O PLANEJAMENTO REGIONAL COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL

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AS REDES DE RELAÇÕES: O PLANEJAMENTO REGIONAL COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL ESTUDO SOBRE CIDADES DOS VALES DO JEQUITINHONHA, MUCURI E RIO DOCE MINAS GERAIS, BRASIL. B. L. BARBOSA 1 , F. J. M. de LIMA 2 RESUMO O presente trabalho visa levantar as relações existentes, as relações em potencial e algumas possibilidades e diretrizes para a efetivação do planejamento pensado sobre uma rede de cidades. A área, escolhida para tal reflexão e proposta, se insere no nordeste de Minas Gerais e consiste em um recorte de municípios pertencentes aos vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, que já possuem certo nível de relação intrarregional. As questões aqui discutidas referem-se às atividades econômicas, turísticas e principalmente culturais deste recorte. A proposta apresentada configura-se em uma rede organizada de municípios que, através do planejamento regional e do fortalecimento dos fluxos entre eles, visa o desenvolvimento urbano conjunto, onde as especificidades locais são respeitadas e consideradas. Esta proposta de articulação é feita através de diretrizes gerais de administração e facilitação de trocas entre os municípios, além de propor equipamentos relacionados à produção local de alguns dos núcleos urbanos envolvidos. O trabalho se insere nas atividades do grupo de pesquisa Urbanismo em Minas Gerais com o apoio da CAPES, CNPQ e FAPEMIG. 1 APRESENTAÇÃO O presente trabalho visa levantar as relações existentes, as relações em potencial e algumas possibilidades e diretrizes para a efetivação do planejamento pensado sobre uma rede de cidades, diante da possibilidade das cidades se desenvolverem na forma de municípios centrais onde os serviços e equipamentos se concentram, ou na condição de rede de cidades, onde a cooperação traz o desenvolvimento conjunto. A área escolhida para tal reflexão e proposta se insere no nordeste de Minas Gerais e consiste em um recorte de municípios pertencentes aos vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, que já possuem certo nível de relação intrarregional. As questões aqui discutidas referem-se às atividades econômicas, turísticas e principalmente culturais deste recorte. A proposta apresentada configura-se em uma rede organizada de municípios que, através do planejamento regional e do fortalecimento dos fluxos entre eles, visa o desenvolvimento urbano conjunto, onde as especificidades locais são respeitadas e consideradas. Esta proposta de articulação é feita através de diretrizes gerais de administração e facilitação de trocas entre os municípios, além de propor equipamentos relacionados à produção local de 1 Afiliação: Pesquisadora colaboradora do Grupo Urbanismomg da Universidade Federal de Juiz de Fora ; [email protected] 2 Afiliação: Professor, coordenador do Grupo Urbanismomg da Universidade Federal de Juiz de Fora ; [email protected] * Esta pesquisa foi desenvolvida durante o Trabalho Final de Graduação da então acadêmica Bárbara Lopes Barbosa, intitulado As redes de relações: O Planejamento Regional como Estratégia para o Desenvolvimento Local, no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, sob orientação do Prof. Antônio Agenor Barbosa e co- orientação do Prof. Fabio Jose M. de Lima que me acompanha nesta abordagem.

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O planejamento pensado regionalmente como forma de colaboração com a melhoria das vidas das cidades de pequeno porte como é o caso desta rede de cidades – nos Vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce em Minas Gerais.

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AS REDES DE RELAÇÕES: O PLANEJAMENTO REGIONAL COMO

ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO LOCAL – ESTUDO SOBRE

CIDADES DOS VALES DO JEQUITINHONHA, MUCURI E RIO DOCE – MINAS

GERAIS, BRASIL.

B. L. BARBOSA1 , F. J. M. de LIMA

2

RESUMO

O presente trabalho visa levantar as relações existentes, as relações em potencial e algumas

possibilidades e diretrizes para a efetivação do planejamento pensado sobre uma

rede de cidades. A área, escolhida para tal reflexão e proposta, se insere no nordeste

de Minas Gerais e consiste em um recorte de municípios pertencentes aos vales do

Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, que já possuem certo nível de relação intrarregional.

As questões aqui discutidas referem-se às atividades econômicas, turísticas e

principalmente culturais deste recorte. A proposta apresentada configura-se em uma rede

organizada de municípios que, através do planejamento regional e do fortalecimento dos

fluxos entre eles, visa o desenvolvimento urbano conjunto, onde as especificidades locais

são respeitadas e consideradas. Esta proposta de articulação é feita através de diretrizes

gerais de administração e facilitação de trocas entre os municípios, além de propor

equipamentos relacionados à produção local de alguns dos núcleos urbanos envolvidos. O

trabalho se insere nas atividades do grupo de pesquisa Urbanismo em Minas Gerais com o

apoio da CAPES, CNPQ e FAPEMIG.

1 APRESENTAÇÃO

O presente trabalho visa levantar as relações existentes, as relações em potencial e algumas

possibilidades e diretrizes para a efetivação do planejamento pensado sobre uma

rede de cidades, diante da possibilidade das cidades se desenvolverem na forma de

municípios centrais onde os serviços e equipamentos se concentram, ou na condição de

rede de cidades, onde a cooperação traz o desenvolvimento conjunto. A área escolhida

para tal reflexão e proposta se insere no nordeste de Minas Gerais e consiste em um

recorte de municípios pertencentes aos vales do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, que já

possuem certo nível de relação intrarregional. As questões aqui discutidas referem-se às

atividades econômicas, turísticas e principalmente culturais deste recorte. A proposta

apresentada configura-se em uma rede organizada de municípios que, através do

planejamento regional e do fortalecimento dos fluxos entre eles, visa o desenvolvimento

urbano conjunto, onde as especificidades locais são respeitadas e consideradas. Esta

proposta de articulação é feita através de diretrizes gerais de administração e facilitação de

trocas entre os municípios, além de propor equipamentos relacionados à produção local de

1 Afiliação: Pesquisadora colaboradora do Grupo Urbanismomg da Universidade Federal de Juiz de Fora ; [email protected] 2 Afiliação: Professor, coordenador do Grupo Urbanismomg da Universidade Federal de Juiz de Fora ; [email protected] * Esta pesquisa foi desenvolvida durante o Trabalho Final de Graduação da então acadêmica Bárbara Lopes Barbosa,

intitulado As redes de relações: O Planejamento Regional como Estratégia para o Desenvolvimento Local, no curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora, sob orientação do Prof. Antônio Agenor Barbosa e co-orientação do Prof. Fabio Jose M. de Lima que me acompanha nesta abordagem.

alguns dos núcleos urbanos envolvidos. O trabalho se insere nas atividades do grupo de

pesquisa Urbanismo em Minas Gerais com o apoio da CAPES, CNPQ e FAPEMIG.

O trabalho se coloca como continuidade das atividades desenvolvidas durante o curso de

Arquitetura e Urbanismo da UFJF da Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Além

das disciplinas cursadas, vale mencionar a vinculação aos grupos de pesquisa Urbanismo

em Minas Gerais e Grandes Projetos Urbanos e, particularmente a pesquisa final durante a

disciplina “Trabalho Final de Graduação 1 e 2”, do referido curso de Arquitetura e

Urbanismo. No âmbito dos grupos mencionados se colocam atividades de pesquisa e

extensão relacionadas com o urbanismo e o planejamento urbano, com aproximações sobre

comunidades e realidades distintas, bem como incursões em acervos documentais. O

enfoque aqui exposto envolveu pesquisa sobre referenciais bibliográficos, visitas locais

com entrevistas e levantamentos nas secretarias e instituições locais do município de

Capelinha/MG, ponto de partida do trabalho, e pesquisas em órgãos e institutos de

planejamento, como a Fundação João Pinheiro, em Belo Horizonte, entre outros acervos.

Este referencial permitiu desenvolver propostas de diretrizes de intervenção no recorte

regional aqui apresentadas.

O artigo aborda inicialmente, a questão da escala regional e os problemas urbanos, em

seguida a constituição das redes urbanas. No seguimento o enfoque sobre o recorte

regional com prioridade para a área de estudo, relacionada com o município de Capelinha e

a definição das diretrizes de planejamento que buscam a integração entre os municípios

para o fortalecimento da região, estabelecendo um recorte regional que mescle as divisões

espaciais estabelecidas por questões físicas, econômicas, sociais e culturais, de forma a

criar uma rede de cooperações em diversos aspectos do desenvolvimento urbano e rural,

através do planejamento conjunto. Por fim, algumas considerações que não se interrompem

nesta abordagem.

2 INTRODUÇÃO

2.1 A ESCALA REGIONAL E OS PROBLEMAS URBANOS

[...] como observa Offner (2000), atualmente convivem dois tipos de

sistema urbano - o sistema de localidades centrais, com regiões

formadas no entorno dos centros, e o sistema reticular, em que a

cidade funciona como nó de uma rede mundial. Especialmente em

um país como o Brasil, marcado por profundas desigualdades de

renda e de acesso a mercados consumidores, a rede urbana divide-se

entre uma arquitetura clássica desenhada pelos fluxos materiais -

muitas vezes limitada aos níveis hierárquicos mais elementares para

parcela significativa da população (CORRÊA, 1996) – e os pontos

inseridos nas redes globais, mais dinâmicos economicamente. (IBGE

– Regiões de Influência das cidades 2007)

A organização espacial dos lugares na forma de sistema de localidades centrais é uma

evidência das regiões metropolitanas. Os centros regionais e cidades de entorno, que

geralmente ficam muito dependentes destes, podem tornar-se, muitas vezes, cidades

dormitório, posicionando-se como apoio àquele centro. Entretanto, este núcleo central

pode fazer parte de uma rede maior, ou seja, ser um ponto inserido nas redes globais. Isto

pode acontecer quando o acesso aos serviços para suprir as necessidades de uma população

são encontrados somente neste núcleo regional, fazendo com que o entorno fique a mercê

do que o pólo centralizador lhe oferece.

A expansão sem planejamento dos núcleos urbanos brasileiros atinge principalmente os

maiores centros, aumentando assim os problemas habitacionais, de infraestrutura básica, de

inserção social, entre outros. Isto ocorre pelo fato de não conseguirem antecipar e ajustar-

se na mesma velocidade em que o crescimento acontece. O acesso aos bens de consumo

coletivos, que constituem o direito à cidade, acaba por não ser cumprido pela falta de

administração de políticas públicas. A relação existente entre os grandes centros e

pequenos municípios, anteriormente destacada, potencializa estes problemas, já que a

convergência de demandas nos grandes centros torna ainda mais precário o acesso aos bens

e serviços disponíveis à população. É neste momento que é possível perceber que a falta

de articulação entre as cidades de pequeno porte pode ser uma das principais causas do

aumento desta condição de dependência quase absoluta.

O planejamento regional e cooperativo pode contribuir para amenizar esta situação, dando

melhores condições não somente aos pequenos municípios, mas também aos grandes

centros, que podem ter seus serviços menos saturados.

O planejamento trabalhado regionalmente tem inicio entre 1950 e 1964, de forma

incipiente, e insere-se, a princípio, nos grandes centros, devido ao crescente processo de

urbanização e consequente conturbação com a metropolização das grandes cidades. Em

Minas Gerais a questão regional comparece também neste período, assim,

[...] a visão de planejamento voltada para a cidade e sua região viria

com a própria ampliação da complexidade dos problemas urbanos.

Em Belo Horizonte, a proposta da criação de um Serviço do Plano

Diretor, veio em 1951, junto à administração de Renê Américo

Giannetti. Já no final dos anos 1950, o processo de metropolização

que perpassa o desenvolvimento da Capital do Estado, torna

necessária a aglutinação de outros olhares, além da visão de

engenheiros e de arquitetos. Assim teremos estudos

interdisciplinares, como foram aqueles desenvolvidos para Belo

Horizonte pela Sociedade para Análise Gráfica e Mecanográfica

Aplicada aos Complexos Sociais - SAGMACS, estudos estes

encomendados pela prefeitura em 1958. Esta pesquisa com foco

sobre a estrutura urbana de Belo Horizonte serviu para a

fundamentação do Plano Diretor de- senvolvido pela mesma

SAGMACS, em 1961. (LIMA : 2010)

Nos anos 1980, os princípios do planejamento estratégico de caráter competitivo entre as

cidades se inserem. Na citação abaixo, Pedro Novais, ao tratar o tema planejamento

estratégico no capítulo: Competitividade, Estratégia e Políticas Urbanas de seu livro,

esclarece a questão do funcionamento das cidades neste sistema de planejamento e

desenvolvimento urbano.

[...] Da empresa privada assimilam-se lógicas e técnicas até então

estranhas à administração pública. Apelou-se, com frequência, para

sua eficiência e para a objetividade, flexibilidade e eficácia de suas

decisões, apontando como padrão a ser perseguido. Ter a empresa

como parâmetro sugeria gerir a cidade como a iniciativa privada, do

que resultava uma mudança na forma da ação governamental e nos

seus resultados tangíveis: a maneira como está institucionalizado o

processo decisório determina quais objetivos e temas têm condições

de emergir na agenda política. (OFFE,1975). A referência à empresa

também foi fundamental na concepção e afirmação do planejamento

estratégico em cidades. A óptica que assinalava a abrangência

planetária da empresa contemporânea ao ser adotada no

planejamento de cidades, demandava que as unidades urbanas

fossem concebidas em relação de concorrência. (NOVAIS, 2010. P.

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Além disso, a emergência do planejamento em escala regional no Brasil esteve, desde o

princípio, ligada à evolução histórica do federalismo no país. Maria Regina Nabuco, em “A

(des)institucionalização das políticas regionais no Brasil”3, destaca a necessidade, desde o

princípio, de acomodação dos interesses políticos e econômicos das elites políticas

regionais e locais, o chamado “coronelismo”, presente até hoje na administração pública

brasileira.

Hoje existe uma ampliação da organização em rede, graças às transformações decorrentes

das novas e mais eficientes formas de comunicação. Não se trata de disseminar funções

dentro de uma área, mas sim que as cidades trabalhem suas necessidades em forma de

rede, onde os nós nunca são totalmente semelhantes, levando-se em conta as

especificidades locais. Para tal análise, é necessário partir das possibilidades de relações

interestaduais, inter-regionais e intermunicipais, do grau de influência e da abrangência das

relações já existentes.

Os consórcios intermunicipais têm sido apresentados como os exemplos mais claros de

políticas de desenvolvimento regional que podem contribuir para fazer convergir interesses

de municípios – uma construção coletiva de interesses – permitindo melhorias conjuntas. A

possibilidade de uma ação articulada está prevista na Constituição de 1988. No art. 23 em

parágrafo único, consta que: “Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre

a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios , tendo em vista o equilíbrio do

desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional.(Redação dada pela Emenda

Constitucional nº 53, de 2006)”. Em complemento, a Lei 11.107/2005, dispõe sobre a

implantação e funcionamento dos consórcios públicos.

Na Constituição de 1988, também está determinado que os estados podem, mediante lei

complementar, instituir regiões metropolitanas e aglomerações urbanas como instâncias

administrativas, as quais, apesar de instâncias administrativas estaduais, têm regime

jurídico próprio, possuindo, portanto, um órgão gestor diferenciado.

Na prática, quando existentes, os consórcios têm sido firmados, em sua maioria, tendo em

vista políticas específicas de saneamento, transporte, saúde, e, em poucos casos,

relacionados à administração e planejamento comuns.

2.2 AS REDES URBANAS

3 A (des)institucionalização das políticas regionais no Brasil. NABUCO, Maria Regina. etc, espaço, tempo e crítica. Revista Eletrônia de

Ciências Humanas e Sociais e outras coisas. 15 de Setembro de 2007, n° 2 (6), vol. 1

O IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – realiza, desde 1966, um estudo

acerca das relações entre os municípios brasileiros. No inicio tratava-se de um estudo sobre

a Divisão do Brasil em Regiões Funcionais Urbanas, e hoje este estudo é conhecido como

REGIC – Regiões de Influência entre as Cidades. Esta análise tem como objetivo conhecer

os relacionamentos entre as cidades brasileiras com base na análise dos fluxos de bens e

serviços. Através da pesquisa de campo, o REGIC permite vislumbrar os diferentes tipos

de centros gestores e a relação entre estes municípios integrantes deste campo.

A definição destes centros classificados pelo IBGE segue alguns quesitos, como:

Subordinação administrativa no setor público federal, gestão federal; Localização das

sedes e filiais de empresas, gestão empresarial; Oferta de equipamentos e serviços:

Informações de ligações aéreas, deslocamento para atendimentos hospitalares, áreas de

cobertura das emissoras de TV, oferta de ensino superior, diversidade de atividades

comerciais e serviços bancários, presença de domínios de internet, entre outros.

Depois de definidos os principais centros da rede urbana, que são os principais nós da rede,

a análise passa para a definição das regiões de influência destes centros. É importante

salientar que nesta classificação alguns municípios localizados em regiões menos

adensadas, devido a fatores demográficos e econômicos, apresentam indicativos de

centralidades mais fortes que outros em regiões mais adensadas, assumindo na hierarquia

um nível de centralidade mais elevado.

Mapa 1: Relações entre os ESTADOS BRASILEIROS. Fonte: IBGE - Regiões de

Influência das Cidades [2007].

Ao analisar a rede de influências dentro do estado de Minas Gerais, tomando como base o

Mapa 2 apresentados abaixo, é possível notar as diferentes relações das regiões de Minas

Gerais entre si e com relação aos demais estados. Nota-se uma clara dispersão dos raios na

região mais a norte e nordeste do Estado.

O Vale do Jequitinhonha, principalmente, região situada no nordeste do território de Minas

Gerais, como mostra o mapa 4, carrega o estigma de ser uma região miserável. Estigma

baseado no lento desenvolvimento em questões materiais dos municípios da região, que

compõe os paradoxos formados por esta pobreza e a riqueza cultural existente no Vale.

Assim, justifica-se a diminuição das redes de influência quando se considera esta região do

estado, visto que o levantamento elaborado pelo IBGE no REGIC baseia-se em fluxos

materiais e de interesse mercadológico, principalmente. Da mesma forma, as regiões do

Vale do Mucuri e Rio Doce também possuem uma diminuição de fluxos materiais,

principalmente na divisa entre estes três vales.

Mapa 2: Rede de influência dos centros de Minas Gerais com ênfase no pólo de Belo

Horizonte. Fonte: IBGE [2007] Regiões de Influências das cidades. Acesso em: março

de 2011.

Mapa 3: Divisão das Mesorregiões de Minas Gerais. Fonte: Base do IBGE, desenhista

BOSCARIOL, A.C.

Uma peculiaridade importante que merece menção é que, se comparada às outras regiões

do estado, a região destacada, do Vale do Jequitinhonha, Mucuri e Rio Doce, em sua maior

parte, mostra-se formada por municípios com grande extensão territorial, e, por isso, com

núcleos urbanos distantes entre si. O afastamento físico acaba por dificultar a relação de

cooperação entre estes municípios.

Voltando à análise para a comparação das regiões do estado, as cidades mais próximas da

zona de maior fluxo representada no Mapa 2 tendem a conter maior disponibilidade de

serviços e equipamentos. Ou seja, quanto mais localizadas ao sudeste do estado, maior o

vínculo estabelecido entre as cidades e maior a capacidade de atendimento às necessidades

da população.

A definição de região pode suscitar diversas interpretações e não é objetivo deste trabalho

questionar a definição correta para um conceito tão complexo. A priori, este texto busca

definir um espaço enquanto região, e, para isto, trabalha as dependências entre municípios,

suas particularidades e semelhanças, para chegar enfim em um recorte regional que possa

ser trabalhado através de estratégias de planejamento e rede de relações, fluxos e trocas.

3 O RECORTE REGIONAL – ÁREA DE ESTUDO

O primeiro passo para o desenvolvimento deste trabalho foi uma visita de campo para

coleta de informações em diferentes órgãos e instâncias do município de Capelinha/MG,

que se situa no Vale do Jequitinhonha, muito próxima da divisa entre os três Vales,

Mucuri, Rio Doce e Jequitinhonha. Esta visita foi tomada como prioridade, visto que, para

se especular qualquer intervenção ou diretriz de planejamento, é necessário um diagnóstico

com o máximo de informações, ainda que este diagnóstico baseie-se na percepção empírica

do espaço, depoimentos dos agentes envolvidos e observação da dinâmica local.

As principais bases de dados foram pesquisas já realizadas na região, como da Fundação

João Pinheiro, em Belo Horizonte, dados de institutos de pesquisa, como o IBGE, e nas

secretarias municipais e empresas publicas do município de Capelinha especificamente,

como EMATER, Cooperativas de Crédito Rural, Secretarias de Saúde e Obras, e o Plano

Diretor da cidade, que permite uma análise regional importante para o trabalho. O material

levantado é em grande parte qualitativo, por se tratar de dados já trabalhados nos projetos e

planos analisados, além de conclusões tiradas pelos entrevistados envolvidos nas áreas

administrativas e de pesquisa. Os materiais estudados serão citados posteriormente.

Foi possível notar este potencial de expansão de relações na produção rural, principalmente

de café e eucalipto, e nas características e bens culturais, de patrimônios materiais, móveis

e imóveis, além da riqueza em patrimônios naturais, que não são aproveitadas pelos

municípios pela falta de recursos financeiros. Porém, esta dificuldade, quando trabalhada

em âmbito regional, pode ser amenizada com diferentes estratégias de cooperação

intrarregional.

Para se chegar a uma classificação de núcleos que poderiam servir como matriz para o

desenvolvimento de ações foram feitos alguns levantamentos relacionados à relação entre

os municípios dentro dos quesitos econômicos, culturais e dependência por equipamentos

públicos de saúde e educação.

A primeira classificação foi feita tomando por base dados estatísticos e demográficos do

IBGE, delimitando assim as principais cidades próximas à região eleita para o estudo, e

após este momento, as demais cidades que formariam o recorte.

Por exemplo, na classificação do IBGE, Capelinha é considerada Centro de Zona “A”

através do REGIC4 (que significa que ela exerce influência nos centros locais de seu

entorno e que sofre influência direta da metrópole – Belo Horizonte). Assumindo-se a

semelhança entre os municípios da região, Capelinha aparece como pólo centralizador,

4 REGIC – Região de Influência entre as cidades. Instituto de Geografia e Estatística Brasileiro.

integrando as cidades do entorno imediato, assim como Diamantina aparece como pólo

centralizador de maior abrangência, integrando um maior número de cidades, que também

foram listadas. A hierarquia neste caso funciona da seguinte forma:

Água Boa,

Angelândia,

Belo Horizonte Capelinha Aricanduva,

Minas Novas e

Setubinha

Mapa 4: Zona de influência de Capelinha, segundo REGIC - IBGE 2007. Fonte:

Elaborado por BARBOSA, B. a partir de base cartográfica e informações do IBGE

Ao se tratar das relações existentes, a cultura regional ganha destaque dentre os demais

aspectos. As tradições, costumes, crenças e produtos com características peculiares do

povo da região, apesar de não receberem a atenção necessária, formam um patrimônio

repassado por muitos anos e que deve ser lembrado como grande movimentador da

economia, tendo como base o turismo. Esta análise, portanto, objetivou ultrapassar as

relações apresentadas pelo REGIC, por buscar valorizar as relações que são mais

peculiares a essa região. Assim, é neste momento que os levantamentos qualitativos e

empíricos, buscados junto aos representantes dos poderes públicos, empresas publicas e

pesquisadores da região, se fez mais necessário.

Voltando ao exemplo de Capelinha, a feira livre que se realiza no mercado municipal aos

sábados conta com uma enorme variedade de produtos, que inclui, além dos gêneros

triviais, artesanato em cerâmica, madeira, palha, taquara, couro, fumo de rolo, cachaça,

carnes variadas e muitos outros artigos e objetos produzidos principalmente pelos

moradores da zona rural de Capelinha e de municípios adjacentes. Visitantes de inúmeros

lugares vêm à cidade em busca de tais artigos, que não são encontrados em outras regiões.

Bares e restaurantes servem pratos da culinária local, dando ainda mais vitalidade a este

espaço de experimentação cultural.

Outros pólos de efervescência cultural e geradores de turismo semelhantes à feira estão em

outras cidades da região, como Diamantina e Minas Novas, com importante participação

na história do estado. Elas guardam importante acervo arquitetônico originário do ciclo da

mineração, além das tradições regionais, como festas tradicionais e, mais especificamente

nestas duas cidades, o carnaval. O artesanato em cerâmica é produzido principalmente nas

cidades de Carbonita, Minas Novas, Araçuaí, Berílo, entre outras (todas as cidades

inseridas no recorte dos Vales do Mucuri, Jequitinhonha e Rio Doce – MG), entrando

também como um elemento turístico com grande potencial, visto que esta produção já é

bastante conhecida, inclusive em âmbito nacional.

Além disso, existe a singularidade e beleza das manifestações culturais da região, como

festas, grupos de música e dança, produtos, dentre outras, que formam um conjunto que se

configura na autêntica cultura popular brasileira.

Há um estudo que trata especificamente deste aspecto, no “Plano de desenvolvimento

Integrado do Turismo Sustentável do Pólo Turístico do Vale do Jequitinhonha – PIDTS”,

da Fundação João Pinheiro, no qual se faz um levantamento detalhado destas questões e

especificam-se algumas diretrizes a este respeito. Destaca-se a importância que deve ser

dada ao patrimônio ligado ao modo de viver e fazer do povo pertencente ao Vale do

Jequitinhonha.

Para a delimitação espacial, buscou-se destacar os municípios que já se relacionam por

questões comerciais, dependência por equipamentos de saúde, educação, entre outros, e

ainda a facilidade de acesso, ou por semelhanças e trocas culturais. Foi determinada então

uma possível região de planejamento destacada no Mapa 5, que pode sofrer mutações, de

acordo com o interesse de cada município. Portanto, não caracteriza um limite exato,

somente municípios com uma potencial facilidade de relação com os demais.

Mapa 5: Criação do recorte região de influências com base nas relações já

estabelecidas entre os municípios. Fonte: Elaborado por BARBOSA, B. a partir de

base cartográfica do IBGE.

3. DIRETRIZES DE PLANEJAMENTO

A priori, este trabalho busca a integração entre os municípios para o fortalecimento da

região, estabelecendo um recorte regional que mescle as divisões espaciais estabelecidas

por questões físicas, econômicas, sociais e culturais, de forma a criar uma rede de

cooperações em diversos aspectos do desenvolvimento urbano e rural, através do

planejamento conjunto.

Serão levantadas aqui apenas algumas das possibilidades e oportunidades de interação

entre os municípios destacados, bem como melhorias nas soluções já existentes para

alcance do mesmo objetivo. As intervenções foram divididas em “Ações para o

Planejamento Regional – MACRO e MICRO”.

Considerando as ações de planejamento com abrangência MACRO, para que a rede de

cidades tenha suas medidas apoiadas nas necessidades coletivas efetivamente, a primeira

diretriz busca integrar as ações das instituições, a fim de consolidar a gestão do

Planejamento Regional com a participação popular. Dentro disto, as ações prioritárias são a

criação de uma ou mais comissões consultivas para assuntos relacionados às políticas de

desenvolvimento regional – Comissão de Assuntos Regionais – e a capacitação, elaboração

e implantação de planos diretores nos municípios em questão que ainda não possuem a lei.

Muitas das medidas levantadas podem ser consolidadas através de consórcios entre os

municípios, entre outros instrumentos ainda não explorados.

Com relação às questões ambientais, visto o constante aumento da monocultura do

eucalipto na região, foi proposto o desenvolvimento de ações que visem à educação

ambiental e à recuperação dos biomas da mata atlântica e cerrado da região, além da

promoção de políticas públicas de saneamento ambiental e infraestrutura para os

municípios da área urbana e rural, através da criação de uma legislação ambiental que

cobre ações compensatórias das empresas que contribuem com esta degradação ambiental.

Para que o fluxo entre os municípios aconteça, é necessário buscar soluções para a

infraestrutura, almejando a maior acessibilidade entre os municípios da rede dos três vales

e desta com as demais regiões do estado de Minas Gerais. Para isto, as medidas prioritárias

concentram-se na melhoria das condições dos acessos rodoviários, relacionados ao

calçamento, na manutenção da vegetação adjacente às vias, acostamentos, no incentivo à

implantação de equipamentos de uso condizente, na melhoria do atendimento do transporte

público, na melhoria dos aeroportos em municípios de maior fluxo e na maior exploração

do potencial dos aeroportos já equipados.

No que se refere às questões econômicas, foram colocadas diretrizes no sentido de

incentivar a produção alimentícia como opção de sustento familiar, incentivando também a

diversificação de culturas de alimentos associadas à monocultura existente de forma

sustentável, e o fortalecimento do associativismo voltado para a produção e

comercialização da produção rural. Assim, torna-se necessária a criação de políticas

públicas que facilitem a venda dos produtos na região, consultorias técnicas para indicação

dos melhores investimentos na produção rural e acesso facilitado ao crédito, além de dar

condições ao produtor de acesso à água.

Quanto às ações para o Planejamento Regional – MICRO foram propostos alguns

equipamentos com o intuito de incentivar o desenvolvimento dos municípios. Pensando na

relação entre o ensino e a cultura, foi colocado um Centro de Pesquisa e Extensão do

Patrimônio Cultural Regional, tomando por base a existência da Universidade Federal dos

Vales do Jequitinhonha e Mucuri, com pólos de atuação em três cidades do recorte da Rede

dos Três Vales. A proposta tem como um dos objetivos a aproximação do aprendizado

acadêmico com as práticas e conhecimentos populares, e ainda o reconhecimento da

história local através da oralidade popular. Assim, ela se constitui em um Centro de

Pesquisa e Extensão voltado para o conhecimento e manutenção da cultura regional. Para a

instalação deste equipamento, foram proposta as sedes em Diamantina, por ser o principal

polo da UFVJM e ainda ponto referencial de cultura e patrimônio da região, e em Minas

Novas, por já haver na cidade uma organização dos artesãos na forma de associações, além

de sua importância na história do estado como um todo e no surgimento de núcleos

urbanos na região.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No desenvolvimento deste trabalho, algumas questões foram tratadas por vezes

superficialmente, mas ainda assim merecem ser ressaltadas como “nós” essenciais para o

entendimento geral da proposta e pelas abordagens mais específicas feitas.

Fica então ressaltada a importância da multidisciplinaridade para a abordagem do tema

aqui discutido, relacionado ao planejamento como um todo e, em especial, à questão do

espaço regional. Principalmente por parte dos arquitetos e dos profissionais de outras áreas

envolvidas no planejamento regional, é necessário um maior aprofundamento do debate e

encarar o pensamento acerca do espaço macro, que é o regional, como uma medida que

pode antecipar as soluções dos problemas locais, o espaço micro.

Muitas dificuldades foram encontradas na abordagem temática que não está presente, ou é

tratada de forma extremamente superficial, na maioria dos referenciais existentes, quando

se trata de planejamento urbano no Brasil. Este é o caso do Estatuto da Cidade, que

regulamenta o ordenamento territorial do país com grande ênfase na organização

municipal, e, por consequente, os materiais daí provindos.

Isto se deve também ao fato de não existir organizações regionais no Brasil, sendo,

portanto, as questões e soluções tratadas nos âmbitos municipal, estadual e federal. Nota-se

que, na tentativa de refazer um recorte regional, as divisões existentes desconsideram

muitas relações, sendo, portanto, possível e positivo que rearranjos sejam feitos para

melhor atender às necessidades e parcerias entre municípios. Assim, as regiões se

sobrepõem de acordo com as necessidades particulares de cada aliança feita.

Dentro das diretrizes apontadas, a organização administrativa é colocada como questão

primordial para que o planejamento regional aconteça. O recorte regional dos três vales,

Mucuri, Rio doce e Jequitinhonha serve como exemplo para um prática que pode ser

aplicada em muitas outras realidades e regiões brasileiras. Entretanto, muitas dificuldades

podem ser encontradas na aplicabilidade destas diretrizes, desde a dificuldade de uma

administração neutra, até o contorno sobre os interesses particulares de cada município e a

relação de concorrência ainda muito presente entre cidades de mesmo porte ou vizinhas.

A cultura regional é apontada como elo entre as cidades, sendo um possível vinculo para a

valorização dos produtos desenvolvidos em cada município. A efetivação de diretrizes aqui

apontadas pode trazer melhorias na qualidade de vida dos moradores da cada sítio, assim

como trazer para as vistas de quem não faz parte daquela região uma parte da cultura

brasileira que geralmente não é notada.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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