O Artista e o Jornalista Segundo Oscar Wilde -

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Transcript of O Artista e o Jornalista Segundo Oscar Wilde -

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2ª Parte: Relatório Científico

1. Resumo da Pesquisa

Oscar Wilde, escritor de uma das personalidades mais marcantes do final do século XIX e

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personagem de si 54(5%<& =>2$4++%&?%++45@403A&/%'4&(40&5*!1%&2/0%/0!2'2B . Este trabalho

visa observar como Oscar Wilde caracteriza o Artista e o Jornalista, cada qual em sua função,

através da identificação das formas de nomeação presentes no corpus, o artigo A Alma do

Homem Sob o Socialismo e o romance O Retrato de Dorian Gray. O programa Word Smith

Tolls(5.0) serviu como um instrumento fundamental para a observação do uso, ocorrência e o

contexto de palavras e/ou expressões referentes ao objetivo traçado: a análise de como

Oscar Wilde entende a função Artística e Jornalística. Esta pesquisa foi realizada por meio da

categorização dos diálogos do romance e das falas do artigo inseridos na narrativa que

contêm os elementos textuais ligados ao Artista e ao Jornalista. Foi visto que as marcas de

interpessoalidade são observáveis em diferentes formas: em O Retrato de Dorian Gray nas

interações entre os protagonistas e no artigo A Alma do Homem Sob o Socialismo na voz de

seu autor.

2. Relatório Científico

2.1 Introdução

Este estudo busca analisar a linguagem de Oscar Wilde, a fim de compreender o

significado e as relações que permeiam as funções do Artista e a do Jornalista. A coleta de

expressões, termos e palavras que caracterizem e elucidem o pensamento de Wilde, tais como

tolo, amigo, carismático e vaidoso, foi realizada por meio da ferramenta WordSmith Tools(5.0).

Acredito que trazer à luz o significado e simbologia da linguagem de Wilde em função da

definição de uma singular percepção sobre o Artista e o Jornalista através da identificação das

metáforas textuais encontrados nos textos A Alma do Homem Sob o Socialismo e O Retrato de

Dorian Gray justifica este Projeto de Pesquisa com base na literatura de Johnson Lakoff, autor

que considera algo como metafórico quando a experiência cotidiana está envolvida.

!$#

#

Além de se relacionar com a questão contemporânea da transformação do indivíduo em

sociedade pela produção de um personagem como Dorian Gray, analisar o pensamento de Wilde

significa entrar em contato com uma produção inovadora, muitas vezes julgada como

desprendida e até escandalosa na época de seu lançamento, mas que proporcionou o espaço

social necessário para a franca discussão sobre a razão de ser do Indivíduo, suas articulações e

fundamentos sociais e até sobre a própria Arte.

Desta forma este projeto foi divido em duas partes: primeiro trarei uma análise sobre como

Oscar Wilde descreve e contextualiza o Artista enquanto sujeito, ator e profissão através dos

elementos textuais, tais como pintor, artístico e caprichoso (vide tabela 2.3.2.1), ocorrem em O

Retrato de Dorian Gray e A Alma do Homem Sob o Socialismo. Em seguida proponho uma

análise sobre a figura do Jornalista no século XIX pelo olhar do autor no artigo A Alma do Homem

Sob o Socialismo devido à ocorrência de palavras como sisudos, culpados e tolos (vide tabela

2.4.1.1). Vale dizer que esta divisão foi feita com base na ocorrência de elementos textuais

referentes ao Artista em ambas as obras, enquanto as palavras relacionadas à figura do

Jornalista apenas aparecem no artigo A Alma do Homem Sob o Socialismo.

Em relação à literatura já previamente citada, discuto-a ao longo de minha análise. Penso

que é ao longo do processo de discussão e análise que os conceitos, teorias e leituras

complementares (tais como o livro do próprio Oscar Wilde, De Profundis) podem ser visualizados

de uma forma mais clara por estarem contextualizados na análise.

2.2 Metodologia

Tendo em vista o panorama cultural da sociedade inglesa durante o século XIX, os textos

específicos de Wilde, O Retrato de Dorian Gray e A Alma do Homem Sob o Socialismo, serão a

base para a compreensão das funções de classe, Artista e Jornalista, que definem, segundo o

autor, as características essenciais para o trabalho do indivíduo em sociedade, assim como sua

própria elevação enquanto sujeito.

Assim trabalhei na sistematização, análise e interpretação do corpus escolhido. Através da

orientação da Professora Orientadora, os textos de autoria de Oscar Wilde foram submetidos ao

Programa WordSmith tools (Scott 5.0), para uma análise qualitativa detalhada que forneceu as

bases para o trabalho de interpretação do pensamento de Wilde.

O programa WordSmith Tolls serviu como um instrumento fundamental para a observação do o

uso, a ocorrência e o contexto de palavras como sisudos, culpados, pintor e orgulhoso que são os

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#

elementos referentes ao objetivo traçado pela concordância entre esses termos e as figuras do

Artista e do Jornalista. Desta forma, sugeri a análise e elucidação das funções Artística e

Jornalística através da identificação das formas de nomeação que, segundo a LSF são as

metáforas textuais.

Ou seja, o trabalho de caracterização do Artista e do Jornalista quanto às suas funções foi

realizado por meio da categorização dos diálogos inseridos na narrativa e de falas do próprio

autor inseridas no artigo que expressam nomes ligados ao Artista e ao Jornalista. O resultado

desta análise foi realizado por meio dos capítulos 1. 6, 9, 13 e 20 de O Retrato de Dorian Gray e

no artigo A Alma do Homem Sob O Socialismo. Vale ressaltar que como a figura do Jornalista

apenas aparece no artigo e não na narrativa, a análise sobre esta função social se restringiu ao

texto A Alma do Homem Sob o Socialismo, enquanto a análise sobre a função do Artista foi feita à

partir da leitura dos dois textos, o artigo e o romance O Retrato de Dorian Gray.

2.3 Análise: Características e Descrição dos Textos

Foi visto durante o processo de análise que os elementos textuais relacionados ao Artista

aparecem em ambas as obras de Oscar Wilde: O Retrato de Dorian Gray e A Alma do Homem

Sob o Socialismo. No primeiro, romance publicado em capítulos pela Lippincott´s Magazine em

1890, Wilde parece descrever as características comportamentais do Artista quanto pessoa. Já

no artigo publicado no mesmo ano pela Fortnightly Review (revista onde em março de 1890 Wilde

publicou um prefácio para O Retrato de Dorian Gray), o autor sugere um olhar mais focado na

experiência social do Artista, ou seja, contextualiza a função artística na descrição de algo mais

amplo, a sociedade inglesa do século XIX.

Sobre A Alma do Homem sob o Socialismo pode-se dizer que este é um texto onde Oscar

Wilde debruça-se sobre temas como liberdade, autoridade, individualismo, arte e política. Quando

publicado pela primeira vez como livro em 1904 este ensaio contribuiu para a discussão sobre

questões políticas acerca do individualismo, socialismo, anarquismo, pobreza, filantropia e as

limitações da liberdade possuíam grande espaço no debate inglês deste período.

9em a alma do homem sob o socialismo existe uma vigorosa tentativa de sustentar

que cada indivíduo C não só o homem excepcional, o artista C pode achar e expressar

a si próprio.Trata-se de um libelo em favor da liberdade

de expressão do homem comum na verve do mais ferido do 'D"'!(<

Os editores

In: A Alma do Homem Sob o Socialismo. WILDE, Oscar.pág.11

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#

No texto é constante a preocupação de Wilde sobre a manutenção do pensamento arcaico,

%&7*4&%&2*1%0&'4"%5!"2&$%5%&9=BBBA&4((2&!5/%(!EF%&(G0'!'2&'4&6!640&/202&%*1045&=BBBA<&=/H3BIJAB&:&

autor afirma que o jogo de forças sociais em sua atualidade é, na verdade, um grande

contribuinte para a degradação de todo o potencial humano, seja na esfera da criação, do

trabalho e até espiritual. O principal agente deste processo de degradação é, para Wilde, a noção

'4&/0%/0!4'2'4&/0!62'2B&K43*"'%&%&2*1%0&9=BBBA&)&!5%02+&%&*(%&'2&/0%/0!4'2'4&/0!62'2&$%5&%&.!5&'4&

mitigar os males horríveis de correntes da instituição da propriedade privada. É tão imoral quanto

!"L*(1%B<=/Hg.17)

É partir desta visão sob a sociedade inglesa do século XIX que Wilde desenvolve uma

espécie de projeto em prol de solucionar a problemática social de seu tempo. O autor inicia sua

defesa pelo Individualismo desvinculado à idéia de propriedade privada. Este é um Individualismo

que, segundo Wilde, utiliza-se da liberdade de expressão e de um sistema contrário ao de coação

rumo à escolha individual sobre seu próprio trabalho. Somente dessa forma o homem conseguirá

dar expressão à sua Individualidade o que torna o homem o próprio responsável por seu

aperfeiçoamento. Assim, com a existência de melhores indivíduos há a existência de uma grande

chance de se presenciar uma sociedade melhor, mais justa e harmoniosa.

Wilde coloca o Individualismo como uma forma intimamente ligada à busca pela

personalidade individual que, segundo o autor, é aquilo que gera o ambiente propício para o

desenvolvimento de uma cultura ligada aos saberes e não à cega e incessante busca pelo lucro.

9:&;%545&!0H&(4&52120&/%0&4M$4((%&'4&1rabalho com o fim de garantir a propriedade, o que não é

de surpreender, diante das enormes vantagens que ela oferece. É de lamentar que a sociedade,

constituída nessas bases, force o homem a uma rotina que o impede de desenvolver livremente o

que há de maravilhoso, fascinante e agradável - rotina que, de fato, perde o prazer verdadeiro e a

2+430!2&'4&6!640B<&=/H3BNOA

Wilde ainda afirma que dentro do que considera como o processo rum ao Individualismo

*52& 412/2& "4$4((H0!2& )& %& K%$!2+!(5%B& 9P& /%0& 54!%& '%& K%$!alismo, que atingiremos o

Individualismo. Como uma conseqüência natural, o Estado deve abandonar toda a idéia de

governo. Deve abandoná-la, pois como disse um sábio muitos séculos antes de Cristo, há como

se deixar a humanidade entregue a si mesma, mas não há como governar a humanidade. Todas

2(&.%052(&'4&3%640"%&4(1F%&'4(1!"2'2(&2%&.02$2((%B<&Q4(12&.2+2&'4&R!+'4&)&6!(#64+&2&!".+*S"$!2&'4&

autores como Peter Kropotkin, John Ruskin e William Morris. Estes influenciaram de maneira

decisiva à medida que despertaram em sua mente preocupações ligadas ao tratamento estético

do texto, à relação entre forma e expressão artística, assim como a própria função social da Arte.

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#

Já seu romance mais famoso, O Retrato de Dorian Gray, publicado no mesmo ano na forma de

capítulos, Oscar Wilde personaliza o Artista na personagem Basílio Hallward. Esta personagem

vive na narrativa um drama pessoal a partir do momento que pinta o retrato do belo e jovem

aristocrata inglês Dorian Gray. Inicialmente admirado pela beleza física do rapaz, Basílio

reconhece ao longo da história que seu retrato era a razão de todos os absurdos morais, dos

quais Dorian fora o protagonista. É neste momento que o artista, em sua personalidade mais

íntima, é exposto pelo autor através da escolhas de metáforas textuais e processos utilizados

pelos outros personagens que compõem a narrativa e pelo narrador que, como veremos, é uma

figura muito presente no texto, devendo assim, ser considerada na análise.

O autor não cita a figura do jornalista, nem a utiliza em determinadas cenas do livro. Porém, a

descrição comportamental que o autor traz à luz sobre o artista como pessoa e não como função

social é deveras rica para o esclarecimento acerca das profissões Jornalista e Artista.

Dessa forma proponho a análise dos elementos textuais relacionados às duas figuras acima da

seguinte maneira: primeiro veremos a caracterização que Oscar Wilde fez à figura do Artista e,

logo em seguida, o que o autor diz sobre o Jornalista.

2.3.1 O Jornalista

O Jornalista, figura que aparece apenas em A Alma do Homem Sob o Socialismo, é

colocado para Oscar Wilde como uma figura importante dentro do contexto de transformação

cultural e, ao mesmo tempo, como um agente da degradação social. essa ambivalência será

discutida e analisada ao longo desse projeto. Para tanto consideramos como elementos textuais

coerentes ao Jornalista os seguintes: imprensa, jornais, jornalista(s), opinião pública, artigo e

Jornalismo.

A tabela a seguir demonstra os elementos textuais referentes à figura do Jornalista,

números de ocorrência de cada elemento respectivamente e os nomes que os acompanham.

Esta ferramenta que ilustra o processo de nomeação do Jornalista pelo autor foi feita a partir da

análise da coerência dos termos pela ferramenta Concordance, uma das funcionalidades do

programa WordSmith Tools.

!(#

#

TABELA 2.4.1.1 ELEMENTOS COERENTES À FIGURA DO JORNALISTA, NÚMERO DE OCORRÊNCIA DESSES ELEMENTOS E NOME SOB CIRCUNSTÂNCIA ADJETIVA QUE WILDE UTILIZA NA DENOMINAÇÃO DOS ELEMENTOS

Esta tabela demonstra quais elementos denominam o Jornalista segundo Wilde. Por ela é

possível compreender que o autor não simpatizava com a função. Desde seu meio de trabalho (a

imprensa) até o resultado de sua produção (o artigo e o jornal) são desqualificados mediante o

trabalho.

De acordo com a passagem a abaixo temos que:

92&vulgaridade e a estupidez são dois fatos muito presentes na vida moderna. Nós (sic) os

lamentamos, evidentemente. Mas são uma realidade. Constituem matéria para estudo, como

qualquer outra coisa. Nada mais justo afirmar, com relação aos jornalistas modernos, que eles

sempre se desculpam com alguém em particular, pelo que escrevem contra esse alguém em

/T@+!$%B<=/H3BJUA

Neste trecho é possível compreender que o autor qualifica o Jornalista como aquele

indivíduo que diz alguma coisa totalmente adversa ao que faz. Pela assimilação da profissão com

os termos vulgaridade e estupidez-&21026)(&'%&4+454"1%&'4& +!32EF%&9"2'2&52!(& L*(1%&2.!0520<-&%&

autor estabelece um paralelo do que a vida moderna alcançou em relação ao campo da

comunicação.

Considerando que vulgaridade e estupidez passam a ser fenômenos normais na atualidade

de Wilde, o Jornalista também se modifica segundo Wilde. Quando o autor denomina o jornalista

Elementos textuais presentes no texto Imprensa

Jornais Jornalista(s)

Opinião pública

Artigo

Jornalismo

Ocorrência dos elementos 4 2 14 4 2 6

Nomes qualitativos pública indecentes

populares servo sisudos culpados pobres juiz tolo modernos

força medonha ignorante autoridade

preconceito estupidez hipocrisia disparates forças autoridade

quarto poder único poder autoridade brutal brutalidade poder notável significado

)*#

#

de jornalista moderno este está, de certa forma, considerando que a profissão um dia já fora

diferente do que se apresenta na atualidade.

Quando Fiorin abre sua discussão sobre as formas de expressão da linguagem como

demonstrativos de interação social pelo indivíduo em Introdução à Lingüística: I Objetos Teóricos,

penso que a observação acerca das categorias dos processos presentes em A Alma do Homem

Sob o Socialismo é válida já que este texto trata da representação do Jornalista em consideração

também ao seu fazer, ou seja, ao seu poder de atuação no meio social. Desta forma, a tabela

abaixo busca relacionar cada categoria de processos frente ao número de ocorrências dos

mesmos. Foi possível desenhar essa tabela novamente pela utilização da ferramenta

Concordance oferecida pelo programa WordSmith Tools.

TABELA 2.4.1.3 CATEGORIAS DOS PROCESSOS QUE COERENTES AO JORNALISTA

Levando em consideração a concordância de tais processos com os elementos textuais

relacionados ao Jornalista, é possível identificar uma quantidade superior de processos matérias.

Através deste dado é possível sugerir que o Jornalista é, para o autor, aquele que detêm um

significativo poder de ação dentro do contexto social. A passagem a seguir exemplifica a

utilização dos processos levou, começou a gerar, diverte e aborrece em seus contextos:

9V".4+!854"14-&"4((4&/2#(&=V"3+214002A-&%&Jornalismo levou sua autoridade ao extremo mais

flagrante e brutal e, como decorrência lógica, começou a gerar um espírito de revolta: ou diverte

ou aborrece 2(&/4((%2(-&$%".%054&(4*&145/40254"1%B<

Observa-se nesta passagem que o Jornalismo é tido como o ator da ação, esta

caracterizada pelos processos materiais em itálico. Considera-se também que o Jornalismo

dentro do território inglês comporta-se de uma maneira temperamental, sentido que nos leva a

pressupor uma atitude não profissional dessa função. Vale observar que, para Wilde, tamanha é a

força social exercida pelo Jornalista: este é capaz de manipular os sentimentos do público.

Categorias de processos:

Processos presentes no texto: Ocorrência

Verbal Publicam, recontar, publicar 4 Relacional É, são, serem, deixou de ser 9 Mental Domina, diverte, aborrece, ciente, 4 Comportamental Vêem 1 Existencial Têm, ficam, estão, permanece 4 Material Começou a gerar, governa, levou, deixou, chama,

procura, tolhe, cercar, submeter, trarão, trazem, convidarão, escreveram, satisfaz, controlar, desculpam, levou

18

)!#

#

Porém há um outro ator que Wilde considera com relevante força no texto. Sempre

presente na descrição da função do Jornalista, a sociedade inglesa é explicitamente a força que

determina o valor dessa profissão.

Q%& 104$;%& 9W7*!-&concedemos liberdade absoluta ao jornalista e limitamos inteiramente o

artistaB<&145-se como primeira pessoa do plural a sociedade inglesa, o que caracteriza a relação

entre valorização e identificação como sendo um registro de relação interpessoal entre a

sociedade e o Jornalista.

Assim para Wilde a construção e reconhecimento dos papéis transformadores da

sociedade, tais como é um processo marcado pela avaliação do comportamento da sociedade. A

passagem a seguir demonstra como o autor caracteriza a sociedade inglesa:

<XH&10S(&4(/)$!4(&'4&')(/%12B&XH&%&7*4&1!02"!82&%&$%0/%B&XH&%&7*4&1!02"!82&2&2+52-&;H&%&7*4&

tiraniza o corpo e a alma. O primeiro chama-se Príncipe. O segundo chama-se Papa. O terceiro

chama-se PovoB<=/H3B& YZAB&Sendo povo uma denominação equivalente para sociedade, neste

caso a sociedade inglesa, observa-se que o autor utiliza-se de um processo relacional (há) e um

processo material (chama-se) para produzir uma metáfora textual coerente à figura da sociedade:

déspota.

Além disse tem-se que p%0& 91!02"!2<& 4"14"'4-(4& 92*1%0!120!(5%<B& [202&R!+'4& 4(12& 21!1*'4&

interrompe o desenvolvimento social e, conseqüentemente, não permite que o artista, a força e o

autor transformador da sociedade possa exercer seu trabalho. Citando Wilde tem-(4& 7*4\& <W&

autoridade do Povo é uma coisa cega, surda e hedionda; grotesca, trágica e divertida; séria e

obscena. É impossível ao artista conviver com o Povo.<=/H3BYIA

Mediante à isso passemos à análise sobre o que Wilde diz sobre o Artista.

2.3.2 O Artista

O Artista, figura presente nos texto A Alma do Homem Sob o Socialismo e O Retrato de

Dorian Gray é, para Oscar Wilde, o elemento fundamental para o desenvolvimento da sociedade

(In: A Alma do Homem Sob o Socialismo. pág. 47). Segundo o autor é essa personalidade que,

pelo seu poder de sintetizar a realidade em expressões abstratas, conduz o homem para uma

sociedade onde nenhuma forma de governo deve agir e reger a sociedade (In: A Alma do Homem

Sob o Socialismo. pág. 69).

Em O Retrato de Dorian Gray, texto constituído por 448 mil e 478 palavras, encontramos

449 delas que se apresentam como elementos textuais referentes à figura do artista, no caso

))#

#

expressa pela personagem de Basílio Hallward. A tabela a seguir mostra os termos e suas

ocorrências nos capítulos 1, 6, 9, 13 e 20:

)+#

#

TABELA 2.3.2.1: NOMEAÇÕES REFERENTES AO ARTISTA, A PERSONAGEM BASÍLIO, EM

TODAS AS VOZES PRESENTES NOS CAPÍTULOS 1, 6, 9, 13 e 20:

]Q%&$2(%&'4&9(4+6234"(<&2&.2+2-&'%&/0G/0!%&^2(#+!%&X2++_20'-&04.404-se a artistas em geral mas este inclui-se também.

Organizado em vinte capítulos, O Retrato de Dorian Gray inicia sua narrativa, logo no

primeiro capítulo, apresentando as personalidades dos protagonistas Basílio Hallward (o artista),

Lord Henry Wotton (aristocrata inglês) e Dorian Gray (jovem modelo de Basílio e também

integrante da alta sociedade londrina) através do diálogo entre Basílio e Henry. Observa-se uma

informalidade atípica no tratamento entre essas duas personagens, pois revela um grau de

intimidade além dos padrões esperados em uma relação de amizade do século XIX, período onde

se passa a história. Essa característica é justificada pelo uso recorrente do pronome pessoal

informal você.

Nos capítulos analisados há no total 89 mil e 137 palavras, sem levar em conta a presença

de títulos ou introduções. Estes são capítulos essencialmente formados por diálogos entre Basílio

e Henry, Dorian e Henry ou entre os três. O primeiro, um capítulo introdutório, expressa a singular

visão de mundo do artista, Basílio, em contraposição a de Lord Henry no tocante ao trabalho

artístico e ao significado que Dorian Gray influi em Basílio; já os capítulos 6, 9, 13 e 20 são

momentos onde Wilde focaliza a narrativa nas falas de Dorian e em suas discussões com Basílio.

ELEMENTOS: CAP.1 CAP.6 CAP.9 CAP.13 CAP.20

Artista 15 1 Artistas 7 1

Sr. Hallward 1 Morto 1 Basílio 155 7 14 9 6

Cadáver 1 Hallward 52 8 11 8 3

O mais velho dos homens

1

Pintor 41 4 9 3 1 Homem 3

Orgulhoso 1 Independente 1

Senhor de mim mesmo 1 Ele 1 2

Amigo 12 1 1 1 Terrivelmente injusto 1

Caprichoso 1 Você 17 2 31 6

Vaidoso 1 Pobre 4 1

Selvagens* 1

)"#

#

TABELA 2.3.2.2: NOMEAÇÕES REALIZADAS NAS VOZES DE PERSONAGENS

ELEMENTOS BASÍLIO HALLWARD

NARRADOR LORD HENRY

LADY BRANDON

DORIAN GRAY

CRIADO DE

DORIAN Sr. Hallward 1 1

Amigo mais

querido

1

Basílio 6 21 22

Caro amigo 7

Homem 2 1

Amigo 1

Caro Basílio 6 6

Cadáver 1

Amigo simpático 1

Morto 1

Vaidoso 1

Pintores 1

Estranhos 1

Ele 1 2

Você 21 37

O mais velho

dos homens

1

Pintor 25

Artista 1 6

Basílio Hallward 16

Hallward 35

Pobres artistas 1

Selvagens 1

Caprichosos 1

Independente 1

Senhor de mim

mesmo

1

orgulhoso 1

Injusto 2 1

TOTAL 7 95 60 2 69 1

)$#

#

No corpus, aparecem 234 elementos textuais referentes à Basílio, sendo eles nas vozes do

narrador, Lord Henry, Basílio, da personagem citada, Lady Brandon, Dorian Gray e na voz de seu

criado. Nessa ordem, as personagens descritas são colocadas pelo narrador como um aristocrata

londrino, um pintor renomado, uma senhora também integrante da alta sociedade inglesa, um

jovem e belo aristocrata inglês e seu humilde criado. No quadro acima está a lista dos termos

referentes ao artista localizados segundo os personagens que os usaram.

Mostrando quantitativamente o número de nomes referentes à personagem de Basílio, o

pintor, e a localização de tais nomes. Segundo Lakoff & `%;"(%"& =NZZN\& /BA& & 9*52& 648& 7*4&

podemos identificar nossas experiências como entidades ou substâncias, podemos referir-nos a

elas, agrupá-las e quantificá-+2(& 4-& '4((2& .%052-& 04+2$!%"20& (%@04& 4+2(B<& -& /202& 7*45& /%'4-se

considerar uma necessidade essencial do homem classificar todo e qualquer fenômeno afim dele

mesmo estabelecer uma ordem racional de identificação entre ele em relação ao mundo.

Nesse sentido, tomando também como base o que é dito sobre a personificação em

Metáforas da Vida Cotidiana, o processo de nomeação do Artista em O Retrato de Dorian Gray se

dá pelas vozes interlocutoras presentes no romance. Através da observação quantitativa na

tabela 2.3.2.2 é possível observar que o narrador possui uma função determinante na

caracterização do Artista. Com um número consideravelmente superior de citações nominais

referentes ás metáforas textuais relacionadas ao Artista, penso que Oscar Wilde fez uso dessa

não-personagem, o narrador, como uma espécie de ferramenta rumo à expressão de sua própria

voz, uma vez que o narrador não apresenta nome próprio e que usualmente esta figura é utilizada

para a descrição factual na narrativa.

Porém, no primeiro capítulo observa-se a situação contrária em relação à função do

narrador. Como exemplo dá-se a seguinte passagem:

9=BBBA&disse Basílio Hallward, dirigindo-(4&a&/%012&7*4&'262&/202&%&L20'!5B<

Nesta passagem verifica-se a utilização de um processo verbal relacionado à ação da

/40(%"2345&^2(#+!%B&:&/0%$4((%&52140!2+&4M/04((%&/%0&9'!0!3!"'%-(4<&.*"$!%"2&27ui também como

uma referência à ação dessa mesma personagem.

Mas é necessário ressalvar que, em determinados casos há uma variação em relação à

voz do narrador no tocante aos processos verbais. No exemplo acima citado pode-se claramente

afirmar que o locutor exerce apenas o papel de voz dos processos verbais pois este exemplo não

caracteriza-se por um período onde são apresentados processos verbais precedidos por citação

)%#

#

e/ou acompanhados de circunstâncias de modo. Se fosse esta a situação apresentada seria um

caso onde a ação que acompanha a fala da personagem (ou, neste caso, do narrador) é

especificada pela própria voz falante.

Nos demais capítulos o comportamento das personagens em relação ao artista não muda.

Continua-se o tratamento informal pelo uso do pronome pessoal você. Apenas algumas

circunstâncias adjetivas são acrescentadas na nomeação do artista devido aos acontecimentos

da narrativa. São elas o mais velho dos homens, caprichosos, cadáver e morto.

Como exemplo segue-se:

9:&cadáver permanecia s4"12'%&"2&/%+10%"2BBB<

Neste caso verifica-se a utilização de um processo existencial relacionado à condição do

/40(%"2345&'2'%&/4+%&"%54&'4& 9$2'H640<B&Q4(14&5%54"1%&'2&"20021!62&%&/0%123%"!(12-&b%0!2"&

Gray, havia assassinado a personagem de Basílio Hallward, o artista. Neste exemplo também se

pode afirmar que o locutor, no caso o narrador, exerce o papel de voz dos processos verbais pelo

mesmo caso do exemplo utilizado anteriormente.

Passando à forma de tratamento que Lord Henry tem para com Basílio, observa-se que ela

é informal, como mostram os dados da tabela 2.3.2.3. A relação interpessoal entre ambos pode

ser avaliada pelas formas de tratamento usadas: você, caro amigo, caro Basílio e por epítetos

pintores, injusto, estranhos e vaidoso. Abaixo os exemplos estão organizados por categorias de

nomeação:

TABELA 2.3.2.3: CATEGORIAS DE NOMEAÇÃO NA VOZ DE HENRY

CATEGORIAS ELEMENTOS TOTAL DE APARIÇÕES

Nome Próprio Basílio, caro Basílio 21

Você você, caro amigo 25

Função Social pintores 1

Qualitativos Injusto, estranhos, vaidoso 4

Pelos dados, tem-se que a função artística não é muito importante no tratamento que

Henry tem para com Basílio. A informalidade e os nomes próprios são mais freqüentes no

tratamento utilizado. Pouco de diz sobre os qualitativos, ou seja, a personagem Lord Henry faz

pouco uso de circunstâncias adjetivas para com Basílio, porém, essa característica não exclui a

prática de julgamento que Henry tem para com o pintor. Como exemplo tem-se a seguinte fala:

)&#

#

9- Não, não. O que você me disse é que havia demasiado de você mesmo nesse retrato.

Vamos isto é infantilB<

Nessa fala de Lord Henry não há termos qualitativos que acompanham diretamente o

96%$S<& 04.404"14& 2& ^2(#+!%B& :& 9!".2"1!+<& 4(1H& 2((%$!2'%& a& 21!1*'4& '2& /40(%"2345-& 52(& "F%& (4&

localiza ao lado do termo que a identifica como tal. O processo que acompanha o pronome

/4((%2+& (4& 'H& /4+%& 640@2+& 9'!((4<-& 4"7*2"1%& %& 7*4& 2$%5/2";2& '!041254"14& %& 7*2+!121!6%& )& %&

/0%$4((%&04+2$!%"2+&9)<B&V(1%&0464+2-&/%012"1%-&7*4&54(5%&"F%&4M4$*12"'%&*52&04.40S"$ia direta a

personagem Basílio, Henry reproduz uma relação interpessoal predominante pela utilização de

um processo relacional. Assim, torna-se predominante a ligação avaliativa entre essas duas

personagens.

Um outro tipo de julgamento realizado por Henry, desta vez na forma direta pela utilização

do nome próprio de Hallward, é dado pelo seguinte exemplo:

9=BBBA&L*0%&Basílio, que não o julgava tão vaidosoB<

Nessa fala de Lord Henry observa-se a utilização do nome próprio aliado ao qualitativo. A

voz revela /%0& 54!%& '4& *5& /0%$4((%& 54"12+-& 9L*+3262<-& *52& 262+!2EF%& (%@04& 2& /40(%"2345&

Basílio. Pode-se dizer então que aquela figura que, à princípio, possui uma relação de

proximidade para com a personagem, revela um atributo típico daqueles que são ou se

consideram artistas: a vaidade. Esta refere-se também à preocupação estética em todos os

sentidos: na fala, no comportamento e no trabalho.

Observa-se que as qualidades atribuídas ao artista possuem um teor que tende mais a

262+!2EF%& "4321!62& 7*4& /%(!1!62B& 9!"L*(1%<& 4& 962!'%(%<& (F%& 210!@*#'%(& 4(/4$!.!$254"14& 2&

personagem de Basílio, enquanto estranhos é apontado como uma característica típica dos

pintores e artistas, sendo, portanto, uma qualidade esperada por Lord Henry em Basílio.

À luz do que a própria personagem Basílio diz sobre si, têm-se os seguintes elementos

categorizados:

TABELA 2.3.2.4: CATEGORIAS DE NOMEAÇÃO NA VOZ DE BASÍLIO

CATEGORIAS ELEMENTOS TOTAL DE APARIÇÕES

Função (pobres) artistas 2

Qualitativo Selvagens, independente, senhor de mim

mesmo, orgulhoso

4

)'#

#

Contextualizados, alguns desses elementos aparecem nesta fala de Basílio:

9=BBBA& "G(-& pobres artistas, precisamos ser vistos em sociedade de vez em quando, o

suficiente para lembrar que não somos uns selvagensB<&

Nesta passagem observa-se a utilização de duas qualidades atribuídas ao Artista pelo

/0G/0!%\&9/%@04(<&4&9(4+6234"(<B&>4(5%&14"'%&*5&4+454"1%&'4&"432EF%&7*4&2"14$4'4&%&/0%$4((%&

04+2$!%"2+&9(%5%(<-&2&7*2+!'2'4&9(4+6234"(<&0464+2&7*4&/202&%&.2+2"14&%(&W01!(12(&/%((*45&302"'4&

chance de serem considerados seres estranhos aos olhos da sociedade. Isso é enfatizado pela

7*2+!'2'4& 210!@*#'2& 9/%@04<-& 7*4& 2'7*!04& *5& (4"1!'%& 5412.G0!$%& $%"'!84"14& 2%& (4"1!'%& '4&

desvalorização ou não reconhecimento das singularidades que fazem do artista era quem é.

:*10%&4+454"1%&7*4&04.%0E2&4((2&2"H+!(4&)&2&*1!+!82EF%&'%&/0%$4((%&54"12+&9/04$!(25%(<B&

No caso, a voz do falante julga necessária a sua disposição social em nome da manutenção da

sua boa rede de convívio social.

Em relação ao tratamento que a personagem de Dorian Gray possui em relação ao artista

é semelhante à que se vê com a personagem de Lord Henry. Abaixo segue a tabela que traz os

elementos de nomeação organizados em categorias:

TABELA 2.3.2.5: CATEGORIAS DE NOMEAÇÃO NA VOZ DE DORIAN GRAY

CATEGORIAS ELEMENTOS TOTAL DE APARIÇÕES

Função __ __

Qualitativo Terrivelmente injusto, amigo simpático,

caprichosos,

3

Você Você, meu caro Basílio, meu caro e bem

Basílio, Basílio,

72

Vale observar que para a personagem de Dorian Gray a função de artista não é relevante sob

nenhum aspecto. Isto se justifica pela ausência de termos característicos presentes no corpus.

Outro fator que reforça essa análise é a grande quantidade de termos relacionados ao tratamento

informal você. Os elementos referentes à categoria qualitativa aparecem no corpus

semelhantemente ao exemplo abaixo:

9c&você é terrivelmente injusto, BasílioB<

)(#

#

Retirada do capítulo 9, esta é uma fala da personagem de Dorian no momento em que este

e Basílio discutiam sobre a morte da então noiva de Dorian, a atriz Sybil Vane. Pode-se ver que a

interpessoalidade se dá pela presença do processo relacional é, o que caracteriza o identificador,

Dorian, qualificando o identificado, Basílio, pelo uso da circunstância adjetiva negativa de

terrivelmente injusto. A informalidade do trato para com o artista também está presente pelo uso

do pronome de tratamento você.

Passemos ao tratamento que o narrador apresenta com a figura do artista, a personagem

de Basílio. Desta relação, o quadro de categorias de nomeação do artista na voz do locutor

narrador mostra que o tratamento informal não é tão evidente neste caso e, diferente das tabelas

anteriores, a voz do narrador constantemente lembra o leitor da função social de Basílio.

Vejamos o quadro:

TABELA 2.3.2.5: CATEGORIAS DE NOMEAÇÃO NA VOZ DO NARRADOR

CATEGORIAS ELEMENTOS TOTAL DE APARIÇÕES

Função Pintor, artista 31

Qualitativo O mais velho dos homens, amigo, morto,

cadáver

4

Nome próprio Basílio, Basílio Hallward, Hallward 57

A tabela 2.3.2.5 mostra que as formas de nomeação do narrador para com a personagem

de Basílio Hallward são voltadas ao tratamento cortês pelo uso do nome próprio da personagem e

respeitam mais o indivíduo pela função que este exerce, no caso, a função artística.

O trecho abaixo exemplifica o quadro no contexto do corpus:

9=BBBA&respondeu o artista tristementeB<

A voz do narrador se encontra, nesta situação, no momento de descrição da reação de

Basílio quando este entende que Dorian não é mais aquele jovem belo e bom que costumava

posar para seus retratos.

Nesta passagem verifica-se a utilização de um processo verbal relacionado à ação do

artista, o ato de dizer algo pelo respondeu. Basílio é caracterizado pela função social, artista, e

recebe a circunstância adjetiva tristemente, uma condição relacionada não à personagem de

Basílio, mas à sua fala. Porém, este pode ser um fator que reforma a condição de estranheza do

artista no meio social, anteriormente descrita, já que consideramos nesta pesquisa a fala, o

+*#

#

discurso como um reflexo do sujeito e, portanto, é relacionada à sua condição de existência.

Desta forma, neste caso o tristemente funciona como uma circunstância adjetiva referente ao

artista.

Ao analisar o artigo A Alma do Homem Sob o Socialismo encontramos outro perfil do

Artista. A tabela a seguir demonstra quais foram os elementos textuais relacionados ao Artista

considerados nesta análise, junto às suas respectivas circunstâncias adjetivas, ou seja, junto às

suas nomeações. Nesta tabela foram considerados como nomes qualitativos os termos que

concordavam com os elementos escolhidos para objetos de análise, no caso, Artista(s), Arte,

Artístico, Poeta, Pintor, Prosador, Romancista, Belo e Obra. Isto foi possível graças à utilização

da ferramenta Concordance, uma das possibilidades oferecidas no programa WordSmith Tools.

TABELA 2.4.1.4 ELEMENTOS TEXTUAIS REFERENTES À FIGURA DO ARTISTA, NÚMERO DE OCORRÊNCIAS NO TEXTO E CIRCUNSTÂNCIAS ADJETIVAS RELACIONADAS A CADA ELEMENTO

Diferentemente do que aparece sobre o Artista no romance O Retrato de Dorian Gray, em

A Alma do Homem Sob o Socialismo o autor parece trazer uma abordagem mais geral do que é o

Artista em todo o seu ser. Wilde caracteriza em sua própria voz essa função em seu espectro

Elementos textuais presentes no texto artista(s)

arte

artístico

poeta pintor prosador romancista

belo

obra

Número de aparições dos elementos 39 42 8 11 5 24

Nomes qualitativos temperamento indivíduos singulares personalidade admirável personalidade ativa sonhador errante personalidade excêntrica personalidade fascinante magnífico singular supremo exceção liberdade verdadeiro homem

doentio exótico estereotipada manifestação forma popular imaginação individualismo distinta vitalidade exemplo elevada

público valor efeitos impressão temperamento

grande indivíduo singular verdadeiro imoral

novas formas alegria

sadia exótica perfeição personalidade forma conteúdo doentia comum ultrapassado bela inovadora resultado inteligível adorável

+!#

#

mais amplo: sua função social (poeta, pintor, prosador, romancista), sua personalidade (artista),

sua produção (obra e artístico) e seu campo de trabalho (arte).

Assim como Hasan coloca em Ways of Sayning: Ways of Meaning há um elo muito forte

entre a linguagem e a vida em sociedade e como as mais diversas formas de se expressar revela

traços culturais muito específicos de cada comunidade. Como neste caso estamos tratando de

um artigo escrito em tom de crítica à sociedade inglesa do século XIX, propõem-se que a leitura

que Oscar Wilde produziu pode ser vista como um resultado de sua experiência social.

Contextualizando o elemento Artistas presente na tabela anterior temos como exemplo a

passagem a seguir:

9=BBBA&%&/2((2'%&)&%&7*4&%&;%545&"F%&'4640!2&140&(!'%B&:&/04(4"14&)&%&7*4&%&;%545&"F%&'464&

ser. O futuro é o que os artistas sãoB<=/H3YNA

Observa-se que pelo uso do processo relacional são identifica a interpessoalidade entre o

dizente e o que é dito. Fruto dessa relação há a transformação do sentido de progresso na

palavra futuro. Sendo então este termo coerente ao elemento artistas pode-se dizer que Wilde

utiliza-se de uma metáfora textual para qualificar e nomear o Artista como aquele que é o futuro,

ou seja, o progresso social.

Como o processo neste exemplo foi algo fundamental para interpretação da fala de Oscar

Wilde abaixo segue uma tabela que ilustra quais processos coerentes à cada elementos textual

referente à figura do Artista:

+)#

#

TABELA 2.4.1.5 PROCESSOS QUE ACOMPANHAM CADA ELEMENTO TEXTUAL REFERENTE À FIGURA DO ARTISTA

Contextualizados esses elementos aparecem no seguinte trecho:

9d52&obra de arte é o resultado singular de um temperamento singularB<=/H3BUJA

Nesta passagem observa-se a utilização de uma qualidade atribuída ao Artista e à sua

obra. Desta forma pode-se considerar que para o autor a obra de arte é uma continuidade do

próprio artista. Portanto, a obra de arte pertence a uma diferente plataforma de vinculação e

espaço de expressão que o artigo, fruto do trabalho jornalístico. A obra de arte configura-se pela

Elementos textuais relacionados ao Artista presentes no texto Artista (s)

Arte

Artístico

Poeta Pintor Prosador romancista

Artes Poesia(s)

Belo

Obra

Processos que acompanham os elementos textuais

pode é deve descobre ser torna-se consegue pintou permite escolhe disse absorviam fez acredita criasse/criaram questionar-se expressa produz ganha recusa conseguiram acha despertar tem há visitavam convivia

desaparece torna-se degenera é seja resistir ser tem sido foi importar mostra

deveria escrever dar ganhar

concebido era eleve ser está

é preservaram são

amava é

é reconhecida deve dominar

++#

#

*1!+!82EF%&'%&1405%&904(*+12'%&(!"3*+20<&$%5%&2+3%&.%02&'2&$%5/044"(F%&4M212&4&'41405!"2"14&7*4&

o artigo jornalístico pode ser. A obra de arte é uma manifestação mais intensa da subjetividade e

percepção que o homem, o artista, tem sobre a realidade. Características como a mera descrição

do factual não pertencem a sua natureza.

2.4 Considerações Finais

Este projeto de Iniciação Científica foram analisados os elementos referentes ao Artista e ao

Jornalista segundo a voz de Oscar Wilde em A Alma do Homem Sob o Socialismo e segundo as

vozes dos personagens e do narrador em O Retrato de Dorian Gray.

Foi visto que em Alma do Homem Sob o Socialismo o autor critica a liberdade concedida aos

Jornalistas por, segundo o autor, estes não respeitarem o trabalho artístico, fato que leva ao

empobrecimento das massas, já que a informação reproduzida nos meios de comunicação é

carente da sensibilidade e da compaixão necessária para o entendimento das artes. Como

exemplo tem-se a seguinte passagem:

9V".4+!854"14-& "4(14& /2#(-& %& Jornalismo levou sua autoridade ao extremo mais flagrante e

brutal e, como decorrência lógica, começou a gerar um espírito de revolta: ou diverte ou aborrece

2(&/4((%2(-&$%".%054&(4*&145/40254"1%B<

Por esta fala de Wilde é possível compreender que para o autor o Jornalismo é uma grande

força social que age conforme seus interesses. Isto é visto pela presença dos processos materiais

na fala. E é justamente através da verificação das categorias dos processos coerentes ao

Jornalista que foi possível compreender o papel que esta função social exerce segundo o autor.

Vale observar que os processos matérias são maioria entre as demais categorias que expressão

interpessoalidade o que nos leva a considerar que para o autor o Jornalista é uma figura

predominantemente atuante na sociedade inglesa do século XIX.

Sobre o Artista, Wilde o coloca como um indivíduo singular, diferente dos demais sujeitos que

constituem a sociedade por ser capaz de manifestar o reflexo da realidade sob a visão subjetiva

e, portanto, individualista.

Em O Retrato de Dorian Gray a interpessoalidade tem seu foco nas relações sociais

estabelecidas entre Basílio e os demais personagens. Para Hallward o Artista pode ser visto

como um ser estranho à sociedade caso este decida seguir seus impulsos de criação e voltar sua

mente apenas para as suas criações, esquecendo-se de seu convívio social. Para os demais

personagens vistos, o artista pouco é valorizado ou reconhecido já que poucos são os exemplos

de utilização de termos referentes à função.

+"#

#

Vale ressaltar o que foi visto sobre a voz do narrador: esta é a única voz que

comparativamente reconhece a personagem de Basílio pela sua função social e que a trata de

forma cortês. Esta afirmação nos leva a considerar que o próprio autor da narrativa, Oscar Wilde,

ao desenvolver o papel do narrador se mostrou respeitoso à sua função como artista.

Outra consideração é a relação diferenciada que Wilde estabelece sobre o Artista nos dois

textos. No romance o autor traduz o Artista em ser mais íntimo, sua personalidade e

comportamento. Já no artigo, Wilde propôs-se em uma descrição voltada à condição social do

Artista, este sujeito em sua função, este indivíduo em seu trabalho. Como exemplos seguem as

passagens:

9=BBBA&L*0%&^2(#+!%-&7*4&"F%&%&L*+3262&1F%&62!'%(%B<

Fala de lord Henry para Basílio, o artista, em O Retrato de Dorian Gray

9=BBBA&%&/2((2'%&)&%&7*4&%&;%545&"F%&'4640!2&140&(!'%B&:&/04(4"14&)&%&7*4&%&;%545&"F%&

'464&(40B&:&.*1*0%&)&%&7*4&%(&201!(12(&(F%B<

Passagem de A Alma do Homem Sob o Socialismo

Desta forma é possível concluir que apenas sob os olhos de Oscar Wilde o Artista possui

um papel de agente transformador da sociedade. Seus personagens refletem a realidade que

Wilde presenciava e, de forma subjetiva, este escritor se coloca como um exemplo do que é ser

um Artista, pois exerce seu trabalho não pensando nas críticas dos jornais, mas, em sua própria

satisfação pessoal.

3. Referências Bibliográficas:

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+$#

#

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WILDE, Oscar. De Profundis e Outros Escritos do Cárcere.L&PM Pocket. Porto Alegre, 2009.

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