O pronome lembrete e a Teoria da Língua em Ato: uma análise baseada em corpora
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Veredas atemtica
Volume 17 n 2 - 2013
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O pronome lembrete e a Teoria da Lngua em Ato: uma anlise baseada em corpora1
Bruno Neves Rati de Melo Rocha (UFMG)
Tommaso Raso (UFMG)
RESUMO: O trabalho prope uma nova viso sobre caso do pronome lembrete em PB baseando-se nos
pressupostos da Teoria da Lngua em Ato e em uma anlise dos corpora C-ORAL-BRASIL e C-ORAL-ROM de
PE. A anlise mostra que a retomada por pronome lembrete (A Maria, ela gosta de futebol) ocorre, em PB, em contextos prosodicamente e funcionalmente marcados. Em PE, esse tipo de retomada no foi encontrado. O
trabalho revela a existncia de outro tipo de retomada, realizada por meio da repetio do elemento retomado
(A Maria, a Maria veio), sujeita s mesmas restries do pronome lembrete. Por fim, retomadas em relativas resumptivas (A menina que eu gosto dela veio) no est sujeita s mesmas restries prosdicas e funcionais.
Palavras-chave: pronome lembrete; Teoria da Lngua em Ato; corpus.
Introduo
Este trabalho prope uma reanlise do caso do pronome lembrete (ou pronome
resumptivo) em PB. O estudo baseia-se na anlise de corpora de fala espontnea informal de
1 Os autores agradecem o CNPq e a Fapemig por terem financiado os trabalhos do projeto C-ORAL-BRASIL,
dentro do qual essa pesquisa se insere.
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Portugus Brasileiro (PB) e Portugus Europeu (PE) e foi conduzido segundo os preceitos da
Teoria da Lngua em Ato (CRESTI, 2000; RASO, 2012), doravante TLA. Para o PB, foi
utilizado o corpus C-ORAL-BRASIL, de Raso e Mello (2012). Para o PE, utilizou-se o C-
ORAL-ROM (BACELAR DO NASCIMENTO et al., 2005; CRESTI; MONEGLIA, 2005).
A anlise aqui empreendida teve como objetivos verificar a frequncia de uso da
estratgia do pronome lembrete e a existncia de restries prosdicas e funcionais operantes
na sua realizao. A hiptese investigada nesse trabalho a de que as retomadas por pronome
lembrete presentes na fala esto sempre sujeitas estruturao em unidades tonais diferentes,
mais especificamente, em unidades informacionais de Tpico e Comentrio (CRESTI, 2000),
com o elemento retomado na unidade informacional de Tpico e o pronome lembrete na
unidade de Comentrio.
1. O problema
Na literatura lingustica, no h um consenso sobre o que se entende por pronome
lembrete. Para que se tenha uma ideia de quo divergentes so as definies, basta dizer que
ora incluem e ora excluem de seus escopos casos como nas sentenas do exemplo (1), para as
quais o elemento retomado e o que retoma esto em itlico:
Exemplo 1 (a) A Maria, ela gosta muito de futebol.
(b) O Jairo, eu estou com o livro dele.
(c) Eu tenho um primo que ele gosta muito de nadar.
(d) A menina que eu viajei com ela no est aqui.
Todavia, possvel identificar duas tendncias gerais de definio do fenmeno: uma
de carter discursivo, para a qual o pronome lembrete exclusivamente o elemento
pronominal presente em estruturas como a dos exemplos (1a) e (1b). A segunda,
marcadamente gerativista, entende que o pronome lembrete aquele presente em (1c) e (1d)
e, segundo alguns autores, tambm em (1a) e (1b).
1.1. Pontes (1987) e uma anlise discursiva
Como expoente brasileira da primeira tendncia, destaca-se Pontes (1987). Na viso
da autora, o pronome lembrete (ou pronome-cpia), seria o pronome correferente ao
tpico2, como mostrado no exemplo (2).
Exemplo 2 (a) Essa competncia, ela de natureza mental.
(b) Esse cestinho aqui, onde que tem plstico pra ele?
(c) Eu, eu estudo lingustica.
2 Na concepo de Pontes, o tpico constitui uma delimitao semntica para a predicao e est localizada
sempre esquerda, em posio de anterioridade ao comentrio.
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Considerando a variedade de constituintes passveis de aparecer em tpico e as
diversas posies sintticas em que a retomada pode ser realizada, Pontes (1987) afirma que o
pronome lembrete pode:
1) ocorrer tanto em oraes principais como em oraes encaixadas exemplos (2a) e (2b), respectivamente;
2) retomar tanto SNs de ncleo nominal quanto SNs que tm como ncleo um pronome pessoal exemplos (2a) e (2c) respectivamente;
3) desempenhar, na orao em que se insere, tanto a funo sinttica de sujeito quanto outras funes sintticas exemplos (2a) e (2b), respectivamente , ainda que a maior parte das ocorrncias de pronome lembrete se d em posio sujeito,
segundo a autora.
Segundo Pontes, a ocorrncia do pronome lembrete pode ser motivada por diversos
fatores. Um deles seria de natureza gramatical, relacionado ao processo de enfraquecimento
da flexo verbal em PB: em casos em que h uma grande distncia entre o tpico-sujeito e o verbo a que ele est ligado (PONTES, 1987, p. 26), a colocao do pronome lembrete constitui um recurso para explicitar o sujeito de um determinado verbo. Assim, o pronome
lembrete ela, no exemplo (3), deixa claro qual o sujeito a Maria do verbo dormir.
Exemplo 3 A Maria, sempre que o Carlos no est l no stio, ela tem dificuldade pra dormir.
Outro motivo para o uso do pronome lembrete seria o de marcar, no plano textual, que
o SN em posio inicial de frase deve ser interpretado como tpico discursivo e que,
portanto, a sentena3 tem a estrutura tpico-comentrio. Segundo esse raciocnio, o pronome
ela, presente no exemplo (2a), pode ser visto como uma marca de que o SN essa competncia o tpico de ela de natureza mental. De fato, nesse exemplo, a ausncia do pronome poderia fazer com que o SN essa competncia fosse interpretado como sujeito de de natureza mental e que a estrutura da sentena fosse percebida como sendo de sujeito-predicado.
Pontes (1987) observa ainda que frequentemente a separao entre tpico e
comentrio feita, no nvel prosdico, por uma pausa silenciosa. Para a autora, essa questo
poderia ser melhor investigada por meio de uma anlise sistemtica da entonao de sentenas
com pronome lembrete. No entanto, devido falta de corpora de fala espontnea de Portugus
Brasileiro, cuja escassez sentida ainda hoje, estudos como esse seriam praticamente
inviveis at pouco tempo atrs.
1.2. O pronome lembrete em abordagens gerativistas
J no mbito gerativista, o pronome lembrete (ou pronome resumptivo) comumente
entendido como o pronome usado na formao das oraes relativas resumptivas como (1c) e
(1d).
Para muitos autores a exemplo de Tarallo (1983) , nesse tipo de relativizao, analisa-se o que como um complementizador do mesmo tipo que o das subordinadas integrantes, o qual retomado posteriormente pelo pronome lexical. Por outro lado, estruturas
3 Na viso da autora, a estrutura formada por tpico e comentrio uma sentena.
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do tipo (1a) seriam casos de deslocamento esquerda com retomada pronominal do elemento
deslocado.
A tambm gerativista Kato (1993) enxerga o fenmeno de forma diferente. Nas
relativas resumptivas como (1c), o que seria um pronome relativo. O pronome resumptivo, por sua vez, retoma um elemento ti em deslocamento esquerda, o qual no realizado
foneticamente. Sendo assim, toda relativa resumptiva, cuja estrutura est representada em
(4a), teria, no seu interior, uma orao topicalizada do tipo (4b).
Exemplo 4 (a) A moai [CP quei [LD ti [IP eu falei com elai]
(b) [LD Essa moai, [IP eu falei com elai]
Ressalta-se aqui que, se, na viso de Kato (1993), o pronome lembrete continua sendo
exclusivamente presente em oraes do tipo (1c) e no do tipo (1a) , a autora pressupe uma relao formal entre os dois tipos de estrutura.
No panorama gerativista, destaca-se ainda a viso de Galves (2001), para quem o
pronome lembrete definido como uma tendncia muito marcada em PB em usar o pronome de 3
a pessoa logo depois do SN lexical sujeito (GALVES, 2001, p. 33). Tomando como base
essa definio, so considerados pronome lembrete tanto o elemento presente nas relativas
resumptivas como (1c) quanto nas oraes topicalizadas de tipo (1a).
O trabalho de Galves interessante uma vez que pretende mostrar, pela proposio de
uma nova regra de predicao, porque o pronome lembrete de frases como (1a) no ocorre em
PE, mas sim em PB. Sua argumentao baseia-se, em parte, na premissa de que a estratgia
do pronome lembrete uma tendncia majoritria no PB. A autora, porm, no fornece dados
que comprovem essa premissa.
2. Metodologia
A seo de metodologia divide-se em trs partes. A primeira (seo 2.1) destina-se a
explicar, de forma resumida, os conceitos fundamentais da Teoria da Lngua em Ato
(CRESTI, 2000; MONEGLIA, 2005; MONEGLIA, 2011; RASO, 2012). Em seguida, feita
uma comparao entre a TLA e a viso de Pontes (1987), evidenciando semelhanas e
diferenas entre as mesmas (seo 2.1.1). Mais adiante, mostrado como a TLA pode ser til
na compreenso do problema do pronome lembrete (seo 2.1.2). Posteriormente, so
descritos os corpora C-ORAL-BRASIL e C-ORAL-ROM de PE, nos quais a pesquisa foi
realizada (sees 2.2 e 2.3). Por fim, so detalhados os procedimentos metodolgicos
empreendidos nesse trabalho (seo 2.4).
2.1. A Teoria da Lngua em Ato
A Teoria da Lngua em Ato uma teoria corpus driven para a anlise da fala
espontnea com ampla base experimental4. A TLA fundamentada na concepo de
4 Uma descrio dos corpora C-ORAL-ROM e C-ORAL-BRASIL, bem como uma grande quantidade de
trabalhos desenvolvidos segundo a Teoria da Lngua em Ato podem ser encontradas no site dos grupos
LABLITA e C-ORAL-BRASIL. Disponvel em: ; .
Acessado em: 7 de agosto de 2012.
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enunciado como a unidade de referncia da fala, definido como a menor unidade interpretvel
pragmaticamente. Dessa forma, distancia-se de teorias que analisam a fala a partir da noo
de frase, na qual deve sempre existir uma predicao5. Assim, segundo a TLA, mesmo
construes formadas exclusivamente por interjeies ou advrbios podem constituir
enunciados, desde que sejam interpretveis pragmaticamente.
Traando um paralelo com a Teoria dos Atos de Fala, de Austin (1962), a TLA entende
que o enunciado a contraparte lingustica de um ato de fala, sendo responsvel pelo preenchimento da locuo por uma ilocuo. A diviso do continuum da fala em enunciados
feita com base em quebras prosdicas (variaes prosdicas perceptveis a qualquer falante
competente de uma lngua): quebras de perfil terminal (CRYSTAL, 1975) assinalam
fronteiras de enunciado, enquanto quebras de perfil no terminal estabelecem as unidades
internas do enunciado (as unidades tonais).
Chamamos a ateno para o fato de que nem sempre as quebras prosdicas
correspondem a pausas silenciosas. Observe-se o exemplo (5), composto de trs enunciados.
Exemplo 5 (bfamdl02)
*BAL: [64] t saindo de uma garrafinha que tem um bico muito pequeno // [65] ento
daquela coisa pequeninim nu vai encher rpido // [66] agora imagina c pega um balde
e joga dentro //
t saindo de uma garrafinha tem um bico muito pequeno // ento daquela coisa pequeninim nu vai encher rpido // pausa agora imagina c pega um balde e joga dentro //
50
300
100
150
200
250
Pit
ch (
Hz)
Time (s)
0 5.882
Ex_5_-_bfamdl02_64-66__ch2
Time (s)
0 5.882-0.4198
0.3911
0
Ex_5_-_bfamdl02_64-66__ch2
Figura 1 Curva de F0 e forma de onda do exemplo (5), com segmentao em enunciados
Ouvindo o primeiro e o segundo enunciados em isolamento ("t saindo de uma
garrafinha que tem um bico muito pequeno" e "ento daquela coisa pequeninim nu vai encher
rpido"), no h dvidas de que os mesmos possuem autonomia prosdica e que, portanto, so
separados por uma quebra prosdica terminal. No entanto, ouvindo a sequncia completa, fica
claro que no h pausa silenciosa entre eles. Existe pausa somente entre o segundo e o terceiro
enunciados ("agora imagina c pega um balde e joga dentro"). Isso pode ser observado na
Figura 1, em que as linhas pontilhadas indicam os limites entre os enunciados.
5 Para uma discusso aprofundada dos conceitos de enunciado e frase, veja-se CRESTI (2005).
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Em suma, todas as pausas silenciosas correspondem a uma quebra prosdica, mas nem
todas as quebras so realizadas por meio de pausa.
A relao entre o domnio da ao humana (os atos) e o domnio lingustico (os
enunciados), denominada critrio locutivo, constitui na maior parte dos casos uma relao
biunvoca6 e deve-se principalmente prosdia: segundo a TLA, existe uma correspondncia
entre padres prosdicos de realizao de enunciados e diferentes tipos de ilocuo7. Assim,
um mesmo contedo locutivo, como Joo foi pro Rio, pode realizar ilocues diferentes
dependendo da entonao com que for proferido. Essa propriedade pode ser observada nos
exemplos (6a) e (6b), que veiculam, respectivamente, uma ordem e uma pergunta total.
Exemplo 68
(a) Joo foi pro Rio (ordem) (b) Joo foi pro Rio (pergunta total)
Essa relao tambm se manifesta em grau elevado no nvel interno do enunciado,
entre as unidades tonais que o constituem e as funes informacionais que podem assumir.
Por esse motivo, as unidades tonais so tambm, em larga escala, unidades informacionais9.
Dentre elas, a unidade informacional de Comentrio tem como funo a realizao da
ilocuo, sendo a nica unidade necessria e suficiente para tal fim. Se um enunciado
composto exclusivamente pelo Comentrio, tem-se um enunciado simples. Os enunciados
complexos, por sua vez, so constitudos da combinao da unidade de Comentrio com uma
ou mais unidades informacionais de outros tipos.
Na TLA, as unidades informacionais so definidas com base em trs critrios:
a) critrio funcional: a funo desempenhada pela unidade na articulao da informao;
b) critrio entonacional: o perfil entonacional, que carrega a funo e pode ser de prefixo, sufixo, raiz ou outros ('t HART; COLLIER; COHEN, 1990);
c) critrio distribucional: a posio da unidade em relao a unidade de comentrio. Assim, a unidade de Comentrio definida do ponto de vista funcional como aquela
responsvel pela realizao da ilocuo. Entonacionalmente, deve ser executada segundo
formas prosdicas especficas que, associadas a fatores pragmticos, sinalizam a ilocuo a
ser realizada10
. Do ponto de vista distribucional, uma unidade necessria e suficiente para a
realizao do enunciado, podendo localizar-se em qualquer posio do mesmo.
Alm da unidade de Comentrio, Cresti descreve uma srie de outras unidades
informacionais que podem (a) participar da construo textual do enunciado (unidades
textuais) ou (b) regular o funcionamento da interao, dirigindo-se diretamente ao interlocutor
(auxlios dialgicos). Dentre as unidades textuais, destaca-se a unidade informacional de
Tpico.
6 A autora assinala a existncia de alguns padres escanso, comentrios mltiplos e estrofe que configuram
excees ao critrio locutivo. Para referncias a esses casos, vide CRESTI (2000) e RASO (2012). 7 Para um estudo de base experimental mostrando os diversos tipos de ilocuo do italiano e seus respectivos
perfis entonacionais, vide CRESTI (2000, p. 92-100). 8 Exemplos produzidos em laboratrio.
9 Uma descrio mais detalhada das unidades informacionais pode ser encontrada em CRESTI (2000) ou em
numerosos artigos no site do LABLITA. Disponvel em: . Acessado em: 17 de junho
de 2012. 10
Para uma descrio detalhada de 32 formas entonacionais de Comentrio do Italiano, veja-se FIRENZUOLI
(2003).
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Do ponto de vista funcional, o Tpico a unidade informacional que delimita o campo
de aplicao da fora ilocucionria. Quanto sua distribuio, o Tpico deve sempre
localizar-se esquerda da unidade de Comentrio. Essas duas caractersticas podem ser
observadas no exemplo abaixo, extrado do corpus em construo C-ORAL-BRASIL. Esse
enunciado exibe uma unidade informacional de Tpico seguida de uma unidade de
Comentrio.
Exemplo 7 (bfamdl02)11
*BAL: [13] as pilhas /=TOP= eu coloquei aqui//=COM=12
Do ponto de vista entonacional, o Tpico tem perfil de prefixo e pode apresentar, em
Italiano, trs diferentes formas entonacionais (FIRENZUOLI; SIGNORINI, 2002). Em PB e
PE, existe ainda uma quarta forma entonacional (RASO; MORAIS; MITTMANN; ROCHA,
em preparao; ROCHA, 2012) alm daquelas presentes em Italiano. Cada forma
entonacional contm uma poro necessria, chamada ncleo, associada a um padres de
movimentos de F0, durao (das slabas e das vogais), intensidade e alinhamento (entre
movimentos de F0 e slabas). o ncleo da forma entonacional que atribui a funo unidade
informacional. O ncleo pode ser precedido de uma poro opcional, sem valor
informacional, chamada preparao. Alm disso, algumas formas entonacionais possuem no
somente um ncleo, mas dois semincleos que, em conjunto, atribuem a funo unidade
informacional. Nesses casos, pode haver tambm uma poro opcional de ligao entre os
semincleos.
As quatro formas entonacionais de Tpico encontradas so:
a) Tpico de tipo 1: ncleo com movimento de F0 ascendente-descendente, o qual pode ser precedido por uma poro de preparao. Possui alongamento que inicia
na ltima tnica e se estende pelas eventuais ps-tnicas. No caso do Tpico de
tipo 1 terminar com uma oxtona, a tnica alongada para conter tanto o
movimento ascendente quanto o movimento descendente. A Figura 2 exibe um
Tpico de tipo 1, com ncleo na palavra finale. A parte em destaque corresponde ao seu ncleo.
Time (s)
0.6437 2.229-0.5329
0.5192
0
fig2_-_top1
di guar ni zio ne fi na le
i ua i io e i a e
120
380
200
300
Pit
ch (
Hz)
Time (s)
0.6437 2.229
fig2_-_top1
11
A sigla bfamdl02 indica, segundo a nomenclatura do C-ORAL-BRASIL, o texto do qual o exemplo foi retirado. A primeira vogal refere-se ao corpus (b usado para o corpus de PB e p para o C-ORAL-ROM de PE). As trs letras que se seguem mostram se o domnio do texto familiar/privado ou pblico (fam para familiar/privado e pub para pblico). As duas letras seguintes marcam a tipologia de interao (mn para monlogos, dl para dilogos e cv para conversao). Os dois nmeros ao final da sigla diferenciam cada texto dentre os demais pertencentes mesma tipologia (no exemplo, o 02 diferencia esse texto dos demais dilogos familiares do corpus de PB). 12
Esse exemplo utiliza os critrios de transcrio adotados pelo C-ORAL-BRASIL. A sigla de trs letras
precedida de "*" identifica o falante. Os smbolos / e // indicam, respectivamente, uma quebra prosdica no-teminal e uma quebra prosdica terminal. A etiqueta colocada logo aps as quebras prosdicas (no caso,
=TOP= e =COM=) indica que as unidades tonais que as antecedem so unidades de Tpico e Comentrio,
respectivamente. O nmero entre colchetes colocado no incio do exemplo o nmero do enunciado no texto.
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Figura 2: Curva de F0 e forma de onda de Tpico de tipo 1, com segmentao em slabas e vogais
di guarnizione finale / ci potrebbero essere anche le mele //
b) Tpico de tipo 2: ncleo com movimento de F0 ascendente. Apresenta alongamento que se inicia na ltima tnica e prossegue nas eventuais ps-tnicas.
Pode conter uma poro de preparao anterior ao ncleo. A Figura 3 mostra um
Tpico de tipo 2 com ncleo em qua.
Time (s)
0.766 1.601-0.319
0.343
0
fig3_-_top2
ques to qua
ue o ua
120
380
200
300
Pit
ch (
Hz)
Time (s)
0.766 1.601
fig3_-_top2
Figura 3: Curva de F0 e forma de onda de Tpico de tipo 2, com segmentao em slabas e vogais
questo qua / / &he / la testata [/2] la [/1] la schermata che vedi /
al momento in cui apri il programma / e / e niente +13
c) Tpico de tipo 3: possui dois semincleos e corresponde a 21% dos casos (FIRENZUOLI; SIGNORINI, 2002). O primeiro semincleo apresenta um
movimento descendente de F0 (come lei, na Figura 4) e o segundo semincleo contm um movimento ascendente de F0 e possui alongamento (-ra, ltima slaba da palavra sera, na Figura 4). Em Italiano, o segundo semincleo comea na ltima slaba do Tpico, seja ela tnica ou ps-tnica. Em PB e PE, comea na
ltima tnica do Tpico.
Time (s)
0.55 1.951-0.8316
0.8995
0
fig4_-_top3
co me lei va via la se ra
o e ei a ia a e a
70
370
200
300
Pit
ch (
Hz)
Time (s)
0.55 1.951
fig4_-_top3
Figura 4: Curva de F0 e forma de onda de Tpico de tipo 3, com segmentao em slabas e vogais
come lei va via la sera / nell' ascensore 'un c' pi luce //
Tpico de tipo 4: constitudo de dois semincleos. O primeiro semincleo apresenta
um ataque com valores extra-altos de F0 seguidos de uma queda brusca (de certa, na Figura 5). O segundo semincleo marcado pelo alongamento da ltima tnica (for-, primeira slaba de forma, na Figura 5) e pode conter um movimento ascendente, nivelado ou descendente de F0.
13
Nos critrios de transcrio adotados pelo C-ORAL-BRASIL, o smbolo [/n] indica uma retrao, ou seja, um
certo nmero de palavras (correspondente a n) que posteriormente reformulado pelo falante. J o sinal +
mostra que o falante abandona o enunciado.
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Time (s)
0.04435 1.09-0.2168
0.2099
0
fig5_-_top4
d(e) cer ta for ma
e a o a
100
500
200
300
400
Pit
ch (
Hz)
Time (s)
0.04435 1.09
fig5_-_top4
Figura 5: Curva de F0 e forma de onda de Tpico de tipo 4 , com segmentao em slabas e vogais
de certa forma / a bancada evanglica / eles to / muito contra / essa coisa / n //
Quanto morfossintaxe, o Tpico pode ser constitudo de expresses de variados
tipos: SNs, SPs, SVs ou mesmo SAdvs (FIRENZUOLI; SIGNORINI, 2002; ALVES DE
DEUS, 2008; MITTMANN, 2012).
2.1.1. A Teoria da Lngua em Ato e a abordagem de Pontes
Como ser observado, existem importantes pontos de contato entre as intuies de
Pontes e a TLA. Pode-se dizer que as divergncias existentes entre as mesmas devem-se, em
boa medida, poca em que foram formuladas e, consequentemente, aos instrumentos
disponveis. Naturalmente, em 1980, Pontes no tinha sua disposio corpora de fala
espontnea. Os seus exemplos eram coletados de modo assistemtico e analisados com base
na memria. Na poca, a prpria lingustica de corpus no era to avanada quanto hoje em
dia, e Pontes no distinguia o conceito de quebra prosdica do de pausa14
. Finalmente, sua
viso do comentrio no inclua a funo ilocucionria e, dessa forma, Pontes falava de
funo predicativa, dentro de um paradigma clssico dos estudos sintticos. Apesar de tudo
isso, nota-se em Pontes e em Cresti a mesma intuio de fundo, que foi desenvolvida pela
segunda com instrumentos atuais e dentro de um quadro terico mais completo e apropriado
para a fala espontnea.
Para compreender as semelhanas e diferenas entre as propostas, importante
lembrar que, na viso de Pontes: (a) toda sentena realiza uma predicao; (b) a predicao
realizada em uma parte da sentena chamada de comentrio, a qual deve possuir uma
estrutura oracional; (c) o tpico de uma sentena estabelece uma referncia cognitiva para a
predicao realizada no comentrio; (d) parece no existir uma marcao prosdica
sistemtica que separe, no interior da sentena, o tpico do comentrio15
, sendo o pronome
lembrete um recurso usado para sinalizar, no nvel textual, essa diviso.
Em contrapartida, a TLA entende que: (a) todo enunciado realiza uma ilocuo; (b) a
ilocuo realiada em uma parte do enunciado chamada de Comentrio, que no
necessariamente possui estrutura oracional; (c) o Comentrio pode ser precedido por uma
unidade de Tpico, com a funo de estabelecer uma referncia cognitiva para a ilocuo; (d)
h sempre uma quebra prosdica entre Tpico e Comentrio; (e) o que faz que um
Comentrio realize uma determinada ilocuo no uma caracterstica sinttica ou
morfolgica, mas sim a sua entoao segundo formas prosdicas que, convencionalmente,
veiculam a fora ilocucionria.
14
Ainda assim, notvel que a autora tenha percebido a existncia de uma variao prosdica presente em
muitos casos. 15
Mas, como vimos, Pontes deixa aberta a possibilidade de uma marcao prosdica, afirmando que nem sempre
h pausa, mas que estudos prosdicos mais aprofundados seriam desejveis.
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Naturalmente, a semelhana para a qual queremos chamar a ateno no a
coincidncia na nomenclatura utilizada por Pontes e pela TLA. O que gostaramos de colocar
em evidncia a semelhana no nvel estrutural entre as unidades mnimas de anlise da fala
de ambas as teorias. Tanto a sentena, na viso de Pontes, como o enunciado, na viso da TLA
podem apresentar: i. uma poro nuclear com uma funo especfica (realizar uma predicao
ou uma ilocuo); ii. uma poro que funciona como referncia cognitiva para a poro
nuclear e que realizada anteriormente mesma. Na viso de Pontes, os limites entre tpico e
comentrio podem ser marcados no nvel prosdico por uma pausa, mas essa marcao no
sistemtica. A TLA, por outro lado, considera que o fluxo do discurso segmentado no por
pausas, mas sim por quebras prosdicas. Dessa forma, mesmo nos casos em que no existe
pausa entre as unidades informacionais de Tpico e de Comentrio, a segmentao feita por
uma quebra prosdica.
2.1.2. A Teoria da Lngua em Ato e o pronome lembrete
Ainda que no trate diretamente do problema dos pronomes lembrete, a TLA oferece
um arcabouo terico que permite levar adiante, com instrumentos novos, a proposta de
Pontes, promovendo uma anlise inovadora da questo. Utilizando a TLA e os corpora dos
projetos C-ORAL-BRASIL e C-ORAL-ROM, e tomando a definio de pronome lembrete de
Pontes, elaboramos uma proposta para explicar o fenmeno. Em seguida, realizamos algumas
sondagens nos corpora para verific-la. A hiptese, j explicitada na introduo desse
trabalho, a de que a retomada por pronome lembrete ocorra somente em contexto Tpico-
Comentrio, com o elemento retomado em Tpico e o elemento que o retoma em Comentrio.
Essa hiptese vai alm daquela de Pontes, pois pressupe que, em todos os enunciados com
retomada por pronome lembrete: (a) o elemento retomado sistematicamente separado do
elemento que o retoma por uma quebra prosdica; (b) o elemento retomado encontra-se em
uma unidade tonal que sempre realizada de acordo com uma das formas entonacionais de
Tpico; e (c) que o elemento retomado deve servir, no plano cognitivo, como mbito de
aplicao da ilocuo realizada no Comentrio.
O exame prvio de uma amostra do subcorpus16
no s mostrou que essa hiptese
plausvel, mas tambm abriu novas perspectivas de investigao. Nessa primeira anlise, alm
de retomadas por pronome lembrete do tipo mostrado nos exemplos (1a) e (1b) no contexto
de Tpico e Comentrio, foi tambm encontrada outra forma de retomada no pronominal que
sofre a mesma restrio prosdica e informacional: a retomada exemplificada em (8), a seguir,
em que o elemento retomado no por meio de um pronome, mas sim pela sua repetio.
Exemplo 8 (bfamdl05) *CES: [112] aqui o' /=CNT= aquela ali /=TOP= aquea ali que a Joaquim Nabuco
//=COM=17
Naturalmente, seria possvel argumentar que a retomada do SN aquela ali pela sua repetio trate-se, na realidade, de uma mera repetio do contedo locutivo do enunciado,
devida a alguma incerteza. Contudo, analisando prosodicamente a unidade informacional em
16
Uma descrio detalhada do subcorpus utilizado nessa pesquisa pode ser encontrada em RASO e
MITTMANN (2012). 17
O Conativo (CNT) uma unidade de auxlio dialgico com a funo de pressionar o interlocutor para que
cumpra uma ao ou desista dela (CRESTI, 2000).
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questo, conclui-se que o primeiro aquela ali entoado como um Tpico de tipo 2: como pode ser visto na Figura 6, a poro final da unidade possui um movimento ascendente de F0
iniciando na ltima tnica, em destaque. Alm disso, a Tabela 1 mostra que a durao da
vogal da ltima slaba da unidade a vogal alta anterior [i] consideravelmente superior durao das demais. Apesar das medidas de durao no terem sido normalizadas para esse
trabalho, essa medida pode ser tomada como um forte indcio de alongamento, considerando
sobretudo que a vogal alta anterior possui uma durao intrnseca menor que as outras vogais
presentes no Tpico (HAMEL, 1983).
Figura 6 Espectrograma e curva de F0 do exemplo (8). Curva de F0 em vermelho superposta a espectrograma de banda estreita. Painel final apresenta forma
de onda em verde e intensidade em azul
Slaba Durao da slaba (s) Durao da slaba (s)
por n de fones Durao da vogal (s)
a .072 .072 .072
que .196 .098 .076
la a .121 .060 .099
li .192 .096 .162
Tabela 1 Durao das slabas do Tpico do exemplo (8)
Sendo assim, esse constitui um motivo expressivo para considerar que o caso em
exame no seja uma mera disfluncia, mas sim uma retomada funcionalmente anloga
retomada por pronome lembrete.
Ainda com base nos pressupostos da TLA, possvel compreender outra motivao
para o uso do pronome lembrete a qual, inclusive, permite entender por que esse tipo de retomada no ocorre em lnguas como o PE. Para compreender essa motivao, cabe lembrar
que: (a) segundo a TLA, o escopo das regncias sintticas a unidade informacional e (b)
sendo assim, um constituinte localizado em uma unidade informacional no pode nunca servir
como argumento de um ncleo (verbal ou no) que se localiza em outra unidade
informacional. Dessa forma, o pronome lembrete seria uma forma de preencher o argumento
de sujeito da sentena localizada no Comentrio, o qual, caso contrrio, no seria preenchido.
De fato, em PE e Italiano, que so lnguas de sujeito no obrigatrio, a tendncia de se
usar o pronome lembrete parece muito rara. J no PB, que parece estar deixando de ser uma
lngua de sujeito no obrigatrio com um processo de reduo morfolgica no seu sistema
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verbal, existiria uma motivao cada vez maior ao uso do pronome lembrete (RAMOS, 1997;
VITRAL, 1996; VITRAL; RAMOS, 2006).
Por fim, a anlise do pronome lembrete pela TLA aponta solues para outra questo.
Em primeiro lugar, considerem-se os exemplos (9a) a (9d).
Exemplo 918
(a) A Maria, ela gosta muito de futebol.
(b) O Jairo, eu estou com o livro dele.
(c) Eu tenho um primo que ele gosta muito de nadar.
(d) A menina que eu viajei com ela no est aqui.
Como foi observado, certos autores da tradio gerativista apontam alguma relao
entre estruturas de tipo (9a) e (9b) e estruturas de tipo (9c) e (9d). A posio de Galves, nesse
sentido, significativa pois inclui no rol dos pronomes lembrete ambos os tipos de estrutura.
A hiptese levantada nesse trabalho a de que estruturas como (9c) e (9d) podem ocorrer
dentro de uma mesma unidade informacional, constituindo um fenmeno diferente da
retomada por pronome lembrete.
2.2. O corpus C-ORAL-BRASIL
O corpus C-ORAL-BRASIL (RASO; MELLO, 2012) tem como objetivo representar a
variao diafsica da fala espontnea do Portugus Brasileiro19, com um enfoque diatpico na
regio metropolitana de Belo Horizonte. Assim, no repertrio de gravaes presentes no
corpus encontra-se um nmero extremamente reduzido de situaes de entrevistas e bate-
papo, mas uma ampla variedade de contextos comunicacionais de grande acionalidade. O C-
ORAL-BRASIL apresenta a mesma arquitetura e os mesmos critrios de segmentao do C-
ORAL-ROM corpus multilngue de Italiano, Portugus Europeu, Espanhol e Francs , garantindo assim a comparabilidade total com o mesmo. Seus textos so segmentados em
enunciados segundo preceitos da Teoria da Lngua em Ato, possibilitando uma anlise da
estrutura informacional do Portugus Brasileiro e de suas ilocues. Alm disso, o corpus foi
transcrito segundo critrios no ortogrficos, os quais permitem o estudo de uma srie de
fenmenos lingusticos em curso no Portugus Brasileiro20
.
A arquitetura do corpus brasileiro prev uma metade formal e uma metade informal. A
parte informal, j publicada (RASO; MELLO, 2012) contm 139 textos de aproximadamente
18
Esse conjunto de exemplos, agora apresentados como exemplo (9), so o mesmo conjunto anteriormente
apresentado como exemplo (1). 19
A ttulo de exemplo, ressaltamos as gravaes de uma partida de futebol entre quatro pessoas (em que os
informantes esto efetivamente participando do jogo), uma aula de direo, uma situao em que quatro drag
queens se maquiam antes de uma performance, uma interao entre um engenheiro e um pedreiro executando um
servio, empregadas domsticas arrumando a cozinha aps o almoo, uma interao entre um vendedor de loja
de calados e uma cliente, duas mulheres fazendo compras em um supermercado, um garom preparando pizzas
e servindo-as em uma festa. 20
A transcrio ortogrfica de um corpus oral impede, por exemplo, em Portugus Brasileiro, o estudo de
fenmenos como a reduo de formas de diminutivo (sozinho/a > sozim) e demonstrativos (aquela > aquea;
aqueles > aques; aquelas > aqueas. etc), a lexicalizao de formas aferticas (acabou > cabou; aguentar >
guentar) e tantos outros fenmenos. Os critrios adotados pelo C-ORAL-BRASIL foram desenvolvidos
justamente para preservar esses e outros fenmenos. Para uma viso mais aprofundada do problema, vide
MITTMANN (2012) e RASO e MELLO (2010).
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1.500 palavras, totalizando 208.130 palavras distribudas em 21h 8m de gravao. Desse
nterim, 105 textos so do domnio familiar/privado (159.364 palavras) e 34 so do domnio
pblico (48.766 palavras). Cada um desses domnios tem aproximadamente um tero de
gravaes de carter monolgico, um tero de carter dialgico e um tero de carter
conversacional. A metade formal est em construo e, ao final do projeto, o corpus C-
ORAL-BRASIL contar com um total de 400.000 palavras.
Apesar do C-ORAL-BRASIL no ter como objetivo representar a variedade diastrtica
da lngua, uma anlise criteriosa mostra que o corpus extremamente balanceado do ponto de
vista sociolingustico (RASO, 2012). Com relao distribuio entre gneros, por exemplo,
o corpus possui 49,64% de informantes do sexo masculino e 50,36% do sexo feminino. De
forma semelhante, 27,13% do total de palavras presentes no corpus foram proferidas por
indivduos entre 18 e 25 anos de idade, 30,28% por falantes entre 26 e 40 anos e 31,01% por
indivduos entre 40 e 60 anos. Com relao ao nvel de escolarizao, h uma predominncia
de falantes que cursaram o nvel superior. Assim, pode-se dizer que o C-ORAL-BRASIL um corpus que representa a fala culta da regio metropolitana de Belo Horizonte.
O C-ORAL-BRASIL conta no s com as gravaes e suas respectivas transcries,
mas tambm com anotaes de cunho morfossinttico e etiquetagem informacional segundo
os pressupostos da TLA. Alm disso, o corpus possui arquivos de alinhamento texto-udio
utilizveis no programa WinPitch (MARTIN, 2004). Esses arquivos permitem acessar de
forma sincrnica qualquer trecho de uma gravao, sua respectiva transcrio e vrios
parmetros acsticos a ele associados (frequncia, intensidade, durao, movimentos de F0,
espectrograma, oscilograma e outros). Arquivos de alinhamento so, segundo Moneglia
(2011), um recurso de importncia sumria para uma anlise da fala, sem os quais o
pesquisador tende a analisar a diamesia oral com os parmetros da diamesia escrita.
2.3. O corpus C-ORAL-ROM de PE
O corpus C-ORAL-ROM, em que se baseia o C-ORAL-BRASIL, trata-se de um
convnio cujo produto foi um corpus multilngue de quatro das principais lnguas romnicas:
Italiano, Portugus Europeu, Francs e Espanhol. Foi desenvolvido por uma parceria entre
quatro universidades europeias, coordenado pela Universit degli studi di Firenze21.
O corpus da variedade de Portugus Europeu, assim como a das demais lnguas do
projeto, foi construdo com a mesma arquitetura do C-ORAL-BRASIL, sendo redundante
uma descrio detalhada de sua estrutura. Ressalta-se, todavia, que a diatopia predominante
no corpus de Portugus Europeu a lisboeta.
2.4. Procedimentos metodolgicos
Para a pesquisa, foram utilizados o subcorpus extrado do corpus C-ORAL-BRASIL e
um subcorpus extrado do corpus C-ORAL-ROM de Portugus Europeu compostos, cada um,
por 20 textos, sendo eles: 2 monlogos pblicos (ppubmn02 e ppubmn03), 2 dilogos
pblicos (ppubdl08 e ppubdl10), 2 conversaes pblicas (ppubcv04 e pfamcv05), 5
monlogos privados (pfammn03, pfammn10, pfammn12, pfammn14, e pfammn22), 5
21
Para maiores informaes sobre o C-ORAL-ROM, vide MONEGLIA (2005).
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dilogos privados (pfamdl06, pfamdl07, pfamdl14, pfamdl23 e pfamdl24), 4 conversaes
privadas (pfamcv05, pfamcv07, pfamcv08 e pfamcv09) 22.
Sendo assim, buscou-se por:
a) retomadas por pronome lembrete nos subcorpora de PB e de PE; b) retomadas por repetio em enunciados com unidades informacionais de Tpico,
no subcorpus de PB;
c) contextos favorveis retomada por pronome lembrete; d) retomadas pronominais em oraes resumptivas no subcorpus de PB; e) restries prosdicas operantes na realizao dos diversos tipos de retomadas
identificadas anteriormente.
A identificao de retomadas por pronome lembrete foi realizada de forma
semiautomtica, valendo-se da funo localizar do editor de textos Writer do pacote BrOffice. Assim, foram procuradas todas as formas de pronomes pessoais previstas pelos
critrios de transcrio do C-ORAL-BRASIL (eu, tu, ele, e', ela, ea, ns, vs, eles, es, elas,
eas) e, em seguida, foram identificadas aquelas em contexto de retomada por pronome
lembrete em posio de sujeito.
A identificao de casos de retomada de um SN pela sua repetio em enunciados com
Tpicos foi feita de forma manual. Visto que o subcorpus de PE no possui etiquetagem
informacional, esse procedimento metodolgico foi aplicado somente ao PB.
A identificao dos contextos favorveis retomada por pronome lembrete foi feita
manualmente, com o objetivo de verificar a frequncia com a qual e estratgia efetivamente
usada em PB. Foram considerados contextos favorveis ao emprego da retomada lembrete os
enunciados que apresentam (a) um SN na unidade informacional de Tpico (b) uma orao na
unidade informacional de Comentrio e (c) uma relao anafrica de natureza semntica entre
algum constituinte da orao em Comentrio e o SN em Tpico. Veja-se o exemplo (9).
Exemplo 10 (bfamdl02) *BAL: [36] a Estefnia /=TOP= apanhou //=COM=
Time (s)
0.02019 1.568-0.2601
0.2299
0
ex10_-_bfamdl02_36_
a Estefnia /=TOP= apanhou //=COM=
90
360
200
300
Pit
ch (
Hz)
Time (s)
0.02019 1.568
ex10_-_bfamdl02_36_
Figura 7 Curva de F0 e forma de onda do exemplo (10), com segmentao em unidades informacionais
Assim como a TLA entende que no existem relaes sintticas entre constituintes de
unidades informacionais diferentes, o SN a Estefnia, em Tpico, e o verbo apanhou, em Comentrio, no podem ser vistos como constituintes de uma mesma orao. Uma anlise
tradicional da orao apanhou, em Comentrio, como aquela proposta por Cunha (1971), classificaria o seu sujeito como um sujeito oculto determinado, ou seja, aquele que no est materialmente expresso na orao, mas pode ser identificado. No caso em questo, existiria
22
Na elaborao do subcorpus de PE, encontramos dificuldades para atender aos parmetros desejados. Em
primeiro lugar, o C-ORAL-ROM Portugus apresenta uma variao de situaes de fala significantemente
restrita em relao ao C-ORAL-BRASIL, sendo impossvel conseguir uma verdadeira variao diafsica. Em
segundo lugar, a qualidade acstica do corpus de PE no comparvel quela do C-ORAL-BRASIL.
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uma relao semntica de correferncia entre o sujeito do verbo apanhar, em Comentrio, e o SN a Estefnia, em Tpico. Mesmo em uma anlise menos tradicional, que classifique a orao "apanhou" de formas alternativas, o fundamental perceber a existncia de uma
relao semntica de correferncia entre o SN a Estefnia, em Tpico, e algum elemento da orao em Comentrio, os quais no podem ser analisados como sendo constituintes de uma
mesma orao23.
3. Apresentao e anlise de dados
No subcorpus de Portugus Brasileiro, foram encontradas 21 ocorrncias de retomadas
com pronome lembrete, 9 ocorrncias de retomada por repetio do elemento retomado e 2
ocorrncias de retomada em oraes relativas.
A Tabela 2, a seguir, mostra os tipos de retomada encontrados e o nmero de
ocorrncias para cada tipo. Chamamos a ateno para o fato de que: (a) retomadas de tipo A e
C so aquelas classificadas por Pontes (1987) como casos de pronome lembrete; (b)
retomadas de tipo F so aquelas classificadas por Kato (1993) e Tarallo (1983) como casos de
pronome resumptivo; (c) retomadas de tipo A, C e F so aquelas classificadas por Galves
(2001) como casos de pronome lembrete.
Tipo de
retomada Elemento retomado Elemento que retoma Posio da retomada Freq.
A SN de ncleo nominal Pronome pessoal Sujeito na orao principal 12
B SN de ncleo nominal Repetio Sujeito na orao principal 3
C SN de ncleo pronome
pessoal Pronome pessoal Sujeito na orao principal 9
D SN de ncleo nominal Repetio Sujeito na orao subordinada 1
E SN de ncleo pronome
demonstrativo Repetio Sujeito na orao principal 5
F SN de ncleo nominal Pronome pessoal Sujeito na orao relativa 2
Tabela 2: Tipos de retomada e nmero de ocorrncias
O Quadro 1 exibe um exemplo de cada tipo de retomada encontrado, destacando, em
negrito, o elemento retomado e o elemento que o retoma.
Tipo Exemplo Contedo locutivo
A 11 *SHE: [72] ento /=PHA= a orientadora /=TOP= ela n quer fazer o papel da coordenadora //=COM= (bpubmn01)
23
Em face dessa anlise, conclui-se que o enunciado (10) contm um SN na unidade de Tpico e uma orao na
unidade de Comentrio, e que o sujeito da orao em Comentrio possui uma relao semntica de
correferencialidade com o SN em Tpico. Assim, (10) seria um enunciado com contexto favorvel presena da
retomada lembrete.
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B 12 *TER: [174] e < outra que /=i-TOP= o' /=CNT= o tio > dele /=TOP= o tio dele fica
s assim /=INT= gente /=EXP_r= marca essa data //=COM_r= (bfamcv02)
C 13 *EMM: [257] mas ele /=TOP= principalmente pa mulher /=TOP= ele pode causar
infertilidade //=COM= (bpubcv01)
D 14 *DFL: [99] o papai /=TOP= e' decidiu que papai ia ser /=SCA= mdico //=COM=
(bfammn02)
E 15 *CES: [112] aqui o' /=CNT= aquela ali /=TOP= aquea ali que a Joaquim Nabuco
//=COM= (bfamdl05)
F 16 *CES: [58] a rua que a gente tava nela //=COM= (bfamdl05)
Quadro 1: Exemplos de cada tipo de retomada
Observando o Quadro 1, um fato chama ateno entre as retomadas presentes nos
exemplos de tipo A a E: todas elas ocorrem em contexto Tpico-Comentrio, com o elemento
retomado posicionado na unidade informacional de Tpico e o elemento que o retoma na
unidade de Comentrio. Na retomada de tipo F, a situao outra. O elemento retomado (o
SN a rua) e o elemento que o retoma (o pronome pessoal ela) aparecem em uma mesma unidade informacional, ou seja, linearizados. No que tange essa questo, o quadro
representativo da situao de todos os exemplos encontrados no subcorpus de PB. Dessa
forma, os exemplos confirmam a hiptese de que as retomadas por pronome lembrete e por
repetio so exclusivas do padro Tpico-Comentrio e de que a retomada em oraes
relativas ocorre de forma linearizada.
Assim como a retomada por pronome lembrete (tipos A e C) e a retomada por
repetio (tipos B, D e E) ocorrem no mesmo contexto prosdico (ou seja, elemento retomado
na unidade de Tpico e elemento que o retoma na unidade de Comentrio), esses dois tipos de
retomada sero chamados de retomada lembrete.
Apesar de presente no PB, a anlise de dados revelou que a retomada lembrete no
adotada na maior parte dos contextos em que se poderia us-la. Por contextos favorveis
foram considerados os enunciados com (a) um SN na unidade informacional de Tpico (b)
uma orao na unidade informacional de Comentrio e (c) uma relao anafrica de natureza
semntica entre o SN em Tpico e algum elemento nominal, pronominal ou preposicional da
orao em Comentrio24
.
No subcorpus de PB, foram encontrados 117 contextos favorveis ao emprego da
retomada lembrete. Os contextos dividem-se com base na posio sinttica que o elemento
que retoma poderia ocupar (sujeito, objeto direto) e da orao em que se encaixa (principal ou
subordinada), da forma que mostra a Tabela 3.
24
O enunciado fictcio a Jaqueline /=TOP= acordou cedo //=COM= constitui um contexto favorvel retomada por pronome lembrete uma vez que apresenta: (a) o SN a Jaqueline na unidade informacional de Tpico; (b) a orao acordou cedo no Comentrio; (c) uma relao semntica anafrica entre o sujeito do verbo da orao em Comentrio e o SN em Tpico.
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Tipo de
contexto
Descrio do elemento que efetua a
retomada
Contextos
encontrados Retomadas efetuadas
Contexto 1 Sujeito na orao principal 102 29
(retomadas A + B + C + E)
Contexto 2 Sujeito na orao subordinada 4 1 (retomada D)
Contexto 3 Objeto direto na orao principal 9 0
Contexto 4 Objeto direto na orao subordinada 2 0
Tabela 3: Contextos favorveis ocorrncia de retomada lembrete
A Tabela 3 nos permite duas observaes interessantes. Em primeiro lugar, de 117
contextos favorveis retomada, somente 30 apresentam o pronome lembrete, ou seja, 25,6%.
Considerando somente as retomadas por pronome lembrete (retomadas de tipo A e C da
Tabela 2), esse percentual ainda menor: 19,6%. Esse percentual, apesar de aparentemente
significativo, se contrape afirmao de Galves (2001) de que a retomada por pronome
lembrete seria a estratgia preferencial do PB. Em segundo lugar, os dados presentes na
Tabela 3 ilustram uma tendncia apontada por Pontes (1987), segundo a qual, embora possvel
em outros contextos, o uso de pronome lembrete mais frequente nos casos em que o
pronome se insere na posio sinttica de sujeito da orao.
As buscas no subcorpus de Portugus Europeu apontam para a raridade dessa
estratgia nessa lngua, considerando que, nos 20 textos do subcorpus de PE, no foi
encontrada nenhuma ocorrncia de retomada por pronome lembrete.
Quanto estratgia do pronome resumptivo em oraes relativas, necessrio
observar que este um fenmeno presente em todas as lnguas romnicas, pelo menos em
diastratia baixa, mas frequentemente, como em PB, no registro coloquial25. Esse fenmeno
normalmente interpretado como uma tendncia a analisar o pronome relativo separando suas
duas funes: aquela de marcar a subordinao e aquela de marcar o caso. O relativo se
limitaria, portanto, a marcar a relao sinttica de dependncia, enquanto o pronome pessoal
marcaria o caso. Isso normalmente interpretado dentro de um quadro maior de passagem
para uma estruturao menos sinttica e mais analtica, reduzindo em vrios setores a
complexidade morfolgica originria do latim26.
Concluses
Esse trabalho mostrou que a TLA permite uma nova viso acerca do problema do
pronome lembrete, possibilitando uma compreenso mais profunda das restries prosdicas
e informacionais operantes na realizao do pronome lembrete. Em suma, os dados aqui
apresentados confirmam as hipteses de que:
1) a estratgia da retomada lembrete, seja com um SN pleno (frequentemente uma repetio do SN retomado) seja com pronome, acontece sempre em contextos em
que o elemento retomado est em Tpico e o elemento que o retoma, em
25
No italiano, o fenmeno amplamente observado no chamado italiano popolare ou italiano semicolto. Veja-
se, na ampla bibliografia que releva o fenmeno, Sabatini (1985); Berruto (1987; 1993); DAchille (1994); e, para as variedades regionais do italiano, todos os captulos de Bruni (1990-1994). 26
Veja-se Simone (1993).
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Comentrio. possvel, portanto, que se trate de um fenmeno nico, aqui
chamado de retomada lembrete.
2) a estratgia do pronome resumptivo em orao relativa acontece sempre com o pronome linearizado em unidade de Comentrio. Deve ser, portanto, considerado
um fenmeno diferente da retomada lembrete.
3) a estratgia de pronome lembrete parece no estar presente em PE e ser, portanto, um trao distintivo do PB. Uma possvel explicao disso a mudana tipolgica
em curso, segundo a qual o PB estaria se tornando uma lngua no-pro-drop
(TARALLO, 1993).
Alm da confirmao dessas hipteses, notamos que, apesar de significativa, a
retomada com pronome lembrete no ocorre sistematicamente, nem mesmo
preferencialmente, nos contextos em que poderia ocorrer.
The resumptive pronoun and the Language into Act Theory: a corpus based study ABSTRACT: This article proposes a new approach to resumptive pronouns (ReP) in Brazilian Portuguese (BP),
derived from the framework of the Language into Act Theory and analysis based on the C-ORAL-BRASIL for
BP and the C-ORAL-ROM for European Portuguese (EP). Resumption in sentences like A Maria, ela gosta de futebol was found to only occur in prosodically and functionally marked contexts in BP. In EP, this kind of construction was not found. Another kind of resumption was also found, realized through the repetition of the
resumptive element (A Maria, a Maria veio) is subject to the same constraints as the ReP. Lastly, the analysis evidenced that the resumption in relative constructions is subject to different constraints.
Keywords: resumptive pronoun; Language into Act Theory; corpus. Referncias
ALVES DE DEUS, L. O Tpico no portugus do Brasil. Dissertao (Mestrado em
Lingustica) Faculdade de Letras, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
AUSTIN, L.J. How to Do Things with Words. Oxford: Oxford University Press, 1962.
BACELAR DO NASCIMENTO, M.F.; GONALVES, J.B.; VELOSO, R.; ANTUNES, S.,
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(Eds.), C-ORAL-ROM: integrated reference corpora for Spoken Romance Languages.
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Data de envio: 22/03/2013
Data de aprovao: 02/12/2013
Data de publicao: 15/04/2014