O Ensino de História e a Utilização Da História Oral-CEFET

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  • O Ensino de Histria e a utilizao da Histria Oral: Eunpolis e

    suas memrias

    Nathalia Helena Alem

    Tatiana da Cunha Peixoto

    Introduo

    Trabalhar com a disciplina de Histria no Ensino Mdio no das tarefas mais

    fceis. Os alunos que chegam a este nvel de formao deveriam, teoricamente, ter

    adquirido instrumentos e conhecimentos que tornassem o trabalho mais tranqilo e

    principalmente mais significativo. Observamos ao longo de onze anos de docncia no

    Centro Federal de Educao Tecnolgica da Bahia - Unidade de Ensino de Eunpolis,

    que no apenas contedos explcitos, mas tambm habilidades, competncias e valores

    que deveriam ter sido desenvolvidos ao longo das sries do Ensino Fundamental,

    atravs do ensino de Histria, no se apresentam nos dicentes que ingressam na

    instituio.

    De acordo com as atuais discusses acerca do ensino de histria, noes sobre

    o que Histria, o processo de sua construo, qual o trabalho do historiador,

    conceitos como tempo, tempo histrico e tempo cronolgico e o entendimento de que

    todos e no apenas os grandes heris e os grandes personagens constroem e fazem parte

    da histria, so essenciais para a construo de um instrumental conceitual que

    permitir conceber e entender o sentido da histria. Circe Bittencout (2005) adverte que

    alm dos elementos acima mencionados, para as sries finais do Ensino Fundamental

    os domnios dos denominados conceitos-chave tornam-se relevante para assegurar a

    sistematizao de contedos e uma viso de histria enquanto processo.

  • A idia para a realizao de um projeto envolvendo a histria oral - como

    instrumento e metodologia - para o ensino e estudo da histria, surgiu justamente das

    percepes de vrias dificuldades dos alunos que entram na instituio em relao ao

    estudo, importncia e ao entendimento da disciplina em seus mltiplos aspectos.

    Avaliao Diagnstica

    Recebemos no CEFET-BA / UE-Eunpolis (Centro Federal de Educao

    Tecnolgica da Bahia - Unidade de Ensino de Eunpolis), alunos egressos de universos

    distintos de nossa regio. So alunos oriundos de escolas privadas e pblicas, alguns

    com uma situao econmica confortvel, mas tambm aqueles que tm dificuldades

    em suprir necessidades bsicas. dentro deste universo heterogneo e extremamente

    rico que travamos nosso trabalho ano a ano, tentando superar as dificuldades acima

    mencionadas.

    No incio deste ano de 2007, decidimos realizar uma avaliao diagnstica,

    nas turmas de primeiro ano do Ensino Mdio e Tcnicos Integrados, a fim de

    levantarmos os conhecimentos dos alunos sobre questes fundamentais para a

    construo de um saber histrico escolar, destacarmos possveis falhas e lacunas no

    processo de ensino-aprendizagem e, atravs da organizao das informaes, traarmos

    novas estratgias para o trabalho da disciplina1.

    1 - Apesar de a avaliao diagnstica ter sido realizada em todas estas turmas, optamos por trabalhar apenas com uma sala de Ensino Mdio, uma vez que este um projeto piloto e o trabalho com grandes grupos pode

    tornar o trabalho com histria oral complicado. Escolhemos dentre as trs turmas, a do Ensino Mdio, em

    virtude da natureza do curso, que diferencia-se da dos cursos tcnicos, pois tem como principal objetivo a

    formao geral. A quantidade de disciplinas que os cursos tcnicos integrados possuem e sua carga horria

    torna quase invivel a realizao de um trabalho como este, onde as atividades extra-classe so necessrias.

  • Tal avaliao ocorreu no primeiro encontro com a turma e, dos 40 (quarenta)

    alunos, 39 (trinta e nove) responderam a avaliao2. Aps conversa inicial,

    esclarecendo acerca da natureza do trabalho e enfatizando que no seria uma prova, no

    valeria nota e que no era necessria a identificao, distribumos a avaliao, que foi

    respondida individualmente e sem consulta.

    Dos 39 (trinta e nove) alunos que responderam s questes propostas, 24

    (vinte e quatro) vieram de escola pblica, 14 (quatorze) de privada e 1 (uma) no

    respondeu. Aproximadamente 67% (sessenta e sete por cento) dos educandos

    concluram o Ensino Fundamental em 2006, 28% (vinte e oito por cento) entre 2004-

    2005, apenas 1 (um) concluiu antes de 2003 e 1 (um) no respondeu. Estes dados

    confirmam a heterogeneidade na origem dos alunos, oriundos de diferentes escolas e

    diferentes sistemas de ensino. No entanto, demonstram que a maioria concluiu

    recentemente o Ensino Fundamental, no estando, portanto, afastados da escola h

    muito tempo. Com isso o trabalho em nossa disciplina deveria ser mais fcil, uma vez

    que os alunos no possuem distoro idade/srie, nem to pouco, encontram-se

    afastados do ambiente escolar.

    Em seguida, 37 (trinta e sete) alunos responderam que tiveram aulas

    regularmente de histria durante o Ensino Fundamental, 1 (um) respondeu que no e

    outro no respondeu. A falta de aulas, comuns algumas vezes nas turmas,

    principalmente de escolas pblicas, no pode ser apontada como motivo que justifique

    os problemas verificados nesta turma, j que praticamente todos afirmam ter tido aulas

    de Histria.

    A maioria dos alunos, 29 (vinte e nove), diz gostar de estudar histria e apenas

    dez no gostam de estudar a disciplina. Apesar de minoria, sugestivo que 10 (dez)

    2 - O teste possua 11 (onze) questes, abertas e fechadas.

  • adolescentes, quase 26% (vinte e seis por cento) dos alunos no gostem de uma

    disciplina que por principio, deveria discutir e debater problemas que fossem

    extremamente significativos e pertinentes vida dos homens.

    As justificativas apresentadas para a afinidade com a Histria na maioria das

    vezes, so: ajuda a entender o passado, mostra acontecimentos passados, traz

    conhecimentos, uma matria interessante. Poucos apresentam respostas com

    questes que demonstrem que esta disciplina seja de fato significativa para auxili-lo

    na compreenso de mundo, muito menos em sua interveno.

    Contraditoriamente, so unnimes em afirmar que o estudar histria

    importante. Quando indagados do porque importante, as respostas demonstram uma

    percepo, no mnimo curiosa, acerca da importncia do estudo desta matria. Boa

    parte v neste estudo sentido apenas para passar em vestibulares, concursos, arrumar

    empregos, necessrio para o futuro. Outros tantos acham importante por ser

    interessante e curioso. A possibilidade de prever o que ocorrer no futuro tambm

    outra justificativa que aparece com alguma freqncia.

    Apenas 10 (dez alunos) mencionam que o estudo de histria seria importante

    na compreenso do passado/presente dos homens, seja dos povos, nossa vida, das

    sociedades, dos nossos antepassados. Dois no responderam questo colocada,

    outros afirmam ser importante para passar no vestibular, concursos, para o futuro. Mais

    alguns alunos responderam que seria necessrio, por estudar coisas sobre o passado

    que so muito importantes, porque l na frente ser bastante preciso, ou por ser

    uma matria qualquer.

    Outra parte da avaliao consistia em verificar se os alunos dominavam e

    compreendiam conceitos relacionados ao tempo, s diversas formas de marc-lo em

    diferentes sociedades, uma vez que dominar, compreender e explicitar os critrios de

  • periodizao histrica, das mltiplas temporalidades das sociedades e tornar efetiva a

    aprendizagem da cronologia so importantes para que os alunos tenham uma dimenso

    temporal da histria e venham a dominar efetivamente a noo de tempo histrico3.

    Apenas 4 (quatro) alunos realizaram corretamente a converso de anos para

    sculos e apenas 2 (dois) de sculos para anos. Outros 10 (dez) alunos disseram no

    saber fazer a converso, 12 (doze) deixaram em branco e 13 (treze) no realizaram

    corretamente ao que havia sido proposto. De sculo para ano, 8 (oito) no souberam, 10

    (dez) deixaram em branco e 19 (dezenove) no conseguiram resolver corretamente a

    converso.

    Quando perguntados se sabiam o que significava a nomenclatura a.C e d.C e

    porque eram utilizadas, a maioria absoluta respondeu corretamente a questo. No

    entanto, nenhum conseguiu apontar esta, como uma conveno utilizada pela sociedade

    ocidental para marcar o tempo. No houve qualquer meno a outras formas de

    calendrio, ou sobre a temporalidade do uso da nomenclatura.

    A seguir foi solicitada a enumerao de temas/assuntos que tivessem sido

    trabalhados no ltimo ano do Ensino Fundamental. A questo pretendia verificar os

    assuntos/temas apreendidos, se havia uma significao temporal das periodizaes

    histricas e se estes seriam significativos a ponto de serem lembrados. Trinta testes

    apresentam respostas como: Confidencia Mineira / Imprio Mdio, Antigo,

    Romano, Proclamao da Repblica, Bomba de Hiroxima / no lembro / home

    sapiens, Jocelino Kobichequ, Plano Real, 1 e 2 Guerra Mundial, etc / histria de

    Roma, evoluo no Brasil, evoluo dos meios tcnico-cientfico, sobre a politica/

    entre outros.

    3 - Sobre o assunto ver: SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formao do professor de histria e o cotidiano na sala de aula. In: BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes (org.). O saber histrico na sala de aula. So Paulo:

    Contexto, 2005. p. 61.BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de Histria: fundamentos e mtodos.

    So Paulo: Cortez, 2004. p. 212.

  • Observamos que esses alunos no detm alguns instrumentos e conceitos

    necessrios para o estudo da Histria, tais como percepo temporal, espacial,

    conceitual e temtica, nem mesmo num nvel mais bsico, uma organizao de

    contedos coerentes e compatveis com os assuntos que teoricamente deveriam ter sido

    trabalhados durante o Ensino Fundamental.

    A variedade de respostas de periodizaes e temticas distintas e diversas

    denuncia a possibilidade das instituies educacionais do municpio no terem uma

    definio Curricular prpria, e tambm no utilizam os PCNs como norteador4. Outra

    possibilidade que no invalida a anterior, que os temas/assuntos no tenham sido

    trabalhos ou compreendidos de forma significativa por esses alunos. Apesar de no

    haver formas de constatar tais afirmaes, esta ltima parece ser a mais tentadora, uma

    vez que os alunos no dominam conceitos de tempo histrico, tempo cronolgico, fato

    ou acontecimento histrico. O que fica patente que nenhum destes conceitos faz

    sentido para eles. Algumas respostas demonstram que os discentes no sabem

    distinguir tempos histricos ou a diviso da histria - por mais que se utilize uma viso

    eurocntrica - de personagens e conceitos historicamente construdos.

    Diante dessas questes poderamos compreender as repostas dadas as questes

    acerca da definio de Histria e para que ela serviria. Vimos confirmar a

    desumanizao do estudo da disciplina denunciada nas falas de nossos alunos.

    Segundo eles esta seria o: estudo dos fatos, coisas, tudo aquilo, o que ficou registrado,

    caractersticas, na maioria das vezes, no passado. O presente tambm seria objeto da

    histria, mas nas categorias anteriores. Poucos so aqueles que percebem povos, vidas,

    cultura como objeto do estudo da histria. Neste sentido poucos se vem na Histria. O

    4 - Apesar de termos conhecimento de que os PCNs no apresentam contedos predeterminados para cada srie e

    que algumas de suas propostas se baseiam em eixos temticos ou temas geradores, no sendo obrigatria a

    adoo de um modelo nico, as respostas dos alunos no apresentam indcios algum ou, em algumas das vezes,

    noes superficiais de sistematizao, seqncia e organizao de contedos. Outro fator detectado a

    pluralidade de assuntos, e tempos histricos em um mesmo ano de ensino.

  • estudo da disciplina serviria ento para passar no vestibular, arrumar empregos, para o

    futuro. No como instrumento que torna a ao humana consciente. Para poucos, esse

    entendimento mesmo que de forma superficial aparece. Quando surge, percebe-se que a

    funo principal da Histria seria de ajudar a compreender, nunca de agir.

    justamente a ausncia e/ou lacunas, de todo este universo acima apresentado

    e que leva a maioria dos alunos a questionar o porqu de se estudar histria e seu

    desinteresse pela disciplina que nos motivou a realizar um projeto envolvendo a

    histria oral.

    Novas estratgias para o ensino de histria

    Buscar formas alternativas para trabalhar a histria na sala de aula tem sido

    uma questo muito debatida na atualidade. Os estudiosos tm discutido a utilizao de

    diversos documentos / fontes histricas na sala de aula como possibilidade dos alunos

    participarem, e consequentemente dominarem o processo de produo do

    conhecimento histrico. No pretende-se com a utilizao desta metodologia criar uma

    turma de historiadores mirins, mas romper a dicotomia h muito existente entre ensino

    e pesquisa no espao escolar. Acreditamos que atravs da utilizao de novas

    estratgias para o ensino de histria, dentre elas a histria oral, poderemos articular no

    apenas objetivos especficos da disciplina, mas tambm objetivos pedaggicos.

    Entre os objetivos pedaggicos, que no se desvinculam da proposta acima

    mencionada, podemos destacar a participao do aluno no processo de ensino-

    aprendizagem, tornando a escola um local de produo de saberes. Segundo Selva, a

    produo do conhecimento no espao escolar tem a funo de:

    romper com a diviso de trabalho intelectual, com a hierarquizao de

    funes e tarefas e com uma concepo de saber e produo de saber que

    tem profundas razes na tradio acadmica. Em segundo lugar, romper com

  • uma concepo de escola e de ensino de 1 grau introjetada durante anos em

    alunos, pais, professores e tcnicos de educao. Essa viso de escola como

    espao produtor ope-se radicalmente concepo de escola subjacente ao

    projeto educacional do Estado que, durante muitos anos, expropriou da

    escola sua tarefa criadora atravs de um rgido controle tcnico-burocrticos

    e de sistemas de avaliao inibidores da criatividade e a criticidade (Selva,

    2001. p.90).

    O nosso intuito ento, fazer com que os alunos sejam igualmente

    protagonistas do processo de produo cultural, deixando de ver o professor como

    aquele que somente transmite um conhecimento pronto e definitivo, mas como parceiro

    de construo do saber5.

    Atravs da pesquisa e todas as etapas que a envolve problematizao e

    delimitao do objeto de estudo, busca de informaes, levantamento das fontes,

    organizao dos dados coletados, explorao dos documentos histricos, construo de

    conceitos, hipteses e propostas de explicao para o objeto de estudo, avaliao e

    elaborao de exposio do trabalho os alunos tero a dimenso de que o

    conhecimento histrico algo em permanente construo e no existe de forma

    acabada e definitiva.

    Entre os objetivos especficos da disciplina podemos dizer que uma de suas

    finalidades na contemporaneidade seria a sua contribuio formao de identidades e

    ao lugar que cada indivduo ocupa na histria, ou seja, a compreenso de que todos ns

    somos sujeitos histricos e formao de um cidado crtico, que possa a partir do

    entendimento das relaes histricas dos homens em suas variadas temporalidades, agir

    no seu prprio espao e tempo.

    5 - De acordo com Thompson (1992, p. 31), a realizao de projetos de histria oral nas escolas permite,

    a partir da investigao em conjunto, o rompimento de barreiras entre professores e alunos, tornando o

    relacionamento menos hierrquico. Para este autor, a dependncia passa a ser recproca j que o

    professor contribui com a experincia especfica na interpretao e no conhecimento das fontes

    existentes, mas conta com o apoio dos estudantes na organizao e no trabalho de campo.

  • De acordo com Bezerra (2004), a utilizao de metodologias apropriadas para

    construo de um conhecimento histrico um mecanismo essencial para que o aluno

    possa apropriar-se de um olhar consciente para sua prpria sociedade e para si mesmo.

    Importante destacar que a histria oral nos permite alcanar tais objetivos

    discutidos para o ensino de histria e ao mesmo tempo trabalhar as diversas lacunas

    que foram percebidas na avaliao diagnstica e que, a nosso ver, so de grande

    importncia para o entendimento da histria.

    Eunpolis e suas Memrias: estratgias

    Eunpolis um municpio recente com apenas 18 (dezoito anos) de

    emancipao poltica. O povoamento desta regio est relacionado construo da BR

    101 e a extrao de madeira da mata Atlntica. Seu territrio pertencia a Santa Cruz de

    Cabrlia e a Porto Seguro. A maioria das pessoas da cidade, entre elas nossos alunos,

    acredita que por ser a cidade recente, esta no possui histria. O projeto visa enfocar

    inicialmente, as razes histricas da comunidade a partir de indagaes e

    questionamentos junto aos alunos.

    O municpio no possui Arquivo Pblico, as instituies educacionais de

    ensino superior so recentes (datam de menos de dez anos), o curso de Histria foi

    implantado na Universidade do Estado da Bahia Campus XVIII em 2005, no tendo

    formado ainda a primeira turma.

    Portanto, o trabalho com a Histria Oral ser um meio riqussimo para colocar

    nosso aluno em contato com a experincia histrica de sua cidade e de seus atores e

    regio, bem como permitir produzir uma material relevante para a prpria comunidade

    que no se reconhece nesta trajetria.

  • Nosso ponto de partida ser uma discusso com os alunos, de questes

    referentes ao povoamento da regio, organizao dos povoados, fundao da cidade, a

    ausncia de instituies que preservem documentos sobre este perodo inicial e a

    existncia de diversas formas acessarmos o passado, dentre elas, as memrias das

    pessoas.

    O objetivo maior fazer com que os alunos se aproximem do tema e da

    metodologia, discutam como iro encontrar as pessoas e quem seriam elas.

    importante ressaltar, que estimularemos um debate onde pretendemos deixar claro que,

    no somente aquelas pessoas que viveram naquele perodo podem ser ouvidas, uma vez

    que a histria sobre este perodo tem sido transmitida oralmente de gerao em

    gerao.

    Pretendemos tambm, fazer um primeiro contato significativo com a questo

    temporal ao associar uma data a um acontecimento histrico (fundao) e a associar a

    histria local a uma maior dimenso (o que deu origem fundao da cidade). Assim,

    esperamos trabalhar os conceitos de fato e processo histrico e a noo de que todo

    lugar est situado no tempo e possui histria, ou seja, que toda cidade histrica, alm

    de debater as relaes entre memria e histria e a dimenso do tempo.

    Dividiremos a sala em 8 (oito) grupos de 5 (cinco) alunos e solicitaremos que

    busquem personagens da Histria da cidade que poderiam fazer parte de nosso

    trabalho. Cada membro do grupo dever aplicar questionrio com a pessoa que deseja

    ver entrevistada pelo grupo. Este instrumento serviria como elemento de primeira

    identificao e aproximao do grupo com os personagens localizados. Nesse ponto

    vale lembrar, que nunca demais discutir a noo de personagem/sujeito histrico,

    enfatizando que no apenas os grandes nomes merecem este ttulo, redimensionando,

    assim, o conceito de sujeito histrico.

  • Este material serviria para compor uma exposio dos personagens de nosso

    municpio e o que foi trabalhado da histria local at ento, que seria apresentada na

    Feira de Cincia e Tecnologia em outubro. O intuito desta exposio inicial mostrar

    os primeiros resultados do projeto e seu andamento e compartilhar com a comunidade

    escolar e geral a valorizao da memria do homem, construtor de sua prpria histria.

    A seguir suscitaremos uma discusso, no interior de cada grupo, para a escolha dos

    personagens que teriam gravadas suas memrias e os motivos que levaram a essa

    escolha. Por que este nome e no outros, que significado para Histria do grupo e da

    comunidade teria essa pessoa?

    Passaramos ento elaborao do roteiro da entrevista. Durante o processo de

    construo desse instrumento, discutiremos as diferentes estratgias utilizadas pelada

    Histria Oral na aproximao e registro do passado. Quais as perguntas, sua adequao

    ao personagem, a importncia e o sentido da memria desse indivduo para a Histria

    de nosso municpio, devem ser questionamentos presentes na elaborao de cada

    questo. As estratgias de aplicao dos roteiros, tambm devero ser objeto de outro

    momento de discusso com a turma. A postura dos membros do grupo na realizao da

    entrevistas, os equipamentos e manuseio dos mesmos, bem como a escolha das funes

    de cada um nesse momento, sero fundamentais e necessrias para o bom andamento

    do projeto6.

    Por fim, o tratamento do material, que pode envolver outras fontes (alm da

    memria de indivduos) com a avaliao das entrevistas e das experincias e sua

    transcrio levar organizao de uma exposio e na elaborao do livro de

    Memrias de Eunpolis, que dever ser lanado em dezembro7. Na ocasio,

    6 - Sobre o assunto ver: THOMPSON, Paul. A voz do passado: histria oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.

    254-279. 7 - Segundo Thompson, os resultados de projetos de histria oral relacionados aos projetos de comunidade deve

    sempre ter a finalidade de construo de uma relao ativa e permanente com a comunidade local fazendo com

  • pretendemos contar com os personagens e todos os alunos da escola no evento. Deve-se

    ressaltar que assim como adverte Thompson (1992), todas as fontes sero arquivadas

    em um banco de dados na prpria escola para servir como fonte de consulta a todos da

    comunidade.

    Consideramos esta etapa final do trabalho exposio, construo de um

    espao arquivstico na escola e catalogao das memrias para o pblico da

    comunidade como uma parte crucial do projeto, pois acreditamos que os alunos

    podero entender como o estudo do passado pode beneficiar, de formas diferenciadas, a

    todos da cidade. No ser o estudo do passado pelo passado, mas o compromisso que

    todos eles estabeleceram com o passado, com o presente e com as geraes futuras que

    podero ter acesso a estas fontes.

    Consideraes Finais

    Este trabalho a ser realizado na escola tem o propsito de auxiliar os

    problemas diagnosticados em relao ao estudo da histria pelos nossos alunos. A

    escolha da metodologia da histria oral aliada ao estudo da histria local representa a

    possibilidade de romper com a histria que se ensina e a histria que se escreve.

    Acreditamos que a partir da vivncia em nvel prtico das etapas do processo de

    construo histrica e na investigao de uma realidade que lhes prxima os alunos

    possam deixar de ser meros espectadores de um saber e passar a compreender a si

    mesmos, sobre a sua sociedade e o papel que desempenham neste espao e neste

    tempo. Perceber que a histria algo importante e vinculado a seu presente e que

    construda por pessoas comuns como eles.

    que, de alguma forma, o material coletado seja devolvido a ela. As fitas e as transcries devem ser guardadas

    juntamente com outras fontes coletadas como fonte para posterior uso pblico. Ibidem. Ibidem. P. 236.

  • Referncias Bibliogrficas

    BEZERRA, Holien Gonalves. Ensino de Histria: contedos e conceitos bsicos.

    In:KARNAL, Leandro (org). Histria na sala de aula: conceitos, prticas e propostas. So

    Paulo: Contexto, 2004.

    BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de Histria: fundamentos e mtodos. So

    Paulo: Cortez, 2004.

    _____________. O saber histrico na sala de aula. So Paulo: Contexto, 2005.

    FONSECA, Selva Guimares. Caminhos da Histria Ensinada. So Paulo: Papirus, 2001.

    SCHMIDT, Maria Auxiliadora. A formao do professor de histria e o cotidiano na sala de

    aula. In: BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes (org.). O saber histrico na sala de aula.

    So Paulo: Contexto, 2005.

    THOMPSON, Paul. A voz do passado: histria oral. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.