Onde Foi Que Voces Enterraram Nossos Mortos
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Por estes mortos, nossos mortos,
peo castigo.
Para os que salpicaram a ptria de sangue,
peo castigo.
Para o verdugo que ordenou esta morte,
peo castigo.
Para o traidor que ascendeu sobre o crime,
peo castigo.
Para o que deu a ordem de agonia,
peo castigo.
Para os que defenderam este crime,
peo castigo.
No quero que me dem a mo
empapada de nosso sangue.
Peo castigo.
No vos quero como embaixadores,
tampouco em casa tranqilos,
quero ver-vos aqui julgados,
nesta praa, neste lugar.
Quero castigo.
Pablo NerudaNossos Inimigos (Canto Geral)
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IN MEMORIAM
Abelardo Rausch Alcntara, Ablio Clemente Filho, Aderval Alves Coqueiro, Adriano
Fonseca Filho, Afonso Henrique Martins Saldanha, Albertino Jos de Oliveira, Alberto
Aleixo,Alceri Maria Gomes da Silva, Aldo de S Brito Souza Neto, Alex de Paula Xavier
Pereira, Alexander Jos Ibsen Voeroes, Alexandre Vannucchi Leme, Alfeu de Alcntara
Monteiro, Almir Custdio de Lima, Alusio Palhano Pedreira Ferreira, Amaro Luz de
Carvalho, Ana Maria Nacinovic Corra, Ana Rosa Kucinski Silva, Anatlia de Souza Melo
Alves, Andr Grabois, ngelo Arroyo, ngelo Cardoso da Silva, ngelo Pezzuti da Silva,
Antogildo Pacoal Vianna, Antnio Alfredo de Lima, Antnio Benetazzo, Antnio CarlosBicalho Lana, Antnio Carlos Monteiro Teixeira, Antnio Carlos Nogueira Cabral,
Antnio Carlos Silveira Alves, Antnio de Pdua Costa,Antnio dos Trs Reis Oliveira,
Antnio Ferreira Pinto (Alfaiate), Antnio Guilherme Ribeiro Ribas, Antnio Henrique
Pereira Neto (Padre Henrique), Antnio Joaquim Machado, Antonio Marcos Pinto de
Oliveira, Antnio Raymundo Lucena, Antnio Srgio de Mattos, Antnio Teodoro de
Castro, Ari da Rocha Miranda, Ari de Oliveira Mendes Cunha, Arildo Valado, Armando
Teixeira Frutuoso, Arnaldo Cardoso Rocha, Arno Preis, Ary Abreu Lima da Rosa, Augusto
Soares da Cunha, urea Eliza Pereira Valado, Aurora Maria Nascimento Furtado,
Avelmar Moreira de Barros, Aylton Adalberto Mortati, Benedito Gonalves, Benedito
Pereira Serra, Bergson Gurjo Farias, Bernardino Saraiva, Boanerges de Souza Massa,
Caiuby Alves de Castro, Carlos Alberto Soares de Freitas, Carlos Eduardo Pires Fleury,
Carlos Lamarca, Carlos Marighella, Carlos Nicolau Danielli, Carlos Roberto Zanirato,
Carlos Schirmer, Carmem Jacomini, Cassimiro Luiz de Freitas, Catarina Abi-Eab, Clio
Augusto Guedes, Celso Gilberto de Oliveira, Chael Charles Schreier, Cilon da Cunha Brun,
Ciro Flvio Salasar Oliveira, Cloves Dias Amorim, Custdio Saraiva Neto, Daniel Jos de
Carvalho, Daniel Ribeiro Callado, David Capistrano da Costa, David de Souza Meira,
Dnis Casemiro, Dermeval da Silva Pereira, Devanir Jos de Carvalho, Dilermano Melo
Nascimento, Dimas Antnio Casemiro, Dinaelza Soares Santana Coqueiro, Dinalva
Oliveira Teixeira, Divino Ferreira de Souza, Divo Fernandes de Oliveira, Djalma Carvalho
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Maranho, Dorival Ferreira, Durvalino de Souza, Edgard Aquino Duarte, Edmur Pricles
Camargo, Edson Luis de Lima Souto, Edson Neves Quaresma, Edu Barreto Leite, Eduardo
Antnio da Fonseca, Eduardo Collen Leite (Bacuri), Eduardo Collier Filho, Eiraldo Palha
Freire, Elmo Corra, Elson Costa, Elvaristo Alves da Silva, Emanuel Bezerra dos Santos,
Enrique Ernesto Ruggia, Epaminondas Gomes de Oliveira, Eremias Delizoicov, Eudaldo
,Gomes da Silva, Evaldo Luiz Ferreira de Souza, Ezequias Bezerra da Rocha, Flix Escobar
Sobrinho, Fernando Augusto Santa Cruz Oliveira, Fernando Augusto Valente da Fonseca,
Fernando Borges de Paula Ferreira, Fernando da Silva Lembo, Flvio Carvalho Molina,
Francisco das Chagas Pereira, Francisco Emanoel Penteado, Francisco Jos de Oliveira,
Francisco Manoel Chaves, Francisco Seiko Okama, Francisco Tenrio Jnior, Frederico
Eduardo Mayr, Gastone Lcia Carvalho Beltro, Gelson Reicher, Geraldo Magela Torres,
Fernandes da Costa, Gerosina Silva Pereira, Gerson Theodoro de Oliveira, Getlio deOliveira Cabral, Gilberto Olmpio Maria, Gildo Macedo Lacerda, Grenaldo de Jesus da
Silva, Guido Leo, Guilherme Gomes Lund, Hamilton Fernando da Cunha, Helber Jos
Gomes Goulart, Hlcio Pereira Fortes, Helenira Rezende de Souza Nazareth, Heleny Telles
Ferreira Guariba, Hlio Luiz Navarro de Magalhes, Henrique Cintra Ferreira de Ornellas,
Higino Joo Pio, Hiran de Lima Pereira, Hiroaki Torigoe, Honestino Monteiro Guimares,
Iara Iavelberg, Idalsio Soares Aranha Filho, Ieda Santos Delgado, ris Amaral, Ishiro
Nagami, sis Dias de Oliveira, Ismael Silva de Jesus, Israel Tavares Roque, Issami
Nakamura Okano, Itair Jos Veloso, Iuri Xavier Pereira, Ivan Mota Dias, Ivan Rocha
Aguiar, Jaime Petit da Silva, James Allen da Luz, Jana Moroni Barroso, Jane Vanini
Jarbas Pereira Marques, Jayme Amorim Miranda, Jeov Assis Gomes, Joo Alfredo Dias,
Joo Antnio Abi-Eab, Joo Barcellos Martins, Joo Batista Franco Drummond, Joo
Batista Rita, Joo Bosco Penido Burnier (Padre), Joo Carlos Cavalcanti Reis, Joo Carlos
Haas Sobrinho, Joo Domingues da Silva, Joo Gualberto Calatroni, Joo Leonardo da
Silva Rocha, Joo Lucas Alves, Joo Massena Melo, Joo Mendes Arajo, Joo Roberto
Borges de Souza, Joaquim Alencar de Seixas, Joaquim Cmara Ferreira, Joaquim Pires
Cerveira, Joaquinzo, Joel Jos de Carvalho, Joel Vasconcelos Santos, Joelson Crispim,
Jonas Jos Albuquerque Barros, Jorge Alberto Basso, Jorge Aprgio de Paula, Jorge Leal
Gonalves Pereira, Jorge Oscar Adur (Padre), Jos Bartolomeu Rodrigues de Souza, Jos
Campos Barreto, Jos Carlos Novaes da Mata Machado, Jos de Oliveira, Jos de Souza
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Jos Ferreira de Almeida, Jos Gomes Teixeira, Jos Guimares, Jos Huberto Bronca,
Jos Idsio Brianezi, Jos Inocncio Pereira, Jos Jlio de Arajo, Jos Lavechia, Jos
Lima Piauhy Dourado, Jos Manoel da Silva, Jos Maria Ferreira Arajo, Jos Maurlio
Patrcio, Jos Maximino de Andrade Netto, Jos Mendes de S Roriz, Jos Milton Barbosa
Jos Montenegro de Lima, Jos Porfrio de Souza, Jos Raimundo da Costa, Jos Roberto
Arantes de Almeida, Jos Roberto Spiegner, Jos Roman, Jos Sabino, Jos Silton
Pinheiro, Jos Soares dos Santos, Jos Toledo de Oliveira, Jos Wilson Lessa Sabag,
Juarez Guimares de Brito, Juarez Rodrigues Coelho, Kleber Lemos da Silva, Labib Elias
Abduch, Lauriberto Jos Reyes, Lbero Giancarlo Castiglia, Lgia Maria Salgado Nbrega,
Lincoln Bicalho Roque, Lincoln Cordeiro Oest, Lourdes Maria Wanderley Pontes,
Loureno Camelo de Mesquita, Lourival de Moura Paulino, Lcia Maria de Souza,
Lucimar Brando, Lcio Petit da Silva, Lus Alberto Andrade de S e Benevides,Lus Almeida Arajo, Lus Antnio Santa Brbara, Lus Incio Maranho Filho,
Luis Paulo da Cruz Nunes, Luiz Affonso Miranda da Costa Rodrigues, Luiz Carlos
Almeida, Luiz Eduardo da Rocha Merlino, Luiz Eurico Tejera Lisboa, Luiz Fogaa
Balboni, Luiz Gonzaga dos Santos, Luz Guilhardini, Luiz Hirata, Luiz Jos da Cunha,
Luiz Renato do Lago Faria, Luiz Renato Pires de Almeida, Luiz Ren Silveira e Silva,
Luiz Vieira, Luza Augusta Garlippe, Lyda Monteiro da Silva, Manoel Aleixo da Silva,
Manoel Fiel Filho, Manoel Jos Mendes Nunes de Abreu, Manoel Lisboa de Moura,
Manoel Raimundo Soares, Manoel Rodrigues Ferreira, Manuel Alves de Oliveira,
Manuel Jos Nurchis, Mrcio Beck Machado, Marco Antnio Brs de Carvalho,
Marco Antnio da Silva Lima, Marco Antnio Dias Batista, Marcos Jos de Lima,
Marcos Nonato Fonseca, Margarida Maria Alves, Maria ngela Ribeiro,
Maria Augusta Thomaz, Maria Auxiliadora Lara Barcelos, Maria Clia Corra, Maria
Lcia Petit da Silva, Maria Regina Lobo Leite de Figueiredo, Maria Regina Marcondes
Pinto, Mariano Joaquim da Silva, Marilena Villas Boas, Mrio Alves de Souza Vieira,
Mrio de Souza Prata, Maurcio Grabois, Maurcio Guilherme da Silveira, Merival Arajo,
Miguel Pereira dos Santos, Milton Soares de Castro, Mriam Lopes Verbena, Neide Alves
dos Santos, Nelson de Souza Kohl, Nelson Jos de Almeida, Nelson Lima Piauhy Dourado,
Nestor Veras, Newton Eduardo de Oliveira, Nilda Carvalho Cunha, Nilton Rosa da Silva
(Bonito), Norberto Armando Habeger, Norberto Nehring, Odijas Carvalho de Souza, Olavo
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Hansen, Onofre Pinto, Orlando da Silva Rosa Bonfim Jnior, Orlando Momente, Ornalino
Cndido da Silva, Oroclio Martins Gonalves, Osvaldo Orlando da Costa, Otvio Soares
da Cunha, Otoniel Campo Barreto, Pauline Reichstul, Paulo Csar Botelho Massa, Paulo
Costa Ribeiro Bastos, Paulo de Tarso Celestino da Silva, Paulo Mendes Rodrigues, Paulo
Roberto Pereira Marques, Paulo Stuart Wright, Pedro Alexandrino de Oliveira Filho,
Pedro Carretel, Pedro Domiense de Oliveira, Pedro Incio de Arajo, Pedro Jernimo de
Souza, Pedro Ventura Felipe de Arajo Pomar, Pricles Gusmo Rgis, Raimundo Eduardo
da Silva, Raimundo Ferreira Lima, Raimundo Gonalves Figueiredo, Raimundo Nonato
Paz, Ramires Maranho do Vale, Ransia Alves Rodrigues, Raul Amaro Nin Ferreira,
Reinaldo Silveira Pimenta, Roberto Cieto, Roberto Macarini, Roberto Rascardo Rodrigues,
Rodolfo de Carvalho Troiano, Ronaldo Mouth Queiroz, Rosalindo Souza, Rubens Beirodt
Paiva, Rui Osvaldo Aguiar Pftzenreuter, Ruy Carlos Vieira Berbert, Ruy Frazo Soares,Santo Dias da Silva, Sebastio Gomes da Silva, Srgio Correia, Srgio Landulfo Furtado,
Severino Elias de Melo, Severino Viana Colon, Sidney Fix Marques dos Santos, Silvano
Soares dos Santos, Soledad Barret Viedma, Snia Maria Lopes de Moraes Angel Jones,
Stuart Edgar Angel Jones, Suely Yumiko Kanayama, Telma Regina Cordeiro Corra,
Therezinha Viana de Assis, Thomaz Antnio da Silva Meirelles Neto, Tito de Alencar
Lima (Frei Tito), Tobias Pereira Jnior, Tlio Roberto Cardoso Quintiliano, Uirassu de
Assis Batista, Umberto Albuquerque Cmara Neto, Valdir Sales Saboya, Vandick Reidner
Pereira Coqueiro, Victor Carlos Ramos, Virglio Gomes da Silva, Vtor Luz Papandreu,
Vitorino Alves Moitinho, Vladimir Herzog, Walkria Afonso Costa, Walter de Souza
Ribeiro, Walter Kenneth Nelson Fleury, Walter Ribeiro Novaes, Wnio Jos de Mattos,
Wilson Silva, Wilson Souza Pinheiro, Wilton Ferreira, Yoshitane Fujimori, Zuleika Angel
Jones
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Onde foi que
vocs enterraram
nossos mortos?
ALUZIO PALMAR
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COPYRIGHT Aluzio Palmar
4 EDIO 2012
organizao dos originais e projeto grfico
capaSIMON LUIZ DUCROQUET
foto da capaDIEGO SINGH
RevisoDOUGLAS FURIATTI
Dados internacionais de catalogao na publicaoBibliotecria responsvel Mara Rejane Vicente Teixeira
Palmar, Aluzio, 1943Onde foi que vocs enterraram nossos mortos?
Aluzio Palmar Curitiba Travessa dos Editores
xxxxp : Il ; 22 cm
ISBN 85-89485 50 - 1Inclui Bibliografia
1. Pessoas desaparecidas Brasil ditadura. 2 Prisioneiros polticos Brasil.3. Tortura Brasil I. Ttulo
CDD (21 Ed.)
xxxxx
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SUMRIO
[12] Arqueologia poltica
[20] A cachorrada nadou de braadas
[25] A obsesso de Onofre
[28] Um rquiem para a VPR
[30] Cianureto para escapar das torturas[39] Ch, guerrilha e tenso
[42] Arquivos vivos queimados
[46] Liliane Ruggia entra em cena
[57] Marival confirma a traio
[66] Escavaes em Nova Aurora
[74] Nenhuma pista deve ser descartada
[81] Vasculhando os arquivos da ditadura
[93] Madalena e Gilberto
[122] Buscando pistas em Capanema
[127] O italiano virou japons
[132] Enfim a tal base fictcia
[140] Com a ponta do novelo entre os dedos
[147] Assim aconteceu o caso
[155] O ministrio de Onofre
[161] A busca na regio do lago[169] Como eu entrei nessa
[180] Um furaco sobre nossas cabeas
[188] A guerrilha que no aconteceu
[193] Nos crceres da ditadura
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[199] Noites de terror no Ah
[202] Clandestino no exlio
[210] Aos tropeos com a morte
[215] Certa tarde em Buenos Aires
[219] A verdade estabelecida
(245) Revelaes de Otvio Camargo, testemunha
da chacina do Parque Nacional do Iguau
(269) Revelaes do contato de Onofre Pinto, que sucumbiu e passou pro
lado da represso
(282) Uma carta comovente
[289] A Guerrilha de Trs Passos e o comportamento de Alberi
[296] Fontes informativas e referncias bibliogrficas
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ARQUEOLOGIA POLTICA
ELES FORAM ATRADOS pelo ex-sargento da Brigada Militar do Rio Grande do
Sul, Alberi Vieira dos Santos, para uma emboscada armada dentro do Parque
Nacional do Iguau. A Rural Willys dirigida por Otvio Camargo, militar do Centro
de Informaes do Exrcito, apresentado ao grupo como membro da base de
apoio da VPR, trafegou seis quilmetros pela Estrada do Colono levando Joel
Jos de Carvalho, Daniel de Carvalho, Jos Lavchia, Victor Carlos Ramos e
Ernesto Ruggia em direo morte. De repente, no meio da floresta exuberante,
os cinco militantes da esquerda revolucionria caram fuzilados pelo grupo deextermino. Os ces de guerra comandados pelos chefes do Centro de
Inteligncia do Exrcito executavam a fase final da Operao Juriti, que consistia
em atrair exilados polticos para reas fictcias de guerrilha e mat-los.
Entre todos, Onofre era o mais procurado pelos golpistas de 1964, devido a
sua participao no Movimento dos Sargentos, que durante o governo Goulart
lutou pelo direito dos suboficiais sargentos e cabos exercem mandato parlamentar,
alm de ter sido um dos fundadores da Vanguarda Popular Revolucionria e terrecrutado o Capito Carlos Lamarca para essa organizao. Ele foi preso em
maro de 1969 e solto seis meses depois, junto com outros 14 presos polticos,
em troca do embaixador americano no Brasil. Tinha 36 anos quando foi
assassinado em Foz do Iguau. Joel Jos de Carvalho era o filho mais novo da
famlia Carvalho, que na dcada de 1950 migrou para So Paulo em busca de
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melhores condies e se estabeleceu no ABC paulista no incio da instalao das
indstrias metalrgicas e automobilsticas. Tal como seu irmo, o torneiro
mecnico Daniel, ele comeou sua militncia poltica no Partido Comunista
Brasileiro e aps o golpe militar de 64 passou a atuar no PC do B. Ao divergir com
essa organizao, organizou a Ala Vermelha, depois Movimento Revolucionrio
Tiradentes e ingressou posteriormente na VPR. Joel morreu com 26 anos e Daniel
com 28 anos. Antes deles, o irmo mais velho, Devanir, dirigente do Sindicato. dos
Metalrgicos de So Bernardo do Campo, foi assassinado na tortura em abril de
1971. Daniel e Joel saram da priso em troca do embaixador suo Giovanni
Bucher, seqestrado por um comando revolucionrio da VPR. Jos Lavchia era o
mais velho, morreu com 55 anos, Enrique Ernesto Ruggia o mais novo do grupo
vtima da cilada montada na Regio Oeste do Paran. Argentino, estudante deagronomia veio para o Brasil acompanhando seu amigo Joel Carvalho. Conta sua
irm Liliane, que Enrique tinha idias socialistas, mas nenhuma militncia orgnica
em partidos ou entidades.
Corria o ano de 1974 e Liliane trabalhava e estudava. Num dia do ms de julho
Enrique chegou ao seu local de trabalho e lhe disse que viajaria para o Brasil junto
com Joel e outras pessoas. Deu-me um beijo, disse que voltaria em uma semana
ou dez dias, que iria fazer uma tarefa poltica, e se foi. Fiquei petrificada. Eu
estava num escritrio pblico, a rua cheia de gente. Fiquei assim, sem ao, por
alguns segundo. Quando me dou conta do que estava sucedendo, me largo pelas
escadas, chego na rua, mas nunca mais o vi, recorda Liliane. Enrique Ernesto
Ruggia morreu com 18 anos. Victor Carlos Ramos saiu do Brasil e foi para o
Uruguai ao ter sua priso preventiva decretada pelo tribunal militar. Logo aps, foi
para o Chile e com o golpe militar que derrubou o governo de Salvador Allende se
asilou na embaixada da Argentina, em Santiago. Ele era escultor e tinha 30 anos
quando conheceu Suzana Machado, 21, com quem se casou no dia 20 de
Fevereiro de 1974. Trs meses aps o casamento, Suzana, que pertencia
Juventude Peronista, morreu, segundo verso oficial, num acidente de carro. A
famlia dela no acredita que tenha sido acidente. Dois meses aps a morte da
mulher, Victor ingressou no grupo de Onofre e retornou clandestinamente ao
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Brasil. Antes, porm, enviou um telegrama para o sogro datado de 12 de Julho de
1974, dizendo que voltaria logo. Victor foi assassinado no Parque Nacional do
Iguau com trinta anos de idade.
A partir de 1974, com a eliminao de todas as organizaes que optaram
pela luta armada, a ditadura mandava para o exterior seus agentes infiltrados ou
recrutados dentro da prpria esquerda. Esses agentes procuravam aqueles
militantes que estavam propensos a continuar a luta e os convidavam a regressar
ao Brasil. A armadilha da qual foram vtimas Lavchia, Onofre, Daniel, Victor, Joel
e Ruggia, nada mais foi do que uma armao de um setor da represso poltica
para convencer o Conselho do Segurana Nacional a continuar oxigenando com
recursos as estruturas operacionais de captura dos adversrios do regime militar
dentro das foras armadas.Para tanto precisavam do servio de pessoas com trnsito livre entre as
organizaes e militantes de esquerda que estavam no exlio. O cabo Anselmo e
Alberi so os mais famosos desses agentes que, disfarados de membros da
resistncia, agiram com desfaatez e atraram para a morte exilados que
estudavam, trabalhavam ou constituam famlia no exterior.
O ex-cabo Anselmo o responsvel por vrias prises e mortes de
militantes de esquerda. Ele montou uma armadilha que, no dia 8 de Janeiro de
1973, resultou na morte de Eudaldo Gomes da Silva, Evaldo Luiz Ferreira de
Souza, Jarbas Pereira Marques, Jos Manoel da Silva, Pauline Philippe Reichstul
e Soledad Barret Viedna. Esses militantes da VPR foram presos, torturados e
assassinados. Seus corpos apareceram numa chcara em So Bento, na Grande
Recife.
Oito meses aps o massacre de Pernambuco, os militares enviaram Alberi
para o Chile com a misso de atrair o que havia restado da VPR para uma
armadilha no Sul do pas. Porm, com o golpe militar que derrubou o governo de
Salvador Allende, o recrutador da morte acabou indo parar no Mxico. Nesse pas,
ele recebeu um passaporte da Embaixada Brasileira e foi para a Argentina atrs
dos exilados, e s descansando quando os levou para a emboscada armada
dentro do Parque Nacional.
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Durante 26 anos procurei saber o que havia acontecido com o grupo.
Finalmente, cheguei ao fim e o destino dos seis remanescentes da Vanguarda
Popular Revolucionria poder ser expostos luz. Quem diria que a chave para
desvendar um dos mistrios mais bem guardados do perodo ditatorial estava aqui
perto? E o mais inusitado que s descobri isso depois de passar tanto tempo
pesquisando, remoendo, querendo saber as circunstncias das mortes e a
localizao da cova onde foram enterrados os integrantes do grupo que
acompanhou Onofre Pinto.
A primeira vez que eu manifestei minha opinio sobre o desaparecimento
dos militantes da Vanguarda Popular Revolucionria, que entraram no Brasil em
Julho de 1974 para continuar com as aes armadas contra a ditadura, foi em
Outubro ou Novembro de 1980, quando recebi a visita do jornalista Marco AurlioBorba. Ele esteve em Foz do Iguau em busca de informaes para uma matria
sobre o cabo Anselmo que seria publicada na revista Playboy em janeiro do ano
seguinte1.
Eu ainda carregava muitas seqelas adquiridas na vida clandestina quando
Marco Aurlio chegou a minha casa. Fazia pouco tempo que eu havia regressado
Foz do Iguau depois de passar oito anos clandestino na fronteira e cinco meses
clandestino no Rio de Janeiro. Eu havia voltado em Maio de 1979, vindo da
Argentina onde morava desde 1972, ano em que sa clandestino do Chile para
reativar a luta revolucionria no Brasil. Voltei antes da anistia, pois a ditadura
Argentina estava em plena campanha de cerco e aniquilamento da esquerda e em
qualquer momento eu podia ser preso e pr em risco de morte minha mulher
Eunice e trs filhos.
Quando Marco Aurlio me procurou eu o recebi ainda desconfiado e
falando meias verdades. Fiz algumas revelaes sobre as discusses ocorridas no
1A Vanguarda Popular Revolucionria foi criada em Maro de 1968, ainda sem esse nome, e fezalgumas das aes mais espetaculares da guerrilha, como o assalto a um hospital militar em SoPaulo. A fundao oficial da organizao ocorreu em Dezembro de 1968. Um ms depois, a VPRconseguiria sua mais famosa adeso: o capito do Exrcito Carlos Lamarca fugiu com armas deum quartel em Quintana (Grande So Paulo) para unir-se aos guerrilheiros.
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Sabia que Onofre e outras pessoas estavam embarcando numa canoa
furada, mas no tinha como avis-los. Na dvida, decidi fugir, escapar do encontro
que poderia resultar em minha morte. Mais tarde, ao voltar do exlio, obtive a
confirmao de que Alberi havia passado para o lado da represso e sua misso
era atrair militantes da esquerda armada para armadilhas montada pelo Centro de
Informaes do Exrcito. Passados dezoito meses da chacina acontecida em
Pernambuco, quando seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionria (VPR)
foram assassinados, a mesma histria se repetiu no Oeste do Paran. Em
Pernambuco o cachorro foi o cabo Anselmo; no Paran o sargento Alberi. L
foram seis vtimas; aqui tambm foram seis. Tristes coincidncias!
Trinta anos aps aquele incio de 1974, em que a intuio e a desconfiana
me levaram a escapulir da arapuca, terminaram as minhas buscas, acabaram asinquietaes que durante anos atormentaram a minha alma. Ao buscar os
desaparecidos vasculhei arquivos, analisei milhares de documentos emitidos pelos
rgos que faziam parte do sistema repressivo da ditadura e montei vrias
situaes e cenrios. Tinha conscincia de que era preciso ter um cuidado
especial com aqueles papeis produzidos pela ditadura. Naqueles escritos havia
tanto informaes como contra-informaes, verdades e mentiras. Por isso no
me ative apenas a documentos: parti atrs de depoimentos e para tanto me
internei no Sudoeste do Paran e Noroeste do Rio Grande do Sul.
A descoberta do local onde foram enterrados os desaparecidos do
chamado grupo de Onofre Pinto no aconteceu por acaso, at porque nada
acontece por acaso. Achei porque tive pacincia, fui persistente, no desdenhei
nenhuma pista e ao pesquisar arquivos do regime militar procurei checar e cruzar
todo e qualquer dado. Foi um encadeamento contnuo de informaes, de
descobrimentos e mais informaes. Fui atrs e ouvi depoimentos de Antnio
Maffi, Roberto De Fortini, Joo Bona Garcia, Umberto Trigueiros Lima e dos
parentes de Alberi. Maffi, Fortini, Bona e Umberto foram, tal como eu, cantados
por Alberi para integrar o grupo que foi eliminado ao entrar em territrio brasileiro.
Demorou, mas agora j sei como morreram e tenho a pista que pode levar
ao lugar onde enterraram os ltimos guerrilheiros da VPR. Contudo, o xito da
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descoberta se funde angstia de minhas descobertas ao vasculhar os
escaninhos de minha memria, ainda danificada pelos traumas adquiridos nas
torturas, priso, exlio e clandestinidade.
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Vctor Ramos
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ACACHORRADA NADOU DE BRAADAS
EU MORAVA NO CASARO que a VPR mantinha no Paradero Deciocho,
da Avenida Santa Rosa, em Santiago, quando o cabo Anselmo chegou ao Chile
em outubro de 1971. Ns estvamos reunidos e de repente houve um alvoroo.
Era Ubiratan Vatutim procurando o Onofre Pinto. Algum importante havia
chegado do Brasil e pedido o Jos Duarte para lev-lo at o Onofre. Duarte pediu
ento ajuda de Vatutim para chegar ao comando da Organizao.
Mais tarde eu soube que a agitao foi causada pela chegada do cabo
Anselmo. Porm eu estava longe de desconfiar, tal como os demaiscompanheiros, que o mtico lder da Revolta dos Marujos de 64 era o mais recente
cachorro da represso e pea-chave de uma operao conjunta do Centro de
Informao da Marinha (Cenimar) e do delegado Srgio Paranhos Fleury. Estava
sendo inaugurada uma nova estratgia da represso que at ento punha os seus
agentes apenas para seguir os militantes de esquerda esparramados pelo mundo.
Agora tratava-se de atra-los para o retorno clandestino ao Brasil e mat-los.
Anselmo foi a isca para a represso localizar, atrair, prender, torturar e matartodos aqueles que cassem na armadilha.
O ex-marinheiro chegou a Santiago em outubro de 1971 e foi posto em
contato com a ex-dirigente da VPR Maria do Carmo Brito, por intermdio de
Anglica Faun, militante da esquerda boliviana. O plano da represso poderia ter
sido abortado naquele encontro, pois alguns dias antes Maria do Carmo soube por
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uma amiga que visitou na priso a tambm ex-dirigente da VPR, Ins Etienne
Romeu, que Anselmo havia sido preso 2.
Aquela informao seria o suficiente para o cabo cair do cavalo, pois pela
lgica se algum como ele tinha sido preso, continuaria preso ou morto, e no
circulando livremente por Santiago.
Para a sorte do cachorro de Fleury, as denncias de Maria caram no
vazio. Ela estava com a imagem desgastada entre os membros da VPR, naquela
altura uma organizao dividida por desconfianas e intrigas de toda natureza. As
patrulhas ideolgicas e os mtuos antemas faziam parte daqueles tempos de luta
interna extremada.
Quando a denncia de Ins Etienne chegou ao Chile, a VPR passava por
sua ltima e mais intensa luta interna. Dentro do Brasil a organizao estavadestroada e no interior seus quadros discutiam se era vivel ou no o congresso
que havia sido convocado um ano e cinco meses antes pelo auto-extinto comando
no Brasil. Em torno dessa questo, a VPR acabou dividindo-se em trs faces:
1 O grupo do Onofre no queria o congresso, defendia o retorno imediato
ao Brasil e a retomada das aes armadas; 2 O grupo liderado por ngelo
Pezzuti defendia a realizao do congresso para definir os rumos da organizao;
3 Os militantes recentemente chegados de Cuba e da Coria do Norte queriam o
congresso e, ao contrrio do grupo de ngelo, no aceitavam esmagar o Onofre.
Confiante na informao recebida por sua mulher e na desconfiana que
ela tinha do cabo Anselmo, ngelo Pezzuti saiu atrs de Onofre para convenc-lo
da traio do ex-cabo. Onofre, porm, alm de fazer pouco caso da informao,
deu US$ 50 mil para Anselmo montar em Pernambuco uma infraestrutura
destinada a receber os militantes que estariam voltando do treinamento.
2Ins Etienne foi presa em So Paulo em 5 de maio de 1971 e levada para a Delegacia de OrdemPoltica e Social (DOPS) de Srgio Paranhos Fleury. Na tortura ela inventou um ponto lugar deencontro entre militantes no Rio de Janeiro e ao ser levada para o local se atirou sob um nibus,sendo retirada ma seqncia do Hospital Central do Exrcito e mantida encarcerada durante 96dias numa casa que o Centro de Informaes do Exrcito mantinha em Petrpolis. O informe deIns Etienne saiu do hospital e foi direto para nas mos de sua amiga Maria do Carmo Brito.
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60, foi vtima de um atentado neonazista, que marcou sua pele com uma cruz
sustica.
Soledad Barret Viedna morava em So Paulo quando Onofre a ps em
contato com o cabo Anselmo. Filha de comunista, Soledad seguiu o caminho da
dispora latino-americana. Morou no Uruguai, Argentina, Unio Sovitica e Cuba,
onde se casou com o brasileiro Jos Maria Ferreira Arajo, o Aribia. Arajo
voltou ao Brasil em 1970 e consta como desaparecido poltico. Cansada de
esperar notcias de Jos Maria, ela deixou em Cuba a filha aysandy e veio para
o Brasil em 1972.
A primeira misso do jovem Jorge Barret como correio de Onofre foi
atravessar a fronteira com sua guitarra a tiracolo e alugar em So Paulo um
apartamento para sua irm Sol assim era intimamente chamada - e entregaruma carta. Na carta, instrues de Onofre para ela encontrar-se com o cabo
Anselmo e ir para a base da VPR no Recife, onde ajudaria na construo de uma
fachada para a infraestrutura montada pela organizao. Jorge fez outras viagens
do Chile para o Brasil, levando instrues e dinheiro. A ltima viagem precipitou o
massacre dos militantes da VPR em Pernambuco.
Cerca de um ano aps o cabo Anselmo ter estado no Chile e diante das
denncias e evidncias de que o cabo era um traidor, Onofre acabou dando
acolhida sugesto do coletivo formado para investigar as denncias, e enviou
uma mensagem para a base de Recife. Cometeu, porm, o erro de escolher como
emissrio o jovem irmo de Soledad, que vinha a ser a mulher de Anselmo. Jorge
entregou a carta sua irm, que ingenuamente, mostrou ao cabo o comunicado
que recomendava a evacuao da rea.
De imediato o cabo avisou o grupo de extermnio que o pessoal ia dar no
p. O sinal dado pelo cabo Anselmo chegou at Fleury que acionou a execuo
da fase final do plano elaborado em conjunto com o Cenimar, onde morreram
fuzilados aps terem sido brutalmente torturados os seis membros da VPR,
inclusive Soledad. Os corpos dos militantes da VPR foram levados horrivelmente
desfigurados e com muitas perfuraes para o Instituto Mdico Legal do Recife.
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Ao mesmo tempo em que os ces de guerra executavam a chacina,
Anselmo foi posto num avio e enviado para So Paulo, juntamente com o agente
do DOPS Carlos Alberto Augusto, infiltrado no grupo com o nome de Csar4. No
mesmo avio seguiu o irmo de Soledad, o inocente pombo-correio de Onofre
Pinto transformado em mensageiro da morte. Ele foi conduzido para o DEOPS
paulista, onde ficou preso por algum tempo no fundo sendo mais tarde levado
para o Rio de Janeiro e enviado para o Chile num avio de carreira..
O massacre repercutiu como uma bomba no Chile e Onofre foi acusado por
uns de conivncia e por outros de traio. O dio dos membros da VPR e de
outras organizaes da esquerda armada brasileira se voltou contra o ex-
comandante da VPR no exterior, que destronado e desmoralizado decidiu ir para o
outro lado da Cordilheira dos Andes. Ele j no tinha mais espao no Chile.
4O hoje delegado Carlos Alberto Augusto foi o agente policial que Fleury plantou na base da VPRem Recife. Ele usava o codinome de Csar.
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AOBSESSO DE ONOFRE
ONOFRE PINTO SE MUDOU para Buenos Aires antes do golpe militar no Chile e
levou consigo contatos e algum dinheiro da organizao, o suficiente para garantir
sua manuteno no exlio.
Saiu do Chile porque no seria mais o todo-poderoso que possua bons
contatos com a embaixada cubana e com a extrema-esquerda chilena. Estava
carimbado como o responsvel pela morte dos seis militantes da VPR e mais um
nmero considervel de prises e mortes em outras organizaes.
Nada mais seria como antes, quando em meados de 1971 aportou em
Santiago, vindo da Arglia, para onde tinha ido aps sair de Cuba. Naquela
ocasio estava cheio de planos e assumiu o comando da organizao sem
encontrar maior resistncia. Maria do Carmo Brito torceu o nariz para o
despropsito da ingerncia, mas no se ops. Com o campo livre para preparar aoperao retorno, ele tratou de organizar infraestruturas para receber no Brasil o
pessoal que ainda estava em Cuba e na Europa. Mais tarde seria a vez do ltimo
contingente que sara para treinar na Coria.
A idia era montar vrias unidades de combate que iriam atuar
rigorosamente compartimentadas e de forma simultnea. Ele seria o comandante-
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chefe da nova Vanguarda Popular Revolucionria. Para tanto tinha os militantes
quase todos banidos, gente experiente e treinada, alm de muito dinheiro. Pelo
menos no incio no haveria necessidade de fazer expropriaes5.
ento que acontece o inesperado, levando seus planos por gua abaixo.
Por que no dera ouvidos a Maria do Carmo e ao Digenes Arruda? A vaca foi pro
brejo, e no adianta lamentar. O equvoco j havia sido cometido, no acreditou
que o cabo fosse um agente inimigo e agora carrega a culpa de ser o responsvel
pelo massacre de Recife e outras mortes ocorridas no Brasil.
J no iria mais freqentar o apartamento de Nanny Barret, ir com ela
Pea de Los Parras e ouvir as msicas de Violeta, cantadas pela voz penetrante e
grave da amiga paraguaia. Agora, depois do massacre de Recife, fruto de sua
leviandade, Nanny chora a morte da irm assassinada aos 28 anos, a meiga eguerreira Soledad, entregue para a morte pelo prprio marido, o cabo traidor.
Sobre sua irm assassinada no Brasil, Nanny escreveu um texto que foi
publicado em Maio de 1991 no boletim Hasta Encontrarlos, da Federao Latino-
Americana de Familiares de Desaparecidos:
Seu nome refletia a ausncia de nosso pai, que j nessa era
perseguido por suas idias polticas como o fora tambm seu pai,
nosso av, o escritor Rafael Barret.
Quando Soledad tinha apenas trs meses tivemos que fugir
para a Argentina, onde passamos a viver num pequeno povoado s
margens do Rio Paran, durante cinco anos; quatro dos quais nosso
pai esteve preso oi perseguido, tanto pela polcia paraguaia como
argentina.
Regressamos ao Paraguai e Soledad, com seus cinco anos e
sua maneira de ser to doce, se converteu na adorao de quem a
via. Tinha uma forma de falar pausada que lhe valeu o apelido de
viejita entre seus irmos. Era uma criatura formosa, de cabelos cor
de ouro, macios e longos, pele branca e sobrancelhas de cor
castanho escuro, quase negro. No gostava de caminhar, preferia
5 Trata-se de parte dos US$ 2,6 bilhes do cofre do ex-governador de So Paulo Adhemar deBarros enriquecido por anos e anos de corrupo. O cofre foi retirado no dia 18 de julho de 1969da manso onde morava o cardiologista Aaro Burlamarqui Benchimol, irmo de Ana GuimolBenchimol Capriglione, que por sua vez fora amante de Adhemar de Barros.
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sentar-se e inventar histrias entre longos suspiros que provocavam
o riso e manifestaes de carinho de todos que a ouviam...
Adolescente e exilada no Uruguai, dona de uma graa especial
para a dana folclrica, se converteu pouco a pouco no smbolo da
juventude paraguaia nesse pas, tanto que no era a artista
convidada.
Eram tempos de mudanas no Uruguai, a tradio democrtica
ia perdendo terreno, estava sendo minada. No dia 1 de julho de
1962, Soledad foi um automvel e, sob ameaas de todos os tipos,
quiseram obrig-la a gritar palavras de ordem totalmente contrrias
s suas idias.
Soledad se negou. Ento, com uma navalha lhe gravaram na
carne uma cruz gamada, smbolo de Hitler, e a abandonaram em um
local escuro, atrs do parque zoolgico de Villa Dolores.Era o comeo das perseguies, prises e torturas no Uruguai.
Soledad, de vtima, passou a ser culpada para a polcia e foi de tal
forma a perseguio que teve que ir-se. Esteve muitos anos longe
de sua famlia, de sua terra. Um dia conheceu Jos Maria, se
amaram e tiveram uma filha, mas o destino estava traado, e ele
retornou ao seu Brasil.
Ela em vo o esperou por mais de um ano e decidiu vir a seu
encontro. O fruto desse amor o mais fiel testemunho do triste
destino do nosso Continente. Crianas sem pais, sem o direito deserem crianas, sem o direito felicidade.
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UM RQUIEM PARA A VPR
EU ESTAVA FORA DO CHILE quando houve o massacre em Recife. Havia
sado clandestino em maro de 1972, dentro da perspectiva de organizar bases
para a luta revolucionria na regio Sul do Brasil. S retornei em julho de 1973
para participar de uma reunio de avaliao, que formalizaria a extino da VPR.
Acompanhado pelo boliviano David Acebey Delgadillo, que atendia pelo nome de
Pepe, fui at Mendoza e cruzei a cordilheira num micronibus6.
A outra vez em que eu atravessei aquela fronteira foi por cima, a bordo de
um Boeing-707 da Varig que transportou os 70 presos polticos trocados pelo
embaixador da Sua no Brasil, Giovanni Enrico Bucher. O avio aterrisou no
aeroporto de Pudahuel s 4h22 do dia 14 de Janeiro de 1971, e ao descer pista
erguemos os punhos fechados, abrimos a bandeira do pas que nos recebia e
cantamos a Internacional. Naquela poca carregvamos o fervor revolucionrio e
imaginvamos que o Chile seria apenas uma estao at a volta ao Brasil para
continuar a luta. Tomados pela idia fixa de voltar ao Brasil e retomar a luta
armada alguns companheiros chegavam ao cmulo de no querer tratar dos
6David Acebey Delgadillo, o Pepe, um quadro do Exercito de Libertao da Bolvia, era o meusegurana e elemento de ligao com Santiago. Depois da extino da VPR, ele voltou para oChile e, com o golpe que derrubou o presidente Allende, se asilou na embaixada da Sucia.Atualmente, Pepe um festejado escritor na Bolvia e mora em Santa Cruz de La Sierra.
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dentes. No meu exlio chileno convivi com alguns militantes que me respondiam
quando eu queria saber o porqu de no irem ao dentista: Pra qu? Quando a
represso me pegar vai ter um cadver de dentes podres.
Um ano e meio aps aquela nossa chegada triunfal, eu retornava ao Chile
dentro de uma nova realidade em que j no cabiam sonhos revolucionrios, com
colunas guerrilheiras e retorno dos exilados. O balano geral era de que as
organizaes da esquerda armada haviam sido derrotadas em razo de seu
isolamento social e poltico. Os remanescentes da VPR no Brasil j tinham jogado
a toalha aps a divulgao de trs dramticos comunicados onde davam conta
das dificuldades em manter os grupos armados.
Em julho de 1973 eu voltei ao Chile para participar da ltima reunio da
VPR. Quando atravessei a Argentina, aquele pas estava passando por um
momento de transio para a democracia, com os peronistas novamente no poder
e nada menos que com o prprio Pern. Havia crise e estagnao, e a disputa
violenta por espao entre a direita e a esquerda peronista ocupava as principais
manchetes da imprensa. Cmpora venceu as eleies de 11 de maro de 1973
para um mandato tampo, visto que Juan Pernestava inapto a se candidatar por
restries do governo militar que presidia a Argentina. Sua primeira medida foi,
conforme havia prometido, anistiaaos presos polticos. Quatro meses aps sua
eleio, Hector Cmpora renunciou abrindo caminho para o terceiro mandato em21 de setembro de 1973.
Enquanto isso, do outro lado da cordilheira, o clima de tenso poltica nas
ruas chegava aos quartis, e em 29 de Junho de 1973, o Regimento Blindado N
2, comandado pelo tenente-coronel Roberto Souper, rebelou-se contra o governo
da Unidade Popular. Os tanques rodearam o Palcio La Moneda e ocorreram
alguns enfrentamentos. Essa situao foi controlada pessoalmente pelo general
Carlos Prats. Porm estava dada a largada para a conspirao patrocinada pela
CIA e que resultaria no golpe de 11 de Setembro que derrubou o governo dopresidente socialista Salvador Allende. O lder da coligao Unidade Popular
estava realizando a reforma agrria e promovendo uma srie de programas
sociais, como alfabetizao e melhoria do sistema de sade e do saneamento
bsico, alm de nacionalizar diversas empresas norte-americanas.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Per%C3%B3nhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Argentinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Anistiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Anistiahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Argentinahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Juan_Per%C3%B3n -
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CIANURETO PARA ESCAPAR DAS TORTURAS
DUAS SEMANAS APS o tancazo eu retornei ao Chile. O micronibus rodou
suave pelo caminho sinuoso que dribla com elegncia as montanhas cobertas de
neve da Cordilheira dos Andes. Um casal de argentinos que estava sentado aomeu lado puxou conversa deixando Pepe de sobreaviso. Ele estava sentado no
fundo, pronto para entrar em ao caso eu fosse preso. O casal era muito
simptico, mas como diz o ditado popular: Cachorro mordido por cobra tem
medo at de lingia. Talvez fossem apenas recm-casados em viagem de lua-
de-mel, mas tambm podiam ser policiais disfarados. Afinal, vivamos numa
Amrica Latina em polvorosa e nunca sabamos quem eram realmente as
pessoas.O cerco repressivo que se armou no continente naquele perodo e as
conexes entre as policias polticas e as Foras Armadas de vrios pases
aconselhavam a gente a ter precauo. Durante quase toda a viagem eu fiquei
tenso, em dvida quanto eficcia dos documentos falsos que eu mesmo havia
preparado. Era uma carteira de identidade do Estado de So Paulo e uma tarjeta
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de entrada no pas do Departamento de Migraciones, com carimbo de entrada na
Argentina por Puerto Iguaz. Eu mesmo fiz esses documentos em Posadas e no
estava seguro quanto qualidade do servio.
Fazia um ano que eu havia sado do Chile e desde ento vivia em
permanente estado de alerta, trocando de identidade e de domiclio, sempre
pronto para uma soluo extrema. Naquela poca, os quadros da esquerda
armada carregavam uma cpsula de cianureto escondida em alguma parte da
roupa. O meu veneno eu levava na bainha da cala ou ento no colarinho da
camisa. No sei se teria coragem para us-lo. Minhas duas tentativas anteriores
de suicdio no deram certo. A primeira foi durante o interrogatrio no Batalho de
Fronteiras de Foz do Iguau no dia seguinte minha priso. Os torturadores
queriam saber quando eu teria contato com a organizao, e eu abri que seriano quinto andar do Edifcio Avenida Central, no Rio de Janeiro. Meu plano era
saltar daquele prdio que eu conhecia muito bem, pois o vi nascer no incio da
dcada de 60, quando o Rio de Janeiro deixou de ser a capital do pas. O edifcio
que eu havia escolhido para me suicidar foi construdo no lugar que eu
freqentava em minhas fugas de adolescente. Com a demolio desapareceu o
Hotel Avenida, em cujo trreo estava instalado o Caf Nice, point da
intelectualidade carioca. Eu tinha quatorze anos quando escapava do balco do
armazm que papai tinha em So Gonalo para passear na galeria. Circular entre
as mesas de mrmore do Caf Nice ocupadas por jornalistas, escritores, poetas,
artistas era o mximo para mim, um jovem egresso do interior e morador da
periferia do Rio. Esses meus passeios no duraram muito. No mesmo ano que
conheci o Caf Nice comearam as demolies e onde antes estava o meu
espao preferido no Rio de Janeiro foi erguido o Edifcio Avenida Central. O
romantismo havia sido substitudo por agncias de banco que preconizavam uma
nova era, em que o capital financeiro passou a controlar a economia da Avenida
Rio Branco e do pas.
Eu acho que aquele gigante de ao e concreto erguido na Rio Branco me
veio cabea na hora do pau por eu conhecer cada um de seus andares. Queria
que me levassem para aquele quinto andar. Eu possua muitas informaes e no
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sabia se ia conseguir continuar segurando-as, j estava no meu limite e o medo
alimentava minha coragem. Contudo, meu plano no deu certo e os militares
torturadores no me levaram para o ponto.
A outra vez que tentei o suicdio foi o Quartel da Polcia do Exrcito, em
Curitiba. Passei a noite raspando o pulso esquerdo com um pedao de vidro que
algum havia deixado na cela. Apesar de todo o meu desespero, no tive
coragem de cort-lo. Daquela noite de horror no PE da Praa Rui Barbosa ficou a
cicatriz, marca no corpo que faz ressurgirem as lembranas e provoca at hoje
aquela dor que no fsica, mas que mexe o fundo de minha alma.
Eu estava decidido, durante minha viagem para o Chile, a no cair vivo.
Acontecendo qualquer imprevisto era s engolir o resto ficava por conta do
cianureto. Em vrias situaes cheguei a apalpar aquela cpsula de um marromescuro, deixando-a no ponto para ser retirada de seu esconderijo em minha roupa.
Estava consciente de que se eu fosse preso a priso significaria a morte na
tortura. Os banidos pela ditadura estavam jurados de morte pelos tiranos. Durante
os sete anos em que vivi na clandestinidade me mantive sempre pronto para usar
aquele veneno vindo, segundo o que diziam, da Coria do Norte. Nunca soube se
algum militante da luta armada no Brasil usou o cianureto. Alis, o nico caso que
conheo na Amrica Latina o dos argentinos Liliane Ins Goldemberg e Eduardo
Gonzalo Escabosa, ocorrido durante a travessia entre o Porto Meira, em Foz do
Iguau, e Puerto Iguaz, na Argentina. Foi num sbado, 2 de Agosto de 1980,
Liliane, de 27 anos, loura e franzina, e seu companheiro Eduardo, de 30 anos,
embarcaram na lancha Caju IV, pilotada por Antonio Alves Feitosa, conhecido na
regio como Tatu. Antes da atracao no lado argentino, dois policiais brasileiros
que estavam a bordo mandaram o piloto parar a lancha e apontaram suas armas
para o casal. Cercados, Liliane e Eduardo ainda puderam ver que mais policiais
desciam ao atracadouro, vindos da aduana Argentina. Assim que perceberam que
haviam cado numa cilada, Liliane e Eduardo se ajoelharam diante de um grupo
de religiosos que estava a bordo e gritaram que eram perseguidos polticos e
preferiam morrer ali a serem torturados. Em seguida, abriram um saco plstico,
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tiraram os comprimidos e os engoliram bebendo a gua barrenta do Rio Iguau.
Morreram em trinta segundos, envenenados por uma dose fortssima de cianureto.
Naquela viagem para o Chile eu sabia que meus documentos eram
precrios. Eu mesmo os havia preparado. Tentei ser natural, mas no teve jeito, a
tenso mexia com os nervos de minhas pernas e revirava meus intestinos. Eu
estava pronto para o que desse ou viesse e s me descontra depois que o
funcionrio da Migraciones Argentina recolheu minha tarjeta e o micro seguiu
viagem. Da pra frente foi s alegria, eu estava protegido. Voltava para o pas que
dois anos antes havia me acolhido, dado asilo e documento. Passei numa boa
pelo controle policial em Las Condese, pela primeira vez, em muitos meses, senti-
me to leve, to descontrado que cantei com os turistas a tradicionalssima
cano Si vas para Chile.
Si vas para Chile, te ruego que pases
por donde vive mi amada
es una casita muy linda y chiquita
que esta en las faldas de um cerro enclavada,
Chegamos a Santiago ao anoitecer e com muita dificuldade tomamos um txi que
nos levou do terminal de micros ao centro da cidade. Entramos na Alameda
Bernardo OHiggins, passamos pelo Palcio De La Moneda e desembarcamos na
Plaza de Armas, onde Pepe, meu parceiro boliviano, me deixou num hotel de
segunda classe. Durante a viagem de txi guardamos silencio, apesar de o
motorista tentar puxar papo sobre futebol relembrando a seleo do bi em 1962 e
at citando nomes de alguns jogadores como Castilho, Amarildo, Garrincha,
Bellini, Didi, Djalma Santos e Vav. Senti vontade de conversar, ainda mais sobre
aquela copa em que eu acompanhei pelo rdio do armazm que papai tinha em
So Gonalo. Na hora dos jogos o negcio de secos e molhados, conjugado com
ferragens, bar e sorveteria, ficava cheio. Os fregueses se encostavam no balco e
enquanto tomavam cerveja vibravam com os dribles de Garrincha narrados pela
voz meldica de Fiori Gigliotti.
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Eu sempre gostei de conversar com taxistas, mas naquela ocasio preferi
olhar pela janela do carro e puxar pelas lembranas. Santiago estava diferente,
pouca gente nas ruas e apenas alguns nibus trafegavam.
A cidade vivia os reflexos do malogrado tancazo do coronel Souper e dos
lockouts promovidos pela direita com respaldo da CIA. A situao de
abastecimento estava cada vez pior por causa do aambarcamento de
mercadorias para o mercado negro e da greve dos caminhoneiros. Enquanto nas
prateleiras faltava pasta de dentes, chupetas, mamadeiras, papel higinico,
cigarros e carne, todos esses produtos eram encontrados no mercado negro. O
Chile estava em crise e o clima era de pr-golpe de Estado. Os EUA estavam
conseguindo desorganizar a economia chilena e com isso preparar as condies
para derrubar o governo da Unidade Popular.Eu e Pepe sabamos que naquele momento era preciso ter muita cautela,
pois Santiago estava minada de agentes policiais do Brasil e as organizaes de
esquerda contaminadas pelas infiltraes. Redobrar os cuidados era a palavra de
ordem, ainda mais depois de ter cado a base da organizao em Recife. Meus
contatos no Chile seriam apenas com o ngelo Pezzutti e a Maria do Carmo
Brito7. Apesar de o casal estar convencido da inviabilidade de se continuar com a
luta dentro do Brasil e defender o recuo total, ele respeitava nossa posio de no
recuar.
A reunio do pessoal que tinha algum trabalho foi realizada numa casa
prxima cordilheira. Para chegar at l viajamos por um caminho de cho que
atravessava campos cercados de muros de pedra. De vez em quando a estrada
estreita era trancada por rebanhos de ovelhas que cruzaram o caminho para
trocar de pastagem. Eu no sabia para onde estava indo, nem tampouco tinha
interesse em saber. Meu pensamento naquele momento se voltava para Eunice,
que estava no Brasil. Caramba! Bem que ela ia gostar daquela paisagem
composta por montanhas cobertas de neve, campos imensos e pastores
7ngelo e Maria do Carmo saram da priso trocados pelo embaixador da Alemanha, Elfrid VonHollebem. Ela foi do comando da VPR, juntamente com Lamarca e Ladislas Dawbor.
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GUERRILHA E TENSO
A REUNIO PARA DECRETAR a desmobilizao do que sobrou da VPR foi
curta. No houve balano e nem foram discutidas posies polticas, apenas as
questes administrativas estavam em pauta. A VPR j no existia nem no Brasil,
nem no Chile, nem em Cuba e tampouco na Europa. Os nicos trabalhos que
remanesciam, e mesmo assim em fase de implantao, eram o meu e do Roberto
De Fortini, um italiano que tambm saiu no seqestro do suo e que ficou
famoso por ter montado no inicio da dcada de 70 a maior estrutura de apoio que
teve a esquerda armada brasileira. O esquema tinha como fachada uma
companhia de pesca na regio de Trs Passos e consistia em barcos pesqueiros,
caminhes frigorficos e at uma estrutura legal e nela trabalhavam militantes esimpatizantes da VPR que dariam apoio logstico aos futuros focos guerrilheiros.
A fachada em forma de companhia pesqueira caiu ainda na fase de
montagem em conseqncia de uma srie de prises ocorridas em So Paulo e
no Rio de Janeiro. Dois anos aps as prises, Fortini voltou regio e retomou
seu projeto de criar uma estrutura para a guerrilha, apoiada em novas bases, com
maior rigidez quanto segurana, totalmente compartimentada. Dessa vez seria
para receber a VPR exilada. A localizao da rea era um segredo guardado a
sete chaves e apenas ele e seu companheiro de jornada, Gustavo Buarque
Schiller, a conhecia9.
9Gustavo Buarque Schiller saiu da rea algum tempo depois de a VPR ter sido desmobilizada, foipara a Frana e voltou para o Brasil com a anistia. Morreu de forma misteriosa no Rio de Janeiro.Roberto De Fortini continua morando em uma das bases que ele montou e vivendo nasemiclandestinidade e com dupla identidade. No Brasil ele o italiano, expulso do pas em 1971,
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De famlia rica, Gustavo morava no bairro de Santa Tereza, prximo casa
de seu tio, o mdico Aaro Burlamaqui, que a havia cedido para ser residncia de
sua irm tia do bicho, Anna Gimel Benchimol Capriglione, tida como sendo a
amante do Adhemar, ex-governador de So Paulo. Ao ouvir que no cofre do
casaro de sua tia, que morava na Rua Bernardino dos Santos, havia milhes de
dlares, Gustavo levou esse dado organizao. Em 18 de Junho de 1969, o
cofre foi levado por um comando da VPR. Dentro dele havia 2,6 milhes de
dlares fruto da roubalheira praticada pelo ex-governador de So Paulo Adhemar
de Barros.
A ltima vez que eu vi o Gustavo foi em Ober, cidade localizada no centro
da provncia de Misiones, Argentina. Ele usava chapu de palha, tinha as mos
calejadas e vestia uma roupa coberta pela poeira vermelha da regio. Meu visualno era nada diferente. Eu havia sado de um stio localizado em Campo Grande,
prximo a fronteira da Argentina com o Brasil e que fora comprado com o dinheiro
da VPR. Era uma pequena propriedade coberta por uma plantao de ch e que
oficialmente pertencia ao doutor Alderete, dono da nica clnica da regio. Para
todos os efeitos eu era o caseiro e, portanto, minha obrigao era manter limpos
os corredores formados entre os arbustos e colher os brotos de ch. Alm de dar
um duro danado no stio, eu ainda ia trabalhar nas propriedades da vizinhana
para manter minha fachada de peo. Tinha de carregar nas costas, s vezes por
mais de cem metros, uns sacos enormes, que os missioneiros chamam de
ponchada, cheios de brotos de ch, e jog-los na carroceira do caminho que
levaria a produo para o secadero. A planta de ch alcana em mdia um metro
e meio e o seu broto cortado de forma mecanizada diversas vezes durante a
primavera e o vero. Depois de colhidos, os brotos devem ser rapidamente
levados aos secaderos, onde as folhas so secadas, modas e peneiradas.
Meu contato com Gustavo na pracinha da igreja luterana de Ober foi
rpido, de poucas palavras e muitos cuidados para que no vazasse nada que
pudesse revelar onde estvamos. Depois desse encontro eu nunca mais vi o
que vem de vez em quando visitar a famlia e amigos. Na Argentina, ele tem outro nome, agricultor, industrial e mestre em projetos para a pequena agroindstria.
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Bicho esse era o apelido de Gustavo. Anos mais tarde, bem depois de nossa
volta ao Brasil, soube que ele havia morrido ao cair de um edifcio em
Copacabana.
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ARQUIVOS VIVOS QUEIMADOS
DEPOIS DAS REVELAES que eu fiz ao Marco Aurlio Borba, que alem de
terem sado na revista Playboy fizeram parte do livro Cabo Anselmo, A luta
armada ferida por dentro, publicado em 1981 pela Global Editora, s voltei a falar
sobre o desaparecimento do grupo liderado por Onofre Pinto em uma matria que
escrevi em 1984 para o semanrio Nosso Tempo, de Foz do Iguau. Na ocasio,
sugeri que o pessoal havia cado em 1974, numa armadilha nas proximidades da
cidade paranaense de Santo Antnio do Sudoeste, aps terem sido atrados para
l pelo ex-sargento Alberi Vieira dos Santos. Ainda nessa matria, publicada h 21
anos, contei que aps a chacina, Alberi foi ser fazendeiro em Rondonpolis, Mato
Grosso, depois de passar uma temporada em Puerto Iguaz, cidade Argentina
localizada na fronteira com o Brasil. Ele s voltou regio Oeste do Paran
quando ficou sabendo que seu irmo Jos havia sido assassinado.
Jos, que tinha uma oficina mecnica na Vila Yolanda, em Foz do Iguau,
apareceu morto em Janeiro de 1977, na Estrada do Colono, que cruzava o ParqueNacional do Iguau, prximo ao Porto Moiss Lupion. Seu corpo estava
completamente mutilado, apresentando sinais evidentes de tortura e com os olhos
vazados por gravetos.
Assim que soube da morte do irmo, Alberi jurou vingana. Ainda em
Rondonpolis, preparou um extenso relatrio, que pretendia publicar em forma de
livro, e s sete horas do dia 10 de Fevereiro de 1979 partiu, dirigindo a sua
Braslia, com destino a Porto Alegre. Pouco se sabe sobre o contedo de 50
folhas datilografadas, mas, segundo alguns de seus parentes, ele revelava o
nome dos assassinos de seu irmo, alm de fazer um relato sobre a Operao
Trs Passos e de suas passagens pelos presdios.
No mesmo dia em que saiu de Rondonpolis, Alberi chegou a Medianeira, e
como j havia anoitecido e estava cansado devido longa viagem, decidiu pousar
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na casa do seu amigo Severino Miola, em Ramilndia, tambm no Oeste do
Paran. No dia seguinte o ex-sargento da Brigada Militar Gacha apareceu morto
na estrada que liga Medianeira a Missal. Havia sido atingido por quatro tiros de
pistola nove milmetros, arma privativa do Exrcito. No Auto de Achada de
Cadver, o ento delegado de Medianeira, Francisco Marcondes, relatou que nos
bolsos de Alberi no foram encontrados documentos, jias, dinheiro ou quaisquer
outros papis. As folhas escritas por Alberi, que poderiam elucidar alguns dos
instigantes mistrios da fronteira haviam sumido e as investigaes sobre o crime
se arrastaram por mais de seis anos sem que se tenha chegado ao seu autor ou
autores. Em despacho datado de 25 de Fevereiro de 1985, o promotor Joo
Pricles Goulart escreveu que tanto Alberi como seu irmo Jos foram vtimas de
crime poltico, e que possivelmente teriam sido mortos por algum interessado nosilncio dos dois. Apesar desta hiptese ter pouca consistncia, tendo em vista
que os dois irmos estavam envolvidos no banditismo at o pescoo, ela no
pode ser totalmente refutada, pois Alberi chegou, aps a morte do irmo, a
ameaar fazer revelaes que poderiam comprometer muita gente. Por isso no
deve ser descartada a possibilidade de que a morte do ex-sargento tenha sido
mais uma queima de arquivo.
O mesmo destino de Alberi e de seu irmo Jos teve o comerciante
Severino Miola, executado por Floriano Ojeda em 26 de Fevereiro de 1979, quinze
dias aps a morte do ex-sargento. Foi no bar e dormitrio de propriedade do
amigo e confidente que Alberi terminou de escrever o relatrio. Miola foi
executado no interior do municpio de Santa Helena, no meio de uma plantao de
soja, pedindo de joelhos demncia ao seu verdugo.
Nos autos, arquivados no Frum de Santa Helena Oeste do Paran -
chama ateno o depoimento de Sueli Luiza Bogoni Miola, filha de Severino Miola,
que ajudava o pai no bar e dormitrio. Conta Sueli que na manh do dia 26 de
Fevereiro de 1979 estava dedicando-se aos seus afazeres normais, quando por
volta do meio-dia chegou ao estabelecimento comercial o policial Floriano Ojeda,
destacado na delegacia de Matelndia, cidade localizada na regio Oeste do
Paran, e que se fazia acompanhar por um professor da mesma cidade.
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Iguau margem do Rio Paran, hoje submerso pelo Lago Itaipu e de l cruzou
para o Paraguai.
Com a execuo de Miola, um cidado querido por todos em Ramilndia,
onde foi morar aps pedir demisso na Prefeitura de Cascavel, foi apagada a
ltima pista que poderia elucidar as mortes de Alberi e de seu irmo Jos.
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LILIANE RUGGIA ENTRA EM CENA
O DESAPARECIMENTO do grupo do Onofre voltou a ser notcia em 1992, aps
um depoimento dado ao Movimento de Justia e Direitos Humanos, de Porto
Alegre, pela psicloga Liliane Ruggia, irm de um dos desaparecidos. Na ocasio,
o jornal Zero Hora publicou a seguinte matria em sua edio de 25 de Janeiro
daquele ano.
REPRESSO MATOU GUERRILHEIRO
Uma anlise das informaes feita pelo Movimento
de Direitos Humanos mostra que a polcia
brasileira cometeu os assassinatos na Fronteira
com Uruguai.
O Presidente do Movimento de Justia e Direitos
Humanos, Jair Krischke, disse ontem que um grupo
de brasileiros e um argentino ligado ao grupo
guerrilheiro Vanguarda Popular Revolucionria
(VPR), desaparecidos durante os governos
militares do Cone Sul, foram assassinados em 1974
pelos rgos der represso brasileiros na
fronteira com o Uruguai. Krishke chegou a essa
concluso depois de cruzar as informaes
contidas nos arquivos secretos dos Servios de
Ordem Poltica e Social (SOPS), com o depoimento
de Liliane Ruggia de Farina, irm do desaparecido
Argentino Enrique Ernesto. Os brasileiros que
teriam sido mortos so: Onofre Pinto, Joel Jos
de Carvalho, Daniel de Carvalho, Jos Lavchia e
Victor Ramos.
O elo final de uma longa srie de informaes
desencontradas foi a chegada de Liliane a Porto
Alegre na ltima quinta-feira. De frias em
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Florianpolis com o marido Eduardo de Farina, a
argentina tomou conta das reportagens dos jornais
brasileiros sobre a abertura dos arquivos do SOPS
e decidiu procurar Krischke. Desde que Enrique,
de 18 anos, lhe pediu dinheiro para viajar, no
dia 8 de Julho de 1974, Liliane est procura do
irmo. Assim que a argentina citou para Jair o
nome de Onofre Pinto como um dos brasileiros que
haviam sado de Buenos Aires junto com Enrique,
com o objetivo de entrar no Brasil pela fronteira
com o Uruguai, no final de 1974. Essa informao
foi obtida por Liliane depois de anos de contatos
com pessoas ligadas a Joel Jos de Carvalho, um
guerrilheiro de 26 anos, amigo de Enrique e
ligado ao VPR.
LAMARCA Onofre Pinto tambm era integrante do
VPR, que tinha como lder um dos guerrilheiros
mais procurados pela represso, o ex-capito
Carlos Lamarca. Trs pedidos de busca encontrados
nos arquivos dos DOPS pedem intensificar a
vigilncia a fim de capturar Onofre Pinto, que
estaria para entrar no Brasil. O primeiro pedido
possui data de 21 de Junho de 1974, enquanto que
as listas de desaparecidos brasileiros falam em
Dezembro de 1973. Outro documento cita, alm de
Onofre, o nome de mais quatros brasileiros e um
argentino. Pelo depoimento de Liliane, est
evidente que o seu irmo Enrique era este
argentino, explica Krischke. O grupo teria
partido do Cecil Hotel local onde o alto
comissariado da ONU abrigava os exilados em
1974, de acordo com o relato de Flvio de Souza,
que tambm morava no hotel nesta poca. Como as
datas dos pedidos de busca do SOPS segunda
metade de 1974 correspondem sada de
guerrilheiros, tudo leva a crer que eles foram
presos pela polcia brasileira na fronteira do
Brasil com o Uruguai.
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Alm disso, Flvio garantiu a Liliane que vrias
ambulncias e sirenes e muita movimentao
foram observados na fronteira exatamente neste
perodo. Eles foram mortos l, agora nos falta
ainda descobrir onde esto os corpos, arrematou
Krischke.
DESAPARECIDO NO CONSTAVA EM NENHUMA LISTA
Ao contrrio da grande maioria dos que tiveram
parentes desaparecidos durante o governo militar
da Argentina, somente depois de descobrir o
destino de seu irmo Enrique foi que Liliane
passou a integrar oficialmente a famlia dos
desaparecidos polticos, como diziam os
argentinos.
O caso de Liliane to curioso quanto doloroso.
Como Enrique sumiu em 1974, dois anos antes do
golpe militar, o seu nome no constava em nenhuma
lista de desaparecidos na Argentina. Alm disso,
Enrique no tinha participao em movimentos de
esquerda ou partidos polticos. Ele era um
adolescente; lembra que certa vez Enrique me
disse que estava dividido entre comprar uma
motocicleta e ser guerrilheiro. Me senti margem
este tempo todo, confessou Liliane. O infortnio
de Enrique foi ter ficado amigo de Joel Jos de
Carvalho guerrilheiro de VPR que ficou no
campo de experincia da Faculdade de Agronomia de
Buenos Aires algum tempo, onde o irmo de Liliane
estava. Provavelmente o convidou para viajar ao
Brasil. Enrique aceitou. E nunca mais retornou.
Em 5 de Fevereiro de 1993, fui procurado por Liliane Ruggia, e o jornal
Nosso Tempo, onde eu trabalhava, em Foz do Iguau, voltou ao tema. Liliane
peregrinava pelo Brasil em busca de seu irmo Enrique, que estava desaparecido.
Meses antes o ex-agente do Centro de Informaes do Exrcito Marival Chaves
havia revelado numa entrevista revista Veja que o grupo liderado por Onofre
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Pinto havia sido dizimado na fronteira Brasil/Argentina, nas proximidades de
Medianeira, e que no grupo havia um jovem argentino10. Essa informao trouxe
nova luz sobre o caso. De acordo com Marival, alm de Onofre faziam parte do
grupo os dois irmos Carvalho Joel e Daniel -, Jos Lavchia, Enrique Ruggia e
Victor Ramos.
Entretanto ainda no havia certeza sobre a traio de Alberi Vieira dos
Santos, o ex-sargento que participou da Guerrilha de Trs Passos e que atraiu o
grupo para a emboscada. Ao final de minha conversa com Liliane Ruggia, o
semanrio Nosso Tempo publicou a matria que transcrevo abaixo na ntegra.
TRAI O NA FRONTEI RA
Depois de vinte anos de silncio, a busca
incansvel de uma psicloga argentina traz luz
o desaparecimento de cinco ativistas polticos na
regio de Foz do Iguau. Os fatos ocorridos nos
anos 70 revelam marcas de sangue e traio.
Histrias como a de Alberi mostram o outro lado
daqueles tempos sujos: a delao entre os
militantes de esquerda.
Depois de 19 anos de buscas, a psicloga
argentina Liliane Clotilde Ruggia, 38 anos,
acredita que est mais perto da verdade que
envolve o paradeiro de seu irmo. Enrique Ernesto
sumiu em 1974, em companhia de um grupo de
exilados brasileiros que tentavam voltar ao
Brasil, entre eles Onofre Pinto, um dos
comandantes da VPR. Informaes tomadas num
depoimento do ex-sargento Marival Chaves, que
trabalhou nos rgos de represso da ditadura
militar, do conta de que o grupo teria cado em
10De 1967 a 1985 o ex-sargento Marival Chaves trabalhou nos principais rgos de represso doExrcito Brasileiro. No Destacamento de Operaes de Informaes Centro de Operaes deDefesa Interna (DOI-CODI) de So Paulo (at 1976); nos batalhes de Infantaria de Selva deImperatriz e de Manaus (de 1977 a 1980); e no Centro de Informaes do Exrcito (de 1981 e1985).
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uma cilada armada por agentes infiltrados no
movimento guerrilheiro.
Liliane esteve em Foz durante a semana.
Aconselhada pelos membros do Movimento de Justia
e Direitos Humanos de Porto Alegre, resolveu
checar as informaes do ex-agente Marival, que
diz ter certeza da morte de seu irmo na regio.
Enrique Ernesto tinha 18 anos quando desapareceu.
Um pouco antes, em fins de 73, ele havia
conhecido Joel Carvalho, um exilado brasileiro
que acabava de chegar Argentina, vindo do
Chile, onde estivera exilado at a queda de
Allende. ns somos originrios de uma localidade
que fica perto de Buenos Aires, chamada San
Pedro, que abriga os cursos de Veterinria e
Agronomia da Universidade. Joel havia sido
convocado pelo diretor do campus a viver ali.
Conta Liliane que seu irmo tinha idias
socialistas, mas nenhuma militncia orgnica em
partidos ou entidades. Mesmo assim, tocar em
Joel era tocar em Che Guevara, no mesmo?,
comenta. Joel voltou a Buenos Aires. Corria o ano
de 1974, Liliane trabalhava e estudava. Num dia
do ms de julho Enrique chegou ao seu local de
trabalho e lhe disse que viajaria para o Brasil
junto com Joel e outras pessoas. Me deu um
beijo, disse que voltaria em uma semana ou dez
dias, que iria fazer uma tarefa poltica, e se
foi. Fiquei petrificada. Eu estava num escritrio
pblico, a rua cheia de gente... Fiquei assim por
um segundo. Quando retomei a ao, me largo pelas
escadas, chego na rua, mas nunca mais o vi.
Comeava assim a peregrinao de Liliane atrs de
notcias do irmo. Nessa poca a Argentina vivia
um momento poltico difcil. Pern havia morrido
em julho e a direita peronista tomava de assalto
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o poder e as ruas. A organizao Trplice A, de
extrema direita, fazia suas vtimas entre
estudantes e trabalhadores. Qualquer queixa
oficial do desaparecimento poderia ser uma
delao, ainda mais envolvendo exilados. Contei
ao meu noivo o que havia acontecido. Passamos a
procurar entre os papis de Enrique alguma pista.
Encontramos vrios endereos de hotis.
Recorremos todos. Mas a resposta era sempre a
mesma, de que no havia brasileiros ali.
O casal continuou a procura at que no Hotel
Cecil, alugado pela ONU para abrigar exilados,
depois de muitas negativas, conseguiram um
contato com um brasileiro que se identificou como
Jairo de Carvalho, irmo de Joel, e uma mulher
que disse ser companheira de um outro irmo
chamada Daniel. Eles confirmaram que Joel, Daniel
e Enrique haviam partido juntamente com outras
pessoas e que provavelmente teriam vindo ao
Brasil.
LOUCURA Liliane relata que seus encontros comos exilados brasileiros continuaram at que Jairo
mudou-se para Portugal fugindo da represso que
na Argentina recrudescia. Sem poder fazer
qualquer queixa ao governo argentino, ela tentou
as entidades de direitos humanos. Todo mundo
dizia que no Brasil no estava acontecendo mais
nada, que haviam matado a todos e que minha
histria era meio sem nexo.
Conta Liliane que o outro fator que dificultou
muito sua procura pelo irmo foi a falta de
informaes das entidades argentinas da situao
dos exilados brasileiros. Eram em nmero reduzido
e estavam s de passagem. Escaparam do Chile,
passaram pela Argentina rumo ao Mxico, Cuba e
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Europa. Para completar o quadro, a falta de
militncia de Enrique deixava mais dvidas sobre
a veracidade da histria que ela contava em cada
escritrio. Quando procurava alguma informao,
me olhavam e perguntavam se eu no estava louca.
Parecia um delrio. Eu sou psicloga e conheo a
estrutura do delrio. s vezes penso que era
assim que me viam. Porque o delrio uma
histria exclusiva do delirante. No h laos
sociais com outra coisa. Minha histria era muito
parecida. Ningum conhecia brasileiros, ningum
conhecia meu irmo, ningum sabia o que estava
acontecendo naquele momento no Brasil, enfim...
Anos se passaram at que o governo democrtico de
Alfonsin instalasse a Comision Nacional de
Desaparicin de Personas (Conadep). Liliane
tentou relatar o que acontecera com o irmo, mas
a comisso recusou receber a denncia. A
justificativa que recebeu era de que s estava
averiguando casos de desaparecidos durante a
ditadura militar argentina, fato este posterior
ao desaparecimento de Enrique. So questes
polticas. quase que dizer: averiguamos a
ditadura, mas no os governos civis, ainda que do
partido adversrio. Apesar de que o livro editado
pela comisso, chamado Tor t ura Nunca Mai s, contm
trs ou quatro denncias de casos anteriores
ditadura. Apesar do nome de Enrique no constar
dessa edio, est relacionado em entidades de
defesa de direitos humanos como a Das Mes de
Plaza de Maio.
BRASIL No ano de 1984, Liliane tentou outros
caminhos. Recorreu ao antigo diretor do campus de
Sem Pedro, a quem ela prefere no nomear. Ele
havia sido preso durante a ditadura militar e
estava saindo em liberdade condicional. Da
Europa, onde tinha ido morar, ele lhe manda
notcias. Conta que coincidentemente havia estado
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com um exilado brasileiro que habitou o mesmo
hotel na poca e que dizia que o grupo fora
integrado por Onofre Pinto, Jos Lavchia, um tal
Victor e os dois Carvalhos. Tambm contou que por
essa poca haviam escutado atravs de uma audio
da Voz da Amrica que um grupo de brasileiros
havia sido abatido na fronteira do Brasil com o
Uruguai.
Durante as frias de vero de 89, Liliane e seu
marido estiveram com o ento presidente da OAB
Porto Alegre, Luiz Goulart, recomendados por um
jornalista argentino que esteve exilado no
Brasil. Luiz teria se comprometido em averiguar o
caso, mas no encontrou nenhuma lista informao
substancial sobre os desaparecidos. Enrique no
figurava em nenhuma lista brasileira ou
argentina. No ano passado Liliane voltou a Porto
Alegre na esperana de conseguir alguma
informao. Os jornais davam que os arquivos do
DOPS gacho haviam sido abertos. Seu advogado, no
entanto, estava de frias. Atravs da secretria
chegaram a outro advogado, Jair Krischke, do
Movimento de Justia e Direitos Humanos de Porto
Alegre. Dezoito anos depois, aconteceu. Eu me
arrepiei toda. Contamos para ele a nossa
histria. E ele disse: tenho aqui o que vocs
esto falando.
CILADA As informaes encontradas por Jair
Krischke, em sua pesquisas nas pastas do DOPS
gacho, foram as primeiras informaes objetivas
para Liliane. Ele conta que, ao procurar nos
arquivos, encontrou trs fichas de pedidos de
busca sobre o grupo. As duas primeiras sobre
Onofre Pinto e Daniel Carvalho, e a outra s de
Onofre. A partir dessa informao Jair comeou a
se inteirar mais do assunto. Entra em contato com
a viva de Onofre, Idalina Pinto, que lhe faz um
relato de quem participava do grupo. Entre esses,
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MARIVAL CONFIRMA A TRAIO
NO INICIO DA DCADA DE 90 as revelaes e trocas de informaes sobre o
destino do grupo comandado por Onofre Pinto foram tomando volume. Em 1993,
uma carta enviada pelo ex-agente do Centro de Informaes do Exrcito Marival
Chaves a Ceclia Coimbra, do grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro,
confirmou o que eu vinha afirmando desde 1991: o grupo foi dizimado aps ter
sido atrado pra uma cilada pelo ex-sargento Alberi.
CARTA DE CHAVEZ CEC LI A DE TORTURA NUNCA MAI S DO
RI O DE J ANEI RO
Vi l a Vel ha, 07 de J anei r o de 1993.
Pr ezada Cec l i a,
Com r el ao aos dossi s envi ados, t enho a
t e i nf ormar o que se segue: a. No t ocant e a PAULO
GUERRA TAVARES, nada t enho a acr escent ar , at
por que seu assassi nat o se deu, como se v, nopr i mei r o semest r e de 1972. Ocasi o em que ai nda
me encont r ava ausente do DOI . No segundo semest r e
de 1972, no entant o, mui t o se comentava no rgo
acer ca de AVELI NO BI ONI CAPI TANI , cuj o nome
apar ece na rel ao de exi l ados brasi l ei r os do
Ur uguai . Sobre o qual no sei se AVELI NO e Paul o
mi l i t avam no mesmo gr upo, i st o l i gados a LEONEL
BRI ZOLA, suponho que est e l t i mo t enha si do
vi t i mado no cont ext o da mesma oper ao. bom quese di ga que em se t r atando de aes r epr essi vas
que envol vi am at i vi st as cl andest i nos, sobr et udo
mor t os na rua, sob o di sf arce de f ami gerado
t r ent i nho, er a extr emament e di f ci l par a quem
est ava al hei o operao obt er dados al m
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di sso, a ao pode ter si do r eal i zada por out r os
rgos: DOPS, CI E, e et c. O conheci ment o f i cava
r est r i t o s pessoas que par t i ci pavam in loco ou
eventual ment e, no meu caso, i ntegr ant e do 3
escal o, quem est i vesse mani pul ando a
document ao da operao em curso, o que no
sucedeu. opor t uno sal i ent ar que Paul o GUERRA
f oi assassi nado em r azo da sua condi o de ex-
sargent o do Exr ci t o, j que o aparel ho
r epr essi vo era enf t i co quando af i r mava que assi m
agi a para que a el i mi nao sumr i a do
oposi ci oni st a pol t i co servi sse como exempl o,
evi t ando assi m event uai s di st enses. Poucos
mi l i t ar es di ssi dent es escapar am da mor t e no
per odo de 1968 1975.
b. Quant o a ENRI QUE RUGGI A, cumpre r el at ar
t odos os dados que di sponho, que ser vi r o como
subs di os par a uma poss vel concl uso, seno
vej amos: at r avs de i ndi scr i es do Exr ci t o
( CI E) , t omei conheci ment o de que, no ano de 1973,
aquel e rgo est abel eceu uma operao de
i nf ormao, que f i ndou em 1974, na regi o de
Medi anei r a, Nor t e do Par an, com o obj et i vo
pr i nci pal de pr ender ONOFRE PI NTO, di r i gent e da
VPR, bem como out r os at i vi st as da esquer da
r evol uci onr i a que se encont r avam f or a do Pa s.
Tal operao, que ut i l i zava como i nf i l t r ado o ex-
sargent o da Br i gada Mi l i t ar do Ri o Gr ande do Sul ,
ALBERI , que na ocasi o t r ansi t ava pel o Chi l e e
Ar gent i na com o pr opsi t o de at r ai r br asi l ei r os
r ef ugi ados pol t i cos naquel es pa ses, consi st i u
na mont agem pel o CI E e Batal ho do Exr ci t o, com
sede em Foz do I guau, de uma r ea f i ct ci a de
t r ei nament o de guer r i l ha par a que ONOFRE e seu
gr upo exer cessem at i vi dades e ti vesse um l ocal
segur o em t er r i t r i o br asi l ei r o. O pr ocesso de
negoci ao com vi st as vi nda do gr upo dur ou
al guns meses. Fugi t i vo do Chi l e devi do a
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dest i t ui o de Sal vador Al l ende do governo, o
gr upo j havi a t r ansi t ado pel a Ar gent i na e out r os
pa ses sul - amer i canos e era compost o por Onof r e
Pi nt o, J os Lavchi a, Dani el J os de Car val ho,
J oel J os de Car val ho, Gi l bert o Far i a Li ma
( Zor r o) , um r apaz chi l eno ou ar gent i no e V ct or
de t al . Obs. : eu t i nha conheci ment o de que se
t r atava de sete pessoas, t odavi a o pr enome Vi ct or
ouvi pel a pr i mei r a vez por ocasi o do meu
depoi mento na Comi sso Ext erna da Cmara. Sei s
i ndi v duos f or am pr eso e sumar i ament e
assassi nados assi m que chegar am a r ea f i ct ci a
de t r ei nament o de guer r i l ha, no sem ant es t er em
si do i nt er r ogados. O st i mo, Onof r e Pi nt o, f oi
cant ado para at uar como i nf i l t r ado do CI E.
Acei t ou a pr opost a em t r oca de possi bi l i dade de
cont i nuar vi vo e chegou at a ser l i ber t ado para
i r ao Par aguai sob um f or t e esquema de vi gi l nci a
vel ada. Nesse nt er i m a Chef i a do CI E er a
consul t ada acer ca da convi vnci a ou no de
coopt - l o, j que o of i ci al que chef i ava a
operao havi a t omado aquel a deci so por
i ni ci at i va pr pr i a e a or dem de mi sso pr escrevi a
a el i mi nao de t odo o gr upo.
De r et or no ao t er r i t r i o br asi l ei r o Onof r e
j t i nha decr et ado sua sentena de mor t e. A
cpul a do CI E deci di u el i mi n- l o em r azo da sua
condi o de ex- sar gent o do Exr ci t o sua mort e
servi r i a como l i o par a pr eveni r event uai s
di ss i dnci as nos quadr os das For as Ar madas e a
conseqent e per i cul osi dade daquel e at i vi st a como
di r i gente de uma organi zao da esquer da
r evol uci onr i a, que o cl assi f i cava como i ndi vi duo
pouco conf i vel .
As mesmas f ont es der am cont a de que Al ber i
f oi assassi nado no i nt er i or do Est ado do Par an
meses aps, em conseqnci a de at r i t os de
natur eza comum com f azendei r os da Regi o Nort e,
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no obst ant e a CI E t - l o escondi do no Ri o de
J anei r o por um bom per odo de t empo, ant e a
per spect i va de que o pi or poderi a acont ecer - l he.
Al ber i dei xou o Ri o por cont a pr pr i a,
conf i gur ando um at o de i ndi sci pl i na.
Sem mai s, um f or t e abr ao.
P. S. Trat a- se de ALBERI VI EI RA DOS SANTOS.
Per ceba que o pr pr i o ALBERI pode ter at r a do
PAULO GUERRA TAVARES para ser assass i nado em So
Paul o, num pont o, j que ambos est i ver am exi l ados
no Ur uguai e pert enceram ao gr upo de BRI ZOLA.
Out r o aspect o comum o t r nsi t o de ALBERI pel o
Par an. Est ou apenas conj et ur ando.
Aps as revelaes feitas por Marival Chaves eu fui procurado em julho de
1996 pelo meu amigo Adelmo Muller, que na poca exercia a profisso de
jornalista na imprensa de Foz do Iguau. Ele se interessou pela investigao que
eu vinha fazendo sobre os desaparecidos, e a partir de nossa conversa saiu a
campo. Como resultado de seu trabalho escreveu uma srie de matrias sobre o
tema para o jornal O Estado do Paran,de Curitiba.
Na matria publicada pelo O Estado do Paran de 24 de Julho de 1996,Adelmo afirmou que o grupo do Onofre havia sido abatido numa cilada
comandada pelo tenente do Batalho de Fronteiras de Foz do Iguau Aramis
Ramos Pedroso, que em 1981 foi assassinado em Mato Grosso.
OFICIAL QUE ABATEU GUERRILHEIROS EM 74 VIROU
SEQUESTRADOR E MORREU DURANTE FUGA
Foz do Iguau (Sucursal) O oficial do Exrcito
que comandava o ento Batalho de Fronteira deFoz do Iguau, em julho de 1974, era o tenente
ARAMIS RAMOS PEDROSO. Ele foi acusado pelo ex-
sargento do Exrcito Marival Chaves, que atuou
por dezessete anos nos rgos de represso, de
ter comandado a cilada em que foram mortos seis
guerrilheiros da VPR (Vanguarda Popular
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8/13/2019 Onde Foi Que Voces Enterraram Nossos Mortos
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Revolucionria), que vinham da Argentina rumo a
So Paulo, onde pretendiam matar o delegado
Srgio Fleury, do DOPS.
A identidade do ento tenente foi obtida por O
Est ado junto a militares aposentados de Foz do
Iguau. Aramis, no entanto no poder mais
prestar depoimento Comisso Especial do
Ministrio da Justia, conforme pretendia Suzana
Lisboa, representante das famlias de
desaparecidos polticos. que ele foi morto pela
polcia de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul,
ao tentar fugir da priso, depois de condenado
pelo seqestro e assassinado do filho nico do
ento senador Ldio Coelho.
EXTERMNIO Nenhum dos militares ouvidos por O
Est ado confirma a matana de guerrilheiros em
Medianeira de julho de 1974, mas todos dizem que
o tenente Aramis era o carrasco da tropa. O ex-
sargento Marival Chaves revelou que Onofre Pinto,
Victor Ramos e o argentino Enrique Ernesto Ruggia
foram mortos quando entravam no Brasil, via
Argentina. A informao de que eles pretendiam
seguir a So Paulo foi obtida na poca pelo
Centro de Informaes do Exrcito (CIE).
Os seis foram apanhados de emboscada depois de
entrar por Capito Lenidas Marques, ao
atravessar a Estrada do Colono, em Medianeira,
onde seus corpos teriam sido enterrados. Na
regio, h trs locais onde pessoas foram
enterradas, conforme O Est ado apurou.
Em 28 de Julho de 1996, Adelmo M