OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · gerados pelos jogos, transformam grades...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ

JOGOS EDUCATIVOS COOPERATIVOS NA SOCIALIZAÇÃO DE

ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

MARINGÁ

2014

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CELIA REGINA CALVO

JOGOS EDUCATIVOS COOPERATIVOS NA SOCIALIZAÇÃO DE

ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Artigo Científico apresentado ao Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE) da Secretaria de Estado da Educação do

Paraná, em convênio com a Universidade Estadual de Maringá,

sob a orientação da Professora Dra. Roseli Terezinha Selicani

Teixeira.

MARINGÁ

2014

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JOGOS EDUCATIVOS COOPERATIVOS NA SOCIALIZAÇÃO DE

ALUNOS DA EDUCAÇÃO BÁSICA

Celia Regina Calvo1

Roseli Terezinha Selicani Teixeira2

RESUMO

Este estudo teve por intuito fazer uso dos jogos cooperativos como ferramenta lúdica motivacional para melhoria do comportamento de alunos matriculados na 6º e 7º anos do Ensino Fundamental da rede pública do Estado do Paraná. Assim como, buscou o desenvolvimento de um pensar mais crítico por meio de jogos com objetivo de fortalecer valores e atitudes e oferecer às crianças uma forma de desenvolver suas potencialidades, além de resgatar a noção e a importância do lúdico na infância. Por meio de um estudo de caso, foi realizado um diagnóstico do perfil comportamental dos alunos e executadas ações de intervenção com base em jogos cooperativos. Por meio, da análise dos resultados foi possível verificar uma melhora significativa no comportamento dos alunos em relação à cooperação, a socialização, ao cumprimento de regras e o respeito às diferenças.

Palavras-chave: Ensino Fundamental, Jogos Cooperativos, Mudança de Comportamento.

ABSTRACT

This study was aimed to make use of cooperative games as a motivational tool to improve the playful behavior of students enrolled in 6th and 7th grades of elementary school of public Paraná State. Like, sought to develop a more critical thinking through games in order to strengthen values and attitudes and provide children with a way to develop their potential, besides rescuing the concept and the importance of playful childhood. Through a case study, a diagnosis of the behavioral profile of the students and the actions taken to intervene was based on cooperative games. Through the analysis of the results we observed a significant improvement in pupils' behavior in relation to cooperation, socialization, compliance with rules and respect for differences. Key-Words: Basic Education, Cooperative Games, Behaviour Change.

1Professora do Curso Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) da Secretaria de Educação do Estado do Paraná.

2Orientadora do Curso Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e Professora na Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Doutora em Ciências da Educação pela Universidade Técnica de Lisboa/Faculdade de Motricidade Humana.

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1. INTRODUÇÃO

Atualmente a escola se depara com profundas mudanças sociais que

interferem diretamente nos processos educacionais. A internet, os novos sistemas

de comunicação e o bullying, por exemplo, têm interferido drasticamente no contexto

escolar. Hoje, se espera muito dos educadores, tal como uma postura multifuncional

para lidar com toda a ansiedade, medo e resistência gerada por essas mudanças.

Todas essas interferências têm influenciado para uma falta de interesse por

parte dos alunos, causando resultados insatisfatórios e desestimulando professores.

Por exemplo, no último ano, durante as reuniões pedagógicas do Colégio Estadual

Professor Benoil F. M. Boska - Ensino Fundamental e Médio em Ourizona – PR

houve um aumento nas reclamações por parte dos educadores em relação à falta de

interesse em relação às atividades em grupo e mau comportamento dos alunos do

6º e 7º anos. Entre os principais maus comportamentos estão: os atos de violência

física, atos de violência psicológica, desobediência às regras de conduta escolar,

falta de cooperação entre outros aspectos.

Muitos educadores como Freire (1992), Piaget (1982) e Vygotsky (1998)

sempre acreditaram que é possível transformar a sala de aula em um espaço

agradável e prazeroso, onde o educador possa obter sucesso em seu plano de

ensino.

É fundamental que a escola busque diagnosticar os problemas que cercam a

realidade dos alunos e trabalhe no intuito de desenvolver ações que possam formar

atitudes e valores positivos.

É do conhecimento de todos que o desenvolvimento de atividades lúdicas

pode motivar a aprendizagem e transmitir conceitos importantes. De acordo com o

projeto político pedagógico é na aula de Educação Física onde se encontra o espaço

ideal para que os jogos e brincadeiras sejam realizados como elemento de

intervenção, favorecendo e contribuindo aos alunos, uma maior produtividade em

sala, atenção, respeito, colaboração, exercício da cidadania. Além de oportunizar a

formação de atitudes e valores necessários á formação dos educandos.

Para uma possível mudança educacional é preciso aceitar a ludicidade como

fator preponderante na motivação da aprendizagem, estimulando a cognição, a

afetividade e a psicomotricidade dos alunos. Neste sentindo, mais do que apenas

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jogar/brincar, é preciso cooperar. É necessário que os alunos aprendam a trabalhar

em equipe em prol de objetivos comuns onde todos poderão se beneficiar dos

resultados.

Outras experiências vivenciadas por educadores em fóruns sociais e

encontros regionais, apresentaram resultados positivos na melhoria do

relacionamento interpessoais dos educandos e uma melhora considerável no

respeito às normas e regras de convivência social estimulado pela aplicação de

jogos cooperativos.

Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é fazer uso dos jogos cooperativos

como alternativa para que alunos regularmente matriculados na 6º e 7º anos do

Ensino Fundamental possam aprimorar os níveis de relacionamento interpessoal por

meio de manifestações lúdicas com o caráter cooperativo, possibilitar o

desenvolvimento de um pensar mais crítico por meio de jogos cooperativos no intuito

de enraizar valores e atitudes, oferecer às crianças oportunidades para o

desenvolvimento de potencialidades por meio de atividades sistematizadas e

resgatar a noção e a importância da brincadeira, do jogo, das habilidades motoras

durante o desenvolvimento de as atividades programadas.

Para se alcançar os objetivos propostos, este estudo teve como metodologia

um estudo de caso, por meio, de uma aplicação prática de intervenção a um

problema proposto. Por meio, da combinação de técnicas de coleta de dados foi

possível traçar um diagnóstico e assim desenvolver ações voltadas para melhoria do

problema proposto.

Espera-se que a experiência relatada e os resultados positivos da melhoria

do comportamento e disciplina dos alunos que participaram do projeto, possam

incentivar futuros educadores a desenvolverem uma pedagogia cooperativa como

forma de motivação na obtenção de melhores resultados educacionais dos alunos.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 O JOGO

Uma das primeiras referências a cerca da definição do jogo é que “[...] trata-

se de uma atividade voluntária, que ocorre em um espaço definido e com um tempo

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determinado” (HUIZINGA, 1996, p. 44). O jogo é baseado em regras livremente

constituídas (as regras podem variar de acordo com o tipo, tempo e local), porém,

obrigatórias, que geram expectativas: tanto eufóricas como aflitivas, munido de seus

próprios propósitos e objetivos.

Mais tarde, é apresentando um novo estudo com a caracterização e

classificação dos jogos e uma nova definição simples sobre o termo jogo “[...] é uma

atividade livre, delimitada, incerta, improdutiva, regulamentada e fictícia” (CAILLOIS,

1990, p. 29).

Orlick (1989) foi um dos primeiros estudiosos a associar os jogos em uma

perspectiva educativa. O livro que marcou seu trabalho foi escrito em 1978 e

intitulado: “Winning through cooperation” (Vencendo a Competição). O livro é

dedicado a uma abordagem sociológica do uso de jogos no processo de formação

humana.

Orlick (1989) explica que durante o jogo o indivíduo faz uso de seus valores

e concepções de vida, logo, esses valores e concepções estão sujeitos às

modificações durante o contexto. Civitate (2003) complementa ao expor que no jogo

externam-se os componentes psicológicos ligados à vivência dos participantes.

Assim, “[...] se o jogo tem a virtude de permitir o desenvolvimento de diferentes

capacidades sociais, nos permite também, agir sobre as deformações da conduta

social” (CIVITATE, 2003, p. 05).

Amaral (2004) também partilha do mesmo conceito ao afirmar que os jogos

proporcionam situações atrativas em diversos contextos, e isso faz com que haja

uma série de vivências que podem se encaixar em outras ocasiões no decorrer da

vida, são elas o confrontamento de pontos de vista, a defesa de interesses, a

participação em discussão e a vivência da crise e do conflito.

Baseadas nas concepções de formação humana dos jogos, Piaget (1982)

formula algumas ideias relacionadas ao jogo, focando o ponto de vista pedagógico

discutindo a importância dos jogos no desenvolvimento da inteligência da criança.

Os jogos tem uma evolução que perpassa pela exercitação, no período sensório-motor; jogos simbólicos, com predominância na fase escolar e com forte caracterização da imitação, jogos com regras, pressupondo a existência de parceiros e um conjunto de obrigações, conferindo-lhe um caráter social favorecendo avanços do pensamento e a preparação, a análise e o estabelecimento de relações (PIAGET, 1982, p.98).

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Para Paes (2001) o jogo pode servir como uma importante ferramenta nos

processos de ensino. “Reconhecemos no jogo uma forma para o desenvolvimento

da criança [...] este fenômeno cultural traz na sua essência alguns elementos que o

tornam uma rica possibilidade de ensino” (PAES, 2001, p. 81).

Freire (1992) também atribui uma função especial aos jogos em relação à

formação humana. Para ele, as brincadeiras servem para explorar, reforçar a

convivência, equilibrar o corpo e alma, produz normas, valores e atitudes, promove a

fantasia, induz a novas experimentações e torna as pessoas mais livres.

Duflo (1999 apud SANCHES, 2007) explica que os estímulos intelectuais

gerados pelos jogos, transformam grades esforços de pensamento em algo

divertido, assim, a ludicidade faz com que a criança se deixe levar na realização de

tarefas que não seriam feitas por iniciativas próprias.

2.2 O LÚDICO

A palavra o lúdico é “[...] um termo que visa agregar em si o conjunto de

atividades humanas que remete a dimensão de divertimento e de arejamento do

espírito” (SANCHES, 2007, p. 55). A ludicidade é uma parte integrante do ser

humano e ocorre durante as interações sociais, seja na infância, na fase adulta ou

na velhice. Assim, o lúdico se apresenta como uma ferramenta de articulação que

proporciona reflexão e vivência de práticas corporais em diversos conteúdos de

forma estruturada (BRASIL, 2008).

A experiência lúdica constitui-se numa referência significativa que pode contribuir para a construção de possibilidades emancipatórias justamente pela sua característica fundamental de resistência à produção de algo que remete para além de si mesma, ou seja, o lúdico não satisfaz nada que não ele próprio, é compreendido não como meio, mas, necessariamente, como um fim (ACORDI; FALCÃO; SILVA, 2005, p. 35 apud BRASIL, 2008, p. 55).

Atitudes lúdicas representam algo espontâneo, constante e prazeroso que

age sobre o desenvolvimento da autônima da criança, sendo este um dos objetivos

principais da educação (BRASIL, 2008). “É através da brincadeira que o educando

reproduz o discurso externo e o internaliza, construindo seu próprio pensamento, a

ludicidade e a aprendizagem não podem ser consideradas como ações com

objetivos distintos” (VYGOTSKY, 2012, p. 132 apud QUEIROZ; MARTINS, 2002, p.

06).

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Lauand (2000 apud SANCHES, 2007) explica que nos escritos do filósofo

Tomás de Aquino é possível observar que ele defende a formação lúdica como

primordial ao ser humano, pois, traz com ela os preceitos éticos e morais, levando a

um fortalecimento da alteridade como experiência ao ser humano para o convívio

social. Para o filósofo toda pessoa tem uma essência a desenvolver, que combina o

conhecimento sensível, captado pelos sentidos, e o intelectivo, que se alcança pela

razão. Por isso, para se conhecer a realidade é preciso vivenciá-la, a experiência

(prática/lúdico) e o socializar (relacionar), é ao mesmo tempo, o alcance da essência

das coisas, que para ele, é conhecimento propriamente dito, ou seja, a ciência.

2.3 JOGOS COOPERATIVOS

As primeiras definições de jogos cooperativos nasceram com Orlick (1989)

que considerou como objetivo primordial do jogo cooperativo a interação

cooperativa, sendo que um grupo não garante a cooperação se não houver um

sentido de interdependência entre eles.

No Brasil, os estudos sobre os jogos cooperativos teve início em 1992 com o

Projeto Cooperação de Fabio Otuzzi Brotto, por meio, de oficinas, palestras,

eventos. Em 1995 é publicado o primeiro livro de Brotto Jogos Cooperativos: se o

importante é competir, o fundamental é cooperar que em seguida vem influenciar

todos os trabalhos seguintes.

Os jogos de cooperação tem como foco principal a busca por uma meta

comum, assim, a união entre os participantes é que levará ao alcance da vitória.

“Nos jogos cooperativos, joga-se para superar desafios e não para derrotar os

outros; joga-se para gostar do jogo, pelo prazer de jogar” (BROTTO, 2001, p. 54).

Amaral (2004) partilha do mesmo conceito ao expor que os jogos cooperativos

constituem uma atividade coletiva que tem por objetivo a conquista de objetivo.

Já Barreto (2000 apud SOLER, 2003) considera que jogos cooperativos são

atividades dinâmicas que tem por objetivo despertar no participante um sentimento

de cooperação como opção reflexiva e prática. “Jogos cooperativos são uma

abordagem filosófica pedagógica criada para promover a ética da cooperação e a

melhoria da qualidade de vida para todos, sem exceção” (BROTTO, 1999, p. 23).

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Brotto (1999) explica que os jogos cooperativos possuem uma arquitetura

que combinam visão, objetivo, regras, contexto, participação, comunicação,

estratégias, resultados, celebração e ludicidade.

Brotto (2001) entende que temos no jogo uma oportunidade concreta de nos

expressarmos com um todo harmonioso, um todo que integra virtudes e defeitos,

habilidades e dificuldades, bem como as possibilidades de aprender a ser por inteiro

e, não, pela metade. Jogando por inteiro, podemos “[...] desfrutar da inteireza uns

dos outros e descobrir o jogo como um extraordinário campo para a descoberta de si

mesmo e para o encontro com os outros” (BROTTO, 2001, p. 87).

Brown (1994) explica que os jogos cooperativos podem interferir no

estabelecimento de relações mais harmoniosas. O autor entende que esta forma de

jogar visa à contribuição participativa, busca eliminar o clima agressivo e ajuda o

desenvolvimento da empatia e da comunicação.

Soler (2003) complementa ao considerar que os jogos cooperativos

favorecem algumas atitudes essenciais para o exercício da convivência, pois evitam

situações de exclusão; diminuem as chances de experiências negativas; favorecem

o desenvolvimento das habilidades motoras e capacidades físicas (universo

psicomotor) de forma prazerosa; estimula um clima de alegria e descontração;

promove o respeito e a valorização pelo diferente. O autor lista onze habilidades que

são desenvolvidas a partir do trabalho em grupo por meio dos jogos cooperativos:

participação igual; ouvir atentamente os outros integrantes do grupo; olhar para

quem fala; negociar; integrar no jogo as ideias propostas; ser responsável; contribuir

com as ideias e ideais; agir como líder e liderado dependendo da situação; discordar

com amorosidade e ampliar propostas de outros participantes.

A participação igual é suscitada pelo jogo cooperativo, no qual todos os

participantes têm o mesmo grau de importância durante a atividade.

Consequentemente evita-se o sentimento de rejeição e faz com que cada

integrante se sinta valorizado (SOLER, 2003, p. 87).

O que o autor quis destacar nesta afirmação é a importância da participação

como reforço da igualdade entre alunos, pois, a cooperação entre ambos pode levar

ao alcance de objetivos, onde o resultado torna-se positivo para todos,

independentes do grau de desempenho, desvinculando o sentimento de frustração,

tão comum em jogos competitivos.

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Para Brotto (1999) existem diferença distintas em cooperação e competição;

onde cooperar é um processo de interação social, com objetivos e resultados

compartilhados e a competição por sua vez, é um processo de interação social,

onde os objetivos são exclusivos e os resultados destinados apenas para alguns.

Orlick (1989) explica que é preciso lembrar que a cooperação nem sempre é

humanizadora e nem a competição é sempre desumanizadora. A cooperação focada

na destruição de outros não é desejável, assim como, a competição que resulta na

melhoria dos participantes não pode ser indesejável. Por isso, nem sempre elas

estão dissociadas e nem ocorrem independentes uma da outra.

Amaral (2004) concorda com Orlick (1989) ao considerar que não se pode

excluir o jogo competitivo, pois, ele faz parte do universo infantil. Tirar a competição

das brincadeiras seria tentar maquiar um processo em que mais cedo ou mais tarde

a criança irá se deparar durante a vida, pois a competição nunca deixará de existir.

Entretanto, não se deve supervalorizar o vencedor, pois, se não houvesse outros

competidores o mesmo não se sagraria vencedor.

3. METODOLOGIA

A aplicação prática do estudo teve como objeto de destino o Colégio

Estadual Professor Benoil F. M. Boska - Ensino Fundamental e Médio em Ourizona

– PR. Foram considerados como amostras do estudo os alunos dos 6º A e B e 7º A

e B do ano de 2014 em contraturno escolar; além da participação de professores,

coordenadores pedagógicos, servidores e a direção escolar entre os meses de

fevereiro a abril de 2014, no total de 20 alunos e 12 profissionais de educação, mais

as contribuições dos professores do GTR.

O trabalho de campo teve como recursos físicos as dependências do

colégio, como o pátio, as salas de aula e a quadra esportiva. Também se contou

com ajuda dos servidores da instituição e os pais.

O estudo visou de forma qualitativa analisar os resultados por meio de

métodos como a pesquisação3, questionários e grupo focal4 o conhecimento, a

3 Técnica de pesquisa “concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes estão envolvidos de modo cooperativo e participativo” (THIOLLENT, 1985, p. 14).

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promoção e interiorização e a melhoria do comportamento dos alunos em cada eixo

proposto dos jogos de cooperação.

Para o tratamento dos dados se buscou analisar e refletir as respostas dos

questionários dos profissionais de educação e dos alunos. Depois, foi realizada uma

comparação entre as reflexões dos alunos sobre os conceitos de cooperação,

competição, trabalho em equipe, valores, responsabilidades e inclusão em relação

às mudanças de comportamento observadas nestes quesitos pelos educadores em

sala de aula.

4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O trabalho teve início a partir da análise das informações contidas nas duas

últimas atas dos conselhos de classe dos 6º e 7º anos, sendo possível observar

problemas relacionados à falta de disciplina, cumprimento de regras, dificuldades

com trabalho em equipe entre outros. A ideia foi desenvolver ações práticas, por

meio, de jogos que pudessem combinar conteúdos que trabalhassem os problemas

citados.

A opção de usar jogos como conteúdo estruturante é defendida pelas

Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008), pois, como o jogo os alunos

apreendem a respeitar os seus colegas e compreendem o significado de limites.

Além disso, possibilita ao professor resgatar o aspecto lúdico na infância, possibilita

a flexibilização das regras e da organização coletiva.

O intuito das oficinas práticas foi à aplicação de dinâmicas com foco nos

conceitos voltados para jogos cooperativos. Desta forma, era importante

compreender primeiramente, qual era o nível de compreensão dos alunos acerca

destas concepções, para que se pudessem estabelecer quais jogos (dinâmicas)

seriam mais adequadas para apresentar, esclarecer ou resgatar esses princípios.

Assim, a aplicação de um questionário se fez necessário e, cujas respostas

foram surpreendentes em muitos pontos como: cooperação – a interpretação geral

compreende como o fato de prestar ajuda; competir – teve como definição da

maioria a ideia de ganhar, fazer o melhor e trabalhar em grupo; trabalho em equipe

4 Técnica de pesquisa que coleta os dados por meio das interações grupais em relação a temas propostos pelo pesquisador. Visa compreender o processo de interiorização das percepções, atitudes e representações sociais de um grupo de pessoas (GONDIM, 2003).

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– teve como resposta fazer algo em grupo onde todos se ajudam; valores - foi

apresentando como a forma de agir corretamente; responsabilidades – grande

parte das respostas foi confusa, mas em geral, entende-se como obedecer e fazer a

coisa certa e por último o conceito de inclusão – que surpreendentemente, ninguém

soube descrever o que significava, porém, muitos comentaram que já tinha ouvido

falar sobre isso na escola, mas que não sabem o que significa.

Após o estabelecimento do diagnóstico foi possível planejar quais jogos

cooperativos seriam mais adequados para o reforço dos conceitos mais carentes na

equipe, tais como: estabelecer as diferenças entre competição e cooperação,

esclarecimento sobre o que são responsabilidades e como funcionam as regras e

porque elas são importantes, além de apresentar o significado da concepção de

inclusão e o respeito às diferenças. Todos os conceitos foram trabalhos por meio de

diversas brincadeiras de caráter lúdico, como: Ameba, Balão Maluco, Bambolê

Gigante, Basquete Cooperativo, Bate e Volta, Caiu na Rede é Amigo, Cobra

Gigante, Corda Amiga, Desenho com Cadeiras, Corrente das Canetas, Entre

Joelhos, Festa das Bexigas, Fuga Alucinante, Futebol Cego, Grupo Colorido,

Guardião do Rei, Lápis na Garrafa entre outras.

Durante a aplicação das atividades foram sendo registradas diversas

informações no diário de campo para que servissem como base para a

avaliação/feedback (grupo focal) posterior pelos alunos. Conforme as necessidades

foram acontecendo e às sugestões do GTR sendo analisadas, se realizou as

interferências necessárias.

A realização das oficinas foi gratificante, pois, era evidente a alegria, o

comprometimento e o empenho dos alunos. Mas a maior preocupação era verificar

se os jogos conseguiram fortalecer os conceitos fundamentais dos jogos

cooperativos aos alunos. Era importante verificar se as ideias de cooperação e

inclusão resultaram em uma reflexão que fosse colada em prática, tanto na escola,

como em qualquer outro ambiente de convívio social dos alunos. Por isso, foram

reunidos os participantes e a coordenação pedagógica em um grupo focal para

discutir novamente os conceitos aplicados anteriormente no questionário e a

possível influência que o projeto teve em suas vidas.

Quando questionados novamente sobre o significado de competição e

cooperação as respostas giraram em torno de que a competição é uma atitude

individualista e que a cooperação por outro lado é um processo de união, trabalho

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em equipe e auxílio ao próximo. Aprofundando estas respostas, foi solicitada uma

reflexão sobre o que eles viam de diferenças entre jogar cooperando e jogar

competindo. Para eles competir é apenas ganhar, ser melhor do que o outro e

cooperar é agir com sinceridade e participar igualmente.

Orlick (1989) explica que os estudos de Margaret Mead (1961) apontaram

diversos aspectos entre as diferenças de competição e cooperação que convergem

com as respostas declaradas pelos alunos. Assim, a competição é um ato voltado

para ganhar de outra pessoa, um comportamento individualista que busca atingir um

objetivo sem se preocupar com a outra pessoa que compete. Já a cooperação seria

um ato que visa trabalhar em conjunto em prol de um único objetivo, ou seja, um só

chega ao seu objetivo se outro também chegar.

Nos jogos cooperativos a relação com o objetivo mantém as pessoas unidas

e os reforços sociais são recompensados e partilhados por todos os participantes. “A

ênfase esta em ajudar outra pessoa e não no objetivo em si. Existe prazer no ato de

ajudar, o préstimo cooperativo e o amor são extensões da cooperação” (ORLICK,

1989, p. 87).

Os alunos expuseram que para cooperar é preciso trabalhar junto, desta

forma, é preciso que todos trabalhem em equipe. Diante disso, foi questionado o que

seria então o trabalhar em equipe. Para os alunos, uma equipe é fazer todos juntos,

é discutir o trabalho e pedir a opinião de todos, é ajudar a encontrar respostas e

auxiliar aquele que não sabem.

Brotto (1999) expõe que por meio de jogos cooperativos as crianças podem

desenvolver autoestima (desenvolvimento de talentos) e relacionamento

interpessoal (entrelaçamento harmonioso), sendo que esse dois níveis combinados

podem gerar grandes proporções educativas e transformadoras.

Os jogos cooperativos são jogos em que os participantes jogam uns com os outros, em vez de uns contra outros. Joga-se para superar desafios. São jogos para compartilhar, unir pessoas, despertar a coragem para assumir riscos, e geram pouca preocupação com o fracasso ou com o sucesso como fins em si mesmos. Eles reforçam a confiança mútua e todos podem participar autenticamente. Ganhar e perder são apenas referências para o contínuo aperfeiçoamento pessoal e coletivo (BROTTO, 1999, p. 23).

Quando perguntados sobre o significado de valores e atitudes positivas os

alunos comentaram que agir positivamente é tratar bem outra pessoa, como

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respeitar a ideia do outro, por exemplo. Assim como, agir de forma agradável

deixando as pessoas felizes e respeitando regras.

Queiroz e Martins (2002) explicam a necessidade dos jogos como fonte

formadora do caráter e da personalidade da criança. “Os jogos permitem uma

melhor compreensão da psique das emoções e auxiliam na formação da

personalidade a partir do momento que permite o “encontro” com o outro”

(BEHEHEIM, 1988, p. 168 apud QUEIROZ; MARTINS, 2002, p. 06).

Piaget (1982) explica que os jogos permitem o exercício da cidadania, pois,

eles proporcionam ao educando aprender a diferença entre o certo e o errado, a

julgar atitudes e respeitar o direito dos outros.

Orlick (1989) também expõe que as estruturas dos jogos asseguram em si

um nível de aceitação da criança, e proporcionam o reforço de comportamentos

desejáveis. “O fato de os jogos serem compensadores para muitos, são um meio

ideal de motivação. Com programas adequados as crianças podem se empenhar em

comportamentos apropriados e se divertir com isso” (ORLICK, 1989, p. 116).

Muitos comentaram que agir conforme regras é agir de forma responsável,

mas quando solicitando para comentarem o que significa esse conceito muitos

alunos demonstraram timidez, pois, a palavra responsabilidade ainda trazia

estranhamento e medo. Porém, a maioria compreende que regras significa respeitar

valores que beneficiam a todos e que a responsabilidade é agir sempre pensando no

melhor, é cumprir o que se promete e assumir os erros.

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008) explicam que os jogos

ao comportarem regras, auxiliam as crianças compreenderam a necessidades das

normas, porém, ao mesmo tempo, deixa espaço para o desenvolvimento da

autonomia do aluno. Por isso, ao construírem as regras do jogo, eles compreende a

finalidade e a objetividade das necessidades das normas na vida real.

Leontiev (1988 apud QUEIROZ; MARTINS, 2002) explica que é na atividade

lúdica que o educando percebe e aceita se subordinar as regras, mesmo que

influenciado pelo meio em não fazê-lo. Para o autor, quando os alunos seguem as

regras do jogo, eles dominam seu próprio comportamento, aprendendo a controlar-

se e a seguir as normas em vista de um propósito definido.

Já em relação à ideia de inclusão, os alunos passaram a compreender que

incluir é trabalhar com união, sem deixar ninguém de fora, que é respeitar as

diferenças entre as pessoas.

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Dizemos que há inclusão quando a atividade de lazer e recreação não exclui algumas pessoas em razão de qualquer atributo individual do tipo: compleição anatômica (gordas, magras, altas baixas), idade (muito pequenas, muito idosas), gênero (sexo), cor (etnias diversas), deficiência (física, mental, visual, auditiva ou múltiplas), condições de saúde (vírus HIV, epilepsia, síndrome de Tourette, transtorno mental etc.) e outros. Todos os interessados, como ou sem alguns desses atributos individuais, participam juntos no lazer e na recreação (SASSAKI, 1997, p. 86 apud SOLER, 2003 p. 32).

Orlick (1989) expõe que jogos cooperativos podem ter um grande significado

para crianças reservadas, que não confiam em si mesmas, inseguras, que não se

sentem amadas, que tem habilidades sociais inadequadas. A cooperação faz com

que a criança se sinta segura, pois, a aceita como ela é, aumentando o nível de

participação de crianças comumente isoladas.

Civitate (2003) explica que jogos cooperativos ajudam a combater qualquer

tipo de discriminação e ajudam a despertar uma consciência sobre as limitações

naturais dos indivíduos, que originam os diferentes graus de habilidades. “Esses

diferentes graus tipificam a característica humana da diversidade. Ajudam a

entender que a harmonia não será prejudicada pela diversidade, ao contrário será

incrementada através da compreensão da sua natura existência” (CIVITATE, 2003,

p. 07). O autor ainda expõe que os jogos cooperativos valorizam a importância do

respeito e a tolerância, que são os principais princípios de uma relação solidária e

democrática.

Ao observar que a maioria dos alunos havia compreendido os conceitos

fundamentais dos jogos cooperativos a atmosfera de contentamento tomou conta do

encontro. Foi possível observar a reação empática dos professores e a satisfação da

direção, interiormente, o sentimento era de “tarefa cumprida. Porém, ainda se

precisava verificar se os alunos conseguiam associar essas concepções de forma

prática na vida escolar, no intuito de confirmar o real aprendizado. Assim, foi

proposto o tema de como praticar esses conceitos na escola. As respostas variaram

positivamente em diversos aspectos, tais como: obedecendo a pais e professores,

se esforçando, trabalhando em grupo, se comunicando, respeitando meus pais e

professores, respeitando meus colegas, valorizando as pessoas que gosto, falando

menos, ouvindo mais, fazer juntos, perseverar e aplicar o meu melhor para meus

amigos. Diante desta perspectiva, foi solicitado aos alunos escreverem por escrito o

que mudou nas suas formas de agir, tanto em casa e na escola, depois de participar

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do projeto jogos cooperativos. Nesta questão, se optou por apresentar algumas

respostas tamanhas à riqueza das reflexões. Eu ouço melhor os meus pais e os

professores, eu entendo mais os meus colegas. Eu procuro cooperar com os

amigos, professora. Procuro respeitar as regras e falar e ouvir na mesma hora

(respondente 1); respeito mais e ouço mais os meus pais e professores, coopero

mais com meus amigos, aprendi falar na hora certa (respondente 2); eu ouço mais,

coopero mais com meus amigos, não grito com meus pais. Nós aprendemos a ouvir

e falar na hora certa em todos os lugares (respondente 3; eu mudei depois do

projeto que eu escuto mais, ouço meus professores e aprendi que não é só ganhar e

não perder. Eu respeito às regras mais e meus colegas. Eu aprendi ouvir e falar na

sala de aula (respondente 4); eu mudei muito, consigo respeitar o ponto de vista das

pessoas, ouço melhor os outros do que falo (respondente 5); dialogo e respeito mais

meus pais e professores, e as regras da sala de aula( respondente 6); eu converso

mais tranquilo com os meus pais e professores na sala de aula e não brigo mais

com meu irmão (respondente 7); consigo resolver meus conflitos e dialogar sem

chorar. Escutar e falar na hora certa (respondente 8) e eu já me relaciono com meus

colegas sem chinga. Ouço mais e brigo menos na sala (respondente 9).

Projetos educacionais desenvolvidos, por meio, de jogos e brincadeiras são

de extrema valia para o desenvolvimento humano, pois, agem como forma de

representação de situações imaginárias, que poderão a vir ser reais no futuro,

cabendo à escola e a família criar condições propícias para o desenvolvimento dos

jogos e das brincadeiras como parte importante na formação da criança (BRASIL,

2008).

O valor de cooperação e o significado da diversão são cada vez mais importantes à medida que a nossa sociedade se torna mais competitiva e técnica. Onde mais uma criança ficaria imersa em algo tão agradável e ainda aprenderia algo tão valioso sobre si mesma e sobre os outros? As oportunidades de uma interação social cooperativa, da autoaceitação e da simples diversão devem ser cultivadas, e não destruídas, nos jogos de que as crianças participam. Aqueles que se preocupam com a qualidade de vida em geral, e mais especificamente com a saúde psicológica das crianças, devem trabalhar no sentido de que seres humanos confiantes, cooperativos e felizes não se tornem uma espécie ameaçada de extinção (ORLICK, 1989, p. 116).

Orlick (1989) expõe que é possível a transferência de um comportamento

cooperativo para uma vida cooperativa. Porém, para isso, é necessário treinamento,

ou seja, a prática da atividade cooperadora em diversos ambientes: no pátio, na sala

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de aula e em casa, estimulando a cooperação como parte natural da vida da criança.

“Por meio do jogo, cada criança cria uma série de especulações a respeito da vida,

mais tarde, quando adulta ela voltará a descobrir e elaborar, estabelecendo uma

ponte entre o jogo e a vida” (SOLER, 2003, p. 44).

No intuito de verificar os resultados obtidos com a aplicação do projeto em

relação à escola, se optou por discutir junto ao grupo de profissionais que atuam nas

turmas do 6º e 7º anos os dados que obtive com a observação e a análise durante o

desenvolvimento da atividade mais o feedback do grupo focal. A intenção foi verificar

se as mudanças apresentadas durante a conversa com os alunos, principalmente,

sobre o que eles sentiram (interiorizam) e aprenderam sobre os conceitos foram

também observadas na prática, durante o convívio escolar. Assim, foi solicitado aos

professores, à coordenação pedagógica, os servidores e a direção o preenchimento

de um formulário descrevendo suas opiniões em relação a cinco situações:

comportamentos dos alunos em relação à última avaliação pedagógica,

cumprimento de normas, relacionamento entre aluno com aluno e aluno com

professor, clima em sala de aula e aspectos cognitivos relação aos princípios morais

à personalidade dos alunos.

Em relação a uma possível mudança de comportamento dos alunos, os

profissionais observaram que os jogos cooperativos incentivaram a realização de

tarefas em equipe, em que os próprios alunos passaram a propor atividades

coletivas e começaram a ser mais solidários uns com os outros. Também

compreenderam a importância de se organizarem melhor nas atividades, e as ações

práticas passaram a ser executadas com mais calma, combatendo o individualismo,

brigas, e falta de respeito antes observadas. Houve uma queda considerável no

nível de agressividade entre alunos.

Já em relação ao cumprimento das normas, foi um dos itens mais

comentados, principalmente pela coordenação, inspeção e direção da escola. Foi

verificado que os alunos que participaram do projeto jogos cooperativos passaram a

ter uma melhor compreensão da importância das regras. Antes os alunos achavam

que as exigências feitas pelos professores eram desnecessárias e serviam apenas

para corrigi-los. Hoje eles percebem a importância das regras, ocorreram mudanças

em questões como uso de uniforme, respeito aos horários e ceder o lugar aos

menores na fila da merenda.

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Já referente ao relacionamento interpessoal, se verificou que a comunicação

passou a fluir melhor, sendo mais maleáveis no tratamento verbal entre uns com

outros e para com o professor, assim como uma melhora considerável no tratamento

aos servidores do colégio. Para os professores, os alunos passaram a ouvi-los

melhor e começaram a reconhecer quando estão errados. Um passou a ser

preocupar com a dificuldade do outro e a oferecer auxílio. Mas o que chamou mais

atenção diante deste aspecto foi à mudança na participação de alunos que antes

eram rejeitados. A turma em geral, passou a se esforçar mais e estimular aqueles

que por algum motivo não queriam participar das atividades coletivas.

Sobre o clima em sala de aula, os profissionais estão satisfeitos com as

melhoras apresentadas pelos alunos. Observou-se uma queda na tensão em sala de

aula, os alunos não gritam mais, e há uma maior mobilização na realização das

atividades. Os professores passaram a concluir atividades programas, o que antes

não era possível, pois, as interferências ocupavam muito tempo de aula. Eles

também observaram uma maior afetividade, uma empatia entre os problemas

educacionais e até mesmo pessoais entre eles. Os alunos passaram a compreender

melhor o que é a violência (bullying) e como ela pode afetar o desempenho escolar

entre eles.

Por fim, em relação às mudanças de personalidade e comportamentos

morais, foi observada uma melhora positiva nas maneiras de falar e agir. Os alunos

passaram a ter atitudes mais humanas, compreendendo melhor às diferenças e

como elas são importantes para marca à individualidade dos mesmos. Mas os

professores, também reconhecem que ainda existe muito por fazer, e que seria

fundamental a continuidade do projeto com novas turmas do Ensino Fundamental e

também do Ensino Médio.

Orlick (1989) expos em seus estudos que é possível alcançar vários índices

de cooperação e lazer pelo uso de jogos cooperativos. Ele também comenta que

observou em diversos estudos de que há várias evidências de comportamento

cooperativo durante brincadeiras no pátio, ginásio e sala de aula depois de expor

alunos a um programa de jogos cooperativos. Vale destacar comentários realizados

pelo Grupo GTR que foram incentivadores para o bom encaminhamento e

desenvolvimento do projeto. O grupo considerou de extrema valia a escolha pelo

Ensino Fundamental, pois, consideram essas séries imprescindíveis para

desenvolvimento de atividades de aspectos sociais, pois, assim, os alunos chegarão

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ao Ensino Médio, jovens mais cooperativos e disciplinados. Eles também acreditam

que é durante o Ensino Fundamental que a competição está mais enraizada,

necessitando uma reflexão e o reforço acerca dos princípios de conduta social do

aluno.

Em relação à escolha pelos jogos cooperativos o GTR concorda que esse

tipo de atividade permite que os alunos mostrem suas habilidades, que muitas

vezes, estão escondidas, devido ao medo das críticas, e passam a se valorizar e

serem respeitados por seus colegas, assim demonstrando verdadeiramente suas

personalidades.

Sobre a questão da socialização, o GTR acredita que os jogos cooperativos

gera um sentimento maior de coletividade, melhoram o processo de relacionamento,

permitindo o controle de atitudes e aprendizagem interdisciplinar. Por não determinar

faixa etária de participação, esses jogos buscam em cada aluno o que eles têm de

melhor a oferecer e os envolvem.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

É preciso trabalhar projetos de cooperação nas escolas em qualquer série,

pois, os sistemas educacionais ainda privilegiam o sistema de competição,

incentivando o enraizamento de modelos dominantes.

É importante que a Educação Física busque a reformulação dos princípios

de competitividade nas atividades físicas e psicológicas, onde vencer o jogo não é

mais importante que jogar. Fazendo que os jovens compreendam que cooperar é

atingir objetivos coletivos, onde todos são participantes e não adversários. O mais

importante é participar e permite a existência do jogo, motivando o melhor

desempenho coletivo, onde todos se sintam importantes e fundamentais para o

resultado. Os jovens só vão praticar os jogos e levar esse princípio para o longo de

suas vidas, se aprenderem a amar o processo, o espetáculo, e não a competir pelo

resultado.

Os jogos cooperativos podem ser uma ferramenta eficiente na

transformação dos sistemas educacionais, além do que eles permitem de forma

prazerosa recomeçar e criar algo totalmente novo. Eles mostram de forma prática

que é possível mudar e que existem diversas possibilidades de mudança. Além de

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proporcionar uma autoavaliação do seu próprio desempenho e uma reflexão das

atitudes em relação o convívio em sociedade.

Por todos os aspectos discutidos ao longo do estudo entende-se que os

jogos cooperativos possuem a finalidade de desenvolver atitudes positivas, melhorar

o comportamento social, busca o trabalho coletivo, aplica a competição como parte e

não como essência do jogo, permite a interação de forma alegre e lúdica,

desenvolve o interesse pela busca, visa à iniciativa e a participação em decisões e

proporcionar aos alunos explorar a criatividade construindo ações inovadoras

descobrindo mecanismos de interiorização da aprendizagem.

Assim, é levado a acreditar que os jogos cooperativos permitem a adaptação

e aplicabilidade dos conceitos de cooperação, trabalho em equipe,

responsabilidades, atitudes positivas e inclusão em qualquer ambiente de

convivência social do jovem, incentivando os demais a interagir com esses princípios

e repassá-los adiante.

Este estudo se limitou a uma abordagem descritiva de uma realidade escolar

específica, portanto, ele não representa de forma estatística, tão pouco, uma

abordagem científica a cerca dos benefícios obtidos com jogos cooperativos em

ambientes educacionais formais. Esta pesquisa trata-se de uma experiência,

advinda da necessidade de encontrar solução ao um problema relatado de uma

realidade escolar vivenciada ao longo de alguns anos. Além, da vontade de uma

realização pessoal na execução prática do projeto, enquanto educadora da área de

educação física.

Espera-se que as experiências relatadas neste trabalho possam inspirar e

ajudar outros educadores, principalmente, professores de educação física, a

fazerem uso de jogos cooperativos como ferramenta de melhoria da socialização e

integração dos alunos, combatendo práticas de bullying e reforçando o respeito a

diferenças entre os educandos.

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