O bibliotecário e a editoração de periódicos científicos: fazeres e competências
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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES
DEPARTAMENTO DE BIBLIOTECONOMIA E DOCUMENTAÇÃO
São Paulo 2015
SOLANGE ALVES SANTANA
O bibliotecário e a editoração de periódicos cientí ficos: fazeres e competências
São Paulo 2015
SOLANGE ALVES SANTANA
O bibliotecário e a editoração de periódicos cientí ficos: fazeres e competências
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como requisito para a obtenção de título de Bacharel em Biblioteconomia.
Orientador: Prof. Dr. Marivalde Moacir Francelin
Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
FOLHA DE APROVAÇÃO
Nome: SANTANA, Solange Alves Título: O bibliotecário e a editoração de periódicos científicos: fazeres e
competências
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo como requisito para a obtenção de título de Bacharel em Biblioteconomia.
Aprovado em: 02/07/2015.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Prof. Dr. Marivalde Moacir Francelin (Orientador)
Escola de Comunicações e Artes - Universidade de São Paulo
________________________________________
Profa. Dra. Giovana Deliberali Maimone
Escola de Comunicações e Artes - Universidade de São Paulo
________________________________________
Prof. Dr. Marcelo dos Santos
Escola de Comunicações e Artes - Universidade de São Paulo
À minha mãe, Dona Socorro, que me ensinou as primeiras letras e, com muito amor e dedicação, sempre lutou e prezou pela minha educação.
Ao meu pai, Joaquim, pelos ensinamentos.
Aos meus irmãos, Simone, Cristiane e Ordilei, pelo companheirismo e apoio.
Aos meus sobrinhos, Luiz Eduardo, Isabela e Daniel, pela inspiração.
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Marivalde Moacir Francelin pela orientação, apoio e atenção conferidos a esse estudo. Aos membros da banca examinadora, Profa. Dra. Giovana Deliberali Maimone e Prof. Dr. Marcelo dos Santos, pelas leituras atentas. À Profa. Dra. Nair Yumiko Kobashi pelos ensinamentos e pelo exemplo. A todos os docentes do Departamento de Biblioteconomia e Documentação que contribuíram para minha formação. Aos meus pais por todo o carinho, esforço e dedicação na minha criação e educação. Aos meus irmãos e sobrinhos por me apoiarem em todos os momentos. Ao querido amigo Renato Veras de Paiva que, nas inúmeras conversas e caminhadas, sempre me incentivou ao longo do curso. À querida amiga Djeanne Firmino de Almeida (in memoriam) pelos momentos poéticos vividos em nossa jornada biblioteconômica. Aos amigos e colegas de curso pelos momentos de aprendizado e descontração, bem como pelas poesias e desafios compartilhados ao longo de nossa trajetória. Às amigas Maria Fátima dos Santos e Neusa Kazue Habe pela amizade, carinho e exemplo de dedicação à profissão. À Maria Lúcia Vieira Franco pelos ensinamentos na área de editoração científica. Aos amigos e colegas das Bibliotecas da EEFE-USP e FMVZ-USP pelo incentivo e apoio. E, finalmente, aos editores que gentilmente participaram desse estudo, cedendo sua valiosa contribuição para investigação acerca da atuação do bibliotecário nas equipes editoriais.
“Assim como casas são feitas de pedras, a ciência é feita de fatos.
Mas uma pilha de pedras não é uma casa e uma coleção de fatos não é, necessariamente, ciência.”
Jules Henri Poincare
SANTANA, Solange Alves. O bibliotecário e a editoração de periódicos científicos: fazeres e competências . 2015. 80 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
RESUMO
A editoração científica possui características multidisciplinares e demanda profissionais especializados, dentre eles, o bibliotecário. Diante desse cenário, o presente estudo analisa o contexto de atuação do bibliotecário em equipes de produção editorial de periódicos científicos. Para a realização do estudo foram selecionados 99 periódicos científicos indexados no Portal de Revistas USP. A obtenção dos dados foi realizada por meio de levantamento da composição das equipes editoriais indicada no Portal e sites oficiais dos periódicos, bem como por meio de questionário enviado aos editores responsáveis. Constatou-se que há uma significativa inserção do bibliotecário nas equipes editoriais e que esses profissionais desenvolvem uma gama de atividades de cunho interdisciplinar, relacionada às áreas de Biblioteconomia, Administração, Editoração e Tecnologia da Informação. As principais competências requeridas são: (i) trabalho cooperativo com equipes multidisciplinares; (ii) comunicação/divulgação; (iii) interação com novas tecnologias; e (iv) investimento em outras formas de disponibilização da informação científica periódica. Conclui-se que, frente à necessidade premente de profissionalização das equipes editoriais com vistas a ampliação da visibilidade e inserção internacional dos periódicos, é de fundamental importância a busca de aprendizado contínuo e a atualização constante das práticas e saberes do bibliotecário.
Palavras-chave : Bibliotecário. Competência profissional. Equipe editorial. Editoração científica. Periódico científico.
SANTANA, Solange Alves. The librarian and the scientific journals editing: acting and competences . 2015. 80 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Biblioteconomia) - Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2015.
ABSTRACT
The scientific editing has multidisciplinary characteristics and demands specialized professionals, among them the librarian. In this scenario, the present study analyses the context of the librarian´s performance in editorial production teams of scientific journals. To the realization of the study it had been selected 99 scientific journals indexed in Portal de Revistas USP. The data collection had been realized through the composition requirement of editorial teams indicated in Portal and official websites of the journals, as well as through questionnaire sent to responsible editors. It was found that there is a significant insertion of the librarian in editorial teams and these professionals develop a range of interdisciplinary activities related to Library Science, Administration, Editing and Information Technology areas. The main competences required are: (i) cooperative work with multidisciplinary teams, (ii) communication/dissemination, (iii) interaction with new technologies, and (iv) investments in other way of provision of journal scientific information. In conclusion, facing the need of professionalization of the editorial teams seeking the expansion of visibility and international insertion of journals, it is extremely important the search of continuous learning and actualization of the practices and knowing of the librarian.
Keywords : Librarian. Professional ability. Editorial team. Scientific editing. Scientific journal.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Capas dos periódicos científicos Le Journal des Sçavans e Philosophical Transactions of the Royal Society of London.............
19
Figura 2 - Crescimento de periódicos e publicações de Abstracts no período de 1665 a 2000.................................................................................
21
Figura 3 - Relação entre comissão científica e equipe de produção editorial.. 28
Figura 4 - Fluxo do processo editorial................................................................ 30
Figura 5 - Tela inicial do Portal de Revistas USP.............................................. 40
Figura 6 - Distribuição dos periódicos por área do conhecimento..................... 41
Figura 7 -
Número de periódicos com bibliotecários e total de bibliotecários nas equipes de produção editorial....................................................
43
Figura 8 - Distribuição dos bibliotecários atuantes nas equipes de produção editorial por área do conhecimento...................................................
43
Figura 9 - Distribuição dos bibliotecários por periódico segundo levantamento no Portal de Revistas USP e sites dos periódicos............................
44
Figura 10 - Distribuição dos bibliotecários por periódico segundo editores dos periódicos..........................................................................................
45
Figura 11 - Ocorrências das categorias de atividades e funções desempenhadas pelos bibliotecários identificados nas equipes de produção editorial..............................................................................
46
Figura 12 - Atividades desempenhadas pelos bibliotecários nas equipes editoriais............................................................................................
47
Figura 13 - Comparativo dos dados relativos à indicação de bibliotecários na equipe de produção editorial.............................................................
49
Figura 14 - Interesse dos editores na admissão de bibliotecários....................... 50
Figura 15 -
Esquema da inter-relação das áreas profissionais envolvidas na atuação do bibliotecário em equipes de produção editorial..............
63
LISTA DE QUADROS E TABELAS
Quadro 1 - Principais agentes identificados nas equipes editoriais de periódicos científicos.......................................................................
28
Quadro 2 - Agrupamento das atividades e funções por campo profissional..... 48
Quadro 3 - Comentários realizados pelos respondentes do questionário.........
51
Quadro 4 - Agrupamento das atividades e funções identificadas por campo de atuação profissional....................................................................
60
Quadro 5 - Competências do profissional da informação, suas correspondências no núcleo de competências exigidas pelas organizações e pelas equipes de produção editorial......................
66
Tabela 1 - Distribuição dos periódicos com equipes de produção editorial e bibliotecários indicados no Portal de Revistas USP e sites por área do conhecimento.....................................................................
42
Tabela 2 - Grau de importância atribuído ao trabalho do bibliotecário na equipe editorial................................................................................
50
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..................................................................................................... 13
2 O PERIÓDICO NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFIC A.................. 16
2.1 O periódico científico: breve histórico, características e funções....................... 17
2.2 Panorama atual dos periódicos científicos no Brasil.......................................... 25
3 EQUIPES EDITORIAIS DE PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: ESTRUTURA E FUNÇÕES.........................................................................................................
27
3.1 A profissionalização das equipes editoriais........................................................ 32
4 ATUAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS EM EQUIPES DE PRODUÇÃ O EDITORIAL ..........................................................................................................
35
5 METODOLOGIA.................................................................................................. 38
5.1 Amostra, coleta e tratamento dos dados............................................................ 38
5.2 O Portal de Revistas USP.................................................................................. 39
6 RESULTADOS ..................................................................................................... 41
7 DISCUSSÃO........................................................................................................ 55
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................. 69
REFERÊNCIAS........................................................................................................ 71
APÊNDICES............................................................................................................. 75
PREÂMBULO
- Quanto tempo! O que anda fazendo?
- Estou trabalhando em um periódico científico.
- O que você faz lá? Hum... já sei... Tá fazendo normalização...
- Também...
‘O que você faz lá?’ Provavelmente, essa questão ecoe em diversas áreas de
atuação do bibliotecário. Não é diferente no âmbito da editoração científica.
Por esse motivo, inevitavelmente, essa questão perpasse por todo esse estudo e
acreditemos que a análise se constitua como uma tentativa - contínua - de
responder a essa questão. Talvez. Mas, certamente, se constitui como uma tentativa
de promover reflexões acerca dos espaços, fazeres e possibilidades que se
apresentam ao bibliotecário.
13
1 INTRODUÇÃO
Os espaços de atuação dos bibliotecários se constituem como objeto de
estudo e vem sendo discutidos mais intensamente nos últimos anos, dada a
diversidade e amplitude de possibilidades de atuação encontradas em bibliotecas
(públicas, escolares, universitárias), centros culturais, centros de documentação e
memória, museus, empresas, editoras, entre muitos outros, em que o trato da
informação se faça presente. Dentre esses espaços possíveis, podemos também
considerar o campo da editoração científica.
A editoração científica configura-se como um conjunto de processos e
atividades multidisciplinares no âmbito da comunicação científica, em que
profissionais de diferentes áreas estão envolvidos, entre eles, o bibliotecário. Esse
cenário motivou a realização deste estudo, no qual se busca compreender como se
dá, no contexto atual, a atuação do bibliotecário em equipes editoriais científicas,
mais precisamente, em equipes de produção editorial de periódicos científicos.
Cumpre destacar que o principal objetivo da atividade científica é a produção
do conhecimento e, para tanto, é imprescindível sua difusão entre os pares e à
sociedade para que possam usufruir dos benefícios advindos do conhecimento
gerado. Nesse contexto, o periódico científico se constitui como um dos principais
canais de comunicação formal adotados por pesquisadores para divulgar resultados
de pesquisa gerados nas diferentes áreas do conhecimento.
Inicialmente, ao pensarmos na atuação do bibliotecário em equipes editoriais,
a normalização de documentos é, dentre as atividades possíveis, a mais comumente
relacionada à figura do bibliotecário. No entanto, com as profundas alterações
ocorridas no campo editorial, sobretudo, promovidas pelas novas tecnologias,
ampliaram-se a inserção e escopo de atuação do bibliotecário, dada sua formação
diversificada e multifacetada.
A contribuição do bibliotecário no processo de produção editorial de
periódicos científicos permite tanto a aplicação de conhecimentos específicos da
14
área de Biblioteconomia e Ciência da Informação, bem como de conhecimentos
relacionados a outras áreas profissionais, apresentando uma maior complexidade e,
por conseguinte, exigindo do bibliotecário novas competências e habilidades.
Dada a demanda de profissionais especializados no mercado editorial
científico, o presente estudo justifica sua relevância na análise da atuação do
bibliotecário em equipes editoriais de periódicos científicos frente à necessidade
cada vez mais imperativa de profissionalização das equipes editoriais com vistas a
ampliação da visibilidade e inserção internacional dos periódicos; bem como na
escassez de pesquisas sobre o tema, o que permitiria, por sua vez, a identificação
de hipóteses de pesquisa e de possibilidades de estudo.
Diante desse panorama, o objetivo do presente trabalho é compreender o
contexto de atuação do bibliotecário em equipes de produção editorial de periódicos
científicos, bem como identificar as funções e atividades exercidas e competências
requeridas no âmbito das equipes.
Para delineamento desse estudo, cabe destacar duas questões
terminológicas que se apresentaram durante sua feitura. A primeira questão diz
respeito ao uso dos termos “revista científica” e “periódico científico”. Na literatura
consultada foi observada a ocorrência indistinta de ambos os termos. Targino (1998)
afirma que a literatura traz uma variedade de concepções para nomear as
publicações periódicas e que, de qualquer forma, revista ou periódico científico -
denominação cada vez mais aceita, no Brasil, para designar as publicações
produzidas em intervalos regulares e que reúnem artigos ou contribuições sob um
título comum - é um dos produtos da ciência que tem tido maior aceitação como
registro da produção científica em quase todas as áreas do conhecimento. Segundo
Stumpf (1998, p. 3), o uso dos termos “periódico científico” ou “revista científica” é
diferenciado pelo tipo de profissionais que os utilizam. A autora aponta
Os bibliotecários preferem a denominação de ‘periódicos científicos’ utilizando esta forma de expressão como termo técnico. Já os pesquisadores, cientistas, professores e estudantes preferem a denominação ‘revistas científicas’. Este grupo muitas vezes nem se preocupa em qualificar o termo ‘revistas’ pelo adjetivo ‘científicas’, considerando que o próprio ambiente acadêmico em que estas publicações são usadas dispensa esta qualificação.
15
No âmbito deste estudo, “revista científica” e “periódico científico” são
expressões equivalentes. No entanto, para aferir uniformidade ao texto, foi adotada
a forma “periódico científico”.
A segunda questão diz respeito à terminologia das funções no âmbito das
equipes editoriais. Nos sites dos periódicos analisados foram identificadas
ocorrências de diferentes termos para designar a mesma função como, por exemplo,
editor responsável e editor-chefe ou editor de seção e editor de área. Nesse sentido,
procurou-se agrupar as ocorrências, com base no fluxo editorial e nas atividades
efetivamente exercidas.
Esta pesquisa está dividida em oito partes. A primeira parte consiste na
introdução; a segunda, terceira e quarta partes tratam da revisão de literatura
fundamentada em livros e artigos da área de Biblioteconomia e Ciência da
Informação, visando o embasamento teórico desse estudo. Na quinta parte são
expostos os procedimentos metodológicos; na sexta parte são apresentados os
resultados obtidos; e na sétima parte é apresentada a análise dos dados. Por fim, na
oitava parte são apresentadas as considerações finais e reflexões acerca do tema,
seguida dos apêndices com a listagem dos periódicos científicos selecionados para
análise (APÊNDICE A) e o roteiro do questionário enviado aos editores responsáveis
pelas publicações (APÊNDICE B).
16
2 O PERIÓDICO NO CONTEXTO DA COMUNICAÇÃO CIENTÍFICA
A comunicação, segundo Meadows (1999, p. vii), “[...] situa-se no próprio
coração da ciência. É para ela tão vital quanto a própria pesquisa, pois a esta não
cabe reivindicar com legitimidade este nome enquanto não houver sido analisada e
aceita pelos pares. Isso exige, necessariamente, que seja comunicada.” É a partir
deste enunciado que tomamos a questão da comunicação científica e, mais
particularmente do periódico científico, como espaço significativo e privilegiado para
divulgação no campo da ciência.
Segundo Barbalho (2005, p. 125), a comunicação científica pode ser
entendida como a promoção de intercâmbio de informações entre membros de
determinada comunidade, a qual divulga os resultados de pesquisa efetivados de
acordo com regras definidas e controladas pelo contexto onde está inserida. A esse
respeito, ao apontar os tipos de comunicação produzidos pela ciência, Mueller
(2000) afirma que podem variar em:
• formato: relatórios, artigos, livros, palestras e outros;
• suporte: papel, meio eletrônico, fita de vídeo etc.;
• audiências: entre pares, para estudantes, para o público em geral, entre
outros;
• função: informar, observar reações, registrar autoria etc.
Por certo, o conhecimento científico pode ser comunicado por diversas
modalidades e diferentes suportes, desde a comunicação oral à escrita e digital.
Meadows (1999) afirma que os primeiros modelos de comunicação de natureza oral
foram utilizados desde a Antiguidade pelos gregos, tanto na promoção de debates
nas academias quanto no registro de temas discutidos. No decorrer do tempo,
outros modelos foram sendo utilizados, passando dos registros informais, como
correspondências pessoais, a modelos formais, como livros e periódicos.
No cenário atual, o periódico científico se impõe como um dos canais de
comunicação científica mais utilizados. Dentre as vantagens apontadas estão a
17
autoria múltipla, a periodicidade prefixada, o processo de avaliação por pares, entre
outras. Nesse sentido, Población et al. (2011, p. 11) apontam que
As revistas científicas são as bases mais ágeis e melhor consideradas no meio científico como veículo próprio para veiculação do conhecimento científico embora, em algumas áreas do conhecimento os livros persistam como o básico. Dada a importância, variedade de tipos e níveis, como suporte em papel, CD ou on-line, não é de admirar que instituições, organismos e pesquisadores de todas as áreas estejam dedicando parte substancial de seu tempo a pesquisar as revistas científicas de vários prismas, bem como o contexto de financiamento, produção, divulgação, visibilidade, conteúdo etc.
Nos últimos três séculos, o periódico vem se modificando de acordo com as
tecnologias disponíveis, refletindo também as transformações no contexto onde está
inserido. Neste viés, podemos tomar o periódico científico como instância valorativa
que visa garantir a memória da ciência - apontando seu grau de evolução,
legitimando campos de estudos e disciplinas e concedendo visibilidade aos autores.
2.1 O periódico científico: breve histórico, caract erísticas e funções
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (2003), uma
publicação periódica científica é:
Um dos tipos de publicações seriadas, que se apresenta sob a forma de revista, boletim, anuário etc., editada em fascículos com designação numérica e/ou cronológica, em intervalos pré-fixados (periodicidade), por tempo indeterminado, com a colaboração, em geral, de diversas pessoas, tratando de assuntos diversos, dentro de uma política editorial definida, e que é objeto de Número Internacional Normalizado (ISSN) (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2003, p. 2).
O periódico científico apresenta muitas definições, mas basicamente trata-se
de uma publicação periódica que congrega artigos científicos e informações sobre
pesquisas desenvolvidas em um campo científico específico.
18
De sua origem até os dias atuais, o periódico científico tem cumprido
importantes funções na área da ciência, tais como registro, disseminação e
instituição social do conhecimento. Os periódicos pioneiros surgiram na segunda
metade do século XVII dada a necessidade de comunicação do modo mais eficiente,
com uma clientela crescente interessada em novas realizações e estudiosos
interessados em divulgarem suas ideias e descobertas, como observa Meadows
(1999).
O periódico precursor foi publicado em 05 de janeiro de 1665, intitulado Le
Journal des Sçavans (Le Journal des Savants, conforme grafia atualizada em 1797).
Lançado com 12 páginas, esse primeiro periódico era semanal e destinava-se a
catalogar e resumir os livros mais importantes publicados na Europa, publicar
necrológios de personalidades eminentes, relatórios científicos e técnicos, notícias
sobre descobertas nas ciências e nas artes, sentenças de tribunais seculares e
eclesiásticos, além de noticiar o que acontecia na ’República das Letras’
(MEADOWS, 1999). A partir de 1816, o periódico passou a ser publicado pela
Academia de Letras francesa, consolidando-se como periódico literário. Atualmente,
as edições são semestrais e os volumes digitalizados podem ser consultados no site
da Biblioteca Nacional da França1.
O segundo periódico científico, intitulado Philosophical Transactions: giving
some Accompt of the present Undertakings, Studies and Labours of the Ingenious in
many considerable parts of the World, ou Philosophical Transactions of the Royal
Society of London como ficou conhecido, surgiu em março de 1665 e publicava
estudos de caráter experimental e cartas trocadas entre membros da comunidade
científica. Segundo Barradas (2005), por essa característica a comunidade científica
considera o periódico do Reino Unido como o precursor do moderno periódico
científico, pois ele inaugurou o processo de avaliação dos textos a serem
divulgados, chamado hoje de processo de revisão por pares (peer review). O
conselho da Royal Society determinava
[...] que as Philosophical Transactions, a serem preparadas pelo Sr. Oldenburg, sejam impressas na primeira segunda-feira de cada mês, caso haja matéria suficiente para isso, e que o texto seja aprovado
1 Disponível em http://gallica.bnf.fr
19
pelo Conselho, sendo antes revisto por alguns de seus membros (MEADOWS, 1999, p. 6).
Figura 1 - Capas dos periódicos científicos Le Journal des Sçavans e Philosophical Transactions of the Royal Society of London
Fonte: Barata (2015, p. 12).
Ambas as publicações pretendiam contribuir para a circulação do
conhecimento científico entre especialistas, no entanto, conforme aponta Meadows
(1999, p. 7), “[...] embora os periódicos francês e inglês surgissem no cenário ao
mesmo tempo, havia nítidas diferenças de conteúdo e intenções”. O diferencial do
periódico inglês era o perfil de relatos detalhados de experimentos que serviam não
apenas para incentivar pesquisas inéditas, mas também assegurar direitos autorais
sobre invenções inacabadas ou descobertas científicas. Já o Journal des Sçavans,
diante da impossibilidade de manter o amplo leque de temas abordados com que
havia começado, passou a se centrar basicamente em temas não científicos.
Para Meadows (1999, p. 7) a introdução do periódico científico representou a
formalização do processo de comunicação científica, assim como o livro, em
contraposição à comunicação informal, observada na comunicação oral e nas
correspondências pessoais. Nesse sentido, Ferreira e Targino (2005, p. 22) reforçam
que
20
O surgimento do periódico científico, ainda no século XVII, coincide com o incremento da ciência experimental, uma vez que os meios de comunicação até então utilizados com frequência pelos cientistas - a correspondência particular e a publicação ocasional de livros - mostraram-se inadequados para a difusão das novas informações.
Em relação aos livros, Ferreira e Targino (2005, p. 22) salientam que esses
teriam como desvantagem a demora de edição, além de mais apropriados para a
divulgação de conhecimentos sedimentados e de obras mais completas.
Os livros têm como desvantagem a demora de edição, além de mais apropriados para a divulgação de conhecimentos sedimentados e de obras mais completas. A correspondência pessoal, manifestação inicial da imprensa, via cartas-jornais ou avvisi ou newsletters é adotada, sobretudo, pela classe burguesa. Esta, mesmo sem o poder político e contrária às concepções e aos valores impostos pelos nobres e pelo clero (a classe dominante de então), é o segmento que assume os primeiros empreendimentos em termos de divulgação. Comprovando a inter-relação entre imprensa e modo de produção capitalista, o incremento do comércio, atividade econômica própria desta classe, favorece o fluxo informacional, e a correspondência privada mostra-se ineficaz.
Esse marco inicial motivou o surgimento de periódicos científicos em outros
países, de tal forma que até a última década do século XIX, haviam sido registrados
cerca de 500 periódicos científicos no mundo. Barradas (2005) aponta que o
incremento da produção científica mundial conduziu a um crescimento vertiginoso no
número de periódicos, atingindo uma cifra de aproximadamente 100.000 títulos nos
primeiros anos do século XXI.
Pode-se entender tal crescimento, pois mesmo nos países periféricos, ou de economia ascendente, como é o caso da América Latina, a literatura registra que o número de artigos publicados praticamente triplicou nos últimos 10 anos e tamanha a produção necessita de canais formais para sua disseminação (BARRADAS, 2005, p. 14).
Vickery2 (1999 apud BARATA, 2010, p. 21) analisou o volume de periódicos
científicos editados entre 1665 e 2000 e apontou o crescimento exponencial. O autor
2 VICKERY, B. A century of scientific and technical information. Journal of Documentation , v. 55, n. 5, p. 476-527, 1999.
21
ressalta que o volume de informação em 1950 era dez vezes superior ao observado
em 1900, conforme é possível notar na Figura 2.
Figura 2 - Crescimento de periódicos e publicações de Abstracts no período de 1665 a 2000
Fonte: Vickery2 (1999 apud BARATA, 2010, p. 21)
No Brasil, os primeiros periódicos científicos surgiram no século XIX. Os
primeiros registros apontam para a Gazeta Médica do Rio de Janeiro, publicada em
1862, e para a Gazeta Médica da Bahia, em 1866. No entanto, antes disso, há
registros que indicam a circulação de periódicos que veiculavam informação
científica como Miscelânea Scientifica, em 1835, Nictheroy, em 1836, Revista do
Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, de 1839 e ainda em circulação, e Minerva
Brasiliense, em 1843. Mas é somente no século XX, que os periódicos começam a
se proliferar. Dentre os mais antigos periódicos científicos ainda editados estão,
além da já citada Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, os
centenários, Arquivos do Museu Nacional, de 1876, e Memórias do Instituto Oswaldo
Cruz, editado desde 1909.
22
O periódico científico configurou-se ao longo do tempo como veículo
privilegiado de comunicação, adotado por pesquisadores para registro e divulgação
da produção intelectual (OHIRA; NUNES; SCHOFFEN, 2000). Miranda e Pereira
(1996) traçaram duas vertentes que caracterizaram a importância dos periódicos
como veículos formais de comunicação da ciência: 1) comunicação do
conhecimento; 2) comunicação entre os pares. Para os autores, é a partir desses
dois aspectos que os periódicos devem ser observados no tocante à visibilidade e à
credibilidade, pois proporcionam divulgação com maior rapidez e abrangência.
Ademais, segundo Tenopir e King (1998), o periódico consiste em importante fonte
de informação para os pesquisadores, sendo comprovado, que os cientistas leem
muito mais artigos de periódicos do que outros tipos de publicações.
Adami e Marchiori (2005, p. 77-78), destacam funções primordiais dos
periódicos científicos atuais:
• registrar o conhecimento, atuando como memória da ciência;
• disseminar e comunicar o conhecimento;
• salvaguardar a prioridade das descobertas;
• estabelecer a propriedade intelectual;
• conferir prestígio e recompensar autores, editores e membros do conselho
editorial;
• definir e legitimar novas disciplinas e campos de estudo, servindo como
prova definitiva de que um pesquisador realizou ou está realizando
determinada atividade de pesquisa;
• servir como fonte de informações para o início de novas pesquisas e
trabalhos científicos;
• indicar a evolução de uma ciência;
• indicar o andamento de atividades científicas realizadas por pesquisadores
e instituições;
• inserir-se como instrumento de manutenção da padrão de qualidade da
ciência.
Ainda segundo Adami e Marchiori (2005, p. 78), a compreensão dessas
funções contribui para a identificação de problemas específicos no processo de
23
comunicação científica, permitindo denotar a importância dos diferentes
comportamentos e motivações dos cientistas. Os autores ainda salientam que, além
desses fatores, uma das condições essenciais para assegurar o caráter de
cientificidade de um periódico é a existência do sistema de avaliação por pares.
[...] o sistema avaliativo visa garantir a qualidade do conteúdo científico veiculado e também assegurar que tal conteúdo corresponda ao pensamento da comunidade científica da área. Logo funciona como ‘balança’ da ciência ou ‘régua’ da qualidade e produtividade de autores, instituições e dos próprios títulos de periódicos, servindo, por conseguinte, para aprimorá-los, o que ocorre com o propósito central de assegurar a sua maior aceitação e credibilidade, além de atender a critérios que os tornem disponíveis em catálogos e bases de dados brasileiras e estrangeiras (ADAMI; MARCHIORI, 2005, p. 78).
No que diz respeito aos critérios exigidos de um periódico científico,
Yamamoto (2002), aponta
• existência de número normalizado para publicações seriadas, isto é, do
International Standard Serial Number (ISSN);
• tempo da publicação (número de anos que a revista vem sendo editada);
• pontualidade (obediência à periodicidade indicada na proposta editorial);
• indexação dos seus artigos em bases de dados;
• manutenção de um conselho editorial;
• arbitragem por pares.
Para Miranda e Pereira (1996) o desenvolvimento e a permanência de um
periódico científico dependem de fatores e condições, sintetizados por
• nível de avanço ou estágio de desenvolvimento da área científica em
questão;
• engajamento da comunidade científica da área;
• existência de usuários/leitores para legitimar o periódico;
• disposição de grupos e instituições para atuar na edição, avaliação,
publicação, disseminação e recuperação das informações.
24
No que tange ao processo de revisão por pares, Barata (2015, p. 13) aponta
que “há sinais de início de um sistema de revisão por pares no periódico escocês
Medical Essays and Observations da Royal Society of Edinburgh. O próprio
Philosophical Transactions inaugurou seu comitê para revisão de artigos em 1752.”
A autora ainda associa a revisão por pares à tendência de especialização observada
na ciência e cada vez mais presente nos dias atuais.
[...] o sistema de revisão por pares só se consolidaria a partir da segunda metade do século XIX, acompanhando a tendência à especialização nas ciências e como uma forma de distinguir publicações de profissionais e amadores. Sinal dessa especialização é a criação da revista Philosophical Transactions A (física, engenharia e matemática) e B (ciências da vida) em 1887. Hoje a instituição inglesa soma 10 periódicos (BARATA, 2015, p. 13).
No que diz respeito às transformações ocorridas ao longo dos anos, Barata
(2015, p.13) aponta
Dentre as importantes transformações que os periódicos sofreram no último século está a criação de indexadores que permitiram a organização e recuperação de artigos, com a posterior criação de índices de produtividade, sobretudo a partir dos anos 1960, e a migração sucessiva para o meio digital a partir da popularização da internet.
Nos últimos anos, umas das transformações mais significativas observada no
âmbito dos periódicos científicos, diz respeito ao suporte, mas especificamente, a
migração do suporte impresso para o eletrônico.
O periódico eletrônico, também chamado de digital, pode ser entendido como
uma publicação periódica criada mediante recursos eletrônicos e que para ser
consultada requer um computador (SILVA; SANTOS; PRAZERES, 2011, p. 73).
Segundo Targino (1999), a primeira experiência com periódico científico foi nos
Estados Unidos, com a criação do Eletronic Information Exchange System, pelo New
Jersey Institute of Technology. No início da década de 80, no Reino Unido, foi
publicada a Computer Human Factors, pela University of Birmingham e a
Loughborough University of Technology. Em 1990, foi publicado o Postmodern
Culture, pela John Hopkins University Press com apoio da University of Virginia e do
25
Vassar College. No Brasil, um dos primeiros periódicos publicados em formato
eletrônico, ainda na década de 90, foi The Journal of Venomous Animals and Toxins,
periódico interdisciplinar, publicado em inglês pelo Centro de Estudos de Venenos e
Animais Peçonhentos (CEVAP) da Universidade Estadual Paulista (UNESP).
O periódico científico eletrônico, por sua natureza, modifica aspectos de
forma, potencializa a divulgação de conteúdos e renova questões editoriais. O uso
das tecnologias da informação e da comunicação “é fator decisivo para facilitar e
disseminar a publicação periódica, nacional e internacional, reduzindo custos
operacionais e facilitando a indexação e recuperação da informação”. Segundo
Miranda (2010), a migração dos periódicos impressos para a dimensão digital vem
impondo transformações. Segundo o autor, inicialmente os periódicos digitais se
pautavam no formato impresso, quando não eram apenas reproduções deste
formato. No entanto, os periódicos digitais avançam no uso das tecnologias,
migrando para uso de recursos inter e hipertextuais.
O periódico científico tornou-se, nos últimos três séculos, um dos principais
canais de comunicação científica e, nas últimas décadas, tem se modificado de
acordo com as tecnologias disponíveis. Diante destas mudanças, novos desafios se
apresentam, cabendo aos gestores dos periódicos e a todos os agentes envolvidos
no processo de publicação de um periódico buscar formas de responder às novas
demandas e necessidades envolvidas no âmbito do mercado editorial e da
comunicação científica.
2.2 Panorama atual dos periódicos científicos no Br asil
O número de periódicos científicos brasileiros é incerto. O Centro Brasileiro do
ISSN (International Standard Serial Number) registra cerca de 3.000 periódicos
brasileiros impressos. No entanto, independentemente do número de periódicos
existentes, o maior reconhecimento pela academia se dá àqueles indexados e
avaliados por bases de dados de excelência tanto nacional, como SciELO (Scientific
26
Eletronic Library Online), quanto internacional, como ISI (International Scientific
Information), Scopus, Medline/Pubmed, entre outras.
Segundo Barata (2010, p. 80) “[...] a conquista de mais espaço no rol dos
periódicos de qualidade tem aumentado nas últimas décadas, como fruto do
amadurecimento e consolidação do sistema de ciência e tecnologia do país”.
Concomitantemente, verifica-se um incremento significativo da produção científica
nacional nas últimas décadas.
O Portal SciELO, maior base de dados de periódicos nacionais, foi implantado
em 1997 com o objetivo de melhorar a qualidade e ampliar a visibilidade dos
periódicos em âmbito internacional. Para ser admitido no Portal, o periódico precisa
atender critérios essenciais como periodicidade regular, existência de um conselho
editorial, avaliação por pares, versão eletrônica disponível gratuitamente e possuir
título, resumo e palavras-chave em inglês. Nos últimos anos, o ISI tem anunciado o
aumento da presença de periódicos nacionais em seu rol de bases especializadas.
Conforme os dados divulgados em 2014, estavam indexados nas bases
especializadas do ISI 164 periódicos nacionais.
No entanto, com o destaque observado, impõem-se muitos desafios e
obstáculos aos periódicos nacionais, entre eles, o aporte financeiro e a
profissionalização das equipes editoriais. Barata (2010) aponta a necessidade de
aumentar o corpo administrativo e diminuir o gargalo entre o tempo de submissão e
de aceite de um artigo.
27
3 EQUIPES EDITORIAIS DE PERIÓDICOS CIENTÍFICOS: ESTRUTURA E FUNÇÕES
Para que os periódicos científicos existam é necessário criar condições para
que cumpram suas funções de registro, arquivo e memória. Dentre essas condições,
observa-se o estabelecimento de uma equipe editorial.
Segundo Valerio (1994), cabe à equipe editorial a organização, a condução e
o controle dos fluxos e processos editoriais, bem como, o acompanhamento do
desempenho do periódico enquanto veículo de comunicação da comunidade
científica.
A estrutura da equipe editorial dos periódicos científicos, via de regra, é
constituída pela comissão científica (ou corpo editorial), representado basicamente
pelo editor responsável (ou editor-chefe), pelo conselho editorial (também chamado
comitê consultivo ou conselho consultivo) e pelos assessores científicos (também
chamados revisores, pareceristas ou referees); e pela equipe de produção editorial,
responsável por questões técnico-administrativas e de pós-produção dos
manuscritos. Valério (1994) salienta que é comum a justaposição de funções entre
editores, conselho editorial e assessores científicos. Cumpre destacar também que a
terminologia acerca dos papéis editoriais não é padronizada, deste modo, observa-
se a adoção de diferentes termos para funções correspondentes, tais como, comitê
científico e comissão científica. Outro ponto que cumpre salientar é a composição da
equipe editorial que se constitui como item criteriosamente avaliado por bases de
dados indexadoras e por organismos responsáveis pela estratificação das
publicações, que observam questões relativas à afiliação, distribuição institucional
dos membros, endogenia etc.
No que diz respeito à composição da equipe editorial, a estrutura pode variar
conforme as condições da instituição responsável e o aporte financeiro para
definição dessas equipes. Com base nas leituras realizadas para este estudo,
elencamos no Quadro 1 os principais agentes observados na composição das
equipes editoriais.
28
Quadro 1 - Principais agentes identificados nas equipes editoriais de periódicos científicos
Composição da Equipe editorial
Comissão Científica
Editor responsável / Editor-chefe Editor de seção / Editor de área Editor associado / Editor adjunto Editor executivo Comitê consultivo Revisor / Parecerista / Referee
Mediação entre Comissão Científica e Equipe de Produç ão editorial
Editor executivo Assistente editorial
Equipe de produção editorial
Assistente editorial Bibliotecário Diagramador Jornalista Revisor textual Secretário Técnico em informática Tradutor Web designer
Nota: Elaborado pela autora.
Partindo da identificação dos agentes envolvidos no processo de produção
científica, representamos na Figura 3 a relação entre comissão científica e equipe de
produção editorial.
Figura 3 - Relação entre comissão científica e equipe de produção editorial
Nota: Elaborado pela autora.
29
Meadows (1999), examinando o papel das editoras científicas, aponta que
essas participam de três tipos de atividades principais: a) interação com os autores a
fim de assegurar que seu material presta-se para publicação e está redigido de
maneira aceitável; b) a produção física do livro ou periódico; e c) divulgação que
envolve também o marketing. O autor salienta que as atividades internas de editoras
científicas, assim como as atividades de equipes editoriais, demandam pessoal com
uma gama de qualificações especializadas para várias atividades, desde a avaliação
de conteúdo, preparação de originais e auxílio nas atividades comerciais e de
marketing.
As colocações de Meadows (1999) acerca das atividades principais das
editoras científicas podem ser observadas nas fases do processo de editoração de
manuscritos: análise do conteúdo, em que o autor submete seu texto; seleção e
filtragem, em que é verificado se o texto submetido corresponde à linha editorial;
avaliação, em que editores e revisores avaliam a qualidade do conteúdo; editoração
e pós-produção; divulgação, distribuição e armazenamento. Na Figura 4 está
representado o processo editorial, especificando os fluxos e agentes envolvidos.
30
Figura 4 - Fluxo do processo editorial
Fonte: Maimone e Tálamo (2008, p. 308).
Valerio (1994) aponta que se pensarmos na produção de um só artigo, não
parece muito trabalhoso o processo editorial de um periódico científico, no entanto,
segundo o autor, para compreendermos a complexidade do fluxo editorial, cabe
tomarmos como exemplo um periódico que publique em média dez artigos por
fascículo, com periodicidade trimestral. Observa-se que para cumprir tal meta é
necessário estar em fase de processamento, na editoria do periódico, cerca de três
a quatro vezes a quantidade de artigos publicados a cada número. Neste cenário, se
evidencia a multiplicidade de tarefas simultâneas sob coordenação do editor e,
consequentemente, a necessidade de infraestrutura adequada e de recursos
humanos para dar suporte à atividade editorial.
31
Hoje, mesmo com as novas tecnologias, observa-se maior a complexidade
das tarefas e maior necessidade de especialização dos agentes envolvidos na
produção de um periódico científico. Essa mudança é assinalada por Maimone e
Tálamo (2008, p. 301)
À época dos manuscritos, o próprio redator produzia o seu documento que seria depois copiado por outros para garantir uma difusão mais ampla. Com a imprensa, as tarefas envolvidas na produção são identificadas e diferenciadas, ampliando-se substantivamente o mercado de trabalho articulado originalmente entre letrados-impressores e editores impressores (por exemplo, escritores por encomenda, tradutores, elaboradores de índices, corretores de provas) originalmente entre letrados-impressores e editores impressores (por exemplo, escritores por encomenda, tradutores, elaboradores de índices, corretores de provas).
Acerca dos profissionais envolvidos na produção dos periódicos, as autoras
salientam os esforços empreendidos na atividade editorial.
Sob o prisma da atividade editorial tanto em termos das publicações tradicionais quanto das eletrônicas percebe-se o empenho em tornar as informações cada vez mais acessíveis e “assimiláveis” (sentidas) pelos diversos públicos. Neste contexto aparecem os profissionais ligados a produção (realização) destes empreendimentos que percorrem um caminho extenso até chegar à sua finalização (MAIMONE; TÁLAMO, 2008, p. 307).
Cabe destacar que, nas últimas décadas, os periódicos científicos ganharam
novos atributos e sua gestão vem assumindo um caráter mais complexo, sobretudo,
considerando a migração do formato impresso para o eletrônico e, em alguns casos,
a coexistência de ambos. Tendo em vista os desafios impostos pelas mudanças
tecnológicas e pelas demandas na dinâmica da divulgação científica, os periódicos
científicos exigem capacitação e profissionalização de suas equipes, sobretudo, de
produção editorial.
32
3.1 A profissionalização das equipes editoriais
A profissionalização das equipes editoriais tem se constituído como um dos
temas frequentemente discutidos por pesquisadores que analisam a questão do
desempenho dos periódicos científicos.
Lemos (1978), Miranda (1981) e Costa (1988) em diferentes contextos
chamavam a atenção para problemas relacionados à infraestrutura e
institucionalização dos periódicos. Ao avaliar a taxa de natalidade e mortalidade de
periódicos da área da saúde, Lemos (1978) assinalou questões relativas à carência
de recursos humanos e falta de cumprimento dos cronogramas de publicação. Costa
(1988), em seu estudo com periódicos da área de ciências biomédicas, destacou
problemas relacionados a editoração, normalização, distribuição, ausência de
recursos humanos e amadorismo na profissão de editor.
No cenário brasileiro, observa-se que editores ressaltam há muito tempo as
dificuldades dos periódicos nacionais em profissionalizarem suas equipes editoriais
devido a questões que transcendem as capacidades dos periódicos, como questão
da sustentabilidade financeira. Neste sentido, Shinkai (2011, p. 242) comenta
Muitos periódicos científicos brasileiros, não somente da área de Odontologia, são editados por faculdades ou departamentos dentro de universidades públicas ou privadas, sendo que as equipes editoriais científicas e executivas são voluntárias e compostas por docentes, pesquisadores, funcionários da universidade e alunos de pós-graduação. Muitas vezes, os periódicos são publicados por editoras universitárias ou empresas terceirizadas de pequeno ou médio porte, cujo pessoal técnico dificilmente tem formação especializada na produção de periódicos segundo padrões internacionais de editoração eletrônica. Um reflexo desses pontos críticos é a relativa falta de profissionalização do processo editorial.
Em decorrência dessa situação, que perdura por vários anos, muitos
periódicos nacionais sofrem de falta de visibilidade internacional e têm dificuldades
para atrair artigos de potencial impacto científico, mesmo de autores brasileiros.
33
Segundo Packer (2014), nas últimas décadas, mesmo diante das dificuldades
assinaladas, os periódicos brasileiros vêm avançando notavelmente no
aperfeiçoamento da gestão e operação profissionalizada dos processos de
editoração, publicação, disseminação e marketing, sem perder o seu caráter
acadêmico. Packer (2014) afirma que
[...] está se formando progressivamente na comunidade de pesquisa um consenso que os periódicos do Brasil cumprem função importante ao comunicar cerca de 30% da pesquisa nacional indexada internacionalmente e que o seu aperfeiçoamento é essencial para melhorar o desempenho geral da pesquisa científica do Brasil. A profissionalização é parte deste aperfeiçoamento.
As abordagens acerca da profissionalização das equipes editoriais podem ser
concebidas no contexto de um conjunto de características e condições que visem
maior eficiência nas operações e fluxos editoriais. Nesse âmbito, Packer (2014)
aponta que a profissionalização pode ser entendida como
[...] a produção dos periódicos de acordo com o estado da arte internacional e compreende um conjunto de características e condições de gestão e operação, informadas, que contribuem para minimizar o tempo e maximizar a transparência no processo de avaliação dos manuscritos, a edição dos textos que elimine erros, facilite a leitura e siga os padrões internacionais de comunicação nas diferentes áreas temáticas e nos diferentes idiomas, a formatação dos textos completos em XML como fonte de referência para a geração das versões em PDF, ePUB e HTML, a exploração dos mecanismos e serviços de interoperabilidade dos periódicos e artigos na Web e a disseminação das novas pesquisas nas redes sociais.
No que tange à eficiência e à agilidade dos fluxos, Maimone e Tálamo (2008,
p. 301) observam que “a difusão e o uso da informação dependem cada vez mais de
um mercado editorial ágil, que ofereça produtos de qualidade”.
Nesse sentido, cabe salientar iniciativas para a promoção da
profissionalização das equipes, como as divulgadas pela SciELO que, em 2014,
apresentou suas linhas de ação para o triênio 2014-20163. Dentre os pontos
destacados para aumentar a visibilidade dos periódicos e coleções da Rede SciELO,
está a promoção da profissionalização da gestão, funções e processos editoriais.
3 Disponível em http://www.scielo15.org/wp-content/uploads/2013/10/SciELO-Lineas-de-accion-2014-2016_20131018_PT.pdf
34
A demanda por maior profissionalização editorial se dá por conta das novas
dinâmicas envolvidas no processo de produção de um periódico, bem como pela
competitividade observada no mercado editorial. Deste modo, para os periódicos
científicos nacionais aumentarem sua visibilidade e confiabilidade, são fundamentais
a adoção de ações que visem a profissionalização de suas equipes e o
comprometimento das entidades publicadoras em oferecer infraestrutura adequada
e recursos humanos e financeiros que permitam aos periódicos serem editados e
publicados conforme critérios de qualidade nacionais e internacionais.
35
4 ATUAÇÃO DOS BIBLIOTECÁRIOS EM EQUIPES DE PRODUÇÃO EDITORIAL
O bibliotecário atualmente possui distintas possibilidades de atuação nas
equipes editoriais, dada a sua formação interdisciplinar, suas habilidades e
competências. Neste sentido, Maimone e Tálamo (2008, p. 309) comentam
Ao considerarmos os profissionais, em âmbito geral, ligados a este processo, traçamos um pouco do perfil do bibliotecário relacionando-o às atividades que estaria apto a exercer considerando o domínio das tecnologias e os conhecimentos advindos da profissão, integrando-se assim aos afazeres editoriais científicos.
Diante da maior inserção do bibliotecário nas equipes editoriais, Silva e
Cunha (2002, p. 78) evidenciam a necessidade de busca pela educação continuada.
Nesta conjuntura, em que a mudança tecnológica é a regra, buscar condições para ancorar a preparação do profissional do futuro requer uma estratégia diferenciada. Este profissional deverá interagir com máquinas sofisticadas e inteligentes, será um agente no processo de tomada de decisão. Além disso, o seu valor no mercado será estimado com base em seu dinamismo, em sua criatividade e em seu empreendedorismo. Todos esses fatores evidenciam que só a educação será capaz de preparar as pessoas para enfrentar os desafios dessa nova sociedade.
Ferreira (2003, p. 45) salienta a necessidade de aprimoramento profissional
do bibliotecário.
À medida que as organizações estão mudando o foco de suas competências essenciais em resposta à globalização, tem-se evidenciado que os profissionais da área de Ciência da Informação (prioritariamente Bibliotecários) devam revisar o que fazem de melhor e reafirmar o compromisso com a ampliação de suas competências e o crescimento profissional, a fim de que possam agregar valor aos serviços de informação que são a eles designados e disponíveis a seus usuários.
Frente ao cenário que se apresenta nas equipes de produção, o bibliotecário
situa-se dentre os profissionais com distintas possibilidades de atuação. Nesse
sentido Mischiati e Valentim (2005, p. 215) salientam
36
Espera-se que os profissionais bibliotecários sejam capazes de atuar de forma crítica, criativa e eficaz na identificação de demandas por informações de toda natureza e nível de complexidade, bem como no processamento de informações em diferentes documentos e suportes físicos, mediante a aplicação de conhecimentos teórico-práticos [...] apoiados nas tecnologias disponíveis e no gerenciamento de serviços e recursos informacionais e, também, através das suas ações nas áreas de planejamento, organização, administração e assessoria.
No diz respeito às possibilidades de atuação do bibliotecário, Funaro, Ramos
e Hespanha (2012) identificaram 19 categorias de atividades desempenhadas por
bibliotecários em equipes de produção editorial. O levantamento ocorreu durante o
Fórum "O papel dos bibliotecários nos periódicos científicos” no VI Workshop de
Editores Científicos, ocorrido em 2010. As categorias identificadas foram:
• Análise de provas editoriais (fluxo editorial);
• Assessoria aos autores e pareceristas;
• Avaliação técnica de revista para inclusão em bases de dados;
• Catalogação na fonte;
• Conferência da terminologia (palavras-chave);
• Controle de assinaturas, permuta e doação (distribuição);
• Diagramação;
• Divulgação;
• Elaboração de projetos;
• Elaboração de relatórios;
• Expedição;
• Formatação dos manuscritos;
• Gestão de processos (da pré-avaliação à publicação);
• Indexação;
• Manutenção do site da revista;
• Normalização;
• Prestação de contas;
• Secretaria e,
• Supervisão de marcação em XML.
37
Observa-se que as categorias identificadas pelas autoras relacionam-se a
diferentes esferas de atuação profissional, assinalando um diversificado espaço de
atuação. Nesse âmbito, Gonçalves, Ramos e Castro (2006, p. 165), apontam que a
contribuição do bibliotecário na publicação de periódicos científicos é um processo
muito complexo, que consiste em uma série de tarefas especializadas executadas
por especialistas de diversas áreas. Tais tarefas incluem a obtenção de
financiamento permanente, como condição básica de existência, animar os autores
a escreverem, trabalham na coleta, organização e realização da revisão de obras,
transportes (se necessário) e edição de textos, auxilia no preparo técnico para a
imprensa (arte e design), distribuição da revista, controle de assinaturas, atende às
reclamações dos assinantes etc.
Frente às atividades indicadas na literatura consultada, cabe ao bibliotecário
analisá-las mais profundamente a fim de compreender a dinâmica de atuação no
contexto das equipes editoriais.
38
5 METODOLOGIA
Este estudo é de caráter exploratório-descritivo. Salienta-se que as pesquisas
exploratórias são aquelas que têm por objetivo explicitar e proporcionar maior
entendimento de um determinado problema. Nesse tipo de estudo, o pesquisador
procura um maior conhecimento sobre o tema de interesse (GIL, 2007). Já as
pesquisas descritivas têm como objetivo primordial “a descrição das características
de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações
entre variáveis" (GIL, 2007, p. 46). Uma de suas características mais significativas é
a utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados.
Para o embasamento teórico, foi realizada pesquisa bibliográfica nas bases
de dados: SciElo, Dedalus USP, BRAPCI, Portal de Periódico Capes, Biblioteca
Digital de Teses e Dissertações, Google Acadêmico, Lisa (Library and Information
Science Abstracts) e E-LIS (E-Prints in Library and Information Science).
O referencial teórico básico para o levantamento de hipóteses para o presente
estudo foi constituído com base na leitura de dois estudos: Maimone e Tálamo
(2008) e Funaro, Ramos e Hespanha (2012) que tratam da atuação de bibliotecários
em equipes editoriais.
5.1 Amostra, coleta e tratamento dos dados
A amostra foi constituída por 99 periódicos científicos, correntes, selecionados
no Portal de Revistas USP (APÊNDICE A). Foram excluídos da amostra periódicos
estudantis e publicações já encerradas.
39
Os instrumentos utilizados para coleta de dados foram:
a) Levantamento da composição das equipes editoriais no Portal de Revistas
USP e nos sites oficiais dos periódicos selecionados. O levantamento foi realizado
no período de 20 de março a 23 de abril de 2015.
b) Envio de questionário aos 99 editores responsáveis pelos periódicos
selecionados. Para a elaboração do questionário foi utilizada a ferramenta online
Survey Monkey4, que permite a criação, envio e acompanhamento de questionários
por meio de uma plataforma online. O questionário, composto por quatro questões
fechadas e um campo para comentários (APÊNDICE B), foi enviado por e-mail aos
editores em 28 de abril de 2015.
Os dados coletados foram tratados e tabulados em planilhas Microsoft Excel®.
5.2 O Portal de Revistas USP
O Portal de Revistas USP5 é uma biblioteca digital das revistas publicadas por
Unidades, Órgãos de Integração e Órgãos Complementares da Universidade de São
Paulo e, em alguns casos, em parceria oficial com instituições externas. Lançado em
2008, o Portal apoia-se na filosofia do acesso aberto e tem como objetivo reunir,
organizar e prover acesso pleno e gratuito às revistas publicadas sob a
responsabilidade da Universidade de São Paulo, ampliando sua visibilidade em
âmbito nacional e internacional.
Sob responsabilidade do Departamento Técnico do Sistema Integrado de
Bibliotecas da Universidade de São Paulo (DT-SIBiUSP), o Portal foi construído de
forma a ser interoperável com sistemas similares nacional e internacionalmente, tais
como Google Acadêmico, OASIS do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e
Tecnologia/Ministério da Ciência e Tecnologia (IBICT/MCT), Public Knowledge
4 Disponível em https://pt.surveymonkey.com 5 Disponível em http://www.revistas.usp.br
40
Project e outros. No âmbito interno, se encontra indexado pelo Portal de Busca
Integrada do SIBiUSP e está interligado com a Biblioteca Digital da Produção
Intelectual da USP de modo a transferir os metadados e o arquivo completo de todo
os documentos de autores USP publicados em qualquer uma de suas revistas.
Figura 5 - Tela inicial do Portal de Revistas USP
O Portal foi remodelado em 2012 visando preparar tanto as revistas como
seus editores para um salto qualitativo rumo a internacionalização e modernização
exigidas na contemporaneidade.
41
6 RESULTADOS
Foram analisadas as informações sobre a atuação de bibliotecários em
equipes de produção editorial de 99 periódicos científicos indexados no Portal de
Revistas USP. A análise foi realizada por meio de levantamento dos dados sobre a
composição das equipes editoriais disponibilizados no referido Portal e nos sites dos
periódicos, bem como por meio de questionário enviado aos editores responsáveis
pelas publicações.
O levantamento realizado no Portal de Revistas USP e sites demonstrou a
predominância de periódicos pertencentes à área de Ciências Humanas e Sociais
(CH) com 67 periódicos (67,67%), seguida da área de Ciências Biológicas e da
Saúde (CB) com 26 periódicos (26,26%). A área de Ciências Exatas e da Terra (CE)
representou 3,03% dos periódicos analisados, assim como a área Interdisciplinar
(ID) que também representou 3,03%. No que tange aos resultados advindos dos
questionários respondidos pelos editores, foram recebidos 37 formulários
preenchidos, representando 37,37% da amostra. Dos editores, predominam as
áreas de CH com 20 respondentes (54,05%) e CB com 14 respondentes (37,83%).
Os dados estão representados na Figura 6.
Figura 6 - Distribuição dos periódicos por área do conhecimento
Nota: Dados extraídos do Portal de Revistas USP, sites dos periódicos e questionários respondidos pelos editores.
42
Em relação ao levantamento realizado no Portal e sites, todos os 99
periódicos selecionados para este estudo indicaram a composição de suas equipes
editoriais. Dos 99 periódicos, 68 (68,68%) especificaram em suas respectivas
equipes editoriais os membros responsáveis pela produção editorial6 e 31 periódicos
(31,31%) indicaram somente os membros pertencentes à comissão científica (editor-
chefe, editores de seção, consultores, pareceristas, entre outros).
Com relação aos 68 periódicos que indicaram os responsáveis pela produção
editorial, 16 periódicos (23,52%) indicaram a presença de bibliotecários nestas
equipes. Destes, 12 periódicos (75%) pertencem à área de CB e somente três à
área de CH (18,75%). A distribuição dos periódicos que indicaram as equipes de
produção editorial, bem como dos que indicaram a presença de bibliotecários está
representada na Tabela 1.
Tabela 1 - Distribuição dos periódicos com equipes de produção editorial e bibliotecários indicados no Portal de Revistas USP e sites por área do conhecimento
Área do conhecimento N° de periódicos com equipes de produção
editorial
N° de periódicos com bibliotecários
Ciências Humanas e Sociais 45 3
Ciências Biológicas e da Saúde 17 12
Ciências Exatas e da Terra 3 1
Interdisciplinar 3 0
Total 68 16
Nota: Dados extraídos do Portal de Revistas USP e sites dos periódicos analisados.
Com relação à distribuição dos bibliotecários nas equipes de produção
editorial, nos 16 periódicos identificados no levantamento foram contabilizados 24
bibliotecários. Em relação aos respondentes, 20 editores (54,05%) afirmaram
6 Produção editorial corresponde às atividades relacionadas a organização, condução e controle dos fluxos editoriais e pós-produção de artigos.
43
possuir bibliotecários em suas equipes, nas quais foram contabilizados 25
bibliotecários (FIGURA 7).
Figura 7 - Número de periódicos com bibliotecários e total de bibliotecários nas
equipes de produção editorial
Nota: Dados extraídos do Portal de Revistas USP, sites dos periódicos e questionários respondidos pelos editores.
No que diz respeito à distribuição dos bibliotecários por área do
conhecimento, dos 24 bibliotecários identificados no levantamento no Portal e sites,
18 bibliotecários (75%) atuam em periódicos da área de CB. Pode-se notar que,
apesar da maior parte dos periódicos analisados pertencer à área de CH, estes
concentram somente 25% dos bibliotecários.
Em relação aos respondentes, foram identificados 14 bibliotecários (56%)
atuando na área de CB e dez na área de CH (40%), conforme Figura 8.
Figura 8 - Distribuição dos bibliotecários atuantes nas equipes de produção
editorial por área do conhecimento
Nota: Dados extraídos do Portal de Revistas USP, sites dos periódicos e questionários.
44
Os dados obtidos tanto por meio do levantamento realizado no Portal e sites
quanto por meio do questionário apontam que a maior parte dos periódicos, 68,75%
(11 periódicos) e 75% (15 periódicos), respectivamente, possui somente um
bibliotecário atuante na equipe de produção editorial. A Figura 9 representa a
distribuição dos bibliotecários por periódico, conforme dados obtidos no
levantamento no Portal e sites dos periódicos.
Figura 9 - Distribuição dos bibliotecários por periódico segundo levantamento no Portal de Revistas USP e sites dos periódicos
*Os periódicos indicaram a Biblioteca ou Serviço de Documentação na equipe editorial. Para este estudo foi contabilizado como um (1) bibliotecário. Nota: Dados extraídos do Portal de Revistas USP e sites dos periódicos analisados.
45
A Figura 10 representa a distribuição dos bibliotecários por periódico,
conforme dados obtidos por meio dos questionários.
Figura 10 - Distribuição dos bibliotecários por periódico segundo editores dos periódicos
Nota: Dados extraídos dos questionários respondidos pelos editores.
46
No que diz respeito às atividades desempenhadas por bibliotecários, foi
possível identificar 10 categorias de atividades ou funções no levantamento
realizado no Portal e sites dos periódicos. As categorias identificadas, bem como o
número de ocorrências, estão representados na Figura 11.
Figura 11 - Ocorrências das categorias de atividades e funções desempenhadas pelos bibliotecários identificados nas equipes de produção editorial
Nota: Dados extraídos do Portal de Revistas USP e sites dos periódicos analisados.
No levantamento realizado no Portal e sites dos periódicos, o tipo
predominante de atividade executada pelos bibliotecários não se tornou evidente,
uma vez que foi observada uma distribuição equilibrada dos profissionais entre as
funções e atividades foram identificadas. Cabe ressaltar que em cinco equipes de
produção editorial foi identificada somente a categoria “Bibliotecário”, isto é, sem
especificação da atividade realizada efetivamente realizada (FIGURA 11).
No que diz respeito às atividades indicadas pelos editores respondentes, foi
possível notar uma maior diversificação das atividades realizadas pelos
47
bibliotecários. Todas as 13 atividades sugeridas no questionário foram assinaladas
pelos respondentes e ainda outras cinco foram indicadas pelos respondentes por
meio da opção “Outros”, existente no questionário. A atividade de “Normalização
técnica”, comumente mais associada à profissão, aparece como a mais
desempenhada pelos bibliotecários (81,82%). “Gerenciamento de fluxo editorial” e
“Assessoria a autores e editores” com 68,18% e 59,09%, respectivamente,
aparecem como atividades desempenhadas por um número significativo de
bibliotecários no universo analisado (FIGURA 12). Vale destacar ainda que as
atividades de “Divulgação ao público” (50%) e “Revisão textual” (36,36%) estão
entre os destaques das atividades realizadas.
Figura 12 - Atividades desempenhadas pelos bibliotecários nas equipes editoriais
Nota: Dados extraídos dos questionários respondidos pelos editores.
48
Em relação ao item “Outros” do questionário, foram indicadas cinco
atividades: a) “Desenvolvimento de projetos (e prestação de contas) para captação
de verba junto aos apoiadores de revistas científicas no Brasil”; b) “Retorno de
algumas demandas e pendências institucionais-burocráticas”; c) “Ficha
catalográfica”; d) “Assessoria aos vários Editores”; e e) “Busca de indexações para o
periódico”.
Dentre as opções de atividades sugeridas no questionário, os 20 editores que
possuem bibliotecários assinalaram em média cinco opções. Cinco respondentes
(25%) assinalaram apenas uma opção de atividade, sendo: quatro indicações para
“Normalização técnica” e uma para “Organização e gerenciamento das bases de
dados virtuais”. Deste modo, nota-se que 75% dos editores indicaram que os
bibliotecários executam mais de uma atividade nas equipes editoriais.
Sob o ponto de vista do campo profissional, nota-se que é possível agrupar as
atividades e funções identificadas no Portal e sites dos periódicos bem como nos
questionários em quatro grandes áreas profissionais: Administração,
Biblioteconomia, Editoração e Tecnologia da Informação, conforme Quadro 2.
Quadro 2 - Agrupamento das atividades e funções por campo profissional
Administração Biblioteconomia Editoração Tecnologia da Informação
• Apoio técnico e
administrativo
• Assessoria aos autores e
pareceristas
• Assessoria técnica
• Desenvolvimento de projetos
• Divulgação ao público
• Equipe técnica
• Editora executiva
• Elaboração de relatórios
• Elaboração de análises
métricas
• Gerenciamento de redes
sociais
• Prestação de contas
• Bibliotecário
• Ficha catalográfica
• Indexação
• Normalização /
Normalização
técnica
• Assistente editorial
• Conversão XML
• Diagramação
• Edição de texto
• Gerenciamento do
fluxo editorial
• Produção editorial
• Revisão textual
• Secretaria de
edições
• Manutenção do site
do periódico
• Organização e
gerenciamento de
bases de dados
virtuais
Nota: Elaborado pela autora.
49
Observadas as devidas proporções e diferenças metodológicas e contextuais,
cabe ressaltar a diferença significativa entre os dados obtidos no levantamento
realizado no Portal e sites dos periódicos, em que somente 16,16% (16 periódicos)
de um total de 99 analisados indicavam a presença de bibliotecários em suas
equipes editoriais e os dados obtidos por meio dos respondentes (37 editores de
periódicos), em que 54,05% afirmam possuir bibliotecários em suas equipes,
conforme Figura 13.
Figura 13 - Comparativo dos dados relativos à indicação de bibliotecários na equipe de produção editorial
Nota: Dados extraídos do Portal de Revistas USP, sites dos periódicos e questionários respondidos pelos editores.
Em relação à importância do trabalho do bibliotecário na equipe editorial, 28
editores responderam à questão. Destes, 20 respondentes (71,43%) atribuíram nota
5 (Muito importante) à atuação do bibliotecário, considerando-se a nota 5 (Muito
importante) como nota máxima e nota 1 (Pouco importante) como mínima. A média
obtida junto aos respondentes foi 4,25, o que situa a atuação deste profissional entre
“Importante” e “Muito importante” (TABELA 2), segundo a avaliação dos editores.
50
Tabela 2 - Grau de importância atribuído ao trabalho do bibliotecário na equipe editorial
Grau de importância 1 2 3 4 5 Total Média
ponderada
Nº de respondentes 3 1 2 2 20 28
4,25 % 10,71% 3,57% 7,14% 7,14% 71,43% 100%
Nota: Dados extraídos dos questionários respondidos pelos editores.
Cabe ressaltar que os respondentes que atribuíram notas 1, 2 e 3 não
justificaram suas respostas.
Procurando-se analisar a possibilidade de admissão de bibliotecários por
parte dos editores consultados, os dados obtidos junto aos 28 editores que
responderam à questão (FIGURA 14), indicam que:
• 60,71% (17 editores) mostraram-se interessados na admissão de bibliotecários;
• 39,29% (11 editores) não demonstraram interesse na admissão de bibliotecários;
• 9 editores não responderam à questão.
Figura 14 - Interesse dos editores na admissão de bibliotecários
Nota: Dados extraídos dos questionários respondidos pelos editores.
51
No questionário foi disponibilizado um campo livre para a realização de
comentários. Foram realizados 23 comentários, elencados no Quadro 3. Para fins
analíticos, os comentários foram classificados, conforme o assunto predominante,
em duas categorias, conforme segue:
• Q → Número de bibliotecários na equipe
• R → Relevância do bibliotecário na equipe
Quadro 3 - Comentários realizados pelos respondentes do questionário
Identificação do comentário
Transcrição do comentário Assunto
predominante
Comentário 1 Éramos dois bibliotecários e bastante trabalho, porém um deles aposentou-se recentemente.
Q
Comentário 2
No momento não existe nenhum bibliotecário atuando no processo editorial da Revista [...], mas com certeza a colaboração de uma pessoa especializada na área seria um grande ganho para nossa revista.
Q
Comentário 3 Nossa secretária é aluna de biblioteconomia e por seu conhecimento tem grande valor para a revista
R
Comentário 4 temos 2 Q
Comentário 5 A função é importante. O bibliotecário é um profissional especializado, o que daria mais qualidade e eficiência ao nosso periódico.
R
Comentário 6 Não é necessário. Q/R
Comentário 7
Um bibliotecário poderia colaborar nos itens que não foram assinalados acima, que hj ficam por conta de pessoal terceirizada com formação em nível de pós-graduação.
R
52
Comentário 8
Temos uma demanda muito intensa em avaliação dos artigos e a experiência e habilidades de um bibliotecário são de suma importância para a qualidade das publicações
R
Comentário 9
Apesar do papel fundamental desempenhado pela profissional, pela demanda e concepção da revista não seria necessário no momento - a menos que se quisesse ampliar o projeto em termos de periodicidade e quantidade de artigos.
Q
Comentário 10 Um seria o suficiente. Q
Comentário 11 A presença do bibliotecário é muito importante, para execução de diversas tarefas, em geral o pesquisador não tem os conhecimentos específicos necessários.
R
Comentário 12 UM bibliotecário é suficiente para a demanda existente. Q
Comentário 13
Dependendo do número de artigos que a Revista publica e a abrangência, acredito que é preciso outro bibliotecário atuando, assim haverá uma maior flexibilidade e rapidez nos serviços.
Q
Comentário 14
O serviço prestado de normalização técnica em nosso periódico é executado por servidor que atua na profissão em uma das bibliotecas e, voluntariamente, participa do nosso corpo técnico. A direção da Universidade sempre disponibilizou um profissional voluntário, por isso, não temos justificativa para solicitar novos profissionais da área.
Q
Comentário 15
Sim, já tivemos uma bibliotecária que acabou sendo transferida para o [...], mas, infelizmente, não foi possível realizar concurso para sua substituição. Sua atuação era fundamental já que ela realizava diversas atividades, como: contato com assessores e autores; elaboração de análises métricas; elaboração de relatórios; gerenciamento de fluxo editorial; normalização técnica; organização e gerenciamento de bases de dados virtuais; organização dos repositórios institucionais. Além destas, atualmente, poderia cuidar também da divulgação ao público e gerenciamento de redes sociais. Sendo assim, considero muito importante a existência de um bibliotecário atuando diretamente na equipe editorial de uma revista e, tão logo haja possibilidade, solicitaremos a abertura desta vaga.
R
53
Comentário 16 A revista tem periodicidade semestral e nossa estrutura é pequena. A bibliotecária tem formação também em Jornalismo, e atua como Editora Executiva.
Q
Comentário 17
Necessidade de divisão de trabalho editorial entre 2 profissionais, visto que a Bibliotecária atualmente envolvida com o periódico é chefe do setor no [...] e tem múltiplas outras funções.
Q
Comentário 18 Pois, são profissionais preparados para lidar com as mudanças na área de publicação periódica, estando sempre atualizados.
R
Comentário 19
O ideal seria poder contar com um bibliotecário que atuasse exclusivamente na revista. Hoje, contamos com o trabalho 'voluntário' de uma bibliotecária que é funcionária de uma biblioteca da USP. Com um bibliotecário exclusivo, poderíamos ampliar as atividades executadas, tornando o serviço bibliotecário muito mais significativo para a revista.
Q
Comentário 20 Creio que no momento é suficiente para as atividades na Revista, futuramente poderemos pensar em expandir o quadro de funcionários.
Q
Comentário 21 A demanda é grande. Q
Comentário 22
Sim, pois o trabalho que vem sendo realizado pela bibliotecária, assessora editorial, tem sido de suma importância, principalmente, na resolução das demandas da versão online.
Q/R
Comentário 23 Pessoal, não temos bibliotecários e, por isso, as respostas de 2 a 4 não podem ser respondidas. Abraços
Não se aplica
Nota: Dados extraídos dos questionários respondidos pelos editores.
Dos comentários realizados, 15 dizem respeito à quantidade de bibliotecários
nas equipes (Comentários 1, 2, 4, 6, 9, 10, 12, 13, 14, 16, 17, 19, 20, 21 e 22).
Destes 15 comentários, seis salientam a necessidade de contratação de mais
bibliotecários (Comentários 2, 13, 17, 19, 21 e 22) devido às atuais demandas. Os
nove editores que não apontam a necessidade de contratação de bibliotecários
54
associam e justificam sua resposta à estrutura e atendimento da demanda atual de
suas publicações.
Nove comentários dizem respeito à relevância da atuação do bibliotecário nas
equipes de produção editorial e aos seus conhecimentos especializados
(Comentários 3, 5, 6, 7, 8, 11, 15, 18 e 22). Os comentários salientam aspectos
como experiência, habilidades, dedicação exclusiva e atualização profissional.
55
7 DISCUSSÃO
Os dados levantados no Portal Revistas USP e sites oficiais demonstraram
que 16,16% dos periódicos analisados indicaram a presença de bibliotecários em
suas equipes de produção editorial. Esse dado isoladamente poderia provocar certa
inquietude à proposta deste estudo em avaliar a atuação do bibliotecário nas
equipes. No entanto, esse dado aparentemente preocupante, suscitou
questionamentos acerca da necessidade e da demanda de bibliotecários nas
equipes editoriais, bem como sobre a estrutura dessas equipes e de seu nível de
profissionalização; questionamentos estes que nos conduziriam a outras veredas
que, certamente, transcenderiam o escopo deste estudo, mas que se apresentam
como possibilidades futuras de análise. Por outro lado, ao recebermos as
devolutivas de 37 respondentes, observou-se uma proporção distinta daquela
observada no Portal e nos sites, uma vez que 54,05% dos editores indicaram
possuir bibliotecários atuantes em suas respectivas equipes. Evidentemente, não
caberia aqui estabelecermos uma relação direta e até mesmo arbitrária entre os
percentuais obtidos, uma vez que o universo de respondentes correspondeu a
37,37% dos questionários enviados; porém, ampliaram as perspectivas de análise e
permitiram - considerando-se as delimitações deste estudo - compreender o cenário
de atuação do bibliotecário nas equipes de produção editorial.
Outro aspecto que convém destacar nesta investigação diz respeito à
escassez de literatura sobre a atuação de bibliotecários em equipes editoriais. Vale
ressaltar que o número reduzido de estudos dificulta a percepção de oportunidades
de trabalho e, até mesmo da adequação de currículos face aos desafios impostos
por demandas existentes. Ademais, os estudos poderiam ainda fornecer hipóteses
de pesquisa relacionadas ao mercado de trabalho e à formação e atuação
profissional.
Feitas tais considerações, os dados obtidos possibilitaram problematizar, no
contexto investigado, como se dá a atuação do bibliotecário nas equipes de
produção editorial e em que medida essa atuação se inter-relaciona com outras
56
áreas de atuação profissional, além de permitir o estabelecimento de correlações
entre habilidades e competências necessárias ao bibliotecário.
Ao iniciarmos a discussão sobre o cenário de atuação do bibliotecário,
notamos diferenças numéricas significativas ao classificarmos os periódicos por área
do conhecimento. Os dados demonstraram que, apesar da amostra selecionada
apresentar um maior percentual de periódicos da área de Ciências Humanas e
Sociais (67,67%), a maior parte dos bibliotecários identificados atua na área de
Ciências Biológicas e da Saúde (75% conforme dados do Portal e sites, e 56%
conforme os dados fornecidos pelos editores). Tal inversão pode ser indicativa das
distintas dinâmicas existentes nos processos de comunicação e divulgação científica
nas diferentes áreas do conhecimento, bem como ter relação com fatores
relacionados à obtenção de recursos financeiros e fontes de financiamento para
estruturação das equipes editoriais e contratação de profissionais e serviços.
No que diz respeito ao número médio de bibliotecários atuantes nas equipes,
foi observado que a maior parte dos periódicos possui em média um bibliotecário
desempenhando diferentes atividades e funções. Para fins comparativos, no
levantamento realizado no Portal e nos sites foram contabilizados em média 2,7
profissionais de diferentes áreas atuando nas equipes de produção editorial. Entre
esses profissionais, foram identificados secretários, revisores textuais, tradutores,
técnicos de informática, web designers, jornalistas, bibliotecários, entre outros.
Cumpre também destacar que no questionário, os editores assinalaram, em média,
cinco atividades exercidas pelo bibliotecário. Neste viés, cabe salientar que 60,71%
dos editores demonstraram interesse na contratação de bibliotecários e seis editores
ressaltaram em seus comentários essa necessidade devido à demanda existente,
indicando um potencial espaço de atuação para este profissional. Destacamos aqui
três comentários que abordam questões relativas a demanda de trabalho,
necessidade de contratação e de atuação exclusivamente na equipe editorial:
“Dependendo do número de artigos que a Revista publica e a abrangência, acredito
que é preciso outro bibliotecário atuando, assim haverá uma maior flexibilidade e
rapidez nos serviços.” (Comentário 13)
57
“Necessidade de divisão de trabalho editorial entre 2 profissionais, visto que a
Bibliotecária atualmente envolvida com o periódico é chefe do setor no [...] e tem
múltiplas outras funções.” (Comentário 17)
“Sim, pois o trabalho que vem sendo realizado pela bibliotecária, assessora editorial,
tem sido de suma importância, principalmente, na resolução das demandas da
versão online.” (Comentário 22)
No entanto, chama-nos a atenção o percentual de editores que não
demonstraram interesse na contratação do bibliotecário (39,29%) os quais também
associam suas respostas à demanda existente. Os comentários 9 e 20 exemplificam
essa situação:
“Apesar do papel fundamental desempenhado pela profissional, pela demanda e concepção da revista não seria necessário no momento - a menos que se quisesse ampliar o projeto em termos de periodicidade e quantidade de artigos”. (Comentário 9)
“Creio que no momento é suficiente para as atividades na Revista, futuramente poderemos pensar em expandir o quadro de funcionários”. (Comentário 20)
Quanto à importância atribuída pelos editores respondentes ao bibliotecário,
esse profissional foi avaliado entre “muito importante” e “importante” nas equipes de
produção editorial. A média obtida foi 4,25, considerando-se a nota máxima 5
(cinco). Essa avaliação é extremamente significativa, pois demonstra o
reconhecimento deste profissional, dada sua capacidade de atuação multidisciplinar
e multifacetada, conforme observado nos comentários realizados. Destacamos três
comentários em que essas características são evidenciadas pelos editores:
“A função é importante. O bibliotecário é um profissional especializado, o que daria mais qualidade e eficiência ao nosso periódico.” (Comentário 5)
“Temos uma demanda muito intensa em avaliação dos artigos e a experiência e habilidades de um bibliotecário são de suma importância para a qualidade das publicações” (Comentário 8)
“Sim, já tivemos uma bibliotecária que acabou sendo transferida para o [...], mas, infelizmente, não foi possível realizar concurso para sua substituição. Sua atuação era fundamental já que ela realizava diversas atividades, como: contato com
58
assessores e autores; elaboração de análises métricas; elaboração de relatórios; gerenciamento de fluxo editorial; normalização técnica; organização e gerenciamento de bases de dados virtuais; organização dos repositórios institucionais. Além destas, atualmente, poderia cuidar também da divulgação ao público e gerenciamento de redes sociais. Sendo assim, considero muito importante a existência de um bibliotecário atuando diretamente na equipe editorial de uma revista e, tão logo haja possibilidade, solicitaremos a abertura desta vaga.” (Comentário 15)
Na sequência discursiva do Comentário 15, o editor enumera as atividades
exercidas pelo bibliotecário e ressalta a relevância deste profissional na equipe,
atuando em um contexto onde sua presença demonstrou-se de suma importância.
Esses dizeres pontuam a construção de um discurso valorativo acerca do
bibliotecário. Por outro lado, um aspecto observado durante o levantamento no
Portal e nos sites dos periódicos foi a ausência da indicação dos membros da equipe
de produção editorial em 19 periódicos. Nesses casos, o levantamento da presença
de bibliotecários foi comprometido. Vale ressaltar que, destes 19 periódicos, sete
editores responderam ao questionário e indicaram a presença de bibliotecários
atuando em suas equipes, totalizando 10 profissionais. Caberia uma investigação
mais aprofundada sobre os motivos da ausência de identificação dos membros da
equipe de produção editorial e, consequentemente, dos bibliotecários, uma vez que
o visitante que acessa o Portal ou os sites dos periódicos tem essa informação
omitida. A priori, poderíamos tomá-la, nesse contexto, como invisibilidade
profissional, pois, ainda que parte significativa dos editores respondentes reconheça
a importância do bibliotecário nas equipes, tanto o profissional quanto sua área de
formação não são evidenciados nos créditos exibidos nos canais de comunicação
oficiais dos periódicos. Nesse sentido, Vieira e Romão (2011, p.180-181) apontam
que
[...] é possível considerar que a dificuldade de reconhecimento da ocupação profissional do bibliotecário resulta no vazio que o estereótipo preenche [...] entretanto, faltam iniciativas que se concentrem na educação sobre a profissão e sobre a capacidade do profissional, de forma a permitir que uma imagem construída sobre uma base mais realista possa ocupar o vazio sobre o profissional.
Ao levantarmos as atividades realizadas pelos bibliotecários entre os editores
respondentes, a normalização foi a atividade com maior percentual (81,82%) de
59
ocorrências; entretanto, no levantamento realizado no Portal e nos sites, essa
atividade representou somente (12,5%) das ocorrências, mesmo percentual de
atividades como “Apoio técnico e administrativo”, “Editora executiva”, “Equipe
técnica”, e “Produção editorial”. Vale ressaltar que no levantamento no Portal e nos
sites não foi possível evidenciar o tipo predominante de atividade executada pelos
bibliotecários, uma vez que foi observada uma distribuição equilibrada entre as
atividades e funções, além disso, foram identificadas cinco ocorrências com a
categoria “Bibliotecário”, isto é, sem especificação da atividade efetivamente
realizada.
Ironicamente, o fato da atividade de normalização constar entre uma das
atividades mais desempenhadas por bibliotecários poderia reforçar estereótipos
acerca da atuação deste profissional nas equipes editoriais, afinal quem nunca ouviu
a frase “o bibliotecário só normaliza”, que traz em si um repertório de estereótipos
associados ao profissional bibliotecário, bem como um profundo desconhecimento
acerca da atividade de normalização técnica de documentos. Nesse âmbito,
Maimone e Tálamo (2008, p. 309) comentam sobre a percepção acerca do
bibliotecário no mercado de trabalho:
Na sua origem, a participação do bibliotecário no mercado de trabalho acontece de forma empírica. Dizemos empírica, pois seu “posto de trabalho” sempre estava atrelado às atividades tidas como de cunho “técnico”. Essa percepção simplista do campo de trabalho deste profissional vem se modificando a cada dia à medida que se incorporam atributos intelectuais às atividades realizadas através do tratamento analítico de informações e também pela crescente introdução de novas tecnologias no cenário informacional, tornando necessária sua constante atualização. Assim, parece plausível que o bibliotecário realize, ao mesmo tempo, atividades consideradas tradicionais e atividades emergentes.
Quanto à normalização técnica de documentos, apesar de não ser uma
atividade obrigatoriamente e exclusivamente exercida por bibliotecários, a atividade
é tradicionalmente vinculada a esse profissional. No entanto, vale destacar que hoje
a normalização atinge outros patamares, sobretudo, devido à importância atribuída
às análises e aos estudos métricos da produção científica. Também cabe salientar
que a atividade de normalização, tanto no levantamento quanto nas devolutivas dos
editores, apareceu associada a outras atividades tradicionais e emergentes.
60
Neste interim, ao abordarmos o contexto dos espaços de atuação do
bibliotecário em equipes de produção editorial, foi possível notar que os
bibliotecários têm atuado em uma gama consideravelmente diversificada de
atividades e funções nas diferentes áreas do conhecimento, reiterando a percepção
de que há um nicho a ser explorado.
O estudo realizado apontou que os bibliotecários vivenciam uma realidade
profissional complexa e multifacetada e é essa questão que se impõe como ponto
central dessa discussão, em que os bibliotecários identificados desenvolvem
atividades e desempenham funções ligadas não somente à biblioteconomia, mas
também a diferentes áreas de atuação profissional como administração, gestão,
editoração, tecnologia da informação, entre outros. Para facilitar a compreensão
dessa questão, agrupamos no Quadro 4 as atividades e funções identificadas tanto
no levantamento no Portal e sites, bem as indicadas pelos editores no questionário.
Quadro 4 - Agrupamento das atividades e funções identificadas por campo de atuação profissional
Ad
min
istr
ação
• Apoio técnico e administrativo
• Assessoria aos autores e pareceristas
• Assessoria técnica
• Desenvolvimento de projetos
• Divulgação ao público
• Equipe técnica
• Editora executiva
• Elaboração de relatórios
• Elaboração de análises métricas
• Gerenciamento de redes sociais
• Prestação de contas
• Assistente editorial
• Diagramação
• Edição de texto
• Gerenciamento do fluxo editorial
• Produção editorial
• Revisão textual
• Secretaria de edições
Edit
ora
ção
Bib
liote
con
om
ia
• Bibliotecário
• Ficha catalográfica
• Indexação
• Normalização / Normalização técnica
• Conversão XML
• Manutenção do site do periódico
• Organização e gerenciamento de
bases de dados virtuais
Te
cno
logi
a d
a In
form
ação
Nota: Elaborado pela autora.
61
No conjunto de categorias, foram identificadas três funções: Bibliotecário,
Editora executiva e Assistente editorial, sendo as duas últimas relacionadas à
administração. Em termos de atividades, além da Normalização, destacaram-se
Gerenciamento do fluxo editorial, Assessoria a autores e pareceristas, Elaboração
de relatórios, Revisão textual, Gerenciamento de redes sociais e Organização e
gerenciamento de bases de dados virtuais. Observa-se que parte significativa das
atribuições do bibliotecário está vinculada a práticas gerenciais, seguida por
atividades relacionadas à editoração. Neste cenário, a função do bibliotecário como
gestor, com suas habilidades e conhecimentos adquiridos, tem se apresentado
como uma necessidade cada vez mais premente no âmbito das organizações,
assinalando necessidades específicas de formação e capacitação. Arruda (2000)
destaca que o mundo do trabalho vem redefinindo as qualificações do profissional
da informação, requerendo dele capacidade gerencial e administrativa.
No que tange à editoração, Maimone e Tálamo (2008) ressaltam que a
editoração se constitui como uma das possibilidades em que o bibliotecário pode e
deve enquadrar, levando em consideração que as revistas científicas são
consideradas hoje um dos meios de comunicação científica mais eficazes. As
autoras ainda apontam que
Neste sentido inferimos que, neste amplo conjunto de atividades, encontra-se o campo da editoração científica colocando aos profissionais atividades que permitem abrir mão de afazeres hoje substituídos por processamentos eletrônicos e enfocar aspectos relativos à organização, normalização e gestão das atividades envolvidas no processo editorial (MAIMONE; TÁLAMO, 2008, p. 309-310).
Em relação às tecnologias, Maimone e Tálamo (2008) também ressaltam que
seu manejo é indispensável e irão mudar o perfil das equipes. Os profissionais
bibliotecários envolvidos na editoração deverão ter o domínio de muitas técnicas: de
editoração, de marcação de textos, entre outros. Nesse sentido, Valentim (2000)
reforça que é importante que o bibliotecário seja consciente da interdisciplinaridade
de seu corpo teórico-metodológico, que deve habilitá-lo não só a usufruir das
tecnologias da informação, mas também a utilizar novas metodologias para o trato
da informação, inclusive no âmbito das equipes.
62
Outra atividade que, apesar da baixa ocorrência, nos chamou a atenção foi a
Marcação XML (eXtensible Markup Language), assinalada por dois editores, pois se
trata de uma atividade que demanda conhecimentos técnicos especializados e
formação específica. Vale destacar que a marcação de arquivos em XML hoje é uma
realidade para muitos periódicos e representa uma mão de obra de custo
relativamente elevado para as equipes que contratam esse serviço. Deste modo,
possuir profissionais que tenham esse conhecimento representa um ganho
significativo para os periódicos.
Tendo em vista essa gama de atividades envolvidas no processo de produção
editorial de periódicos acadêmico-científicos, Funaro, Ramos e Hespanha (2012, p.
9) reforçam que
Essas tarefas, além de contribuir para o aumento do valor da revista, podem ser realizadas pelos bibliotecários que, com seus conhecimentos especializados, estão cada vez mais inseridos no contexto da organização, editoração, normalização e, também na promoção destas revistas.
No que diz respeito à contribuição do bibliotecário nas equipes editoriais,
Tokic e Tokic (2004, p. 74, tradução nossa), salientam a complexidade das
atividades que podem ser executadas por esse profissional:
[...] a contribuição do bibliotecário na publicação de revistas científicas é um processo muito complexo, que consiste em uma série de tarefas especializadas executadas por especialistas de diversas áreas. Tais tarefas incluem a obtenção de financiamento permanente, como condição básica de existência, animar os autores a escreverem, trabalham na coleta organização e realização da revisão de obras, transportes (se necessário) e edição de textos, auxilia no preparo técnico para a imprensa (arte e design), distribuição da revista, controle de assinaturas, atende às reclamações dos assinantes etc.
Analisando a questão das bibliotecas como editoras de periódicos científicos
e dos bibliotecários-editores, Lawrence (2010, p. 235, tradução nossa), afirma que
63
A ideia de que as bibliotecas não só poderiam adquirir e organizar revistas, mas também produzi-las não é algo novo. A natureza colaborativa e tecnológica aliada às competências dos bibliotecários têm promovido um grande efeito e levado faculdades a considerar as bibliotecas como possíveis parceiros editoriais, especialmente quando percebem que muitas bibliotecas já abriram suas portas para publicação através da criação de repositórios institucionais.
Diante desse cenário, constata-se que a atuação do bibliotecário, além da
Biblioteconomia propriamente dita, está inter-relacionada com conhecimentos
teóricos e técnico-metodológicos, habilidades e competências de outras áreas
profissionais, como Administração, Editoração, Tecnologia da Informação. Com base
em tal observação, estruturamos um esquema representativo dessa inter-relação
entre as áreas profissionais envolvidas na atuação do bibliotecário nas equipes de
produção editorial (FIGURA 15).
Figura 15 - Esquema da inter-relação das áreas profissionais envolvidas na atuação do bibliotecário em equipes de produção editorial
Nota: Elaborado pela autora.
EQUIPE DE PRODUÇÃO EDITORIAL
64
No que se refere às habilidades e competências do bibliotecário, Passarelli
(2009) realizou um levantamento sobre as habilidades do bibliotecário
contemporâneo, salientando que são primordiais:
[...] habilidades analíticas/solução de problemas/decisão; habilidades de comunicação; criatividade e inovação; proficiência e conhecimento técnico; flexibilidade/adaptabilidade; habilidade interpessoal; liderança; compreensão organizacional e pensamento global; domínio/ responsabilidade/confiança; habilidade organizacional e de planejamento; administração de recursos; proatividade em relação às necessidades do usuário.
Cabe salientar que, nessa perspectiva, reforça-se a necessidade de análise
sobre a realidade profissional do bibliotecário, extraindo dessa reflexão uma melhor
compreensão da relação entre as atividades desempenhadas e a formação do
bibliotecário. Por seu turno, diante da demanda multidisciplinar das atividades
realizadas, os bibliotecários precisam permanentemente atualizar-se, ampliar e
buscar formação suficiente e abrangente para atuarem nas equipes editoriais.
Empiricamente, nota-se que a formação se dá, muitas vezes, no fazer cotidiano
dada a dificuldade de acesso a cursos de formação específica. Maimone e Tálamo
(2008, p. 318-319) observam:
Ressalta-se também que nem todas as faculdades de Biblioteconomia e Ciência da Informação possuem em sua matriz curricular disciplinas voltadas à editoração, o que acaba restringindo tanto o conhecimento quanto a atuação neste mercado de trabalho. Este fato encaminha-se na contramão do atual processo tecnológico, que permite cada vez mais a introdução deste profissional nesse ambiente. Esta percepção poderia provocar reflexões quanto à mudança no histórico de disciplinas oferecidas por estas Instituições.
Na tentativa de driblar tais dificuldades, instituições, como a Associação
Brasileira de Editores Científicos (ABEC), buscam oferecer cursos e promover
eventos com enfoque direcionado, que viabilizem o aprimoramento profissional, bem
como o desenvolvimento de habilidades e competências necessárias à práxis
profissional.
65
No que diz respeito à educação continuada, Prosdócimo e Ohira (1999) a
definem como um processo contínuo de atualização, aperfeiçoamento, treinamento
e aprimoramento das qualificações e habilitações individuais de cada profissional. As
autoras apontam que
O processo de globalização da economia, as inovações tecnológicas, as novas formas de organização do trabalho e os modernos meios de comunicação responsáveis pela criação do espaço virtual exigem do profissional da informação/bibliotecário, além das capacidades específicas de sua formação, níveis cada vez mais altos de educação, capacidade de trabalho em equipe e de comunicação no ambiente de trabalho, para enfrentar as mudanças existentes (PROSDÓCIMO; OHIRA, 1999, p.125).
Quanto a competência profissional, Fleury e Fleury (2001, p.184) a definem
como sendo “[...] qualidade ou estado de ser funcionalmente adequado ou ter
suficiente conhecimento, julgamento, habilidades ou força para uma determinada
tarefa”. Segundo Fleury e Fleury (2001, p. 184), um dos primeiros autores a utilizar o
termo competência foi McClelland7, em 1973, que a definiu como uma característica
subjacente a uma pessoa que é casualmente relacionada com desempenho superior
na realização de uma tarefa ou em determinada situação. McClelland visava
diferenciar competência de aptidão, concebida como talento natural da pessoa, o
qual pode vir a ser aprimorado, de habilidade, demonstração de um talento particular
na prática e de conhecimento, aquilo que as pessoas precisam saber para
desempenhar uma tarefa.
González e Tejada (2004, p. 98), afirmam que competências podem ser
entendidas como um conjunto de capacidades necessárias para o exercício de uma
atividade profissional e o domínio dos comportamentos correspondentes. Para os
autores, a compreensão das competências profissionais pressupõe um exercício de
aclarar os limites da profissão, atuando como ferramenta que ajuda os profissionais
a definir seu perfil e a identificar pontos fortes e fracos diante do mercado de
trabalho, além de agir como ponto-chave para a elaboração de planos de formação
profissional e também na gestão dos recursos humanos.
7 McCLELLAND, D. C. Testing for competence rather than intelligence. American Psychologist , p. 1-
14, 1973.
66
Nesse sentido, Zafirian (2008, p. 66), comenta
A competência profissional é uma combinação de conhecimentos, de saber-fazer, de experiências e comportamentos que se exerce em um contexto preciso. Ela é contatada quando de sua utilização em situação profissional, a partir da qual é possível de validação.
No contexto da atuação bibliotecária, Maimone e Tálamo (2008, p.311) apontam:
Figuram entre as muitas competências atribuídas ao bibliotecário, três delas que nos chamam a atenção para o tema da editoração: a normalização de documentos; a análise de trabalhos técnico-científicos e, a organização e gerenciamento de bases de dados virtuais.
Com base no levantamento das atividades e funções exercidas por
bibliotecários nas equipes editoriais (Quadro 4) e no levantamento de Maimone e
Tálamo (2008) acerca das competências do profissional da informação indicadas na
Classificação Brasileira de Ocupações - CBO (BRASIL, 2002) e das competências
requeridas pelas organizações, indicamos no Quadro 5 as competências requeridas
do bibliotecário no âmbito das equipes de produção editorial. Porém, cumpre antes
salientar que a indicação das competências aqui apresentadas para a atuação do
bibliotecário compreendem competências gerais, em conformidade com o contexto
de atuação identificado nesse estudo.
Quadro 5 - Competências do profissional da informação, suas correspondências no núcleo de competências exigidas pelas organizações e pelas equipes de produção editorial
Competências do Profissional da Informação na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO)
Competências requeridas pelas organizações
Competências requeridas pelas equipes de produção editorial
01 Manter-se atualizado Disposição para mudanças Interação com novas tecnologias
02 Liderar equipes Liderança Liderança
03 Trabalhar em equipe e em rede Afetividade + sociabilidade
Afetividade + sociabilidade + trabalho cooperativo com equipes multidisciplinares e periódicos
04 Demonstrar capacidade de análise e síntese
Análise e síntese / Avaliação Análise e síntese / Avaliação
67
05 Demonstrar conhecimento de outros idiomas Comunicação
Comunicação + tradução / Atendimento de autores, editores e revisores em outros idiomas / Disponibilização dos artigos em outros idiomas
06 Demonstrar capacidade de comunicação Comunicação Comunicação / Divulgação
07 Demonstrar capacidade de negociação Negociação
Negociação / Elaboração de orçamentos
08 Agir com ética Ética ou liderança Ética e liderança
09 Demonstrar senso de organização Organização e planejamento Organização e planejamento / Visão estratégica
10 Demonstrar capacidade empreendedora Realização
Investimento em outras formas de disponibilização da informação científica periódica
11 Demonstrar raciocínio lógico Criatividade + outras capacidades cognitivas
Criatividade + outras capacidades cognitivas
12 Demonstrar capacidade de concentração Atenção / Priorização Atenção / Priorização
13 Demonstrar pró-atividade Antecipar ameaças Antecipar ameaças
14 Demonstrar criatividade Flexibilidade / Criatividade Flexibilidade / Criatividade
Fonte: Adaptado de Maimone e Tálamo (2008, p. 313)
As competências requeridas do bibliotecário pelas equipes de produção
editorial, indicadas no quadro, estão atreladas ao contexto da atuação identificado
neste estudo. Nesse sentido, Ruas (2001) aponta que:
[...] a competência não se reduz ao saber, nem tampouco ao saber-fazer, mas sim à sua capacidade de mobilizar e aplicar esses conhecimentos e capacidades numa condição particular, aonde se colocam recursos e restrições próprias à situação específica. [...] A competência, portanto, não se coloca no âmbito dos recursos (conhecimentos, habilidades), mas na mobilização destes recursos e, portanto, não pode ser separada das condições de aplicação.
68
Dentre as competências assinaladas no Quadro 4, cumpre destacar: (i)
trabalho cooperativo com equipes multidisciplinares, uma vez que, além dos
profissionais envolvidos no processo de editoração, via de regra, estão envolvidos
também profissionais de outras áreas ou setores como financeiro, compras, recursos
humanos, entre outros; (ii) comunicação/divulgação, pois além do atendimento aos
atores envolvidos no processo (autores, editores, revisores, etc), no caso de
publicações em idioma estrangeiro e/ou bilíngue há a necessidade de domínio de
outro(s) idioma(s), e no caso da divulgação ter conhecimento de estratégias de
publicidade e marketing; (iii) interação com novas tecnologias, uma vez que os
avanços tecnológicos são constantes, exigindo do profissional contínua capacidade
de aprendizado técnico; e (iv) investimento em outras formas de disponibilização da
informação científica periódica, uma vez que busca-se hoje interação com redes
sociais e repositórios institucionais.
Fleury e Fleury (2001) tratam competência como um saber agir responsável e
reconhecido, que implica mobilizar, integrar, transferir conhecimentos, recursos,
habilidades que agreguem valor econômico à organização e valor social ao
indivíduo.
A análise pormenorizada das competências requeridas do bibliotecário nas
equipes editoriais demonstra que esse profissional, bem como a área de atuação,
estão em convergência com as competências requeridas pelas organizações de um
modo em geral, ou seja, além de ter domínio de conhecimentos específicos, o
bibliotecário deve primar por uma formação ampla, continuada e pautada pela
interdisciplinaridade.
69
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante das significativas mudanças de paradigma produzidas pelos novos
contextos informacionais e tecnológicos no campo da editoração científica, o
presente estudo teve como premissa analisar a atuação do bibliotecário em equipes
de produção editorial de periódicos científicos e, a partir dessa análise, lançar seu
olhar à luz dos desafios e oportunidades que se apresentam a esse profissional.
Por meio desse estudo foi possível notar maior inserção do bibliotecário nas
equipes editoriais, bem como maior diversidade e complexidade das atividades e
funções exercidas. Cumpre destacar que a atuação do bibliotecário na área de
editoração científica vem assumindo novas características e nuances, não
permanecendo restrita às atividades tradicionalmente ligadas aos bibliotecários. Foi
possível identificar uma gama de atividades e funções desempenhadas por
bibliotecários ligada tanto à sua área de formação - Biblioteconomia e Ciência da
Informação - quanto a diferentes áreas de atuação profissional, como administração,
editoração, tecnologia da informação, todas elas inter-relacionadas. Essa inserção
profissional com caráter multi e interdisciplinar, aliada aos conhecimentos adquiridos
durante a formação acadêmica, permite ao bibliotecário ampliar continuamente seu
escopo de atuação.
É importante salientar que mudanças hoje observadas no âmbito das equipes
editoriais de periódicos científicos se deram muito em função das transformações
tecnológicas e da importância que os periódicos assumiram no processo de
comunicação e divulgação científica, que exigem conhecimentos, habilidades e
competências cada vez mais específicos, dada as demandas que se impõem. Essas
mesmas mudanças possibilitam ao bibliotecário desempenhar papéis estratégicos,
bem como assumir funções com níveis maiores de complexidade e responsabilidade
nas equipes editoriais. Nesse cenário, são requeridas do bibliotecário competências
relacionadas a capacidade de trabalho cooperativo com equipes multidisciplinares,
interação com novas tecnologias, liderança e comunicação e, diante de tais
exigências, reitera-se a necessidade de aprimoramento contínuo do bibliotecário, a
70
fim de ampliar seus conhecimentos e desenvolver habilidades e competências
necessárias ao exercício profissional.
Evidentemente não se esgotam aqui as possibilidades de discussão acerca
do tema, pois nota-se que há espaços e lacunas a serem investigados, como a
questão da demanda de bibliotecários nas equipes editoriais; a questão da
visibilidade profissional do bibliotecário no âmbito das equipes; a questão da
formação e qualificação profissional, a fim compreender como e onde os
bibliotecários buscam se qualificar; bem como a questão dos currículos e sua
relação com o mercado da editoração científica, dentre tantas outras questões que
se apresentam nesse contexto.
Cumpre também destacar que, apesar desse estudo ter analisado periódicos
científicos em um contexto específico, é provável que haja certa universalidade entre
os contextos das equipes editoriais de periódicos científicos nacionais. Tal
correspondência pode contribuir para que hipóteses de pesquisa sejam levantadas a
fim de compreender a participação de bibliotecários no âmbito das equipes
editoriais.
As conclusões desse estudo convergem para um potencial aumento da
inserção do bibliotecário no campo da editoração científica, dada a necessidade
premente de profissionalização das equipes editoriais. As análises realizadas
também apontam para o aumento de atividades e funções de cunho gerencial,
associadas ao uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), no que
diz respeito ao gerenciamento de fluxos editoriais, gerenciamento de sites de
periódicos, bases de dados virtuais, repositórios institucionais, perfis em redes
sociais e divulgação ao público.
Em suma, ainda que pouco explorada, a área da editoração científica
constitui-se como um fecundo espaço de atuação aos bibliotecários. Porém, tal
espaço se sedimentará efetivamente mediante o incremento de esforços e ações
contínuas visando a profissionalização das equipes editoriais e, por conseguinte, dos
periódicos científicos nacionais.
71
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75
APÊNDICE A - LISTA PERIÓDICOS ANALISADOS
Título do periódico ISSN Unidade Responsável
1 Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa
1780-7686 Faculdade de Educação
2 Agrária 1808-1150 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
3 Anais do Museu Paulista 1982-0267 Museu Paulista
4 Arquivos de Zoologia 2176-7793 Museu de Zoologia
5 ARS (São Paulo) 1678-5320 Escola de Comunicações e Artes
6 Autopsy and Case Reports 2236-1960 Hospital Universitário
7 Boletim de Botânica da Universidade de São Paulo
2316-9052 Instituto de Botânica
8 Brazilian Journal of Oceanography 1679-8759 Instituto Oceanográfico
9 Brazilian Journal of Pharmaceutical Sciences
1984-8250 Conjunto das Químicas
10 Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science
1413-9596 Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia
11 Cadernos CERU 1413-4519 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
12 Cadernos de Ética e Filosofia Política
1517-0128 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
13 Cadernos de Filosofia Alemã: Crítica e Modernidade
1413-7860 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
14 Cadernos de Língua e Literatura Hebraica
2317-8051 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
15 Cadernos de Literatura em Tradução
2359-5388 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
16 Cadernos de Psicologia Social do Trabalho
1981-0490 Instituto de Psicologia
17 Cadernos PROLAM/USP 1676-6288 Programa de Pós-Graduação Interunidades em América Latina da Universidade de São Paulo - EACH
18 Caracol 2317-9651 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
19 Celeuma 2318-7875 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
20 Clinical and Laboratorial Research in Dentistry
2357-8041 Faculdade de Odontologia
21 Clinics 1980-5322 Faculdade de Medicina
22 Comunicação & Educação 2316-9125 Faculdade de Educação
23 Discurso 2318-8863 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
24 Economia Aplicada 1413-8050 Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
25 Educação e Pesquisa 1678-4634 Faculdade de Educação
26 Estilos da Clinica 1981-1624 Instituto de Psicologia
27 Estudos Avançados 1806-9592 Instituto de Estudos Avançados
28 Estudos Econômicos (São Paulo) 1980-5357 Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
29 Estudos Semióticos 1980-4016 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
76
30 Filologia e Linguística Portuguesa 2176-9419 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
31 Fisioterapia e Pesquisa 2316-9117 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
32 Geologia USP. Publicação Especial 2316-9087 Instituto Geociências
33 Geologia USP. Série Científica 2316-9095 Instituto Geociências
34 GEOUSP: Espaço e Tempo 2179-0892 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
35 Gestão e Tecnologia de Projetos 1981-1543 Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP (IAU)
36 InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação
2178-2075 FFLCRP
37 JISTEM – Journal of Information Systems and Technology Management (Online)
1807-1775 Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade
38 Journal of Applied Oral Science 1678-7765 Faculdade de Odontologia
39 Journal of Human Growth and Development
2175-3598 Faculdade de Saúde Pública
40 Linha d'Água 2236-4242 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
41 Literartes 2316-9826 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
42 Literatura e Sociedade 2237-1184 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
43 Malala 2446-5240 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
44 MATRIZes 1982-8160 Escola de Comunicações e Artes
45 Medicina (Ribeirao Preto. Online) 2176-7262 Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto
46 Novos Olhares: Revista de Estudos Sobre Práticas de Recepção a Produtos Midiáticos
2238-7714 Escola de Comunicações e Artes
47 Paidéia (Ribeirão Preto) 1982-4327 FFLCRP
48 Paisagem e Ambiente 0104-6098 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
49 Pandaemonium Germanicum 1982-8837 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
50 Papéis Avulsos de Zoologia (São Paulo) 1807-0205 Museu de Zoologia
51 Pesquisa em Educação Ambiental 2177-580X UFSCar, Unesp e FFLCRP
52 PesquisAtor 2238-7838 Escola de Comunicações e Artes
53 Phyllomedusa: Journal of Herpetology
1519-1397 ESALQ
54 Pós. Revista do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da FAUUSP
2317-2762 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
55 Psicologia USP 1678-5177 Instituto de Psicologia
56 Revista de Administração e Inovação
1809-2039 Núcleo de Política e Gestão Tecnológica
57 REGE Revista de Gestão 2177-8736 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
58 Revista Altejor 2176-1507 Escola de Comunicações e Artes
59 Revista Aspas 2238-3999 Escola de Comunicações e Artes
60 Revista Brasileira de Educação Física e Esporte
1981-4690 Escola de Educação Física e Esporte
77
61 Revista Contabilidade & Finanças 1808-057X Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
62 Revista CPC 1980-4466 Centro de Preservação Cultural
63 Revista Criação & Crítica 1984-1124 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
64 Revista da Escola de Enfermagem 1980-220X Escola de Enfermagem
65 Revista da Faculdade de Direito 2318-8235 Faculdade de Direito
66 Revista de Administração 1984-6142 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
67 Revista de Antropologia 0034-7701 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
68 Revista de Contabilidade e Organizações
1982-6486 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
69 Revista de Cultura e Extensão USP 2316-9060 Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária
70 Revista de Direito Sanitário 2316-9044 Faculdade de Saúde Pública
71 Revista de Filosofia Antiga - Journal of Ancient Philosophy
1981-9471 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
72 Revista de História 2316-9141 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
73 Revista de Psiquiatria Clínica 1806-938X Faculdade de Medicina
74 Revista de Saúde Pública 1518-8787 Faculdade de Saúde Pública
75 Revista de Terapia Ocupacional 2238-6149 Faculdade de Medicina
76 Revista Desassossego 2175-3180 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
77 Revista Digital de Direito Administrativo
2319-0558 Faculdade de Direito de Ribeirão Preto
78 Revista do Departamento de Geografia
2236-2878 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
79 Revista do Instituto de Estudos Brasileiros
2316-901X Instituto de Estudos Brasileiros
80 Revista do Instituto de Medicina Tropical de São Paulo
1678-9946 Instituto de Medicina Tropical de São Paulo
81 Revista Extraprensa 1519-6895 Escola de Comunicações e Artes
82 Revista LABVERDE 2179-2275 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
83 Revista Latino-Americana de Enfermagem
1518-8345 Escola de Enfermagem
84 Revista Turismo em Análise 1984-4867 Escola de Comunicações e Artes
85 Revista USP 2316-9036 Universidade de São Paulo
86 Risco: Revista de Pesquisa em Arquitetura e Urbanismo (Online) 1984-4506
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo
87 RuMoRes 1982-677X Escola de Comunicações e Artes
88 Sala Preta 2238-3867 Escola de Comunicações e Artes
89 Sankofa 1983-6023 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
90 Saúde e Sociedade 1984-0470 Faculdade de Saúde Pública
91 Saúde, Ética & Justiça 2317-2770 Faculdade de Medicina
92 Scientia Agricola 1678-992X ESALQ
93 Scientiae Studia 2316-8994 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
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94 Significação: Revista de Cultura Audiovisual
2316-7114 Escola de Comunicações e Artes
95 Signos do Consumo 1984-5057 Escola de Comunicações e Artes
96 SMAD. Revista Eletrônica Saúde Mental Álcool e Drogas
1806-6976 Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
97 Tempo Social 1809-4554 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
98 TradTerm 2317-9511 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
99 Via Atlântica 2317-8086 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
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APÊNDICE B - QUESTIONÁRIO ENVIADO AOS EDITORES
Atuação do bibliotecário no processo de editoração de periódicos científicos: o caso das revistas da USP Caro(a) editor(a), Sou graduanda do Curso de Biblioteconomia da ECA-USP e gostaria de solicitar sua colaboração no sentido de responder ao questionário referente à minha pesquisa para o Trabalho de Conclusão de Curso “Atuação do bibliotecário no processo de editoração de periódicos científicos: o caso das revistas da USP ”, realizado sob orientação do Prof. Dr. Marivalde Moacir Francelin, do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da ECA-USP. A pesquisa visa contextualizar a atuação do bibliotecário no cenário dos periódicos científicos, identificando atividades e papéis desenvolvidos por este profissional junto às equipes editoriais. Os dados serão utilizados estritamente para minha pesquisa acadêmica e não serão divulgados e/ou utilizados para outros fins. O questionário que segue é composto por quatro questões fechadas e um campo para comentários e levará aproximadamente 5 minutos para ser respondido. Sua participação é de suma importância para a realização deste estudo. Desde já, agradeço por sua valiosa colaboração!
QUESTIONÁRIO 1. Há bibliotecário(s) em sua equipe editorial?
Há bibliotecário(s) em sua equipe editorial? Não. Sim. Quantos? _________
2. Quais as funções desempenhadas pelo(s) bibliotec ário(s) de sua equipe editorial? Se necessário, assinale mais de uma funç ão.
Quais as funções desempenhadas pelo(s) bibliotecário(s) de sua equipe editorial? Se necessário, assinale mais de uma função. ( ) Assessoria aos autores e pareceristas ( ) Marcação XML ( ) Diagramação ( ) Divulgação ao público ( ) Edição de texto ( ) Elaboração de análises métricas ( ) Elaboração de relatórios ( ) Gerenciamento de redes sociais ( ) Gerenciamento do fluxo editorial ( ) Manutenção do site do periódico ( ) Normalização técnica ( ) Organização e gerenciamento de bases de dados virtuais ( ) Revisão textual ( ) Outro (especifique): __________________________
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3. Numa escala de 1 a 5, indique o grau de importân cia do trabalho do bibliotecário em sua equipe editorial. Onde, 1 significa “pouco impo rtante” e 5 “muito importante”.
( ) 1 ( ) 2 ( ) 3 ( ) 4 ( ) 5
4. Presumindo que haja um bibliotecário atuando em sua equipe, você contrataria outro(s) bibliotecário(s)?
( ) Sim ( ) Não Justifique sua resposta.
5. Deixe seu comentário.