat gaggcatcaa tatcggacat ggcttcggac agccgctgcc
1141 caacacaagg tgaagcctac cttgacaagc aatcagacac tcaatatgtc tgcaaaagaa
1201 cgttagtgga cagaggctgg ggaaatggat gtggactttt tggcaaaggg agcctggtga
1261 catgcgctaa gtttgcatgc tccaagaaaa tgaccgggaa gagcatccag ccagagaatc
1321 tggagtaccg gataatgctg tcagttcatg gctcccagca cagtgggatg atcgttaatg
1381 acacaggaca tgaaactgat gagaatagag cgaaggttga gataacgccc aattcaccaa
1441 gagccgaagc caccctgggg ggttttggaa gcctaggact tgattgtgaa ccgaggacag
1501 gccttgactt ttcagatttg tattacttga ctatgaataa caagcactgg ttggttcaca
1561 aggagtggtt ccacgacatt ccattacctt ggcacgctgg ggcagacacc ggaactccac
1621 actggaacaa caaagaagca ctggtagagt tcaaggacgc acatgccaaa aggcaaactg
1681 tcgtggttct agggagtcaa gaaggagcag ttcacacggc ccttgctgga gctctggagg
1741 ctgagatgga tggtgcaaag ggaaggctgt cctctggcca cttgaaatgt cgcctgaaaa
1801 tggataaact tagattgaag ggcgtgtcat actccttgtg taccgcagcg ttcacattca
1861 ccaagatccc ggctgaaaca ctgcacggga cagtcacagt ggaggtacag tacgcaggga
1921 cagatggacc ttgcaaggtt ccagctcaga tggcggtgga catgcaaact ctgaccccag
1981 ttgggaggtt gataaccgct aaccccgtaa tcactgaaag cactgagaac tctaagatga
2041 tgctggaact tgatccacca tttggggact cttacattgt cataggagtc ggggagaaga
2101 agatcaccca ccactggcac aggagtggca gcaccattgg aaaagcattt gaagccactg
2161 tgagaggtgc caagagaatg gcagtcttgg gagacacagc ctgggacttt ggatcagttg
2221 gaggcgctct caactcattg ggcaagggca tccatcaaat ttttggagca gctttcaaat
2281 cattgtttgg aggaatgtcc tggttctcac aaattctcat tggaacgttg ctgatgtggt
2341 tgggtctgaa cacaaagaat ggatctattt cccttatgtg cttggcctta gggggagtgt
2401 tgatcttctt atccacagct gtctctgctg atgtggggtg ctcggtggac ttctcaaaga
2461 aggagacgag atgcggtaca ggggtgttcg tctataacga cgttgaagcc tggagggaca
2521 ggtacaagta ccatcctgac tccccccgta gattggcagc agcagtcaag caagcctggg
2581 aagatggtat ctgtgggatc tcctctgttt caagaatgga aaacatcatg tggagatcag
2641 tagaagggga gctcaacgca atcctggaag agaatggagt tcaactgacg gtcgttgtgg
2701 gatctgtaaa aaaccccatg tggagaggtc cacagagatt gcccgtgcct gtgaacgagc
2761 tgccccacgg ctggaaggct tgggggaaat cgtacttcgt cagagcagca aagacaaata
2821 acagctttgt cgtggatggt gacacactga aggaatgccc actcaaacat agagcatgga
2881 acagctttct tgtggaggat catgggttcg gggtatttca cactagtgtc tggctcaagg
2941 ttagagaaga ttattcatta gagtgtgatc cagccgttat tggaacagct gttaagggaa
3001 aggaggctgt acacagtgat ctaggctact ggattgagag tgagaagaat gacacatgga
3061 ggctgaagag ggcccatctg atcgagatga aaacatgtga atggccaaag tcccacacat
3121 tgtggacaga tggaatagaa gagagtgatc tgatcatacc caagtcttta gctgggccac
3181 tcagccatca caataccaga gagggctaca ggacccaaat gaaagggcca tggcacagtg
3241 aagagcttga aattcggttt gaggaatgcc caggcactaa ggtccacgtg gaggaaacat
3301 gtggaacaag aggaccatct ctgagatcaa ccactgcaag cggaagggtg atcgaggaat
3361 ggtgctgcag ggagtgcaca atgcccccac tgtcgttccg ggctaaagat ggctgttggt
3421 atggaatgga gataaggccc aggaaagaac cagaaagtaa cttagtaagg tcaatggtga
3481 ctgcaggatc aactgatcac atggatcact tctcccttgg agtgcttgtg attctgctca
3541 tggtgcagga agggctgaag aagagaatga ccacaaagat catcataagc acatcgatgg
3601 cagtgctggt agctatgatc ctgggaggat tttcaatgag tgacctggct aagcttgcaa
3661 ttttgatggg tgccaccttc gcggaaatga acactggagg agatgtagct catctggcgc
3721 tgatagcggc attcaaagtc agaccagcgt tgctggtatc tttcatcttc agagctaatt
3781 ggacaccccg tgaaagcatg ctgctggcct tggcctcgtg tcttttgcaa actgcgatct
3841 ccgccttgga aggcgacctg atggttctca tcaatggttt tgctttggcc tggttggcaa
3901 tacgagcgat ggttgttcca cgcactgata acatcacctt ggcaatcctg gctgctctga
3961 caccactggc ccggggcaca ctgcttgtgg cgtggagagc aggccttgct acttgcgggg
4021 ggtttatgct cctctctctg aagggaaaag gcagtgtgaa gaagaactta ccatttgtca
4081 tggccctggg actaaccgct gtgaggctgg tcgaccccat caacgtggtg ggactgctgt
4141 tgctcacaag gagtgggaag cggagctggc cccctagcga agtactcaca gctgttggcc
4201 tgatatgcgc attggctgga gggttcgcca aggcagatat agagatggct gggcccatgg
4261 ccgcggtcgg tctgctaatt gtcagttacg tggtctcagg aaagagtgtg gacatgtaca
4321 ttgaaagagc aggtgacatc acatgggaaa aagatgcgga agtcactgga aacagtcccc
4381 ggctcgatgt ggcgctagat gagagtggtg atttctccct ggtggaggat gacggtcccc
4441 ccatgagaga gatcatactc aaggtggtcc tgatgaccat ctgtggcatg aacccaatag
4501 ccataccctt tgcagctgga gcgtggtacg tatacgtgaa gactggaaaa aggagtggtg
4561 ctctatggga tgtgcctgct cccaaggaag taaaaaaggg ggagaccaca gatggagtgt
4621 acagagtaat gactcgtaga ctgctaggtt caacacaagt tggagtggga gttatgcaag
4681 agggggtctt tcacactatg tggcacgtca caaaaggatc cgcgctgaga agcggtgaag
4741 ggagacttga tccatactgg ggagatgtca agcaggatct ggtgtcatac tgtggtccat
4801 ggaagctaga tgccgcctgg gacgggcaca gcgaggtgca gctcttggcc gtgccccccg
4861 gagagagagc gaggaacatc cagactctgc ccggaatatt taagacaaag gatggggaca
4921 ttggagcggt tgcgctggat tacccagcag gaacttcagg atctccaatc ctagacaagt
4981 gtgggagagt gataggactt tatggcaatg gggtcgtgat caaaaatggg agttatgtta
5041 gtgccatcac ccaagggagg agggaggaag agactcctgt tgagtgcttc gagccttcga
5101 tgctgaagaa gaagcagcta actgtcttag acttgcatcc tggagctggg aaaaccagga
5161 gagttcttcc tgaaatagtc cgtgaagcca taaaaacaag actccgtact gtgatcttag
5221 ctccaaccag ggttgtcgct gctgaaatgg aggaagccct tagagggctt ccagtgcgtt
5281 atatgacaac agcagtcaat gtcacccact ctggaacaga aatcgtcgac ttaatgtgcc
5341 atgccacctt cacttcacgt ctactacagc caatcagagt ccccaactat aatctgtata
5401 ttatggatga ggcccacttc acagatccct caagtatagc agcaagagga tacatttcaa
5461 caagggttga gatgggcgag gcggctgcca tcttcatgac cgccacgcca ccaggaaccc
5521 gtgacgcatt tccggactcc aactcaccaa ttatggacac cgaagtggaa gtcccagaga
5581 gagcctggag ctcaggcttt gattgggtga cggatcattc tggaaaaaca gtttggtttg
5641 ttccaagcgt gaggaacggc aatgagatcg cagcttgtct gacaaaggct ggaaaacggg
5701 tcatacagct cagcagaaag acttttgaga cagagttcca gaaaacaaaa catcaagagt
5761 gggactttgt cgtgacaact gacatttcag agatgggcgc caactttaaa gctgaccgtg
5821 tcatagattc caggagatgc ctaaagccgg tcatacttga tggcgagaga gtcattctgg
5881 ctggacccat gcctgtcaca catgccagcg ctgcccagag gagggggcgc ataggcagga
5941 atcccaacaa acctggagat gagtatctgt atggaggtgg gtgcgcagag actgacgaag
6001 accatgcaca ctggcttgaa gcaagaatgc tccttgacaa tatttacctc caagatggcc
6061 tcatagcctc gctctatcga cctgaggccg acaaagtagc agccattgag ggagagttca
6121 agcttaggac ggagcaaagg aagacctttg tggaactcat gaaaagagga gatcttcctg
6181 tttggctggc ctatcaggtt gcatctgccg gaataaccta cacagataga agatggtgct
6241 ttgatggcac gaccaacaac accataatgg aagacagtgt gccggcagag gtgtggacca
6301 gacacggaga gaaaagagtg ctcaaaccga ggtggatgga cgccagagtt tgttcagatc
6361 atgcggccct gaagtcattc aaggagtttg ccgctgggaa aagaggagcg gcttttggag
6421 tgatggaagc cctgggaaca ctgccaggac acatgacaga gagattccag gaagccattg
6481 acaacctcgc tgtgctcatg cgggcagaga ctggaagcag gccttacaaa gccgcggcgg
6541 cccaattgcc ggagacccta gagaccatta tgcttttggg gttgctggga acagtctcgc
6601 tgggaatctt tttcgtcttg atgaggaaca agggcatagg gaagatgggc tttggaatgg
6661 tgactcttgg ggccagcgca tggctcatgt ggctctcgga aattgagcca gccagaattg
6721 catgtgtcct cattgttgtg ttcctattgc tggtggtgct catacctgag ccagaaaagc
6781 aaagatctcc ccaggacaac caaatggcaa tcatcatcat ggtagcagta ggtcttctgg
6841 gcttgattac cgccaatgaa ctcggatggt tggagagaac aaagagtgac ctaagccatc
6901 taatgggaag gagagaggag ggggcaacca taggattctc aatggacatt gacctgcggc
6961 cagcctcagc ttgggccatc tatgctgcct tgacaacttt cattacccca gccgtccaac
7021 atgcagtgac cacttcatac aacaactact ccttaatggc gatggccacg caagctggag
7081 tgttgtttgg tatgggcaaa gggatgccat tctacgcatg ggactttgga gtcccgctgc
7141 taatgatagg ttgctactca caattaacac ccctgaccct aatagtggcc atcattttgc
7201 tcgtggcgca ctacatgtac ttgatcccag ggctgcaggc agcagctgcg cgtgctgccc
7261 agaagagaac ggcagctggc atcatgaaga accctgttgt ggatggaata gtggtgactg
7321 acattgacac aatgacaatt gacccccaag tggagaaaaa gatgggacag gtgctactca
7381 tagcagtagc cgtctccagc gccatactgt cgcggaccgc ctgggggtgg ggggaggctg
7441 gggccctgat cacagcggca acttccactt tgtgggaagg ctctccgaac aagtactgga
7501 actcctctac agccacttca ctgtgtaaca tttttagggg aagttacttg gctggagctt
7561 ctctaatcta cacagtaaca agaaacgctg gcttggtcaa gagacgtggg ggtggaacag
7621 gagagaccct gggagagaaa tggaaggccc gcttgaacca gatgtcggcc ctggagttct
7681 actcctacaa aaagtcaggc atcaccgagg tgtgcagaga agaggcccgc cgcgccctca
7741 aggacggtgt ggcaacggga ggccatgctg tgtcccgagg aagtgcaaag ctgagatggt
7801 tggtggagcg gggatacctg cagccctatg gaaaggtcat tgatcttgga tgtggcagag
7861 ggggctggag ttactacgcc gccaccatcc gcaaagttca agaagtgaaa ggatacacaa
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7981 gtcttaagag tggggtggac gtctttcata tggcggctga gccgtgtgac acgttgctgt
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8701 cagaccccca agaaggcact cgtcaggtta tgagcatggt ctcttcctgg ttgtggaaag
8761 agctaggcaa acacaaacgg ccacgagtct gtaccaaaga agagttcatc aacaaggttc
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8881 aagctgtgaa cgatccaagg ttctgggctc tagtggacaa ggaaagagag caccacctga
8941 gaggagagtg ccagagttgt gtgtacaaca tgatgggaaa aagagaaaag aaacaagggg
9001 aatttggaaa ggccaagggc agccgcgcca tctggtatat gtggctaggg gctagatttc
9061 tagagttcga agcccttgga ttcttgaacg aggatcactg gatggggaga gagaactcag
9121 gaggtggtgt tgaagggctg ggattacaaa gactcggata tgtcctagaa gagatgagtc
9181 gcataccagg aggaaggatg tatgcagatg acactgctgg ctgggacacc cgcatcagca
9241 ggtttgatct ggagaatgaa gctctaatca ccaaccaaat ggagaaaggg cacagggcct
9301 tggcattggc cataatcaag tacacatacc aaaacaaagt ggtaaaggtc cttagaccag
9361 ctgaaaaagg gaagacagtt atggacatta tttcgagaca agaccaaagg gggagcggac
9421 aagttgtcac ttacgctctt aacacattta ccaacctagt ggtgcaactc attcggaata
9481 tggaggctga ggaagttcta gagatgcaag acttgtggct gctgcggagg tcagagaaag
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sa doença, que dificulta o movimento das articulações, manifestou-se principal-mente nos joelhos, quadris e cotovelos e, segundo Lavinia, pode significar que o bebê não se movia muito durante o desenvolvimento intrauterino por causa das lesões neurológicas. “Já analisamos outros 15 casos e o padrão que vemos é sempre muito parecido, favorecendo a hipótese de que a infecção pelo zika não cause apenas microcefalia, mas uma sín-drome nova, como já propuseram alguns pesquisadores”, conta a geneticista, que apresentou os resultados em um artigo na edição de 22 de janeiro da Morbidity and Mortality Weekly Report.
A caracterização dos danos associados ao zika é fundamental para orientar o trabalho de outros grupos que tentam esclarecer os mecanismos biológicos por trás da microcefalia. Em uma nova ini-ciativa de estudo do vírus organizada por Kleber Gomes Franchini, do Laboratório Nacional de Biologia (LNBio) do Cen-tro de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), o médico e pesquisador José Xavier Neto e sua equipe em Campinas planejam inocular o vírus em embriões de camundongos, galinhas e zebrafish de diferentes idades.
Nos vertebrados, o extenso grupo ani-mal que inclui de peixes a mamíferos (inclusive os seres humanos), a forma-ção e o desenvolvimento dos órgãos do sistema nervoso central seguem uma sequência de passos conhecidos e pa-dronizados. Interferências em diferentes estágios costumam levar a modificações distintas na arquitetura do cérebro, o que torna possível antecipar como o vírus atua. “Antes”, explica Xavier, “teremos de verificar qual modelo biológico é mais adequado para estudar a infecção”.
Xavier pretende examinar alterações no nível celular e genético. O padrão ob-servado nos casos de microcefalia asso-ciados ao zika sugere que pode haver in-terferência tanto na multiplicação das células como na fase de migração, na qual elas se deslocam perifericamente até as posições que vão ocupar no cérebro fetal, fenômeno que ocorre no segundo trimes-tre da gestação. “Há muita informação chegando e ainda é preciso determinar o que é mais relevante”, diz Xavier. Nos seus experimentos, ele usará amostras do vírus que está sendo cultivado no labora-tório de Lucio Freitas Júnior, também do LNBio. Freitas Júnior, por sua vez, está
desenvolvendo ensaios de triagem para a busca de novos compostos que possam ser usados para tratar as infecções por zika.
o VíRUS E o moSQUItoEnquanto alguns pesquisadores ma-peiam os danos produzidos pelo vírus no organismo humano, outros buscam formas de tentar reduzir ou até bloquear a transmissão do vírus pelo mosquito. Na Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu, o biólogo Jayme Souza--Neto começa a investigar quais fato-
res tornam o Aedes mais suscetível a se infectar com o zika. Nesse trabalho, ele planeja usar o que já se aprendeu nos últimos anos sobre a interação entre o mosquito e o vírus da dengue.
Anos atrás, em seu pós-doutorado na Universidade Johns Hopkins, nos Esta-dos Unidos, Souza-Neto começou a ob-servar que as bactérias que compõem a microbiota intestinal e são naturalmente encontradas no sistema digestivo do in-seto em alguns casos o protegem do ví-rus da dengue. Esse efeito ficou evidente quando os pesquisadores trataram uma população de mosquitos com antibióti-cos – alterando a microbiota intestinal deles – e verificaram que eles se infec-tavam mais facilmente com o vírus do que aqueles com a microbiota intacta.
Num desdobramento desse trabalho, Souza-Neto constatou que alguns gru-
pESQUISA fApESp 240 z 47
ProjetoCaracterização dos mecanismos de ação antidengue mediados pela microbiota intestinal de populações na-turais do mosquito Aedes aegypti (nº 2013/11343-6); modalidade Programa Jovens Pesquisadores; pesquisa-dor responsável Jayme augusto de Souza neto (ibtec--unesp); Investimento r$ 1.843.243,92
artigos científicosCunha, m. S. et al. First complete genome sequence of zika virus (Flaviviridae, Flavivirus) from an autochthonous transmission in the americas. Genome Announcements. no prelo.SChÜler-FaCCini, l. et al. Possible association between zika virus infection and microcephaly – brazil, 2015. Mor-bidity and Mortality Weekly Report. 22 jan. 2016.boGoChi, i. i. et al. anticipating the international spread of zika virus from brazil. Lancet. v. 387, p. 334-5. 23 jan. 2016.oliveira melo, a. S. et al. Zika virus intrauterine infec-tion causes fetal brain abnormality and microcephaly: tip of the iceberg? Ultrasound Obstretics and Gynecology. v. 47. p. 6-7. 2016. ventura, C. v. et al. Zika virus in brazil and macular atrophy in a child with microcephaly. Lancet. v. 387. p. 228. 23 jan. 2016.
linkWikiversidade – bit.ly/boatos_zika
“precisamos atuar de forma complementar para vencer as barreiras mais rapidamente”, diz glaucia pastore
(Cruesp), os pró-reitores de Pesquisa da USP, da Unicamp e da Unesp propuse-ram às lideranças da Rede Zika a criação de uma estrutura que permita otimizar o uso dos recursos disponíveis, coordenar a interação entre essas universidades e outras instituições do país e do exterior, além de acelerar o acesso a mais ver-bas para pesquisa. Essa estrutura será composta por um comitê científico e um consultivo, ambos integrados por mem-bros das três universidades, além de um porta-voz, que se encarregará da inter-locução com os meios de comunicação.
O objetivo, segundo os pró-reitores, é desenhar um programa de ação que leve mais rapidamente à compreensão de como o vírus zika atua no organismo humano, ao desenvolvimento de testes de diagnóstico eficazes, à produção de um soro ou uma vacina contra o vírus, além do controle do vetor. Um primeiro passo será fazer o levantamento de to-dos os pesquisadores da rede e de suas áreas de atuação. “Assim, queremos ter mais claro o cenário com que estamos trabalhando para verificar de quais re-cursos dispomos e quais será preciso buscar, inclusive no exterior”, diz Maria José Giannini, pró-reitora de Pesquisa da Unesp. “Será uma tentativa de fazer essas colaborações obterem resultados
ORIGIN
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pos de bactérias parecem desempenhar um efeito mais protetor do que outros. Fêmeas de Aedes alimentadas com uma mistura de sangue e alta concentração de certos grupos de bactérias – por exem-plo, as bactérias do gênero Paenibacillus e Proteus – apresentavam uma quantidade menor de cópias do vírus nos intestinos. Além de estimularem o sistema imuno-lógico do inseto, algumas dessas bacté-rias, já se sabe, atuam diretamente sobre o vírus, inibindo a sua replicação. “Como o vírus da dengue e o da febre zika são evolutivamente muito próximos, é possí-vel que algumas variedades de bactérias que agem contra um também funcionem contra o outro”, diz Souza-Neto. Se for bem-sucedida, essa estratégia de com-bate ao vírus pode se somar ao combate ao próprio mosquito; por ora, a forma mais eficiente de evitar o avanço do zika.
Além de buscar formas de evitar que o mosquito se infecte com o vírus, impe-dindo o inseto de o passar adiante, Souza--Neto planeja comparar a eficiência do Aedes aegypti em transmitir o vírus da dengue com a de propagar o da zika. Esse trabalho será realizado em parceria com a equipe da entomologista Margareth Ca-purro, da USP, e pode ajudar a explicar por que este vírus parece se disseminar mais rapidamente do que aquele. Em um projeto a ser desenvolvido com pesquisa-dores do Imperial College de Londres, ele pretende ainda verificar se o Aedes albo-pictus, comum na Europa e encontrado em regiões de mata no Brasil, também pode ser um bom propagador do zika.
Simultaneamente aos estudos de mais longo prazo, Souza-Neto desempenhará uma tarefa de impacto imediato. Assim como outras equipes da Rede Zika, seu grupo em Botucatu fará a busca ativa de mosquitos nas áreas com casos suspeitos da doença. “Assim, esperamos conhecer a quantidade de mosquitos infectados no ambiente e a variedade do vírus em circulação”, conta o biólogo, que traba-lhará com Margareth Capurro e Lincoln Suesdek, do Instituto Butantan, ambos integrantes da rede de pesquisa que co-meçou a se estruturar em dezembro em São Paulo e agora deve ganhar eficiência com uma gestão otimizada.
REDE mAIS EfIcIEntEEm uma reunião realizada no início de fevereiro no Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas
mais rapidamente para uma questão que se tornou de urgência nacional e inter-nacional”, completa.
“Talvez não se precisasse dessa coor-denação até este momento”, afirmou o pró-reitor de Pesquisa da USP, José Eduardo Krieger. “Agora, porém, senti-mos que ela se tornou necessária para a rede ganhar eficiência.” Segundo Krie-ger, essa estruturação permitirá apro-veitar melhor o uso dos recursos e da infraestrutura das três universidades. “Ainda não se tinham aliado as capaci-dades internas de cada instituição e po-de haver mais de um grupo trabalhando isoladamente num mesmo tema”, conta Glaucia Pastore, pró-reitora de Pesquisa da Unicamp. “Nesse momento de emer-gência, precisamos de um novo modelo de trabalho, em que se atue de forma complementar para vencer as barreiras mais rapidamente.”
Carlos Henrique de Brito Cruz, di-retor científico da FAPESP participou da reunião e solicitou às três universi-dades que preparem um programa com propostas, metodologias e objetivos que possa ser encaminhado a algumas fontes de financiamento. “Nossa pretensão era ter um novo programa subvencionado pela FAPESP, visando ao melhor enten-dimento, principalmente do vírus zika, e também em relação à dengue e chi-kungunya”, disse Brito. “Teremos mais reuniões a respeito.” n
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Leveduras do deserto chileno exibem resistência a
uma radiação ultravioleta tão alta quanto em Marte
Biodiversidade y
Os fungOs brancOs e negrOs dO atacama
TexTo carlos fioravanti | FoTos eduardo cesar, de san Pedro de atacama
vida em condições extremas: microrganismos do deserto se adaptaram à terra seca e
à radiação ultravioleta
pesQuIsa fapesp 240 z 49
nina, e Rhodosporidium toruloides, que se agrega em colônias cor de laranja em razão do carote-no – com uma capacidade de resistir à radiação ultravioleta (UV) do sol tão elevada quanto à da bactéria Deinococcus radiodurans, usada como organismo-modelo para estudar as possibilidades de vida em Marte. No planeta vermelho o ambien-te é tão seco e com tanta radiação UV quanto o deserto do Atacama. Normalmente essa radiação é fatal para microrganismos e seres humanos.
Outras duas espécies trazidas das paredes rochosas do vulcão Sairecabur – Cryptococcus friedmanii e Holtermanniella watticus – apre-sentaram uma resistência elevada à radiação UV de modo intrigante, já que são brancas, des-providas de pigmentos aos quais se atribuem o efeito protetor contra o ultravioleta. As quatro espécies já tinham mostrado uma resistência elevada a baixas temperaturas – as duas brancas
Em agosto de 2012, na etapa final do curso de Biotecnolo-gia na Universidade Federal de São Carlos em Araras, interior paulista, André Pulschen estava prestes a encontrar quatro es-pécies de fungos casca-grossa, coletadas seis meses antes do alto de um vulcão do deserto do Atacama, norte do Chile. Usando um equipamento que simula o ambiente de outros planetas em um laboratório ligado à Universidade de São Paulo (USP), ele identificou duas espécies de fungos – Exophiala sp., que forma colônias pretas por causa do acúmulo do pigmento mela-
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continuaram se multiplicando mesmo depois de passar alguns dias a -6,5 graus Celsius (ºC). Embora não seja ainda pos-sível explicar como resistem à variação de temperatura e a cargas intensas de radiação UV mesmo sem pigmento, es-ses fungos expressam impressionantes mecanismos de adaptação ao deserto mais seco do mundo, onde não se pen-sava que a diversidade biológica fosse tão variada.
Quem desce no aeroporto de Calama, cidade de 150 mil habitantes encravada no deserto do Atacama, logo sente o calor intenso e a luz arrebatadora em meio à paisagem imensamente plana e averme-lhada. Na viagem até San Pedro de Ataca-ma, vilarejo de 3 mil moradores a 2.400 metros de altitude que constitui a base para as expedições aos raros lagos, sali-nas e vulcões da região, é díficil ver sinal de vida silvestre na terra seca de poucos morros. Os moradores de San Pedro re-forçam a ideia de que existe pouca varie-dade de vida silvestre além dos flamingos rosados nos lagos que recebem água do degelo dos Andes, das pombas andinas que perseguem os turistas em busca de comida, dos lagartos acanhados ou das vicunhas que se alimentam em touceiras
letas feitas no Atacama em altitudes que variavam de 746 a 5.047 metros, equi-pes da UFMG, da USP, do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) e da Universidade de Anto-fagasta, no Chile, identi-ficaram 81 variedades de fungos capazes de viver em fissuras ou cavidades
de rochas semelhantes ao granito, nas quais a temperatura pode variar de -45 a 60ºC. “Os fungos devem produzir en-zimas que lhes permitem aproveitar os minerais, a umidade proveniente do or-valho e a matéria orgânica do interior das rochas”, ele comentou. Em 2013 uma equipe dos Estados Unidos e da Espanha apresentara as bactérias das cavidades de rochas vulcânicas conhecidas como rio-litos, coletadas de rochas sedimentares do Valle de la Luna, uma depressão da cordilheira do Sal, próxima a San Pedro de Atacama.
Além de identificar os fungos – orga-nismos formados por células dotadas de núcleo e, portanto, mais complexos que as bactérias –, a equipe da UFMG os colocou para trabalhar. Em laboratório,
de gramínea baixa nas re-giões mais altas.
O deserto que se es-praia por mil quilôme-tros de extensão guarda formas notáveis e ainda pouco conhecidas de or-ganismos microscópicos adaptados à escassez de água e à temperatura que pode variar de 50ºC du-rante o dia a -15ºC à noite. Em 2006 uma equipe da Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, identificou 12 gêneros de fungos capazes de viver na terra tór-rida do Atacama e de produzir esporos, estruturas semelhantes a sementes, que se espalham com o vento. Agora, pesqui-sadores brasileiros e chilenos encon-traram em cavidades de rochas ou nas paredes rochosas de um vulcão, a quase 6 mil metros de altitude, variedades de fungos com uma ainda inexplicada re-sistência a situações adversas.
“O micro-hábitat no interior das ro-chas pode favorecer a colonização, a so-brevivência e a dispersão da vida mi-crobiana”, disse Luiz Henrique Rosa, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A partir de co-
Fungos do vulcão: Exophiala sp., R. toruloides,
C. friedmanii e H. watticus. acima,
os gêiseres de Tatio com o vapor
escaldante saindo das rochas
pesQuIsa fapesp 240 z 51
artigos científicos
GoNÇaLves, v. N. et al. Fungi associated with rocks of the atacama desert: taxonomy, distribution, diversity, ecology and bioprospection for bioactive compounds. environmental microbiology (on-line). 2015. PULsCHeN, a. a. et al. Uv-resistant yeasts isolated from a high altitude volcanic area on the atacama desert as eukaryotics models for astrobiology. microbiologyOpen. v. 4, n. 4, p. 574-88. 2015.
Vívian Gonçalves cultivou os fungos das rochas do deserto e examinou os ex-tratos que produziram em meio de cultura. Orienta-da por Rosa, ela encontrou 23 extratos que apresentaram ação con-tra fungos, vírus e protozoários causa-dores de doenças em seres humanos. Em 2014 ela fez o fracionamento quí-mico dos extratos em um laboratório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e isolou duas substân-cias, o ácido alfa-linolênico e o ergoste-rol 5,8-endoperóxido, com ação contra microrganismos.
fungOs em marte?Fungos representantes do gênero Cla-dosporium foram encontrados em rochas de cinco altitudes diferentes, destacan-do-se pela capacidade de se adaptar a ambientes diferentes – outras equipes já haviam verificado que ao menos uma espécie, C. halotolerans, consegue viver em lugares com alta concentração de sal. O Cladosporium apresenta-se como manchas marrons ou pretas, em razão do acúmulo de melanina, que protege con-tra os efeitos danosos da radiação UV do
sol. As duas espécies de fungos brancos trazidas do alto do vulcão Saireca-bur indicam, porém, que os pigmentos talvez não sejam indispensáveis. Ou-
tros mecanismos moleculares ainda não identificados poderiam ser tão importan-tes quanto a pigmentação para evitar os efeitos nocivos da radiação UV do alto do vulcão. “A 5 mil metros de altitude, a pele, se exposta, pode se queimar facil-mente por causa da radiação ultravioleta do sol”, disse Pulschen, agora no douto-rado no Instituto de Química da USP.
A extrema aridez e a elevada inci-dência de radiação UV fazem do deser-to do Atacama um ambiente similar ao de Marte. Por essa razão, organismos resistentes a essas condições atraem os cientistas por representar formas de vida que poderiam sobreviver fora da Ter-ra. Especializado nesse campo, Douglas Galante, atualmente no LNLS, faz uma aposta: os fungos casca-grossa do vulcão do Atacama poderiam sobreviver em Marte, já que as condições ambientais são muito parecidas. Para ele, a busca de resquícios atuais ou antigos de organis-mos mais complexos como os fungos e
não apenas de seres anucleados como a bactéria Deinococcus radiodurans, como se planeja, poderia ser considerada nas próximas expedições ao planeta verme-lho, “ampliando as possibilidades de en-contrarmos vida fora da Terra”.
Neste ano a equipe brasileira preten-de estudar as bactérias que vivem em meio a rochas lavadas continuamente pelo vapor dos gêiseres de Tatio, a 90 quilômetros de San Pedro de Atacama, a 4.320 metros de altitude. O vapor se forma quando a água dos rios subterrâ-neos entra em contato com rochas quen-tes e sai por fissuras, a uma temperatu-ra próxima a 100ºC, formando colunas de até 10 metros de altura. As bactérias resistentes a temperaturas elevadas pa-recem se alimentar de materiais inorgâ-nicos liberados pelas próprias rochas, ricas de enxofre. n
o vale da Lua: depósitos de sal
à vista
Mata Atlântica pode ter se espraiado para a plataforma continental na Era do Gelo
BioGEoGrAfiA y
Quando o mar era floresta
condições passadas, Carolina Loss, em estágio de pós-doutorado no laborató-rio, teve a ideia de considerar o contorno do continente na época glacial, quando o nível do mar baixou e a costa avançou centenas de quilômetros para leste, ex-pondo 270 quilômetros quadrados da plataforma, o equivalente a três vezes o território de Portugal. Ao mesmo tempo, num projeto em parceria com a bióloga Renata Pardini, da Universidade de São Paulo, e outros colegas, o grupo buscava avaliar a resposta dos pequenos mamí-feros à fragmentação da Mata Atlântica. Espera-se que essas situações de redução
aparece no Google Maps, mas ninguém pensa nela como parte do continente”, explica o pesquisador. A ideia, lançada por ele e colaboradores em artigo publicado em janeiro na revista PNAS, se baseia no conhecimento de que na Era do Gelo o nível do mar chegou a ser 120 metros mais baixo, e por isso foi batizada de hipótese da Mata Atlântida, em referência ao len-dário continente engolido pelo oceano.
A proposta surgiu de um encontro de colaborações catalisado pelo Laboratório de Mastozoologia e Biogeografia, coor-denado por Leite e Leonora. Trabalhan-do com modelos ecológicos para inferir
A plataforma continental brasi-leira, área hoje submersa ao longo da costa, pode ter abri-gado uma extensa área de Mata
Atlântica há cerca de 21 mil anos, período conhecido como Último Máximo Gla-cial. A ideia é do casal de biólogos Yuri Leite e Leonora Costa, professores da Universidade Federal do Espírito San-to (Ufes), e contraria a visão aceita por muito tempo de que o frio teria forçado o encolhimento da Mata Atlântica e ilhado pequenas populações de plantas e ani-mais em fragmentos isolados de floresta – os refúgios. “A plataforma continental
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do hábitat disponível e de isolamento em trechos distantes causem redução popu-lacional e a consequente perda de varie-dade genética. Mas não era isso que eles viam nos modelos demográficos analisa-dos pela bióloga portuguesa Rita Rocha, também em pós-doutorado na Ufes: não havia uma assinatura genética de redução populacional e todos os cenários eram rejeitados nos modelos computacionais.
“Juntei as duas coisas e decidi tes-tar uma situação de expansão da Mata Atlântica”, conta Leite. O modelo acusou ser essa a explicação mais plausível pa-ra a diversidade genética detectada em
trechos do DNA de cinco espécies de pequenos mamíferos típicos desse tipo de floresta. As análises indicaram que as espécies se deslocaram para o norte e em menores altitudes, onde a temperatura era mais alta, em concordância com o que outros estudos já tinham indicado. As surpresas foram ver que a área ade-quada para esses animais estava menos subdividida em fragmentos durante o Último Máximo Glacial do que hoje e no período anterior à glaciação, e que a distribuição dessas espécies avançava pela plataforma então exposta. Os resul-tados contrariam a teoria dos refúgios,
principal explicação para a formação da diversidade biológica nas florestas brasileiras, sobretudo na Amazônia (ver Pesquisa FAPESP nº 208).
Estudos palinológicos feitos há mais de uma década pela bióloga Aline Frei-tas, atualmente em estágio de pós-dou-torado na Universidade de Murcia, na Espanha, sob a supervisão do botânico José Carrión, corroboram a presença de Mata Atlântica no litoral, expandindo-se para a plataforma continental durante o Último Máximo Glacial. Inicialmente na Universidade Federal do Rio de Janei-ro (UFRJ), onde fez pós-graduação sob lE
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onde agora há mar na praia de setiba, no Espírito santo, o solo já esteve exposto
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orientação do biólogo Marcelo Carva-lho, ela vem analisando um testemunho retirado do fundo do mar na bacia de Campos, na parte norte do estado flumi-nense. As amostras de pólen fossilizado retiradas desse material indicam que ali havia um mosaico de árvores, arbustos, samambaias e plantas herbáceas típico da Mata Atlântica e da restinga associa-da. “Tudo indica que a vegetação dessa região parece não ter sofrido grandes mudanças durante as fases glaciais e in-terglaciais, senão adaptações de acordo com as variações relativas do nível do mar”, avalia, ressaltando que seus dados ainda não permitem assinar embaixo da hipótese da Mata Atlântida.
ColChA dE rEtAlhoSNão está descartada a ideia de que tre-chos isolados de floresta estavam em lo-calizações que lhes permitiram resistir à glaciação e manter, como arcas de Noé, um acervo de animais e plantas que evo-luíram separadamente e deram origem à diversidade que se vê hoje. Mas a his-tória deve ter sido muito mais complexa do que isso. “O principal é a topografia como um todo”, explica Leite. As regiões mais a norte, onde os mamíferos incluí-dos no estudo permaneceram durante a
glaciação, são menos acidentadas e, em parte por isso, teriam permitido uma distribuição mais contínua. O mesmo vale para a plataforma continental, com um relevo mais plano.
O biólogo Henrique Batalha-Filho, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), coautor do artigo da PNAS, não abando-nou os refúgios. No mesmo dia em que a parceria com os colegas da Ufes veio a público, ele teve outro artigo publicado no site da revista Journal of Zoological Systematics and Evolutionary Research.
Nele, o pesquisador infere que as cho-quinhas-de-garganta-pintada (Rhopias gularis) seguiram o padrão previsto pela teoria dos refúgios para a Mata Atlân-tica, conforme o modelo proposto em 2008 pela bióloga brasileira Ana Caroli-na Carnaval, da Universidade da Cidade de Nova York, e pelo australiano Craig Moritz, da Universidade Nacional da Austrália. Batalha conta que, no sul de sua distribuição, essas aves são encontra-das no nível do mar. Na porção norte, na Bahia, elas só existem a altitudes acima de 600 metros, o que restringe bastante sua distribuição.
Ele não vê contradição entre os dois trabalhos. “No meu ponto de vista, a Mata Atlântica parece ser um mosaico de histórias e cada espécie responde de forma diferente à situação à qual está sujeita”, propõe. Ele começou a pensar nisso durante o doutorado (ver Pesquisa FAPESP nº 210), no qual viu indícios de que espécies de aves passaram por his-tóricos distintos durante a era glacial. Embora ele tenha observado que ani-mais dependentes de floresta, em muitos casos, parecem ter obedecido ao padrão clássico de ter a distribuição restrita a refúgios, outros se mantiveram estáveis. É o caso da ave Myiothlypis leucoblepha-ra (pula-pula-assobiador) estudadas por ele. Especializadas em áreas mais altas, portanto frias, seu hábitat não parece ter rareado durante a glaciação. “Comecei a pensar que as ecologias tinham uma participação importante nessa história.”
O novo olhar também permite uma nova interpretação para a divisão que muitos pesquisadores observaram na região do rio Doce, em termos da gené-tica das populações de vários tipos de animais. “Desde o doutorado me debruço sobre o norte e o sul da Mata Atlântica, olhando os rios”, conta Leonora. “Fui percebendo que rio não é barreira na história mais profunda da Mata Atlân-tica.” Outras feições parecem ser mais importantes nessa região. Ao sul do rio Doce, a serra está muito próxima à costa, enquanto ao norte está mais distante. A plataforma continental tem um estreita-mento ao sul desse mesmo rio e mais ao norte, a partir do arquipélago de Abro-lhos, se torna muito estreita. Todo esse relevo deverá fazer parte das análises daqui para a frente.
“O artigo joga lenha na fogueira e traz mais uma hipótese para ser testada”, afir-
potencial para expansão larga na porção centro-sul da costa brasileira, a plataforma continental (em azul claro) se estreita da Bahia para o norte
“Fui percebendo que rio não é barreira na história da Mata Atlântica”, conta leonora Costa
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Artigos científicosBAtAlHA-filHo, H. & MiYAKi, C. late Pleistocene diver-gence and postglacial expansion in the Brazilian Atlantic forest: multilocus phylogeography of Rhopias gularis (Aves: Passeriformes). Journal of Zoological Systematics and Evolutionary research. on-line. 11 jan. 2016.frEitAs, A. G. de et al. Pollen grains in quaternary sedi-ments from the Campos Basin, state of rio de Janeiro, Brazil: Core Bu-91-Gl-05. Acta Botanica Brasilica. v. 27, n. 4, p. 761-72. out./dez. 2013.lEitE, Y. l. r. et al. neotropical forest expansion during the last glacial period challenges refuge hypothesis. pNAS. v. 113, n. 4, p. 1008-13. 26 jan. 2016.tHoMÉ, M. t. C. et al. Barriers, rather than refugia, un-derlie the origin of diversity in toads endemic to the Brazilian Atlantic forest. Molecular Ecology. v. 23, n. 24, p. 6152-64. 24 nov. 2014.
2
ma a bióloga Maria Tereza Thomé, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro, que não fez parte da pes-quisa. A nova visão pode fazê-la olhar seus próprios resultados com outros olhos, já que em estudos com os sapos do grupo Rhinella crucifer ela encontrou resultados condizentes com a hipótese da Mata Atlântida: não detectou flutua-ções demográficas fortes. Na parte sul da floresta, ao contrário, infere que as popu-lações tenham permanecido estáveis. Em artigo publicado em 2014 na Molecular Ecology, ela e colaboradores sugerem a necessidade de identificar barreiras hoje invisíveis à movimentação dos animais. A proposta da plataforma continental se encaixa. “Para os meus bichos faz todo o sentido”, declara.
Maria Tereza ressalta a importância de ser um trabalho pensado e feito apenas por pesquisadores brasileiros, publicado em um periódico renomado apenas por ser uma boa ideia, e bem exposta. “Na nossa área sofremos com a falta de hipó-teses; agora obrigatoriamente todos terão que incluir esta”, prevê. Mas ainda preci-sará passar por testes para estabelecer-se.
“Novas hipóteses são importantes pa-ra enriquecer o debate”, avalia o biólo-go Fabio Raposo do Amaral, do campus de Diadema da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Para ele, serão necessários estudos com mais espécies e uma abrangência maior no material genético. “Me pergunto se aquele con-junto de dados tem poder estatístico pa-ra explorar os eventos em questão, com o grau de precisão necessário para se-parar períodos que diferem em poucos milhares de anos – precisão que prova-velmente apenas dados genômicos po-dem proporcionar”, ressalva. Batalha, que participou da execução dos testes de cenários históricos de como as popula-ções se mantiveram, usando como base
a teoria da coalescência (que infere as alterações no DNA a partir do presente em direção ao passado), concorda que “essas análises clamam por mais mar-cadores”. Mesmo enxergando um sinal confiável, ele concorda que o uso de vá-rios trechos do DNA daria mais força à hipótese levantada no trabalho publi-cado na PNAS. “Talvez nunca se saiba o que aconteceu na Mata Atlântica, mas vamos acrescentando mais pecinhas ao quebra-cabeça”, diz. n Maria Guimarães
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Em alguns pontos da costa capixaba a Mata Atlântica avança quase até a água, como na região de linhares, próximo ao rio doce
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Pesquisadores
encontram as
partículas que
faltavam para
explicar a formação
de nuvens na
Amazônia
meteorologiA y
As sementes ocultas da chuva
Nuvem de chuva em região de atmosfera limpa sobre a floresta: aerossóis concentrados próximo ao topo
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Começa a ficar mais completa a resposta para uma questão que há duas décadas intriga quem estuda o clima e o padrão de
precipitação na Amazônia: onde são produzidas as partículas microscópicas que ajudam a formar as nuvens de chuva na maior floresta tropical do planeta. Anos atrás, surgiu parte da resposta: as sementes das nuvens na Amazônia são partículas em suspensão (aerossóis) de origem orgânica – em especial, formadas a partir da transformação química do gás isopreno emitido pelas plantas –, em torno das quais se condensa o vapor- -d’água e se formam as gotas de nuvens (ver Pesquisa FAPESP nº 97). Mas me-dições feitas por aviões a 4 quilômetros (km) do solo só detectavam uma fração dos aerossóis liberados pela floresta.
Agora o restante foi encontrado. As par-tículas de aerossóis estão nas nuvens, mas não na base delas, como se pensava. Em agosto e setembro de 2014 um jato alemão mediu a composição química e as carac-terísticas físicas das nuvens em 14 voos sobre a Amazônia. As medições integram uma campanha conjunta de dois projetos:
o Green Ocean Amazon (GoAmazon) e o Acridicon-Chuva, financiados pela FA-PESP, pela Fundação de Amparo à Pes-quisa do Estado do Amazonas, pelo Ins-tituto Max Planck e pelo governo norte--americano (ver Pesquisa FAPESP nº 217).
Capaz de voar à altitude de 15 km, o jato verificou que a maior parte das no-vas partículas de aerossóis está acima de 8 km – concentrada próximo ao topo das nuvens, que na Amazônia atingem 16 km de altura – nas regiões de floresta pre-servada. “Procuramos os mecanismos de formação dessas partículas por 20 anos”, conta o físico Paulo Artaxo, da Universi-dade de São Paulo (USP). “Agora vimos que a maior parte é formada nas nuvens e trazida para a superfície da floresta por correntes de ar descendentes”, explica o pesquisador, que coordena um projeto ligado ao GoAmazon.
Os mecanismos de geração desses ae-rossóis nas nuvens ainda estão sendo es-tudados e não se sabe o quanto eles expli-cam das chuvas na Amazônia. Imagina--se que os gases orgânicos emitidos pela floresta entram nas nuvens profundas e, ao subir, empurrados por correntes de ar
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ascendentes, congelam a -20 ou -30 graus Celsius e formam esses aerossóis. “A for-te interação das nuvens com as emissões da floresta realimenta o ciclo hidrológico mais intenso do planeta”, diz Artaxo. “Em Rondônia, estado que derrubou 60% de suas florestas, a composição e as proprie-dades dos aerossóis mudam e a chuva é produzida por outros mecanismos.”
Em parte dos voos, o avião alemão foi acompanhado por uma aeronave norte--americana que coletava dados a alti-tudes menores e já havia sobrevoado a floresta meses antes, na estação chuvosa. Somadas aos dados de radares, satélites e sondas meteorológicas, essas informa-ções revelaram dois padrões de nuvens na Amazônia. Sobre as regiões de floresta pouco alterada, quase sem poluição, as nuvens têm menos aerossóis. “Suas gotas concentram-se na base das nuvens, são maiores e crescem mais rápido, gerando chuvas abundantes”, conta o meteorolo-gista Luiz Augusto Machado, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Es-paciais (Inpe) e coordenador do Projeto Chuva, que investigou os tipos e a distri-buição das nuvens de chuva no Brasil.
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Esse foi o perfil encontrado no entorno de Boa Vista, em Roraima. Nessa região de atmosfera limpa, a base das nuvens continha cerca de 200 gotas por centí-metro cúbico (cm3), cada gota com 100 a 1.000 micrômetros de diâmetro. Já na região da floresta que recebe os poluentes de Manaus ou das queimadas, as nuvens têm mais aerossóis. Com mais núcleos em torno dos quais se condensar, a água se distribui em mais gotas (400 por cm3) de menor tamanho (60 micrômetros). Essas gotas demoram mais a ganhar volume e podem evaporar ao invés de chover. Essas nuvens são mais altas, têm mais cristais de gelo e geram raios frequentes.
A meteorologista Rachel Albrecht, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciên-cias Atmosféricas (IAG) da USP, observou ainda que nas regiões poluídas as nuvens de tempestade geram raios de um tipo incomum: positivos, em que a descarga é mais intensa e ocorre de uma só vez. Es-ses raios são mais frequentes no fim da estação seca, quando há mais queimadas.
“Conhecer esses mecanismos é funda-mental para alimentar modelos de alta resolução espacial, com melhor capaci-dade de reproduzir chuvas locais e prever desastres”, diz Machado, que discutirá os dados do Acridicon-Chuva este mês em um workshop em Ilhabela, litoral paulista.
“O que estamos observando na região afetada pela pluma de poluentes de Ma-naus pode indicar o futuro de uma flo-resta tropical urbanizada”, diz Artaxo. “E é representativo do mecanismo atual de formação de chuva na África ou na Indo-nésia, onde há muitas cidades em meio à floresta, ou em uma Amazônia mais urbana.” Maria Assunção da Silva Dias, meteorologista do IAG e pesquisadora do GoAmazon, alerta que o que ocorre na Amazônia pode ter impacto global. “Mudanças nas nuvens e nas chuvas da Amazônia”, diz, “afetam o clima ao redor do planeta”. n Ricardo Zorzetto
Chuva ou tempestadelevantamento identifica a existência de dois padrões de nuvens na Amazônia
Nas regiões de atmosfera limpa, a base das nuvens concentra poucas partículas de aerossol e forma gotas de nuvem maiores
Direção da corrente de ar
cristais de gelo e neve
graupel ou granizo
gota de chuva
gota grande de nuvem
gota média de nuvem
gota pequena de nuvem
Partículas de aerossol
Por colisão, essas gotas crescem rapidamente e se transformam em gotas de chuva, bem maiores, e geram precipitação abundante
0ºC
Nas regiões de floresta com poluição urbana ou de queimadas, as nuvens contêm mais aerossóis e formam gotas menores
isoterma de 0ºc. Acima desse limite,
ocorre acúmulo de gelo, abaixo, de água líquida
essas gotas demoram mais a ganhar corpo e podem evaporar, ao invés de chover. formam nuvens mais altas, com mais gelo e raios
Projetos1. goAmazon: interação da pluma urbana de manaus com emissões biogênica da floresta Amazônica (nº 2013/05014-0); Modalidade Programa de Pesquisa sobre mudanças climáticas globais; pesquisadores responsáveis Paulo Artaxo Netto (if-USP) e maria Assunção da Silva Dias (iAg-USP); Investimento r$ 3.246.351,45.2. Processos de nuvens associados aos principais siste-mas precipitantes no brasil: Uma contribuição à mode-lagem da escala de nuvens e ao gPm (medida global de precipitação) (nº 2009/15235-8); Modalidade Projeto temático; pesquisador responsável luiz Augusto toledo machado (inpe); Investimento r$ 2.362.708,53.Fonte roSeNfelD D. et al. Science 2008
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Produzidos artificialmente, quatro
elementos químicos passam a
integrar a tabela periódica; segue
a busca por outros, mais estáveis
QUÍMICA E FÍSICA y
À pro ra dos úmer s mágico
O ano de 2016 começou com os jornais noticiando a redecoração das paredes dos laboratórios de química em todo o mundo. É que, de um momento a outro, fi-caram desatualizados os pôsteres exibindo a famosa
tabela periódica, a lista que organiza os elementos químicos conhecidos segundo suas características e propriedades. Em um comunicado à imprensa no dia 30 de dezembro de 2015, a União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac) e a União Internacional de Física Pura e Aplicada (Iupap) reconheceram oficialmente a existência de quatro elementos químicos descobertos nos últimos anos. São os elementos de número 113, 115, 117 e 118, ainda sem um nome oficial, que se somam aos 114 identificados anteriormente.
Os novos elementos químicos são chamados de superpe-sados porque abrigam em seu núcleo um número elevado de prótons (partículas de carga elétrica positiva), muito supe-rior ao dos elementos químicos encontrados na natureza. É esse conjunto de prótons, o chamado número atômico, que distingue um elemento químico do outro e define muitas de suas características. Por exemplo, o carbono, que constitui a maior parte da massa dos seres vivos, abriga em seu núcleo apenas seis prótons. À temperatura ambiente e puro, o carbono forma cristais que podem ser negros e macios, caso da grafite, ou transparentes e duro, como o diamante, dependendo de
Mendeleev, em 1897: quase três décadas após ordenar os elementos por suas características físico-químicas
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60 z fevereirO De 2016
como os átomos estão geometricamente organizados. Já o elemento químico na-tural mais pesado, o urânio, é um sólido metálico bastante denso e radiativo. Tem 92 prótons e, ainda assim, é bem mais leve que os quatro acrescentados agora à tabela periódica.
Os novos elementos são dificílimos de observar e não devem existir esponta-neamente na natureza – ao menos, não por muito tempo. Por terem núcleos su-perpesados, são tão instáveis e fugazes que se desfazem em frações de segundo. A existência deles só pôde ser confirma-da por meio de uma série de experimen-tos realizados ao longo da última década.
Um dos poucos laboratórios capazes de fabricar esses elementos está no Ins-tituto Riken, no Japão. Foi lá que, em 2004, identificou-se o elemento 113. Ou-tros laboratórios com a mesma capaci-dade estão no Instituto Conjunto para Pesquisa Nuclear, em Dubna, na Rússia, e em centros nos Estados Unidos. Uma co-laboração entre uma equipe de Dubna e pesquisadores norte-americanos, a maio-ria do Laboratório Nacional Lawrence Livermore, produziu o elemento 115 em 2004, o 118 em 2006 e o 117 em 2010.
Com os quatro novos elementos quí-micos, somados aos elementos 114 e 116, cuja existência foi reconhecida em 2011, finalmente foram preenchidos todos os espaços vagos na sétima linha da tabela periódica. “Só nos últimos 50 anos, 17 novos elementos químicos foram acres-
nerais muitas vezes revelava a presença de um elemento químico até então des-conhecido”, explica.
A tabela periódica só surgiria no final dos anos 1860. Os químicos já haviam então percebido que os elementos, en-fileirados em ordem crescente de massa atômica (a soma de seus prótons e nêu-trons), formavam séries com proprieda-des físicas e químicas semelhantes, que se repetiam periodicamente ao longo da fila. A partir dessas observações, o quími-co russo Dmitri Mendeleev ordenou os 65 elementos identificados até então no que chamou de tabela periódica dos ele-mentos químicos. Ele previu a existência de outros, como o gálio e o germânio, só descobertos anos depois.
Depois de preencherem quase todas as lacunas da tabela periódica entre o hidrogênio, que tem 1 próton, e urânio, com 92, começou-se a usar aceleradores de partículas nos anos 1940 para tentar produzir elementos químicos mais pesa-dos que o urânio. Os primeiros elementos químicos sintéticos eram formados pela adição de um nêutron, que, ao aderir ao núcleo, converte-se em um próton, libe-rando um elétron e um neutrino. Essa es-tratégia funcionou até o férmio, que tem 100 prótons. A partir daí, os elementos pesados passaram a ser criados pela co-lisão e fusão de dois núcleos mais leves.
A produção desses elementos exige um ajuste fino entre as massas dos nú-cleos e a energia com que são lançados
Em 1789, o Tratado elementar de química, de Lavoisier, listava apenas 33 elementos
centados à tabela, do 102 ao 118”, diz o físico Edilson Crema, do Instituto de Fí-sica da Universidade de São Paulo (USP).
“Quando o químico francês Antoine Lavoisier publicou em 1789 o Tratado elementar de química, considerado um marco da química moderna, a obra lis-tava apenas 33 elementos”, observa o químico e historiador da ciência Car-los Alberto Filgueiras, da Universida-de Federal de Minas Gerais (UFMG). Naquela época a identificação de novos elementos químicos dependia do desen-volvimento de produtos e métodos de extração para estudar os minerais. “A análise das propriedades de novos mi-
A tabela periódica sempre provocou grande admiração em profissionais de todas as áreas. Nos dois últimos anos antes de morrer, em agosto de 2015, o escritor e médico neurologista inglês Oliver Sacks escreveu alguns artigos de caráter afetivo sobre sua vida. Um deles, “Minha tabela periódica”, fala do entusiasmo que sempre teve pelos elementos. O artigo faz parte do livro Gratidão, publicado pela Companhia das Letras, com tradução de Laura Teixeira Motta. A seguir, trechos em que Sacks fala de sua paixão pela tabela periódica.
“(...) Desde muito pequeno minha tendência é lidar com a perda – a perda de pessoas que me são caras – voltando- -me para o que não é humano. Quando me mandaram para um colégio interno aos seis anos, na eclosão da Segunda Guerra Mundial, os números se tornaram meus amigos; retornei a Londres, aos dez, e os elementos e a tabela periódica passaram a ser meus companheiros. Épocas difíceis ao longo de toda a minha existência levaram-me a buscar as ciências físicas ou retornar a elas: um mundo onde não há vida, mas também não há morte.
E agora, a esta altura, quando a morte já não é um conceito abstrato mas uma
presença – uma presença muito próxima, impossível de negar –, volto a me cercar como quando menino, de metais e minerais, pequenos emblemas da eternidade. Numa ponta da mesa de onde escrevo tenho o elemento 81 em uma graciosa caixa que amigos dos elementos me mandaram da Inglaterra. Ela diz: ‘Feliz Tálio Aniversário’, uma lembrança do meu 81º aniversário em julho passado; depois vem um reino dedicado ao chumbo, elemento 82, para o meu 82º aniversário, celebrado no começo deste mês. Também há uma caixinha de chumbo contendo o elemento 90, tório, o cristalino tório, belo como o diamante e, obviamente, radioativo – daí a caixa de chumbo. (...)
3
Li89
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No ver S ks e os eleme tos
pESQUISA FApESp 240 z 61
uns contra os outros. É que a colisão tem de ocorrer com energia suficiente para vencer a força de repulsão entre os nú-cleos, que têm carga elétrica positiva. Mas a energia não pode ser elevada de-mais a ponto de impedir a formação de um núcleo maior e estável, ainda que por instantes. O objetivo dos físicos não é apenas fabricar elementos químicos no-vos. Essa é também uma forma de testar as teorias sobre como prótons e nêutrons interagem e a matéria se comporta num nível ainda mais elementar. Essas teo-rias explicam como os elementos mais
leves – como hidrogênio, hélio e lítio – se formaram na explosão que teria dado origem ao Universo, o Big Bang, e depois produziram os demais elementos por fusão nuclear no interior de estrelas e durante as explosões que as extinguem.
O núcleo dos átomos é uma região em constante tensão. Os prótons se repelem
mutuamente por terem carga elétrica de mesmo sinal, positiva. Só se mantêm unidos pela ação de uma força contrária, de atração: a força nuclear forte. Esse equilíbrio entre essas forças é bastante delicado. Segundo Crema, os núcleos, além de prótons, contêm certo número de nêutrons, partículas eletricamente neutras. “Os nêutrons são uma espécie de estabilizadores nucleares”, diz. “Núcleos com muitos prótons exigem um número ainda maior de nêutrons em relação ao número de prótons, o que torna mais difícil formar núcleos superpesados.”
Uma teoria chamada de modelo de camadas propõe que, no núcleo dos áto-mos, os prótons e os nêutrons se encon-tram organizados em camadas concên-tricas, cada uma delas comportando um número máximo de partículas – o cha-mado número mágico. De acordo com esse modelo, quanto mais completa a camada externa de um núcleo, mais es-tável ele é. Essa ideia, em princípio, ex-plica por que alguns núcleos pesados se desmancham facilmente enquanto ou-tros existem por mais tempo. Os físicos esperam fabricar elementos contendo números mágicos de partículas. Eles te-riam chance de se manter estáveis por vários anos e permitiriam iniciar uma oitava ou até mesmo nona linha na tabela periódica. “Mas isso”, diz Crema, “ainda é só conjectura e esperança”. n
Lantanídeos
Actinídeos
Completa, por ora: elementos incorporados preenchem os últimos espaços vagos e são conhecidos por seus números (113, unúntrio; 115, unumpêntio; 117, ununséptio; e 118, ununóctio)
(...) Vizinha do círculo de chumbo na mesa fica a terra do bismuto: encontrado naturalmente na Austrália; pequeninos lingotes de bismuto em formato de limusine vindos de uma mina boliviana; bismuto resfriado lentamente numa fundição para dar origem a belos cristais iridescentes, formados como uma aldeia Hopi; e, em homenagem a Euclides e à beleza da geometria, um cilindro e uma esfera feitos de bismuto.
O bismuto é o elemento 83. Acho que não verei o meu 83º aniversário, mas me dá uma certa esperança, um certo encorajamento, ter o ‘83’ por perto. Além do mais, tenho um carinho especial pelo bismuto, um metal cinzento humilde,
pouco badalado, ignorado até por muitos amantes dos metais. Meu sentimento de médico pelos maltratados ou marginalizados estende-se ao mundo inorgânico e encontra um paralelo no meu sentimento pelo bismuto.
É quase certeza que não verei meu aniversário polônio (84º), e eu não iria mesmo querer nenhum polônio por perto, com sua radioatividade intensa e assassina. Porém, na outra ponta da mesa – minha tabela periódica –, tenho um belo pedaço de berilo (elemento 4) trabalhado à máquina, para me lembrar da infância e de há quanto tempo começou esta minha vida, que se encerrará em breve.”
Siga as ações do Ministério e as contribuições da ciência e da tecnologia para o desenvolvimento do Brasil. Acesse nosso site e nossas páginas nas redes sociais.site e nossas páginas nas redes sociais.site
www.mcti.gov.brtwitter.com/MCTI facebook.com/SintonizeMCTI
Se uma tecnologia revolucionária só for certifi cada após anos de tramitação burocrática, perde o seu caráter de vanguarda. É por isso que a comunidade científi ca
brasileira está comemorando o novo Marco Legal de CT&I, Lei No 13.243 de 11/01/2016. Agora as ações entre os setores público e privado, que formam o sistema de CT&I, serão mais ágeis, fl exíveis e menos burocráticas. O Marco também permite maior aproximação entre universidades e empresas para dinamizar a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a inovação no País. Segundo a presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, “esse novo marco põe o Brasil realmente na rota da inovação. Para nós, da ciência, é um dia de grande festa.”
Equipamento que detecta a movimentação de terra dos morros, Estação Total Robotizada (ETR), é instalado na Escola Municipal do Alto da Independência, em frente de
encostas e áreas vulneráveis a deslizamentos de um dos bairros mais populosos de Petrópolis (RJ), com cerca de 60 mil moradores. Além do ETR, 100 prismas, equipamentos que refl etem o sinal de infravermelho emitido pela ETR, indicando qualquer tipo de movimentação de terra, também foram implantados próximos às moradias, terrenos e rochas.
Ainda na Região Serrana do Rio de Janeiro, os próximos municípios a receber os ETR são Nova Friburgo, Teresópolis e Angra dos Reis. Entre março e abril, estão previstas as instalações dos sensores geotécnicos em Salvador e Recife. As cidades de Mauá e Santos (SP) e Blumenau (SC) já contam com equipamentos.
Essa importante iniciativa do Projeto de Monitoramento de Morros para Prevenção de Riscos de Deslizamentos do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden/
Capital intelectual e a cooperação entre empresas e órgãos públicos
Um importante avanço do novo Marco Legal da CT&I é a introdução do conceito de capital intelectual como um ativo a ser objeto de cooperação entre empresas e órgãos públicos. A lei ainda amplia o tempo máximo que os professores das universidades federais poderão trabalhar em projetos institucionais de ensino, pesquisa e extensão, ou exercer atividades de natureza científi ca e tecnológica.
Equipamento zela pela vida de populações em áreas de risco de deslizamento Marco Legal da desburocratização da
ciência, tecnologia e inovação
BRASIL, o país do futuro, é o país da ciência, tecnologia e inovação
Indicadores mostram que a Ciência, a Tecnologia e a Inovação no Brasil crescem a cada ano. Entre 1985 e 2014, houve um aumento de 93% na produção de artigos
científi cos no País. De 1985 a 1989, essa produção representava apenas 0,5% da inovação mundial. De 2010 a 2014, passou a equivaler a 2,76%. Esses resultados são fruto do investimento do Governo Federal em bolsas de pesquisa como as do CNPq e da Capes, nos institutos de pesquisa do MCTI, na Embrapa, na Fiocruz, entre outros.
ED. 01 - FEVEREIRO 2016
INFORME PUBLICITÁRIO
A busca por meios mais efi cazes e econômicos motivou o Brasil a desenvolver satélites de sensoriamento remoto para monitorar o meio ambiente, verifi car desmatamentos,
desastres naturais, a expansão da agricultura e das cidades e outras aplicações. Mas devido aos altos custos dessa tecnologia e para não depender de imagens fornecidas por equipamentos de outras nações, o governo do Brasil realizou um acordo com a China, em 1988, envolvendo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e a Academia Chinesa de Tecnologia Espacial (CAST). Esse acordo previa o desenvolvimento de um programa de construção de satélites avançados de sensoriamento remoto, denominado Programa CBERS (China-Brazil Earth Resources Satellite).
O Programa avançou e, recentemente, especialistas brasileiros e chineses concluíram que o projeto do CBERS-4A, sexto satélite sino-brasileiro, deve seguir para a fase de fabricação dos modelos de voo de seus subsistemas e equipamentos.
Com lançamento previsto para dezembro de 2018, o satélite levará a bordo três câmeras – uma chinesa e duas brasileiras. As câmeras brasileiras serão réplicas da WFI e da MUX que estão a bordo do CBERS-4, lançado em 2014.
As imagens obtidas com a MUX, a bordo do CBERS-4, têm contribuído para o monitoramento dos impactos causados no rio Doce pelo rompimento da barragem de rejeitos de mineração em Mariana (MG).
IMAGEM DA CÂMERA MUX DO CBERS-4 (07/12/2015) DA FOZ DO RIO DOCE, NO LITORAL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, MOSTRANDO PARTE DA PLUMA DE SEDIMENTOS E LAMA DE REJEITOS DE MINÉRIO
MCTI) e os esforços de educação e percepção de risco de desastres naturais, segundo a diretora substituta do Cemaden, Regina Alvalá, nos permitem alcançar o mesmo patamar dos países mais avançados em monitoramento.
O investimento brasileiro em Ciência e Tecnologia saltou de cerca de R$ 15 bilhões, em 2000, para mais de R$ 85 bilhões em 2013. E o investimento em Pesquisa e Desenvolvimento aumentou de cerca de R$ 12 bilhões, em 2000, para R$ 65 bilhões em 2013.
Neste Informe Publicitário do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e nas próximas edições você vai conhecer as descobertas e tecnologias brasileiras que estão conquistando o mundo e conferir os resultados que estão elevando o Brasil a um novo patamar.
Câmera MUX, primeira câmera para satélite totalmente nacional
A MUX é um dos projetos espaciais mais sofi sticados realizados no Brasil. Assim como os demais equipamentos, partes e componentes do satélite que couberam ao País na parceria sino-brasileira, a câmera foi desenvolvida pelo INPE por meio de contratos com a indústria nacional, um investimento que se traduz na criação de empregos especializados e crescimento econômico.
Satélite sino-brasileiro CBERS observando o Brasil por outro ângulo
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brasileira está comemorando o novo Marco Legal de CT&I, Lei No 13.243 de 11/01/2016. Agora as ações entre os setores público e privado, que formam o sistema de CT&I, serão mais ágeis, fl exíveis e menos burocráticas. O Marco também permite maior aproximação entre universidades e empresas para dinamizar a pesquisa, o desenvolvimento tecnológico e a inovação no País. Segundo a presidenta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), Helena Nader, “esse novo marco põe o Brasil realmente na rota da inovação. Para nós, da ciência, é um dia de grande festa.”
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Indicadores mostram que a Ciência, a Tecnologia e a Inovação no Brasil crescem a cada ano. Entre 1985 e 2014, houve um aumento de 93% na produção de artigos
científi cos no País. De 1985 a 1989, essa produção representava apenas 0,5% da inovação mundial. De 2010 a 2014, passou a equivaler a 2,76%. Esses resultados são fruto do investimento do Governo Federal em bolsas de pesquisa como as do CNPq e da Capes, nos institutos de pesquisa do MCTI, na Embrapa, na Fiocruz, entre outros.
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IMAGEM DA CÂMERA MUX DO CBERS-4 (07/12/2015) DA FOZ DO RIO DOCE, NO LITORAL DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO, MOSTRANDO PARTE DA PLUMA DE SEDIMENTOS E LAMA DE REJEITOS DE MINÉRIO
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Satélite sino-brasileiro CBERS observando o Brasil por outro ângulo
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64 z fevereiro De 2016
tecnologia NANOGEOCIÊNCIA y
Poços de petróleo
mais produtivos
PeSQUiSa FaPeSP 240 z 65
Estudos indicam que nanopartículas
de sílica podem aumentar o volume de
óleo e gás extraídos dos reservatórios
mpregar a nanociência para elevar a produtividade de poços de petróleo, ex-traindo de reservatórios submarinos e continentais o óleo que não é recu-perado pelos métodos tradicionais, é o
objetivo dos estudos do físico Caetano Miranda, professor do Departamento de Física de Materiais e Mecânica do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP). A ideia central do pesqui-sador, que recorre à modelagem computacional para simular o interior de poços de petróleo em escala micro e nanométrica, é usar nanopartículas de óxidos, como a sílica, impregnadas com sur-factantes – substâncias utilizadas pelas empresas petrolíferas na exploração das reservas – para ex-trair o petróleo aderido às rochas que formam os reservatórios. Hoje, apenas 35% do óleo contido nos poços é extraído, em média. A finalidade da nova técnica é dobrar esse percentual.
Para compreender como as nanopartículas de sílica irão atuar na exploração petrolífera, é preciso entender que tanto o óleo quanto o gás não estão armazenados em bolsões ou grandes cavernas subaquáticas ou subterrâneas. O óleo e o gás se acumulam em espaços vazios de rochas sedimentares porosas, como se fossem água em uma esponja encharcada. Quando o poço é per-furado, parte do óleo flui naturalmente, por causa da diferença de pressão – mais elevada no reser-vatório e menor na superfície. “Nessa recuperação primária, são extraídos em torno de 5% a 15% do total de hidrocarbonetos armazenados no depósi-to. Esse percentual varia conforme certos fatores, entre eles o tipo de rocha que forma o reservatório e características do óleo, como sua viscosidade, por exemplo”, explica Miranda.
No momento em que o poço começa a reduzir sua produção, as petrolífe-ras injetam nele água, gás carbôni-
co (CO2) e nitrogênio para deslocar o petróleo ainda presente no reservatório. Esses fluidos são introduzidos nos poços a certa distância do local de produção e têm ação puramente mecâ-nica, empurrando o óleo em direção à coluna de perfuração. Nesse processo de recuperação secundária do óleo chega-se à média de 35% do volume extraído na maioria dos poços do planeta.
A partir desse ponto, se estudos das petrolíferas comprovarem que há viabilidade econômica, elas continuam explorando o reservatório, injetando no poço surfactantes para fazer o deslocamento do óleo residual. “Surfactante é um produto se-melhante ao sabão que altera as interfaces entre o óleo, a rocha e a água salgada, os três componen-tes do sistema. Ele diminui as tensões interfaciais desses componentes nos reservatórios, modifi-cando a viscosidade do óleo e fazendo com que se desloque mais facilmente”, explica Miranda. Essa substância, porém, apresenta dois proble-mas. O primeiro é o custo elevado. A petrolífera precisa usar grandes volumes de surfactante, o que implica uma complexa logística de trans-porte, porque a maioria dos poços se encontra em lugares remotos. O segundo problema é que surfactantes são intolerantes à alta salinidade e à elevada temperatura. Nessas condições, eles precipitam, depositando-se na superfície das rochas. Quando isso acontece, eles não alteram a viscosidade do óleo residual, essencial para sua recuperação.
As pesquisas com uso de modelagem computa-cional feitas por Miranda recaem justamente na
escolha do melhor material para fazer o papel de surfactante. O pesquisador estuda nanopartículas capazes de au-xiliar na extração de óleo e gás reti-dos em nanoporos e microporos das rochas e, ao mesmo tempo, procura compreender o comportamento des-
Yuri Vasconcelos
pe
tr
ob
ra
s
Antes de testar nos campos petrolíferos as soluções para retirar mais óleo das rochas, é preciso fazer a simulação em computador
e
66 z fevereiro De 2016
sas nanoestruturas. “Não sabemos o que ocorre com o petróleo ou o gás natural quando eles estão confina-dos nos nanoporos. Sequer conhecemos o percentual de óleo e gás retido neles”, diz Miranda.
O emprego da nanociên-cia na indústria do petró-leo, segundo o professor da USP, surgiu em 2008 a partir de uma demanda da Sociedade de Engenheiros do Petróleo (SPE, na sigla em inglês) e se insere em um campo interdiscipli-nar mais amplo, a nano-geociência. Ela estuda os fenômenos que ocorrem em nanoescala em ma-teriais geológicos e tenta entender os efeitos de sistemas nanoestruturados ou nanoconfinados em escalas maiores. Segundo o pesquisador, em 2008 as nanopartículas de sílica já eram usadas comercialmente em outras áreas, como biome-dicina e catálise, na síntese de novos materiais. “A questão era saber como essas nanoestruturas se comportariam nas condições extremas dos re-servatórios, onde a temperatura atinge 400oC e a pressão ultrapassa 200 atmosferas (atm). Pre-cisávamos saber se seriam capazes de modificar a interação entre o óleo, a rocha e a salmoura”, explica. “Nossos estudos indicaram que as nano-partículas de sílica poderiam ser potencialmente utilizadas para extração do óleo.”
O trabalho também teve como desafio tornar funcionais as nanopartículas de sílica com um sur-factante, a fim de potencializar sua ação. “A partir de simulações moleculares, tentamos descobrir qual seria o melhor produto a ser adicionado na nanoestrutura, já que existem muitos no mercado.
A nanopartícula de sílica, em si, altera a interfa-ce entre o óleo, a rocha e a salmoura, mas com o acréscimo de um surfactante essa ação fica mais eficaz”, diz Miranda. “Queremos entender por que ele altera a molhabilidade do óleo.” Molhabilidade é a capacidade de um líquido em manter conta-to com uma superfície sólida quando os dois são colocados juntos. “Recorremos à simulação em computador por causa do custo-benefício. Fazer os ensaios dos surfactantes nos reservatórios seria custoso e demorado demais.” No caso de funcio-nar com as nanopartículas de sílica, a quantidade e o custo do surfactante serão bem menores em relação ao volume utilizado sozinho.
Outra vertente da pesquisa é estudar nanoes-truturas que possam ser empregadas para “ilu-minar” os campos de petróleo, extraindo mais in-
formações dos reservatórios, como, por exemplo, detalhes sobre a poro-sidade das rochas, os fluidos presen-tes nelas, a composição química e as condições de temperatura e pressão do ambiente. Essas informações são essenciais para as tomadas de deci-são da equipe de engenharia de pro-dução. O uso de nanopartículas, se-gundo Miranda, poderia aprimorar a resposta da ressonância magnética feita durante a perfuração – a técni-ca é empregada para mapeamento dos depósitos. Para isso, nanopartí-culas seriam injetadas no poço junto com a água, servindo como agentes de contraste. “De uma maneira geral, nossos estudos buscam uma melhor compreensão, em escala molecu-lar, dos mecanismos e fenômenos
que ocorrem em poços de petróleo. Queremos ter uma visão atomística do processo e verificar as consequências em escalas maiores”, afirma.
códigoS comPUtacionaiSTrês teses de doutorado, quatro dissertações de mestrado e mais de uma dezena de artigos fo-ram produzidos nos últimos oito anos no âmbito das pesquisas de Caetano Miranda. Seu trabalho tem vinculação com um projeto de quatro anos financiado pela FAPESP e coordenado pelo físico Alex Antonelli, do Instituto de Física Gleb Wa-taghin da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Nosso projeto tem como finalidade estudar uma varidade de propriedades da matéria condensada por meio da modelagem computacio-nal. Caetano utiliza as mesmas ferramentas que empregamos e, por isso, podemos compartilhar tanto os computadores quanto os códigos com-putacionais”, afirma Antonelli. “Em princípio, podemos compreender no computador, que fun-ciona como um laboratório virtual, os processos
Ilustração realizada em computador simula o fluxo de óleo entrando em um nanoporo na rocha, preenchido inicialmente com água salgada. Oléo e água se misturam no nanoporo
Simulações são mais baratas e têm menos riscos que os experimentos em laboratório
Rocha
NanoporoÓleo Água
PeSQUiSa FaPeSP 240 z 67
já conhecidos e possivelmente melhorá-los de uma forma mais barata, sem ter que testar uma nova ideia na prática.”
aPoio daS PetRolÍFeRaSAlém da FAPESP, Miranda também recebe finan-ciamento da Petrobras. Suas pesquisas se inse-rem no programa de Redes Temáticas da estatal, instituído em 2006 e executado em parceria com pesquisadores de universidades e instituições nacionais de pesquisa. “O trabalho do professor Caetano faz parte da Rede Temática Recupera-ção Avançada de Petróleo”, afirma a engenheira de petróleo Lua Selene Almeida, do Centro de Pesquisas da Petrobras (Cenpes). “É um estudo muito avançado e de fronteira. Ele está nos aju-dando a modelar fenômenos físicos que ocorrem nos poços de petróleo numa escala bem distinta daquela que estudamos em nossos laboratórios”, diz a pesquisadora.
Outra fonte de financiamento dos estudos vem do Advanced Energy Consortium (AEC), consór-cio internacional de empresas do setor de petró-leo, entre elas a anglo-holandesa Shell, a inglesa British Petroleum (BP), a norueguesa Statoil, a espanhola Repsol, a francesa Total e a Petrobras, voltado ao financiamento de nanociência aplicada à indústria do petróleo. O projeto apoiado pela AEC contou com a participação de pesquisadores da Universidade de Austin, no Texas, um impor-
tante centro de estudos no setor de óleo e gás. “Enquanto nosso grupo fazia as simulações em computador, eles se encarregavam da parte ex-perimental”, diz Miranda, destacando que testes laboratoriais e ensaios experimentais, etapas que precedem aos experimentos com as nanopartí-culas de sílica nos campos de petróleo, também serão realizados em breve no IF-USP.
“As simulações computacionais são muito mais baratas e apresentam menos riscos do que os ex-perimentos de laboratório”, diz a química Flávia Cassiola, pesquisadora brasileira da Shell Inter-nacional, Produção e Exploração, em Houston, nos Estados Unidos. “A indústria do petróleo tem todo o interesse que os métodos se aprimorem, proporcionando a inclusão de mais característi-cas dos reservatórios na simulação. A Shell possui vários grupos dedicados à simulação computa-cional em seus centros de tecnologia e inovação e o professor Caetano é a nossa referência no assunto. O trabalho dele tem nos auxiliado no desenvolvimento e aprimoramento de métodos avançados de recuperação de petróleo e gás na-tural”, diz Flávia. n
SupERfICIAl
De 5% a 15% são retirados pela fluidez natural do poço. Depois são injetados água, CO2 ou nitrogênio
pROfuNDO
A pressão exercida faz desprender o óleo aderido às rochas porosas dos poços
NANOpARtíCulAS
Os pesquisadores da uSp, unicamp e petrobras querem injetar também nanopartículas de sílica
Nanossílica + CO2
petróleo
MAIS ÓlEO
A sílica modifica a interface entre a água do mar, as rochas e o óleo faciltando a extração
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extração gota a gotaOs poços de petróleo não são bolsas bem definidas com óleo dentro. Depois de extraído o óleo superficial é preciso retirar aquele que fica preso às rochas
projetoModelagem computacional da matéria condensada: uma aborda-gem em múltiplas escalas (nº 2010/16970-0); Modalidade projeto temático; pesquisador responsável Alex Antonelli (IfGW-unicamp); Investimento R$ 356.196,00 e uS$ 225.400,00.
co2
Óleo fúsel e CO2 gerados na fabricação de
etanol podem ser aproveitados na produção
de substâncias químicas de uso industrial
Líquido viscoso, de cor amarelada e odor desagradável, o óleo fúsel é o menos co-nhecido dos resíduos da indústria sucroal-cooleira. Para cada mil litros de etanol são
gerados, em média, 2,5 litros de fúsel. O composto é formado por vários álcoois em que apenas uma pequena parte dos cerca de 80 milhões de litros produzidos no Brasil a cada ano é destinada à fabricação de um tipo de álcool chamado isoamí-lico. Outra parte é queimada para gerar energia para as usinas. As indústrias, no entanto, não informam o quanto é transformado em isoamílico, a porcentagem queimada e a quantidade des-cartada. Com o objetivo de reaproveitar melhor esse resíduo, dois grupos de pesquisa estudam o óleo fúsel para transformá-lo em um produto de maior valor. Em um dos grupos, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual Paulista (FCT-Unesp), campus de Presidente Pru-dente, o professor Eduardo René Pérez González coordena um projeto que propõe a reciclagem em um processo único do óleo fúsel e do dióxido de carbono (CO2), um dos gases do efeito estufa, também gerado nas usinas.
Em estudo publicado na revista RSC Advances da Royal Society of Chemistry, o grupo da Unesp indica que o processamento dos dois rejeitos pode levar à produção de carbonatos de alquila para
IndústrIa suCrOalCOOleIra y
O resultado do experimento na Unesp é a produção de carbonatos de alquila e depois carbamatos que podem ser utilizados na fabricação de fungicidas e fármacos
Óleo fúsel
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uso em aditivos de combustíveis, fármacos e fun-gicidas. “Nosso objetivo é agregar valor a esses resíduos ao combiná-los para formar compostos químicos com diversas utilidades potenciais ou já conhecidas”, explica González. “Nos países mais desenvolvidos, o que mais se busca é dar uma so-lução para o CO2. Aqui conseguimos em escala laboratorial. As principais substâncias obtidas são os carbonatos de alquila, que em princípio podem ser considerados como agentes intermediários em síntese orgânica de outras substâncias químicas.” Isso significa que elas podem servir para, entre outras aplicações, produzir carbamatos, poten-ciais fungicidas para proteção de plantações de cana ou de outras culturas.
A aluna de doutorado Fernanda Stuani, orien-tanda de González no Laboratório de Química Orgânica Fina (LQOF) da FCT-Unesp, explica que durante os experimentos foram testados dois processos. “No primeiro, destilamos o fúsel para extração dos álcoois isoamílicos, com os quais se produzem carbonatos de alquila. Como seria difícil viabilizar economicamente esse processo, porque as usinas teriam primeiro de destilar o óleo para depois produzir o carbonato, também tentamos, no segundo processo, fazer isso direto do fúsel.” Nos experimentos, foi usado dióxido de carbono adquirido comercialmente, mas a ideia é aprovei-
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Resíduos reciclados
68 z fevereiro De 2016
caRbonatos
tar o que é gerado nas usinas durante a produção de etanol. “Mais adiante, com a colaboração de engenheiros químicos e ambientais, tentaremos fazer um estudo para levar essa tecnologia a uma escala maior de trabalho”, acrescenta González.
infoRmações e descaRteO outro grupo que estuda o destino do fúsel é coordenado por Eduardo Augusto Caldas Batista, professor da Faculdade de Engenharia de Alimen-tos da Universidade Estadual de Campinas (FEA--Unicamp). São projetos que visam obter o álcool isoamílico com tecnologias mais avançadas – o produto tem aplicações nas indústrias de tintas, plastificantes, perfumaria e de alimentos. Para ele, uma das dificuldades para realizar as pesquisas é a escassez de informações sobre o aproveitamen-to do fúsel. “Como o mercado desse resíduo não está bem estabelecido, é difícil obter informações sobre preço, utilização e destino”, diz. De acordo com o pesquisador, sabe-se que o resíduo pode ser adicionado ao etanol combustível. Mas não se sabe o que as empresas sucroalcooleiras fazem com ele, exatamente, nem como é descartado. “Co-mo é altamente tóxico, esse resíduo não pode ser descartado sem tratamento no meio ambiente.”
No trabalho de Batista, a proposta é estudar configurações de processo para produção de ál-
cool isoamílico integrada à produção de etanol a partir do óleo residual. “As configurações po-dem ser acopladas à produção convencional de etanol ou ainda em sistemas independentes”, diz. “A linha de pesquisa começou em 2010 e continuou em 2012 com o projeto de doutorado do estudante Magno José de Oliveira”, conta Ba-tista. Ao longo dos estudos foram desenvolvidas três configurações de processo para recuperar o isoamílico, que faz parte da composição do óleo. O estudo resultou em um artigo em 2013 na revista Industrial and Engineering Chemistry Research. O projeto de Oliveira propõe duas configurações de processo: uma integrada a uma planta de pro-dução de etanol hidratado e outra que, além de obter isoamílico do óleo, também consegue re-cuperar butanol e etanol presentes no resíduo. “Esses dois processos estão com depósitos de pedido de patente no INPI [Instituto Nacional de Propriedade Industrial]”, diz Batista.
O professor Antonio Aprigio da Silva Curvelo, do Instituto de Química de São Carlos, da Univer-sidade de São Paulo (USP), conta que a captura e a utilização de dióxido de carbono vêm sendo estudadas há anos. “Quanto ao aproveitamento do óleo fúsel, ainda não se mostrou importante do ponto de vista industrial, embora possa en-contrar algumas aplicações”, diz Curvelo. Para ele, o maior mérito do trabalho é a contribuição acadêmica como rota alternativa para o uso dessas matérias-primas e a elucidação dos mecanismos envolvidos nas reações estudadas. n
Projetos1. estudo de reações de síntese limpa e modificação química do biodiesel e óleo fúsel para preparação de carbonatos e carbamatos orgânicos utilizando dióxido de carbono na presença de organocata-lisadores e catalisadores heterogêneos (nº 2013/24487-6); Modali-dade auxílio à Pesquisa – regular; Pesquisador responsável eduardo rené Pérez González (FCt-unesp); Investimento r$ 106.024,75 e us$ 58.568,54.2. Phase equilibrium and purification processes in the production of biofuels and biocompounds (nº 2008/56258-8); Modalidade auxílio à Pesquisa – Programa Bioen – Projeto temático-Pronex; Pesquisa-dor responsável antônio José de almeida Meirelles (Fea-unicamp); Investimento r$ 1.307.138,81 e us$ 629.087,74.
artigos científicosPereIra, F. s. et al. Cycling of waste fusel alcohols from sugar cane in dustries using supercritical carbon dioxide. Rsc advances. v. 5, n. 99, p. 81515-22. 2015. FerreIra, M. C. et al. study of the fusel oil distillation process. industrial and engineering chemistry Research. v. 52, n. 6, p. 2336-51. 2013.
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Estudo suíço-brasileiro mostra que o umbu,
fruto do sertão nordestino, pode dar origem a um
creme que age contra o envelhecimento da pele
O cosmético que vem da Caatinga
Típico da Caatinga, o umbu, fruto do umbuzeiro, é conhecido por suas ricas propriedades nutri-cionais, com destaque para o
elevado teor de vitamina C, alto índice aquoso e vários componentes voláteis, especialmente nos frutos maduros. No sertão nordestino, ele é largamente consumido in natura ou processado, na forma de polpa, geleia, doce ou sorvete. Recentemente, um grupo de cientistas brasileiros e suíços concluiu um estudo que revelou novas propriedades dessa fruta arredondada, de casca aveludada e sabor levemente azedo. Eles desco-briram que o umbu (Spondias tubero-sa) é rico em compostos fenólicos com atividade antioxidante, o que faz dele um insumo potencial para fabricação de cosméticos com ação sobre o envelheci-mento da pele, como cremes antirrugas ou contra flacidez. Duas das substâncias identificadas são inéditas.
Coordenada pela farmacêutica Van-derlan da Silva Bolzani, professora do Instituto de Química da Universidade Estadual Paulista (IQ-Unesp) de Ara-raquara, a pesquisa teve a participação
da Universidade de Genebra (Unigen), na Suíça, e do Centro de Inovação e En-saios Pré-Clínicos (CIEnP), empresa privada sem fins lucrativos com sede em Florianópolis (SC). “O estudo fornece a primeira documentação completa sobre o isolamento de compostos da polpa do umbu, com propriedades antioxidantes e rejuvenescedoras da pele”, explica Ma-ria Luiza Zeraik, que atuou na equipe quando fazia pós-doutorado. Atualmen-te, ela é professora do Departamento de Química do Centro de Ciências Exatas da Universidade Estadual de Londrina (UEL), no Paraná. “Um aspecto rele-vante do nosso estudo é promover uma inovação tecnológica com valor social para a região Nordeste”, diz Maria Luiza. O umbuzeiro é importante na Caatinga porque dá frutos durante a estação seca e representa uma fonte de renda para a população local.
A pesquisa contou com recursos dos governos suíço e brasileiro e teve fi-nanciamento da FAPESP por meio de uma bolsa de pós-doutorado, concedida à Maria Luiza, além de um projeto do Sisbiota, programa do CNPq em parce- E
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ria com a Fundação. A partir de 2014, o estudo integrou a carteira de projetos do Centro de Pesquisa e Inovação em Biodiversidade e Fármacos (CIBFar), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, coorde-nado por Glaucius Oliva, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IFSC-USP) de São Carlos.
Dois pedidos de patentes foram depo-sitados no Brasil e no exterior. Eles são pertinentes ao processo de extração e isolamento de compostos presentes na polpa do umbu relativos às propriedades antioxidantes, à inibição da acetilcolines-terase, enzima que promove as ligações (sinapses) entre os neurônios. “As subs-tâncias relacionadas à acetilcolinesterase poderiam, no futuro, originar um medi-camento ou um suplemento alimentar para tratar a perda da memória, quadro comum em idosos”, diz Vanderlan.
FOCO na biOdiversidade As descobertas sobre o umbu fizeram parte de um estudo mais amplo com o objetivo de investigar as propriedades de 22 frutos pertencentes à biodiversidade
cIÊNcIas FarMacÊuTIcas y
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o umbu é um dos 22 frutos estudados para a verificação das propriedades químicas e possível uso em cosméticos e na indústria alimentícia
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nada por Vanderlan, ficou nove meses na Universidade de Genebra. Nesse perío-do, ela aprendeu os princípios do estu-do metabolômico realizado pelo grupo dos professores Jean-Luc Wolfender e Emerson Queiroz. Wolfender é o chefe do Laboratório de Fitoquímica e Pro-dutos Naturais Bioativos da universi-dade e coordenador do projeto bilateral por parte da instituição suíça. “Metabo-lônica é uma abordagem avançada so-bre o mapeamento químico ideal para quantificar todos os produtos naturais de um organismo”, explica Maria Lui-za. “Ela é usada para estudarmos todos os compostos metabólicos secundários de uma planta e, por meio dessas análi-ses, obtém-se um fingerprint, a identida-de metabólica vegetal, como um painel das substâncias químicas presentes na espécie.” Para Emerson, a formação de
brasileira visando a seu potencial uso na indústria de cosméticos e de alimentos. Esse projeto fez parte do Convênio Bi-lateral entre Brasil e Suiça, ou Brazilian Swiss Joint Research Programme (BS-JRP), coordenado no lado brasileiro pelo Conselho Nacional de Desenvolvimen-to Científico e Tecnológico (CNPq). O projeto foi iniciado em 2011 e concluí-do em 2014, no IQ-Unesp, responsável pela triagem química e biológica inicial de frutos nativos ou endêmicos das re-giões Norte e Nordeste do país. Além do umbu, também estão na lista do estudo as frutas bacuri, ciriguela, mangaba, pi-tomba e cajá, entre outras.
“O processo de preparo de amostras dos frutos, a extração dos componentes químicos por métodos analíticos usuais e os ensaios químicos preliminares dos extratos foram feitos no nosso laborató-rio NuBBE [Núcleo de Bioensaios, Bios-síntese e Ecofisiologia de Produtos Na-turais, laboratório com selo verde que excluiu o uso de solventes clorados e outros derivados de petróleo em mui-tas etapas de extração e purificação]”, explica Vanderlan, que também é mem-bro da coordenação do Programa Biota FAPESP, cujo objetivo é mapear e anali-sar a biodiversidade paulista e avaliar as possibilidades de exploração sustentável de plantas ou de outros organismos com potencial econômico. “Todas as partes dos frutos [cascas, polpas, sementes] fo-ram analisadas, resultando em mais de 100 extratos. Dentre eles, separamos al-guns bastante ativos e a polpa do umbu mos-trou-se excelente pa-ra iniciar a pesquisa.” Outros frutos – cujos nomes são mantidos em sigilo pelo grupo – também apresenta-ram atividades de interesse e serão es-tudados posteriormente.
A parceria com a Universidade de Ge-nebra, um importante centro europeu de pesquisa em produtos naturais, teve um orçamento de 173,4 mil francos suí-ços (equivalentes a atuais R$ 700 mil), divididos entre os governos do Brasil (35% do total) e da Suíça. “Empregamos metodologias inovadoras de caracteri-zação química, detectamos, isolamos e identificamos os compostos químicos presentes no umbu responsáveis pela
depois dos testes positivos e um prêmio, falta agora o interesse de uma empresa
atividade de inibição da acetilcolines-terase, enzima-alvo para o tratamen-to da doença de Alzheimer”, destaca o farmacêutico brasileiro Emerson Quei-roz, professor da Escola de Ciências Farmacêuticas da Unigen, na Suiça. Os ensaios biológicos in vitro com os compostos puros foram realizados pela professora Muriel Cuendet, da mesma universidade.
Como parte do programa suíço-bra-sileiro, a química Maria Luiza, na época estagiária de pós-doutorado supervisio-
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ano, realizamos por volta de 30 ensaios, envolvendo várias enzimas e mediadores inflamatórios potencialmente responsá-veis pelo envelhecimento da pele.”
Financiado pelo governo do estado de Santa Catarina e pelos ministérios da Saúde (MS) e da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o CIEnP foi criado há dois anos com a missão de contribuir para a inovação tecnológica nos setores farmacêutico (medicamentos de uso hu-mano e veterinário) e de cosméticos. A maioria dos projetos desenvolvidos na instituição se dá em conjunto com o se-tor industrial. A pesquisa envolvendo o umbu foi a primeira parceria do centro com uma universidade e a primeira pro-va de conceito realizada no CIEnP com um produto da biodiversidade brasileira. Segundo Calixto, o extrato padroniza-do do umbu mostrou-se seguro e com
o umbuzeiro se destaca no sertão nordestino. Mesmo no período de seca os frutos são suculentos (acima)
recursos humanos e a transferência de conhecimento e tecnologia para o Brasil é outro aspecto relevante do programa bilateral Brasil-Suíça.
ensaiOs in vitro Depois da caracterização feita na Suíça, os extratos de umbu foram padronizados e enviados para o CIEnP, em Florianó-polis, para estudos de prova de conceito, fase essencial quando se almeja posterior colaboração industrial visando a um pos-sível produto. “Fizemos aqui estudos in vitro em células humanas da pele – me-lanócitos e queratinócitos – para avaliar o uso do produto no desenvolvimento de cosméticos com ação sobre o envelhe-cimento”, explica João Batista Calixto, diretor-presidente do CIEnP e ex-pro-fessor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). “Durante quase um
toxicidade em níveis aceitáveis. “Esses resultados mostraram que o fruto tem potencial para ser usado como cosmético na prevenção de sintomas de inflamação da pele observados durante o processo de envelhecimento”, diz ele. “Agora, es-tamos procurando uma empresa interes-sada na produção e na comercialização desse bioativo.”
Em dezembro de 2015, Vanderlan Bol-zani, João Batista Calixto e Maria Luiza Zeraik receberam o Prêmio Kurt Politzer de Tecnologia, na categoria Pesquisador, pelo projeto “Utilização sustentável da polpa dos frutos do umbu e umbu-cajá: produtos fenólicos de alto valor agre-gado para a indústria de cosmético com propriedades antienvelhecimento”. O re-conhecimento é concedido pela Associa-ção Brasileira da Indústria Química (Abi-quim) a projetos de empresas e cientistas que estimulam a pesquisa e a inovação na área química no país. n Yuri vasconcelos
Projetos1. Prospecção de moléculas bioativas e estudo de varia-bilidade infraespecífica em plantas e microrganismos endófitos do cerrado e caatinga. contribuição para o conhecimento e uso sustentável da biodiversidade brasileira (sisbiota) (nº 2010/52327-5); Modalidade Programa Biota; Pesquisadora responsável Vander-lan Bolzani (unesp); Investimento r$ 552.668,55 e us$ 246.950,72.2. Produtos naturais oriundos de plantas do cerrado e Mata atlântica, modelos potenciais e úteis para identificar protótipos com ação oxidante em neutrófilos e enzima mieloperoxidase (MPo) (nº 2011/03017-6); Modalidade Bolsa de pós-doutorado (Maria Luiza Zeraik); Pesquisado-ra responsável Vanderlan Bolzani (unesp); Investimento r$ 297.813,41. 3. cIBFar – centro de Inovação em Biodiversidade e Fár-macos (nº 2013/07600-3); Modalidade Programa cen-tros de Pesquisa, Inovação e difusão (cepid); Pesquisador responsável Glaucius oliva (IFsc-usP); Investimento r$ 21.485.493,35 (em quatro anos).
artigo científicoZEraIk, M.L. et. al. antioxidants, quinone reductase inducers and acetylcholinesterase inhibitors from Spon-dias tuberosa fruits. Journal of Functional Foods. v. 21, p. 396-405, on-line. jan. 2016.FO
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Fungo é usado para produzir
nanopartículas metálicas
que podem ser empregadas
como antibacterianos
Microprodutor
de prata
biotecnologia y
cultura de Fusarium oxysporum, fungo usado para o desenvolvimento de um medicamento contra infecção de unha
Um estudo coordenado pelo professor Nelson Durán, do Instituto de Química da Uni-versidade Estadual de Campi-
nas (IQ-Unicamp), indica que o fungo Phoma glomerata é capaz de produzir nanopartículas de prata, que podem ser eficazes contra microrganismos. Trata--se de um esforço por novas drogas para debelar doenças causadas por fungos e bactérias. Para Dúran, nanopartículas antimicrobianas apresentam muitas vantagens em relação aos antibióticos convencionais, entre elas a redução dos efeitos colaterais.
“Levando em consideração a atividade antimicrobiana e os aspectos envolvidos na produção, como a utilização de meios de cultura de baixo custo, com bom ren-dimento e geração de resíduos não tóxi-cos, é possível que num futuro próximo as nanopartículas de prata possam ser utilizadas como medicamentos ou em combinação com antibióticos, visando potencializar sua ação”, diz a bióloga Marta Cristina Teixeira Duarte, do Cen-tro Pluridisciplinar de Pesquisas Quí-micas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, que participou do estudo realizando os ensaios in vitro de ativi-dade antifúngica com as nanopartícu-las. O uso inicial deve ser sobre a pele para tratamento de dermatomicoses. A ingestão de nanopartículas está descar-tada no momento por não se conhecer a toxicidade para os seres humanos.
No artigo publicado em 2015 na revista IET Nanobiotechnology, os autores, entre os quais Durán e Marta Cristina, suge-rem que as nanopartículas de prata são uma nova esperança para o tratamento de infecções causadas por bactérias que se tornaram resistentes a antibióticos. Segundo Durán, a nanopartícula de prata tem uma superfície relativamente grande em comparação com o seu volume. Isso significa que a maior parte dos átomos está na superfície da nanopartícula, o que aumentaria sua eficiência antimicro-biana em razão de ter maior capacida-de de interagir com outras substâncias.
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Projetos1. o desenvolvimento de produto cosmecêutico à base de nanopartículas de prata para tratamento de oni-comicose (nº 2013/50289-7); Modalidade Programa Pesquisa inovativa em Pequenas empresas (Pipe); Pes-quisadora responsável Patricia Pulcini Rosvald Donaire (Donaire consultoria); Investimento R$ 83.153,50.2. biossíntese de nanopartículas de prata por seleção de espécies de Phoma e suas atividades contra micróbios multirresistentes (nº 2012/03731-3); Modalidade auxílio à pesquisa – Pesquisador visitante; Pesquisador res-ponsável nelson eduardo Durán caballero (Unicamp); Pesquisador visitante Mahendra Rai (Universidade amravati); Investimento R$ 167.241,52.
artigo científicoMaHenDRa, R. et. al. three Phoma spp. synthesized novel silver nanoparticles that possess excellent anti-microbial efficacy. IET Nanobiotechnology. v. 9, n. 5, p. 280-7. out. 2015.
O uso do fungo Phoma spp. representa uma nova estratégia para substituir com vantagens os métodos físicos e químicos que empregam muitas vezes substâncias tóxicas ao meio ambiente.
Durán diz que, para superar esses obs-táculos, os cientistas buscam inspiração na natureza e começam a utilizar cada vez mais os sistemas biológicos, como plantas, bactérias, algas e fungos, para fazer sínteses. As pesquisas mostraram até agora que os fungos têm a capacida-de de reduzir cátions (íons com carga positiva) de metal para formar nano-partículas de tamanhos e propriedades diferentes.
O grupo de Durán optou pelos fungos por serem seres eucariotos (organismos ou células cujo núcleo está envolvido por uma membrana), o que lhes dá maior robustez e uma maquinaria biológica sofisticada. Além disso, seu cultivo é de fácil controle e há grande disponibilida-de de linhagens ou cepas. Também pesa-ram na escolha as propriedades desses organismos em extrair metais do meio extracelular, que podem ser reduzidos ou oxidados pela remoção ou acréscimo de elétrons. “Nós propusemos o termo ‘miconanotecnologia’ para definir a área de pesquisa de síntese de nanomateriais por fungos”, diz Durán.
proTóTIpo EFIcIENTEAlém de Phoma spp., foi também estu-dado o fungo Fusarium oxysporum. “Os projetos procuraram verificar qual era o mais eficiente e econômico”, explica Durán. “Mas eles apresentaram desem-penhos muito similares.” Com o primeiro foi comparada a eficiência de antibió-ticos existentes no mercado com a das nanopartículas de prata produzidas pe-lo microrganismo. Com o F. oxysporum, cuja pesquisa começou antes do Phoma, os trabalhos estão mais avançados.
A partir das nanopartículas produ-zidas com essa espécie foi desenvolvi-do um protótipo de antifúngico (gel e esmalte) contra onicomicose (infecção das unhas). “Agora, com apoio do Pipe [Programa Pesquisa Inovativa em Peque-nas Empresas] da FAPESP, vamos buscar a produção em maior escala, visando à utilização no tratamento de doenças negligenciadas e fúngicas de importân-cia em humanos.” O novo medicamento está em estudos na empresa Donaire, de Americana (SP).
Durán conta que o trabalho foi inicia-do em seu laboratório em 2013 pelo pes-quisador indiano Mahendra Rai, da Uni-versidade Amravati, que esteve no Brasil com apoio da FAPESP e também assina o artigo da IET Nanobiotechnology. O in-tercâmbio havia começado alguns anos antes, num projeto de parceria entre os dois países, financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). “Ele veio várias vezes para cá e eu o visitei algumas ve-zes em seu país”, conta. “O objetivo era gerar nanopartículas de prata biológicas para aplicações médicas e na agricultu-ra. Como resultado, publicamos artigos sobre antibacterianos e antifúngicos e obtivemos patente no Brasil de um filme para a proteção de frutas [ver Pesquisa FAPESP nº 176].”
Para o professor Elson Longo, do Ins-tituto de Química de Araraquara da Uni-versidade Estadual Paulista (Unesp) e coordenador do Centro de Desenvolvi-mento de Materiais Funcionais, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) apoiados pela FAPESP, o traba-lho de Durán é inovador e com grande potencial de se transformar num pro-duto. “O mercado é que será a balança para viabilizar esse desenvolvimento tecnológico”, diz Longo, um dos primei-ros pesquisadores brasileiros a traba-
lhar com nanotecnologia. “No mundo, existem trabalhos semelhantes que es-tão ainda em fase incipiente. No Brasil, não conheço estudo semelhante.” De acordo com Longo, a grande vantagem dessa linha de pesquisa é a utilização de fungos como mão de obra, um custo baixo e inovador. “Como existem muitos produtos que exigem diferentes tipos de prata metálica (clusters, nanopartí-culas, micropartículas, prata ancorada em diferentes substratos, associada a outros compostos), depende do uso para se obter melhor ou pior resultado com o metal”, diz Longo. n Evanildo da Silveira
A UtilizAção De fUngos como mão De obrA poDerá resUltAr em Um sistemA proDUtivo bArAto e inovADor pArA A proDUção De nAnopArtícUlAs De prAtA DestinADAs À meDicinA e À AgricUltUrA
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Projeto revela uma intensa circulação de
bens culturais, sobretudo impressos, entre
França, Inglaterra, Portugal e Brasil
Globalização no século XIX
uitas décadas antes da difusão da pa-lavra globalização, o mundo letrado frequentemente ignorava as fronteiras nacionais no século XIX, pelo menos no Ocidente. O polo difusor de bens
culturais era a França e, com ela, o idioma francês, um símbolo de refinamento, usado cotidianamente até entre os membros da corte dos czares russos. Em um merca-do crescente, a França exportava mil toneladas de livros e revistas por volta de 1840 e chegou a 4,7 milhões em 1890. Muitos desses impressos, em vários idiomas, eram depois reexportados. Mesmo quando em francês, podiam ser traduções de textos produzidos em diversas línguas, sobretudo alemão e inglês, que atendiam no estrangeiro a ávidos leitores de elite, incluindo os brasileiros dos gran-des centros urbanos. Imprimia-se na França, em prati-camente todos os idiomas conhecidos, porque, com um enorme parque gráfico, ficava mais barato. Além disso, no caso brasileiro, pagava-se imposto pela importação de papel em branco, mas não pela importação de livros.
Esse cenário efervescente é reconstituído pelo projeto temático financiado pela FAPESP A circulação transatlân-tica dos impressos – A globalização da cultura no século XIX, iniciado em 2011 e previsto para terminar em agosto
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sos em gráficas da França e de Portugal. “Além disso, com o tempo eles visaram ao público leitor português, invertendo a direção do fluxo secular dos livros, a ponto de a concorrência feita pelas obras lusas impressas no Brasil tornar-se mo-tivo de inquietação em Portugal”, diz a professora. A preocupação se estendia ao fenômeno da contrafação de livros e revistas, nada mais do que pirataria de produtos culturais, algo também comum no mundo contemporâneo. Portugal já tinha uma população bem menor (5,5 milhões em 1900) do que a do Brasil (18 milhões) e uma taxa de analfabetismo equivalente (cerca de 25%), o que tor-nava o mercado brasileiro mais pujante e comercialmente atraente.
urBaniZaçãO Uma tendência do período foi a conso-lidação da vida nas cidades. É também uma época de distâncias encurtadas, não só com o progresso das ferrovias, mas também com a invenção e a dissemina-ção da prensa a vapor, a mecanização da fabricação do papel e o advento do telégrafo, no início do século XIX, até a impressão rotativa, a linotipia e a fo-
deste ano. Os coordenadores-gerais são Márcia Abreu, do Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (IEL-Unicamp), e o fran-cês Jean Yves-Mollier, da Universidade de Versalhes-Saint-Quentin (França). A finalidade é “conhecer os impressos e as ideias em circulação entre Inglaterra, França, Portugal e Brasil”. O período coberto toma de empréstimo do histo-riador britânico Eric Hobsbawm (1917-2012) o conceito de “longo século XIX”, cujo marco inicial é a Revolução Fran-cesa (1789) e o final, o início da Primeira Guerra Mundial (1914). Para os assuntos estudados, a data inaugural é apropriada pelo fato de a Revolução Francesa ter al-terado a legislação relativa ao comércio de livros na França, resultando numa profusão de publicações, muitas vezes efêmeras, que se espalharam pelo país e depois pelo mundo. E a data de término é um marco geopolítico global que afeta diretamente todos os países em foco. Um dos resultados do projeto é o livro The cultural revolution of the nineteenth cen-tury: Theatre, the book-trade and reading in the transatlantic world (A revolução cultural do século XIX: Teatro, comércio
de livros e leitura no mundo transatlân-tico), coletânea de artigos lançada em dezembro no Reino Unido pela editora I. B. Taurus e sem previsão de tradução para o português.
No período estudado, os impressos costumavam chegar ao Brasil em média 28 dias depois de lançados na Europa e encontravam um exército de tradutores a postos para atender, entre outras fina-lidades, à demanda crescente por sua publicação em forma de folhetim nos rodapés das páginas nobres dos jornais – fenômeno não muito distinto do que se vê hoje em relação às séries de televisão norte-americanas. Um aspecto também semelhante é que o sucesso dos itens es-trangeiros no promissor mercado abaixo do Equador estimulou a produção local. Editores franceses e de outras nacionali-dades europeias mudaram-se para Por-tugal e para o Brasil e se estabeleceram com sucesso.
De início, o mercado brasileiro foi dis-putado por franceses e portugueses. Os livreiros-editores instalados no Brasil não só importavam e vendiam livros pro-duzidos na Europa. Também publica-vam revistas e livros brasileiros impres-
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tografia, em suas últimas décadas. “O consumo cultural não poderia mais ser o tradicional, baseado apenas no que era difundido pelo púlpito das igrejas”, afirma Tania de Luca, professora do De-partamento de História da Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e responsá-vel, no projeto, por coordenar o estudo dos periódicos.
Segundo Márcia Abreu, o que permitiu aos pesquisadores avaliar de modo iné-dito a participação brasileira no circuito de troca de produtos culturais e ideias foi deixar de lado “a tradição centrada na ideia de nação”, como havia sido pro-posto em 2010, um ano antes do início dos trabalhos da pesquisa, durante um encontro na Universidade de Versalhes coordenado por Jean-Yves Mollier. O grupo que se agregou ao projeto é cons-tituído de 40 pesquisadores de 19 insti-tuições de pesquisa dos quatro países estudados. E o núcleo inicial, que inclui o historiador francês Roger Chartier, bastante conhecido no Brasil, voltou a se encontrar anualmente. “Naquele primei-ro encontro, alguns dos trabalhos apre-sentados mostraram que, já no século
Os impressos, entre eles os folhetins, chegavam ao Brasil em menos de um mês e já encontravam tradutores a postos
XIX, havia um desejo dos países inter-nacionalmente menos relevantes de se fazerem conhecidos na França. Quando nos afastamos dos limites dos territórios nacionais, começamos a perceber fatos e personagens que antes praticamente não tinham visibilidade.”
traduçãOEntre esses personagens distingue-se a importante figura do tradutor, profissio-nal muito requisitado em todos os países estudados e, na condição de mediador entre eles, quase um símbolo da globa-lização da cultura. Os tradutores eram profissionais polivalentes que se exerci-tavam em várias atividades intelectuais e se agrupavam na categoria genérica de “homens de letras”. “Mesmo na França, um país central, parte do que se lia era traduzida”, observa Márcia. Um repre-sentante emblemático dessa categoria profissional no Brasil foi o fluminen-se Salvador de Mendonça (1841-1913), tradutor contratado pela Casa Garnier, editora que lançou também seu romance mais conhecido, Marabá (1875). Ele era ainda poeta, dramaturgo, crítico, jorna-lista e, mais tarde, cônsul-geral do Brasil nos Estados Unidos.
O curioso é que um tradutor como Mendonça, quando exercia a função de crítico, condenava a ampla circulação das obras estrangeiras no Brasil. Era uma época de construção de literaturas na-cionais “como alicerce das nações que se formavam” e essa era a ambição dos homens de letras que, entretanto, tinham que atuar como tradutores como forma de complementar sua renda, observa Márcia. Até Machado de Assis (1839-1908), conhecido como o grande autor de romances do século XIX, atuou como crítico, cronista, dramaturgo e tradu-tor. O único autor brasileiro do período estudado que viveu exclusivamente de literatura, por algum tempo, foi Aluísio Azevedo (1857-1913), muito criticado por intelectuais que o consideravam submis-so ao gosto popular.
A pesquisadora ressalta que os traduto-res tinham “muita liberdade para mudar; não havia tanto respeito pelo original co-mo existe hoje”. Assim, surge, por exem-plo, a pergunta sobre quais “versões” dos romances do francês Émile Zola (1840-1902) eram lidas no Brasil, onde o autor gozava de muito prestígio de público. De modo semelhante, praticamente tudo o
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que se conhecia no Brasil de literatura inglesa e alemã no período era traduzi-do de outras traduções para o francês – o que acontecia também com os livros co-mercializados entre os países europeus.
“Em termos de gênero, a grande no-vidade da época foi o surgimento do folhetim, que se dá na mesma década de 1830 no Brasil e na França”, lembra Márcia. Era um momento de popula-rização da leitura e de surgimento de um público que procurava textos ágeis e tramas movimentadas. A maioria dos romances publicados em livros se ori-ginava de folhetins, embora nem todo folhetim se tornasse livro. A publicação nos jornais, que não era muito custosa para os editores, funcionava como um teste para a publicação em formato mais duradouro. “Uma história com boa acei-tação fazia até quadruplicar a circulação de um jornal.” Como cada romance, por limitações técnicas, saía repartido em três ou quatro volumes, a publicação em livro podia começar antes de o folhetim terminar nas páginas dos jornais.
indiGenisMOOutro episódio revelador das múltiplas direções do circuito de bens culturais do século XIX destacado por Márcia é a do poeta Tomás Antônio Gonzaga (1744-1810) e sua obra mais conhecida, Marília de Dirceu. Por sua participação na Inconfidência Mineira, Gonzaga se encontrava degredado em Moçambi-que quando, provavelmente sem que ele tomasse conhecimento, o livro foi publicado em Lisboa em 1792, encon-trando um enorme sucesso de público, o que gerou mais três edições até 1800. Foi essa repercussão na “metrópole” que, provavelmente, levou o livreiro franco-brasileiro Paulo Martin Filho, estabelecido no Rio de Janeiro, a ree-ditar a obra, o que ocorreu em 1810 e levou exemplares da edição brasileira a voltar a circular no mercado português. Em 1825, traduzido, o poema saiu em francês sob o título Marilie – Chants élégiaques de Gonzaga. Seguiram-se tra-duções em outras línguas, do italiano ao latim. “Uma das coisas interessantes dessa história é que ninguém sabe quem levou a obra para fora do Brasil, uma vez que Gonzaga estava isolado num país distan-te, de onde não voltaria mais”, diz Márcia.
Muito apreciada na Europa foi a lite-ratura indigenista e aquela que depois viria a ser chamada de regionalista, re-presentada por Inocência, do Visconde de Taunay (1843-1899), traduzido em várias línguas. “Dos romances urbanos de José de Alencar [1829-1877], como Se-nhora, ambientado na Corte, não houve traduções, provavelmente porque os eu-ropeus julgavam ser algo já bem conhe-cido”, diz Márcia. “Mas seus romances O guarani, Ubirajara e Iracema tornaram Alencar o nosso grande sucesso do sé-culo XIX no exterior.”
“Contrariando o senso comum de que o Brasil era um país culturalmente atra-sado e sem leitores, várias famílias de livreiros vieram do exterior e implanta-
ram seus negócios aqui”, conta a pes-quisadora. Desde o século XVIII a França já exportava editores para vários lugares do mundo. Na segun-da metade daquele século, 14 dos 17 livreiros de Lisboa eram franceses.
Contudo, até a mudança da família real portuguesa para o Brasil (1808), toda publicação no Brasil era clandestina. Em seguida, dependia-se da iniciativa ou da autorização da Imprensa Régia, ou, em
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Projetoa circulação transatlântica dos impressos – a circulação da cultura no século XIX (nº 2011/07342-9); Modalidade auxílio à Pesquisa – Projeto Temático; Pesquisadora responsável márcia azevedo de abreu; Investimento R$ 741.770,00.
alguns casos, da utilização da sua tipo-grafia em regime de aluguel. Entretan-to, no Segundo Reinado (1840-1889), as editoras chegaram a contar com a aju-da direta do imperador dom Pedro II. O primeiro francês a aportar no Brasil para fazer negócios de editor e livreiro foi Paulo Martin Filho, cujo pai, Paul Martin, exercia o ofício em Lisboa. Foi o mais expressivo livreiro no Rio de Ja-neiro do começo do século XIX e quase não veio: com medo da concorrência, a Junta Comercial portuguesa havia ten-tado barrar a emissão de seu passaporte.
ilustraçãOO mais importante editor-livreiro es-trangeiro no Brasil seria Baptiste Louis Garnier (1823-1893), cujos irmãos eram editores em Paris e que chegou ao Rio em 1844. “Ele foi o responsável pela forma-ção do cânone da literatura brasileira”, diz Lúcia Granja, professora de literatura e cultura brasileiras da Unesp, campus de São José do Rio Preto, responsável por coordenar os estudos da área de li-vreiros e editores do projeto de coope-ração internacional. “Garnier publicou os grandes autores brasileiros daquele momento, atendendo a uma aspiração importante dos intelectuais da época”, observa Lúcia. Foi o editor francês quem transformou autores brasileiros em es-critores remunerados, entre eles Macha-do de Assis. O livreiro publicava tam-bém o Jornal das Famílias, impresso na França, no qual intelectuais do Brasil im-precavam contra a presença estrangeira nas letras nacionais. “Ele fazia dinheiro com traduções do francês e publicava os brasileiros que lhe davam prestígio”, diz Lúcia. Garnier também editava livros di-dáticos, religiosos e especializados. “Sua produção seguia o padrão europeu, com duas edições simultâneas de cada livro, uma barata, outra luxuosa.”
Antes mesmo dessa intensa ativida-de de circulação de livros, as revistas e jornais já viviam um momento pujante e diversificado. “A imprensa do século XIX já nasceu internacionalizada, com títulos e modelos que se repetiam”, diz Tania de Luca. “A grande novidade do século seria a incorporação de imagens.” Novidade que se refletiria em publica-ções como a Revista Ilustrada, fundada no Rio pelo caricaturista ítalo-brasileiro Angelo Agostini, que circulou de 1876 a 1898. Era um periódico predominante-
mente de humor satírico e engajado: a linha editorial defendia a República e a abolição da escravidão, num período em que as duas campanhas se encontravam na ordem do dia.
Nessa época eram comuns as publi-cações que discutiam ideias políticas e filosóficas. “Muitas revistas e jornais se-lecionavam e traduziam textos de ou-tras publicações, e isso era feito em escala mundial”, conta Márcia. “Causas como a formação dos estados nacionais e a Re-pública eram temas de textos traduzidos, reimpressos e assimilados, formando uma grande comunidade em sintonia com as novidades da época, inclusive científi-cas.” O mesmo ocorria com as revistas dedicadas à moda e ao público feminino, que continham também jogos e charadas, além de notícias do mundo do espetácu-lo. Algumas revistas de moda publicavam moldes de vestidos criados na Europa e traziam no texto sugestões de adaptações para o clima quente dos trópicos.
Um filão nada desprezível para as editoras e tipografias era o relacionado ao teatro. “Na época, os textos de peças eram um gênero literário que circula-va na forma de livro”, diz Orna Messer
Levin, professora do IEL-Unicamp e responsável pela área de teatro do pro-jeto. Folhetos, cartazes, libretos e outros subprodutos dos espetáculos teatrais também davam dinheiro aos editores. “O teatro tinha uma importância enorme no século XIX para os países europeus, pois era um instrumento para a afirma-ção nacional. Italianos divulgavam textos em seu idioma, mas também peças fran-cesas, assim como portugueses traziam ao Brasil obras traduzidas do francês.”
turnÊs na aMéricaAs companhias teatrais trabalhavam em esquema empresarial e altamente profis-sionalizado. Agentes viajavam de ante-mão aos países de destino para verificar a adequação das salas de teatro aos espe-táculos que as companhias viriam a apre-sentar. Para sobreviver no verão, época em que na Europa não havia apresen-tações teatrais, os grupos faziam turnês que começavam no norte do Brasil, des-ciam pela costa, chegavam ao Uruguai e à Argentina e não raro davam a volta pelo sul do continente, chegando à cos-ta oeste da América do Sul e depois aos Estados Unidos. No Brasil, eram o pro-grama principal da elite da capital – as companhias chegaram a obter subsídios do Estado imperial até a década de 1860.
Uma crítica favorável ou uma tem-porada estendida no Rio repercutia em favor do espetáculo em outros países, mesmo os de origem da companhia. Divas dos palcos europeus, como a ita-liana Eleonora Duse e a francesa Sarah Bernhardt, vieram se apresentar no Bra-sil. Segundo Orna, muitos artistas, so-bretudo atrizes, casavam-se e ficavam no país. O teatro nativo se beneficiou desse ambiente movimentado. O século XIX foi a época de grandes atores, como João Caetano dos Santos, e de assimila-ções como as “burletas”, os espetáculos satírico-musicais de Artur de Azevedo (1855-1908), que eram uma “resposta” às operetas europeias, exemplo de uma espécie de antropofagia cultural em uma época anterior ao termo ser cunhado pelos modernistas de 1922. n
Um editor francês, Louis Garnier, foi o responsável por publicar os autores que formariam o cânone da literatura brasileira
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Um trabalho que analisou o de-sempenho entre 2008 e 2010 de 484.410 alunos no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), o popular Provão, encon-trou um discreto ganho de conhe-
cimentos gerais e um significativo aumento de conhecimento específico entre universitários que estavam se formando em 19 cursos das áreas de Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (Stem, na sigla em inglês), Humanidades e Ciên-cias Biológicas. Em todas as carreiras analisadas, a condição socioeconômica e o tipo de instituição frequentada, se pública ou privada, não tiveram impacto relevante na nota média dos estudantes, de acordo com o estudo, publicado no periódico científico Higher Education em 23 de novembro do ano passado. “A boa notícia é que, em relação ao desempenho dos calouros no Enade, a maior parte dos formandos parece ter adquirido algum
conhecimento, sobretudo o de caráter mais espe-cífico, diretamente ligado à carreira escolhida”, diz Jacques Wainer, professor do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Cam-pinas (IC-Unicamp), autor do estudo. “Mas isso não quer dizer que todos os cursos sejam bons ou que as notas dos alunos foram boas.”
Wainer fez o trabalho em parceria com Tatia-na Melguizo, da Escola de Educação Rossier da Universidade da Califórnia do Sul (USC), em Los Angeles, especialista em economia da educação superior. Eles usaram dados públicos, disponi-bilizados na página eletrônica do Enade, para confrontar a performance dos veteranos que es-tavam prestes a se formar com a dos calouros do mesmo curso, cujo desempenho no exame fun-ciona como baliza de comparação para se aferir quanto os formandos aprenderam na faculdade. A comparação foi feita por meio do cálculo de um índice, denominado Cohen D, comumente
Educação y
pESQUISA FApESp 240 z 83
Estudo aponta ganhos expressivos
de saber específico e discreta melhora
no conhecimento geral entre formandos
de 19 cursos acadêmicos
empregado em trabalhos desse tipo. O Cohen D indica a diferença padronizada entre a nota mé-dia do grupo dos formandos e a do conjunto dos calouros dividida pelo desvio-padrão associado a essas respectivas notas.
O desvio-padrão é uma medida de dispersão estatística e indica qual é o grau de variação exis-tente em relação a uma média ou a um valor espe-rado. Seu conceito se assemelha à ideia de mar-gem de erro, sempre evocada ao se noticiarem os resultados de pesquisas eleitorais. Se baixo, o desvio-padrão sinaliza que as notas estão pró-ximo da média. Quando elevado, sugere que os escores dos estudantes se distribuem por uma série de valores, alguns perto da média e outros distantes. Quanto maior a diferença padronizada calculada pelo Cohen D no trabalho de Wainer e Melguizo, melhor o desempenho dos veteranos frente aos ingressantes no curso. Um Cohen D equivalente a 2 significa que 98% dos veteranos
Aprendizadotécnicona frente
Marcos pivetta
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tiveram uma nota superior à média dos calouros. Se o índice cair para 1 ou 0,5, cerca de 84% ou 69% dos formandos atingiram, respectivamente, essa condição.
Por esse critério, o estudo chegou a números bastante modestos no que diz respeito aos co-nhecimentos gerais adquiridos pelos formandos ao longo dos cursos. Nesse quesito, o maior ga-nho foi de 0,3 entre os concluintes dos cursos de farmácia e o menor, de 0,03, praticamente zero, entre os estudantes do último ano de medicina. Na parte destinada a medir o conhecimento es-pecífico de cada carreira, o maior ganho ocorreu entre os formandos de medicina (Cohen D de 2) e o menor entre os universitários dos cursos de comunicação social (0,39). Os cinco cursos que obtiveram maior ganho de conhecimento específico foram da área biológica. Depois de medicina, vieram os programas de odontologia (1,55), terapia ocupacional (1,34), nutrição (1,12)
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e enfermagem (0,85). “Foi animador encontrar ganhos relativamente grandes nas provas de te-mas específicos em relação às de conhecimentos gerais”, afirma Melguizo (ver quadro na página 85 com os ganhos de conhecimento específico cal-culados para cada curso).
AcAdEMIcAMEntE à dErIvAUm estudo feito pelos sociólogos Richard Arum e Josipa Roksa, respectivamente, da Universida-de de Nova York e da Universidade da Virgínia, redundou no livro Academically adrift: Limited learning on college campuses (Academicamente à deriva: Aprendizado limitado nos campi uni-versitários, numa tradução livre), lançado no final de 2010. Na obra, a dupla de pesquisadores norte-americanos concluiu que 45% dos 2.300 estudantes de 24 universidades que tinham feito um teste padronizado não apresentaram melhora significativa em uma série de habilidades, como escrever, ter pensamento crítico e desenvolver raciocínios complexos, após terem frequentado um curso superior por dois anos. “Acho que os resultados desse trabalho são problemáticos e não é apropriado compará-lo com o nosso estu-do”, opina Melguizo. “Arum e Roksa tentaram medir os ganhos de conhecimentos gerais, não os específicos, entre os alunos.”
Criado pelo Ministério da Educação (MEC) em 2004 como parte do Sistema Nacional de Avalia-ção da Educação Superior (Sinaes), o Enade apli-ca o mesmo exame para os alunos ingressantes e os formandos dos cursos. Os universitários têm quatro horas para responder duas questões dis-sertativas e oito de múltipla escolha sobre conhe-cimentos gerais, iguais para todos os estudantes independentemente da carreira, e três questões
dissertativas e 27 de múltipla escolha de forma-ção específica (cada curso tem um teste indivi-dualizado). O peso do componente geral sobre a nota final é de 25% e o do específico, 75%. Cada curso ou programa é avaliado pelo Enade a cada três anos. Em 2008, fizeram o Provão os alunos da área de Stem. No ano seguinte, foi a vez dos de humanas e, em 2010, os da área biológica. O estudo de Wainer e Melguizo não abrange todos os cursos avaliados nesses três anos. Eles selecio-naram 19 carreiras: engenharia, física, química, matemática, ciência da computação, arquitetura, economia, direito, contabilidade, administração, comunicação, turismo, nutrição, enfermagem, medicina, terapia ocupacional, farmácia, odon-tologia e educação física. A dupla trabalhou com dados de estudantes de 10.041 cursos de univer-sidades públicas e privadas.
Para minimizar distorções inerentes às amos-tras de calouros e veteranos que fizeram o Ena-de, o estudo adotou alguns métodos estatísticos e procedimentos corretivos. Foram excluídos da análise, por exemplo, os alunos que entregaram em branco as provas, em uma clara demonstração de boicote ao exame, uma forma de protesto que costuma ocorrer entre os universitários de alguns programas de universidades públicas. Embora o Enade seja compulsório para os formandos, há pouco ou quase nenhum prejuízo prático para os estudantes que não fazem o exame ou compare-cem ao local da prova, mas a entregam em branco.
Os autores do trabalho também lançaram mão de um expediente para corrigir para baixo a nota média dos estudantes do último ano dos cursos. “Há uma tendência de os alunos mais fracos ou com algum tipo de problema abandonarem os cursos pela metade”, diz Wainer. “Assim, os que
alunos fazem o Enade: cursos
são avaliados a cada três anos
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pESQUISA FApESp 240 z 85
se formam são os melhores alunos de um grupo inicial que era mais heterogêneo. Essa situação tende a inflar as notas do grupo dos formandos.” Já entre os calouros há uma diversidade maior, uma mistura de estudantes bons, medianos e ruins, o que tem impacto em seu desempenho médio. Outros fatores fazem com que os resulta-dos do Enade sejam levados em conta com certa cautela, como admitem Wainer e Melguizo. Pro-vas fáceis sobre o conteúdo específico de cada programa tendem a produzir médias semelhan-tes entre os grupos de calouros e de formandos. Nivelam as notas pelo alto e tornam mais difícil aferir se houve ganho ou não de conhecimento entre os universitários no fim do curso.
prOMOvEr pEnSAMEntO crítIcOEspecialista em avaliação educacional e políticas educacionais, Robert Verhine, da Universidade Federal da Bahia (Ufba), afirma que o trabalho de Wainer e Melguizo é interessante, ainda mais no contexto em que os estudos com dados do Enade são escassos. “Mas os resultados são óbvios, es-perados. É normal que o ganho de conhecimento específico seja maior do que o de conhecimento geral”, afirma Verhine, ex-presidente da Comis-são Nacional de Avaliação da Educação Superior (Conaes). “Em geral, as pessoas fazem uma fa-culdade para ganhar conhecimentos específicos.”
Para Renato Pedrosa, coordenador do Labora-tório de Estudos de Educação Superior (Lees) da Unicamp, o avanço registrado no estudo também era esperado. “O problema é saber exatamente o que significam esses números de ganho de co-nhecimento relativo, algo impossível de estabe-lecer, uma vez que o MEC nunca desenvolveu a relação entre notas ou conceitos e níveis de co-nhecimento ou de habilidades desenvolvidas”, comenta Pedrosa, que tem estudado ao lado do físico Marcelo Knobel, também da Unicamp, o desempenho dos cursos de engenharia e medicina no Provão. “Sem isso, a avaliação resulta apenas numa ordenação dos cursos, sem critérios e cor-tes de proficiência ou de qualidade, o que limita o uso dos resultados para avaliação dos cursos.”
Ao registrar o desempenho dos universitários de um curso, o Enade atribui um conceito relativo, não absoluto, a esse programa. Sua escala esta-belece um ranking dos cursos com cinco níveis: os melhores recebem o conceito 5; os segundos melhores, ganham 4; e assim por diante até a atri-buição do menor conceito, 1. Assim, a despeito de exibir conceito 5, de estar no topo da escala, um curso pode ser o melhor em relação a todos os demais, mas pode não ser bom. Se os alunos da maioria dos programas foram muito mal no exame, a porcentagem de acertos no Provão ne-cessária para garantir o conceito 5 para um curso pode ser razoavelmente baixa, da ordem de 50%.
Segundo Knobel, os resultados do estudo de Wainer e Melguizo parecem consistentes e de-vem servir de estímulo para que novas pesqui-sas sejam feitas com dados do Enade e também do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele, no entanto, faz um alerta sobre o perfil do ensino superior no Brasil. “As universidades brasileiras ainda estão muito preocupadas em fornecer conteúdo técnico e específico em seus cursos, mas pouco em estimular habilidades que são fundamentais no século XXI.” Para ele, seria importante que as instituições de ensino tam-bém se dedicassem a promover habilidades mais gerais, como o pensamento crítico e o trabalho em equipe. “Essas questões são valorizadas nas universidades americanas e são uma tendência mundial”, diz Knobel. n
artigo científicomElguiZo, t. e WainEr, J. toward a set of measures of student learning outcomes in higher education: evidence from Brazil. Higher Education. 23 nov. 2015.
Quem aprende mais na faculdadeganho de conhecimento específico ao final de cada curso. Quanto maior o número, maior o aprendizado
Obs.: os números representam o índice cohen d, que indica a diferença padronizada entre a nota média do grupo dos formandos e a do conjunto dos calouros dividida pelo desvio-padrão associado a essas notas. um ín-dice d equivalente a 2, 1 ou 0,5 significa, respectivamente, que 98%, 84% ou 69% dos veteranos tiveram uma nota superior à média dos calouros
HUMAnAS
bIOlógIcAS
física
arquitetura
Engenharia
Química
matemática
ciência da computação
contabilidade
direito
Economia
administração
turismo
comunicação
medicina
odontologia
terapia ocupacional
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Enfermagem
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Educação física
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1,55
1,34
1,12
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0,58
fOnte JacQuES WainEr E tatiana mElguiZo
cIêncIAS E EngEnHArIAS
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Estudo reconstrói a importância
do movimento abolicionista
como força social que levou à
libertação dos escravos
A batalha da Abolição
HISTÓRIA y
A história da Abolição não se restringe apenas às iniciativas legais do governo imperial, nem à conjuntura econômica internacional, tampouco às rebeliões dos escravos. Foram essas as linhas
predominantes que guiaram as interpretações acadêmi-cas sobre o assunto até agora. Um robusto movimento abolicionista, com sua contrapartida escravista, também teve papel histórico central durante os 20 anos (1868-1888) que precederam a Lei Áurea. É dessa perspectiva pouco conhecida que se alimenta o livro Flores, votos e balas, pela editora Companhia das Letras. A autora é a socióloga Angela Alonso, professora do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planeja-mento (Cebrap). A pesquisa, que incluiu um ano na Uni-versidade Yale (EUA), durou seis anos.
“Por ser socióloga e adotar um ângulo interdisciplinar, prestei atenção na mobilização do espaço público, à qual os historiadores talvez não tenham dado a devida impor-tância”, diz Angela, também autora de Joaquim Nabuco (2007), biografia do político abolicionista pernambucano. “Percebi que, por sua estrutura e características, eu esta-
pESQUISA FApESp 240 z 87
va diante de um movimento social conforme descreve a teoria sociológica e muito semelhante estruturalmente aos que ocorreram na Inglaterra e nos Estados Unidos.” Não por acaso, um dos pontos que a pesquisadora enfa-tiza em seu estudo é a conexão de parte do movimento abolicionista brasileiro com ativistas da causa no exte-rior. “Raramente tivemos um estudo de abrangência tão grande sobre o assunto”, diz a professora Lígia Fonseca Ferreira, do Programa de Graduação e Pós-graduação em Letras da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), estudiosa do período e biógrafa do advogado, abolicio-nista e poeta negro Luiz Gama (1830-1882).
Um dos expoentes da vertente internacionalista da mi-litância contra a escravidão foi o educador Abílio Borges (1824-1891), que, apesar de pertencer à elite imperial, man-tinha laços estreitos com associações inglesas e francesas que lutavam contra a escravidão no além-mar. Borges, se-gundo Angela, “apostou no vexame externo” ao promover uma petição emancipacionista assinada por políticos fran-ceses e entregue ao imperador Pedro II por intermédio do Ministério de Assuntos Estrangeiros da França. “O docu-mento embaraçou dom Pedro”, narra Angela. “Arranhava a reputação do Império aparecer como terra escravista.”
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Missa campal em celebração à abolição dos escravos e ilustração que representa um abolicionista, escravos e o Parlamento
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o processo. É o que Angela chama de “escravismo de circunstância”: setores do Parlamento eram “compelidos pela conjuntura a justificar a situação escra-vista, sem defender a instituição em si, que, reconheciam, civilização e moral condenavam naquela altura do século”.
CENÁRIo MUNDIALHavia-se chegado a esse tenso estado de coisas mediante o processo sobre o qual Angela se debruçou, composto de duas dinâmicas, uma mundial, outra interna. “No âmbito externo, havia um ciclo de abolições pelo mundo e o Brasil se man-tinha escravista, chamando a atenção in-ternacional”, diz Angela. O processo tem o ponto de maior tensão em 1850, quando a Inglaterra impõe o tratado do fim do tráfico de escravos, embora o Brasil de-more a efetivá-lo. Contudo, até a década de 1860, o Brasil se encontrava mais ou menos protegido pelo fato de haver no mundo ocidental dois outros exemplos escravistas de grande porte, a Espanha, com suas colônias de Porto Rico e Cuba, e os Estados Unidos.
Mas, à medida que esses países avan-çam rumo ao fim da escravidão, o Brasil foi ficando isolado no cenário mundial. Isso provocou uma inevitável divisão da elite política. “Não se tratava mais de responder ou não à pressão interna-
pERSoNAGENSBorges, que até agora era mais conhe-cido por ter inspirado Raul Pompeia a criar o personagem do diretor da escola no romance O ateneu, é uma das figuras centrais de Flores, votos e balas, assim como o conhecido abolicionista André Rebouças (1838-1898), engenheiro ne-gro muito requisitado como projetista de obras modernizadoras e interlocu-tor dos círculos de poder. Do lado dos escravistas, Angela destaca a figura de Paulino Soares de Sousa (1834-1901), fio condutor das táticas e manobras da ala “emperrada” (isto é, inflexível) do Par-tido Conservador no Parlamento.
O governo (ou o Estado), lembra a socióloga, é o vértice necessário de um triângulo formado pelo movimento abo-licionista e seus contramovimentos na sociedade. “Sinal claro desse jogo é que o Estado ora trouxe o abolicionismo para dentro do Parlamento, ora o reprimiu”, diz Angela, referindo-se às sucessivas mudanças de orientação política durante o período estudado, em que se alterna-ram na chefia do governo, por exemplo, Manuel de Sousa Dantas, abolicionista do Partido Liberal (1884-5), e o Barão de Cotegipe (João Maurício Wanderley), es-cravista do Partido Conservador (1885-8).
A indecisão política mostra, segundo a pesquisadora, que não faz sentido a ideia, relativamente difundida, de que a abolição foi um processo consensual ou inelutável. A pesquisa indica que a ideia da emancipação dos escravos encerrava
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Parlamento durante a votação da lei
Áurea em 1888 e a multidão do lado de fora: texto reduzido
ao mínimo necessário
Confederação abolicionista em 1888, com José do Patrocínio (em pé, primeiro à esq.) e André Rebouças (sentado, primeiro à esq.)
ameaças consideráveis à ordem estabele-cida. “O Império era fundado na escravi-dão, não só na economia”, afirma Angela. “A hierarquia social era baseada na posse de bens que davam poder e prestígio, e os bens mais importantes eram os escra-vos. A escravidão sustentava também o sistema partidário, porque o eleitorado era definido com base na renda.”
O romancista José de Alencar (1829-1877), deputado conservador e um dos porta-vozes mais ativos do antiaboli-cionismo, diante do quadro que se avi-zinhava, advertiu em 1867: “Um sopro bastará para [...] lançar o Império sobre um vulcão”. Não se tratava, no entan-to, de defesa aberta do escravismo, mas de retórica do medo para tentar adiar
pESQUISA FApESp 240 z 89
As “conferências-concerto”, como cha-mavam os ativistas, espalharam-se pelo país. Em 1883, começaram a ser acompa-nhados por uma adaptação da estratégia norte-americana de organizar rotas de fuga de escravos para territórios livres. A diferença entre o Brasil e os EUA é que aqui não havia territórios oficialmente livres – foram criados pelos abolicionis-tas, em ruas ou bairros. Aos poucos, os ativistas vão liberando territórios, con-tando com a aceitação dos proprietários ou recorrendo a campanhas de arreca-dação para pagar a alforria dos escravos.
AtIvISMo jURíDICoA estratégia tornou-se campanha nacio-nal e deu certo principalmente no Ceará e no Amazonas, que tinham relativamen-te poucos escravos e contavam com pre-sidentes de província abolicionistas. No caso do Ceará, a movimentação gerou a abolição da escravidão dentro dos limi-tes da província em 1884 – que passou a ser um destino para escravos fugidos e libertos de todo o país. Também de ins-piração estrangeira foi a estratégia de Luiz Gama ao buscar inconsistências na lei para pedir a libertação de escravos nos tribunais. “Gama fazia parte de uma facção do abolicionismo que defendia o ativismo jurídico, divergindo de Nabuco, para quem a reforma deveria ser feita no Parlamento”, diz Lígia Fonseca. Angela argumenta que “não havia propriamente divergência entre eles, mas complemen-taridade de estratégias, cada um recor-rendo a um estilo de ativismo”.
A libertação dos escravos no Ceará abre a fase dos “votos”, quando a classe
cional, mas em que velocidade”, ressalta Angela. O processo culmina quando o Parlamento aprova a tramitação da Lei do Ventre Livre, em 1871, como “um si-nal de que o Brasil era civilizado”. Nesse momento, observa Angela, já havia uma mobilização articulada na sociedade. “Ressalto que o processo não começa em 1879, quando Nabuco e José do Pa-trocínio [1854-1905] partem para a atua-ção no espaço público, e sim na década anterior”, diz a pesquisadora.
Essa trajetória, que culminará na abo-lição, é dividida por Angela nas três fases enunciadas no título de seu livro: flores, votos e balas. As flores se referem ao sím-bolo das manifestações abolicionistas promovidas, entre outros, por Borges e Rebouças, que, além de suas atividades de articulação política, criavam asso-ciações e cerimônias públicas. “A abo-lição começou a ser propagandeada em espaços que não eram genuinamente políticos”, diz a socióloga. Em pouco tempo, os teatros passaram a dar abrigo a essas manifestações, intercaladas com números artísticos. Diferentemente do que ocorreu nos EUA, onde os polos de difusão das campanhas abolicionistas civis foram as igrejas quakers, no Brasil o catolicismo era não só credo predo-minante, mas também religião oficial do Estado. Isso favoreceu a conquista de almas para o abolicionismo entre a elite social e camadas intelectuais, que tinham no teatro sua maior diversão. Os princí-pios e atividades abolicionistas também se beneficiaram nessa época de avanços que permitiram a impressão e circulação de publicações independentes.
Projetos1. Circulação de ideias e estratégias de ação no movimen-to abolicionista (nº 2009/05921-1); Modalidade Bolsa no Exterior – Regular – Novas Fronteiras; Pesquisadora responsável Angela Maria Alonso (FFlCH-uSP/Cebrap); Investimento R$ 78.689,12.2. Abolicionismo como movimento social (nº 2012/ 08495-6); Modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular; Pesquisadora responsável Angela Maria Alonso (FFlCH--uSP/Cebrap); Investimento R$ 116.566,11.
livroAloNSo, A. Flores, votos e balas – O movimento aboli-cionista brasileiro (1868-88). São Paulo: Companhia das letras, 2015, 568 p.
política decide reagir. Com a indicação de Sousa Dantas para a chefia do gover-no imperial, em 1884, os abolicionistas colaboraram na redação do programa de governo e lançaram 51 candidatu-ras em apoio a ele. No entanto, os abo-licionistas perdem, “menos nas urnas do que na apuração”, segundo Angela. Com a queda de Dantas, sobe o governo escravista de Cotegipe e começa o pe-ríodo das “balas”, com repressão aberta e acirrada às atividades abolicionistas, posta em prática pela polícia ou por mi-lícias à paisana. “É nesse momento que o processo de desobediência civil ganha escala”, afirma a pesquisadora. José do Patrocínio diz que “os abolicionistas sinceros estão preparados para mor-rer”. Para o historiador Celso Castilho, professor da Universidade Vanderbilt (EUA), essa é uma evidência da impor-tância dos movimentos sociais no pro-cesso estudado. “As lutas pela partici-pação política e cívica têm as próprias histórias e precisam ser repensadas pela historiografia”, diz Castilho.
Em grande parte graças ao movi-mento social abolicionista, a causa ga-nhou adesão ou tolerância na socie-dade. “No final do processo, o aboli-cionismo contava com apoio tácito da população urbana, que se calava dian-te das fugas”, diz Angela. “A escravidão foi sendo comida por todos os lados.” O re sultado do processo foi, contudo, um empate. Os escravistas cederam, mas os abolicionistas não conseguiram implementar seu programa com ex-tensão de direitos aos libertos. Venceu o empenho do gabinete de João Alfre-do em fazer da Lei Áurea uma simples declaração de dois parágrafos, sem as indenizações aos proprietários, mas também sem garantias de vida digna aos ex-escravos. n Márcio Ferrari
memória
rodrigo de Oliveira andrade
Observatório Nacional restaura 61 placas
fotográficas do eclipse do Sol de 1919
em Sobral, que comprovou pressuposto
da teoria da relatividade geral
O dia 29 de maio de 1919 amanheceu nublado em Sobral,
no Ceará. Aos poucos, porém, as nuvens se dissiparam e um clarão entre elas se abriu. A movimentação de pessoas e equipamentos era intensa em torno do Jockey Clube da cidade, onde astrônomos vindos do Rio de Janeiro e de Londres se preparavam para observar e registrar um fenômeno que trocaria por alguns minutos o dia pela noite. Pouco antes das 9 horas da manhã, o disco da Lua começou a sobrepor-se ao do Sol, encobrindo-o por completo minutos depois. O eclipse total do Sol em Sobral entrou para a história da ciência por ajudar a comprovar experimentalmente um pressuposto científico previsto na teoria da relatividade geral, publicada quatro anos antes pelo físico alemão
O eclipse que confirmou einstein
Astrônomo Teófilo H. Lee (acima), membro da equipe brasileira em Sobral, faz observações espectroscópicas da coroa solar
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são cobertas por uma emulsão com sais de prata sensíveis à luz. Elas estavam em uma área de obras raras da biblioteca do ON e ainda não haviam sido melhor examinadas. A maioria está bem preservada e mostra com nitidez a imagem da Lua encobrindo o Sol e o telescópio refrator astrográfico — usado para observar o eclipse. O astrônomo Henrique Charles Morize, então diretor do Observatório Nacional, por meio de um artigo publicado dias antes em um jornal local, havia pedido às pessoas que acompanhassem o fenômeno em silêncio, sem soltar fogos de artifício, para não prejudicar a observação do eclipse e a qualidade das fotografias.
Morize coordenou os trabalhos da expedição inglesa e chefiou a equipe brasileira em Sobral. Um dos objetivos da missão era fazer observações
Albert Einstein (1879-1955): matéria e energia distorcem a malha do espaço-tempo, podendo também desviar a trajetória da luz que viaja por ele.
Para registrar o eclipse e verificar se o campo gravitacional do Sol entortava a luz das estrelas, os astrônomos das expedições brasileira e inglesa usaram placas fotográficas de vidro, agora
resgatadas e restauradas por pesquisadores do Observatório Nacional (ON), no Rio de Janeiro. Foram encontradas 900 delas em caixas guardadas na biblioteca, das quais 61 registram o fenômeno e os momentos que o antecederam na pacata cidade cearense. As placas, que medem 24 centímetros (cm) por 18 e 9 cm por 12,
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cientistas das expedições vindas do rio de Janeiro (em pé) e de Londres (sentados) para observar e registrar o eclipse total do Sol (acima) de 1919 em Sobral
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espectroscópicas da coroa solar. Durante o fenômeno, várias chapas fotográficas foram tiradas sucessivamente a partir de câmeras acopladas a telescópios, registrando a posição das estrelas próximas à borda do Sol. O eclipse durou exatamente 5 minutos e 13 segundos. “A análise das imagens registradas nas placas ajudou, mais tarde, a esclarecer melhor as leis físicas que regem o movimento dos corpos celestes”, diz o astrônomo Carlos Veiga, pesquisador da Coordenação de Astronomia e Astrofísica e chefe da Divisão de Atividades Educacionais do ON. Durante um mês, o astrônomo e outros bibliotecários trabalharam na recuperação das placas fotográficas de vidro, em que estão registradas as imagens do eclipse. Um trabalho lento, segundo ele, dada a fragilidade das placas — algumas têm as pontas quebradas.
“As placas agora estão em caixas especiais e embaladas em um papel próprio para esse tipo de material, evitando reações químicas que possam danificá-las”, explica. Veiga e sua equipe pretendem digitalizar o material e disponibilizá-lo para consulta no site do Observatório Nacional.
O eclipse de 1919 foi observado ao mesmo tempo na ilha de Príncipe, na África Ocidental, por outra equipe de astrônomos ingleses. O mau tempo, contudo, prejudicou a qualidade das imagens. Em algumas placas, as estrelas apareciam de forma mais
clara, em outras, sumiam em meio ao céu encoberto. Em Sobral, considerada uma das melhores regiões para a observação do fenômeno, o céu estava limpo durante o eclipse e as placas registraram 12 estrelas, usadas mais tarde como referência para medir o ângulo de desvio da trajetória de seus feixes de luz. Esse efeito, chamado deflexão da luz, havia sido previsto pela relatividade geral de Einstein: um feixe de luz vindo de uma estrela teria sua trajetória encurvada, ou desviada, ao passar em regiões com campo gravitacional muito forte. Esse desvio na
Astrônomo Henrique charles Morize, então diretor do Observatório Nacional e chefe da equipe brasileira em Sobral
Telescópio refrator
astrográfico usado para registrar a
imagem do eclipse total do
Sol sobre as placas
fotográficas
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trajetória da luz, segundo os astrônomos, faria com que as estrelas observadas fossem vistas em uma posição aparentemente diferente de sua posição real; sua luz, ao passar próximo ao Sol, seria desviada 1,75 segundo de arco, de acordo com a teoria de Einstein.
Os astrônomos em Sobral pretendiam medir um pequeno ângulo formado por essas duas posições. Era uma oportunidade única, uma vez que o eclipse permitiria, por alguns poucos minutos, fotografar as estrelas no fundo do céu mais próximas da borda do Sol, a uma distância de 150 anos-luz da Terra — cada ano-luz equivale a cerca de 9,5 trilhões de quilômetros. Uma das estrelas analisadas, a Hip 20712, era forte candidata para confirmar as previsões do físico alemão. A medição do ângulo de desvio da trajetória da luz não foi uma tarefa simples. As imagens de muitas estrelas estavam imersas no halo difuso causado pela luz do Sol ou encobertas pelo disco da Lua, ao mesmo tempo que a turbulência atmosférica prejudicava um pouco a qualidade das fotografias. A equipe inglesa
População no Jockey clube de Sobral momentos antes do início do eclipse
imagem do disco da Lua sobre o do Sol registrada por uma das placas fotográficas
Príncipe, concluíram que a teoria da relatividade geral estava correta. O resultado final das observações feitas na ilha de Príncipe apresentava um desvio médio de 1,6 segundo de arco, enquanto nas de Sobral tinham um desvio de 1,9 segundo de arco, quase duas vezes o valor estimado na teoria gravitacional do físico inglês Isaac Newton (1643-1727), elaborada e apresentada dois séculos e meio antes. Consideradas as margens de erro, Einstein estava certo. “Com isso, a teoria da gravitação universal de Newton passou a ser um caso particular da relatividade geral de Einstein”, explica Veiga.
“Podemos entender as chapas fotográficas produzidas em Sobral e na ilha de Príncipe como um momento fundamental na história da ciência no século XX, quando as ideias propostas na teoria da relatividade ainda eram encaradas com desconfiança”, diz o físico e historiador da ciência José Luiz Goldfarb, do Centro Simão Mathias da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “Desafiar as ideias da mecânica clássica, desenvolvidas a partir de Newton, enfrentava fortíssima oposição, uma vez que as proposições de Einstein e de outros cientistas faziam com que nossa compreensão do mundo fosse completamente redesenhada.” Para ele, preservar as placas fotográficas é manter viva a memória das transformações que se deram na ciência no início do século XX e que ainda influenciam a maneira como vemos o mundo atual. n
ficou em Sobral até julho daquele ano para fotografar o mesmo campo estelar à noite, sem a influência gravitacional do Sol. A ideia era comparar nas duas imagens as posições das estrelas mais próximas de sua borda.
A confirmação das ideias de Einstein veio meses depois. Astrônomos reunidos na Royal Astronomical Society, em Londres, no dia 6 de novembro de 1919, após avaliarem os resultados obtidos a partir da análise das placas fotográficas feitas em Sobral e na ilha de
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94 | fevereiro De 2016
Companhia Balagan
conjuga a prática
pedagógica e a pesquisa
multidisciplinar da
encenadora Maria ThaísAcima, cena do
espetáculo Recusa, premiada
síntese das orientações da
companhia
Cedo a encenadora Maria Thaís aprendeu a olhar o outro a partir das próprias diferen-ças e a questionar contextos deterministas.
Baiana da pequena Piritiba, na chapada Diamanti-na, a diretora, cujo nome completo é Maria Thaís Santos Lima, prefere se referir a si mesma como sertaneja. Quando já dedicada ao teatro, nos anos 1980, optou por não praticar um teatro de militân-cia política. Essa postura não arrefeceu durante sua estadia na Rússia, onde desenvolveu os elementos para a pesquisa de doutorado sobre o encenador Vsevolod Meierhold (1874-1940), sua referência e modelo. O aprendizado se tornou a razão de ser da Cia Teatro Balagan, fundada em 2000 por Ma-ria Thaís com o objetivo primordial de pesquisa, desdobrada em espetáculos e ação pedagógica.
As duas vertentes, artística e educacional, des-de então correm juntas. Nesse período, o núcleo de atores e colaboradores da Balagan (palavra que em russo significa teatro de feira) levou ao palco sete peças, entre elas a premiada Recusa (2012), espécie de síntese das orientações da companhia. A mais nova empreitada é Cabras – Cabeças que voam, cabeças que rolam, com temporada prevista para este mês e parte de março no Centro Cultu-ral São Paulo. Com a guerra como eixo central, a montagem renova os fundamentos esboçados
Orlando Margarido
Arte
Um teatro de muitas linguagens
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Tauromaquia (acima) e Cabras, o mais recente espetáculo: consolidação da perspectiva espacial que caracteriza a Balagan
na estreia, Sacromaquia (2000), e enfatizados a partir de Tauromaquia (2004).
Na Balagan, articulam-se narrativas em varia-ções de todos os elementos cênicos, como lingua-gem corporal, voz, música e cenário, e requer-se do público uma postura participativa. “Trata-se de discutir e entender por que nós temos tanta dificuldade em aceitar o outro, se afinal ele nos integra”, diz Maria Thaís, também professora do Departamento de Artes Cênicas da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP).
Exemplo maior desse questionamento, Recusa o representa a partir da cultura indígena, baseando--se em fato real ocorrido em 2008, quando foram descobertos dois índios da etnia Piripkura, julga-da extinta. Esse fato chegou ao conhecimento da companhia no momento em que a trajetória de Maria Thaís se transformava. Envolvida desde os anos 1970 com tarefas pedagógicas, ela sempre esteve próxima da vocação artística, fosse dança, canto ou mesmo cinema. “A prática me ensinaria que o teatro não deveria se constituir como arte pura, mas influenciada por outras linguagens”, diz.
Nos anos 1980, atuou como professora no Cen-tro de Artes de Laranjeiras (CAL), no Rio, e foi preparadora corporal em diversos espetáculos. Na época, a formação de atores era fortemente influenciada pelo italiano Eugenio Barba, com sua “antropologia teatral”, que coloca o ator em primeiro plano. “A mim interessava mais estudar as relações entre cena e atuação a partir de outras práticas artísticas, sem tentar encontrar unidade na universalidade”, afirma Maria Thaís. Em se-guida ela se estabeleceu em São Paulo, também para dar início a seu mestrado com o crítico e professor Sábato Magaldi na ECA-USP.
Nessa fase, a professora ainda relutava em di-rigir. Participou da concepção e coordenação da inovadora Escola Livre de Teatro, em Santo André (SP), onde conheceu o dramaturgo Luis
Alberto de Abreu, autor habitual dos trabalhos da Balagan, como o atual Cabras. No final dos anos 1990, Maria Thaís fez sua viagem a Moscou para uma bolsa de “doutorado sanduíche” com a qual realizou a pesquisa sobre Meierhold e, a convite do diretor russo Anatoli Vassiliev, uma residência artística no Teatro Escola de Arte Dra-mática de Moscou. A prática na Rússia alicerçou o nascimento da Balagan, formada por atores e outros artistas de diversas procedências, entre eles o músico Fernando Carvalhaes e o cenógrafo e figurinista Márcio Medina, que responde por todos os espetáculos da companhia desde então.
Da parceria entre diretora e cenógrafo, sur-giu uma perspectiva espacial que caracteriza os espetáculos da companhia, começando por Sa-cromaquia, primeira parte de uma trilogia sobre a clausura, cujos personagens são freiras. Tau-romaquia trata do cotidiano de vaqueiros. A Zá-pad (2007), seguiu-se um período de exaustiva pesquisa. Somente quatro anos depois, em 2011, surgiu um novo espetáculo. Prometheus – A tra-gédia do fogo era o vértice trágico de um estudo que prosseguiu com Recusa e termina com Cabras.
As múltiplas linguagens da Balagan exigem cola-borações especializadas e ligações com diferentes ciências, entre elas semiótica e antropologia. “Im-pressiona a imersão que os espetáculos da Balagan provocam”, diz Alexandre Mate, professor do Ins-tituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (IA-Unesp). “É um rigor conquistado com uma pesquisa singular que une os elementos de com-posição do teatro numa sinestesia.” Para Cassiano Sydow Quilici, professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), trata-se não só de pesquisar temas polêmicos, co-mo em Recusa, mas também de aproximar-se de um outro modo de sentir e pensar. nFO
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☞ novas mídias
A luta pela visibilidadedivulgar um artigo científico é tão importante quanto publicá-lo
cArreirAs
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Publicar em revistas de
acesso aberto como as do grupo PLoS
identificar quem menciona seu
trabalho e em quais plataformas. isso pode ser feito por meio de sistemas
como Google alerts
ser ativo nas redes sociais,
sobretudo no Twitter, a mais usada por acadêmicos em
todo o mundo
Usar repositórios de acesso aberto
como ResearchGate, por exemplo, para divulgar artigos,
conteúdos de palestras etc.
Envolver-se com públicos distintos por
meio de blogs, um site pessoal ou redes
específicas, como a mendeley
divulgar as produções para
públicos-chave, como jornalistas,
bibliotecários, pesquisadores de
outros departamentos e agências de
fomento
cAminhos dA difusão
96 | fevereiro De 2016
A possibilidade de aumentar a ressonância das produções científicas de modo a alcançar um público mais amplo tem feito com que muitos pesquisadores adotem as mídias sociais como ferramenta de divulgação de seus estudos. Não por acaso, a integração dessas plataformas à rotina do trabalho em laboratório é crescente, em parte porque elas permitem identificar o alcance e a influência dos artigos por meio da análise de menções em sites, redes sociais, número de downloads e de compartilhamentos no Twitter e Facebook. Hoje, 13% dos cientistas do mundo usam o Twitter como plataforma para a divulgação e discussão de estudos científicos, segundo um artigo publicado pela revista científica PLoS One (ver Pesquisa FAPESP nº 221).
“Diferentemente dos Estados Unidos, a maioria dos cientistas brasileiros ainda não entende por que deve divulgar seus trabalhos e, por isso, não se preocupa em atrair leitores para seus artigos, que acabam se perdendo em meio a milhares de outros publicados todos os dias”, diz o biólogo Átila Iamarino, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP) e um dos criadores da rede de blogs científicos ScienceBlogs Brasil. “Outros veem com desconfiança aqueles que usam ferramentas digitais para promover suas produções; contentam-se com a publicação em revistas especializadas, sem enviá-las a bibliotecas, jornalistas ou até mesmo a colegas de outros departamentos.” Ao notar essa dificuldade, o site de difusão de informações científicas SciDev.Net, da Inglaterra, publicou uma lista com conselhos para ajudar os pesquisadores a ampliar a visibilidade de seus artigos (ver recomendações ao lado).
Um dos critérios mais importantes de avaliação da produtividade acadêmica hoje é a quantidade de papers publicados. Quanto mais artigos o cientista produz — e quanto mais forem citados por outros pesquisadores —, melhor. Uma estratégia para aumentar o impacto das publicações científicas é publicá-las em revistas de acesso aberto,
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disposição para inovarainda no doutorado, biólogo marcos valadares abriu empresas de produção de células-tronco e testes genéticos
O desejo de ir além da carreira acadêmica tradicional e investir no desafio de transformar o conhecimento adquirido na universidade em um modelo viável de negócio foi o que motivou o biólogo mineiro Marcos Valadares, então com
27 anos, a criar a Pluricell Biotech, startup dedicada à produção e comercialização de células-tronco pluripotentes induzidas (iPS, na sigla em inglês), células maduras que podem ser reprogramadas para se tornarem outra vez capazes de gerar tecidos diferentes do organismo. A ideia nasceu, como ele próprio conta, de um convite de seu colega e futuro sócio, Diogo Biagi, também biólogo, que à época trabalhava no desenvolvimento de uma técnica capaz de transformar células adultas de qualquer tecido em células-tronco induzidas. Ainda durante o doutorado — sob orientação da geneticista Mayana Zatz, no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (IB-USP) —, Valadares uniu-se a Biagi e ao médico Alexandre Pereira para abrir a empresa. No início, a falta de visão comercial e administrativa atrapalhou o trabalho de prospecção e avaliação de possíveis clientes, além da elaboração de um plano de negócio.
Em 2013, a empresa conseguiu financiamento da FAPESP por meio do programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (Pipe). “Com o investimento, pudemos transformar nossa ideia em realidade rentável”, diz. “Isso foi importante já que aproximadamente 90% do material que usamos na produção desse tipo de célula, como os reagentes usados no processo de diferenciação celular,
é importado dos Estados Unidos e Europa.” A bolsa do Pipe também lhe permitiu ampliar sua visão de negócio durante o período que passou na Inglaterra, onde participou de um curso promovido pela Leaders in Innovation Fellowships Programme da Royal Academy of Engineering (RAEng) em Londres e Oxford.
A Pluricell Biotech está incubada no Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia (Cietec), em São Paulo. A startup atualmente produz células-tronco que se transformam em células cardíacas, que mais tarde podem ser usadas em testes in vitro de moléculas candidatas a fármacos, um mercado que começa a se estabelecer no Brasil, segundo Valadares. Também já foram produzidos alguns lotes para grupos de pesquisas do Laboratório Nacional de Biociências (LNBio), em Campinas, interior paulista, e da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Mais recentemente, a empresa começou a investir na produção de células-tronco da pele, em geral usadas no desenvolvimento de produtos pela indústria de cosméticos.
Em outra frente comercial, o biólogo criou uma nova empresa voltada ao desenvolvimento de testes genéticos. Um deles, por exemplo, serve para identificar anomalias em genes associados a doenças recessivas, como algumas distrofias musculares, em casais que pretendem ter filhos. “Importamos a tecnologia, fazemos os testes e os vendemos aos laboratórios e clínicas do país por um preço mais acessível”, explica Valadares. “Estamos trabalhando para desenvolver esses testes no Brasil e baratear ainda mais o custo.” n r. o. A.
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removendo as barreiras financeiras e tornando-as disponíveis para qualquer pessoa tão logo estejam disponíveis on-line. “Artigos publicados em revistas abertas costumam alcançar públicos diversos mais rapidamente que os publicados em revistas de acesso fechado”, diz Iamarino. “Na América Latina, 25% dos downloads de artigos em revistas de acesso aberto são de fora das universidades”, ressalta.
Ele sugere que os pesquisadores aumentem o impacto e a abrangência de suas produções colocando-as em portais de acesso aberto, como o ResearchGate e o Academia.edu. “Tão importante quanto facilitar o acesso às produções científicas é identificar o tipo de público que se interessa por elas, os lugares onde os artigos são compartilhados, discutidos e citados”, diz Iamarino.
Manter-se ativo na internet por meio de redes sociais, blogs ou plataformas como a Mendeley pode ajudar os pesquisadores a ampliar a rede de contatos dentro e fora da academia, segundo o biólogo brasileiro Alysson Muotri, na Faculdade de Medicina da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos. “As redes sociais têm papel muito forte na divulgação científica porque permitem uma maior interação com públicos diversos”, diz. Em sua coluna Espiral no portal G1, ele divulga os trabalhos dele e de outros pesquisadores. “Costumo enviar meus artigos científicos para alguns cientistas e associações da mesma área e para as agências financiadoras.” Falar do próprio estudo, porém, exige muito cuidado. A divulgação deve ser feita de modo criterioso, a partir de trabalhos mais abrangentes e com conclusões bem definidas, sugere Muotri. nrodrigo de oliveira Andrade
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no Rio Grande do Sul, o Staurikosaurus pricei viveu igualmente cerca de 230 milhões de anos atrás. Seus restos petrificados estão hoje em um museu da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Apenas na vizinha Argentina, dona de ricas reservas fossilíferas nos desertos da Pata-gônia, afirma Anelli, há registros de restos de dinossauros ligeiramente mais antigos do que os achados no Brasil, aproximadamente 1 mi-lhão de anos mais velhos.
Como indica seu próprio título, a obra não se restringe a passar em revista os dinossau-ros que ocorreram em terras nacionais. Há também “outros monstros”. “São chamados de monstros não porque foram abomináveis, seres detestáveis que desejaríamos jamais te-rem existido. Ao contrário. Foram monstros pela dimensão dos desafios que enfrentaram e pelas conquistas que tiveram”, justifica-se o paleontólogo da USP logo em suas primeiras linhas. Entre esses seres do passado remoto, nem todos contemporâneos dos dinossauros, Anelli destaca exemplares da chamada me-gafauna (preguiças e tatus gigantes, tigres--dentes-de-sabre), lagartos e crocodilos, pte-rossauros, aves diversas, anfíbios, mamíferos e até insetos. Feitas pelo artista Julio Lacerda, belas ilustrações de como podem ter sido esses animais, e dos ambientes em que eles viveram, aparecem na parte final do livro.
Mais do que fazer um simples inventário de representantes de uma fauna extinta que um dia cruzou nossas latitudes, Dinossossauros e outros monstros procura fornecer ao leitor o contexto geoclimático em que esses bichos viveram e morreram e explicar, à luz dos conhecimentos hoje disponíveis, por que alguns triunfaram em um certo período enquanto outros pereceram. O texto coloquial de Anelli é enriquecido por recursos gráficos explicativos. Há um conjunto de árvores genealógicas, que mostram as cone-xões das diferentes formas de vida de outrora, e mapas e tabelas explicativos sobre as eras geológicas do planeta, a movimentação dos continentes do globo, as bacias sedimentares do Brasil, entre outras questões. Ao menos no papel, a viagem ao mundo dos primeiros mons-tros brasileiros não parece assustar tanto.
N ão se deve procurar por informações detalhadas sobre a alimentação dos carnívoros tiranossauros, a destreza
dos velociraptors ou os chifres dos triceráto-pos em Dinossauros e outros monstros –Uma viagem à pré-história do Brasil. O motivo é sim-ples, como descobrirá o leitor do livro do pa-leontólogo Luiz Eduardo Anelli, professor do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (IGc-USP): esses dinossauros estão fora do foco central da obra. Famosa por suas aparições em filmes do cinema norte-ameri-cano, essa troica de antigos répteis não viveu em terras hoje brasileiras. Ou, se por aqui pe-rambulou, não se encontraram (ainda) vestígios de nenhum deles. Tiranossauros, velocirap -tors e tricerátopos habitaram antigas porções continentais atualmente situadas no hemis fé-rio Norte durante os estertores do Cretáceo, período geológico compreendido entre 145 e 66 milhões de anos atrás. Esta última data, há 66 milhões de anos, marca justamente a extinção das linhagens não voadoras dos di-nossauros, provavelmente pela queda de um asteroide no México que alterou drasticamente o clima no planeta (as atuais aves são conside-radas exemplares vivos dos dinossauros pelos paleontólogos).
No livro, as estrelas são espécimes de uma fauna antiga e extinta pouco conhecida do gran-de público, mas de grande importância para o entendimento do surgimento desses fascinantes animais que no século XIX foram batizados de dinossauros, termo de origem grega que signi-fica, literalmente, lagartos terríveis. “Dentre os dinossauros que viveram em nossas terras, alguns estão entre os primeiros do mundo, e cá entre nós, ser o primeiro, o número um, quase sempre é coisa boa. Por isso, quando os estuda-mos, conhecemos a pré-história dos próprios dinossauros”, escreve Anelli, autor de vários livros sobre os dinossauros do Brasil. Esse é o caso do Pampadromaeus barberenai, um bí-pede onívoro de 15 quilos, 50 centímetros de altura e 1,20 metro de comprimento que viveu há 230 milhões de anos, cujo fóssil foi encon-trado no Pampa gaúcho. Primeiro vestígio de dinossauro achado no Brasil, em 1936, também
Dinossauros brasileiros e seus conterrâneos
reseNha
Marcos Pivetta
Dinossauros e outros monstros – Uma viagem à pré-história do BrasilLuis Eduardo AnelliEditora Peirópolis / Edusp248 páginas | R$ 65,00
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As solicitações de financiamento devem apresentar projetos de pesquisa, que podem ser desenvolvidos em duas etapas:
• Fase 1: pesquisa para demonstrar a viabilidade tecnológica de um produto ou processo, com duração máxima de nove meses e recursos de até R$ 200 mil.
• Fase 2: pesquisa para desenvolver o produto ou processo inovador, com duração máxima de 24 meses e recursos de até R$ 1 milhão.
Se os proponentes já tiverem realizado atividades tecnológicas que demonstrem a viabilidade do projeto, podem submeter propostas diretamente à Fase 2.
Condições para participação
• Podem apresentar solicitações de financiamento pesquisadores vinculados a empresas de pequeno porte (com até 250 empregados) com unidade de P&D no Estado de São Paulo;
• Empresas ainda não constituídas formalmente podem apresentar propostas na condição de “empresa a constituir”, devendo essa for- malização ocorrer após a aprovação da proposta e antes da cele-bração do Termo de Outorga;
• O pesquisador proponente deverá demonstrar conhecimento e competência técnica no tema do projeto, mas não é exigido nenhum título formal (seja de graduação ou pós-graduação);
• A empresa deverá comprometer-se a oferecer condições ade-quadas para o desenvolvimento do projeto de pesquisa durante o período de sua execução e envidar os melhores esforços para a comercialização bem sucedida dos resultados.
As normas para submissão de propostas estão disponíveis em www.fapesp.br/pipe.
As solicitacões de financiamento serão recebidas exclusivamente por meio eletrônico, no sítio www.fapesp.br/sage.
A FAPESP divulgará o resultado enviando a cada proponente os pareceres técnicos dos avaliadores. Em caso de não aprovação, o proponente poderá aperfeiçoar a proposta, corrigindo as falhas apontadas, e submeter nova solicitação em edital subsequente.
A FAPESP reservou até R$ 15 milhões às propostas consideradas meritórias nesta chamada.
Data limite para apresentação de propostas no SAGe
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Previsão de divulgação do resultado da chamada
31 de agosto de 2016
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INSCRIÇÕESwww.fapesp.br/eventos/dialogo-2-2016
FAPESP oferece recursos para Pesquisa em Pequenas Empresas em São Paulo
Chamada de Propostas para o Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE)
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Empresa”, reunião organizada pela FAPESP, o CIESP e a Anpei
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