1964 – 2014: Golpe Militar, História, Memória e Direitos Humanos
o golpe de 1964 nos livros didáticos de historia
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Os sentidos do Golpe de 1964 nos livrosdidticos de histria (1970-2000): entrecontinuidades e descontinuidades1
Mateus H. F. Pereira2
Andreza C. I. Pereira
Nossa pesquisa pretende pensar sobre o Golpe de 1964, atravs da histria escrita porautores de livros didticos. Utilizamos como corpus documental livros editados de 1970at 2000, a m de apreender dimenses das metamoroses do acontecimento. Pretende-mos, assim, compreender e explicar como esses impressos de ampla circulao buscaramorigens com ns de realizar didaticamente um trabalho de luto sobre o acontecimentotraumtico no tempo presente do prprio evento.Palavras-chave: Golpe Militar de 1964 acontecimento livro didtico de histria
Te senses of the Blow of 1964 in the history text books (1970-2000): between
continuous and discontinuousOur research intends to think on the Blow o 1964, through written history by authorso text books. We used as documental corpus edited books rom 1970 up to 2000, inorder to apprehend dimensions o the events metamorphoses. We intend to understandand to explain as those printed papers o wide circulation searched or origins aiming
1 Artigo recebido e aprovado para publicao em setembro de 2009.2 Mateus Henrique de Faria Pereira proessor do Departamento de Histria da Universide Federalde Ouro Preto (UFOP), Andreza Cristina Ivo Pereira graduada em histria pela Universidadedo Estado de Minas Gerais (UEMG). Agradecemos as sugestes de Juliana Melo, Flvia Lemos,Miriam Hermeto e dos pareceristas da revista Tempo. E-mail: [email protected] e [email protected]. Apoio: FAPEMIG e CNPq.
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Mateus H. F. Pereira e Andreza C. I. Pereira Artigos
didactically accomplishing a mourning work on the traumatic event in the presenttime o the own event.
Keywords: Te Blow o 1964 event history text books
Les sens du Coup dtat de 1964 dans les livres didactiques dhistoire (1970-
2000): entre continuites et descontinuitesNotre recherche veut penser sur le Coup dtat de 1964, travers lhistoire crite par desauteurs de livres didactiques. Nous utilisons comme source livres dits de 1970 jusqu2000, an dapprhender des dimensions des mtamorphoses de lvnement. Nous pr-tendons, ainsi, comprendre et expliquer comme ces livres de large circulation ont cherchorigines avec des ns de raliser didactiquement un travail de deuil sur l vnement
traumatique dans le temps prsent de lvnement lui-mme.Mots-cls: Coup dtat de 1964 vnement livre didactique dhistoire
______________________________
Neste artigo, pretendemos problematizar algumas construes de sentido do
Golpe de 1964, construdas por autores de alguns livros didticos de histria,
editados no perodo entre 1970 e 2000.3 Buscaremos analisar as diversas inter-
pretaes existentes principalmente no que se reerem s origens do evento, na
inteno de compreender e explicar algumas das permanncias e mudanas nos
sentidos atribudos ao acontecimento traumtico4 na temporalidade prpria do
corpus documental de nossa pesquisa, isto , pretendemos compreender e expli-
car as metamoroses do Golpe de 1964 por meio do dilogo que procuramos
estabelecer entre as interpretaes dos livros didticos escolhidos.
preciso destacar que de 1973 at 2000 a historiograa e o ensino de histria
mudaram em vrios aspectos, assim como os olhares sobre o golpe tambm. A
inteno deste texto captar, mesmo que de orma lacunar, os sentidos produzidospelos livros. Compreendemos que essa nase nos sentidos apresenta um risco: a
perda de aspectos da historicidade dos livros. Pensamos que esse risco vlido,
na medida em que os livros didticos de histria analisados so aqui entendidos
3 A seleo dos livros didticos utilizados partiu de um levantamento prvio, por meio de inor-maes de editoras e autores, das obras mais representativas e utilizadas no estado de Minas Geraisdesde os anos 1970. Levamos em considerao, tambm, a quantidade de apario de determina-dos livros em bibliotecas pblicas e escolares. Ver anexo 1 e 2.4 Sobre o conceito de acontecimento traumtico, ver Paul Ricoeur, crire LHistoire du Temps Pre-sent, Paris, Seuil, 1991. Para o conceito de trauma em Freud, ver, em especial, S. Freud, Obras Com-
pletas, Buenos Aires, Amorrortu, vol. XXIII, 1986, pp.70-73.
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Os sentidos do golpe de 1964 nos livros didticos de histria (1970-2000):entre continuidades e descontinuidades
como os intrpretes doadores de sentidos ao acontecimento traumtico Golpe
de 1964.5 Dessa maneira, pretendemos, mergulhar na descontinuidade da cons-
truo e produo de sentidos do acontecimento traumtico6 a partir de uma
escala especca: os livros didticos de histria produzidos entre 1970 e 2000.
Sentidos e origens do acontecimento traumtico 1964
Nesse item, procuramos descrever e analisar as mudanas de sentido realiza-
das pelos autores de livros didticos de histria acerca do Golpe de 1964, enati-
zando as causalidades ou as origens utilizadas nos livros, em suas narrativas.7
Apontamos algumas das mudanas mais signicativas, observadas nas aborda-gens acerca do Golpe realizadas pelos autores de livros didticos. A tipologia
construda procura ornecer alguns elementos para que possamos problematizar
as origens do Golpe de 1964. As origens do golpe cumprem o papel de escalas
de observao para eetuarmos jogos de escalas.8
5 De algum modo, tendo em vista essa escolha perdemos parte das dinmicas contextuais de produ-
o, circulao e apropriao dos livros. Neste aspecto, apoiamos-nos, tambm, na crtica de JaquesRevel a ideia de contexto no singular por meio dos usos retrico, argumentativo e interpretativo para construir eeitos de verdade e/ou realidade a determinada argumentao. Pretendemos,assim, por via dos textos dos livros didticos contribuir para aquilo que o autor chama de construira pluralidade de contextos. Jaques Revel. Microanlise e construo do social, In:Jogos de esca-las: a experincia da microanlise, Rio de Janeiro, FGV, 1998, p. 27. A reerida escolha se justicatambm pelos limites de pginas que um artigo comporta. Por essas razes, tambm, optamos porno reerirmos data de primeira edio dos livros analisados, pois muitas vezes de uma ediopara outra h grandes transormaes explicativas. Reerimos-nos apenas, nesse sentido, ao ano depublicao dos livros analisados.6 rata-se aqui de seguir as orientaes metodolgicas sugeridas por Louis Quer, Un venmentindecidable?, Espace Temps, 64-65, Paris, 1997, p. 4.7 Segundo Miriam Hermeto de S Mota, a causalidade no se reere apenas s relaes de causa-eeito simples, mas explicao de processos de transormao complexos, que compreendem aspermanncias e transormaes que se desenvolveram entre um estado inicial e um estado naldemarcados pelo observador. Miriam Hermeto de S Motta, Um estudo sobre a causalidade noensino de Histria, Belo Horizonte, Faculdade de Educao da Universidade Federal de MinasGerais, 2002, Dissertao de Mestrado, p.24.8 Metodologicamente, nosso trabalho insere-se no que Paul Ricoeur denomina grande conquista ouliberdade metodolgica do trabalho do historiador: o jogo de escalas, pois indica uma sada para aalsa alternativa que estruturava o trabalho histrico entre os partidrios do acontecimento e os dalonga durao. Desse modo, em cada escala, veem-se aspectos que no so vistos em outra e cadaolhar tem a sua legitimidade. Paul Ricoeur, La mmoire, lhistoire, loubli. Paris: Seuil, 2000. Ver, tam-bm, Jaques Revel (org.),Jogos de escalas: a experincia da microanlise, Rio de Janeiro, FGV, 1998.
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Origem: crise econmica, poltica e social
A crise econmica,poltica e socialdo pas uma das principais causas parao desencadeamento do Golpe de 1964 para muitos livros didticos. Anlises ac-
tuais se mesclam com anlises conjunturais. Maria Januria Vilela Santos, autora
do livro Histria do Brasil (1979),9 destinado 6 srie, arma que durante a
presidncia de Joo Goulart, o Brasil oi agitado por maniestaes polticas,
greves, aumento da infao e do custo de vida, e que a partir de 1963, a crise
econmica e poltica agravou-se, ocorrendo inclusive atos de indisciplina dentro
das Foras armadas. No dia 31 de maro de 1964, teve incio, em Minas Gerais,
um movimento contra o governo. A autora ainda arma que o presidente oi
deposto em 24 horas e partiu para o Uruguai, como exilado poltico. 10
importante destacar que h incorreo no que se reere sada de Jango
imediatamente para o Uruguai. Esta incorreo, de algum modo, legitima o
Golpe, pois a vacncia anunciada, em 1 de abril de 1964, por Ranieri Mazzili,
oi inconstitucional, na medida em que Joo Goulart permaneceu no pas at o
dia 4 de abril de 1964. A insero ou no da temtica da vacncia nas narrativas
presentes nos livros didticos, em boa parte,indica o caminho que muitos dosautores dos livros da primeira gerao posterior a 1964 escolheram para com-
preender e explicar os eventos. Podemos dizer que essa escolha, presente em
grande nmero dos livros mais recentes tambm, contribui para manter a ideia
da inevitabilidade do Golpe, conorme ser analisado mais adiante.
Francisco Alencar, Lcia Carpi Ramalho e Marcus Vencio oledo Ribeiro,
autores do livro Histria da Sociedade Brasileira (1985),11 armam que o Governo
Goulart iniciava-se em um momento de crise econmica e nanceira. Crise
9 Maria Januria Vilela Santos, Histria do Brasil, 6 srie, So Paulo, tica, 1979, p. 185. precisodestacar que, em geral, os livros didticos so produzidos por uma variedade de atores. Ver, porexemplo, Kazumi Munakata, Histrias que os livros didticos contam, depois que acabou a ditadurano Brasil, In: Marcos Cezar Freitas (org.), Historiograa Brasileira em Perspectiva, So Paulo, Con-texto, 2003. No entanto, utilizamos o critrio autor para analisar as construes de sentido sobre oGolpe de 1964, dentre outras razes, porque uma parte signicativa de proessores, alunos e pblicogeral conhece e utiliza os livros tomando o(s) nome(s) do(s) autor(es) como reerncia. O que nosimporta, nesta refexo, no a categoria autor em si e sim a narrativa produtora de sentido.10 Maria Januria Vilela Santos, Histria do Brasil, 6 srie, So Paulo, tica, 1979, p. 185.11 Francisco Alencar; Lcia Carpi Ramalho; Marcus Vencio oledo Ribeiro, Histria da Socie-dade Brasileira, Rio de Janeiro, Editora Ao livro cnico, 1985, pp. 288-306. A obra no explicitaa que srie se destina.
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Os sentidos do golpe de 1964 nos livros didticos de histria (1970-2000):entre continuidades e descontinuidades
tpica de um pas dependente, cuja industrializao se baseava na substituio
de importaes e na alta explorao da ora de trabalho. Percebemos a umaanlise com certa tendncia estrutural, pois aponta a orma pela qual ocorreu aindustrializao tardia brasileira como origem da crise que gerou o Golpe. Osautores ainda armam que o governo intentava uma poltica nacionalista reor-mista em momento algum, explicita-se o que se queria dizer com isso emuma etapa em que a burguesia e as classes trabalhadoras tinham sorido trans-
ormaes substanciais. eria sido a poltica de Goulart a causadora do
colapso nal do estado populista. (...) Um outro enmeno iria contribuir tambm
para o colapso do pacto populista: a ascenso de movimentos reivindicatrios dostrabalhadores rurais, os quais, aos poucos, vinham adquirindo contedos polticos.12
No livro Histria (1991),13 escrito por Ktia Alves e Regina Belisrio, desti-nado ao Ensino Fundamental, a deesa da campanha das reormas de base porparte de Jango teria provocado as suspeitas do centro, quanto aos seus objetivosnais. A situao se complicou ainda mais, quando o Primeiro Ministro, an-credo Neves, renunciou. Surgiram greves, maniestaes de rebeldia, assaltos.
Outros aspectos como o agrupamento das lutas ideolgicas nos perodos ante-riores; o crescimento da infao, do custo de vida e a violenta presso salarial quemultiplicava os movimentos grevistas e os choques polticos entre a esquerdae os grupos conservadores que combatiam a proposta das reormas tambmseriam atores que teriam levado ao golpe.
Origem: renncia de Jnio Quadros
Nos livros analisados, h a perpetuao de uma representao acerca da perso-
nalidade de Jnio Quadros. O ex-presidente sempre retratado como um homemcarismtico; porm, imprevisvel. Raymundo Campos, autor do livro Histria doBrasil, de 1983,14 por exemplo, destinado ao Ensino Mdio, arma que na manhde 25 de agosto de 1961, em carta ao Congresso Nacional, Jnio Quadros renun-ciava ao seu mandato. O gesto do presidente permanece sem explicaes deni-tivas, mas ao que parece, tratou-se de uma tentativa de golpe. Elian Alabi Lucci,
12Ibidem.13 Ktia Corra Peixoto Alves; Regina Clia de Moura Gomide Belisrio, Histria. Ensino Funda-mental, vol. 4, Belo Horizonte, Viglia, 1991, pp. 129-131.14 Raymundo Campos, Histria do Brasil, Ensino Mdio, So Paulo, Atual, 1983, p. 224.
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por sua vez, na obra Histria do Brasil: o imprio, a repblica e o Brasil contem-
porneo, de 1985,15 destinada ao Ensino Mdio, arma que, apesar do presidente
Jnio Quadros ter tido uma carreira rpida e brilhante, no cuidou de obter o
apoio parlamentar, indispensvel para a execuo de um plano de governo. Ao
optar por legislar o pas s por decretos, acabou provocando um confito inevit-
vel com o Poder Legislativo. Dessa orma, perante as presses internas e as di-
culdades crescentes de governar o pas sozinho, o Presidente preeriu renunciar.
Cludio Vicentino, autor do livro Histria: memria viva, de 1994,16 arma que a
renncia oi uma manobra poltica racassada de Jnio Quadros, uma trama para
reorar seu prprio poder. O golpe undava-se no temor de setores da sociedadee de parte da opinio pblica diante de um governo dirigido por Jnio Quadros.
endo em vista essa permanncia, a renncia de Jnio Quadros, em 1961,
oi apontada como uma das causas centrais do golpe militar em boa parte dos
livros dos anos 1970 e 1980, porm ela praticamente desaparece nos livros mais
recentes. Essa mudana, se d, em boa medida, pelas reerncias historiogrcas
que servem de apoio aos autores dos livros. Naquelas dcadas, percebemos uma
orte infuncia do trabalho de Tomas Skidmore que enatiza sobremaneira a
crise de 1961, ao passo que, nos livros produzidos aps a dcada de 1980, per-cebemos uma grande infuncia da refexo de Ren Dreiuss que minimiza essa
crise. interessante notar que o trabalho de Argelina Figueiredo17 do incio dos
anos 1990, que revaloriza a crise de 1961, mencionada por apenas um dos livros
analisados. Porm, em alguns momentos, percebemos que algumas obras citam
os confitos polticos de 1961-1964, sem se reerir renncia de Jnio Quadros
como o incio da crise poltica.
Raymundo Campos, no livro Histria do Brasil(1983),18
destinado aos alunosdo Ensino Mdio, arma que a crise desencadeada pela renncia de Jnio Qua-
15 Elian Alabi Lucci, Histria do Brasil: o imprio, a repblica e o Brasil contemporneo, EnsinoMdio, So Paulo, Saraiva, 1985, vol. 2, p. 93.16 Cludio Vicentino, Histria: memria viva. Brasil: perodo imperial e republicano, So Paulo, Sci-pione, 1994, p. 118. O livro no diz a que srie se destina.17 Ver Tomas E. Skidmore, Brasil: de Getlio Vargas a Castelo Branco (1930-1964), So Paulo, Paze erra, 1969; Ren Armand Dreiuss, 1964. A conquista do Estado: ao poltica, poder e golpe de
classe, Rio de Janeiro, Vozes, 1981; Argelina Cheibub Figueiredo, Democracia ou Reformas? Alter-nativas democrticas crise poltica: 1961-1964, So Paulo, Paz e erra, 1993.18 Raymundo Campos, Histria do Brasil, Ensino Mdio, So Paulo, Atual, 1983.
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Os sentidos do golpe de 1964 nos livros didticos de histria (1970-2000):entre continuidades e descontinuidades
dros em setembro de 1961 quase levou o pas a uma guerra civil e deixou grandes
traumas. Somente o livro Histria Temtica (2000),19 destinado 8 srie, dos
livros da dcada de 1990, destaca a crise de 1961 como incio do processo que
culminou no Golpe. Segundo Andra Montellato, Conceio Cabrini e Roberto
Catelli Junior, autores desse livro, a crise que levou ao regime instaurado pelo
golpe de Estado de 31 de maro de 1964 teve incio com a renncia do presidente
Jnio Quadros, em 1961.20
Origem: crise do populismo
interessante observar que esses autores e a maioria dos autores de livros did-ticos analisados no procura denir ou problematizar o conceito de populismo.21
Aqueles que apontam a crise do populismo como uma das causas do golpe civil
e militar abordaram o perodo de 1945-1964 como sendo o de uma experincia
democrtica em que o povo teve voz ativa. Adhemar Martins Marques, Ricardo
de Moura Faria e Flvio Costa Berruti, autores do livro Brasil: Histria em Cons-
truo (1996),22 destinado ao Ensino Fundamental, exemplicam essa ausncia
de problematizao. Segundo os autores, teria sido no perodo em que Goulart
governou que a crise do Populismo chegou a seu momento culminante.23
19 Andra Montellato; Conceio Cabrini; Roberto Catelli Junior, Histria Temtica: O mundo doscidados, 8 srie, So Paulo, Scipione, 2000, pp. 226-227.20Ibidem.21 endo em vista os limites deste artigo no pretendemos entrar nas complexas discusses historio-grcas a respeito do conceito de populismo. Destacamos, no entanto, que para ngela de CastroGomes, o conceito de populismo oi visto como uma espcie de mal do privado e do pblico,constituindo-se na melhor traduo do impasse para a conquista da modernidade poltica. Porm,numa leitura inversa e perversa, no oi o populismo o que limitou nossa experincia democr-tica, mas o que a possibilitou. ngela de Castro Gomes, A poltica brasileira em busca da moder-nidade: na ronteira entre o pblico e o privado, In: Lilia Moritz Schwarcs, Histria da vida privadano Brasil: contrastes da intimidade contempornea, So Paulo, Companhia das Letras, 2000, pp.544-551. Para uma cartograa dos debates historiogrcos ver Jorge Ferreira (org.), O populismo esua histria: debate e crtica, Rio de Janeiro, Civilizao Brasileira, 2001.22 Adhemar Martins Marques; Ricardo de Moura Faria; Flvio Costa Berruti, Brasil: Histria emConstruo, Ensino Fundamental, vol. 4, Belo Horizonte, Editora L, 1996, pp. 19-22.23Ibidem. Francisco Alencar, Lcia Carpi Ramalho e Marcus Vencio oledo Ribeiro, autores dolivro Histria da Sociedade Brasileira, tambm apontam como causa do Golpe Militar a crise dopopulismo. Ver Francisco Alencar; Lcia Carpi Ramalho; Marcus Vencio oledo Ribeiro, Histriada Sociedade Brasileira, Rio de Janeiro, Editora Ao Livro cnico, 1985, p. 89.
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O que seria o populismo e quando a crise que terminaria com o Golpe teria
tido incio no so mencionados no decorrer do texto. Os autores armam
que, no perodo do governo Goulart, a crise do populismo teria chegado a seu
momento culminante sendo que at o incio de 1964 a crise s aumentou . Esse
aumento da crise, de acordo com os autores do livro, gerou revolta e mobilizao
nas classes popular e empresarial e desencadeou o Golpe de 1964.24
Indiretamente, percebemos a infuncia das refexes que consideram o
populismo como uma manipulao poltica; anal, seus lderes pertenciam s
elites tradicionais e no se encontravam realmente vinculados a causas populares.
Os trabalhos sobre o populismo entendem-no como um momento de transiode uma sociedade tradicional para a moderna, como uma etapa do desenvolvi-
mento latino-americano, sendo a poltica de massas um momento necessrio para
a construo de uma sociedade desenvolvida e democrtica, ou mesmo socialis-
ta.25 Notamos tambm que o progressivo questionamento desse conceito no est
presente nos livros didticos analisados. Essa ausncia pode ser explicada, dentre
outros motivos, pelo luto inacabado que ainda persiste quando se reere s anli-
ses acerca do Golpe, conorme destacaremos em nossas consideraes nais.
Origem: oposio ao governo de Joo Goulart
Para Elian Alabi Lucci, autor do livro didtico Histria do Brasil(1985),26 des-
tinado ao Ensino Mdio, algumas atitudes do Presidente [Joo Goulart] comea-
vam a encaminhar o Pas para a adoo de medidas de carter esquerdista. O autor
no se preocupa em explicar que atitudes seriam essas, e continua, armando que
essas medidas provocaram agitaes polticas e alta de disciplina, inclusive em
alguns setores militares, o que gerou um clima de grande intranquilidade.27 O queseriam medidas de carter esquerdista? O que teria sido esse descontentamento
nos mbitos populares, polticos e militares? E qual seria a poltica imposta por
Goulart? De acordo com o autor, o planejamento do Golpe Militar, denominado
24Ibidem.25 Ver Maria Helena Rolim Capelato, Estado Novo: Novas Histrias, In: Marcos Cezar Freitas(org.), Historiograa brasileira em perspectiva, So Paulo, Contexto, 1998, pp. 183-213.26 Elian Alabi Lucci, Histria do Brasil: o imprio, a repblica e o Brasil contemporneo, Ensino
Mdio, So Paulo: Saraiva, 1985, vol. 2, pp. 93-94.27 Elian Alabi Lucci, Histria do Brasil: o imprio, a repblica e o Brasil contemporneo, EnsinoMdio, So Paulo, Saraiva, 1985, vol. 2, p. 93-94.
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Revoluo de maro de 1964, teve incio quando comeou a haver descon-
tentamento nos mbitos populares, polticos e militares. (...) os chees militares,
apoiados pelos governadores, organizaram um movimento que cou conhecido
como a Revoluo de maro de 1964 e que deps Joo Goulart.28
Segundo Gilberto Cotrim, autor do livro Histria e reexo (1996),29 desti-
nado ao Ensino Fundamental, Joo Goulart queria realizar um governo nacio-
nalista e reormista, porm os grandes empresrios nacionais e estrangeiros
iriam reduzir seus investimentos na produo, pois desconavam das intenes
do governo. (...). Apavorados com a ideia de perder seus lucros e privilgios, os
grandes empresrios uniram-se aos militares. Comearam a tramar a queda deJoo Goulart.30 De acordo com Mrio Furley Schmidt, autor do livro Nova Hist-
ria Crtica (1999),31 destinado 8 srie, as reormas de base que seriam propostas
por Jango em seu governo geraram uma mobilizao popular que amedrontou
as classes mais ricas. Essas classes tinham medo de perder alguns privilgios;
temiam que as Reormas de Base ossem apenas o comeo de uma srie de trans-
ormaes radicais no pas.32
Outras origens
Alguns livros destacam que as agitaes polticas, durante o governo de Gou-
lart, teriam desencadeado o Golpe de 1964. O comcio realizado em 13 de maro
de 1964, a Marcha da Famlia com Deus pela Liberdade em 19 de maro de 1964 e
a Revolta dos Marinheiros em 25 de maro do mesmo ano oram algumas dessas
agitaes polticas explicitadas pelos livros. Para outras obras, a incapacidade do
governo de Joo Goulartoi uma das principais causas do Golpe Militar e civil. A
incapacidade de Joo Goulartdiz respeito s escolhas eitas por ele e a sua supostacovardia, demonstrada na sua uga do Brasil no momento em que os militares
tomavam o poder. Em 1983, por exemplo, Raymundo Campos, no livro Histria
28Ibidem.29 Gilberto Cotrim, Histria e reexo, Ensino Fundamental, vol. 4, So Paulo, Saraiva, 1996, p.115-117.30Ibidem.
31 Mrio Furley Schmidt, Nova Histria Crtica, 8 srie, So Paulo, Editora Nova Gerao, 1999, p.235.32Ibidem.
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do Brasil,33 destinado ao Ensino Mdio, arma que o governo revelaria acentu-
ada raqueza, pressionado pela situao econmica, pela direita, pela esquerda,
com reduzida margem de manobra. Notamos que, na maioria dos livros didti-
cos das dcadas de 1970 e 1980, os golpistas no seriam apontados como causa
undamental do Golpe. Nos livros dessa poca, as origens do Golpe esto ligadas,
em geral, a crises econmicas e inabilidade de Joo Goulart no governo.
Nos livros das dcadas seguintes, essas duas origens no aparecem; porm sur-
gem quatro causas novas: choques entre grupos de esquerda e grupos de direita,fatos
que ocorreram em maro de 1964,poltica desenvolvimentista da dcada de 50 e o
golpe de 64 teria sido um adiamento do golpe planejado em 1961, aps a rennciade Jnio Quadros. Por economia de espao, no detalharemos essas causas.34
Pensar o acontecimento traumtico
Um aspecto que chama a ateno nos livros analisados a ideia da inevita-
bilidade do Golpe de 1964, presente em todas as edies analisadas. De acordo
com Francisco Alencar, Lcia Carpi Ramalho e Marcus Vencio oledo Ribeiro,
autores do livro Histria da Sociedade Brasileira (1985),35
por exemplo, em mea-dos de 1963, o Governo Goulart que voltara ao presidencialismo por deciso
de plebiscito realizado a 6 de janeiro era obrigado a abandonar o Plano rienal,
revelando-se incapaz de sustar a crise econmica e nanceira. Os autores ar-
mam que o primeiro gesto em oposio ao governo partiu da classe mdia. Esse
movimento, para os autores, mais tarde teria se unido s conspiraes que os
grupos de ocias das Foras Armadas estavam tramando, conerindo-lhes, dessa
orma, um apoio poltico e social. Ainda segundo esses autores, o apoio dos mili-
tares s aconteceu mais tarde. O golpe teria sido ento inevitvel, tornando-seuma consequncia lgica das aes de Jango no governo.
33 Raymundo Campos, Histria do Brasil, Ensino Mdio, So Paulo, Atual, 1983, pp. 227-229.34 Sobre essas causas, ver Gilberto Cotrim, Saber e Fazer Histria: Histria Geral e do Brasil, 8 srie, SoPaulo, Saraiva, 2000, pp. 136-139; Gleuso Damasceno Duarte, Jornada para o nosso tempo, 8 a srie,Belo Horizonte Editora L, 1997, vol. 4, p. 118; Ktia Corra Peixoto Alves; Regina Clia de MouraGomide Belisrio, Nas Trilhas da Histria, Ensino Fundamental, Belo Horizonte, Dimenso, 1999, vol.
4, pp. 184-185; Antnio Pedro, Histria do Brasil, Ensino Mdio, So Paulo, FD, 1987, p. 229.35 Francisco Alencar; Lcia Carpi Ramalho; Marcus Vencio oledo Ribeiro, Histria da SociedadeBrasileira, 3.ed., Rio de Janeiro, Editora Ao livro cnico, 1985.
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Os sentidos do golpe de 1964 nos livros didticos de histria (1970-2000):entre continuidades e descontinuidades
De acordo com Luciano Ramos, autor do livro Histria do Brasil (1977),36
destinado ao Ensino Fundamental, a infao crescia e, junto com ela, os preos
e os problemas sociais. As crises administrativas se sucediam, ao lado das crises
econmicas, da pssima situao nanceira, da incapacidade administrativa. A
juno de todos esses atores levou as Foras Armadas a intervir no processo
poltico. ropas do Exrcito se encaminharam para a Guanabara, a partir do dia
31 de maro de 1964. Em seguida, o presidente saiu do pas e as Foras Armadas
baixaram um Ato Institucional, que marcava a eleio de um novo presidente,
pelo Congresso Nacional.37 Para Vanise Ribeiro, Virgnia rindade Valadares
e Sebastio Martins, autores do livro Histria: Assim Caminha a Humanidade(1993),38 destinado 8 srie, em 1964 no houve uma mobilizao democrtica,
como em 1961, para tentar impedir a ocorrncia do golpe. alvez esse seja um
dos poucos exemplos onde h certa preocupao por parte dos livros analisados
em se pensar sobre a inevitabilidade do golpe ser dado e tambm dele ser bem
sucedido. Em geral, essas duas dimenses so conundidas. Anal, mais do que a
ocorrncia do Golpe, a questo de undo da maioria das pessoas e/ou pesquisas
que se debruam sobre este evento a seguinte: por quais razes o Golpe de 1964
oi bem sucedido e duradouro do ponto de vista daqueles que oram vitoriosos?Percebe-se, portanto, por meio desses exemplos e dos dados anteriores, que a
inevitabilidade do Golpe (dele ser dado e ser bem sucedido) est presente, tanto
nos livros cujos autores enatizam a ideia de que 1964 oi ruto de uma conspira-
o, como naqueles em que se pensa o acontecimento como uma ao preventiva
da direita em relao a uma utura ao da esquerda revolucionria.39
interessante observar que, em 1994, dois importantes historiadores marxis-
tas, Nelson Werneck Sodr e Jacob Gorender, negam a inevitabilidade do golpe.Respondendo pergunta seria possvel evitar o golpe de 64?, Sodr armou:
36 Luciano Ramos, Histria do Brasil, Ensino Fundamental, So Paulo, Editora do Brasil, 1977,vol. 2, p. 163.37Ibidem.38 Vanise Ribeiro; Virgnia rindade Valadares; Sebastio Martins, Histria: Assim Caminha aHumanidade, 8 srie, Belo Horizonte, Editora do Brasil, 1993.39 Para uma anlise dessas interpretaes na historiograa do Golpe de 1964, ver, dentre outros,Lucilia de Almeida Neves Delgado, 1964: temporalidade e interpretaes, In: Daniel Aaro Reis;Marcelo Ridenti; Rodrigo Patto S Mota (orgs.), O golpe e a ditadura militar: 40 anos depois (1964-2004), So Paulo, Edusc, 2004.
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Sim, teria sido se realmente nossas instituies ossem democrticas e slidas.
No haveria as intervenes, nem os golpes, da o cuidado que devemos ter, hoje,
para que no haja uma ruptura no processo democrtico.40 Na mesma linha,
Gorender armou que visto de perspectiva ampla, o golpe no era inevitvel.
Contudo, tornou-se inevitvel na curta conjuntura dos dois ou trs meses que
o antecederam. A derrota das correntes que a eles se opunham tambm no era
inevitvel.41 Portanto, gostaramos de destacar, que, em geral, as diversas possibi-
lidades perdidas pelos atores entre 1961-1964, as descontinuidades, as alter-
nativas disponveis em conjunturas crticas durante a presidncia de Goulart,42
no so mencionadas pelos livros analisados.Refetir sobre o conceito de evento/acontecimento pode ser uma via inte-
ressante para se pensar o acontecimento para alm de sua inevitabilidade. Cabe
destacar, todavia, que, aps a hegemonia das concepes braudelianas na dcada
de 1970, que procuraram aprisionar o evento na curta durao,43 percebe-se
que a disciplina histria experimenta um retorno progressivo aos estudos sobre
o acontecimento.44 Essas abordagens procuram entrar na temporalidade do pr-
prio evento ao invs de negar o acontecimento ou de situ-lo em nveis de tem-
poralidades hierarquicamente mais importantes.Desse modo, acreditamos que o acontecimento no pode ser reduzido a um
contexto ou a uma construo.45 Deve-se reconstru-lo em sua especicidade
40 Nelson Werneck Sodr, Era o golpe de 64 inevitvel?, In: Caio Navarro de oledo (org.), 1964:vises crticas do golpe, Campinas, Editora Unicamp, 1997, p.107.41 Jacob Gorender, Era o golpe de 64 inevitvel?, In: Caio Navarro de oledo (org.), 1964: visescrticas do golpe, Campinas, Editora Unicamp, 1997, p.114.42 Segundo Argelina Figueiredo, entre 1961 e 1964, escolhas e aes especcas solaparam as pos-
sibilidades de ampliao e consolidao de apoio para as reormas, e, desta orma, reduziram asoportunidades de implementar, sob regras democrticas, um compromisso sobre estas reormas.Argelina Cheibub Figueiredo, Democracia ou Reformas? Alternativas democrticas crise poltica:1961-1964, So Paulo, Paz e erra, 1993, p. 30. Ver, tambm, Argelina Cheibub Figueiredo, Estru-turas e escolhas: era o golpe de 1964 inevitvel?, In: 1964-2004: 40 anos do golpe. Ditadura Militare Resistncia no Brasil. Rio de Janeiro, 7Letras: 2004 e Jorge Ferreira,A Democracia no Brasil (1945-1964). So Paulo, Atual, 2006.43 Franois Dosse, Imprio do sentido: a humanizao das Cincias Humanas, Bauru, EDUSC,2003.44 Jacques Revel, Retour sur lvnement: un intinraire historiographique, In: Jean-Louis Fabiani
(Dir.), Le Got de lEnqute: pour Jean-Claude Passeron, Paris, LHarmattan, 2001.45 Ver Alban Bensa; Eric Fassin, Les sciences sociales ace lvnement, n. 38, errain, Paris, di-tions du Patrimoine, maro 2002, pp. 5-20.
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temporal, como uma ruptura da inteligibilidade.46 Consideramos, desse modo,que os eventos partilham um tempo entre o passado e o uturo, um antes e umdepois do Golpe Militar de 1964, por exemplo.47 O acontecimento, mesmo quetraumtico, uma linha divisria imaterial, que abre e echa sries de diversos emltiplos horizontes temporais que no se resumem epiania do instante, ape-sar de comportar essa dimenso tambm.
Portanto, no entrecruzamento de duraes que se ancora a dinmica his-trica dos atores que se movimentam em vrias temporalidades, na maioria das
vezes, no lineares, como podemos perceber quando analisamos o jogo entre
determinaes e indeterminaes que possibilitaram o Golpe de 1964. Acredita-mos, desse modo, que pensar e trabalhar sobre o conceito de acontecimento podens auxiliar a romper com as amarras impostas pela ideia de inevitabilidade tal
como encontramos nos livros didticos analisados.48
Livros didticos e causalidade
Para problematizar a ideia de inevitabilidade, seria necessrio, a nosso ver,
rompermos com o conceito de causalidade linear ou mesmo, talvez, superar aconcepo de causalidade. Porm, podem os autores, em livros como os didti-cos, realizar ou ousar a esse ponto?
Para Marisa Lajolo, didtico o livro que vai ser utilizado em aulas e cur-sos, que provavelmente oi escrito, editado, vendido e comprado, tendo em vistaessa utilizao escolar e sistemtica.49 Para que se possa considerar um livro
46 Ver, por exemplo, Gilles Deleuze, Lgica do Sentido, So Paulo, Perspectiva, 1974, p. 152.47 A esse respeito Koselleck arma que a unidade de sentido que az dos dierentes acontecimentos
um acontecimento composta de um mnimo de antes e depois. Reinhart Koselleck, FuturoPassado: contribuio semntica dos tempos histricos, 1.ed., Rio de Janeiro, Contraponto, 2006, p.134. Vale a pena destacar que para Koselleck o acontecimento irredutvel, pois ele constitudopor um n de temporalidades atualizadas em um momento dado. Os acontecimentos so prisio-neiros de um antes e de um depois, ligados cronologia e empiricamente vericados. Porm, essadimenso deve dialogar com a dimenso estrutural e conceitual, pois os acontecimentos e estrutu-ras so, ao mesmo tempo, abstratos e concretos.48 Franois Dosse comentando a obra de Deleuze arma, paradoxalmente, que tentar compreendere explicar um acontecimento em sua complexidade e lgicas de sentidos coloca em crise diversasconcepes de histria. Franois Dosse. Gilles Deleuze et Flix Guattari. Biographie croise, Paris,
Decouvert, 2007, pp. 384-388.49Marisa Lajolo, Livro Didtico: um (quase) manual de usurio, Em aberto, 16 (69): 3-9, Braslia,jan/mar, 1996, p. 4.
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como didtico, ele deve ser utilizado de orma sistemtica no processo de ensino-
aprendizagem. Ele se dirige, ao mesmo tempo, a dois leitores distintos, o proes-
sor e o aluno. Assim como qualquer outro livro, o didtico proporcionar leituras
dierentes para leitores dierentes.
importante perceber que os livros didticos no so uma mera transposio de
um saber acadmico para um saber escolar. As disciplinas escolares no so refexo
nem vulgarizao dos saberes da pesquisa acadmica.50 Ensinar, no , portanto,
simplicar e vulgarizar. Deveria ser, antes de tudo, azer pensar, problematizar.
No entanto, percebemos que, no a de hierarquizar e citar as origens do
acontecimento, no caso, o Golpe de 1964, a interpretao e a anlise so deixa-das de lado em certos aspectos pelos autores de livros didticos. Seria necessrio
pensar a histria para alm da ascinao pela origem. Anal, a contradio que
os historiadores das origens pretendem superar , em certa medida, insupervel,
pois, aps uma longa busca das causas proundas e imediatas, eles retornam
sempre ao carter contingente do comeo de uma guerra,51 confito e, no nosso
caso, do Golpe Militar de 1964. Franois Furet, ao analisar a 1a Guerra Mundial,
armou que quanto mais pesadas, ortes e traumticas orem as consequncias de
um evento, mais dicil pens-lo a partir de suas causas.52
De qualquer maneira, no que se reere ao Golpe de 1964, tendemos a con-
cordar com Lucilia Delgado, quando arma que pensar as razes de aconteci-
50 Andr Chervel, Histria das disciplinas escolares: refexes sobre um campo de pesquisa, Teoriae Educao, n. 2, 1990, p. 182. Ver, tambm, Circe Bittencourt, Ensino de Histria: fundamentos emtodos, So Paulo, Cortez, 2004.51 Antoine Prost, Jay Winter, Penser la Grande Guerre: un essai dhistoriographie, Paris, Seuil,
2004, p .63.52 Jacques Revel, Retour sur lvnement: un intinraire historiographique, In: Jean-Louis Fabiani(Dir.), Le Got de lEnqute: pour Jean-Claude Passeron, Paris, LHarmattan, 2001, p. 102. Cabe aquidestacar a denio de contigncia de Raymond Aron: nous entendons par contingence la oisla possibilit de concevoir lvnement autre et limpossibilit de dduire lvnement densemblede la situation antrieure. Raymond Aron, Introduction la philosophie de lhistoire. Essais sur leslimites de lobjectivit historique, Paris, Gallimard, 1986, p. 277. Umberto Eco, em O Nome da Rosa,apresenta-nos um comentrio que julgamos pertinente, a saber : (...) porque raciocinar sobre ascausas e sobre os eeitos coisa muito dicil, creio que o nico juiz possvel Deus. J temos amaior diculdade em apreender uma relao entre um eeito to evidente como um rvore quei-mada e o raio que a incendiou: assim, remontar encadeamentos s vezes muito longos de causas eeeitos parece-me to louco quanto procurar construir uma torre que v at o cu. Citado por MilesHewstone, Representaes sociais e causalidade, Denise Jodelet (org.), As representaes sociais,Rio de Janeiro, EDUERJ, 2001, p. 217.
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Os sentidos do golpe de 1964 nos livros didticos de histria (1970-2000):entre continuidades e descontinuidades
mentos como o Golpe tarea complexa, supe identicao e compreenso da
multiplicidade de variveis presentes nas conjunturas que precedem essas ruptu-
ras e supe tambm identicao de elementos de longa durao que se atuali-
zam nessas conjunturas.53 H, assim, um entrecruzamento de tempos histricos
de longa e curta durao, conormando uma crise complexa, que no cabe ser
interpretada atravs de qualquer tipo de esquema terico preestabelecido, pois
cada dinmica histrica singular.54
Na mesma direo, Carlos Fico arma que, sem a desestabilizao ocasio-
nada pela propaganda ideolgica e a mobilizao da classe mdia, alm de uma
mnima coordenao e planejamento da ao militar, o Golpe de 1964 seria di-cil de eclodir. As mudanas estruturais do capitalismo brasileiro, a instabilidade
institucional do pas, as incertezas do governo de Joo Goulart, a propaganda
poltica conservadora, a natureza golpista dos conspiradores, especialmente a dos
militares, so causas macroestruturais ou microlgicas, que devem ser levadas
em conta, no havendo nenhuma ragilidade terica em considerarmos como
razes do golpe tanto os condicionantes estruturais quanto os processos conjun-
turais ou os episdios imediatos.55
Nessa busca de sentido sem teleologia, ligada crise do causalismo ou domonocausalismo, Franois Dosse nos convida a pensar tambm em subdetermi-
naes, isto , irredues que no podem ser pensadas linearmente a partir de
relaes de causalidades, nas quais os enmenos anteriores determinariam os que
seguem. A noo de subterminao designa ao mesmo tempo a pluralidade dos
possveis e a existncia de constrangimentos que tm como eeito que alguns pos-
sveis aconteam, e outros no.56 A indeterminao no uma indistino postu-
lada, absoluta, pois a reabertura do campo mltiplo das possibilidades do passadono innita. rata-se, de inscrever as possibilidades de interpretao no interior
das limitaes, como podemos perceber a partir do trabalho de Argelina Chei-
53 Lucilia de Almeida Neves Delgado, 1964: temporalidade e interpretaes, In: Daniel Aaro Reis;Marcelo Ridenti; Rodrigo Patto S Mota, O golpe e a ditadura militar: 40 anos depois (1964-2004).So Paulo, Edusc, 2004, p. 26.54Idem.55 Carlos Fico, Verses e controvrsias sobre 1964 e a ditadura militar, Revista Brasileira de Hist-
ria, vol. 24, n. 47, So Paulo, 2004, pp. 29-60.56 Franois Dosse, Imprio do sentido: a humanizao das Cincias Humanas , Bauru, EDUSC,2003, p. 333.
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bub Figueiredo57 e das anlises presentes, em especial, no livro Histria Temtica
(2000), como j reerimos. Ao que parece, pensar em narrativas didticas que ques-
tionem o causalismo pensar uma didtica da histria em direo complexidade.
Complexidade do tempo, da histria e da ao. preciso, a nosso ver, que os textos
didticos mostrem e demonstrem para os homens de hoje que melhor para a vida
compreender o tempo como olheado, mltiplo e multidirecionado.
As diversas possibilidades perdidas pelos atores entre 1961-1964, as des-
continuidades, as alternativas disponveis em conjunturas crticas durante a presi-
dncia de Goulart58 no so mencionadas por nenhum dos 60 livros analisados.
Percebemos, assim, que a ascinao pela ideia de origem, denunciada porMarc Bloch59 na primeira metade do sculo XX, permeia todos os livros didticos
analisados. Dessa maneira, dada a intencionalidade didtica do saber histrico
escolar veiculado nas obras analisadas, seria importante relativizar e no abo-
lir noes determinantes como origem e/ou causa. Seria um grande passo
para que os livros didticos de Histria assumissem um conceito de tempo mais
heterogneo e plural, como inclusive sugerido pelos atuais Parmetros Cur-
riculares Nacionais de Histria (PCNs).60 Pensamos que as diculdades em se
57 Argelina Cheibub Figueiredo, Democracia ou Reformas? Alternativas democrticas crise poltica:1961-1964, So Paulo, Paz e erra, 1993. No se trata aqui de criticar alguns livros a partir de cri-trios estabelecidos posteriormente. Mas, de mostrar que a concepo de histria que privilegia aspossibilidades perdidas e/ou disponvel no est presente nos livros analisados. Pretendeu-se,portanto, assumir a concepo de que a histria da historiograa deve refetir sobre as memriasconstrudas, na medida em que a historiograa pode ser compreendida como investigao siste-mtica acerca das condies de emergncia dos dierentes discursos sobre o passado. Manuel L. L.S. Guimares, Memria, histria e historiograa. In: Jos Neves Bittencourt, Sara Fassa Benche-trit, Vera Lcia Bottrel ostes (orgs.). Histria representada: o dilema dos museus, Rio de Janeiro,
Museu Histrico Nacional, 2003, p. 92.58 Segundo Argelina Figueiredo, entre 1961 e 1964, escolhas e aes especcas solaparam as pos-sibilidades de ampliao e consolidao de apoio para as reormas, e, desta orma, reduziram asoportunidades de implementar, sob regras democrticas, um compromisso sobre estas reormas.Argelina Cheibub Figueiredo, Democracia ou Reformas? Alternativas democrticas crise poltica:1961-1964, So Paulo, Paz e erra, 1993, p. 30. Ver, tambm, Argelina Cheibub Figueiredo, Estru-turas e escolhas: era o golpe de 1964 inevitvel?, In: 1964-2004: 40 anos do golpe. Ditadura Militare Resistncia no Brasil, Rio de Janeiro, 7Letras, 2004 e Jorge Ferreira,A Democracia no Brasil (1945-1964), So Paulo, Atual, 2006.59 Ver Marc Bloch,Apologia da Histria, ou o ofcio do historiador, Rio de Janeiro, Zahar, 2001.60 Baseado em categorias braudelianas, o documento privilegia os eixos temticos sobre a cronolo-gia: Os ritmos da durao, por sua vez, possibilitam identicar a velocidade com que as mudan-as ocorrem. Assim, podem ser identicados trs tempos: o tempo do acontecimento breve, o da
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trabalhar com um conceito de histria mais complexo poderiam ser vencidas,
ao menos parcialmente, introduzindo, nos livros didticos, noes de indeter-
minao e subdeterminao. Em outras palavras, trata-se de considerar o(s)
tempo(s) histrico(s) como plural, olheado e multidirecionado. Obviamente,
essas mudanas devem ser trabalhadas nos cursos de graduao que ormam os
proessores de histria, uturos compradores indiretos dos livros.
At que ponto, por exemplo, nas disciplinas ditas de contedo dos cursos de
graduao, essas anlises e a recusa da obsesso pelas origens so levadas em con-
siderao? preciso ainda um longo trabalho, para, nos termos de Paul Ricoeur,
renunciar a Hegel.61
Anal, como destaca Krzyszto Pomian, as periodizaesque levam a pensar o tempo histrico como linear s surgem aps Hegel.62 Seria
interessante se os proessores, alunos, autores e editoras ousassem em nome da
vida; anal, como Marc Bloch aponta, nesta aculdade de apreenso do que
vivo que reside, eetivamente, a qualidade undamental do historiador.63 Essa
mudana de procedimento, atitude e postura rente s construes de sentido
do passado poderia contribuir para mostrar que a histria antes de tudo uma
construo e no um dado natural.
Os diversos sentidos que o Golpe de 1964 assume nas narrativas dos livros did-ticos de Histria analisados em nossa pesquisa possibilitam compreender e explicar
aspectos do processo de construo de sentidos desse acontecimento traumtico
em obras didticas, de 1970 a 2000. As narrativas que reorganizam o acontecimento,
em sua pluralidade, so indissociveis dele, ormam parte da trama do aconteci-
mento.64 A insistente ideia de interpretar o acontecimento, partindo de causas e
eeitos, no permite anlises didticas que desconstruam, que evidenciem as des-
continuidades. E, sobretudo, procurem conciliar descontinuidade e continuidade.conjuntura e o da estrutura. Brasil, Secretaria de Educao Fundamental. Ministrio da Educao,Parmetros curriculares nacionais: Histria e Geograa, Braslia, 1998, vol. 5, p. 38.61 Paul Ricoeur, Temps et rcit. 3: Le temps racont. Paris, Seuil, 1985, pp. 349-372.62 Krzyszto Pomian, Periodizao, Enciclopdia Einaudi, vol. 29, empo/temporalidade, Lisboa,Impressa Nacional, 1993, pp. 164-213.63 Marc Bloch,Apologia da Histria, ou o ofcio do historiador, Rio de Janeiro, Zahar, 2001, pp. 42e 46.64 Para Franois Dosse independentemente dos atores do acontecimento, a evoluo das represen-taes deste, a diversidade das narrativas s quais ele d origem azem totalmente parte do acon-tecimento em si em sua eccia futuante ao longo do tempo. Franois Dosse, Histria e CinciasSociais, So Carlos, EDUSC, 2004, p. 65.
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4. Consideraes fnais
A histria transorma o trabalho de memria em um trabalho de luto.Muitasvezes, essa uma orma de retirar dor dos objetos histricos, interiorizando-os,
principalmente quando estamos na onda de choque do evento traumtico.65
Pensar sobre os sentidos atribudos ao Golpe pelos autores de livros didticos de
histria , ao mesmo tempo, portanto, um trabalho de memria e um trabalho
de luto. Porm, sabemos que o luto inacabado no permite a edicao de uma
tumba escriturria, que seria uma histria com distanciamento.66 Alm disso, o
historiador-autor de livros didticos teria determinadas identicaes em rela-
o ao acontecimento que so prprias ao seu ocio, mas que seriam agravadas
quando ele participa de tal conjuntura. O poder traumtico dos eventos talvez
possa no ter sido totalmente absorvido no momento em que ele escreveu. A
diculdade, nesses casos, no apenas conceituar e interpretar bem, mas azer
corretamente o trabalho de luto. A m de que o evento no caia no esquecimento
e/ou impea ao presente de criar o novo.67
Entendemos que os novos sentidos que viriam a ser atribudos ao Golpe,
principalmente nos livros didticos mais recentes, marcam tambm o comeo dotrabalho de memria. Esse dado pode ser demonstrado pela ausncia de determi-
nadas origens como incapacidade de Goulart. A retirada da dor dos objetos e sua
interiorizao parecem ter sorido uma diminuio; anal, o aumento de explica-
65 Paul Ricoeur, crire LHistoire du Temps Present, Paris, Seuil, 1991. Para uma anlise das relaesentre histria e psicanlise, em especial, do conceito de trauma e a dialtica entre passado e pre-sente, ver Franois Dosse, Histria e Cincias Sociais, So Carlos, EDUSC, 2004, p. 65.66
Paul Ricoeur, Memoire: approches historiennes, approche philosophique, In: Le Dbat, Paris,Galimard, 2002, pp. 41-61, pp. 59-61.67 Paul Ricoeur, La mmoire, lhistoire, loubli, Paris, Seuil, 2000. Hannah Arendt armou que a nicasoluo possvel para o problema da irreversibilidade, entendida como sendo a impossibilidade dese desazer o que se ez, embora no se soubesse nem se pudesse saber o que se azia a aculdadede perdoar. A soluo para o problema da imprevisibilidade, da catica incerteza do uturo, estcontida na aculdade de prometer e cumprir promessas. Hannah Arendt.A condio humana, SoPaulo, Universitria, 1991, p. 249. Ricoeur, por sua vez, concorda em parte com Hannah Arendt,mas ele avana no sentido de acreditar que a concesso do perdo est undamentada no desliga-mento do ato de seu agente. O perdo sempre dirigido ao outro e no ao mesma. Da nossaparte, o que importante destacar que preciso pensar uma educao histrica que se preocupeem evitar a repetio de qualquer evento semelhante a 1964. Pensamos que a lembrana, a refe-xo, a interpretao e uma possvel reconciliao crtica em relao ao acontecimento traumticopode ser um passo importante nesse tipo de educao histrica.
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Os sentidos do golpe de 1964 nos livros didticos de histria (1970-2000):entre continuidades e descontinuidades
es mais ricas e menos simplistas nas narrativas didticas acerca do Golpe de 1964
aparentam isso. Podemos dizer que os livros didticos analisados, uns mais do que
outros, verdade, oram importantes atores nesse processo de retirada da dor
desse acontecimento traumtico e tambm terrvel que no deve ser esquecido.
Desse modo, manter presente o acontecimento para guard-lo como algo a ser
pensado uma orma de impedir sua disperso no tempo e no esquecimento.68
Anexo 1 Livros didticos citados pelo texto (por dcada de edio)
1970
RAMOS, Luciano. Histria do Brasil. Ensino Fundamental. So Paulo: Editora doBrasil, 1977, 2 vol.
SANOS, Maria Januria Vilela. Histria do Brasil. 6 srie. So Paulo: tica,1979.
1980
ALENCAR, Francisco, RAMALHO, Lcia Carpi, RIBEIRO, Marcus Venciooledo. Histria da Sociedade Brasileira. Rio de Janeiro: Editora do livro cnico,1985.
CAMPOS, Raymundo. Histria do Brasil. Ensino Mdio. So Paulo: Atual, 1983.
LUCCI, Elian Alabi. Histria do Brasil: O imprio, a repblica e o Brasil contem-porneo. Ensino Mdio. So Paulo: Saraiva, 1985, vol. 2.
PEDRO, Antnio. Histria do Brasil. Ensino Mdio. So Paulo: FD, 1987.
1990
ALVES, Ktia Corra Peixoto, BELISRIO, Regina Clia de Moura Gomide. His-tria. Ensino Fundamental. Belo Horizonte: Viglia, 1991, vol 4.
_____. Nas Trilhas da Histria. Ensino Fundamental. Belo Horizonte: Dimenso,1999, vol. 4.
68 Ver Irene de Arruda Ribeiro Cardoso, Foucault e a noo de acontecimento, Tempo Social, n. 7,vol. 1-2, So Paulo, USP, 1995, pp. 57-58.
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Mateus H. F. Pereira e Andreza C. I. Pereira Artigos
CORIM, Gilberto. Histria e reexo. Ensino Fundamental. So Paulo: Saraiva,1996, vol. 4.
DUARE, Gleuso Damasceno.Jornada para o nosso tempo. 8 srie. Belo Hori-zonte: Editora L, 1997, vol. 4
MARQUES, Adhemar Martins; FARIA, Ricardo de Moura; BERRUI, FlvioCosta. Brasil: Histria em Construo. Ensino Fundamental. Belo Horizonte: L,1996, vol. 4.
RIBEIRO, Vanise; VALADARES, Virgnia rindade; MARINS, Sebastio. His-tria: Assim Caminha a Humanidade. 8 srie. Belo Horizonte: Editora do Brasil,
1993.SCHMID, Mrio Furley. Nova Histria Crtica. 8a srie. So Paulo: Editora NovaGerao, 1999.
VICENINO, Cludio. Histria Memria Viva. Brasil Perodo imperial e republi-cano. So Paulo: Scipione, 1994.
2000
CORIM, Gilberto. Saber e Fazer Histria: Histria Geral e do Brasil. 8 srie.So Paulo: Saraiva, 2000.
MONELLAO, Andrea; CABRINI, Conceio; CAELLI JUNIOR, Roberto.Histria Temtica: O mundo dos cidados. 8a srie. So Paulo: Scipione, 2000.
Anexo 2 Demais livros didticos utilizados pela pesquisa(por dcada de edio)
1970
ABRAMO, Alcione. Ensino criativo de Histria do Brasil. Imprio e Repblica. 1grau. 6 srie. So Paulo: Editorado Brasil, 1976.
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MARQUES, Adhemar Martins; FARIA, Ricardo de Moura; BERRUI, FlvioCosta. Histria. Ensino Mdio. Belo Horizonte: L, 1993, vol. 3.
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