O CARICOM E AS RELAÇÕES COM O BRASIL
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A CARICOM E AS RELAÇÕES COM O BRASIL
Arthur Coelho de Oliveira Neto
Guilherme Engler Nogueira
José Erigutemberg Meneses de Lima
Murilo Jacomel
RESUMO
O estudo dos pequenos blocos econômicos a exemplo da CARICOM tem sido
historicamente negligenciado pelos estudiosos brasileiros, que preferem apontar suas
lunetas em direção aos ofuscantes astros da UE, NAFTA ou mesmo MERCOSUL. Este
artigo, elaborado para constituir uma das notas da disciplina Direito Internacional da
FURB, tenta proporcionar uma visão geral dos aspectos históricos, diplomáticos,
econômicos e políticos deste bloco econômico, bem como suas relações com o Brasil e
as perspectivas futura destas relações.
Palavras-chave: Blocos Econômicos. Caribe. CARICOM. Relações Internacionais
Brasileiras.
1. INTRODUÇÃO
Atualmente o termo globalização já se incorporou de tal modo no léxico e no dia
a dia das pessoas que já não se questiona mais sobre o que conceitualmente representa e
qual a importância que a regionalização e blocos regionais têm dentro da aldeia global
onde tudo está junto e misturado.
O mundo dividido em blocos geopolíticos como hoje se conhece surgiu na
Europa dos primeiros anos do pós-II Guerra. Rússia e Estados Unidos, vencidas as
nações do eixo, a partir de então, engalfinharam-se ideologicamente disputando a
supremacia mundial, cooptando players para atuarem em jogo sem regras, sem
arbitragem e cujo placar oscilava a favor de quem em dado momento dispusesse do
maior cabedal de informação e de armamento atômico.
Como a arte às vezes trama a realidade antes da própria vida, as consequências
da divisão do mundo foram captadas pelas antenas de escritores engajados como George
Orwell que em obra paradigmática, intitulada 1984, dividiu o mundo em três
superpotências a viverem de brigas e alianças entre si e cujo controle social é exercido
pelo Partido e pelo líder Grande Irmão. Que tal se imaginar China, Rússia e Estados
Unidos representando Eurásia, Lestásia e Oceania, estados fortes idealizados pelo
escritor e jornalista inglês?
O livro escrito no ano de 1949 e cujas ideias se tornaram proféticas antecipando
as intenções das sociedades totalitárias de diferentes matizes políticas (socialistas ou
não) e que universalizou o termo Big Brother como sinônimo de vigilância absoluta e
controle do pensamento, entre nós caiu no ridículo de denominar um programa de
televisão que imbeciliza a população deixando-a inerte ante a vigilância e
patrulhamento vinte e quatro horas por dia pelas “teletelas” que a sitiam em um mundo
de progressivo aniquilamento da memória e da individualidade.
Neste contexto, concebe-se por que o Brasil, potência econômica que ainda não
consegue impor sua força política perante os grandes irmãos americanos, chineses,
russos e europeus,somente percebe dentre os diversos blocos ou agrupamentos de
países, a União Europeia, o NAFTA, o MERCOSUL.
CARICON? Essas coisas de Caribe só em passant aparecem na telinha e
invadem o imaginário popular, quando Usain St. Leo Bolt, atleta jamaicano recordista
mundial dos 100 metros rasos, marcando 9,72 segundos nos cem metros rasos, atropela
os competidores nas pistas de corrida. Tão logo o atleta desapareça do visor, o ignorante
em cultura caribenha associa todos os países a pessoas negras e pobres que passam os
dias, fumando maconha e balançando as ancas sensuais ao som do reagge.
Este breve estudo tem o propósito de analisar o Caribe pela feição de bloco
econômico, abordando aspectos históricos e as relações políticas e econômicas travadas
com o Brasil. O inicio dar-se-á pela conceituação e breves apontamentos históricos dos
blocos econômicos.
2. BLOCOS ECONÔMICOS
2.1. Conceito e breves apontamentos históricos
Blocos econômicos são alianças estabelecidas por países, geralmente de uma
mesma região geográfica (devido acostumes e origens comuns), para favorecer o
fortalecimento de suas economias, estabelecendo relações comerciais privilegiadas.
O primeiro bloco econômico nasceu em 1956 com a criação da CECA
(Comunidade Europeia do Carvão e do Aço), na Europa. Esse grupo foi formado
inicialmente pela Bélgica, Alemanha Ocidental, Holanda, Itália, Luxemburgo e França.
Depois desse grupo, principalmente depois da Guerra Fria, mais e mais Blocos
Econômicos foram se formando. Em 1957 surge a Comunidade Econômica Europeia
(CEE), atual União Europeia (UE).
Mas a tendência de regionalização da economia só se fortalece nos anos 90, com
o fim da Guerra Fria. Na América se destacam o NAFTA, o MERCOSUL e, em menor
grau, o Pacto Andino e a CARICOM; na Europa, a UE e a Comunidade dos Estados
Independentes (CEI); na África há o SADC; na Ásia, o ASEAN. Também há o bloco
transcontinental APEC, criado em 1993 na Conferência de Seattle (Estados Unidos da
América) que reúne países da América e da Ásia. Continuam as negociações para a
formação de um bloco abrangendo toda a América, o ALCA. O projeto de formação
desse bloco econômico está parado desde novembro de 2005, quando ocorreu a última
Cúpula das Américas.
São definidos quatro estágios ou tipos de blocos econômicos. O primeiro seria a
determinação de uma área de livre comércio, que significa que produtos produzidos por
um país podem entrar em países que têm esse acordo de livre comércio com ele, isento
de taxas e burocracias tradicionais de uma importação normal. Numa segunda fase, de
interesses mais amplos, a união aduaneira apresenta a implementação de condutas de
comercio, além de regras para comércios com países que não fazem parte dessa união.
A terceira parte é a criação de um mercado comum, que implica numa
integração maior entre as economias e regras de comércio interno e externo, além de
englobar a passagem de mercadorias, pessoas e capital entre esses países de forma livre.
O estágio máximo de ligação é de união econômica e monetária, que é um
mercado comunitário, mas com o diferencial de ter uma moeda comum em circulação
nos países que compõem esse grupo.
3. CARICOM
A CARICOM (Caribbean Community, i.e., Comunidade Caribenha), antiga
Comunidade e Mercado Comum do Caribe e atual Comunidade do Caribe, é um bloco
de cooperação econômica e política, criado em 1973, como um bloco de cooperação
econômica e política.
Atualmente, os países membros são ex-colônias europeias, que após terem
adquirido a independência viram a necessidade de uma união entre si para superar
problemas econômicos e sociais. Antígua e Barbuda, Bahamas, Barbados, Belize,
Dominica, Granada, Guiana, Haiti, Jamaica, Montserrat, Santa Lúcia, São Cristóvão e
Neves, São Vicente e Granadinas, Suriname e Trinidad e Tobago são países membros.
Cuba, em 1998, foi aceita no grupo como país observador.
3.1 Retrospecto histórico
As dificuldades por que passaram as pequenas ex-colônias para a criação de um
bloco econômico que estabelecesse regras para o desenvolvimento econômico e social
de suas populações eram crescentes. A localização do Caribe por estratégica favoreceu a
intervenção imperialista de várias potências ao longo da história. Nos século XX, os
Estados Unidos invadiram diversas vezes as nações caribenhas.
Mas apesar dos pesados obstáculos da globalização, leia-se do Grande Irmão
americano, os Estados Unidos e dos interesses das empresas americanas na região,
esforços comuns tornaram realidade a integração dos países caribenhos no mundo
econômico.
O pontapé foi dado em 1965, ano de fundação da Associação de Livre Comércio
do Caribe (CARIFTA – Caribbean Free Trade Association) por países como Antígua e
Barbuda, Barbados, Guiana e Trinidad Tobago.
No ano de 1968, a eles se juntaram Dominica, Granada, São Cristóvão e Neves,
Santa Lúcia, São Vicente e Granadinas, Monserrat e Jamaica. Seis anos depois, em
1971, foi a vez de Belize se associar ao CARIFTA. No ano de 1973, foi assinado o
Tratado de Chaguaramas, por meio do qual os países associados ao CARIFTA
decidiram estabelecer um mercado comum. Até então, havia apenas uma área de livre
comércio entre os países do Caribe. O objetivo passa, a partir daí, a ser também a
promoção da livre circulação de fatores de produção (trabalho e capital). Surge, assim, a
Comunidade do Caribe (CARICOM) como bloco de cooperação econômica e política.
No ano de 1989, com o objetivo de expandir a integração, os Chefes de Governo
decidiram transformar o mercado comum em um mercado único. Para estabelecer o
mercado único, todavia, o Tratado de Chaguaramas precisava ser revisado.
Desde 1997 defendem o tratamento diferenciado para economias pouco
desenvolvidas, incluindo prazos maiores para o cumprimento de futuros acordos de
comércio. Em 1998, Cuba foi admitida como observadora do Caricom. O bloco marca
para 1999 o início do livre comércio entre seus integrantes, mas a decisão não se
efetiva. Em maio e em julho de 2000 a República Dominicana e Cuba, respectivamente,
firmam acordos de livre comércio com o bloco. Na cúpula da Caricom, em julho, fica
estabelecida a criação de uma Corte Caribenha de Justiça e é marcada para dezembro a
finalização da estruturação do livre comércio entre os membros.
Após anos de trabalho, entrou em vigor, em 2001, uma nova versão desse
tratado, denominado, a partir daí, Tratado Revisado de Chaguaramas.
3.2. Objetivos
Este bloco de integração regional visa promover o livre comércio, o livre
movimento do trabalho e do capital, mas além de incentivar a cooperação econômica
entre os membros, a organização participa da coordenação da política externa e
desenvolve projetos comuns nas áreas de saúde, educação e comunicação. Esses
objetivos estão previstos no art. 6º do Tratado Revisado de Chaguaramas.
Com a entrada em vigor do tratado, novos assuntos foram inseridos na agenda de
discussões: e-commerce, compras governamentais, comércio de mercadorias
provenientes de zonas francas, livre circulação de mercadorias e direitos relativos à livre
circulação de pessoas.
A CARICOM encontra-se, atualmente, no estágio de mercado comum.
Entretanto, seu objetivo final (formação de um mercado único) demonstra que almeja
tornar-se uma união econômica, com harmonização de políticas econômicas.
3.3. Economia
Os países da Caricom têm no turismo uma de suas principais fontes de renda,
recebendo cerca de 15 milhões de turistas por ano.
A CARICOM tem uma população de cerca de 16 milhões de habitantes, um PIB
de US$ 30 bilhões, com exportações em torno dos US$ 14 bilhões e importações da
ordem de US$ 16 bilhões. Representa 0,25 % do PIB total dos blocos econômicos que
negociam a formação da ALCA.1
3.4. Estrutura da CARICON
1 Disponível em: http://www.infoescola.com/economia/caricom/. Acesso em 23 de ago. 2013.
A CARICOM tem sua estrutura composta por várias agências, sendo a principal
a Conferência de Chefes de Governo que é responsável por fornecer orientação para a
política a ser desenvolvida pela entidade.
Em ordem de importância, segue o Conselho de Ministros da Comunidade,
agência responsável pelo desenvolvimento do planejamento estratégico e coordenação
da Comunidade, nas áreas de integração econômica, a cooperação funcional e relações
externas.2
Estas entidades têm o apoio da Secretaria da CARICOM, cuja sede está
localizada na Guiana e é a sede administrativa mais importante. Sua missão é manter a
relação entre as agências comunitárias.3
Várias outras entidades colaborar com dois centros. O Conselho de Finanças e
Planejamento (COFAP) estabelece e promove medidas de coordenação e convergência
das políticas macroeconômicas nacionais e implementar uma política unificada de
investimento estrangeiro. Também promove e facilita a adoção de medidas para a
cooperação monetária e fiscal entre os Estados membros, incluindo o estabelecimento
de mecanismos de acordos de pagamento e outras funções.4
O Conselho para o Comércio e Desenvolvimento Econômico (COTED) avalia,
promove e estabelece medidas para melhorar a produção, controle de qualidade e
comercialização de matérias-primas agrícolas e industriais para garantir a sua
competitividade internacional. Também estabelece e promove medidas para acelerar a
diversificação estrutural da produção industrial e agrícola de forma sustentável e
integrado regionalmente. Finalmente, promove e desenvolve as políticas e programas
que facilitem o transporte de pessoas e bens. 5
O Conselho para Relações Exteriores e Comunitárias (COFCOR) é responsável
por determinar a natureza das relações da Comunidade com as organizações
internacionais e de outros estados.6
O Conselho para o Desenvolvimento Humano e Social (COHSOD) é
responsável pelo fortalecimento do desenvolvimento humano e social na Comunidade.
Neste contexto, promove a melhoria da saúde, incluindo o desenvolvimento e
funcionamento dos serviços de saúde eficientes e acessíveis para a comunidade,
2 Ver site CARICOM, disponível em www.caricom.org3 CEJA Relatório sobre a Justiça nas Américas 2006-2007.4 Tratado Revisto, o artigo 14.5 Tratado Revisto, o artigo 15.6 Tratado Revisto, o artigo 16 10.
promove o desenvolvimento da educação, e promove e desenvolve as políticas e
programas destinados a melhorar a vida e de trabalho população.7
A estrutura da CARICOM tem várias entidades internas. Estes incluem o Comitê
de Assuntos Jurídicos, que fornece tratados de assistência, as questões de direito
internacional, a unificação das leis do Estado, e outros materiais, a Comissão de
Orçamento, que analisa o projeto de orçamento e o programa de trabalho da
Comunidade elaborado pela Secretaria e apresentou as suas recomendações ao Conselho
da Comunidade, e do Comité dos Governadores dos Bancos Centrais, que faz
recomendações à Cofap cooperação em questões relacionadas a acordos de pagamento
monetários, a livre circulação de integração do mercado de capitais de capital, questões
monetárias, e qualquer outra questão que é referido pelos órgãos comunitários.8
Finalmente, o Tratado estabeleceu várias instituições, incluindo a Assembleia
Parlamentar da Comunidade do Caribe (ACCP), Instituto de Investigação Agrária e do
Instituto para o Desenvolvimento (CARDI), Sistema de Segurança de Aviação e
Segurança Supervisão Caribe (Cassos), Centro Administração de Desenvolvimento do
Caribe (CARICAD), Climate Change Comunidade do Caribe Center (CCCCC),
organismo responsável pela execução de Criminalidade e Segurança (IMPACS
CARICOM) Caribbean Tribunal de Justiça (CCJ), da Agência de Gestão Emergência de
Desastres do Caribe (CDEMA), Instituto Caribenho de Saúde Ambiental (CEHI),
Conselho Caribenho de Exames (CXC), Food Corporation Caribe (CFC), Food and
Nutrition Institute (CFNI), Instituto Caribe Meteorologia (CMI), a Organização
Meteorológica Caribe (CMO), da Organização das Caraíbas Administradores Fiscais
(COTA), Mecanismo Regional das Pescas (CRFM), Organização Regional do Caribe
para a Normalização e Qualidade (CROSQ), a União Caribe Telecomunicações (CTU),
Comissão de Concorrência da CARICOM, e do Conselho de Ensino Jurídico (CLE).
As instituições parceiras são a Caribbean Development Bank (CDB), o Instituto
de Direito do Caribe / Instituto do Caribe de Direito (CLI / CLIC), Organização dos
Estados do Caribe Oriental (OECO), University of Guyana (UG) e University of the
West Indies (UWI).9
3. DO RELACIONAMENTO DO BRASIL COM A CARICOM
7 Tratado Revisto, o artigo 17.8 Tratado Revisto, o artigo 11.9 Ver site CARICOM, disponível em www.caricom.org
Até 1992, o Brasil era ainda razoavelmente fechado para mercados externos, de modo
que não era apenas com a CARICOM que o país mantinha baixíssimo relacionamento comercial
Contudo, não se pode negar que a dimensão de conflito ideológico é fator a não ser
desprezado ao se efetuar qualquer análise do relacionamento entre o Brasil e os países
da CARICOM.
A fragilidade das relações comerciais e políticas havidas com os países da região
caribenha tinha por causa,principalmente, o temor dos militares brasileiros de
desagradar os Estados Unidos, país em permanente vigilância na região. Isso mesmo
que as diferenças culturais e de formação das nações em muito pouco se diferenciassem.
A Revolução Cubana em 1959 e o rompimento diplomático de Fidel Castro com os
Estados Unidos e o alinhamento da ilha com o regime soviético, fizeram com que a região
caribenha passasse a ser vista pelos militares brasileiros como foco de guerrilhas e pontos de
treinamento para pessoas interessadas nas revoluções populares.
O receio norte-americano de que Cuba servisse como exemplo para os outros
países da região fez com que a importância geopolítica do Caribe passasse a ser
estratégica, justificando o apoio às revoluções e o afastamento dos países do
Caribe.Somente com o fim dos governos militares em 1985, a região foi olhada com
outros olhos. Sem dúvida, desde 1991, o país tem olhado para o sul, vislumbrando como
parceiros comerciais.
Em 1997, durante a VIII Reunião da Conferência dos Chefes de Governo da
CARICOM, realizada em Antígua e Barbuda em 1997, o Ministro das Relações
Exteriores do Uruguai, Sr. Álvaro Ramos Trigo, comentou sobre o diminuto
relacionamento existente entre a CARICOM e o MERCOSUL, bem como entre os
países pertencentes aos blocos em um nível bilateral. Tem-se esse pronunciamento
como o inicio de longa caminhada para reverter essa situação estaria na celebração de
acordos entre os dois blocos, da mesma forma que já tem sido firmados com outros
países e blocos.
3.1. Representações Diplomáticas
No que diz respeito à representação diplomática na região, a situação é que dos
quinze países pertencentes à CARICOM, o Brasil possui embaixadas localizadas em
seis deles: Trinidad e Tobago (também Embaixada Cumulativa de Dominica); Haiti;
Barbados (Cumulativa de São Cristóvão e Névis); Jamaica (Cumulativa das Bahamas);
Guiana (Cumulativa de Granada e São Vicente e Grenadinas); Suriname (Cumulativa de
Santa Lúcia).
Os outros países membros da CARICOM possuem as Embaixadas Cumulativas
em países não-membros da CARICOM, como é o caso de Belize, cuja “embaixada”
brasileira está no México, Antígua e Barbuda em Cuba, e Montserrat, que por não ser
independente, tem sua “representação” na embaixada brasileira em Londres. Um detalhe
interessante é que tanto a Guiana quanto o Suriname estão separados em Departamentos
diferentes dos outros países da CARICOM por fazerem fronteira com o Brasil. Isso
pode levar a um entendimento de como o Brasil vê esses países: não no Caribe, mas sim
na América do Sul.
Encontram-se em Brasília embaixadas de Trinidad e Tobago, Guiana, Suriname
e Haiti. A prática de reciprocidade é bastante comum em diplomacia, no entanto, como
se vê, o Brasil possui mais embaixadas entre os países da CARICOM do que
embaixadas destes países em Brasília. Uma razão provável para tal situação é o custo
relativamente mais alto da instalação de uma representação permanente para os países
da CARICOM do que para o Brasil, dada a dimensão econômica brasileira, mesmo que
se considere os recentes cortes no orçamento do Ministério das Relações Exteriores.
4. REUNIÃO DE CÚPULA BRASIL-CARICOM – Declaração de Brasília 26 de abril
de 2010
Em que pesem as relações diplomáticas, somente em 2010, com o encontro entre
os Chefes de Estado e de Governo do Brasil e dos Países da Comunidade do Caribe em
Brasília, no dia 26 de abril de 2010, na Primeira Cúpula Brasil – CARICOM
estabeleceu-se a iniciativa de cooperação entre o Brasil e os países da CARICOM, a fim
de reforçar os laços históricos e culturais que os unem e traçar as linhas de um futuro
comum.
A Cúpula reiterou o compromisso com a integração latino-americana e
caribenha e com o fortalecimento de sociedades justas e democráticas, fundadas na paz
e na cooperação, na luta contra a pobreza, contra as desigualdades e toda espécie de
discriminação, no multilateralismo e no desenvolvimento sustentável em um mundo
sem guerras e livre de armas nucleares.
Os Chefes de Estado e de Governo reconheceram que as atuais estruturas
financeiras internacionais não correspondem às necessidades peculiares aos pequenos
países de renda média altamente endividados da CARICOM. Nesse sentido, os Chefes
de Estado e de Governo da CARICOM saudaram o compromisso do Presidente do
Brasil de levar às deliberações da próxima reunião do G-20 no Canadá, em junho
próximo, as preocupações e posições da CARICOM a esse respeito.
A Cúpula concordou, ademais, em continuar os esforços em favor de uma
reforma das Nações Unidas e do Conselho de Segurança que reflita as realidades e
necessidades do mundo contemporâneo, especialmente no que se refere a uma maior
representatividade dos países em desenvolvimento nos processos de decisão dos
organismos multilaterais. Com este espírito, os Chefes de Estado e de Governo
acordaram favorecer o apoio mútuo a suas candidaturas naqueles organismos.
Os Chefes de Estado e de Governo reconheceram que a catástrofe que atingiu o
Haiti em 12 de janeiro de 2010 faz com que na ajuda àquele país se deva concentrar a
parte mais importante do auxílio humanitário no Caribe. A esse respeito, determinam,
também, a urgência na implementação de projetos de cooperação visando a recuperação
econômica, social, de infra-estrutura e institucional do país. O Brasil, para tanto, tem
destinado o maior montante jamais utilizado para ações dessa natureza e, com a
CARICOM, buscará implantar projetos conjuntos em favor do desenvolvimento do
Haiti.
4.1. Brasil e o Caribe: Perspectivas
As inversões brasileiras na região do Caribe são recentes, mas o interesse é cada
vez maior, devido à importância estratégica da região e à oportunidade de tirar
vantagem dos acordos de livre comércio que estabeleceu com os mercados norte-
americano e europeu.
Nesse sentido, o governo brasileiro criou, no ano 2005, o Programa de Incentivo
no Investimento Brasileiro na América Central e o Caribe (PIBAC), existindo
numerosos exemplos de empresas investidoras na região do Caribe.
A agenda nos próximos anos será altamente econômico-comercial, aumentando
o nível de intercambio, e assegurando um melhor equilíbrio para as nações do Caribe. O
Brasil aprofundará suas relações com os países da região, especialmente Haiti através da
MINUSTAH, e Cuba pela solidariedade e o rechaço ao embargo norte-americano nessa
ilha, além das afinidades histórico-políticas com a liderança atual brasileira.
A cooperação técnica continuará nos países da região, em distintas áreas e
aspetos, sobre todo na promoção dos biocombustíveis, agronegócio, meio ambiente, e
projetos sociais.
Finalmente, o Brasil participa como observador na AEC (Associação de Estados
do Caribe) e na CARICON e tem realizado esforços para criar uma área de livre
comércio MERCOSUL-CARICON. Cabe lembrar que a AEC foi formada para
promover a cooperação entre todos os países do Caribe, com 25 Estados-membros e três
membros associados.
O caso haitiano é especial, não só pela ajuda humanitária fornecida pelo Brasil e
pela importante presença de efetivo militar brasileiro dentro da MINUSTAH (Missão
das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), mas também pela participação
consistente na reconstrução daquele país após o terremoto sofrido em janeiro do ano
2010, causando centenas de milhares de mortes e graves danos na infra-estrutura do
país.
No que concerne à cooperação técnica, entidades EMBRAPA (Empresa
Brasileira de Pesquisas Agropecuárias), o IBAMA (Instituto Brasileiro de Meio
Ambiente), Faculdades e institutos de pesquisas, ONG (Organizações Não
Governamentais) fazem um papel importante na cooperação brasileira nos países
caribenhos.
Os programas consistem em bolsas para pós-graduação, nas áreas de medicina,
agropecuária, aeronáutica, meio ambiente, desenvolvimento industrial, saúde e
saneamento, ciência e tecnologia, administração pública, biocombustíveis,
biotecnologia e outros.
Apesar do ritmo lento da incursão brasileira na região caribenha, as perspectivas
provocam certo otimismo e certa esperança de que as estratégias dos países caribenhos
permitam reduzir o desequilíbrio comercial entre essa região e o Brasil. Os países
caribenhos estão paulatinamente dando os passos corretos para equilibrar o balanço
comercial, promovendo as exportações, as construções através de obras de infra-
estrutura, as inversões brasileiras e o turismo. É indispensável manter esta mesma linha,
com decisões firmes, mas flexíveis, e sempre observando o principio de reciprocidade e
promovendo o benefício mútuo para ambas as partes.
4. CONCLUSÃO
Do que acima ficou exposto pode se concluir que no mundo globalizado mesmo
as pequenas nações de economias fragilizadas não podem ficar relegadas ao papel de
dependências dos blocos econômicos formados pelas grandes potências.
As nações que formam a CARICON, mesmo submetidas ao controle dos olhos
que tudo vê do Big Brother - Grande irmão norte-americano refutam a
novilíngua/novafala e buscam sair das arquibancadas para, uniformizadas com a
prosperidade e a inclusão, participarem do jogo capitalista no estádio da globalização.
Com a globalização da economia mundial, a formação de blocos econômicos,
seja de países grandes ou pequenos é inevitável para as economias dos países e do
mundo como um todo.
A reunião dos países em blocos proporciona redução nas tarifas alfandegárias,
facilitam a circulação de mercadorias e pessoas, alem de propiciar o desenvolvimento
de infraestrutura nos países participantes.
Os economistas preconizam que no futuro as relações comerciais não mais
acontecerão entre países, mas sim entre blocos econômicos. Ficar fora desta tendência
não será a via mais inteligente para países que pretendem o crescimento industrial,
melhorias sociais e aumento do nível de empregos. É com esta percepção que o Brasil
se aproxima dos países caribenhos, vindo paulatinamente quebrando a resistência dos
grandes players americanos, chineses, russos e europeus, tentando projetar-se como
autor da junção dos blocos MERCOSUL-CARICOM.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CEJA Relatório sobre a Justiça nas Américas 2006-2007
FARIAS, Déborah Barros Leal. O Brasil e a CARICOM. Rev. bras. Polit. int. , Brasília,
v 43, n. 1, junho de 2000. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?
script=sci_arttext&pid=S0034-73292000000100003&lng=en&nrm=iso>. acesso em 25
de agosto de 2013.
BANCO DO BRASIL. Revista Comércio Exterior Informe BB nº 45.
CARICOM. Site oficial disponível em: http://www.caricom.org/. Acesso em:
03.09.2013.