Os Dez Anõezinhos da Tia Verde Água
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2011
Inovinter
Curso Técnicas de Acção
Educativa
21-03-2011
Os Dez Anõezinhos da
Tia Verde-Água
2011
Inovinter
Curso Técnicas de Acção
Educativa
21-03-2011
Os Dez Anõezinhos da
Tia Verde-Água
Os Dez Anõezinhos da Tia Verde-
Água
Personagens:
António Maneca (marido)
Josefa Teixeira (esposa)
Teresa Rebolho (comadre)
Palmira Russo (vizinha)
Serafim Carteiro (carteiro)
Tia Verde-Água (conselheira)
I Acto
Cenário
(uma casa na aldeia, mas desarrumada)
Cena I
Josefa Teixeira e Teresa Rebolho
Josefa Teixeira (entra em casa com a comadre
que encontra)
- Pois é, comadre Teresa, há que tempos que não te
via!!!
Ficamos comadres desde que foi baptizado meu
Joãozinho…
Teresa Rebolho (encolhendo os ombros)
- Pois é verdade, Josefa… Como sabes, fui para
Lisboa servir. Não tardou, casei com o meu
Belmiro e por lá temos vivido…
Ainda cá vim uma vez, mas tu estavas para a casa
da tua mãe…
Josefa Teixeira (convidativa)
- É verdade, é verdade, fui lá almoçar…
Josefa Teixeira (descontraída)
- Vamos beber um chá e comer uns bolinhos.
Olha, não repares… (olhando para a mesa)
Ainda está aqui a louça do jantar de ontem.
Teresa Rebolho (aborrecida)
- Isto mete-me impressão (vira a cara para o lado)
Confesso que não é bem…
Agora o chá é saboroso, é mesmo! (bebem de novo
e deita a mão a cabeça e deita uma olhadela à
desarrumação)
Josefa Teixeira (descontraída)
- Olha, deixa lá isso…, e não repares por ainda não
ter feito a cama…
Fui à rua, demorei com esta e com aquela…
Teresa Rebolho (admirada)
- Nem digas isso… Então tu tens coragem de saíres
de casa sem deixares a cama feita?!...
Ai!!! Se fosse com o meu Belmiro… Estava
perdida…
A cama é das primeiras coisas que faço… Deixo-a
arejar um pouco e depois, zás, mãos à obra, fica
feita. Foi o que me ensinou a minha mãezinha.
Josefa Teixeira (comprometida)
- O meu Tónio também está sempre a ralhar-me.
Diz que não tenho cuidado no amanho da casa…
que sou desmazelada, preguiçosa, que não tenho as
camas feitas, a loiça lavada, o pó limpo, o almoço a
horas, que…que.
Teresa Rebolho (insistente)
- Olha, não te zangues comigo, acho que devias
arrumar mais a casa.
Josefa Teixeira (despreocupada)
- Olha, sabes? Os homens são uns exagerados… Há
dias, vê lá o disparate…
O meu Tónio chamou-me Josefa, come e dorme…
São coisas que se digam a uma mulher
trabalhadeira como eu?!...
Teresa Rebolho (preocupada)
- Olha Josefa, isso são coisas da vossa conta… lá
dizia a minha mãe: entre homem e mulher não
metas a colher…
Mas, tem cuidado: tantas vezes o cântaro vai à
fonte que um dia lá fica a asa… E sempre tenho
ouvido dizer que o teu António é trabalhador e
honrado.
E agora tenho que ir… (faz o gesto de se levantar
para sair)
Josefa Teixeira (despreocupada)
- Deixa-te ficar mais um pouco… (pondo a mão
no ombro para a reter mais um pouco, mas ela
levanta-se rápido)
Teresa Rebolho (decidida)
- Não, não, Josefa… Já estou como se costuma
dizer: primeiro as obrigações e só depois as
devoções… Quem não trabuca não manduca…
Josefa Teixeira (espreguiçando-se)
- Maldito seja quem inventou o trabalho… Mas, se
estás com pressa, então adeus…
Cena II
Josefa Teixeira e Serafim Carteiro
Josefa Teixeira (volta para dentro, senta-se numa
cadeira, espreguiça-se, deixa tudo desordenado)
- Viva o descanso!... Viva o descanso!...
(monologa, e adormece a ressonar)
Serafim Carteiro (de sacola a tiracolo, bate á
porta e chama)
-Tia Josefa, é o carteiro, tem uma carta registada…
Josefa Teixeira (acorda estremunhada e cai da
cadeira, mas levanta-se rapidamente e,
esfregando os olhos, vai abrir a porta)
-Bom dia, senhor Serafim, até fiquei assustada…
desculpe lá, andava nas minhas lides de casa e
tropecei…
Serafim Carteiro (incrédulo)
-É preciso, é preciso trabalhar…Quem não trabalha
nem comer devia…, lá dizia a minha mãezinha... A
preguiça é a mãe de todos os vícios…
Josefa Teixeira (zangada)
-Agora esta… o senhor Serafim tem cada uma:
quem não trabalha não devia comer… Não
concordo… mas não concorda mesmo… O meu pai
até dizia que só trabalha quem não sabe fazer mais
nada…
Serafim Carteiro (discordando)
- Olhe, olhe, mesmo trabalhando muito, a vida é
difícil, quanto mais cruzando os braços…
Ainda tenho que dar muito à sola… (abrindo a
sacola)
Tem aqui uma carta registada…(tira envelope e
um recibo, pede para assinar e prepara-se para
sair)
Cena III
Josefa Teixeira e António Maneca
(a mulher está sentada a um canto da casa a
dormitar)
António Maneca (apressado e com aparência de
cansado, abre a porta e chama)
- Josefa, ó Josefa, são horas de almoço… Tenho de
almoçar depressa… Vou à cidade, com o patrão,
buscar material…
(não obtendo chama mais alto) Josefa? (ouve
barulho no canto da sala)
Josefa Teixeira (atrapalhada)
- Ó António, ó marido, tem paciência, eu vou já…
não parei toda a manhã…
António Maneca (olhando para a mesa com chá e
com loiça, a cama por fazer, a lareira apagada e
suja, grita com ar desmazelado)
- Ó mulher, ó Josefa, eu não suporto mais… ando
nisto há anos… Não fazes nada a tempo e horas.
António Maneca (de mãos levantadas, continua
a gritar)
- Não pode ser… Farto-me de trabalhar e tu sempre
atrasada.
Tenho que ir sem almoço, mas, num dia destes
vou-me embora. (sai furioso)
Cena IV
Josefa Teixeira e Palmira Russo
Palmira Russo (batendo à porta aflita)
- Josefa, ó Josefa, o que é que se passa?...
Ouvi-te gritar, O que é, o que é?...
Abre a porta…
Josefa Teixeira (abre a porta a chorar)
-Foi o meu António que se zangou comigo.
Arreliou-se por não ter a casa arrumada e o comer
feito.
Estou desgraçada!...
Palmira Russo (com ar de sabichona)
- Olha, rapariga, se eu estivesse no teu lugar, ia à
Tia Verde-Água, pedir conselhos…
Pode ser que resolva o teu problema… (insistindo)
Vai, vai lá filha…
Em coisas de homens, recorrer a fadas ou anões
costumam dar certo… (prepara-se para sair)
Josefa Teixeira (anima-se)
- Obrigada, muito obrigada pelo seu conselho, vou
lá já…
(acaba o acto e cai pano)
II Acto
Cenário
(Uma casa humilde, mas muito limpa e asseada
onde habita uma velhinha que anda encostada a
um pau)
Cena Única
Josefa Teixeira e Tia Verde-Água
Josefa Teixeira (com ar de pessoa desorientada,
bate à porta de Tia Verde-Água)
- Tia Verde-Água, se vossemecê não me vale nesta
ocasião, sou a mulher mais desgraçada do mundo!
Tia Verde-Água (encosta o pau, mas com
compreensão)
- Diga o que a apoquenta, vizinha, que eu farei o
possível para a ajudar.
Josefa Teixeira (muito admirada com a
organização da velhinha, mas chorosa e com os
braços abertos)
- Ah tia Verde-Água, se eu tivesse a minha casa
limpa como a sua, já o meu marido não estaria tão
zangado e eu não seria tão infeliz, como sou!
Eu não posso fazer tudo ao mesmo tempo, porque
só tenho duas mãos.
Tia Verde-Água (atenciosa)
- É verdade, é… Todos nós só temos duas mãos e
chegam muito bem, mas em que te posso ajudar?...
Josefa Teixeira (suplicante e sentada numa
cadeira a chorar)
- É para dar uma solução a esta desgraça, pois toda
a gente diz que vossemecê tem fadas que a ajudam
no trabalho e é por isso que tem tudo em sua casa
com tanta ordem.
Tia Verde-Água (com convicção)
- Pois tenho, sim, filha… Há muito tempo que
devia ter vindo procurar-me, que logo lhe dava
solução e lhe prestava auxílio.
Mas não são as fadas que me ajudam, essas têm
mais do que fazer… São dez anõezinhos muito
desembaraçados e arranjadinhos que me deu a
minha fada madrinha…
Josefa Teixeira (erguendo a cabeça e espantada
com a informação)
- Ai é!... Ai é!... Diga, diga lá então…
Tia Verde-Água (continuando)
- Agora, para a ajudar, vou mandá-los para sua
casa, mas para que a possam ajudar mesmo,
mesmo, é necessário que faça o seguinte: logo pela
manhã cedo, levante-se, arranje-se com esmero,
faça a cama.
Josefa Teixeira (receptiva)
- Vou, vou fazer isso… sim, sim senhora…
Tia Verde-Água (continuando)
- Depois vá à cozinha acender o lume para almoço,
encha os cântaros de água, varra a casa, cosa a
roupa e, enquanto vai cozinhando o jantar, vá
fiando e dobando as suas meadas até o seu marido
vir comer…
Se assim fizer, garanto-lhe que os dez anõezinhos
não a largarão e trabalharão para ajudar…
Josefa Teixeira (agradecendo, sai dizendo muito
animada)
- Bem haja! Vou fazer assim, vou, vou… (despede-
se e vai para sua casa)
(acaba o acto e cai o pano)
III Acto
Cenário
(a mesma casa de aldeia do 1.º acto, mas agora
cm tudo arrumado)
Cena I
Josefa Teixeira, Teresa Rebolho, Palmira Russo
Josefa Teixeira (a arrumar a casa)
- Até que nem custa muito… Ai que bom!: os dez
anõezinhos…(monologando)
Palmira Russo (a passar junto da porta da casa
de Josefa)
- Olá, Teresa, então por cá?! Não me digas que vais
para casa da tua comadre Josefa?!
Teresa Rebolho (sem receios)
- Olha que acertaste mesmo… Tens cá um olho!...
Pois é verdade… estive aqui à dias e, como amanhã
volto a Lisboa, venho-me despedir dela e do
António…
Palmira Russo (decidida)
- Então vou entrar contigo… Mas ouve lá: as coisas
por lá vão de mal a pior… Ela é muito
desmazelada… E o teu compadre, há dias, saiu de
casa a dizer: não aguento isto… vou-me separar…
Teresa Rebolho (condoída)
- Nem digas tal! Isso é mau!... Precisa de ajuda…
Palmira Russo (com ar de bisbilhoteira)
- Mas isso é verdade, verdadinha… Ela gritava:
acudam, acudam… Até lá fui para lhe acudir…
Teresa Rebolho (desapontada)
- O António disse isso?! Até parece impossível…
Palmira Russo (com ar de alcoviteira)
- Tal coisa vi que até lhe aconselhei ir consultar a
Tia Verde-Água.
Josefa Teixeira (com ar de atarefada, vai abrir a
porta com um pano de pó na mão)
- Ó que surpresa agradável, entrem, entrem… O
António também deve estar a chegar… As coisas
estão a correr bem… A Tia Verde-Água foi para
mim uma santa…
Palmira Russo (curiosa)
- Diz, diz lá: como foi?...
Josefa Teixeira (reconfortada)
- Emprestou-me uns ajudantes, que nem vos digo
mais nada, é segredo… Ando mesmo satisfeita…
Como podem ver, agora a minha casa está limpa e
asseada…(levantam-se e vão verificar)
Teresa Rebolho (satisfeita)
- Olha que bom, estou mesmo feliz por saber
disso… Agora o que te digo é que a tua casa está
mesmo um primor… Nem parece a mesma.
Palmira Russo (virando-se para elas,
desconcentrada com aquilo)
-Nem quero acreditar!... depois do que ouvi do
António e do que vi aqui em casa… Isto deu uma
volta completa!... (continua admirada)… Aqui há
dedo da Tia Verde-Água.
Josefa Teixeira (confiante)
-Ufa! Até que enfim a minha vida mudou nesta
semana… O meu António agora anda feliz…
Palmira Russo (invejosa)
-Nunca esperei que isso viesse a acontecer…
(passa a mão pela cabeça)
Josefa Teixeira (satisfeita)
-Pois é o que vos digo… De manhã, o meu António
tem a roupa preparada; ao meio-dia, em ponto, o
almoço está na mesa; à noite, encontra tudo
arrumado e a ceia feitinha… Anda um amor
comigo (levanta-se e vai ver a lareira)
Teresa Rebolho (contente)
-Olha, comadre, estou mesmo contente com isso…
Nós fomos sempre amigas…
Cena III
(As mulheres e o António Maneca)
António Maneca (entrando satisfeito)
-Boa noite, Josefa (beija a mulher, depois olha
em volta para ver como está a casa e, deparando
com as visitas, exclama)
Ó que surpresa! Por aqui minha comadre Teresa!...
dá cá um abração… Olá, Palmira, tu também por
aqui… Anda cá Josefa ao pé de mim… Vamos
todos festejar… pois a felicidade voltou a nossa
casa.
(acaba o acto e cai o pano)
IV Acto
(o mesmo cenário do acto II)
Cena única
(Josefa Teixeira e Tia Verde-Água)
Tia Verde-Água (a limpar a casa com ar
cansado)
Josefa Teixeira (satisfeita, bate à porta da Tia
Verde-Água e a velhinha, e a velhinha apoiada
numa vassourinha, vem abrir)
-Ó Tia Verde-Água, devido a si, tudo melhorou em
minha casa… Venho até pedir-lhe para me
continuar a emprestar os seus dez anõezinhos…
Tia Verde-Água (com serenidade)
-Mas então diga-me lá como foi isso?...
Josefa Teixeira (animada)
-Olhe, todos os dias faço tudo como a senhora
mandou… E sem me aborrecer…
Tia Verde-Água (insistente)
-Com que então os anõezinhos têm lhe feito bom
serviço?
Josefa Teixeira (entusiasmada)
-Tão bom, que já trago a minha casa num brinco, e
o meu marido sempre satisfeito.
Tia Verde-Água (compreensiva)
-Pois se a vizinha lá quer os dez anõezinhos deixe-
os estar consigo e trate-os bem. Mas, olhe cá, com
franqueza, ainda os não viu?
Josefa Teixeira (admirada e ingénua)
- Eu, não senhora! E gostava muito de os ver e de
lhes agradecer… Hão-de ser tão espertinhos e
engraçadinhos…
Tia Verde-Água (decidida)
- Pois então, se os quer ver, olhe para as suas mãos
e conte os seus dez dedos…
Josefa Teixeira (engraçada, conta os dedos,
monologando)
- Um… Dez… (acaba e olha para a tia)
São estes os dez anõezinhos da tia Verde
Água???!!!!!!
Tia Verde-Água (concluindo)
- Pois são esses os dez anõezinhos da tiaVerde-
Água…
Vitória, vitória que se acabou a
estória…