O CINEMA

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1 Lanterna mágica Zootrópio Cronofotografia Espingarda fotográfica Fenaquistiscópio O CINEMA Introdução histórica O cinema não nasceu de um dia para o outro, devendo o seu aparecimento a muitos outros inventos como a electricidade, a lâmpada, a fotografia, etc. No entanto, imagens com mais ou menos movimento, explicadas por um comentador, é uma arte antiga. Com a lanterna mágica, esta espécie de passatempo gozou de grande popularidade durante os séculos XVIII e XIX e ainda no século XX. A fotografia mais antiga chegada aos nossos dias, data de 1826 e foi tirada pelo francês Nicéphore Niepce, que descobre em 1822 a heliografia. Ainda estávamos longe do cinema, mas pode- se dizer que tinha sido definitivamente dada a partida. Em 1829, J. Plateau, prova que a imagem persiste na retina 1/10 de segundo, concluindo que imagens que sucedam a um ritmo de mais de 10 por segundo darão a impressão de movimento. Aparelhos construídos para obter este efeito são: o fenaquistiscópio (J. Plateau, 1829), estroboscópio (S. von Stamper, 1829 e 1845), o fantascópio (Lake, 1832), o zootrópio ou tambor mágico (Horner, 1833) e o kinetoscópio (F. von Uchatius, 1835). A primeira série de fotografias mostrando as diferentes fases do movimento conseguiu-a E. Muybridge, em 1872, graças a um grupo de máquinas alinhadas em fila, cujos obturadores se disparavam à medida que um cavalo passava diante delas a galope (cronofotografia). Em 1882 J. F. Marey, constrói a espingarda fotográfica, fixando numa placa circular 12 imagens por segundo. Reichenbach, á base de nitrocelulose, transforma a película de Eastman (stipping film, 1884) no material de filmagem utilizado até 1940 e em 1888 Reynaud, dá início à técnica de desenhos animados. O kinetógrafo, aparelho de Dickson-Edison, em 1889, fixa 24 imagens por segundo e utiliza a película de Eastman. M. Skladanowsky com o seu bioscópio consegue filmar-se a si próprio a pular de alegria por ter “descoberto o cinema”. Em 1893, com o projector eléctrico de Anschutz realizam-se em Chicago as primeiras sessões de “fotografia animada” em tamanho natural e faz-se a primeira tentativa de conjugação imagem-som. Edison, em 1894, inicia a exploração do kinetoscópio (de visão individual) e cria o formato standard (filme de 35 mm). Em 1895, no ano em que é dado como nascido o

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Apontamentos de cinema para o ensino básico e secundário.

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Lanterna mágica

Zootrópio

Cronofotografia

Espingarda fotográfica

Fenaquistiscópio

O CINEMA

Introdução histórica

O cinema não nasceu de um dia para o outro, devendo o seu aparecimento a muitos outros inventos como a electricidade, a lâmpada, a fotografia, etc. No entanto, imagens com mais ou menos movimento, explicadas por um comentador, é uma arte antiga. Com a lanterna mágica, esta espécie de passatempo gozou de grande popularidade durante os séculos XVIII e XIX e ainda no século XX. A fotografia mais antiga chegada aos nossos dias, data de 1826 e foi tirada pelo francês Nicéphore Niepce, que descobre em 1822 a heliografia. Ainda estávamos longe do cinema, mas pode-se dizer que tinha sido definitivamente dada a partida. Em 1829, J.

Plateau, prova que a imagem persiste na retina 1/10 de segundo, concluindo que imagens que sucedam a um ritmo de mais de 10 por segundo darão a impressão de movimento. Aparelhos construídos para obter este efeito são: o fenaquistiscópio (J. Plateau, 1829), estroboscópio (S. von Stamper, 1829 e 1845), o fantascópio (Lake, 1832), o zootrópio ou tambor mágico

(Horner, 1833) e o kinetoscópio (F. von Uchatius, 1835). A primeira série de fotografias mostrando as diferentes fases do movimento conseguiu-a E. Muybridge, em 1872, graças a um grupo de máquinas alinhadas em fila, cujos obturadores se disparavam à medida que um cavalo passava diante delas a galope (cronofotografia).

Em 1882 J. F. Marey, constrói a espingarda fotográfica, fixando numa placa circular 12 imagens por segundo. Reichenbach, á base de

nitrocelulose, transforma a película de Eastman (stipping film, 1884) no material de filmagem utilizado até 1940 e em 1888 Reynaud, dá início à técnica de desenhos animados. O kinetógrafo, aparelho de Dickson-Edison, em 1889, fixa 24 imagens por segundo e utiliza a película de Eastman. M. Skladanowsky com o seu bioscópio consegue filmar-se a si próprio a pular de alegria por ter “descoberto o cinema”. Em 1893, com o projector eléctrico de Anschutz realizam-se em Chicago as primeiras sessões de “fotografia animada” em tamanho natural e faz-se a primeira tentativa de conjugação imagem-som. Edison, em 1894, inicia a exploração do kinetoscópio (de visão individual) e cria o formato standard (filme de 35 mm). Em 1895, no ano em que é dado como nascido o

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Projector eléctrico

cinema, os irmãos Lumière, criadores do cinematógrafo, realizam a primeira sessão comercial de cinema com filmes da sua autoria.

Em 1896, os irmãos Lumière fazem o primeiro filme digno desse nome, “L’ Arroseur Arrosé” e neste mesmo ano, Grimoin-Sanson inventa a cruz-de-malta, fundamental para o deslizar do filme. 1896 é também o ano em que surge pela primeira vez o cinema em Portugal. O fotógrafo amador Aurélio Paz dos Reis, floricultor nascido no Porto, revolucionário republicano (participou na revolta de 31 de Janeiro de 1891) e mais tarde vice-presidente do senado da Câmara Municipal do Porto, numa viagem efectuada a Paris, vê pela primeira vez uma projecção feita pelos irmãos Lumiére.

Paz dos Reis, entusiasmado pelo novo invento, decide comprar aos Lumiére uma das suas máquinas de dupla função, projectar e filmar, e vem para o Porto fazer os seus

próprios filmes. Eram nesta altura temas para os filmes, cenas de rua,

espectáculos desportivos e eventos políticos. Méliès, no ano de 1897, apresenta os primeiros filmes feitos com cenários, sendo este o ano em que Grimoin-Sanson regista a patente de cineorama, precursor do cinerama. O primeiro western, género de filme que fez êxito durante várias décadas, foi realizado por E. S. Porter em 1903 e tinha como título “The great train robbery”. Neste mesmo ano são introduzidas por Collins com “Uma perseguição através de Londres” e Cecil Hepworth com “Alice no país das maravilhas”, as técnicas das panorâmicas, travellings e grandes planos. Durante o ano de 1906, J. Stuart Blackton realiza “Humorous phases of funny faces”, o primeiro filme de desenhos animados. Ch. Pathé lança em França 1908 as primeiras actualidades ou noticiários semanais em Phaté journal. Esta forma de apresentar notícias viria a ser muito popular, pois como não existia a televisão e o cinema se tornava a actividade lúdica e cultural preferida por muita gente, a forma mais correcta para fazer as notícias correr o mundo era através do cinema. O cinema atingiu o auge depois da I Guerra Mundial e a influência das artes plásticas e dos métodos interpretativos conferiram-lhe nível artístico. Deste modo, realizadores e actores atingem o primeiro plano. O famoso realizador Sergei M. Eisenstein, realiza em 1925 o clássico “O couraçado de Potemkine”, introduzindo diversas inovações na montagem. No ano imediato surge nos Estados Unidos o primeiro filme sonoro e embora seja uma experiência não totalmente conseguida, pois teve problemas de sincronização, deu inicio ao abandono do cinema mudo e logo em 1927 aparece “Jazz singer” o primeiro filme falado e cantado. É também neste ano que, Abel Gance apresenta o seu filme “Napoleão”, que tem a particularidade de ser projectado em triplo écran (magirama). Em 1931 J. Karol inventa a dobragem e no ano seguinte a Technicolor realiza “A Cucaracha”, primeiro filme a cores, mas só depois da II guerra mundial é que a cor conquista definitivamente o grande écran. O cinarama, embora só comercializado em 1952 na Broadway Theater of New York, é inventado por F. Waller em 1935 e em 1953 surge, realizado por Henry Koster, “A túnica” que é o primeiro filme em cinemascópio. Estes sistemas, juntamente com o écran largo e o vistavision, exigem todos complexas técnicas de captação e reprodução de imagens.

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O papel do realizador

Os três processos criativos básicos do cinema são: a redacção do argumento, a produção e a realização. Estas diferentes tarefas podem ser executadas por uma, duas, três ou mais pessoas. Poderá existir mais do que um escritor ou argumentista e é provável que os produtores sejam vários, mas é muito raro que se realize um filme com mais do que um realizador. Enumeremos, pois, o registo das várias categorias: 1. Realizador 2. Produtor 3. Produtor/Realizador 4. Argumentista/Realizador 5. Argumentista/Produtor 6. Argumentista/Produtor/Realizador Como é óbvio, a mesma pessoa pode ter tido uma experiência diversa nas múltiplas categorias acima mencionadas. Tal como o capitão de um navio que tenha a bordo o seu proprietário, ou um chefe de orquestra que esteja ao mesmo tempo intimamente relacionado com o compositor, o realizador deve possuir completa responsabilidade da tarefa que se propõe executar, apesar dos muitos possíveis “patrões” para os quais tenha de vir a trabalhar. As interferências directas no decorrer das filmagens resultam geralmente desastrosas, do mesmo modo que seria contraproducente que, durante uma tempestade, o dono do barco se pusesse a dar ordens contrárias às emitidas pelo capitão, ou que o compositor saltasse parta o pódio do maestro durante o concerto. As técnicas de base que se aplicam à realização de qualquer tipo de produção cinematográfica, estão fundamentadas naquilo a que se convencionou chamar “o cinema”. A maior parte das técnicas de base da realização é também aplicável a todas as formas de expressão audiovisual, qualquer que seja o seu sistema de captação, transmissão ou distribuição. A técnica. É útil ter conhecimentos técnicos, mas tê-los em demasia pode tornar-se perigoso. É preciso ter cautela ao dar demasiada importância aos aspectos técnicos da elaboração de um filme, porque isso seria pôr a carroça à frente dos bois. Basicamente, os aspectos técnicos da rodagem de um filme são os instrumentos, e há que saber como utilizá-los. Mas muitas vezes estes instrumentos são tão fascinantes que os jovens realizadores ficam deslumbrados com as possibilidades técnicas que se lhes deparam. Esquecem-se de que é muito mais importante empregar a técnica como algo que lhes servirá de instrumento para alcançar determinado objectivo do que como algo que tem valor por si mesmo. O que é realmente importante é o crescimento orgânico de uma ideia; os instrumentos encontram-se ali para o ajudarem a concretizá-la. Tem de se conceber essa ideia antes de se preocupar com pequenas coisas.

O argumento e as suas fases.

O filme, é construído a partir de uma ideia, que o realizador tenta transmitir. A esta ideia chama-se tema. O tema, como ideia inicial, terá de ser explicitado através de uma trama, de uma construção dramática, em suma, de uma história. Esta história é o argumento e não nos surge logo na sua fase definitiva ou acabada. Começa por ser uma sinopse ou seja, um ligeiro rascunho, em que nos surgem somente as grandes linhas de

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acção (é o esquema da história, escrito em poucas linhas). A sinopse é aperfeiçoada através do seu tratamento: definem-se os personagens, localiza-se a acção no espaço e no tempo, desenvolve-se a evolução dramática. Concluído este tratamento, surge-nos o cenário literário, uma espécie de novela, em que a continuidade da acção nos surge inteiramente tratada, os personagens psicologicamente definidos, os ambientes descritos até ao pormenor. Descrito o cenário, vai realizar-se sobre ele um delicado trabalho, de onde virá a nascer a planificação que é a tradução do cenário literário em elementos de linguagem filmica.

Os elementos da linguagem cinematográfica

O elemento primário da linguagem cinematográfica é o plano, que se pode definir como sendo aquela porção de desenrolar do filme, que dá ao espectador cinematográfico a noção de ter sido filmado isoladamente, ou, ainda, a porção de película que se obteve desde o momento em que a máquina de filmar começou a trabalhar até que parou. Chamamos a atenção para o plano, pois ele é o elemento base de todo o processo cinematográfico. Os planos unem-se uns aos outros formando a cena; as cenas unem-se umas às outras formando as sequências, que correspondem, no filme, aos capítulos da história. Da junção das sequências nasce o produto final, o filme. Quando é apontada a câmara para o cenário, faz-se um enquadramento que será a captação de uma determinada porção da realidade. Este enquadramento é normalmente estudado e nele encontram-se elementos de composição e acção: o cenário (local onde decorre a acção) onde podem estar incluídos adereços (objectos para uso dos personagens ou de simples adorno do cenário), a iluminação e os personagens. O plano, consoante o seu afastamento em relação ao cenário, tem nomes diferentes. Não existe uma só nomenclatura para os planos, mas todas elas são aproximadas. Aqui será descrita apenas uma nomenclatura, onde serão definidos os planos a partir de uma personagem humana. Começando pelos planos mais afastados, temos: plano geral (PG), que localiza a acção no espaço, onde a personagem pode ou não aparecer, mas sempre subordinada ao espaço, não existindo um ponto particular de interesse; plano de conjunto (PC), tal como o PG, também localiza a acção no espaço, sendo uma parte do PG, podendo existir no plano um ou vários pontos de interesse relativo, pois não é dada uma atenção particular para um motivo. Normalmente a personagem no PC nunca excede metade da altura do ecrã; plano médio (PM), é um plano onde a personagem nos aparece a todo o tamanho do ecrã o que a torna no principal ponto de interesse; plano americano (PAm), é um plano onde a personagem é cortada mais ou menos pela altura dos joelhos. Foi um plano criado para ultrapassar um problema técnico, pois quando se filmavam cenas em estúdio representativas de exteriores, havia sempre o problema das sombras que denunciavam a iluminação artificial e assim, apareceu o PAm que ao cortar a personagem pelos joelhos, não mostrava o chão onde eram projectadas as sombras; plano aproximado (PAp), é um plano onde a personagem é cortada entre a cintura e a parte inferior do peito; primeiro plano (PrP), é um plano que nos apresenta a personagem cortada pela parte superior do peito ou ombros; grande plano (GP), é um plano que nos apresenta apenas o rosto do personagem; plano de pormenor (PPo), é um plano onde nos é dado, tal como o próprio nome indica, um pormenor da personagem (um olho, um dedo, a boca, etc.), existindo portanto uma grande aproximação. Estes planos podem ser denominados planos afastados (PG, PC, PM) e planos próximos (PAm, PAp, PrP, GP e PPo). Falamos até aqui dos planos, partindo da premissa de que a câmara se encontra fixa, o que torna os nossos planos fixos. Mas na verdade a câmara pode mover-se e então

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passaremos a ter planos móveis. Os movimentos da câmara são de 2 tipos: a panorâmica e o travelling. Na panorâmica horizontal, a câmara gira em torno de um eixo vertical imaginário que a atravessa de alto a baixo. Na realidade, esta rotação para a esquerda ou para a direita, é feita pelo tripé onde a câmara está assente e como o tripé nos permite também executar movimentos ascendentes e descendentes, segundo um eixo horizontal, teremos a panorâmica vertical onde, tal como se disse, a câmara pode rodar para cima ou para baixo. No travelling, a câmara move-se do ponto onde se encontra para outro ponto. Este movimento pode ser para a frente, para trás, para a direita, para a esquerda ou combinando mais do que uma direcção. Quando combinamos travellings e panorâmicas, obtemos uma trajectória. Um movimento mais complexo é o movimento de câmara subjectiva. Este movimento é aquele em que a câmara toma o lugar do personagem ou seja, a câmara são os olhos do personagem, tendo o espectador o ponto de vista do personagem. É obvio que a câmara pode filmar os objectos, os personagens ou o cenário de diversos ângulos, tendo deste modo nomes diferentes para cada um deles. Assim, tomando como referência o ângulo normal, que é quando a tomada da imagem é feita ao nível do objecto, encontrando-se a câmara horizontal, temos: o picado, é quando a câmara está superior ao objecto, filmando-o de cima para baixo, o que psicologicamente inferioriza o objecto ou pessoa relativamente ao espectador; o contra-picado, como é fácil de perceber, é quando a câmara filma de baixo para cima, o que psicologicamente superioriza o objecto ou pessoa relativamente ao espectador; o ângulo a pique, é quando a câmara se encontra na vertical ou perpendicular ao chão, filmando o objecto ou pessoa por cima; o ângulo oposto ao pique, é o supino, onde a filmagem é feita por baixo; o ângulo rasante é aquele em que a câmara se encontra a filmar ao nível da base do objecto ou pessoa. É vulgar surgirem cenas de diálogo num filme, e é também vulgar utilizar-se uma técnica a que se chama campo e contra-campo. Tomando uma imagem como campo, o contra-campo será a tomada de imagem contrária ao campo, por exemplo: se filmarmos duas pessoas a conversar e a pessoa X aparece de costas estando a pessoa Y de frente e tomarmos esta imagem como campo, no contra-campo teremos a pessoa X de frente e a pessoa Y de costas A iluminação pode ser também utilizada como elemento da linguagem cinematográfica. Pode ser natural, quando temos a luz do sol ou artificial quando nos socorremos de projectores. Basicamente existem dois tipos de projectores: os sunlight, que produz uma luz difusa e os spotlight, que produz uma luz concentrada iluminando só uma zona do espaço especifica. O som é também importante como elemento da linguagem cinematográfica, agrupando-se em 3 espécies: voz, ruídos e música. O termo “voz off”, usa-se quando o som que se ouve é produzido por uma fonte que não se vê no enquadramento. Na linguagem cinematográfica, existe um equivalente à pontuação da linguagem escrita, que tem por objectivo dar passagem de umas cenas para as outras, sem provocarem quebras na progressão dramática. Essa pontuação cinematográfica, são as transições, das quais daremos alguns dos exemplos mais usados: cortina, quando uma imagem vai saindo para um dos lados dando lugar à imagem que está “por trás”; fundido, que nos aparece em 3 variantes: fundido de fecho, também conhecido por fade out, onde a imagem vai escurecendo até ficar tudo negro, fundido de abertura, também conhecido por fade in, onde a imagem vai sendo iluminada saindo do negro (processo inverso ao fade out) e fundido encadeado, também conhecido por fade de imagem, onde uma imagem vai desaparecendo gradualmente dando lugar a outra imagem que aparece gradualmente; encadeado, quando há sobreposição da parte final da imagem com a parte inicial da imagem seguinte; desfoque, quando há desfocagem de uma imagem, havendo depois uma

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focagem ou refocagem de outra imagem; corte, também conhecido por cut, onde a passagem de uma imagem para a outra é feita bruscamente por substituição de uma imagem pela outra.

Rodagem e montagem

Com a planificação feita, passa-se à rodagem do filme, onde serão filmados todos os planos, sendo normalmente filmados duas ou três vezes cada um, se não houverem enganos, ou as vezes que forem necessárias, se houverem enganos. Neste momento, existem aspectos básicos importantes para o realizador e para a boa execução do filme, sendo eles: que o trabalho de câmara seja bem feito, tendo em consideração que todos os planos tenham o enquadramento desejado; o trabalho de iluminação, para que não hajam cenas mal iluminadas ou sombras indesejáveis; o trabalho de gravação de som; o trabalho de anotação, onde serão anotados em papel todos os pormenores do cenário e dos personagens, desde as roupas que vestem, até à posição em que se encontravam ou os gestos em execução. Depois da rodagem, dá-se inicio à montagem, onde se faz a colagem dos planos, tendo em consideração não só o ritmo do filme, como sobretudo os problemas de racord. O racord, é a técnica de colagem de planos, onde deve existir o cuidado com a acção, o ângulo de filmagem, o ritmo do filmagem e o aspecto estético. Diz-se que uma colagem ou passagem não está bem feita, quando por exemplo, o espectador nota que existiu uma descontinuidade numa acção (ex.: o actor que num plano estava com as mãos atrás das costas, aparece no plano seguinte com as mãos nos bolsos das calças). Por vezes, para resolver um problema destes e quando já não há hipótese de repetir o plano filmado, recorre-se a um insert. O insert é um plano onde não existem referências ao problema detectado e que é colado entre os dois planos sem racord (ex.: cola-se entre os dois planos do exemplo anterior um grande plano da expressão facial do actor). É evidente que teremos de ter em conta, ao fazer um insert, dos problemas estéticos e rítmicos.

Planos PLANO GERAL – Localiza a acção no espaço, onde a personagem pode ou não aparecer, mas sempre subordinada ao espaço, não existindo um ponto particular de interesse. PLANO DE CONJUNTO – É um plano que também localiza a acção no espaço, sendo uma parte do PG, podendo existir no plano um ou vários pontos de interesse relativo, pois não é dada uma atenção particular para um motivo. Normalmente a personagem no PC nunca excede metade da altura do ecrã.

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PLANO MÉDIO – É um plano onde a personagem nos aparece a todo o tamanho do ecrã o que a torna no principal ponto de interesse. PLANO AMERICANO – É um plano onde a personagem é cortada mais ou menos pela altura dos joelhos. Foi um plano criado para ultrapassar um problema técnico, pois quando se filmavam cenas em estúdio representativas de exteriores, havia sempre o problema das sombras que denunciavam a iluminação artificial e assim, apareceu o PAm que ao cortar a personagem pelos joelhos, não mostrava o chão onde eram projectadas as sombras.

PLANO APROXIMADO – É um plano onde a personagem é cortada entre a cintura e a parte inferior do peito.

PRIMEIRO PLANO – É um plano que nos apresenta a personagem cortada pela parte superior do peito ou ombros.

GRANDE PLANO – É um plano que nos apresenta apenas o rosto do personagem. PLANO DE PORMENOR – É um plano onde nos é dado, tal como o próprio nome indica, um pormenor da personagem (um olho, um dedo, a boca, etc.), existindo portanto uma grande aproximação.

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Movimentos de câmara

PANORÂMICA HORIZONTAL – A câmara gira em torno de um eixo vertical imaginário que a atravessa de alto a baixo. Na realidade, este eixo imaginário existe no tripé.

PANORÂMICA VERTICAL – A câmara gira em torno de um eixo horizontal imaginário que a atravessa de lado ao outro. Na realidade, este eixo imaginário existe no tripé.

TRAVELLING – A câmara move-se do ponto onde se encontra para outro ponto. Este movimento pode ser para a frente, para trás, para a direita, para a esquerda ou combinando mais do que uma direcção.

TRAJECTÓRIA – É a combinação de um travelling com uma panorámica.

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Ângulos de câmara PICADO - É quando a câmara está superior ao objecto, filmando-o de cima para baixo, o que psicologicamente inferioriza o objecto ou pessoa relativamente ao espectador. CONTRA-PICADO - É quando a câmara está inferior ao objecto, filmando-o de baixo para cima, o que psicologicamente superioriza o objecto ou pessoa relativamente ao espectador. PIQUE - É quando a câmara se encontra na vertical ou perpendicular ao chão, filmando o objecto ou pessoa por cima.

SUPINO - É quando a câmara se encontra na vertical ou perpendicular ao chão, filmando o objecto ou pessoa por baixo. RASANTE - É aquele em que a câmara se horizontal mas a filmar ao nível da base do objecto ou pessoa.

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Campo e contra-campo CAMPO – Tomando como campo a imagem 1, pode-se ver o seu contra campo na imagem 2 e a posição da câmara relativamente aos personagens na imagem 1a.

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CONTRA-CAMPO – A imagem 2, é o contra- -campo da imagem1 e a posição da câmara relativamente aos personagens pode ver-se na imagem 2a.

2 2a Bibliografia: “A realização cinematográfica” – Autor: Terence St. John Marner; Edições 70 “Moderna enciclopédia universal”, tomo V – Círculo de Leitores “A evolução estética do cinema” – Autor: António de Macedo