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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VOZ DO MESTRE
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL AOS ALUNOS DO SEGUNDO
SEGMENTO DO ENSINO PÚBLICO FEDERAL,
DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.
SUELI PEREIRA NUNES
ORIENTADORA
Profª Yasmim Maria M. Madeira da Costa
Rio de Janeiro, RJ, Fev./2002
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS
PROJETO A VOZ DO MESTRE
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL AOS ALUNOS DO SEGUNDO
SEGMENTO DO ENSINO PÚBLICO FEDERAL,
DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO.
SUELI PEREIRA NUNES
Trabalho monográfico apresentado como requisito
parcial para a obtenção do Grau de Especialista em
Psicopedagogia.
Rio de Janeiro, RJ, Fev./2002
2
A minha mãe que sem ela seria impossível a
realização do curso, ao meu marido, aos meus
amigos do Colégio Pedro II, Unidade Engenho
Novo II; Sérgio Magalhães; Maria Inês, Maria
Isaura, Jorge Luiz Dimuro, diretor da Unidade
Escolar e a João Luiz coordenador de turno.
3
Aos meus filhos: Lília de 14 anos, o meu grande
sonho; Sílvia de 8 anos, a concretização do
sentimento de mãe e Luiz Sérgio de 3 anos, um
sonho realizado por completo.
4
“O principal objetivo da educação é criar homenscapazes de fazer coisas, mas não simplesmente derepetir o que outras gerações fizeram – homenscriativos, inventivos, e descobridores. O segundoobjetivo da educação é formar mentes que possamser críticas, possam verificar e não aceitar tudo oque lhes é oferecido. O maior perigo é não aceitartudo o que lhes é oferecido. O maior perigo, hoje, ‘eo “Hoganir”, opiniões coletivas, tendências depensamento “ready mades”.Temos que estar aptos a resistir individualmente, acriticar, a distinguir entre o que está provado e oque não está. Portanto, precisamos de discípulosativos, que aprendam cedo a encontrar as coisas porsi mesmos, em parte por sua atividade espontânea e,em parte, pelo material que preparamos para eles,que aprendam cedo a dizer o que é verificável e oque é, simplesmente, a primeira idéia que lhesveio.”
Jean PiagetIn Piaget Rediscoverd Ripple and Rockcastle (ed)Cornell University, 1964.
5
INDÍCE
RESUMO ....................................................................................................................... 06
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 07
CAPÍTULO I - ARISTÓTELES E A EDUCAÇÃO ............................................................... 10
CAPÍTULO I - ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL BRASILEIRA .... 132.1. A Resolução de 1964, como paradigma no processo educacional ......................... 132.2. As influências políticas das Leis de Diretrizes e Bases 5692/71 ............................ 152.3 As mudanças ocorridas na educação escolar com a lei de Diretrizes e Bases9394/71 ................................................................................................................................................... 17
CAPÍTULO III - ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA ............................. 203.1 Origens da Orientação Educacional .......................................................................... 203.2 A Orientação Educacional no Brasil ......................................................................... 233.3 Orientação Educacional, Teoria da Educação ........................................................... 23
CAPÍTULO IV - A FUNÇÃO DA ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO ABORDAGEMCOMPORTAMENTALISTA DE IKINNER ................................................................ 274.1 Abordagem sócio-histórico de Vygostoky .............................................................. 30
CAPÍTULO V - CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE PARA EDUCAÇÃOESCOLAR ............................................................................................................................................. 335.1. A educação segundo Freud ....................................................................................................... 33
CAPÍTULO VI - ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL COMO FUNÇÃOESTRUTURADORA DA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA ........................... 36
CAPÍTULO VII - A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA PRÁTICA ESCOLAR ... 397.1 Integração aluno à Escola e a Sociedade .................................................................. 397.2 Desenvolvimento Físico e Emocional do aluno ....................................................... 427.3 O lazer do aluno, saúde física e mental .................................................................... 477.4 Orientação vocacional ao aluno ................................................................................ 487.5 Aproveitamento escolar – responsabilidade, organização e disciplina .................... 527.5.1 Lista de problemas específicos comuns nas séries indicadas ................................ 54
CONCLUSÃO ...................................................................................................................................... 56
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................................................... 59
6
RESUMO
Cada indivíduo aprende a ser um homem. O que a natureza lhe dá quando nasce não
lhe basta para viver em sociedade. O filósofo Aristóteles acreditava que a natureza é um
conjunto de elementos naturais que são capazes de produzir o movimento do homem e de
conduzi-lo ao fim. Assim, os objetos naturais possuem impulso interior que os leva ao
movimento e à mudança. Porém, o movimento não existe na natureza: ele está presente,
igualmente nos atos dos homens, como seres físicos. Os homens numa sociedade são
diferentes uns dos outros e por isso reagem diferentemente a um mesmo estímulo ambiental,
como conseqüência, na medida em que eles expandem seus conhecimentos, modificam sua
relação cognitiva com o mundo. Essa relação é feita através da escola que oferece as
atividades educativas, diferentes daquelas que ocorrem no cotidiano extra-escolar, são
sistemáticas e t6em uma intencionalidade que é conduzida pela Lei de diretrizes e Bases da
Educação. Na escola os vários tipos de reações comportamentais, se devem aos diferentes
padrões usuais de reação e de interação do indivíduo com o meio físico social. Há várias
teorias explicativas do desenvolvimento da personalidade nesta monografia utilizamos as
teorias psicanalítica de Freud, da aprendizagem social de Ikinner e da teoria histórico-cultural
de Vygotsky. Como a pesquisa tem a intenção fundamental no trabalho pedagógico escola, a
Orientação educacional, que é um processo educativo que visa relacionar as experi6encias dos
educandos com as suas características físicas, intelectuais, sociais, morais, religiosas,
emocionais. Visa, outrossim, operar uma educação permanente e integrada, utilizando, para
tanto as atuações educativas, sistemáticas e assistemáticas. É portanto, processo contínuo e
qualitativo. Procura prevenir desvios e estimula o processo de maturação da personalidade,
num sentido equilibrado e harmônico. Entendida deste modo, a orientação é uma função
estruturada da intervenção psicopedagógica, um recurso disponível às instituições
educacionais em seu conjunto e a seus diversos subsistemas. Sua finalidade é a de contribuir
para prevenir possíveis disfunções ou dificuldades, para compensar ou corrigir àquelas que
7
tinham surgido e visa a potencializar e a enriquecer o desenvolvimento dos indivíduos e dos
sistemas que integram a instituição educacional, sua organização e seu funcionamento. Assim
está essa monografia com a intenção de minimizar uma realidade social da Escola Pública
Federal do Rio de Janeiro, através da interação psicopedagógica mas valorizando e
reconhecendo todo histórico de nossa educação brasileira.
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INTRODUÇÃO
A presente monografia compõe-se de um conjunto de pesquisas teóricas da Educação
e da parte prática da Orientação Educacional aos alunos do segundo segmento do Ensino
Fundamental.
Procura obter resposta, mesmo que provisória para a questão, pois o fenômeno
educativo, por sua própria natureza, não é uma realidade acalada que se dá a conhecer de
forma única e precisa em seus múltiplos aspectos.
O capítulo I refere-se a educação, segundo a filosofia de Aristóteles, que já
manifestava um desejo de mudança para uma educação integral, uma noção do homem
cultivado, com base em sua participação política, sua personalidade, moral e sua capacidade
criadora. O capítulo II, está inserido o conhecimento dos conceitos expressos nas leis;
identifica como o educador foi obrigado a seguir certos rumos teóricos que, a luz de nossa
realidade socioeconômica cultural, resultaram inadequados. No capítulo III, o objetivo deste
tópico é mostrar que os aspectos destacados no início da Orientação Educacional, podem ser
compreendidos quando referidos a uma dada situação e em dado período de tempo. O capítulo
IV, de acordo com as teorias comportamentalista, a dimensão técnica e privilegiada, ou seja,
os aspectos objetivos, mensuráveis e controláveis do processo são enfatizados em detrimentos
dos demais e a teoria sociocultural de Vygotsky inscreve a questão do desenvolvimento
cognitivo em uma perspectiva ao mesmo tempo histórica e cultural. Dois componentes
supostamente desempenham um papel primordial neste processo: o sistema simbólico e a
interação social. No capítulo V, enfatiza as críticas de Freud à educação, como sendo uma das
principais fontes das neuroses, por conta da repressão efetuada sobre os impulsos infantis, e
sua defesa em prol de uma educação mais liberal. No capítulo VI, menciona a psicopedagogia
9
como estruturadora da Orientação Educacional. No capítulo VII, refere-se a Orientação
Educacional sempre relacionada às ocorrências do cotidiano, pois a ela se prendem fatores
que estão acontecendo na escola ou na família, e que se reflete nos estudos ou no
comportamento do aluno. E, enfim, tem-se a conclusão da pesquisa sobre toda monografia.
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CAPÍTULO I
ARISTÓTELES E A EDUCAÇÃO
Segundo a filosofia pedagógica de Aristóteles, as origens primeiras e naturais dessas
duas artes que buscam o melhor e o superior são a imitação (mimêsis) e a música, que se
exprimem de duas maneiras a instrução do criador e o ensino daquele que a recebe. Por
intermédio da imitação, elas procuram tornar o homem melhor que o homem natural e
histórico, encorajando dessa forma uma melhoria na natureza e da história. O homem, com
ajuda da poesia e da educação, toma em suas próprias mãos o funcionamento da natureza e
age em seu lugar, num nível superior.
Na natureza humana, pondo-se de lado o instinto de auto-conservação, existe também
o instinto do progresso e da evolução. O homem é o único ser a Ter nas mãos, graças à
educação e à arte, a capacidade proméica da evolução. Esse instinto se manifesta, na imitação
poética e pedagógica, por meio da instrução e da alegria. Essas duas necessidades têm por
missão satisfazer a poesia e a educação e, numa coexistência essencial, satisfazer a poética da
educação, que deve ser aprendida pelos jovens para que eles pratiquem o necessário e o
benefício, mas principalmente o belo e o superior. Chegando a esse ponto, Aristóteles
menciona que o instinto de imitação é bem mais desenvolvido no homem do que nos animais
e que se manifesta no homem desde sua mais tenra infância, mediante o jogo, que o filósofo
considera um meio importante de ensino e de formação do caráter. Além disso, ele considera
que o jogo é a imitação de todas as tarefas sérias, que constituem o objeto da educação das
crianças, quando se tornam maiores. Logo, a imitação é o princípio de instrução e de alegria.
Aristóteles, fala de instrução, e não de conhecimento, para mostrar que a palavra
instrução deve ser tomada aqui no sentido amplo do termo, como conhecimento do
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conhecimento e como conhecimento do que alguém pode conhecer. O objeto da imitação
poética e pedagógica é o melhor, o melhor e o mais lógico, o mais justo e o mais belo. Trata-
se, da parte do criador (artista ou pedagogo), de um gênero de abstração mediante o qual ele
procura apresentar o caráter, a essência e o núcleo dos fenômenos, sejam eles objetos naturais
ou ocorrências psíquicas.
A educação como movimento tem duas definições fundamentais: a do movimento e a
da educação, em sua relação semântica. A primeira referência ao conceito de movimento
aparece na Física e na Metafísica, mas também nos movimentos de animais e nos problemas.
Entretanto, Aristóteles examinou e estudou sistematicamente o tema na Física. Nesse livro, a
natureza constitui o princípio do movimento e da mudança. O filósofo acredita que a natureza
é um conjunto de elementos naturais que são capazes de engendrar o movimento e de
conduzi-lo a um fim. Assim, os objetos naturais possuem um impulso interior que os leva ao
movimento e à mudança. Porém o movimento não existe somente na natureza; ele está
presente igualmente nos atos dos homens, como seres físicos.
Tanto para a natureza como para as ações humanas, o movimento é a transição do
potencial ao ativo, isto é, passar a capacidade à realização. É um efeito o processo pelo qual o
potencial se realiza, transformando-se em ativo. É do final desse processo de movimento que
resulta o objeto pronto.
Aristóteles contribuiu de modo considerável para completar a imagem teleológica da
educação na antigüidade clássica. Concretizou e especificou a noção de felicidade, que
consideram o objeto fundamental de sua teoria política e pedagógica. Nele o valor pedagógico
da contemplação da virtude torna-se em hábito ativo, que supera o racionalismo socrático. O
conhecimento da virtude, por si só, não é o suficiente, para determinar o comportamento do
homem. É preciso exercício e esforços laboriosos para se chegar lá. Assim, a virtude,
associada às noções do fazer e do agir, torna-se uma das noções mais fundamentais da
educação no âmbito de uma pedagogia ativa, que ainda hoje constitui o objetivo principal da
reflexão pedagógica moderna.
Além disso, a contemplação da virtude como aquisição do indivíduo no âmbito de um
organismo político, que ao mesmo tempo determina, constitui de fato um desafio para a
educação, numa pedagogia moral que não se apoia numa idéia abstrata do bem, mas pelo
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contrário, se realiza em ligação com a vida sã do Estado e a doutrina da felicidade, tanto no
plano individual como no plano coletivo. Aristóteles exige uma participação total dos
cidadãos nos atos políticos do Estado, esse é o fundamento, poderíamos dizer, de alguns dos
princípios básicos da educação política e social moderna do cidadão ativo.
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CAPÍTULO II
ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO NACIONAL BRASILEIRA
2.1. A Resolução de 1964, como paradigma no processo educacional
A Revolução de 1964, representou o colapso do populismo democrático, regime de
colaboração entre o Estado, a burguesia industrial e as massas trabalhadoras, que se tornara
enfraquecida por suas próprias contradições, pelos erros estratégicos cometidos e pelo
fortalecimento das oposições cível e militar. Os militares chegaram ao poder e neles se
instalaram, como representantes de uma nova ordem que era imposta no país.
Para o capitalismo nacional e internacional 1964, representou o momento de participar
diretamente da engrenagem política do sistema, criando as bases de um modelo de
desenvolvimento tecnoburocrático, que controlou diretamente uma parcela imensa da
economia nacional, estabelecendo a política fiscal, monetária, financeira, salarial, habitacional
e de intervenção direta na economia capitalista, através das grandes empresas estatais. Esse
grande governo alia-se à grande empresa capitalista que incumbe-se da produção: esta adota
uma tecnologia moderna, reabre subsídios e financiamentos do governo, capta grande parte da
poupança nacional através da obtenção de grandes lucros e dos recursos do mercado de
capitais. Era, no entanto, por sua natureza intrínseca, uma política, concentradora de renda,
agravadora dos desníveis e desajustes sociais, provocadora do aumento da dependência
externa, pois, as grandes obras públicas empreendidas se fizeram com base em empréstimos
externos, com taxas de juros “pume rate”, a curto e médio prazos e causadoras de uma crise
inflacionária, que conduziria o país a uma terrível rescisão econômica, a desvalorização da
moeda, ao achatamento salarial e outros terríveis males.
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O país chegou a viver a fase do “milagre Brasileiro” (1968-1973)1, alardeado
intensamente pela mídia eletrônica e pelos meios de comunicação, sujeitos a severa censura.
Nesse momento, a dívida externa era cada vez mais aumentada, pois para esse crescimento
econômico, o país dependia, em grande parte, de investimentos em infra-estrutura, importação
de máquinas sofisticadas, equipamentos industriais e combustíveis e mais empréstimos
externos.
As classes trabalhadoras de baixa renda não participavam desse “festival milagroso”.
Reprimidas em suas livres manifestações sindicais, com seus líderes mais significativos
punidos e cassados, assim tiram praticamente sem protestar, ao arrocho salarial a que eram
submetidos.
O “Milagre Brasileiro”, também atingiu o campo da educação, que deveria ser
amoldados aos novos tempos. Era necessário adaptar a educação ao binômio. Segurança
Nacional, Desenvolvimento Econômico, para evitar a volta aos velhos tempos e condicionar a
juventude aos “tempos revolucionários”, fazendo da educação em assunto de interesse
econômico e de segurança. A supervisão escolar foi imposta à educação brasileira, passando a
exercer a função de controladora da qualidade de ensino e de criação de condições que
promovessem sua real melhoria, visando racionalização, a eficiência e a produtividade como
valores absoluta, incorporando os pressupostos e a linguagem das teorias de administração de
empresas. A supervisão escolar foi imposta como uma necessidade de modernização e de
Assistência técnica, afim de garantir a qualidade do ensino e assegurar a hegemonia a classe
dominante. Torna-se então visível influência norte-americana nos assuntos educacionais
brasileiros, que já era clara antes de 1964, através de uma política de alianças entre Brasil e
Estados Unidos, da qual resultou na área de ensino, a criação do PABAEE (Programa
Americano Brasileiro e Assistência do Ensino Elementar), destinado a formar lideranças que
atuariam como reprodutores das relações capitalistas no interior do sistema educacional
brasileiro e que funcionou no Brasil no período de (1957 a 1963), sendo extinto no governo
João Goulart e substituído pelo Centro Nacional de Educação Elementar.
2.2. As influências políticas das Leis de Diretrizes e Bases 5692/71
Com a Revolução de 1964, a influência norte-americana foi restabelecida através do
famoso acordo MEC-USAID e daí vão resultar a Reforma Universitária de (1968) e a Lei de
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Reforma de Ensino de 1º e 2º graus (Lei 5692/71). Para eles, ao nível do ensino secundário, o
país passou a oferecer 70% de vagas nas escolar públicas, quando antes de 1964, o ensino
privado oferecia 74% das vagas. Nas universidades, passamos para mil universitários em cada
100 mil habitantes, quando antes de 1964, tínhamos a proporção de 132 estudantes em escolas
superiores, inspiradas pela Argentina, Chile e Uruguai, em larga escala e em situação melhor,
apenas, que o Haiti, Guatemala e Honduras. No entanto, o Ministro poderia, da mesma forma,
dizer que esses números seriam significativamente aumentados se, muitos estudantes,
especialmente de nível universitários, não tivessem caído nas malhas do Malfadado Decreto
477, sendo punidos e expulsos de suas universidades e tendo que optar pelo caminho do
exílio, indo completar os seus estudos fora do país e se alguns que, optaram pela radicalização
política, não tivessem caído, mortos diante das forças de segurança. Muitos professores,
inclusive, até mesmo, o atual presidente da república, foram impedidos de lecionar e de
transmitir aos jovens seus conhecimentos.
Não houve muita preocupação com o ensino primário, que no período de (1960/1973),
cresceu 107,3% enquanto o ginasial cresceu 391,7%, o colegial 455% e o superior 197,5% e
que a escolaridade ativa em 1973, não ultrapassava 17 anos. É necessário ressaltar, no
entanto, que houve uma ampliação acentuada no ensino universitário, em virtude de expansão
do setor privado no ensino superior, em estabelecimentos isolados. O crescimento dessas
matriculas, nesses estabelecimentos no período de (1960/1972), alcançou o nível de 983%,
enquanto, os das universidades públicas não superou a 440%. Isso reindividou em um
decréscimo da qualidade do ensino, agravada pelos critérios de seleção para ingresso no curso
superior, realizados de forma geral, através de testes de múltiplas escolhas.
Apesar de todos os poderes autoritários possuídos pelos governantes da época, não foi
realizada a grande obra inovadora do ensino-básico, não retiramos o país dos índices
vergonhosos de concentração de renda, qualidade de vida, mortalidade infantil, doenças
endêmicas e epidêmicas, desníveis e diferenças regionais. Aumentamos a quantidade de
escolas, mas fizemos decrescer, de forma cruel, o nível de qualidade de nosso ensino,
especialmente com relação ao ensino público. Preferimos, influenciados pelo poder norte-
americano, copiar modelos estrangeiros, alienígenas, sem procurar adaptá-los inclusive, às
nossas realidades.
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A nível de ensino público, assistiu-se uma decadência acentuada, por sua formação
inadequada e pela desvalorização econômica salarial da profissão, assistindo-se as primeiras
greves de professores, no final da década de 70 e início da 80.
Como um fruto da época do “Milagre Econômico” e da influência do famoso Acordo
MEC-USAID, surgiu a Lei 5540 de 28/11/68, que fixou normas para a organização e
funcionamento do ensino superior e sua articulação com a escola média. Volta-se a tradição
rompida pela Lei 4024/61 que, ao fixar as Diretrizes e bases da Educação Nacional, legislou
para 3 níveis do ensino, o primário, secundário e o superior, para analisar, em legislação
separadas, os diferentes níveis de ensino. Ao buscarmos as origens dessa Reforma
Universitária, vemos que ela foi criada entre outros motivos para evitar a pressão dos
excedentes sobre as Universidades, quem em 1969, atingiu a cifra de 58,3%. Aliás essa
reforma, aliada a Lei 5692/71, procurou conter efetivamente a expansão do ensino
Universitário ao dar, através da Segunda lei, caráter à terminalidade do ensino de 2º grau,
tornando profissionalizante e estabelecendo como em um dos objetivos do ensino de 1º e 2º
graus, com o núcleo comum, obrigatório em Âmbito Nacional e uma parte diversificada, para
atender as peculiaridades locais, aos planos dos estabelecimentos e as diferenças individuais
dos alunos, a possibilidade de organização semestral dos currículos, no ensino de 1º e 2º graus
e da matrícula por disciplina no 2º grau, a instituição obrigatória da Orientação Educacional
com a valorização do aconselhamento vocacional, a estruturação do Ensino Supletivo, para
suprir a escolarização para adolescente e, proporcionar estudos ou aperfeiçoamento ou
atualização para os que tivessem segundo o ensino regular ou em parte.
A Lei, sobretudo foi revolucionária, ao proceder a unificação entre o primário e o
ginásio com a inclusão do 1º grau, entre os estudos de caráter compulsório e gratuito, mas ao
mesmo tempo, foi utópica ao garantir essa gratuidade, em um país, onde, desde 1824; as
constituições garantiram esse princípio, com exceção das de 1891 e 1937, sem que houvesse
condições práticas para a execução do princípio Constitucional.
2.3 As mudanças ocorridas na educação escolar com a lei de Diretrizes e Bases 9394/71
A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, conhecida pela sigla
LIB, foi aprovada em 17 de dezembro de 1996, promulgada em 20/12/96 e publicada no
Diário Oficial da União em 23/12/96.
17
As medidas tomadas pelo governo, ainda que partam de necessidades reais e
respondam com algumas competências e essas necessidades, padecem de uma incapacidade
congênita de as resolver. Isto porque a lógica que as preside as toma presas de um círculo
vicioso tirado de paradoxo.
Na verdade ela não é inovadora, em termos do que seriam os desafios modernos da
educação. Introduz componentes interessantes, alguns atualizados, mas, no todo predomina
visão tradicional, para não dizer tradicionalista. A Lei reflete, aí, nada mais do que a letargia
nacional nesse campo, que impede de perceber o quanto as oportunidades de desenvolvimento
dependem da qualidade educativa da população. É difícil fugir da constatação de que a elite
interessa, pelo menos em certa medida, a ignorância da população, como tática de
manutenção do status giro. Esta percepção torna-se tanto mais complicada, porque para parte
da elite já não poderia interessar o atraso, por que este não lhe dá mais lucro. A
competitividade de moderna da economia está intrinsecamente conectada com a questão
educativa, ainda que a fixe no trabalhador. Entretanto, mesmo assim, pode se afirmar que um
trabalhador que não sabe pensar já não é útil para a produtividade moderna.
Acontece que o mercado competitivo precisa de energia inovadora do conhecimento, o
que permite valorizar – sob risco – a educação, desde que seja possível fazer convergir
educação e conhecimento (inovação), os educadores precisam postar-se ao lado da educação
(cidadania), se responder a um posicionamento unilateral com o oposto.
Nesse contexto, é necessário perceber que a teoria e a prática da educação no país são
terrivelmente obsoletas. O Brasil é um dos países mais atrasados do mundo nessa parte. A
LIB não redime essa chaga, por mais que lance perspectivas inovadora, aqui e ali.
Embora se trate de uma lei de educação, diz-se no Art. 1º, 81º, “esta lei disciplina a
educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio de ensino, em instituições
próprias. Se olharmos bem para o significado usual do termos “ensino”, percebe-se que, no
fundo, ficamos com a “aula”, como protótipo da educação escolar, o que certamente
representa algo no mínimo medieval”. Nenhuma teoria moderna importante daria aval a esse
tipo de percepção tem-se, por trás, o “esquema ensino-aprendizagem”, na clivagem arcaica
que separa aquele que ensina daquele que aprende. Uma das marcas da educação moderna
18
está precisamente em não reconhecer um “profissional de ensino”, já que o educador
autêntico é o autêntico profissional da aprendizagem.
Considera-se erro grosseiro tomar a aprendizagem do aluno como resultado de uma
atividade chamada ensino, primeiro, porque não se trata de uma ocorrência necessária e,
segundo, porque não é aí situação de ensino que resulta aprendizagem. As ditas teorias de
instrução representam postura ultrapassada, porque refletem o ambiente equivocado de
treinamento, que vem de fora para dentro e de cima para baixo, ao passo que as modernas
teorias acentuam o papel central e insubstituível de esforço reconstrutivo do aluno, ainda que
sob orientação crítica de um processo e um contexto social. A aprendizagem legítima supõe,
ao lado do esforço reconstrutivo do aluno, que precisa pesquisar, elaborar, reconstruir
conhecimentos com qualidade formal e política, o ambiente humano favorável, no qual se
destaca o papel do professor. Assim, se fizermos a distinção entre fatores endógenos e
exógenos da aprendizagem, diremos que, no lado endógeno, o esforço reconstrutivo do aluno
é a alma do negócio, e, no lado exógeno, a presença dinâmica é a condição principal e o que
revela, ademais, o contexto necessariamente social da aprendizagem.
Parece bastante claro que a Lei reflete em tom maior ou menos, a mesma
despreocupação típica da história brasileira no campo educacional. O mundo anda numa certa
velocidade, enquanto no Brasil se permite ficar “olhando a banda passar”, como se o
problema não lhe dissesse respeito. A questão mais grave é que não se trata apenas de
despreocupação, mas, em grande medida, de um compromisso histórico com a ignorância
popular.
Somos, todavia, levados a crer que ainda não tomamos a sério o problema da educação
no país, porque fica a impressão de que os avanços se devem sobretudo a “concessões”, diante
de uma realidade que já não se poderia ignorar. Ao mesmo tempo, reaparece a ironia
profundamente sarcástica a política que mais estaria próxima da renovação do país, e
exatamente aquela que menos se renova, não só por conta de entraves clássicos ao sistema,
mas igualmente pelo corporativismo interno, que sempre em benefícios próprios, por vezes
ridículos, aos interesses da população.
Convém, ressaltar algo muito positivo: pela primeira vez no pensamento educacional
brasileiro (ele se refere na lei, não é criado por ela), toma o planejamento como ferramenta
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mais importante do que o regime para implementação de processos pedagógicos. De fato, a
obrigação de uma proposta pedagógica, sobrepõe-se no texto da lei do regimento.
Em muitos campos de ação, mais sobretudo, em educação, sempre foram – e – são
importantes as idéias. Mas idéias não realizadas na prática, isto é, não transformadas em ação
servem apenas para prazer do debate e da compreensão. E se a educação, sobretudo a escolar,
não trabalha com igualdade de importância nestas duas dimensões (a produção de idéias e a
organização de ferramentas para torná-las realidades não acontecerão as transformações
necessárias.
Agora, pela primeira vez de uma forma concreta e não apenas genérica, a Lei manda
usar ferramentas construídas pela teorização do planejamento nas últimas quatro décadas.
Desde aquele tempo, muitas escolas trabalham com o que chamamos sua filosofia.
Atualmente, os estados realizam-se sobre o que denomina “Projeto Pedagógico” ou, com mas
força, “Projeto Político-Pedagógico”. Mais do que isto: a corrente do planejamento que vai
ficando conhecida como “Planejamento Participativo” e que busca fazer, para as instituições
cujo primeiro fim é o de contribuir para a construção da sociedade, caso das escolas.
A Lei mesmo com os riscos tradicionais graves, a começar pela expectativa de que
vale ou menos, às vezes vale a pena, sobretudo pelo caráter doseducativo, e também porque
não é a Lei que faz, que inventa a realidade. Ela somente pode contribuir na direção de
impulsionar um progresso continuado favorável à aprendizagem do aluno, e nesse contexto,
do desenvolvimento do país todo. No fundo, a Lei é um problema de cidadania: a qualidade
de uma lei é diretamente proporcional à qualidade da cidadania. Só vale na medida em que
vale a cidadania. Uma cidadania qualitativa aproveitaria a flexibilidade pedagógica da Lei
exatamente para favorecer o aluno e a sociedade como tal.
20
CAPÍTULO III
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA
3.1 Origens da Orientação Educacional
A orientação educacional tem origem na orientação que se fazia nos EUA em torno de
1930. Para a orientação profissional é necessário retornar às origens da própria orientação
profissional.
A orientação profissional é conseqüência das mudanças científicas, tecnológicas e
industriais nas últimas décadas do século XIX, que assinalaram profundas transformações
estruturais na sociedade de então. Para compreendê-las, é preciso referenciar os movimentos
que antecederam o século XIX, quanto ao trabalho e à escolarização.
O trabalho sempre existiu na sociedade dos homens. A divisão ente o trabalho
intelectual para os dominantes e o trabalho manual para os dominados, acentuando a divisão
do trabalho entre as duas classes antagônicas, recebem uma justificativa divina durante longos
séculos. A esta divisão do trabalho também correspondem a desigualdade de escolarização
oferecida. A educação tradicional, transmissora da cultura, das ciências e das artes era
privilégio da classe dominante. A escola profissional, de ofícios, que ensinava somente as
primeiras letras, era para os dominados.
A revolução do século XVIII, proclamando a igualdade de direitos, evidenciou a
oposição de interesses entre as diversas categorias sociais do Terceiro Estado (burguesia,
classes populares urbanas e o campesinado) com o predomínio posterior da burguesia sobre as
demais categorias, esta toma a si o encargo da instrução como forma de legitimação no poder.
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Isto é, o Estado burguês encontra na publicação da instrução uma forma de tomar coisa toda a
sociedade (...), e de articular os interesses das classes subalternas em torno dos seus. Através
de um discurso igualitário (...) a burguesia atribui ao indivíduo, a cada cidadão
individualmente, a responsabilidade pelo seu sucesso ou pelo seu fracasso (...); os indivíduos
são proclamados iguais, mas a desigualdade econômica é conhecida.
No entanto, como os indivíduos não são igualmente dotados pela natureza, surge daí
uma nova explicação para a divisão do trabalho. Todos os homens são iguais quanto aos
valores essenciais, mas diferem grandemente nas suas características individuais. Este é o
princípio originário no qual se funda a orientação profissional.
Os fatores que irão propiciar o desenvolvimento da orientação profissional serão a
organização racional da indústria de um lado e o desenvolvimento da psicologia científica do
outro. Dirigindo-se contra os métodos empíricos de trabalho que caracterizam a produção
industrial no final do século XIX, Jaylor introduz a produção baseada em processos racionais,
em busca de uma maior eficiência para a produção moderna e em massa. Cria, então, medidas
destinadas a aumentar a produtividade do trabalho humano e a baratear os custos da produção
baseando-se em uma análise que decompunha cada tarefa do processo produtivo e organizava
a articulação entre elas. Essa divisão e recomposição do trabalho estabelecia claramente as
linhas hierárquicas de autoridade, definia os circuitos de comunicação e, em conseqüência,
definia a nítida separação entre o trabalho de concepção e o trabalho de execução.
Nesse processo, cada função pode ser previamente definida, descrita e normalizada,
indicando-se capacidades do ser humano necessárias para a sua execução. A conseqüência
desta divisão do trabalho será a necessidade de se selecionar as pessoas conforme as
capacidades requeridas para o adequado desempenho das funções. O processo de seleção
baseava-se no recrutamento de grandes quantidades de pessoas, dentre as quais se escolhiam
as mais capazes e dispensava-se as demais. Este procedimento, se satisfazia as necessidades
da empresa, gerava a reação dos trabalhadores, que o viam como fator de desemprego.
A orientação profissional desenvolveu-se nos países industrializados, aprimorando os
seus procedimentos, principalmente nos períodos das grandes guerras. Será somente a partir
de 1950 que novos estudos ampliarão o conceito de seleção e orientação profissional, para o
conceito de maturação vocacional, minimizando a importância dos testes psicológicos.
22
A escola ativa, então, na sociedade capitalista, como força coadjuvante para esta, à
medida que reproduz a força de trabalho.
A orientação profissional realizada fora da escola passa a ser solicitada a atuar no
interior de estudo e carreira conforme as aptidões de cada um. Esta orientação receberá o
nome de escolar.
No entanto, a seleção profissional, a orientação profissional e a orientação escolar não
eram suficientes para resolver os inúmeros problemas existentes numa empresa. A colocação
do homem certo no cargo certo não bastava. Era necessário preocupar-se com o ser humano,
ocupante do cargo. Não podendo eliminar de seu sexo a organização informais que aí se
criavam, as empresas foram impelidas a procurar uma forma de aproveitá-las. Aí surge a
necessidade de se preocupar com o ajustamento do homem no trabalho, o que provocou o
centro de estudos sobre relações humanas no trabalho.
Aclarou-se nesse momento o conceito de que a profissão emprega a pessoa total e não
apenas algumas de suas capacidades. A escola não pode, portanto, se limitar a formar o
contador ou o carpinteiro. Cumpre-lhe desenvolver o jovem ao máximo, capacitando-o além
do mais, a continuar por si o trabalho de educação permanente.
Está feita a passagem da orientação profissional para a orientação educacional:
“Efetivamente a formação do profissional começa com a formação do homem. A escolha da
profissão, a eficiência do trabalhador, seu ajustamento no trabalho dependem da formação
de sua personalidade.”
3.2 A Orientação Educacional no Brasil
A orientação educacional começa no Brasil vinculada, ainda que canhestramente, à
questão do trabalho. Quando, em 1924, em São Paulo, o engenheiro suiço Roberto Mange cria
um serviço de seleção e de orientação profissional para alunos do curso de mecânica, e
quando, em 1931, também em São Paulo, Lourenço Filho, na condição de diretor do
Departamento de Educação, torna oficial o Serviço Público de Orientação Educacional e
Profissional, fica claro a intenção de ambas as iniciativas em responsabilizar o orientador
educacional pela preparação para o trabalho. Ao orientador caberia selecionar, orientar e
23
encaminhar aqueles que pretendiam ingressar em cursos universitários e aqueles que
precisavam se profissionalizar imediatamente.
A Lei 5564/68, embora amplie as atribuições do orientador educacional, confirma a
sua responsabilidade em relação à orientação vocacional. E quando o decreto 72846/73
especifica as responsabilidades do OE, é dado grande ênfase a orientação vocacional, à
sondagem de aptidões e interesses, o papel do orientador educacional, articulando a escola e o
mundo fora da escola (família e comunidade e mundo de trabalho). Isto porque a Lei 5692/71
definira o orientador educacional como responsável pela articulação escola-família-
comunidade e pela preparação para o trabalho.
No final da década, começam as críticas à política de profissionalização da Lei
5692/71, ao chamado “Milagre Brasileiro”, à teoria do bolo. Os educadores começam a se
posicionar em relação ao debate. Era uma história de cooptação pelo Estado e de
subserviência a teorias importadas que não podiam ser rompidas sem luta. Além disso, a Lei
5692/71 garantia a obrigatoriedade da orientação educacional. Ficava complicado contestar a
lei em seu espírito, e reclamar o seu cumprimento no artigo 10.
As contradições se aprofundam, os conflitos se curam, as divergências se acentuam.
Assim alguns se fixam em afirmações como: Eu sei que existem coisas, mas prefiro não
pensar sobre elas, outros começam a buscar em novo referencial teórico que lhes possibilite
compreender a sociedade concreta na qual vivem, a relação entre a escola e a sociedade e,
neste contexto, se perceberem como profissionais.
De agente do sistema, é desafiado por Maria Nilde Macellani, uma das conferencistas
do VII. Encontro, CBDE, “a caminhar contra o sistema vigente”. Pela primeira vez há
referência a classes sociais, dominação, opressão e liberdade, conceitos que daí em diante
povoam as discussões, os temários de encontros e congressos, embora o movimento contrário,
de vinculação ao psicologismo, continue presente entre os orientadores. O grupo mais
progressista avança, conquistando espaço nas associações estaduais, o que vai influir na
definição dos temários dos encontros estaduais e dos Congressos.
Do processo de participação dentro e fora da escola, do processo de construção e
assunção de sua identidade de trabalhar da educação, do processo de engajamento na luta pela
24
construção de uma escola pública de qualidade para a classe trabalhadora, do processo de
engajamento na luta por uma Constituição que atendesse às reivindicações da classe
trabalhadora, do processo de luta pela transformação da sociedade, era inevitável a filiação à
CUT.
Entendemos que estes espaços não são excludentes, mas, ao contrário, são
complementares. A luta de classe se dá na sociedade global, nela incluída a escola. Daí
consideramos que os trabalhadores da educação devem atuar tanto no espaço social mais
amplo, quanto no espaço específico de ação política.
Não temos a ingenuidade de defender a escola como espaço de transformação social,
porém, temos a convicção de que é possível a construção de projetos político-pedagógicos
direcionados pelos interesses das classes trabalhadoras, no sentido de superação de sua-
condição subalternidade.
3.3 Orientação Educacional, Teoria da Educação
A orientação educacional brasileira surgiu em parte de “educational guindance” norte
americana e, em parte, sob a influência da “psijchologie scolaire” francesa. Nos Estados
Unidos, a orientação se fez necessária com decorrência do desenvolvimento do capitalismo
industrial, da democratização das oportunidades, do desenvolvimento tecnológico e industrial,
da expansão do programa de educação, a oferecer vários tipos de escolarização, de profundas
modificações morais e religiosas na sociedade, derivadas do processo de urbanização, das
condições socioeconômicas do país traduzidas na necessidade de seleção do pessoal nos
períodos de grande crise de emprego.
Na França, a orientação se desenvolveu nas escolas como serviço de psicologia
escolar, cuja finalidade era conhecer o escolar normal, a criança comum. O profissional dessa
área efetivamente se chamava de psicólogo escolar, sendo que a orientação se tornou
orientação profissional, exclusivamente baseada na aplicação de testes.
O trabalho do psicólogo escolar é elaborar em dossiê, contendo todas as informações
disponíveis sobre a criança. O dossiê constitui na tarefa de educar a criança. A técnica
privilegiada no modelo francês o aconselhamento direto.
25
Estas duas experiências de orientação constituem a base da orientação educacional em
nosso País. São modelos operativamente diferentes, mas assentados numa mesma concepção
de sociedade: um todo orgânico ao qual os indivíduos se derem ajustar nas mesmas bases
psicológicas. As técnicas em ambas desenvolvidas foram amplamente divulgadas em nosso
meio. No entanto, a tentativa de transplante desses modelos para os orientadores brasileiros
desconsidera as influências dos sistemas escolares entre os dois países e o nosso. A
organização de nossas escolas é outra, sobretudo da escola pública. Talvez por isso a
orientação tenha se desenvolvido mais nas escolas particulares.
Esta concepção marcadamente funcionalista da orientação sofrerá alterações na década
de 60, com a influência da psicologia humanista, sobretudo de Rogers – e do movimento
escolanovista, ressaltando a importância da escola na mudança social.
Da psicologia humanista teremos a contribuição de que a ênfase do desenvolvimento
deve ser colocada no indivíduo como modelo para si mesmo, e não num modelo social.
No movimento escolanovista, teremos a importância do grupo acentuada como um
momento da aprendizagem da democracia: aprender a conviver e a respeitar, a ouvir e aceitar
e a exercer a liderança são valores democráticos que nortearão a conduta dos indivíduos na
vida social fora da escola. Sob essas influências a orientação centrará seu trabalho nas
técnicas grupais.
Resumindo, pode se afirmar que a orientação no Brasil seus pressupostos técnicos
iniciais na concepção liberal tradicional da educação, à medida que afirma o desenvolvimento
humano baseado nas diferenças individuais que devem ser ajustadas no todo social orgânico.
Baseado nas influências explicadas, a orientação desenvolveu métodos e técnicas que
têm prevalecido até hoje na prática dos orientadores: como se constará. Tais métodos e
técnicas podem ser visualizadas no quadro anexo.
A especificidade da orientação educacional será, pois, ajudar o adolescente escolar a
obter em desenvolvimento integral e harmonioso de sua personalidade. Por personalidade
desenvolvida integral e harmoniosamente entende-se a personalidade ajustada a si mesma, às
características individuais, em consonância com o meio ambiente (escola, família, trabalho).
26
As áreas básicas de atuação dos orientadores educacionais na escola, têm sido a
orientação escolar, a orientação psicológica, orientação profissional, a orientação familiar e a
orientação do lazer, conforme a experiência americana.
27
CAPÍTULO IV
A FUNÇÃO DA ESCOLA COMO INSTITUIÇÃO
ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA DE IKINNER
A escola é considerada e aceita como uma agência educacional que deverá adotar
forma peculiar de controle, de acordo com o comportamento que pretende instalar e manter.
Cabe a ela, portanto, manter, conservar e em parte modificar os padrões de comportamento
aceito como úteis e desejáveis para uma sociedade, considerando-se para uma sociedade,
considerando-se um determinado contexto cultural. A escola atende, portanto, aos objetivos
de caráter social, à medida em que atende aos objetivos daqueles que lhe conferem o poder.
Para Iknner (1980), a tradição educativa ocidental determina uma educação voltada
para o “saber”, para o “conhecimento”, termos difíceis de se definir operacionalmente. Estes
“constructos” estão intimamente ligados com o comportamento verbal, enfatizado nas escolas,
onde se nota preocupação com a aquisição do comportamento em lugar da manutenção do
mesmo.
Ele critica a escola existente, pelo uso que este comumente faz do controle aversivo.
Este tipo de controle é mais fácil de ser obtido, mas não leva à aprendizagem efetivamente.
Suas funções e conseqüências divulgadas – democracia, direitos humanos, etc.. – além das
idéias divulgadas por diversas religiões.
A escola está ligada a outras agências controladoras da sociedade, do sistema social
(governo, política, economia, etc) e depende igualmente delas para sobreviver. Essas
agências, por sua vez, necessitam da escola, porque é a instituição onde as novas gerações são
formadas. A escola é a agência que educa formalmente. Não é necessário a ela oferecer
28
condições ao sujeito para que ele explore o conhecimento, explore o ambiente, invente e
descubra. Ela procura dimensionar o comportamento humano, as finalidades de caráter social,
o que é condição para sua sobrevivência como agência.
O Ensino-Aprendizagem, é definido como uma mudança relativamente e/ou na vida
mental do indivíduo, resultantes de uma prática reforçada.
Ensinar consiste, assim num arranjo de planejamento de contingências de reforço sob
as quais os estudantes aprendem e é de responsabilidade do Professor assegurar aquisição do
comportamento. Por outro lado, consiste na aplicação do método científico tanto à elaboração
de técnicas e intervenções, as quais, por sua vez, objetivam mudanças comportamentais úteis
e adequadas, de acordo com algum centro decisório. O grande problema da pesquisa aplicada
consiste no controle de variáveis do ambiente social.
Os comportamentos desejados dos alunos serão instalados e mantidos por
condicionantes e reforçadores arbitrários, tais como: elogios, graus, notas, prêmios,
reconhecimentos do mestre, e dos colegas, prestígios e etc.., os quais por sua vez, estão
associados com uma outra classe de reforçadores mais remotos e generalizados, tais como: o
diploma, as vantagens de futura profissão, a aprovação final do curso, possibilidade de
ascensão social, monetária, status, prestígio na profissão, etc.
A ênfase da proposta de aprendizagem dessa abordagem se encontra na organização
(estruturação) dos elementos para as experiências curriculares. Será essa estruturação que irá
dirigir os alunos pelos caminhos adequados que deverão ser percorridos para que eles
cheguem ao comportamento final desejado, atinjam o objetivo final. A aprendizagem será
garantida pela sua programação.
A relação professor-aluno, segundo tal abordagem, o professor teria a responsabilidade
de planejar e desenvolver o sistema de ensino-aprendizagem, de forma tal que o desempenho
do aluno seja maximizado, considerando-se igualmente fatores tais como economia do tempo,
esforços e custos.
A função básica do professor consistiria em arranjar as contingências de reforço de
modo a possibilitar ou aumentar a probabilidade de ocorrência de uma resposta a ser
29
aprendida. Deverá, portanto, dispor e planejar melhor as contingências desses reforços em
relação às respostas desejadas.
A avaliação do pressuposto de que o aluno progride em seu ritmo próprio, em
pequenos passos, sem cometer erros, a avaliação consiste, nesta abordagem, em que se
constatar se o aluno aprendeu a atingir os objetivos propostos quando o programa foi
conduzido até o final de forma adequada.
A avaliação está diretamente ligada aos objetivos estabelecidos. Na maioria das vezes,
inicia o processo de aprendizagem, uma vez que se procura, através de uma pré-testagem,
conhecer os comportamentos prévios, a partir dos quais serão planejadas e executadas as
etapas gentis do processo de ensino-aprendizagem.
A avaliação é igualmente realizada no decorrer do processo, já que são definidos
objetivos finais (terminais) e intermediários. Esta avaliação é elemento constituinte da própria
aprendizagem, uma vez que fornece dados para o arranjo de contingências de reforços para os
próximos comportamentos a serem modelados. Nesse caso, a avaliação surge como parte
integrante das próprias condições para a ocorrência da aprendizagem, pois os comportamentos
dos alunos são modelados à medida em que estes têm conhecimento dos resultados de seu
comportamento.
A avaliação também ocorre no final do processo, com a finalidade de se conhecer se
os comportamentos finais desejados foram adquiridos pelos alunos.
Como conseqüência dessa abordagem, fica claro que o que não é programado não é
desejável.
O behaviorismo da ênfase a dimensão quantitativa dos saberes. Daí o fracionamento
dos conteúdos e das tarefas de aprendizagem, bem como a hierarquização dos conhecimentos
a serem adquiridos numa ordem linear e acumulativa, muitas vezes sem visão de conjunto.
Essa concepção apresentada pelo menos dois inconvenientes. De um lado, parece pouco
propícia à constituição de saberes gerais e torna difícil a integração e a recuperação dos
mesmos na memória. De outro, negligencia as condições nas quais as aquisições são
realizadas. Ora, rapidamente, verificou-se que a estratégias e os procedimentos utilizados pelo
aprendiz ocupam um lugar essencial no êxito de suas aprendizagem.
30
4.1 Abordagem sócio-histórico de Vygostoky
A obra de Vygostsky pode significar uma grande contribuição para a área de
educação, na medida em que traz importantes reflexões sobre o processo de formação das
características psicológicas tipicamente humanas e, como conseqüência, suscita
questionamentos, aponta diretrizes e investiga a formulação de alternativa no plano
pedagógico.
Ele chama a atenção para o fato de que a escola, por oferecer conteúdo e desenvolver
modalidades de pensamento bastante específicos, tem um papel diferente e insubstituível, na
apropriação pelo sujeito da experiência culturalmente acumulada.
Na escola, as atividades educativas, diferentes daquelas que ocorrem no cotidiano
extra-escolar, são sistemática, têm uma intencionalidade deliberada e compromisso explícito
(legitimado historicamente) em tornar acessível o conhecimento formalmente organizado.
Nesse contexto, as crianças são desafiadas a entender as bases dos sistemas de concepções
científicas e tomar consciência de seus próprios processos mentais.
Ao interagir com esses conhecimentos, o ser humano se transforma: aprende a ler e a
escrever, obter o domínio de formas complexas de cálculos, construir significados a partir das
informações descontextualizadas, ampliar seus conhecimentos, lidar com conceitos científicos
hierarquicamente relacionados, são atividades extremamente importantes e complexas, que
possibilitam novas formas de pensamento, de inserção e atuação em seu meio. Isto quer dizer
que as atividades desenvolvidas e os conceitos aprendidos na escola (que Vygotsky chama de
científico) introduzem novos modos de operação intelectual: abstrações e generalizações mais
amplas acerca da realidade (que por sua vez transformam os modos de utilização da
linguagem). Como conseqüência, na medida em que a criança expande seus conhecimentos,
modifica sua relação cognitiva com o mundo.
Se a escolarização desempenha um papel tão fundamental na construção do indivíduo
que vive numa sociedade letrada e complexa como a nossa, a exclusão, o fracasso e o
abandono da escola, por parte dos alunos, constituem-se nessa perspectiva, fatores de extrema
gravidade. Isto quer dizer que o fato de o indivíduo não ter acesso à escola significa um
impedimento da apropriação do saber sistematizado, da construção de funções psicológicas
31
mais sofisticadas, de instrumentos de atuação e transformação do ser meio social e de
condições para a construção de novos conhecimentos.
Todavia, é importante ressaltar que seria ingênuo supor que a freqüência da criança à
escola seja suficiente para que os processos mencionados acima ocorram. Sabemos que a
presença na escola não é garantia de que o indivíduo se apropria do acervo de conhecimento
sobre áreas básicas daquilo que foi elaborado por seu grupo cultural. O acesso a esse saber
dependerá, entre outros fatores de ordem social, política e econômica, da qualidade do ensino
oferecido. Nesse sentido, o pensamento de Vygotsky traz uma outra implicação: contribui
para suscitar a necessidade de uma avaliação mais criteriosa de como essa agência educativa
desempenhando sua tão relevante função.
A relação entre o ensino e aprendizagem é um fenômeno complexo, pois diversos
fatores de ordem social, política e econômica interferem na dinâm8ica de sala de aula, isto
porque a escola não é uma instituição independente, está inserida na trama do tecido social.
Desse modo, as interações estabelecidas na escola revelam múltiplas facetas do contexto mais
amplo em que o ensino se insere.
O ensino verbalista, baseado na transmissão oral de conhecimentos por parte do
professor, assim como as práticas espontaneístas, que abdicam de seu papel de desafiar e
intervir no processo de apropriação de conhecimentos por parte das crianças e adolescentes,
são, na perspectiva vygotskiana, além de infrutíferos, extremamente inadequados. Seus
postulados apontam para a necessidade de criação de melhores condições na escola, para que
todos os alunos tenham acesso às informações e experiências e possam efetivamente aprender.
A qualidade do trabalho pedagógico está associado à capacidade de promoção de
avanços no desenvolvimento do aluno. Podemos encontrar o fundamento dessa posição no
conceito da zona do desenvolvimento proximal que descreve o “espaço” entre as conquistas já
adquiridas pela criança (aquilo que ela já sabe, que é capaz de desempenhar sozinha) e
aquelas que, para se efetivar, dependem da participação de elementos mais capazes (aquilo
que a criança tem a competência de saber ou de desempenhar somente com a colaboração de
outros bastante cristalizadas no âmbito pedagógico.
32
De um modo geral, nos meios educacionais, ainda parece prevalecer a visão de que o
desenvolvimento é pré-requisito para o aprendizado.
Vygotsky afirma que o bom ensino é aquele que se adianta ao desenvolvimento, ou
seja, que se dirige às funções psicológicas que estão em vias de se completarem. Essa
dimensão prospectiva ao desenvolvimento psicológico é de grande importância para a
educação, pois permite a compreensão de processos de desenvolvimento que, embora
presentes no indivíduo, necessitam da intervenção, da colaboração de parceiros mais
experientes da cultura para se consolidarem e, como conseqüência, ajuda a definir o campo e
as possibilidades da atuação pedagógica.
A escola desempenhará bem seu papel, na medida em que, partindo daquilo que a
criança já sabe (o conhecimento que ela traz do seu cotidiano, suas idéias a respeito dos
objetos, fatos e fenômenos, suas “teorias” acerca do que observa no mundo), ela for capaz de
ampliar e desafiar a construção de novos conhecimentos, na linguagem potencial dos
educandos. Desta forma poderá estimular processos internos que acabarão por se efetivar,
passando a construir a base que possibilitará novas aprendizagens.
Afirma que a escola deve ser capaz de desenvolver nos alunos capacidades intelectuais
que lhes permitam assimilar plenamente os conhecimentos acumulados. Isto quer dizer que
ela não deve restringir à transmissão de conteúdos, mas principalmente elaborado, de modo
que ele possa praticá-los autonomamente ao longo de sua vida, além de sua permanência na
escola. Essa é, segundo ele, a tarefa principal da escola contemporânea frente às exigências
modernas.
33
CAPÍTULO V
CONTRIBUIÇÃO DA PSICANÁLISE PARA EDUCAÇÃO ESCOLAR
5.1. A educação segundo Freud
São bastante conhecidas as críticas de Freud a educação, como sendo uma das
principais fontes de neuroses, por conta da repressão efetivada sobre os impulsos infantis, e
sua defesa em prol da educação mais liberal.
Freud considera que há três trabalhos impossíveis: governar, educar e curar.
Impossíveis no sentido de serem missões intermináveis, trabalhos que jamais se concluem
completamente e cujos resultados, além de não serem visíveis e imediatos, escapam a um
controle e uma aferição. Ao contrário de um construtor que levante uma casa e que um dia a
vê pronta. Governar e educar estão do lado do controle e do aprimoramento das formas de
convivência civilizada, de acordo com alguma concepção de mundo ou ideologia e suas
intenções de modificar, modelar e organizar são manifestas. Ao indicar a impossibilidade
dessas tarefas, Freud alude à noção, revelada pela psicanálise, de que, nas pessoas a quem se
destinam os seus esforços, sempre há uma área que é ingovernável, ineducável ou que resiste
à cura. Já a cura de que ele fala, é a cura das doenças mentais ou do mal-estar psíquico do
qual o médico se ocupava na sua época, a par de todas as outras doenças. O comentário, de
Freud visava ressaltar que a prática médica não se distinguia da prática do governante e do
educador, pelo menos não até que ele mesmo, ao introduzir a psicanálise, sustentar uma outra
compreensão do ser humano e de suas doenças. Freud também dizia que não há nada mais
contrário às intervenções analíticas do que as intervenções pedagógicas. São bastante
conhecidas as críticas de Freud à educação, por ser esta, ao seu ver, uma das principais fontes
das neuroses, como também é bem conhecida sua defesa em prol de uma educação mais
34
liberal que pudesse contribuir para a saúde mental e para maior bem estar psíquico das
pessoas.
Os escritos de Freud permitem identificar uma transformação de seus conceitos em
relação à verdadeira fonte das neuroses, os quais contribuem de modo fundamental para a
compreensão dos problemas escolares das crianças.
A educação e a psicanálise aparecem como duas posições totalmente contrárias e é
esse o entendimento da maioria dos educadores de hoje. Enquanto a psicanálise se propõe a
levantar a repressão e possibilitar o sujeito o acesso a sua verdade, educar implica em lutar
contra as pressões e estabelecer a repressão, transmitir a cultura e inculcar as normas sociais.
Annie Cordié (1998) assinala que essa tarefa, já por mais difícil, em nossos dias, pelas
mudanças e crises sociais que afetam profundamente a relação educativa sobretudo, mas não
exclusivamente, nos setores sociais mais desfavorecidos. Millot (1984) assinala a
preocupação dos educadores com a manifestação de sexualidade no período da latência, ou
seja, entre 5 e 6 anos até a puberdade, justamente a idade escolar por excelência. Como se
soubessem que a atividade sexual torna uma criança ineducável, os educadores tratam de
estigmatizar sua manifestação como “vício”, procurando inculcar com mais forças as barreiras
da repressão.
O conflito infantil seria resolvido ou amenizado pela reforma da educação, ele foi mais
tarde encarado como sendo inevitável porque sua origem não é externa, mas sim
intrapsíquica, advindo da oposição entre pulsões de ordens diferentes.
Ao final de seu percurso intelectual, Freud constatou que a educação não pode evitar
os conflitos do desenvolvimento infantil e nem deve fazê-lo, pois a passagem do complexo
Édipo é instituído do indivíduo, e comum a todos os seres humanos. A renúncia ao pleno gozo
identifica-se com a Lei e com toda possibilidade de civilização. A sublimação, como desvio
do instinto sexual para outras finalidades, é o que permite toda sorte de realização cultural, e é
condição para a própria educação.
Portanto, para Freud, os temores dos educadores são justificados pois não há como
socializar a criança sem repressão sexual. Porém esta repressão não é fruto somente das
35
imposições da educação, mas já é determinada pelo próprio desenvolvimento, pois é a
vivência da castração simbólica que irá constituir, dentro do indivíduo, um Eu social que tudo
fará para afastar as idéias incompatíveis com o ideal do Eu.
A psicanálise considera que nenhum dado de realidade está isento de uma significação
e de um afeto, sendo que os conflitos se constituem em relação ao imaginário do próprio
indivíduo e não em relação a uma realidade concreta. O objetivo do tratamento psicanalítico é
aumentar os poderes da consciência e o seu controle sobre os processos psíquicos. Para
Kuppler (1988), esta é também uma das metas de Freud propõe para a Educação, na medida
que esta leve em conta não só a realidade externa mas também a realidade psíquica ou do
desejo.
36
CAPÍTULO VI
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL COMO FUNÇÃO ESTRUTURADORA DA
INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA
A psicopedagogia legitimou-se como área de atuação junto à aprendizagem humana,
enfocando em sua ação a interseção das dimensões afetiva e cognitiva nesse processo.
A psicolpadagogia “constitui-se campo de atuação cujo corpo de conhecimentos está
sendo construído com vistas a encontrar soluções para os problemas de aprendizagem”.
A orientação educacional é entendida em dois sentidos constitutivos e
complementares. por um lado, com a ajuda que se proporciona a uma pessoa para que possa
escolher, entre diversos intinerários e opções, aquele que lhe é mais adequado. Orientar
consiste em proporcionar informação, orientação e assessoria a alguém para que possa tomar
as decisões mais adequadas, levando em consideração tanto as características das opções
disponíveis, como as características, capacidades e limitações da pessoa que deve tomar a
decisão, assim como o ajuste entre ambas.
Entendida deste modo, a orientação psicopedagógica, um recurso disponível às
instituições educacionais em seu conjunto e a seus diversos subsistemas. Sua finalidade é a de
contribuir para prevenir possíveis disfunções ou dificuldades, para compensar ou corrigir
àquelas que tenham surgido e vista a potencializar e a enriquecer o desenvolvimento dos
indivíduos e dos sistemas que integram a instituição educacional, sua organização e seu
funcionamento.
Intervenção, orientação e educação aparecem, assim, indissoluvelmente ligadas.
Orientam os educadores, profissionais ou não, e orientam o psicopedagogo na sua intervenção
37
especializada nos diferentes setores da instituição. Essa orientação deve ser extensiva a todos
os campos do desenvolvimento do indivíduo – pessoal, educacional, profissional – assim
como aos contextos educacionais em que este se desenvolve como o objetivo final de
melhorar a qualidade de ensino. A caracterização usada atualmente sobre a intervenção
psicopedagógica inclui uma ampla variedade de conceitos e tarefas, exercidas por
profissionais formado em diferentes áreas disciplinares.
A finalidade ou os objetivos da intervenção psicopedagógica podem oxilar em
considerar que esta deve ajudar a resolver os problemas que a escola apresenta, ou sustenta
que se trata justamente de preveni-los, em uma estratégia dirigida a melhorar a qualidade do
ensino. A intervenção também será diferente em função dos marcos teóricos que forem
utilizados para interpretar os fatos, os problemas e a realidade na qual trabalha, sendo a
constituição desses marcos resultado das diversas teorias, fontes epistemológicas e esquemas
de interpretação utilizados pelo psicopedagogo.
Os referenciais teóricos, conceitos: a Concepção Construtivista da Aprendizagem
Escolar e do Ensino. São vários os autores que consideram que o Construtivismo, em sentido
amplo e, na Concepção Construtivista da Aprendizagem Escolar e do Ensino (Coll, 1990;
1991b; 1997) constitui um marco adequado não apenas para explicar a aprendizagem que
ocorre na escola, mas para erigir-se em instrumento de análise de intervenção
psicopedagógica.
A concepção Construtivista da Aprendizagem Escolar e do Ensino, considera a
educação como um processo social e socializador, mediante o qual os grupos sociais
promovem a socialização e o desenvolvimento de seus membros mais jovens. A educação
escolar, como processo formalizado, planejado e intencional, persegue tal objetivo mediante a
organização da experiência e situações que permitam a elaboração, com a ajuda dos outros, de
significada cultura que configuram o currículo escolar.
Na explicação construtivista, a aprendizagem (e a ausência ou dificuldade de
aprendizagem) de um aluno ou de um grupo de alunos não é uma característica inerente a
eles; é entendida mais como o produto de uma feliz confluência (ou de uma disfunção) entre
os componentes nucleares de todo processo educacional: os alunos, cada um com suas
condições pessoais, os conteúdos que devem ser objeto de apropriação por parte daqueles e as
38
respostas e as medidas educacionais que se articulam para alcançar essa apropriação. Parece
óbvio, então, a partir desta explicação, que analisar e intervir para otimizar os processos de
aprendizagem não pode limitar-se a analisar e o intervir sobre um dos componentes desse
núcleo, mais exige dotar-se de instrumentos para atender as relações que ocorrem entre todos
eles e intervir para otimizá-lo.
39
CAPÍTULO VII
A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA PRÁTICA ESCOLAR
7.1 Integração aluno à Escola e a Sociedade
Ao entrar para a escola, deve-se considerar que o aluno irá passar, nela, muitas horas
do dia e muitos dias de sua vida. É importante, pois, que a mesma se constitua em um
ambiente interessante e agradável que, além da formação intelectual, favoreça o
desenvolvimento sadio do educando. Entretanto, por outro lado, ela pode vir a se tornar, -
infelizmente às vezes se torna, pelo menos para alguns – um meio hostil onde problemas
preexistentes se agravam e/ou onde sérios conflitos têm início.
Pode-se dizer que, em grande parte, experiências positivas ou negativas vivenciadas na
escola irão refletir-se pela vida toda do indivíduo. Gostos, traumas, aversões por determinadas
matérias, opções profissionais, amizades e até apelidos, em geral, freqüentemente tiveram
suas origens nos bancos escolares. Portanto, a adaptação do estudante à escola torna-se,
inclusive do Orientador Escolar, desde o início da vida escolar, para que a escola represente
um ambiente acolhedor e afetivo para o mesmo.
Conversas ou expressões que a criança costuma ouvir, em casa, de pais, irmãos, ou
colegas mais velhos sobre a vida escolar ou sobre determinada escola, contendo juízos de
valor – positivos ou negativos – também serão significativas na determinação de atitudes da
mesma em relação à escola.
Alunos da 5ª série do ensino fundamental são susceptíveis de apresentar problemas, de
adaptação. Mesmo quando permanecem na mesma escola, a formação dessas classes,
geralmente com colegas, professores e matérias totalmente novos, costuma representar, para
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boa parte dos alunos, um processo de readaptação à escola. Muitas vezes, há, ainda,
agravando esta situação, a necessidade de mudança de escola e/ou de período de aulas,
quando a antiga não oferece continuidade de estudos ou quando a escola ou o aluno precisam,
por questões práticas, que o aluno a freqüente em outro período. Portanto, o orientador escolar
deve programar um atendimento especial, logo no início do ano letivo, para essas séries que,
não por acaso, são as que apresentam grandes índices de evasão e de repetência.
Não apenas alunos novos enfrentam problemas sérios de adaptação e integração à
escola. Costuma ocorrer, com freqüência, a existência de estudantes que, por pertencerem a
minoria de algum tipo (cor, religião, classe social), são rejeitados pelos colegas. Em escolas
de nível socioeconômico elevado, um aluno bolsista, de família pobre, pode ser facilmente
discriminado, sentindo-se ou até sofrendo com a hostilidade ou desprezo das demais. Crianças
ou jovens que apresentam problemas físicos permanentes, defeitos de fala, atraso de
crescimento ou no desenvolvimento sexual, dificuldades motoras, de audição ou de visão ou
algo que os diferencia dos demais, também podem ser vítimas de discriminação. Ele deve,
também, aproveitar o ensejo para orientar as maiorias que exercem a discriminação.
Alunos mais jovens, principalmente, costuma ser particularmente cruéis em relação a
colegas diferentes e menos afortunados. Se não for dada a devida atenção a tais problemas,
eles poderão contribuir para a deterioração das relações entre a totalidade da classe e causar
sérios problemas na escola. Como os demais casos, a atuação do orientador educacional
deverá ser, de preferência, preventiva. Estratégia como palestras, filmes, religiões, crenças,
etnias, classes sociais, etc., existentes entre as pessoas, devem ser empregados para
desenvolver o respeito e a tolerância do aluno quanto as diferenças individuais.
Ainda em caráter preventivo, os professores devem ser assessorados com relação à
formação de equipes para o trabalho em grupo, no sentido de evitar problemas de
discriminação e de rejeição. A composição dos grupos e a decisão de passar ou não trabalhos
a serem realizados em conjunto, nas residências dos alunos, merece especial atenção. Ao
solicitar tais trabalhos, o professor precisa estar seguro de que os alunos têm a possibilidade
de freqüentar, e sem constrangimentos, as casas dos colegas. Isso porque, às vezes, há alunos
que moram em bairros distantes, outras vezes, há grande diferença de nível socioeconômico
entre um dos componentes do grupo e os demais é, outras vezes, ainda, por questões étnicas,
religiosas ou outras, já citadas anteriormente, o trabalho em grupo se torna inviável para um
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ou mais estudantes. É relevante, pois que se conheça a composição e a dinâmica de cada
classe. Para tanto o orientador educacional poderá começar por usar a sociometria, uma
técnica bastante útil e interessante, tanto para o conhecimento de aspectos individuais como
de grupos, uns em relação aos outros. A técnica sociométrica indica a existência de “panelas”,
rejeições, clivagens, antagonismos latentes e manifestos e, eventualmente, até os critérios para
os mesmos. Ela contribui, ainda, para a identificação de líderes ou estrelas nas classes. Essa
descoberta é importante, pois tais alunos são mais ouvidos e seguidos pelos colegas, podendo,
portanto, se construir em valiosos auxiliares do orientador educacional.
Feitos os levantamentos, o diagnóstico e localizados eventuais problemas, o orientador
educacional poderá procurar contato com alunos, pais e professores, sempre com o devido
cuidado para que sua atuação não seja fator de aumento da problemática existente.
Nem só minorias e alunos discriminados por diferentes motivos apresentam problemas
de ajustamento à escola. Às vezes, a filosofia ou as diretrizes educacionais de uma dada
escola estão em desacordo com as da família ou com as características do aluno. Nesses casos,
principalmente em se tratando de alunos mais jovens, seria aconselhável a família procurar
outro tipo de escola. Entretanto, às vezes, isso não e possível, seja por falta de outras
alternativas seja porque é mais prático os pais manterem os filhos em determinado
estabelecimento de ensino. Nessas situações, recomenda-se aconselhamento com pais e filhos.
Por outro lado, não é recomendável, ainda que seja possível para os pais mudar o filho
de escola, sempre que houver algum problema, pois pode-se estar passando à criança a noção
de que são as escolas que devem se ajustar a ela.
Estudante com falta de base ou com dificuldades de aprendizagem também requerem
atenção especial para que esses problemas não dêem origem a desajustamento em relação à
escola. Tanto o dos demais em conteúdo ou em ritmo de aprendizagem quanto os
superdotados costumam apresentar dificuldades de adaptação ao novo sistema escolar e,
dificilmente, as escolas estão preparadas para lidar de modo adequado com esses dois tipos de
estudantes. De modo geral, a seleção dos conteúdos e o ritmo do processo ensino-
aprendizagem são baseados na capacidade média da classe e, por esse motivo, acabam não
sendo adequados para os menos aptos e também não representam desafios para os
superdotados, o que leva tanto a uns como aos outros a aborrecerem-se com os professores e
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com a escola, enfim, ao desinteresse e à falta de motivação, para o estudo. Colabora também
para esse quadro o fato de serem, os superdotados mais rápidos na execução das tarefas
propostas para a classe e, não tendo o que fazer, podem partir para atos de indisciplina. Em
cooperação com os professores, o orientador educacional deve procurar identificar tais
estudantes para buscar desenvolver suas potencialidades e canalizá-las tanto em benefícios do
próprio aluno com de seus colegas e da escola como um todo.
É necessário que o orientador educacional tenha sempre em mente, para melhor
compreender o comportamento dos alunos que, principalmente na adolescência, dois motivos
de afiliação e o gregário. O adolescente deseja verdadeiramente “pertencer” ao grupo do qual
faz parte é, muitas vezes, para conseguir se integrar chaga a comportamentos extremos para
chamar a atenção e conquistar a simpatia e, conseqüentemente, um lugar definido no grupo ou
na classe. Assim, às vezes, um estudante educado, cortês e até tímido pode cometer agressões
e grosserias para com professores ou outros adultos, coisas das quais não seria capaz se
estivesse sozinha. Alunos, e principalmente alunas bem dotadas podem chegar a tirar notas
baixas, propositadamente, para não destorcer e, conseqüentemente, sofrer a rejeição dos
colegas. Outros, mais inseguros, podem, ceder à oferta de drogas, pelos mesmo motivos.
Cabe ao orientador educacional, com o auxílio dos demais educadores, o desafio de
fazer da escola um ambiente adequado e agradável para todos e, sobretudo, fazer dela uma
instituição educativa, no sentido mais amplo do termo.
7.2 Desenvolvimento Físico e Emocional do aluno
A função precípua da escola seja o ensino, ela tem assumido, cada vez mais a
responsabilidade pela educação integral do aluno. Tal objetivo não deixa de ser legítimo, pois
o indivíduo que aprende é um ser complexo que se desenvolve não só no aspecto intelectual
como também, e concomitante, no afetivo-emocional, físico, motor, social, sexual,
vocacional, enfim, em todos os aspectos de sua personalidade. Por esta razão e também
porque dificuldade ou problemas nessas áreas poderão afetar o rendimento escolar do aluno, o
orientador educacional não pode desconsiderá-las no seu trabalho.
Não são raros, entre os alunos, problemas físicos permanentes ou temporários como
deficiências, magrezas recessiva ou obesidade, tiques nervosos, estatura muito alta ou muito
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baixa em relação aos colegas, problemas com a emissão de voz, seios muito desenvolvidos
em meninos e pouco em meninas, orelhas ou nariz muito grandes, acne entre outros, que
costumam ser fonte de conflitos para os alunos, não só do ponto de vista interno de suas
frustrações em complexos, mas também em relação aos colegas que podem usar tais
problemas para agredi-los ou fazê-los alvo de apelidos, chacota e de brincadeiras maldosas. É
possível, também, que existam alunos portadores de males para os quais ainda não se tenha
encontrado cura, como a epilepsia e a esquizofrenia. Outros, vítimas de acidentes ou tendo
sofrido cirurgia, necessitam de tratamento sistemático ou periódico.
A escola deve atentar para essa problemática e estar preparada para lidar, da melhor
maneira possível, com ela. Além da ajuda o orientador educacional possa dar a esses alunos, é
necessário às vezes, estabelecer contato com médicos, psicólogos, fonoaudiólogos,
fisioterapeutas, de um lado, e com os professores e pais, por outro. Se for caso de
encaminhamento, cabe a ele chamar os pais que, muitas vezes, não têm ou não querem tomar
consciência dos problemas, para que, juntos, procurem a solução melhor para o aluno. Por sua
vez, os professores devem ser informados sobre alunos que, devido à deficiência físicas, se
encontrem impossibilitados de exercer atividades programadas.
Mesmo estudantes sem problemas especiais de saúde precisam ser orientados sobre
doenças e higiene pessoal, ainda que haja aulas de Ciências, de Biologia e até de Higiene.
Muitos alunos que tiram boas notas nessas disciplinas nem sempre seguem as normas
recomendáveis de higiene e saúde. A passagem do que se aprende teoricamente para a prática
não é, necessariamente, nem total e nem automática.
Da mesma forma com o que ocorre em relação as doenças o aluno pode Ter pleno
conhecimento do mecanismo da gravidez e de doenças sexualmente transmissíveis e, no
entanto, não orientar o seu comportamento por essas noções, entre outras razoes, por achar
que nada disto acontecerá com ele. Não é suficiente que os professores tratem teoricamente de
assuntos de saúde e higiene para que os alunos apresentem comportamentos compatíveis com
tais noções.
Tais informações devem ser transpostas para a prática, para a vida do dia-a-dia.
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Em caráter preventivo o orientador educacional poderá sugerir campanhas diversas
sobre saúde e higiene, na escola, em conjunto com professores de áreas afins e, se for o caso,
com outros membros da equipe técnica e pessoas da comunidade. As estratégias mais
importantes a serem utilizadas nessas áreas são: as palestras, por pessoas capacitadas e
recomendadas; material didático elucidativo-livros, slides, filmes, visitas- desde que
aprovados por autoridades competentes.
A despeito de todo o trabalho preventivo, podem ocorrer, na escola, casos de drogas
e/ou alcoolismo, geralmente, entre os mais velhos. O orientador educacional deve aconselhar
a procura da Associação dos Alcóolicos Anônimos (AAA) e encaminhar o aluno para os
especialistas indicados. Os caos de drogas são mais sérios, inclusive porque têm implicações
de ordem de segurança e policial, por isso precisam ser cuidadosamente equacionados e
encaminhados. Nesse caso, o diretor é a pessoa responsável pela comunicação aos pais ou por
medidas de ordem administrativas. Cabe ao orientador educacional dar todo o apoio
necessário à família e ao aluno, procurando encaminhá-lo aos especialistas ou à instituições
indicadas.
Dentre os aspectos do desenvolvimento do educando, a área mais problemática para se
lidar é, sem dúvida, a de orientação sexual-afetiva. Principalmente o jovem, mas também as
crianças, necessitam de assistência nesses aspectos da educação e, dificilmente, encontram, na
família e em outras instituições, orientação útil e adequada. Grande parte dos pais até
desejariam que a escola se incumbisse totalmente dessa tarefa, reconhecendo o próprio
despreparo devido ou a falta de informações, ou a falta de tempo, ou ainda, por dificuldade
em lidar com essa temática. Por outro lado, entretanto, há pais que nem sempre aceitam e até
temem a incursão da escola nesse assunto. Daí, a necessidade de que o orientador educacional
procure informar-se bem sobre a filosofia e a posição da escola e da comunidade, sobre a
expectativa dos pais, a programação dos professores de Ciências, e de Biologia e as
necessidades dos alunos. Tudo deve ser feito com a devida ética e muita cautela, pois, em
última análise, exceto quanto à parte de anatomia e filosofia que compõem os programas de
Ciências e de Biologia, no caso de alunos menores de idade, cabe aos pais decidirem o que e
como a escola deve tratar das questões afetivas e sexuais.
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Tratando-se de temas complexos, com múltiplas implicações, é importante que o
orientador educacional esteja bem preparado para lidar com eles, atualizando-se
constantemente e, solicitando auxílio de especialistas.
Uma dificuldade, em relação à orientação sexual, é que numa mesma classe coexistem
alunos que, embora possam Ter a mesma idade cronológica, apresentam diferenças marcantes
quanto ao nível de desenvolvimento físico e afetivo e de conhecimentos relativos ao sexo.
Ora, do ponto de vista metodológico, o tratamento mais adequado para a abordagem dos
temas relacionados a afetividade e à sexualidade teria início com o conhecimento das noções
biológicas e fisiológicas, o que poderia ser desenvolvido nas aulas dos professores de
Ciências e de Biologia. Já a discussão que daria seqüência aos aspectos tratados naquelas
aulas seria realizada em grupos, em sala de aula, com o orientador educacional, para analisar
valores, atitudes, comportamentos, implicações, responsabilidades e conseqüências. Nesse
caso, deveriam ser levadas em conta as diferenças individuais marcantes entre os alunos. Tal
sistemática, embora seja o ideal, enfrentaria grandes dificuldades para implementação, pois
além do problema inicial de fazer a separação entre os conteúdos, acarretaria, na escola,
situações difíceis de se explicar e de se lidar. Na realidade, o que se verifica, normalmente, na
prática, é que somente dá para separar os alunos por série, sexo e, eventualmente por idade.
A orientação, no que respeita a afetividade e sexualidade, constará do plano do
orientador educacional e será realizada gradativamente, de acordo com a série freqüentada
pelos alunos e o nível de desenvolvimento deles. Provavelmente, os alunos mais velhos terão
maior facilidade para explicitar abertamente suas dúvidas. Para os mais jovens, pode-se
colocar uma caixa de sugestões para que sejam colocadas nela os assuntos específicos, que
gostariam de ser tratados nessa área. É importante que todos vejam no orientador educacional
um amigo discreto a quem possam confiar sem problemas, suas dúvidas, inquietações,
temores, incertezas e curiosidades. Por exemplo, não é raro, mesmo no ensino fundamental,
que ocorram fatos mais sérios como gravidez acidental, de aluna solteira. Cabe a ele ajudá-la
no relacionamento com a família e analisar, com todos os envolvidos, as implicações, as
conseqüências e as decisões a serem tomadas no caso.
Além da saúde física o aluno, há que se considerar, também, a emocional. Dada a
complexidade da problemática familiar, agravada pelas crises socioeconômicas que afetam a
família, a freqüência de alunos com problemas emocionais tem aumentado gradativamente.
Muitos apresentam comportamentos agressivos, de revolta ou de apatia. Outros mostram-se
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tímidos ou superprotegidos. Enquanto os primeiros chamam a atenção e são, muitas vezes,
atendidos, alunos excessivamente tímidos tendem a passar quase despercebidos, por não
causarem problemas para a escola. É possível, entretanto, que estejam, devido à timidez,
enfrentando dificuldades de relacionamento ou evitando experiências de aprendizagem que
seriam importantes para o seu desenvolvimento.
O aluno que, no ambiente familiar, é superprotegido, recebendo todas as atenções,
cuidados, tendo os seus desejos amplamente satisfeitos e não sendo cobrado de
responsabilidades mínimas, ao entrar para a escola, onde provavelmente será um anônimo em
meio a tantos outros, e onde necessitará Ter iniciativas para acompanhar a rotina escolar,
talvez desenvolva comportamentos inadequados a fim de receber a atenção do pessoal da
escola e/ou se furte a cumprir com todas as obrigações escolares. É necessário que o professor
e o orientador educacional estejam dispostos e preparados para auxiliá-lo na aquisição de
independência.
Crianças e jovens podem apresentar sinais indicativos de sintomas “psicossomáticos”
relacionado à escola, isto é, a expressão, por meio de sintomas físicos, de conflitos
emocionais. Por exemplo, o aluno que alega Ter dor de barriga, no dia da prova, pode estar se
sentindo pressionado por cobranças e exigências dos pais para apresentar boas notas ou
conceitos; outros apresentam dor de cabeça o febre, na hora de ir para a escola, ou, ainda
erupções de pele, sem causas aparentes, relacionadas a fatores negativos existentes no
ambiente escolar. Há, ainda casos em que as crianças ou jovens passam por situações
traumáticas, em decorrência de experiências negativas anteriores com a escola, com
determinados professores, com certas disciplinas ou provas. É interessante ressaltar que não é
a dimensão aparente de uma situação que a torna traumática. Às vezes, uma ironia, uma
humilhação em público, uma ameaça velada, uma injustiça sofrida, de modo irreparável,
podem, dependendo é claro, do tipo e da situação de quem as sofre, resultar num trauma
duradouro. Dificilmente, tais alunos conseguirão superar, sozinhos, esses problemas, que
acabam por interferir tanto na saúde mental como no desempenho escolar dele.
7.3 O lazer do aluno, saúde física e mental
Desde a Grécia antiga, e ressaltada a importância de uma “mente sã num corpo sadio”.
As ciências médicas e psicologia têm evidenciado, cada vez mais, a inter-relações e
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interdependência entre a saúde física e mental do indivíduo. Uma educação integral não
poderia, pois, deixar de considerar esses dois aspectos do desenvolvimento do aluno, razão
pela qual integra o currículo escolar a programação, dentre outras, das áreas de Educação
Física e de Educação Artística.
Estudantes, com a aparentemente boa saúde física e mental e que praticam princípios
sadios de higiene corporal, poderiam Ter o desenvolvimento comprometido a médio e longo
prazo se não dedicassem nenhuma parte de seu tempo a atividades esportivas ou de lazer. Por
outro lado, tal comprometendo também poderá ocorrer se os alunos e/ou seus pais não
souberem escolher atividades adequadas, e equilibradas para as horas livres, consumindo, por
exemplo, a maior parte do tempo e grandes somas de dinheiro em fliperamas, ideogramas,
televisão, em detrimento de práticas mais saudáveis. Portanto, os pais devem se preocupar
com os limites, adequação e qualidade das atividades esportivas, culturais ou de lazer de seus
filhos.
Há alunos que trabalham durante o dia, estudam à noite, enfrentam problemas de
longos deslocamentos e de condução de casa para o trabalho e para a escola e, ainda têm de
realizar suas tarefas escolares e estudar para as provas.
Há outros que, embora não trabalhem, têm uma agenda sobrecarregada de múltiplas
atividades extraclasse, como cursos de línguas, computação, ginástica, dança, além de
tratamento dentário.
Por meio de estratégia adequadas, o orientador educacional orientará no sentido de
saber que atividades esportivas, culturais e de lazer proporcionar aos filhos, com qual
duração, periodicidade e respectivos dispêndios de energias e de dinheiro, além de saber se
são ou não indicadas para a idade escolar deles.
Em relação aos professores, o orientador educacional buscará se integrar,
principalmente com os de Educação Física e de Educação Artística, para que os alunos sejam
orientados quanto ao lazer.
Ao atuar em conjunto com os professores, principalmente com os da área de educação
física e educação artística, o orientador educacional poderá fazer uso de diferentes estratégias:
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palestra para pais e/ou, alunos; debates; orientação individual, discussão com os alunos;
competições entre as classes e/ou escolas; apresentação de opções de lazer na escola e fora
dela; ação conjunta com outros professores nas suas respectivas especialidades e/ou com
habilidades especiais nessas áreas; assistência a concertos, espetáculos de dança, óperas, ainda
que em filmes ou vídeos; freqüência a teatro ou montagem de peças teatrais na escola;
organização de shows, de festivais, de exposições, precedidas e seguidas por discussão em
classe, juntamente com os professores das áreas específicas; artesanato, formação e
apresentação de coral, clubes de leitura, biblioteca, etc.
Como vimos, há inúmeras e diversificadas atividades para preencher tempos livres dos
alunos e para serem encaixadas em possíveis intervalos entre as horas de estudo e/ou trabalho.
O lazer não se confunde com o ócio, isto é, ausência de atividades. O indivíduo que estava
trabalhando e/ou estudando, durante várias horas, não se sentirá mais descansado ou
recuperado se ficar sem fazer absolutamente nada. Ele poderá exercitar-se fisicamente, dando
um passeio, andando de bicicleta, jogando futebol ou, ainda, poderá ler, uma leitura
recreativa, ouvir ou tocar música, pintar, montar quebra-cabeças, etc. desse modo, será
mantido um equilíbrio entre as atividades desenvolvidas e preservada a sua saúde física e
mental.
7.4 Orientação vocacional ao aluno
A profissão representa um aspecto significativo na vida das pessoas, aspecto este do
qual, em grande parte, os demais dependem. É considerável o tempo que se dedica ao
trabalho; pelo menos um terço do dia, durante trinta anos ou mais. Com o seu desempenho, o
indivíduo provê os recursos para a própria subsistência e a de sua família, assim como
contribui para o desenvolvimento econômico e social da comunidade e do país. Há que se
considerar, igualmente, o que a profissão de auto-realização, aplica suas capacidades e
potencialidades e expressa sua personalidade. Portanto, quando ela realiza uma atividade
compatível com suas habilidades e demais características, num ambiente favorável, o trabalho
exercido se constitui um fator de ajustamento e de satisfação pessoal. Quando tal não ocorre,
o exercício profissional, ainda que necessário e relevante, passa a ser um fator de
desasjustamento e de insatisfação individual e até um problema para os demais.
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Por outro lado, nas sociedades modernas, essa escolha é extremamente difícil e com a
mesma deve ser feita cedo, pelo jovem, este necessita, cada vez mais, de orientação
especializada e eficiente para tarefa tão relevante quanto complexa e que, na escola, é
responsabilidade do orientador educacional.
No que se refere à orientação vocacional, não há um consenso, entre os especialistas,
quanto aos termos nessa área, empregando-se às vezes, expressões como: orientação
profissional, orientação ocupacional, informação profissional.
Por outro lado, a expressão “Orientação Vocacional” é mais inclusiva que as demais,
porque denota que, na verdade, cada indivíduo se define por um projeto de vida, o que,
certamente, representa mais do que a escolha ou exercício de uma profissão, embora este seja
um aspecto importante desse projeto.
Há ainda, diferentes fatores que influem negativamente nessa área. Por exemplo, a
família pode pressionar no sentido de que o jovem opte por uma atividade tradicional na
mesma, ou por outras de prestígio ou mais rendosas. Pode ocorrer também de um dos pais
desejar que o filho escolha aquela que ele gostava de ter exercido e não pôde.
Influências, às vezes não conscientes, afetam a escolha vocacional. Por exemplo, o
jovem que deseja ser artista porque a identifica com o pai, amigo ou ídolo que são artistas.
Acontece o contrário quanto ele não escolhe determinada profissão que é exercida por uma
pessoa pela qual nutre acentuada rejeição. O fato de ter incorporado valores ou preconceitos
relativos ao mundo do trabalho pode, igualmente, conduzi-lo à seleção ou rejeição de
determinada atividade profissional.
As restrições econômicas, as limitações físicas, psicológicas e as dificuldades do
próprio curso devem ser levadas em consideração na escolha profissional.
O rápido desenvolvimento social vem exigindo, no preparo do jovem, muito mais
tempo e especialização, havendo como conseqüência, pressão social para que ele se defina,
cada vez mais cedo, pela profissão. Embora não esteja bem preparado para tanto, a escolha
deve caber única e exclusivamente a ele que, pelas razões indicadas, precisa contar com uma
orientação especializada.
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Sem nenhuma assistência, os alunos tendem a escolher, com critérios fantasiosos,
profissões da moda, acreditando que elas propriciarão excelente mercado de trabalho ou lhes
proporcionarão altos rendimentos. Costumam, ainda, optar pelas profissões mais conhecidas
que, por este motivo, geralmente têm mercado mais saturado. Por outro lado, há profissões
igualmente importantes e interessantes, às vezes novas, que deixam de merecer a atenção dos
jovens, quando estes são deixados à própria sorte. Às vezes, ocorre ainda que algumas
profissões são escolhidas apenas pelo nome, sem que a pessoa saiba exatamente o que o
profissional faz e em que circunstância.
Para que se realize uma boa escolha, é necessário maturidade, conhecimento das
opções existentes, das exigências em relação às mesmas e das possibilidades oferecidas pela
comunidade. Em resumo: conhecimento de si próprio e do chamado mundo do trabalho.
É essencial que a escolha não represente um único momento na vida das pessoas, mas
um processo de desenvolvimento e amadurecimento graduais. A tomada de decisão deve ser
feita gradativamente, partindo do mais amplo para o mais específico e depois para o mais
específico ainda, já no ensino superior e especialização. Por esses motivos, a escola deve
proporcionar aos alunos, nos diferentes níveis de ensino e no decorrer de toda a sua
permanência nula, uma orientação segura e eficiente para que, quando tiverem concluído seus
cursos, apesar ainda da relativa imaturidade, estejam habilitados a realizar uma escolha mais
adequada.
A tarefa da Orientação Vocacional é uma de suas atribuições privativas previstas na
legislação que regulamentar a profissão do orientador educacional. Ele deverá atirar na
coordenação das atividades relacionadas ao desenvolvimento vocacional elaborando, para
isso, um plano que tenha como objetivo instrumentalizar os alunos para a escolha de cursos e
de profissões. Desse plano, constarão objetivos parciais a serem atingidos e cada etapa do
desenvolvimento escolar e vocacional, bem como as respectivas estratégias a serem
empregadas para a consecução de tais objetivos. O plano deverá também ser integrado à
atuação dos professores, dos demais membros da equipe técnica e da comunidade, deverá ser
desenvolvido desde as primeiras séries do ensino fundamental, e não apenas nas séries finais,
isto porque segundo vários autores, a Orientação Vocacional deve ser conduzida como uma
sucessão de experiências de aprendizagem em tomada de decisão. O valor implícito nesta
51
abordagem é que o planejamento é mais desejável do que a improvisão. Ponderar escolhas e
iniciar uma ação é preferível a não fazer nada ou deixar as coisas acontecerem.
A partir do desdobramento do objetivo final da escolha de cursos e profissões, em
objetivos intermediários, selecionam-se as melhores estratégias para cada etapa, assim como,
quando a escola comportar, pode-se separa as classes em função dos interesses demonstrados
pelos alunos.
Uma estratégia bastante usada em Orientação Vocacional consiste em convidar pais ou
diferentes profissionais da comunidade para que venham à escola proferir palestras, coordenar
debates ou dar entrevista sobre suas profissões. O mesmo pode ser feito em relação a ex-
alunos que teriam a oportunidade de discutir, com os atuais, suas experiências com trabalho
ou cursos freqüentados.
Organização de eventos como “semana de informação profissional” e “feira” de
profissões são estratégias valiosas para despertar o interesse e conscientizar os alunos para a
importância de que se reveste a escolha profissional. Deve-se, entretanto, cuidar para que a
“feira” e os profissionais convidados, como costuma ocorrer nesses casos, não venham a
acentuar o direcionamento das escolhas para as profissões mais conhecidas e mais facilmente
encontráveis na comunidade. Debates entre alunos e palestras do orientador educacional sobre
a importância do trabalho e de uma escolha consciente teriam a função de despertar alunos
para o assunto. Além dessas estratégias voltadas aos alunos, é importante que o orientador
educacional também ministre palestras dirigidas aos pais sobre o papel e a atuação adequada
da família e da escola na condução de escolha vocacional.
Por meio desse trabalho sistemático, realizado durante todo o período de escolaridade
do aluno, o SDE estará contribuindo para o desenvolvimento vocacional do orientando e
construindo, assim, uma base mais segura para os momentos em que este deverá tomar
decisões que irão definir sua trajetória profissional. Esses momentos críticos, em geral,
ocorrem nas últimas séries do ensino fundamental e do ensino médio e é quando a atuação do
orientador educacional se torna mais específica e direta. Nessa ocasião, ele irá analisar as
opções de cursos e profissões, sistematizará as sondagens de interesses, aptidões e demais
características de personalidade que vinham sendo realizadas durante os cursos e ajudará os
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alunos na elaboração de uma síntese de todas essas informações, demonstrando mais uma vez,
na prática, a importância e a necessidade de uma escolha consciente e adequada.
7.5 Aproveitamento escolar – responsabilidade, organização e disciplina
Espera-se, pois, que a escola ensine e que o aluno aprenda. Entretanto, isto não
significa que basta o aluno freqüentar a escola para, automaticamente, adquirir
conhecimentos.
Outras condições se fazem necessárias, quer no que se refere ao aluno e ao seu
ambiente familiar, quer no que se refere à instituição escolar. Nesse sentido, são importantes e
contribuem para a aprendizagem: fatores socioeconômicos e culturais, ambiente escolar e
familiar próprios, professores bem preparados e motivados, métodos de ensino e material
didático (adequados) além de, por parte do aluno, assiduidade, adaptação a escola, disciplina,
bons hábitos de estudo, condições físicas e psicológicas favoráveis e bom relacionamento com
professores e demais funcionários, bem como os colegas.
É importante que todos esses fatores, atuem como facilitadores da aprendizagem,
cabendo a toda comunidade o dever de cuidar para que isso aconteça, da melhor forma
possível. Nessa tarefa, entretanto, estão envolvidos mais diretamente, os professores, a
Coordenação Pedagógica e o orientador educacional.
Na maior parte das vezes, por questões independentes da vontade deles, a contribuição
dos professores está sujeita aos limites impostos pela sua atuação restrita às salas de aula e, a
funcionários, às funções que lhes são inerentes, por força do respectivo cargo. Faz-se
necessária, portanto, a existência de profissionais da equipe técnica que lidem com os
problemas de aprendizagem e de ensino.
A atuação do profissional que irá trabalhar com a área de acompanhamento escolar do
aluno é bastante complexa, devendo ser fundamentada em premissas ou princípios, ser
baseada em diagnósticos objetivos a ser realizada por meio de estratégias preferencialmente
preventivas, mas também remediativas, quando necessário.
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O trabalho de acompanhamento do rendimento escolar dos alunos deverá começar a
ser realizado, primeiramente, na escola, envolvendo todos os que nela atuam, passando depois
a níveis, séries, turmas, disciplinas e professores. Preventivamente, o orientador educacional
fará reuniões com professores, pais, alunos, enfim com quem for necessário, para assegurar
que todas as condições levem a um melhor aproveitamento escolar por parte dos alunos.
Nessas ocasiões, serão tratados princípios de aprendizagem que a Psicologia provou
levarem a um melhor aproveitamento de estudo como, por exemplo, a alterância entre horas
de estudo e períodos curtos de descanso; revisões freqüentes de material já estudado, leitura
ao capítulo como um todo e depois estudo de suas partes e elaboração de resumos. Serão
também enfatizados alguns procedimentos simples, mais importantes, e raramente tratados de
forma sistemática. Um deles diz respeito à organização do estudo em casa, incluindo
execução de trabalhos e pesquisas e preparo para as provas.
O bom rendimento escolar depende de organização, disciplina, responsabilidade e
distribuição adequada das tarefas em função do tempo disponível, do volume, da
complexidade das tarefas e das dificuldades específicas do aluno. São essenciais, para tanto, a
colocação dos horários de aulas e de outras atividades escolares ou não, embora regulares, em
local bem visível para consulta rápida e fácil e, também o uso adequado de uma agenda bem
organizada.
A agenda é de importância tão grande para a eficácia do trabalho escolar que todas as
escolas deveriam se incumbir, como grande parte das escolas particulares o fazem de elaborar
as próprias agendas e exigir o uso constante das mesmas para a organização do trabalho do
aluno.
O orientador educacional colabora, ainda, para melhor aproveitamento dos
alunos, procurando orientá-los no que diz respeito às provas. Uma série de fatores pode
contribuir para que o aluno se sair mal nas avaliações, mesmo quando estude bastante e
eficientemente. Problemas de atuação inadequada com relação às provas como: falta de
atenção e compreensão para com o que foi solicitado; letra ilegível; desorganização, falta de
limpeza, falhas de redação e erros gramaticais podem afetar negativamente a avaliação, da
mesma forma que a ansiedade, medo, insegurança, impulsividade também podem prejudicar o
desempenho do aluno.
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As observações dizem respeito à totalidade dos alunos da escolas. Cada série,
entretanto, costuma apresentar problemas específicos que merecem a atenção do orientador
educacional. Em sua programação anual, ele deve deixar espaço especial para elas. São
apresentados, a seguir, os principais problemas encontrados com freqüência em cada série,
para que o orientador educacional ao elaborar seu plano, os leve em consideração.
7.5.1 Lista de problemas específicos comuns nas séries indicadas:
Nas quintas séries:
- Hábito de estudo
- Adaptação à situação escolar
- Muitos professores, muitas disciplinas
- Diferentes exigências e diferentes personalidades dos professores
- Tratamento mais impessoal do aluno
- Tratamento de “adulto”
- Mudança de período ou de escola
- Namorico
- Drogas
- Problemas emocionais
- Problemas familiares
- Repetência e evasão:
Nas sextas e sétimas séries:
- Número grande de disciplinas;
- Diferentes professores, diferentes exigências;
- Transformação da puberdade;
- Drogas;
- Relacionamento com professores e colegas.
Nas oitavas séries
- Decisões vocacionais; cursos; trabalho atual e ou futuro;
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- Eventual mudanças de turno ou de escola;
- Drogas;
- Namoro;
- Disciplinas novas;
- Maiores responsabilidades fora da escola.
O acompanhamento, a assistência, as orientações é uma atividade que deve ser
realizada durante todo o ano letivo. O aluno em dificuldade ou em fracasso escolar tem
geralmente dificuldades de ordem cognitiva na resolução das tarefas escolares.
Provavelmente, também e vítima de uma degradação de seu investimento de sua alta-imagem.
Cabe o orientador educacional uma abordagem das relações entre o aluno e a escola.
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CONCLUSÃO
A orientação, hoje, caracteriza-se por um trabalho muito mais abrangente no sentido
de sua dimensão pedagógica. Possui caráter mediador junto aos demais educadores, atuando
com todos os protagonistas da escola no resgate de uma ação mais efetiva e de uma educação
de qualidade nas escolas. O orientador está comprometido com a formação da cidadania dos
alunos, considerando, em especial, o caráter da formação da subjetividade. Da ênfase anterior
à orientação individual, reforça-se hoje, o enfoque coletivo (a construção coletiva da escola e
da própria sociedade), sem entretanto, perder de vista que esse coletivo é composto por
pessoas, que devem pensar e agir a partir de questões contextuais, envolvendo tanto
contradições e conflitos, como realizações bem sucedidas. Busca-se conhecer a realidade e
transformá-la para que seja mais justa e humana.
Acredito que, hoje, não mais por imposição legal – até porque a Lei 9394/96 não traz
mais a obrigatoriedade da – Orientação mas por efetiva consciência profissional, o orientador
tem espaço próprio junto aos demais profissionais da escola, para um trabalho pedagógico
integrado, compreendendo criticando as relações que se estabelecem no processo educacional.
O orientador, mais do que nunca deve estar atento ao trabalho coletivo da escola, atuando
harmoniosamente com os demais profissionais da educação; o trabalho e interdisciplinar.
A orientação, hoje, tem que se desenvolver através de um trabalho participativo, onde
o currículo deve ser construído por todos, e onde a interdiciplinonidade deve ser buscada, para
uma melhor compreensão do processo pedagógico da escola, o trabalho é conjunto integrado.
Não ficam de um lado os professores da escola e de outro os especialistas; não é um espaço de
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luta entre vencedores e vencidos, em que uns ensinam e outros atendem a alunos e
professores. O paradigma da certeza, da razão, da verdade científica, apresentado pelo
contexto de uma época passada como o modelo existente e necessário, foi cedendo espaço a
um novo paradigma, onde novas questões passam a gerir o momento atual através das
rupturas que vão ocorrendo nos modelos vigentes. A orientação de que se fala hoje, é para
este novo tempo, em que a educação tem que saber lidar com o real, com a perspectivas dessa
realidade, entremeando esses momentos, essa passagem do presente para o futuro com a
construção do imaginário da escola, da educação e dos próprios alunos.
A concepção de orientação educacional, deve hoje estar comprometida com a
construção do conhecimento, através de uma visão da relação sujeito-objeto, em que se
afirma, ao mesmo tempo, a objetividade e a subjetividade do mundo, está considerada como
um momento individual de internalização daquela; a realidade concreta da vida dos alunos,
vendo-os como atores de sua própria história; a responsabilidade do processo educacional na
formação da cidadania, valorizando as questões do saber pensar, saber criar, saber agir e saber
falar na prática pedagógica, na atividade realizada na prática social, levando-se em
consideração que é dessa prática que provém o conhecimento, e que ele se dá como um
empreendimento coletivo; com a diversidade da educação, questionando valores pessoais e
sociais, submersos nos atos da escolha e da decisão do indivíduo; na construção da rede de
subjetividade que é tecida em diferentes momentos na escola e por ela; no planejamento e a
efetivação do projeto político-pedagógico da escola em termos de sua finalidade,
considerando os princípios que o sustentam, portanto, a filosofia da educação, que o
fundamenta e as demais áreas que o articulam.
Enfim, ao se pretender fazer uma Orientação de maior qualidade, temos que partir dos
pressupostos teóricos que a alicerçam, em uma linha mais pedagógica, sinalizando para uma
prática diversificada (portanto, não são as técnicas que vão responder por um modelo de
Orientação) interpretando esses dois momentos como indispensáveis para a consecução dos
objetivos que ela deseja alcançar.
O principal papel da Orientação será ajudar o aluno na formação de uma cidadania
crítica, e a escola, na organização e realização de seu projeto pedagógico. Isso significa,
ajudar nosso aluno “por inteiro”: com utopia, desejos e paixões. A escola, com toda a sua teca
de reações, constitui o eixo dessa área de Orientação, isto é, a Orientação trabalha na escola
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em favor da cidadania, não criando um serviço de orientação para atender aos excluídos (do
conhecimento, do comportamento, dos procedimentos, etc), mas para entendê-los, através das
relações que ocorrem (poder, saber, fazer, saber) na instituição escolar.
A Orientação Educacional deve buscar subsídios, a fundamentação teórica específica
de sua área, bem como os conhecimentos necessários para o entendimento desse novo tempo
que vivemos na sociedade e, portanto, na própria Educação. Ao caracterizar a Orientação
como uma área da Educação a inserir, como a Educação, nas dimensões sociais, culturais,
políticas e econômicas onde ela ocorre. Temos que definir as ações a serem desenvolvidas na
Escola, por um orientador competente o comprometido com as transformações sociais, com a
história de seu tempo.
O trabalho do Orientador Educacional diz respeito ao cotidiano escolar que, por sua
vez, deve estar relacionado com o movimento da sociedade local e mundial. Ela procura
explicitar as contradições, a partir de uma realidade concreta, promovendo as articulações
necessárias, as mediações possíveis, para que possamos ter uma educação mais justa, mais
solidária e democrática. A Orientação tem cada vez mais, um compromisso com a qualidade
da Educação que todos nós desejamos.
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