O ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL E A EDUCAÇÃO...
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O ATLETA PROFISSIONAL DE FUTEBOL E A EDUCAÇÃO FORMAL:
LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS DE INCLUSÃO
Thiago Azevedo da Silva – Mestre em Cognição e Linguagem pela
Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF. Professor
da Faculdade Metropolitana São Carlos – FAMESC e Faculdade Santo Antônio
de Pádua – FASAP / Brasil. [email protected]
Vera Lúcia Deps – Doutora em Psicologia da Educação - Professora
Associada da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro
(UENF)/ [email protected]
Resumo
Este artigo decorre de uma pesquisa realizada com jogadores profissionais de futebol
em treinamento técnico, integrantes de um clube localizado em cidade de porte médio
na região sudeste do Brasil. O estudo fundamentou-se na teoria da Autorregulação da
Aprendizagem, e a observação do comportamento dos atletas em treinamento técnico
teve como referência as dimensões que integram o construto da Autorregulação da
Aprendizagem (dimensões cognitiva/metacognitiva, motivacional, comportamental e
contextual), nas diferentes fases do comportamento autorregulado (de antecipação, de
execução, e de reflexão ou avaliação final da tarefa). Participaram do estudo trinta e
dois (32)atletas. Além do questionário, utilizou-se como recurso de observaçãoum
grupo focal (entrevista coletiva),do qual participaram 15 sujeitos,como forma de
aprofundamento de alguns resultados obtidos através do questionário. Dentre os
temas abordados no grupo focal, discutiu-se as perspectivas profissionais dos
jogadores após o término da carreira, em que foi evidenciado que vários atletas, ao
iniciarem a carreira de jogador profissional de futebol, abandonam os estudos em
decorrência da rotina e jornada de trabalho, que inclui horário para treinamentos,
viagens, concentrações e dias de jogos. Considerando que a carreira de um atleta de
futebol é curta e que somente uma minoria atinge bons salários, a falta de qualificação
estudantil poderá interferir consideravelmente na vida desses sujeitos, pós-carreira.
Nesse sentido o presente relato, embasado na teoria da autorregulação e em
resultados obtidos através da pesquisa realizada, alerta para a necessidadede
maiorreflexão/conscientização dos atletas de futebol sobre suas realidades, e chama
atenção para a necessidade deinclusão educacional desses atletas, sugerindoo ensino
a distância como recurso para suas formações acadêmica, e para que possam ter uma
melhor perspectiva de ocupação e/ou profissão pós-carreira. Acreditamos que este
trabalho possa contribuir não somente para a reflexão dos atletas sobre a importância
da Educação em suas vidas, com reflexos em suas decisões, como também para a
reflexão e ação dos demais profissionais envolvidos no futebol.
Palavras-chave: Autorregulação da Aprendizagem; Atleta de Futebol; Educação a
Distância.
1- INTRODUÇÃO
O futebol é a modalidade esportiva de maior destaque no Brasil. Os
clubes têm procurado jogadores cada vez mais qualificados, seja no aspecto
físico, técnico, tático, psicológico, ou em outros; buscam a formação de fortes
equipes, que correspondam às suas expectativas para a disputa de
campeonatos e obtenção de títulos. Por outro lado a literatura especializada
mais recente, como Zimmerman (2010), Pintrich (2010), dentre outros, tem
enfatizado que em todas a áreas profissionais o comportamento autorregulado
contribui para o bom desempenho da pessoa que almeja alcançar determinado
objetivo.
Nessa perspectiva fez-se um estudo de caso1 com um grupo de trinta e
dois (32) atletas de um clube localizado numa cidade de porte médio da região
sudeste do Brasil, com o objetivo de identificar se esses sujeitos apresentavam
comportamento condizente ao que preconiza a teoria da Autorregulação da
Aprendizagem.
Utilizou-se como recurso de observação um questionário, elaborado de
acordo com a literatura especializada, compreendendo procedimentos
relacionados às dimensões que integram o construto da autorregulação nas
suas diversas fases. O instrumento foi testado para as devidas correções com
um grupo de pessoas com características semelhantes aos dos sujeitos do
estudo, e submetido à avaliação de três pesquisadores.
Após a aplicação do instrumento, as respostas dos sujeitos foram
quantificadas através de frequência e porcentagem transformadas em tabelas,
e fez-se a análise dos dados tomando como referência as fases e dimensões
que integram o construto da autorregulação, segundo o modelo apresentado
por Pintrich (2010). Após a análise do questionário, sentiu-se necessidade de
se realizar um grupo focal ou entrevista coletiva com um grupo de quinze
sujeitos escolhidos aleatoriamente, objetivando aprofundar alguns resultados
decorrentes da aplicação do questionário. Dentre as temáticas que se buscou
1Dissertação de mestrado intitulada “O comportamento em treinamento técnico de jogadores profissionais
de futebol: um estudo na perspectiva da autorregulação da aprendizagem”, realizada por Thiago Azevedo
da Silva, e apresentada ao programa de pós graduação em Cognição e Linguagem da Universidade
Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF)”, para a obtenção do título de Mestre, sob a
orientação da profa. Dra. Vera Lucia Deps.
compreender melhor com o grupo, uma foi relacionada às perspectivas
profissionaispós-carreirados atletas, considerando o tempo curto da
profissãodejogador de futebol. A entrevista foi gravada, e transcrita para
categorização das respostas e análise dos conteúdos.Este relato diz respeito a
esses resultados, e,os conteúdos serão apresentados na seguinte ordem:
Inicialmente faremos uma breve caracterização de todos atletas
observados, acreditando que isto poderá contribuir para a melhor compreensão
do texto. Em seguida descreveremos as perspectivas profissionais que se
apresentam aos atletas após suas retiradas do futebol e tendo em vista o
tempo curto de suas carreiras, ocasião em que serão relatados
posicionamentos deoutros autores sobre o tema. Posteriormente falaremos
sobre a inclusão escolar dos atletas de futebol, como alternativa para lhes
facilitar,após o término da carreira atual, oredirecionamento profissional;
primeiramente descreveremos a dificuldade de conciliação doensino presencial
com a profissão de jogador de futebol eposteriormente discutiremos a
educação a distância como possibilidade de inclusão educacional dos atletas.
Antes das considerações finais, faremos alusão às contribuições da teoria da
autorregulação da aprendizagem, como subsídiopara a necessidade dos
atletas se prepararem para o futuro, tendo em vista os seus reingressos no
mercado de trabalho.
2- PERFIL DOS ATLETAS DE FUTEBOL OBSERVADOS
Será descrito nessa parte o perfil de todos os atletas observados, e não
apenas da amostra que participou do grupo focal.
Os sujeitos do estudo foram trinta e dois (32) jogadores profissionais de
futebol, que integravam a equipe de um clube tradicional,localizado numa
cidade brasileira de porte médio. Os atletas desse clube têm tido
participaçãonos principais campeonatos estaduais.
O grupo era composto por 26 (vinte e seis) jogadores solteiros; 4
(quatro) casados; e 2 (dois) tendo união estável. Quanto ao número de filhos,
18 (dezoito) não possuíam; 9 (nove) tinham 1 (um); 3 (três) possuíam 2 (dois);
e 2 (dois) não responderam.
A idade dos jogadores variava entre 18 e 33 anos, com predominânciana
faixa entre 23 e 25 anos.
Os jogadores observados procediam de diversos Estados do Brasil,
predominantemente do Estado do Rio de Janeiro, e, dentre estes, a maioria
tinha suas famílias residindo na própria cidade onde se localizava o clube que
os contratou.
No que diz respeito ao nível de escolaridade, 8 (oito) possuíam o
fundamental incompleto; 5 (cinco) o fundamental completo; 9 (nove) o médio
incompleto; 7 (sete) o médio completo; 2 (dois) o superior incompleto e apenas
1 (um) o superior completo, sendo este graduado em Educação Física. A
grande maioria dos atletas não continuava estudando; os 2(dois) que
continuavam estudando, 1 (um) não informou o curso que fazia, e o outro
estudava Mecânica Industrial.
Antes de ingressarem numa equipe profissional, esses atletas
praticavam futebol como amadores. O tempo desses atletas como jogador
profissional variava de 1 (um) a 15 (quinze) anos, a maioria tendo 07 (sete)
anos de ingresso na equipe profissional.
Em suma, os atletas predominantemente eram solteiros, não tinham
filhos, encontravam-se na faixa entre 23 e 25 anos; a maioria procedia do
próprio Estado ou residia na cidade onde se localizava o clube que os
contratara. Dos 32 (trinta e dois) atletas somente 1 (um) tinha curso superior
completo, e 2(dois) cursavam faculdade; os demais não continuavam
estudando. Todos ingressaram na carreira de futebol muito novos,
iniciandocomo amadores no início da adolescência, e após a contratação como
profissionais, integrantes de equipe de um clube, os compromissos exigidos os
afastavam da família e da escola. Recebiam em torno de um salário mínimo,
aproximadamente o equivalente a $400 (quatrocentos dólares) mensais.
3- PERSPECTIVAS PROFISSIONAIS DOS ATLETAS PÓS-CARREIRA,
TENDO EM VISTA O TEMPO CURTO DA PROFISSÃO DE JOGADOR DE
FUTEBOL: RELATOS E POSICIONAMENTOS SOBRE O TEMA
O futebol representa um grande negócio para os clubes, tanto na
exportação de atletas, como também em negociações em termos de mercado
interno. Além disso, a grande paixão que o futebol exerce sobre pessoas de
todo o mundo, faz com que este esporte receba investimentos ou patrocínios
de várias empresas, possibilitando aos atletas que se destacarem, tornar-se
milionários em pouco tempo em decorrência dos altos salários que recebem.
Entretanto poucos são os que chegam ao ápice da carreira ou da fama,
consequentemente os que terão suas expectativas confirmadas. E é nisto que
está o cerne da questão e o que se pretende discutir nesse artigo, de acordo
com o que se constatou através de depoimentos dos atletas entrevistados.
A vida profissional de um jogador de futebol é curta, visto que em torno
de quarenta anos ele é considerado velho para a profissão. Ressalta-se que
não somente a idade poderá ser determinante para o abandono do futebol,
mas poderão ocorrer, segundo Brandão et al. (2000), outros motivos como
lesão, desmotivação por inúmeras dispensas, e a livre escolha de novos
rumos. Outros fatores poderão também contribuir, tais como os estudos, a
interferência familiar, dentre outros.
Foi perguntado ao grupo se eles têm pensado sobre a brevidade de
suas carreiras e todos afirmaram que sim, entretanto a maioria não tem tomado
providência tendo em vista esta realidade. Há de se considerar que o tempo
dos atletas é totalmente absorvido pela rotina que a carreira exige, o que
dificulta providências quanto ao trabalho no futuro.
Iglesias (2012), ao discorrer sobre a aposentadoria do atleta profissional,
relata sobre as dificuldades que esse grupo de profissionais passa, quando
chega ao final da carreira por não terem se preparado. O autor chama a
atenção para algumas sequelas emocionais geradas no sujeito pela nova e
conflituosa rotina de vida.
Brandão et al. (2000), fazem uma importante observação relacionada ao
encerramento da carreira do atleta:
Durante o processo da retirada do esporte os atletas se deparam com mudanças na sua vida pessoal, social e ocupacional, que os afeta cognitiva, emocional e comportamentalmente. A forma como eles respondem a estas mudanças dependerá da qualidade de adaptação da transição de carreira (p. 53).
Marques (2008) ressalta que, reconhecendo a necessidade de
planejamento futuro para a carreira do atleta, surgiram algumas organizações
esportivas mundiais com o intuito de oferecer programas de apoio ao atleta,
como nos Estados Unidos, Alemanha, Canadá, Austrália e Reino Unido. No
Brasil, o mesmo autor cita a AGAP (Associação de Garantia ao Atleta
Profissional), instituição esportiva que oferece algum apoio à classe:
A AGAP (Associação de Garantia ao Atleta Profissional), por exemplo, é uma associação que dá apoio a ex-atletas profissionais, principalmente de futebol, fornecendo orientação quanto a oportunidades de emprego e estudo, mas também doações diretas para tratamento de saúde e distribuição de cestas básicas. Há necessidade no Brasil, no entanto, de um programa mais amplo de apoio e aconselhamento do atleta ao longo de toda a sua carreira esportiva (AGRESTA, 2006 citado por MARQUES, 2008, p. 22).
Sem pretender invalidar o trabalho da AGAP, oferecer oportunidade de
trabalho após o término da carreira, quando muitos já ultrapassaram a idade de
30 anos, pode dificultar essa inserção, considerando o tempo de investimento
necessário para se obter um diploma, quando se deveria pensar numa
alternativa de natureza mais preventiva do que corretiva.
Outro aspecto considerável no que diz respeito ao fim da carreira de um
profissional de futebol é que seu salário é baixo, e poucos são os que
alcançam bons salários.
Cunha et al (2011 p.26) ao comentar a remuneração de atletas de
futebol alerta que “[...] precisamos romper com a ideia de que jogador de
futebol ganha bem. Sim, menos de 1% dos atletas profissionais no Brasil
podem ser considerados atletas bem-remunerados”.
Moioli 2004 (citado por Machado, 2006, p. 68) também retrata sobre o
salário de jogadores de futebol, informando que “no caso específico do futebol,
por exemplo, a grande maioria dos jogadores profissionais (52,9%) recebe
menos de um salário mínimo, enquanto apenas uma pequena minoria (4,3%)
recebe o equivalente a mais de 20 salários”.
Também relacionado ao salário de jogadores de futebol, Ariani (2013 p.
1) faz a seguinte observação:
[...] a própria CBF (Confederação Brasileira de Futebol) fez um estudo em 2011 informando que dos 14.678 atletas profissionais registrados em 2010, exatos 8.944 ganhavam até um salário mínimo, ou seja, a maior parte dos jogadores vive com menos de R$ 600 mensais.
ALei nº 9.615/1998 que trata também dos direitos dos atletas
profissionais, em seu artigo 31 § 1o, quanto ao salário, informa que: “São
entendidos como salário, para efeitos do previsto no caput, o abono de férias, o
décimo terceiro salário, as gratificações, os prêmios e demais verbas inclusas
no contrato de trabalho” (BRASIL, 1998).
Neste aspecto, pode-se observar que a legislação pátria assegura ao
jogador de futebol profissional todos os direitos trabalhistas, considerando-o
também um trabalhador.
O fato é que muitos jovens são atraídos no início da carreira pelo
glamour do futebol, tendo a esperança de mudar sua vida e a de suas famílias.
Cunha et al. (2011) chama a atenção a respeito de algumas dificuldades
encontradas durante a careira de umjogador, que muitas vezes não são
levadas em consideração:
A maioria das pessoas esquece de dois acontecimentos que se dão com jogador de futebol. Primeiro, que ele tem carreira curta. Segundo, que não são todos os jogadores que conseguem o estrelato e altos salários. Esquecem assim o sofrimento da grande maioria dos jogadores que não são famosos e que recebem uma miséria. Dessa forma, são poucos os jogadores que continuam estudando durante seu período como jogador, só percebendo o que fizeram quando seu período de produtividade no futebol termina (p. 26).
É lamentável observar que durante todo o tempo de dedicação à
profissão, muitos jogadores percebem que a única coisa que eles sabem fazer
é jogar futebol. E não tendo mais oportunidades, ao procurar uma nova
profissão, os mesmos encontram dificuldades pelo baixo nível de escolaridade.
É importante que, desde cedo, a família, os amigos e os profissionais de
futebol esclareçam a respeito dos desafios desta profissão. Homrich e Souza
(2010) ao relatarem algumas situações difíceis vividas por atletas de futebol
apesentam algumas sugestões que esses profissionais podem oferecer desde
cedo aos que aspiram ser jogadores de futebol;
Estas são algumas reflexões que servem para “amadurecer” a ideia a favor de que os profissionais que atuam nas categorias de base tem como tarefa questionar os jovens sobre o contexto no qual estão inseridos. Entre estas, como funcionam as leis e diretrizes do desporto que eles praticam e o que representa o ser atleta como ícone de identificação para uma parte da sociedade, e não se limitar única e exclusivamente ao ensino da prática desportiva, descontextualizada, meramente prática utilitária. Os profissionais do esporte não deverão ser apenas tutores dos jovens atletas, pois isso eles, embora não percebam, já tem demais. O professor no processo de ensino/aprender tem de ser um professor para o mundo da vida (p.68).
Nesse sentido, observa-se que quanto mais cedo os atletas tiverem
consciência dos desafios que envolvem a profissão de jogador de futebol,
maior será a probabilidade dos mesmos se prepararem para uma vida
estabilizada durante e após a carreira, atingindo ou não o profissionalismo.
Em suma, constatamos que são poucos os atletas do time de futebol
observado que continuam estudando, e os mesmos não recebem salário
suficiente para fazerem economia quelhes permita a manutenção futura ou a
investir em negócio que lhes possibilite a subsistência quando deixarem os
campos de futebol. Essa realidade, conforme retrata as falas dos autores
citados, não se limita ao grupo de atletas observados, ela abrange atletas de
todo país, exceto os raros que se destacam e recebem salários altíssimos,
considerados por muitos brasileiros comodesproporcional. E é nesses “ídolos”
que os atletas observados se espelham, acreditando que virão a alcançar a
mesma fama, expectativa essa irreal, considerando o número reduzidíssimo
daqueles que chegam ao estrelato.
Como já citado, a maioria dos jogadores observados eram solteiros e
poucos tinham filhos, entretanto possivelmente mais tarde todos ou a maioria
constituirá família, o que requer ainda melhores condições econômicas. Isto
reforça ainda mais a necessidade derefletirem e de se prepararem para uma
alternativa profissional futura.
Embora todos atletas observados tenham respondido que têm pensado
sobre a brevidade de suas carreiras, nem todos, ou apenas uma minoria, têm
tomado providência tendo em vista esta realidade, talvez em decorrência da
rotina da carreira. Isto porémnão diminui a necessidade de assumirem
posicionamento real em relação aos seus objetivos futuros, o que implica em
tomadas de providências, dentre elas, relacionadas à inclusão escolar.
4- A INCLUSÃO ESCOLAR DOS ATLETAS DE FUTEBOL
Abordaremos nesta parte a dificuldade de conciliação do ensino
presencial com a profissão de jogador de futebol, e, em seguida, as
perspectivas de inclusão através do ensino a distância.
Constatou-se que 93,75% dos sujeitos do estudo realizado não
continuam estudando. Marques e Samulski (2009), em sua pesquisa com
atletas com idade de 18 anos para mais, constataram que 51% dos atletas
tiveram seus estudos interrompidos em decorrência da carreira de jogador de
futebol.
Muitos jovens atletas, mesmo estudando, dificilmente colocam o estudo
como prioridade, principalmente os que atuam em grandes equipes. Seus
olhares estão voltados para as atividades relacionadas especificamente ao
futebol. Soares et. al. (2011) em sua pesquisa com jovens atletas de 15 a 20
anos de idade que atuam em clubes do Rio de Janeiro, observam que os
maiores interesses dos sujeitos entrevistados estavam diretamente ligados à
carreira no futebol e os estudos estariam em segundo plano.
É sabido que este distanciamento escolar vem desde a iniciação no
futebol, quando, ainda adolescentes, depositam toda sua esperança na carreira
de jogador, vendo neste esporte a oportunidade de ganhar muito dinheiro e
fama. Durante essa fase poucos enxergam a necessidade de se preparar, de
buscar novas alternativas fora do contexto do futebol. Considerando que uma
minoria consegue prosseguir na carreira, muitos desses garotos, ao se deparar
com o fracasso, se sentem frustrados e despreparados para buscar novas
alternativas para seguirem suas vidas (ROSA, 2009).
Soares et al. (2001) retratam que:
O mercado de futebol não apresenta uma oportunidade concreta para todos que vislumbram o sonho de ser um jogador famoso, a compatibilização entre treinamento e estudos formais é necessária para que aqueles que foram malsucedidos nofutebol (o que de fato ocorrerá com a maioria dos jovens envolvidos nesse processo). O investimento em
permanecer na escola é importante para que os malsucedidos não criem um custo posterior quando forem procurar vagas de trabalho no mercado formal (p. 261).
Neste sentido, observa-se a grande importância de se conscientizar o
jovem atleta, seja através dos familiares ou de treinadores/professores sobre
as incertezas da carreira de jogador profissional e despertá-lo para a
importância dos estudos. Muitos atletas não conseguem conciliar essa carreira
com a rotina de estudos, fato este comprovado nesta pesquisa, em que apenas
(6,25%) do grupo continua estudando.
A dificuldade de conciliar os estudos com a carreira de jogador de
futebol também é confirmada através de outras pesquisas, como as de
Wyllemann,Alfermann e Lavallee (2004); Ewyllemann e Lavallee (2004) e
Marques e Samulski (2009).
Indagados se estariam estudando se não fossem jogadores, os sujeitos
entrevistados responderam afirmativamente, dando aperceber que valorizam o
estudo. Mencionaram também que o ingresso num time profissional lhes
aumentou a importância atribuída aos estudos e à necessidade de estudar.
Afirmaram ainda que, ao dar uma entrevista, é importante saber o português
correto; outro motivo é quando o atleta vai jogar fora do país, e sente a
necessidade de saber a língua local ou de saber inglês. Tudo isto lhe possibilita
compreender a necessidade dos estudos.
Diante disso, constata-se que a importância atribuída aos estudos está
ligada diretamente à carreira profissional e não a outras possibilidades que o
estudo possa oferecer.
Marques e Samulski (2009) em seu estudo referente à análise da
carreira esportiva de jovens atletas, também constataram a dificuldade dos
atletas conciliarem a profissão de jogador de futebol com os estudos,
chamando a atenção dos clubes sobre a necessidade de propor alguma forma
de propiciar aos atletas continuidade à vida acadêmica, possibilitando assim
um futuro melhor após o término da carreira.
Reforça-se assim importância da atenção de todos os profissionais
envolvidos no futebol, a respeito da necessidade de continuidade do estudo
dos atletas, tendo em vista a duração curta da carreira, e a necessidade de
alternativas profissionais no futuro, que poderão ser facilitadas pelo estudo.
Na sociedade globalizada em que vivemos, uma boa qualificação
profissional necessariamente passa pela escolaridade, por conseguinte, uma
alternativa seria a continuidade dos estudos. Entretanto, a rotina desses
jogadores impede ou lhes dificulta a continuidade dos estudos através do
ensino presencial. Embora a profissão de jogador de futebol não ocupe o
atleta em todas as horas do dia, frequentemente são convocados para viagens
e concentrações, o que lhes dificulta frequentar uma instituição de ensino em
que a presença do estudante seja obrigatória. Por conseguinte há de se pensar
em alternativas que facilitem seus estudos, de modo a haver compatibilidade
com suas carreiras. Nessa perspectiva talvez uma alternativa fosse o ensino a
distância, organizado de forma a permitir flexibilidade para o estudo e
avaliações,de acordo com a disponibilidade de tempo do aprendiz.
Não é nosso propósito propor um currículo para o atleta de futebol, mas
apenas chamar a atenção do leitor para a necessidade de uma reflexão e
discussão sobre o tema. Entretanto, resguardada nossa posição, nos sentimos
impelidos a relatar alguns aspectos observados, e que poderão contribuir para
a elaboração de uma proposta curricular básica, independentemente do nível
de escolaridade dos sujeitos.
Alguns jogadores entrevistados reforçaram a necessidade de terem
certos domínios de conhecimento que lhes facilitaria em sua profissão,
principalmente relacionados à língua. Isto decorre do fato de frequentemente
serem abordados para entrevistas, por conseguinte sentiremnecessidade
demelhor domínio da língua materna. A carreira de jogador profissional
também pode exigir viagens de âmbito internacional, e isto os faz sentir a
necessidade deterem domínio de uma língua estrangeira, principalmente do
inglês, por ser amplamente utilizado por pessoas de todas nações.
Esses jogadores mencionaram também o quão seus conhecimentos e
visão de mundo têm sido ampliados em decorrência dos contatos humanos que
estabelecem, e das viagens que realizam, repercutindo favoravelmente
também no conhecimento de seus familiares. Entretanto suas experiências
poderiam ser mais enriquecidas, e os contatos humanos que estabelecem
mundo afora mais facilitados, se embasados em conhecimentosprévios
relacionados à diversidade cultural e geográfica.
Além disso, manter-se em forma e saudável é objetivo de todos, e, para
o atleta, condição indispensável para o seu bom desempenho em campo,
portanto conhecimentos sobre nutrição e saúde poderia lhes facilitar a adesão
a hábitos de vida saudável.
Observa-se também que os atletas desconhecem seus direitos
trabalhistas. Além disso, os meios de comunicação frequentemente
apresentam comportamentos de atletas em que se torna nítida a necessidade
de serem trabalhadosaspectos éticos na formação desses profissionais, por
conseguinte, no currículo poderia ser inserido conteúdos relacionados ao
direito e a ética.
Acreditamos que os aspectos mencionados, aliados ao treinamento de
conteúdos inerente à profissão, poderiam facilitar o jogador de futebol no
exercício de sua profissão, e no desempenho de papeis a ela correspondentes.
Além disto, um currículo de ensino à distância deveria englobar também outros
conteúdos necessários à formação geral e específica, de modo a facilitar a
inserção no mercado de trabalho desses atletas,quando deixarem os campos
de futebol.
5- A TEORIA DA AUTORREGULAÇÃO DA APRENDIZAGEM, COMO
REFORÇO DA IMPORTÂNCIA E/OU NECESSIDADE DOS ATLETAS SE
PREPARAR PARA UMA CARREIRA APÓS DEIXAREM O FUTEBOL
A teoria da Autorregulação nos facilitaa compreender a importância da
preparação do atleta, tendo em vista o redirecionamento de sua carreira
profissional no futuro,em decorrência do fato dela apontar alguns
direcionamentos que podem ser aplicados em qualquer área profissional.
De acordo com Zimmerman (2010), o comportamento autorregulado tem
caráter cíclico, isto é, envolve várias fases ou etapas, quais sejam: a) fase de
antecipação ou de planejamento e avaliação que antecede a ação; b) fase de
execução, que inclui o monitoramento e o controle da ação; e c) fase de reação
e reflexão, após a conclusão da tarefa. Vê-se assim que o comportamento
autorregulado é preventivo, visto que implica também no planejamento prévio.
É na fase do planejamento prévio que o sujeito clarifica os objetivos
pessoais que pretende alcançar. Nesta fase faz-se necessário que a pessoa
estabeleça etapas para a concretização de suas metas, e analise seus
conhecimentos anteriores, bem como, que selecione e reflita sobre as
estratégias relacionadas à ação que executará. O planejamento de
determinada atividade inclui também, dentre outros, o tempo a ser gasto no
cumprimento das tarefas a serem executadas.
Toda ação do sujeito se dirige em direção à obtenção do objetivo que se
pretende alcançar. O indivíduo pode ser autorregulado em direção ao alcance
de um determinado objetivo, e não o ser em direção a outro, isto é, ele pode
planejar, monitorar, implementar e avaliar a utilização de estratégias
adequadas num determinado sentido e não em outro. Pelo visto os atletas
observados não tinham clareza do objetivo a atingir após suas retiradas da
carreira de jogador de futebol, possivelmente porque estavam presos à meta
irreal para todos ou para a maioria, de que alcançariam fama e dinheiro através
do futebol.
Não havendo clareza no objetivo a alcançar, ou se o mesmo se alicerçar
em crenças irreais, à adequação da escolha da estratégia e a sua
implementação ficam comprometidas, não possibilitando o caminhar em
direção ao objetivo pretendido.
Zimmerman (2010, p. 14) define Autorregulação, mencionando que o
comportamento autorregulado se refere a “pensamentos, sentimentos e ações
autogerados, planejados, e ciclicamente adaptados para a obtenção de
objetivos pessoais”. Assim a autorregulação envolve o entrelaçamento das
dimensões cognitiva/metacognitiva, motivacional/afetiva, comportamental e
ambiental.
No que diz respeito à dimensão metacognitiva, Flavell (1976) afirma que
se trata do conhecimento pessoal em relação ao próprio funcionamento
cognitivo. Além disso, o mesmo autor menciona que a metacognição está
relacionada aos processos de supervisão e regulação que o sujeito exerce
sobre a própria atividade cognitiva na realização de uma tarefa. A
metacognição é conceituada por Brown (1978) como o controle deliberado e
consciente das atividades cognitivas. Nesse sentido, as ações metacognitivas
são os mecanismos autorregulatórios utilizados pelo sujeito durante a
resolução deum problema ou diante do enfrentamento de uma tarefa, o que
implica em ter consciência das limitações do próprio sistema, conhecer o
repertório de estratégias disponibilizadas, e utiliza-las de forma apropriada;
identificar e definir problemas; planificar e sequenciar ações para o alcance de
objetivos; supervisionar, comprovar, revisar e avaliar o andamento dos planos e
sua efetividade.
Santrock (2009) define o conhecimento metacognitivo como:
O conhecimento metacognitivo envolve monitorar e refletir sobre seus pensamentos atuais ou recentes. Isso inclui o conhecimento factual, tal como conhecimento sobre uma tarefa, sobre seus objetivos e o momento de usar procedimentos específicos para solucionar problemas (p. 291).
Nesta perspectiva, Flavell (1981) afirma que o controle que um indivíduo
exerce sobre sua própria atividade cognitiva depende das ações e interações
entre os conhecimentos metacognitivos (conhecimento sobre a pessoa, a
tarefa e as estratégias), experiências metacognitivas (aquelas que
acompanham a atividade cognitiva), as metas cognitivas (objetivos a serem
alcançados) e as estratégias (cognitivas – empregadas para o desenvolvimento
da atividade cognitiva em direção ao objetivo; metacognitiva – a função é
supervisionar o progresso).
Em relação ao conhecimento metacognitivo sobre pessoa, Flavell (1981)
afirma que este está ligado ao conhecimento que o indivíduo tem sobre seus
pontos positivos e negativos, com a finalidade de utilizar tais conhecimentos de
modo estratégico para o alcance de objetivos pessoais.
Em relação à tarefa, segundo Flavell (1981), diz respeito ao
entendimento da sua dificuldade, das informações disponibilizadas sobre a
mesma, dos conhecimentos que devem ser ativados para seu melhor
desempenho, dos fatores colaboradores para seu desempenho e sua relação
com os objetivos a que o indivíduo almeja alcançar.
Quanto às estratégias, estas relacionam-se à execução da tarefa e ao
conhecimento que a pessoa tem sobre a mesma. O conhecimento estratégico
é indispensável para a aprendizagem e autonomia do aluno, a fim de que a
atividade seja conduzida de forma eficaz. Para Veiga Simão (2004), na
construção da autorregulação da aprendizagem, o uso das estratégias é um
marco relevante, seja na fase de planejamento, dos atos executórios, ou da
avaliação do trabalho.
Para Santrock (2009) bons pensadores utilizam, com frequência,
estratégias e planejamentos eficientes na resolução de problemas, além de
saberem onde e quando usar a estratégia (conhecimento metacognitivo sobre
estratégia). Assim, compreender onde e quando usar estratégias resulta,
geralmente, do monitoramento da situação de aprendizagem pelo discente.
Vê-se assim que na perspectiva da teoria da Autorregulação o
planejamento e a implementação de estratégias é crucialpara o alcance dos
objetivos pretendidos a curto, médio ou longo prazo, mas esse planejamento
deve estar ancorado no alcance de objetivos acessíveis ou de acordo com as
reais possibilidades do sujeito. Pelo visto os atletas não tinham uma
perspectiva de carreira para médio ou para longo prazo, estavam voltados
essencialmente para a carreira imediata, perseguindo um objetivo pouco
provável de ser alcançado pela maioria, visto estar relacionado a uma
avaliação irreal de possibilidades individuais, relacionada a se tornarem
“estrelas” e consequentemente se enriquecer.
Quanto à dimensão motivacional relacionada àAutorregulação da
Aprendizagem,Wolters (2003) afirma que esta também pode ser compreendida
como o grau em que os sujeitos agem de modo intencional, no sentido de
principiar, manter ou reforçar a sua determinação quanto ao seu próprio
desenvolvimento, completar uma tarefa ou atingir um objetivo.
No construto da autorregulação a motivação assume um papel
fundamental no desenvolvimento da aprendizagem, considerando que a
pessoa motivada pode ter aprendizagem mais eficaz. A dimensão motivacional
está relacionada à crença que o sujeito tem sobre as tarefas, ao despertamento
do interesse e à reação mediante a execução das tarefas (VEIGA SIMÃO,
2006).
Para Zimmerman, Bandura e Martinez-Pons (1992) os aprendizes
autorregulados são diferenciados tanto por suas performances quanto por suas
capacidades automotivadoras.
Os resultados do estudo comprovaram que os atletas observados
apresentaram grande motivação para a realização da tarefa, decorrentes de
uma considerávelatribuição de valor à profissão de jogador, porperceberem
que através delapoderiam se tornar ricos e famosos. Entretanto, se alguns
deles alcançarem o que pretendem, possivelmente esses serão a minoria, visto
que o sucesso que esperavam obter no futebol depende não somente da
habilidade de executar bem a tarefa, mas também em ser considerado o
melhor dentre os melhorespara poder chegar ao topo e obter o reconhecimento
que esperavam. Entretanto, a atribuição de valor que davam ao futebol aliada à
grande crença de autoeficácia que possuíam, está ancorada na crença de que
Deus lhes ajudaria a alcançar seus objetivos, lhes possibilitavapersistência na
execução da tarefa, maior esforço e atenção, condições mencionadas pelas
teorias da Autorregulação como indispensáveis para o alcance do objetivo
pretendido.
Bandura (1986, 1997) refere-se à autoeficácia como sendo a percepção
da capacidade para realização de uma tarefa específica ou para um conjunto
de tarefas em um domínio específico. Segundo o autor, aautoeficácia
relaciona-se à crença de um indivíduo sobre sua capacidade para atingir
determinadas realizações, e à crença ou expectativa de que é possível, através
do esforço pessoal, realizar com sucesso uma determinada tarefa e alcançar
oresultado desejado. Vê-se assim que, se a crença do indivíduo for baixa em
uma determinada tarefa, ele estará menos motivado para realiza-la, em virtude
do medo ao fracasso. Esse aspecto é destacado por ter grande influência na
tomada de decisão das pessoas, especificamente dos atletas a que nos
referimos. Entretanto uma alta eficácia como parecia ser a desses atletas pode
ser irreal, podendo interferir desfavoravelmente na própria ação.
As pessoas podem ser motivadas por várias razões, sejam pelos seus
próprios interesses e valores, ou por razões externas. Neste caso executar a
tarefa não é o único objetivo, outros fatores externos podem ter grande
influência no direcionamento das ações, tais como dinheiro, sucesso e
reconhecimento (MORENOet al., 2006).
Considerando que a motivação pode também advir de fatores externos,
os atletas poderão receber incentivos de seus treinadores, de seus pares e da
própria família tendo em vista seus direcionamentos profissionais futuros.
Segundo Machado (2006, p. 113)
Estudos indicam que a família é um forte elemento complicador se não direcionar seus objetivos com clareza e precisão e favorecer o crescimento do atleta, apoiando-o em suas decisões e fortalecendo suas intenções; o equilíbrio do atleta
será maior quanto mais se sentir apoiado e acolhido pela família.
Conforme mencionado pelos atletas, várias famílias valorizavam muito a
sua profissão, considerando que isto lhes conferia status, repercutindo na
própria percepção da família. Por conseguinte, para algumas famílias poderá
ser ameaçadoraa possibilidade dos filhos desejarem continuar os estudos,
temendo que isto possa interferir em suas carreiras de atleta.
Eccles e Wigfield (2002) relatam que a motivação de um indivíduo
depende de suas expectativas pessoais, do êxito, da credibilidade, e da
importância atribuída à tarefa a ser realizada. Ammes (1992) afirma que uma
poderosa maneira de motivar um indivíduo é fazê-lo enxergar a importância ou
significado de determinada tarefa. Pintrich (2010) descreve esse recurso como
ativação do valor da tarefa. Conforme mencionado, essa era uma característica
bastante forte nos sujeitos observados, que vinham no futebol a esperança
para um futuro melhor. A dificuldade que isto pode ocasionar parece decorrer
da atenção estar voltada para um único objetivo ou possibilidade de sucesso,
dificultando assim a percepção de outras opções, e tornando mais difícil a
aceitação da não obtenção do alvo pretendido.
Quanto à dimensão comportamental/volitiva, Veiga Simão (2006)
informa que esta se refere às estratégias ligadas à volição, ao esforço realizado
nas tarefas, tal como a persistência, a procura de ajuda, e a escolha de
comportamento em razão dos êxitos a serem alcançados.
Carta (2012) explica que a fase de controle volitivo está relacionada aos
processos que ocorrem em um determinado momento da aprendizagem, tendo
como objetivo possibilitar aos sujeitos o alcance dos objetivos
estabelecidos,por meio do uso de adequadas estratégias.
A volição relaciona-se ao controle de intenções e impulsos para que a
ação ocorra. Portanto, as estratégias volitivas contribuem na gestão do esforço,
uma vez que estimulam a procura de boas condições para a realização deuma
ação bem sucedida (KUHL, 1984; CORNO, 2001). Desta forma a volição traduz
a vontade eo esforço que a pessoa executa para alcançar e manter o objetivo a
que se propõe (CORNO, 1994).
Existem situações que exigem controle volitivo, e as estratégiasvolitivas
podem contribuir para que a pessoa tenha controle de sua motivação, de seus
processos internos, de seu comportamento e do ambiente de aprendizagem,
bem como no tocante à atenção, à ansiedade e aos elementos que desviam a
atenção das tarefas e/ou dos objetivos elaborados (CORNO, 2001).
Para Kuhl (1984) as estratégias volitivas contribuem para a manutenção
da atenção, podendo evitar respostas impulsivas, como também colaboram
com a perseverança, a gestão do esforço durante a realização da tarefa e o
controle das emoções e sentimentos.
Possivelmente os atletas necessitarão muito de controle volitivo para
compatibilizar a carreira de futebol com a tarefa de estudar. Embora
pensassem em suas vidas após se retirarem da carreira de jogador de futebol,
faltava-lhes controle volitivo para tomar atitudes que pudessem lhes ser
favoráveis a médio ou a longo prazo.
Na dimensão contextual, Veiga Simão (2006) informa que essa envolve
o contexto físico e social do ambiente de aprendizagem. Além disso, esse
ambiente é fator essencial para que ocorra a aprendizagem na perspectiva do
processo autorregulatório (LOPES DA SILVA, VEIGA SIMÃO E SÁ, 2004).
Carita et al. (1998) informa que o espaço da execução da tarefa deve ter
boas condições para o desenvolvimento, promovendo a concentração dos
indivíduos. Todavia, Freire (2009) ressalta que no ambiente de aprendizagem,
os alunos devem ter o controle do ambiente físico e ter a consciência dos
fatores sociais envolvidos na aprendizagem. O autor ressalva também que o
meio ambiente poderá sofrer influências de valores, pressões sociais, o que
poderá interferir nos resultados.
Outro fator importante relacionado ao contexto diz respeito ao apoio
familiar na influência da aprendizagem. Schunk (1994) destaca que a
interferência da família tem ligação direta com a perspectiva de o aprendiz
alcançar ou não um determinado objetivo.
Vieira e Krebs (2005, p.42) analisam a importância do ambiente para o
bom desenvolvimento do atleta, afirmando que:
[...]a possibilidade de jovens alcançarem suas metas não está somente determinadas pelas suas capacidades individuais
(atributos pessoais), mas também pela influência de fatores ambientais, oriundos dos contextos social e cultural dos quais aspessoas em desenvolvimento estão inseridas, bem comodas inter-relações que ocorrem entre esses contextos.
Vê-se assim que, de acordo com a teoria da Autorregulação da
Aprendizagem, o êxito do redirecionamento da carreira desse profissionais de
futebol dependerá muito das atitudes que tomarem antecipadamente, no
sentido de planejarem, monitorarem, controlarem, e avaliarem seus
comportamentos tendo em vista o alcance do objetivo pretendido, e, a inclusão
escolar, poderá ser uma estratégia valiosa para o alcance de metas futuras.
6- CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa teve como propósitopossibilitar reflexões do leitor sobre
aspectos importantes evidenciados através da pesquisa realizada, no que diz
respeito a inserção no mercado de trabalho dos atletas de futebol após
deixarem esta carreira.
Espera-se que este texto possa contribuir não apenas para a reflexão de
atletas de futebol, mas também de outros profissionais atuantes nesta
modalidade esportiva.Apontou-se o estudo à distância como uma estratégia
para integrar no mercado de trabalho os sujeitos observados.
Embora este estudo tenha se limitado a um grupo restrito de sujeitos, as
evidências apontadas convergiram com a literatura especializada, contribuindo
para reforçar a validade dos resultados.
Concluindo este texto, queremos reforçar que o que se advoga não é o
abandono da profissão de jogador de futebol, uma vez que isto corresponde à
vocaçãodos atletas conforme seus relatos, mas que, paralelamente à carreira,
os atletas sejam incentivados por seus dirigentes apensaremem alternativas
para seus futuros e se preparem para a obtenção de um emprego que lhes
facilite ou garanta suas subsistências e a de suas famílias, ancorados numa
escolaridade oferecida através do ensino a distância.
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