O POVO XOKLENG - CADERNO PARA A SEMANA DOS POVOS INDÍGENAS DE 2005

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AMIGA E AMIGO!O caderno para a Semana dos Povos Indgenas de 2005 tem, como tema central, a histria, a luta e a vida de um povo indgena de Santa Catarina. O nome Xokleng foi dado a este povo por no-ndios, enquanto Laklan o nome que eles do a si mesmos. Laklan significa, em sua lngua, gente ligeira, ou gente do sol, ou povo do sol. Para entender melhor o encontro conflituoso, entre colonizadores e indgenas, estamos propondo um desafio especial: pense com seus amigos e amigas, na escola ou na comunidade, sobre a seguinte frase: A mesma histria tem vrios lados, cada lado tem a sua verso, cada verso tem a sua verdade. Vale a pena dar uma olhada mais de perto na verso dos Laklan e na verdade que esta verso tem. Esta reflexo poder contribuir para a reconciliao mtua e para a justia.SEMANA DOS POVOS INDGENAS 2005 Coordenao: Conselho de Misso entre ndios - COMIN Informaes: Professores/as e alunos/as Xokleng: Alair Ngamun Patte, Abrao Kovi Patte, Nacau Gakran, Carli Caxias Popo, Genice Fiamoncini, Zilda Pripra, Jos Cuzugn Ndili, Neuton Calebe Vaipo, Aristides Faustino, Keli Regina Caxias, Berenice Ndili, Vilma Couvi Patte, Maria Kula Patte, Crendo Camlem, Pa. Cledes Markus e Diretora Abigail Benzi Elaborao: Hans A. Trein, Edla Brinckmann, Maria Dirlane Witt, Cludio Becker, Valquria dos Santos, Arteno Spellmeier, Edson Ponick, Valdemar Schultz, Marta Nrnberg da Silva, Ivan Vieira Diagramao, Ilustraes e Capa: Ivan Vieira Fotografias: Valfrid Schnrock, Cledes Markus, Frank Tiss Reviso: Joo Artur Mller da Silva Impresso: Con-Texto Grfica e Editora Realizao: COMIN em parceria com Departamento de Catequese e Departamento Nacional para Assuntos da Juventude da Igreja Evanglica de Confisso Luterana no Brasil Apoio Financeiro: Igreja Evanglica Luterana da Baviera (ELKB) e Snodo Centro-Sul-Catarinense Tiragem: 35 mil exemplares

SumrioApresentao ......................................... 2 O povo Xokleng ...................................... 3 O desaparecimento dos peixes ............... 3 A lngua como parte da riqueza de um povo ......................... 4 Alimentao do povo Xokleng ................ 5 Bolo de milho verde ................................ 6 A arte de aprender com a vida ................ 7 Para refletir com a turma ...................... 822

Cuidados com a sade ............................ 9 Uma escola diferente ............................ 10 Pacificao XOKLENG ou resistncia LAKLAN? ................ 12 Discutir aproximando ........................ 16 Para continuar pensando ................... 17 Economia Xokleng .............................. 18 Mito Xokleng ...................................... 22 Para saber mais ............................... 23

O POVO XOKLENGOs Xokleng vivem no Vale do Itaja, situado a leste do estado de Santa Catarina. Nesse vale, encontram-se magnficas cachoeiras, o clima mido e, no vero, faz muito calor. Antes da chegada dos colonizadores europeus, o vale era um local rico em pinheirais, lagos com peixes, animais silvestres e uma enorme variedade de frutas e plantas. Com a chegada dos colonizadores, iniciou o sofrimento e a extino desse povo. Verdadeiras batalhas e chacinas aconteceram entre ndios e no ndios, em funo da posse das terras. Em 1904, aconteceu um massacre que matou 230 ndios, na maioria mulheres e crianas, provocando medo, desespero e fome entre os Xokleng. A explorao da madeira, por madeireiros, deixou os Xokleng na misria. Houve um tempo em que funcionaram mais de 40 madeireiras, trabalhando noite e dia. O resultado do desmatamento foi a destruio dos enormes pinheirais. Sem a mata, tambm os animais desapareceram da regio. Com isso, o povo ficou sem o pinho, peixes e frutos que eram seu principal alimento. Atualmente, vivem em torno de 1750 ndios na terra indgena de Laklan.Jussara Ndilli Monconm

O DESAPARECIMENTO DOS PEIXESA histria abaixo foi contada por um menino Xokleng. Ela expressa a saudade do passado, quando era possvel pescar e comer muito peixe.

Antigamente, quando era pequenino, me lembro que, um dia vov e eu fomos pescar de faco pela beirada do rio. Naquele dia ns matamos muitos peixes, traras e tambm cascudos, porque o rio era bem raso. Agora bem fundo. Por isso no tem mais peixes no rio, quando os brancos vieram, acabaram com eles. Fizeram a barragem e assim os peixes foram embora, procurar outro lugar mais raso do rio. Agora, ns ficamos na saudade e com vontade de comer peixe.Texto extrado do livro, Nosso Idioma Reviveu, p.233

A LNGUA COMO PARTE DA RIQUEZA DE UM POVOSubstitua os smbolos pelas letras e descubra algumas informaes importantes sobre a vida dos Xokleng.

A Sabendo disso, os

uma das grandes riquezas de um povo. esto fazendo um importante , ndio Xokleng, incentivado pe-

trabalho de revitalizao da sua lngua e da sua cultura. los idosos do seu povo e orientado por estudiosos das lnguas, comeou a dedicar-se ao estudo da lngua de seu povo. Bem preparados, os nam, alm do portugus, a lngua Xokleng. A lngua Xokleng pertence famlia lingstica por grande parte do seu povo, resistindo ao contato com o mundo branco. Com a migrao para a cidade, as indgenas passam a estudar nas escolas do municpio, e deixam de aprender a lngua Xokleng. e ainda faladaValdfrid Schnrock/ Arquivo Comin

Xokleng ensi-

Veja uma pequena amostra da lngua do povo Xokleng.Eloizabel Vakla Cabral

A CUTIA

o: , taliza Revi nova vida d a. or que revig que

A cutia muito bonita, mora na gruta das pedras. Ela gosta de comer milho; e quando acha, leva para seus filhotes comerem juntos.

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ALIMENTAO DO POVO XOKLENGA professora Xokleng Genice escreve sobre as mudanas que ocorreram na alimentao. Ela tambm conta o que o povo Xokleng preserva at os dias atuais. Os Xokleng, antigamente, no tinham hora para alimentar-se e sua alimentao era tirada diretamente da natureza: animais, peixes, razes e frutos.Os Xokleng continuam protegendo os animais silvestres. O veado, a capivara, a cutia e o tatu no so caados.

A principal fonte de alimentao era a caa, e essa atividade continua presente atualmente, mas o arco e a flecha foram substitudos pela espingarda.

Hoje as frutas nativas colhidas da natureza so poucas. As que existem so protegidas pela comunidade. Algumas rvores frutferas so cultivadas para consumo prprio, mas muitas frutas so compradas em feiras ou supermercados.

Entre os Xokleng, permanece a cultura do preparo dos alimentos, e todo o trabalho na cozinha feito pelas mulheresValdfrid Schnrock/ Arquivo Comin

Antigamente havia muitos pinheiros, e o pinho era usado de diferentes formas. Algumas pessoas o assavam em cima do fogo, outras o socavam no pilo e faziam sopa, ou comiam com carne. Hoje precisam comprar o pinho para com-lo.

MarileiaDesenho de criana Xokleng Publicao Nosso Idioma Reviveu

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Bolo de milho verdeUm dia, eu e minha me fomos buscar milho verde na roa para ralar. E trouxemos bastante no balaio. Minha me ralou e fez um bolo na folha de cait. Ela colocou na cinza e quando assou, ns comemos. Quando o milho est seco, minha me torra, soca no pilo, e ns comemos com peixe e carne. At agora, a me soca milho no pilo.(GAKRAN, Nambl (Org.). Nosso Idioma Reviveu. So Leopoldo: COMIN. p.17)

Atualmente, os Xokleng realizam as refeies em horrios estabelecidos: Pela manh, o caf, onde servido po, bolo, bolacha ou alguma coisa salgada. No almoo, ao meio-dia, a alimentao variada e come-se carne frita, cozida ou assada, feijo, arroz, macarro, verduras e a comida tradicional, o tutol. tarde, costuma-se fazer um lanche, e a janta variada.

O tutol feito de farinha de milho, gua e uma pitada de sal. Os ingredientes so colocados numa panela. Deixa-se ferver por dez minutos, mexendo de vez em quando.

As palavras abaixo, esquerda, so da lngua Xokleng. Organize as letras direita e voc encontrar a respectiva palavra em portugus.Valdfrid Schnrock/ Arquivo Comin

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Respostas: milho, pilo, peixes, rio, veado, cutia

A ARTE DE APRENDER COM A VIDAUma das coisas bonitas que podemos aprender com os indgenas o modo como o conhecimento vai passando de uma gerao para a outra. tambm na escola da vida que as pessoas vo construindo o seu conhecimento. Um pouco dessa experincia, ns podemos perceber no texto ao lado, escrito por Jussimara Nmbla. Quando era pequenina, vi minha vov fazendo uma panela de argila. Ento, pedi para ensinar-me como se faz. Ela me explicou, dizendo: Minha filha, primeiro voc pega a argila e amassa bem, e faz a panela. Depois de pronta, deixe secar por um tempo. Quando estiver seca, queime junto com folhas secas de coqueiro. Depois de queimada, alise bem com uma pedrinha, e assim a panela estar pronta para assar. Fiquei muito contente. Agora j sei como fazer panela. Quando crescer e tiver filhos, quero ensinar.(GAKRAN, Nambl (Org.). Nosso Idioma Reviveu. So Leopoldo: COMIN. p.32)

Valdfrid Schnrock/ Arquivo Comin

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PARA REFLETIR COM A TURMAMaterial 1/2 kg de argila para cada grupo Jornais Desenvolvimento A pessoa que coordena l o texto abaixo: Refletindo... Na histria da Jussimara, ns podemos perceber como os saberes vo sendo compartilhados entre os Xokleng. A panela de argila, descrita na histria, lembra-nos que na panela que se prepara o alimento para o sustento. Entre o povo Xokleng, no costume acumular bens ou alimentos. Se algum tem demais divide e partilha com os outros do grupo. As pessoas no-ndias podem aprender com os Xokleng o exerccio da partilha. Formar grupos com at cinco pessoas. Cada grupo recebe 1/2 kg de argila e folhas de jornal. O grupo molda uma panela com a argila. Depois de moldarem a panela, as pessoas refletem sobre o texto que foi lido, fazendo um paralelo entre a partilha exercida entre os Xokleng e a situao de fome que atinge tantas pessoas no Brasil.8

No final, faz-se um grande crculo e cada grupo apresenta a sua panela, colocando-a no centro. Compartilha tambm a reflexo feita. Logo depois, cada pessoa convidada a dizer uma frase ou uma palavra que expresse um desejo de vida melhor para todas as pessoas. Depois de secas, expor as panelas em diversos lugares da escola. A imagem das panelas pode servir de smbolo para lembrar que a partilha entre o povo Xokleng um bonito exemplo a ser seguido.

CUIDADOS COM A SADEOs cuidados com a sade do povo Xokleng tambm mudaram. No passado, os casos de doena eram tratados com chs. Para cada tipo de doena, existia um ch especfico. Atualmente, os Xokleng continuam valorizando e usando os chs. Cada aldeia tem um agente de sade, e todo o povo atendido por mdicos que vo s aldeias. Os remdios so comprados com o auxlio do governo.Famlia Xokleng Valdfrid Schnrock/Arquivo Comin

Complete os espaos com o nome das plantas ao lado e descubra para qual doena o seu ch usado.

_ _ _ _ _ _ _ _ _ : gripe, asma, reumatismo ebronquite.

_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ : calmante e purificador de sangue.

_ _ _ _ _ _ _ _ : anemia, tosse, diabete, dorno fgado. _ _ _ _ : tero, bexiga e asma. _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ : calmante e para tirar manchas da pele. _ a _ a _ _ _ _ : calmante e combate insnia.9

UMA ESCOLA DIFERENTEOs povos indgenas viveram sculos sem escola. Sua educao se dava em famlia e na comunidade. Desenvolveram uma forma de passar o seu conhecimento para as prximas geraes, sem a instituio escolar com seus professores, horrios de aula e contedos concentrados. Mas, a escola est chegando tambm, como mais uma forma de educao. A escolarizao entre o povo Xokleng iniciou na dcada de 40 com um professor do Servio de Proteo aos ndios. A primeira turma tinha em torno de 50 crianas. A inteno era ensinar a ler, escrever, fazer clculos e repassar valores e condutas da sociedade brasileira. Essa escola no era diferenciada e tinha o objetivo de anular a cultura indgena e substitu-la pelo que se entendia ser a cultura brasileira. Na dcada de 80, os Xokleng participaram do movimento nacional por uma educao escolar diferenciada, que acabou sendo assegurada na Constituio de 1988. Cada povo tem o direito garantido por lei, de organiz-la, tanto em contedos como tambm na forma, de acordo com a sua cultura. Cada povo tem o direito de falar e ensinar a sua lngua, de manter e reproduzir suas formas prprias de viver e pensar, seus modos prprios de transmitir conhecimentos. Chama-se isso de Educao Escolar Diferenciada.

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Valdfrid Schnrock/ Arquivo Comin

A partir da o idioma xokleng passou a reviver. Na escola, as crianas aprendem a falar e escrever na lngua Xokleng e em portugus. Histria e arte se estuda a partir do ponto de vista das experincias feitas pelo prprio povo com participao das pessoas idosas. Matemtica considera o jeito de lidar com nmeros, quantiEscola Xokleng da Palmeira dades, adio e multiplicao da prpria cultura. Cincias considera o conhecimento que os Xokleng possuem da natureza e de seu mundo. Os professores/as so Xokleng, ensinam em duas lnguas e elaboram o material didtico. Tem alguns estudando em universidade e uma pessoa fazendo mestrado em lingstica. Atualmente temos duas grandes escolas funcionando na Terra Indgena, de 1 a 8 srie. A educao escolar diferenciada um espao para o exerccio indgena da autonomia e expresso de sua identidade.

Cestaria Xokleng Jovens na Escola Xokleng

Valdfrid Schnrock/ Arquivo Comin

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PACIFICAO XOKLENG OU RESISTNCIA LAKLAN?A histria dos Xokleng vem de longe. Dominavam boa parte da rea da floresta situada entre o litoral e a encosta do planalto catarinense, desde as proximidades de Porto Alegre/RS at Curitiba/PR. Atualmente, suas terras localizamse no Alto Vale do Itaja. O contato com os colonizadores provocou o extermnio de grande parte do povo e a desorganizao de um sistema harmnico, exigindo ao longo dos anos, a reorganizao dos que resistiram. Atualmente fala-se na comemorao dos 90 anos de pacificao. Porm, quando conhecemos um pouco da histria do povo Xokleng surgem dvidas quanto a esta pacificao. Afinal, quem foi pacificado, os ndios ou os no-indgenas? Vejamos um pouco deste processo ao longo dos 90 anos.Fonte: SANTOS, Slvio Coelho dos; ndios e Brancos no Sul do Brasil. FLORIANPOLIS: EDEME,

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Com a chegada dos colonizadores europeus (alemes, italianos, poloneses, ucranianos) a partir de 1850, os Xokleng perceberam que eram vigiados e que tentavam atra-los. Logo tiveram acesso a diversos objetos deixados pelos trilhos por onde passavam, como machados, foices, cobertores... deixados pelos no-indgenas os brancos desconhecidos. Os materiais de ferro logo foram incorporados aos seus instrumentos de caa e de guerra. A aproximao com os colonizadores exigiu dos nativos uma mobilizao para defender seus territrios, sendo liderados entre outros por ndios Cov e Vomble. Por volta dos anos 1914, aconteceram contatos mais intensos com os colonizadores, s margens do Rio Itaja, na foz do Rio Plat, pelo sertanista1 Eduardo de Lima e Silva Hoerhan (citado como o pacificador) e seu grupo. Com estes contatos pretendia-se reduzir os indgenas a uma determinada rea, na Laklan. Certa vez, Hoerhan, que falava a lngua indgena, atravessou nu e desarmado uma clareira para confraternizar com os Xokleng. Com estas aproximaes a pacificao estava dada na imaginao dos no-indgenas. No entanto, para os Laklan, eles que estavam conseguindo amansar os chamados pacificadores. Logo, o poder das armas em conflitos entre os indgenas e os no-indgenas comeavam a diminuir. Cov Patt, ndio que apertou a mo do branco, certa vez disse: Meus amigos ndios! Assim como eu peguei na mo deste homem branco, assim os filhos dos filhos de vocs iro fazer mais..1

Qual das trilhas leva o indgena at os objetos?

Sertanista, pessoa que conhece bem o serto. Indigenista.13

Bugreiros e suas vtimas Acervo SCS in: Slvio Coelho dos Santos, Os ndios Xokleng Memria Visual

No entanto, ainda que dada uma aproximao, a matana de ndios pelos bugreiros continuava. Esta prtica implantada pelo projeto de colonizao reduziu um povo numeroso a cerca de 200 pessoas, na maioria crianas e mulheres.

Vejamos o depoimento de um bugreiro sobre a atividade que desenvolvia:...pela boca da arma. O assalto se dava ao amanhecer. Primeiro, disparavase uns tiros. Depois passava-se o resto no fio da faco. O corpo que nem bananeira, corta macio. Cortavam-se as orelhas. Cada par tinha preo. s vezes, para mostrar, a gente trazia algumas mulheres e crianas. Tinha que matar todos. Se no, algum sobrevivente fazia vingana. Quando foram acabando, o governo deixou de pagar a gente. A tropa j no tinha como manter as despesas. As companhias de colonizao e os colonos pagavam menos. As tropas foram terminando. Ficaram s uns poucos homens, que iam em dois ou trs pro mato, caando e matando esses ndios extraviados. Getulio Vargas j era governo, quando eu fiz uma batida. Usei Winchester. Os ndios tavam acampados num groto. Gastei 24 tiros. Meu companheiro, no sei. Eu atirava bem.Esta citao foi retirada do livro Os ndios Xokleng: Memria Visual. Florianpolis: Ed. da UFSC; Ed. da UNIVALE, 1997

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Em conseqncia do projeto colonizador, aos poucos os Xokleng, dizimados em sua maioria, foram deixando seu habitat natural, reforando um processo de sedentarizao, (conforme narrativa de Prof. Carli Caxias Pop): Existiu um tempo de fartura e de partilha. Tempo em que ao rudo das selvas se misturavam o canto dos guerreiros, o choro das crianas novas e o barulho das construes das aldeias, sem gado e sem cercas. Dois tempos: um onde tudo de bom acontecia, e outro, em que se rompeu o equilbrio entre as pessoas e a natureza. O templo sagrado das florestas profanado por guerras, machados, cercas, madeireiros, patas de boi, militares, religiosos... Porque existiu um tempo de inocncia, agora se conhece e se sofre com o que veio. Por isso, hoje os Xokleng lutam por sua terra, onde esto enterrados seus antepassados, vtimas de massacres, guerras, bugreiros ou da morte comum. Sonham com a terra coberta de matas. Por isso lutam e aperfeioam a Arte de Resistir.

No incio do sculo XX, o Servio de Proteo aos ndios demarcou uma rea de 37.000 hectares. Em 1984, a FUNAI Fundao Nacional do ndio diminuiu a rea para 14.000 hectares. Na dcada de 1970 foi construdo um sistema de barragens para evitar as cheias nas cidades de Blumenau e Itaja. A Barragem Norte foi construda dentro da Terra Indgena e significou a perda de 90% da rea de produo agrcola de feijo, milho, arroz, batata, mandioca...

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Discutir aproximando Descubra com seus pais ou avs, o que eles sabem ou lembram sobre acolonizao, a relao entre indgenas e no-indgenas ser que os Laklan contariam esta histria da mesma forma?

Em nossos dias, como no-indgenas e indgenas podem resolver problemas comuns de conflitos por causa de terras, sem que um dos lados seja prejudicado?

JOGO DOS 7 ERROS

Pelo jogo dos 7 erros podemos perceber que a realidade pode ser constituda a partir de diferentes pontos de vista. Feito o exerccio voc saberia determinar qual a fotografia verdadeira?16

Cledes Markus/Arquivo Comin

Em pequenos grupos, crie uma encenao resgatando a histria (passado), o tempo vivido hoje (presente) e possibilidades de conciliao (futuro). Ao final, refletir sobre as cenas e as impresses dos grupos sobre as discusses e apresentaes realizadas.

Para continuar pensandoO exemplo de resistncia do povo Laklan um convite para a gente querer saber mais sobre outros povos indgenas. Uma idia bem legal, seria reunir a turma para pesquisar sobre a vida e a cultura indgena de sua regio. Com o resultado da pesquisa, organize uma mostra com o material recolhido. No esquea! Fotos, cartazes, pratos tpicos e artesanato so recursos bacanas e muito importantes, que podem ajudar a enriquecer ainda mais a mostra de vocs.

CONTINUE A ESTRIA EM QUADRINHOS ABAIXO E CONSTRUA UM FINALPARA ESTA PARTIDA DE FUTEBOL

Valdfrid Schnrock/Ivan Vieira

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ECONOMIA XOKLENGAntigamente o povo indgena Xokleng, era nmade por todo o sul do Brasil, vivendo da coleta de alimentos nativos, principalmente de pinho, mel, frutos, folhas, caa e pesca, aproveitava tudo aquilo que a mata lhes proporcionava. No entanto, no incio do sculo XX, foi confinado por agentes do Servio de Proteo ao ndio (SPI), numa rea de 37.000 hectares. Essa foi a primeira interveno em seu sistema sociocultural e em sua economia de reciprocidade. O que antes era realizado por grupos extensos, sendo a produo e o consumo feitos em regime de cooperao, passou a ser realizado para o sustento prprio de cada famlia. Entretanto, refizeram-se como pequenos agricultores, produzindo largos excedentes entre as dcadas de 1930 a 1970. A criao da rea indgena pelo SPI no garantiu o direito ao uso exclusivo. Continuaram as invases e ocupaes, TERRA INDGENA acordos com madeireiras e LAKLAN XOKLENG decretos do estado de Santa Catarina, o que significou a diminuio gradativa, e oficial da Vale lembrar rea. Em 1984, a FUNAI Funque dos anos 30 dao Nacional do ndio, rgo que aos anos 60 substituiu o SPI, realizou uma nova dedo sc. XX marcao apenas 14 mil hectares. Esta os Xokleng nova ao do governo diminuindo a rea indgechegaram a ser na, foi a segunda interveno de impacto na ecograndes produtores nomia do povo Xokleng. de milho .

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Frank Tiss/ Arquivo Comin

Em meio a este processo, o extinto Departamento Nacional de Obras de Saneamento construa um sistema de barragens com a inteno de evitar as cheias em cidades do mdio e baixo Itaja, principalmente Blumenau e Itaja. A Barragem Norte, iniciada em 1972 e concluda em 1992, foi construda dentro da Terra Indgena e significou a perda de 90 % da rea de produo agrcola de feijo, milho, arroz, batata, mandioca... que entrementes, tinha se tornado o esteio principal da economia indgena. A Barragem Norte, com sua bacia de conteno de 850 hectares, foi a terceira grande interveno desestruturante da economia e sobrevivncia Xokleng. Com a construo da barragem, sem um estudo de impacto ambiental e sem medidas de indenizao ou qualquer projeto de reestruturao da economia indgena, intensificou-se o desmatamento de espcies nativas como cedro, peroba, ip, canela, sassafrs... A justificativa era de que as guas da barragem cobririam todo solo. Com o desmatamento aconteceu a diminuio significativa da populao de animais nativos, como o bugio, a anta, a capivara e o veado. Em poca de cheias, a Barragem Norte causa inundao de estradas de acesso Terra Indgena Laklan, o que, alm de prejudicar a locomoo dos indgenas tambm acelera o processo de eroso e desbarrancamento das encostas. As guas, muito profundas e barrentas, ocasionam o desaparecimento do cascudo e da carpa. CAA PALAVRAS: Ache seis palavras relacionadas com a economia Xokleng no quadro abaixo.

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Com as perdas de roas, animais e casas provocadas pelos alagamentos, os Xokleng tiveram que subir as encostas dos morros. No entanto, as terras so inadequadas para a prtica agrcola por causa da acidez e o declive. Outro problema que a atividade agrcola realizada nas encostas tem srios impactos ambientais. Problemas como estes exigiram uma rearticulao da comunidade indgena que comeou a fazer diversas reivindicaes. Em 1992, o governo estadual de Santa Catarina assumiu a dvida para com o povo Xokleng, referente aos danos causados pela Barragem Norte. Assinou um protocolo de intenes, relacionando diversas aes compensatrias. A construo de 144 casas, 37 km de estradas e a instalao da rede de energia eltrica at o presente momento no foram suficientes para que os Xokleng pudessem reorganizar a sua economia. Atualmente, eles sobrevivem do feitio e comercializao de artesanato e da agricultura de subsistncia com plantaes de milho, feijo, arroz, aipim, abbora, amendoim, verduras, frutas e criao de pequenos animais: galinhas, patos e porcos.

Os Xokleng, em parceria com entidades governamentais e no-governamentais, esto desenvolvendo um programa de etno-sustentabilidade para reorganizar sua economia. Atravs deste programa pretendem reestruturar a sustentabilidade de toda a comunidade, revitalizar a cultura Xokleng e o meio ambiente da mata atlntica. Desenvolvero plantio de mudas frutferas, cultivo do mel, plantas ornamentais e agricultura de subsistncia.20

Valfrid Schnrock/ Arquivo Comin

Desafio aos grupos Qual a base da economia em nossa regio? Ela guia-se por critrios de desenvolvimento sustentvel? Dica: Esta atividade pode relacionar-se com atividades no Dia Mundial do Meio Ambiente, em 5 de junho. Enumere os smbolos existentes na ona de acordo com sua representao:

1- Reciclvel 2- Feminino 3- Inflamvel 4- Corrosivo 5- Amor 6- Radiao 7- Masculino 8- Resduo hospitalarQuantos nmeros sobraram da lista acima? E quantos smbolos foram localizados na ona pintada?21

MITO XOKLENG Dizem que quando Deus estava criando o mundo, na hora de fazer a ona, pediu auxlio para os Xokleng. Deus pediu que eles pintassem a ona. Assim, um gruDesenho de criana Xokleng Publicao Nosso Idioma Reviveu po comeou a fazer crculos na ona, outro grupo fez crculos fechados, outro fez traos e os outros restantes fizerem os trs smbolos ao mesmo tempo. Desde aquele dia Deus disse que as marcas da ona seriam as marcas do povo Xokleng. Cada grupo ficaria com o smbolo que havia pintado na ona. Nas festas o povo deveria se pintar com o seu smbolo. Os casamentos seriam entre pessoas com marcas diferentes.Este mito foi transmitido por Nambl Gakran que ouviu dos avs.

Desenho de criana Xokleng Publicao Nosso Idioma Reviveu

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... PARA SABER MAIS...PESQUISA NA INTERNETConselho de Misso entre ndios disponibiliza o material de pesquisa deste caderno para sala de aula: www.comin.ong.org Instituto Socioambiental disponibiliza informaes atualizadas sobre povos indgenas do Brasil: www.socioambiental.org Conselho Indigenista Missionrio disponibiliza informaes atualizadas e posicionamentos frente poltica indigenista do governo: www.cimi.org.br Disponibilizam informaes sobre o povo Xokleng, entre outros: 1. Fundao Regional de Blumenau (FURB): www.furb.br 2. Universidade Federal de Santa Catarina: www. ufsc.br Pesquisando na web (Indgenas) Xokleng h aproximadamente 550 referncias e Laklan aproximadamente 20 referncias ao povo Laklan/Xokleng.

VDEOS (CONFIRA NAS LOCADORAS) Brincando nos Campos do Senhor, de Hector Babenco, EUA, 1991, 187 min. - Condor Vdeo A Misso, de Roland Joff - ING, 1986, 121 min. - Distr. Flashstar. Dana com Lobos, de Kevin Kostner - EUA, 1990, 128 min. - Abril Vdeo/ Hollywood. Laklanon (Povo do Sol) Sobrevive Resgate da Cultura Xokleng - Org. Prof. Nmbl Gakl. Disponvel para emprstimo no COMIN.

LIVROSNosso Idioma Reviveu Nambl Grakan (Org.) Impressora Mayer Ltda. Pomerode/SC, 1999. ndios e Brancos no Sul do Brasil A dramtica experincia dos Xokleng Silvio Coelho dos Santos Movimento, Porto Alegre/RS, 1987. Os ndios Xokleng Memria Visual - Silvio Coelho dos Santos Editora UFSC e Univale, 1997. Esta terra tinha dono B. Prezia e E. Hoornaert CEHILA POPULAR CIMI FTD - S.Paulo/SP, 3a ed., 1992. A temtica indgena na escola Novos Subsdios para professores de l0 e 20 Graus A. Lopes da Silva e Lus D.B. Grupioni - MEC, MARI e UNESCO, Braslia/DF, 1995. A Terra dos Mil Povos Histria Indgena do Brasil contada por um ndio Jecup, Kak Wer - Fundao Petrpolis, S. Paulo/SP, 1998. Prticas Pedaggicas na Escola Indgena Aracy Lopes da Silva, Mariana Kawall Leal Ferreira (Org.) So Paulo: Global, 2001.

Comin: Conselho de Misso entre ndios - Caixa Postal 14 CEP 93001-970 - So Leopoldo/RS - Tel./fax: (51) 590-1440 E-mail: [email protected] / www.comin.ong.org Departamento de Catequese: Caixa Postal 14 - CEP 93001-970 - So Leopoldo/RS Tel.: 51-5924491 - E-mail: [email protected] Departamento Nacional para Assuntos da Juventude: Cx. P. 191 - CEP 930001-970 - So Leopoldo/RS Tel.: (51)5914295 - E-mail: [email protected] / www.juventude.ieclb.org.br 23