O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências,...

98
PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS FUNDAÇÃO DOM CABRAL Programa de Pós-Graduação em Administração Profissional O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: um estudo de caso em uma empresa industrial Suzilei Junia Matozinho Belo Horizonte 2011

Transcript of O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências,...

Page 1: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

PONTÍFICIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS FUNDAÇÃO DOM CABRAL

Programa de Pós-Graduação em Administração Profissional

O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS : um estudo de caso em uma empresa industrial

Suzilei Junia Matozinho

Belo Horizonte 2011

Page 2: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

Suzilei Junia Matozinho

O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS : um estudo de caso em uma empresa industrial

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Profª Drª Simone Costa Nunes

Belo Horizonte 2011

Page 3: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

Matozinho, Suzilei Junia M433c O ciclo de vida do modelo de gestão de competências: um estudo de caso em

uma empresa industrial / Suzilei Junia Matozinho. Belo Horizonte, 2011. 96f.: il. Orientadora: Simone Costa Nunes Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais.

Programa de Pós-Graduação em Administração. 1. Competência profissional. 2. Eficiência organizacional. 3. Capacidade de

gestão. 4. Administração de pessoal. I. Nunes, Simone Costa. II. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Administração. III. Título.

CDU: 658.3.018

Page 4: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

Suzilei Junia Matozinho O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS :

um estudo de caso em uma empresa industrial

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado Profissional em Administração da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração.

________________________________________________ Profª Drª Simone Costa Nunes (Orientadora) – PUC Minas

________________________________________________ Prof. Dr. Anderson de S. Sant’Anna – FDC

_______________________________________________ Profª Drª Graziella Maria Comini – FEA USP

Belo Horizonte, 16 de fevereiro de 2011

Page 5: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos que, de alguma forma, contribuíram para a construção e finalização deste trabalho, e um agradecimento especial: Ao Senhor Jesus, que me deu forças para não desistir e seguir sempre em direção ao meu objetivo. Ao meu marido, Rodrigo Dantas de Aguiar, que sem dúvida fez parte de cada momento até a chegada à reta final. Esta conquista é, sem dúvida, dele também. Aos meus familiares, em especial à minha mãe, Marta, e a meu pai, Wilis, que me presentearam com a vida e vibraram comigo a cada instante. Aos meus irmãos, Anieli, Weslei e Lucio. E cunhados, Alexandre, Adriana e Zilma. À minha avó, Darci, uma pessoa iluminada. À Dona Glória, Juliana, Gleice, Thiago e Alexandre, que sempre torceram por mim. Aos pequenos Brenda e Vitor Lucas, pelo amor, pureza e alegria. À minha orientadora, professora Simone Nunes, pela paciência e carinho. E por compartilhar comigo sua experiência e conhecimento. A todos os professores, em especial ao professor Sandro e ao professor José Marcio. Aos colegas da turma do mestrado, que me proporcionaram tantos momentos de discussões profundas e boas risadas. À Ionara Pontes, que tanto me ensinou e contribui para a minha formação pessoal e profissional. Sem dúvida, um exemplo de mulher. À minha querida e doce amiga, Daniele Martins, que, se não existisse, teria que ser inventada. Aos colegas da Iveco, em especial, à Neli de Paula.

Page 6: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

“Viver! E não ter a vergonha

De ser feliz Cantar e cantar e cantar

A beleza de ser Um eterno aprendiz...”

Gonzaguinha

Page 7: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

RESUMO

Este estudo teve como objetivo verificar como ocorre o processo de adoção, implantação e

evolução de um modelo de gestão de competências em uma empresa industrial tendo por base

a proposta de ciclo de vida de Adizes, identificando e compreendendo os fatores

intervenientes desse processo. Tendo em vista tal objetivo, optou-se pela realização de uma

pesquisa qualitativa, a partir do estudo de caso único, em uma empresa industrial. A estratégia

de coleta de dados foi realizada utilizando instrumentos, tais como entrevistas

semiestruturadas e análise documental. O referencial teórico contou com a contribuição de

autores nacionais, como Fleury e Fleury (2001), Dutra (2008), Fischer (2001), Barbosa (2001,

2002, 2005) e Ruas (1990), e internacionais, como Barney (1991), Boyatizes (1982), Le

Boterf (2003), Zarifian (2001), Parry (1996), Mooney (2007) e Adizes (1991). À luz da

contribuição desses autores, foi possível identificar o contexto no qual emerge a noção de

competência, a evolução do conceito e suas diferentes abordagens (norte-americana, britânica

e francesa). Em seguida foi possível delinear como a temática gestão de competências

interage no contexto organizacional e com as novas práticas de gestão de pessoas. Embora

exista uma vasta literatura sobre o tema competências, em pesquisa feita por Barbosa (2005)

em 37 empresas brasileiras, o termo competência foi, via de regra, entendido como

conhecimentos, habilidades, comportamentos e atitudes. Todavia, Fleury e Fleury (2001)

alertam para o cuidado que se deve ter para o não reducionismo do conceito de competências,

pois trata-se não apenas de um estado ou conhecimento específico, mas as competências

existem dentro de um contexto e para que o conhecimento seja considerado competências é

preciso ser comunicado e trocado. Como resultado deste estudo, foi possível compreender

com profundidade e em detalhe o modelo de gestão de competências adotado pela empresa

pesquisada, entre os anos de 1999 e 2004. Utilizando o ciclo de vida adaptado de Adizes

(1991), foi possível identificar e analisar os fatores intervenientes da implantação do modelo

de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a

decisão de implantá-lo (nascimento), a própria implantação (crescimento), analisando os

resultados advindos do modelo implantado (maturidade) e, por fim, como e por que o modelo

deixou de existir (envelhecimento e morte).

Palavras-Chave: Competências individuais. Competências organizacionais. Modelo gestão

de competências. Gestão de pessoas. Ciclo de vida.

Page 8: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

ABSTRACT

The main objective of this study was to verify how the process of adoption, implementation

and evolution of a competence management model in an industrial company based o life cycle

of Adizes, trying to identify and understand the factors involved in this process. Due to this

objective, it was decided to carry out a qualitative study from a single case study in an

industrial company. The strategy of data collection was performed using tools such as semi-

structured interviews and document analysis. The theoretical framework included the

contribution of national authors, such as Fleury and Fleury (2001), Dutra (2008), Fischer

(2001), Barbosa (2001, 2002, 2005) and Streets (1990), as well as international authors such

as Barney (1991), Boyatizes (1982), Le Boterf (2003), Zarifian (2001), Parry (1996), Mooney

(2007) and Adizes (1991). From the contribution of these authors it was possible to identify

the context in which the notion of competences emerges, the evolution of the concept and

different approaches to this concept (American, British and French). Therefore it was possible

to delineate how the issue of competence management in organizational context interacts with

new people management practices. Although there is a large literature expertise on the topic

in a research by Barbosa (2005) in 37 Brazilian companies, the term competence was

understood as knowledge, skills and attitudes. Fleury and Fleury (2001) have pointed out that

some care should be taken to avoid a non-reductionism of the concept of competence, as it is

not just a state or some specific knowledge, but competences exist within a context and in

order to consider some knowledge as competences it needs to be communicated and

exchanged. As a result of this study, it was possible to describe in detail the competence

management model adopted by the surveyed company between the years 1999 and 2004.

Using the adapted life cycle from Adizes (1991), it was possible to identify and analyze the

factors in the implementation of the competence management model describing each phase of

the implementation of this model, since the decision to implement it (birth), the

implementation (growth), the analyses of the results derived from the model that was

introduced (maturity) and finally how and why the model no longer exists (aging and death).

Key-Words: Individual competences. Core competences. Competence management model. People management. Life cycle.

Page 9: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 Competências como fonte de valor para o indivíduo e organização ................... 19

FIGURA 2 Etapas da gestão de competências ....................................................................... 32

FIGURA 3 A natureza do crescimento e do envelhecimento ................................................ 36

FIGURA 4 Ciclo de vida das organizações de Adizes .......................................................... 36

FIGURA 5 Ciclo de vida das organizações de Kaufmann ..................................................... 39

FIGURA 6 Ciclo de vida do modelo de gestão de competências .......................................... 50

FIGURA 7 Experiência da empresa com competências ........................................................ 52

FIGURA 8 Sistema de gestão de Recursos Humanos ........................................................... 54

FIGURA 9 Modelo gestão de competências – Sistema Professional .................................... 55

FIGURA 10 Processo de avaliação ........................................................................................ 59

FIGURA 11 Sistema de avaliação e remuneração ................................................................. 62

FIGURA 12 Cinco perfis de competências ............................................................................ 63

Page 10: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

LISTA DE QUADROS QUADRO 1 Desenvolvimento de competências organizacionais ........................................ 26

QUADRO 2 Comparativo modelo taylorista e modelo contemporâneo ............................... 31

QUADRO 3 Entrevistas ........................................................................................................ 46

QUADRO 4 Síntese entrevistas ............................................................................................ 47

QUADRO 5 Análise documental .......................................................................................... 48

QUADRO 6 Categorias de análise ........................................................................................ 50

QUADRO 7 Síntese dos procedimentos metodológicos adotados ....................................... 51

QUADRO 8 Níveis de consciência ....................................................................................... 58

QUADRO 9 Principais facilidades e dificuldades ................................................................ 70

QUADRO 10 Síntese dos resultados .................................................................................... 76

Page 11: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................10 1.1 Problema ...........................................................................................................................10

1.2 Justificativa .......................................................................................................................13

2 REFERENCIAL TEÓRICO ..............................................................................................16 2.1 Contexto em que emerge a noção de competências.......................................................16

2.2 Abordagens e conceitos: competências individuais e competências organizacionais.20

2.2.1 Competências Individuais..............................................................................................20

2.2.1 Competências Organizacionais......................................................................................24

2.3 Modelo de gestão de competências..................................................................................29 2.4 Um breve estudo sobre ciclo de vida...............................................................................35 2.4.1 Ciclo de vida segundo Adizes.........................................................................................35

2.4.2 Ciclo de vida segundo Kaufmann..................................................................................39

3 METODOLOGIA DE PESQUISA....................................................................................41 3.1 Estratégia e método ..........................................................................................................41 3.2 Unidades empíricas de análise.........................................................................................43 3.3 A estratégia de coleta de dados........................................................................................45 3.4 A estratégia de análise de dados......................................................................................48 4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS ........................................................................52

4.1 Contexto e histórico do modelo de gestão de competências da empresa pesquisada .52

4.2 O modelo de gestão de competências ..............................................................................55 4.2.1 Conhecimentos de base...................................................................................................56

4.2.2 Conhecimentos disciplinares..........................................................................................57

4.2.3 Capacidades e qualidades...............................................................................................59

4.2.4 Instrumentos para o desenvolvimento de competências...............................................60

4.3 O ciclo de vida do modelo gestão de competências da empresa pesquisada ...............65

4.3.1 Nascimento......................................................................................................................65 4.3.2 Crescimento....................................................................................................................67 4.3.2 Maturidade......................................................................................................................71 4.3.3 Envelhecimento e morte.................................................................................................73

4.3.4 À guisa das conclusões...................................................................................................75

5 CONCLUSÕES....................................................................................................................78 REFERÊNCIAS .....................................................................................................................83 ANEXO A................................................................................................................................87

ANEXO B ................................................................................................................................91

ANEXO C................................................................................................................................92

ANEXO D................................................................................................................................93

ANEXO E ................................................................................................................................94

Page 12: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

10

1 INTRODUÇÃO

1.1 Problema

As profundas mudanças na economia mundial, ocorridas no final do século XX,

tiveram impacto direto nas organizações e por consequência na área de Recursos Humanos,

levando a mudanças na sua estrutura. Isto tem sido comprovado tanto nas produções

acadêmicas, quanto no campo empírico. Pesquisas revelam que nove em dez formadores de

opinião na área de Recursos Humanos confirmam mudanças nas políticas e práticas de gestão

de pessoas (FISCHER, 2001).

Com o intuito de aumentar sua competitividade em relação aos concorrentes, as

empresas passam a ter que gerenciar a alteração no perfil das pessoas. Verifica-se o

deslocamento do foco da gestão de pessoas por meio do controle, para o foco no

desenvolvimento e na maior participação das pessoas no sucesso do negócio (DUTRA, 2001).

Para que isto ocorra, diversas organizações têm vivenciado a migração do chamado

sitema de administração de Recursos Humanos e seus subsistemas, tais como recrutamento e

seleção, treinamento e desenvolvimento, avaliação de desempenho, para uma lógica baseada

no que se denomina modelo de gestão de pessoas (FISCHER, 2001).

Para Fischer (2001, p. 20), “[...] o modelo de gestão de pessoas deve ser entendido

como um conjunto de políticas, práticas, padrões atitudinais, ações e instrumentos

empregados por uma empresa para interferir no comportamento humano e direcioná-lo no

ambiente de trabalho”. Segundo esse mesmo autor, o termo vem ganhando expressão e já é

bastante utilizado por especialistas dessa disciplina no Brasil.

Dutra (2008) acrescenta, ao conceito de modelo de gestão de pessoas, um fator

importante que vai além das políticas e práticas. Para esse autor, o modelo possibilita a

conciliação de expectativas entre organização e pessoas, permitindo assim que ambas possam

realizar essas expectativas ao longo do tempo.

A organização que adota o modelo de gestão de pessoas deve considerar que não se

trata apenas de uma mudança de semântica que substitui o termo Modelo Administração de

Recursos Humanos. O uso do termo modelo gestão de pessoas busca ressaltar o caráter da

ação e o foco da atenção em pessoas (DUTRA, 2008; FISCHER, 2001).

Page 13: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

11

Para Fischer (2001), o uso do termo modelo gestão de pessoas implica em mudanças

importantes como:

a) criar modelos que orientem como os comportamentos devem ocorrer segundo a

expectativa da empresa;

b) considerar que os comportamentos não podem ser produzidos pela organização, e

que podem ser no máximo estimulados, e por isto devem ser gerenciados;

c) encarar os indivíduos como pessoas e não como recursos.

O fato é que, no cenário atual, cresce a importância das pessoas na estratégia das

empresas. Segundo Fischer (2001), a organização nunca precisou tanto daquilo que é mais

humano no indivíduo, ou seja, os fatores intangíveis, como conhecimento, criatividade,

emoção e sensibilidade. Apesar dessa importância, o autor ressalta que as organizações

encontram dificuldades para criar um ambiente de trabalho para que o fator humano possa ser

verdadeiramente utilizado.

Na década de 1990, com os desafios da crescente competitividade e globalização das

atividades, verifica-se o alinhamento entre políticas de recursos humanos às estratégias, bem

como a inclusão da noção de competência à prática organizacional como base para o modelo

de gestão de pessoas (FLEURY; FLEURY, 2001). Para Barbosa, et al. (2002, p. 2): “[...] a

gestão de competências nasce com a difícil missão de ser uma ponte entre a possibilidade de

ganhos organizacionais, ao mesmo tempo em que se propõe a recompensar o esforço dos

indivíduos”.

Ao incorporar a noção de competência à gestão de pessoas, requerem-se, no entanto,

mudanças significativas nos processos de captação, desenvolvimento e remuneração. O

recrutamento e seleção (captação) lançam mão de novos instrumentos e técnicas nos seus

processos, com o intuito de encontrar pessoas com o novo perfil desejado. Os processos de

treinamento (desenvolvimento), também, buscam maior alinhamento com a definição das

estratégias de negócio e competências essenciais da organização. Os sistemas de remuneração

ganham novos modelos, desenvolvendo níveis de competência e compensação condizentes

com cada cargo (FLEURY; FLEURY, 2001).

Segundo Dutra (2004), o conceito de competências foi proposto pela primeira vez em

1973 por David McClelland, na busca de uma abordagem mais efetiva nos testes de

inteligência. Em seguida, o conceito foi ampliado para processos de avaliação e

desenvolvimento de pessoas. Nos anos seguintes, outros autores contribuíram com suas

Page 14: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

12

produções acerca do conceito de competência dentre eles, estão: Boyatizes (1982), Le Boterf

(2003), Woodruffe (1991), Zarifian (1996), Parry (1996), McLagan (1997), Dutra (2001),

Fischer (1999), Fleury e Fleury (2000), entre muitos outros autores.

Embora exista uma vasta literatura sobre o conceito de competências, é comum

restringir sua definição ao conjunto de conhecimento, habilidade e atitude. Isto pode ser

confirmado no relatório apresentado por Barbosa (2005), no qual foi constatado que o

conceito que mais se evidenciou entre as 37 empresas pesquisadas foi a competência

entendida como conhecimentos, habilidades, comportamentos e atitudes. Nessa mesma

pesquisa, Barbosa (2005) constatou a jovialidade dos modelos de gestão de competências.

Grande parte das empresas pesquisadas iniciou a implantação do modelo no final da década

de 1990.

Barbosa et al. (2002) constatou, em pesquisa realizada com 18 empresas que adotam o

modelo de gestão de competências como estratégia e ou prática gerencial, que os motivos

mais comuns que levaram estas empresas a adotarem o modelo de gestão de competências são

a busca de inserção competitiva e o desenvolvimento da estratégia e do negócio.

Nessa pesquisa foi possível perceber que entre as empresas pesquisadas poucas

justificam a adoção do modelo de gestão de competências para se ter uma gestão de pessoas

mais “[...] voltada ao estímulo e reconhecimento do desempenho individual, à satisfação dos

empregados, retenção de talentos, orientação do desenvolvimento profissional e da carreira e

uma conquista do comprometimento dos empregados.” (BARBOSA et al., 2002).

Barbosa (2005) relata a impossibilidade de se falar em unicidade de um modelo de

gestão de competências, mesmo em empresas do mesmo setor. Isto, talvez, possa ser

explicado pelo fato dos mecanismos adotados em gestão de pessoas serem utilizados como

diferenciais competitivos, o que significa que cada empresa irá buscar aplicá-lo da sua forma.

Para Barbosa (2005, p. 257), “[...] se os modelos de gestão de competências fossem, de certa

forma padronizados, eles não proporcionariam o viés estratégico que hoje proporcionam”.

Em pesquisa realizada por Barbosa em 2001, constatou-se uma confusão sobre a

adoção, implantação e geração de resultados obtidos pelo modelo de gestão de competências.

A dificuldade de mensurar os ganhos diretos da implantação do modelo devia-se

principalmente à sua recente utilização pelas empresas naquela época. (BARBOSA, 2001)

Ainda segundo Barbosa (2001), era notório o paradoxo existente entre a concepção do

modelo de gestão de competências e sua aplicação nas organizações. A concepção prevê que

as competências devem gerar valor econômico para a empresa e valor social para o indivíduo

(FLEURY; FLEURY, 2001). Todavia, a aplicação do modelo impõe a intensa e massiva

Page 15: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

13

parametrização dos resultados operacionais, ou seja, foco nos resultados da empresa.

(BARBOSA et al., 2002)

Nesta mesma direção, Ruas (2001), citado por Teixeira (2007). afirma que “[...] a

noção de competências fica restrita à concepção, faltando integrá-la às práticas e

procedimentos, o que induz ao entendimento de que há mais sombras do que luzes, mais

impasses do que certezas na forma de operacionalizá-las” (p. 13).

Com o intuito de compreender melhor como o conceito de competências se

operacionaliza em forma de um modelo nas organizações é que este estudo se propôs a

responder à seguinte questão: Como se dá o processo de adoção, implantação e evolução

do modelo de gestão de competências em uma organização industrial tendo por base a

proposta de ciclo de vida de Adizes?

1.2 Justificativa

O tema gestão de competências vem sendo amplamente tratado na literatura. As

discussões passam pela definição do conceito, sua aplicação e contribuição para a estratégia

da organização. Isto pode ser comprovado pela crescente apresentação de artigos no Encontro

da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (ENANPAD), que

representa um espaço privilegiado de debates, entre outros temas, sobre competências no

Brasil.

Diante de um cenário de intensificação da concorrência, as organizações passaram a

preocupar-se mais com a sua competitividade no mercado. Então, começaram a investir no

desenvolvimento de competências, buscando principalmente maior qualidade e produtividade,

visando à geração de produtos e serviços melhores e diferenciados (NONAKA; TAKEUCHI,

1997).

Para Nonaka e Takeuchi (1997, p. 58) a “[...] vantagem competitiva deve ser

encontrada nos recursos e habilidades dentro da empresa e não no ambiente de mercado

externo à empresa”. Esses autores apontam a habilidade de criar continuamente o

conhecimento como uma fonte de vantagem competitiva. O grande desafio das organizações

passa a ser encontrar novas formas para gerenciar esta vantagem.

Nesta mesma direção, Brandão e Guimarães (1999) apresentam o modelo de gestão de

competências como uma possível solução para que as organizações possam planejar, captar e

Page 16: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

14

desenvolver as competências necessárias ao seu negócio, criando assim vantagem

competitiva. Os autores entendem esse modelo como um instrumento capaz de oferecer

alternativas eficientes de gestão às organizações.

O modelo de gestão de competências nasce da abordagem baseada em recursos, a qual

sustenta que alguns atributos organizacionais são condicionantes do sucesso da empresa frente

à concorrência. (BRANDÃO; GUIMARÃES, 1999; NONAKA; TAKEUCHI, 1997). O

principal pressuposto da teoria baseada em recursos é que, para a organização possuir certa

vantagem competitiva atual e futura, precisa ter domínio de recursos raros, valiosos e difíceis

de serem copiados (BARNEY, 1991).

A teoria baseada em recursos concede um importante papel aos recursos humanos

dentro da organização. Segundo Brandão e Guimarães (1999, p. 5), a gestão estratégica de

recursos humanos pode contribuir para “[...] gerar vantagem competitiva sustentável por

promover o desenvolvimento de habilidades, produzir um complexo de relações sociais e

gerar conhecimento, ou seja, por desenvolver competências”.

Considerando a importância da gestão estratégica de recursos humanos, bem como o

diferencial competitivo que pode ser gerado por meio do modelo de gestão de competências, é

se que identifica um campo relevante para o presente estudo, que busca compreender como

ocorre o ciclo de vida do modelo de gestão de competências numa organização. O tema de

pesquisa aqui proposto ganha relevância por tratar de uma questão atual e ao mesmo tempo

um conceito em construção nas organizações (DUTRA, 2001).

Uma possível contribuição no campo prático pode ser a identificação dos fatores que

contribuem ou dificultam a implantação e acompanhamento do modelo de gestão de

competências. Isto poderá possibilitar, às organizações, agir de forma a reforçar ou evitar

algumas situações identificadas nesta pesquisa.

O objetivo geral da presente pesquisa foi analisar o processo de adoção, implantação e

evolução do modelo de gestão de competências em uma empresa industrial tendo por base a

proposta de ciclo de vida de Adizes, identificando e compreendendo os fatores intervenientes

deste processo. Os objetivos específicos foram:

a) compreender a composição do modelo de gestão de competências da empresa

pesquisada;

b) identificar e analisar principais fatores indutores ou dificultadores para a adoção,

implantação e evolução do modelo adotado;

Page 17: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

15

c) levantar e analisar possíveis razões que levaram a mudanças ou migração do

modelo de gestão de competências para outros modelos.

Este trabalho está organizado em mais quatro capítulos, além desta introdução. O

Capítulo 2 refere-se ao referencial teórico, parte fundamental para o entendimento e análise da

problemática. Para isto contou-se com a contribuição de autores nacionais e internacionais.

No Capítulo 3 descreveu-se o percurso metodológico deste estudo, ou seja, o caminho a ser

percorrido para o aclaramento das questões propostas. No Capítulo 4 foi apresentada a

descrição e análise dos dados. E por último, no Capítulo 5, foram apresentadas as conclusões,

com contribuições e limitações deste estudo.

Page 18: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

16

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Contexto em que emerge a noção de competências

Ao tratar do tema competências, verifica-se a necessidade de contextualizá-lo no

cenário marcado por profundas transformações político-econômicas do final do século XX.

Essas mudanças apresentaram sinais em processos de trabalho, hábitos de consumo,

configurações geográficas e geopolíticas, poderes e práticas do Estado, entre outros

(HARVEY, 2007).

No final do século XX, verificam-se características fortes de transição do modo de

produção fordista à acumulação flexível. Segundo Harvey (2007), a economia de escala

buscada na produção fordista passa a ser substituída por uma crescente capacidade de

manufatura variada e ao mesmo tempo com preços baixos e pequenos lotes.

Harvey (2007) acrescenta que poderia haver uma possibilidade de adaptação do

fordismo, mas as pressões competitivas e a luta por um controle melhor do trabalho levaram

ao surgimento de novas formas industriais e à maior flexibilidade diante do aumento da

competição. Segundo esse mesmo autor, “[...] a produção em pequenos lotes e a

subcontratação tiveram por certo a virtude de superar a rigidez do sistema fordista e de

atender a uma gama bem mais ampla de necessidades do mercado, incluindo as rapidamente

cambiáveis.” (p. 148).

Os novos sistemas de produção flexível possibilitaram uma aceleração do ritmo de

inovação do produto, a exploração de novos nichos de mercado mais especializados e de

pequena escala. Considerando o aumento da competição, a exploração destas possibilidades

tornou-se fundamental para a sobrevivência das empresas (HARVEY, 2007).

Para Harvey (2007), apesar das profundas mudanças advindas da acumulação flexível,

o capitalismo está cada vez mais organizado por meio da “[...] dispersão, da mobilidade

geográfica e das respostas flexíveis nos mercados de trabalho, nos processos de trabalho e nos

mercados de consumo, tudo isso acompanhado por pesadas doses de inovação tecnológica, de

produto e institucional.” (p. 150-151).

Harvey (2007) apresenta dois desenvolvimentos paralelos que foram relevantes para

tornar a organização mais coesa e possibilitar a centralização implosiva. O primeiro

Page 19: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

17

desenvolvimento foi o acesso à informação, o seu controle e forte capacidade de análise

instantânea. O segundo, e mais importante, refere-se à reorganização do sistema financeiro

global e ao surgimento de poderes mais ampliados de coordenação financeira.

No que diz respeito ao primeiro desenvolvimento, Harvey (2007) afirma que os

conhecimentos científico e técnico sempre tiveram importância na luta competitiva. Todavia,

neste novo cenário de rápidas mudanças de gostos e necessidades e de sistema de produção

flexível, ganham maior relevância, podendo ser traduzidos em importante vantagem

competitiva. Para esse autor, o próprio saber transforma-se em uma mercadoria-chave que

pode ser produzida e vendida a quem pagar mais.

O Brasil também sofreu e sofre as transformações ocorridas no ambiente econômico e

com a intensa inovação tecnológica. Tais mudanças demandam, das organizações, novas

práticas para gerir pessoas. Até os anos 1980, a maioria das empresas brasileiras utilizava o

modelo taylorista de organização de trabalho como padrão na gestão de pessoas. A partir da

década de 1980 e, mais profundamente, no cenário brasileiro pós 1990, novas formas de

organização e gestão de trabalho começaram a ser pensadas (DUTRA, 2004).

Dutra (2004) apresenta uma série de fatores que exigiram uma nova organização do

ambiente de trabalho, bem como uma nova postura das pessoas que nele estão inseridas. Entre

estes fatores, encontram-se:

[...] os processos de globalização, a turbulência crescente, a complexidade maior das arquiteturas organizacionais e das relações comerciais, a exigência de maior valor agregado dos produtos e serviços [...] e no enfrentamento de situações inusitadas e de complexidade crescente (DUTRA, 2004, p. 13).

Nesta mesma direção, Barbosa (2005) afirma que as atuais tendências de um novo

cenário competitivo e regido por novas regras impõem a necessidade de modificações tanto

no âmbito da organização, com maximização de resultados e de sua capacidade competitiva,

quanto do empregado, levando-o a buscar um novo posicionamento de seu papel. É neste

contexto, de constantes transformações, que emergem as discussões acerca de competências.

Todavia, as discussões sobre competências vão além de uma reflexão teórica sobre

como o conceito se operacionaliza na realidade organizacional. Para Barbosa (2007), ao

nascer como alternativa para uma orientação à gestão de pessoas, o conceito de competências

“[...] trouxe consigo aspectos que amplificaram as naturais contradições que uma ferramenta

gerencial traz quando adotada com o propósito de criação de valor e alto desempenho

organizacional.” (p. 1).

Page 20: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

18

Barbosa (2007) chama a atenção para a contradição encontrada na noção de

competências, que, de um lado, apresenta o discurso da ênfase na gestão de recursos humanos

como um diferencial competitivo para organização. Do outro, as competências como

ferramental ou lógica gerencial que precisam, cada vez mais, demonstrar, de maneira quase

“matemática”, a sua efetividade.

O conceito de competências, ao gerar valor para a organização, ganha uma conotação

mais pragmática e operacional e, muitas vezes, é entendido apenas como um conjunto de

conhecimentos, habilidades e atitudes que são traduzidos em resultados concretos e palpáveis

(BARBOSA, 2007).

O termo competências pode ser compreendido à luz de diferentes perspectivas com

análises focadas na empresa e ou no indivíduo. No campo organizacional, o estudo sobre

competências tem se apoiado na perspectiva de Visão Baseada em Recursos (VBR) e seus

desdobramentos. No campo individual as análises estão focadas em um ponto de vista mais

instrumental e aplicado. Este campo é mais tratado pelas áreas da educação, do trabalho e da

gestão de pessoas (BARBOSA, 2005).

Na perspectiva de competências organizacionais, com visão baseada em recursos, as

competências e capacidades internas são consideradas fundamentais para determinar o

comportamento da empresa. Estas competências e capacidades podem ser consideradas

cruciais para a sobrevivência e crescimento da firma (BARBOSA; RODRIGUES, 2005).

A perspectiva individual aborda a mudança da discussão de qualificação para

capacitação. Barbosa (2005) afirma que existe uma grande variedade de entendimento acerca

da noção de competências e não há um consenso entre os seus principais representantes. Para

esse autor, o termo competências é repleto “[...] de nuances e detalhes, trata-se de uma noção

amplamente utilizada nos campos da educação, formação profissional, economia e gestão.”

(p. 25).

Uma constatação importante apresentada por Barbosa e Rodrigues (2005) é que,

embora distintas, as perspectivas sobre competências individuais e organizacionais estão

intimamente relacionadas, isto porque é impossível “[...] pensar numa eficácia organizacional

sem a contribuição decisiva das competências individuais.” (p. 2).

Dutra (2008), ao fazer uma análise sobre a relação entre as competências das pessoas e

da organização, constata que esses atores (pessoas e organização) estão num processo

contínuo de troca de competências. Para ele, a organização transfere às pessoas seu

patrimônio de conhecimentos, e as pessoas, ao desenvolverem sua capacidade individual,

Page 21: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

19

transferem seu aprendizado para a organização. Esse processo de troca gera benefícios tanto

para organização, quanto para as pessoas.

Fleury e Fleury (2001) defendem, na prática, a necessidade de um alinhamento entre

competências organizacionais e competências individuais. Eles demonstram a dinâmica deste

alinhamento na FIG. 1. Para esses autores, a compreensão sobre competências passa pelo

entendimento de competências individuais e competências organizacionais, e como elas

devem agregar valor econômico para a organização e valor social para o indivíduo.

Figura 1: Competências como fonte de valor para o indivíduo e organização. Fonte: FLEURY; FLEURY, 2001, p. 21.

Para Fleury e Fleury (2001), o uso de competências individuais e organizacionais

implica, necessariamente, na ação traduzida nos verbos mobilizar, integrar, transferir

conhecimentos, recursos e habilidades. Os autores vão além, e reforçam a necessidade do

alinhamento das competências individuais com as competências organizacionais à estratégia

da empresa, o que ocorre num processo contínuo de aprendizagem.

Para Santos et al. (2008), as abordagens de competências individuais e organizacionais

possibilitam estruturar um novo modelo de gestão de pessoas, mais orientado por premissas

advindas das mudanças do perfil do trabalhador e do próprio mercado de trabalho. Para esses

autores, tais abordagens dão base a um novo modelo de gestão de pessoas.

Indivíduo

Conhecimentos Habilidades

Atitudes

saber agir saber mobilizar saber transferir saber aprender saber engajar-se

ter visão estratégica assumir responsabilidades

Agregar Valor

Organização

social econômico

Page 22: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

20

2.2 Abordagens e conceitos: competências individuais e competências organizacionais

2.2.1 Competências Individuais

Na vasta literatura sobre competências, é possível identificar três eixos ou filosofia

básica no que se refere às abordagens sobre o conceito e identificação de competências:

a) abordagem norte-americana;

b) abordagem britânica;

c) abordagem francesa (BARBOSA, 2005).

A abordagem norte-americana tem como principal referência a obra de Richard

Boyatzis, que marca uma influente tradição de pensamento com a concepção norte-americana

de competências, com muitos trabalhos desenvolvidos principalmente nas décadas de 1980 e

1990, com contribuições de outros autores, como McClelland (1972) e Spencer e Spencer

(1993) (BARBOSA, 2005; DUTRA, 2008;).

Para os autores que compõem essa abordagem, competência é um conjunto de

qualificações que permite que uma pessoa tenha performance superior em um trabalho ou

situação. Neste sentido, a competência pode ser prevista e estruturada para estabelecer um

conjunto ideal de qualificações (DUTRA, 2008). Percebe-se assim que o centro dessa

abordagem está no conjunto de atributos possuídos por uma pessoa (BARBOSA, 2005).

A segunda abordagem, associada a autores do Reino Unido, está fortemente ligada às

entidades com iniciativas governamentais cujo objetivo era estabelecer padrões de

desempenho universal. Ao contrário da abordagem anterior, a definição de competências

refere-se à definição de tarefas e descritor de resultados (BARBOSA, 2005).

Na abordagem francesa, verifica-se forte contestação do conceito de competências até

então empregado. Para os autores1 representantes dessa abordagem, o fato das pessoas

possuírem as qualificações necessárias para o seu trabalho não significa que elas irão entregar

aquilo que lhes foi demandado (DUTRA, 2008).

1 Le Bortef (1994), Zarifian (1996), Elliot Jacques (1994).

Page 23: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

21

Barbosa (2005), com base em Geffroy e Tijou (2002), afirma que, dentro dessa

abordagem, as empresas francesas entendem gestão de competências com base em quatro

pontos básicos:

a) é uma abordagem de natureza estratégica;

b) é o motor do desempenho empresarial, juntamente com a organização e a gestão;

c) é o resultado de uma dupla evolução, tanto da organização, quanto da gestão;

d) é própria a cada empresa, departamento ou unidade de negócios.

No que se refere às práticas na abordagem francesa, Barbosa (2005) afirma que há

predominância de um consenso entre os gestores de recursos humanos sobre o significado de

competências e seu valor social, bem como a importância das competências adquiridas e a sua

validação em situação real. E, por fim, reconhecem a recomposição das ocupações e o espaço

de trabalho como lugar privilegiado de formação.

Ao analisar algumas abordagens de autores2 franceses, Sant’Anna (2002) afirma que a

competência pode ser entendida como “[...] uma resultante de múltiplos saberes obtidos das

mais variadas formas: via transferência, aprendizagem, adaptação, os quais possibilitam ao

indivíduo criar uma base de conhecimentos e habilidades capazes de resolução de problemas

em situações concretas.” (p. 37).

O amplo leque de abordagens sobre a definição e identificação de competências passa

por caminhos diferentes, todavia leva à percepção das competências a partir de uma ideia que

é capaz de integrar educação e trabalho, ganhando em relevância a própria dimensão histórica

sobre os estudos de competências (BARBOSA, 2005).

A gestão de competências como agente integrador de educação e trabalho tem uma

missão de difícil execução, que é “[...] ser uma ponte real entre a possibilidade de ganhos

organizacionais, ao mesmo tempo em que se propõe a recompensar o esforço dos indivíduos

(BARBOSA, 2005, p. 34).

Para Boyatizis (1982, p. 23), as competências podem ser entendidas como “[...]

aspectos verdadeiros ligados à natureza humana. São comportamentos observáveis que

determinam, em grande parte, o retorno da organização”. Nesta linha, a ênfase é dada à

formação comportamentos e resultados (BARBOSA et al., 2005).

2 Dubar (1998), Stroobants (1997) e Le Boterf (1994).

Page 24: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

22

Spencer e Spencer (1993, p. 9) afirmam que “a competência refere-se a características

intrínsecas ao indivíduo que influencia e serve de referencial para seu desempenho no

ambiente de trabalho”. Nesta perspectiva, a ênfase do conceito é dada à formação e resultado

(BARBOSA et al., 2005).

Para Parry (1996) o conceito de competências possui ênfase na formação e geração de

resultado. Para ele competências são:

[...] conhecimentos, habilidades e atitudes correlacionados, que afeta parte considerável da atividade de alguém, que se relaciona com o desempenho, que pode ser medido segundo padrões preestabelecidos, e que pode ser melhorado por meio de treinamento e desenvolvimento (PARRY, 1996, p. 48).

Ruas (1999, p. 10) define a competência como sendo “[...] a capacidade de mobilizar,

integrar e colocar em ação conhecimentos, habilidades e formas de atuar (recursos de

competências) a fim de atingir/superar desempenhos configurados na missão da empresa e da

área”. Percebe-se que o foco nesta perspectiva está voltado para a ação e resultados

(BARBOSA et al., 2005).

Le Boterf (2003) apoia sua definição de competências na tríade saberes, saber-fazer e

saber-ser. Para esse autor a competência pode ser entendida como uma evolução do conceito

de qualificação, e para ser um profissional competente não basta possuir saberes ou

capacidades, “[...] pode-se conhecer técnicas ou regras de gestão contábil e não saber

descrevê-las no momento oportuno.” (p. 48).

É possível identificar dois elementos essenciais na definição de competência de Le

Boterf (2003); o primeiro deles é que não existe competência sem ação. E o segundo, é que

sempre existe um contexto no uso da competência. Ainda para esse autor, “[...] a competência

não reside nos recursos (saberes, conhecimentos, capacidades, habilidades) a serem

mobilizados, mas na própria mobilização desses recursos.” (p. 50).

Le Boterf (2003) inaugura o termo complexidade nas situações profissionais; cabe,

então, ao profissional, administrar tal complexidade. Segundo esse autor, o profissional

precisa “[...] criar, reconstruir e inovar.” (p. 37). Neste sentido, o profissional não tem mais

espaço para agir somente dentro das atividades prescritas, é preciso ir além.

O saber administrar a complexidade envolve um desdobramento em alguns saberes:

a) saber agir com pertinência;

b) saber mobilizar saberes e conhecimentos em um contexto profissional;

Page 25: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

23

c) saber integrar ou combinar saberes múltiplos e heterogêneos;

d) saber transpor;

e) saber aprender a aprender a aprender;

f) saber envolver-se (LE BOTERF, 2003).

Para Le Boterf (2003), o profissional competente é aquele que consegue mobilizar

todos estes saberes para lidar com a complexidade e dificuldade que ele tem que enfrentar no

seu dia-a-dia. Esse profissional “[...] é aquele que sabe ir além do prescrito, que sabe agir e,

portanto, tomar iniciativas. Diante de ações requeridas, considera-se que existem várias

maneiras de ser competente e que diversas condutas podem ser pertinentes.” (p. 90).

Segundo Le Boterf (2003), a competência não pode ser reconhecida apenas como a

capacidade de resolver problemas; ser competente consiste, de maneira sintética, em saber

mobilizar e combinar recursos, sejam estes pessoais ou de seu meio. E, para um profissional

ser reconhecido como competente, para existir socialmente, a competência precisa ser

reconhecida pelos outros.

Para Zarifian (2001), competência realmente é a competência de um indivíduo e não a

qualificação de um emprego. Além disso, a competência só é manifestada e avaliada quando

utilizada em situação profissional. Entretanto, este conceito possui diversas limitações, sendo

a principal o fato de não contemplar as implicações das mutações do trabalho e da

organização.

Nesse sentido, a definição de competência deve abranger várias dimensões e por isso

deve ter diversas formulações. A primeira delas é que competência é o “tomar iniciativas” e

“assumir responsabilidades” do indivíduo frente às distintas situações profissionais com as

quais ele se depara (ZARIFIAN, 2001).

Para Zarifian (2001), tomar iniciativas é uma ação que modifica algo já existente e

assumir responsabilidades é aceitar uma situação e ser responsável por ela. Competência é o

entendimento prático de situações apoiadas nos conhecimentos adquiridos e transformadas a

partir da diversidade de situações. Essa abordagem enfatiza a dinâmica de aprendizagem, que

é essencial para o procedimento de competência.

Segundo Barbosa (2005), na organização, o conceito de competências surge com uma

alternativa para orientar as ações de recursos humanos, considerando um novo patamar de

vantagem competitiva “[...] em um contexto marcadamente complexo e de permanentes

transformações sociais e produtivas, o papel esperado da gestão pessoas acaba por ser

prioritariamente voltado à criação de valor e desempenho.” (p. 32).

Page 26: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

24

Nas organizações, a definição de competências como conhecimentos, habilidades e

atitudes é muito utilizada e está ligada a dois pontos: conhecimento e tarefa. Conhecimento

está associado às características da pessoa (input) e tarefa, aos resultados esperados (output)

(FLEURY; FLEURY, 2001). Esta definição indica uma mudança radical necessária no

modelo de posto de trabalho.

Fleury e Fleury (2001) se alinham com a crítica de Zarifian (2001), uma vez que

acreditam que o “[...] conceito de competência só revela seu poder heurístico, quando

apreendido no contexto de transformações do mundo do trabalho, quer seja nas empresas,

quer seja nas organizações.” (FLEURY; FLEURY, 2001, p. 19).

Há de se ter o cuidado com o reducionismo do conceito de competências, pois este não

é apenas um estado ou conhecimento específico. As competências são contextualizadas, e os

conhecimentos só podem ser considerados competências quando comunicados e trocados

(FLEURY; FLEURY, 2001).

Fleury e Fleury (2001, p. 21) propõem uma definição para a palavra competência,

considerando-a como “[...] um saber agir responsável e reconhecido, que implica mobilizar,

integrar, transferir conhecimentos, recursos, habilidades, que agreguem valor econômico à

organização e valor social ao indivíduo.” Tal definição sugere que várias capacidades são

exigidas dos profissionais e das organizações. Entre as competências individuais requeridas,

pode-se destacar o saber comunicar que implica no saber compreender, processar e transmitir

informações e conhecimentos, assegurando o entendimento da mensagem pelos outros.

As competências podem ser entendidas como o somatório de entrega para a

organização e características do indivíduo. Nesta linha, a competência pode ser entendida

“[...] como agregação de valor ao patrimônio de conhecimento da organização.” (DUTRA,

2004, p. 31). Esta agregação de valor vai além do conceito de atingir metas, está ligado ao

melhoramento de processos ou a introduzir tecnologias.

2.2.1 Competências Organizacionais

O termo competências organizacionais surge em um contexto no qual se exige das

organizações, principalmente aquelas que atuam em setores mais competitivos da economia,

Page 27: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

25

uma capacidade cada vez maior de adaptação e, sobretudo que estas organizações busquem

elementos que venham assegurar a sua competitividade sustentável. (SANT’ANNA, 2002)

Segundo Sant’Anna (2002), os autores Prahalad e Hamel (1990) são os primeiros

autores a difundir o uso do termo competências organizacionais ou core competences no

âmbito organizacional. Esses autores classificam essas competências em dois grupos, sendo o

primeiro grupo, competências básicas, e o segundo grupo, competências essenciais:

As competências básicas, que correspondem às condições necessárias, porém não suficientes, para que uma dada organização possa alcançar liderança e diferenciação no mercado e as essências ou core compentecies, que se caracterizam por terem valor percebido pelo cliente, contribuírem para a diferenciação entre concorrentes e aumentarem a capacidade de expansão da organização que a usufrui (SANT’ANNA, 2002, p. 29).

Prahalad e Hamel (1995) afirmam que uma empresa não pode se resumir a um

portfólio de produtos; é preciso, todavia, possuir um portfólio de competências para competir

no mercado. Para esses autores, as competências essenciais são as portas para as

oportunidades futuras. Ainda, segundo eles, a competência essencial é “[...] um conjunto de

habilidades e tecnologias que permite a uma empresa oferecer um determinado benefício aos

clientes.” (p. 228).

Para Hamel e Prahalad (1995), a competência pode ser entendida como um conjunto

de habilidades e tecnologias, e não somente uma única habilidade ou tecnologia. Para esses

autores, as empresas precisam saber identificar suas competências essenciais e desmembrar

estas competências até o nível do indivíduo.

Segundo Prahalad e Hamel (1995), para uma competência ser essencial, ela precisa

passar por três testes:

a) valor percebido pelo cliente, ou seja, a competência precisa dar uma contribuição

considerável para o valor percebido pelo cliente;

b) diferenciação entre concorrentes; neste caso a competência precisa ser única;

c) capacidade de expansão; a competência representa a porta de entrada para novos

mercados.

A competência essencial de uma empresa precisa dar uma contribuição significativa

para o valor percebido pelo cliente. Segundo Hamel e Prahalad (1995), as competências

essenciais permitem às empresas oferecerem um benefício fundamental ao cliente. Isto não

Page 28: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

26

significa que esta competência essencial será visivelmente percebida pelo cliente. Os autores

fazem forte relação entre a competência essencial e a geração de valor para o cliente.

As competências essenciais são dinâmicas, ou seja, o que era uma competência

essencial numa década pode, simplesmente, virar uma capacidade na década seguinte. Uma

mudança drástica no setor pode diminuir o valor das competências essenciais de uma empresa

(PRAHALAD; HAMEL, 1995).

Prahalad (1999), em seu artigo Reexame de Competências, afirma que os alto

executivos possuem o grande desafio de criar medidas específicas para garantir que suas

organizações sejam capazes de administrar o processo de desenvolvimento de competências.

Neste artigo, ele apresenta um quadro sintético de variáveis relacionadas a este processo.

Tecnologia Aprendizado coletivo Compartilhamento

1. Pessoas Equipes Organização

2. Tácita/Explícita Tácito/Explícito Explícito/Tácito

3. Excelência Pessoal Expertise da equipe Capacidade Organizacional

4. Conhecimento científico Compreender as aplicações específicas

Desenvolver competências

5. Criatividade e Imaginação Projetos/capacidades especiais

Novas formas de construir empresas e de competir

Quadro 1: Desenvolvimento de Competências Organizacionais Fonte: PRAHALAD, 1999, p. 46

Ainda segundo Prahalad (1999), é preciso criar programas de desenvolvimento nos

quais seja possível suportar toda essa transformação. Os programas deveriam prever

socialização, aprendizagem de idiomas e ampla documentação (não burocrática) para que

ocorresse a transferência de conhecimento empresarial.

Para Fleury e Fleury (2001), a competência organizacional ou core competence pode

ser associada à capacidade de combinar, misturar e integrar recursos em produtos e serviços.

Isto significa que as organizações precisam estar atentas a várias competências que possuem e

combiná-las, de forma a gerar produtos e serviços para o mercado.

Segundo Dutra (2008), as competências essenciais podem ser entendidas como “[...] as

entregas esperadas das pessoas que asseguram a continuidade e o crescimento da empresa ou

do negócio.” (p. 134). O autor chama a atenção para alguns cuidados no processo de

identificação destas competências, a saber:

Page 29: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

27

a) as competências devem ser observáveis para que possam ser acompanhadas;

b) a quantidade de competências definidas não deve ser grande;

c) as competências devem ser graduadas em termos de complexidade.

Em seu artigo, Mooney (2007) se propõe a fazer a distinção entre competências

essenciais (core competencies), competências distintivas e vantagem competitiva. Para essa

autora, as competências essenciais são competências primordiais que a firma alavanca para

competir.

Mooney (2007), com base em Prahalad e Hammel (1990), destaca dois atributos na

competência essencial. O primeiro atributo prevê que esta competência deve ser uma

habilidade ou capacidade que a firma possui, mais do que uma mera posse de recurso. O

segundo atributo propõe que a competência essencial deve contribuir para que a firma alcance

seu objetivo. Em outras palavras, “[...] as competências essenciais assume papel central para

as atividades de geração de valor da firma.” (MOONEY, 2007, p. 111).

Zarifian (2001) identifica algumas competências organizacionais essenciais para as

organizações atuais:

a) competências sobre processos, que são os conhecimentos sobre o processo de

trabalho;

b) competências técnicas, que são os conhecimentos específicos sobre o trabalho que

deve ser realizado;

c) competências sobre a organização, que dizem respeito ao saber organizar os fluxos

de trabalho;

d) competências de serviço, que buscam aliar a competência técnica à avaliação do

impacto que o produto terá sobre o consumidor;

e) competências sociais, que dizem respeito ao saber ser, incluídas as atitudes que

sustentam o comportamento das pessoas.

Sintetizando, pode-se dizer que a organização possui seu conjunto próprio de

competências que se originam no seu processo de desenvolvimento e são concretizadas no seu

patrimônio de conhecimentos. Este patrimônio caracteriza as vantagens competitivas no

mercado ao qual a organização está estabelecida (FLEURY; FLEURY, 2001).

Para Sant’Anna (2002), existe uma questão-chave que surge ao se trabalhar com a

abordagem de competências organizacionais, sendo ela a dificuldade que a organização tem

Page 30: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

28

em identificar quais são as competências individuais necessárias para suportar uma

determinada e específica competência organizacional.

Para Sarsur (2009), existem alguns processos específicos por trás da inter-relação entre

a gestão de competências organizacionais como ponto de partida para o estabelecimento das

competências individuais, sendo eles:

a) a gestão participativa;

b) o trabalho em equipe;

c) a busca permanente dos indivíduos pelo autodesenvolvimento.

Ainda segundo a autora, esses processos:

[...] acabam por estimular (e até forçar) nos indivíduos, uma boa dose de iniciativa, proatividade, dedicação intensa ao trabalho e interação grupal numa estrutura cooperativa por parte dos trabalhadores envolvidos. A contrapartida desta nova dinâmica parece ser uma crescente perda da identidade e aumento da competitividade entre profissionais, em busca de sua permanência e ascensão em um mercado de trabalho cada vez mais restrito e disputado (SARSUR, 2009, p. 1-2).

As novas relações estabelecidas entre organizações e trabalhadores refletem, de

alguma forma, a necessidade de se manterem num mercado com crescente nível de exigências

sob todos os aspectos. Para compreender essas novas relações, Sarsur (2009) apresenta a

necessidade de se fazer a articulação de três níveis, a saber:

a) as mutações do macroambiente e seus impactos sobre a categoria trabalho e a

dinâmica das organizações;

b) as políticas atuais de gestão de pessoas adotadas para fazer frente aos novos

desafios do mercado;

c) o sistema de gestão por competências como uma dessas novas políticas de gestão.

Ao longo do desenvolvimento deste referencial teórico sobre competências, percebeu-

se, fundamentalmente, a busca pela aplicabilidade do conceito de competências à realidade

produtiva. A partir da análise deste conjunto de conceitos, é possível inferir que “[...] a noção

de competência está fortemente ligada à capacitação e à produtividade, ou seja, no campo

conceitual a vinculação ao desempenho e/ou ao resultado é patente.” (BARBOSA, 2001, p.

43).

Page 31: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

29

2.3 Modelo de gestão de competências

Dutra (2008) apresenta as principais mudanças nas empresas e nas pessoas que vêm

gerando a necessidade de novas formas de se fazer gestão de pessoas. No campo

organizacional as principais mudanças percebidas são:

a) estruturas e formas de organização flexíveis;

b) processos decisórios mais ágeis e focados nas exigências do mercado;

c) maior velocidade em entrada e saída de mercados globais;

d) alto grau de competitividade.

No campo do indivíduo, também, verificam-se mudanças nas relações das pessoas

com a organização e o seu trabalho. Dentre as várias mudanças, encontram-se pessoas:

a) mais conscientes de si mesmas e com maior autonomia para fazer suas escolhas

profissionais;

b) mais atentas a si mesmas, exigindo maior transparência na relação com a empresa;

c) com maior expectativa de vida;

d) que demandam oportunidades e desafios profissionais (DUTRA, 2008).

Essas mudanças organizacionais e individuais possibilitam caracterizar a gestão de

pessoas como “[...] um conjunto de políticas e práticas que permitem a conciliação de

expectativas entre a organização e as pessoas para que ambas possam realizá-las ao longo do

tempo.” (DUTRA, 2008, p. 17).

Dutra (2008) entende como políticas, os princípios e diretrizes que conduzem as

decisões e comportamentos da organização e das pessoas. E as práticas são entendidas como

procedimentos, métodos e técnicas utilizadas para implementar decisões e nortear suas ações

internas e externas.

No que se refere às expectativas, observa-se o compartilhamento de responsabilidades

entre a empresa e as pessoas, o que significa que tanto as pessoas, quanto a empresa atuam

para criar condições concretas de alcance dos objetivos de ambas (DUTRA, 2008).

Para Fischer (2001, p. 19), a gestão de pessoas diz respeito “[...] a um mecanismo

abstrato que simplifica a realidade e orienta a decisão daqueles que vivem o ambiente

Page 32: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

30

organizacional da atualidade.” Para esse autor, o termo vai além de modismo ou simples

mudança de semântica; significa uma mudança no contexto organização tanto no que se refere

à gestão, quanto à orientação a pessoas.

Dutra (2008) apresenta três abordagens distintas sobre gestão de pessoas, sendo elas:

visão funcionalista, visão sistêmica e visão de desenvolvimento humano. Estas abordagens

contribuem para a compreensão da evolução do tema gestão de pessoas nas organizações e ao

mesmo tempo possibilitam o entendimento sobre sua relação com o modelo de gestão de

competências.

A visão funcionalista entende a gestão de pessoas como uma função organizacional,

ou seja, são atividades de recursos humanos, como recrutamento, motivação, remuneração,

treinamento etc. Essa visão mostra-se limitada, uma vez que não retrata a relação de gestão de

pessoas com outras funções organizacionais nem como políticas e práticas interagem entre si

(DUTRA, 2008).

A visão sistêmica entende a gestão de pessoas como um sistema inserido em um

sistema maior com o qual ele interage. Esta abordagem busca entender a gestão de pessoas

“[...] com base na interação entre seus subsistemas e destes com toda a organização [...] ajuda-

nos a enxergar o papel da empresa na gestão e o movimento da empresa em relação à pessoa”.

(DUTRA, 2008, p. 19). Essa abordagem, também, possui limitações por não contemplar a

perspectiva da pessoa).

A visão de desenvolvimento humano busca contemplar o campo do indivíduo e da

organização, procurando compreender de que forma a pessoa agrega valor para a empresa e

ao mesmo tempo como a empresa agrega valor para a pessoa. A base dessa abordagem

encontra-se na aprendizagem, dimensões da pessoa e competência (DUTRA, 2008).

O modelo de gestão de pessoas é composto de conceitos e referenciais que permitem

compreender melhor a realidade organizacional. Além disto, o modelo oferece instrumentos,

processos e metodologias que permitem promover mudanças ao interagir com esta realidade.

Para Dutra (2008, p. 41), “o modelo de gestão é uma lente que nos ajuda a enxergar a

realidade em sua totalidade e complexidade.”

Dutra (2008) apresenta um comparativo sobre as principais evoluções no modelo de

gestão de pessoas com base na administração científica (princípios tayloristas) e o modelo de

gestão de pessoas contemporâneo. O QUADRO 2 apresenta, de maneira sintética, as

principais mudanças entre os dois modelos.

Page 33: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

31

Modelo Taylorista Modelo Contemporâneo

Foco no controle Foco no desenvolvimento

Foco nos instrumentos Foco no processo

Foco no interesse da empresa Foco no interesse conciliado

Foco no modelo constituído por partes desarticuladas

Foco no modelo integrado e estratégico

Quadro 2: Comparativo modelo taylorista e modelo contemporâneo Fonte: Elaborado pela autora, com base em DUTRA (2008).

Um grande avanço no que se refere a um modelo de gestão de pessoas é o fato de

haver o entendimento que, para ter o comprometimento entre as pessoas e a organização, é

preciso ter como base o desenvolvimento e a satisfação de ambos. No modelo contemporâneo

a pessoa passa a ter um papel ativo na gestão de pessoas (DUTRA, 2008).

O modelo de gestão de pessoas deve ter o foco no processo e adotar instrumentos e

ferramentas apenas como meios para auxiliar na compreensão da realidade. Para Dutra (2008,

p. 44): “[...] é no processo que se constrói uma visão comum da realidade e de seus desafios,

que se estabelecem compromissos, que são definidos papéis e responsabilidades.”

O foco no interesse conciliado significa levar em conta a busca pelo desenvolvimento

e satisfação mútuos, ou seja, da empresa e das pessoas. Esta não é uma tarefa fácil, pois as

pessoas, as empresas e as relações entre elas são dinâmicas, e os modelos precisam

acompanhar esse dinamismo. A partir desse foco, torna-se mais fácil conseguir o

comprometimento de ambos (DUTRA, 2008).

O modelo de gestão de competências, por sua vez, apresenta-se neste novo contexto de

gestão de pessoas como um instrumento de gestão, cujo objetivo é planejar, captar e

desenvolver as competências para o negócio (BRANDÃO; GUIMARÃES, 1999).

Para Ienaga (1998) citado por Brandão e Guimarães (1999), o primeiro passo dentro

de um modelo de gestão de competência é a identificação do gap (lacuna) de competências

dentro da organização. Esta identificação consiste em “[...] estabelecer os objetivos e metas a

serem alcançados segundo a intenção estratégica da organização e, depois, identificar a lacuna

entre as competências necessárias à consecução desses objetivos e as competências internas

disponíveis na organização.” (BRANDÃO;BUIMARÃES, 1999, p. 5).

Após identificar as lacunas de competências dentro da organização, as fases seguintes

consistem em planejamento, captação, desenvolvimento e avaliação de competências. Os

objetivos dessas fases é minimizar as lacunas (BRANDÃO; GUIMARÃES, 1999).

Page 34: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

32

Para Brandão e Guimarães (1999), a gestão de competências encontra-se num sistema

maior de gestão organizacional. A referência para esse sistema é a estratégia da empresa que

irá orientar as ações de recrutamento e seleção, treinamento, gestão de carreira, avaliação de

desempenho, entre outras, para a captação e desenvolvimento de competências que irão

auxiliar no alcance dos objetivos da empresa.

Os processos de planejamento, captação, desenvolvimento e avaliação de

competências devem ocorrer em todos os níveis da organização e de forma integrada,

conforme apresentado na FIG. 2 (BRANDÃO; GUIMARÃES, 1999).

Figura 2: Etapas da gestão de competências Fonte: IENAGA citado por BRANDÃO; GUIMARÃES, 1999.

Vale ressaltar que o processo de gestão de competências deve ocorrer em todos os

níveis da empresa (individual e grupal) e deve estar em sinergia com a estratégia (missão,

visão de futuro e objetivos da organização). Para Brandão e Guimarães (1999):

[...] são as competências das pessoas que compõem a empresa que, aliadas a outros recursos, dão origem e sustentação à competência organizacional. Esse processo confere certo nível de competitividade atual e futuro à organização e, com isso, acesso potencial a novos mercados, dando a ela sentido de continuidade e sustentabilidade (BRANDÃO; GUIMARÃES, 1999, p. 6).

Barbosa (2005), em pesquisa realizada em 37 empresas brasileiras, constata que os

modelos de gestão de competências brasileiros são recentes, sendo implantados, em grande

parte, a partir da década de 1990. O autor destaca, ainda, algumas constatações relevantes,

entre elas, estão:

Page 35: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

33

a) presença da área de Recursos Humanos na adoção do modelo;

b) transposição dos modelos adotados na sede no exterior, sem as devidas adequações;

c) participação massiva de consultorias na elaboração dos modelos;

d) a noção de competência adotada pelas empresas pesquisadas está relacionada a

conhecimento, habilidades, atitudes e comportamentos.

Em estudo realizado por Pereira (2007), o modelo de gestão de competências da

empresa pesquisada era híbrido, ou seja, embora tenha vindo da matriz, o modelo sofreu as

adaptações necessárias à realidade brasileira. O conceito de competências estava relacionado

ao “saber-fazer” (saber que o trabalhador adquire nos processos de trabalho) e “saber-ser”

(saber relacionado à subjetividade do trabalhador).

O modelo de competências da empresa pesquisada estava dividido em três grupos,

sendo competências técnicas (desempenho das atividades de um cargo), competências

comportamentais (as pessoais como criatividade, competitividade, autonomia) e competências

organizacionais (importantes para a gestão da empresa), segundo Pereira (2007).

Pereira (2007) constatou ainda que o modelo de competência adotado pela empresa

pesquisada, “[...] transfere para o indivíduo a responsabilidade pela aquisição de novos

conhecimentos e pela superação de suas falhas e/ou deficiências, além de fazer com que ele se

mostre envolvido com os objetivos da empresa.” (p. 5). Para a autora, esta posição se

contrapõe ao conceito de qualificação que consiste em uma relação social.

Sarsur (2009) considera que a implantação de um sistema de gestão de competências

pode ocorrer sob duas perspectivas, sendo a primeira delas, como filosofia e estratégia de

gestão, e a segunda, sob o ponto de vista instrumental (ferramenta de gestão de pessoas).

O entendimento dessas duas perspectivas é fundamental no momento de se adotar a

gestão de competências, pois, ao ignorar essas perspectivas, a organização corre o risco de

cair no equívoco de implantar essa tecnologia sem avaliar seus impactos. Para Sarsur (2009):

As organizações podem, assim, adotar a gestão por competências como uma política ou como uma ferramenta ou, ainda, sob ambas as perspectivas. O que está em discussão é o risco da implementação de uma ou outra abordagem sem a adequada clareza por parte das organizações, levando a consequências negativas para organizações e trabalhadores (SARSUR, 2009, p. 2).

Sarsur (2009) recorre a Dutra (2004) para chamar a atenção sobre possíveis críticas à

adoção da gestão por competências no que se refere aos efeitos perversos advindos de sua

implantação. A autora apresenta, como um possível efeito, o aumento da pressão sobre o

Page 36: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

34

trabalhador para melhorar a sua capacitação. “Não se ignora, neste caso, a possibilidade de

que o incremento de exigências sobre o trabalhador possa, de alguma maneira, também servir

como alavanca para seu desenvolvimento individual.” (SARSUR, 2009, p. 3).

Em seu artigo Gestão por competências: análise metodológica e proposição de um

instrumento para gestão de pessoas Flienga et al (2010) analisam a contribuição do modelo

de gestão por competências na prática de gestão de pessoas e a sua interação com alguns

subsistemas de recursos humanos como seleção de pessoal, avaliação de desempenho,

treinamento e desenvolvimento e remuneração.

Flienga et al (2010) constataram a importância do tema gestão de competências na

atualidade e sua contribuição para a melhoria nos processos de gestão de pessoas. Além disso,

o suporte que oferece à competitividade e o efetivo desempenho organizacional. A partir do

estudo realizado, as autoras concluíram que,

[...] a Gestão de Pessoas por Competências é uma metodologia que contribui para melhorar o desempenho organizacional, pois facilita a adaptação às demandas de mercado e, em contrapartida, as planilhas eletrônicas permitiram concluir que pela sua adoção os indivíduos têm maior possibilidade de serem reconhecidos e valorizados ao gerar maior valor agregado para a organização empregadora. (FILENGA et al, 2010, p.16).

Ruas et al. (2010) fizeram uma importante constatação no que se refere à abordagem

do tema gestão de competências no campo acadêmico e no mundo organizacional. Segundo

eles, esse tema vem perdendo o interesse dos estudiosos no mundo acadêmico. Para esses

autores:

Apesar de constituir ainda atualmente um dos mais recorrentes modelos de gestão no ambiente organizacional, a abordagem gestão por competências paradoxalmente já não ocupa um espaço atraente no contexto acadêmico brasileiro. Aparentemente, as causas principais da dicotomia entre os ambientes organizacional e acadêmico estão colocadas, simultaneamente, de um lado, na adequação do modelo de competência a grande parte das organizações, incluindo as públicas e aquelas sem fins lucrativos, de outro, num certo esgotamento do debate acadêmico acerca das possibilidades deste modelo (RUAS, et al., 2010, p. 2).

Ainda nesse artigo, Ruas et al. (2010) identificam novas possibilidades emergentes no

que se refere ao debate acerca do tema competências no contexto internacional. Segundo

esses autores, partindo de uma abordagem menos instrumental, observa-se “[...] adoção de

perspectivas multidimensionais da noção de competência na forma de gestão de capacidades

organizacionais ou inter-organizacionais.” (p. 2).

Ruas et al. (2010) constataram ainda que a noção do termo competência começa a ser

pensada, com maior frequência, de forma estratégica e aplicada em outros ambientes, não se

Page 37: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

35

reduzindo à sua aplicação como ferramenta para os processo de seleção, avaliação e

remuneração das pessoas.

Na conclusão de seu artigo, Ruas et al (2010) fazem uma sugestão inspirados em

alguns artigos que trataram das competências emocionais, e estimulam pesquisadores com

maior interface com as ciências psicológicas a aprofundarem em questões relacionadas à

formação da subjetividade profissional.

2.4 Um breve estudo sobre ciclo de vida

A base teórica sobre os modelos de ciclo de vida irá possibilitar maior entendimento

sobre o processo de adoção, implantação e evolução do modelo de gestão de competências

tendo por base a proposta de ciclo de vida de Adizes, além de tornar as análises mais robustas

do ponto de vista metodológico. Para melhor compreensão sobre modelos de ciclo de vida,

buscou-se a contribuição de alguns autores, como Adizes (1993), Goulart (2000) e Kaufmann

(1990).

2.4.1 Ciclo de vida segundo Adizes

Para Adizes (1993), assim como os organismos vivos, as organizações passam pelas fases

do crescimento e envelhecimento. Para esse autor, isto ocorre na inter-relação entre dois fatores,

sendo eles a flexibilidade e “controlabilidade”.

Quanto mais jovem a organização, maior sua flexibilidade e menor o controle. O

contrário ocorre quando essa organização é mais velha, ou seja, quando há menor

flexibilidade e maior controle. Todavia, quando uma organização possui o mesmo nível de

flexibilidade e controle, significa que ela não é nem jovem, nem velha demais. Neste caso, a

organização “[...] possui as vantagens da juventude e da maturidade, da flexibilidade e da

controlabilidade [...] essa organização pode mudar sua direção e pode fazê-lo quando

desejar.” (ADIZES, 1993, p. 3).

A FIG. 3 apresenta a relação entre a natureza do crescimento e do envelhecimento da

organização, demonstrando a curva entre flexibilidade e controle. Percebe-se que há uma alta

flexibilidade no nascimento e baixa flexibilidade e controle na morte.

Page 38: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

36

Figura 3 – A natureza do crescimento e do envelhecimento Fonte: ADIZES, 1993, p. 3.

Adizes (1993) apresenta o ciclo de vida das organizações em cinco fases de

crescimento (namoro, infância, toca-toca, adolescência e plenitude) e cinco fases de

envelhecimento (estabilidade, aristocracia, burocracia incipiente, burocracia e morte). Nesta

visão, as empresas crescem e envelhecem na interdependência de dois fatores: a flexibilidade

e o controle.

A fase de crescimento significa a capacidade que a organização tem em lidar com

problemas maiores e complexos. Já envelhecer significa que essa capacidade vai diminuindo e

os problemas tendem a parecer maiores do que são. Em ambos os casos, o papel do gerente é

importante e deve agir para levar a organização de volta à plenitude (ADIZES, 1993).

No modelo apresentado por Adizes (1993), o ciclo de vida é concebido de forma

dinâmica, o que permite a classificação da organização em mais de uma fase, tendo uma delas

como predominante. A FIG. 4 representa todas as fases do modelo do ciclo de vida de Adizes

(1993).

Figura 4: Ciclo de vida das organizações de Adizes

Fonte: ADIZES citado por GOULART, 2000.

Page 39: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

37

Adizes (1993) apresenta diferenças significantes entre as organizações localizadas no

lado do crescimento na curva do ciclo de vida daquelas localizadas no lado do

envelhecimento. Embora sutis, essas diferenças vão formando uma nova postura da

organização em relação ao risco. A organização em crescimento está mais disposta a assumir

riscos. Já a organização em envelhecimento está mais voltada para evitar riscos.

Na primeira fase de crescimento do modelo, o namoro, a organização existe apenas

como ideia, ou seja, ela inda não nasceu. O destaque é dado às possibilidades que o futuro

oferece. É um período típico no qual se fala muito e se faz pouco, é o momento em que o

fundador está firmando um compromisso e se propondo a correr os riscos inerentes a uma

nova organização (ADIZES, 1993).

Adizes (1993) afirma que, ainda na primeira fase, o fundador ou empreendedor deve

apaixonar-se pelo negócio e a meta que irá motivá-lo deve ser “[...] a satisfação de uma

necessidade de mercado, deve ser criação de valor adicionado.” (p. 15). O empreendedor deve

estar focado em necessidades que não foram atendidas. Ele passará por um momento

altamente vulnerável até seu produto ser aceito.

Na segunda fase, a infância, é o momento que, após correr o risco da criação da

organização, é preciso passar do campo das ideias para a ação. Essa ação significa gerar

resultados, ou seja, é preciso vender. Trata-se de um momento penoso para a organização.

Nesse estágio não há mais tempo para conversar, é preciso agir (ADIZES, 1993).

A organização não poderá ficar por muito tempo nesta fase, porque isto certamente a

levará à morte. Ela estará pronta para a fase seguinte quando sua situação de caixa e outras

atividades começarem a se estabilizar. Nesse momento, “[...] o fundador finalmente tem

tempo para respirar.” (ADIZES, 1993, p. 35).

Na terceira fase de crescimento, o toca-toca, a ideia já está funcionando. As vendas

aumentam sem muitos esforços, e o fundador começa a descuidar dos investimentos. Isto

acaba por gerar uma arrogância na organização que pode colocá-la em risco e até levá-la à

falência. O “[...] sucesso e arrogância, vendas como orientação preponderante e ambiguidade

acerca das tarefas e responsabilidades fazem com que a organização Toca-Toca tenha um

estreito escopo de interesses.” (ADIZES, 1993, p. 39).

Na quarta fase, a adolescência, a organização renasce, porém longe de seu fundador.

É impossível não delegar nesta fase, porém é preciso fazê-lo sem perder o controle. É nesse

momento que o fundador passa o bastão para o novo administrador. Embora seja difícil, é

necessário fazer essa transição de autoridade (ADIZES, 1993).

Page 40: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

38

Para Adizes (1993), o que complica mais a transição de autoridade é a mudança de

metas da organização. Abandona-se a meta de mais é melhor para melhor é mais. Nesse

estágio, é preciso trocar o “trabalhar mais” para “o trabalhar melhor”. Isto ocorre

principalmente por meio da sistematização administrativa e institucionalização da liderança.

A quinta e última fase do crescimento, a plenitude, representa o ponto mais favorável

do Ciclo de Vida. É nesse momento que a organização alcança o equilíbrio entre autocontrole

e flexibilidade. Segundo Adizes (1993): “As organizações Plenas sabem o que estão fazendo,

para onde estão indo e como chegar lá.” (p. 61). Nesta fase, a organização possui um

orçamento agressivo com pouca diferença entre o previsto e o real, e um controle maduro do

fluxo de caixa.

Existe uma fase na qual a organização atinge uma estabilidade, trata-se de uma

empresa forte, porém vai perdendo sua flexibilidade. A primeira fase do envelhecimento, a

estável, é marcada pelo início da perda da criatividade, inovação e incentivo às mudanças. A

organização continua voltada para resultados e se mantém organizada (ADIZES, 1993).

Entre as várias mudanças que ocorrem na organização que se encontra na fase estável,

há o tratamento do orçamento. Existe uma diminuição de investimentos em pesquisas,

concentrando os gastos em melhoramento do produto. Além disto, o poder passa para as mãos

da área financeira. Percebe-se um arrefecimento do espírito empreendedor (ADIZES, 1993).

A segunda fase do envelhecimento, a aristocracia, apresenta maior redução da

flexibilidade e os resultados de curto prazo são privilegiados, em detrimento dos resultados de

longo prazo. Segundo Adizes (1993): “A organização aristocrática pode ser distinguida das

demais organizações pelo modo como seus membros se vestem, pelos lugares onde se

reúnem, pelo seu aproveitamento do espaço, pela maneira como se tratam [...]” (p. 71).

Na terceira fase, a burocracia incipiente, observa-se uma verdadeira “caça às

bruxas”. A organização não está preocupada em resolver os problemas, mas, sim, em

encontrar quem causou os problemas. Esta situação é agravada pelo fato de as pessoas não se

sentirem responsáveis pelo que está acontecendo (ADIZES, 1993).

Segundo Adizes (1993), a demanda perde a elasticidade e a alta nos preços acaba

gerando uma queda da receita total. Tanto as receitas, quanto a participação de mercado não

param de diminuir. Nesta fase é comum haver uma forte competição entre os gerentes.

Instala-se um clima de desconfiança e cada gerente está preocupado em se defender.

A quarta e quinta fase do envelhecimento são chamadas burocracia e morte. A

organização não gera mais recursos próprios. Sua existência se justifica apenas no fato de

existir. A organização burocrática é desorganizada e possui veneração pela palavra escrita, ou

Page 41: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

39

seja, tanto os clientes quanto os colaboradores se perdem em meio a formulários e cartas

(ADIZES, 1993).

Os modelos cíclicos nas empresas acabam por definir as formas de controle de

eficiência e eficácia, e determinam ainda “o grau de burocratização adotado, sendo mais

coercitivos nas primeiras fases do ciclo de vida e mais normativos ao término do período. Desse

modo as organizações apresentam domínio do ambiente externo e interno.” (GOULART, 2000).

2.4.2 Ciclo de vida segundo Kaufmann

O modelo de Kaufmann (1990) apresenta o ciclo de desenvolvimento das

organizações dividido em quatro fases com base na cultura corporativa:

a) poder e liderança;

b) autoridade e delegação;

c) mudanças culturais;

d) planejamento e qualidade dos recursos humanos (GOULART, 2000).

Segundo Goulart (2000), a partir da análise dessas fases, é possível identificar o

estágio de desenvolvimento de uma organização considerando o seu ciclo de vida. Ainda

segundo esse autor, por meio das fases, é possível identificar a evolução de desenvolvimento

em relação a desempenho, liderança, comportamentos e funções.

A FIG. 5 apresenta as diferentes fases de desenvolvimento dentro do ciclo de vida da

organização do modelo de Kaufmann (1990).

Figura 5: Ciclo de vida das organizações de Kaufmann Fonte: KAUFMANN citado por GOULART, 2000.

Page 42: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

40

Na primeira fase, a infância, a organização não tem uma estrutura bem definida e as

comunicações são informais. As medidas de desempenho utilizadas pela empresa são o

aumento da produção e o crescimento das vendas. Nesta fase a empresa tenta compreender as

necessidades da demanda para se firmar no mercado (GOULART, 2000).

Segundo Kaufmann (1990), a figura do empreendedor é muito forte nesta fase; ela é

completamente dominante. Há a participação do fundador em todas as decisões da empresa, e

é ele quem imprime o ritmo da empresa, seu estilo de trabalho e o nível de risco que será

assumido.

Na segunda fase, o crescimento, verifica-se o aumento na complexidade das tarefas, e

por isto, a exigência de profissionais mais especializados. Surgem as necessidades de maior

informação e controle da organização. Nesta fase ocorrem definições relativas a

responsabilidades, autoridade e especificações do cargo. A principal medida do desempenho é

o lucro (GOULART, 2000).

Na terceira fase, a maturação, a empresa inicia o processo para explorar novos

produtos e mercados. A estrutura hierárquica é bem definida e, a partir das responsabilidades

e autoridades bem definidas, as decisões começam a ser delegadas. “A empresa está

burocratizada, com comunicação formalizada e controle estruturado.” (JÚNIOR, 2000, p. 30).

Na quarta e última fase, a renovação, recebe destaque a maneira como a empresa está

institucionalizada, profissionalizada e com bons sistemas de controle. Começa-se a observar

um excesso nas atividades burocráticas, um controle sobre inovações e menor agressividade

em termos de risco (GOULART, 2000). Segundo Kaufmann (1990), “as unidades de negócios

têm bastante autonomia operacional [...]. Certas funções de apoio [...] estão fortalecidas e suas

relações com as unidades de negócio são formais e difíceis.” (p. 25).

As contribuições trazidas pelo modelo de Adizes (1993) e de Kaufmann (1990)

auxiliaram na análise dos dados deste estudo uma vez que o ciclo de vida do modelo de gestão

de competências da empresa estudada serve como pano de fundo para o alcance dos objetivos

proposto nesse estudo.

Page 43: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

41

3 METODOLOGIA DE PESQUISA

3.1 Estratégia e método

Ao se definir a estratégia de pesquisa, há de se ter a noção que, independentemente da

escolha, sempre o pesquisador irá se deparar com vantagens e desvantagens do método,

dependendo de três condições:

a) questão da pesquisa;

b) controle dos eventos comportamentais;

c) fenômenos históricos (YIN, 2005).

Todavia, esta constitui a fase mais importante do projeto e, com base no problema e na

pergunta que se propõe responder, é que o pesquisador irá definir entre o método quantitativo

ou qualitativo, bem como a melhor estratégia de estudo.

As metodologias alternativas, ou comumente chamadas de pesquisa qualitativa, vêm

ganhando expressão no campo de conhecimento de administração nos últimos trinta anos. Até

então, privilegiavam-se o uso da pesquisa quantitativa e suas técnicas para analisar os

fenômenos da administração (MARTINS, 1994).

Para Martins (1994), isto ocorre como reflexo das mudanças de concepções que

passam a exigir nova forma de ver e compreender a realidade. Além disto, observa-se a

necessidade de se buscarem novos caminhos frente a uma realidade cada vez mais complexa e

dinâmica.

Bonoma (1985, p. 203) define a pesquisa qualitativa como sendo “[...] o principal ou

mesmo o único artifício de conhecimento válido aberto a cientistas cujos interesses estão

focados no comportamento humano”. Nesta mesma direção, Godoy (1995a) afirma que

atualmente a pesquisa qualitativa ocupa um lugar reconhecido para estudos que envolvem

fenômenos ligados aos seres humanos e suas relações sociais em diferentes ambientes.

Godoy (1995b) apresenta alguns aspectos comumente encontrados nos trabalhos

denominados qualitativos, a saber:

Page 44: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

42

a) a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como fonte direta de dados e o

pesquisador como instrumento fundamental;

b) a pesquisa qualitativa é descritiva;

c) o significado que as pessoas dão às coisas e à sua vida é a preocupação essencial do

investigador;

d) pesquisadores utilizam o enfoque indutivo na análise de seus dados.

É possível afirmar que uma das características fundamentais da pesquisa qualitativa é

a possibilidade de melhor compreender um fenômeno no contexto em que ocorre e do qual faz

parte. Isto possibilita ao pesquisador uma análise numa perspectiva mais integrada (GODOY,

1995b).

Na pesquisa qualitativa, o pesquisador vai a campo para tentar “[...] ‘captar’ o

fenômeno em estudo a partir da perspectiva das pessoas nele envolvidas, considerando todos

os pontos de vista relevantes. Vários tipos de dados são coletados e analisados para que se

entenda a dinâmica do fenômeno.” (GODOY, 1995b, p. 21).

Neste estudo, optou-se pela pesquisa qualitativa por acreditar-se que ela trará formas

para melhor compreender o fenômeno que se pretende estudar, bem como responder à questão

que se refere a como ocorre o processo de adoção, implantação e evolução do modelo de

gestão de competências de uma organização industrial tendo por base a proposta de ciclo de

vida de Adizes.

Na pesquisa qualitativa é comum o uso de estudo de caso. Este, por sua vez, tem como

principal objetivo analisar um fenômeno social em profundidade, respondendo a perguntas do

tipo “como” e “por que”. Isto ocorre, principalmente, quando existe baixa possibilidade de

controle sobre os eventos estudados (GODOY, 1995b; YIN, 2005).

Ainda sobre o objetivo do estudo de caso, Eisenhardt (1989) acrescenta que pode

variar entre testar uma teoria, fornecer uma nova descrição do fenômeno ou até mesmo gerar

uma nova teoria. No caso específico deste estudo, pretende-se utilizar o estudo de caso para

descrever o fenômeno organizacional relacionado ao ciclo de vida do modelo de gestão de

competências de uma organização.

Para Yin (2005, p. x): “[...] um estudo de caso é uma investigação empírica que

investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente

quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos”. Godoy

(1995a) acrescenta, ainda, que no estudo de caso o pesquisador parte com questões mais

Page 45: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

43

amplas que vão se aclarando durante a investigação, por isto esse pesquisador deverá estar

aberto às descobertas.

Para Triviños (1987, p. 133), o estudo de caso pode ser entendido como “[...] uma

categoria de pesquisa cujo objeto é uma unidade que se analisa aprofundadamente”. Esta

concepção vai de encontro a outras definições no que diz respeito à análise mais profunda do

objeto de estudo, conforme desejado nesta pesquisa.

A definição da questão é fundamental na pesquisa. Ela orientará o pesquisador e,

sobretudo, auxiliará a manter o foco no objetivo do estudo. Nesse momento, é fundamental

manter o foco no problema e na especificação das variáveis de estudos. Não é importante

tratar de hipóteses ou mesmo de relações entre os dados (EISENHARDT, 1989). Para Yin

(2005, p. 26): “[...] definir as questões de pesquisa é provavelmente o passo mais importante a

ser considerado em um estudo de pesquisa”.

Por fim, o estudo de caso pode ser considerado complexo por envolver múltiplas

fontes de dados e produzir um grande número de análises. Todavia, entre outras vantagens, o

estudo de caso possibilita a aplicação na vida real e é contemporâneo (SOY, 1997).

A natureza do problema deste estudo bem como as questões a que ele se propõe

responder apontam para o estudo de caso como a melhor estratégia metodológica. Isto porque

o estudo de caso permite a análise e compreensão, em profundidade, de fenômenos

organizacionais contemporâneos.

3.2 Unidades empíricas de análise

A escolha do caso é importante na pesquisa de estudo de caso. A escolha não deve ser

randômica, como alguns pesquisadores costumam dizer. Ao contrário, ela deve ser consciente

e alinhada à questão que se pretende responder. A escolha pode se dar para replicar ou

estender um estudo prévio, e pode ainda servir para preencher categorias teóricas ou até

fornecer exemplos de tipos polares (EISENHARDT, 1989).

Após a revisão da literatura, é possível estabelecer o que foi estudado previamente

sobre o tema e fazer perguntas mais direcionadas. A revisão de literatura auxilia na definição

do objetivo do estudo de caso. A opção do pesquisador pode ser pela escolha de um único

caso ou de múltiplos casos (SOY, 1997).

Page 46: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

44

Embora o estudo de caso único ou de poucos casos possua limitações que

impossibilitem fazer generalizações, ele pode “[...] proporcionar uma visão global do

problema ou de identificar possíveis fatores que o influenciam ou são por ele influenciados.”

(GIL, 2002, p. 55).

Considerando a constatação de Yin (2005), optou-se pelo estudo de caso único. A

escolha da empresa deu-se de forma intencional e a partir do conhecimento prévio da

pesquisadora de que, de fato, nesta organização havia sido implantado o modelo de gestão de

competências.

Soma-se ainda ao critério de escolha, o fato da empresa ser uma referência em seu

segmento possuindo reconhecimento nacional por sua atuação e resultados3. Além disso, a

empresa escolhida se destaca por seu compromisso com pesquisa e desenvolvimento de

produtos, novas tecnologias, qualidade e capacitação da engenharia para executar projetos

cada vez mais ousados e inovadores.

Outro aspecto que reforça a relevância da empresa escolhida é o fato do seu modelo de

gestão de competências ter sido estudado em outros trabalhos científicos, como relatórios de

pesquisas, monografias e dissertação4. Além disto, o modelo em questão foi apresentado em

diferentes fóruns, como universidades, seminários e encontros.

Trata-se de uma empresa multinacional situada na Região Sudeste do Brasil.

Atualmente possui unidades em países da Europa, América Latina e África do Sul. Seu

quadro de colaboradores é de aproximadamente quatorze mil pessoas, movimentando quase o

mesmo número entre terceiros e fornecedores.

A instalação da fábrica dessa empresa foi concluída no início da década de 1970. Já no

início dos anos de 1990, deu-se início ao projeto de implantação da fábrica integrada, em

conjunto com os projetos de qualidade total nas células de manufatura.

Segundo informações do site da empresa, ela defende a constante adoção de práticas

de gestão que a colocam como sinônimo de excelência e orgulho entre seus clientes,

acionistas, empregados e que levam a marca de ser líder de mercado.

Ainda contando com informações contidas no site, a empresa afirma adotar, em seus

princípios e valores, coerência, transparência, ética e exigência consigo mesma. E está sempre

em busca de fazer melhor. Afirma ainda, que valoriza as pessoas e respeita o ambiente como

um todo para crescer diante de uma sociedade mais justa e com perspectivas de futuro.

3 Conforme consulta realizada, em novembro de 2010, no site da empresa escolhida, seu faturamento líquido em

2009 foi de R$ 20,6 bilhões, cerca de 11,5% maior que no ano anterior, o que refletiu no maior volume de vendas no mercado brasileiro.

4 Os estudos científicos não serão elencados para evitar a identificação da empresa pesquisada.

Page 47: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

45

Uma das características marcantes nas práticas de gestão dessa empresa é sua

preocupação constante com o cliente, que segundo consta em seu site, é a razão da existência

de qualquer negócio. Além disso, a empresa destaca sua preocupação no relacionamento com

toda a sociedade, possuindo neste campo projetos especiais nas comunidades em que atua.

3.3 A estratégia de coleta de dados

Uma característica importante no estudo de caso é o uso múltiplo de técnicas de coleta

de dados. O pesquisador determina as ferramentas de coleta de dados - que podem ser

qualitativas ou quantitativas - que irão auxiliá-lo a responder às questões sobre o tema de

estudo. As ferramentas podem ser: observação, entrevista, revisão de documentos,

questionários, entre outros (SOY, 1997).

Considerando a complexidade das múltiplas fontes e ferramentas de coleta de dados, é

importante que o pesquisador se prepare de maneira sistematizada para não perder o foco

durante as visitas ao campo. Vale ressaltar a importância de se garantirem a validade e

confiabilidade dos dados (SOY, 1997).

Nesta mesma direção, Einsenhardt (1989) afirma que o estudo de caso pode combinar

instrumentos de coleta de dados. Entre eles, encontram-se o uso de arquivos, entrevistas,

questionários e observações. Lembrando que a evidência pode ser qualitativa ou quantitativa.

Da mesma forma, o estudo de caso pode contar com uma escolha que levará ao estudo de um

único caso ou de múltiplos casos.

A coleta de dados no campo é uma fase na qual as notas dos pesquisadores são muito

importantes. Para a autora, as anotações devem ser feitas sem julgamento, pois no momento

em que os fatos ocorrem não é possível avaliar se serão ou não utilizados na pesquisa. As

perguntas também podem melhorar a qualidade das anotações (EISENHARDT, 1989).

Durante as visitas ao campo, o pesquisador deve fazer suas anotações de forma

sistematizada, permitindo, assim, análises posteriores a essas visitas. É fundamental a

categorização da análise de campo (SOY, 1997).

Seguindo as indicações de Yin (2005) e Godoy (1995), este estudo irá privilegiar a

entrevista semi-estruturada, questionário e análise documental como técnicas de coleta de

dados. Essas fontes de evidências apresentam vantagens e desvantagens, porém se mostram

eficazes para compreender a complexidade do fenômeno aqui estudado.

Page 48: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

46

A entrevista é direcionada e permite ao pesquisador captar melhor o objeto de estudo,

bem como fornece dados para melhor compreensão do fenômeno (YIN, 2005). O QUADRO 3

apresenta os profissionais que participaram das entrevistas semiestruturadas e o respectivo

objetivo da entrevista.

Código do entrevistado

Cargo/Função Objetivo

1 Ex-responsável pela Área de Gestão de Competências

Compreender como o modelo foi implantado (principais dificuldades de facilidades).

2 Ex-gerente de Recursos Humanos

Conhecer o modelo de gestão de competências e o contexto de sua origem e implantação.

3 Responsável pelo Centro de Competências

Conhecer o modelo de gestão de competências e o contexto de sua origem e implantação.

4 Gerente de Área Captar a percepção do gestor sobre o processo de adoção e implantação do modelo.

Quadro 3 – Entrevistas Fonte: Elaborado pela autora.

A escolha dessas pessoas para a entrevista deu-se com base no critério de adequação

aos objetivos da investigação. A base dessa escolha pode ser corroborada por Albarello et al.

(2005, p. 103), que afirmam que, “ [...] nos estudos qualitativos interroga-se um número

limitado de pessoas, pelo que a questão da representatividade, no sentido estatístico do termo,

não se coloca. O critério que determina o valor da amostra passa a ser a sua adequação aos

objetivos da investigação”.

O Entrevistado 1, ex-responsável pela Área Gestão de Competências, foi escolhido

com base a sua atuação direta na adoção, implantação e acompanhamento da evolução do

modelo de gestão de competências. Ele fazia a interface entre as diretrizes da gerência e a

linha. Atualmente não trabalha mais na empresa pesquisada, mas continua na área de

treinamento e desenvolvimento, porém agora como consultor de empresas

O Entrevistado 2, ex-gerente de Recursos Humanos, teve uma importante atuação

durante o processo de adoção e implantação do modelo de gestão de competências da empresa

pesquisada. Naquela época, estava ligado diretamente ao diretor e às referências do modelo na

matriz. Atualmente não trabalha mais na empresa pesquisada e atua como diretor de Recursos

Humanos de uma empresa de grande porte.

Page 49: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

47

O Entrevistado 3 participou ativamente do processo de implantação do modelo de

gestão de competências da empresa pesquisada. Possui um amplo conhecimento na área de

desenvolvimento de pessoas e teve um papel importante na criação de parcerias com

universidades e instituições de ensino. Atualmente participa dos novos desafios de

desenvolvimento de pessoas na empresa pesquisada.

O Entrevistado 4, gerente de Área, participou de diferentes projetos de gestão de

pessoas da empresa pesquisada, incluindo a implantação do modelo de gestão de

competências. Seu depoimento possui relevância neste estudo, uma vez que apresenta a

percepção de alguém fora da área de Recursos Humanos.

A entrevista semiestruturada pode ser definida como aquela que parte de certos

questionamentos básicos, e tem o apoio em teorias e perguntas que interessam à pesquisa.

Além disso, oferece um amplo campo de questões, com base em novas perguntas que vão

surgindo à medida que os entrevistados dão as respostas (TRIVIÑOS, 1987).

A coleta de dados, por meio de entrevistas, ocorreu de forma diversificada no que se

refere a tempo, local e instrumento aplicado. O roteiro utilizado para os entrevistados 1, 2 e 3

foi o apresentado no Anexo A: “Representantes da Área de Recursos Humanos”

Com o intuito de captar os resultados advindos do modelo, no final deste roteiro foi

criado um guia com base no Relatório de Pesquisa (projeto integrado) desenvolvido no Centro

de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração Universidade Federal de Minas Gerais,

2000/2002.

Para o Entrevistado 4, foi utilizado o roteiro “Gestor” (Anexo B). O QUADRO 4

apresenta uma síntese de como ocorreram as entrevistas:

Código do Entrevistado

Data da Entrevista

Duração Local Gravada Transcrição

1 20/06/2010 38min 06seg Sala Mestranda Sim Sim

2 07/07/2010 53min 51seg Sala do Entrevistado Sim Sim

3 30/09/2010 50min 51seg Sala do Entrevistado Sim Sim

4 08/10/2010 1h 39min Empresa Pesquisada Não Não

Quadro 4 – Síntese entrevistas Fonte: Elaborado pela autora.

Vale ressaltar que todos os entrevistados tinham contribuições relevantes para este

estudo e ainda deram contribuições mesmo após os momentos específicos de entrevistas com

Page 50: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

48

a disponibilização de documentos e esclarecimento de dúvidas do pesquisador. Todavia, o

número reduzido de entrevistas pode ser considerado uma limitação deste estudo, o que

ocorreu principalmente pela dificuldade de acesso aos empregados da empresa pesquisada.

A análise de documentos apresenta inúmeras vantagens para o estudo. Além de ser

uma fonte estável, é possível analisá-la inúmeras vezes. Outras vantagens apontadas por Yin

(2005) são: a discrição da fonte, sua exatidão por trazer nomes referências e detalhes de um

evento e ampla cobertura por contemplar um longo espaço de tempo. O QUADRO 5

apresenta os documentos analisados, bem como seu respectivo objetivo.

Ordem Documento Objetivo

1 Site da Empresa Conhecer melhor a empresa (imagem, como se apresenta ao público, história, atuação, principais produtos etc).

2 Modelo de Gestão de Competências

Analisar e compreender o modelo de gestão de competências (dicionários de competências).

3

Documentos correlacionados ao modelo (avaliações, planos de desenvolvimento e outras políticas de RH)

Aprofundar nas ferramentas utilizadas para operacionalizar o modelo de gestão de competências.

Quadro 5 – Análise documental Fonte: Elaborado pela autora.

3.4 A estratégia de análise de dados

A análise de dados constitui uma fase importante da pesquisa e ao mesmo tempo

difícil. Esta análise consiste em “[...] examinar, categorizar, classificar em tabelas, testar ou,

do contrário, combinar as evidências quantitativas e qualitativas para tratar as proposições

iniciais de um estudo.” (YIN, 2005, p. 137).

A análise de dados é o coração da pesquisa e deve ter especial atenção. As anotações

de campo do pesquisador são fundamentais para as análises posteriores. É importante ter o

cuidado para não interpretar de forma equivocada os dados obtidos.

Existem vantagens em encontrar parceiros em casos cruzados. Isso pode evitar o

perigo que os pesquisadores correm em fazer análises equivocadas dos dados coletados na

fase anterior. A comparação dos casos cruzados permite analisar os dados sob diferentes

Page 51: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

49

maneiras. Essas análises comparativas organizadas por categorias ou mesmo por técnicas de

coleta de dados permitem ao pesquisador ir além das impressões iniciais (EISENHARDT,

1989).

Ainda na análise de dados, é possível encontrar duas táticas, sendo de um lado, a

seleção das categorias para fazer as comparações das evidências. Do outro, é possível

selecionar casos e listar similaridades e diferenças entre eles (EISENHARDT, 1989).

A escolha da estratégia para análise de dados deve ser estabelecida antes da coleta de

dados. Isto irá facilitar a escolha de ferramentas de manipulações de dados, bem como “[...]

considerar evidências de formas mais justa, produzir conclusões analíticas convincentes e

eliminar interpretações alternativas.” (YIN, 2005, p. 140).

Para Soy (1997), a avaliação e análise dos dados devem incluir interpretação que irão

ou não correlacionar as informações obtidas no campo, os estudos já existentes e, por fim, as

questões feitas no início do estudo de caso. Os pesquisadores categorizam, tabulam e

recombinam os dados com os objetivos iniciais do estudo.

Neste estudo, optou-se pela análise de conteúdo como forma mais apropriada para

melhor compreensão do fenômeno. A análise de conteúdo pode ser entendida como “[...] um

conjunto de técnica de análise das comunicações.” (BARDIN, 2004, p. 270). Pode-se afirmar

que os métodos de análise de conteúdos possuem basicamente dois objetivos, sendo eles:

superar a incerteza e enriquecer a leitura.

Com base no modelo de Adizes (1993), propõe-se uma estrutura que irá possibilitar a

análise do ciclo de vida do modelo de gestão de competências da empresa pesquisada com o

intuito de compreender, em profundidade, cada fase de implantação e evolução do modelo

adotado. As fases que compõem esta proposta de ciclo de vida do modelo de competências

são:

a) nascimento;

b) crescimento;

c) maturidade;

d) envelhecimento;

e) morte, conforme representado na FIG. 6.

Page 52: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

50

Figura 6: Ciclo de vida do modelo de gestão de competências Fonte: Adaptado pela autora com base no modelo de ADIZES, 1993.

Com base no modelo de ciclo de vida adaptado de Adizes (1993) ora apresentado é

que se estabeleceram as categorias e subcategorias de análise de conteúdo deste estudo,

conforme o QUADRO 6.

Categorias Subcategorias

Nascimento

1. Data da adoção do modelo de gestão de competências. 2. Razões que levaram à adoção do modelo. 3. Determinação de quem foi a iniciativa. 4. Escolha, construção e participação do modelo 5. Processo de definição de competências individuais e organizacionais. Articulação entre o modelo e a estratégia da empresa.

Crescimento

1. Determinação de quem participou da implantação do modelo. 2. Abrangências do modelo (todos os profissionais e unidades?). 3. Avaliação de competências (gap entre o real e o desejado). 4. Projeto de desenvolvimento dos gaps de competências. 5. Sustentação e articulação como o negócio da empresa. 6. Principais dificuldades e facilidades.

Maturidade

1. Resultados advindos do modelo. 2. Avaliação de competências – novo ciclo de avaliação. 3. Aceitação e reconhecimento por parte dos empregados. 4. Suporte ao negócio. 5. Aumento da competitividade.

Envelhecimento

1. Indicação de quando iniciou o declínio do modelo. 2. Fatores que levaram ao declínio do modelo. 3. Ações realizadas para evitar o declínio do modelo. 4. Evidências de um novo modelo.

Quadro 6 – Categorias de análise Fonte: Elaborado pela autora.

Page 53: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

51

Após a descrição do percurso metodológico, apresenta-se, no QUADRO 7, uma

síntese dos principais elementos a que este estudo se propôs para o alcance dos resultados

almejados:

Procedimento Definição

Tipo de Pesquisa Descritiva.

Estratégia Qualitativa.

Método Estudo de caso único em uma empresa industrial.

Estratégia de coleta de dados - Entrevistas semiestruturadas; - questionário; - análise documental.

Estratégia de análise de dados Análise de conteúdo.

Categorias de análise Ciclo de vida do modelo de gestão de competências. Quadro 7 – Síntese dos procedimentos metodológicos Adotados

Fonte: Elaborado pela autora.

Page 54: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

52

4 DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

4.1 Contexto e histórico do modelo de gestão de competências da empresa pesquisada

Conforme identificado por Brandão e Guimarães (1999), o modelo de gestão de

competências pode ser apresentado como um instrumento de gestão, cujo objetivo é planejar,

captar e desenvolver as competências para o negócio.

Nesta mesma direção, a empresa pesquisada optou pela implantação do modelo de

gestão de competências num momento em que o mercado exigia o reconhecimento das

pessoas com mais competências, e por considerar que o seu maior diferencial competitivo

eram as pessoas e a tecnologia.

Antes da implantação do modelo de gestão de competências, a empresa passou por

outras formas de fazer a gestão do treinamento e desenvolvimento de seus empregados. No

período de 1995 a 2002, o sistema adotado foi o Know How Engineering, com foco no

desenvolvimento de conhecimento na área industrial e sua operacionalização foi realizada

através dos planos de formação. Por outro período (1999-2004), o sistema adotado foi o Mapa

de Competências, com foco em conhecimentos, e sua operacionalização se deu, também, por

meio dos planos de formação.

O Modelo de Gestão de Competências foi adotado entre os anos de 1999 e 2004, com

foco em competências, e sua operacionalização se deu por meio do plano de formação,

remuneração e desenvolvimento. É possível verificar, na FIG. 7, uma coexistência das formas

de trabalhar o treinamento e o desenvolvimento das pessoas ao longo dos anos.

Figura 7: Experiência da empresa com competências

Fonte: Documento 1.

Page 55: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

53

O Modelo de Gestão de Competências foi criado pela matriz na Europa e implantado

no Brasil considerando as devidas adaptações culturais e de mercado. A adoção global do

modelo permitia o confronto dos perfis de competências entre as empresas que compunham o

Grupo (BARBOSA, 2002).

O público-alvo gerenciado pelo modelo foi o nível estratégico da empresa,

denominado naquela época como Elos e, depois, Professionals. Neste nível encontravam-se

profissionais seniores, especialistas, coordenadores, supervisores e gerentes. Os outros níveis

continuaram a ser gerenciados pelos sistemas tradicionais da empresa, ou seja, iniciativas de

treinamentos sem uma avaliação prévia dos conhecimentos dos empregados e sem atrelar a

formação à remuneração. Como declarado pelo Entrevistado 2:

Porque é um sistema tão sofisticado, tão complexo, que você tinha que gerenciar poucas pessoas – não dava para você gerenciar uma grande quantidade de pessoas – primeiro. Segundo, o custo disso é altíssimo e o impacto nas relações de trabalho também era muito alto. Então, a escolha que foi feita de você gerenciar por competências, essa população, não somente por isso, mas também era onde você tinha um maior nível de complexidade dessa competência, que justificaria você utilizar um sistema sofisticado desse tipo (ENTREVISTADO 2).

A opção da empresa pesquisada em aplicar o modelo de gestão de competências em

um determinado grupo da empresa, embora justificada pelo custo e pela complexidade das

competências, contraria a afirmação de Brandão e Guimarães (1999), que indicam que a

avaliação de competências deve ocorrer em todos os níveis da organização, e de forma

integrada.

O processo de mudança para um modelo de desenvolvimento organizacional baseado

em competências exigiu da área de Recursos Humanos um intenso movimento de mudança

cultural, incluindo desenvolvimento de modelos e políticas, coerência e gestão. Este processo

incluía aplicação e correção de rotas ao longo da implantação do modelo de gestão de

competências (BARBOSA, 2001).

O modelo de gestão de competências (Sistema Professional) foi suportado por outras

políticas e programas como avaliação das competências, política para formação (treinamentos

e idiomas), admissão de trainees, mobilidade internacional, remuneração, Avaliação

Liderança e People Satisfaction Survey5.

5 People Satisfaction Survey ou Pesquisa de Satisfação das Pessoas, instrumento utilizado para verificar o nível

de satisfação e identificação dos empregados com a empresa. Era uma forma de avaliar o nível de coerência e aceitação das políticas e ações de gestão de pessoas.

Page 56: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

54

Para Dutra (2008), as políticas podem ser entendidas como os princípios e diretrizes

que conduzem as decisões e comportamentos da organização e das pessoas. As práticas, por

sua vez, são entendidas como procedimentos, métodos e técnicas utilizadas para implementar

decisões e nortear suas ações internas e externas.

Neste sentido, o Sistema de Gestão de Recursos Humanos da empresa pesquisada se

estruturou de forma integrada, buscando atender as demandas da organização, conforme

mostra a FIG. 8, a seguir:

Figura 8: Sistema de gestão de Recursos Humanos Fonte: BARBOSA, 2001 (CD ROM).

Na época da implantação do modelo, a missão principal dos profissionais de recursos

humanos era encontrar soluções para a organização. Essa missão vai muito além de modelos e

técnicas de gestão de recursos humanos, “[...] isso passa, sem dúvida, por coisas simples

como recrutar, gerenciar, desenvolver, selecionar e, principalmente, reter talentos.”

(BARBOSA, 2001).

Para Dutra (2008), o foco do modelo de gestão de pessoas deve estar no processo e a

adoção de instrumentos e ferramentas é apenas um meio para ajudar a compreender a

realidade da organização. Ainda segundo o autor, é no processo que se torna possível a

construção de uma visão comum da realidade e dos desafios.

Page 57: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

55

4.2 O modelo de gestão de competências

Conforme mencionado, o modelo de gestão de competências (Sistema Professional)

teve sua criação na Europa, e por isto considerou a legislação trabalhista e exigências

sindicais do país onde se encontrava a matriz. Além disto, o modelo tinha foco na gestão de

competências e gestão de remuneração dos níveis mais altos da organização.

Este fator é relevante, uma vez que isto desencadeou a primeira grande adaptação na

estrutura de cargos da empresa brasileira. Para atender ao sistema de gestão de competências,

foi necessário fazer uma diferenciação de categorias, passando a existir quatro agrupamentos:

a) Operários; b) Mensalistas; c) Professional e d) Dirigentes. A categoria Professional acabou

dando nome ao modelo de gestão de competências da empresa: Sistema Professional.

O conceito de competência dentro do Sistema Professional estava ligado a um

conjunto de conhecimentos de base (cultura da empresa), conhecimentos disciplinares (áreas

profissionais fundamentais) e capacidades e qualidades (comportamentais), sempre ligados à

geração de resultados para o negócio. Na FIG. 9, é possível verificar a articulação dos

conceitos do modelo.

Figura 9: Modelo gestão de competências – Sistema Professional Fonte: BARBOSA, 2001.

Assim, o conceito de competências se apresenta como “[...] um conjunto de

conhecimentos e capacidades e qualidades próprias da profissão ou função que a pessoa

Page 58: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

56

exerce na empresa e que deve utilizar para o alcance dos resultados empresariais.”

(DOCUMENTO 2).

O conceito adotado pela empresa pesquisada conecta as competências da organização

e das pessoas à geração de resultados. Essa constatação vai ao encontro dos conceitos

difundidos por diversos autores, como: Fleury; Fleury (2001), Zarifian (2001), Dutra (2008),

Fischer (2001), entre outros.

4.2.1 Conhecimentos de base

Os conhecimentos de base estão ligados ao saber geral da organização. Esses

conhecimentos referem-se basicamente à cultura da empresa e processos fundamentais do

negócio. As três grandes competências dentro do bloco Conhecimentos de Base eram

consideradas fundamentais para a sustentação do negócio, são eles: a) Infraestrutura da

Empresa e Desenvolvimento de Negócios; b) Recursos Humanos; c) Economics.

O conhecimento de base Infraestrutura da Empresa e Desenvolvimento de Negócios

estava relacionado ao funcionamento do sistema empresarial no seu conjunto. O

conhecimento de Recursos Humanos referia-se ao conjunto de conhecimentos de

metodologias e de instrumentos para a gestão e a valorização das pessoas. E, por último, o

conhecimento de Economics estava ligado ao conjunto de conhecimentos relativos à área de

administração e a parte funcional da empresa (DOCUMENTO 2).

Os conhecimentos de base foram organizados em um dicionário, com o intuito

principal de auxiliar no entendimento do conteúdo de cada bloco. Após o claro entendimento

desse conteúdo e da necessidade do negócio, criava-se um Percurso Formativo coerente com a

real necessidade, e com o principal objetivo de desenvolver competências.

Segundo o Entrevistado 1, a empresa viu-se em meio à crise de 2001 com uma forte

necessidade de controlar os custos. Definiu-se naquele momento que era importante

desenvolver a competência ligada a Custos, dentro do Conhecimento de Base Economics. Um

dos objetivos era criar a consciência nas pessoas sobre a redução de custo.

[...] que o fato de você pedir um – sendo muito simplista – copo de café... para você é só pedir copo que está lá já disponível, mas [...] gera um custo para a empresa e as pessoas não percebiam isso. A requisição de um material, de um uniforme ‘ah, o meu tá feio, eu vou pedir um outro’, isso gerava custo. Então isso (desenvolver a competências de custos) foi gerando consciência nas pessoas e ajudou muito no processo de retomada do business, principalmente aqui no Brasil (ENTREVISTADO 1).

Page 59: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

57

Ainda segundo o Entrevistado 1, o desenvolvimento desse conhecimento auxiliou na

criação de uma consciência sobre controle de custos e auxiliou na responsabilização de cada

empregado no processo de redução de custos.

4.2.2 Conhecimentos disciplinares

Os conhecimentos disciplinares eram aqueles relacionados a conhecimentos técnicos

específicos da família profissional de trabalho. Foram selecionadas sete áreas fundamentais da

organização, sendo elas:

a) Produto;

b) Engenharia Produto;

c) Produção;

d) Marketing;

e) Comercial;

f) Compras;

g) Tecnologia da Informação;

h) Logística. (DOCUMENTO 2)

Cada área profissional fundamental possuía o seu próprio dicionário, que organizava

as competências de forma ampla e objetiva. Cada dicionário era composto de doze

conhecimentos disciplinares. Para cada conhecimento, buscavam-se identificar subdisciplinas,

com o intuito de tornar o dicionário mais claro e detalhado (DOCUMENTO 2).

Os conhecimentos disciplinares eram avaliados por meio de uma ficha (ANEXO A),

que levava a uma pontuação final do avaliado. Essa pontuação, somada à pontuação das

Capacidades e Qualidades, gerava uma nova classificação do empregado dentro de uma das

cinco categorias existentes na organização. Para a avaliação dos conhecimentos disciplinares,

utilizava-se uma escala com cinco níveis de consciência sobre o conhecimento específico. A

escala variava da ausência do conhecimento (nível 0) ao domínio do mesmo (nível 9),

conforme apresentado no QUADRO 8:

Page 60: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

58

Quadro 8: Níveis de consciência Fonte: Documento 3.

Para que a avaliação fosse mais objetiva e cumprisse com o seu papel de identificar o

nível de conhecimento dos empregados, foi criado um Sistema de Avaliação, que tinha como

objetivo identificar a manifestação das competências de interesse e úteis para a organização:

As competências objeto de avaliação são aquelas que, no âmbito do mapa das competências definidas como de interesse e úteis para empresa, são possuídas e manifestadas pelo avaliado no momento da avaliação. A avaliação não se refere nem ao patrimônio pessoal de possíveis competências do avaliado, nem às suas competências potenciais (DOCUMENTO 2).

O sistema de avaliação deveria respeitar o princípio da pluralidade de avaliadores,

com o intuito de reduzir a subjetividade nas avaliações. Para isso, foi necessário considerar,

como avaliadores, todos aqueles que, de alguma forma, por conhecer o avaliado, teriam

condições de agregar valor ao processo de avaliação.

Outro princípio importante no sistema de avaliação foi a certificação de competências

colegiada, a qual se dava por meio do confronto. Para isso, foi criado o Comitê de Gestão e

Desenvolvimento, composto por líderes superiores, líderes imediatos e representantes de

Recursos Humanos.

Conforme representado na FIG. 10, o processo de avaliação de competências se

concluía no momento em que o responsável direto do avaliado lhe informava o resultado da

avaliação, incluindo a definição das áreas de melhoramento.

AUSÊNCIA (N0)

CONSCIÊNCIA (N1)

COMPREENSÃO (N3)

APLICAÇÃO (N5)

ESPECIALIZAÇÃO

(N7)

DOMÍNIO (N9)

- Conhecimento dos elementos essenciais e das características de base da matéria sob um ponto de vista teórico e geral, adquirível através de atividade formativa específica e/ou experiências profissionais diversas, maturadas no decorrer do tempo.

Conhecimento suficiente da matéria para compreender a sua aplicação e para dialogar eficientemente com um especialista, adquirível através da participação em grupos de trabalho interfuncionais, onde estejam presentes especialistas da matéria e/ou do desenvolvimento de atividade na área profissional específica.

Conhecimento da matéria, suficiente para atuar plenamente e produzir resultados, adquirível através do desenvolvimento de atividade na área profissional específica ou em outras áreas estritamente relacionadas. De fato, este nível é atribuído só se o avaliado trabalha ou se, no passado, trabalhou numa determinada área de conhecimento com resultados positivos.

Conhecimento elevado da matéria, resultado de estudos, comparações e amplas experiências na área profissional específica, o que permitirá resultados relevantes. Possui conhecimentos profundos e sistemáticos dos processos da área, devido a ter atuado em uma ou mais atividades de responsabilidade dentro da área.

Pertence ao restrito vértice profissional e ter reconhecimento de liderança no conhecimento da matéria internamente e externamente à empresa. De fato, este nível é atribuído em relação ao Setor/Sociedade no qual atua ou então, sempre que possível, consultando a família profissional de referência no Grupo em termos de pré-certificação.

Page 61: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

59

Figura 10: Processo de avaliação

Fonte: Documento 2.

Embora a autoavaliação não alterasse a pontuação final do avaliado, ela possuía três

objetivos relevantes dentro do processo, a saber, envolver o avaliado no processo de

avaliação, possibilitar o avaliado conhecer previamente as competências avaliadas e, por fim,

ser um instrumento de confronto e discussão no momento da comunicação.

4.2.3 Capacidades e qualidades

As capacidades e qualidades “[...] compreendem o conjunto de habilidades

profissionais e as características pessoais indispensáveis para orientar os comportamentos

organizacionais no desenvolvimento das atividades de trabalho.” (DOCUMENTO 2).

[...] tinha uma parte que era comportamental, que a gente chamava de capacidades e qualidades. E ali a gente inseria grande parte dos valores da empresa e daquilo que a empresa espera como comportamento das pessoas no dia-a-dia: trabalho em equipe, comunicação, simplificação de soluções e assim por diante (ENTREVISTADO 1).

O dicionário de capacidades e qualidades era composto por dez competências sendo

elas:

a) buscar excelência no desempenho;

b) atuar a serviço do grupo de trabalho;

c) gerir o tempo como fator competitivo;

d) simplificar as soluções/decisões;

e) melhorar / aprender continuamente;

f) ser uma referência profissional;

Page 62: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

60

g) assumir os riscos das decisões/escolhas;

h) comunicar com eficácia;

i) assimilar experiências culturais diversas (DOCUMENTO 2).

Essas competências eram avaliadas em uma ficha (ANEXO D), que apresentava uma

escala de avaliação contendo os níveis de frequência: Nunca (0), Raramente (1),

Frequentemente (3), Muito Frequente (5) ou Sempre (7). A pontuação dessa ficha somava-se

à pontuação da ficha dos conhecimentos disciplinares, gerando, então, a pontuação final do

empregado.

O Entrevistado 2 ressalta a importância das capacidades e qualidade, afirmando que a

busca dos profissionais vai além da competência técnica. As empresas buscam pessoas que

tenham capacidades e qualidades comportamentais que se adaptam à cultura da empresa, ou

ainda, que essas pessoas tenham um comportamento mais adequado às exigências atuais.

Ao contrário da não aplicação das competências técnicas no recrutamento e seleção, as

capacidades e qualidades eram utilizadas para identificar, de alguma forma, o nível de

aderência do candidato aos aspectos culturais e valores da empresa.

Então a gente trabalhou muito com as capacidades e qualidades, que são fatores fundamentais para a pessoa se integrar e se desenvolver mais rapidamente. Então o processo de recrutamento era e até hoje tem fatores de capacidades e qualidades no processo de avaliação do público (ENTREVISTADO 1).

4.2.4 Instrumentos para o desenvolvimento de competências

Os dicionários de competências (Conhecimentos de Base, Conhecimentos

Disciplinares, Capacidades e Qualidades) podem ser considerados o fio condutor sobre o qual

os programas de desenvolvimento de competências se baseavam. Eles permitiam uma

coerência nesses programas que podiam conter ações de curto, médio e longo prazo

(BARBOSA, 2001).

As ações de curto prazo previam o desenvolvimento das disciplinas do nível básico,

competências específicas e interfuncionais. As ações de médio prazo contemplavam o

desenvolvimento das disciplinas de nível avançado, idiomas, seminários e congressos para

atualização. A formação acadêmica estava dentro das ações de longo prazo (BARBOSA,

2001).

O processo de identificação dos gaps de competências ocorria anualmente dentro do

Comitê de Gestão e Desenvolvimento, que, após a avaliação colegiada, definia quais eram as

Page 63: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

61

disciplinas priorizadas para desenvolvimento. Definia-se, via de regra, de uma a três

disciplinas por área da empresa (BARBOSA, 2001).

Após a definição das disciplinas prioritárias para o ano corrente, aplicava-se um pré-

teste a toda população, com o intuito de identificar o nível de conhecimento. O empregado

que passasse na avaliação recebia o certificado daquele conhecimento e poderia ir para um

nível superior. Caso o empregado não fosse bem nesse pré-teste, ele deveria passar pelo

treinamento e fazer o pós-teste. Se, ainda assim, ele não conseguisse a certificação do

conhecimento, teria que passar por um processo de recuperação até ter o conhecimento

certificado (BARBOSA, 2001).

E ao final do curso, tinha um pós-teste, para saber qual foi o nível de retenção de conhecimento que a pessoa teve. Caso ela não passasse no pós-teste, a gente tinha um programa de suporte pós-treinamento, que eram reuniões individuais com o consultor, de forma a esclarecer as dúvidas que a pessoa tinha, sem a exposição diante do público, para o melhoramento dele no dia-a-dia (ENTREVISTADO 1).

Um fator crítico dentro do modelo de gestão de competências era o desenvolvimento

dos cursos que compunham o Programa Formativo. O responsável por projetar os cursos

deveria estar dentro do negócio e ser uma referência de conhecimento da disciplina a ser

desenvolvida. As áreas passaram a ser responsáveis diretos pela qualidade dos programas, e

foram suportadas por recursos humanos.

O pós-teste realizado após a participação no curso, quando comparado com o pré-teste

do empregado, permitia avaliar a evolução do conhecimento e mesmo a eficácia do curso.

Lembrando que a certificação do conhecimento ocorria somente quando o empregado passava

no pós-teste (BARBOSA, 2001).

Para avaliar a qualidade dos programas de formação, aplicava-se, além do pré-teste e

do pós-teste, a avaliação de reação. Esta última tinha por objetivo mensurar a qualidade dos

treinamentos com base na percepção dos empregados. Avaliava-se basicamente o conteúdo, o

consultor, material didático e aspectos logísticos (ENTREVISTADO 1; ENTREVISTADO

2).

A formação linguística também teve sua relevância dentro do modelo de gestão de

competências. O principal objetivo dessa formação era assegurar a capacidade de

comunicação para os empregados que saíssem do Brasil, seja para uma reunião ou realização

de um curso. Havia um percurso de certificação para essa competência, incluindo avaliação

externa por instituições especialistas em idiomas (ENTREVISTADO 2).

Page 64: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

62

A formação acadêmica recebeu uma atenção especial, no que se refere a diferentes

modalidades de ensino. O incentivo a essa formação representava uma oportunidade interna e

externa para os empregados. Além das parcerias com universidades, a empresa investiu na

formação via vídeo-conferência. O curso de mestrado, por exemplo, era feito à noite em

parceria com a Universidade de Santa Catarina por vídeo-conferência (BARBOSA, 2001).

A implantação do modelo de gestão de competências acabou gerando nas pessoas um

desejo pela formação, incluindo a própria responsabilidade pelo autodesenvolvimento e

autoconhecimento. Foi criado, então, o Centro de Competências, local onde as pessoas

poderiam participar de cursos e palestras ligados aos temas relacionados nos dicionários de

competências (BARBOSA, 2001).

O modelo de gestão de competências foi atrelado ao processo de remuneração fixa e variável

da empresa pesquisada. Foi possível estabelecer parâmetros no quais se remunerava melhor

aquelas pessoas com maiores competências e melhores desempenhos. O Entrevistado 2

relatou que, “[...] porque quando eu remunero alguém, eu remunero alguém pelas

competências que essa pessoa tem, pela responsabilidade que ela possui e pela entrega que ela

faz. Então a posição me define o nível de responsabilidade que essa posição me exige.”

A FIG. 11 permite compreender como o sistema de avaliação estava ligado à

remuneração fixa e variável numa gestão de curto e longo prazo. O empregado era avaliado

pelos resultados entregues num determinado período, por meio da Avaliação do Resultado do

Trabalho (ART), sendo esta a base da remuneração variável. Já a avaliação dos recursos

profissionais enfocava o profissionalismo do empregado e servia de base para a remuneração

fixa e o planejamento de carreira do empregado.

Figura 11: Sistema de avaliação e remuneração

Fonte: Documento 2.

Page 65: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

63

A avaliação do resultado do trabalho, com foco no desempenho, utilizava um modelo

no qual a empresa era avaliada de 1 (um) a 5 (cinco) nos itens criação de valor, posição

financeira, qualidade de produto e cota de participação no mercado. Já a avaliação individual

do empregado utilizava uma escala de 1 (um) a 3 (três), sendo que 1 era para objetivos não

cumpridos; 2, para objetivos cumpridos e 3, para objetivos cumpridos com excelência.

A avaliação dos resultados dos recursos profissionais, com foco nas competências,

tinha como referência os cinco níveis de qualificação de Professional a Direttore. Esses níveis

de qualificação foram definidos tendo como referência a soma da pontuação das capacidades

e qualidades, dos conhecimentos disciplinares e dos conhecimentos de base.

O sistema de avaliação dos Recursos Humanos da empresa pesquisada retoma a

certeza, compartilhada com os gestores, de que a lógica do “resultado” e aquela do “valor” do

indivíduo não constituem necessariamente um sinônimo e, por isso, é oportuno articular o

sistema de avaliação, levando em consideração cada uma dessas perspectivas

(DOCUMENTO 2).

A FIG. 12 apresenta, de uma maneira sintética, o percurso de carreira possível para o

empregado.

Figura 12: Cinco perfis de competências Fonte: Documento 2.

A passagem de um nível de qualificação ao outro era feita por nomeação, após um

processo de avaliação que considerava as variáveis competências, resultados, potencial,

liderança e o papel do empregado na organização.

Page 66: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

64

Não adianta eu ter competência e ocupar uma posição com uma certa responsabilidade, se eu não faço a entrega. Então, dentro desse modelo, separou-se a remuneração fixa da remuneração variável. A remuneração fixa remunera pela responsabilidade e pela competência que a pessoa possui. Já a entrega, ela é remunerada dentro da remuneração variável. E com isso então se distinguiram essas duas coisas (ENTREVISTADO 2) .

Os parâmetros da remuneração fixa e variável eram definidos com base nas cinco

qualificações, e para cada qualificação eram exigidos níveis de entregas e competências

diferenciados. Do ponto de vista prático, exigia-se mais de um profissional no nível Expert do

que no nível Professional.

Ao atrelar a remuneração ao modelo de gestão de competências, foi necessário

reforçar o conceito de que um sistema baseado nas competências requeria uma grande atenção

à avaliação, que deveria ser efetuada com base em conceitos claros e bem definidos. Além

disso, a avaliação deveria ser desenvolvida com objetividade e rigor, sendo seu resultado

comunicado com transparência e disponibilidade para o confronto (DOCUMENTO 2).

O processo de carreira está de tal forma alinhado ao modelo de gestão de

competências da empresa pesquisada, que todas as ações de enquadramentos,

desenvolvimento e promoções levavam em conta o resultado dos empregados na avaliação

daquele período.

Então todo o processo da carreira ele buscava quem estava acima da sua faixa de notas. Se ele estivesse acima e ele estivesse, por exemplo, abaixo da sua faixa salarial, ele teria aumento. Se ele estivesse acima das competências e ele estivesse acima da faixa salarial, ele era promovido. A gente fazia sempre um cruzamento entre as informações de remuneração e de competências para estabelecer o plano de desenvolvimento das pessoas (ENTREVISTADO 1).

A implantação do modelo de gestão de competências, entre outros aspectos, despertou

nas pessoas a necessidade de uma busca desenfreada pelo autodesenvolvimento. Este fato

constatado, essa busca foi além da busca de competências técnicas e técnicas de trabalho, foi

ao encontro da necessidade do autoconhecimento (BARBOSA, 2001; ENTREVISTADO 3).

Para Dutra (2008), um grande avanço no que se refere a um modelo de gestão de

pessoas é o fato de se haver o entendimento de que, para ter o comprometimento entre as

pessoas e a organização, é preciso ter como base o desenvolvimento e a satisfação de ambos.

No modelo contemporâneo a pessoa passa a ter um papel ativo na gestão de pessoas.

Page 67: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

65

4.3 O ciclo de vida do modelo gestão de competências da empresa pesquisada

4.3.1 Nascimento

O modelo de gestão de competências da empresa estudada foi adotado em 1999, por

uma orientação da matriz. A matriz tinha uma necessidade de implantar esse novo modelo

para impulsionar os programas de formação e de desenvolvimento das pessoas. Ela queria

vincular todo o aspecto de remuneração a um processo de competências, determinando um

modelo único para todo o Grupo de Empresas em nível mundial (ENTREVISTADO 1;

ENTREVISTADO 3).

O projeto do modelo de gestão de competências teve seu início em 1996 e foi

considerado pioneiro na Europa. Para a sua construção contou-se com a contribuição da área

de Recursos Humanos da matriz, especialistas no tema e parcerias com universidades

europeias e americanas, como, por exemplo, o Massachusetts Institute of Technology (MIT)

(ENTREVISTADO 3).

No Brasil quem conduziu a implantação do modelo foi a área de Recursos Humanos.

O diretor teve uma atuação ativa em todo o processo. O modelo veio pronto da matriz, e no

primeiro ciclo de avaliação não houve qualquer adaptação do mesmo. No início, havia uma

crença de que o modelo seria mais um modismo.

Mais um modismo que não ia durar [...] depois a gente ia jogar fora e começar tudo de novo. No primeiro ciclo foram feitas as avaliações e a gente acabou não tirando um grande proveito do processo. A avaliação foi vista como mais uma burocracia do RH (ENTREVISTADO 1).

Nessa mesma direção, Fischer (2001) fez algumas perguntas sobre as novas formas de

fazer a gestão das relações organizacionais frentes aos novos conceitos na Área de Recursos

Humanos. Entre elas estão, “Trata-se, de fato, do desenvolvimento de novos conceitos ou

simplesmente modismo passageiros? Estamos vivendo um movimento de avanço efetivo na

teoria e na prática organizacionais que justificaria sua reconstrução conceitual ou novos

termos vêm sendo disseminados sem muito rigor científico e entregues a um público ávido

por novidades?” (p. 10).

A ausência de adaptação do modelo para a realidade brasileira trouxe consequências

sérias durante a implantação do modelo. Vários problemas foram identificados tais como:

Page 68: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

66

a) falta de parâmetros;

b) avaliação feita sem referências técnicas dos níveis de;

c) envolvimento do avaliado somente no momento de comunicação;

d) falta de experiência na metodologia;

e) muitas avaliações feitas somente pelo líder (DOCUMENTO 2).

No segundo ciclo de avaliação houve um forte trabalho de adaptação do modelo de

gestão de competências. A primeira ação relevante foi o envolvimento das pessoas de negócio

na discussão dos dicionários de competências. Essa ação permitiu o entendimento dos

gestores que o instrumento de avaliação fazia parte do dia-a-dia de trabalho deles. A

organização começou a acreditar mais no modelo (ENTREVISTADO 1).

Além do envolvimento das pessoas do negócio na implantação do modelo, a área de

recursos humanos fez um trabalho demonstrando as vantagens do modelo e como este poderia

ser um forte aliado no alcance dos resultados da empresa. A formação dos avaliadores teve

um papel relevante nesse processo de conscientização sobre a importância do modelo

(ENTREVISTADO 1; ENTREVISTADO 3).

O conceito de competências adotado no modelo estava ligado ao conhecimento. Esse

conhecimento tinha uma graduação e se tornava competência quando se transformava em

resultado. As competências eram entendidas como um conjunto de Conhecimentos de Base,

Conhecimentos Disciplinares e Capacidades e Qualidades (ENTREVISTADO 1;

ENTREVISTADO 2; ENTREVISTADO 4; DOCUMENTO 2).

Segundo a percepção do Entrevistado 4, algumas perguntas relevantes deixaram de ser

feitas na fase de implantação do modelo, tais como: O que estava por trás do modelo? Qual o

contexto do modelo? Por que ele estava sendo aplicado? O que se queria com a aplicação

desse modelo? O que a realidade brasileira tinha a ver com a realidade da matriz?

A primeira grande mudança advinda da decisão de se implantar o modelo de gestão de

competências no Brasil foi a reestruturação de cargos. O fato de ser um modelo europeu, o

foco era na gestão das pessoas nos níveis mais altos da organização e toda a estrutura de

remuneração passava a ter base no modelo de competências (ENTREVISTADO 2).

A partir das entrevistas (1 e 2), percebe-se que a implantação do modelo de gestão de

competências não foi uma decisão local, vislumbrando-se os benefícios que ele poderia trazer.

A adoção do modelo se deu em função da necessidade de atender uma diretriz da matriz. Isso,

num primeiro momento, comprometeu os resultados e a implantação, mas, num segundo

Page 69: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

67

momento, a empresa percebeu que o modelo, se bem implantado, traria benefícios para a

organização.

A decisão pela implantação do modelo de gestão de competências não partiu da

necessidade de apoiar a estratégia da empresa. Conforme já mencionado, a implantação do

modelo se deu em função do cumprimento de uma diretriz da matriz.

4.3.2 Crescimento

A área de Recursos Humanos foi a principal responsável pela implantação do modelo

de gestão de competências na empresa pesquisada. Como estratégia, após o aprendizado do

primeiro ciclo de avaliação, buscou o envolvimento de todas as áreas. Foram identificadas

pessoas que eram chave e responsáveis pela validação dos dicionários de competências. Essas

pessoas eram os representantes de negócio no processo (ENTREVISTADO 1;

ENTREVISTADO 3).

As pessoas envolvidas nessa fase do processo de implantação do modelo possuíam

grande competência para avaliar a coerência dos dicionários com a realidade brasileira. Foram

envolvidos gerentes, gestores e técnicos com conhecimento reconhecido interna e

externamente. Eles se sentiram parte do processo (ENTREVISTADO 1; ENTREVISTADO

3).

Após a fase de avaliação dos dicionários e adaptação do modelo à realidade brasileira,

a área de Recursos Humanos promoveu um encontro com todos os gestores, para

apresentação global do modelo. Essa comunicação foi um marco no processo, para informar

que a partir de então havia um modelo de gestão de competências na empresa

(ENTREVISTADO 1; ENTREVISTADO 3).

Então digamos que o momento da comunicação foi um marco para falar assim ‘agora nós terminamos a fase de desenho e estamos indo efetivamente para a implementação’. Então fizemos um grande encontro [...] comunicamos o modelo, comunicamos como é que iam ser os treinamentos. E então a gente começou efetivamente o processo de envolvimento de todos os líderes, no que diz respeito à conscientização do desenho, a conscientização do modelo e o papel deles dentro do processo (ENTREVISTADO 1).

Além do encontro com os gestores, foi criado um extenso plano de comunicação para

os colaboradores com o objetivo de envolvê-los e sensibilizá-los em relação ao modelo de

Page 70: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

68

gestão de competências. Alguns modelos do plano de comunicação podem ser conferidos no

Anexo E.

O Entrevistado 3 ressaltou a relevância do papel do processo de comunicação

executado no período de implantação e execução do modelo de gestão de competências da

empresa pesquisada. Segundo ele:

[...] esse processo de comunicação estimulou uma nova forma de pensar por parte dos colaboradores. Eles entenderam que o treinamento já não era mais uma responsabilidade da empresa. [...] Criou-se um fenômeno muito interessante, uma mobilização de todos os colaboradores em busca do autodesenvolvimento (ENTREVISTADO 3).

Após a definição e validação das competências, iniciou-se o processo de avaliação

para identificar os gaps de competências. Inicialmente foi feita uma análise macro das

competências necessárias para o negócio e para o futuro da empresa e o nível de competências

existente em cada área. Na sequência, estabeleceram-se quais eram as competências

prioritárias para o desenvolvimento (ENTREVISTADO 1).

Num segundo momento, houve a criação do Comitê de Gestão e Desenvolvimento,

nos quais se avaliavam as competências. Com a participação de um grupo transversal

composto por gestores, pessoas que tinham interface com o avaliado e Recursos Humanos.

Um dos objetivos desses comitês era reduzir a subjetividade das avaliações.

O Comitê utilizava as fichas (Anexo A e B) para definir o nível de conhecimento do

empregado nas competências técnicas (de 0 a 9) e comportamentais (de 0 a 7). Na Entrevista

4, verifica-se que, apesar de toda a preparação dos avaliadores, existia uma tendência a avaliar

as competências no nível 3 (três), e o nível 9 (nove) não era utilizado.

O Entrevistado tinha a própria avaliação guardada e chegou a pegar a pasta contendo

informações do modelo de gestão de competências. Isso demonstra, de alguma forma, o forte

trabalho de comunicação feito na época de vigência do modelo.

Após o processo de avaliação e identificação dos gaps de competências dos

profissionais da área, buscavam-se priorizar as competências (cerca de duas) no ano junto

com o diretor da área. Essas competências eram escolhidas de forma consensual, com base

numa análise do resultado geral das avaliações. Paralelamente ao aspecto de formação, tinha

também o aspecto de desenvolvimento (ENTREVISTADO 1).

Para cada competência priorizada, era desenvolvido o Percurso Formativo com um

especialista no tema. Para ter o conhecimento certificado, o colaborador fazia o pré-teste -

antes do curso e tinha que ter um aproveitamento mínimo de 70% para não participar do curso

Page 71: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

69

- e o pós-teste - feito após a participação no curso, o aproveitamento mínimo também era

70%. (ENTREVISTADO 1; ENTREVISTADO 2; ENTREVISTADO 4).

Então nós decidimos aplicar pré-testes em cada uma das atividades de formação que estavam planejadas, para ver se a base conceitual das pessoas era consistente para fazer esse melhoramento. Quem passasse no pré-teste poderia ou não participar do percurso de desenvolvimento, do percurso formativo. Quem não passasse, obrigatoriamente, tinha que fazer a formação teórica do processo, até chegar ao seu nível, até que ele entendesse efetivamente a diferença ou o como esse conhecimento teórico é aplicado na prática (ENTREVISTADO 1).

Foi criado o Passaporte do Conhecimento, para que o colaborador pudesse registrar

todas as informações relacionadas ao seu desenvolvimento como o resultado da avaliação das

competências, a avaliação do resultado de trabalho, avaliação do perfil do líder, plano

individual de formação e o perfil ideal (DOCUMENTO 4).

O Passaporte do Conhecimento foi entregue ao colaborador pelo próprio gestor,

gerando um envolvimento do colaborador no processo. Após um tempo de uso, ele foi

abandonado em função dos riscos trabalhistas identificados pela área de Relações Sindicais da

empresa pesquisada (ENTREVISTADO 1; ENTREVISTADO 3).

As principais dificuldades encontradas na implantação e manutenção do modelo de

gestão de competências estavam relacionadas à legitimação do processo de avaliação e a

própria complexidade do modelo. Outra dificuldade identificada foi a conscientização do

papel do gestor no processo e a necessidade que ele seguisse o rigor presente na metodologia.

Segunda dificuldade foi efetivamente gerenciar para que as avaliações não saíssem do controle, em função simplesmente das pessoas quererem promover os seus colaboradores. Ou seja, que eles respeitassem o ciclo, que eles respeitassem as graduações e o método (ENTREVISTADO 1).

Algumas áreas questionaram muito a complexidade dos dicionários. Isso acontecia,

por exemplo, quando os gestores avaliavam as competências da sua área e chegavam à

conclusão de que as competências eram baixas e que eles não poderiam remunerar seus

colaboradores como gostariam. Alguns gestores chegaram a questionar a validade dos

instrumentos utilizados (ENTREVISTADO 2).

O uso dos Comitês de Avaliação também foi identificado como um dificultador na

realização do programa, em função do número de pessoas de áreas diferentes, do

entendimento dos manuais e da metodologia e a eliminação da subjetividade dos avaliadores

(ENTREVISTADO 3).

Page 72: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

70

As facilidades encontradas estão relacionadas ao nível de participação e

comprometimento das pessoas no processo, desde o desenho até a aplicação do modelo de

gestão de competências. Embora o modelo fosse robusto e complexo, ele se tornava fácil

quando as pessoas acreditavam e participavam do processo (ENTREVISTADO 1).

Outra facilidade identificada na aplicação do modelo foi o fato de ter sido uma

iniciativa institucional com o comprometimento e envolvimento da alta direção e da alta

gerência. Isso possibilitou uma abertura para a realização do trabalho e a geração dos

resultados (ENTREVISTADO 2; ENTREVISTADO 3).

A inserção da autoavaliação facilitou as discussões nos comitês e contribuiu para a o

gestor se preparar para o feedback do seu colaborador. Com as informações da autoavaliação,

foi possível fazer o confronto entre a autopercepção do colaborador e a percepção da empresa

representada pelo comitê (ENTREVISTADO 1; ENTREVISTADO 3).

O plano de comunicação implantado durante a avaliação trouxe contribuições

relevantes para o processo, pois foi a partir dele que as pessoas começaram a conhecer o

modelo de gestão de competências e a perceber o valor que isso geraria para a sua vida

profissional dentro e fora da organização.

O QUADRO 9 sintetiza as principais facilidades e dificuldades relatadas pelos

entrevistados no período de implantação do modelo de gestão de competências na empresa

pesquisada.

Principais Facilidades Principais Dificuldades

- Adoção do modelo como iniciativa institucional. - Comprometimento dos gestores, colaboradores e alta direção. - Inserção da autoavaliação. - Plano de comunicação.

- Legitimação do processo de avaliação (subjetividade). - A complexidade do modelo. - Conscientização do papel do gestor. - Comitês de Avaliação (número de pessoas de diferentes áreas).

Quadro 9 – Principais facilidades e dificuldades Fonte: Elaborado pela autora.

Page 73: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

71

4.3.2 Maturidade

Conforme constatado por Barbosa (2001, p. 43), “[...] a noção de competência está

fortemente ligada à capacitação e à produtividade, ou seja, no campo conceitual a vinculação

ao desempenho e/ou ao resultado é patente”. Foi possível identificar, na empresa pesquisada,

o nível de contribuições advindas da implantação do modelo de gestão de competências.

O modelo de gestão de competências implantado, a partir do segundo ciclo de

avaliação, foi visto como um instrumento do próprio negócio. Embora ele não tenha nascido

da necessidade estratégica da empresa no Brasil, foi possível gerar uma integração entre a

área de Recursos Humanos e a estratégia do negócio (ENTREVISTADO 1).

Após o primeiro ciclo de avaliação de competência, o modelo foi criando uma

dinâmica quase natural de diagnóstico das competências prioritárias e o desenvolvimento de

programas formativos com base na necessidade das áreas.

Então era feito com o nível de diretor com os seus respectivos gerentes, um diagnóstico do negócio, para onde é que ia, e baseado nesse diagnóstico é que se definia as competências prioritárias. Então na área Administrativa Financeira, por exemplo, tinha... E tem muita matéria que é extremamente complexa, dava quase que um curso aí de pós. Só que era uma pós-graduação feita com competências internas [...] de Controladoria, sistemas internos, sistemas contábeis, os basics contábeis que faltavam. Então foi um período muito rico inclusive de definição de programas formativos [...] (ENTREVISTADO 22).

Ainda segundo o Entrevistado 2, no auge do modelo de gestão de competências foram

avaliados não só os resultados e o impacto para o negócio, mas também o seu impacto na

gestão do clima, “[...] foi fantástico. Era a base de tudo isso, [...] onde eu checava todo o meu

Sistema de Gestão Integrada de Recursos Humanos”.

Com base na movimentação e envolvimento dos empregados, foi possível afirmar que

eles perceberam a geração de valor trazida pelo modelo de gestão de competências. Os

programas de autodesenvolvimento e os cursos de pós-graduação abertos para livre inscrição

fizeram muito sucesso na empresa. Os empregados começaram a perceber a associação desses

programas com as competências a serem desenvolvidas (ENTREVISTADO 1).

Uma das contribuições do modelo para a organização foi a mobilização dos

colaboradores em relação ao autodesenvolvimento. Na medida em que o empregado recebia o

feedback, ele tinha consciência dos gaps de competências e iniciava uma busca por ações de

desenvolvimento (ENTREVISTADO 3).

Page 74: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

72

Foi onde que nasceu o Centro de Competências, porque língua – inglês, italiano, espanhol, a parte de informática – eu tinha que criar instrumentos para massificar e otimizar os recursos que eu tinha, que eram poucos recursos também financeiros. Então criei um monte de laboratórios de autodesenvolvimento, com política: quem é que poderia ir, em qual horário, inclusive envolvendo questões trabalhistas também. Para você ter ideia, até pensar que dentro do Centro de Competências tem um lugar onde você passa o crachá, é como se o Centro de Competências fosse uma área neutra da empresa. No momento que eu entrei ali, eu estou aceitando que eu não estou mais trabalhando, que eu estou ali estudando (ENTREVISTADO 2).

Outra contribuição, advinda do modelo, foi a possibilidade de a empresa conhecer suas

competências essenciais (por meio dos dicionários), permitindo-a ter acesso aos perfis ideais

de cada área. Foi possível identificar quais competências teriam que ser buscadas no mercado

(ENTREVISTADO 2 ENTREVISTADO 3).

O funcionamento do modelo de gestão de competências da empresa pesquisada atingiu

um nível de funcionamento tal que a matriz chegou a enviar pessoas para conhecer as práticas

aplicadas localmente. Esse foi um dos reconhecimentos ao trabalho desenvolvido na empresa

pesquisada.

[...] eu chamei de Sistema Integrado de Gestão de Recursos Humanos. Que todos esses subsistemas como é que eles se interligavam. E veio auditores da matriz para ver isso funcionando e no final, eles efetivamente certificaram de que tudo aquilo estava funcionando daquela forma. Foi um ciclo, realmente fechou-se um ciclo (ENTREVISTADO 2).

Além do reconhecimento pelo grupo de auditores da matriz, o modelo de gestão de

competências foi apresentado em seminários, universidade e encontros relacionados ao tema

com o principal objetivo de demonstrar seu funcionamento em uma empresa de grande porte e

sua geração de valor para o negócio.

O guia presente no roteiro para as entrevistas com representantes de recursos humanos

(Anexo A), submetido na fase de coleta de dados, trouxe contribuições relevantes para a

análise dos resultados advindos da implantação do modelo de gestão de competências.

Merecem destaque os itens apresentados no guia que tiveram plena concordância pelos

respondentes no que diz respeito ao resultado obtido com a implantação do modelo de gestão

de competências. Para os entrevistados os itens a seguir modificaram-se radicalmente após a

implantação do modelo : a) o fortalecimento da cultura organizacional; b) aumento da

motivação dos empregados para desenvolvimento de competências e busca de resultados; c) o

aumento no nível de motivação; d) aumento aprendizagem organizacional; e) o aumento do

feedback; f) interesse dos empregados no treinamento e desenvolvimento.

Outro agrupamento possível com base na coleta de dados é aquele cujo entrevistados

perceberam que sofreu uma alteração parcial com a implantação do modelo de modelo de

Page 75: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

73

gestão de competências. Os itens são: a) alavancagem dos resultados; b) aumento do

comprometimento das pessoas; c) desenvolvimento dos líderes com capacidade de gestão de

pessoas.

Com base nas respostas dos entrevistados, não é possível avaliar impacto da

implantação do modelo de gestão de competências ou os itens permaneceram inalterados nos

temas a seguir: a) aumento de credibilidade da empresa; b) queda do absenteísmo; c) aumento

de retrabalho em equipe.

Na pesquisa realizada por Barbosa (2002), ele constatou que as empresas pesquisadas

ainda não podiam mensurar os resultados advindos da implantação do modelo. Isso em função

de dois fatores, sendo eles: a implantação recente dos modelos naquela época (o primeiro

datava 1996); e o ajuste que estava se fazendo nos instrumentos de mensuração dos

resultados.

Ao contrário da constatação de Barbosa (2002), o resultado do guia confirma as

contribuições do modelo de gestão de competências também identificadas nas entrevistas

realizadas. Os entrevistados reforçaram os bons resultados advindos da implantação do

modelo de gestão de competências na empresa pesquisada.

Todavia, vale ressaltar que isto não significa que o modelo atingiu seu nível de

excelência na organização. Embora evidências demonstrem uma boa avaliação do modelo de

gestão de competências, foi possível identificar limitações desse modelo. Essas limitações

serão tratadas no item seguinte, Envelhecimento e morte.

4.3.3 Envelhecimento e morte

No período entre 1999 e 2003, o processo de treinamento e desenvolvimento da

empresa pesquisada para os empregados da categoria Professional era baseado na avaliação

de competências feita por meio do modelo implantado. Em 2004, iniciar-se-ia um novo ciclo

de avaliação de competências e foi quando a matriz não deu mais as condições para que o

modelo continuasse sendo utilizado no Brasil (ENTREVISTADO 1; ENTREVISTADO 2).

Eu não creio que ele (o modelo) entrou num processo de declínio. Ele estava no ápice, pronto para ser renovado – de certa maneira – e ele morreu porque a matriz decidiu ‘não, vocês não vão renovar nada porque não vai funcionar aqui e vocês não entram em outro modelo’. Então a gente matou ele (ENTREVISTADO 1).

Page 76: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

74

Uma das razões que levaram a essa decisão da matriz foi o insucesso do modelo em

outros países e na própria matriz. Nesses lugares, o processo de avaliação não passou de uma

iniciativa burocrática e não fez a evolução para ser entendido como um instrumento do

negócio. Diferentemente do que acontecia no Brasil, pois o modelo funcionava e era

reconhecido por gestores e demais empregados (ENTREVISTADO 1).

Outro motivo do declínio do modelo identificado durante as entrevistas (2 e 3) foi o

movimento de pessoas na matriz, por exemplo, as saídas de vice-presidentes, diretores e o

diretor de Recursos Humanos da matriz, e isso de alguma forma contribuiu para o declínio do

modelo de gestão de competências.

O Entrevistado 3 sinaliza a falta de um empenho maior para a atualização das

competências, e também de uma vontade política para manter o modelo de gestão de

competências funcionando. Além disso, seria necessária uma equipe técnica de especialistas

para manter as competências atualizadas e todo o modelo funcionando.

Embora a matriz não tenha dado uma orientação expressa para o abandono do modelo

de gestão de competências, ela passou a não dar mais condições para que o sistema de

avaliação fosse validado. Então, se um empregado recebesse uma pontuação tal na avaliação

que indicaria uma promoção de nível e um aumento salarial, a matriz não permitia que isso

fosse feito. Então, a empresa brasileira não conseguiu manter a coerência entre aquilo que foi

dito e o que passava a ser feito (ENTREVISTADO 2).

A partir do momento que o sistema de avaliação do modelo não era mais reconhecido

pela matriz, a empresa brasileira começou a degradar o modelo e passar para um modelo de

gestão que era apenas o desenvolvimento de competências e não mais de remuneração e

gestão por competência (ENTREVISTADO 2).

Parte do instrumental do modelo de gestão de competências foi utilizada para priorizar

os treinamentos a serem realizados no ano. O Centro de Competências, por sua vez, continuou

existindo, mas com o foco específico em autodesenvolvimento e não mais direcionado a um

foco de desenvolvimento de carreira dentro da organização (ENTREVISTADO 2).

Por fim, após a impossibilidade de manter a coerência na aplicação do modelo de

gestão de competências atrelando-o à remuneração e ao crescimento profissional, a empresa

pesquisada retornou para os mapeamentos tradicionais de necessidade formativas. Passou a

utilizar, de alguma forma, o modelo básico de competências sem o processo de avaliação feito

pelos comitês (ENTREVISTADO 1).

Page 77: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

75

4.3.4 À guisa das conclusões

Para o Entrevistado 1, o modelo de gestão de competências da empresa pesquisada era

bastante interessante e robusto, mas não precisava ser tão complexo, “[...] o nosso modelo era

bastante robusto, mas ele era pesado”. Ainda segundo o Entrevistado 1, mesmo sendo um

modelo com um sistema de avaliação complexo, ele era útil para o direcionamento da

formação dentro da organização.

O Entrevistado 2 também avaliou o modelo de gestão de competências da empresa

pesquisada como complexo, mas utilizou a analogia do relógio para afirmar quão bem todo o

sistema funcionava, “[,,,] um sistema tão complexo que é até difícil da gente acreditar que

seria possível.”

O modelo de gestão de competências atingiu seu ápice com o reconhecimento de

gestores e empregados. A empresa, como um todo, já havia incorporado à sua rotina as

atividades relacionadas ao processo de avaliação de competências, os programas de

desenvolvimento, os feedbacks entre outros:

O modelo foi muito visto como um instrumento do próprio negócio, tanto que durante muitos anos a gente teve questionamento das pessoas de por que o modelo saiu. Foi a primeira vez que eles questionaram por que uma das avaliações de RH desapareceu do mapa (ENTREVISTADO 2).

Para o Entrevistado 4, algumas vezes, os modelos são implantados e acabam tendo um

caráter punitivo para as pessoas. É necessário haver coerência entre o que a empresa fala e

faz. Se o modelo não tiver aderência à organização, ele não funciona. Ainda segundo o

Entrevistado 4, só haverá aderência se o modelo tornar a vida das pessoas mais fácil, “[...] eu

só mudo quando facilita minha vida”.

No QUADRO 10, a seguir, encontra-se a síntese dos resultados do estudo por

categorias estabelecidas na fase da definição metodológica. Este quadro é uma tentativa

didática de agrupar os acontecimentos identificados durante o período de adoção, implantação

e evolução do modelo de gestão de competências da empresa pesquisada, culminando no

desenho do ciclo de vida deste modelo.

Page 78: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

76

Categorias Resultados

Nascimento (1999)

- Modelo adotado em 1999 com o objetivo de atender uma solicitação da matriz. - Primeiro ciclo de avaliações sem adaptações. - Diretor de RH e a área de RH tomaram frente da implantação. - Definição de competências feita na matriz. - Modelo não foi implantado para atender uma demanda estratégica.

Crescimento (2000-2002)

- 1ª fase de implantação participação somente a área de RH. - 2ª fase de implantação e participação da área de RH, gestores e especialistas. - Público-alvo do modelo: nível Professional da organização. - Comitê de Avaliação dos gaps de competências individuais (conhecimentos disciplinares e capacidades e qualidades) e competências organizacionais (conhecimentos de base). - Definição das prioridades de desenvolvimento no ano compartilhadas com diretores, Criação do Percurso Formativo para o desenvolvimento dos gaps. - Principais dificuldades: a) legitimação do processo de avaliação (subjetividade); b) a complexidade do modelo; c) conscientização do papel do gestor; d) Comitês de Avaliação (número de pessoas de diferentes áreas). - Principais Facilidades: a) adoção do modelo como iniciativa institucional; b) comprometimento das pessoas (gestores, colaboradores e alta direção); c) inserção da autovaliação; d) plano de comunicação.

Maturidade (2002-2004)

- Após o primeiro ciclo de avaliação, o modelo foi criando uma dinâmica quase natural de diagnóstico das competências prioritárias e o desenvolvimento de programas formativos com base na necessidade das áreas. - O modelo de gestão de competências foi reconhecido como um instrumento do negócio. - O modelo foi reconhecido pelos empregados. - Impacto positivo na gestão do clima. - O modelo possibilitou à empresa conhecer suas competências essenciais (por meio dos dicionários). - Foi possível identificar no questionário uma concordância unânime sobre os itens: a) integração de Recursos Humanos com a estratégia, b) fortalecimento da cultura organizacional; c) aumento no nível de motivação; d) aumento aprendizagem organizacional; e) aumento do feedback; f) interesse dos empregados no treinamento e desenvolvimento. - Não foi possível identificar impacto direto no aumento da competitividade.

Envelhecimento/Morte (2004)

- Em 2004, um novo ciclo de avaliação de competências se iniciaria e foi quando a matriz não deu condições para que esse novo ciclo acontecesse. - Os fatores que levaram ao declínio do modelo: a) insucesso na matriz e mudança na alta direção; b) complexidade do modelo; c) necessidade de especialistas para sua operacionalização; d) falta de condições de manter a coerência na aplicação do modelo; e) falta de vontade política para manter o modelo de gestão de competências funcionando. - Foi a primeira vez que os colaboradores questionaram o porquê de uma das avaliações de RH ter desaparecido completamente.

Quadro 10 – Síntese dos resultados Fonte: Elaborado pela autora.

É importante ressaltar que a mudança de uma fase à outra não ocorreu de maneira

automática e estanque. Durante este estudo não foi possível identificar com precisão quando

se encerra uma fase e inicia a outra. Com base nas entrevistas, é possível identificar

exatamente quando inicia a adoção do modelo em 1999, e quando o mesmo entra no processo

de declínio, em 2004.

Page 79: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

77

Ao apresentar neste estudo uma fase denominada “Envelhecimento/Morte” como

aquela que representa o declínio do modelo de gestão de competências da empresa

pesquisada, não significou afirmar que a empresa deixou de se preocupar ou buscar outras

soluções para trabalhar o desenvolvimento das competências individuais e organizacionais.

Embora não tenha sido o foco deste estudo, foi possível identificar a partir da fala do

Entrevistado 4, que a empresa se encontrava em um momento de estudo de uma nova solução

ou modelo para fazer a gestão de suas competências. Além de buscar o suporte de autores

consagrados, a empresa tinha acabado de aplicar uma pesquisa de clima para entender o

momento atual da organização.

Para o Entrevistado 4, “[...] a área de Recursos Humanos precisa perguntar o que está

sendo feito. Os problemas estão aqui dentro da organização, mas as soluções também estão”.

Ainda segundo o Entrevistado 4, é preciso ter o cuidado com os modismos comuns na

sociedade atual e em organizações de grande porte.

Page 80: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

78

5 CONCLUSÕES

A proposta deste trabalho foi verificar, a partir do estudo de caso único, como ocorreu

o processo de adoção, implantação e evolução de um modelo de gestão de competências em

uma empresa industrial tendo por base a proposta de ciclo de vida de Adizes, identificando e

compreendendo os fatores intervenientes desse processo.

O levantamento bibliográfico permitiu concluir que, embora o tema competências

venha sendo discutido mais fortemente no mundo acadêmico e organizacional a partir do

início desta década, verifica-se ainda um leque grande de conceitos ora contraditórios e ora

convergentes. Fleury e Fleury (2001) utilizaram o termo caleidoscópio para expressar essa

multiplicidade encontrada em torno da noção de competência

Na empresa pesquisada, por exemplo, o termo competências era entendido como “[...]

um conjunto de conhecimentos e capacidade e qualidades próprias da profissão ou função que

a pessoa exerce na empresa e que deve utilizar para o alcance dos resultados empresariais”.

(ENTREVISTADO 1)

Nessa definição de competências, é possível identificar um elemento comumente

encontrado na revisão de literatura deste estudo, ou seja, o uso da competência para gerar

resultados para a empresa. Todavia, o conceito não menciona a geração de valor/resultado

para o indivíduo, conforme destacado pelos autores Fleury e Fleury (2001).

O modelo de gestão de competências da empresa pesquisada era organizado com base

no conceito ora apresentado. As competências estavam organizadas nos chamados

Dicionários de Competências. Existiam três grupos de dicionários, sendo eles: a)

Conhecimentos de Base; b) Conhecimentos Disciplinares; e c) Capacidades e Qualidades.

Com o aporte do referencial teórico realizado neste estudo, é possível afirmar que o

Dicionário Conhecimento de Base está para as competências organizacionais assim como os

Dicionários Conhecimentos Disciplinares e Capacidades e qualidades estão para as

competências individuais.

O modelo de gestão de competências apoiou de alguma forma, o processo de

transformação da área de Recursos Humanos em uma área mais estratégica e voltada para a

gestão de pessoas. A missão dessa área era “dar soluções para o negócio”. Essa afirmação foi

possível ser feita com base na fala dos Entrevistados 1 e 2.

Page 81: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

79

O Sistema de Gestão de Recursos Humanos inaugurado pela empresa no período de

implantação do modelo de gestão de competências conseguiu, na prática, reunir todos os

elementos de sustentação ao desenho das soluções para as demandas das áreas.

Esse sistema se estruturou de forma integrada e era composto por: a) avaliação de

competências; b) programas de treinamento de curto, médio e longo prazo; c) política de

idiomas; d) remuneração fixa e variável; e) desenvolvimento da liderança; f) monitoramento

do clima (People Satisfaction Survey).

Esta organização do sistema seguiu uma tendência apresentada por alguns autores

utilizados no referencial teórico deste estudo que demonstraram a relação, via de regra, dos

modelos de gestão de competências com subsistemas de recursos humanos tais como

recrutamento e seleção, treinamento e desenvolvimento, remuneração entre outros.

Ao contrário dos pressupostos sinalizados por autores especialistas no tema, tais como

Fleury e Fleury (2001), Dutra (2008), e Barbosa (2005), a decisão de implantar o modelo de

gestão de competências na empresa pesquisada não se deu em função da estratégia da

empresa local ou para dar apoio à reformulação das práticas de gestão de pessoas, mas, sim,

para cumprir uma determinação da matriz. Todavia, a decisão da matriz em implantar o

modelo de gestão de competências se deu com objetivo de sustentar o crescimento do negócio

no mundo.

A partir da análise de documentos, da aplicação do questionário e da realização das

entrevistas semiestruturadas, foi possível compreender o modelo de gestão de competências

da empresa pesquisada. Para essa descrição, foi utilizado, como pano de fundo, o ciclo de vida

adaptado de Adizes (1991). As categorias de análise foram: a) nascimento; b) crescimento; c)

maturidade; d) evenlhecimento; e) morte.

Na fase nascimento, foi possível identificar os principais acontecimentos que

antecederam a implantação do modelo de gestão de competências. O modelo foi adotado em

1999 para atender uma diretriz da matriz. No primeiro ciclo de avaliação, somente a área de

Recursos Humanos foi envolvida e não houve nenhuma adaptação do modelo à realidade no

Brasil.

Com base na informação do Entrevistado 1, percebeu-se a preocupação que a empresa

pesquisada tinha do risco da adoção do modelo de gestão de competências ser mais uma

iniciativa levada pelo modismo, “mais um modismo que não ia durar [...] depois a gente ia

jogar fora e começar tudo de novo”. Fischer (2001) também chamou a atenção para esse tema,

questionando se as novas formas de gerir as relações organizacionais tratavam-se, de fato, do

desenvolvimento de novos conceitos ou simplesmente de modismo passageiro.

Page 82: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

80

No caso da empresa pesquisada, verificou-se que a adoção do modelo de gestão de

competências, felizmente, não entrou para a lista de modismos que vêm e vão, sem nem

menos deixar algum resultado para a organização e para as pessoas.

Na fase crescimento, foi possível identificar uma evolução a partir do segundo ciclo de

avaliação de competências. Houve o envolvimento de gestores e especialistas de cada área em

todo o processo. O público-alvo do modelo foi o nível estratégico da empresa denominado

Professionals.

Ainda nessa fase, foi estabelecido o Comitê de Avaliação para identificar os gaps de

competências individuais (conhecimentos disciplinares e capacidades e qualidades) e

organizacionais (conhecimentos de base). Após identificados os gaps de competências,

definiam-se as prioridades a serem trabalhadas no ano.

As competências prioritárias eram definidas anualmente. Era feito um diagnóstico com

base na necessidade do negócio. O ponto de partida era a seguinte pergunta: Para onde você

quer levar a organização? Um exemplo relatado pelo Entrevistado 2 foi a escolha da

competência criatividade, “[...] as competências industriais nossas são muito elevadas e a

gente precisa de fazer com que essa empresa pense mais no futuro, então eu vou priorizar a

criatividade como competência comportamental”.

Na fase maturidade, foram analisados os resultados advindos da implantação do

modelo, utilizando-se, as informações captadas nas entrevistas semiestruturadas, com o

suporte do guia de perguntas fechadas.

Foi possível identificar uma concordância unânime dos entrevistados sobre os

resultados advindos da implantação do modelo de gestão de competências nos itens: a)

integração de Recursos Humanos com a estratégia; b) o fortalecimento da cultura

organizacional; c) o aumento no nível de motivação; d) aumento aprendizagem

organizacional; e) o aumento do feedback; f) interesse dos empregados no treinamento e

desenvolvimento.

Outro resultado advindo da implantação do modelo foi o envolvimento e o

comprometimento das pessoas com o autodesenvolvimento. Os empregados tornaram-se,

efetivamente, ativos e responsáveis por seu processo de formação e desenvolvimento, bem

como, por sua carreira.

O modelo de gestão de competências foi reconhecido como um instrumento de gestão

de negócios e contou com a participação dos gestores, da alta direção e dos Recursos

Humanos, para garantir seu funcionamento. Uma das evidências do reconhecimento desse

modelo foram os questionamentos dos empregados quando o modelo deixou de existir.

Page 83: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

81

Na fase envelhecimento e morte, não foi possível identificar os elementos de forma

separada. Foi constatado, de uma forma simplista, que a empresa pesquisada se viu obrigada a

parar de utilizar o modelo de gestão de competências quase que da noite para o dia.

Alguns fatores que levaram ao declínio do modelo podem ser atribuídos ao: a)

insucesso na matriz e mudança na alta direção; b) complexidade do modelo; c) necessidade de

especialistas para sua operacionalização; d) falta de condições de manter a coerência na

aplicação do modelo; e) falta de vontade política para manter o modelo de gestão de

competências funcionando.

Após a realização do estudo, foi possível afirmar que o modelo de gestão de

competências da empresa pesquisada foi implantado em sua plenitude, percorrendo todas as

fases do ciclo de vida apresentado neste estudo.

Por meio dessa constatação, foi possível identificar alguns fatores que dificultaram o

processo de implantação do modelo, tais como: a) subjetividade no processo de avaliação; b)

complexidade do modelo e sua operacionalização; c) conscientização do gestor sobre o seu

papel e responsabilidade no processo; d) realização do Comitê de Avaliação (o fato de

envolver um número grande de pessoas de diferentes áreas).

Por outro lado, foi possível identificar alguns fatores que foram facilitadores no

processo de adoção e implantação do modelo, entre eles, estão: a) a adoção do modelo como

uma iniciativa institucional, ou seja, com o envolvimento da alta direção da empresa; b) o

comprometimento dos gestores, colaboradores e alta direção; c) a inserção da autoavaliação

do colaborador; d) o plano de comunicação que contribuiu para a divulgação e o

conhecimento do modelo por parte dos empregados.

Foi consenso entre os entrevistados que, embora o modelo fosse robusto e coerente

com a realidade da organização daquela época (1999 e 2004), sua complexidade o impediria

de ser utilizado nos dias atuais. Além disso, o público-alvo atual do modelo possui um outro

perfil e outras necessidades. Hoje, assim como outras empresas, a empresa pesquisada

enfrenta o desafio de fazer a gestão e retenção dos jovens chamados de geração Y.

A empresa se encontra numa fase de redefinição das competências individuais e

organizacionais, inclusive contando com as contribuições de um dos autores que fizeram parte

do referencial teórico desta pesquisa.

Uma das contribuições deste estudo foi a descrição e compreensão do processo de

adoção, implantação e evolução do modelo de gestão de competências de uma empresa de

grande porte tendo por base a proposta de ciclo de vida de Adizes. Além disso, foi possível

relatar os principais fatores que dificultaram ou contribuíram para implantação de tal modelo.

Page 84: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

82

As limitações do presente estudo referem-se tanto ao método de investigação utilizado,

que optou pelo estudo de caso único considerando a limitação do tempo para a realização do

estudo, bem como as dificuldades de acesso a empresas que tinham passado por um ciclo

completo de implantação do modelo de gestão de competências.

Outra limitação identificada é o fato de contar com a memória das pessoas para

relembrar os detalhes do processo de implantação do modelo de gestão de competências.

Embora não fosse objetivo deste estudo, considera-se uma limitação o não tratamento do

estado atual em que se encontra a organização.

Dessa forma, uma das propostas para futuras pesquisas na área é examinar o novo

ciclo de implantação de um modelo de gestão de competências, buscando avançar no que diz

respeito a um estudo longitudinal sobre como as empresas estão atuando no desenvolvimento

de competências individuais e organizacionais.

Por fim, no que se refere à implantação de um modelo de gestão de competências,

acredita-se que este estudo, por ter tratado de um caso real, pode representar um elemento de

construção de uma referência ao entendimento de fenômenos organizacionais relacionados à

implantação de modelos de gestão de competências.

Page 85: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

83

REFERÊNCIAS

ADIZES, Ichak. Os ciclos de vida das organizações: como e por que as empresas crescem e morrem e o que fazer a respeito. Trad. Carlos Afonso Malferrari. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1993. BARBOSA, A. C. Q. Gestão de competências em organizações: um mosaico das experiências em Minas Gerais. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 25, 2001, Campinas (SP). Anais... CIDADE DE REALIZAÇÃO: ANPAD, 2001. (CD-ROM).

BARBOSA, A. C. Q. Workshop de Competências nas organizações, 1. Belo Horizonte, jun. 2001. (CD-ROM).

BARBOSA, A. C. Q.; FERRAZ, D. M.; LOPES, D. P. T. Competências nas organizações: o discurso e a prática na gestão de pessoas. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 26., 2002, Salvador. Anais... Salvador: ANPAD, 2002. p. 1-13. BARBOSA, A. C. Q. Gestão de competências e o impacto na gestão de pessoas: uma análise em grandes organizações de Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 2002. 144 p. Relatório de Pesquisa. BARBOSA, A. C. Q. (Org.) Competências no Brasil: um olhar sobre os modelos organizacionais de grandes empresas de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo. Belo Horizonte: UFMG, 2005. Relatório de Pesquisa (Projeto Integrado). BARBOSA, A. C. Q.; RODRIGUES, M. A. Um olhar sobre os modelos de gestão de competências adotados por grandes empresas brasileiras. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 29., 2005, Brasília (DF). Anais... Brasília: ANPAD, 2005. BARBOSA, A. C. Q. Utopia como os pés no chão? A gestão de competência pela perspectiva social. Experiências setoriais no Brasil. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 31., 2007, Rio de Janeiro (RJ). Anais... Rio de Janeiro: ANPAD, 2007. BARBOSA, A. C. Q. et al. Abordagem de competências: racionalidade legitimada, formalismo e faz de conta? Um estudo em organizações públicas e privadas. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 33, 2009, São Paulo (SP). Anais… São Paulo: ANPAD, 2009. BARNEY, J. Firm Resources and Sustained Competitive Advantage. Journal of Management, v. 17, p. 99-120, 1991. BONOMA, Thomas V. Case Research in Marketing: opportunities, problems, and a process. Journal of Marketing Research, v. 22, p. 199-208, May 1985. BRANDÃO, H. P.; GUIMARÃES, T. A. Gestão de competências e gestão de desempenho: tecnologias distintas ou instrumentos de um mesmo construto? In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 23., 1999, Foz do Iguaçu (PR). Anais… Foz do Iguaçu: ANPAD, 1999. (CD-ROM).

Page 86: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

84

DUTRA, Joel Souza. Gestão por competências: um modelo avançado para o gerenciamento de pessoas. São Paulo: Gente, 2001. DUTRA, Joel Souza. Competências: conceitos e instrumentos para a gestão de pessoas na empresa moderna. São Paulo: Atlas, 2004. DUTRA, Joel Souza. Gestão de pessoas: modelo, processos, tendências e perspectivas. 6. reimpr. São Paulo: Atlas, 2008. EISENHARDT, Kathleen M. Building theories from case study research. Academy of Management Review, Standford, v. 14, n. 4, 1989. FILENGA, et al. Gestão por competências: análise metodológica e proposição de um instrumento para gestão de pessoas. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 34., 2010, Rio de Janeiro (RJ). Anais… Rio de Janeiro: ANPAD, 2010. (CD-ROM). FISCHER, A. O conceito de modelo de gestão de pessoas: modismo e realidade em gestão de recursos humanos nas empresas. In: DUTRA, J. S. (Org.) Gestão por competências. São Paulo: Gente, 2001. FLEURY, Afonso; FLEURY, Maria Tereza Leme. Estratégias empresariais e formação de competências: um quebra-cabeça caleidoscópio da indústria brasileira. São Paulo: Atlas, 2001. FLEURY, Maria Tereza Leme; OLIVEIRA JR., Moacir de Miranda. Gestão estratégica do conhecimento: integrando aprendizagem, conhecimento e competências. São Paulo: Atlas, 2001. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002. GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 2, p. 57-63, mar./abr. 1995b. GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 3, p. 20-29, maio/junho 1995a. GODOY, A. S. Introdução à pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de Administração de Empresas, v. 35, n. 4, p. 65-71, jul/ago 1995c. GOULART JÚNIOR, Rogério. Custeio de precificação no ciclo de vida das empresas. 2000. Dissertação. Mestrado em Engenharia de Produção: Universidade Federal de Santa Catarina, Santa Catarina. HAMEL, Gary; PRAHALAD, C. K. Competindo pelo futuro: estratégias inovadoras para obter o controle do seu setor e criar os mercados de amanhã. 17. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 1995. HARVEY, David. Condição pós-moderna. 16. ed. São Paulo: Loyola, 2007.

Page 87: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

85

KAUFAMANN, Luiz. Passaporte para o ano 2000: como desenvolver e explorar a capacidade empreendedora para crescer com sucesso até o ano 2000. São Paulo: Makron, 1990. LAURENCE, Bardin. Análise de conteúdo. 3. ed. Lisboa: 70, 2004. LE BOTERF, Guy. Desenvolvendo a competência dos profissionais. 3. ed. rev. ampl. Porto Alegre: Artmed, 2003. 278 p.

MARTINS, Gilberto de Andrade. Metodologias convencionais e não convencionais e a pesquisa em administração. Cadernos de Pesquisa em Administração, São Paulo, 1994. MOONEY, Ann. Core competence, distinctive competence, and competitive advantage: what is the difference? Journal of Education for Business, New Jersey, Nov./Dec. 2007. NONAKA, Ikujiro; TAKEUCHI, Hirotaka. Criação de conhecimento na empresa: como as empresas japonesas geram a dinâmica da inovação. Rio de Janeiro: Campus, 1997. PEREIRA, J. S. F. O modelo de competência: a gestão da força de trabalho segundo o sexo. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 30., 2006, Salvador (BA). Anais… Salvador: ANPAD, 2006. (CD-ROM). PRAHALAD, C. K.. Reexame de competências. HSM Management. 17 novembro-dezembro, 1999. p. 40-46. RUAS, R. et al. Gestão por competências: revisão de trabalhos acadêmicos no Brasil no período 2000 a 2008. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 34., 2010, Rio de Janeiro (RJ). Anais… Rio de Janeiro: ANPAD, 2010. (CD-ROM). SANT’ANNA, Anderson de Souza. Competências individuais requeridas, modernidade organizacional e satisfação no trabalho: uma análise de organizações mineiras sob a ótica de profissionais da área de administração. 2002. Tese (Doutorado em Administração) – CEPEAD, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2002. SANTOS, H. B. et al. Gestão de pessoas por competências: avaliação de um modelo implementado numa organização do setor petroquímico. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 32., 2008, Rio de Janeiro (RJ). Anais… Rio de Janeiro: ANPAD, 2008. (CD-ROM). SARSUR, A. M. Sistema de gestão por competências: a assimetria de percepções entre trabalhadores e organizações. In: ENCONTRO ANUAL DA ANPAD, 33, 2009, São Paulo (SP). Anais… São Paulo: ANPAD, 2009. (CD-ROM). SOY, S. K. The case study as research method. University of Texas. 1997. Disponível em: <http://www.gslis.utexas.edu?~ssoy/useusers/1391d1b.htm>. Acesso em: 8 ago. 2005. TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação: o positivismo, a fenomenologia, o marxismo. São Paulo: Atlas, 1987. 175 p.

Page 88: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

86

ZARIFIAN, Philippe. Objetivo competência: por uma nova lógica. São Paulo: Atlas, 2001. YIN, Robert K. Estudo de Caso: planejamento e métodos. Trad. Daniel Grassi. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

Page 89: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

87

ANEXO A 1. ROTEIRO DE ENTREVISTA Representantes da Área de Recursos Humanos

Bloco I - Dados de identificação do respondente

1. Nome 2. Cargo que ocupava no período de implantação do modelo de gestão de competências 3. Posição Atual na área em que atua

Bloco II - Adoção do modelo de gestão de competências (nascimento)

4. Quando o modelo de gestão de competências foi adotado? 5. O que levou a empresa a adotar esse modelo? 6. De quem foi a iniciativa? 7. Quem participou da construção do modelo? Descrever modo de participação. 8. Como foi o processo de definição das competências individuais? 9. Qual conceito de competências foi adotado?

Bloco III - Implantação e evolução do Modelo (crescimento)

10. Quem participou da implantação? 11. Como foi o envolvimento dos gestores? 12. Qual a abrangência/público do modelo (profissionais e unidades)? 13. Como foi a avaliação do gap de competências? 14. Quais foram os projetos de desenvolvimento do gap de competências? 15. Qual era a relação do modelo com a estratégia da empresa? 16. Como o modelo se operacionalizava dentro dos seguintes subsistemas de RH:

a) Treinamento e Desenvolvimento b) Recrutamento e Seleção c) Remuneração d) Carreira

17. Principais dificuldades 18. Principais facilidades 19. Destaque as principais mudanças advindas da implantação do modelo.

Bloco IV - Resultados Advindos do Modelo

20. Quais foram os principais resultados atingidos com a implantação do modelo de gestão de competências?

21. O modelo foi percebido, pela empresa, como diferencial competitivo? 22. O modelo possibilitou a integração da área de RH e a estratégia de negócio? Como? 23. Os empregados perceberam geração de valor através do modelo?

Bloco V - Transformação do Modelo

24. Em que ponto o modelo estava quando você se desligou da empresa? 25. A que você atribui o status do modelo naquele momento? 26. O que contribuiu para isto? 27. Quais as principais dificuldades encontradas na operacionalização do modelo no

momento da sua saída? 28. Comentários gerais do entrevistado

Page 90: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

88

2. GUIA RESULTADOS ALCANÇADOS Representantes da Área de Recursos Humanos

1. Integração entre o RH e as estratégias de negócio ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 2. Fortalecimento da Cultura Organizacional ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 3. Aumento da Credibilidade da empresa ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 4. Aumento da motivação dos empregados para desenvolvimento de competência e

busca de resultados. ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 5. Aumento da satisfação dos colaboradores ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 6. Queda do absenteísmo ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente

7. Aumento do nível de escolaridade ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 8. Aumento do nível de aprendizagem organizacional ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado

Page 91: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

89

( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente

9. Melhoria na gestão dos processos (execução de novos projetos) ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente

10. Alavancagem de resultados ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 11. Aumento de feedback ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 12. Discussão e acompanhamento do nível de desempenho ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 13. Aumento de interesse do colaborador no treinamento e desenvolvimento ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 14. Aumento da retenção de talentos ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 15. Aumento do trabalho em equipe ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente

Page 92: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

90

16. Aumento do comprometimento das pessoas ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente 17. Desenvolvimento de líderes com capacidade de gestão de pessoas ( ) Não avaliado ( ) Permaneceu inalterado ( ) Sofreu alterações parciais ( ) Modificou radicalmente Fonte: Adaptado do Relatório de Pesquisa (projeto integrado) desenvolvido no Centro de Pós-Graduação e Pesquisas em Administração da Universidade Federal de Minas Gerais (2000 a 2002. Gestão de competências e o impacto na gestão de pessoas: uma análise em grandes organizações de Minas Gerais.

Page 93: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

91

ANEXO B ROTEIRO DE ENTREVISTA Gestor

Bloco I - Dados de identificação do respondente

29. Nome 30. Cargo que ocupava no período de implantação do modelo de gestão de competências 31. Posição Atual na área em que atua

Bloco II - Adoção do modelo de gestão de competências (nascimento)

32. Quando o modelo de gestão de competências foi adotado? 33. O que levou a empresa a adotar esse modelo? 34. De quem foi a iniciativa? 35. Quem participou da construção do modelo? Descrever modo de participação. 36. Como foi o processo de definição das competências individuais? 37. Qual conceito de competências foi adotado?

Bloco III - Implantação e Evolução do Modelo (crescimento)

38. Quem participou da implantação? 39. Como foi o envolvimento dos gestores? 40. Qual a abrangência/público do modelo (profissionais e unidades)? 41. Como foi a avaliação do gap de competências? 42. Quais foram os projetos de desenvolvimento do gap de competências? 43. Qual era a relação do modelo com a estratégia da empresa? 44. Principais dificuldades 45. Principais facilidades 46. Destaque as principais mudanças advindas da implantação do modelo.

Bloco IV - Resultados Advindos do Modelo

47. Quais foram os principais resultados atingidos com a implantação do modelo de gestão de competências?

48. O modelo foi percebido, pela empresa, como diferencial competitivo? 49. O modelo possibilitou melhor gestão de pessoas nas áreas? Como? 50. Os empregados perceberam geração de valor através do modelo?

Bloco V - Transformação do Modelo

51. Na sua opinião, por que o modelo não se aplica mais? 52. O que contribuiu para isto? 53. Comentários gerais do entrevistado.

Page 94: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

92

ANEXO C

FICHA DE AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS – CONHECIMENTO

DISCIPLILNARES

Cognome: Nome:

Matricola (max 7 caratteri): Ente: Servizio: Qual.(I/D):

Data (gg/mm/aaaa): Responsabile: Comitato:

CONOSCENZE

LIVELLI DI CONOSCENZA

TIPOLOGIE DI BASE /FUNZIONALI / DISCIPLINARI

Assenza(0)

Consape-volezza

(1)

Compren-sione

(3)

Applica-zione

(5)

Specializ-zazione

(7)Dominio

(9)

SISTEMA IMPRESA

INFRASTRUTTURA D'IMPRESA

RISORSA UMANA

ECONOMICS

PROCESSI FONDAMENTALI

PRODOTTO

R&D

PRODUZIONE

MKT E COMMERCIALE

ACQUISTI

INFORMATION TECHNOLOGY

Consulenza/Mkt ICT

Analisi bisogni/relazioni con cliente

Analisi processi

Architettura ICT

Strategia e pianif icazione ICT

Asset applicativo

Tecnologie ICT

Metodologie

Relazioni con fornitori/partners/outsourcers

Sicurezza ICT

Project management

Value/cost management

LOGISTICA

punteggio totale conoscenze (somma totali colonne):

Page 95: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

93

ANEXO D

FICHA DE AVALIAÇÃO DE COMPETÊNCIAS – CAPACIDADES E QUALIDADES

Valutazione individuale delle capacità / qualità#NOME?

FREQUENZA DI OSSERVAZIONE

CAPACITA' / QUALITA' Mai(0)

Raramente(1)

Frequente-mente

(3)

Moltofrequent.

(5)Sempre

(7)

1. RICERCARE L'ECCELLENZA NELLA PRESTAZIONE

2. OPERARE AL SERVIZIO DEL TEAM DI LAVORO

3. GESTIRE IL TEMPO COME FATTORE COMPETITIVO

4. SEMPLIFICARE LE SOLUZIONI / DECISIONI

5. MIGLIORARE / APPRENDERE CONTINUAMENTE

6. ESSERE UN RIFERIMENTO PROFESSIONALE

7. RICERCARE L'INNOVAZIONE

8. ASSUMERSI IL RISCHIO DELLE DECISIONI / SCELTE

9. COMUNICARE CON EFFICACIA

10. ASSIMILARE ESPERIENZE CULTURALI DIVERSE

totali:

punteggio totale capacità/qualità (somma totali colonne):

Page 96: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

94

ANEXO E MODELOS DE COMUNICAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DE COMPE TÊNCIAS

Page 97: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

95

MODELOS DE COMUNICAÇÃO DO MODELO DE GESTÃO DE COMPE TÊNCIAS

Page 98: O CICLO DE VIDA DO MODELO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS: … · de gestão de competências, descrevendo-se cada fase da implantação desse modelo, desde a decisão de implantá-lo

96

ANEXO F

LISTA DE DOCUMENTOS E MATERIAIS ANALISADOS

Documento 1 – Apresentação – Gestão de Competências

Documento 2 – Material de Comunicação Líderes

Documento 3 – Dicionário de Competências Transversais

Documento 4 – Material Apresentação Modelo Gestão de Competências