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I Sermo de Santo Antnio (aos Peixes)
1.1. Nota Biogrfica de Padre Antnio Vieira
Antnio Vieira o autor do Sermo de Santo Antnio (aos Peixes) , nascido a
6
de Fevereiro de
1608
em
Lisboa. Com a idade de apenas seis anos decide enveredar pela vida religiosa, iniciando o novio em
1623
na Companhia
de Jesus em So Joo da Baa. O contacto direto com a realidade vivida nas colnias brasileiras, determinaram a sua
ao empenhada na defesa dos direitos dos ndios feitos escravos pelos povos colonizadores. Com isto, e determinado a
reagir contra esta atrocidade, decide, a
13
de Junho de
1654
(dia de Santo Antnio) em S. Lus do Maranho, pregar o
sermo no qual critica as horrveis condies com as quais os povos indgenas tiveram que suportar, tendo
imediatamente, e em segredo, de regressar a Portugal, de modo a poder obter a liberdade destas gentes que vivam
oprimidas mo dos neerlandeses. Mesmo depois de ter conseguido a disposio onde constava que os ndios ficariam
sob a proteo dos jesutas, o padre retorna ao Brasil para prosseguir com o seu objetivo inicial. Mesmo durante a sua
tentativa da utopia, Antnio Vieira no deixa de ser interventivo nas causas nacionais.
Acaba por falecer em
1967,
com
89
anos, na Baa, Brasil.
1.2. O
Sermo
semelhana da Lenda de Santo Antnio, que prega aos peixes por ser
ignorado pelos homens, Padre Antnio Vieira, servindo-se da stira, redige o sermo
referenciando o milagre do Santo, no qual, de forma alegrica, denuncia os
'comportamentos corruptos dos colonos atravs dos peixes, que so metfora dos
homens. As suas virtudes so, por contraste, metforas dos defeitos dos Homens e os
seus vcios so diretamente metfora dos defeitos dos homens percebendo-se, assim,
o estabelecimento de um paralelismo entre as aes dos peixes - que so bons
ouvintes por o fazerem de forma ordeira e se~J' 1)p aZ6t?ss~es dos colonos que so
caractersticas de todos os homens e, por iss~gallas a todos os homens, levando-
os desta forma a pensar relativamente
explorao desumana exercida nas terras do
ocidente.
Um sermo tem como objetivo
levar os seus interlocutores a
~~
refletir relativamente s l1.MIiII5
aes, fazendo-nos ficar
(J:>~60
insatisfeitos
CORROSCO
prprios
e levando-aos a t omar uma
atitude. Assim o sermo
carateriza-se por:
-Deleitar: de modo a interessar
o ouvinte efaz-lo escutar todo
o sermo;
-Comover: de modo a
persuadir o interlocutor;
-Ensinar.
1.2.1
Estrutura Externa do Sermo
A Estrutura do Externa do Sermo de Santo Antnio (aos Peixes) composta por seis captulos
Captulos Contedo Temtico
EXRDIO Capitulo i
Conceito Predicvel - vos estis sal terrae:
(apresentao
do
Explorao do tema a partir da metfora do sal (impedir a corrupo);
tema
e captao da
Elogio a Santo Antnio como exemplo a seguir;
ateno do pblico)
Invocao
Virgem Maria;
EXPOSiO
Captulo li
Louvores dos peixes em geral;
(apresentao
Exemplo bblico do pescador Jonas, da narrativa bblica do Dilvio e da
pormenorizada
da
consequente construo da Arca de No, do filsofo grego Aristteles e do
matria a desenvolver)
Santo Ambrsio;
E CONFIRMAO
Capitulo 111
Louvores dos peixes em particular;
(defesa
da tese
atravs
da
apresentao
de
Captulo IV
Repreenses dos peixes em geral;
argumentos)
Exemplo de algum que acabou de morrer e cujos familiares querem logo
despedaa-lo e com-lo;
Capitulo V
Repreenses dos peixes em particular;
PERORAO
(sntese Capitulo VI
Apelo aos ouvintes;
do que foi
Louvor a Deus
desenvolvido e apelo a
que os ouvintes
ponham em prtica os
ensinamentos
apresentados)
1.2.2
Estrutura Interna do Sermo (Sntese e Anlise dos Captulos)
-Exrdio (I captulo - introduo ao sermo)
Assim, e tendo em conta o conceito predicvel com o qual o autor do sermo inicia a
obra (Vos estis sal temE), desenvolve-se todo o tema do sermo onde o autor tenta
aliciar os ouvintes, introduzindo os traos a orar. Assim como Santo Antnio, o Padre
Vieira, vendo-se ignorado pelos homens, decide pregar aos peixes. Tendo em conta es
conceito Santo Antnio foi sal da Terra e sal do Mar . aqui o autor deste sermo
apresenta a grande ironia da sua obra: o pregador finge falar com os peixes para, na
realidade, se dirigir aos homens.
Vos estis sal tetrse (Vs sois
o sal da Terra) o conceito
predicado com o qual o
sermo de inicia. Esta
expresso retirada das
sagradas escrituras que
ditam a verdade que servir
de mote ao sermo.
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Vs Sais a Sal da Terra
Vs - os pregadores;
Sal - a doutrina;
Terra - o destinatrio/ ouvintes.
Captulo 1- introduo ao tema do sermo, introito e invocao
Partindo daqui, Vieira, para alm dos homens, a terra
(que no se deixa salgar ),
vai,
tambm, criticar aqueles que a salgam, os pregadores (o sal que no salga), pelo facto de
estes no pregarem a verdadeira doutrina (dizem u coisa e fazem outra, pregam a si e
no a Cristo) e transmitirem aos homens maus vcios em vez da palavra de Deus ( em vez
de servirem a Cristo, servem
os
seus apetites).
Assim, apenas a verdadeira doutrina, o sal, difundido pelos pregadores que impedem o
mal, e' que conservar o so e impedir a corrupo mas, contudo, a Terra est corrupta:
Tanto pelo sal no salgar - porque os pregadores no pregam a verdadeira doutrina, ~ suas palavras no
corresponderem aos seus atos. f C 1 C :.
Mas tambm pelo facto de a terra no se deixar salgar - os ouvintes tm predileo pelos vcios do que as palavras
daqueles que pregam a palavra de Deus.
No introito, o orador expe
o plano ao qual a que vai
cingir-se, a ideia ou ideias
fundamentais que vai
fundamentar.
Seguidamente apresenta solues para estes dois problemas:
Em relao ao sal Cristo disse logo 0 0 .) lana-lo como intil para que seja pisado por todos.
terra Cristo o no resolveu, mas sim Santo Antnio que mudou de auditrio, passando a pregar aos peixes, por
ser ignorado pelos homens face s crticas que este lhes dirige.
Os processos de estilo que podem ser evidenciados neste captulo so:
- Paralelismo Anafrico: repetio da mesma expresso em espaos regulares no texto (ou porque [ o o . ] ou porque);
- Anttese: exposio de ideias opostas;
- Metfora;
Alegoria;
- Interjeies;
- Comparaes;
- Apstrofe: evocao de uma entidade (Virgem).
-Exposio e Confirmao (Captulos 11a V - apresentao dos argumentos/ desenvolvimento)
O desenvolvimento do sermo inicia-se da seguinte forma: [oo.Jpara que procedamos com alguma clareza,
dividirei, peixes, o vosso sermo em dois pontos: no primeiro louvar-vos-ei as vossas atitudes, no segundo repreender-
vos-ei
os
vossos vcios .
Tendo esta introduo ao processo argumentativo que ir, a partir daqui, se desenrolar, o
autor do sermo cria um paralelismo entre as virtudes dos peixes, que so metfora que contrasta com os defeitos
dos homens e os seus vcios so, diretamente, metfora dos vcios dos homens. Esta dimenso metafrica faz com
que o sermo no deva ser interpretado literalmente, mas sim, desvendando as sucessivas metforas, comparaes e
alegorias apresentadas.
Exposio e Confirmao
~
RepreenSes
'2~
~~'
ouvores
Captulo
lt+fouvores
ao peixes em geral
Captulo IV -
repreenses
aos peixes em geral
-
c
, i':
~~
Captulo III-Iouvores aos peixes em particular Captulo V - repreenses aos peixes em particular
Captulo 11louvores aos peixes em geral
Neste captulo, Padre Antnio apresenta um conjunto de caractersticas que louva, comuns a todos os peixes:
ouvem
e
no falam;
vs fostes os primeiros que Deus criou;
nas provises [oo.Josprimeiros nomeados foram os peixes;
entre todos os animais do mundo os peixes so os mais e os maiores;
aquela obedincia, com que chamados acudistes todos pela honra de Vosso Criador e Senhor;
aquela ordem, aquela quietao e ateno e ateno com que ouvistes a palavra de Deus da boca do seu servo
Antnio . [oo.Jos homens perseguindo a Antnio[oo.J e no mesmo tempo os peixes [oo.Jacudindo a sua voz,
atentos e suspensos s suas palavras, escutando com silencio [oo.Jo que no lntendiam;
s eles entre todos os animais no se domam nem domesticam.
Por isto, no foram os peixes castigados por Deus no dilvio, pelo seu comportamento de exemplo para os homens
que pouco ouvem e muito falam, no demonstrando respeito pela palavra de Deus; os animais que viviam com o
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homem, domados e domesticados, foram castigados pois perderam a sua liberdade. Por isso, o padre adverte os
peixes para ficarem longe da presena humana, para no serem domesticados e ter o mesmo destino que os outros
animais.
So de notar algumas figuras de estilo que surgem com alguma frequncia neste captulo:
- Anttese: Cu/ Inferno, na qual se divide o sermo;
- Apstrofe: como elo de ligao entre emissor e recetor;
- Interrogao Retrica;
- Gradao Crescente: animais domesticados ;
- Comparao:
como os peixes no gua
=> em liberdade.
Captulo III-Iouvores aos peixes em particular
Neste captulo, o autor do Sermo ir dar destaque a quatro espcies de peixes pelos
louvores
que a eles se
associam, sendo eles:
o Peixe Tobias e as virtudes das suas entranhas em que o fel curara a cegueira do pai de Tobias e seu corao
expulsou os demnios de sua casa.
Aquando
vestido
de burel, o peixe Tobias parece o retrato martimo de Santo Antnio . Esta passagem
permite evidenciar a simbologia deste peixe que, assim como Santo Antnio, abria a boca dos hereges e
procurava alumiar e curar a sua cegueira, lanando os demnios para fora de casa limpando, dessa forma, a alma
dos homens.
a Rmora que possui uma cabea que funciona como uma
ventosa
e que lhe permitia fixar-se a peixes de maior
tamanho ou s embarcaes.
Se alguma rmora houve na terra foi Santo Antnio:
assim como a rmora que se
apegava ao leme das naus, conduzindo-as no bom caminho, e que se agarrava ao freio dos cavalos travando-os,
impedindo que seguissem o caminho do mal, tambm Santo Antnio segurou os soberbos, os vingativos, os
cobiosos e os sensuais. ~~~
o Torpedo um peixe semelhante raia capaz de produzir pequenas descargas eltricas fazendo as suas vtimasV-
Como o torpedo, tambm Santo Antnio fez, com suas palavras, os homens tremer. No entanto, e ainda assim h _.4-
homens e pescadores que no conseguem sentir essas descargas de energia e continuam o seu caminho~'
Tambm muitos homens ignoraram as palavras de Santo Antnio e continuaram o seu caminho errante.
O autor do sermo pretende com a referencia a este peixe realar a importncia do pregador ao fazer tremer
o brao daqueles que se desviam do caminho do bem.
o Quatro-Olhos que possui dois olhos voltados para cima (para vigiar das aves- dos inimigos do ar), e outros
dois voltados para baixo (para vigiarem os peixes- os inimigos do mar). Este peixe simboliza, por suas
caractersticas, a necessidade de olharmos, diretamente, ou s para cima, ou s para baixo. Para cima,
considerando que h cu; para baixo considerando que s h inferno. Este peixe ensina-nos a olhar para o cu e
para o inferno mas, no entanto, Vieira acentua a necessidade do homem de se focar no cu.
So de notar algumas figuras de estilo que surgem com alguma frequncia neste captulo:
- Anforas: Ah homens ... Ah moradores'T'Ouantos, correndo ...quantos embarcando ;
- Interjeies: visando atingi r os coraes dos ouvintes reforando a carga emocional do sermo tornando-o mais persuasivo;
- Repetio: de pronomes indefinidos para a realizao de enumeraes;
- Gradao: Nau soberba, nau vingana, nau cobia, nau sensualidade (propsito intensificador dos males);
- Comparaes;
- Metforas;
- Ironia:
Mas ah sim, que no me lembrava Eu no prego a vs, prego aos peixes .
Captulo IV - repreenso geral dos males dos peixes
Agora o sermo
vai-se
centrar na reprenso dos peixes, metfora direta dos males humanos
(Mas ah sim, que
no me lembrava Eu no prego a vs, prego aos peixes ). Antes porm que vos vades, assi como ouvistes os vossos
louvores, ouvi tambm agora as vossas repreenses:
vos comedes uns aos outros (disputa de bens materiais);
No s vos comeis uns aos outros, seno que os grandes comem os pequenos (desigualdades sociais);
Se os pequenos comessem os grandes, bastavam um grande para muitos pequenos; mas como os grandes
comem os pequenos, no bastam com pequenos, nem mil, para um s grande.
Captulo V - repreenso particular dos males dos peixes
Assim como quatro peixes louvou, agora Antnio Vieira ir repreender outros tantos:
os Roncadores que, embora to pequenos, roncam muito personificando a arrogncia e a soberba (=altivez) (
possvel que sendo vs uns peixinhos to pequenos, haveis de ser as roncas do mar?);
os pegadores que, embora tambm pequenos, pegam-se aos peixes maiores no os largando mais simbolizando,
por isso, o parasitismo
(Pegadores se chamam estes que falo,
e
com grande propriedade, porque sendo
pequenos, mas s sendo pequenos, no s se chegam a maiores, mas de tal sorte se lhes pegam aos costados que
jamais os desferram}.
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os Voadores so os peixes que se meteram a ser aves e simbolizam a presuno/ vaidade e a ambio (Dizei-me
voadores, no vos fez Deus para peixes? Pois porque vos meteis a ser aves? [...] Contentai-vos com o mar e com
nadar, e no queirais voar, pois sois peixes) .
o Polvo com aparncia de santo, o maior traidor do mar ( debaixo desta aparncia to modesta, ou desta
hipocrisia to santa [...] o dito polvo o maior traidor do mar).
Captulo VI - perorao, concluso do sermo
O autor faz a sua ltima advertncia aos peixes e conclui com a utilizao de um desfecho forte, capaz de
impressionar o auditrio e lev-lo a por em prtica os ensinamentos transmitidos pelo pregador.
Enquanto os animais foram escolhidos para os sacrifcios, pois podiam ir vivos para os sacrifcios, os peixes (por
no irem vivos para os sacrifcios) no servem o propsito do sacrifcio e por isso oferecem a Deus respeito e
obedincia. O autor, neste final, compara a morte dos peixes que no podem ser sacrificados, aos homens que
seguem para o altar em pecado mortal para se renderem a Deus e, por isso, este j no os aceita. Ento o orador,
como soluo a este problema, diz aos homens para imitar os peixes, guardando respeito e obedincia a Deus. Quer
que os homens se convertam.
Para finalizar Antnio Vieira faz referncia ao seu prprio caso, e admite que se considera, tambm, um pecador, e
demonstra inveja pelo facto dos peixes no possurem livre-arbtrio (visto que os homens s pecam porque o
possuem). Ao se declarar como pecador, o orador tem como objetivo fazer com que os homens repensem as suas
atitudes: j que ele era padre devoto e, no entanto, se declara como pecador, os homens, obviamente menos
devotos, se vejam na situao em que esto e concluam que so piores que o Padre. No final do sermo as pessoas
devem, ento, sentir-se descontentes consigo prprias e/por conseguinte/melhorar os seus comportamentos.
1 3 Sntese de Contedos
- O Barroco - exuberncia decorativa; exaltao dos sentimentos; subterfgios (=espelhar) do estilo na
Contexto Cultural
literatura.
Contexto de Produo do
- A situao dos ndios no Maranho - a explorao da mo de obra pelos colonos europeus;
Sermo
- A defesa da liberdade dos ndios por Vieira.
Conceito Predicvel
- Vosestis sal terrse
-
- Exploraodo tema a partir da metfora do sal;
Exrdio (introduo)
Cap.1
,
- Elogio aSanto Antnio como exemplo a seguir;
-Invocao Virgem Maria -
'':4veMaria.
. :
,'
- Louvores aos peixesem geral.
j
, : : ~ 1 , ' ~ '
r l i
Cap.1I
, i ' i
, A i
,, 1
- Louvores aos peixesem particular.
; ,i ii ,
,i,
Estrutura do Sermo
Exposio e Cap.1I1
Confirmao
-Repreensesaos peixes em geral.
. i i ;
(desenvolvimento)
Cap.IV
'
,.
, i ,
- Repreensesaos peixes em particular.
~
Cap.V
-Apelo aos ouvintes -
Peixes, dai muitas graas a Deus de vos
Perorao (concluso) CapoVI
livrardeste perigo;
-Louvor a Deus- repetio anafrica Louvaia Deus
- Alegoria dos Peixes:
representatividade das virtudes em geral (a devoo, a obedincia, a ateno
palavra de Deus, a
humanidade, a independncia em relao ao homem) e em particular (o fervor, a f, o recato, a
Discurso Alegrico
conscincia do bem e do mal);
representatividade dos vcios humanos em geral (a antropofagia(=canibalismo) social, a explorao,
a vaidade) e em particular {a arrogncia e a soberba dos roncadores, o parasitismo e a adulao dos
pegadores, a presuno, a vaidade e a ambio dos voadores, e a hipocrisia e dissimulao do pov~.
- Condenaodosvcios humanos: cobia, ambio, vaidade, soberba, parasitismo, vaidade...
Atemporalidade do discurso
- Apelo humanizao do indivduo;
- Carter didtico.
j;
-Adjetivao valorativa; -Antteses;
Caractersticas
retricas
da
- Afirmaes sentenciosas; -Perguntas Retricas;
linguagem
- Paralelismo Sinttico;
- Argumentos de Autoridade;
-Metforas; - Citaes bblicas.
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1 1Fre i Lu s de S ousa
2.1 Nota Biogrfica de Almeida Garrett
Joo Batista da Silva Leito nasceu a 4 de Fevereiro de 1799, no Porto, local onde viveu parte da sua infncia, e que
foi decisivo para a construo do sentimento potico de Garrett alimentado pelas tradies populares reveladas nas
histrias e nas canti lenas das velhas criadas.
Como consequncia das Invases Francesas, a famlia de Garrett v-se obrigada a fugir para a Frana e,
posteriormente para os Aores, onde se d o primeiro contato com a cultura humanstica clssica e desenvolve a sua
paixo pelo teatro. Regressa ao continente pouco antes das Revolues Liberais e inicia a atividade de agitador
poltico, orientada pelos ideais polticos europeus, especialmente os ideais de liberdade proclamados pelos franceses
que marcaram profundamente os seus ideais cvicos. No entanto, a agitao e instabilidade poltica dos primeiros
anos do regime liberal, levaram o autor a exilar-se. Apesar de tudo, este exlio decisivo para a vida poltica e
notabil idade literria do autor uma vez que este integrado em vrios crculos emigrados liberais e instalou o
Romantismo na literatura nacional.
Tem um papel ativo na sociedade poltica do seu tempo e escreve inmeras obras de carter patritico onde
denuncia a degradao fsica e moral do pas.
Acaba por falecer em 1854 (55 anos) com um historial plurifacetado e tocando vrios nveis da vida nacional, aliada
ao carter pedaggico e didtico do liberalismo, conduziria o autor a dotar os seus textos literrios de um tripla
misso: esttica, cvica e poltica.
2.2 Crtica
Obra de carcter poltico associada
crise que Portugal atravessava. Esperana na ressurreio da ptria
que sofria a decadncia dos ideais liberais.
2.3 Obra Trgica ou Drama?
A obra Frei Lus de Sousa no exemplo tpico nem de uma tragdia clssica nem de um drama romntico. uma
obra hbrida, a nvel da classificao quanto
sua natureza. O prprio Almeida Garrett o diz na Memria ao
Conservatrio Real, texto onde faz a apresentao da sua pea: Contento-me para a minha obra com o ttulo de
drama; s peo que a no julguem pelas leis que regem, ou devem reger, essa composio de forma e ndole nova;
porque a minha, se na forma desmerece da categoria, pela ndole h-de ficar pertencendo sempre ao antigo gnero
trgico.
A tragdia grega a histria de um fado que brinca com os homens: tpico o caso de dipo. Os homens bem
fazem, bem fogem, bem inventam desculpas e subterfgios - vale tanto como nada. Eles prprios sabem, muito
embora finjam o contrrio, que o destino os vir colher na rede. Ora este destino que se aproxima passo a passo e
este terror crescente dos humanos que se sabem colhidos na rede da histria que Garrett nos conta no Frei Lus de
Sousa. Por isso mesmo, o drama quase no tem enredo. Logo de comeo se sabe o que vai acontecer; o desfecho
evidente e no interessa ao autor torn-lo incerto por meio de uma intriga complicada.
A nica aco movimentada - a resistncia de Manuel de Sousa aos regentes e o incndio de sua casa - serve para
encaminhar as personagens ao ponto preciso em que o destino as quer apanhar: a casa do prprio D. Joo de
Portugal,
vista do seu retrato. Em vo D. Madalena resiste, em vo Manuel de Sousa sossega, tentando conjurar o
destino pela ignorncia inocente do que todos sabem que vai acontecer.
-Elementos trgicos
Podemos dizer que Frei Lus de Sousa uma tragdia, quanto ao assunto:
parte do tema - ilegitimidade de Maria (adultrio);
a classe social dos protagonistas: pessoas de estirpe elevada, de carcter justo e ntegro, sobre as quais recai a
desgraa;
a existncia de um conflito interior vivido essencialmente pelas personagens de D. Madalena de Vilhena e de
Teimo;
o desafio ao destino (hibris) : feito por D. Madalena e Manuel de Sousa Coutinho, quando casam sem a certeza
absoluta de que D. Joo estava morto; Manuel de Sousa, incendiando o palcio;
o sofrimento (pathos) como uma constante ao longo da obra, especialmente vivido por D. Madalena;
a criao de uma atmosfera de temor: os pressgios de Teimo, as datas, o incndio do retrato de Manuel de
Sousa Coutinho;
o papel do destino, entidade
qual o homem no pode fugir;
a peripcia: o incndio do palcio de Manuel de Sousa Coutinho, o que vai originar a ida da famlia para o palcio
de D. Joo, aonde este se dirige imediatamente mal chega a Portugal, sem tempo para se inteirar bem de todos os
aspectos da situao;
o reconhecimento de uma personagem (agnorisis): o Romeiro como D. Joo de Portugal;
uma fatalidade (a desonra de uma famlia, equivalente morte moral), que o pblico/leitor vislumbra logo na
primeira cena, cai gradualmente sobre Madalena at ao clmax (a revelao da identidade do Romeiro), a partir do
qual o desenlace trgico se torna irreversvel, atingindo todas as restantes personagens;
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a catstrofe: a morte de uma vtima inocente, D. Maria, a ida dos seus pais para o convento (morte para o
mundo), a destruio psquica de Teimo e o sofrimento de D. Joo;
a catarse: o sentimento de terror e piedade provocado nos espectadores, levando-os aprendizagem de uma
lio, purificao espiritual;
Teimo, dizendo verdades duras protagonista, e Frei Jorge tendo sempre uma palavra de conforto, parecem o
coro grego.
-Aspectos em que a obra se afasta da tragdia clssica:
o facto de estar escrita em prosa (a tragdia clssica era em verso);
a utilizao de um registo de lngua coloquial, fluente, prximo da realidade (diferente do tom solene e
vocabulrio culto da tragdia clssica);
o facto de ter trs actos e no cinco;
o desrespeito pela lei das trs unidades: h apenas unidade de aco, mas no h unidade de espao (o l.Q acto
passa-se no palcio de Manuel de Sousa Coutinho, o 2.
Q
no de D. Joo de Portugal e o 3.Qna parte baixa deste palcio
e na igreja de S. Paulo), nem de tempo (os acontecimentos no se do num dia - mximo de 24 horas - mas sim numa
semana);
a supresso da personagem do Coro, que tinha a funo de prever e comentar os acontecimentos, embora se
considere que Teimo desempenha parte dessas funes;
o assunto, que no diz respeito s lendas ou histrias da Antiguidade Clssica, mas , sim, um assunto retirado
da realidade do seu pas, com actualidade e com fundo histrico.
So precisamente estes seis fatores em que se afasta da tragdia clssica e reflecte as caractersticas do drama de
proximidade com a realidade.
Como se pode depreender dos tpicos apresentados, esta obra est muito mais prxima da tragdia do que do
drama. Garrett apenas no a denominou assim porque o gnero tragdia tinha tal solenidade e conjunto rgido de
regras que o autor preferiu a prudncia de uma designao menos prestigiosa, o que lhe pouparia algumas crticas.
2.3.1 Carateristicas Romnticas em Frei Lus e Sousa
-o culto valorizao do eu
A afirmao da personalidade face ao mundo exterior pode ser vista atravs das personagens:
Manuel de Sousa Coutinho, que afirma a sua rebeldia no desafio aos opressores, incendiando o seu
prprio palcio .
D. Madalena infringe o cdigo moral da sociedade ao casar com Manuel sem ter sido declarado o
bito do primeiro marido, satisfazendo a sua paixo, buscando a felicidade. D. Maria pe em causa, desta
forma, as leis da sociedade, da moral instituda, ao afirmar o seu direito felicidade.
-crencas supersticiosas
Teimo sempre acreditou que D. Joo de Portugal voltaria vivo ou morto;
D. Madalena valoriza os agouros e insiste na crena de que o dia de sexta-feira um dia de azar; para
alm disto, esta personagens tem vises e sonhos que pressagiam acontecimentos funestos.
-Liberdade e Nacionalismo
O amor
ptria est bem patente na rebeldia e desafio de Manuel da Sousa Coutinho, bem como no
idealismo guerreiro de D. Maria, que apoia o pai na sua atitude e aco precipitadas (ao deitar fogo ao
prprio palcio). Ambos desejam a liberdade da sua ptria. D. Maria mostra ainda o gosto pelo que
popular.
-A crena no Sebastianismo
A crena no rei D. Sebastio (desaparecido na batalha de Alccer-Quibir) para salvar o pas no domnio
filipino e devolver a Portugal a sua grandiosidade passada est presentificada nas falas de Teimo e de D.
Maria: Teimo pensa que deseja a vinda do seu amo, D. Joo de Portugal; D. Maria, idealista, anseia pela
vinda do salvador, EI-rei D. Sebastio.
D. Madalena, por outro lado, rejeita essa crena, assim como Manuel da Sousa Coutinho (o que constitui
uma espcie de paradoxo). Mulher e marido (ela, de modo claro, ele, implicitamente, atravs do semblante
e de silncio, no desejam o regresso de D. Sebastio, mostrando, assim, que temem a concretizao dessa
crena. Se o rei estivesse vivo, tambm poderia estar vivo e voltar a Portugal o primeiro marido de D.
Madalena.
-Mulher-anjo e mulher-demnio
D. Maria , muitas vezes, caraterizada como um anjo; na verdade, ela uma jovem forte
psicologicamente e muito frgil fisicamente. O seu fim ser a morte causada pela doena- tuberculose.
D. Madalena pode ser considerada a mulher-demnio que causar a perdio de toda a famlia,
derivada da sua paixo incontrolada por Manuel de Sousa Coutinho.
-O mito do escritor romntico
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Ao ingressar na Ordem Religiosa, no Convento de S: Domingos, Manuel tornar o nome de Frei Lus de
Sousa, morrendo para o mundo material. Frei lus dedicar, a sua vida a Deus, tornando-se escritor.
Mergulhado na solido, martirizado, expiando as consequncias trgicas do seu amor (morte da filha e
separao do seu amor), o escritor romntico, depois de ter desafiado as regras da sociedade com o seu
carter rebelde, ficar votado ao sofrimento. Carateriza-se, assim, na obra, o mito do escritor romntico.
-O domnio do sentimento sobre a razo
observvel o privilgio do sentimento sobre a razo em quase todas as personagens:
-D. Madalena, dominada pelo amor-paixo pelo marido, pelo amor maternal por Maria, pelo
medo e terror do possvel regresso primeiro marido representado pela constante presena do Teimo.
-D. Maria, idealista, patritica, apaixonada pelos pais.
-Manuel da Sousa Coutinho, marido apaixonado, pai preocupado e carinhoso. Todavia, de notar
nesta personagem alguma complexidade, porquanto no incio da pea, Manuel parece regido pela razo,
no entendendo a instabilidade emocional da mulher, mas observa-se o seu carter impetuoso, dominado
pelo dio, raiva e rancor, destruindo a habitao da sua famlia, bem como uma angustiada prostrao e
delrio, quando a filha adoece gravemente.
-Telrno, dominado por uma espcie de amor paternal por D. Joo de Portugal e por D. Maria,
mostrar claramente esse conflito interior onde os seus sentimentos por esses dois filhos se disputaro
at expresso profunda do desejo de morrer.
-Frei Jorge a personagem mais racional, evidenciando-se nele a calma, a tranquilidade, o domnio
dos excessos emocionais. Contudo, tambm possvel observar alguma perturbao emocional, perante a
doena da sobrinha, a afeio da cunhada, o sofrimento de D. Joo de Portugal, a dor do irmo.
-O amor
O amor como valor absoluto vivido por diferentes personagens: o amor-paixo de D. Madalena por
Manuel da Sousa Coutinho; o amor-paixo de D. Joo de Portugal por D. Madalena; o amor de Madalena e
Manuel por sua filha; o amor de Maria pelos pais; o amor de Teimo por D. Joo de Portugal e por Maria.
O amor torna-se impossvel na vida terrena para a famlia, para D. Joo de Portugal e para Teimo. O
amor, valor absoluto e sacralizado, apenas atingvel numa dimenso espiritual que possibilita a redeno;
tal o caso de Manuel de Sousa Coutinho e Madalena ao professarem.
-Elevada Religiosidade
Todas as personagens mostram o seu carter devoto e conduta de vida segundo os preceitos e regras
crists.
O final da pea - aniquilamento da famlia pela reposio das leis da sociedade e da religio - afinal
uma soluo ideal para a salvao: entrada em ordens religiosas, esperana possvel para os pecadores se
redimirem e encontrarem a verdadeira felicidade: D. Madalena ingressa no Convento do Sacramento e
Manuel Sousa Coutinho passa viver no Convento de S.Domingos.
2.4 Categorias Do Texto Dramtico
2.4.1
Ao
2.4.1.1 Estrutura Externa Da Obra
Est dividida em trs actos e cada acto em cenas (o 1
Q
acto tem 12 cenas; o 2
Q
acto tem 15 e o 3
Q
acto tem 12).
2.4.1.2 Estrutura Interna da Obra
O conflito vai-se desenrolando e tornando cada
ve z
mais angustiante pela sucesso destas trs aces
fundamentais:
-o incndio do palcio de Manuel de Sousa e a destruio do seu retrato (fim do 1Qacto);
-a mudana para o palcio de D. Joo de Portugal e a chegada deste na pessoa do Romeiro (2
Q
acto);
-a morte de Maria e a tomada de hbito de Manuel de Sousa e de D. Madalena (fim do 3Q acto).
-Lel das Trs Unidades
- Os acontecimentos encadeiam-se extrnseca e intr insecamente;
- Nada est deslocado nem pode ser suprimido;
- O conflito aumenta progressivamente, aumentando o desespero;
- A catstrofe o desenlace esperado;
Ao -
A verosimilhana
perfeita;
- A unidade de ao superiormente conseguida;
Concluso:
A articulao e complementaridade das trs unidades evidente.
-
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Tempo
Espao
]
Ju lho
6 feira, Sb. Dom. :::.,
28 29 10
T
A ct o 1
Fim de tarde
Noite
1.~, 4 5. . 6.~
I:; 1 4
-J., -J., -
Acro Il J .
Tard e
. J ..
J .
Acto 1Il
Alta noite Amanhecer
3l
- No respeita durao de 24horas da tragdia clssica;
- A condensao do tempo evidente e torna-se num fator trgico; afunilamento do tempo: 21 anos,
14 anos, 7 anos, tarde (8 dias) noite, amanhecer;
- Uma semana justifica-se pela necessidade de distanciamento dos acontecimentos do I atoe da
passagem do I plano dos referentes ao regresso de D. Joo.
-o simbolismo do tempo: 6~ feira fatal: 1Qcasamento de Madalena, 1~ viso de Manuel, morte D.
Sebastio, desaparecimento e regresso de D. Joo (6~s feiras).
- Espao Fsico: Almada (Palcio de D. Manuel, Palcio de D. Joo).
- Ato I> Palcio de D. Manuel: luxo, grandes janelas sobre o Teja -Felicidade aparente;
- Ato 11>Palcio de D. Joo: melanclico, pesado, escuro - Peso da fatalidade, da desgraca;
- Ato 111>Parte baixa do Palcio de D. Joo: casa sem ornato algum; abandono dos bens materiais.
A cruz: o elemento conotador da morte e da esperana.
Quanto ao afunilamento espacial (sia - Palestina> frica - Alccer Quibir > Europa - Portugal>
Lisboa> Almada > Palcio de D. Manuel> Palcio de D. Joo de Portugal> parte mais baixa do
mesmo Palcio) at se reduzir ao mnimo (retrato de D. Joo de Portugal) pressagiador de
desgraa. A propsito, por falar em retrato, h dois retratos que so part icularmente
importantes: o de D. Manuel, que arde, aquando do incndio, indiciando a morte (para o mundo)
desta personagem; o de D. Joo de Portugal, que funciona como meio de evocaes funestas,
quer no pr incpio do ato 11,aquando da mudana de palcio, quer na ocasio do reconhecimento
(anagnrise) , no final do mesmo ato.
- Espao Social: domina o estatuto de nobreza com normas rgidas;
- Espao Psicolgico: a conscincia de Madalena espao privilegiado.
2.4.2 Tempo
2.4.2.1 Tempo Histrico
A ao de Frei Lus de Sousa (no s a representada mas tambm os seus antecedentes) situa-se nos finais do
sculo XVI, incio do sculo XVII, como possvel verificar pelas referncias textuais:
Cmara antiga, ornada com todo o luxo e caprichosa elegncia portuguesa dos princpios do sculo dezassete. ;
Batalha de Alccer Quibir, 4 de Agosto de 1578;
Reforma: [. ..] o
homem
herege, desta ceita nova d'Alemanha ou D'lnglaterra.
(meados do sculo XVI);
Filipe 11de Espanha, I de Portugal, aclamado em 1580: [. . .]
os senhores governadores de Portugal por D. Fi lipe de
Castela, que Deus guarde[. ..] ;
2.4.2.2 Tempo Representado
O tempo representado corresponde a oito dias:
H oito dias que aqui estamos nesta casa [. ..]
Mas isto ainda cedo , Quadro, quatro e meia. [. ..] So cinco horas, pelo alvor da manh .
Conclui-se, portanto, que o Ato I e o Ato 11decorrem oito dias, enquanto os Atos 11e 111so apenas separados por
algumas horas.
2.4.2.3 Tempo da Representao
O tempo da representao corresponde aos trs momentos-chave do desenvolvimento da intriga:
- exposio: um dia, sexta-feira, 27 de junho de 1599
- reconhecimento: sexta-feira, 4 de agosto de 1599 - data determinada pela fala de Madalena: [. ..]
faz anos que
se perdeu EI-rei D. Sebastio. -
batalha de Alccer Quibir, 4 de agosto de 1578;
- desenlace/ catstrofe: uma noite (de sexta-feira para sbado, 5 de agosto de 1599).
-
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5 Sntese da Obra
-Ato
2
Madel.; ll le,
T eim o
4
lntcrmaes sobre o passado das
pe rso n age n s
IC ,8r~ct?m ~et lo(las personagens D.
Madalena. Manuel de Sonsa CO-
trmo ~. lana. D. Joo de Portugal e
T eim e
anunoa
contnuos agouros
I R , lP , ? t I : a O do nmero 7 (Madaena:
de sete
e
maIS
catorze vmll:
I
um finos?) contere ao
um caracter ominoso - carregado de rmstno
li ;
ali m ent a
a presena do passado que Macia-
ouerens enterrar (dVidas sobre a morte de D.
de Portugal sustentadas pelas palavras da carta
n a m adrugada da b ata lh e de
Alccr Ouiblr
T eim o eu, decorou e no S8 cansa de repelir
V IVOou molto M ada Jen8, t l E t i - t l r : : ve r-v os pe to roon os
1 < 0
ve z neste m vndo U
Frei Jorge enunoe a Inteno dos
oovernaoores de se instearem em
cas a de Manuel de sousa Coutinho
para fugirem
ti
peste
qu e an da
Ouvido
apuradO
de
M a n a que Frei
~lOrge
tlesigna
de
_-:-_+:-_-:-:- + o; ::r ~ a::: s:;; .s. ::av :..:a::.. : :e:..:m .:.. ::.u::: s:;; .b .::o.::a.,..... -..,__ ,_ --_ arrivei Sinsf
alsna: Mlranda anuncia a chegada de
JJrg e: M an uel de S O U S8 Coutinho
Mmanda
Madalena.
Teimo: Mana
Madalena:
Maria
5 M adalen a.
Mana; Frei
JJrge
Maria
pergunta a Teimo pato roman-
ce que aquele lhe prometeu sobre D.
Sebastlo .
. A .
m e nem Q u e r o uv ir
tatar
disso
Maria no consegue
enterllj(jr
a per-
tutbao dos pais Ialab vam en te ao
regresso de D . Sebastb),
Madalena n o p ode reve lar a causa
das suas oreocu
a es
M an uel de S ous a tr ansrm te fam l ia
a deciso
de
se
mudarem para
o p a-
lcio que tora de D. Joo de Portu-
1
981
Sebastlamsmo de Mana (se
o
rel
n o
morreu, D Joo
de Pc,rtugal tambm no rera morndo Tuberculose
de Mana
Maria dotada de uma p ro oig H) sa Imaginao
(tem
a
doena d sonhe r ) As papOUlas que Maria traz
murcham ..
Madalena fica aterrorizeda com
a
IdeIa da muoena.
Frei JJrge, tentando sossegar Madalena,
dIZ
Que
cer o quase de f:;a ixo dos mesm os te lhados
P s duas personagens vivem um con -, M U dan a de espao (palcio de D . JJo de Portugal}-
flto dom inado p e las op osies P 85-
mes
do qu e
um
re g resso ao
passado
o reg resso do
sacorpresente. razoicorao passado
Mldale.1'l6.noque.r.voltarcaS8de
I
D.
Joo
de Portugal; para ela uma
questo de Vida ou de morte. que
Manuel de Sousa 1i11erprela corno I
I
uma tsn n osra incompreensvel ( ca-
J)flchoEO
7
M ada le n a:
Ma- Teimo snunca a
ch egada
da oomi-
flUe
de
Sousa, iva dos ccvernadores a
Amada
T e i mo:
Mwan-
M B D .J l
de sousa certifice-se que
da e outros teces as provrdnoes foram tome-
Icoaoos: en- Idas e ordena que Madalena e Mana
JJrg e e Ip artam para a nova casa
j
1
Madana.
M a n a :
JJrge;
Mm3nda:
Manue de
Sou sa
Madaena,
Manuel de
sousa
IM an uel de S Q usa ate a fog o
sua
]casa
I
I
I I
IManuel de Sousa tala da morte do pa e do que 1
I
lpOde, vir a acontecer-lhe. a ele. na seounoa da sua I
at itud e
I
I
retrato de Manue de
S ousa
arde no
in c n di O
-
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.
C en as IPe rsonagens Ass un to
Sin ais qu e indic iarn o desenlace
1
I M an a. T e lm o IM an a co n v er sa c m T eim o: co n ta
I Mam
cita os p n m eiros v ersos oa n ove la
rrg lCB
I
C O m Oa m .ao n trar n o p ai
CI O qU E '
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n ina e 1 . 1 0 : ; 8 . o B ern ar m R ib eirO . co n te m p or -
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h ab ita ra. fic a e te rr on zada com a v rs ao
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Ido ret ra to de D Jo o e recrim in a os
A cau se n a coen a oe M adalen a - o retre to de M a
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g our os daquela qu e se en con tra n el
e souse . qu e
roeu n o In c n di O
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Idoe n te h a O ito d ia s
51. 1 st n u ido p elo re tr a to de D . ';: 'a uum m aoo p or
in te essa-se p elos trs ret ratos oue se urn a to m a. qu an do
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palscio
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M ad a en a. Q uan do Frei Jor g e, apon ta n do p ar a M adalen a. p er-
Jorge.
g un ta ao R om eiro se
aque la a p es soa com quem
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m e s m a ,. - p od e
R om eirO m dlcier Q ue a re con h ec e
-
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Jorg e,
omeiro
o
Rom ero ti D .. . .. \: )
-
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111Os Maias - Episdios da Vida Romntica
3.1. Nota Biogrfica de Ea de Queirz
- Nasceu a 25 de Novembro de 1845, na Pvoa de Varzim.
- Estudou Direito em Coimbra, tendo sido, juntamente com Antero de Quental, um dos elementos mais
proeminentes da Questo Coimbr e da Gerao de 70.
- J em Lisboa, participou nas clebres Conferncias do Casino, onde apresentou o Realismo como nova expresso
de arte.
Depois seguiu a vida diplomtica.
Escreveu: O Crime do Padre Amaro, O Primo Basl io, O Mandarim, A Relquia, A Ilustre Casa de Ramires, A Cidade e
as Serras, entre outras obras.
- Faleceu em Neuilly, Paris, a 16 de Agosto de 1900.
3.2 Os Maias - Episdios da Vida Romntica
A ao de Os Maias passa-se em Lisboa, na segunda metade do sc. XIX. Conta-nos a histria de trs geraes da
famlia Maia. A ao inicia-se no Outono de 1875, altura em que Afonso da Maia, nobre e rico proprietrio, se instala
no Ramalhete. O seu nico filho - Pedro da Maia - de carcter fraco, resultante de uma educao extremamente
religiosa e protecionista portuguesa, casa-se, contra a vontade do pai, com a filha de um antigo negreiro, Maria
Monforte, de quem tem dois filhos - um menino e uma menina. Mas a esposa aps conhecer Tancredo, um prncipe
italiano que Pedro alvejara acidentalmente enquanto caava, acabaria por o abandonar para fugir com o Napolitano,
levando consigo a filha, de quem nunca mais se soube o paradeiro. O filho - Carlos da Maia - viria a ser entregue aos
cuidados do av, aps o suicdio de Pedro da Maia, devido ao desgosto da fuga da mulher que tanto amava. Carlos
passa a infncia com o av, recebendo uma educao rgida. Principalmente direcionada educao e s depois
religio. Forma-se depois, em Medicina, em Coimbra. Carlos regressa a Lisboa, ao Ramalhete, aps a formatura, onde
se vai rodear de alguns amigos, como o Joo da Ega, Alencar, Dmaso Salcede, Palma de CavaIo,
Euzbiozinho,
o
maestro Cruges, entre outros. Seguindo os hbitos dos que o rodeavam, Carlos envolvesse com a Condessa de
Gouvarinho, que depois ir abandonar. Um dia fica deslumbrado ao conhecer Maria Eduarda, que julgava ser mulher
do brasileiro Castro Gomes. Carlos segue-a algum tempo sem xito, mas acaba por conseguir uma aproximao
quando chamado por ela, para visitar, como mdico, a sua governanta que adoecera. Comeam ento os seus
encontros com Maria Eduarda, visto que Castro Gomes estava ausente. Carlos chega mesmo a comprar uma casa
onde instala a amante. Castro Gomes descobre o sucedido e procura Carlos, dizendo que Maria Eduarda no era sua
mulher, mas sim sua amante e que, portanto, podia ficar com ela. Entretanto, chega de Paris um emigrante, que diz
ter conhecido a me de Maria Eduarda e que a procura para lhe entregar um cofre desta que, segundo ela lhe dissera,
continha documentos que identificariam e garantiriam para a filha uma boa herana. Essa mulher era Maria Monforte
- a me de Maria Eduarda era, portanto, tambm a mes de Carlos. Os amantes eram irmos.
Contudo, Carlos no aceita este facto e mantm abertamente, a relao - incestuosa - com a irm, sem que esta
saiba que so irmos. Afonso da Maia, o velho av, ao descobrir que Carlos, mesmo sabendo que Maria Eduarda sua
irm, continua com a relao, morre de desgosto. Ao tomar conhecimento, Maria Eduarda, agora rica, parte para o
estrangeiro; e Carlos, para se distrair, vai correr o mundo. O romance termina com o regresso de Carlos a Lisboa,
passados 10 anos, e o seu reencontro com Portugal e com Ega, que lhe diz: - Falhmos a vida, menino .
A mensagem que o autor pretende deixar com esta obra, tem uma inteno iminentemente crtica.
atravs do
paralelo entre duas personagens - Pedro e Carlos da Maia, que Ea concretiza a sua inteno. Note-se que ambos,
apesar de terem tido educaes totalmente diferentes, falharam na vida. Pedro falha com um casamento desastroso,
que o leva ao suicdio; Carlos falha com uma ligao incestuosa, da qual sai para se deixar afundar numa vida estril e
apagada, sem qualquer projeto seriamente til, em Paris. Por outro lado, estas duas personagens, representam
tambm pocas histricas e polticas diferentes. Pedro, a poca do Romantismo, e seu filho, a Gerao de 70 e das
Conferncias do Casino, gerao potencialmente destinada ao sucesso. Mas no foi isso que sucedeu e este facto
que o escritor pretende evidenciar com o episdio final - o fracasso da Gerao dos Vencidos da Vida. Assim, estas
personagens representam os males de Portugal e o fracasso sucessivo das diferentes correntes esttico-literrias.
Fracasso este que parece dever-se, no s correntes em si, mas s caractersticas do povo portugus - a predileo
pela forma em detrimento do contedo, o diletantismo que impede a fixao num trabalho srio e interessante, a
atitude romntica perante a vida, que consiste em desculpar sistematicamente, os prprios erros e falhas, e dizer
Tudo culpa da sociedade .
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.
. .
3.2.1 Categorias da Narrativa
3.2.1.1 Ao e Ttulo
A ao do romance baseia-a na histria da famlia Maia, pertencente
sociedade burguesa lisboeta do sculo XIX.
A estrutura deste romance desde logo defina pela importncia dada pelo seu autor - Episdios da Vida
Romntica. Assim, o romance apresenta dois nveis narrativos/ diegticos relacionados com o ttulo e o seu subttulo.
Estes dois nveis narrativos art iculam-se de forma alternada, funcionando os ambientes como pano de fundo para
a atuao de algumas das personagens da intriga central que, pelo seu carter e comportamento, se destacam da
mediocridade nacional. Assim a arquitetura do romance conjuga trs elementos estruturadores:
a viso dos costumes quotidianos da sociedade lisboeta no final do sculo XIX, que serve de cenrio da intriga
central;
a intr iga principal- a relao incestuosa de Carlos e Maria Eduarda;
a intriga secundria - os antecedentes e a evoluo da famlia Maia.
- A Crnica de Costumes
A crnica de costumes da vida lisboeta da Segunda metade do sc. XIX desenvolve-se num certo tempo, projeta-se
num determinado espao (no so definidos pois permitem avaliar a sociedade do tempo presente e, por isso, faz
parte da ao aberta da obra) e ilustrada por meio de inmeras personagens intervenientes em diferentes
episdios. Lisboa o espao privilegiado do romance, onde decorre praticamente toda a vida de Carlos ao longo da
ao. O carcter central de Lisboa deve-se ao facto de esta cidade, concentrar, dirigir e simbolizar toda a vida do pas.
Lisboa mais do que um espao fsico, um espao social. neste ambiente montono, amolecido e de clima rico,
que Ea vai fazer a crtica social, em que domina a ironia, corporizada em certos tipos sociais, representantes de
ideias, mentalidades (romantismo), costumes, polticas, concees do mundo, etc. Vrios so os episdios uti lizados
pelo autor para mostrar a vida da alta sociedade lisboeta. Destacamos os mais importantes: o Jantar do Hotel Central;
a Corrida de Cavalos; o Jantar dos Gouvarinho; a Imprensa; a Educao; o Sarau do Teatro da Trindade; e o Episdio
Final: Passeio de Carlos e Joo da Ega. [ver espaos representativos da crnica de costumes pg. 123 Cad2013]
-A Intriga
Como foi possvel constatar atravs do esquema atrs, este romance possui duas intrigas:
A intriga principal narra os amores incestuosos entre Carlos da Maia e Maria Eduarda (a histria da terceira
gerao dos Maias) que terminam com a desagregao da famlia - morte de Afonso e separao de Carlos e
Maria Eduarda. Carlos o protagonista da intriga principal.
A intriga secundria que, organizada em torno da relao amorosa de Pedro da Maia e Maria Monforte, narra a
histria da segunda gerao dos Maias. Assim na intriga secundria temos:
a histria de Afonso da Maia - poca de rea,o do Liberalismo ao Absolutismo;
a histria de Pedro da Maia e Maria Monforte - poca de instaurao do Liberalismo e consequentes
contradies internas;
a histria da infncia e juventude de Carlos da Maia - poca de decadncia das experincias Liberais;
Vida de Pedro da Maia (intriga secundria; amores Vida de Carlos da Maia (intriga principal; amores
infelizes) incestuosos)
Vida dissoluta;
Vida dissoluta;
Encontro ocasional com Maria Monforte;
Encontro ocasional com Maria Eduarda;
Procurade M~Monforte;
Procura de M~ Eduarda;
Encontroatravs de Alencar;
Encontro atravs de Dmaso;
Oposio real de Afonso Negreira;
Oposio potencial de Afonso Amante;
Encontros e casamento;
Encontros e r elaes;
Elemento desencadeador do drama - o napolitano;
Elemento desencadeador do drama - Guimares;
Infidelidade de Maria Monforte - reaesde Pedro;
Descoberta do Incesto - reaes de Carlos;
Encontro de Pedro com Afonso e suicdio de Pedro;
Encontro de Carloscom Afonso e morte de Afonso;
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de realar que o desenvolvimento da ao principal d'Os Maios feito segundo os moldes da tragdia clssica:
a peripcia: verifica-se com o encontro casual de Maria Eduarda com Guimares e as revelaes deste ltimo a
Ega relativamente quela mulher e, mais tarde, as mesmas revelaes feitas a Carlos e Afonso da Maia;
a anagnrise (reconhecimento): surge em detrimento das revelaes reveladas por Guimares, que tornaram a
relao do casal protagonista incestuosa;
a catstrofe: surge com resultado da anagnrise consumada pela morte de Afonso da Maia e a separao dos
dois amantes e as reflexes de Carlos e Ega.
3.2.1.2. O Tempo
- Tempo da Histria e Tempo do Discurso
Os Maios abarcam um perodo de tempo de cerca de setenta anos, de 1820 a 1887, dos
quais apenas catorze meses so objeto de uma ateno mais aprofundada - outono de 1875 a
janeiro de 1877.
Inicialmente, apresenta-se o Ramalhete e Afonso da Maia em 1875; depois recua-se a 1820
~ para se resumir a histria da famlia; por fim, regressa-se a 1875 e ao Ramalhete, para se narrar
a intriga principal, que tem a durao de 14 meses. Este perodo de catorze meses constitui
fulcro do romance e prolonga-se pela maior parte do livro, ao passo que o perodo
corresponde aos cinquenta anos da histria dos antecedentes familiares surge resumido,
ocupando poucas pginas do romance. Dada esta construo da obra, geral de notar-se ao
longo do romance:
Analepse: Serve para dar a conhecer a famlia; justificar a presena de Carlos em Lisboa e
para explicar as razes para alguns acontecimentos do presente. Dessa analepse so
relatadas as vidas de algumas personagens que caraterizam o tempo da Histria:
Histria de Afonso da Maia tem como objetivos:
-apresentar dois espaos histricos, sociais e culturais: o espao miguelista
representado por Caetano da Maia - e o espao liberal representado por Afonso da Maia;
-Mostrar Maria Eduarda Runa presa a um catolicismo retrgrado (Padre Vasques e Cartilha - catecismo
antiquado) e ligada a uma misteriosa doena. So estes dois fatores, religio e doena, que a consumiro e
marcaro o seu filho Pedro.
Histria de Pedro da Maia (Intriga secundria de ndole naturalista): O percurso biogrfico de Pedro s
explicvel luz dos chamados fatores naturalistas:
- Raa (paralelismo de identidade entre me e filho);
- Educao (impede o desenvolvimento fsico, moral e intelectual, tornando-o um fraco em tudo );
- Meio (aps a morte da me frequenta um meio moralmente baixo).
Fica provada a tese de que o ser humano um produto destes fatores naturalistas que o condicionam
irremediavelmente.
Resumos ou sumrios:
E esse ano passou. Gente nasceu, gente morreu. Searas amadureceram, arvoredos
murcharam.
o tempo da histria
evidenciado pelas gera-
es retratadas no ro-
mance correspondentes
cronologia histrica
portuguesa e que
conferem a construo de
um efeito do real,
induzindo o leitor a
aceitar que a histria d'Og
i s
real. Referncias
histria: Intituio da
Constituio, o
naturalismo e o fim da
F sr:ravatura. VF r tambm
elipses ou omisses: Outros anos passaram.
3.2.1.3. Os Personagens
Afonso da Maia:. No se lhe conhecem defeitos. um homem de carter culto e requintado nos
gostos. Enquanto jovem adere aos ideais do Liberalismo e obrigado, pelo seu pai, a sair de casa.
generoso para com os amigos e os necessitados. Ama a natureza e o que
pobre e fraco. Tem altos e
firmes princpios morais. Personagem que funciona como sustentculo da famlia Maia e
para ele que
todos se voltam nos momentos de crise.
Maria Eduarda Runa: Oposio em termos ideias e sociais relativamente a Afonso; Mulher de caprichos
(=cismas) e de fanatismo relativo aos ideais religiosos (educao Pedro com apoio padre Vasques).
Maria Monforte: F dos jogos de seduo; Formosa, doida, excessiva; Leviana e nada moral,
nela que
radicam todas as desgraas da famlia Maia (o drama em causa)
Pedro Da Maia: Pedro da Maia apresentava um temperamento nervoso, fraco e de grande
instabilidade emocional. Tinha assiduamente crises de melancolia negra que o traziam dias e dias,
murcho, amarelo, com as olheiras fundas e j velho . O autor d grande importncia vinculao desta
personagem ao ramo familiar dos Runa e
sua semelhana psicolgica com estes.
Pedro
vtima do meio baixo lisboeta e de uma educao retrgrada. O seu nico sentimento vivo e
intenso fora a paixo pela me. Apesar da robustez fsica de uma enorme cobardia moral (como
demonstra a reao do suicdio face fuga da mulher). Falha no casamento e falha como homem.
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Carlos da Maia
Homem bem constitudo com uma fisionomia de belo cavaleiro da Renascena .
Carlos era culto, bem-educado, de gostos requintados. Ao contrrio do seu pai, fruto de uma educao
Inglesa.
corajoso e frontal. Amigo do seu migo e generoso. Todavia, apesar da educao, Carlos
fracassou. No foi devido a esta mas falho;fem parte, por causa do meio onde se instalou - uma
sociedade parasita, ociosa, ftil e sem estmulos e tambm devido a aspetos hereditrios - a fraqueza e a
cobardia do pai, o egosmo, a futilidade e o esprito bomio da me. Ea quis personificar em Carlos a
idade da sua juventude, a que fez a questo Coimbr e as Conferncias do Casino e que acabou no grupo
dos Vencidos da Vida ee ;.& a'r- tQ ?' m tro'ffl ex ' m p . C i ).
Maria Eduarda
Maria Eduarda nunca criticada, uma personagem delineada em poucos traos, o
seu passado quase desconhecido o que contribui para o aumento e encanto que a envolve. A sua
caracterizao feita atravs do contraste entre si e as outras personagens femininas ( flor de uma
civilizao superior, faz relevo nesta multido de mulheres miudinhas e morenas , era bastante simples
na maneira de vestir) e, ao mesmo tempo, chega-nos atravs do ponto de vista de Carlos da Maia, para
quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito.
Joo da Ega
Joo da Ega a projeo literria de Ea de Queirs.
um personagem contraditrio. Por
um lado, romntico e sentimental, por outro, progressista e crtico, sarcstico do Portugal Constitucional.
Bomio, excntrico, exagerado, caricatural, anarquista sem Deus e sem moral.
leal com os amigos. Sofre
tambm de diletantismo. Um falhado, corrompido pela sociedade. Encarna a figura defensora dos valores
da escola realista por oposio
romntica. Na prtica, revela-se um eterno romntico. Nos ltimos
captulos ocupa um papel de grande relevo no desenrolar da intriga pois a ele que Guimares entrega o
cofre.
juntamente com ele, que Carlos revela a verdade a Afonso.
ele que diz a verdade a Maria
Eduarda e a acompanha quando esta parte para Paris definit ivamente.
Eusbiozinho
O oposto de Carlos (lado negativo) no que respeita educao; Doentio, mergulhado nas
educaes da sua me e tia.
A educao de Carlos da Maia e Eusbiozinho contrasta em muitos aspetos. Basta, por exemplo, ver a fonte da sua
educao. No caso de Carlos da Maia, educado por um pedagogo ingls, Brown, contrasta imediatamente com o tipo de
educao de Eusbiozinho que fora educado de uma forma tradicional e portuguesa. Carlos da Maia, contactava com a
natureza; Deixava-o cair, correr, trepar s rvores, molhar-se, apanhar soleiras ( ) enquanto Eusbiozinho permanecia
em casa: M as o menino molengo e tristonho, no se deslocava das saias da titi ( ) . Carlos aprendia lnguas vivas como o
ingls e brincadeiras divertidas: Mostrou-lhe o neto que palrava ingls com o Brown (... ) O pequeno muito alto no ar, com
as pernas retesadas contra a barra do
trapzio,
as mos s cordas, descia sobre o terrao. Por seu lado, Eusbiozinho, por
sua vez aprendia as lnguas mortas como o latim e em vez de brincadeiras tinha contacto com livros velhos: O latim era um
luxo erudito. Nada mais absurdo que comear a ensinar a uma criana uma lngua morta . Carlos tinha uma educao de
carcter rigoroso, metdico e ordeiro: t inha sido educado como uma vara de ferro ( ... ) No tinha a criana cinco anos e j
dormia num quarto s, sem lamparina, e todas as manhs, zs para dentro de uma tina de gua fria, s vezes a gear l
fora( ... ) . J Eusbiozinho levava uma educao de superproteco: nunca o lavavam para no o constipar . Carlos
submetia a vontade ao dever, querendo ultrapassar a hora de deitar pois Vilaa estava l em casa, e Eusbiozinho subornava
a vontade pela chantagem afectiva quando disse mam -que ela o deixaria dormir consigo essa noite se dissesse os
versos. Carlos praticava exerccio - ginstica ao ar livre. Por seu lado, o outro rapaz no tinha qualquer actividade fisca
devido sua sade frgil . Carlos, porm, desprezava a cartilha e o conhecimento terico enquanto Eusbiozinho a estudava.
Dmaso Salcede
O personagem mais caracterizado por Ea, tornando-se um cabide de defeitos. Nada
tem de inteligente, de honrado ou de nobre. Aproxima-se de Carlos, que admira e inveja, por interesse e
desejo de condio social. Tenta convencer-se e convencer os outros do seu fascnio irresistvel face ao
sexo oposto, no obstante as suas conquistas estarem confinadas a espanholas de reputao muito
duvidosa. Possuidor de grande bazofia e sendo um enorme cobarde, difama pblica e anonimamente
Carlos, mas arrepende-se logo em seguida. Condensa toda a estupidez, futilidade e ausncia de valores da
sociedade. Decalca qualquer comportamento importado do estrangeiro, principalmente de Frana.
Alencar
incoerente; condena no presente o que cantara no passado; contradio entre aquilo que ele
diz e aquilo que ele faz. Falso moralista; refugia-se na moral, por no ter outra arma de defesa. Acha o
Realismo/Naturalismo imoral. Desfasado do seu tempo. Defensor da crtica literria de natureza acadmica
(preocupao com questes de natureza formal em detrimento da dimenso temtica; obcecado pelo
plgio) pouca credibilidade e seriedade da crtica literria em Portugal.
Sr Guimares
Usava largas barbas e um grande chapu de abas
moda de 1830. Conheceu a me de
Maria Eduarda, que lhe confiou um cofre contendo documentos que identificavam a filha. Guimares ,
portanto, o mensageiro da trgica verdade que destruir a felicidade de Carlos e de Maria Eduarda.
.
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3.2.1.4 O Espao
- Espao Fsico Exterior
Coimbra: espao de bomia estudantil, artstica e literria; espao de formao de Carlos cuja existncia surge
ainda marcada pelo Romantismo que a sua gerao procura rejeitar. Ambiente propcio ao diletantismo e ociosidade.
Lisboa: o grande espao privilegiado ao longo da obra. Polariza tudo o que constitua a calma ocupao da
camada dirigente do pas (ociosidade). o smbolo da sociedade portuguesa da Regenerao, incapaz de se
modernizar (obras da Avenida da Liberdade) e que agoniza na contemplao de um passado glorioso.
Sintra: A ida a Sintra de Carlos, Cruges e Alencar constitui um dos momentos mais poticos e hilariantes da obra.
Sintra o paraso romntico perdido, o refgio campestre e purificador.
Santa Olvia: um lugar mgico para onde a famlia se desloca para recuperar as foras perdidas, para esquecer a
dor e encarar o futuro.
- Espao Fsico Interior
Ramalhete: constitui um marco de referncia fundamental e o seu auge e/ou degradao acompanham
o percurso da famlia e a passagem de Carlos por Lisboa. Smbolo desse percurso a descrio do jardim
(aspeto simblico oposto ao racionalismo naturalista):
-1 momento: o jardim tem um aspeto de abandono e degradao; corresponde ao desgosto de Afonso
aps a morte de Pedro;
- 2 momento: o renascimento da esperana, renovao da casa por Carlos;
-3 momento: areado e limpo, mas sombrio e solitrio, simboliza o fim de um sonho e a morte de
uma famlia.
O consultrio: A descrio do consultrio revela-nos algumas facetas de Carlos: diletantismo,
entusiasmos passageiros, projetos inacabados.
A casa.de Dmaso: a ornamentao espampanante contrasta ironicamente com a baixeza moral da
personagem e com a sua embaraada aflio no episdio da carta.
Redaes respetivamente de A corneta do Diabo e de A Tarde:
degradao tica destes jornais
corresponde um cubculo, com uma janela gradeada por onde resvalava uma luz suja de saguo e uma
entrada mal cheirosa.
A Vila Balzac: o nome escolhido remete para duas facetas da personalidade contraditria de Ega: a
criao literria planeada, mas sempre adiada e a escolha de um escritor realista (esttica da qual adepto
convicto) para padroeiro quando, afinal, protagoniza reaes e comportamentos romnticos. Os mveis
escolhidos, nomeadamente a cama, acentuam a exuberncia afetiva e ertica de Ega o espelho
cabeceira
insinua a extravagncia, um temperamento exibicionista e narcisista.
33 Resumo dos Captulos (Pontos Essenciais)
OsMaias vm habitar o Ramalhete
(1875)
A descrio do Ramalhete antes de
1875
Vilaa, procurador dos Maias
O restauro do Ramalhete (descreve-se a nova decorao)
Afonso (retrato fsico)
Caetano da Maia (pai intransigente)
Juventude de Afonso
Cap.1
Casamentoe exlio
Educaode Pedro (o padre Vasques)
O regressoa Lisboa
A morte de Maria Eduarda Runa(me de Pedro)
A paixo de Pedro
Alencar conhece a mulher que Pedro vai amar (Maria Monforte)
O casamento de Pedro e o corte de relaes com Afonso
Regressoa Lisboa
O nascimento de uma filha (Maria Eduarda)
O nascimento de um filho (Carlos)
Cap.1I
Tancredo, o Napolitano, frequenta casade Pedro
Afonso v, pela primeira vez Carlos Eduardo
Pedro suicida-se
Afonso parte com Carlos para Santa Olvia
Vilaa em SantaOlvia
A educao de Carlos (Mr.Brown)
A educao de Eusebiozinho (a tradicional portuguesa)
Capo 111
Um sero em Santa Olvia
Vilaa informa sobre paradeiro de Maria Monforte
A confirmao da morte de Maria Eduarda (neta de Afonso)
Carlosvai entrar nafaculdade
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o
Paos de Celas (a estadia de Carlos em Coimbra)
o
Joo da Ega (amigo de Carlos)
o
Amores de Carlos
o
Carlos forma-se em medicina
Cap IV
o
Carlos parte para uma viagem
o
O regresso de Carlos
o
A instalao no Ramalhete (1875)
o
Os projetos de Carlos (consultrio, laboratrio)
o
Egavem para Lisboa
o
O sero no Ramalhete. Primeira doena de Car los.
o
Fala-se de Ega, de Steinbroken. Taveira fala nos Gouvarinhos.
o
Laboratrio de Carlos e carreira mdica
o
Ega ama Raquel Cohen
o
Ega visita Carlos no laboratrio (consultrio)
Cap V
o
Ega insulta os jornalistas (imprensa)
o
Ega prope que o apres,7Dtem aos Gouvarinhos
o
Carlos vai a S.Carlos
o
Carlos conversa com Batista (criado de quarto) sobre os Gouvar inhos e sobre aventuras amorosas
o
Em S.Carlos, Ega apresenta Carlos aos Gouvarinhos.
o
Carlos visita Ega na vi la Balzac
o
Carlos e Ega conversam sobre Gouvarinhos
o
Carlos apresentado a Craft
o
Convite de Ega para um jantar no Hotel Central
o
Carlos v uma senhora extremamente bela.
Capo VI
o
Dmaso informa acerca da identidade da senhora Castro Gomes
o
Egaapresenta Alencar a Carlos
o
O jantar: literatura, poltica ...
o
Depois do jantar um final agitado (entre Ega e Alencar)
o
Discusso e reconciliao
o
Carlos recorda o passado: recorda viso da bela senhora.
o
Craft ntimo do Ramalhete
o
Dmaso ntimo do Ramalhete (persegue Carlos)
o
Ega informa Carlos sobre a paixo da Gouvarinho
o
Car los v novamente a senhora Castro Gomes.
Cap VII
o
A Gouvarinho vai ao consultrio de Car los
o
Dmaso frequenta Castro Gomes
o
Ega publica um artigo insensato sobre Cohen
o
Carlos pensa que os Castro Gomes foram a Sintra
o
Carlos procura ver madame Castro Gomes
o
Carlos e Cruges partem para Sintra
o
Encontram Eusebiozinho
Capo VIII
o
Vo a Seteais (Alencar recita)
o
Carlos pergunta pelos Castro Gomes: partiram na vspera - Dmaso est com eles.
o
Jantam
o
Regresso a Lisboa.
o
Convite dos Gouvarinhos a Carlos para jantar
o
Dmaso pede a Carlos que venha ver uma doente (filha de Castro Gomes)
o
Dmaso confidencia a Carlos perspetivas de ficar s com Madame Castro Gomes
(Castro Gomes
parti r para o Brasi l) .
o
Carlos prepara-se para o baile em casa dos Cohen
Cap IX
o
Noite em casa de Craft (Ega, Car los e Craft)
o
Dmaso informa Carlos presumvel doena de Castro Gomes
o
Carlos cruza-se com Castro Gomes: pensa pedir a Dmaso que lho apresente
o
Carlos vai ao ch a casa dos Gouvarinho
o
Seduo de Carlos pela condessa de Gouvarinho
o
As aventuras de Carlos/ condessa de Gouvarinho
o
Carlos e o marqus, descendo a rua de S. Roque, conversam
o
Avistam Madame Castro Gomes (per turbao) sobre as corridas de cavalos.
o
Carlos congemina a ideia de Dmaso levar aos Olivais os Castro Gomes
o
Carlos e Dmaso falam sobre as corridas.
CapX
o
Carlos fala a Dmaso no passeio aos Olivais.
o
Corridas
o
Dmaso informa Carlos sobre a partida de Castro Gomes para o Brasil; Carlos permite a insistncia da
Gouvarinho para ir visitar uma doente, decide-se a acompanh-Ia.
o
Carlos sai das corridas e vai
rua de S. Francisco na tentativa de se avistar com
Madame Castro
Gomes.
o
Carlos vai a casa de Madame C. Gomes (Maria Eduarda)
o
No Ramalhete Carlos rev o encontro
Capo XI
o
Carlos recebe um bilhete da Gouvarinho sobre ida a Santarm
o
Gouvarinho resolve a situao partindo com a mulher Carlos goza, durante semanas, a intimidade da
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casa de Maria Eduarda: grande amizade entre ambos
Carlos em casa de Maria Eduarda
Aparece Dmaso
Dmaso pede explicaes a Carlos
Ega volta para Lisboa (Ramalhete)
Carlos e Ega vo ao jantar dos Gouvarinho
Reconciliao Carlos/ condessa de Gouvarinho
ap XI I
Carlos compra a quinta dos Olivais (p/instalar M.Eduarda)
Afonso aprova a compra
Ega confidente de Carlos
Ega informa Carlos das difamaes de Dmaso a seu respeito e a respeito de M. Eduarda.
Preparativos da quinta dos Olivais (Toca)
Carlos ameaa Dmaso
apo XIII
Dmaso pede explicaes
Aniversrio de Afonso
A Gouvarinho pede
explicaes
a Carlos
Carlos rompe as relaes com a Gouvarinho
Afonso parte para Santa Olvia
Maria Eduarda parte para os Olivais
Ega parte para Sintra
Carlos s em Lisboa
Alencar apresenta Guimares a Carlos
Idlio Carlos/Maria Eduarda
Maria Eduarda visita o Ramalhete
a po X IV
Carlos vai a Santa Olvia: regressa e recebe Castro Gomes
Castro Gomes revela a Carlos que no marido de Maria Eduarda
Desespero de Carlos (a mentira): decide romper.
Carlos perante Maria Eduarda no consegue manter deciso
Longa histria de Maria Eduarda
Carlos prope casamento a Maria Eduarda
Maria Eduarda, na Toca, conta a Carlos a vida atribulada
Carlos conta a Ega o propsito de partir com Maria Eduarda
O av - obstculo a esta ideia
Ega, Carlos e Maria Eduarda jantam nos Ol ivais
Toca, ponto de reunio de amigos
Dmaso difama publicamente Carlos na Corneta do Diabo
Ega e Cruges desafiam Dmaso
a p XV
Dmaso retrata-se num documento que
obrigado a escrever
Carlos sente-se vingado
Afonso regressa a Lisboa
Carlos regressa ao Ramalhete
Maria Eduarda regressa
rua de S. Francisco
Festa de beneficncia: Egav Dmaso com Raquel Cohen
Ega publica a retratao de Dmaso (sem repercusses)
Carlos e Ega em casa de Maria Eduarda
O Sarau
ap o X VI
Guimares entrega um cofre a Ega
Guimares revela a identidade de Maria Eduarda (irm de Carlos)
Ega na posse do segredo, pensa na forma de o revelar a Carlos
Vilaa incumbido de o fazer: carta de Maria Monforte esclarece a filiao de M. Eduarda
Vilaa revela a Carlos a notcia
Ega e Car los conversam sobre o assunto
Carlos d abruptamente a notcia a Afonso
Carlos decide dar ele mesmo a notcia a Maria Eduarda
Carlos, face a Maria Eduarda, deixa-se levar e nada lhe revela
ap XVII
Carlos a passar as noites com Maria Eduarda
Ega e Afonso certificam-se da situao
Carlos v pela ltima vez o av
Afonso morre
Carlos parte para Santa Olvia
Ega revela a Maria Eduarda o seu parentesco com Carlos
Maria Eduarda-parte para Paris
Ega vai ter com Carlos
Notcia da partida de Carlos e Ega para o estrangeiro
Ega volta a Lisboa ano e meio depois
a p o X V III
Car los volta a Portugal (dez anos depois)
Os velhos amigos: encontro ou notcias
Car los e Ega visitam Ramalhete: modi ficaes operadas pelo tempo.