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O PROCESSO DE INDUSTRIALIZAÇÃO NO VALE DO COTINGUIBA: UM ESTUDO
DE CASO SOBRE O MUNICÍPIO DE LARANJEIRAS.
MARIA JOSÉ DOS SANTOS SAMPAIO
Licenciada em Geografia pela Universidade Federal de Sergipe – UFS
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo refletir sobre o processo de industrialização
ocorrido no vale do Cotinguiba, município de Laranjeiras, a partir do final dos anos de
1970,com ênfase nas transformações sócioespaciais ocorridas em decorrência de
mudanças na matriz produtiva. Inicia-se com um breve comentário sobre as origens da
industrialização atrelada ao surgimento do sistema capitalista e sua expansão no século
XVIII, ocorrida com a Revolução Industrial; em seguida trata das circunstâncias que
propiciaram esse processo no Brasil, em finais do século XIX e seu fortalecimento e
concentração no Centro Sul no início do século XX, e os motivos que promoveram sua
descentralização e estabelecimento na região Nordeste na segunda metade do mesmo
século. No Vale do Cotinguiba,como em todo Nordeste, a industrialização se estabelece
a partir da utilização de recursos provenientes de programas de incentivos fiscais
patrocinados pela SUDENE, e conclui que, apesar do município ter uma relevante
participação na economia do Estado, não reflete nas condições de vida de parte
considerável dos habitantes de Laranjeiras.
Palavras-chave: Industrialização, Transformações sócioespaciais, desenvolvimento,
Vale do Cotinguiba.
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1-INTRODUÇÃO
A região do Vale do Cotinguiba que durante alguns séculos foi berço de
empreendimentos agrícolas direcionado ao cultivo da cana de açúcar, a partir de1970,
em resposta ao apelo do sistema capitalista, passa a direcionar seu projeto produtivo
para o setor industrial se beneficiando das benesses oferecidas pelo Estado. Nesse
sentido, observa-se a transformação de uma paisagem dita “natural” por uma paisagem
bastante artificializada em um curto período de tempo.
Pensar a indústria, e mais concretamente o espaço da indústria, nos remete a
uma paisagem urbana onde predominam as chaminés expelindo fumaça de
tons e odores diferenciados, uma concentração de operários e um
adensamento de redes de transportes (SANTOS apud CARLOS, 2007, p.17)
Reflete a completa transformação que passou/passa o espaço geográfico, não só
através da modificação da paisagem, alterando os seus aspectos físicos, mas também irá
refletir os hábitos e costumes da população até então alicerçados com base na atividade
rural. As mudanças, entretanto, não implicam em desenvolvimento para o conjunto da
sociedade local.
Desta forma, o presente artigo busca compreender a relação da industrialização
no Vale do Cotinguiba, município de Laranjeiras, e as principais transformações
socioespaciais ocorridas no período de 1980 a 2012. Este artigo investiga de que forma
a presença da indústria atua na dinâmica da urbanização e mobilidade de trabalho desta
região, além da influência da indústria em problemas sociais como a prostituição, a
violência e o desemprego.
Para a elaboração do presente trabalho foram realizados levantamentos
bibliográfico e documental, como teses e dissertações, bem como dados do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, Instituto Histórico e Geográfico de
Sergipe, visita ao (SINDIPETRO) Sindicato Unificado dos Trabalhadores Petroleiros
Petroquímicos, Químicos e Plásticos nos Estados de Alagoas e Sergipe e
(SINDICAGESE) Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias de Cimento, Cal, Gesso e
Cerâmica dos Municípios de Aracaju, Itabaiana, Itabaianinha, Laranjeiras, Maruim,
Nª.Sª. do Socorro, Siriri e Simão Dias no estado de Sergipe, com o intuito de coletar
dados referente as condições de trabalho, além de acompanhamento dos trabalhos
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realizados pelo GPECT (Grupo de Pesquisa Estado Capital Trabalho) vinculado ao
PPGEO/UFS, coordenado pela Profª Drª Alexandrina Luz Conceição
O primeiro capítulo trata do surgimento do processo de industrialização que teve
origem a partir do desenvolvimento do sistema capitalista gestado nas entranhas da
sociedade feudal e teve como ponto de partida a expropriação da propriedade rural e a
consequente separação entre trabalhador e os meios de produção. O segundo traz uma
abordagem sobre as bases em que ela foi se estabelecendo no Brasil, e as circunstâncias
que propiciaram esse estabelecimento, todas relacionada à ocorrência de crises externas
que dificultavam o suprimento de produtos industrializados no país, além da ausência de
infraestrutura básica necessária à construção de um parque industrial e recursos
financeiros que possibilitassem o seu custeio. O terceiro refere-se a industrialização na
região Nordeste em um primeiro momento representado pela produção de têxteis e
posteriormente, relacionado a necessidade de expansão do capital industrial além das
fronteiras do Centro Sul justificado pela necessidade de correção dos “desequilíbrios
entre as regiões”. O último traz uma abordagem sobre a inserção das primeiras
indústrias no vale do Cotinguiba, município de Laranjeiras, período que se confunde
com a expansão capitalista no Nordeste, e procura analisar as transformações sócio-
espaciais dela decorrentes.
2-A RELAÇÃO DAS INDÚSTRIAS E A TRANSFORMAÇÃO DO ESPAÇO
GEOGRÁFICO
O processo de industrialização é importante para compreender as transformações
que ocorrem no espaço geográfico, uma vez que se intensificam as alterações que são
produzidas pela ação humana. Deste modo, é necessário analisar como o crescimento
industrial interfere na dinâmica que observamos no espaço.
Para compreender como a industrialização vai se estabelecer é preciso
considerar as transformações que ocorrem na sociedade. Assim segundo Marx (2013, p.
786) “a estrutura econômica da sociedade capitalista surgiu da estrutura econômica da
sociedade feudal”, uma vez que esta criou as condições necessárias para a sustentação
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daquela, o que vai posteriormente favorecer a consolidação das indústrias como
importante meio de produção.
O sistema de produção capitalista desde a sua fase inicial esteve estritamente
ligado ao de industrialização uma vez que criou as bases de sustentação necessárias ao
seu desenvolvimento. De acordo com Spósito (1998)foi a partir da comercialização de
excedentes que aos poucos foram sendo criadas as corporações de ofícios dentro das
cidades, nas quais os artesãos gozavam de proteção do poder municipal no sentido de
controlar a produção e principalmente evitar a concorrência com produtos oriundos de
outras cidades ou até regiões.
A quebra de monopólio sobre o excedente alimentar e a organização da
produção artesanal em sistema domiciliar provocou o fortalecimento da burguesia
comercial e conseqüentemente o enfraquecimento da instituição feudal. Um aspecto que
favoreceu este processo foi a expropriação da terra onde, segundo Marx (2013), o
homem foi brutalmente separado dos seus meios de produção, que representa a base de
formação do sistema capitalista uma vez que na impossibilidade de produzir os seus
meios de subsistência ele se vê obrigado a vender sua força de trabalho e a subjugar-se
às condições impostas pelo capital.
Vale lembrar que paralelo a essas mudanças, e não menos importante, ocorreu o
processo de urbanização que deu origem a uma incipiente sociedade de consumo para
os padrões da época. Outro fator fundamental para a evolução do sistema foi o
desenvolvimento da técnica que muito contribuiu para o aumento da produção.
A expansão do sistema capitalista mundial que teve como marco fundamental a
Revolução Industrial ocorrida na Inglaterra no século XVIII e que posteriormente viria a
se difundir por toda a Europa, somente a partir do século XX viria atingir os demais
continentes. A instalação deste modelo nos países subdesenvolvidos ocorreu
principalmente pela necessidade do capital industrial de expandir seu mercado
consumidor através da produção utilizando matérias primas, encontradas em abundância
e mão de obra mais barata.
2.1-INDUSTRIALIZAÇÃO NO BRASIL
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O processo de industrialização no Brasil teve início de forma bastante incipiente
a partir da segunda metade do século XIX e seu avanço teve estreita relação com a
economia cafeeira, visto que resultou da acumulação de capitais provenientes daquela
atividade agrícola. Ressalta-se ainda que fatores externos implicassem em mudanças
estruturais ocorridas no território brasileiro e foram de fundamental importância, como
pode ser observado no decorrer do tempo histórico e da análise das transformações da
base técnica.
Dentre as mudanças estruturais a extinção do tráfico negreiro foi de fundamental
importância, primeiro porque possibilitou a inversão de capitais que antes eram
aplicados para a compra de escravos fossem empregados em outras atividades
econômicas. “A substituição dos escravos por trabalhadores livres (que naquele período,
como vimos, começa a se intensificar) mobiliza os capitais que dantes invertiam e
imobilizavam naquela propriedade humana” (PRADO JR., 2008, p. 194).
Segundo Prado Junior (2008) a industrialização tardia no Brasil se deve a uma
série de fatores entre os quais podemos destacar: a abertura dos portos em 1808 onde os
produtos internacionais entravam no país com baixas taxas alfandegárias o que
inviabilizava a produção nacional; a deficiência de fontes de energia explorável naquele
momento (restritas a lenha e a força motriz da água); e principalmente a ausência de
mercado consumidor ocasionado pelo baixo padrão de vida da população além da falta
de estrutura em transportes e a dispersão de núcleos habitacionais.
Entretanto alguns fatores contribuíram para que essa situação se invertesse.
Dentre elas o déficit gerado pela balança comercial que impossibilitava a aquisição de
gêneros necessários ao consumo; a elevação de tarifa sobre produtos importados
(criação da tarifa Alves Branco em 1844) que tinha por objetivo resolver a questão do
déficit orçamentário terminou contribuindo para incentivar a produção de bens
nacionais. A existência de fontes de produção de matéria prima foi de fundamental
importância no caso da produção do algodão já que no início predominava a indústria
têxtil no Brasil. A oferta de mão de obra barata constituída por camadas da população
que naquele momento não estavam inseridas no processo produtivo. “Numa economia
agrária e escravista como a nossa, e onde a grande lavoura teve um papel absorvente e
monopolizador das atividades rurais, a grande massa de homens livres fica à margem”
(PRADO JUNIOR, 2008, p. 258).
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Preferencialmente essas indústrias se instalavam onde houvesse maior
adensamento populacional (oferta de mão de obra e mercado consumidor) e fontes de
produção de matérias primas. As primeiras indústrias têxteis foram instaladas no Rio de
Janeiro (capital e algumas cidades próximas), em Juiz de Fora, Minas Gerais, em
centros do Nordeste como Pernambuco e Bahia que além de grandes produtores de
algodão concentrava uma população numerosa e por último no Maranhão, na cidade de
Caxias, que também se destacava na produção algodoeira. São Paulo, até aquele
momento, não se destacava na produção industrial.
Porém em início do sec. XX verifica-se o crescimento acentuado da indústria,
em especial em São Paulo. Para Prado Junior (2008) esse crescimento só foi possível
graças ao desenvolvimento da lavoura cafeeira e a valorização do produto no exterior
que possibilitou a acumulação de capitais necessários para fazer frente aos
investimentos em infraestrutura. A esse fator acrescenta-se a imigração que contribuiu
de forma decisiva não somente na formação de um quadro de mão de obra mais
qualificada diferente da escrava, como também investindo na produção industrial em
alguns casos. Verifica-se também o aproveitamento de fontes de energia elétrica já
encontrada na região.
Seguindo ainda nesse raciocínio Spósito apud Mello (2012, p.141) afirma que:
(...)a cultura de exportação do café possibilitou a constituição de um
mercado de trabalho livre, o surgimento de um mercado interno para
consumo de produtos industrializados e divisas em moedas
estrangeiras necessárias à importação de bens de capital (máquinas e
equipamentos) que foram essenciais para uma acumulação inicial nas
atividades industriais emergentes.
A acumulação de divisas gerada pela economia cafeeira possibilitou a criação
de uma infraestrutura (construção de estradas, portos rede de comunicação,
estabelecimentos bancários), necessária para dar suporte à atividade industrial que
estava se intensificando.
De acordo com Spósito e Santos (2012), durante a Primeira Guerra Mundial e
em período imediatamente posterior, a indústria brasileira experimenta outra fase de
crescimento e diversificação, com a participação de empresas estrangeiras que passam a
investir na produção não somente para abastecimento do mercado interno como também
para exportação. Prado Junior (2008) salienta que a expansão da indústria decorre da
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dificuldade e da impossibilidade dos países envolvidos no conflito continuarem
fornecedores de produtos manufaturados. E conclui que houve um crescimento na
indústria de alimentação com destaque para o congelamento de carnes destinadas à
exportação para os países beligerantes.
Após a crise de 1929 que se desencadeou com a quebra da bolsa de valores em
Nova York e provocou o estrangulamento do mercado externo, o país conhece um novo
surto de industrialização impulsionado pela dificuldade de adquirir no exterior os
gêneros necessários à sua manutenção, gerado pela escassez de divisas provenientes dos
recursos oriundos da atividade agroexportadora.
Outro fator determinante para a sua ampliação e diversificação refere-se ao
conjunto de medidas estruturantes adotadas pelo presidente Vargas na vigência de seus
dois mandatos presidenciais (de 1930 a 1945 e de 1951 a 1954). Tais medidas estão
relacionadas não somente na regulamentação de leis favoráveis ao processo de
industrialização, como a edição de medidas protecionistas que inviabilizassem a entrada
de importados para concorrer com similares nacionais e a criação de tarifas
diferenciadas que favorecessem a importação de equipamentos pesados e insumos
industriais, mas também na estruturação de um arcabouço institucional e produtivo.
Nessa perspectiva foram criados alguns órgãos públicos a exemplo do IBGE
(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o BNDE (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico) que foi fundamental para o financiamento de obras de
infraestrutura, além do complexo industrial de base necessário ao fornecimento de
subsídios à produção industrial.
O governo JK direcionou sua política de industrialização para o segmento de
bens de consumo duráveis com ênfase na indústria automobilística e diferentemente de
seu antecessor, priorizou a associação entre os capitais estatal, estrangeiro e o privado.
Para tanto, foi elaborado o Plano de Metas, a partir do qual se buscou impulsionar o
processo industrial articulando a infraestrutura às necessidades da atividade. Neste
sentido, as ações voltadas para atender a demanda energética, de transporte e indústria
de base foi importante para o desenvolvimento industrial no período, o que permite
considerar que
[...] a estrutura industrial avançou no sentido de incorporar segmentos
da indústria pesada, da indústria de bens de consumo duráveis e da
indústria de bens de capital, substituindo importações de insumos
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básicos, máquinas e equipamentos, automóveis, eletrodomésticos, etc.
Essa estrutura seria a base sobre a qual se apoiaria o rápido
crescimento da produção industrial no País. (PEREIRA; SILVEIRA,
2010, p. 334)
Diante do contexto de crescimento da atividade industrial evidenciam-se
desigualdades que são mais notáveis ao se comparar as regiões do país, neste sentido, é
importante compreender como o processo de industrialização ocorreu na região
Nordeste, pois a área de estudo deste trabalho situa-se nesta região.
2.2-INDUSTRIALIZAÇÃO NO NORDESTE
O nascimento da industrialização na região Nordeste data do final do século XIX
e segundo Pereira Júnior (2003, p. 69) citando Andrade, a atividade produtiva se
concentrava em algumas cidades e pertencia ao poder oligárquico local. Além da
produção açucareira dos têxteis e de óleos vegetais já se produzia em menor escala os
couros e peles, o cimento, os derivados de tabaco como cigarros e charutos, chapéus e
carroças.
De acordo com Oliveira (1981) é a partir do final do século XIX que ocorre a
conversão dos antigos engenhos em usinas e nesse mesmo período acontece a fundação
da indústria têxtil, que se aproveita da expansão da cultura algodoeira propiciada pelo
advento da Guerra de Secessão norte-americana. Ela decorre da necessidade de
substituição de importações para atender o mercado de tecido grosso destinado ao uso
da população trabalhadora, além de sacos para acondicionamento do açúcar. Tal
indústria já nasce sob o controle dos grandes grupos estrangeiros que determinava
inclusive o que deveria ser produzido.
A política de expansão industrial do Nordeste surgiu a partir de um projeto de
desenvolvimento econômico criado com a finalidade de “corrigir os desequilíbrios
regionais” entre o Nordeste e o Sudeste. Nesse sentido foi criada a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste – SUDENE, órgão de planejamento criado pelo Governo
Federal destinado a orientar as ações do Estado na Região. Os recursos para a execução
do projeto eram oriundos de incentivos fiscais provenientes da redução de até 50% do
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imposto de renda de empresas nacionais e estrangeiras que demonstrassem interesse em
se instalar no Nordeste.
Tais desigualdades foram geradas em decorrência da drenagem de capitais
nordestinos para a região Sudeste devido à quebra de barreiras inter-regionais, ou seja, a
invasão de produtos e posteriormente de grupos econômicos do Centro-Sul que
promoveram o enfraquecimento e a destruição de grupos regionais e o
descontentamento das massas trabalhadoras semi camponesas e urbanas gerando clima
de insatisfação e posterior organização, a exemplo das Ligas Camponesas.
Considerando o período de intensificação da industrialização no Nordeste,
percebe-se que estava vinculado ao interesse em descentralizar a atividade. Neste
sentido, de acordo com Diniz e Crocco (1996) a desconcentração industrial aconteceu a
partir da década de 1970, nas grandes áreas produtoras do país localizadas no centro sul
(os estados de São Paulo e Rio de Janeiro) que naquele momento participavam juntos
com 55% da renda nacional, e que teve como variáveis principais:
a) os efeitos do aumento de custos e da reversão da polarização das
áreas metropolitanas do Rio de Janeiro e de São Paulo; b)
desenvolvimento na infraestrutura e seus efeitos na unificação do
mercado e na criação de economias de urbanização em várias outras
cidades ou regiões; c) o papel de política econômica em termos de
investimento estatal produtivo direto e os incentivos fiscais regionais
(DINIZ e CROCCO,1996, p. 80).
Com o processo de descentralização, aparentemente buscava-se diminuir as
desigualdades, no entanto, o que se verifica é o favorecimento para as indústrias, sem
garantir autonomia. Deste modo, o que observamos é que
a industrialização que se desenvolveu no Nordeste passou a
acompanhar a dinâmica nacional, assumindo um papel de dependência
em relação a burguesia do sudeste, uma vez que nem envolveu o
departamento de produção de bens duráveis de luxo, nem o
departamento de bens de capital. (PEREIRA JUNIOR, 2003, p. 70)
Com isso, o que se pôde observar foi a concentração espacial da indústria em
determinados centros da Região que já contavam com infraestrutura e recursos
necessários a sua instalação a exemplo dos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará que
juntos absorveram mais de 50% das indústrias beneficiadas com programa de incentivos
fiscais.
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3 – INDUSTRIALIZAÇÃO E TRANSFORMAÇÃO SOCIOESPACIAL DO
MUNICÍPIO DE LARANJEIRAS
No Nordeste, a partir da década de 1970, verificou-se uma intensificação do
processo de industrialização. No estado de Sergipe esse processo também ocorreu, e,
neste estudo, analisamos especificamente, como a industrialização se estabelece no
município de Laranjeiras.
O município de Laranjeiras está localizado no centro-leste do estado de Sergipe,
na microrregião do Baixo Cotinguiba. Limita-se ao norte com os municípios de
Riachuelo e Maruim; ao leste com Santo Amaro de Brotas; ao sul com Nossa Senhora
do Socorro e a oeste, com o município de Areia Branca (Figura 01). Situa-se a 23 km
de Aracaju, capital do Estado. Possui área territorial de 164 km² e população de 26.903
habitantes, segundo o censo demográfico (IBGE, 2010).
Banhado pela bacia do rio Sergipe, o referido município está situado no vale do
Cotinguiba, região onde predomina relevo caracterizado por baixas colinas de tabuleiros
dissecados, com solos do tipo massapê de textura argilosa (vertissolo e Chernossolos)
rico em calcário e magnésio. O domínio climático garante regularidade nas
temperaturas e a pluviosidade concentra-se entre os meses de junho a agosto
Historicamente o município de Laranjeiras situa-se em uma região de tradição
agrícola, sua economia baseada inicialmente na produção açucareira, principalmente a
partir do sec. XVIII e que posteriormente, devido a um período de crise da atividade
ocorreram transformações no campo de reestruturação produtiva.
A primeira crise se abateu sobre a lavoura canavieira no final do século XIX
quando ocorreu uma reestruturação na produção açucareira com a modernização de
antigos engenhos exigindo mais investimento da parte dos latifundiários. Assim, uma
espécie de seleção foi criada, quem não se adaptou tecnologicamente entrou em
processo de falência. Nesse contexto, destacamos também a queda de preços do açúcar
no mercado internacional e a consequente redução da exportação do produto.
Outro momento de crise ocorreu no início do século XX, após a queda da bolsa
de valores, com a chamada crise do café no mercado internacional. Com isso os
produtores do Centro Sul do país tiveram que redirecionar seus investimentos para o
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cultivo da cana de açúcar, prejudicando os Estados nordestinos incluindo o estado de
Sergipe e em conseqüência o município de Laranjeiras.
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A adoção de uma nova política de governo para a produção açucareira resultou
em uma forte concentração de recursos nas mãos dos grandes proprietários, levando a
uma consequente redução dos pequenos produtores. Fato que proporcionou o
fechamento de muitos estabelecimentos pequenos, contribuindo para o enfraquecimento
da economia de Laranjeiras que teria que concorrer com outras regiões produtoras de
açúcar.
A instalação de indústrias na região do Vale do Cotinguiba, em especial no
município de Laranjeiras, ocorre a partir de meados da década de 1970 quando o país
está implantando um novo modelo de desenvolvimento econômico. O discurso de um
“mercado consolidado” onde fosse possível corrigir as “disparidades regionais”
permitiu a implantação de modernas unidades industriais na região nordeste com
recursos oriundos principalmente de incentivos fiscais.
O projeto é gestado a partir da criação das Superintendências de
Desenvolvimento durante o governo de Juscelino Kubitschek sendo contemplado com
alguns planos de governo que foram editados durante o período da ditadura militar a
exemplo dos Planos Nacionais de Desenvolvimento (PND) I e II. A descoberta de
minerais no Estado (a exemplo do petróleo, potássio e o calcário) foi de fundamental
importância para a consolidação do projeto que dependia de fonte de matérias primas. A
oferta abundante de força de trabalho barata, também foi decisiva na escolha do local de
construção do empreendimento, considerando a proximidade do local à Aracaju capital
do Estado.
Dentre as principais empresas instaladas na região durante o período estudado
pode-se destacar a Cimento Sergipe S/A; a NITROFERTIL (Fertilizantes Nitrogenados
do Nordeste), atual FAFEN, responsável pela produção de amônia e uréia; e a usina São
José do Pinheiro (ampliada) que produz açúcar cristal, álcool etílico de cana hidratado e
melaço.
A FAFEN foi projetada para produzir naquele momento 907 t por dia de amônia,
dentre estes 638 t foi destinado para a produção de 1100 t de uréia e as 269 t restantes
destinadas às indústrias da região. A uréia a ser produzida foi programada para ser
absorvida pelo mercado nordestino e o excedente da produção seria destinado ao Centro
Sul do país. Além dos já citados ela produz também ácido nítrico, gás carbônico e
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hidrogênio e desde 2014 está produzindo sulfato de amônio que é largamente
empregado no cultivo de milho, cana-de-açúcar e algodão.
Conforme o discurso de jornais e noticiários, além de gerar na economia divisas
decorrente da diminuição de importação e aumento da renda municipal proveniente da
arrecadação de impostos, também seria gerado postos de empregos diretos e indiretos
que beneficiaria a população do município de Laranjeiras.
Como obra de infraestrutura prometia-se alavancar a economia a partir da
construção de uma adutora para captação de água no rio São Francisco ligando o
sistema de abastecimento de Aracaju; reparo e manutenção do sistema de transporte
ferroviário Aracaju x Porto de Aratu na Bahia; além da criação de novos
empreendimentos aumentando a disponibilidade de emprego.
A primeira fábrica de cimento do Grupo Votorantim construída em Sergipe foi
a Companhia de Cimento Portland de Sergipe SA. Naquele momento, instalada na
cidade de Aracaju, bairro América, nas proximidades da ferrovia para facilitar o
escoamento da produção. O local de instalação da fábrica, apesar de estar afastado do
centro da cidade, apresentava uma população considerável em função de ali está
instalada desde a década de 1920 a Casa de Detenção de Aracaju e atrair parentes dos
presidiários, além de outras pessoas, que não tinham condições financeiras para residir
em outro local.
Segundo Oliveira (2008) a instalação de uma unidade fabril no bairro criou a
expectativa de geração de emprego e melhoria de vida da população, o que de fato não
se efetivou. Além do fato de que a poluição superou os benefícios decorrentes da
geração de empregos.
Com a ampliação da fábrica e a duplicação da produção em 1971, ocorreu o
aumento de poluição atmosférica com sérias conseqüências para a saúde da população e
o meio ambiente.
Diante desses problemas ambientais, surgiram grupos organizados que
questionavam a presença da Fábrica de Cimento Portland no município de Aracaju. Os
frades da Paróquia de São Judas Tadeu atuaram na mobilização da população para
cobrar a erradicação dos danos ambientais. Contudo, havia a preocupação com a
preservação dos postos de emprego.
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Entretanto, só após a construção de outra unidade fabril do mesmo grupo no
município de Laranjeiras em 1983, denominada Cimento Sergipe S/A (CIMESA) foi
possível a desativação da fábrica de Aracaju, contrariando os interesses da população
que desejava a transferência da fábrica e a manutenção dos postos de emprego. Segundo
Oliveira “para o Grupo Votorantim era economicamente mais viável dar início a um
novo empreendimento – usufruindo dos incentivos fiscais do Estado e da SUDENE – do
que transferir a antiga fábrica mantendo a razão social” (2008, p. 103).
A escolha do local para a instalação do novo empreendimento ocorreu
principalmente em função da existência de reservas de calcário, principal matéria prima
utilizada na linha de produção, além da proximidade da BR 101, BR 235 e da ferrovia,
de fundamental importância para o escoamento de seus produtos. De acordo com Silva
(2004) esta unidade representava o maior empreendimento do Grupo Votorantim no
Nordeste constituindo-se como base das exportações brasileiras da companhia devido às
proximidades do porto com a América do Norte e a Europa uma vez que seus principais
clientes no exterior são os Estados Unidos e o Canadá.
A CIMESA produz a cimento da marca Poty sendo que seus principais tipos são:
Cimento Portland, composto utilizado como argamassa de revestimento para
assentamento de tijolos e azulejos, concreto armado e pré-moldado, e de
concreto do solo-cimento;
Cimento Portland para poços de petróleo;
Cimento Portland tipo exportação;
Cimento Portland pozolânico utilizado em redes de esgoto de águas servidas ou
industriais, águas do mar e alguns tipos de solos.
Dados do Sindicato Nacional da Indústria de Cimento confirmam que Sergipe
ocupa o quarto lugar na produção de cimento Portland no Brasil e o primeiro no
Nordeste.
Outra atividade industrial que se destaca no município de Laranjeiras é a
realizada na usina São José do Pinheiro, que é o mais antigo empreendimento industrial
localizado no Vale do Continguiba, e sua origem remonta a época da instalação dos
antigos engenhos na região. A criação da usina decorre de incorporação de outros
engenhos e de propriedades menores pelo então engenho São José de propriedade da
família Franco, durante a década de 1950. A situação de desequilíbrio durante os anos
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de 1960 faz com que muitos pequenos proprietários vendessem suas propriedades para
os usineiros, passando a condição de trabalhadores nessas propriedades.
Segundo Santos (2004), a perda de preço do açúcar no mercado internacional
por um lado e a crise do petróleo por outro proporcionava o investimento na produção
de álcool através da criação do Programa Nacional do Álcool, PROALCOOL, em 1975.
Com incentivos fiscais oriundos do programa, em especial a partir da década de 1980,
há uma acentuada concentração de terras e o consequente fortalecimento do grupo.
A empresa atua no mercado com a produção de açúcar e melaço; a partir da safra
de 1980/1981 inicia a produção de álcool anidro e hidratado; e em 2010/2011 passa a
produzir energia termoelétrica a partir do processamento da biomassa da cana de açúcar.
A usina possui importante participação na economia do município, ocupando uma área
significativa. (Figura 02)
Figura 02 – Fotografia aérea da Usina São José do Pinheiro
Fonte: http://www.usjp.com.br/institucional.aspx, acesso em 08/12/2015.
As atividades industriais tiveram participação significativa na transformação
socioespacial do município de Laranjeiras, entretanto, os aspectos sociais e ambientais
não refletem o ideário de possibilidades que vem atrelado ao processo industrial.
De acordo com as informações obtidas durante o estudo ficou evidente que
houve uma grande expectativa da população em relação à melhoria de vida através da
geração de emprego e renda. Entretanto no decorrer do tempo constatou-se que apenas
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durante a fase da construção civil predominou a absorção de mão-de-obra local, porém,
à medida que o empreendimento entrou em processo operacional ocorreu a
predominância de trabalhadores da cidade de Aracaju, muitos dos quais oriundos dos
estados da Bahia e de Alagoas, restando à população local e dos municípios vizinhos, os
postos serviços de limpeza, conservação e apoio.Todos relacionados a atividades
terceirizadas.
Outro ponto a ser observado remete-se a atuação do poder público, no tocante a
aplicação de recursos obtidos mediante a arrecadação de impostos que contrasta com o
alto índice de violência, decorrente em parte, da situação de miséria em que parte
considerável dos habitantes se encontra. Estes índices refletem na má distribuição de
rendas, onde há 18,6% de domicílios com renda per capta de até um quarto de salário
mínimo e 9% dos domicílios sem rendimentos (censo 2010). Também é importante
frisar que o índice de analfabetismo da população é de 15,7% de acordo com o censo
2010.
A poluição atmosférica gerada pelas indústrias se constitui em outro grave
problema para comunidades periféricas que ficam no entorno dos empreendimentos
como pode ser observado com o povoado Tramandaí localizado nas proximidades da
CIMESA.
No caso da FAFEN, apesar de serem observadas medidas de segurança no
sentido de evitar acidentes, há o risco de ocorrências que possam resultar em prejuízo
para o meio ambiente, como foi observado com o vazamento de amônia que ocorreu em
2010, com consequências para a comunidade de pescadores.
Algumas ações, no sentido de minimizar os impactos negativos, vêm sendo
desenvolvidas por entidades a exemplo do SINDIPETRO, que atua junto às
comunidades, no sentido de conscientizar moradores quanto a observação e
reivindicação de seus direitos. Outro ponto a ser destacado refere-se à atuação do
Instituto Casa Operária, organização dos próprios funcionários da FAFEN que
contribuiu com a qualificação de mão-de-obra destinada a prestação de serviços
indispensáveis ao funcionamento do empreendimento.
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4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo aponta possibilidades para realização de trabalhos futuros que
venham a ampliar o leque de reflexões e ações de planejamento capazes de assegurar a
utilização de recursos, além de despertar na comunidade a necessidade de desenvolver
ações que resultem em melhorias para a mesma.
O que se pode observar é que a partir da década de 1970, no município de
Laranjeiras, a produção industrial teve significativo destaque, considerando a
implantação de algumas empresas de médio porte a exemplo da NITROFERTIL
(Fertilizantes Nitrogenados do Nordeste), atual FAFEN, a CIMESA, e a Usina São José
do Pinheiro, as quais se estabelecem com o discurso de geração de emprego e
crescimento regional, mas que na prática estão a serviço do capital, portanto, mantém a
condição de desigualdade.
A presença de empresas de médio porte em uma determinada região pressupõe a
necessidade de instalação de uma rede de prestadores de serviços, fornecedores de
matérias primas e materiais diversos, além de clientes que se utilizarão desses produtos
como matéria prima para a indústria de transformação. Este contexto ocorreu em
Laranjeiras, para garantir o funcionamento das fábricas, com menor custo de produção,
ampliando as possibilidades de lucro das fábricas.
Segundo Gomes “a acumulação ampliada do capital é a meta de todo capitalista
e os meios para atingi-la são justificáveis dentro da ética do capital”. (1991, p. 47). O
que fica evidente nesta afirmação é que na lógica do empreendimento capitalista os
“fins justificam os meios”, ou seja, para atingir os objetivos estabelecidos não será
observado nenhum princípio que rege a natureza nem respeitados os anseios das
comunidades ora envolvidas.
O enfoque do tema abordado refere-se ao processo de transformações ocorridas
no espaço do vale do Baixo Cotinguiba, município de Laranjeiras, no estado de Sergipe,
após a implantação de grupos empresariais que atuam no ramo industrial, que apesar de
trazer no seu conteúdo ideológico toda uma perspectiva de desenvolvimento pautado na
redução das desigualdades, redunda em mero crescimento econômico.
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