O impacto da violência escolar sobre o aprendizado dos alunos
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Vânia de Morais Lima Cortez
O IMPACTO DA VIOLÊNCIA ESCOLAR SOBRE O APRENDIZADO DOS ALUNOS
Maringá 2012
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Vânia de Morais Lima Cortez
O IMPACTO DA VIOLÊNCIA ESCOLAR SOBRE O APRENDIZADO DOS ALUNOS
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, apresentado ao Curso de Pedagogia, como requisito parcial para cumprimento das atividades exigidas na disciplina do TCC. Coordenação: Profa. Drnda. Aline Frollini Lunardelli Lara Orientação: Profa. Dra. Ivana Veraldo
Maringá 2012
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Vânia de Morais Lima Cortez
O IMPACTO DA VIOLÊNCIA ESCOLAR SOBRE O APRENDIZADO DOS ALUNOS
BANCA EXAMINADORA
______________________________________________
Profa. Dra. Ivana Veraldo
______________________________________________
Profa. Mestre Leila Pessoa Costa
______________________________________________
Prof. Dr. Raymundo de Lima
Data da Aprovação
Maringá ___ de _______ 2012
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Dedico este trabalho em especial
ao meu marido, José Cortez Filho,
aos meus filhos, Letícia e Igor,
pelo apoio, incentivo dedicados a
mim durante o período de
realização do curso.
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AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar ao meu DEUS amado e Nossa Senhora, que em todos
os momentos está a frente dos meus passos, pelas bênçãos e graças derramadas
sobre minha família e sobre mim.
Agradeço ao meu Marido José e aos meus Filhos Letícia e Igor, por todo amor,
dedicação, apoio, carinho e incentivo que me deram e por terem acreditado em mim.
Aos meus Pais, Maria Helena e Manoel, fico muito agradecida por todo apoio e
incentivo durante a trajetória do curso.
Agradeço aos docentes do curso, que contribuíram para minha formação
profissional, principalmente aqueles que fizeram a diferença ao dividirem seus
conhecimentos.
As amigas de turma, que na troca de experiências me deram a oportunidade de
conhecê-las e descobrir o quanto cada uma é especial, e as amigas de trabalhos em
grupo que compactuamos os saberes adquiridos na academia, no decorrer dos
anos. Agradeço também a Eliana que concluiu o curso em 2010.
Agradeço a Professora Ivana Veraldo, pela importante contribuição e ajuda que me
dedicou durante a realização desse trabalho de formação acadêmica.
Muito Obrigada a todos que acreditaram em mim e na concretização desse sonho!
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"Não é possível refazer este país, democratizá-lo,
humanizá-lo, torná-lo sério, com adolescentes brincando
de matar gente, ofendendo a vida, destruindo o sonho,
inviabilizando o amor. Se a educação sozinha não
transformar a sociedade, sem ela tampouco a sociedade
muda. " Paulo Freire
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CORTEZ, Vânia Morais Lima. O impacto da violência da escolar sobre o aprendizado dos alunos. Maringá, 2012. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Estadual de Maringá.
RESUMO
O objetivo deste Trabalho de Conclusão de Curso (TCC, Pedagogia, 2012) é realizar uma reflexão sobre o impacto da violência escolar sobre o aprendizado dos alunos. Já existem variadas pesquisas acerca do fenômeno da violência escolar, principalmente abordando suas causas, externas e internas à escola; porém, existem poucos estudos que avaliam concretamente de que forma a repetição de episódios de violência no ambiente escolar contribui para o fracasso escolar. Nossa pesquisa é essencialmente bibliográfica e tem a intenção de reunir os resultados já existentes sobre esse tema para que possamos vislumbrar as consequências para a qualidade do ensino. Procuramos identificar também, a existência de projetos de combate à violência escolar que tenham como foco a melhoria do aprendizado dos alunos.
Palavras-chave. Violência escolar; Aprendizagem; Alunos.
ABSTRACT
The objective of this Final Paper (Pedagogy, 2012) is to hold a discussion about the impact of school violence on students learning. There are already various researches about the phenomenon of school violence, particularly addressing the causes, internal and external to the school, but there are few studies that evaluate specifically how the repeated episodes of violence in the school environment contributes to school failure. Our research is essentially bibliographical references and intends to bring together existing findings on this issue so we can glimpse the consequences for the quality of teaching. We also seek identify the existence of projects to combat school violence that want to improve student learning
Keywords. School violence; Learning, Students.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................ 8
CAPÍTULO PRIMEIRO
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS .................................................................................10
CAPÍTULO SEGUNDO
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS E APRENDIZADO DOS ALUNOS ..................... 14
CAPÍTULO TERCEIRO
ESTRATÉGIAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS E
APRENDIZADO DOS ALUNOS ....................................................................... 20
CONCLUSÃO ...................................................................................................... 26
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 28
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INTRODUÇÃO
Observando o dia a dia das escolas de Ensino Fundamental os atos de
violência e bullying chamam a atenção. O momento que deveria ser utilizado para o
aprendizado acaba por ser desperdiçado com agressões, interferindo no rendimento
escolar dos alunos. O clima escolar vem se tornando cada vez mais conturbado
devido ao aumento da violência nas escolas.
A violência pode ser verbal ou física, mas o fato é que os alunos que
convivem com essas situações não estão em um ambiente que lhes traga
tranquilidade e satisfação, tanto na relação com os colegas como também em
relação ao conteúdo escolar que lhes é apresentado.
Entender como a repetição da violência nas escolas interfere no processo de
aprendizagem, é um fator importante na formação do pedagogo. O papel do
profissional educador na escola, entre outros, é o de promover a aprendizagem,
planejando, executando, coordenando, acompanhando e avaliando as experiências
de relação ensino-aprendizagem que ocorrem na escola. Por isso, fatos que
interfiram nesse processo devem ser compreendidos em sua raiz e complexidade
para que possam ser enfrentados. Sem a ilusão de que os pedagogos poderão
eliminar completamente a violência das escolas, uma vez que boa parte dos seus
determinantes se localizam fora dos muros escolares, mas com a certeza de poder
contribuir para minimizar as situações de conflito.
Como a escola também é produtora de violência, é extremamente pertinente
aos pedagogos o estudo desse tema, visando a melhoria da relação ensino-
aprendizagem.
Para Guimarães (apud AQUINO, 1996, p.10), “É importante argumentar que,
apesar dos mecanismos de reprodução social e cultural, as escolas também
produzem sua própria violência e sua própria indisciplina”.
É importante também identificar projetos cujo tema seja o combate à violência
praticada no interior das escolas para que a conscientização dos estudantes e suas
atitudes possam mudar, melhorando o aprendizado escolar.
Estudos mostram que nos últimos anos a violência praticada por crianças no
ambiente escolar aumentou significativamente. Para alguns pesquisadores, ela
surgiu na década de 1980, aumentando intensamente na década de 1990.
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Para o sociólogo francês Bernard Charlot (2002, p.2) a violência existe desde
os anos de 1950 e 1960, nesta época os alunos eram grosseiros uns com os outros,
e com o passar do tempo este formato de agressividade mudou. Desta forma, não
basta que as crianças frequentem a escola, é preciso que as mesmas sejam
respeitadas, tratadas como seres individuais. O preconceito pode acontecer por todo
o corpo escolar, afetando o intelecto do indivíduo, prejudicando seu aprendizado.
Por esse motivo, alguns pesquisadores “Começam a chamar a atenção outros
aspectos, como a má qualidade do ensino e as práticas escolares, de estereótipos e
preconceitos em relação à criança pobre” (PATTO, 1987; MACHADO; SOUZA,1997
apud SILVA, 2009, p.6).
Nosso objetivo, portanto, foi verificar o impacto da violência escolar sobre o
aprendizado dos alunos. Para tanto, o presente trabalho de conclusão de curso foi
dividido em três capítulos, a fim de entender como a violência escolar afeta a
aprendizagem do aluno.
No primeiro capítulo apresentaremos o conceito de violência escolar de
autores como Vera Maria Candau; Flávia Schilling, Marilia Pontes Sposito e Bernard
Charlot. A escolha desses autores se deve ao fato de que eles discutem a violência
nas escolas tendo como ponto de partida um conceito chave: a função social da
escola pública que é a de transmitir conhecimentos sistematizados e formar
cidadãos. Ainda nesse capítulo indicaremos o modo como se manifesta a violência
dentro do ambiente escolar.
No segundo capítulo realizaremos um inventário dos estudos já realizados
sobre como as formas de violência no ambiente escolar impactam o aprendizado
dos alunos, identificando a relação entre a qualidade do ensino e a violência
praticada na escola.
No terceiro capítulo registraremos, brevemente, projetos de combate à
violência nas escolas que tenham como foco a melhoria da qualidade da relação
ensino-aprendizagem.
No final, serão apresentadas algumas conclusões sobre o estudo realizado,
indicando aos pedagogos caminhos para refletir com profundidade acerca do
impacto da violência nas escolas sobre o aprendizado dos alunos.
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CAPÍTULO PRIMEIRO
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS
Primeiro, apresentaremos como alguns autores conceituam o fenômeno da
violência nas escolas. Escolhemos aqueles que discutem a violência nas escolas
tendo como ponto de partida a tese de que a escola tem como função principal a
transmissão de conhecimentos sistematizados, contribuindo para formação do
cidadão. Esses autores nos mostram que, quando há episódios de violência nas
escolas, essas funções são abaladas. Ainda nesse capítulo, indicaremos o modo
como se manifesta a violência dentro do ambiente escolar.
Um conceito básico de violência em geral é apresentado por Marilena Chauí
(2003, p. 308), que afirma: “ em nossa cultura, a violência é entendida como violação
da integridade física e psíquica de alguém, da sua dignidade humana”. A violência
se manifesta de diversas maneiras, o que implica em resultados ainda piores para
quem é atingido.
O conceito de Chauí tem servido de base para os educadores formularem o
conceito de violência nas escolas.
Para esclarecer as formas de violência que acontecem nas instituições
escolares, Charlot (2002, p.2) nos traz três definições: a violência na escola, a
violência da escola e a violência à escola.
A primeira, a violência na escola, é a que não tem vínculo com a instituição,
ou seja, ela acontece no ambiente escolar, mas não tem relação com a educação. A
segunda, a violência da escola, consiste na relação entre a ação e o tratamento que
os estudantes suportam dos responsáveis pelo corpo da escola. Quanto a violência
à escola, a terceira forma, tem como intenção atingir a instituição escolar e as
pessoas que a representam.
Schilling (2008) também mostra diferentes formas de violência que ocorrem.
Primeiro: a violência à escola, realizada por ex-alunos que sentem que a escola é
inútil. Ela também considera violência contra a escola é quando os governantes e
gestores abandonam o prédio, quando há desvio de verbas, salários ruins, a não
valorização dos docentes, etc. Segundo: a violência da escola, que se apresenta
com todas as formas de discriminação, de não ensinar, ou seja, uma instituição sem
o compromisso com a aprendizagem, ou as ações agressivas que podem ocorrer
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entre os alunos e também com alunos e professores. Terceiro: a violência na escola
relacionada aos prédios abandonados, depredações, professores desmotivados,
roubos, furtos, agressões, ameaças e brigas. Este tipo de violência vem também de
conflitos gerados em casa ou na comunidade, no qual as crianças por serem vítimas
acabam sofrendo interferências no dia a dia da escola, assim há necessidade de
uma conexão, um elo entre professores e alunos.
Percebe-se que Charlot e Schilling possuem formas parecidas de conceituar a
violência escolar.
Vera Candau (2000 ) que também estuda esta temática, afirma que quando o
bairro tem um índice elevado de violência, acaba assustando o corpo da escola que
vem de fora, de outras localidades. É difícil chegar, entrar na escola, permanecer e
sair dela. Para Candau (2000, p. 6) “muitas vezes, tais ocorrências associadas às
agressões [...] às escolas, provocam medo, sentimento de impotência e angústia
nos(as) educadores(as)”. A autora chama a atenção para a banalização da violência
propagada pela mídia:
[...] a banalização da violência pelos veículos de comunicação, principalmente a TV, a discriminação sexual, a violência contra a mulher e contra a criança na família ou na sociedade e a agressão aos semelhantes com palavras e atitudes, por motivos banais do cotidiano. (CANDAU, 2000, p. 7).
O excerto acima mostra que a ênfase dada aos atos violentos nas instituições
escolares pela mídia, reforça a violência e, os estudantes ao perceberem o quanto é
valorizado aquele ato, tendem a gostar de aparecer na mídia e ficar em evidência.
Já os que não estão fazendo parte do noticiário, o querem fazer, é neste momento
que muitos optam por fazer atrocidades com outros alunos, professores e também
depredando os prédios escolares. Assim, as ações passam a ser situações de
normalidade pela sua frequência.
Para Sposito (1998, p. 73) a escola tornou-se violenta por não estar
respondendo mais às necessidades de aprendizagem dos alunos. Para a autora:
A violência seria apenas a conduta mais visível de recurso ao conjunto de valores transmitidos pelo mundo adulto, representados simbólica e materialmente na instituição escolar, que não mais respondem ao seu universo de necessidades.
Sposito (1998) segue dizendo que as crianças não se importam com a
alfabetização e não conseguem entender porque tem de aprender aqueles
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conteúdos que não são nada interessantes, então “[...] os alunos estão na escola,
mas são pouco permeáveis à sua ação” (SPOSITO, 1998, p. 73).
De acordo com Guimarães (1996, apud AQUINO, 1998, p. 10) há um acúmulo
de violência nas escolas, que não são apenas vindas de fora para dentro, mas
produzidas também pela escola. As instituições se apropriam do que a sociedade
produz (violência) e são transmitidas nas escolas, com autoridade e força. “É
importante argumentar que, apesar dos mecanismos de reprodução social e cultural,
as escolas também produzem sua própria violência e sua própria indisciplina”
(GUIMARÃES, 1996).
Para Aquino (1998, p. 10) não se pode afirmar que aquilo que acontece no
interior das escolas é apenas o reflexo do que ocorre fora dela. Para ele, a violência
escolar é uma adaptação da violência fora da escola, uma nova versão. Em suas
palavras:
[...] é mais do que evidente que as relações escolares não implicam um espelhamento imediato daquele extra-escolares. Ou seja, não é possível sustentar categoricamente que a escola tão-somente “reproduz” vetores de força exógenos a ela. É certo, pois, que algo de novo se produz nos interstícios do cotidiano escolar, por meio da (re)apropriação de tais vetores de força por parte de seus atores constitutivos e seus procedimentos instituídos/instituintes.
Ainda de acordo com Aquino (1998, p. 8), a escola passou a ser vista como
um campo de batalhas, no qual os educadores passaram a manifestar sua
insatisfação, ao invés de transmitir conhecimentos e difundir ideias. Para Aquino:
A imagem, entre nós já quase indica, da escola como lócus de fomentação do pensamento humano – por meio da recriação do legado cultural – parece ter sido substituída, grande parte das vezes, pela visão difusa de um campo de pequenas batalhas civis; pequenas, mas visíveis o suficiente para causar uma espécie de mal-estar coletivo nos educadores .
Para o autor, quando o indivíduo é forçado a fazer algo ou não fazer, o
mesmo está sendo violentado, está sendo forçado a contrariar suas vontades
(AQUINO, 1998, p.14). É inegável que ao executar alguma ação fora de seus
interesses o sujeito pode fazer, mas é humilhante e causa uma sensação de mal-
estar. A escola está sempre impondo atitudes comportamentais, porque não tentar
negociar algumas das normas institucionais com pais e filhos, porque a família deve
participar da vida escolar de seu filho.
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Em nossa experiência em estágios supervisionados notamos a existência de
famílias que consideram seu filho como tal apenas em um curto intervalo de tempo,
ou seja, quando ele não está na escola. Para esta família, a escola é inteiramente
responsável por seu filho, bem como por todas as suas atitudes para formação e
educação dos mesmos. Geralmente a família não quer se envolver, não tem
interesse em saber se o filho está aprendendo ou não, não aparece na escola nem
quando é solicitado, há total falta de interesse pela prole. A criança sente esse
distanciamento, o que configura numa falta de amor, afetando o psicológico infantil.
Para Aquino (1998) não somos iguais, somos seres pensantes e temos
objetivos e vontades diferentes um do outro, o autor refere-se a padronização do ser
humano, ou seja , para ele, não somos iguais e assim na sociedade atual e na
escola não nos é permitido ter vontade própria, não é permitido querer algo que sai
da linha determinada pela sociedade. A escola formata, padroniza. Para Aquino
(1998, p. 11):
O sujeito concreto, enquadrado em determinadas coordenadas institucionais específicas, não pode ser encarado como um protótipo individual de uma suposta ”natureza humana padrão”, tomada como modelo universal, ideal e compulsório, que não comportaria idiossincrasias (tomadas, por vez, como desvio, anomalia, distúrbio)
Quando o aluno sofre, devido a um clima pesado em casa, ou problemas
familiares em geral, ele chega à escola e não encontra nada que promova bem
estar, então, por meio de atitudes indisciplinadas e agressivas tanto de forma verbal
quanto física, começa a exteriorizar seus conflitos pessoais. Mas para aquele que é
agredido, a escola é o local de tortura, pois ele sabe que pode vir a sofrer agressões
novamente, então nem o agressor e nem o agredido estão em condições
psicológicas adequadas para aprender.
Notamos que Aquino envereda por explicações mais psicologizantes sobre a
origem da violência escolar, enquanto Charlot, Schilling, Candau e Sposito
procuram mostrar o aspecto social que influencia a produção da violência nas
escolas.
Pensamos que aos fatores sociais devem se somar os fatores psicológicos
que possam advir da desagregação familiar ou em decorrência de outras situações.
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Todos eles estão na origem desse fenômeno tão complexo que é a violência que
ocorre nas escolas. E, de fato, ela provoca impacto no desempenho dos alunos.
CAPÍTULO SEGUNDO
VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS E APRENDIZADO DOS ALUNOS
O objetivo, neste segundo capítulo, é o de mostrar alguns estudos já
realizados sobre como a violência no ambiente escolar impacta o aprendizado dos
alunos, identificando a relação entre a qualidade do ensino e a violência praticada na
escola. Selecionamos alguns textos que abordam essa temática por ângulos
diferenciados.
Raymundo de Lima (2007), no texto “Violência na/da Escola”, faz uma
reflexão sobre como uma criança pode conseguir concretizar o aprendizado após ter
sido vítima da violência. Não importando o formato desta violência, seja ela verbal
ou física, no momento deste ato há uma desestruturação emocional que atinge todo
o sistema nervoso do indivíduo. Assim, “[...] a violência gera sofrimento, causa
danos físicos e psicológicos, humilhação, desespero, desamparo, desesperança e
anuncia a barbárie onde todos podem ser vítimas”. (LIMA, 2007, s/p).
Marilia Pontes Sposito e Luiz Alberto Oliveira Gonçalves (2002), em
“Iniciativas Públicas de Redução da Violência Escolar no Brasil”, constataram que as
instituições com mais problemas de violência, roubo e destruição do patrimônio
público, tem por consequência dificuldades de aprendizagem “[...] quanto maior a
agressão sofrida pela escola, piores são os seus índices de rendimento” (SPOSITO,
GONÇALVES, 2002, p.106). Certamente todos os profissionais envolvidos nesta
escola, estão com o psicológico abalado, mas os mais atingidos são os alunos.
Para Bernard Charlot (2002, p. 5), em sua pesquisa “A violência na escola:
como os sociólogos franceses abordam essa questão”, entender até que ponto a
violência pode prejudicar na aprendizagem e no interesse pela escola, torna-se
essencial, principalmente ao profissional da pedagogia.
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O aluno que sabe a razão pela qual frequenta a escola, conhece e entende
sua importância, não tem motivo para provocar brigas e depredar o local que
valoriza, pois, é ali que aprende os conhecimentos científicos, se socializa e também
ocorrem mudanças em sua identidade, ou seja, ele cresce intelectualmente.
Para Rosane Gumiero Dias da Silva (2009), no texto “O fracasso escolar
como um ‘sintoma’ da violência escolar”, a violência aparece quando os alunos não
são respeitados como pessoas e seres individuais. Os alunos por sua vez, tendem a
responder por meio da indisciplina ao seu professor. Essa autora afirma que os
professores não têm uma boa formação, o que prejudica a qualidade do trabalho
desenvolvido em sala de aula, local no qual existe falta de motivação causada pela
desvalorização dos profissionais do magistério. É nesse sentido que a violência
aparece como elemento prejudicial para a qualidade de ensino.
Para Silva, o atual currículo escolar não acompanha a realidades dos
estudantes, já que estes não se reconhecem dentro do contexto que lhes é exposto.
Isso gera inquietação, falta de interesse e, além disso, o aprendizado não se
concretiza. Silva, afirma:
[...] o conteúdo programático da maioria das escolas apresenta-se desvinculado da realidade sendo quase inaplicável no contexto social. O mesmo se pode afirmar do sistema de normas e regulamentos e dos projetos político-pedagógicos (SILVA, 2009, p. 3).
É fato que a escola vive um momento de crise, que possui várias formas de
manifestação, uma delas é a violência no seu interior. É como se ela tivesse perdido
seu referencial, “[...] é que a escola parou no tempo e não incorporou no seu
cotidiano tecnologias e conteúdos a que os alunos têm tido acesso” (SILVA;
SOARES; SILVA, 2006, p. 5). O mundo fora da escola real é virtual, mais atrativo e
interessante, porque a escola estacionou, sem se dar conta que o desenvolvimento
social é contínuo, que o mundo não para.
Assim, com relativa frequência os alunos deixam de brincar coletivamente,
passando a se agredirem uns aos outros sem motivos aparentes. Estas agressões
constantes têm interferido no rendimento escolar dos dois lados, de quem agride e
de quem é agredido, e culmina na falta de interesse pelos estudos.
Bernard Charlot (2002) conclui que a escola é um ambiente de tensão, que é
gerada fora dela, ou seja, contém os problemas familiares e da sociedade, por
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exemplo, o desemprego. A escola é também geradora de tensão, nela são
depositadas as esperanças de um provável benefício para a vida social e
profissional de seus frequentadores, é por meio da escola que as crianças e os
jovens poderão ser inseridos na vida social.
Para Charlot (2002), há uma forte tensão no universo escolar. Essa tensão é
ainda mais forte porque a representação da escola como via de inserção profissional
e social apagou a idéia da escola como lugar de sentido e de prazer. Essa tensão
pode eclodir a qualquer momento tornando-se de fato um ato concreto de violência.
Sendo assim, entender até que ponto a violência pode prejudicar na aprendizagem e
no interesse pela escola torna-se essencial principalmente ao profissional da
pedagogia.
Mas é também uma questão que está ligada às práticas de ensino quotidianas que, em último caso, constituem o coração do reator escolar: é bem raro encontrar alunos violentos entre os que acham sentido e prazer na escola [...] (CHARLOT, 2002, p.5).
Flávia Schilling (2008, p. 13) constata, em seu artigo “Violência nas escolas:
explicações, conexões”, que toda forma de violência ocorrida no interior da escola,
“[...] pode ser compreendida como reveladora do mal-estar que cerca o lugar da
escola na atualidade e a relação professor-aluno”.
O mal-estar mencionado pela autora nos faz refletir sobre as relações entre
professor-aluno, ensino-aprendizagem e violência escolar. O professor entra na sala
de aula com o sentimento de que não está sendo valorizado, tanto pelo seu salário
quanto pelo corpo da escola, fica incomodado devido ao estado de tensão que é
alto, apreensivo e assim, um tanto descompensado, acaba por assumir e
desenvolver insatisfatoriamente sua função. Existe um acúmulo de situações que o
perturbam, certamente será uma aula deficiente. Portanto, até pode acontecer, mas
a aprendizagem não.
O professor, quando entra em sala não está inteiro, devido as suas
preocupações, na verdade ele não sabe o que pode ocorrer a qualquer momento, a
sua aula já não está acontecendo como deveria, e ainda pode vir a ser interrompida
por agressões orais ou físicas.
Do outro lado, é o aluno que não está totalmente presente na aula, ele traz
consigo problemas sociais, perturbações que podem ser familiares ou mesmo entre
os colegas da escola, o aluno também não está a vontade e tranquilo para que se
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efetive a aprendizagem. São algumas das situações que não permitem uma aula de
qualidade.
Os alunos são seres individuais que possuem conhecimentos prévios e ao
chegarem a escola são classificados como socialmente iguais. São indivíduos que
serão capacitados para o mercado de trabalho. Esses alunos vão para a escola para
serem inseridos em uma vida social e para o cumprimento de uma etapa de suas
vidas, para no futuro alcançarem um lugar na sociedade, em outras palavras eles
vêem a escola como um processo que a sociedade exige e não estão preocupados
com a aprendizagem, ou seja, seus interesses são outros, a escola está fora de sua
realidade.
A falta de interesse pelo estudo gera uma intolerância ao local onde são, de
certa forma, obrigados a freqüentar, por pressão familiar ou por sua própria falta do
que fazer.
Há outro fator, este em relação aos professores. Eles estão desanimados com
a profissão devido a falta de estrutura e a desvalorização da profissão, vão para a
escola para cumprirem com sua carga horária e não estão se importando se os
alunos irão ou não aprender.
De acordo com Pain (apud, SILVA, 2009) a violência é uma forma encontrada
pelos alunos de pôr para fora o que está lhes angustiando, a má qualidade do
ensino e o abandono pelo professor. Os gestores ignoram tanto o professor quanto
o aluno. Segundo Silva (2009, p. 3),
A aprendizagem não vem de encontro de seu desejo. Agredidos, revidam com a agressão, o que alimenta suas hipóteses sobre o resultado escolar: o problema é a escola, que não é boa, ou o professor, que ensina mal.
Isto significa que a violência praticada por alunos é uma forma de pedido de
socorro frente a um processo de anulamento, no qual o aluno deveria ocupar lugar
central, o de agente do processo.
Um dos textos mais interessantes para o nosso TCC foi “Violência nas
escolas quando a vítima é o processo pedagógico” escrito por Felícia Reicher
Madeira (2000). Para a autora, a escola tem que ter uma identidade, para saber
quem é o seu aluno e como a instituição quer que este indivíduo seja. Para isso, a
escola deve conhecer que tipo de aluno a frequenta, assim saberá como conquistar
este aluno, para que ele não desista de estudar.
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Mesmo nos alunos mais agressivos deve-se investir, pois, por trás dessa
agressividade há pessoas com sonhos e esperanças de um futuro e inserção na
sociedade pelo trabalho familiar e escolar. Devido a este fato a escola deve saciar
os anseios do jovem porque “é a desilusão com a escola que mais frequentemente
leva o jovem a abandoná-la pelo trabalho e não o inverso” (MADEIRA, 2000, p. 15).
A escola almejada pelos alunos não é impossível de conseguir, ela não deve
ser vista como muito seria, mas um lugar no qual esses jovens possam querer estar
e se sentirem bem com um ambiente adequado no qual eles possam interagir uns
com os outros. Para Madeira (2000, p. 16), “Os jovens pobres e ricos desejam uma
escola onde consigam aprender, mas, que também seja um espaço agradável, onde
possam encontrar amigos, ouvir música e namorar.”
Os professores tendem a olhar para o jovem e o associam ao delinquente e
ao marginal e, principalmente, os pobres serão sempre vistos como tais. Este olhar
cria barreiras em uma relação aluno/professor, essa distância faz com que a escola
fique muito mecânica, embora seja constituída de pessoas com sonhos e
sentimentos. Assim, o que eles encontram é uma escola autoritária. Os estudantes
depositam confiança na escola para que tenham condições de entrar no mercado de
trabalho, mas encontram uma escola que não supre suas expectativas para a
consolidação de seus projetos para o futuro. Este ambiente então não fará nenhum
sentido para ele, assim, as “[...] tensões e os conflitos tendem a se acentuar,
ampliando o fosso dos desencontros entre alunos e professores” (MADEIRA, 2000,
p.15).
Para Madeira, a mídia não apenas noticia os acontecimentos que ocorrem
nas escolas, ao intensificar os casos de violência, ela motiva e encoraja os jovens a
praticá-los com mais freqüência, pois aparecerão no noticiário e estarão em
evidência para os colegas e para a comunidade. Enquanto os professores, ao
constatarem a extensão do problema, entram em estado desconfortável de tensão.
Madeira (2000, p. 3) assim se expressa:
[...] atos de criminalidade praticados por adolescentes e muito veiculados pela mídia são especialmente propícios para gerar representações sociais que criam ou fortalecem um clima de pânico social.
É a própria escola e seus integrantes que ficam sem norte para seguirem com
o mesmo processo pedagógico, é neste momento em que se perdem e o caos toma
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conta da instituição. Para (2000, p. 4) Madeira “Não há duvida de que as maiores
vítimas, aquelas que sentem mais profundamente o impacto da mídia a que está
sujeita a violência juvenil, são o projeto e o processo pedagógicos”.
Silva (2009, p. 5) revela que o aluno, que era o ponto principal do fracasso
escolar, agora divide a cena com vários fatores que intensificam e agravam a
situação da aprendizagem. Para a autora, “[...] o aluno não é o único responsável
pelo fracasso escolar. [...] a má qualidade de ensino e a presença, nas práticas
escolares, de estereótipos e preconceito em relação à criança pobre”.
Não é preciso distinguir uma criança da outra, são todas crianças
independente de posição social. Estão na escola com o mesmo objetivo que é
aprender e serem tratadas com o respeito que lhes é devido.
O professor deve ser responsável, assim não poderá negligenciar a sua
atuação em sala de aula. A Instituição, juntamente com o professor, precisam
trabalhar para que aconteça a aprendizagem de forma adequada. “Compete a essa
instituição, na figura do educador/professor, ensinar à criança aquilo que ela ainda
não sabe, mas já tem condições de aprender com auxílio de outro” (SILVA, 2009,
p.6).
A função do professor é extremamente importante. Cabe a ele proporcionar a
aprendizagem e, caso predomine um clima de mal-estar ou qualquer tipo de
violência, a mesma tende a não acontecer.
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CAPÍTULO TERCEIRO
ESTRATÉGIAS DE COMBATE À VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS E
APRENDIZADO DOS ALUNOS
Neste capítulo registraremos, brevemente, projetos de combate à violência
nas escolas que tenham como foco a melhoria da qualidade da relação ensino-
aprendizagem.
Para Spósito (1998, p. 73) as escolas como ambiente social e palco da
violência não devem medir esforços para compreender o que de real está
acontecendo nos estabelecimentos de ensino, ou seja, de que forma as agressões
chegam.
Compreender as práticas de agressões e superá-las demandam esforços de entendimento sobre os caminhos que permitirão a ação socializadora da escola, ampliando com novas atribuições as consolidadas representações do mundo adulto em torno da ascensão social. (SPOSITO, 1998, p. 73)
Segundo Schilling (2008) para que ocorra a diminuição da violência escolar
deve-se trabalhar de forma ampla, isto é, tanto os alunos, professores, pais e o
Estado devem saber qual sua função dentro da instituição escolar; todos devem
assumir compromisso e participação. Schilling (2008) usa o termo “conectados”,
para dizer que todos devem estar conectados com a escola e que, com este
compromisso, devem ter em mente o que vão fazer na escola, como fazer e quais os
indivíduos que estarão recebendo todos os saberes científicos e tais esforços.
Outra ponto relevante é os gestores darem o apoio para que os professores
precisam, ou melhor, no momento de uma situação imprópria na sala de aula, com
alterações de vozes e agressividade entre os alunos ou contra o professor. A gestão
da escola tem que estar preparada para auxiliar com esta nesta situação. Esta
escola tem que ter a intenção de lidar com a violência escolar. E, ela deve ser
trabalhada em conjunto com os pais. Além disso, os trabalhos pedagógicos da
escola devem ser bem planejados e terem objetivos claros. Para lidar com as
situações de violência que ocorrem nos estabelecimentos escolares não se pode
ignorar as ocorrências, pois isso vai gerando um “mal-estar”.
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Schilling (2008) afirma que se deve mostrar ao aluno porquê são necessários
os estudos, fazer com que o aluno se interesse pelo aprender, quer dizer, que tenha
prazer em ir para escola e pela aprendizagem. A escola deve ensinar conteúdos que
tenham relação com os interesses dos estudantes. É preciso que a instituição seja
um lugar harmonioso no qual todos possam ouvir, serem ouvidos e respeitados.
Para trabalhar os conflitos, os educadores tem que saber para que estão na escola;
com quem eles podem contar e o que eles querem para seus alunos. O trabalho do
professor deve ter uma função relacionada à identidade do aluno em formação, qual
é o formato do aluno que deseja (SCHILLING, 2008).
Para Aquino (1998) seria interessante realizar um estudo comprovado os
quais podem possibilitar que projetos cujo tema seja o combate à violência praticada
no interior das escolas sejam implantados. Assim seria mais fácil gerar a
conscientização dos estudantes para que suas atitudes possam mudar (AQUINO,
1998, p. 10).
Silva (2009, p. 3) afirma que é necessário entender como a violência escolar
interfere no processo de aprendizagem e que esse entendimento é um fator
importante na formação do pedagogo. Para Silva,
A falta de respeito dos professores para com os alunos e vice-versa, as lacunas na formação de professores, a baixa qualidade de ensino e aulas desmotivadas são outros tantos fatores internos que podem estar relacionados à violência escolar levando o aluno ao fracasso
escolar. (SILVA, 2009, p. 3)
Álvaro Chrispino (2007) na pesquisa intitulada “Gestão do conflito escolar: da
classificação dos conflitos aos modelos de mediação” esclarece que no ambiente
escolar onde há um conjunto de pessoas diferentes que tem pensamentos que
divergem haverá conflitos, pois a comunicação é difícil entre os mesmos; o que
ocorre entre aluno e professores; entre os alunos; e entre os professores. Desta
forma, não há garantia de chegar-se a um ponto comum, ter o mesmo objetivo. Mas,
dentro da escola deve haver consenso, a fim de que o trabalho realizado obtenha
sucesso. No caso do estabelecimento escolar, o sucesso significa a realização da
aprendizagem com qualidade. O autor recorda que no passado não muito longínquo
os sonhos desses alunos eram parecidos, suas expectativas eram muito próximas e
estes estudantes eram considerados do tipo padrão. Mas,
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Com a massificação, trouxemos para o mesmo espaço alunos com diferentes vivências, com diferentes expectativas, com diferentes sonhos, com diferentes valores, com diferentes culturas e com diferentes hábitos [...], mas a escola permaneceu a mesma! Parece óbvio que este conjunto de diferenças é causador de conflitos que, quando não trabalhados, provocam uma manifestação violenta. Eis, na nossa avaliação, a causa primordial da violência escolar (CHRISPINO, 2007, p. 07).
A massificação da educação trouxe e assegurou o indivíduo adentrar a
escola, mas esta instituição não se preparou para receber esta diversidade de
alunos. Sua proposta, então, é que a escola esteja mais preparada para a
convivência dos diferentes.
No texto “Violências escolares: implicações para a gestão e o currículo”,
escrito por vários autores, afirma-se que quando o aluno chega à escola ele tem
uma personalidade definida pelo seu grupo social. Suas ações, pensamentos
individuais e vontades próprias entram em conflito com as regras disciplinadoras da
instituição. Os autores sugerem, então:
A identidade é, pois, um trabalho tecido a partir de "cidadanias" ou participações sociais em cada círculo. Por isso, o aluno não age só em função da escola, mas também e sobretudo dos seus grupos de pertencimento. Por sua vez, o professor necessita dos recursos da sua personalidade e carisma (se forem suficientes), já que o seu papel e o da instituição, burocraticamente definidos, não mais dão conta das novas situações (GALVÃO et al, 2010, p. 03).
Fazendo um levantamento sobre as situações que envolvem um
estabelecimento escolar percebe-se um conjunto de ações que constantemente
atuam como coadjuvantes, dificultando a não assimilação da aprendizagem
daqueles que a frequentam. Sobre esse clima escolar Galvão et al afirmam que é
preciso garantir uma aprendizagem significativa para evitar conflitos:
[...] o clima da escola, reunindo aspectos racionais e emocionais, intrínsecos ao processo educativo, está relacionado ao aproveitamento. Por isso, fica claro que a gestão escolar e a dinâmica do currículo precisam assegurar uma educação significativa para o alunado (GALVÃO et al, 2010, p. 04).
Os professores, ao não fazerem o reconhecimento da violência na/da
instituição deixam transparecer a sua falta de saber sobre o assunto. É preciso
aprender a lidar com situações novas, que adentram as portas das instituições todos
os dias. “Esse desconhecimento leva ao despreparo declarado pelos professores
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para lidar com o problema, sugerindo a urgência de incorporar essa temática na
formação profissional “(GALVÃO et al, 2010, p. 10).
Essa é uma proposta importante a ser considerada, principalmente pelos
cursos de licenciatura, ou seja, a inserção de estudos sobre o tema da violência nas
escolas na formação inicial dos professores.
Nossos estudos revelaram que há um consenso entre os estudiosos da
violência nas escolas quanto à necessidade de todos os atores da escola, desde os
gestores até os alunos, de adotarem um mesmo foco: privilegiarem o diálogo como
uma medida importante: “[...] debates, palestras, os seminários sobre o tema, a
disciplina bem definida na rotina escolar e a comunicação mútua entre alunos e
professores e entre a escola e a comunidade” (GALVÃO et al, 2010, p.10).
Além disso, para Galvão et al (2010, p. 11), o currículo junto ao conhecimento
científico deve ir mais além, isto é, agir de forma cautelosa na educação pessoal,
interferindo na identidade da criança para apaziguar as alterações comportamentais
e estar contemplando novas maneiras de lidar com situações inesperadas.
[...] a proposta curricular precisa ter como objetivo maior transformar a escola num âmbito de realização pessoal, capaz de transformar padrões de comportamento, produzir ideias, conciliar alternativas e administrar (além de ensinar a administrar) conflitos.
Outro elemento a ser considerado é o currículo. De acordo com Galvão et al
(2010) a escola não mudou seus moldes de ensino e o currículo, o norteador dos
processos educativos, continua deixando de fora o afeto.
O currículo afunilado na razão e nas informações, conforme os padrões da modernidade necessitam de nova dinâmica que associe cognição e afeto, para ser significativo para a realidade do aluno. Chame-se a isso crise da modernidade ou pós-modernidade, a sociedade já não é a mesma. Assim, a escola não continua a máquina do tempo dentro dela (GALVÃO et al, 2010, p.12).
Essa relação é entendida na visão de pesquisadores da teoria psicogenética
como sendo a energia do processo de aprendizagem. Nesse sentido, quando o
aluno não se sente atraído, ou ainda abandonado, o mesmo não quer aprender ou
reage de forma bruta, violenta. De acordo com De Souza (2003) a afetividade atua
como a energética da ação educativa. A afetividade não pode modificar as
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estruturas da inteligência, porém, pode favorecer ou dificultar o processo de
aprendizagem.
Portanto há autores que defendem essa tese de que a falta de afeto tende a
contribuir para a violência na escola e para o fracasso escolar.
Refletindo sobre afeto, em suas dimensões proximais, atitudinais e de
envolvimento, Rocha (2007, s/p) volta a se referir ao gestor enquanto responsável
por práticas de incentivo ao convívio dentro da escola. Para o autor:
[...] uma gestão de qualidade inclui projetos que tragam os professores, pais e voluntários para perto dos alunos, dentro da escola. Projetos como atividades internas nos períodos em que não se tenham aulas, aos fins de semana etc, assim como o conhecido Amigos da Escola, ou mesmo outros de iniciativa própria nas comunidades.
Ainda nas palavras de Rocha (2007, s/p) observamos como a proximidade é
importante para a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno. Quando o aluno não
se sente acolhido, o mesmo pode procurar outras formas para se expressar,
inclusive manifestando a violência.
É importante acreditar no aluno. Não se pode desistir daquele aluno que não consegue aprender e tem dificuldades dentro e fora da escola, sentindo-se intimidado com a frustração, ele pode reagir com violência.
O professor tem em suas mãos a chance de colaborar para que os alunos
compreendam a violência como algo prejudicial. Que percebam que existem
diferentes maneiras de se expressar. E que mesmo quando se sentem frustrados, o
caminho não deve ser a rebeldia.
Almeida (2012, s/p) na solução dos problemas de violência nas escolas
chama a atenção para o papel do gestor:
A chave para a solução da violência pode ser o gestor. Sem ele, nada se faz. Mas ele sozinho não faz quase nada. Ao lidar com a situação, esse profissional convive com diferentes interpretações. Uma delas é a do senso comum, alimentado pela imprensa. De modo geral, os meios de comunicação pouco levam à reflexão (AMEIDA, 2012, s/d)
Para Almeida (2012) cabe ao gestor escolar propiciar que a comunidade
escolar se mobilize no intuito de combater a violência. Ao participar da vida escolar e
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no contato com todos os envolvidos, o gestor pode propor possibilidades para
reverter a maneira como a violência tem afetado a todos, inclusive combater a forma
como a imprensa tem noticiado os fatos. É preciso um trabalho de conscientização
da comunidade intra e extra-escolar.
Ainda para Almeida (2012, s/p) o que ocorre na escola é a manifestação do
desconsolo dos alunos, muitas vezes pela falta de responsabilidade dos professores
ou pelo modelo pedagógico que seguem. Nas palavras do autor:
Muitas dessas hostilidades que assolam o cotidiano educacional estão relacionadas com a gestão ou com o modelo pedagógico. Professores faltantes, horários desorganizados, salas abarrotadas de crianças e quadras de esportes insuficientes para que os adolescentes sublimem parte de suas energias podem aumentar aprobabilidade de indisciplina - que se desdobra em atos de fúria . (AMEIDA,2012, s/d)
Continuando a falar sobre o papel do gestor frente a violência escolar uma
reportagem do jornal Gazeta do Povo, (2012, s/p) fala sobre o papel dos diretores
“Para que esse modelo funcione, o primeiro passo é uma boa gestão. Diretores
comprometidos e rigorosos são capazes de transformar o espaço escolar e
conquistar bons resultados”.
Notamos que a reportagem incumbe aos diretores escolares a função de
transformar o espaço escolar. Não diríamos que essa função é somente do gestor,
mas de todos os envolvidos, desde funcionários, professores, alunos, familiares e
toda comunidade. Concordamos com Costa (2012) quando afirma que o primeiro
passo é da gestão, já que esta pode possibilitar que projetos que visem a não
violência escolar sejam implantados. Contudo, para que o projeto seja válido todos
devem participar.
Costa (2012) se refere também à formação continuada como incentivo ao
aprimoramento dos estudos dos professores, atores diretos do processo educativo.
Para o autor “a valorização do professor e o reconhecimento do seu trabalho fazem
com que ele se sinta motivado a continuar os estudos e aprimorar o currículo”.
(COSTA, 2012, s/p), ou seja, é preciso que se invista na formação dos educadores,
isso também é uma questão de segurança.
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CONCLUSÃO
A violência tem ocupado lugar de destaque na sociedade, inclusive na escola.
Entender como a violência escolar afeta o processo de aprendizagem é fator
fundamental para a formação do pedagogo, que está diretamente ligado ao
processo educativo.
Com o objetivo de realizar uma reflexão sobre o impacto da violência escolar
para o aprendizado dos alunos, nos propusemos neste trabalho de conclusão de
curso, a realizar uma pesquisa bibliográfica para identificar o que os autores estão
pensando sobre essa temática.
É importante lembrar que neste trabalho não reconhecemos como “vítimas”
apenas aquele que sofrem agressão, mas também o agressor, isso porque a
violência escolar aqui foi entendida como uma reação por parte do aluno diante de
sua frustração enquanto sujeito que perde no decorrer do processo.
Quando o professor entra em sala de aula desmotivado por questões
financeiras, ou de trabalho, ou ainda de relacionamento, o aluno perde. Se o aluno
não entende o conteúdo ensinado e não encontra formas para mostrar ao professor
sua falta de compreensão e age com indisciplina ou violência, ele também perde. Se
a família não percebe que seu filho tem dificuldades na escola, sejam elas
dificuldades para aprender, ou de relacionamento, esse aluno também perde. Desta
maneira, inferimos que o grande perdedor na crescente violência escolar é o aluno.
Com base nos autores consultados, concluímos que os educadores precisam
se preparar melhor para enfrentar a violência que assola a escola, e nas escolas,
ressaltamos o papel do gestor enquanto mediador da participação coletiva, de
fundamental importância para criar um clima mais harmonioso. Cabe ao gestor
propor estratégias para que todos os envolvidos na escola possam participar
ativamente no trabalho de combate à violência. Para isso, é preciso que a
comunidade escolar seja ouvida; o que significa que o gestor deve possibilitar que a
comunidade interna e externa deem sua opinião, expressam suas críticas,
participem da rotina escolar, acompanhem os projetos que acontecem dentro da
mesma.
Quanto aos professores, apontados neste trabalho como sujeitos ligados
diretamente à violência, esses devem ter consciência de que suas ações em sala de
aula podem contribuir para a manifestação de atos violentos. Sabemos que a crise
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docente é um fenômeno em evidência, baixos salários, precárias condições de
trabalho, etc. No entanto, é necessário que estes profissionais se especializem e se
preparem para a formação de cidadãos conscientes e reflexivos.
Entendemos que a função do professor não é pequena, pois o mesmo tem em
mãos a chance de contribuir para o sucesso do futuro, desenvolvendo em seus
alunos as potencialidades necessárias para a vida.
Ao professor não cabe apenas transmitir os conhecimentos sistematizados
historicamente, mas atuar de maneira integral, participando das atividades da
escola, que não se resumem as aulas dadas. Sabemos que a escola não é o único
segmento em crise, mas inferimos que podemos tentar a mudança e, a partir dela,
criar a possibilidade de amenizar as situações de conflito.
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