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III SIMPSIO NACIONAL DE LETRAS E LINGUSTICA
II SIMPSIO INTERNACIONAL DE LETRAS E LINGUSTICA
Linguagem, Cultura, Identidade e Ensino
11 a 14 de junho de 2013
ISSN: 2177-5443
UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS CAMPUS CATALO
Anais
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS CAMPUS CATALO
DEPARTAMENTO DE LETRAS
III SIMPSIO NACIONAL DE LETRAS E LINGUSTICA
II SIMPSIO INTERNACIONAL DE LETRAS E
LINGUSTICA
Linguagem, Cultura, Identidade e Ensino
11 a 14 de junho de 2013
CATALO - GOIS
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIS CAMPUS CATALO
REITORIA
Edward Madureira Brasil
VICE-REITORIA Eriberto Francisco Bevilaqua Marin
DIREO DO CAMPUS CATALO
Manoel Rodrigues Chaves
VICE-DIREO DO CAMPUS CATALO Aparecida Maria Almeida Barros
DEPARTAMENTO DE LETRAS
CHEFIA Gisele da Paz Nunes
COORDENAO LICENCIATURA PORTUGUS
Ulysses Rocha Filho
COORDENAO LICENCIATURA PORTUGUS/INGLS Luciane Guimares de Paula
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COMISSO ORGANIZADORA DO EVENTO
COORDENAO GERAL Joo Batista Cardoso
COMISSO EDITORIAL
Jozimar Luciovanio Bernardo Luciana Borges
Maria Gabriela Gomes Pires Maria Helena de Paula
COMISSO CULTURAL
Luciane Guimares de Paula Terezinha de Assis Oliveira
Ulysses Rocha Filho
COMISSO DE APOIO E INFRAESTRUTURA Adriana Laurena da Cunha Aldenir Chagas Alves Alexander Meireles da Silva Aline Pmela Cruz da Silva Belisa Neri Oliveira Camila Aparecida Virglio Cntia Martins Sanches Danilo Pablo Gomes de Oliveira Deliorrane Sousa Barbosa Dbia Pereira dos Santos Erislane Rodrigues Ribeiro Fabrcia dos Santos S. Martins Flvia Freitas de Oliveira Gisele da Paz Nunes Grenissa Bonvino Stafuzza Humberto do Amaral Mesquita Iuri Silva Eziquiel Jessica Cristine F. Mendes Jessica Luciano dos Santos Lady Daiane Martins Ribeiro Laice Raquel Dias
Luciana de Oliveira Faria Maria Fernanda Costa Gonalves Mariana de Moraes Nascimento Marilia Ribeiro Perfeito Mary Rodrigues Vale Guimares Mayara Aparecida Ribeiro de Almeida Miriane Gomes de Lima Patrcia Souza Rocha Maral Paula Campos Morais Raquel Amaral Lima Raquel Divina Silva Raul Dias Pimenta Rayne Mesquita de Rezende Sabrina Mesquita de Rezende Samuel Cavalcante da Silva Sarah Carime Braga Santana Wellington dos Reis Nascimento Terezinha de Assis Oliveira Uiara Vaz Jordo Ulysses Rocha Filho
COMISSO DE CREDENCIAMENTO
Ademilde Fonseca Cssio Ribeiro Manoel Francielle Teodsio de Oliveira Jaciara Mesquita Rosa Juliana da Silva Martins Jorge
Maria ngela J. S. Thavares Maria Imaculada Cavalcante Miriane Gomes de Lima Talita Alves da Costa Terezinha de Assis Oliveira
COMISSO DE DIVULGAO
Aline Silvrio de Greitas Cssio Ribeiro Manoel Fernanda Pires de Paula Grenissa Bonvino Stafuzza Joo Batista Cardoso Maiune Oliveira Silva
Mayara A. Ribeiro de Almeida Miriane Gomes de Almeida
Rayne Mesquita de Rezende Sabrina Mesquita de Rezende Vincius Aires de S. Fernandes Wanderlia Flix de Jesus
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COMISSO DE PSTER Alexander Meireles da Silva
Fabianna Simo Belizzi Carneiro Maria Imaculada Cavalcante
COMISSO DE PATROCNIO
Lcia Maria Castroviejo Azevedo
COMISSO DE ELABORAO DOS CERTIFICADOS Flvia Freitas de Oliveira
Ionice Barbosa de Campos Miriane Gomes de Lima
COMISSO RESPONSVEL PELO LANAMENTO DE LIVROS
Edilair Jos dos Santos Fabianna Simo Belizzi Carneiro
Luciane Guimares de Paula
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Editorao: Maria Gabriela Gomes Pires e Jozimar Luciovanio Bernardo Reviso: Luciana Borges e Maria Helena de Paula Universidade Federal de Gois Campus Catalo Departamento de Letras Avenida Dr. Lamartine Pinto de Avelar, 1120, Setor Universitrio CEP 75704-020 Catalo (GO) Fone: (64) 3441-5304 E-mail: [email protected] Os artigos foram transcritos de acordo com os originais enviados comisso organizadora do evento, sendo, portanto, de inteira responsabilidade de seus autores e autoras os conceitos, as imagens e demais contedos neles veiculados.
ISSN: 2177-5443 A reproduo parcial ou total desta obra permitida, desde que a fonte seja citada.
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SUMRIO
APRESENTAO .................................................................................................................................................17
ARTIGOS
MECANISMOS DE CONTROLE E LIBERDADE DO SUJEITO: A LONGA HISTRIA DO CUIDADO DE SI Adriana Cabral dos Santos Angela Maria Rubel Fanini ................................................................................................................................18
PROCESSOS DE COMPREENSO LEITORA DE ALUNOS DO ENSINO SUPERIOR Adriana dos Santos Prado Sadoyama Alcides Cano Nuez Vanessa Gisele Pasqualotto Severino............................................................................................................38 DILOGOS E DUELOS MATERIALIZADOS NA ESCRITA DE SI DO ALUNO SURDO Adriana Laurena da Cunha Erislane Rodrigues Ribeiro.................................................................................................................................48
A LINGUAGEM APOCALPTICA NA NARRATIVA BBLICA DO LIVRO DE DANIEL Ailton de Sousa Gonalves Neusa Valadares Siqueira...................................................................................................................................61
NAS LINHAS E ENTRELINHAS DA LEITURA E ESCRITA - OS DISCURSOS SOBRE A HISTRIA CULTURAL NA AMAZNIA ACREANA Alciclia Souza Valente Henrique Silvestre Soares...................................................................................................................................69
O DISCURSO TRGICO NA MODA DE VIOLA: UMA REFLEXO SOBRE A FILOSOFIA DO TRGICO Aldenir Chagas Alves Grenissa Bonvino Stafuzza.................................................................................................................................80 A LEITURA LITERRIA E O LEITOR EM CRISE: ESTUDOS TERICOS E PROPOSTAS PRTICAS Aline Caixeta Rodrigues Paulo Fonseca Andrade.......................................................................................................................................93 O DESENVOLVIMENTO DA LEITURA, INTERPRETAO, PRODUO TEXTUAL E ANLISE LINGUSTICA ATRAVS DOS GNEROS TEXTUAIS NOTCIA, POEMA E CRNICA Aline Maria dos Santos Pereira......................................................................................................................104 O OLHAR INDIVIDUAL DO CONTEXTO DE REPRESSO DOS ANOS 70 NO ROMANCE AS MENINAS, DE LYGIA FAGUNDES TELLES Ana Carolina Moura Mendona Andrey Pereira de Oliveira...............................................................................................................................118
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O LXICO DE BERNARDO LIS: UMA ABORDAGEM DO DIALETO RURAL EM A MULHER QUE COMEU O AMANTE Ana Paula Corra Pimenta Braz Jos Coelho..................................................................................................................................................131 LINGUAGEM, SOCIEDADE E DIVERSIDADE AMAZNICA NA PERSPECTIVA DO ENSINO DE LNGUA ESTRANGEIRA Ana Paula Melo Saraiva Vieira........................................................................................................................144 O TRABALHO COMO FONTE DE SOCIABILIDADE, SUBJETIVIDADE E IDENTIDADE NA OBRA ELES ERAM MUITOS CAVALOS DE LUIZ RUFFATO Angela Maria Rubel Fanini...............................................................................................................................154 CONTRADIES DISCURSIVAS DE UM SUJEITO POLTICO NAS ELEIES PRESIDENCIAIS DE 2010 Ansio Batista Pereira Antnio Fernandes Jnior................................................................................................................................164 GLOSSRIO BILNGUE DOS TERMOS FUNDAMENTAIS DO SETOR FEIRSTICO: BUSCA DE EQUIVALNCIAS EM INGLS Ariane Dutra Fante Godoy Maurizio Babini...................................................................................................................................................174 O APOCALIPSE SE APROXIMA: O FIM DA HUMANIDADE EM THE NINE BILLION NAMES OF GOD DE ARTHUR C. CLARKE Brbara Maia das Neves...................................................................................................................................187 GNERO DISCURSIVO VULGARIZAO CIENTFICA: APROXIMAES POSSVEIS Bruno Franceschini..............................................................................................................................................197 DE DENTRO PRA FORA - O FANTSTICO EM MUTAO: AS TRANSFORMAES DE ELEMENTOS FBICOS NA LITERATURA GTICA INGLESA DO SCULO XIX Bruno Silva de Oliveira Alexander Meireles da Silva.............................................................................................................................217 UMA INVESTIGAO DO FENMENO LITERRIO A PARTIR DOS CONCEITOS DO IMAGINRIO E DO SIMBLICO Carlos Eduardo Japiass de Queiroz...........................................................................................................240
O PAPEL DO LEITOR NA FICO DE RUBEM FONSECA: DIVERSIDADE DE OLHARES SOBRE O CRIME EM O COBRADOR Cloves da Silva Junior........................................................................................................................................250 CONSTITUIO DE UM VOCABULRIO TCNICO BILNGUE SOBRE APRENDIZAGEM DE LNGUAS A DISTNCIA Cristiane Manzan Perine Mrcio Issamu Yamamoto...............................................................................................................................266 EROTISMO E AFIRMAO IDENTITRIA NA FICO ERTICA DE MRCIA DENSER Daiane Alves Silva Luciana Borges.....................................................................................................................................................281 PROCURA DE LEITORES NAS ENTRELINHAS Danilo Pablo Gomes de Oliveira
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Maria Fernanda Costa Goncalves Ulysses Rocha Filho............................................................................................................................................293 REFERENCIALIDADE POLIFNICA E ENSINO DE LITERATURA Diana Pereira Coelho de Mesquita Joo Bsco Cabral dos Santos.......................................................................................................................302 UMA CIDADE DE CRISTAL NO CENTRO-OESTE BRASILEIRO: AS ESTRATGIAS DE CONSTRUO NARRATIVA DA WEBSRIE STUFANA Diego Luiz Silva Gomes de Albuquerque Catarina SantAnna.............................................................................................................................................318 REPRESENTAES DA TRADIO BESTIRIA MEDIEVAL EM PERO DE MAGALHES GNDAVO Edilson Alves de Souza Pedro Carlos Louzada Fonseca......................................................................................................................330 UM ABRAO DA MORTE E DO DESEJO OU O ABRAO? LENDO LYGIA BOJUNGA Edson Maria da Silva Paulo Fonseca Andrade....................................................................................................................................341 PERCEPES DE MAGICALIDADE: ESTTICA DO ABSURDO NA ESCRITA MURILIANA Edson Moiss de Arajo Silva.........................................................................................................................352 A COMPLEXIDADE EM UM CURSO DE FORMAO DE PROFESSORES DE LNGUA INGLESA A DISTNCIA Eliamar Godoi.......................................................................................................................................................363 APONTAMENTOS ACERCA DA ILUSTRAO NO LIVRO INFANTIL: ORIGEM, CONSOLIDAO E REALIZAES EM OBRAS LITERRIAS Eliane Aparecida Galvo Ribeiro Ferreira Fernando Teixeira Luiz.......................................................................................................................................379 AVALIAO DA COMPREENSO LEITORA DE DISCENTE DO ENSINO SUPERIOR Emerson Contreira Mossolin Anderson Luiz Ferreira Adriana dos Santos Prado Sadoyama.........................................................................................................394 DIALOGISMO E POLIFONIA: ENTRE O VERBAL E O NO-VERBAL NO DISCURSO DA REVISTA VEJA ACERCA DA ELEIO E RENNCIA DO PAPA BENTO XVI Fbio Mrcio Gaio de Souza...........................................................................................................................403 LEITURAS QUE ENCANTAM: A APOLOGIA LEITURA ATRAVS DAS OBRAS A PRINCESA QUE ESCOLHIA (2006) E O PRNCIPE QUE BOCEJAVA (2004) DE ANA MARIA MACHADO Fabrcia dos Santos Silva Martins Silvana Augusta Barbosa Carrijo...................................................................................................................417 LITERATURA, HOMOEROTISMO E EXPERINCIA URBANA EM CONTOS DE ANTONIO DE PDUA Flvio Pereira Camargo.....................................................................................................................................427 A ATIVIDADE GARIMPEIRA NO MUNICPIO DE TRS RANCHOS-GOIS: UM ESTUDO SOBRE LXICO, CULTURA E IDENTIDADE Gabriela Guimares Jeronimo
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Maria Helena de Paula.......................................................................................................................................442 A SINGULARIDADE DE UM INTERTEXTO MEDINICO EM TORNO DE UMA DISSERTAO DE MESTRADO Gismair Martins Teixeira...................................................................................................................................455 A VARIAO TERMINOLGICA NO DOMINIO DOCUMENTOS ESCOLARES INDIVIDUAIS Glria de Ftima Pinotti de Assumpo Lidia Almeida Barros..........................................................................................................................................471 LEWIS CARROLL E SEUS CONTEMPORNEOS: ALGUMAS DIVERGNCIAS Guilherme Magri da Rocha Srgio Augusto Zanoto.....................................................................................................................................483 A LEITURA SOB O VIS ENUNCIATIVO Hlder Sousa Santos..........................................................................................................................................492 O DISCURSO DA ORDEM NO ROMANCE 1984, DE GEORGE ORWELL Hllen Nvia Tiago...............................................................................................................................................508 FLORISMUNDO PERIQUITO: A DESCOBERTA DE UM CONTO GOIANO Ionice Barbosa de Campos..............................................................................................................................518 A INTERTEXTUALIDADE EM REPORTAGENS DA VEJA: A REPRESENTAO E IDENTIFICAO DO HOMOSSEXUAL Isley Borges da Silva Junior Maria Aparecida Resende Ottoni..................................................................................................................528 INTERFACE ENTRE TERMINOLOGIA E DOCUMENTAO: LEVANTAMENTO DE TERMOS DE RELATRIOS DE COMPANHIAS FERROVIRIAS PAULISTAS Ivanir Azevedo Delvizio Eduardo Romero de Oliveira..........................................................................................................................548 EMPRSTIMOS, ESTRANGEIRISMOS, CAMPOS LEXICAIS E CULTURA Jaciara Mesquita Rosa Maria Helena de Paula.......................................................................................................................................559 O MEDO REFLETIDO NOS OLHOS DE BOTES E O GTICO ATRAVS DA PORTA EM CORALINE Jssica Cristine Fernandes Mendes Alexander Meireles Silva...................................................................................................................................573 O TEXTO EM QUE ESTRANHO LENDO MARIA GABRIELA LLANSOL Jonas Miguel Pires Samudio Paulo Fonseca de Andrade..............................................................................................................................584 O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM EM UMA SALA DE AULA DE LNGUA INGLESA NO ENSINO FUNDAMENTAL EM PALMAS TO Jnatas Gomes Duarte Marcilene de Assis Alves Arajo Maria Jos de Pinho ..........................................................................................................................................593
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A LITERATURA MULTIDISCIPLINAR BRASILEIRA EM BUSCA DO FIM DA MISRIA: ENTRE RELATOS, FATOS E EXPECTATIVAS Jos Henrique Rodrigues Stacciarini...........................................................................................................604 A DIMENSO MGICO-RELIGIOSA DA PALAVRA EM PRTICAS DO CATOLICISMO POPULAR NA COMUNIDADE RURAL SO DOMINGOS, CATALO (GO) Jozimar Luciovanio Bernardo Maria Helena da Paula.......................................................................................................................................617 INVISIBILIDADE DA IDENTIDADE LESBIANA, RELAES DE GNERO E EROTISMO HOMO-AFETIVO NO CONTO A SEMNTICA DE SINNIMOS, DE LAVNIA MOTTA Juliana Cristina Ferreira Valdeci Rezende Borges...................................................................................................................................634 LANGUAGE AND THE MEDIA: IMPLICATIONS ON LEARNING AND TEACHING ENGLISH PROCESS Justina Ins Faccini Lied....................................................................................................................................651 A CONSTRUO IDENTITRIA NA LITERATURA DE AUTOAJUDA: QUESTES DE LINGUAGEM E CULTURA Lady Daiane Martins Ribeiro Grenissa Bonvino Stafuzza...............................................................................................................................658 LITERATURA, HISTRIA E SERTO EM HUGO DE CARVALHO RAMOS E BERNARDO LIS Leila Borges Dias Santos...................................................................................................................................667 AS POSSIBILIDADES INTERPRETATIVAS DO ELEMENTO ESPACIAL NO CONTO BARRA DA VACA DO AUTOR JOO GUIMARES ROSA Letcia Santana Stacciarini Maria Imaculada Cavalcante...........................................................................................................................680 O ESPAO FICCIONAL NAS NARRATIVAS FANTSTICAS Lilian Lima Maciel Marisa Martins Gama-Khalil............................................................................................................................689 DIALOGISMO EM MEMES UTILIZADOS PELO STJ NO FACEBOOK: INFORMAO PARA LEIGOS OU OFENSA PARA USURIOS? Loraine Vidigal Lisboa Erislane Rodrigues Ribeiro...............................................................................................................................704 A PERFORMATIVIDADE DE UMA (RE) CONSTRUO IDENTITRIA DA MULHER: A FORMAO DISCURSIVA NAS PROPAGANDAS DA BOMBRIL- MULHERES EVOLUDAS Lorena Arajo de Oliveira Borges Henrique Silva Fernandes Ludmila Pereira de Almeida............................................................................................................................716 IRMANDADES DE PRETOS DE GOIS: ANLISE DE DOCUMENTOS SETECENTISTAS NO QUE TANGE S OBRIGAES DOS ASSOCIADOS Luana Duarte Silva Maria Helena de Paula.......................................................................................................................................726 GNERO, ESSE PERFORMATIVO: CONSIDERAES DESDE A VOZ DO OUTRO EM EU E JIMMY, DE CLARICE LISPECTOR Lucas dos Santos Passos
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Luciana Borges.....................................................................................................................................................740 DISCURSO CRTICO CINEMATOGRFICO: SUJEITO E SENTIDOS NA OBRA FLMICA ADEUS LNIN, DE WOLFGANG BECKER Lucas Garcia da Silva..........................................................................................................................................757 CINZAS DO NORTE: CONEXES ENTRE NARRADORES E PERSONAGENS Lucas Haddad Grosso Silva Maria Jos Gordo Palo.......................................................................................................................................777 PERFORMATIVIDADE, GNERO E REPRESENTAES MIDITICAS DA MULHER NEGRA NO HIP HOP: UMA ANLISE DO FILME ANTNIA Ludmila Pereira de Almeida............................................................................................................................792 IDENTIDADE E AUTORREPRESENTAO EM TOADAS DE BUMBA-MEU-BOI Ludmila Portela Gondim...................................................................................................................................801 DILOGOS ENTRE BAKHTIN E CHARAUDEAU: UMA ANLISE DO DISCURSO PUBLICITRIO Maira Guimares Emlia Mendes.......................................................................................................................................................814 LXICO ECLESISTICO PRESENTE NO CDICE DE BATISMO DA PARQUIA NOSSA SENHORA ME DE DEUS (MAIO DE 1837 A SETEMBRO DE 1838) Maiune de Oliveira Silva Maria Helena de Paula.......................................................................................................................................828 ASPECTOS EDUCATIVOS DA CONSTRUO LITERRIA EM GRACILIANO RAMOS: ALEXANDRE E OUTROS HERIS Marcela Ribeiro Juliana Fernandes Ribeiro Dantas Marcos Falchero Falleiros.................................................................................................................................840 REPRESENTAO E REALIDADE NOS DILOGOS DAS GRANDEZAS DO BRASIL Mrcia Maria de Melo Arajo..........................................................................................................................850 MANUSCRITOS DE PARTILHA OITOCENTISTAS DA CIDADE DE CATALO Maria Gabriela Gomes Pires Maria Helena de Paula.......................................................................................................................................864 ARTE PARA CRIANA E O MEU AMIGO PINTOR: A RELAO ENTRE LITERATURA E PINTURA NA NARRATIVA JUVENIL Maria Imaculada Cavalcante...........................................................................................................................872 A PRODUO TEXTUAL EM AMBIENTE ESCOLAR E A PROBLEMTICA DA COERNCIA-COMPREENSO Mariana da Silva Marinho Crmen L. H. Agustini........................................................................................................................................883 O CORPO PROJETADO E RECONSTRUDO: ESTTICA E EROTISMO A SERVIO DA VINGANA Marta Maria Bastos Luciana Borges.....................................................................................................................................................898
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LEITURA NO ENSINO MDIO: UMA PERSPECTIVIA DISCURSIVA Mary Rodrigues Vale Guimares Grenissa Bonvino Stafuzza...............................................................................................................................914 UM ESTUDO LEXICAL DO LIVRO DE REGISTROS DE BATIZADOS EM CATALO (1837-1838): ORIGENS TNICAS DOS NEGROS ESCRAVOS Mayara Aparecida Ribeiro de Almeida Maria Helena de Paula.......................................................................................................................................925 ESPAO, POESIA E SUAS EXPANSES: A CIDADE NA POESIA DE CORA CORALINA E JOS DCIO FILHO Moema de Souza Esmeraldo Maria Imaculada Cavalcante...........................................................................................................................938 PRTICAS DE LEITURA E ESCRITA DE RIBEIRINHOS DO RIO JURU: UM ESTUDO SOBRE A HISTRIA DA LEITURA ACRIANA Nagila Maria Silva Oliveira Henrique Silvestre Soares................................................................................................................................951 PELOS LABIRINTOS DA NARRATIVA METAFICCIONAL EM A RAINHA DOS CRCERES DA GRCIA DE OSMAN LINS Nelzir Martins Costa Flvio Pereira Camargo.....................................................................................................................................964 A POTICA DO SINISTRO: PELA CRIAO DE UM ESPAO GTICO EM DRACULA, DE BRAM STOKER Nivaldo Fvero Neto Luciana Moura Colucci de Camargo............................................................................................................980 A UTILIZAO DE SOFTWARE COMPUTACIONAL EM PESQUISAS CIENTFICAS: EM FOCO O WORDSMITH TOOLS NA EDUCAO Olria Mendes Gimenes.....................................................................................................................................994 UNE COMMUNAUT RELAES ESTTICAS ENTRE BAKHTIN, GLISSANT E ECO NA OBRA TEXACO Olivnia Maria Lima Rocha............................................................................................................................1008 SEN TO CHIHIRO NO KAMIKAKUSHI: VIAGEM AO FANTSTICO ATRAVS DOS MITOS JAPONESES Olivnia Maria Lima Rocha Rychelly Lopes dos Santos............................................................................................................................1020 FORMAO DO LEITOR: NOVAS EXPERINCIAS NAS PRTICAS DE LETRAMENTO Patrcia Barreto Mendona Ana Paula Fontoura Pinto Zila Letcia Goulart Pereira Rgo ...............................................................................................................1040 FORMANDO LEITORES: PRTICAS DE LETRAMENTO LITERRIO NO ENSINO FUNDAMENTAL Paula da Costa Silva Cintia Alves Dias Zila Letcia Goulart Pereira Rgo................................................................................................................1042 UM OLHAR DISCURSIVO SOBRE DIZERES ACERCA DE CRENAS E ENSINO E APRENDIZAGEM DE LNGUA ESTRANGEIRA EM ARTIGOS CIENTFICOS
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Pauliana Duarte Oliveira Ernesto Srgio Bertoldo Carla Nunes Vieira Tavares...........................................................................................................................1049
CONQUISTA E SEXUALIZAO: TROPOS E ENGENDRAMENTO DO ORIENTE EM OS LUSADAS, DE LUS VAZ DE CAMES Pedro Carlos Louzada Fonseca....................................................................................................................1064
A FAZENDA E O SUBSOLO: MADALENAS SILENCIADAS Pedro Henrique Gomes Paiva Maria da Glria de Castro Azevedo...........................................................................................................1074
HARRY POTTER E O WORDSMITH TOOLS: O QUE AS LISTAS DE PALAVRAS, PALAVRAS-CHAVE E CONCORDNCIAS REVELAM Raphael Marco Oliveira Carneiro Guilherme Fromm.............................................................................................................................................1085
A PERSONIFICAO DO MEDO EM SIR GAWAIN E O CAVALEIRO VERDE Raul Dias Pimenta Alexander Meireles Silva................................................................................................................................1097
CONTRIBUIES DA CINCIA LEXICOGRFICA PARA O ESTUDO DA VARIAO LINGUSTICA NO NVEL LEXICAL Rayne Mesquita de Rezende Maria Helena de Paula....................................................................................................................................1108
UMA PROPOSTA ANACRNICA DE ENSINO DE LNGUA INGLESA POR MEIO DA LITERATURA: HOLDEN CAULFIELD FAZENDO USO DO FACEBOOK Rayssa Duarte Marques Cabral....................................................................................................................1123
DEDICATRIAS A JOO ANTNIO: CONTEXTOS DE PRODUO E DE DIVULGAO DE OBRAS ENTRE 1960 A 1990. Renata Ribeiro de Moraes Ana Maria Domingues de Oliveira.............................................................................................................1134
A CONSTRUO DO EROTISMO: PARTICULARIDADES NO UNIVERSO FEMININO DE CLARICE LISPECTOR E LYA LUFT Ronaldo Soares Farias Luciana Borges...................................................................................................................................................1149
ENUNCIADO, ENUNCIADO CONCRETO E SUJEITO RESPONSIVO: UMA ANLISE DISCURSIVA DAS DIRETRIZES CURRICULARES PARA EJA DO ESTADO DE GOIS Rozely Martins Costa Grenissa Bonvino Stafuzza............................................................................................................................1161
DENTRO DA NOITE: O SANGUE COMO INSTRUMENTO ONRICO DE PRAZER Sabrina Mesquita de Rezende Alexander Meireles da Silva..........................................................................................................................1174
LIVRO DIDTICO DE LNGUA INGLESA NO ENSINO MDIO PBLICO DE CATALO - SOBRE OS LIVROS DIDTICOS DE INGLS Sarah Cristina de Oliveira Sebba Alexander Meireles da Silva..........................................................................................................................1184
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POR FEDERICO GARCA LORCA: LITERATURA EM LA BARRACA Simone Aparecida dos Passos Rosangela Patriota...........................................................................................................................................1195
TRS REPRESENTAES DO EROTISMO NA POESIA DE ADLIA PRADO Sueli de Ftima Alexandre Arglo..............................................................................................................1209
A IMAGEM DA SEXUALIDADE NA POESIA DE CORA CORALINA Sueli Gomes de Lima.......................................................................................................................................1217
UM HERI EM OUTROS TEMPOS: O PRIMEIRO LIVRO DA SRIE LAS AMISTADES DE HRCULES Thiago Alves Valente.......................................................................................................................................1229 O IMAGINRIO BESTIRIO MEDIEVAL EM VIAGEM TERRA DO BRASIL, DE JEAN DE LRY, E A COSMOGRAFIA UNIVERSAL, DE ANDR THEVET Vanessa Gomes Franca Pedro Carlos Louzada Fonseca....................................................................................................................1240
A METAFICO NA OBRA A HORA DA ESTRELA, DE CLARICE LISPECTOR Vanessa Rita de Jesus Cruz Flvio Pereira Camargo..................................................................................................................................1251
A INTENSIDADE DA AO PELA LINGUAGEM EM O DESEMPENHO, DE RUBEM FONSECA Vnia Lcia Bettazza Benedito Antunes.............................................................................................................................................1267
CARTA DE PAULO A FILEMOM: UMA ANLISE INTRODUTRIA DO GNERO EPISTOLAR Wesley Nascimento dos Santos Ktia Menezes de Sousa.................................................................................................................................1278
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APRESENTAO
O SIMPSIO NACIONAL DE LETRAS E LINGUSTICA SINALEL-2013, em
sua terceira edio nacional e segunda internacional, prope a discusso de
questes que envolvem Linguagem, Cultura, Identidade e Ensino.
Atendendo a uma demanda por eventos de dimenso internacional, na
rea de Letras e Lingustica, na regio Centro-Oeste do Brasil, o SINALEL j se
constitui um dos principais eventos da rea no interior de Gois.
, sobretudo, um esforo maior da Comisso Organizadora, composta
pelos docentes, funcionrios e alunos do Departamento de Letras da
Universidade Federal de Gois, Campus Catalo, em propiciar condies que
permitam um profcuo debate entre pesquisadores, professores e alunos do
exterior e de todas as regies do pas sobre o tema proposto para esta edio.
A elevada quantidade e qualidade dos trabalhos nas mesas-redondas,
minicurso, conferncias, grupos de trabalhos e psteres deste III SINALEL revela
no apenas o compromisso de todos os organizadores, participantes e
convidados do evento em discutir as inter-relaes entre os temas do Simpsio;
antes, demonstra, indiscutivelmente, a confiana depositada na sua equipe
organizadora e a importncia do SINALEL, que se consolida na comunidade
acadmico-cientfica do pas.
Convidamos a todos e todas, ao acessarem os textos completos das
propostas de trabalho apresentadas no evento, as quais constituem
oportunidade mpar para discutir mltiplas e urgentes questes na rea de
Letras e Lingustica e divulgar o conhecimento produzido por ocasio do III
SINALEL.
A comisso editorial
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MECANISMOS DE CONTROLE E LIBERDADE DO SUJEITO: A LONGA HISTRIA DO CUIDADO DE SI
Adriana Cabral dos SANTOS Universidade Tecnolgica Federal do Paran
Angela Maria Rubel FANINI
Universidade Tecnolgica Federal do Paran
Resumo: A anlise discursiva dos ttulos de livros de autoajuda constitui a preocupao central deste trabalho. Interessou-nos primeiramente avaliar que condies favorveis se estabelecem em nosso tempo para que esse discurso do autoconhecimento surja como enunciaes de um saber sobre o sujeito, enquanto ele pensa a sua prpria constituio, num processo de subjetivao mais marcado pelas prticas de controle que de liberdade. Procuramos efetivar uma possvel leitura comparativa entre as formas de subjetivao inscritas em pocas distintas, baseando nossa investigao no trabalho realizado por Michel Foucault em A Hermenutica do Sujeito, que remete Antiguidade grega e romana numa investigao a respeito dos procedimentos, tcnicas e finalidades do cuidado de si. A partir desses pontos de permanncia e de disperso entre as prticas de si atuais e as antigas tcnicas de si, podemos conceber um pouco mais nitidamente os enunciados que circulam nesse espao denominado de autoajuda. Entrar no terreno frtil da autoajuda conhecer o sujeito voltado para ele mesmo, em busca da verdade sobre si e compreender as relaes de poder que o atravessam sempre e o fazem interpretar; reconhecer os mecanismos pelos quais ele mesmo se identifica num discurso que o convoca numa determinada regio discursiva cujo objeto construdo constantemente o prprio sujeito e onde as evidncias da autoajuda funcionam. Verificamos ainda o paradoxo em que se constitui a autoajuda se considerarmos o lugar de mediao, assinalado pelo livro, entre o indivduo e a realizao de formas-sujeito do conhecimento, enquanto ele busca construir um discurso de verdade sobre si mesmo. Enfim, vemos a prtica do cuidado de si contempornea distanciada do propsito tico e poltico do governo de si que prepara o sujeito para o convvio social.
A Histria vem nos mostrar que, embora date de poucas dcadas a publicao
em massa dos livros de autoajuda (segundo F. Rdiger, essa literatura surgiu no sculo
XIX e, no Brasil, teve sua exploso a partir de 1987, conforme Maestri) a preocupao
do homem civilizado em buscar o conhecimento sobre si mesmo antiga. A procura
pelas formas de subjetivao sempre foi tema de investigao tanto da filosofia como
da poltica, que procuravam avaliar as formas de poder capazes de se manifestar
atravs dessas prticas. Guardadas as devidas propores entre as formas do cuidado
de si na Antiguidade e nos dias atuais, a necessidade do conhecimento de si atravessa
a histria da humanidade assumindo, em diferentes pocas, importantes papeis no
processo de identificao dos sujeitos na sociedade.
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Parece fcil imaginar a que se deve o grande sucesso das obras denominadas
de autoajuda. Alm de oferecerem ao leitor uma srie de supostas solues imediatas
e eficazes para alguns dos males da humanidade, apostam no que parece ser uma das
maiores preocupaes da sociedade ocidental moderna: o investimento em si, a
descoberta do seu verdadeiro eu, uma exigncia constante de autoavaliao e
autopromoo em busca de equilbrio, de sucesso pessoal e profissional, de um
domnio do corpo e da mente. A promessa da autoajuda inclui uma espcie de
conhecimento de si capaz de garantir aos leitores um poder/saber sobre a vida. Um
mecanismo de dominao intersubjetiva que se apoia na individualidade do sujeito,
oferecendo-lhe um discurso de verdade que o faz voltar o olhar para si mesmo e
promover a sua identificao de acordo com os padres de vida e comportamento, o
que qualifica o sujeito e limita sua verso.
O trabalho realizado por Michel Foucault em A Hermenutica do Sujeito (2004)
nos remete Antiguidade grega e romana numa investigao a respeito dos
procedimentos, tcnicas e finalidades do cuidado de si. O que procuraremos efetivar
nesse trabalho uma possvel leitura comparativa entre as formas de subjetivao
inscritas em pocas distintas, baseando nossa investigao nos estudos de Foucault.
No faremos para isso um estudo que interrogue por completo as questes levantadas
pelo autor em seu livro. Os temas e preocupaes desse autor extrapolam os interesses
desta pesquisa. Propomo-nos a verificar apenas como a questo de mediao de outro
nesse discurso do conhece-te a ti mesmo dos gregos poderia funcionar hoje em dia
no discurso da autoajuda, e como poderia constituir sujeitos determinados, em
determinadas pocas. Alm disso, diferentemente de como entendemos as prticas na
Antiguidade, a saber, como mecanismos de liberdade para o sujeito, veremos como as
prticas manifestadas pela autoajuda atual funcionariam como formas de limitao. Por
isso no contemplaremos, mesmo porque no enxergamos essa possibilidade, os
vrios temas abordados pelo filsofo em seu livro. Cabe-nos apenas verificar nas
prticas de si hoje realizadas atravs dos livros de autoajuda as discrepncias em
relao ao passado, principalmente quando tomamos o processo de identificao do
sujeito numa mesma rede de significaes atual em que estariam atuando os conceitos
de controle sobre os indivduos.
A popularidade dos livros de autoajuda e sua aceitao no mercado de livros,
com a garantia de vendagem, j seriam argumentos suficientemente fortes que
poderiam justificar o interesse de estudiosos das reas humanas pelo funcionamento
desses textos to eficazes. Investigar, portanto, como se produzem os sentidos e a
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identidade desses sujeitos leitores parece ser uma preocupao justificvel (e por que
no um desafio) para o analista de discurso, ou, como coloca Francisco Rdiger1, esse
discurso revela-se portador de elementos capazes de nos auxiliarem a compreender
os mecanismos de poder que caracterizam o mundo contemporneo. Em nosso caso,
capaz de construir possibilidades de referencial (identidades) para o sujeito-leitor
dessas obras, de possibilitar ao sujeito um discurso de veridico sobre ele mesmo.
Longe de desejar esboar, ao fim do estudo, um perfil de leitor consciente e
uma identidade nica e reveladora, suscetvel de descrio fechada, o sujeito nos
aparece antes constitudo pelas relaes de poder que o atravessam sempre e o fazem
interpretar, atribuir sentido para o que l, tudo isso enquanto sujeito situado
historicamente e submetido a uma atualizao constante da memria discursiva.
Entrar no terreno frtil da autoajuda conhecer o sujeito voltado para ele mesmo, em
busca da verdade sobre si; reconhecer os mecanismos pelos quais ele mesmo se
identifica num discurso que o convoca numa determinada regio discursiva cujo objeto
construdo constantemente o prprio sujeito e onde as evidncias da autoajuda
funcionam.
No h enunciado que no suponha outros, afirma Foucault (2002, p. 114). Ler
o ttulo da autoajuda ler tambm os no-ditos que esto presentes em sua
constituio e que limitam o espao de seu aparecimento. Dessa forma, preciso
entender o caminho de significaes percorrido pelo sujeito que l esse ttulo, numa
dada situao singular da enunciao, at atribui-lhe sentido, no qualquer um, mas
aqueles j previamente selecionados e controlados pela ordem simblica a que os
sujeitos esto submetidos. Assim, avaliaremos o processo de construo de sentidos,
analisando, atravs de possveis formulaes de parfrases, um domnio associado em
que circulariam e seriam interpretados determinados enunciados vistos como
caractersticos da autoajuda.
Conforme Foucault (2002, p. 137-144), no a totalidade das significaes, nem
a origem dos dizeres e muito menos a inteno individual do falante que devemos
focalizar neste trabalho. A anlise dos enunciados deve observar a lei de raridade de
seu aparecimento, a exterioridade de sua formulao, sem remet-la a uma
subjetividade fundadora, e o acmulo de enunciados, dado pela remanncia, pela
aditividade e pela recorrncia destes.
1RDIGER, Francisco. O governo atravs da autoajuda. Disponvel em: .
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H uma urgncia instituda em nosso tempo e que nos faz voltar o olhar para
ns mesmos fato. Mas qual a natureza desse olhar? O tempo para o cuidado de si
mesmo essencial tambm hoje. Seja atravs dos produtos de beleza, dos exerccios
de academia, das roupas da moda ou da cirurgia plstica, o apelo ao cuidado do visual
assume cada vez mais seu status de utilidade. Preocupar-se consigo mesmo ainda
pode receber do sujeito moderno uma outra verso: a de que necessrio voltar o
olhar para si com o objetivo claro de preparao para o trabalho, de instruo, de
construo de um marketing pessoal. Ou ainda teramos a inteno da cura dos males
mais imediatos de nosso corpo, e tambm da alma, ao associarmos a autoajuda com a
sade e a longevidade.
Estes seriam alguns dos exemplos de como se desenharia em nosso tempo um
esboo do sujeito e da preocupao que ele tem consigo. Naturalmente essas
manifestaes do cuidado de si no caberiam nas formas antigas. Mas h algumas
formulaes que percorrem a histria do cuidado de si em diversas prticas filosficas
e de diversas pocas. Algumas dessas frmulas foram citadas por Foucault (2004) e
parecem valer como evidncias ainda hoje:
o princpio do cuidado de si foi formulado, convertido em uma srie de frmulas como ocupar-se consigo mesmo, ter cuidados consigo, retirar-se em si mesmo, recolher-se em si, sentir prazer em si mesmo, buscar deleite somente em si, permanecer em companhia de si mesmo, ser amigo de si mesmo, estar em si como numa fortaleza, cuidar-se ou prestar culto a si mesmo, respeitar-se, etc. (p. 16).
Todas essas coeres surgidas e legitimadas pela nossa poca agem no
indivduo e o fazem atribuir a esse tipo de cuidado o sentido de uma evidncia. Quem
no o pratica no vive plenamente, pois que no v a si mesmo como primeira
instncia de preocupao. fundamental para o sujeito o conhecimento de si, a busca
por alguma substncia interior que possa superar a simples observncia de fatores
externos como, por exemplo, a beleza. nesse embate entre beleza exterior e beleza
interior que surge, como mais digna de valorizao, o cuidado com a alma, o aceitar-se
a si mesmo como , o nascimento do amor a si prprio, a valorizao de uma suposta
individualidade que nica, por mais redundante que possa parecer. Assim, antes de
anular a primeira forma de olhar para si, ou seja, a que valoriza o visual, ao se
preocupar com o ser interior que o habita, o sujeito levado a encontr-lo para
substituir uma realizao esttica que lhe falta, aquela legitimada constantemente para
ser modelo. H uma relao de dependncia entre esses dois olhares. Quem no se
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considera bonito ou preparado o suficiente para os padres de nossa poca, procura
enxergar em si uma determinada beleza ou um certo poder construdo sempre nessa
volta do olhar para a sua verdade interior. A beleza divulgada e exigida pelas diversas
mdias no pertence a todos. Resta autoajuda criar nos demais indivduos um
dispositivo que os faa se considerarem importantes, necessrios e ativos. No
interessa a nossa sociedade atual, altamente competitiva, um sujeito deprimido,
insatisfeito e indefinido. A autoajuda, numa primeira investigao, parece-nos como
mecanismo mesmo de compensao ao indivduo, que, para identificar-se com o
suposto interlocutor da autoajuda, j est posicionado num determinado lugar de
submisso, incapacidade e deficincia, afetado que pela ordem discursiva. Dessa
forma, a produo de sentido para ttulos como Deve ser bom ser voc ou Voc
do tamanho de seus sonhos, ou ainda Autoestima: aprendendo a gostar mais de
voc est condicionada situao em que o enunciado de autoajuda encontra o
sujeito no momento da enunciao, como vimos anteriormente. Se este discurso
encontra o sujeito disponvel para essa avaliao, pois se instaurou nele a urgncia da
autoestima, ento ele faria significar esses discursos com um valor de verdade.
Nesse ponto de nossa argumentao, vale perguntar: quais so as coincidncias
entre esta forma do olhar para si e as prticas da Antiguidade grega e romana? Havia
nelas algum mecanismo de compensao como parece existir hoje? Seria esta
necessidade atual de autovalorizao uma injuno prpria do ser do sujeito ou uma
obrigao tornada em evidncia pelas condies poltico-econmicas de nossa poca?
J havamos nos comprometido a vislumbrar essa possvel relao. Assim, recuperando
Foucault (2004):
Temos pois, se quisermos, no nvel das prticas de si, trs grandes modelos que historicamente se sucederam uns aos outros. O modelo que eu chamaria platnico, gravitando em torno da reminiscncia. O modelo helenstico, que gira em torno da autofinalizao da relao a si. E o modelo cristo, que gira em torno da exegese de si e da renncia a si. (p. 313).
Acreditamos que muito pouco das prticas de si do passado funcionem ainda
hoje, embora algumas formulaes circulem como evidncias. A injuno ao
conhecimento de si, ao retorno a si e necessidade de olhar para si uma prtica que
se atualiza atravs dos livros de autoajuda. Mas as semelhanas entre o cuidado de si
hoje e na Antiguidade param nesse aspecto. A partir de que lugar o sujeito se v para
significar a autoajuda? Qual o objetivo desse olhar para si? Sob que condies ele
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poder atingir seu objetivo? Todas as respostas a essas perguntas esto, diferenciadas
das prticas da Antiguidade por se inscreverem como operaes de dominao e no
prticas de liberdade. Deixemos por hora essas questes mais especficas, que sero
retomadas mais adiante. Voltemos para uma perspectiva geral, pensando em como a
autoajuda manteria com os modelos de prtica de si antigos uma relao de ruptura e
permanncia. Diramos ento que o discurso contemporneo da autoajuda:
1. no conta com a renncia de si para se inscrever como verdadeiro, pois
interpela justamente seu interlocutor enquanto exigncia de valorizao de
si. No h exigncia de transformao do ser do sujeito nem tampouco a
trajetria de busca pela mudana. O sujeito apresenta-se pronto e deve
apenas ser encontrado, enfim. (Apaixone-se por voc ou A coragem de ser
voc mesmo)
2. parece legitimar uma determinada reminiscncia do ser, aquele at ento
nunca encontrado pelo sujeito, mas que est sempre l em sua verso
acabada. (Saiba quem voc . Seja o que quiser ou Sua mente sabe mais do
que voc imagina)
3. remete o sujeito a uma relao consigo mesmo (autofinalizao), mas
algumas vezes aparece apenas como percurso para que ele alcance um
objetivo fora dessa relao. (Como fazer todo mundo gostar de voc ou A
mgica de conquistar o que voc quer)
A partir desses pontos de permanncia e de disperso entre as prticas de si
atuais e as antigas tcnicas de si, podemos conceber um pouco mais nitidamente esse
espao denominado de autoajuda. Nesse campo de discursos, a renncia no
significaria, uma vez que rompe com a ideia de valorizao de si. Como bem observa
Foucault, a renncia est inscrita nas prticas crists, que muitas vezes no coincidem
com as da autoajuda. Enquanto a autoajuda significa a partir da tica do
individualismo, da valorizao si mesmo, no cristianismo essa verdade dada pela
palavra, pelo Texto, e o divino considerado em detrimento do individual. Mas
tampouco a reminiscncia e a autofinalizao permanecem como sentidos inalterados
ao longo da histria do cuidado de si.
No exerccio atual do autoconhecimento, faltaria o mecanismo da
reminiscncia, pois o sujeito j pr-conhecido e pr-definido pelo outro, que
apresenta carter impositor de uma identidade secreta, desconhecida apenas pelo
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sujeito-leitor. Esse encontro com a essncia do sujeito, que deveria se dar apenas na
relao de autoavaliao, um saber j indicado pelo enunciador. Um outro, que o
enunciador e que se coloca como legtimo para afirmar Acredite! Voc pode mudar sua
vida, oferece ao seu interlocutor um poder, um domnio sobre si mesmo que j
controlado e oferecido como verdade j conhecida. Quem diz Acredite! , pois,
conhecedor da possibilidade do acontecimento. Assim, como aceitao de uma
essncia criada de antemo, de um modelo, que o sujeito, numa posio de
enquadramento, interpelado por uma certa ideologia do poder, da obrigao de
conhecer a si mesmo e que faz parecer como bvia a necessidade de conceber-se
como capaz de controle sobre si e senhor de verdades sobre si. Diante de seus
prprios olhos, o interlocutor da autoajuda surge como nico a quem ainda no foi
revelada a sua reminiscncia. Instaura-se assim uma urgncia maior para justificar o
autoconhecimento.
Outra caracterstica do processo de reminiscncia nas prticas de si diz respeito
a uma busca do sujeito pelo acesso verdade. Na Antiguidade, esse encontro se dava
somente atravs de um reconhecimento do divino no ser mesmo do sujeito.
(FOUCAULT, 2004, p. 97). E essa condio a identificao com o divino no aparece
mais atravessando o discurso da autoajuda. Essa interveno divina, se evocada hoje,
a ttulo de palavra divina, certeza que se d j pronta, sem contestao, agindo como
reguladora. H um discurso que espera do sujeito que ele assuma uma verdade sobre
si, mas no qualquer verdade; esse discurso da autoajuda fornece ao sujeito uma
verdade acabada que submete o sujeito a um lugar determinado. Tal verdade
alcanada pelo sujeito atravs do conhecimento, para Foucault (2004, p. 16), aquela
que postula que o sujeito, tal como ele , capaz de verdade, mas que a verdade, tal
como ela , no capaz de salvar o sujeito. Faz parte desse discurso permitir ao
sujeito-leitor que ele, independentemente de quem seja, ou em que condies se
encontre, identifique-se nessa posio de leitor equipado para ter acesso verdade, a
partir da relao consigo mesmo. No h exceo para a autoajuda: todos os
indivduos pertencem ao grupo dos escolhidos e tero, sob a condio da
autoavaliao, a possibilidade de encontrar a verdade sobre si e alcanar o
conhecimento. O apelo que circula nas mais diversas mdias hoje, instaura no indivduo
essa demanda a enxergar-se e a preocupar-se consigo. Portanto, necessidade criada,
cujo mecanismo de aquisio dado pelas verdades da autoajuda apenas enquanto
uma transmisso de um saber terico ou uma habilidade, como afirma Foucault, e
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no como uma operao que incide sobre o modo de ser do prprio sujeito. (2004, p.
165 e 166).
Isso foi o que julgamos importante destacar sobre a prtica da renncia e da
reminiscncia, ambas atualizadas, tendo seu sentido alterado no moderno discurso da
autoajuda.
Interessa tambm a este estudo, principalmente quando pensamos a autoajuda
na atualidade, a questo da autofinalizao convertida em um conceito que, aliado ao
individualismo, numa leitura atual, inscreve-se como negativo e no positivo, em
oposio Antiguidade. O modelo econmico neoliberal escala como evidncia o
individualismo, e o torna regra para existncia do sujeito. O discurso de que cada um
deve ser responsvel pelo seu sucesso, e tambm seu fracasso, carrega a noo de
individual como uma certa justificativa para a subjetivao. Confirmando essa
afirmao, vemos em Foucault:
Como soam aos nossos ouvidos, estas injunes a exaltar-se, a prestar culto a si mesmo, a voltar-se sobre si, a prestar servio a si mesmo? Soam como uma espcie de desafio e de bravata, uma vontade de ruptura tica, uma espcie de dandismo moral, afirmao-desafio de um estdio esttico e individual intransponvel. Ou ento, soam aos nossos ouvidos como a expresso um pouco melanclica e triste de uma volta do indivduo sobre si, incapaz de sustentar, perante seus olhos, entre suas mos, por ele prprio, uma moral coletiva (...), e que, em face do deslocamento da moral coletiva, nada mais ento teria seno ocupar-se consigo. (2004, p. 16 grifo nosso).
Esse individualismo negativo, que poderia interferir na leitura positiva que o
leitor deve realizar para fazer valer as verdades da auto-ajuda, apagado por outro
discurso, cuja justificativa para voltar o olhar para si mesmo enxergar uma finalidade
fora de si, que no permita ao indivduo ver um fim em si mesmo. No mais para o
conhecimento e o cuidado, como valores justificveis, que as prticas de ajuda se do.
Quem compra um livro de autoajuda procura mais que o contato consigo mesmo para
se achar capaz de verdade sobre si. Esse comprador-leitor adquire tambm o resultado
final que essa relao consigo mesmo pode lhe proporcionar: uma finalizao, um
objetivo que permita sua incluso no mundo, seja ele o mundo do trabalho, das
relaes amorosas, das relaes mais cotidianas etc.
O eu como objeto a ser alcanado, e unicamente esse eu, uma leitura
associada ao individualismo, incapacidade do sujeito de apresentar-se singularizado
numa coletividade. Por isso esse leitor que assume um compromisso com seu prprio
eu, assume-o para traar para si e para os outros, um esboo de sua autenticidade.
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Esse subjetivismo crescente que alimenta o moderno mercado da personalidade,
conforme Rdiger bem coloca, no pode ser separado de uma tendncia ao
fechamento do eu sobre si mesmo, formao de um eu mnimo, o que levaria o
indivduo ao individualismo extremo, quando faltaria a ele o contedo moral da
personalidade. , pois, enquanto autenticao para esse tipo de conduta do sujeito, a
saber, aquele que v em si, ou na descoberta e valorizao de sua identidade, uma
forma de enquadramento em nossa comunidade, que a autoajuda considerada
mecanismo que trabalha para perpetuar a construo de sujeitos previsveis. Um
discurso que oferece ao sujeito modos de ao, inclusive sobre si mesmo, mas que so
pr-determinados, reservados e selecionados pelas ideologias de nossa poca e que
tem sua apario na materialidade dos discursos sobre o comportamento. Por tudo
isso, no consideramos similares as prticas de si baseadas na autofinalizao quando
comparamos a Antiguidade e a modernidade.
Assim como h esse novo sentido atribudo individualidade, o conceito de
cio (otium) tambm v modificadas as suas leituras. Ter tempo para preocupar-se
consigo era, nas prticas de si da Antiguidade, essencial para a descoberta de si
mesmo. Ocupar-se consigo era um preceito de vida, um privilgio que exigia tempo e
era um luxo que s os senhores das famlias mais abastadas poderiam se permitir. Por
isso delegavam seus afazeres domsticos e atividades do campo aos criados para
poderem ocupar-se consigo mesmo (FOUCAULT, 1994, p. 121).
Um pouco mais tarde, j incorporado como um preceito prprio vida
filosfica, o cuidado de si era um afazer que deveria conduzir a vida de todos os
sujeitos desde a juventude at a sua velhice. No mais como privilgio de poucos, mas
como um dever e uma tcnica, uma obrigao fundamental e um conjunto de
procedimentos cuidadosamente elaborados (FOUCAULT, 1997, p. 122).
No mais o momento do cio, da no-atividade o tempo certo de pensar em
si. Agora, j como preceito filosfico, a prtica de si tem como suporte a
multiplicidade das relaes sociais. Isto , na vida cotidiana, atravs das mais diversas
relaes, deve-se aplicar um servio de alma, e no mais em momentos exclusivos.
Por isso essa prtica de si ganha mais importncia na construo de subjetividades, na
apario de um sujeito que se preocupa toda a vida com a relao que deve manter
consigo mesmo.
Nos discursos da autoajuda no podemos ver trabalhar nem o conceito de cio,
assim como era significado na Antiguidade, como uma condio primordial para o
cuidado de si, nem a importncia das relaes sociais no trabalho de direo da alma.
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Em primeiro lugar, a fora do discurso da produtividade e da ocupao ininterrupta do
corpo e da mente no cedem lugar, no jogo discursivo, necessidade do cio para
pensar o sujeito em relao a si mesmo, porque parece se constituir um saber dado
instantaneamente (A mgica de conquistar o que voc quer e Saiba quem voc . Seja
o que quiser), o que no demanda tempo nem muito sacrifcio. Em seguida, vemos que
as relaes sociais que poderiam possibilitar a conduo da alma, e estabelecer um
cuidado que presumisse o outro como participante da modificao do sujeito, so
apagadas no discurso prprio da autoajuda contemporneo. O mximo de
intersubjetividade garantido apenas pela figura do enunciador-autor do livro, que
oferece ao seu interlocutor-leitor uma verdade j testada, aprovada e indiscutvel como
frmula de sucesso. Mesmo essa relao entre um mestre e seu discpulo aparece
diferenciada nos discursos atuais da autoajuda. Esse ser o tema abordado mais
adiante. Por ora cabe ainda lembrar que os discursos da autoajuda mantm com as
prticas de si da filosofia antiga uma correspondncia estreita, se no pela manuteno
e repetio de enunciados e conceitos, pela disperso dos discursos e pela
regularidade que os organiza e que permite a sua apario em determinadas pocas.
At aqui procuramos mostrar, resumidamente, em que sentido as prticas de si
na atualidade, configuradas no contexto da autoajuda, poderiam diferir daquelas em
que a liberdade do sujeito que instituiria uma relao entre sujeito e sua verdade, e
no as formas de controle sobre os indivduos, como realiza a autoajuda. Mas no
poderemos deixar de evocar tambm uma outra relao, que seria a relao com o
outro, mediador de subjetivao.
Para tentarmos entender essa necessidade de um outro no processo de
subjetivao, citamos uma passagem do texto de Foucault (2004), quando o autor se
refere s prticas de si na Antiguidade grega e romana:
O indivduo deve tender para um status de sujeito que ele jamais conheceu em momento algum de sua existncia. H que substituir o no-sujeito pelo status de sujeito, definido pela plenitude da relao de si para consigo. H que constituir-se como sujeito e nisso que o outro deve intervir. (...) o mestre um operador na reforma do indivduo e na formao do indivduo como sujeito. o mediador na relao do indivduo com sua constituio de sujeito. (p. 160)
Pensando em quem ocuparia hoje o lugar do mestre, encontramos este espao
preenchido pelo livro, assinado por um autor que a si delega o poder de ajudar o outro
na constituio do sujeito. No entanto, essa posio de mediador no se transfere to
facilmente, nos dias atuais, para o livro de autoajuda.
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Antes de considerarmos a anlise da mediao do outro no discurso do
conhecimento de si, devemos remeter a dois problemas que se colocam. Primeiro, a
questo da mediao s realizada se h um processo, pelo qual passa o sujeito, de
reconhecimento e cuidado de si. Sem essa transformao, sem essa virada do olhar do
sujeito para si mesmo, parece no haver condio para a mudana. Para mediar essa
transformao, preciso que haja um espao para que o eu-enunciador (o outro que
fala) conduza o seu interlocutor, que se encontra em estado de ignorncia, e o faa
manter uma relao de verdade sobre si mesmo. (Foucault, 2004). Mas se no h
trajetria, se no h o deslocamento do sujeito em direo a si mesmo, onde estaria o
espao da mediao? Se h na autoajuda uma verdade acabada, um saber transmitido
e sacramentado como verdade a ser aceita, o papel da mediao perde o seu valor. O
outro que fala ao sujeito como ele deve agir ao olhar para si mesmo, apontando
unicamente como caminho uma receita de procedimentos coletados fora desse sujeito,
trabalha para o discurso da autoajuda e no mais um mediador, mas um impositor,
um transmissor de verdades, papel assumido pelo autor do livro. Se esse o papel do
outro, do eu-enunciador, o de apenas atestar verdades, no h mudana, no h
liberdade do sujeito para buscar, atravs do discurso de verdade sobre si, que no
demanda transformao.
Em segundo lugar, mesmo sem trajetria, sem deslocamento do sujeito,
devemos reconhecer que a subjetivao pode se dar. Resta saber qual a sua natureza.
O sujeito que olha para si mesmo e assume como sua aquela verdade apresentada
pelas teses da autoajuda no precisa necessariamente realizar o trabalho do
conhecimento de si. Essa permanncia do sujeito num mesmo lugar, embora em
movimento sobre si mesmo, no d ao sujeito o que as prticas do cuidado de si
deveriam promover. Rodando sobre si mesmo, mas por fora externa, busca atribuir
sentido ao discurso que ouve sobre si prprio, at assumir como sua uma identidade
controlvel, uma subjetividade j valorizada, que apresentada ao sujeito para que ele
a incorpore em seu discurso e passe a reconhecer-se nesse tal modelo de
subjetividade. O exemplo do homem capaz, do homem bem sucedido profissional e
amorosamente, assim como aquele que controla suas emoes e defeitos. Essas seriam
algumas das subjetividades que deveriam ser assumidas pelos sujeitos como
expresso da verdade.
Alm da insistncia em indicar sempre subjetividades j atestadas, a prtica de
si contempornea, representada pela autoajuda, parece fazer tambm com que o
trabalho do sujeito se resuma a reconhecer a ignorncia que ele tem da sua ignorncia.
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Por isso acreditamos no haver de fato mediao. No h um caminho que leve o
sujeito, a partir do contato com o eu prprio, a um estado de sapientia. O mximo que
o discurso da autoajuda consegue induzir o movimento do olhar do sujeito para si
mesmo, e assim ele permaneceria sempre num mesmo lugar, ou seja, diante de sua
incapacidade ou de uma identidade dada de antemo para ele. Vejamos como
Foucault (2004) exemplifica esse movimento sobre si mesmo, atravs do que ele
chamou de metfora do pio:
O pio gira sobre si, mas gira sobre si justamente como no convm que giremos sobre ns. O que o pio? alguma coisa que gira sobre si por solicitao e sob o impulso de um movimento exterior. Ademais, girando sobre si, ele apresenta sucessivamente faces diferentes s diferentes direes e aos diferentes elementos que lhe servem de circuito. E por fim, embora permanea aparentemente imvel, na realidade o pio est sempre em movimento. (p. 255, grifo nosso)
E por conta dessa confuso de faces dadas e percebidas pelo sujeito, que h
uma dificuldade de apreenso de um modo de ser. No podemos confundir, no
entanto, a mediao apresentada por Foucault e o transmissor da autoajuda, esse,
sim, comparado ao tal impulso exterior, cuja fora movimentaria o pio. O outro
como intermedirio na transformao do sujeito , segundo Foucault (2004) essencial:
A constituio de si como objeto suscetvel de polarizar a vontade, de apresentar-se como objeto, finalidade livre, absoluta e permanente da vontade, s pode fazer-se por intermdio de outro. (...) o cuidado de si necessita da presena, da insero, da interveno do outro. (p. 165)
Portanto, como j falvamos anteriormente, no podemos pensar o contato
consigo mesmo fora da relao com o outro, um mediador. Por isso reconhecemos
desde o incio que a relao entre um eu que fala e um voc que ouve, como posies
intercambiveis, so especialmente constitutivas das prticas de si, cujo campo de
funcionamento parece exigir que se resgatem sempre essas identidades para que haja
subjetivao. Mas, se no o papel de transmissor que garantir a liberdade do sujeito
em seu processo de autoconhecimento, como deve agir um mediador que opera a
relao de um sujeito consigo mesmo, sempre como exerccio de liberdade? Temos em
Foucault um esboo da atividade que cabe a esse mediador: uma espcie de
operao que incide sobre o modo de ser do prprio sujeito, no simplesmente a
transmisso de um saber que pudesse ocupar o lugar ou ser o substituto da
ignorncia. (2004, p.165-166).
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Ou ainda, um tema muito importante em toda histria da prtica de si e, de
modo mais geral, da subjetividade no mundo ocidental (Foucault, 2004), temos, a
partir da poca clssica, a figura do mestre, do mediador que:
No mais aquele que, sabendo o que o outro no sabe, lho transmite. Nem mesmo aquele que, sabendo que o outro no sabe, sabe mostrar-lhe como, na realidade, ele sabe o que no sabe. No mais nesse jogo que o mestre vai inscrever-se. Doravante, o mestre um operador na reforma do indivduo e na formao do indivduo como sujeito. o mediador na relao do indivduo com sua constituio de sujeito. (p. 160).
Por tudo que j colocamos at aqui, podemos ler a citao acima no situada
no campo da autoajuda, como a conhecemos atualmente, justamente porque ela
funcionaria antes como verdade submetida aceitao pura e simples do seu leitor em
potencial, no sendo necessria para isso qualquer modificao do sujeito. Por isso no
mestre, no mediador, mas, como j apontamos, um transmissor, capaz apenas de
insurgir-se diante do sujeito como aquele que domina um conhecimento emprico, e
que , ao mesmo tempo, denuncia, pela sua presena, um outro que no detm esse
determinado saber e vive na ignorncia sobre si mesmo. O objeto de desejo do
indivduo que se coloca na posio de leitor passa ento a ser, diante do que oferece a
autoajuda, no mais o trabalho de constituio de si prprio, mas seu objetivo, aquilo
que ele busca mais que tudo, sair da ignorncia e assumir uma identidade de sujeito
que lhe garanta a incluso em um grupo social determinado.
Resgatada a importncia do outro enquanto mediador que pe o sujeito em
relao consigo mesmo, e tambm a verificao de que o autor/livro de autoajuda
representa atualmente apenas o transmissor de uma verdade absoluta sobre seu
interlocutor, pois no abre espao para a liberdade do sujeito, inscrevemos a autoajuda
como prtica contempornea de controle de identidades, um poder que agiria sobre o
sujeito pelo discurso que ele prprio vai legitimar como seu. No podemos entender,
no entanto, que a liberdade do sujeito se caracterizaria pelos dizeres que ele, em sua
origem, ou essncia, criaria a despeito das discursividades que circulam em nossa
sociedade. Esse seria o sujeito como origem do dizer sobre si. Entendemos que o
sujeito se constitui pelo discurso que, por sua vez, est submetido a procedimentos de
controle e seleo (FOUCAULT, 1996, p.8 e 9). Mas ao voltar o olhar para si, o sujeito,
mediado pelo outro, deve manter um olhar um pouco menos ingnuo sobre as formas
de constituio de identidades que atuam como evidncias sobre ele, e que ele possa
efetuar em si mesmo certas operaes, certas transformaes e modificaes que o
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tornaro capaz de verdade (FOUCAULT, 2004, p. 234). Assim, a liberdade surgiria como
capacidade de agir sobre si pela escolha da inscrio de uma verdade como a verdade
do/ para o sujeito, na tentativa de instaurar outras subjetividades que no aquelas j
legitimadas pela mgica da autoajuda.
Que verdade buscaria o sujeito quando procura os livros de autoajuda? A sua
verdade, uma iluso necessria de sua singularidade. E se o sujeito se d pela
linguagem, como j havamos mencionado, nela, na linguagem, que vemos
construrem-se as verdades sobre o sujeito. No em outro lugar. Assim, quando o
indivduo se submete subjetivao, entra em contato consigo mesmo, estimulado
pelo discurso autossuficiente da autoajuda, e passa a assumir aqueles dizeres como
seus, como verdade sua, e faz coincidir para si o sujeito que diz e o sujeito que faz. Esse
material discursivo, que garante ao sujeito solucionar os problemas mais cotidianos,
constitui-se de uma srie de dizeres que procuram interferir no modo de ser e agir do
sujeito. So as verdades fixadas para ele e por ele. Sem posio clara, o sujeito no se
faz, nem para ele, nem para o outro, por isso a necessidade do reconhecimento. Isso
quando a subjetivao se d, e uma verdade sobre si mesmo inscrita na memria do
sujeito como se fosse sua em origem.
No entanto, no podemos atribuir todo esse poder a um discurso (em nosso
caso, o discurso da autoajuda) que mais fala sobre o sujeito, mais o toma como
objeto, do que o prepara para um contato consigo mesmo, numa prtica que deveria
retomar a ascese2 filosfica, e capacitar o sujeito de uma paraskheu3 , para que ele,
por intermdio de uma modificao de seu modo de ser, pudesse chegar ao
conhecimento e, ento, conseguisse agir sobre si com liberdade para tornar-se sujeito
de veridico, ou melhor, tornando-[se] sujeito ativo de discursos verdadeiros sobre
si. (FOUCAULT, 2004, p. 504).
Se como objeto que o sujeito surge no discurso verdadeiro da autoajuda, uma
determinada subjetivao do indivduo no acontece, pois estando presente como
objeto, sobre quem se fala a verdade, no h necessariamente uma relao de
autoconhecimento, mas a ideia de um discurso que fala de mim e que no meu.
2Ao contrrio da noo de ascese crist, seria o conjunto mais ou menos coordenado de exerccios disponveis, recomendados e at mesmo obrigatrios, ou pelo menos utilizveis pelos indivduos em um sistema moral, filosfico e religioso, a fim de atingirem um objetivo espiritual definido. (FOUCAULT, 2001, p. 504). 3 Para Sneca esta armadura do indivduo em face dos acontecimentos e no a formao em funo de um fim profissional determinado. Para Epicuro, a equipagem, a preparao do sujeito e da alma pela qual o sujeito e a alma estaro armados como convm, de maneira necessria e suficiente, para todas as circunstncias possveis da vida com que viermos a nos deparar. (FOUCAULT, 2001. p. 115 e 293).
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Distribuio, portanto, intermediada pelo livro de autoajuda, de algumas verdades a
saber sobre o sujeito, todas elas autenticadas pelos discursos de nossa poca: seja
pelo discurso do individualismo, como atitude possvel num mundo neoliberal; seja em
carter de compensao de deficincias; seja na posio de sujeito incapaz de
autoavaliao. Esse lugar de sujeito , ento, preenchido por indivduos que enxergam
em si mesmo uma certa incapacidade para se autodefinir, e que no encontram espao
para si em seu prprio dizer. Mas tampouco cabe ao discurso eficiente da repetio
dar conta das formas de subjetivao, j que no chega a funcionar, muitas vezes,
como ajuda para o autoconhecimento, pois no realizado para fazer do sujeito
aquele que capaz de produzir discursos verdadeiros sobre si. Quando o sujeito
examina o que entende como sua conscincia, diante do que ele l como verdadeiro
sobre si, numa conferncia de valores, tenta articular em si aquelas verdades. Essa
necessidade que persegue o sujeito e o faz significar-se, atravessa-o sempre, e garante
autoajuda o seu pblico. Ou seja, repetio de um pretenso discurso sobre si, que
no ultrapassa o nvel da constatao de um saber que pode ser admitido pelo sujeito
como seu. No h sujeito da enunciao do discurso verdadeiro (Foucault, 2004, p.
401), o que caracterizaria a subjetivao.
Em suma, a (re)produo que o sujeito faz de discursos sobre si, discursos que
o tomam como objeto do dizer, no lhe garante o status de sujeito da verdade sobre
si. Mesmo quando as verdades da autoajuda traduzem-se para o sujeito-leitor como
suas, elas s fazem sentido se inscritas nos termos de uma verdade legal, econmica e
politicamente aceita. o exemplo de discursos to contraditrios como Seja voc
mesmo e que circula no mesmo espao que outros como Seja eficiente, seja
dinmico, seja capaz. Que imagem de autenticidade e liberdade essa? O regime em
que se significam os discursos sobre a prtica de si est marcado pelo conflito.
Pensemos num enunciado, dado como ttulo: Voc decide como se sente (o
poder da escolha emocional). Entre que opes pode decidir o sujeito? O campo das
decises do sujeito enquanto identidade legal, jurdica limitado. Mas essa evidncia
aparece s vezes apagada. A mesma possibilidade de escolha do sujeito vemos
aparecer no ttulo Que tipo de pessoa voc quer ser?, no qual a pergunta j instaura a
falta, a escolha e o enquadramento (Que tipo?).
A autoajuda fala de um sujeito que no coincide com o sujeito do ato.
Principalmente quando, ao significar o enunciado de que ele pode tudo ou de que
ele pode escolher como ser, atravessado por outros enunciados que limitam a sua
atuao no mundo emprico em que vive. Esse discurso milagroso do Seja o que voc
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quiser muitas vezes escapa do reconhecimento feito pelo sujeito de que um dizer
verdadeiro, e o discurso no o consegue interpelar como evidncia. assim que o
consulente identifica esses discursos como improvveis, como uma verdade que no
a sua, mas que um leitor da autoajuda se prope a aceitar. Objeto, portanto, do
desejo, objetivo a ser alcanado, mas no o discurso institudo pelo sujeito em situao
de conhecimento de si.
Considerando o que averiguamos at aqui, parece haver algo de produtivo na
incitao do sujeito a dizer, a assumir uma verdade, a declarar uma existncia
caracterstica dele mesmo. Ao discurso da autoajuda basta que seja repetido, s vezes
exausto, para que uma verdade possa aparecer. Confessar-se capaz ser capaz;
confessar que pode poder. Destacamos aqui as formas de confisso, que no podem
ser entendidas apenas como sacramento no contexto religioso. A injuno a confessar
ao outro ou a si mesmo uma verdade, ou um saber que se tem sobre si e o mundo,
uma prtica que vem ganhando cada vez mais fora. Recuperamos Foucault quando
afirma, em Histria da Sexualidade I, que a confisso passou a ser, no Ocidente, uma
das tcnicas mais altamente valorizada para produzir a verdade. (1988, p. 59).
O carter probatrio que a confisso passa a exercer, enquanto reconhecida
como mecanismo de produo das verdades mais essenciais, mais profundas do
sujeito que confessa, faz desses discursos a representao da verdade, e atesta de
antemo todo dizer como verdade absoluta. Na crena de uma essncia, de uma
verdade original, confessar pode ser um processo de diferenciao, de individualizao
de um sujeito entre outros. Por isso dizer algo sobre si identificar-se pelo discurso.
Foucault (1988) nos fala dessa individualizao:
O indivduo, durante muito tempo, foi autenticado pela referncia dos outros e pela manifestao de seu vnculo com outrem (famlia, lealdade, proteo); posteriormente passou a ser autenticado pelo discurso de verdade que era capaz de (ou obrigado a) ter sobre si mesmo. A confisso da verdade se inscreveu no cerne dos procedimentos de individualizao pelo poder. (p.58)
Revelar aos outros e a si mesmo uma capacidade, uma competncia ou uma
falha, parece permitir o encontro do sujeito com o ser interior que o habita. Essa
sensao da descoberta de si pela confisso toma sempre o sujeito como um objeto do
discurso verdadeiro, e est longe de proporcionar a modificao no ser mesmo do
sujeito, como era pensada no interior das prticas de si na filosofia antiga. Mais do que
ausncia de modificao do sujeito, a autoajuda um campo de discursos
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contraditrios: h aqueles discursos que incitam procura do seja voc mesmo,
enquanto outros exigem do sujeito um reconhecimento em si de qualidades
valorizadas em nossa poca: liderana, controle emocional, dinamismo, objetividade
etc. Diante desta miscelnea de faces, perde o sujeito a possibilidade do conhecimento
de si e do cuidado de si. Ganha ele um discurso acabado e um enquadramento social.
Para finalizar, reafirmamos a nossa posio de que os discursos da auto-ajuda
funcionariam mais como mecanismo de objetivao do sujeito do que de subjetivao.
H mais presente na atualidade a necessidade de dizer algo sobre si e menos a
preocupao de ser um sujeito tico, capaz de assumir-se como sujeito de uma
verdade, responsvel pela atuao social. Um indivduo que valoriza sobremaneira a
identidade , por isso, mais facilmente absorvido por ela e, assim, submetido aos
processos de identificao, dentre os quais a autoajuda tem um papel especial. Um
ttulo altamente positivo e aparentemente inocente, como Ser Voc, ilustra bem a
jornada do homem contemporneo na busca por um contorno, ainda que mvel, de
uma personalidade funcional, que atenda s exigncias da sociedade de sua poca,
sem deixar de singularizar sua existncia como sujeito.
Consideraes Finais
Procedemos anlise dos ttulos de livros de autoajuda, considerando-os como
enunciados materialmente existentes (Foucault, 2004, p.389), ou seja, como
exemplares legtimos para uma avaliao terica, j que os analisamos enquanto
lngua inscrita na histria, e mais exatamente, numa histria sobre as prticas de si.
Mencionamos por isso o trajeto histrico do que foi chamado por Foucault de prticas
de si, realizando a leitura de alguns modelos atuais de identificao de subjetividades,
presentes na autoajuda, luz dessas prticas antigas.
Mais adiante, investigamos as questes de poder entre as posies de sujeito-
enunciador e sujeito-leitor. Verificamos, ento, que h uma definio de lugares de
discurso que so assumidos pelo enunciador / interlocutor: aquele surge como
manifestao do saber (aquele que sabe) e denuncia pela sua prpria condio, um
outro, um interlocutor que no sabe, e que por isso submete-se ao saber do outro.
Deste ponto, partimos para a avaliao da importncia do outro na autoajuda e de
como sua prpria denominao (autoajuda) constitua-se num paradoxo. Necessidade
do outro, muito embora no tenhamos considerado o livro (na figura de seu autor)
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como mediador e, sim, como transmissor de verdades sobre o outro. A autoajuda seria
mais um modo de limitar o aparecimento de subjetividades que um mecanismo de
subjetivao inserido numa prtica de liberdade.
Universalidade do apelo, raridade da salvao (Foucault, 2004. p.148). No
reconhecemos a autoajuda alada livremente qualidade de salvao do indivduo.
Est presente em toda a histria do homem o apelo sempre retomado para que o
sujeito olhe para si numa atitude de autoconhecimento. Contudo, identificamos o lugar
deste reconhecimento limitado objetivao do sujeito num discurso que fala a
verdade sobre ele, mas que no subjetivado por ele. A prtica do cuidado de si v-se
distanciada, hoje, de seu objetivo poltico: governar a si para poder governar os outros
(Foucault, 2004) sobre a base do individualismo e da noo jurdica de sujeito que se
constri atualmente a relao do indivduo consigo mesmo. E a autoajuda exemplo
disso.
Ao contrrio da mediao realizada nas prticas de si da poca helenstica e
romana, trabalhadas por Foucault em seu livro A Hermenutica do sujeito (2004), os
livros de autoajuda no abrem espao para a liberdade do sujeito na construo de sua
subjetividade; elas seriam realizadas como forma de dominao, modos de controle
que fabricam posies distintas: aquele que sabe denunciando, pela sua presena,
aquele que no sabe. Por isso, consideramos importante avaliar tambm o paradoxo
da autoajuda, pois que se sustenta pela existncia de uma identidade autossuficiente,
mas que se constri numa relao que conta com a presena do outro.
Para finalizar, resgatemos a preocupao j apontada por Foucault a respeito da
reconstituio de uma tica do eu na atualidade:
(...) parece-me no haver muito do que nos orgulharmos nos esforos que hoje fazemos para reconstituir uma tica do eu. (...) possvel suspeitar que haja uma certa impossibilidade de constituir hoje uma tica do eu, quando talvez seja esta uma tarefa urgente, fundamental, politicamente indispensvel, se for verdade que, afinal, no h outro ponto, primeiro e ltimo, de resistncia ao poder poltico seno na relao de si para consigo. (2004, p. 306)
Tarefa urgente qual, discretamente, procuramos acrescentar algumas linhas.
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