O Centro - n.º 42 – 16.01.2008

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DIRECTOR JORGE CASTILHO | Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia | Autorizado a circular em invólucro de plástico fechado (DE53742006MPC) ANO II N.º 42 (II série) De 16 a 29 de Janeiro de 2008 1 euro (iva incluído) Telef.: 239 854 150 Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA NOVA CARTA COM EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓ PARA MARCAÇÕES: 969 453 735 A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SE PARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO O local ideal para almoços e jantares de confraternização (condições especiais para grupos) Faça uma assinatura do “Centro” e receba valiosa obra de arte APENAS 20 • POR ANO - LEIA NA PÁG. 3 Esta é a reprodução da obra de Zé Penicheiro que será sua gratuitamente HOJE A 2.ª VOLTA QREN PÁG. 4 PÁG. 4 António Paiva assustado com regras impostas Médicos escolhem Bastonário em clima de grande polémica Sócrates enfrenta primeira moção de censura José Sócrates vai enfrentar hoje, na Assembleia da República, a primeira moção de censura, apresentada pelo Bloco de Esquerda PÁG. 2 ALERTA LUÍS FILIPE MENEZES: PSD pode estar 18 anos na Oposição PÁG. 3

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Versão integral da edição n.º 42 do quinzenário “O Centro”, que se publica em Coimbra. Director: Jorge Castilho. 16.01.2008. Site do Instituto Superior Miguel Torga: www.ismt.pt Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.slideshare.net/dmpa, www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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DIRECTOR JORGE CASTILHO

| Taxa Paga | Devesas – 4400 V. N. Gaia |Autorizado a circular em invólucrode plástico fechado (DE53742006MPC)

ANO II N.º 42 (II série) De 16 a 29 de Janeiro de 2008 � 1 euro (iva incluído)

Telef.: 239 854 150Rua da Sofia, 95 - 3.º - 3000-390 COIMBRA

NOVA CARTA COM EMENTAS ROMANAS E DAS TERRAS DE SICÓPARA MARCAÇÕES: 969 453 735

A NATUREZA, A HISTÓRIA E A GASTRONOMIA ALIAM-SE PARA UMA EXPERIÊNCIA MEMORÁVEL EM CENÁRIO ÚNICO

O local ideal para almoços e jantares de confraternização(condições especiais para grupos)

Façaumaassinaturado “Centro”e recebavaliosaobra de arteAPENAS 20 • POR ANO- LEIA NA PÁG. 3

Esta é a reprodução da obra de ZéPenicheiro que será sua gratuitamente

HOJE A 2.ª VOLTA QREN

PÁG. 4PÁG. 4

AntónioPaivaassustadocomregrasimpostas

MédicosescolhemBastonárioem climade grandepolémica

Sócrates enfrentaprimeira moçãode censura

José Sócrates vai enfrentar hoje, na Assembleia da República,a primeira moção de censura, apresentada pelo Bloco de Esquerda

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ALERTA LUÍS FILIPE MENEZES:

PSDpodeestar18anosna Oposição PÁG. 3

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2 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008

Director: Jorge Castilho(Carteira Profissional n.º 99)

Propriedade: AudimprensaNif: 501 863 109

Sócios: Jorge Castilho e Irene Castilho

Inscrito na DGCS sob o n.º 120 930

Composição e montagem: AudimprensaRua da Sofia, 95, 3.º - 3000-390 CoimbraTelefone: 239 854 150 - Fax: 239 854 154e-mail: [email protected]

Impressão: CORAZE - Oliveira de Azeméis

Depósito legal n.º 250930/06

Tiragem: 10.000 exemplares

NACIONAL

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O Primeiro-Ministro, José Sócrates, en-frenta hoje (quarta-feira) a sua primeiramoção de censura, uma figura parlamentarque, em 33 anos de democracia, foi apre-sentada 14 vezes e só derrubou um Gover-no, em 1987, chefiado por Cavaco Silva.Estaé a terceira vez que o Bloco de Esquerda(BE) apresenta uma moção de censura –a primeira foi em Maio de 2001 e a segun-da em Março de 2003.

EM 33 ANOS14 MOÇÕES DE CENSURAMAS SÓ UMA DERRUBOUGOVERNO (EM 1987)

Desde 1974, já foram apresentadasna Assembleia da República 14 moçõesde censura - uma iniciativa parlamentarque, se for aprovada, implica a queda doGoverno.

De acordo com a alínea f) do n.º 1 doartigo 195.º da Constituição Portuguesa,implica “a demissão do Governo a apro-vação de uma moção de censura por

HOJE, POR INICIATIVA DO BE

José Sócrates enfrentamoção de censura

maioria absoluta dos deputados em efec-tividade de funções”.

Em 33 anos de democracia, apenasuma vez um Governo caiu devido a umamoção de censura.

Aconteceu a 3 de Abril de 1987, o pri-meiro-ministro era Cavaco Silva, que che-fiava um governo de minoria, e a moçãofoi apresentada pelo PRD, mais tarde li-derado pelo ex-Presidente da República

Ramalho Eanes.Nas eleições antecipadas, convocadas

pelo então Presidente Mário Soares, Ca-vaco Silva conseguiu para o PSD a pri-meira de duas maiorias absolutas, gover-nando até 1995.

Um outro executivo, este liderado porCarlos da Mota Pinto, caiu, a 11 de Junhode 1979, mas devido à ameaça da apre-sentação de duas moções de censura -do PS e do PCP. Com a aprovação dasmoções garantida, Mota Pinto demitiu-sena véspera.

Um ano mais tarde, em Junho de 1980, oPCP apresentou uma moção de censura aoVI Governo, de Francisco Sá Carneiro, masnão foi discutida por questões de agenda ede férias parlamentares.

Em Fevereiro de 1982, era primeiro-mi-nistro Pinto Balsemão, o PS apresentou umamoção de censura ao governo, que foi dis-cutida e rejeitada pela maioria da AliançaDemocrática (AD).

Em Março do mesmo ano, o PCP teveuma iniciativa idêntica contra o mesmo Go-verno de Pinto Balsemão, mas acabou porretirá-la, face à recusa do primeiro-ministroem comparecer no Parlamento.

Seguiu-se a moção de censura do PRDque em 1987 levou à queda do Governominoritário de Cavaco Silva.

Em Outubro de 1989, Cavaco Silva

enfrentou uma iniciativa idêntica apre-sentada pelo PS, mas que foi rejeitadapela maioria parlamentar do PSD.

Cavaco Silva voltou a ter de lidar comuma moção de censura em Janeiro de1995, apresentada pelo PCP, que aca-bou por retirá-la face à intenção do par-tido da maioria, o PSD, de usar o “chum-bo” da iniciativa comunista como a con-sagração do Governo.

Passaram cinco anos até, em 05 deJulho de 2000, a Assembleia da Re-pública debater outra moção de cen-sura, era António Guterres primeiro-ministro e o PS governava com maio-ria relativa.

Três meses depois, a 20 de Setem-bro de 2000, o PSD, então liderado porDurão Barroso, apresenta outra moçãode censura que tem o mesmo destinoda anterior - o “chumbo”.

O ano de 2001 regista ainda outramoção, em Maio, e desta vez é a es-treia do Bloco de Esquerda na censu-ra ao executivo, ainda liderado porGuterres.

Os deputados só voltaram a debatermoções de censura em 26 de Março de2003, quando a Assembleia da Repúbli-ca chumbou quatro moções, da autoriado PS, PCP, Bloco de Esquerda e doPartido Ecologista “Os Verdes”.

Questões de segurança dominam Cimeira Ibérica em BragaAs questões de segurança vão dominar

uma parte substancial das atenções naXXIII Cimeira Ibérica, a decorrer sexta-feira e sábado, em Braga, que ficará mar-cada pela primeira reunião do ConselhoSuperior Luso-Espanhol de Defesa e Se-gurança.

Este conselho, acordado pelos governosde Lisboa e Madrid na cimeira de Badajozem 2006, e semelhante ao que Espanha játem com a França e a Alemanha, permiti-rá consolidar a importância das questõesde segurança nas relações bilaterais.

O chefe da diplomacia portuguesa,Luís Amado, já admitiu que este é umsector que “exige cada vez mais coope-ração”, pelo que o combate ao terroris-mo será, seguramente, um dos temas emanálise neste encontro entre os gover-

nos ibéricos.Os primeiros-ministros de Portugal, José

Sócrates, e de Espanha, José Luís Zapate-ro, cada um acompanhado por vários mem-bros dos seus governos, vão reunir no his-tórico Mosteiro de Tibães para analisar tam-bém outras questões de interesse para aspopulações ibéricas.

A criação do operador do Mercado Ibé-rico de Energia (MIBEL) e a aprovaçãodo modelo de organização e dos princípiosde funcionamento do Mercado Ibérico doGás (MIBGAS) são duas questões queconstam da agenda de trabalhos, onde tam-bém tem lugar o novo quadro de coopera-ção transfronteiriça.

Por essa razão, além de vários minis-tros, as delegações dos dois países deve-rão também incluir responsáveis locais das

regiões fronteiriças de Portugal e Espanha.Os projectos rodoviários e ferroviários,

com especial incidência na ligação de altavelocidade entre Lisboa e Madrid, ques-tões relacionadas com a energia, o ambi-ente, o aproveitamento de recursos hídri-cos, a saúde, a educação ou a segurançasocial serão também discutidas nesta reu-nião ibérica.

A nível internacional, os dois países de-verão dedicar uma especial atenção àAmérica Latina, ao Magreb, ao Norte deÁfrica e ao Mediterrâneo, zonas prioritári-as para os governos de Lisboa e Madrid,que já assumiram a intenção de partilharrecursos humanos, diplomáticos e de em-baixadas.

Nesta cimeira ibérica, Sócrates e Za-patero vão dar ainda um sinal da importân-

cia que atribuem à investigação e à inova-ção, participando ambos no lançamento, emBraga, da primeira pedra do futuro Labo-ratório Internacional de Nanotecnologia.

Este laboratório, um projecto ibérico de30 milhões de euros, financiado pelos doisgovernos, ficará instalado nos antigos ter-renos ocupados pelo parque de diversõesBracalândia, estando a sua inauguraçãoprevista para 2009.

A Cimeira Ibérica decorre numa alturaem que as relações entre os dois países atra-vessam uma fase muito positiva, caracteri-zadas por Luís Amado como sendo “muitoíntimas e de grande confiança política”.

O encontro deverá, por isso, consolidaressas relações com o anúncio ou o lança-mento de vários projectos conjuntos emdiversas áreas.

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3DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 NACIONAL

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Neste trabalho, Zé Penicheiro,com o seu traço peculiar e a incon-fundível utilização de uma invulgarpaleta de cores, criou uma obra quealia grande qualidade artística a umprofundo simbolismo.

De facto, o artista, para represen-tar a Região Centro, concebeu umaflor, composta pelos seis distritos queintegram esta zona do País: Aveiro,Castelo Branco, Coimbra, Guarda,Leiria e Viseu.

Cada um destes distritos é repre-sentado por um elemento (remeten-do para respectivo património his-tórico, arquitectónico ou natural).

A flor, assim composta desta for-

ma tão original, está a desabrochar,simbolizando o crescente desenvolvi-mento desta Região Centro de Portu-gal, tão rica de potencialidades, de His-tória, de Cultura, de património arqui-tectónico, de deslumbrantes paisagens(desde as praias magníficas até às ser-ras verdejantes) e, ainda, de gente hos-pitaleira e trabalhadora.

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O presidente do PSD avisou ontem(terça-feira) que o partido pode somar18 anos praticamente seguidos na opo-sição se perder as legislativas de 2009e sublinhou que os sociais-democratastêm de saber o que querem e comquem.

No discurso com que encerrou asjornadas parlamentares de Vilamoura,no Algarve, Luís Filipe Menezes con-siderou que o PSD “nunca se prepa-rou para ser um partido com vocaçãode poder mas que está na oposição”.

“Já está na oposição há muito tem-po”, acrescentou.

A seguir, o presidente do partido aler-tou para a possibilidade de haver “18anos contínuos de governação socia-lista, com um pequeno hiato de doisanos e pouco”, dos dois executivos

ALERTOU ONTEM LUÍS FILIPE MENEZES

PSD pode somar18 anos na oposição

PSD/CDS-PP entre 2002 e 2005.A ano e meio das eleições legislati-

vas de 2009 “o PSD tem que saber oque quer, para onde quer ir e comquem”, acentuou Menezes.

O presidente do PSD explicava assuas declarações de domingo, em quese desafiou quem se opõe à sua direc-ção a assumir um projecto alternativo,manifestando-se disponível para novaseleições directas.

“O que disse não é sinal de nervo-sismo, estou totalmente tranquilo. Euquero é clareza. Se neste momento al-guns pensam que podem fazer melhordo que nós, do que o presidente do gru-po, do que eu próprio, a sua obrigaçãoé dizer de que forma, como e quando oquerem fazer”, afirmou.

Luís Filipe Menezes reiterou estar

“completamente disponível” para essadisputa, por “amor ao partido e ao país”.

Sobre o “contraditório interno”, con-siderou que fortalece o PSD e que “ne-nhum líder falha, nenhuma política fa-lha por haver um contraditório inter-no”, mas sim quando “não sabe lidarcom esse contraditório interno” e de-clarou que não quer ficar com essa res-ponsabilidade.

No entanto, de acordo com Mene-zes, “há dois tipos de contraditório in-terno que não são aceitáveis: o víciopequena quezília, do pequeno comen-tário, da pequena conspiração e o con-traditório interno de alguma parte danossa classe política que prefere con-viver com as mordomias das trocas defavor do bloco central do que com aafirmação da autonomia do PSD”.

Luís Filipe Menezes preocupado

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4 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008NACIONAL

Cerca de 38 mil médicos são chama-dos hoje (quarta-feira) a eleger o repre-sentante da sua ordem profissional, nasegunda volta de uma eleição marcadapor acusações entre candidatos e por umaprovidência cautelar ainda sem decisão.

Depois de uma campanha na primei-ra volta marcada pelo debate em tornodas alterações ao Código Deontológicopor causa da nova Lei do Aborto, os doiscandidatos a 14º bastonário da Ordemdos Médicos têm trocado vários tipos deacusações.

Miguel Leão foi o candidato mais vo-tado na primeira volta, obtendo mais 3por cento dos votos do que Pedro Nu-nes, o bastonário que se recandidatou aocargo.

O terceiro candidato, eliminado nessaprimeira volta, era Carlos Silva Santos,que obteve 13,95 por cento das votações.

O resultado da primeira volta, em queparticiparam 11 mil dos 38 mil médicos,levou Pedro Nunes a anunciar, dois diasdepois, que suspenderia o seu mandatoaté à realização da segunda volta, porconsiderar que não tem a confiança dosseus colegas para os representar, tendodecidido delegar as funções de bastoná-rio em José Manuel Silva (Presidente da

SEGUNDA VOLTA, COM POLÉMICA E CONTAGEM DE VOTOS EM COIMBRA

Cerca de 38 mil médicosescolhem hoje novo Bastonário

Secção Regional do Centro).Em reacção, o candidato Miguel Leão

considerou a suspensão do mandato “iné-dita” e de “duvidosa legalidade formal”,uma vez que não é uma situação previs-ta nos estatutos da Ordem.

Acusou ainda Pedro Nunes de ter umaatitude “profundamente lamentável”.

Já depois deste episódio da suspen-são do mandato, o Conselho EleitoralNacional da Ordem dos Médicos intro-duziu novas regras para o processo elei-toral na segunda volta, o que provocoumais trocas de acusações entre as can-didaturas.

Segundo as novas regras, os votos porcorrespondência passam a ser todos en-dossados à Secção Regional do Centro,em Coimbra, num apartado criado para oefeito, para “evitar suspeições”, uma vezque os dois candidatos têm a sua princi-pal base votante em Lisboa e no Porto.

Antes, estes votos por correspondên-cia eram enviados para três apartados:Norte, Centro e Sul.

Estas novas regras surgiram depois dea candidatura de Pedro Nunes ter afir-mado que houve irregularidades na pri-meira volta na secção do Porto, aponta-do casos de “diversas reclamações” que

estão a ser analisadas juridicamente.No entanto, a candidatura de Miguel

Leão encarou a concentração de votosem Coimbra como “uma decisão insultu-osa”, que levanta “uma suspeição gravís-sima sobre os médicos”, tendo interpostouma providência cautelar em tribunal.

Esta providência cautelar visa repor nes-ta segunda volta das eleições as mesmasregras que existiam na primeira volta emrelação à votação por correspondência.

Em declarações hoje ao início da tar-de à agência Lusa, Miguel Leão dissenão haver até ao momento qualquer de-cisão relativamente a essa providênciacautelar.

Em conferência de imprensa realizadaem Coimbra, Pedro Nunes acusou o seuconcorrente de “mentir descaradamente”sobre a sua actuação enquanto presiden-te da Comissão Nacional Eleitoral.

“Para além de mentir descaradamen-te sobre a minha pretensa utilização in-devida do cargo de presidente da Comis-são Eleitoral Nacional, lançou dúvidassobre a legalidade e lisura do processoem curso”, declarou na qualidade de res-ponsável máximo pela supervisão do actoeleitoral.

Acusou ainda Miguel Leão de lançar

“o descrédito sobre a Ordem”, apesarde considerar que a providência caute-lar interposta será negada.

“O Conselho Regional do Norte, numaacção eticamente inqualificável, enviou mi-lhares de cartas para todo o país, veiculouinsultos nos envelopes e, não contente, de-lapidou dezenas de milhares de euros dopatrimónio da Ordem fazendo publicar emjornais diários e semanários anúncios degrande formato”, argumentou.

Na semana passada, o investigadorMiguel Sobrinho Simões, mandatário na-cional de Miguel Leão, lamentou a situa-ção interna vivida na Ordem, conside-rando que está a contribuir para aumen-tar a desconfiança dos cidadãos na clas-se médica.

“Não faz sentido que a Ordem dosMédicos se permita ter denúncias e insi-nuações de baixa política. Há assuntosmais importantes a tratar”, afirmou.

“É difícil arranjar um motivo maiorpara que a população desconfie dos mé-dicos do que estarmos a discutir insinua-ções de irregularidades [no processo elei-toral]”, continuou, acrescentando quePedro Nunes “prestou um péssimo ser-viço à medicina portuguesa ao envere-dar por esse caminho”.

O presidente da câmara de Tomarcriticou ontem (terça-feira) que ascandidaturas ao Quadro de Referên-cia Estratégico Nacional (QREN) es-tejam a ser submetidas a regras “di-tadas de cima para baixo” e “iguaispara todos, sem discussão com quemestá no terreno”.

“Confesso que começo a ficar as-sustado”, disse à agência Lusa Antó-nio Paiva, o autarca recentementeeleito representante executivo dosmunicípios da região Centro para oórgão de gestão do Programa Opera-cional do Centro (POC).

António Paiva criticou o facto deestarem a ser abertos “concursos so-bre concursos” que obrigam as autar-quias a candidaturas “pesadíssimaspara verbas que não vão chegar para10 por cento” das acções previstas.

Para o autarca, é “obrigatório re-pensar” a forma como se estão a abriros concursos e a ditar as regras.

Em particular, criticou o aviso aber-to para as candidaturas à regenera-ção urbana, com valores “incríveis”,disse, dando o exemplo da região Cen-

António Paiva assustadocom as regras impostas para o QREN

tro, em que foram disponibilizados 25milhões de euros para 27 cidades con-sideradas aptas a candidatarem-se aessas verbas.

“São valores absolutamente irrisó-rios, que têm que ser repensados”, dis-se, advertindo para o risco de os pla-nos de acção que têm que ser elabo-rados nunca serem levados à práticaporque o dinheiro disponível não per-mite uma intervenção global mas ape-nas a realização de “um ou dois pro-jectos”.

Já na sessão de apresentação doPrograma Operacional do Alentejo(POA) para os municípios da Lezíria,feita segunda-feira no Governo Civilde Santarém, as verbas disponibiliza-das para a regeneração urbana - 12milhões de euros para 11 cidades ele-gíveis - foram consideradas pelos au-tarcas “ridículas” e “manifestamenteinsuficientes”.

António Paiva criticou ainda que oque pretende ser o sucedâneo dos pro-gramas Polis limite as candidaturas aum valor máximo de 10 milhões de eu-ros, verba que foi gasta pelos “Polis

mais pequenos” realizados nos últimosanos em Portugal.

“Os valores que estão em euros de-viam ser em contos”, afirmou.

Lembrando que as candidaturas àregeneração urbana obrigam a ter umplano de acção, António Paiva disserecear que em vez de planos de ac-ção coerentes, as autarquias passema ter planos de acção “truncados”, ou,nem isso, afectem verbas a “um oudois projectos”.

Para o autarca, não faz sentido quesejam emanadas de Lisboa regraspara todos os programas operacionais,defendendo que as intervenções se-jam discutidas “com quem já tem ex-periência no terreno” para evitar o queaconteceu no passado, em que se fi-zeram “muitos projectos dispersos,hoje sem utilização”.

António Paiva defende que os re-presentantes executivos dos municí-pios nos programas operacionais doAlentejo, Centro e Norte têm que en-contrar uma forma de se encontraremregularmente, por exemplo em reu-niões mensais rotativas, abertas aos

representantes não executivos, para seaperceberem mutuamente das dificul-dades e se coordenarem.

O autarca, que completou ontem 10anos à frente da Câmara Municipal deTomar, para a qual foi eleito como in-dependente pelo PSD, aguarda a pu-blicação da sua nomeação para o POCem Diário da República para tomarposse.

António Paiva disse à Lusa que estáa ponderar e a auscultar os autarcasque o elegeram sobre o convite feitopelo governador civil de Santarém,Paulo Fonseca, para trabalhar numgabinete no Governo Civil, a exemplodo que está já a fazer o representantedos autarcas no órgão de gestão doPOA, Silvino Sequeira.

Paiva disse, contudo, que preferiaque fosse encontrado um mecanismoque permitisse aos representantes dosautarcas dos três programas operaci-onais com órgãos executivos coorde-narem o seu trabalho.

Recorde-se que António Paiva subs-tituiu Alberto Santos, que se demitiu pou-cos dias depois de escolhido.

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5DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 JUSTIÇA

O novo bastonário da Ordem dos Advo-gados, António Marinho e Pinto, criticou, noacto de posse, diversas medidas do Gover-no para a Justiça, relacionadas com o novoregime do apoio judiciário, desjudicialização,acção executiva (cobrança de dívidas) ereorganização do mapa judiciário.

No discurso de posse, Marinho Pinto fri-sou que a Ordem dos Advogados (OA) nãoterá “complexos em apoiar activamente asboas decisões que contribuam” para a mo-dernização da Justiça e a sua “colocaçãoefectiva ao serviço do Estado de DireitoDemocrático e dos cidadãos”, mas tambémnão se inibirá de “criticar e combater comveemência as medidas contrárias aos finsda boa administração da Justiça”.

Segundo Marinho Pinto, o novo regimedo apoio judiciário, aprovado pelo Governo,“não dignifica o patrocínio dos cidadãos quenão têm recursos para contratar um advo-gado” e “não dignifica também o próprioGoverno que o aprovou”.

“Os valores monetários estabelecidoscomo remuneração do patrocínio oficiosoconstituem uma ofensa à dignidade dos ad-vogados e à dimensão constitucional do pa-trocínio forense”, disse o novo bastonário.

Nas suas palavras, é “chocante tambémque o Governo misture deliberadamente asremunerações do trabalho com o reembol-so de despesas efectuadas em nome e nointeresse do patrocinado, estabelecendo queestas despesas, independentemente do seumontante e da sua necessidade, estejamsempre contidas nas somíticas remunera-ções legalmente estabelecidas”.

“É imperioso que o Governo e a Assem-bleia da República tomem medidas concre-tas com vista à dignificação do patrocínioforense, enquanto elemento essencial à boaadministração da Justiça”, enfatizou.

As medidas de desjudicialização de-fendidas pelo Governo foram também cri-ticadas pelo novo bastonário, para quem“não se dignifica a Justiça retirando-ados tribunais”.

“A Justiça, a boa Justiça, administra-senos tribunais por magistrados e advogadose não em repartições públicas por funcioná-rios sem independência ou em centros pri-vados de mediação de conflitos. O proces-so de desjudicialização em curso mutila oEstado de Direito numa das suas dimen-sões essenciais e constitui um perigoso re-trocesso civilizacional”, vincou.

Para Marinho Pinto, “não se pode cha-mar Justiça às composições de conflitosobtidas em centros de mediação ou emrepartições, cujas soluções finais são emregra leoninamente favoráveis às parteseconómica e culturalmente mais fortes,justamente porque as partes mais fracas,por o serem, não estão representadas poradvogados”.

NOVO BASTONÁRIO DA ORDEM DOS ADVOGADOS

Marinho e Pinto critica novo regime do apoioe reorganização do mapa judiciário

“Poupar na Justiça unicamente por moti-vos economicistas traz graves prejuízos aoEstado do Direito, mas quando as poupan-ças são feitas à custa dos advogados entãoa Justiça sairá muita cara aos direitos fun-damentais dos cidadãos. E é isso que, infe-lizmente, tem estado a fazer o Governo”,criticou.

Em seu entender, é altura de “o Governoe o Parlamento repensarem essa matéria,sem preconceitos, e corrigirem os erros jácometidos e, sobretudo, encontrarem, emconjunto com a Ordem dos Advogados, so-luções construtivas para estas questões”.

Segundo o novo bastonário, é tambémaltura de se corrigir “os erros clamorososresultantes da privatização da acção exe-cutiva (cobrança de dívidas e penhoras) afim de se acabar de vez com os enormesprejuízos para a economia nacional e paraos direitos dos credores em geral que resul-tou dessa privatização”.

“O Estado não pode entregar a privadosa execução das decisões dos tribunais”,advertiu.

Nas suas palavras, é também altura dese evitar “as consequências nefastas de umareorganização judiciária artificial e artificio-sa (mapa dos tribunais), por que feita se-gundo um mapa elaborado por quem, segu-ramente, não compreende as finalidadesconstitucionais inerentes ao funcionamentodo nosso sistema judicial”.

“Mais uma vez deve dizer-se que o eco-nomicismo primário subjacente à propostade mapa judiciário ignora os anseios pro-fundos das populações em matéria de Justi-ça”, observou, lembrando que “os tribunaissão postos avançados de soberania e ins-trumentos de pacificação e apaziguamento

e não unidades ou peças que se movem nostabuleiros de burocratas e de tecnocratas”.

Defendendo a “dignificação do patrocí-nio oficioso”, Marinho Pinto anunciou queserão excluídos da sua prestação os advo-gados estagiários.

“Não podemos aceitar que a aprendiza-gem e a formação na OA sejam feitas pre-cisamente à custa dos cidadãos mais des-

favorecidos que não têm recursos para con-tratar um advogado. É que já houve casosde cidadãos condenados em tribunal a pe-nas de prisão efectiva e que foram defen-didos oficiosamente por advogados estagi-ários que depois reprovaram no exame fi-nal e até optaram por seguir outra profis-são”, relatou.

Explicou que a formação dos advoga-dos estagiários deverá processar-se atra-vés “de simulações de diligências e da in-tervenção em diligências processuais me-diante substabelecimento do seu patronotradicional, sempre com a efectiva tutelaprofissional deste”.

Ao tomar posse, Marinho Pinto alertouque, “desde a massificação descontroladada advocacia até à escandalosa desjudicia-lização da Justiça, nunca os advogados e asua Ordem viveram um período tão amea-çador para o futuro da profissão”.

A alegada perda de influência política daadvocacia junto do poder político, apesar donúmero de advogados que estão no Parla-mento e em lugares do Governo, o relacio-namento nem sempre fácil e urbano entremagistrados e advogados, a situação dosadvogados assalariados nas grandes socie-dades de advocacia, a questão das fériasjudiciais/prazos judiciais, a defesa dos direi-tos humanos e a necessidade de a OA seabrir à sociedade e aos cidadãos foram ou-tros temas abordados por Marinho Pinto nasua longa intervenção.

Marinho e Pinto, já empossado, é aplaudido pelo Bastonário cessante, Rogério Alves

José António Barreiros assegurou queo Conselho Superior da Ordem dos Ad-vogados (OA) “tudo fará para que sejalevada a cabo a prevenção das infrac-ções, pela interiorização individual dosvalores éticos que devem ser a bússolada advocacia”.

“Não quer o Conselho Superior (CS)acantonar-se ao odioso de ser um órgãorepressivo, antes tudo fará para que sejalevada a cabo a prevenção das infracções,pela interiorização individual dos valoreséticos que devem ser a bússola da advo-cacia”, disse José António Barreiros, aotomar posse como presidente do CS, namesma cerimónia em que António Mari-nho Pinto foi empossado como novo bas-tonário dos advogados.

Em matéria de valores éticos, o novopresidente do CS constatou também: “As-sistimos, quanto impávidos e conforma-dos, a tempos de rebaixamento dos pa-drões deontológicos, ao desvalor da urba-

DEFENDE JOSÉ ANTÓNIO BARREIROS

Valores éticos devem sera “bússola da advocacia”

nidade, ao ocaso da cortesia, à ambiçãopelo ganho a qualquer preço, pela vaida-de por qualquer forma, pelo mando porqualquer meio, a nortearam algumas car-reiras, que de advocacia têm pouco”.

“Ser advogado passou a ser para al-guns uma forma, um meio, um instrumentopara serem outras coisas”, disse, critican-do igualmente a exploração de advoga-dos assalariados por conta de outrem:“Assistimos à exploração infrene do tra-balho alheio como se de colegas se nãotratassem, quando a dignidade da profis-são o proíbe, como violação ética inad-missível”.

Em sua opinião, cabe ao ConselhoSuperior “reprimir isso” e ajudar a “su-primir isso”.

José António Barreiros lembrou que“a autonomia eleitoral do Conselho Su-perior é uma aquisição do último Con-gresso”, por iniciativa do então congres-sista e novo bastonário Marinho Pinto.

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6 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008OPINIÃO

A eventual opção de José Sócrates pelo referendoao Tratado de Lisboa teria sido considerada pelos seusparceiros europeus – os que mandam na Europa –como uma traição ao acordo. Assim sendo, o nossochefe do governo sr. Engenheiro José Sócrates, líderincontestado de um partido que se designa por socia-lista, mas que há muito – desde o tempo de Guterresdeixou de o ser, ou melhor, de se reclamar ou agircomo tal – resolveu, uma vez mais, trair o seu povo(será que o PS ainda acredita ou reconhece essaentidade – o povo?) e fez o contrário do que tinhaprometido na campanha eleitoral. O acordo será rati-ficado pelo Parlamento Nacional. Vou ser mais cla-ro: o acordo será ratificado por uns funcionários dopartido e seus cúmplices que se encontram sentadosno hemiciclo de S. Bento, vulgo Assembleia da Re-pública. Vão todos obedecer ao chefe, ao patrão, aodono ou lá o que ele é e, caninamente, de rabo a dara dar, dirão que sim a Lisboa, ao Tratado.

Mas o mais escandaloso de tudo isto seria se onosso “Presidente do Conselho” se tivesse decididopelo referendo: tê-lo-ia utilizado como meio de agi-gantar o seu poder junto dos eleitores com uma vota-ção esmagadora a favor do Tratado e com as máqui-nas de propaganda do PS, do PSD e do senhor Pre-sidente da República na jogada.

Não temos saída. A nossa Democracia atingiu ograu zero.

Mário Lousã

O L E I T O R A E S C R E V E R

Portugal TraídoNão sou um grande entusiasta da regionali-

zação.Acho que temos um cantinho demasiado peque-

no para poder ser repartido, com custos muito gran-des para a unidade existente.

Compreeendo-a apenas como uma forma de ir“buscar mais fundos e com uma gestão mais eficazda sua aplicação.

Os exemplos que temos a este nível, quer da ad-ministração central quer da regional ou local, dei-xam-me demasiado desconfiado dessa eficácia.

Também a compreendo como forma de luta con-tra o centralismo do Terreiro do Paço (mesmo estenome já está ultrapassado).

O que é certo é que os mandantes de Lisboa vãotratando da sua vidinha e deixam algumas “miga-lhas” para o Norte.

O Centro, fruto de lutas de pequenos poderes ede caciquismos medievais, continua a ser “terra deninguém”.

Contra aquilo que se costuma dizer, a manuten-ção de serviços estaduais em cidades e vilas docentro,não é só uma questão de prestígio local.

Quer queiramos, quer não o Estado é o grandeempregador deste País.

Quando se fecham escolas, maternidades, hos-pitais, direcções regionais, estão a matar a vida des-sas localidades,para lá dos incómodos proporcio-nados a todos os cidadãos.

O Centro e o aeroportoPor outro lado, quando se encerra um serviço tem

que se ter de imediato um alternativo.Isto não está a acontecer.O Governo encerra serviços dentro daquela lógi-

ca do “VOLTO JÁ”, com a inconveniência que,como os outros, não “desaparece da “circulação”.

Com esta história do Aeroporto aconteceu o mes-mo: aquilo vai ficar ali próximo de Lisboa (dentro dealgum tempo iremos vaer os hoteis a reclamar afalta de pernoitas de quem vai apanhar um avião...)e os “índios” do Norte que se amanhem com o SáCarneiro...

Os “camelos” do Centro é que vão ter que conti-nuar a fazer a caminhada, atravessando a terra deninguém...

O ideal seria sair de casa e arrastar as rodas damalinha, durante 10 minutos, para chegar ao Aero-porto.

Assim, só ganharam os lisboetas “alentejanos” eos nortenhos que queriam um aeroporto o mais aosul possível.

O Centro precisa de líderes que, pelos vistos, ain-da estão para nascer: os que existem só servem paramanter o folclore e divertir o povinho com falsasguerrinhas.

Até lá, caros amigos, vamos ter que continuar a“empurrar” o pedragulho sem grandes perspectivas...

Rui Lucas

No passado dia 10 de Janeiro, fui nova-mente convidado para um programa de te-levisão, para falar da minha experiência so-bre o facto de ter sobrevivido a um acidenteaéreo, o qual aconteceu a 22 de Agosto de1999.

Já lá vão oito anos e ainda estamos àespera que nos façam justiça.

A estação foi a TVI e o programa cha-ma-se “Tardes da Júlia”.

A apresentadora que dá o nome aoprograma estava de férias. A apresenta-ção esteve a cargo de Cristina Ferreira,que é de uma simpatia digna de registo.Estes programas também servem paranos cruzarmos com uma ou outra figurapública. Desta vez, tive o grato prazer

Recordar uma história dramática

José Soares

[email protected]

de conhecer pessoalmente a actriz emodelo Diana Chaves. Fora do ecrã con-tinua a irradiar beleza e simpatia, eviden-ciando uma simplicidade muito grande,sem os tiques de vedetismo que invademmuitos dos “produtos” criados pela tele-

visão.Durante quase duas horas, um grupo de

cinco sobreviventes de acidentes aéreos, ti-veram oportunidade de mostrar aos espec-tadores do programa e ao público presenteem estúdio, a experiência extraordinária por

que passaram.Apesar do tempo que vai passando so-

bre estes acontecimentos, a verdade éque o tema continua a interessar à Co-municação Social e a cativar a atençãode quem lê, ouve ou vê a narrativa des-tes acontecimentos.

O caso do acidente aéreo envolvendoum avião da TAP no velho aeroporto doFunchal, já ocorreu há mais de 30 anos econtinua a impressionar quem ouve essahistória.

Muitas vezes, já me interroguei se devocontinua publicamente a contar a minhahistória de sobrevivência de um acidenteaéreo. Acho que continuo a dizer que sim,por duas razões: a primeira, é porque hásempre alguém que ouve a história pelaprimeira vez e porque muitos de nós nãoconseguem falar dela publicamente; a se-gunda, é que devido ao facto de estar li-gado à Imprensa há décadas, tenho porela uma elevada consideração e sinto porisso a obrigação de colaborar.

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7DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 DESPORTO

“Académica. História do Futebol” éo título da obra que a Editora Almedi-na lança na próxima sexta-feira (dia18), pelas 18h00, na Sala VIP do Está-dio Cidade de Coimbra.

O livro, da autoria de João Santana(professor do ensino secundário) e dojornalista João Mesquita é apresenta-dopor Rui Alarcão, antigo Reitor daUniversidade de Coimbra, sócio ho-norário da AAC, da AAC/ OAF emembro número um do Conselho Aca-démico.

A Almedina refere que “todos osadeptos, sócios e simpatizantes da Bri-osa estão convocados para a festa delançamento de “Académica. Históriade Futebol”, um livro para quem, comoJoão Santana e João Mesquita, sofredo “vício Académica”.

Com 716 páginas e 1560 fotografi-as, esta obra é o resultado de quatroanos de trabalho de ambos os autores,e um verdadeiro “arquivo” para o qualtambém contribuiu, segundoa a edito-

LIVRO SERÁ APRESENTADO SEXTA-FEIRAPOR RUI ALARCÃO

“Académica.História do Futebol”

ra, “a recolha de ambos, ao longo dedécadas, de informação sobre o fute-bol da Académica”.

O livro reúne as fotografias de to-dos os futebolistas que jogaram na Aca-démica, assim como de treinadores edirigentes, desde a época de 1927 atéao campeonato passado. “Académica.História do Futebol” tem ainda fichasindividuais sobre 2359 jogos, textos es-critos por figuras emblemáticas da his-tória da Académica e, ainda, aponta-mentos especiais sobre alguns dos mo-mentos e figuras mais marcantes dahistória da instituição.

E a Almedina conclui, na informa-ção que nos remeteu:

“Para além de um riquíssimo contri-buto para a história da Briosa e do le-gado entusiasta deixado pelos dois apai-xonados do futebol e da cidade, os au-tores pretendem ainda que este livroestimule o debate sobre o que deveráser o futuro da Académica no panora-ma do futebol português”.

Combinar remo-ergómetro (indoor) ecorrida foi a forma que o Ginásio Figueiren-se achou, há já alguns anos, para contornaro mau estado do mar e poder organizar pro-vas na “Cidade da Claridade”nos meses deInverno. Se bem o pensou melhor o fez, eneste momento é já um evento incontorná-vel o Torneio de Escolas da Associação deRemo da Beira Litoral.

Assim, decorreu mais uma edição desteDuatlo referente à 4ª prova do Torneio deEscolas da Associação de Remo da BeiraLitoral, prova organizada pelo Ginásio Clu-be Figueirense no Posto Náutico da Fonte-la, que contou com a presença de 6 equipasda Região Centro: Académica, Ginásio Fi-gueirense, Naval 1º de Maio, Infante deMontemor, Galitos de Aveiro e Infante de

Duatlo em grande no início de 2008

Montemor.A luta entre Naval e Académica pela li-

derança na geral deste torneio prometia.E, de facto, assistiu-se a um conjunto deprovas bastante interessantes, provando-se mais uma vez que para vencer é preci-so ser um atleta completo: nem semprequem saía na liderança do ergómetro ven-cia a prova, pois por vezes as pernas traí-ram na corrida…

A Académica venceu metade das pro-vas realizadas, alcançando assim 4 primei-ros lugares, a Naval ganhou 2 e o Ginásio eInfante de Montemor levaram a melhor nasrestantes duas provas. Em destaque, naequipa de Coimbra, estiveram Maria Vieira,Victor Camões, Inês Dias e Carolina Dias(1º lugar) e Marta Oliveira, Alba Abranches

Mariana Mota, Ângela Canato, Duarte Ca-nhão, Rafael Amaro e Mafalda Freitas, quetambém conseguiram subir ao pódio comvários segundos e terceiros lugares.

Após o Torneio de Escolas foi a vez dasprovas complementares, destinadas a atle-tas federados há mais tempo. Desta feitafoi o Ginásio o clube mais esclarecido, al-cançando 3 primeiros lugares em 6 provas.Académica, Galitos de Aveiro e Clube Ná-utico da Praia de Mira partilharam as res-tantes vitórias, encerrando assim mais umaedição deste Duatlo.

A próxima prova do calendário é a Des-cida da Ria, organizada pelo Clube dos Ga-litos, no próximo doimngo (dia 20 de Janei-ro) na Costa Nova, a partir das 12 horas.

Ópera tradicional chinesa e um enor-me espectáculo de fogo de artifício vãodestacar os 5.000 anos de história daChina e impulsionar a cerimónia de aber-tura dos Jogos Olímpicos de Pequim,segundo anunciou a imprensa estatalchinesa.

Os pormenores da cerimónia inaugu-ral do maior evento desportivo do anopermanecem secretos, mas o directorartístico da cerimónia, Zhang Yimou, orealizador chinês mais célebre no país,deu as primeiras pistas acerca do espec-táculo.

“Um enorme espectáculo de fogo deartifício é imperativo para nós, como par-te do programa que vai celebrar 5.000anos de história chinesa”, afirmou Zhangao jornal Chongging Economic Times.

O programa da festa, dividido em trêspartes, vai durar cerca de três horas emeia, perante 90.000 espectadores noestádio e será transmitido para todo oMundo. A festa culmina com o momen-to em que a chama olímpica é acesa.

Apesar da grande quantidade de gen-te envolvida na preparação do evento,muito poucos pormenores foram divul-gados e o segredo fundamental continuaguardado: como é que a tocha olímpica

NO PRÓXIMO MÊS DE AGOSTO

Jogos Olímpicos de Pequimassinalam 5 mil anosde História da China

vai ser acesa e quem vai ter a honra decumprir esse ritual.

Além da ópera e da pirotecnia, o res-to do espectáculo vai focar aspectos daChina contemporânea e dos Jogos Olím-picos, acrescentou o director artístico.

O primeiro ensaio geral para a festade abertura do evento, para a qual os bi-lhetes já estão esgotados, vai realizar-sea 10 de Julho, no novo Estádio Nacionalconstruído especialmente para os Jogos,acrescentou o jornal.

O governo chinês planeia utilizar osJogos Olímpicos, que se realizam entre8 e 24 de Agosto, como a festa de apre-sentação da China ao Mundo.

Segundo a agência noticiosa oficialchinesa Nova China, Pequim não pre-tende produzir a maior e a melhor ceri-mónia de abertura de sempre, mas querque seja algo espectacular, afirmou Ji-ang Xiaoyu, vice-presidente da Comis-são Organizadora dos Jogos Olímpicosde Pequim 2008 (BOCOG, na sigla eminglês).

“Queremos pompa em torno das ex-traordinárias características chinesas, im-pulsionadas pelos efeitos de alta tecno-logia e por uma interacção com o públi-co”, concluiu Jiang.

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8 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008OPINIÃO

OS PONTOS CRÍTICOS

No mês de Dezembro, a ONU iniciouuma campanha destinada a celebrar o60.º aniversário da Declaração Univer-sal dos Direitos do Homem, celebraçãoque não poderá deixar de enumerar ospontos fracos que desafiam a implanta-ção efectiva do projecto. Não devem seromitidos os avanços conseguidos, nãoobstante as catástrofes que estão emcurso em mais de uma região do mundo.A ideia é conseguir um compromissoactivo e global das instituições e pessoasinquietas com as violações e debilidadesdo texto matricial, com este incitamentoorientador: Know Your Rights. (...)

Adriano MoreiraDiário de Notícias (08/01/08)

VENCERO CONSERVADORISMO

(...) Ao longo destas três décadas e meia,interroguei-me por vezes sobre as razõesque levaram vários amigos meus a nãoquererem investir, em 1973, no projecto doExpresso. A minha conclusão é de que nãoo fizeram por conservadorismo.

Foram conservadores por temerem quea situação vigente se alterasse, mesmo queela não lhes agradasse, por não quereremdesagradar a quem exercia o poder, porrecearem que a sua adesão ao projectodo Expresso pudesse ser interpretadacomo apoio às posições da Ala Liberal naentão Assembleia Nacional. Mas, paraalém disso e mais profundamente, foramconservadores por não acreditarem naviabilidade - e mesmo na necessidade -,em Portugal, em plena segunda fase domarcelismo - mais rigorosa, mais desen-cantada, mais salazarista - de um jorna-lismo totalmente diferente do que existia,de inspiração anglo-saxónica, abordandoassuntos até aí não tocados.

A aceitação do amável convite da Di-recção do Expresso para dirigir esta edi-ção do Expresso obrigou-me, apesar deo ‘cargo’ ser algo simbólico e durar sóuma semana, a olhar para o jornal e parao mundo que o rodeia numa perspectivadiferente: o que é novo, o que é impor-tante, o que merece ser publicado nosábado, 5 de Janeiro de 2008.

O que é grave é que há muito poucode verdadeiramente novo; e, por isso,jornalisticamente, o importante é noticiare denunciar o conservadorismo.

Mal-grado a globalização, a Web, a

clonagem, a liberalização do aborto ou ocasamento dos homossexuais, as coisasnão mexem, no plano político e social,porque os detentores do poder queremconservá-lo, querem manter-se no poder.Dos resultados das primeiras primáriasnos EUA à sucessão de Benazir Bhutto,do impasse no Kosovo à história dos re-féns na Colômbia, do atoleiro do Iraqueà situação na Palestina, da consolidaçãode Putin à permanência do PC chinês,do reforço dos “ayatollahs” iranianos àeternização da família real saudita, ossinais são todos no mesmo registo.

Em Portugal, bastaria referir o recen-te acomodamento do poder económicoà solução política do caso BCP. Mas, emtermos mais genéricos, é bom recordara imutabilidade do aparelho do Estado, acomeçar pela justiça, a influência doGoverno em empresas fundamentais -CGD, PT, EDP, Galp, etc. -, a fúria le-gislativa do Governo contra os meios decomunicação social, o excedido prazo devalidade de muitos dirigentes desportivos,o funcionamento dos mercados das ar-tes plásticas, a actuação da CGTP, etc.,etc. Como também é conveniente assi-nalar que, quando o actual Governo ten-ta sair do marasmo conservador, logo lhecaem em cima os outros poderes, acoli-tados pelos “opinion makers”, esforçan-do-se por que tudo fique na mesma.

Ficar na mesma significa estarmoscada vez mais longe dos países com quemnos podíamos comparar, renunciarmos àluta, à competição, transferirmos cobar-demente as responsabilidades para quemvier a seguir. (...)

Francisco Pinto BalsemãoExpresso (05/01/08)

POUCA SAÚDE

(...) Estamos no século XXI, ministrose ministros foram afirmando com sorri-sos que iam transformar o Serviço Na-cional de Saúde, moralizá-lo. O SNS foi,até ao dia em que escrevo, a melhor emais séria criação do Partido Socialistaem toda a sua democrática existência.Devia ser uma coisa que qualquer soci-alista teria orgulho em apresentar e pre-servar. Melhorar e racionalizar. Morali-zar, e sublinho a palavra moralizar. Osportugueses não se importariam de pa-gar um pouco mais, em vez de seremexplorados pelas seguradoras, se tives-sem acesso a um sistema mais honestoe racional, que não se alimentasse dodesperdício e da mediocridade, da buro-cracia e do laxismo. A grande ameaça,incluindo a ameaça socialista, é a de ex-tinguir o SNS. Ou reservá-lo para ospobres e miseráveis, o que começa aacontecer. Nunca consegui perceberexactamente o que quer o PS fazer coma sua criatura.

Consegui, em todo o caso, como uten-te e como visitante do SNS, perceber queem décadas de dinheiro mal gasto emfaustosos equipamentos culturais e afins,vazios e desertos, hospitais como o Puli-do Valente continuam a ser uma “pio-

lheira”, como diria o rei D. Carlos. Maisdecadente e mais velho do que há trintaanos. Enquanto os privados abrem hos-pitais do século XXII, os públicos man-têm hospitais do século XIX. É precisoum certo heroísmo para se ser um doen-te num lugar destes no Dia de Natal, e opessoal de serviço comporta-se heroica-mente como se não estivessem num asi-lo para desgraçados. Europa? A Europanão chegou ali. Aquilo é Terceiro Mun-do. (...)

Clara Ferreira AlvesExpresso (05/01/08)

CAMPEONATO DE INDECORO

Veja o leitor como Portugal e o mundoandam a par e passo: no Paquistão, a líderda oposição morreu; em Portugal, a opo-sição está viva mas não se nota. Acabapor ser apropriado, uma vez que o Gover-no também não dá sinais de vitalidade.

Quando Luís Filipe Menezes propôsque fosse nomeado um social-democra-ta para presidir à Caixa Geral de Depó-

sitos, o ministro da Presidência disse quea proposta era indecorosa, gesto esseque eu reputo de indecoroso. Pedro Sil-va Pereira, como é evidente, tem inveja.O primeiro-ministro prometeu criar 150mil empregos e ainda não conseguiu; noentanto, Menezes nem faz parte do Go-verno e já está empenhado em criar, pelomenos, um emprego. E dos bons. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

GPS

(...) A aquisição de um GPS foi umdos momentos mais altos da minha vida.Tenho o sentido de orientação de umgrande navegador, no sentido em que, talcomo Cristóvão Colombo, seria capaz de

ir dar à América se quisesse ir até à Ín-dia. E agora há uma maquineta, chama-da GPS, que conferencia com três ouquatro satélites para me dar indicaçõesna estrada. Neste momento, há geringon-ças metálicas extremamente sofisticadasque orbitam no espaço para me aconse-lharem o melhor caminho entre a minhacasa e a mercearia. Andam coisas pelaestratosfera a trabalhar só porque eupreciso de comprar cebolas. O GPS éum pequeno passo para o homem, masum salto de gigante para a humanidadevirar na segunda à esquerda. (...)

Ricardo Araújo PereiraVisão

A TRANSFERÊNCIADOS “GATOS”

(...) Não tivesse nada de especialacontecido e a grande notícia da sema-na talvez tivesse sido o facto de os “Ga-tos Fedorentos” já não irem fazer as pre-vistas férias “sabáticas”, optando antes

por se deslocarem de armas e bagagenspara um canal privado concorrente datelevisão pública. Numa fase em quenesta apenas se verificou uma mudançade administração em contexto de conti-nuidade do projecto, essa saída não dei-xa de ser algo surpreendente e, adicio-nada de várias outras transferências (al-gumas estratégicas), de ser parte de umesvaziamento que terá mais que se lhediga... (...)

Elisa FerreiraJornal de Notícias (11/01/08)

OS BANDIDOSE OS CÚMPLICES

O ministro do Interior da Venezuelade Chávez recebeu as duas reféns, es-

O grupo “Gato Fedorento” transformou-se num dos mais espantosos fenómenosde popularidade do ano que findou, de tal modo que a sua repentina transferênciada RTP para a SIC, logo no início de 2008, tem vindo a ser objecto de comentáriospor alguns analistas dos órgãos de comunicação social que normalmente sófalam de política e de políticos. Este “bando dos 4” veio demonstrar que é possívelfazer humor com qualidade, inteligência e sem recorrer à asneira,que é compreendido e bem (ou mal...) aceite pela generalidade do público- que, ao contrário do que julgam alguns programadores, não é estúpido...

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9DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 OPINIÃO

tendeu a mão ao chefe da patrulha co-lombiana que lhas entregava e disse-lhe:“Estamos muito orgulhosos da vossa luta.Mantenham esse esforço e essa fé. Con-tem connosco.” A história da diplomacia- integrada que está na história das tro-cas, em que a parte que recebe tambémtem de dar - está cheia desses saposengolidos. Às vezes é preciso negociarcom o diabo e, se tiver de ser, prestar-lhe homenagem. O ministro, no meio daselva, tinha uma incumbência: recuperaras duas reféns. Se para isso era neces-sário apertar o bacalhau a um terroristadas FARC e desejar-lhe o melhor, assimfosse.

Mas, agora que Clara Rojas e Consu-elo González voltaram a casa, deixem-me dizer-vos: grandes canalhas são ostipos da FARC. Eu já sabia, mas fiquei asaber mais pelos testemunhos de Clara,de 44 anos, e Consuelo, de 57. A primei-ra foi sequestrada em 2002, a segunda,em 2001. Não eram polícias nem solda-dos - condição única que justificaria, paraguerrilheiros, manter preso alguém. Jápara narcotraficantes e terroristas, se-questrar qualquer pessoa serve. Ou lhesdá dinheiro ou lhes alimenta a estratégiade difundir terror. (...)

Ferreira FernandesDiário de Notícias (13/01/08)

EU, ÀS VEZES

(...) Tão difícil traduzir as emoções empalavras, é tão pobre o vocabulário quetemos e vou-me consumindo nos livros aprocurar exprimir isto. Bom, voltando aoprincípio dizia que começa a anoitecertão cedo, as árvores do dia que nada têma ver com as árvores da noite, misterio-sas, densas, falando, falando, a engorda-rem de pássaros. Janelas iluminadas eeu a imaginar as vidas atrás das corti-nas, por vezes, num intervalo, um reló-gio, uma pagela, um lustre que me as-susta, vultos. Gestos femininos bonitossempre, a delicadeza com que as mulhe-res tocam nos objectos, a harmonia dosdedos: somos pesados e sem graça, nósos homens, ao pé delas. Pesados, bru-tos, canhestros: não possuímos seja o quefor de ave ou de nuvem, a nossa carne édensa e gaguejante. Dá-me uma paz deeternidade ver uma mulher numa casa,o modo como o seu corpo habita o espa-ço, a forma como vestem, de si mesmas,os compartimentos, com um simples pas-so, um simples olhar. (...)

António Lobo AntunesVisão

GOLPE DE TEATRO

O Governo cedeu por duas vezes aCavaco Silva sem que o PSD retirassedisso a menor glória. E aqui é que bate oponto: num país com umas finanças queretraem o mercado interno, e com umaindústria que mal exporta, as obras pú-blicas voltam a ser essenciais para oleara economia.

O aeroporto em Alcochete e os apeti-tes renovados sobre a ANA, a nova tra-vessia do Tejo e os seus concursos, otraçado do TGV e seus fornecimentossão tesourinhos apetecíveis.

O conselho de guerra de Durão Bar-roso já reuniu e prepara-se para o queder e vier. E se Durão Barroso resolvedesta vez abandonar Bruxelas e regres-sar a Lisboa? Seria o seu segundo golpede teatro.

José Medeiros FerreiraCorreio da Manhã (13/01/08)

SARTRE NO PURGATÓRIO

(...) O que é um intelectual? Alguémque se torna sujeito de Poder, actor dahistória efectiva do seu tempo, unicamen-te através da forma mesma do não-po-der que é, a título individual, a escrita.Essa acção ultrapassa a mera influênciasobre os outros, no plano da inteligênciaou da ética, tal como a que pode serexercida pelo jornalismo, que, só por ex-cepção, é estritamente individual. O pa-radoxo de Sartre, enquanto intelectualarquétipo, é que ele foi, entre outras coi-sas, o filósofo de «comprometimento» ouaté do «alistamento» numa causa ou numprojecto que o ultrapassava e, por outrolado, o exemplo do escritor que nuncaesteve «inteiramente» nas causas queexigiam o que pode chamar-se o «sacri-fício do intelecto», embora tivesse a ten-tação de o fazer. (...)

Eduardo LourençoJornal de Letras (19/12/07)

UM PAÍS SEM PROBLEMAS

Domingo, uma da tarde. Enquanto leioo jornal, a RTP1 em fundo abre o seunoticiário com a notícia da troca de em-purrões entre dois jogadores do Benfica,durante o jogo com o Setúbal. Fico per-plexo por ser esta a notícia de abertura,no canal público. Empurrões?! Ainda sefossem estaladas… Quando mudo, su-cessivamente, para a SIC e para a TVIe constato que a notícia escolhida é amesma, concluo que este só pode ser umpaís sem problemas. Bem sei que é do-mingo, hora de almoço, que o noticiáriodeve ser sobre o “leve”. Ainda assim!

Desisto de escrever sobre o que ha-via pensado. E havia tantos temas! Pe-rante a gravidade dos factos de ontem,que determinaram a suspensão dos doisjogadores do Benfica, que importânciatem saber, por exemplo, se faz sentido aCaixa Geral de Depósitos continuar es-tatizada e não se distinguir de qualquerbanco privado, a não ser por pagar piorà sua administração? (...)

Alberto CastroJornal de Notícias (09/01/08)

POLÍTICA AO RUBRO

Depois do tão celebrado êxito da pre-sidência portuguesa da União Europeia,o ano de 2008 entrou aos trambolhões.

O Tratado de Lisboa, essa coisa que nãomais de cinco mil portugueses conhecem,deu uma valente marrada nas promes-sas eleitorais do Governo. Já não há re-ferendo. Tudo se passa truculento, massubmisso, na Assembleia da República.

Logo a seguir soubemos que os au-mentos dos reformados iam ser pagosem duodécimos. No outro dia já nãoeram. Serão por atacado e durante o pró-ximo mês. E para pôr a cereja em cimado bolo, o tão proclamado aeroporto daOta, com trinta anos de estudos em cima,vai para o quinto dos infernos com a pro-clamação de que Alcochete é a salva-ção da pátria. (...)

Francisco Moita FloresCorreio da Manhã (13/01/08)

POR DAKAR AQUELA PALHA

O cancelamento do Lisboa-Dakar foium acto reflectido. A DGSE francesa,com homens no terreno, no Norte doSenegal, na Mauritânia e no Norte doMali, sabe que há uma nova geração demilitantes ‘islamistas’, no Magrebe e noSahel, disposta a ‘formas superiores de

luta’. Já. IM, um amigo de Nouakchott,explica-me que, durante o poder ditato-rial do presidente mauritano Ould Taya,a “ameaça fundamentalista” era olhadacomo um embuste, fabricado pela polí-cia política. Agora, em ‘democracia’, édiferente. Os militantes desprezam o par-tido islâmico legal e infiltraram mesqui-tas, mercados, serviços públicos, forçasarmadas. O assassínio dos turistas fran-ceses (que provocou uma Fatwa contraos terroristas, por parte dos dois maisinfluentes prelados muçulmanos) é sóuma ponta do iceberg. Houve outros ac-tos, em vários pontos do país, e o que sepreparava podia ser imenso.

Roger Kalmanovitz, o responsávelpela segurança do Rali, um homem pon-derado, sabe as verdadeiras razões. Nãose assusta facilmente, mas tambémachou melhor assim. Seria preferívelchorar depois, sobre o leite derramado?

Nuno RogeiroCorreio da Manhã (06/01/08)

O “SOBA” NUNES

O inspector-geral da Autoridade deSegurança Alimentar e Económica(ASAE) foi apanhado em flagrante afumar a sua cigarrilha, na sala de espec-táculos do Casino Estoril, às 02h30 do1.º dia do ano, após a entrada em vigorda Lei do Tabaco. A atitude de AntónioNunes é lamentável e fere os valores daética e da moral presentes em qualquerlei. Ninguém está acima da lei, nem mes-mo o seu fiscal.

É verdade que a ASAE, sob a batutado seu ‘soba’, tem feito um bom traba-lho no mundo da restauração, pugnandopela saúde dos consumidores. Mas seeste é um tributo público a ser prestado,importa, também, dizer que a ASAE, ul-

timamente, tem excedido as suascompetências, tem trabalhadopara a fotografia e para a sua vi-sibilidade, sem que isso se tradu-za em ganhos de eficácia. Nãose compreende que as acções de-senvolvidas pela ASAE sejampreviamente combinadas com al-guns órgãos de ComunicaçãoSocial, que as têm transformadoem campanhas de publicidade ede espectáculo. Não se compre-ende alguma falta de sensibilida-de para perceber as dificuldadesdas nossas empresas e a nossacultura, não obstante as directi-vas comunitárias, que nos queremobrigar a comer saladas ao pe-queno-almoço.

Mas deixemos agora as acçõesda ASAE para voltar ao prazerdo fumo do seu presidente. A cul-tura de arrogância, que o temtransformado em dono do reino,traiu-o e levou-o a agravar, comas declarações que prestou, umasituação que, embora delicada,podia ter sido resolvida com umhumilde pedido de desculpas, jus-tificada no facto, compreensível

para todos, de se tratar da noite de Fim-de-Ano. Em vez disso resolveu escolhero caminho trilhado por gente que enten-de que a lei é só para uns, assumindo-secomo defensor do lóbi dos casinos, aoreferir que a lei do jogo, que tutela oscasinos e salas de jogo, se sobrepõe à leido tabaco. Esta declaração é tanto maisgrave porque é feita pelo responsável daentidade que vai fiscalizar o cumprimen-to da lei. Não lhe compete reduzir o graude eficácia da lei só porque foi apanha-do em flagrante, ou seja, com o cigarrona boca. (...)

Nuno RogeiroCorreio da Manhã (06/01/08)

O cancelamento do rali Lisboa-Dakar foi umdos mais glosados acontecimentos do iníciode 2008, com muitas críticas a uma decisãoque parece uma cedência ao medo impostopelo terrorismo internacional

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10 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008IMAGENS

Varela Pècurto

Implantada como está, Coimbra inse-re-se num espaço que, inevitavelmente,exige artérias inclinadas.

Embora sejam difíceis de percorrer apé, proporcionam, no entanto, panoramasespectaculares a que o rio dá mais en-canto.

Os patamares são muitos e a belezada paisagem também valoriza muitasmoradias porque delas se gozam vistassoberbas. De alguns “cafés” pode to-

Escadas de Coimbra

mar-se a bica contemplando as facetasde uma natureza pródiga.

Logicamente as ruas mais desnivela-das dão origem a escadas sem conta.

Com mais ou menos degraus, a es-magadora maioria é simples, a não me-recer atenção. São utilitárias, mesmo queconstituídas somente por três degraus.

Falar de escadas de Coimbra ao cida-dão comum significa que as Monumen-tais vêm à lembrança em primeiro lugar.E o seu nome deixa perceber, a quemnão as conheça, que tem muitos degrause são grandes na largura. Mas para osque têm mais conhecimentos de estilos,as que lhes ocorrem são a escada nobredo Colégio de S. Jerónimo (antigo Hos-pital da Universidade), as do primitivo

edifício da Quinta das Lágrimas, hoje in-tegradas no hotel que ali existe e, naUniversidade, as escadas de Minerva.

Refiro uma outra, pouco conhecida,por se localizar no interior do SeminárioMaior. É em caracol.

Exceptuando estas quatro, pouco háque dizer das restantes. O perito saberáo que dizer de todas.

Por mim preocupei-me com as gra-vuras a publicar, evitando repetições,deixando a quem compõe o Centro aescolha final.

Muitos ficarão admirados se disserque fotografei mais de quinhentas esca-das para delas seleccionar as necessári-as a um livro que seria editado pela Câ-mara Municipal.

Entretanto surgiu o “aperto financeironacional” que obrigou tal iniciativa a en-trar em espera...

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Page 12: O Centro - n.º 42 – 16.01.2008

12 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008MUNDO ANIMAL

O biólogo português José Carlos Bri-to, da Universidade do Porto, está a pre-parar um projecto de investigação sobreos crocodilos que vivem em pequenaslagoas no deserto do Sahara, financiadocom 20 mil euros pela National Geogra-phic Society.

“Pode parecer um bocado estranho,mas há mesmo crocodilos no meio dodeserto, são populações que sobrevive-ram à desertificação”, afirmou o inves-tigador, em declarações à Lusa, recor-dando que “o Sahara não era um deser-to há quatro ou cinco mil anos”.

Estes animais vivem actualmente empequenas lagoas, algumas apenas com100 metros quadrados, nas montanhas doTagant, na Mauritânia, onde José CarlosBrito chegará em Setembro para iniciaros trabalhos de campo.

Um dos principais objectivos desta in-vestigação está relacionado com o processode evolução destes animais ao longo dosúltimos milhares de anos em que viveramem pequenos micro-habitats isolados.

“Vamos recolher amostras do máxi-mo número possível de crocodilos paratentar perceber a evolução que houve

FINANCIADO PELA “NATIONAL GEOGRAPHIC”

Biólogo português estuda crocodilos do Sahara

(relativamente aos animais que ali fica-ram isolados há quatro ou cinco milanos)”, salientou.

A bolsa de investigação, que a Natio-nal Geographic atribuiu ao biólogo por-

tuguês, envolve um trabalho sobre a po-pulação de peixes, anfíbios e répteis exis-tentes na Mauritânia, destacando-se aquestão dos crocodilos como um objec-tivo específico.

“A ideia é fazer uma espécie de atlasda distribuição dos peixes, anfíbios e rép-teis em todo o território da Mauritânia”,frisou o investigador, que acabou de che-gar daquele país africano, naquela quefoi a primeira viagem ao terreno paracomeçar a preparar o trabalho que tempela frente.

José Carlos Brito, do Centro de In-vestigação em Biodiversidade e Recur-sos Genéticos da Universidade do Por-to, prevê regressar à Mauritânia em Se-tembro de 2008 e na Primavera de 2009,em ambos os casos para permanênciasde dois meses e meio.

Este investigador é o primeiro portu-guês a receber duas bolsas de investiga-ção da National Geographic, depois des-ta instituição lhe ter financiado, em 2004,um projecto sobre as lagartixas de de-dos denteados.

Na sequência desse trabalho, que olevou a percorrer vários países da Áfri-ca Ocidental, José Carlos Brito publicoudois artigos científicos, que se juntaramaos mais de três dezenas de trabalhosque já publicou em várias revistas cientí-ficas mundiais.

A utilização do burro com finsterapêuticos e as suas potenciali-dades na promoção da cultura ru-ral e turística são os objectivos doencontro sobre “Educação e Ma-neio de Asininos” que decorreu emLagos no passado fim-de-semana.

Organizada pela Associaçãopara o Estudo e Protecção doGado Asinino (AEPGA), respon-sável pela preservação do burromirandês, a iniciativa visou aindadar formação específica sobre ocomportamento dos burros e o seumaneio.

“Devido ao seu comportamen-to dócil, paciente, atento e inteli-gente, o burro é actualmente umanimal muito utilizado na designa-da asinoterapia”, disse à Lusa Mi-guel Nóvoa, veterinário e secretá-rio técnico da AEPGA.

A Asinoterapia, ainda semgrande expressão em Portugal,tem sido desenvolvida em váriospaíses europeus, nomeadamenteem França e Inglaterra, e consis-te numa prática equestre com téc-nicas de educação e reeducaçãodo indivíduo, fazendo com que su-pere danos sensoriais, motores,cognitivos, afectivos e comporta-

TEMA DEBATIDO EM ENCONTRO NO ALGARVE

Burro pode ser usadocom fins terapêuticos

mentais.Segundo Miguel Nóvoa, o con-

tacto repetitivo com os burros “temdemonstrado melhorias significa-tivas ao nível do equilíbrio, bemcomo o reforço da auto-estima econfiança”.

A ideia de desenvolver a asino-terapia em Portugal foi lançadapela AEPGA, há cerca de doisanos, tendo como destinatárias ascrianças com necessidades espe-ciais de Trás-os-Montes.

“Registaram-se desenvolvimen-tos significativos nas crianças sub-metidas à terapia”, destacou o res-ponsável técnico da associação,sublinhando ser fundamental co-nhecer os problemas específicosde cada criança e o animal “facili-tador da relação habilitadora”.

Segundo os organizadores,que esperam reunir cerca deduas dezenas de pessoas duran-te os três dias do evento, o Al-garve foi a região escolhida “por-que os criadores de burros têmmanifestado vários problemas aonível do sector”.

Contrariando a ideia de que oburro é um animal em vias de ex-tinção, Miguel Nóvoa referiu que“o burro tem agora menos visibi-lidade devido ao abandono da ac-tividade agrícola”, e sublinha exis-tirem outras actividades que po-dem desenvolver como forma deaproveitar as suas capacidadesnaturais.

De referir que outras regiões doPaís estáo já a desenvolver activi-dades de protecção e valorizaçãodos burros, como é o caso, porexemplo, da Quinta da Cerca, noconcelho de Nelas.

Cadela amamenta cordeirorejeitado pela mãe

Um cordeiro recém-nascido rejeitado pela mãe foi “adopta-do” por uma cadela, que o amamenta entre fardos de palhanum estábulo numa quinta nos arredores de Coimbra.

O caso foi dado a conhecer em reportagem de CasimiroSimões com foto de Paulo Novais, da Agência LUSA, onde serevela que a cadela “Pipoca”, depois de ter perdido os seuspróprios filhos, “adoptou” um cordeiro que havia sido rejeitadopela mãe ovelha, e que assim conseguiu sobnreviver graças aocarinho desta “mãe adoptiva” (que, como se vê na foto, é maispequena do que o “filho adoptado”.

Este facto enternecedor passa-se em Cioga do Monte, fre-guesia de Trouxemil, na quinta do médico reformado João Jor-dão, que em declarações à LUSA se regozijou com a situação.

Um caso que é mais um exemplo para a espécie humana!...

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13DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 MUNDO ANIMAL

O investigador Ricardo Gil-da-Costaacaba de receber o prémio de investiga-ção do Instituto Superior de PsicologiaAplicada (ISPA) por um trabalho querevela que os macacos têm mecanismoscerebrais semelhantes aos que permitema linguagem nos seres humanos.

O estudo “Toward an evolutionaryperspective on conceptual representati-on: Species-specific calls activate visualand affective processing systems in themacaque”, de Ricardo Gil-da-Costa, in-vestigador do Salk Institute for Biologi-cal Studies, na Califórnia, Estados Uni-dos, e do Instituto Gulbenkian da Ciên-cia, foi publicado na revista Proceedingsof the National Academy of Sciences ofthe United States of América.

O trabalho agora distinguido com oPrémio ISPA de Investigação em Psico-logia e Ciências do Comportamento, querelaciona as disciplinas da psicologia eda neurobiologia, dedicou-se à análise dasbases evolutivas do sistema de represen-tação conceptual, ou seja, “as bases fisio-lógicas onde representamos mentalmen-te todos os conceitos que podemos ima-ginar, desde objectos, animais a interac-ções sociais, por exemplo”.

Para saber como estão estruturadas asvárias áreas cerebrais, os investigadoresusaram métodos de imagiologia cerebralfuncional, técnica que permite saber quaisas áreas do cérebro que estão a proces-sar determinada tarefa quando esta éexercida por um indivíduo, como ver, ou-vir e memorizar, por exemplo.

Esta técnica foi adaptada ao estudode reacções do macaco rhesus, que temum reportório de 10 a 12 vocalizaçõesdiferentes, associadas a eventos diferen-tes importantes e com um significadopara estes macacos, que podem servirpara estabelecer hierarquias, assinalarcomida, aviso de predadores etc..

Os animais foram sujeitos à gravaçãodestas vocalizações do seu dia-a-dia e aoutras gravações de controlo, neste casosons não biológicos de instrumentos mu-sicais e construídos por computador.

Os investigadores procuraram as-sim distinguir a reacção do cérebroque está apenas num processo de per-cepção auditiva da reacção que o cé-rebro apresenta em imagens recolhi-das na altura em que analisa sons comsignificado.

“O que nos interessava era quais asredes neuronais, quais as áreas do cé-rebro envolvidas no processamento deum possível significado destes estímu-los, estabelecendo correlações”, escla-rece Ricardo Gil-da-Costa.

INVESTIGAÇÃO PREMIADA

Psicólogo português admitepré-linguagem nos macacos

Quando um humano ouve, porexemplo, a palavra cão ou o ladrar deum cão, o que acontece é que invo-luntariamente cria a imagem mentalde um cão associada às experiênciasque teve, positivas ou negativas, comeste animal, atribuindo-lhe uma deter-minada forma, textura e cor.

“Durante muito tempo defendeu-seque o motivo pelo qual nós temos estetipo de processamento e criamos estaimagem mental se deve ao facto determos linguagem e um sistema desimbologia abstracta, o que nos per-mite correlacionar símbolos de váriasmodalidades e juntar estes conceitosde simbologia, como cheiros, sons ecores, por exemplo”, explicou o inves-tigador à Agência Lusa.

“Pensou-se que nos macacos este sis-tema não existiria desta forma, porque alinguagem é o que nos torna únicos, a

última barreira que nos separa dos ani-mais”, sublinha.

Durante o estudo, e depois de compa-rar as áreas envolvidas na reacção dosmacacos às verbalizações usadas pelasua tribo com os outros sons não-bioló-gicos, foi concluído que “perante as vo-calizações deles, um estímulo que é au-ditivo, se verifica a activação de umamultiplicidade de áreas cerebrais, inclu-indo áreas de cognição visual, que estãoligadas especificamente ao processa-mento de cor, de forma e também daparte emocional”.

“Isto implica que temos os mesmostipos de resultados em macacos e emhumanos: O que parece estar a aconte-cer é que, tal como em humanos, osmacacos representam os conceitos deuma forma multimodal e distribuída e querepresentam o conceito de imagem comonós temos”, salienta.

Esta descoberta pode significar que alinguagem não é uma condição préviapara este tipo de representação concep-tual, como é aceite pela comunidade ci-entífica até agora, ou então que os pri-matas não-humanos têm já esboços deuma espécie de pré-linguagem.

“Já pode haver um sistema de proto-linguagem ou um sistema pré-linguísticoque permite este tipo de capacidadescognitivas nos macacos”, admite.

Por outro lado, o trabalho de Gil-da-Costa contribuiu para a defesa da teoriamais recente segundo a qual a represen-tação conceptual resulta de várias áreascerebrais, contrariando a hipótese clás-sica de que estes conceitos, que nos aju-dam a sobreviver, estão arrumados emdeterminada área específica do nossocérebro.

“Desde há muitos anos que se pensaque, quando se experiência um determi-nado evento, memorizam-se todas asvárias sensações desse momento e que,em termos cerebrais, todas estas sensa-ções são acumuladas numa determina-da área do cérebro, chamada área se-mântica”, explicou.

Seria como se tivéssemos no cérebroum armário a que chamaríamos “áreasemântica”, onde estariam armazenadosvolumes com todos os conceitos e sen-sações relacionadas que conhecemos, aque chamaríamos, por exemplo, gato,cadeira, livro, etc., e que depois iríamosbuscar conforme precisássemos.

“O que parece acontecer é que, defacto, não existe uma área cerebral se-mântica onde se armazenam estes con-ceitos todos, mas uma rede neuronal dis-tribuída, um conjunto de áreas cerebraisque interagem, que permitem uma repre-sentação conceptual distribuída”, revelaRicardo Gil-da-Costa.

Ou seja, voltando ao exemplo docão, o que acontece é que “são acti-vadas áreas cerebrais visuais olfacti-vas e sensoriais e cada uma delascontribui ao mesmo tempo com a suaperspectiva para a representação con-ceptual” do animal.

“O conceito não está numa área úni-ca, mas emerge da interacção de todasestas áreas cerebrais”, sublinha o inves-tigador.

O Prémio ISPA de Investigação emPsicologia e Ciências do Comporta-mento distingue anualmente desde2003 com 2.500 euros o trabalho deum jovem investigador português, pu-blicado nos três últimos anos numarevista internacional científica emPsicologia e áreas afins.

O macaco rhesus

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14 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008

* Professor e Dirigente do SPRC/FENPROF

João Louceiro *

EDUCAÇÃO/ENSINO

O Governo olhapara os professorescomo um obstáculo,uma força de blo-queio. O seu saberprofissional, central edecisivo na vida e nosobjectivos das esco-las, é visto como umaameaça

A quem servem as alteraçõesao regime de gestão das escolas?

É bom que se compreenda: o propó-sito anunciado pelo Governo de alteraro regime de direcção e gestão escolar,atacando o que nele sobrevive de práti-cas democráticas, recriando uma figurasemelhante ao velho reitor e reduzindoa intervenção dos professores, não cor-responde a uma necessidade das esco-las para melhorarem o presente ou en-frentarem o futuro.

A ideia de que a adopção de formasde gestão enxertadas de outras organi-zações resolveria os problemas das es-colas é uma falácia que oculta os verda-deiros objectivos do Governo. Tais pro-blemas, com dimensão particularmentegrave nos fenómenos de insucesso eabandono, não se explicam fazendo en-foque na gestão das escolas. O desafio,se for levado a sério, é muito mais am-plo e não se centra sequer na formacomo as escolas são dirigidas e geridas.

Se isto é assim, porque lateja na ca-beça dos governantes o imperativo deatacar também a direcção e gestão dasescolas com um regime como o queanunciaram?

O próprio preâmbulo do projecto co-locado em consulta pública elucida aquestão: trata-se do “patamar” que fal-tava para concretizar em pleno as políti-cas que o Governo desenvolve na áreada Educação. É o Governo que tem ne-cessidade disto e não as escolas. De-pois de lhes ter lançado o garrote, de teratacado o seu carácter universal e in-clusivo, depois de se ter atirado estúpidae violentamente a quem lá trabalha, nafúria de cortar gastos, o Governo sabe

que precisa de mais um elo na cadeia hi-erárquica que comanda. Se é verdade quehoje, em alguns lados, já dispõe de zelo-sos capatazes, o facto é que quer mais doque isso: quer a garantia de controlo totalda cadeia de poder absoluto de que preci-sa para que as suas opções se concreti-zem sem pio nem sobressalto.

O Governo olha para os professores

como um obstáculo, uma força de blo-queio. O seu saber profissional, centrale decisivo na vida e nos objectivos dasescolas, é visto como uma ameaça. Sãoprecisos para trabalhar mas em regimede submissão; fora disto, são um empe-cilho para a concretização das opçõespolíticas na área da Educação.

Os professores são tidos como adver-sários a subjugar e submeter. Por isto, oMinistério da Educação (ME) concebeuum “Conselho Geral”, onde, apesar dasua importância estratégica, os docen-

tes ficariam em clara minoria e até impe-didos de o presidirem. Tenta reproduzirali condições dominantes na sociedade,precisamente as que têm permitido o do-mínio das forças políticas que se sucedem,em alternância, repetindo e aprofundan-do à vez os ataques à Escola Pública. Osdocentes, necessários para pôr as coisasa funcionar, são convenientemente limi-tados na sua influência nas decisões.Aquele órgão seleccionaria o futuro di-rector, órgão unipessoal e todo-poderosoque, por si só, escolheria os seus adjuntose toda a estrutura intermédia da escola,organizada numa lógica de obediência esubmissão e não de participação.

A ideologia dominante presta vassa-lagem à importância da gestão e dos ges-tores para resolver todos os problemasdas organizações. Mas estas, pela suanatureza, não são todas iguais; bem lon-ge disso! A opção do Governo por umafigura de gestor que faz lembrar os rei-tores que o 25 de Abril destronou, não sejustifica nem sequer pelos orçamentosque as escolas têm de gerir, de tão ma-gros que são. Sem desvalorizar este pla-no, o que é central nas escolas é a suavida pedagógica e, sem dúvida que adesvalorização da intervenção dos pro-fessores é uma perigosa ameaça ao pri-mado dessa dimensão.

Ao contrário da ideia instigada peloGoverno, não há um conflito ancestralentre os professores e a sociedade queobrigasse a submetê-los pela força. Oque há é um Governo que para atingir osseus objectivos decidiu tentar subjugaros professores. As escolas nada ganha-riam com isto.

O Governo criou um escalão especi-al para que os alunos do secundário defamílias com médios ou baixos rendi-mentos, mas não abrangidos pela ac-ção social escolar, possam beneficiar deapoios no programa de computadorespessoais e aceder a bolsas de mérito.

De acordo com um despacho publi-cado no passado dia 3 no Diário da Re-pública, é criado o “Escalão Especialdo Secundário”, que poderá abrangeralunos do ensino secundário cuja ca-pitação do agregado familiar se situaentre os 214 e os 272,50 euros.

“Vai permitir que os alunos do se-cundário tenham acesso às condiçõesespeciais que existem para os estu-dantes que beneficiam de acção so-cial escolar, quer no acesso aos com-putadores portáteis [programa e-es-colas] quer às bolsas de mérito”, ex-

Alunos do ensino secundáriopodem aceder a bolsas de mérito

plicou em declarações à Lusa o Se-cretário de Estado Adjunto e da Edu-cação, Jorge Pedreira.

A iniciativa e-escolas destina-se adotar de computadores e acesso à In-ternet em banda larga os alunos do10.º ano do ensino secundário e temcomo finalidade tornar o computadornum material didáctico de uso gene-ralizado.

Quanto às bolsas de mérito, sãouma medida de apoio sócio-educativodedicada aos alunos do secundárioque, revelando mérito escolar, pode-riam ver o prosseguimento dos seusestudos prejudicado por razões decarência económica.

Até agora, um aluno do ensino se-cundário podia candidatar-se à atribui-ção de uma bolsa de mérito desde quetivesse obtido uma classificação igual

ou superior a 4 no 9º ano ou igual ousuperior a 14 valores nos 10º ou 11ºanos e estivesse em situação de po-der beneficiar de apoios sócio-econó-micos atribuídos no âmbito da acçãosocial escolar.

“A ideia é alargar o universo dosalunos que podem ter acesso aos com-putadores e às bolsas de mérito, queera muito restrito. Daí a necessidadede criar este escalão especial”, acres-centou Jorge Pedreira.

O secretário de Estado salientoudepois que esta é mais uma medidano sentido da generalização do ensinosecundário como patamar mínimo dequalificações dos portugueses, o quedeverá acontecer até ao final da le-gislatura (2009).

O despacho agora publicado vigoraa partir deste ano lectivo.

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15DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 SAÚDE

CRIANÇAS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS

Escolas punidas se não lhes deremprioridade na matrícula

As escolas públicas que não dêem pri-oridade na matrícula às crianças com ne-cessidades educativas especiais de ca-rácter permanente serão alvo de um pro-cesso disciplinar, enquanto as privadasperderão o paralelismo pedagógico e oco-financiamento.

De acordo com um decreto-lei publi-cado em Diário da República, as esco-las de ensino particular e cooperativo quenão dêem prioridade a estas crianças noacto da matrícula perdem paralelismopedagógico e co-financiamento, “qual-quer que seja a sua natureza”.

Quanto aos estabelecimentos de ensi-no da rede pública, será aberto um pro-cedimento disciplinar, caso não cumpramo disposto no número 3 do artigo 2.

“As crianças e jovens com necessi-dades educativas especiais de carácterpermanente gozam de prioridade na ma-trícula, tendo o direito, nos termos do pre-sente decreto-lei, a frequentar o jardim-de-infância ou a escola nos mesmos ter-mos das restantes crianças”, lê-se noreferido artigo.

O diploma, que define os apoios es-pecializados a prestar na educação pré-escolar e nos ensinos básico e secundá-rio no âmbito das necessidades educati-vas especiais, estabelece ainda que asescolas públicas e privadas com parale-lismo pedagógico não podem rejeitar ainscrição de crianças e jovens com base

na incapacidade ou nas necessidadeseducativas especiais que manifestem.

Será ainda elaborado um programaeducativo individual para os alunos comnecessidades educativas especiais decarácter permanente até 60 dias após areferenciação dos estudantes.

Este programa “carece de autoriza-ção expressa do encarregado de educa-ção”, excepto se este decidir não exer-cer o seu direito de participação, e deve-rá ser revisto a qualquer momento e,obrigatoriamente, no final de cada nível

de educação e ensino e no fim de cadaciclo do ensino básico.

Dos resultados obtidos por cada alu-no com a aplicação das medidas estabe-lecidas no programa, deve ser elaboradoum relatório conjuntamente pelo profes-sor, pelo docente de educação especial,pelo psicólogo e pelos docentes e técni-cos que acompanham o desenvolvimen-to do processo educativo do aluno.

O decreto-lei apresenta ainda as mo-dalidades específicas de educação, comoa educação bilingue de alunos surdos, a

educação de alunos cegos e com baixavisão, os respectivos objectivos bemcomo as equipas que os compõem.

No inicio de Setembro, o Ministério daEducação anunciou que a partir deste anolectivo começavam a funcionar 21 agru-pamentos de referência para alunos ce-gos e com baixa visão e 40 agrupamen-tos mais 72 escolas de referência no en-sino bilingue de alunos surdos.

Foi ainda alargado o número de uni-dades (salas) especializadas em multide-ficiência, que serão 163 no apoio a 827jovens, bem como o número de unidadesespecializadas em perturbações do es-pectro do autismo, que a partir do próxi-mo ano lectivo serão 99, abrangendo 494alunos.

Foi ainda criada uma rede de agrupa-mentos de escola de referência para aintervenção precoce, que funcionará em121 agrupamentos com 492 educadores,sendo abrangidas, segundo as estimati-vas da tutela, 4.355 crianças.

Além disso, os agrupamentos passa-ram a contar com 146 terapeutas ocu-pacionais, da fala e fisioterapeutas, 65formadores de língua gestual portugue-sa e 58 intérpretes de língua gestual por-tuguesa, para um total de 269 técnicosde apoio especializado, quando em 2006/07 estavam disponíveis 153, segundo osecretário de Estado da Educação, Val-ter Lemos.

O regime de avaliação e certificaçãode novos manuais escolares arrancacom os livros das disciplinas de Físico-Química e Ciências Naturais do 9.º anoa adoptar no período lectivo de 2008/2009, segundo despacho publicado nopassado dia 4.

O mesmo despacho marca o início daavaliação dos manuais já adoptados e emutilização das disciplinas de Língua Por-tuguesa e Estudo do Meio dos 3.º e 4.ºanos, Físico-Química e Ciências Natu-rais dos 7.º e 8.º anos e Inglês, História eGeografia de todos os anos de escolari-dade do 3º ciclo (7.º,8.º e 9.º anos).

Quanto aos novos manuais, o despacho determina que os editores quepretendam propor livros escolares paraas disciplinas em causa devem entregá-los até 31 de Março de 2008 à Direc-ção-Geral de Desenvolvimento e Inova-ção Curricular (DGDIC), devendo o pro-

PUBLICADO O DESPACHO REGULADOR

Certificação de novosmanuais escolares

cesso de certificação ser concluido até28 de Fevereiro de 2009.

Também até esta data deverá estarterminada a avaliação dos manuais já emutilização das disciplinas de Língua Por-tuguesa e Estudo do Meio dos 3.º e 4.ºanos, Físico-Química e Ciências Natu-rais dos 7.º e 8.º anos.

No caso das disciplinas de Inglês, His-tória e Geografia de todos os anos deescolaridade do 3º ciclo, a certificaçãodos manuais em uso deverá estar termi-nada até 28 de Fevereiro de 2010.

O despacho publicado em Diário daRepública marca o arranque do regimede avaliação e certificação de manuaisescolares que entra em vigor no ano lec-tivo de 2008/2009.

A avaliação e certificação dos ma-nuais escolares começa em 2008, masserá aplicada progressivamente, à me-dida que forem adoptados os livros re-

lativos a cada ano de escolaridade, umprocesso que só deverá ficar concluídoem 2015/16.

Universidades, associações profissio-nais de professores, sociedades ou as-sociações científicas são as entidades quevão avaliar e certificar os manuais emfunção de critérios como o rigor linguís-tico e científico, a conformidade com osprogramas, a qualidade pedagógica e di-dáctica, entre outros.

A lista dos manuais certificados e dosrespectivos preços é divulgada pela Di-recção-Geral de Inovação e Desenvol-vimento Curricular (DGIDC), organismodo Ministério da Educação.

O processo de apreciação, selecçãoe adopção dos livros decorre durantequatro semanas, a partir da segunda se-mana do 3.º período do ano lectivo ante-rior ao início da vigência dos manuaisescolares.

A Universidade de Coimbra e aDirecção Regional de Educação doCentro (DREC) assinalaram o DiaMundial do Braille no passado dia 4,apresentando numa escola em Coim-bra histórias infantis criadas para sen-sibilizar as crianças cegas para asquestões ambientais.

Com o apoio da VALORMED, naEscola EB2,3 Inês de Castro deCoimbra foram apresentados os doisprimeiros volumes de uma colecçãoque posteriormente serão oferecidosa todos os meninos cegos do 1º e 2ºciclos do ensino básico do país.

O projecto foi desenvolvido no âm-bito do grupo EQOFAR (Estudantesde Química Orgânica de FarmáciaAcção Reacção) da licenciatura deCiências Farmacêuticas, compostopor estudantes e coordenado peladocente Maria José Moreno, que háalgum tempo vinha desenvolvendoactividades de intervenção comuni-tária, em especial em escolas, na sen-sibilização ambiental.

Histórias infantispara meninos cegos

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16 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008SAÚDE

MassanoCardoso

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Agora que já acabaram as festivi-dades natalícias, em que foram recor-rentes as reportagens televisivas so-bre as consoadas oferecidas aos maispobres e desfavorecidos, podemosconcluir que estes passaram um Na-tal mais aconchegado e com os estô-magos cheios a par de muitas consci-ências que devem ter sentido algumalívio. E agora? Quase que vale apena perguntar: E os outros dias doanos, como vão ser? É fácil concluirque serão menos aconchegados, comestômagos mais vazios e muitas cons-ciências distraídas.

Mesmo as crianças não escapam acertos fenómenos. São compreensí-veis as suas apetências para os brin-quedos, nesta época do ano, mas nãoé inteligível, aparentemente, que pre-firam comida, a não ser que a fomeseja mesmo dura!

As crianças brasileiras também es-creveram cartas ao Pai Natal. Os Cor-reios do país irmão, com o auxílio demuitos cidadãos, preparam-se para dis-tribuir brinquedos às crianças desfa-vorecidas. Mas a “Operação PapaiNoel” revelou algo que não espera-vam: mais de metade das milhares decartas recebidas pediam comida, “bo-los, queijo, peru”, e roupa, mas nãobrinquedos!

Se associarmos este curioso “achado”

“O Inferno: a fome”, de Max Beckmann

“O maior drama da humanidade”

à explosão consumista verificada naquelepaís, podemos concluir que certos fenó-menos se agravam contra todas as ex-pectativas e promessas.

Todos temos a consciência de que em

em marcha. Desde o ano 2000, à excep-ção de 2005, o número de esfomeadostem vindo a aumentar. Em 2007, mais de35 milhões de norte-americanos preocu-param-se com os alimentos que deviampôr nas mesas e 11 milhões souberam,várias vezes, o que era a fome. Claroque para as autoridades norte-america-nas admitir a existência de fome é muitoperturbador – e, por esse motivo, utili-zam uma expressão interessante, “verylow food security”, qualquer coisa comoalimentos de muita baixa segurança!

As organizações sociais e religiosastêm desempenhado um papel importan-te mas não conseguem dar respostas àscrescentes necessidades. Os própriosbancos alimentares têm vindo a diminuiras suas receitas, ao ponto de alguns te-rem sofrido reduções das receitas naordem dos 50%, além do encerramentode um em cada dez num ou noutro esta-do. A fome não atinge só os sem-abrigo,mas outras classes.

Em Portugal, começam a ser relata-dos casos de pessoas classificadas emclasses privilegiadas que já recorrem aobanco alimentar.

A fome deve ser considerada comoum dos maiores dramas da humanidade,mesmo que altos responsáveis religiososargumentem que o maior não é a guerra,as doenças, a miséria, a ignorância, ofanatismo, a violência, as catástrofes e,naturalmente, a fome, mas sim o ateís-mo! Com todo o respeito e sinceridade,não consigo compreender como pensarem Deus com o estômago vazio, sejateísta ou ateu...

muitos locais este fenómeno é muito co-mum, mesmo em países ditos ricos. NosEstados Unidos da América a fome está

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17DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 SAÚDE

Escolher um dia concreto para deixarde fumar, anunciar a decisão previamenteaos amigos e mudar de marca de cigar-ros são alguns conselhos das autorida-des de saúde para se ter sucesso a lar-gar o vício do tabaco.

Na sua página na Internet, a Direc-ção-Geral da Saúde dedica um espaçoaos fumadores que queiram deixar de oser, a propósito da nova lei anti-tabacoque entrou em vigor no passado dia 1.

Para promover a cessação tabágica,os especialistas apontam uma lista de 15medidas que ajudam a ultrapassar os sin-tomas provocados pela ausência de ni-cotina.

Previamente deve fazer-se uma listacom os motivos que justificam deixar defumar, como poupar dinheiro ou melho-rar o aspecto da pele e do cabelo, de for-

Medidas fáceis que ajudam a deixar de fumarma a que essa lista possa ser consultadaem caso de recaída.

Os fumadores devem também regis-tar diariamente todos os cigarros quefumam e em que circunstâncias o fazem.

Depois, deve escolher-se um dia paradeixar de fumar, que poderá correspon-der a uma data importante ou simbólica.

A decisão deve ser comunicada aosamigos, familiares e no local de trabalho,para “reforçar o compromisso”.

Nas semanas anteriores ao dia esco-lhido, os fumadores devem tentar mudara marca de cigarros para outra que lhesdê menos prazer e nunca fumar um ci-garro até ao fim.

A partir do dia escolhido para largar ovício, todos os objectos relacionados como hábito de fumar devem ser retirados,como cinzeiros, isqueiros ou tabaco exis-

tente em casa ou no trabalho.Aumentar a actividade física, fazer

uma alimentação saudável e reduzir oconsumo de café e álcool também podeimpedir recaídas.

Deve ainda evitar-se estar perto defumadores e guardar diariamente, e emlocal bem visível, o dinheiro que se teriagasto em tabaco.

No caso de não se conseguir deixar defumar sozinho, deve pedir-se ajuda aomédico ou marcar uma consulta de ces-sação tabágica, no sentido de recorrer amedicação e mesmo a apoio psicológico.

Recorde-se que desde o primeiro diadeste ano é proibido, em Portugal, fumarem bares, cafés, discotecas, restauran-tes, locais de trabalho e todos os espa-ços públicos destinados a utilização co-lectiva.

A exposição moderada da pele ao solpode ser benéfica para algumas pessoas eajuda a gerar vitamina D, que protege con-tra certas formas de cancro e outras do-enças, revela um estudo publicado na pas-sada semana.

Cientistas norte-americanos e noruegue-ses indicam, num estudo divulgado na revis-ta “Proceedings of the National AcademySciences”, que os benefícios da radiaçãosolar podem ter mais peso que o risco dedesenvolver cancro de pele.

“Desde há muito que se sabe que a ra-diação solar é a principal causa de cancroda pele”, recordou Richard Setlow, biofísi-co do Departamento de Energia dos Esta-dos Unidos.

O grupo, encabeçado por Setlow, foi oprimeiro a estabelecer que os raios ultravio-letas (UVA) e a luz são as causas principaisdo melanoma maligno, forma mais letal docancro da pele.

No entanto, os cientistas recomendamque é necessária protecção contra os efei-tos da posição excessiva aos raios solares.

Setlow destacou que, em muitos casos,essa radiação origina a vitamina D nos se-res humanos e desempenha uma funçãoprotectora em vários tipos de cancro e pos-sivelmente em outras doenças.

Como resultado de uma maior exposi-ção solar, os australianos, que vivem próxi-mos da linha equatorial, produzem 3,4 vezesmais vitamina D que os habitantes do Reino

REVELA ESTUDO CIENTÍFICO

Exposição moderada ao solpode ser benéfica

Unido e 4,8 vezes mais que os escandina-vos, indicaram os cientistas.

“Existe uma clara diferença Norte-Sul naprodução de vitamina D e os que vivem emlatitudes setentrionais produzem menos doque aqueles que vivem próximo da linha doequador”, adiantaram.

Os cientistas descobriram igualmenteque a incidência de outros tipos de cancro,como do cólon, pulmões, mama e próstata,também aumentam segundo a diferençaNorte-Sul.

Quando analisaram a taxa de sobrevivên-cia, os cientistas descobriram que quem viveem latitudes meridionais tem menos possi-bilidades de morrer de cancro que os doNorte.

“Os nossos dados são uma indicação dopapel benéfico que desempenha a vitaminaD induzida pelo sol no que se refere ao can-cro”, afirmaram os cientistas no estudo.

A vitamina D encontra-se em muitos ali-mentos, nomeadamente no óleo de fígadode bacalhau, leite e suplementos dietéticos.

Conhecer a obesidade e perceber deque forma interfere com as doenças car-diovasculares para adoptar as terapêuti-cas mais adequadas é o objectivo de umestudo pioneiro em curso nos Hospitaisda Universidade de Coimbra (HUC).

O estudo, que está a ser desenvolvidono Serviço de Cardiologia dos HUC, visadetectar as relações entre as síndromescoronárias agudas e a obesidade, um dosprincipais factores de risco das doençascardiovasculares.

O projecto envolve cerca de duas cen-tenas de doentes que estiveram interna-dos na Unidade de Cuidados IntensivosCoronários daquele serviço e os primei-ros resultados deverão ser conhecidosem meados deste ano – revelou o médi-co Pedro Monteiro à agência Lusa.

Inovador em Portugal, o estudo pre-tende descobrir quais são as mudançasque o excesso de peso provoca no fun-cionamento do organismo, para poderaplicar nos doentes as terapêuticas maiseficazes na sua redução e no combateaos riscos associados à obesidade – ex-plicou o médico do Serviço de Cardiolo-gia à agência Lusa.

O estudo é um dos vários que está aser realizado no âmbito da Unidade deInvestigação Clínica em Cardiologia(UICC) daquele serviço dos HUC.

Os doentes são envolvidos num pro-grama terapêutico que, consoante o pa-ciente em causa, pode compreender di-eta supervisionada por um nutricionista,optimização da actividade física e, even-tualmente, a utilização de fármacos paraalém dos que já são recomendados nes-tas patologias.

Os pacientes são submetidos, peri-odicamente, a vários exames, incluin-do análises sanguíneas especiais e

Serviço de Cardiologia dos HUCestuda relação entre obesidadee doenças cardiovasculares

ecocardiografia.“Nem sempre ser gordo por fora sig-

nifica ser gordo por dentro”, disse PedroMonteiro.

O objectivo é combater este e outrosfactores de risco – tal como o tabacoou a diabetes –, evitando que os doen-tes que são assistidos nos cuidados in-tensivos devido a patologias cardiovas-culares graves voltem a esta unidade porfalta de atenção devida a todas estasdimensões.

“Não faz sentido tratar a angina depeito e não tratar a obesidade, a diabe-tes ou o tabagismo. Cada vez que acon-tece um enfarte, há uma parte do cora-ção que morre. Se queremos investir nasaúde destes doentes, temos de o fazerde uma forma global”, sublinha PedroMonteiro.

Ao perceber melhor as característi-cas da obesidade e as suas repercussões,nomeadamente a nível da inflamação dasartérias, é possível aplicar os medicamen-tos mais adequados e testar novas tera-pêuticas que se revelem mais eficazes,quer na redução do peso, quer na dimi-nuição dos riscos das doenças cardiovas-culares.

“Os estudos mostram que nem todosos medicamentos disponíveis são igual-mente eficazes, pelo que quanto melhorconhecermos o inimigo, melhor seremoscapazes de o combater”, realça o car-diologista.

Segundo o Director do Serviço deCardiologia dos HUC, Luís Providência,a criação recente da UICC permite di-namizar a investigação própria do servi-ço e realizar estudos como este, associ-ando conhecimentos obtidos através dainvestigação básica à promoção de in-vestigação clínica de qualidade.

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18 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008A PÁGINA DO MÁ[email protected]

Mário Martins

Homero Serpa foi a enterrar no dia 1.Como escreveu ontem Alexandre Pais no concorrente “Record”, Homero Serpa fez

parte de um «grupo de professores como nenhuma outra universidade terá juntado –Alfredo Farinha, Aurélio Márcio, Carlos Miranda, Carlos Pinhão, Cruz dos Santos, Home-ro Serpa e Vítor Santos».

Foi um dos príncipes de “A Bola”.Foi com eles que aprendi a ler – quando entrei na escola primária, quase com 8 anos

completos, o professor Bentes (esse mesmo, o “rato atómico” da Académica) não teve deme ensinar o “bê-a-bá” do juntar as letras, porque já o tinha aprendido nas páginas de “ABola” (sempre que a “apanhava”), do “Diário Popular” (aos sábados, por causa do con-curso de anedotas) e de “O Primeiro de Janeiro” (aos domingos, com as aventuras doPríncipe Valente).

Há uns três ou quatro anos participei num debate, na Universidade de Coimbra, em queesteve também presente Vítor Serpa, o então como agora director de “A Bola”.

Vítor Serpa chegou acompanhado do pai, Homero Serpa, quando ainda faltava mais demeia hora para o início do debate, no novíssimo auditório da Faculdade de Direito. Ficá-mos à conversa.

Homero desfiou memórias de Coimbra – da Académica e de jornalistas com quemtrabalhara mais de perto.

Há dois anos, aí por meados de Fevereiro de 2006, o Professor Manuel Sérgio (opensador que mais sabe de Desporto em Portugal) concedeu-me uma entrevista.

A certa altura, falámos de treinadores de futebol: José Mourinho, Pedroto, Cândido deOliveira...

Eis um excerto da entrevista:– Qual era a sua função: aconselhar Pedroto?– Não, não. Eu nunca ensinei futebol a ninguém. O Pedroto, coisa curiosa, era um

homem que sabia que não sabia. Uma coisa interessante... Era uma pessoa curiosíssima,um indivíduo que gostava de saber e, então, gostava de me ouvir falar e levantava pergun-tas.

– Sobre tudo?– Sim, sobre política, mesmo futebol. O Pedroto era muito interessante. Eu não sei se

terá havido mais alguém no futebol com aquela curiosidade. Eu não conheci o Cândido deOliveira, quem escreveu sobre ele foi o Homero Serpa...

– O Homero chegou a ser treinador do Belenenses...– É uma situação curiosa. O Belenenses estava para descer de divisão e o Acácio Rosa,

aí por 1969 ou 1970, foi buscar o pai do José Mourinho, que era nosso guarda-redes[Félix Mourinho], e o Homero Serpa, um jornalista, para orientarem a equipa. E o Belenen-ses não desceu de divisão! Isto deu-me muito que pensar, muito que pensar... É o homemque triunfa no treinador. O treinador triunfa se é, ou não é, homem. Isso é a força do JoséMourinho. O líder é o grande treinador. Na alta competição, o líder é uma espécie degeneral; é evidente que tem de saber qualquer coisa de futebol... Tem de ser perspicaz,conhecer bem os seus jogadores. Mas isso quase todos sabem fazer, mas depois falta-lhes o resto: formar um grupo que saiba entrar em campo e ter objectivos. O jogador,acima de tudo, tem de entrar em campo e sentir que está a servir um ideal em que acredita.

A referência de Manuel Sérgio a Homero Serpa como conhecedor da vida de Cândidode Oliveira ficou-me na memória.

Pouco tempo depois, foi útil.Na altura, encontrava-me directamente envolvido no projecto de um livro que contasse

a história do futebol da Briosa. [Um livro que vai ser apresentado no próximo dia 18, às18h00, na Sala VIP do ECC – Estádio Cidade de Coimbra/Empreendimento Comercial doCalhabé].

Nesse âmbito sugeri, até para tornar mais leve a leitura de um livro com mais de 600páginas(!), que fossem incluídos depoimentos a propósito de datas/factos relevantes davida da Académica.

A sugestão foi aceite e coube-me contactar diversas personalidades. Uma delas foiHomero Serpa que, recebida a carta, telefonou de imediato e aceitou colaborar naqueleque – creio eu, pelo que pude ver nessa altura – será o livro mais completo alguma vezpublicado em Portugal sobre uma instituição desportiva.

O texto – de que guardo o original – chegou poucos dias depois pelo correio.«Entrei em “A Bola”, em 1956, pela porta da coincidência, calhou assim - como diz o

povo quando as coisas acontecem por acaso. Pois calhou. Cândido de Oliveira vivia emCoimbra, dedicado à Académica, raramente vinha a Lisboa, ao que se sabe, por Coimbrase dava muito bem. Eu, jornalista na fase de formação, conhecia-o apenas pelo que deleouvia contar, no tom do elogio hiperbólico, pelo Vítor Santos, que realmente o admirava,pelo Aurélio Márcio, que o idolatrava, por alguns mais», escreveu Homero Serpa no textoque creio constar do livro que será apresentado de amanhã a 15 dias.

Foi um privilégio ter conhecido, embora superficialmente, Homero Serpa.Descanse em paz, campeão.

(publicado em 3/11)

HOMERO SERPA

ANÁLISE POLÍTICAOntem escrevi aqui no blogue: «PRESI-

DENTE – Cada vez estou mais convencidoque, para conseguir antecipar as decisõesdo Governo, é preciso escutar com muitaatenção o que pensa... Cavaco Silva.

Referendo, novo aeroporto...»Não deve ter sido por minha causa que o

“Diário de Notícias” escolheu a manchetedo jornal de hoje: «Cavaco Silva foi decisivona opção Alcochete».

Moral da história: posso não perceber nadade nada, nem mesmo de futebol, mas enten-do qualquer coisa de política. Já não é mau.

(publicado em 11/1)

MALA A 3.152 KMChegou ontem, noite alta, à capital da

Moldávia.A mala não apareceu.Hoje, durante o dia, procurou várias ve-

zes a mala no aeroporto; às 9h00, às 17h00,às 23h00. Sem sucesso.

Acaba de ser informada, 24 horas depoisde ter chegado a Chisinau, que a mala foiencontrada.

Sorte!Continua no aeroporto de Lisboa.(Dizem-lhe que a mala deve chegar à

Moldávia amanhã à noite. Nada mau: sem-pre poderá mudar de roupa no sábado...)

Moral da história: não há aeroporto novoem Portugal que resista a serviços tão ex-celentemente organizados.

(publicado em 10/1)

AEROPORTO DA OTAEM ALCOCHETE

O Governo tomou hoje a «decisão preli-minar» de escolher Alcochete como locali-zação para o futuro aeroporto. Aqui ficamalgumas reflexões.

CAMBALHOTA – É confrangedor ou-vir o que – ainda há menos de um ano! –José Sócrates e Mário Lino afirmavam so-bre o aeroporto... na Ota. As gravações queas rádios repetem são demolidoras. SantanaLopes – recordam-se das alegadas “trapa-lhadas”? – não poderia ter melhor(es)sucessor(es).

COIMBRA – A escolha de Alcoentre émais uma derrota para o (in)existente “lo-bby de Coimbra”. E nova manifestação dacrescente falta de “peso político” da cidadee dos seus representantes. [A situação sónão é mais negra porque, aqui e ali, surgemesporádios motivos de alegria. Agora mes-mo, António Marinho acaba de assumir ocargo de bastonário dos advogados. Mari-nho que – felizmente – nunca integrou o“núcleo mais” de Coimbra... Parabéns, cam-peão!]

PEDRAS RUBRAS – Continua a ser omeu aeroporto preferido. Boas acessibilida-des, excelentes transportes públicos (“me-tro” de Campanhã até ao aeroporto), par-ques de estacionamento amplos e com pre-

ços razoáveis. Tanto me faz que, a sul, sejaOta ou Alcochete. Mal por mal...

MONTE REAL – A escolha de Alco-chete contribui para a decisão que me pare-ce ser a melhor para o futuro de Coimbra eda Região Centro: a abertura da base áreade Monte Real à aviação civil. Se os deci-sores políticos (e os “opinion makers”) vo-assem mais em companhias “low cost” játeriam percebido há muito que é este o ca-minho do futuro. [Aconselho-lhes, por exem-plo, uma viagem até Beauvais, a 60 km deParis. Podem crer que não custa nada...]

PRESIDENTE – Cada vez estou maisconvencido que, para conseguir anteciparas decisões do Governo, é preciso escutarcom muita atenção o que pensa... CavacoSilva.

Referendo, novo aeroporto...JÁMÉ – Fica para a História (do ridícu-

lo) em Portugal a caracterização que MárioLino fez da margem sul do Tejo. Associadaao deserto, a expressão «Jamais, jamais!»,que dado o cariz anglófono das geraçõesmais novas surge grafada por vezes como«Jámé, jámé». Como diria não sei quem, «Ésó rir, só rir».

OTA – Não percebo a mania de grafar aOta em maiúsculas, quando isso não suce-de com as outras localidades. Deve ser in-capacidade minha.

(publicado em 10/1)

POLÍTICAHoje é dia de contorcionistas, malabaris-

tas e outros artistas.(publicado em 9/11)

SÓCRATES E A LIBERDADE«O primeiro-ministro José Sócrates é

a mais séria ameaça contra a liberdade,contra a autonomia das iniciativas priva-das e contra a independência pessoal quePortugal conheceu nas últimas três dé-cadas.»

O texto de ANTÓNIO BARRETO,publicado ontem no “Público”, é de leitu-ra obrigatória.

(publicado em 7/11)

PENEDO DA SAUDADEAté ontem, desconhecia a existência de

um farol no Penedo da Saudade.Estamos sempre a aprender.

(publicado em 6/11)

NÃO SABES O QUE PERDES“Call Girl” bate o recorde absoluto de

palavrões.Os «fuck you» de Joe Berardo são uma

brincadeira de criança ao pé da generalida-de dos diálogos do filme de António-PedroVasconcelos.

Soraia deslumbrante, Nicolau ao nível dosmaiores de Hollywood.

Vale a pena a ida ao cinema, apesar docheiro a pipocas e do calor excessivo.

(publicado em 1/1)

1 DE JANEIROCoimbra, 8h00. Amanheceu assim o ano

na minha cidade.Aqui nasci, aqui vivo. Há tantos anos que

já me permito avaliações.A imagem desta manhã é emblemática:

crescem as nuvens, o sol espreita cada vezmenos.

A minha cidade está a ficar triste - como(também) era há bem pouco.

O futuro não se afigura risonho.Uns não conseguem sonhar, a outros fal-

ta-lhes a capacidade.

(Acima de todos os problemas - e para-fraseando a mensagem de Natal do meuamigo Orlando Castro - está o facto de existircada vez mais gente de sucesso que nãoconsegue ter a coluna vertebral direita. Si-nal dos tempos...)

(publicado em 1/1)

Page 19: O Centro - n.º 42 – 16.01.2008

19DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 MÚSICA

Distorções

José Miguel [email protected]

Tal como tinha anunciado há cerca de15 dias, hoje irei dissecar o que passouem 2007 elegendo aqueles que, paramim, foram os melhores álbuns de 2007,não procurando criar uma espécie deconsenso em torno de todos aqueles queme lêem quinzenalmente, mas, apenas,divulgar aqueles que, para mim, foramos melhores do ano.

No que toca ao melhor disco nacio-nal, a minha escolha recai sobre “Shan-gri-la”, dos Wray Gunn, e “Dreams InColours”, de David Fonseca, que mos-tram uma enorme evolução de ambos,apesar de serem registos completamen-te diferentes, sendo “Shangri-la” um re-gisto mais marcado pelo rock n’roll doque “Dreams In Colours”, em que o popé o denominador comum de todo o dis-co. Por serem discos assim tão diferen-tes é que a minha escolha teria que re-cair sobre os dois e não apenas num de-les.

Já quanto ao melhor tema nacional,restam poucas dúvidas sobre quem será,porque estamos perante a música quemais tocou nas rádios durante o ano pas-sado e que contagiou uma série de gera-ções. “Encosta-te a Mim”, de Jorge Pal-ma, é, sem dúvida, a música do ano paraa música portuguesa, de ouvir vezes semconta e sem “enjoar”.

Quanto ao melhor disco internaci-onal, apesar de haver uma série de bonsdiscos que poderiam ser os meus eleitos,acabo por optar por um disco que adoro,apesar de ter sido editado no passado mêsde Fevereiro, mas que continua a fazer

parte da minha “playlist” diária, dada asua enorme qualidade, e que é, comocostumo dizer, “de ouvir de uma ponta àoutra vezes sem conta”. Escrevo-vossobre “A Weekend In The City”, dos BlocParty.

Para o melhor tema internacionala escolha não é assim tão pacífica, dadoque há uma mão cheia de bons temas,que poderiam ambicionar a ser eleitoscomo o melhor tema internacional do ano

Para o fim, fica aquela que é para mim a Remistura doAno: “Gravity´s Rainbow” (Soulwax Nite Version), um origi-nal dos Klaxons, remisturado pelos irmãos Dewaele, tambémconhecidos por Soulwax ou 2 Many Dj´s - caso se apresentemem formato dj set.

PARA SABER MAIS:www.wraygunn.com

www.davidfonseca.comwww.jorgepalma.web.pt

www.blocparty.comwww.interpolnyc.com

www.editorsofficial.comwww.klaxons.net

www.soulwax.com

Wray Gunn “Shangri – La” (Valentim de Carvalho)David Fonseca “Dreams In Colours” (Universal)Jorge Palma “Voo Nocturno” (EMI – Valentim de Carvalho)Bloc Party “A Weekend In The City” (Wichita)Interpol “Our Love To Admire” (Parlophone)Editors “An End Has A Start” (Kitchenware Records)Klaxons “Myths Of The Near Future” (Universal)

de 2007. Mas, apesar disso, gostaria de destacar “Heinri-ch Maneuver”, dos Interpol, e “Editors Outside The Hos-pital Doors”, dos Editors.

Temas de Carlos Paredes, Flávio Ro-drigues e João Bagão integram o traba-lho discográfico de estreia da Escola deGuitarra do Instituto Superior de Enge-nharia de Coimbra (ISEC), lançado re-centemente.

Intitulado “Guitarra de Coimbra”, o CDinclui um conjunto de temas instrumen-tais interpretados pelos alunos desta es-cola que funciona no ISEC, resultandode dois anos de aprendizagem.

Além de sete temas de Carlos Pare-des, em que se incluem “Canção VerdesAnos” e “Memórias”, o CD inclui aindapeças de Artur Paredes, Afonso CorreiaLeite e Gonçalo Paredes.

De acordo com Alexandre Corte-são, professor e fundador da Escolade Guitarra, o ISEC fez uma tiragem

Canção de Coimbra em CD da Escola de Guitarrado Instituto Superior de Engenharia (ISEC)

de dois mil exemplares do CD, tendooferecido uma cópia a todos os caloi-ros que entraram este ano lectivo noestabelecimento.

“Não se pode dizer que é uma obra-prima, mas tem qualidade”, salientou omúsico, presidente da Associação Cul-tural “Coimbra Menina e Moça”.

Segundo o professor, “até hoje nenhu-ma escola de guitarra pôs os seus alunosa tocar em público e a publicar um CD”.

A Escola de Guitarra do ISEC nasceude um protocolo assinado em 2005 entreo ISEC e aquela Associação Cultural,podendo ser frequentada por alunos, do-centes e não docentes deste estabeleci-mento de ensino integrado no InstitutoPolitécnico de Coimbra.

O CD, que conta com o acompanha-

mento em três temas dos professores efundadores da escola - Alexandre Cor-tesão e António de Jesus -, foi apresen-tado publicamente, em fins de Dezem-bro, no Café Santa Cruz, em Coimbra.

Segundo uma nota do presidente doconselho directivo do ISEC, Jorge Ber-nardino, a gravação do CD “é o resulta-do de dois anos de aprendizagem, em queos alunos frequentaram aulas de guitar-ra com a duração de apenas duas horassemanais”.

Alexandre Cortesão adiantou à agên-cia Lusa que, este ano, estão a começara sua aprendizagem na Escola de Gui-tarra do ISEC 30 alunos, apesar de aexecução do fado de Coimbra não sertarefa fácil.

“É preciso espírito de sacrifício e for-

ça de vontade. Calcar em cordas de açonão é fácil”, observou.

A prioridade no ensino da Canção deCoimbra na Escola de Guitarra do ISECtem sido dada a músicos como CarlosParedes, Flávio Rodrigues e João Bagão,mas - de acordo com o docente - estãotambém a ser introduzidos nomes comoAntónio Portugal, Pinho Brojo ou JorgeTuna.

O músico lamenta a “pouca divulga-ção” da Canção de Coimbra nos órgãosde comunicação social e nomeadamen-te na rádio e manifesta-se aberto à in-terpretação por mulheres.

“Sempre houve raparigas a tocarguitarra e viola. A cantar, não tenhonada contra, mas que o cante bem”,opinou.

Page 20: O Centro - n.º 42 – 16.01.2008

20 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008OPINIÃO

Jorge Côrte Real *

Campanha apoiada pelo jornal

(* jurista)

Quando há algum tempo comenta-va a elevada sinistralidade rodoviáriaactual, alguém sabendo que eu tinhacarta de condução há mais de quarentaanos e sem qualquer registo de mul-tas nem de acidentes viários, apesarde contar com mais de dois milhõesde quilómetros, exortou-me a escre-ver um legado para as gerações vin-douras.

Sem mais qualquer pretensão quenão seja a de poupar desgraças, vouenumerar alguns princípios de segu-rança elementares, mas que conside-ro essencial preencher para conseguiruma condução segura.

Muito se tem lido e escrito sobreeste assunto – e aqui recordo e pres-to a devida homenagem a um progra-ma televisivo dos anos sessenta, inti-tulado “Sangue na Estrada” e da apre-sentado pelo falecido e saudoso pilotoJoaquim Filipe Nogueira, que lançouas bases deste tema no referido pro-grama. Semanalmente, com ele apren-díamos a ser condutores eficientes eseguros na condução.

O bom condutor tem de cumprir nãosó as regras que constam do Códigoda Estrada, mas também as do Códi-go de Ética Social, a que agora sechama civismo, e de um Código deSegurança Pessoal, adiante abrevia-damente designado por CSP.

Dos dois primeiros aconselho o seuestudo, e só de quando em vez a elesfarei a devida referência, quando for

Condução segura ou Códigode Segurança Pessoal (CSP)

oportuno.O objectivo base será tentar ensi-

nar o Código de Segurança Pessoal(CSP).

Assim sendo, começarei por dizerque uma condução segura começa an-tes de entrar na viatura.

A ESCOLHA DA VIATURA

Não se deve escolher uma viaturaporque o amigo ou o vendedor ou apropaganda recomendam. A viaturaconstitui uma roupagem exterior quedeve estar

à nossa medida. A dimensão e ascaracterísticas técnicas devem estarde acordo com o uso que vamos dar áviatura. Nada pior para uma condu-ção segura que uma condução con-trariada porque, por exemplo o veicu-lo de todo o terreno, não é própriopara circular na cidade. Gasta muito,tem manutenção cara, é mais difícilde estacionar, e frequentemente tema agilidade de um paquiderme. E tam-bém na estrada, muito frequentemen-te não tem a estabilidade e a agilida-de necessárias para “fugir” ao aci-dente. Estes veículos são óptimos parasatisfazer necessidades de deslocaçãoem pisos difíceis, nomeadamente neve,lama, e terra, sendo aí imbatíveis, masnão na estrada e na cidade onde comoalguém já disse, se tem a sensação decircular em cima de um elefante.

Da irritabilidade à fadiga inconsci-

ente e desta ao acidente vai um passode formiga.

É evidente que cada um é livre deescolher a cor da viatura que quiser.Mas deve ficar a saber que estatisti-camente as viaturas de cor clara re-gistam menos acidentes que as escu-ras, por serem mais visíveis. Se o ob-jectivo na escolha for a segurança,prefira os amarelos, os brancos e osvermelhos, aos tons escuros e sobre-tudo aos pretos que apenas se justifi-cam nas viaturas com mais de 4,7mde comprimento, estes já bem visíveispela sua dimensão.

Também se forem conduzir predo-minantemente em cidade, escolhamum veiculo pequeno, cor muito clara,automático e híbrido se possível. Se odestino predominante for a estrada, aescolha deverá incidir sobre uma via-tura com uma capacidade de transpor-te adequada ao número de passagei-ros transportados alem do condutor,sendo este cálculo feito pela médiamais baixa. Isto significa que se habi-tualmente circula o condutor e maisduas pessoas, não será aconselhávelinvestir numa viatura com capacida-de de transporte para cinco adultos,substancialmente mais cara.

Finalmente nunca adquiram uma vi-atura sem experimentar a sua condu-ção. Este é um erro frequente e porvezes de consequências trágicas. Sódevemos conduzir um veículo que nosproporcione prazer de condução. Se

o destino predominante é a estrada,dê preferência a um veículo com umasuspensão cómoda e estável (não sal-titante).

Escolhida a viatura, nunca entremnum carro, com o propósito de viajar,sem examinar cuidadosamente o es-tado dos pneus, a quilometragem apósa última revisão aos travões e ao ali-nhamento da direcção. Acima dos20.000 km, é preferível antes de via-jar, passar pela oficina.

Se possível verifique ou peça paralhe verificarem a pressão dos pneus,os níveis do radiador, e do lava-vidros,da bateria, óleo do motor, líquido dostravões e em cada Outono substituaas escovas do limpa-vidros.

Ofereça à sua viatura, pelo menosuma revisão anual com substituição doóleo, e filtros de óleo, ar, e combustí-vel, líquido dos travões, teste aos tra-vões e aos amortecedores, alinhamen-to da direcção e focagem dos faróis.Ela irá agradecer.

Melhor mesmo é fazer como eu quenuma pequena agenda anoto a data detodas as intervenções mecânicas e orespectivo custo, procedendo a umamanutenção programada em funçãodos quilómetros e da idade dos com-ponentes.

Na próxima edição passaremos a tra-tar de aspectos mais práticos, já dentroda viatura e pondo-a em movimento.

Até lá, boas viagens!

(I)

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21DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 OPINIÃO

Renato Ávila

João PauloSimões

FILATELICAMENTE

Joséd’Encarnação

POIS...POIS...POIS...POIS...POIS...

Que futuro?

Reencontrei o Miguel, que já nãovia desde o tempo em que fora meualuno no Ensino Secundário, na déca-da de 70.

Que fazes, que não fazes, como vaia vida, filhotes?...

O Miguel, soube-o agora, transfor-mou-se numa empresário de mérito,à frente de vultosos empreendimen-tos turísticos no Sudoeste alentejano,de que amiúde se ouve falar na Co-municação Social. Projectos em rea-lização, outros em carteira:

– Projectos com elevado interesseeconómico para o Pais não faltam,sabe!? Se eu quiser reunir depois deamanhã, aqui, empresários russos,americanos, brasileiros, sei lá, dispos-tos a investir milhões, reúno! E elesexistem, eu conheço-os! O problemaestá em que, por maior viabilidade einteresse que detenha o projecto, den-tro de todas as normas comunitárias eoutras, ele me demora cinco anos pe-los ministérios, em vias de aprovação…

Este dealbar do novo ano apresenta-se-nos prenhe de preocupantes interrogações.

Que nos lembremos, é este um dos mo-mentos mais complicados e mais difíceis quenos foi dado viver em toda a nossa já longaexistência.

Não propriamente por razões pessoaisuma vez que pouco já temos a esperar davida, quase completo que estará o nossopercurso, mas pelo futuro das geraçõesque hão-de prosseguir a gesta de erguereste país que recebemos dos nossos an-tepassados.

Senão vejamos:Aprovada que foi a Reforma do Tratado

Constitucional da União Europeia, sem con-sulta popular, qual será o futuro de Portugalcomo nação independente e soberana?

Depois de tudo o que se tem passado aonível das Forças Armadas – a sua deca-dência e o fim do serviço militar obrigatório,no esbatimento do conceito e interiorizaçãode patriotismo, será que poderemos conti-nuar a pensar em nação, independência esoberania?

Aquele “estado”que os gregos nos lega-ram, configurador da vontade colectiva esolidária na resolução dos problemas da ci-dade e dos cidadãos, mal servido por umaclasse política medíocre e interesseira e por

um aparelho judicial corporativizado, lentoe ineficaz, vai-se eclipsando, sucumbindoante desígnios particulares em detrimentodo interesse geral, em gritante desvirtua-ção e sacrifício da res pública.

Será que poderemos continuar a neleconfiar como garante da integridade naci-onal e da integridade moral, física e patri-monial do cidadão, do seu democrático, fácile qualificado acesso à justiça e aos benssociais como a educação, os cuidados desaúde, a digna protecção na infância, nainvalidez e velhice?

Será que o liberalismo económico sel-vagem e materialista, avesso à solidarie-dade social, continuará a pressionar e a em-paredá-lo, a prostituí-lo na sua concepçãoempresarial?

O trabalho e o emprego como factoresde provisão económica, de inclusão e coe-são social da grande maioria dos portugue-ses parecem ter entrado decisivamentenuma endémica crise de precariedade. Osdirigentes políticos inter e trans fronteiras,em vez de combaterem tal flagelo social,fazem a sua apologia, estranhamente de-fendendo-a como forma de resolução dodesemprego.

Será que teremos de sempre viver naangústia de amanhã não termos onde ga-nhar o pão de cada dia, de não podermosgizar com um mínimo de segurança um pro-jecto de vida – constituição de família, aqui-sição de casa e outros bens essenciais à vida

doméstica?As novas gerações que investiram séria

e sacrificadamente na sua formação e pre-paração para o futuro, enquadradas por umaescola cuja oferta se encontra substancial-mente desajustada das reais necessidadesdo mundo do trabalho, enfrentam a terrívelsituação do desemprego sistemático e con-tínuo. Para além da frustração que é a sen-sação de inutilidade e impotência social e delogro académico, está a ansiedade e a re-volta por não poderem programar o seu fu-turo, concretizar as suas legítimas aspira-ções, de se realizarem profissionalmente

Será que iremos continuar entregues àsleis do mercado, exclusivamente à mercêdos interesses empresariais, sem consisten-te e efectiva protecção legal, sem qualquerapoio no sentido da requalificação e efecti-va integração na dinâmica laboral?

Será que continuaremos com uma es-cola completamente desfasada do mundodo trabalho e das empresas, a formar jo-vens para o desemprego e para o trabalhoprecário?

A ganância e a febre do lucro que nortei-am as empresas leva-as a exigir do traba-lhador mais que trabalho, escravidão. A ges-tão por objectivos, contornando subrepticia-mente os normativos do horário laboral, co-meça a atingir, em muitos casos, foros deabuso, de desumanidade, sonegando ao tra-balhador o tempo de salutar convivência eapoio doméstico e transportando-o aos do-

mínios do stress e da instabilidade familiar.Será que as políticas do trabalho e do bem-

estar social continuarão a ignorar, a favore-cer tantos atropelos os quais vêm provo-cando a infelicidade dos cidadãos?

O país está a envelhecer e a desequili-brar-se na sua ocupação e desenvolvimen-to territoriais. O saldo fisiológico negativocresce acentuadamente e as assimetrias re-gionais entre o interior e o litoral são cadavez maiores, fomentando a desertificaçãodo país profundo e a desordenada massifi-cação do litoral.

Será que continuaremos com as anacró-nicas políticas de cerceamento dos bens eserviços que convidam ao abandono e àdesertificação?

Será que os políticos e governantes con-tinuarão cegos e surdos ao que se passa nomundo do trabalho quanto à dificultação eaté perseguição da maternidade, que per-manecerão néscios e abúlicos relativamen-te à falta de leis e estruturas que decisiva-mente a facilitem e a apoiem?

As questões surgem em catadupa, eminquietante redemoinho. Jamais se esgotam.

O amanhã, de facto, está sombrio. Pormais loas que nos cantem, por mais pro-messas que nos façam, ele aí está. Convul-so, emaranhado. Inquietante.

E a pergunta baila no nosso pensamento,nos nossos lábios. No nosso coração de pais,de avós:

Que futuro?

Determinou-se por decreto de 31 deMarço de 1921, que entrassem em vi-gor a partir de 1 de Abril, os novosportes internacionais estabelecidospelo acordo de Madrid.

Foram também, na mesma data, ele-vados os portes para o Ultramar.

Nesse sentido, os correios tiveramde alterar as cores dos selos corres-pondentes às taxas dos novos portese bem assim criar novos valores.Impressos tipograficamente na Casada Moeda, que utilizou papel liso, pa-pel acetinado, e papel cartolina, de pro-cedências diversas e não tendo as mes-mas

DimensõesImprimiram-se, assim, folhas de

100, de 180, e de 200 selos, sendo osdenteados 12x11,5 e 15x14.

(Baseado em Selos de PortugalÁlbum II de Calos Kulberg)

1921 – 1922 – Ceres:Novos valores, novas cores

Uma folha incompleta do meu álbum de selos.

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22 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008INFORM@TICA

O Yahoo! vai ter uma nova cara,na versão denominada Life!, que pre-tende conquistar o terreno perdidopara o líder mundial Google, anunciouo co-fundador e director-geral doYahoo!, Jerry Yang, em Las Vegas.

Este novo interface, que ainda está

“Yahoo!” renova-se para concorrer com o Google

em construção, pretende ser a ‘home-page’ dos internautas, reunindo os ser-viços disponibilizados pelo Yahoo! eaplicações de outros parceiros.

A nova versão do sítio vai apoiar-se em práticas habituais em sítios desocialização, podendo os “amigos” dos

internautas recomendar aplicações oupartilhar uma agenda, uma estratégiaque vai de encontro ao sucesso de sí-tios como o Facebook e que o Googletambém está a desenvolver.

“Baptizámos este sítio de Life! por-

que queremos que seja o ponto de par-tida para a vida do dia-a-dia”, decla-rou Yang, que regressou aos coman-dos do grupo há sete meses, para com-bater a concorrência cada vez maisactiva do Google.

Uma das particularidades curiosas do Google é que frequentemente adapta o seulogotipo a uma data a acontecimento.Acima se reproduz a forma como surgiu a 1 de Janeiro deste ano

O número de pessoas que em Portu-gal utilizaram a Internet de banda largaatravés do telemóvel cresceu 33 por cen-to no terceiro trimestre, face aos trêsmeses anteriores, para um total de 478mil utilizadores, divulgou a Anacom.

Segundo a entidade que regula o sec-tor das Comunicações, no terceiro trimes-tre existiam 1,183 milhões de utilizado-res de telemóveis com acesso à Internetde banda larga (em alta de 20 por cen-to), mas só 40 por cento do total (478mil) utilizaram o serviço.

Aumenta utilizaçãode internet nos telemóveis

A Portugal Telecom duplicou a ve-locidade de referência da Internet debanda larga para 16 Mb, baixando si-multaneamente o tarifário para 25,58euros, para novos clientes, disse àLusa fonte do Sapo.

A mesma fonte explicou que o au-mento de velocidades e a redução detarifários é extensível às restantesofertas de acesso do Sapo (ADSL), oque faz com que a empresa tenha uma“expectativa elevada” em termos denovas adesões.

Sem querer quantificar os objecti-vos, a fonte explicou que o impactoda campanha (que decorrerá até 31de Março) deverá fazer sentir-se nãoapenas na velocidade de referência,mas também nos restantes tarifários,“que já se tornam bastante significa-tivos com estas velocidades”.

Além da alteração à oferta de re-ferência (que terá um desconto pro-mocional de 10 euros durante 12 me-ses), o Sapo duplicou a velocidade deentrada dos 256 Kb para 2 Mb e ados 2Mb para 4 Mb.

No caso da velocidade de 2 Mb, o

SAPO duplica velocidadee faz descontos

tarifário terá um desconto de 5 euros(para 14,99 euros), por 3 meses, en-quanto o preço dos 4 Mb vai baixar 5euros (para 19,90 euros), por 12 me-ses.

Na oferta de 24 Mb, a velocidademantém-se inalterada, mas o preçoterá também um desconto promocio-nal de 10 euros (para 44,50), durante12 meses.

Apesar da redução de preços serválida apenas paras as novas adesões,a migração dos actuais clientes paraas novas velocidades será automáti-ca, precisou a fonte.

A TV Cabo, empresa da PT Multi-média que deixou de pertencer ao uni-verso PT no início de Fevereiro, anun-ciou o ‘upgrade’ das velocidades deacesso da Netcabo, com destaquepara a passagem dos 24 Mb para 30Mb (a velocidade mais rápida do mer-cado).

No final do terceiro trimestre, a PTComunicações tinha cerca de 43,9 porcento do mercado de banda larga (aces-so fixo), enquanto a quota da TV Caboaproximava-se dos 25 por cento.

O grupo inglês Radiohead, que de-cidiu dispensar editoras discográficas,assinou um contrato com a Applepara comercializar o seu novo álbumno sítio iTunes.

“In Rainbows”, o último disco dogrupo, pode ser descarregado da lojade música on-line por 13,40 euros naversão britânica do iTunes.

Os Radiohead decidiram, em Ou-tubro, após o seu contrato com a EMIter expirado, dispensar qualquer edi-tora discográfica e colocar, no seu sí-tio, o novo álbum cujo download po-dia ser efectuado por um preço fixa-do livremente pelos fãs.

O grupo acordou com a Apple que

Último álbum dos Radiohead disponível no iTunesas músicas estariam disponíveis paradownload sem restrições de copyright,podendo assim ser reproduzidas atra-vés de qualquer tipo de aparelho nu-mérico, e livremente partilhadas narede, segundo o jornal britânico “TheTimes”.

De acordo com o jornal, o conflitoentre os Radiohead e a discográficaEMI deveu-se ao facto desta últimanão pagar ao grupo os dividendos dedownloads das suas músicas.

Os Radiohead não revelaram o lu-cro que obtiveram através da vendalivre do seu último álbum.

Referiram, contudo, que 15 dos seusfãs pagaram o preço máximo de cer-

ca de 134 euros.O grupo recusou comentar as in-

formações segundo as quais os inter-nautas teriam feito o download do ál-bum por um preço médio de cincoeuros.

“Em termos de lucros numéricos, fi-zemos mais dinheiro com este discodo que com todos os outros álbuns dosRadiohead”, declarou o cantor do gru-po Thom Yorke, citado pelo jornal“The Times”.

No seu sítio oficial, o grupo nega,no entanto, que a ruptura com a dis-cográfica tenha sido motivada pelafalta de ganhos.

Quem ficou a ganhar foram os fãs.Os “Radiohead” na linha da frentedo contacto com os internautas

Quanto ao total de possíveis uti-lizadores de serviços UMTS ou ter-ceira geração móvel (como a víde-ochamada ou transmissão de da-dos), ascendiam a 2,671 milhões,segundo os dados divulgados pelaAnacom.

Ainda assim, destes, apenas 592mil (ou cerca de 22 por cento dototal) utilizaram os referidos servi-ços, o que representa um cresci-mento de apenas 12 por cento faceaos três meses anteriores.

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23DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008 INTERNET

IDEIAS DIGITAIS

Inês AmaralDocente do Instituto Superior Miguel Torga

YELLOW ICON

ELEVATOR 53

BODOCUSSTART A RESOLUTION

ANO DO PLANETA TERRA MEBEAM

As videoconferências não são uma novidade, masainda não são uma forma de comunicação generaliza-da na Internet. Muito devido à falta de infra-estruturase à dificuldade de utilização dos serviços já existentes.

O site MeBeam disponibiliza um serviço gratuitoque tenta inverter esta tendência. As funcionalidadesoferecidas são muito interessantes, acumulando aindaa grande vantagem da facilidade de utilização. Segu-rança e privacidade são também palavras de ordemdeste serviço. Para utilizações profissionais ou pesso-ais, com frequência ou de emergência, vale a pena uti-lizar o MeBeam. Quem já utilizou um serviço de vide-oconferência vai ficar espantado com as funcionalida-des, quem nunca experimentou pode começar a substi-tuir os serviços habituais. No entanto, importa relem-brar que a videoconferência é gratuita, mas gasta trá-fego do serviço de ligação à Internet do utilizador.

MEBEAMendereço: http://www.mebeam.com/categoria: serviços

O site Yellow Icon ajuda-nos a mudar o “rosto” donosso desktop. Trata-se de uma empresa que prestaserviços gráficos e que disponibiliza gratuitamente ima-gens que podem servir de wallpaper aos computado-res pessoais dos utilizadores do site. Basta aceder àárea de downloads, através do menú superior do site.

Os interfaces gráficos apresentados são muito inte-ressantes e existem para todos os gostos: dos mais in-fantis aos mais femininos, dos temáticos aos que pas-sam uma mensagem, não esquecendo os comerciaisque destacam produtos informáticos. Porque uma ima-gem vale mesmo mais que mil palavras, vale a penavisitar este site e descarregar uma imagem de marcapara o seu desktop.

YELLOW ICONendereço: http://yellowicon.comcategoria: imagem

Este site disponibiliza uma vasta gama de sons emúsicas royalty free. Um óptimo recurso, suportadopelo st11studios, que tem também outra grande vanta-gem: a de permitir a sincronização fácil com outroselementos dinâmicos, pelo que a integração de sonsdeste site em projectos multimédia é fácil.

Há uma taxa única que permite que os recursos pos-sam ser usados de forma ilimitada. Ainda assim, con-vém ler as regras definidas para cada um do suportesde difusão de informação. Indispensável para produto-res de conteúdos.

ELEVATOR 53endereço: http://www.elevator53.net/categoria: música

Porque 2008 está a começar, vale a pena traçarmetas para atingir ao longo do ano. O site Start aResolution ajuda os utilizadores a manterem o em-penho para cumprirem os objectivos que se propu-seram, através de várias estratégias.

Para quem normalmente faz resoluções de anonovo que não consegue cumprir, vale a pena umavisita. Para quem não faz, o conselho é idêntico.Porque tentar não custa nada e porque o esquemaé inovador: um círculo de utilizadores que se apoi-am mutuamente. Novidade? Não. Mas é inovadorpor ser na web. E, aparentemente, funcionar. A jul-gar pelos testemunhos.

START A RESOLUTIONendereço: http://www.mude.ptcategoria: utilidades

Apesar do Ano do Planeta Terra ser um triénio(2007/2009), 2008 constitui o ano central da cele-bração. Em destaque estão três tópicos: dar enfo-que à sustentabilidade, utilização de recursos e pla-neamento da redução de riscos.

A iniciativa, que foi designada pela ONU e é pro-movida pela UNESCO, tem um interessante siteonde todos, enquanto cidadãos do mundo, podemosrecolher informação sobre como contribuir para ummundo melhor. Ao mesmo tempo, promove-se umautilização do conhecimento científico por parte dasociedade. Com vista a um planeta Terra mais ver-de e com mais saúde. Por todos. Para todos.

ANO DO PLANETA TERRAendereço: http://www.yearofplanetearth.org/categoria: ambiente

O título Bodocus é uma abreviatura de Best On-line Documentaries. Este site é um agregador dedocumentários alojados no Google Video. A quali-dade de imagem não é a melhor, mas vale a penavisitar pelo mecanismo de pesquisa, que permiteencontrar conteúdos a que possivelmente antes nãoteríamos acesso.

Neste momento, o site agrega mais de 660 víde-os. Há documentários classificados em variadíssi-mas áreas: da antropologia ao ambiente, da políticaà saúde, passando pela história. Há também docu-mentários quenão estão em inglês e, por isso mes-mo, foram classificados com a terminologia “fo-reign”.

BODOCUSendereço: http://www.bodocus.com/categoria: vídeo

Page 24: O Centro - n.º 42 – 16.01.2008

24 DE 16 A 29 DE JANEIRO DE 2008TELEVISÃO

PÚBLICA FRACÇÃO

Francisco [email protected]

ANO NOVO,TELEVISÃO VELHA?

Se eu pudesse advinhar o que vai acon-tecer na televisão portuguesa em 2008, se-ria logo convidado, pelo menos, para con-sultor de algum director de programação.Mas aquilo que antevejo, qualquer especta-dor mais atento também o fará.

E as minhas previsões só não são tão in-falíveis como as da astróloga Maya (tam-bém ela um subproduto televisivo), porqueem vez de ler os astros, leio as declaraçõesdos directores de programas. No momentoem que escrevo não sei quem irá ocupar olugar na RTP. Os outros, conheço-os todos.

Da TVI nada, mas absolutamente nadade novo será de esperar. Os formatos daTVI seguirão o seu caminho sem qualqueralteração enquanto a fórmula lhe der a lide-rança nas audiências. Isto significa que te-remos mais novelas portuguesas acéfalas,para as diversas faixas etárias, e se acaba-

rem os Morangos outra fruta se seguirá.Juntem-lhe o Goucha (ou sucedâneo) queaconchega tão bem uma casa, mais uns pro-dutos resultantes da mistura de concursocom reality-show e gritos de Júlia Pinheiro.Filmes, muitos filmes, de preferência cheiosde efeitos especiais e todos, mas todos, bemrepresentativos do mainstream norte-ame-ricano. Na Informação, o registo habitual.Quero dizer, o tabloidismo e a pseudo infor-mação de proximidade. Nada de debates emuito tempo dedicado ao futebol.

Na SIC, aparentemente, o futuro é umaincógnita. O recente regresso de Nuno San-tos à estação de Carnaxide pode criar algu-ma expectativa, mas se estivermos atentosao nosso panorama televisivo, logo chega-remos à conclusão de que nada se perde etudo se transforma.

Este é um caso absolutamente obtuso quea Televisão pública não acautelou devida-mente. É inacreditável como é que um di-rector de programas pago pelos dinheirospúblicos, possa, num estalar de dedos, saltarda empresa pública para uma privada tendocomo objectivo óbvio combater precisamen-te a RTP. Quem melhor o poderia fazer?Nuno Santos sabe perfeitamente o que ládeixou, as virtudes e as debilidades da casa.

Não é a TVI que Nuno Santos vai ata-car em primeiro lugar. A SIC, para já, temque conter o crescimento da RTP. Em pou-cos dias já lhe levou um dos seus maioresfactores de rendimento – os Gatos Fedo-rentos.

Aliás, os Gatos Fedorentos estão “con-denados” a que os responsáveis das esta-ções por onde têm andado não lhes dêem oreal valor. Tinha acontecido assim com aSIC, para onde regressam agora pela portagrande, e foi assim com a RTP que recusouas condições pedidas pelos Gatos. É umnegócio um pouco duvidoso, atendendo aque Nuno Santos foi apanhado em viagemda Marechal Gomes da Costa para Carna-xide, mas pode vir a ser um grande trunfopara a SIC. Pode... não quer dizer que oseja. Herman também fez o mesmo per-curso e acabou perdido, sabe-se lá se parasempre.

A RTP-2 não dá sinais de sair daqueleequilíbrio obsessivo. Tenta conjugar algunsmomentos de grande interesse, que, não seipor quê, se convencionou dizer que não ca-bem nos outros canais, com infindáveis sé-ries norte-americanas, algumas falsamentede “culto”, que ocupam o horário nobre danoite dando um notório sinal de que tam-bém por ali há uma enorme preocupaçãocom os níveis de audiência. A RTP-2 podiae devia arriscar muito mais.

A RTP-2 tem, no entanto e felizmente, amelhor programação para as crianças, comlargas horas que lhe são dedicadas. As pre-ocupações com a qualidade dos programasinfantis é louvável e só se lamenta que este-ja quase ausente das emissões do fim-de-semana.

ANO NOVO, CABO NOVO ?

Na televisão por cabo anunciam-se al-gumas novidades que poderão contribuirpara alguma animação. Depois da posturada RTP-N que se assumiu como concor-rente da SIC-Notícias, fala-se agora de umoutro canal de notícias a surgir lá para oVerão e que será um novo canal do univer-so da TVI..

A SIC-Notícias passou a ter como direc-tor António José Teixeira. O ex-subdirectorda TSF, ex-director do Diário de Notícias ecomentador da própria SIC-Notícias, podeter pela frente um ano complicado, mas a

mais do que confortável posição de domínioque aquele canal da SIC já possui há váriosanos, pode garantir-lhe um meio próprio quenão encontrou no DN.

Quanto ao resto, a oferta das diversasoperadoras de cabo nacionais não parecedar sinais de grandes inovações. E, no en-tanto, havia tanto a fazer. As empresas pre-ferem comprar os direito de retransmissãode canais já existentes. Faltam conteúdosem português. E não me refiro aos canaisdobrados em português ou aos brasileiros.

ANO NOVO,TELEVISÃO DIGITAL ?

Finalmente, a televisão digital terrestre.O governo anunciou a abertura do concur-so para a atribuição de um novo canal ge-neralista a emitir através da nova platafor-ma digital. As empresas já estabelecidas vi-

eram de imediato dizer que não existe mer-cado publicitário que possa suportar maisum canal. Mas será esse o problema ? Ouserá antes o receio do esforço que terão de

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Experimentea nova Carta

do chef Lagoa

fazer para lhe resistir? É curiosa esta toma-da de posição. Sempre gente tão defensorada economia de mercado, dando voz e am-pliando através das suas próprias emissõese dos seus comentadores de economia, a féabsoluta na concorrência, quando expostosperante o facto... recuam!

O próprio governo já deu sinais de nãoquerer levantar grandes ondas com o con-curso. Se assim não fosse não estaria a ten-tar que a Cofina e Joaquim Oliveira se en-tendam para apresentarem proposta con-junta.

Para concluir, deixo-vos uma citaçãomuito curiosa do brasileiro Gabriel Priollique, a propósito do ano novo, escreveu noObservatório da Imprensa: “Porque o pú-blico, em tempos de mídias interativas, nãofica mais sentado no poltronão, amuando-se de tédio. Corre ao YouTube, ao Joost, eencontra a variedade que deseja. E tirá-loda frente do computador, de volta ao tele-visor, não é tarefa das mais fáceis. A tele-visão, então, que reflita urgentemente so-bre o que oferece em seu próprio tubo. Paranão entrar, ainda mais, pelo cano.” (sic)