O PROCESSO DE PROJETO COM A PARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO: A CONSOLIDAÇÃO DOS EMAU's
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O PROCESSO DE PROJETO COM A PARTICIPAÇÃO DO USUÁRIO:
A CONSOLIDAÇÃO DOS ESCRITÓRIOS MODELO DE ARQUITETURA E
URBANISMO (EMAU's)
Área Temática: Educação
Muchinelli, Lívia. R. A.¹; Antonucci, Carolina. G.².
(1) Arquiteta Urbanista, Mestre em Urbanismo, Doutoranda no Curso de Pós Graduação da
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (USP).
(2) Estudante do Curso de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF).
Resumo
Este artigo consiste na descrição de um Projeto de Extensão da Universidade Federal de
Juiz de Fora, o EMAU RUA - Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo Relações
Urbanísticas e Arquitetônicas, que é um conceito da Federação Nacional dos Estudantes de
Arquitetura (FeNEA).
O objetivo deste trabalho é demonstrar o processo de trabalho dos EMAU's em geral, que
se baseia no processo de projeto com a participação do futuro usuário e se ampara no
Projeto de Orientação à Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo (POEMA).
O EMAU RUA foi inserido no Departamento de Arquitetura e Urbanismo (DAUr) da
Faculdade de Engenharia (FEng) da citada Universidade como Projeto de Extensão em
2011 e, desde então, realizou diversos projetos com comunidades.
A metodologia utilizada para tal objetivo será a descrição de um dos casos trabalhados pelo
EMAU RUA: a comunidade da RUA UM, e os resultados obtidos, neste exemplos, foram
a ajuda na formação da sua Associação de Moradores. E, como conclusões, apontamos a
importância da participação do usuário no desenvolvimento de qualquer projeto a fim de
dar continuidade no seu andamento e gestão dos seus desdobramentos.
Palavras-chave: Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo - EMAU RUA, Processo
de Projeto com a Participação do Usuário.
Introdução
O objetivo deste trabalho é demonstrar a metodologia de trabalho dos EMAU's em
geral, que se baseia no processo de projeto com a participação do futuro usuário. Os
EMAU's são entidades organizadas dentro de universidades, públicas ou privadas,
espalhadas pelo Brasil, que surgem tanto para atender a uma deficiência disciplinar, que
não é normalmente abordada durante o processo de aprendizado, quanto para lidar com um
tipo de demanda que os escritórios profissionais, de lógica voltada ao mercado não estão
aptos a suprir. De acordo com Federação Nacional de Estudantes de Arquitetura (FeNEA):
“(...) é um projeto de Extensão Universitária unida à pesquisa e ao processo de
graduação. Esse escritório surge da discussão a respeito da vivência e das práticas dos
estudantes de Arquitetura durante a graduação, com a finalidade não só de completar a
educação universitária, mas também para afirmar um compromisso com a realidade
social da comunidade onde a universidade está inserida”. (FeNEA, 2014)
Os EMAU's, diferentemente de outros tipos de escritórios estudantis, surgem e
operam com características peculiares, e as “recomendações” que estão no chamado
Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo (POEMA),
disponibilizado através do site da FeNEA. Dentre as características singulares principais de
um EMAU, destacam-se: gestão estudantil, um professor orientador - no caso, a autora e
mais um professor do DAUr da UFJF, e o fato não ter fins lucrativos.
O EMAU RUA foi criado como Projeto de Extensão em 2011 e, desde então,
realizou diversos projetos com comunidades, passando a ser reconhecido não só pelos
trabalhos desenvolvidos, como também pelas pesquisas teóricas realizadas a fim de
embasar sua prática, que resultaram na participação em diferentes seminários e congressos
pelos Brasil e pelo intercâmbio com outros EMAU's, também atualmente reconhecidos.
Além disso, o EMAU RUA vem se firmando na UFJF pelo diálogo com outros
grupos do gênero, assim como com os professores de outros cursos e foi convidado a
integrar o Núcleo de Estudos em Habitação (NEHab) do DAUr.
Material e Metodologia
Para descrever o Material e Metodologia utilizados pelo EMAU RUA será descrita
a metodologia dos EMAU's em geral, de acordo com o POEMA, algumas adaptações feitas
pelo EMAU RUA e sua aplicação no exemplo da comunidade da RUA UM.
O primeiro ponto a ser tratado é a demanda, que pode surgir de diversas formas.
No caso de que trataremos adiante, ela surgiu por meio de uma disciplina do DAUr.
Com a identificação da demanda é necessário pesquisar a respeito dela. Também
são marcadas reuniões com os representantes do bairro para conhecer melhor suas
necessidades, assim como as possibilidades de atuação. A questão de se ter um líder é
importante para garantir que seja atendida uma comunidade e não pessoas individualmente.
Para esta demanda é formado um Grupo de Trabalho (GT), por aqueles alunos que
estão mais interessados e disponíveis a atendê-la. As reuniões servem para definir as ações
e estratégias do grupo, que variam em cada situação. Podem variar deste o
desenvolvimento de um projeto de arquitetura e urbanismo, até a realização de um mutirão,
passando pelo auxílio da comunidade na inscrição em um edital para captação de recursos.
A atuação é realizada através de vivências nos locais em que serão aplicadas
técnicas construtivas diversas, podendo ou não ser alternativas, em conjunto com as
comunidades residentes e/ou usuários, realizando uma troca de conhecimentos, e, se
necessário, será realizada a capacitação da comunidade.
As vivências envolvem o levantamento de dados e anteprojeto, mas podem seguir
até o projeto executivo. Todo o processo é em conjunto com a comunidade, o que
consideramos participativo, seja no que diz respeito à mão de obra, mas ainda antes disso,
no fato de ouvir as opiniões e anseios de cada futuro usuário daquilo que será construído,
ainda que em algum momento isto se dê por um representante. Destacamos também que
essas etapas podem variar conforme o projeto, assim como a participação de estudantes
e/ou profissionais de diferentes áreas do conhecimento. A partir deste ponto considera-se a
comunidade capacitada a dar seqüência aos trabalhos realizados por si só.
Como anunciado, será mostrada uma atividade a fim de ilustrar a metodologia que
ampara o Projeto de Extensão: no ano de 2011, o trabalho da disciplina de Projeto
Arquitetônico e Urbanístico V (P.A.V), que trata de Habitação de Interesse Social, foi
realizado na Rua Um, que, atualmente, faz parte do bairro Cidade do Sol, em Juiz de Fora,
surgiu de uma ocupação na década de 1970, e hoje é uma Área de Especial Interesse Social
(AEIS), segundo o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município (PDDU).
Os estudantes fizeram projetos habitacionais hipotéticos para aquela comunidade e,
após o término da disciplina, mas ainda diante dos visíveis problemas do local, como a
carência de infra estrutura e equipamentos, alguns alunos, que eram integrantes do EMAU
RUA, se demonstraram interessados em continuar o contato e realizar outro tipo de
trabalho com aquelas pessoas. Em virtude disso, foi nesse local que se deu o primeiro
trabalho oficial do EMAU RUA como Projeto de Extensão da UFJF.
O EMAU RUA encontrou naquelas pessoas um potencial comunitário muito
grande, com grandes articuladores dispostos a buscar melhorias, ou seja, líderes
comunitários em potencial para a articulação e afirmação daquele grupo social.
Para o desenvolvimento deste trabalho, em conjunto com a comunidade, foram
traçados objetivos como base para a elaboração de projetos subsequentes. Inicialmente,
destacou-se a importância de esclarecer os moradores acerca de seus direitos e deveres:
como AEIS eles teriam direito a um projeto de urbanização, segundo o Plano Estratégico
Municipal de Assentamentos Subnormais (PEMAS) de 2007.
Em seguida o EMAU RUA apoiou a formação de um órgão representativo. Essa
demanda surgiu nas reuniões, quando se passou a entender que, ao consolidar uma
entidade que os represente, esta teria o potencial de garantir a reivindicação dos direitos do
grupo. O EMAU RUA fez o contato com União Juizforana de Associações Comunitárias
de Bairros e Distritos (UNIJUF), que tem como finalidades, congregar, assessorar, orientar
e estimular a fundação das Associações. Esta entidade, por sua vez, trouxe esclarecimentos
sobre o papel de uma Associação, suas formas de atuação, e sua funcionalidade estrutural.
O EMAU RUA esteve presente em todas as reuniões, procurando deixar clara a
importância da formação de uma entidade que buscasse a consolidação dos seus direitos
como cidadãos e advertindo que esse era o primeiro passo para alcançar seus objetivos.
Resultados e Discussões
A formalização da associação se deu no dia 01 de junho de 2012, por meio de uma
Assembléia Geral na Rua Um com a presença do vice-presidente da UNIJUF, do EMAU
RUA, e dos moradores interessados, que culminou na fundação da “Associação de
Moradores da Comunidade das Vitórias”, mas este não foi o principal resultado.
O resultado mais importante foi, sem dúvida a conscientização dos moradores da
importância de se conhecer seus direitos e lutar por eles. Em segundo lugar, pode-se dizer
que foi a oportunidade de desenvolver a sensibilidade pelas demandas sociais existentes,
há tempo esquecidas pelos arquitetos que se deparam com o mercado ao se formarem, nos
estudantes membros do EMAU RUA que tiveram contato com este trabalho ou com outro.
Além disso, destaca-se o próprio crescimento do EMAU RUA como Projeto de
Extensão na UFJF e favorecendo a consolidação dos EMAU's no Brasil, além de permitir
oportunidades de discussão da metodologia em congressos como o CBEU.
Ao final de cada trabalho, o EMAU tenta fazer uma avaliação do processo realizado
junto à comunidade. O EMAU RUA retornou à Rua Um, para saber como estava indo a
Associação, entretanto esta não resistiu aos recorrentes problemas e às transformações na
vida de alguns moradores, que se mudaram e não puderam dar continuidade ao trabalho
Considerações finais
Considera-se a experiência na 'Rua Um', um projeto completo, onde se atingiu a
demanda do local. Antes do retorno do EMAU RUA à comunidade foram realizadas
algumas melhorias pontuais que fizeram os moradores se desinteressarem da Associação,
além disso, as transformações recentes nas vidas dos moradores, como a mudança de
endereço, interromperam a ligação com os problemas antigos. Tudo isso não interfere no
sucesso da metodologia aplicada pelo EMAU RUA, pois outros trabalhos foram
desenvolvidos pelo grupo depois baseados nela.
Na metodologia do EMAU RUA se solidificaram o trabalho em frentes e o
processo participativo, assim como o estudo das demandas, como ponto inicial, como
acontece em qualquer projeto.
Além disso, estão sendo desenvolvidas pesquisa teóricas pelo EMAU RUA sobre a
informalidade na cidade de Juiz de Fora e no Brasil, a fim de se entender melhor as causas
e poder buscar soluções condizentes, assim como a respeito de técnicas alternativas, que
vão contribuir para completar estas ausências na graduação.
Destaca-se que, com o envolvimento com uma comunidade os conhecimentos
convergem para um ponto ideal, desenvolvendo a capacidade crítica para o estudante, o
que ele vai levar para a vida toda e consequentemente será visto na melhoria da qualidade
dos projetos e do próprio ensino, além, é claro de compartilhar com a sociedade o
conhecimento gerado na universidade.
Pretende-se também se produzir mais textos, como artigos, que são apresentados
em seminários para o próprio grupo, mas também podem ser enviados para congressos,
como este, relacionados aos tema da arquitetura e do urbanismo, voltados ao interesse
social ou não e, ainda, a inscrição em editais com temas relacionados a atuação do RUA.
Estas pesquisas formarão um banco de dados que pode complementar não só o acervo das
entidades pesquisadas, mas também pretende agregar conhecimento a própria UFJF.
Referências bibliográficas
FEDERAÇÃO NACIONAL DE ESTUDANTES DE ARQUITETURA E URBANISMO.
Projeto de Orientação a Escritórios Modelo de Arquitetura e Urbanismo (POEMA).
Florianópolis, 2007.
JUIZ DE FORA. PREFEITURA MUNICIPAL. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano
de Juiz de Fora. Juiz de Fora, MG. Ed. FUNALFA, 2004.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA. CENTRO DE PESQUISAS
SOCIAIS. Projeto Executivo do Termo de Referência para a Regulamentação Urbanística
das Áreas de Especial Interesse Social do Município de Juiz de Fora/MG. 2006.