CANDIDO Antonio - De Cortiço a Cortiço (in Discurso e a Cidade)
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Professor Kássio
O CORTIÇO (1890)
ALUÍSIO AZEVEDO
• Era pintor, desenhista, o que influenciou a sua obra.
• Com “O mulato” inaugurou o Naturalismo no Brasil, discutindo as questões raciais, de um ponto de vista já abolicionista.
• Bosi diz que na obra de Azevedo: "a natureza humana afigura-se-lhe uma certa selvageria onde os fortes comem os fracos“. Eis a reprodução dos elementos naturalistas que já se fizeram presentes nas obras de Zola, na França.
Brasil, segunda metade do século XIX
• 1850 – Lei de terrras
• 1888 – abolição da escravidão
• 1890 – Incentivo e efeitos da imigração
• 1897 – Revoltas do período regencial (Guerra de Canudos)
• O Brasil se reconfigura
“Lá vérité, toute la vérité, rien que lá vérité.” (Droit Criminel)
“a verdade, toda a verdade, nada além da verdade.” (direito criminal)
ESTRUTURA DO ROMANCE
• Romance documental (ou de tese)
• A história do Rio (e do Brasil) se reproduz de maneira fictícia na obra. Uma alegoria
do Brasil do século XIX.
• Elaborado com uma linguagem típica do naturalismo, com elementos científicos.
TEMPO
• Linear. Segue a ideia de algo crescente ( o desenvolvimento do
cortiço e a ascensão de João Romão) até o desfecho trágico.
ESPAÇO
• Rio de Janeiro, século XIX.
• Cortiço
• Taverna do João Romão
• Pedreira
• Sobrado do Miranda (aristocracia)
NARRADOR
• Seguindo a ideia do Naturalismo, possui um narrador onisciente que interfere no
pensamento das personagens.
• O distanciamento é um recurso da ciência.
• Apesar do distanciamento, a narrativa é tendenciosa (politicamente).
ENREDO
• Como já dito, a obra é uma alegoria da realidade brasileira do século XIX, partindo dos elementos da estética naturalista.
• É mostrada a ascensão de João Romão; ascensão do Cortiço; a disputa e constante inveja da elite (João Romão e Miranda); a constituição plural do Cortiço; Temas novos e polêmicos...
EXPLORAÇÃO CAPITALISTA
• É criado um ciclo de exploração
• O explorador, burguês, está sempre próximo ao explorado, como é o caso
do João Romão. O próprio Miranda observa de perto e tem medo da
expansão do cortiço.
DETERMINISMO
“ Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha, e tragava dois dedos de parati "pra cortar a friagem".
Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxava lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso.
A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar; adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros.
E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se.”
A Baiana
• A figura da mulher brasileira.
• Sensualidade
• A diferença da mulher romântica
• Há também semelhanças (vide Iracema)
Temática nova e polêmica (choque)
• Homossexualidade (um homem gay e um caso de lesbianismo).
• Amas de leite
• Menstruação
• Prostituição
E o protagonista?
• “Essa obra de Aluísio de Azevedo tem como influência maior o romance "L’Assommoir" do escritor francês Émile Zola, que prescreve um rigor científico na representação da realidade. A intenção do método naturalista era fazer uma crítica contundente e coerente de uma realidade corrompida. Zola e, neste caso, Aluísio combatem, como princípio teórico, a degradação causada pela mistura de raças. Por isso, os romances naturalistas são constituídos de espaços nos quais convivem desvalidos de várias etnias. Esses espaços se tornam personagens do romance. “
• A degradação está na desigualdade social. Nas péssimas condições às quais os homens se veem obrigados a se inserirem.
O DESFECHO DA OBRA
• A situação do escravo no Brasil, representado na figura da escrava negra. O pobre, miserável e marginal, com um fim trágico garantido.
Um novo cortiço e a verossimilhança
“E a mísera, sem chorar, foi refugiar-se , junto com a filha, no “Cabeça-de-Gato”, que, à proporção que o São Romão se engrandecia, mais e mais ia-se rebaixando acanalhado, fazendo-se cada vez mais torpe, mais abjeto, mais cortiço, vivendo satisfeito do lixo e da salsugem que o outro rejeitava, como se todo o seu ideal fosse conservar inalterável, para sempre, o verdadeiro tipo da estalagem fluminense, a legítima, a legendária; aquela em que há um samba e um rolo por noite; aquela em que se matam homens sem a polícia descobrir os assassinos; viveiro de larvas sensuais em que irmãos dormem misturados com as irmãs na mesma cama; paraíso de vermes; brejo de lodo quente e fumegante, donde brota a vida brutalmente, como de uma podridão”.
DOS CORTIÇOS ÀS FAVELAS
• Destruição dos cortiços pelo prefeito Barata Ribeiro em 1894.
• ESPECULAÇÃO X OCUPAÇÃO (LUTA POR TERRA)
• Simbolizado pelo “Cabeça-de-porco”
• Desejo de higienização e distância dos pobres, pelos republicanos.
• Ocupação dos morros.
• “A favela (assim como os cortiços) é um problema social...”