Novelas de Faroeste V - A CASA DO MAGO DAS LETRAS DE FAROESTE 5… · atingindo na coxa direita,...
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Novelas de Faroeste
Volume V
L P Baçan
Copyright © 2015 L P Baçan
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ISBN 978-1-329-81618-3
Lulu Press, Inc. 3101 Hillsborough St, Raleigh, NC 27607
2015
O Velho e Selvagem Oeste No Velho e Selvagem Oeste, o saloon era
o local mais movimentado e frequentado da
cidade. Ali aconteciam shows, dança, jogo e
muitas brigas. Ali se encontravam mocinhos
e bandidos, pistoleiros e desafiantes,
mulheres bonitas e perigosas. A maior parte
das histórias de faroeste passava por ele.
Dos ambientes mais simples e rudes aos
mais sofisticados, todos, indistintamente
acolhiam moradores e forasteiros, cada um
com sua história, cada um com seu destino.
Famosos pistoleiros criaram fama nesse
local. Outros ali encontraram a morte, na
boca esfumaçada de um Colt. A fumaça da
pólvora negra era o manto lúgubre que
cobria mais um morto. Um punhado de
serragem era jogado sobre a poça de
sangue. Uma rodada gratuita de uísque
barato era servida e minutos depois
ninguém mais se lembrava do ocorrido.
Afinal, o Oeste era mesmo um lugar
selvagem e as Novelas de Faroeste mostram
isso.
Rio da Discórdia
Dois homens caminhavam pela rua
principal de New Rockford, em Dakota do
Norte. Passava um pouco do meio-dia e não
havia sombras, apenas aquele calor intenso
de junho.
A rua estava vazia, mas, por trás das
janelas e portas, todos acompanhavam
aquela caminhada.
Os dois estavam armados. Um era um
velho e o outro, apenas um rapazola. As
armas estavam soltas nos coldres, prontas
para serem sacadas.
Seus olhos estavam fixos no saloon,
diante do qual alguns homens os
observavam.
— Lá estão eles, pai — disse Billy
Colman.
— Sim, já os vejo. Não estou cego assim,
filho — respondeu o velho Slim Colman.
Retardaram um pouco o passo,
analisando suas possibilidades. Eram três
homens, todos pistoleiros do pior tipo, a
serviço de Jim Wallace, o mais poderoso
rancheiro da região.
Os três homens saíram lentamente para a
rua, ajeitando os chapéus sobre a cabeça,
liberando os revólveres nos coldres. Seus
olhares frios e cruéis se fixaram nos dois
oponentes que vinham ao encontro deles.
— Saíam da frente — gritou o velho. —
Queremos falar com Jim Wallace.
— Então porque vêm tão armados assim?
— retrucou um dos pistoleiros.
— Queremos estudar uma forma de
resolver a questão — falou Billy.
— Cale-se, garota! A conversa ainda não
chegou em você — falou Billy.
— Billy é igualmente dono das terras e
tem direito de ser ouvido — ponderou o
velho.
— Na verdade mesmo, vocês já falaram
demais. Já ofenderam o Sr. Wallace e nada
há mais a ser discutido. Puseram cercas nas
nascentes do rio mas nós as tiramos. E isso
vai acontecer de novo se insistirem em
manter as nascentes só para vocês.
— Estou protegendo as nascentes. O
gado de Jim Wallace pode beber mais
abaixo, onde o rio encorpa e as margens são
raras. Nas nascentes eles sujam as águas e
destroem a vegetação. Em breve não haverá
água para ninguém, é o que digo — falou o
velho.
— Não seja tolo, velho! Aquelas
nascentes estão lá há muito tempo...
— Mas o gado de Wallace irá acabar com
elas, se eu não cuidar. As terras são minhas,
o gado pode beber mais abaixo. Vou voltar
a cercar o local e pôr vigias lá. Se alguém se
aproximar, será morto.
A porta do saloon se abriu e um homem
gordo e alto surgiu, acendendo um charuto.
Usava terno elegante, bem cortado e não
portava armas.
Desceu até a rua, os dedos polegares
metidos nos bolinhos do colete, baforando
seu charuto. Parou diante dos dois,
encarando-os. Tirou o charuto da boca.
— É um velho burro, Slim. Tem mais
terras do que pode cuidar e ainda se arvora
em protetor das nascentes do rio. Ouça a
minha oferta: dez mil dólares pelas suas
terras, como estão. Porteira fechada! É
minha última oferta.
— Sabe o que pode fazer com sua oferta,
não? — falou Billy, demonstrando irritação.
— O que faço em minhas terras é
problema meu — ajuntou o velho Colman.
— As nascentes estão em minhas terras...
— Tenho um pasto ao lado — cortou-o
Wallace.
— Mas tem outro, maior, rio abaixo.
Leve seu gado para lá.
— E perder as terras ao lado das suas?
Nunca!
— Então não pode querer invadir meu
rancho.
Wallace se aproximou ainda mais,
soltando fumaça na cara do velho Colman.
— Não seja idiota — disse, entredentes.
— Posso fazer o que quiser aqui. O prefeito
é meu irmão, o juiz é meu primo e o xerife é
meu sobrinho. O que mais preciso para
convencê-lo?
— Não me convencerá. Recorrerei ao
Juiz Federal, em Bismarck. Ele haverá de
fazer justiça — ponderou Colman.
Wallace olhou-o nos olhos, fuzilando-o.
— É um homem morto, Slim!
— Não sacarei contra seus homens. A
cidade toda está acompanhando.
— Melhor ainda. Mato-o como dois cães
sarnentos, depois mando executar a
hipoteca. Já se esqueceu que o presidente do
banco é meu tio? — ironizou Wallace,
começando a rir.
Afastou-se. Os três pistoleiros encaravam
os dois rancheiros. Billy olhou para o pai.
Sabia que não tinham chance.
— Pai! — exclamou o garoto.
— Se vão nos matar, filho, que seja do
modo deles — disse o velho, virando as
costas para os pistoleiros.
— Tem certeza, pai? — indagou o jovem,
virando lentamente as costas também.
— Eles conhecerão a justiça, filho —
afirmou o velho, começando a se afastar.
— Saquem suas armas! — berrou um dos
pistoleiros, disparando entre pai e filho.
A bala zuniu entre os dois, que pararam
por instantes, depois continuaram
caminhando.
— Parem, eu disse! — insistiu o
pistoleiro, disparando para o chão.
A bala fez levantar uma pequena nuvem
de pó na rua, rapidamente desfeita pela
brisa quente do meio-dia.
Outro tiro soou. O velho Colman,
atingindo na coxa direita, cambaleou e caiu
na poeira.
— Malditos! — berrou Billy,
enraivecido, sacando a arma com extrema
rapidez.
Os três pistoleiros, porém, já tinham suas
armas nas mãos. As balas partiram quase
que ao mesmo tempo. O corpo do rapaz foi
jogado para trás.
Caiu na poeira. Uma poça de sangue
começou a se formar ao lado do corpo. A
terra seca foi absorvendo, bebendo a vida
que se esvaía do corpo do rapaz.
— Billy! — gritou o velho Colman, ao
ver o filho estrebuchando na poeira.
Levou a mão ao Colt, mas jamais poderia
se igualar em rapidez aos pistoleiros que o
vigiavam.
Nova saraivada de balas prostrou o velho
ao lado do corpo do filho, as mãos
apertando o peito ferido, o revólver ainda
no coldre, assim como o de Billy.
— Bom trabalho, rapazes! — elogiou
Wallace. — Bebidas por minha conta.
Os pistoleiros foram recarregando suas
armas, enquanto subiam os degraus para o
saloon.
O papa-defuntos correu pela rua, com sua
fita métrica e seu trabalho macabro a ser
feito.
A leste de Rapid City, nos pântanos, um
homem se misturava à vegetação, olhos
fixos na cabana logo adiante, imóvel como
um lagarto prestes a dar o bote.
Seus olhos investigavam os movimentos
no interior da cabana. Cinzas, eles refletiam
tetricamente as cores rubras do pôr-do-sol.
Os dois fugitivos estavam lá dentro.
Vinham de uma série de roubos a banco em
Dakota do Sul, agora, para o Wyoming, na
expectativa de fugir aos xerifes locais.
Ele, porém, era um delegado federal e,
como tal, tinha autonomia em todos os
Estados. Os índios o haviam apelidado de
Olhos Cinzentos. Seus amigos o conheciam
como Delegado Peter Olhos Cinzentos, o
homem que nunca falhava.
Os dois fugitivos eram procurados vivos
ou mortos. Para Peter Olhos Cinzentos isso
não fazia a menor diferença. Levá-los vivos
ou mortos era apenas uma questão de
oportunidade.
Engatilhou sem pressa sua Winchester,
jogando uma bala de quarenta e cinco na
agulha. Apontou para a janela. Podia matar
um deles, se quisesse, mas sempre dava
uma última chance.
— Bob e Ed Freeman! — gritou ele. —
Estão cercados. Saíam com as mãos para
cima e serão levados a um julgamento
justos, antes de serem enforcados.
Em resposta, as duas janelas da cabana
foram fechadas violentamente. Peter
continuou imóvel, misturado à vegetação. A
porta da cabana se entreabriu. Alguém
descarregou um Colt, disparando em todas
as direções.
O homem da lei continuou imóvel. Já
sondara o ambiente. Só havia aquela porta
na cabana, as duas janelas e janelas laterais.
Por onde saíssem, seriam alvos fáceis.
Os cavalos estavam num curral a uns dez
metros da casa. Ambos estavam sem
arreios. Não havia como os dois fugitivos
pudessem correr para apanhar os cavalos,
sem serem abatidos.
As duas janelas foram entreabertas. Os
homens lá dentro sondavam o pântano
diante deles, procurando. O sol se punha
pouco a pouco. Confiavam na escuridão
para uma fuga.
Peter Olhos Cinzentos não se preocupava
com isso. Havia previsto esta situação.
Naquela noite, a lua surgiria rapidamente,
tão logo escurecesse.
Uma lua cheia e generosa, capaz de dar-
lhe a luminosidade que precisava, embora
não precisasse de muita claridade. Não era a
toa que seu apelido era Olhos Cinzentos.
— Quem é você? — gritaram lá de
dentro da cabana.
Ele não respondeu. Era um velho truque.
Se respondesse, eles atirariam na direção do
som de sua voz.
Ao invés disso, moveu-se um pouco mais
para a direita, obtendo uma perfeita visão da
janela entreaberta. Podia ver o chapéu do
homem lá dentro.
Mirou um pouco abaixo da aba. Apertou
o gatilho e girou o corpo para o lado. Da
velha cabana veio um grito e um tiro. Um
dos fugitivos recebera um tiro na cabeça. O
outro disparara, mirando na fumaça
produzida pela Winchester do homem da
lei.
— Maldito seja você! Matou meu irmão!
— berrou o homem lá dentro, furioso.
— Olhos Cinzentos! — respondeu ele,
simplesmente, girando o corpo novamente.
— Maldito federal! Você de novo! —
gritou o outro, saindo à janela e disparando
toda a carga de seu Colt.
Quando o revólver ficou sem munição,
ele sacou outra arma, continuando a
disparar. Peter fez a mira cuidadosamente.
Apertou o gatilho.
O rosto do fugitivo simplesmente sumiu,
quando a bala o atingiu no nariz, afundando
tudo para dentro.
Um silêncio de morte pairou sobre o
pântano. As aves se acalmaram em seus
ninhos. Anoitecia rapidamente. Peter foi
selas os cavalos dos mortos. Queria
pernoitar em Wall, onde deixaria os mortos
e telegrafaria para Bismarck, informando do
sucesso de sua missão.
Precisava, agora, de um descanso. Nos
últimos anos havia percorrido aqueles
territórios de um canto a outro, à caça de
fora-da-lei.
A freira caminhava solenemente na frente
de Lucille Wallace. Ambas percorriam os
austeros corredores do Notre Dame, o
colégio feminino mais famoso de Boston,
deixando a ela das internas e rumando para
o setor da administração, após as salas de
aula, vazias durante o verão.
Como interna, Lucille ainda tinha uma
série de atividades extra-curriculares para
desenvolver. Por isso não entendia a razão
daquela convocação à sala da diretora.
— Irmã Marrie, o que ela quer comigo?
— indagou.
— Silêncio, Lucille. Ela mesma lhe dirá
— respondeu severamente a freira.
A garota respirou fundo e pensou em
alguma travessura que pudesse ter feito para
merecer uma reprimenda.
Nada havia nesse sentido. Nos últimos
meses tinha se comportado bem. Quando
completara dezoito anos, decidira que era
hora de deixar de ser criança e assumir as
responsabilidades da vida adulta.
Estudar era seu prazer, muito embora as
coisas da terra lhe fossem mais cara. Tinha
saudade de New Rockford, de sua infância
no rancho do pai.
À medida que crescia, seu pai fora se
tornando mais poderoso, comprando mais
terras, até se tornar um dos maiores
rancheiros de todo o território.
Ele e sua mãe decidiram que ela deveria
se instruir, por isso fora mandada para
Boston, para se educar.
A viagem era demorada e extenuante, por
isso raramente ela os visitava. Apenas se
correspondiam raramente, pois sua mãe era
agora uma mulher doente e seu pai, muito
ocupado.
— Por aqui, Lucille — indicou a freira.
Entraram na sala da diretora do colégio.
Lucille a cumprimentou. Ao lado dela
estava a Irmã Shelby, a enfermeira-chefe da
escola. Lucille estranhou isso.
— Sente-se, Lucille — ordenou a Madre
Superiora, detrás de sua escrivaninha.
A garota a obedeceu, apreensiva.
— O que houve, irmã? — indagou a
jovem.
— Lucille, os desígnios de Deus estão
além de nossas forças e de nosso controle
— começou a Madre. — Todos tem seu
destino e sua hora, por isso...
— Minha mãe? — indagou a garota,
cheia de suspeita.
— Você tem que ser forte — disse a
Madre.
— Mamãe! — exclamou ela, aturdida.
A enfermeira-chefe a amparou. Lucille
conteve as lágrimas e a emoção. Era uma
mulher do oeste e aprendera a controlar-se.
— Seu pai nos escreveu contando sobre a
morte de sua mãe. Foi uma morte tranqüila,
ela não sofreu. Ele deseja que você retorne
ao rancho por algum tempo.
— Pobre papai! — exclamou ela,
imaginando como seria voltar àquela terra
após tanto tempo.
O que poderia ter mudado por lá? O
mesmo clima seco, a mesma cidade, o
mesmo rancho, tudo teria mudado por lá?
— Quando poderei partir? — indagou
ela.
— Será uma longa viagem, querida.
Partirá em dois dias. Tudo está sendo
providenciado.
Enquanto retornava ao seu quarto, Lucille
lamentava por sua mãe, mas imaginava o
que a esperava na volta a sua terra. As
planícies, o rio, as amigas de infância,
possivelmente já casadas e com filhos.
Alegrou-a, principalmente, a sensação de
liberdade que teria lá, longe dos controles e
da clausura do colégio.
Contou a sua amiga de quarto, Samantha
River, sobre o que acontecera.
— Eu sinto muito por sua mãe. Lucille —
disse a amiga. — Mas a invejo por poder
voltar para aquela terra maravilhosa. Verões
quentes, ardentes, invernos gelados,
estações bem definidas numa paisagem de
liberdade, sem este cheiro de decadência
que há em Boston, esta prisão que é o
colégio...
— Samantha, por que não vem comigo?
— convidou Lucille. — É férias de verão e
somente em agosto você precisará estar de
volta aqui.
— Não, não posso. Meus pais, na
Califórnia, me matariam se soubessem. Vá
você, minha amiga, e aproveite a
oportunidade. Vê se encontra um vaqueiro
daqueles bem machões para você e fica por
lá mesmo.
— Ora, Sam! — protestou ela.
Deitou-se em sua cama. Cobriu o rosto
com as mãos. Sua amiga a conhecia muito
bem para saber que ela queria ficar sozinha.
Discretamente se retirou.
Sozinha, Lucille pode chorar livremente,
lamentando a morte de sua mãe.
Depois, pouco a pouco a foi contagiando
a idéia de voltar para New Rockford, sentir
a amplidão do cenário, aqueles cheiros tão
familiares de sua infância.
Muita coisa mudara, seguramente, mas
ela também mudará. Já era uma mulher, no
alto de seus dezoitos anos. Amigas suas,
muito mais novas, já haviam se casado.
Talvez aquele fosse o seu destino, sendo
rescrito longe do burburinho e da agitação
de Boston. Um destino que se iniciara nas
planícies de Dakota no Norte.
Estava feliz por retornar.
A diligência para o oeste estava pronta
para partir, após uma noite parada em
Tower City, para consertar uma roda. Os
passageiros aproveitaram bem a noite de
sono e, apesar de doloridos, estavam
prontos para seguir viagem ao amanhecer.
Havia uma garota, um casal de velhos e
outro de recém-casados, totalizando cinco
passageiros. Um homem alto entrou no
escritório. Trazia uma mala pequena de
roupas. Usava um chapéu de abas retas,
preto, bem como o resto de suas roupas.
Pelo colarinho da camisa fechada até o
pescoço percebia-se que se tratava de um
pastor.
— Há um lugar para Jamestown? —
indagou a sua voz era forte e marcante.
— Fico com ele — respondeu o religioso,
tirando a carteira e pagando o bilhete.
Virou-se, então, e olhou ao redor. Os
outros passageiros, com ares sonolentos,
espalhavam-se nos bancos encostados nas
paredes. Foi até a porta.
— Oh, desculpe-nos, pastor! — disse o
homem que esbarrou nele, fazendo a mala
cair no assoalho.
— Não foi nada — respondeu ele,
abaixando-se para apanhar a mala.
Quem tivesse reparado bem teria sentido
o quanto seu tom de voz revelava de
indignação. Os dois homens que entraram
estavam bêbados e foram até o balcão.
Conversaram por instantes, depois um
deles se alterou:
— Diabos! Temos de estar em Bismarck
hoje à tarde!
— Nada posso fazer, a diligencia está
lotada.
— Demônios! — explodiu o homem,
virando-se para olhar as pessoas no salão.
O pastor continuava na porta, olhando a
rua e o nascer do sol. Os dois bêbados se
entreolharam, fixando-se no casal de velhos.
Foram até lá.
— Vovô, que tal nos ceder suas
passagens? — indagou um deles com
arrogância.
— Estou indo para o oeste ver meu filho
e por nada neste mundo eu lhes daria as
minhas passagens — respondeu o velho.
— Tem muito tempo para isso, velho. A
próxima diligência passa na semana que
vem. Temos um trabalho a fazer em
Bismarck e...
— Cadê seus cavalos? — questionou o
velho.
— Que cavalos?
— Não têm cavalos?
— Bem, tínhamos, mas... — ia dizendo
um deles.
— O que ele quer dizer é que perdemos
nossos cavalos no jogo, vovô. Agora, você
não tem nada com isso, sabia? Queremos as
passagens, só isso! — insistiu o homem, a
mão direita apoiando-se na coronha do
revólver.
Lá fora o cocheiro gritou que estava tudo
pronto para a partida. Os outros passageiros
se levantaram e foram para a porta, saindo
em seguida.
Os velhos fizeram menção de se levantar.
Um dos homens esbofeteou o idoso,
fazendo-os se sentarem de novo.
— Acho melhor chamarmos o xerife —
disse a mulher.
— O xerife está dormindo e não vamos
incomodá-lo. Agora passe-nos as passagens,
velho.
— Não vou fazer isso...
O velho foi esbofeteado de novo. O
pastor se aproximou. Seus passos soaram
firme e pesados no assoalho.
— Meus filhos, a paciência é um dom de
Deus — foi dizendo.
— Ora, dane-se, pastor! — respondeu um
dos homens, pondo a mão no peito dele para
empurrá-lo.
O pastor a agarrou e, com um gesto
surpreendentemente rápido, torceu-a,
fazendo o pistoleiro cair de joelhos.
Imediatamente sua bota subiu ao encontro
do rosto dele, jogando-o para trás, com uma
máscara de sangue.
— Talvez você queria nos dar a sua
passagem, pastor — foi dizendo o outro
homem, levando a mão à arma.
O pastor enfiou a mão dentro do paletó e
retornou-a com um Colt já engatilhado.
Apontou-o para o centro da testa do
homem diante dele, que começou a tremer.
— Por favor, senhor, leve sua esposa para
a diligência. Avise ao cocheiro que não me
demoro — pediu o pastor ao velhinho.
— Sim, filho — concordou ele,
apressando-se em atendê-lo.
O homem atrás do balcão de bilhetes
acompanhava tudo com visível interesse,
observando a lição que o pastor estava
dando nos dois mal educados.
— É importante que você aprenda uma
coisa, meu filho — disse o pastor. — Na
cara de um homem nunca se bate,
principalmente se tiver idade para ser seu
avô. Entendeu?
— Ora, pastor! Eu quero mais é que você
se... — ia dizendo o homem, mas calou-se
quando a coronha do Colt atingiu-o na testa,
jogando-o para trás com um profundo corte.
O outro homem tentou se levantar. O
pastor chutou-lhe o peito sem piedade, com
o bico da bota. Ele gemeu e caiu,
contorcendo-se em dores.
— Vou matá-lo por isso — disse o
bandido com o corte na testa, tentando se
erguer.
O pastor pisou-lhe no rosto e torceu a
sola da bota de um lado para outro,
quebrando-lhe o nariz.
— Vai nada — afirmou o pastor,
apanhando sua mala e saindo
tranqüilamente.
A diligência o esperava lá fora. Assim
que se acomodou, entre a garota e o velho,
respirou fundo, pensando na viagem que
tinha pela frente.
Iria até Jamestown, onde compraria um
cavalo para chegar até New Rockford.
Lá uma importante missão o esperava.
Olhou ao seu redor, examinando mais de
perto seus companheiros de viagem.
A garota ao seu lado continuava
sonolenta. Era muito bonita e se vestia com
elegância. O cansaço da viagem por dias
seguidos se refletiam, porém, em seu rosto.
— Obrigado por nos ajudar lá dentro —
disse o velho, estendendo a mão.
— Não foi nada! — respondeu ele,
sentindo que a cabeça da jovem se apoiava
em seu ombro.
Aquele peso suave, carregando um
perfume doce e sutil, agradou-lhe os
sentidos.
Olhou-a demoradamente, apreciando de
perto aquela beleza bem acentuada, aquela
juventude que transparecia em todo o corpo
dela.
— Fiquei impressionada com a sua
coragem, pastor — comentou a velha
senhora.
— Hoje em dia, quem está com Deus,
nada teme — respondeu ele, demonstrando
que não estava assim muito familiarizado
com as citações da bíblia.
O caso, porém, foi que, mesmo assim,
conseguiu impressioná-la.
— Tem toda razão, pastor. Só que, além
da proteção de Deus, precisamos contar
com mais alguma coisa — falou ela,
piscando um olho e fazendo um gesto em
relação ao revólver que ele carregava oculto
no paletó.
— Está cem por cento certa, vovó —
respondeu ele, piscando o olho em resposta.
— Vai para o Oeste também, pastor? —
indagou o velho.
— Não, vou até Jamestown. Dali
pretendo chegar até New Rockford...
— New Rockford? — perguntou a
garota, levantando a cabeça e olhando para
o pastor. — Alguém disse New Rockford?
— Oh, querida! Não chegamos lá ainda
— riu a velha senhora. — Foi o pastor que
comentou que estava indo para lá.
— O pastor?
— Sim, meu destino final é New
Rockford. Por que o interesse naquela
cidade? Está indo para lá também?
— Sim, é lá o meu destino. Uma carroça
me espera em Jamestown e...
— Então talvez possa dar uma carona
para o pastor — lembrou a velhinha.
— Será um prazer — assegurou a jovem,
reparando agora no homem ao seu lado.
Tinha uma figura impressionante e um
par de olhos cinzentos que a fizeram
estremecer. Sua voz era forte e poderosa,
mas tinha um acento gentil e carinhoso ao
mesmo tempo.
— Somos o senhor e a senhora Sibley —
apresentou-se o velho.
— Lucille é meu nome — disse a garota.
— E eu sou o Pastor... Gray — falou ele,
após um aligeira hesitação.
— Vai assumir o púlpito em New
Rockford? — quis saber Lucille.
— Sim, o pastor anterior faleceu
repentinamente.
— Já conhece a região?
— Umas pessoas, conhecidas minhas, já
me falaram muito sobre a cidade e sobre o
local, principalmente sobre as nascentes do
rio, mas nunca estive lá antes.
— Eu nasci lá. É tudo muito bonito nesta
época do ano. Aposto como vai gostar de lá,
pastor — assegurou ela, olhando-o com um
brilho intenso e indisfarçável nos olhos.
Jim Wallace caminhou pela calçada,
escoltado por dois de seus capangas. Parou
diante do banco, olhando a rua empoeirada
de New Rockford.
— Vocês esperem aqui — ordenou aos
dois, enquanto entrava no estabelecimento
de crédito.
Foi direto para a sala do presidente,
entrando sem cerimônias.
— Olá, tio! — cumprimentou, sentando-
se numa das poltronas diante da
escrivaninha.
O homem do outro lado era Roger
Wallace, tio de Jim e tão inescrupuloso
quanto o sobrinho.
— Jimboy! — disse, estendendo ao
sobrinho uma caixa de charutos.
— São ótimos, de autêntico fumo da
Virgínia.
Jim apanhou um, mordeu uma das
pontas. Seu tio acendeu um fósforo e
estendeu-o ao sobrinho.
— Bom... Muito bom... — elogiou Jim,
baforando gostosamente.
Roger Wallace acendeu o seu charuto
também. Ficaram, por instantes, produzindo
uma fumaça aromatizada, que impregnou
toda a sala.
— E então, tio? Quando teremos as terras
do velho Colman?
— Em breve, Jim. Mais alguns dias e a
hipoteca estará vencida. As terras serão
levadas a leilão e você poderá arrematá-las
pelo preço da dívida. Vai ser o melhor
negócio de nossas vidas, sobrinho.
— Seguramente, tio — concordou Jim,
sobressaltando-se quando a porta se abriu
repentinamente e um rancheiro entrou.
Pela sua expressão, parecia furioso.
— Escutem aqui vocês dois — foi
dizendo, aproximando-se com o dedo em
riste na cara de Jim Wallace.
Os dois capangas dele surgiram às costas
do rancheiro. Um deles o golpeou na nuca
com a coronha do Colt. Quando o rancheiro
caiu, o outro lhe chutou o rosto.
— Parem com isso, vão manchar todo o
tapete com sangue — protestou Roger. —
Levem esse traste daqui.
O xerife Harry Wallace chegou naquele
momento.
— O que houve? — indagou.
— Esse idiota veio aqui nos importunar,
invadindo a minha sala... — explicou
Roger.
— Eu cuido dele — afirmou Harry,
segurando o rancheiro pelos colarinhos e
erguendo-o.
— Vocês Wallace são todos iguais.
Querem dominar a cidade, mas não vamos
permitir isso...
— Espere! — ordenou Jim, interessado.
Sabia que um grupo vinha se organizando
na cidade, para enfrentá-lo. Por mais que
seus capangas tivessem tentado descobrir,
nada haviam apurado sobre os participantes
do grupo.
Logan Blair, aquele rancheiro
impertinente, parecia saber alguma coisa.
Jim se levantou e foi até ele. Fez um sinal
com a cabeça. Os dois capangas
imobilizaram o rancheiro. Harry apressou-
se em fechar a porta.
— Quem não vai permitir, Roger? —
indagou Jim.
— Você é um covarde mesmo, Jim. Está
com medo... Eu vejo isto em seus olhos...
Mas nada saberá por mim — disse o
rancheiro, cuspindo no rosto do poderoso a
sua frente.
Jim apertou os olhos, contendo sua
indignação. Retirou o lenço e limpou o
rosto. Depois encarou Logan.
— Você tem uma esposa muito bonita em
seu rancho, Logan. E aquela garotinha de
uns ou onze anos, não? O que acha de
mandarmos para lá alguns capangas, só para
ensinarmos algumas coisas da vida para as
suas mulheres?
— Eu o mato se chegar perto delas...
— Vai estar preso, Logan. Enquanto isso,
meus capangas vão se divertir com sua
mulher e com sua família...
— Maldito! Há de queimar no fogo do
inferno se fizer isso!
— Vamos lá, Logan! Quem são os
membros do grupo que estão formando?
Onde se reúnem?
Logan desesperou-se. Se contasse, seria o
fim de seus amigos. Se não o fizesse, sua
esposa e filha pagariam nas mãos daqueles
malditos.
— Estou esperando, Logan — insistiu
Jim.
— Vai haver uma reunião logo mais, nos
fundos do armazém do Alfred.
— A que horas?
— Ao meio-dia.
— Quantas pessoas?
Logan hesitou. Estava não apenas traindo
seus amigos, mas destruindo todos os
planos de tentar manter as nascentes do rio
intactas.
Nas mãos de Jim Wallace elas seriam
devastadas e, em pouco tempo, todo o
fornecimento de água da região estaria
comprometido.
Se isso não acontecesse, Jim poderia,
simplesmente, controlar toda a água e
explorar os outros rancheiros.
— Quantas? — pressionou Jim.
— Uma dez pessoas...
— Certo, Harry. Tranque-o! — ordenou
Jim.
Sorria satisfeito agora, pois toda oposição
a seus planos poderiam ser anuladas a partir
de então.
— Vá ao rancho e traga dez homens
armados — ordenou ao capanga. — Você
vá para a rua e fique vigiando o armazém.
Não quero surpresas. Conte quantos entram
lá.
O capanga saiu para cumprir a ordem.
— O que poderia ser melhor agora? —
indagou Roger Wallace ao sobrinho.
— Tio, estou satisfeito. Com isso
eliminaremos toda a oposição aos nosso
planos. Teremos o controle da água e
poderemos comprar as outras terras a preço
bem barato.
— Excelente, sobrinho! Excelente! E
Lucille, quando chega?
— Oh, foi bom lembrar. Já está a
caminho. Se tudo correr bem, hoje à
tardinha ela deverá chegar. Estou
preparando uma recepção para ela. Vá e
leve a titia também.
— Vai ser bom termos uma festa por aqui
agora — comentou Roger. — Tudo estava
muito triste e muito parado, desde a morte
de Lucy.
— Com a volta de Lucille teremos
novamente vida e agitação no rancho, tio.
— Deve estar uma linda moça agora,
não?
— Sim, já tem dezoito anos...
— Não faltarão pretendentes para ela,
Jim.
— Saberei cuidar disso. Lucille se casará
no momento certo e com a pessoa certa.
— Algum plano quanto a isso?
— Sim, tenho planos. Estou de olho
naquelas terras de Bill Lake, na divisa com
as minhas.
— Bill Lake? O velhote?
— E por que não? É rico, experiente e
velho. Não demorará muito para morrer. Se
Lucille herdou a minha ambição, na certa
perceberá as possibilidades desse
casamento.
Roger sorriu, olhando o sobrinho com
desconfiança. Pelo que se lembrava, Lucille
havia herdado toda a sensibilidade e a
meiguice da mãe. De Jim Wallace ela nada
tinha, exceto o sobrenome.
Alfred Kinney era um homem magro e
franzino, de óculos, com uma voz calma e
modos gentis. Havia muito tocava o único
armazém de New Rockford e, com isso,
conseguira prosperar o bastante para
comprar um pedaço de terra, logo em
seguida às terras dos Colman, após as
nascentes do Rio James.
Criava um pouco de gado e plantava
milho e feijão, além de produtos de
sustento, como hortaliças, verduras e frutas.
Não era um homem ambicioso. Estava
contente com o que tinha. Podia viver
tranqüilamente com a mulher e os filhos,
desde que seu rancho continuasse servido
pelas águas nas nascentes.
Se Jim Wallace conseguisse aquelas
terras, todos os que tinham terras rio abaixo
seriam prejudicados. Jim era um ambicioso,
jamais estava contente com o que tinha.
Queria mais, sempre mais.
Por isso Alfred conseguira reunir um
grupo de pequenos rancheiros, cujas terras
ficavam rio abaixo. Unidos poderiam
derrotar Wallace e Alfred tinha a fórmula.
Verificara no Banco o valor da dívida do
velho Colman. Se todos se cotizassem,
poderiam eles mesmo arrematarem as
terras, preservando-as da cobiça de Wallace.
A reunião que seria realizada nos fundos
de seu armazém tinha esse objetivo.
Os pequenos rancheiros foram chegando
pouco a pouco, arredios, temerosos.
Sabiam do poder de Jim Wallace e da
loucura que seria enfrentá-lo. Mas o temor
de perder as terras era, agora, maior que o
medo de enfrentar o poderoso homem.
Jim tinha a lei nas mãos. Sua família
estava presente em todos os cargos
importantes da cidade.
Não havia como lutar legalmente contra
ele.
— Amigos, fico contente que todos
tenham vindo — começou Alfred, assim
que os rancheiros se acomodaram.
Uns dez homens, curtidos de sol, estavam
ali reunidos.
— Vamos logo com isso, Alfred. Vi um
bando de capangas do Wallace lá fora e não
quero encrencas com eles — disse um dos
rancheiros.
— Eles não poderão fazer nada contra
nós. Alguém viu Logan Blair? — reparou
Alfred.
— Não, mas ele deveria estar aqui. Passei
no seu rancho, quando vinha para cá, e sua
esposa disse que ele saiu bem cedo hoje. Já
deveria estar aqui — comentou outro.
— Tudo bem, vamos começar sem ele
mesmo. Assim que ele chegar, eu o inteiro
do que está se passando. Quando todos já
notaram, convidei os pequenos rancheiros
que ficam rio abaixo das minhas terras e das
terras dos Colman. Terras que irão a leilão
em breve, para pagamento da hipoteca do
Banco. Minha idéia é nos juntarmos e
compramos essas terras — propôs Alfred e
um murmúrio percorreu os presentes.
Conversas paralelas surgiram com
intensidade, alguns concordando com a
idéia, outros hesitando, pois levá-la adiante
seria enfrentar Jim Wallace.
— Calma aí, pessoa! Nós sabemos o que
significará para nós se Wallace se apoderar
daquelas terras. Terá o controle da água.
Não seria surpresa se ele construísse lá uma
represa, destruindo as nascentes e acabando
com o fornecimento de água rio abaixo.
— Alfred tem razão. Se nos juntarmos,
não teremos que desembolsar muito cada
um. Poderemos comprar as terras, evitando
que Wallace ponha as mãos nelas...
— Wallace matou Slim e Billy a sangue-
frio, diante de nossos olhos, porque queria
as terras. Acha que vai se deter diante de
nós? — indagou alguém.
— Ele não terá coragem de matar a todos.
Mesmo para ele, isto seria demais —
ponderou Alfred. — Acho que deveríamos
votar a minha proposta.
— Sim, isso mesmo, mas que fique claro
que, seja qual for o resultado da votação,
todos apoiarão seu resultado — pediu um
dos rancheiros.
— Certo, isso mesmo. Vamos votar,
então? — propôs Alfred.
Todos concordaram. A votação ia ter
início quando, de repente, a porta se abriu
violentamente e meia dúzia de capangas de
Jim Wallace entraram, seguidos do patrão.
— Por que não fui convidado para esta
reunião? — indagou ele.
— É uma reunião particular — disse
Alfred, temeroso, percebendo que, além dos
capangas que haviam entrado, outros
aguardavam do lado de fora.
— Logan Blair não disse nada disso —
afirmou Wallace.
— O que fez com ele? — quis saber
Alfred.
— Nada comparado ao que vai acontecer
aqui, se insistirem em continuar com essa
idéia maluca.
— Não pode nos impedir.
— Pretendem me enfrentar? Sabem que
não poderão. Acham que têm dinheiro o
bastante para arrematar aquelas terras? Eu
posso cobrir toda e qualquer oferta que
fizerem por elas. Jamais ficariam com elas.
Por que, então, não me poupam
aborrecimentos?
— Não nos convence, Wallace. A menos
que deseja matar um por um aqui, não nos
demoverá de nossa idéia — insistiu Alfred.
— Verdade? Vocês iam votar, não? Pois
que se inicie a votação.
— Quem foi a favor de minha proposta,
que erga a mão — pediu Alfred, erguendo
ele mesmo a mão direita para o lato.
Imediatamente um dos capangas se
aproximou por trás dele e o golpeou com o
punho na altura do rim.
O homem gemeu e dobrou os joelhos,
arregalando os olhos. Novo golpe o atingiu
na nuca, jogando-o para frente, contra o
assoalho.
O capanga pisou-lhe na cabeça com
força, depois recuou um passo.
Sangrando, Alfred tentou se levantar. Seu
rosto se transformara numa máscara de
sangue.
— Maldito covarde! — murmurou ele,
olhando para Wallace.
— Muito bem, pessoal! Vocês ouviram a
proposta do Alfred. Quem é a favor dela?
Todos ficaram imóveis, atemorizados,
olhando o rosto machucado do dono do
armazém.
Com dificuldade e corajosamente, Alfred
se levantou, erguendo a mão direita para o
alto.
— Eu voto a favor! — disse ele, cuspindo
sangue.
— É um tolo, Alfred! — exclamou
Wallace, fazendo um sinal para seu
capanga.
Ele sacou uma faca, aproximando-se de
Alfred e, diante dos rancheiros atônitos,
degolou-o.
— A reunião está encerrada, pessoal! —
gritou Jim Wallace, saindo.
Seus capangas caíram sem dó nem
piedade sobre os rancheiros, espancando-os
selvagemente.
Não satisfeitos, acenderam tochas e
puseram fogo no armazém.
Chegaram a Pingree no meio da tarde.
Lucille estava exausta da viagem naquela
carroça sacolejante.
— Não ganharemos tempo se formos a
cavalo — indagou ela ao homem que chefia
o grupo.
— Com certeza que sim, mas meu pai
insistiu para que você fosse lavada na
carroça e...
— Eu desisto! Está viagem está acabando
comigo. Prepara-me um cavalo para mim e
outro para o pastor. Vamos cavalgar de
verdade, senão não chegaremos a New
Rockford antes da noite.
O Pastor Gray concordou com um
sorriso. A impetuosidade e a juventude
daquela garota o impressionavam.
Após uma rápida parada, os cavalos
foram selados. Lucille, que recebia aulas de
equitação no colégio, demonstrou toda a sua
perícia, esporeando seu cavalo e disparando
pela estrada.
— Senhorita Wallace, vá devagar, é
perigoso! — alertou um dos vaqueiros,
temendo que ela se machucasse.
— Eu cuido dela — falou o pastor,
saindo em sua perseguição.
Lucille se divertia como havia muito não
o fazia, cavalgando daquela forma.
A estrada estava razoavelmente
conservada e ela podia exigir tudo do
animal que montava.
Nada a divertia mais, porém, que olhar
para trás e ver aquele homem fascinante em
seu encalço.
Só parou quando seu cavalo começou a
dar sinais de cansaço. Resolveu poupá-lo.
— Cavalga muito bem, Lucille — disse o
pastor, aproximando-se afinal.
— Sempre fui a melhor aluna em
equitação no colégio.
— Fale-me sobre seu colégio — pediu
ele, olhando-a com admiração.
Aqueles cabelos longos e cacheados
haviam se soltado durante a cavalgada e
agora oscilavam soltos e selvagens ao
vento.
— É um colégio de freiras, muito
conservador, cheio de normas e regras...
— E o que fazia para se divertir?
Uma expressão marota desenhou-se em
seu rosto.
— Promete não contar para ninguém?
— Prometo!
— Eu quebrava as regras — disse ela,
começando a rir.
Seu riso era provocador, revelando a
mulher sensual que havia dentro dela,
prestes a desabrochar.
— A que distância acha que estamos de
New Rockford? — perguntou ele.
— Umas vintes milhas — respondeu ela.
O pastor olhou para o céu. Ainda teriam
umas quatro horas de sol, o suficiente para
chegarem até a cidade.
Os vaqueiros foram chegando atrás deles,
após a disparada inicial de Lucille.
Foram conversando sobre a cidade, sobre
o que ela se lembrava de sua infância e
sobre o colégio.
Todas as vezes que ela indagava dele
sobre sua vida, o pastor dava uma desculpa
e acabava nada dizendo, aguçando a
curiosidade dela a seu respeito.
Aquele homem fascinante e misterioso
começava a enfeitiçá-la irresistivelmente.
Para ele, a beleza e a juventude da garota
eram componentes explosivos.
Após toda a correria provocada pelo
incêndio, a cidade voltava à calma, coberta,
porém, por um manto de medo e opressão.
Todos sabiam da morte de Alfred e do
espancamento dos outros rancheiros, mas
ninguém se atrevia a comentar isso.
Jim Wallace desfilou sua arrogância pelas
ruas da cidade, acompanhando de seus
capangas, silenciando de vez toda e
qualquer resistência.
Sua única preocupação agora era tratar da
festa da filha. Reuniu seus homens e rumou
para a casa que tinha na cidade, uma bela
mansão em estilo canadense, com grossas
muralhas circulando-a.
Ao passar diante do saloon, com seus
homens, não reparou no homem de olhar
penetrante que amarrava seu cavalo.
Usava uma capa de viagem comprida,
coberta de pedra, revelando o quanto havia
andando nos últimos dias.
Seu cavalo demonstrava cansaço e fome.
Por momentos ele ficou olhando o séquito
que passava pomposamente na rua. Depois
subiu os degraus da entrada do saloon.
— Garoto! — chamou ele.
Um rapazola que passava na rua se voltou
para olhá-lo.
— Há um estábulo por aqui?
— Sim, rua abaixo, na minha direção.
— Quer ganhar um dólar?
— Claro que sim. O que preciso fazer?
— Leve meu cavalo. Mande escová-lo e
dar-lhe toda comida e toda água que ele
queira.
— Eu faço isso, senhor — disse o garoto,
apanhando no ar a moeda que o forasteiro
havia jogado.
Ele soltou lentamente os botões da capa,
depois a retirou. Usava um paletó. Soltou o
botão, empurrando as abas para trás,
descobrindo o par reluzente de Colts.
Jogou a capa no ombro e entrou no
saloon. Foi direto ao balcão. Suas esporas
tiniam no assoalho.
— Um uísque e uma cerveja — pediu ele
ao barman.
— Quinze centavos, estranho —
respondeu o homem, olhando-o com
desconfiança.
Ele jogou algumas moedas sobre a mesa.
As bebidas foram servidas. Ele tomou o
uísque em um só gole. Depois derramou a
cerveja goela adentro até o fim.
Estalou a língua quando terminou.
Depositou mais algumas moedas sobre o
balcão.
— Pode repetir a dose?
— Está mesmo com sede, não? —
observou o barman.
— Muito, muita mesmo.
— Vem de longe?
— Sim, de Rapid City.
— É uma longa jornada.
— Longa mesmo. Por isso tenho tanta
sede — completou, voltando a beber o
uísque e a cerveja com o mesmo ritual.
Só então relaxou, olhando ao seu redor.
Um grupo de homens jogava pôquer numa
das mesas. Alguns pistoleiros do rancho de
Jim Wallace bebiam no canto do balcão.
Reparam nos Colts que ele trazia no
cinturão.
— Ei, estranho! — chamou um deles. —
Por que usa duas armas?
— Por que é ruim de pontaria e precisa
do dobro de balas para conseguir alguma
coisa — respondeu um outro e os três
pistoleiros riram.
O forasteiro fixou neles seu olhar
cinzento e atemorizador. Lá fora a tarde
chegava ao fim e a noite começava a baixar.
— Aposto como nem sabe sacar ainda —
completou o outro, rindo sempre.
O estranho olhou de novo o salão. Os
homens na mesa de jogo pararam para
observar sua reação. Os pistoleiros
deixaram seu canto no balcão e foram até
ele.
— E então, não vai contar para nós? —
insistiu um deles.
— Que idade tem, rapaz — indagou o
forasteiro.
— O que interesse isso?
— Responda! — intimou ele, com voz
forte e impressionante.
O pistoleiro gaguejou, incapaz de encarar
aqueles olhos cinzentos que faiscavam.
— Vinte e nove anos...
— Se quer completar trinta, deixe-me em
paz, está bem?
— Ele o pegou, Hank — riu um dos
outros pistoleiros.
— Cale-se, Bull! Eu não gostei da
brincadeira, estranho. Quem é você, afinal?
— Não importa. Pelo menos já sei o seu
nome e isso basta.
— Por quê?
— Porque sei o nome que mandarei
escrever na sua lápide.
Hanck percebeu que o forasteiro falava
sério mesmo. Olhou para seus amigos, que
lhe corresponderam com acenos de cabeça.
— Vai engolir tudo o que disse, estranho
— levando a mão à coronha de seu Colt.
Olhos Cinzentos foi mais rápido. Sacou
sua arma e bateu com o cano na testa do
pistoleiro, atordoando-o.
Em seguida, chutou-lhe o joelho,
fazendo-o cair no assoalho. Os outros dois,
atrás dele, recuaram.
— Maldito! Vai me pagar por isso —
afirmou Hank, tentando ainda sacar a arma.
O forasteiro ergueu a bota e bateu com a
espora no alto do chapéu dele, abrindo um
rasgo.
Um filete de sangue começou a escorrer
da testa de Hanck.
— Você... Você... — gaguejou ele,
tentando se erguer.
Peter Olhos Cinzentos pôs a bota em seu
peito e o empurrou para trás. Ficou pisando
o peito dele, mantendo-o deitado.
— Vamos fazer o seguinte: você fica aí
até eu terminar de tomar a minha bebida.
Depois, quando eu for embora, você se
levanta, está bem? Se fizer um movimento,
só um, eu o mato.
Um silêncio respeitoso pairou no saloon.
As pessoas que entravam no saloon não
entendiam aquela cena. Um homem estava
deitado perto do balcão, com olhos
aterrorizados, enquanto um outro bebia,
mantendo-o sob vigilância.
Os outros dois pistoleiros haviam voltado
ao canto do balcão, incapazes de alguma
ação para livrar o amigo naquela posição
ridícula.
Repentinamente, entram dois pistoleiros
de Jim Wallace. Um deles era Crow
Warren, um mestiço índio, de longas
tranças e ar ameaçador.
Fora ele quem degolara Alfred, naquela
tarde. Ao ver Hank naquela situação,
começou a rir.
— Que diabos está fazendo aí? —
indagou, chutando-o sem piedade.
— Deixe-o, Crow, ele não pode se
levantar — informou um dos pistoleiros no
canto do balcão.
— Por que não?
— Porque eu assim ordenei — disse
Peter, sem se voltar.
Crow mediu o forasteiro de cima a baixo.
Aproximou-se do balcão. Peter se voltou
para encará-lo.
O pistoleiro empalideceu ao fixar seu
olhar naqueles olhos cinzentos e frios.
— Eu o conheço... É Peter Olhos
Cinzentos, não?
— Talvez.
— O que faz aqui?
— De passagem. Vim visitar uns amigos.
— O clima não lhe será muito saudável
aqui, sabia?
— E por que não?
— Onde está aquela estrela de lata?
— Do que está falando? — devolveu
Peter, confundindo-o.
O mestiço olhou-o bem, hesitando.
Examinou aquelas pistolas, Hank ainda
deitado no assoalho e os dois pistoleiros
atemorizados no canto do balcão.
Só um homem para conseguir aquilo e ele
estava ali, diante dele.
— É um maldito delegado federal ainda,
não? — insistiu o mestiço.
— E se for?
— Vai ficar muito pouco tempo aqui.
— Ficarei o tempo que quiser.
— Não com minha permissão — falou
Crow, afastando-se.
Fez um sinal para os outros pistoleiros.
Chutou de novo Hank, fazendo-o se
levantar. Cinco homens se dispuseram em
leque diante do delegado federal.
Peter mediu-os. Eram todos pistoleiros
medíocres, vendendo suas armas pela
melhor oferta.
Conhecia os tipos. Eram covardes e se
atemorizavam com facilidade.
— O que pretende, índio? — indagou ele,
tirando o paletó e pondo-os sobre o balcão.
Os dois Colts estavam à mão, prontos
para serem sacados e vomitar chumbo
quente.
— É um homem morto, delegado! —
falou o índio.
— Quem vai sacar primeiro? —
questionou Peter, olhando cada um deles
nos olhos.
A linha de tiro atrás deles estava livre. Os
homens haviam deixado as mesas vazias e
se amontoavam num canto protegido do
saloon, aguardando o desfecho.
— Eu saco primeiro — disse Hank,
furioso.
— Então será o primeiro a morrer —
afirmou Peter, levando as mãos às armas.
Os pistoleiros mal tiveram tempo de tocar
as coronhas de seus Colts.
Peter percebeu que os outros três
imobilizaram-se, desistindo de sacar ao
verem seus amigos caírem.
— Covardes! Galinhas! — disse ele, indo
até os três e esmurrando-os, derrubando-os.
Em seguida, foi chutando o traseiro de
cada um deles até pô-los fora do saloon, sob
os aplausos dos freqüentadores.
Voltou ao balcão, e pediu nova dose de
bebidas.
— Acho que cometeu um erro, estranho
— disse o barman. — Mesmo sendo um
delegado federal, saiba que esta cidade
pertence aos Wallace eles não perdoarão o
que você fez.
— Danem-se os Wallace — respondeu
ele, tomando o uísque e, depois, a cerveja.
— Mão ao alto! — gritou o xerife Harry
Wallace, entrando no saloon com sua
Winchester engatilhada.
— Qual é o problema, xerife? — retrucou
Peter, encarando o homem da lei, que vinha
seguido pelos três pistoleiros que o
delegado havia acabado de expulsar a
pontapés.
— Veja, xerife, ele matou Crow e Hank a
sangue-frio. Os dois nem chegaram a sacar
as armas — apontou um dos pistoleiros.
— Você fez isso? — quis saber Harry
Wallace.
— Tive de fazê-lo. Eram cinco contra
mim. Matei esses dois e aqueles três ali se
acovardaram. Eu os pus para fora a
pontapés.
Harry olhou para os dois homens mortos
e depois para os três atrás dele.
Eram todos pistoleiros de John Wallace,
seu tio. Não conseguia acreditar que apenas
um homem dera conta deles.
Começou a rir.
— Está zombando de mim, estranho?
Enfrentou cinco homens, matou dois e pôs
os outros para correr?
— É verdade, xerife. Ele fez isso — disse
o barman.
— Isso mesmo, xerife. Sozinho. Os três
aí fugiram como covardes — disse alguém,
no meio da multidão que se aglomerava
agora no saloon.
— Não posso acreditar nisso. Acho que
terei de levá-lo preso para... — ia dizendo
Harry.
— Nem pense nisso, xerife. Estou aqui de
passagem, não pretendia arrumar encrenca,
mas esses homens me provocaram. Quanto
a prender-me, você não tem autoridade para
isso — disse Peter, com convicção.
O xerife empalideceu. Ele olhou o
homem a sua frente com receio e, ao mesmo
tempo, raiva.
— Quem pensa que é para... — ia falando
de novo, mas Peter enfiou-lhe o distintivo
na cara.
— Federal... Você é um delegado
federal? — gaguejou o xerife, aturdido.
— Sim, isso mesmo. Não quero me meter
nos problemas da sua cidade. Só quero
visitar meus amigos, descansar uns dias e
depois ir embora. Pode ser?
Harry Wallace engoliu seco. Ninguém o
havia enfrentado até então. Toda a cidade o
temia. Toda cidade temia os Wallace.
Olhando ao redor, percebia a satisfação
nos olhos daquelas pessoas, acostumadas a
serem humilhadas.
Olhou novamente os mortos e os três
pistoleiros que tremiam atrás dele.
Aquele homem a sua frente não era um
pistoleiro qualquer. Era um delegado
federal e dos bons.
— Ok, delgado! Acho que pode fazer o
que pediu. Quem são seus amigos? Posso
ajudá-lo a encontrá-los?
— Acho que sim, xerife. Eles são Slim e
Billy Colman! — falou Peter e um silêncio
de morte pairou no saloon.
Harry ficou sem reação, sem saber o que
dizer. Percebeu que teria encrenca pela
frente.
Aquele delegado federal, ao saber que
Slim e Billy haviam sidos mortos, iria
investigar.
Não demoraria a descobrir toda a trama
armada para que Jim Wallace ficasse com
as terras deles.
Estava ali, porém, um problema que ele
não poderia resolver.
— E então, xerife? Onde posso achá-los?
Sei que têm um rancho aqui perto e...
— Não vai achá-los mais, delegado.
Estão mortos — afirmou Harry, secamente.
Peter olhou-o, sondando-o.
— Como disse?
— Slim e Billy estão mortos, poderá
encontrá-los lá na colina dos Pés Juntos.
— Como morreram?
— Num tiroteio.
— Você investigou.
— Sim, foi um duelo justo, ali mesmo, na
avenida principal.
— Quem os matou? — perguntou Peter e
seus olhos cinzentos faiscavam, revelando
toda a sua fúria.
— O caso foi concluído, nem houve
inquérito. As testemunhas foram unânimes.
Eles sacaram antes, os outros se
defenderam...
— Outros? Quantos?
— Três homens, mas isto não...
— Slim e Billy sacaram contra três
homens? Eram pistoleiros ou rancheiros
como eles?
— Eram empregados do rancho do meu
tio e.. — interrompeu-se Harry. — Olhe
aqui, se quer um conselho, pegue seu cavalo
e vá descansar em outra cidade, delegado.
Garanto que não é bem vindo aqui. É tudo
que posso lhe dizer, está bem? — finalizou
Harry, deixando o saloon.
A encrenca estava feita. Aquele delegado
iria mexer no caso até descobrir toda a
estória.
Jim Wallace teria de encontrar uma
forma de consertar aquilo. Lidar com um
delegado federal era demais para Harry
Wallace.
No Rancho Wallace tudo era euforia,
com a chegada da linda e jovem herdeira.
Uma banda tocava alegremente e os
convidados começavam a chegar.
Lucille estava atônita, cercada pela
atenção do pai e dos demais parentes.
O pastor ficara para trás, na entrada da
casa, assistindo a tudo com interesse.
Lucille comentara que o pai era
rancheiro, mas ele jamais esperava que
fosse tão poderoso.
Bastava ver pelo estilo da casa e pelos
capangas armados que circulavam pelo
pátio.
Um dos vaqueiros que os havia
acompanhando na viagem aproximou-se
dele.
— E então, pastor, o que achou da
recepção?
— Muito bonita! Foi uma bela surpresa
para ela, não?
— Sim. O Sr. Wallace é um homem
muito poderoso. Mas não é um homem
bom, pastor. E pelo amor de Deus, não diga
a ninguém que me ouviu dizer isso. Ele é
um homem cruel e ambicioso. A pobrezinha
não merece mesmo o pai que tem.
O pastor olhou o rapaz demoradamente.
Sentiu que ele não mentia.
— Vai ficar para a festa? — indagou o
vaqueiro.
— Não, tenho que ir para a cidade.
Preciso ver a igreja e tudo o mais...
— Se quiser, eu o acompanho até lá.
— Vai ser ótimo, eu não conheço nada
aqui.
— Quando quiser, então.
O pastor olhou na direção da casa. Seria
inútil tentar falar com Lucille naquele
momento, pensou.
Na certa não faltariam oportunidades para
os dois se encontrarem.
— Vamos já, então — decidiu.
Naquele momento, Harry Wallace
chegava a cavalo, saltando diante da casa
com apreensão.
Correu para o interior, como se tivesse o
diabo em seus calcanhares.
— Esse estava com pressa — observou o
pastor, quando montava.
— É Harry Wallace, o xerife e sobrinho
do Sr. Wallace.
O vaqueiro riu.
— Ainda verá mais, pastor. Há um
Wallace na prefeitura, outro no Banco,
outro é juiz e vai por aí a fora...
Já iam se afastando, quando Lucille
chegou, correndo.
— Pastor, onde vai? — indagou ela.
— Vou para a cidade.
— Por quê não fica?
Ele hesitou, olhando os olhos brilhantes
da garota. A tentação era imensa.
— Tenho que ver a igreja e me
acomodar...
— Quem sabe mais tarde? A festa não
tem hora para acabar.
— Talvez...
— Prometa que virá, por favor! —
suplicou ela.
— A que distância estamos da cidade?
— Há uns cinco minutos, pastor. Do
outro lado da colina — riu o vaqueiro.
— Ora, sendo assim — sorriu o pastor,
para alegria da garota.
— Não falte, por favor! — frisou ela.
— Não faltarei — confirmou ele,
afastando-se.
Minutos mais tarde estava na cidade.
Passaram pela rua principal, diante do
armazém destruído pelo fogo daquela tarde.
— O que houve aqui? — indagou.
— Não sei, pastor. Aí era o armazém do
Alfred. Parece que pegou fogo...
— E foi recente isso...
Seguiram em frente, na direção da
imponente construção da igreja, com seu
alto campanário.
Nos fundos da igreja havia uma casa
pequena, às escuras.
— Á ali que moram os pastores — disse
o vaqueiro.
— Preciso encontrar a Sra. Brown, ela
tem as chaves da casa e da igreja.
— Deve ser a mulher do ferreiro. Eles
moram ali, naquela casa — apontou ele.
— Então tudo bem, eu me viro agora.
Obrigado, rapaz! Você foi muito atencioso
mesmo.
— De nada, pastor! É sempre uma alegria
poder servir a um homem de Deus.
— Leve o cavalo, por favor!
— Vai precisar dele para visitar a
senhorita logo mais, pastor...
— Não, dê um descanso ao pobre animal.
Já cavalgou demais por hoje.
— Quer que eu o venha buscar mais
tarde?
— Obrigado, mas caminharei até lá, não
se preocupe.
— Ok, pastor. Até mais, então — disse o
vaqueiro, afastando-se.
O pastor esperou até que ele sumisse na
rua principal, depois caminhou até a casa
indicada por ele.
Foi recebido alegremente pelo ferreiro e
pela esposa, que insistiram em hospedá-lo e
em servir-lhe um jantar.
— Obrigado, filhos, mas estou cansado
da viagem. Talvez amanhã... — agradeceu
ele, conseguindo se livrar.
De posse das chaves da casa e da igreja,
rumou para lá. Estava mesmo cansado e não
sabia se ir à festa de Lucille seria uma boa
idéia.
A lembrança daquele olhar e daquele
sorriso, no entanto, o fez mudar de idéia.
Cansaço nenhum do mundo o impediria
de ir ao encontro dela de novo.
Entrou na casa após perceber a janela
aberta. Não se importou. Assim que se viu
na sala, riscou um fósforo e olhou ao redor.
Localizou um lampião. Acendeu-o.
Assim que a luz iluminou o aposento, ele
viu o homem deitado no pequeno e estreito
sofá.
O pastor sacou sua arma e se aproximou
lentamente, observando atentamente as
reações do homem adormecido.
Junto dele, inclinou-se. Pôs o revólver
bem no na nariz do homem deitado e
engatilhou.
Imediatamente ouviu o ruído de dois
revólveres sendo engatilhados também.
A capa de viagem se erguera e revelava
os contornou de dois Colts apontados para o
seu ventre.
No pavimento superior as mulheres da
família paparicavam Lucille, que se
desdobrava para responder todas as
perguntas a respeito de Boston, da cidade
grande, dos rapazes de lá, das casas, das
roupas, e tudo enfim.
No térreo, no local reservado para uma
biblioteca, que fazia as vezes de escritório,
os homens da família Wallace estavam
reunidos.
Harry havia contado nervosamente seu
encontro com o delegado federal, momentos
antes.
— E quem garante que ele estava mesmo
só de passagem? — indagou Roger, o
presidente do Banco.
— Esses delegados nunca aparecem
assim por encanto — ponderou Elroy, o juiz
da cidade.
— Eu sabia que as mortes do Slim e do
Billy dariam confusão — falou Thomas, o
prefeito, assustado.
— E agora, o que eu faço? — questionou
Harry.
Sentado em sua escrivaninha, baforando
seu charuto, Jim Wallace pensava, olhando
como seus parentes perdiam facilmente a
calma por qualquer coisinha.
Por isso ele era o líder daquela família, o
homem capaz de manter a cabeça no lugar,
enquanto todos a perdiam.
A situação era delicada, reconhecia ele,
mas não desesperadora. A chegada de um
delegado federal em nada mudaria a rotina
da cidade nem seus planos.
— Por que vocês não calam a boca! —
gritou ele, esmurrando a mesa.
Um silencio total instalou-se na sala e
todos os olhares se voltaram para Jim
Wallace.
— O que há com vocês? Parecem um
bando de mulheres velhas, assustadas por
nada!
— Jim, você não entendeu, ele é um
delegado federal! — observou Harry,
controlando-se.
— Ele pode ser o presidente da republica,
estou pouco ligando para isso. O que ele
pode fazer? Investigar e mais nada.
— Alguém pode falar... — ia dizendo o
juiz.
— Será a palavra de um contra dezenas
de testemunhas a nosso favor. Além do
mais, você é o juiz desta cidade, não? Do
que temos medo? — insistiu.
Os homens se entreolharam, já mais
calmos. A lógica de Jim sempre os
fascinava e convencia.
— Vamos fazer o seguinte, pessoal:
vamos dar a ele todas as facilidades para
fazer seu trabalho. Quanto mais cedo ele
terminar, mais cedo irá embora. E garanto
que irá de mãos vazias — afirmou Jim.
— Acho que Jim tem razão, pessoal —
ajuntou o juiz. — O delegado federal tem
algumas prerrogativas para realizar suas
investigações, mas nada pode fazer à
margem da lei. Sempre terá de prestar
contas de seus atos ao xerife e a mim, o juiz
da cidade. Fora disso, se fizer alguma coisa
errada, poderá ser punido por isso —
explicou Elroy, o magistrado.
— Então está resolvido. Nada de
enfrentamentos nem de provocações.
Vamos facilitar tudo para ele. — decidiu
Jim.
Bateram na porta, que se abriu logo em
seguida. Lucille entrou, rapidamente,
seguida pelas tias e primas.
Havia tomado um banho, posto roupas
limpas e arrumado os cabelos. Ao vê-la, o
pai se emocionou.
— Você está linda, minha filha! —
murmurou ele, aceitando o abraço que a
filha lhe oferecia.
Todos se comoveram com a cena
familiar.
— Senti muito a falta de tudo isto aqui,
pai. Queria ter estado aqui, quando mamãe
morreu.
— Foi uma pena, querida, mas não
pensemos em tristezas agora. Hoje é uma
noite de festa e quero ser o primeiro a
dançar com você — falou Jim, tomando a
filha pela mão e levando-a para o pátio,
onde a banda já tocava animadamente.
Os outros homens ficaram na sala, em
silêncio, pensativos. Trocaram olhares.
— E se Jim estiver enganado? — indagou
o xerife. — E se esse delegado já tiver em
mãos todas as provas necessárias?
— Quem matou Slim e Billy? — indagou
o juiz.
— Foram os capangas de Jim —
respondeu Harry.
— E nós, o que temos com isso? —
retrucou Elroy, olhando para os outros
matreiramente.
Eles sorriram, compreendendo a situação.
Se o delegado federal encontrasse um
culpado, seria Jim e não eles.
— Isso me deixa muito, mas muito
aliviado mesmo — comentou o xerife e os
outros concordaram com ele.
O pastor desengatilhou a arma e guardou-
a, olhando o rosto coberto de poeira do
homem a sua frente.
— Continua o mesmo bicho feio de
sempre, Peter — disse, estendendo a mão.
— E você continua uma lesma. Ainda
cheguei antes de você — afirmou o
delegado, cumprimentando o outro.
— Tive motivos para me atrasar...
— E esse disfarce aí, não tinha nada
melhor?
— Foi o que a agência me arrumou.
Fazer o quê?
— Quero vê-lo assumir as funções de
pastor.
— Já fui pastor, sabia? Estou meio
enferrujado, mas consigo me virar bem na
profissão.
— Você, um agente da Pinkerton, já foi
um pastor?
— Sim, antes de iniciar minha carreira de
crimes. E comecei matando um bocudo que
insistia em gozar com a minha cara — falou
o pastor, furioso.
Peter virou o rosto para poder continuar
rindo. quando parou, encarou o amigo.
— Bem, não entendo por que a Agência
Pinkerton de Detetives o mandou aqui, meu
amigo, mas fiquei feliz quando soube que
estava vindo.
— É simples. A Madre Superiora do
Colégio Notre Dame queria ter certeza que
sua aluna chegaria incólume à casa do pai,
por isso nos contratou.
Peter olhou-o demoradamente, não
acreditando muito na estória que ele
contava.
Só que conhecia muito bem Harry Gray
para saber que ele nada diria sobre os
objetivos de sua missão.
— E você, por que está aqui? — indagou
o pastor.
— Billy e Slim Colman eram meus
parentes. Slim era meu tio — explicou
Peter.
— E o que descobriu? Se é que já
descobriu alguma coisa por aqui.
— Antes de dizer alguma coisa, fale-me
da garota — pediu Olhos Cinzentos.
Harry sorriu, pensativo, lembrando-se
dela. E lembrou-se da festa também.
— Foi bom lembrar. Preciso tomar um
banho. Tenho que ir a uma festa ainda hoje
— disse.
— Há água e tudo o mais lá nos fundos
— disse Peter. — Já a inspecionei a casa. E
que festa é essa?
— Há uma festa na casa de Lucille.
Pretendo ir, fui convidado por ela.
— Vai cair direto na boca do lobo, então.
— Por que diz isso? — quis saber Larry,
enquanto se despia e caminhava pela casa.
— Jim Wallace, o pai dele, está por trás
das mortes dos meus parentes.
— Verei o que posso fazer para ajudá-lo
— afirmou o pastor, retirando roupas limpas
de sua mala e sumindo quase nu no interior
da casa.
Peter voltou ao sofá. Sentou-se e acendeu
um cigarro. Ficou fumando pensativamente.
Larry estava ali com uma missão
específica que ele desconhecia.
De qualquer maneira, era um aliado
importante, embora não pudesse contar com
ele cem por cento.
Larry trabalhava para a Pinkerton, uma
agência particular de detetives que,
esporadicamente, também auxiliava a lei,
desde que seus objetivos particulares não
fossem prejudicados.
A caminho de New Rockford, quando
passara em Bismarck, ficara sabendo das
mortes de Slim e Billy.
Pedira ao seu chefe que o deixasse ir até a
cidade para investigar a morte dos parentes.
— Pode ir, Peter. Acho que lhe devo isso
— dissera o seu chefe. — Vai encontrar
alguém importante lá.
— Quem?
— Larry Gray.
— Larry? Aquele embrulhão? O que ele
estará fazendo lá?
— Pelo que fomos informados, ele estará
acompanhando a filha de Jim Wallace, de
Fargo até New Rockford. Ao longo do
caminho, diversos agentes de Pinkerton se
revezaram, vigiando-a.
— Por que isso?
— Não ficou muito claro. Disseram que a
madre superiora do colégio assim o pediu. a
garota estuda em Boston, num colégio de
freiras famoso e muito rigoroso.
— Entendo. Jamais deixariam a garota
viajar sozinha, sem nenhuma proteção.
— Certo. Larry fará a última etapa da
viagem. Agora, há algo que tem que saber.
— E o que é?
— A garota é filha do homem suspeito de
mandar matar seus parentes.
Larry surgiu logo em seguida,
enxugando-se.
— Como estou agora? — indagou, já
barbeado e limpo.
— Melhor.
Larry começou a se vestir. Parou, então,
voltando-se para o amigo.
— Que tal ir até a festa comigo? —
convidou.
Peter sorriu.
— Falo sério! — insistiu Larry.
— Como eu disse antes, seria cair na
boca do lobo. Já tive um entrevejo com o
xerife e ele é da família Wallace. Eles são
suspeitos das mortes dos meus parentes. Ir
lá seria como provocá-los, não?
— Tem razão. E depois, por que levá-lo
lá? Na certa vai botar os olhos na pequena
Lucille e cair sobre ela como um gavião
matador. Eu o conheço, Peter Colman. Por
isso é melhor não ir mesmo.
— Seu matreiro filho da mãe! —
murmurou Peter, começando a se despir
rapidamente.
Algum tempo depois escolhia em sua
mochila algumas roupas limpas para usar.
— Como foi o encontro com o xerife? —
quis saber Larry.
Peter contou-lhe em detalhes o
acontecido. E acrescentou:
— ... e aconteceu outra coisa hoje na
cidade. O armazém foi incendiado. Dizem
que o proprietário morreu queimado, mas há
alguma coisa por detrás disso...
O delegado interrompeu-se. Havia
percebido um vulto junto à janela. Fez
sinais para que Larry continuasse
conversando e saiu silenciosamente.
Retornou pouco depois, trazendo uma
pessoa franzina pelos colarinhos.
Jogou-a sobre o sofá. O chapéu caiu e os
cabelos ruivos se espalharam como uma
cascata.
— Uma garota? — indagou Peter,
surpreso.
— Sim, meu nome é Hanna Kinney e
meu pai era o dono do armazém que foi
queimado hoje à tarde.
— E o que faz aqui, se esgueirando como
uma cobra venenosa? — indagou Peter,
com rispidez.
— Eu o segui, quando me disseram que
era um delegado federal e que tinha posto
Harry Wallace para correr.
— Você deveria estar velando o seu pai,
garota, ao invés de... — ia dizendo Larry.
— Nada sobrou dele que pudesse ser
velado. Não sou uma garota mimada e
chorona. Meu pai era um homem corajoso e
foi morto por isso.
— Você está dizendo que seu pai foi
assassinado? — interrompeu-a Peter.
— Sim, eles estavam fazendo uma
reunião, quando Jim Wallace e seus
capangas chegaram.
— Reunião? para quê?
— Para se unirem contra Wallace.
Queriam comprar junto as terras dos
Colman, que vão a leilão pelo Banco...
— Espere um pouco, garota — pediu
Peter. — Por que as terras dos Colman vão
a leilão?
— Há uma hipoteca no banco. Não é
muito, por isso meu pai achou que poderia
unir os rancheiros e, juntos, comprarem as
terras.
— E por que essas terras são
importantes?
— Por que lá estão as nascentes do rio.
— Entendo. Quem controlar as nascentes
controlará toda a água, não?
— Sim.
— O que houve na reunião? — continuou
perguntando o delegado federal.
— Wallace e seus homens chegaram.
Agrediram meu pai. Um dos rancheiros me
disse que ele foi degolado. Depois
agrediram todos os outros também e
atearam fogo ao armazém.
— Mais alguém morreu?
— Não, apenas meu pai. Só que os outros
estão tão aterrorizados que jamais falarão.
Muitos tencionam vender as terras e sumir
daqui. Seguramente vão acabar vendendo
para o próprio Wallace, a preço de banana.
— Começo a entender o que está
acontecendo aqui — comentou Peter.
—Prenda-os, delegado. Prenda Jim
Wallace e os capangas que mataram meu
pai e os Colman. Um deles você já pegou
hoje à tarde.
— Qual?
— O mestiço. Foi ele que matou meu pai,
segundo me disseram hoje.
— Um a menos, mas, pelo que vi,
Wallace tem muitos capangas.
— Mas você é um delegado federal! —
insistiu ela.
— Isso não o torna invulnerável, garota
— disse Larry, terminando de se vestir.
— Você não é pastor.
— Larry é um agente secreto e está aqui
para me ajudar — explicou Peter. — Deve
permanecer incógnito. Como pastor ele
poderá me ajudar muito. Não é verdade,
Larry?
O detetive percebeu que Peter queria
forçá-lo a ajudá-lo. Teve de ceder.
— Sim, claro. Trabalhamos juntos —
afirmou.
— Então vão pegá-lo mesmo?
— Sim, eu prometo. Agora vá para casa,
garota. Temos trabalho a fazer — pediu
Peter.
Ela se levantou. Vestia roupas
masculinas, grandes demais para o seu
corpo. Tinha olhos castanhos brilhantes e
um rosto muito bonito, se recebesse os
devidos cuidados.
— Se descobrir mais alguma coisa, eu
virei contar-lhe, delegado.
— Espere! Você sabe os nomes dos
homens que mataram os Colman?
— Não exatamente, mas posso descobrir
isso para você.
— Faça isso — pediu ele e os olhos da
garota brilharam de satisfação.
Ela sumiu pela porta.
— Isto aqui está ficando movimentando
demais para a casa de um pastor —
comentou Larry.
— Percebe onde vamos nos meter indo à
casa de Wallace?
— O homem é uma víbora, mas não
tenho nada com isso, Peter. O delegado
federal é você.
— Só que estou contando com a sua
ajuda.
— Eu não prometi nada e...
— Calma lá! Acabou de me prometer
isso bem diante da garota.
— Mas eu pensei que... Ora, dane-se,
Peter Olhos Cinzentos. Você continua o
mesmo trapaceiro de sempre, não?
Peter riu e tratou de afivelar o cinturão e
de conferir a munição dos Colts.
Não sabia até que ponto aquilo seria
mesmo apenas uma festa.
Os dois homens caminharam pela noite
tranqüilo de New Rockford, na direção da
casa de Jim Wallace, de onde vinha a
música que se espalhava pela pradaria.
Os convidados não paravam de chegar e
os amplos salões da casa iam se enchendo.
Uma enorme mesa, com todo tipo de
comida, estava a disposição de todos.
Casais dançavam animadamente. Parados
junto ao portão, Peter e Larry observavam o
movimento todo.
— É um homem poderoso ou popular? —
indagou Peter.
— Acho que é mais poderoso do que
popular.
— E a garota?
— Já vamos encontrá-la — afirmou
Larry, empurrando Peter para o meio da
multidão.
— Sinto cheiro de comida — disse o
delegado.
— Eu também. Estou faminto.
— Vamos comer alguma coisa primeiro...
— Acalme-se, deixe-me apresentá-lo à
dona da casa antes de mais nada — cortou-o
Larry.
Entraram casa a dentro. Harry Wallace, o
xerife, reconheceu o homem que entrava,
acompanhado de um pastor. Correu à
procura do tio para contar-lhe.
— Pastor! — chamou-o Lucille,
reconhecendo-o e correndo ao seu encontro.
— Fico feliz que tenha vindo. Quer comer
alguma coisa? beber?
— Antes de mais nada, deixe-me
apresentar-lhe um amigo meu — falou
Larry, apresentando Peter.
Os olhos cinzentos do delegado se
alegraram com a visão daquele rosto lindo e
radiante.
Apertou a mão suave, sentindo o perfume
que vinha daquele corpo cheio de vida e
juventude.
— É uma linda moça. Larry estava certo
todo o tempo — disse o delegado,
galantemente.
— O quê? Quem?
— Ah, desculpe-me, o pastor...
— Larry Gray, Lucille — explicou o
pastor, que ainda não havia dito seu
primeiro nome à garota.
— Venham comigo! — disse ela,
segurando a mão do pastor e puxando-o por
entre os convidados.
Os dois homens não tiveram outra
alternativa senão seguir a garota até a sala,
onde os membros masculinos da família
Wallace estavam reunidos.
— Papai, quero lhe apresentar o pastor
Gray, que me acompanhou durante a
viagem, de Fargo até aqui — disse ela,
alegremente.
— Obrigado, pastor, pela sua atenção
para com minha filha — falou Jim Wallace,
estendendo a mão e cumprimentando Larry.
— Ora, Sr. Wallace, foi um prazer —
respondeu ele, sorrindo para a garota, que
não tirava os olhos dele.
— O outro é Peter... — começou ela a
dizer.
— O delegado federal — cortou-a Harry,
o xerife.
— Delegado? Como assim? — estranhou
Lucille.
— Querida, você e o pastor poderiam sair
e se divertir? Tenho um assunto a discutir
com este nosso convidado — pediu Jim
Wallace à filha.
— Papai, não vai falar de negócios no dia
da minha volta? Por que não deixa tudo isso
para amanhã?
— Vá e divirta-se — insistiu ele,
abraçando a filha e levando-a até a porta.
Larry foi esperto, saindo junto com a
garota, sem dar a entender que conhecia
bem o delegado federal.
Assim que o casal saiu, Jim Wallace
fechou a porta. Foi até a escrivaninha e
sentou-se. Apontou uma poltrona.
— Por favor, delegado!
Peter sondou os homens ao seu redor.
Com exceção do xerife, os outros pareciam
desarmados.
Atendeu ao convite, sentando-se em
frente ao dono da casa, que abriu uma caixa
e lhe ofereceu charuto.
— Obrigado! Prefiro fumar dos meus, se
não se importa — respondeu, tirando um
cigarro e acendendo-o, enquanto Jim
Wallace baforava seu charuto.
Os outros homens se acomodaram para
acompanhar a conversa. Se havia alguém
capaz de convencer um delegado federal a
cooperar, esse alguém era Jim.
— Bem, delegado, apesar de ser uma
noite de festa para mim, gosto de resolver
logo tudo que me preocupa. Sua vida aqui
está me causando um certo
constrangimento. Poderia me explicar qual
é o motivo dela?
— Vim visitar alguns parentes, apenas
isso. Só que os encontrei mortos.
— A quem se refere?
— A Slim e Billy Colman.
— Qual o grau de parentesco entre
vocês?
— Slim era irmão de meu pai.
— Foi uma pena...
— Pelo que ouvi, foi assassinato —
cortou-o Peter, olhando-o nos olhos.
O rancheiro mantinha seu olhar no de
Peter, sem se intimidar.
— Ali está o xerife que pode lhe garantir
que as testemunhas foram unânimes em
afirmar que...
— Slim foi morto a sangue frio, assim
como meu primo.
Jim Wallace pigarreou e se remexeu na
sua poltrona, incomodado. Aquele delegado
era duro na queda.
— Veja bem, delegado. O que está feito,
está feito. Nada trará os dois de volta e...
— A questão não é essa, Sr. Wallace.
Seus capangas mataram dois homens a
sangue frio e deveriam ter sido punidos por
isso.
— Eu sou o juiz da cidade e lhe garanto
que a lei foi respeitada. Todos viram os dois
sacarem primeiro. Os empregados de meu
primo apenas se defenderam.
— Três pistoleiros contra dois
rancheiros! Não me faça rir. Os dois foram
forçados a sacara. Mas isso não vem ao
caso. Pretendo investigar o crime e, caso
outras testemunhas confirmem a versão que
ouvi inicialmente, farei com que novo
inquérito seja instaurado.
Jim Wallace estava aborrecido,
percebendo que não seria fácil mesmo lidar
com aquele homem.
— Vocês delegados federais são uns
arrogantes mesmo — falou ele, de dedo em
riste. — Pensam que estão acima da lei, que
podem chegar em minha cidade e irem
ditando as normas. Se pensa assim, está
errado, homem. Aqui as coisas acontecem
conforme eu determino. Você tem duas
alternativas. Ou dança conforme a minha
música ou dá o fora do baile, entendeu? —
falou ele, furiosamente.
— Homens como você me enojam, Jim
— falou em resposta o delegado, que tinha
ouvido tudo sem mover um músculo do
corpo. — Tenho percorrido esses territórios
todos e encontrado gente de sua laia aos
montes. São a praga do oeste, são a
desgraça do país. Homens que desejam mais
do que podem cuidar, que tiram dos outros,
que destroem, roubam e matam sem o
menor escrúpulo. Deixe-me lhe dar um
conselho também. Homens como você eu
mato ou ponho atrás das grades para
sempre. Entendeu? — finalizou,
levantando-se.
Jim Wallace estava lívido. Fez um sinal
para que Harry barrasse a saída do
delegado, mas em vão.
Peter Olhos Cinzentos saiu, batendo a
porta atrás de si. Jim esmurrou a mesa
furiosamente.
— Ele é um homem morto, entendem?
Morto! — vociferou. — Traga Ralph e seus
irmãos aqui, Harry. Vou pô-lo atrás desse
federal.
— Jim, delegados federais são como
praga daninha. Você pode arrancá-la pela
raiz e deixá-la exposta ao sol para morrer,
mas sempre haverá um novo broto surgindo
da terra. Se mandar matar aquele homem,
jamais terá paz, ouça o que lhe digo —
falou Elroy ao primo.
— Ninguém vem até minha casa e me
ofende gratuitamente, primo. Esse delegado
terá de ser posto em seu lugar.
— Espero que saiba o que está fazendo...
— Eu sei, não se preocupe.
Lá fora Peter procurava por Larry. Estava
mais do que evidente que não era bem
vindo ali.
— Não posso ir agora, a garota está
encantada comigo — disse Larry,
envaidecido.
— É melhor que seja assim. Fique e veja
o que pode descobrir. Quanto a mim, o
melhor a fazer é dar o fora. E, mesmo
assim, acho que serei seguido.
— Pode se esconder lá na casa.
— Obrigado, é o que farei! — combinou
Peter, saindo rapidamente, tomando todo o
cuidado para verificar se não estava sendo
seguido.
Foi direto para a casa do pastor. Entrou
sem acender a luz. Ficou na janela
entreaberta, observando.
Três cavaleiros passaram lá fora,
percorrendo a rua principal, vindo da casa
de Jim Wallace.
— Acho que estão procurando por você
— disse uma voz feminina e Peter não
precisou acender a luz para descobrir que
era Hanna, a ruivinha.
— Como sabe?
— Passaram pela rua, antes de você
chegar. Não os viu?
— Vim pelo outro lado.
— Sabia que estariam a sua procura?
— Suspeitava.
Ele havia se aproximado dele. Seus
corpos se tocaram, quando ela olhou pela
janela.
Estava perfumada e usava um vestido, ao
invés de roupas masculinas. Peter percebeu
e aprovou a mudança.
— O que faz aqui?
— Descobri quem são os homens que
mataram seu tio e seu primo.
— E quem são eles?
— Os mesmo que estão procurando por
você lá fora. Ralph Butte e seus irmãos.
— Tem certeza?
— Absoluta. Posso conseguir meia dúzia
de testemunhas para você.
— Pois acho bom que esteja falando a
verdade, Hanna — disse ele, abrindo a porta
e saindo para a rua.
Os três cavaleiros pararam diante do
saloon e desmontaram.
— O que vai fazer?
— Vou pegá-los.
— Quero ver isso...
— Não, é melhor você ir para casa
dormir. Já fez o bastante por hoje. Amanhã
cedo quero falar com você sobre as tais
testemunhas.
— E se você morrer está noite? —
questionou ela e havia angústia em sua voz.
— Não pretendo morrer, sua boba.
— Quero ajudá-lo. Tenho a arma de meu
pai e... — ia dizendo ela, enquanto tirava
um Colt do bolso do vestido.
— Dê-me isso aí — falou ele, irritando,
tomando-lhe a arma. — Vá para casa, não
me faça perder a paciência com você.
Ela abaixou a cabeça, intimidada. Peter
verificou a arma que tomara dela. Estava
carregada.
Guardou-a no cinturão, presa às costas,
sob o paletó. Poderia servir numa
emergência.
— Não tem medo de ir sozinho? —
indagou ela, vendo-o começar a caminhar.
Peter não respondeu. Ela foi
acompanhando suas passadas com olhar
admirado.
Quando viu que ele não a perceberia,
tratou de seguí-lo pelas sombras das casas à
beira da rua.
Peter foi direto para o saloon. Jim
Wallace iniciara o seu ataque e era isso
justamente que desejara, ao provocá-lo na
casa dele.
Quanto mais irritado o rancheiro ficasse,
mais erros cometeria. Com isso seria fácil
incriminá-lo.
Reconhecia, porém, que tinha de ser
prudente. Vira muitos pistoleiros na casa
dele.
Jim Wallace tinha homens o bastante
para começar uma guerra naquele lugar e
isso era coisa que ele, Peter Colman, não
tinha intenção de começar.
Na casa de Jim Wallace, a festa seguia
animada. Um novo e importante convidado
acabara de chegar e o dono da casa mandara
chamar a filha para apresentá-lo.
Lucille entrou na sala acompanhada de
Larry, de quem não se desgrudava, desde
que ele chegara.
— Filha, quero que conheça alguém que
deseja muito conhecê-la — falou ele à
garota, que o olhava com curiosidade.
Um homem de meia-idade, grisalho nas
têmporas, de rosto curtido pelo sol e olhos
penetrantes, se adiantou, tirando o chapéu.
Tinha cabelos ruivos e fartos, apesar da
idade que aparentava. Sorriu e seu sorriso
demonstrava sinceridade e amizade.
Inclinou-se diante da garota com
admiração.
— Tenho ouvido muito falar de você,
Lucille, mas nunca pensei que fosse tão
bonita como diziam. Acho que se
enganaram. Você é mais bonita do que
todos me diziam — falou ele, sem afetação.
— Este é Bill Lake, nosso vizinho e um
dos grandes rancheiros daqui... — ia
dizendo Jim.
— Não tão grande quanto seu pai, mas...
— Ele é modesto, filha! Por que não
dançam um pouco?
— Eu adoraria — falou Bill.
Lucille ficou indecisa, olhando para
Larry, que ficara constrangido também, sem
saber o que fazer, olhando para Bill Lake.
— Mas eu... O pastor... — balbuciou ela,
toda confusa.
— Não se preocupe, filha. Vá dançar com
o Bill. Eu faço sala ao pastor — afirmou
Jim, empurrando o casal para fora da sala.
Larry nada pode fazer, a não se
acompanhar o olhar suplicante que Lucille
lançava na sua direção.
Jim pôs a mão em seu ombro e o levou
para dentro da sala. Ofereceu-lhe um
charuto.
— Bem, pastor, se tudo der certo como
eu espero, em breve estará fazendo o
casamento de minha filha com Bill Lake.
Com isso vamos ter a maior propriedade de
gado de toda a região e, quem sabe, de todo
o território.
— Um bom negócio — comentou Larry,
olhando aquele homem nos olhos.
Jim Wallace não movia um músculo se
não fosse para obter alguma vantagem.
Conhecia tipos como aquele, mas nada
poderia fazer naquele caso. Peter que
resolvesse a situação.
Da parte dele, a missão estava terminada
a partir daquele momento. Só lhe restava,
no dia seguinte, prestar contas ao homem
que estava pagando tudo e dar o fora o mais
rápido possível, antes que tivesse de fazer
um sermão ou de efetuar um casamento.
— Aquele delegado federal, pastor...
Você o conhece? — quis saber Jim,
indagando distraidamente, como se não
desse muita importância ao caso.
— Não, nós nos encontramos no caminho
para cá. Ele veio da cidade, assim como eu,
a pé.
Jim observou-o o tempo todo. Larry
esforçou-se ao máximo para ser
convincente, tendo-o conseguido,
aparentemente.
— É bom termos um novo pastor por
aqui. Se precisar de alguma coisa, não
hesite em me pedir.
— Agradeço a sua oferta e pode estar
certo que o procurarei, Sr. Wallace —
disfarçou ele, caminhando até a porta.
No pátio os casais dançavam
animadamente. Seu olhar procurou Lucille,
que girava nos braços de Bill Lake.
Uma pontinha estranha de ciúme cutucou
seu coração. A garota o havia
impressionado mesmo.
O pior de tudo era que ela parecia
corresponder, pois acabara de vê-lo parado
à porta.
Olhava a todo momento e sorria,
enfeitiçando-o. Jim Wallace percebeu isso e
pôs a mão no ombro dele.
— Pastor, tenho planos para a minha
filha!
— Já me disse, Sr. Wallace.
— Pois bem! Não permitirei que nada,
absolutamente nada interfira nesses planos.
— Entendo o que quer dizer — comentou
Larry, virando-se para encará-lo.
— É bom que nos entendamos logo,
pastor. Detestaria ser obrigado a convencê-
lo da firmeza de meus planos — finalizou o
rancheiro, afastando-se.
Larry sentiu que o conhecia havia muito
pouco, mas já o odiava como um velho
inimigo.
Peter aproximou-se do saloon cheio de
cautela. Sabia que o que estava para fazer
era arriscado, mas precisava apanhar
aqueles homens com vida.
Se os fizesse falar, poderiam acusar Jim
Wallace e isso encurtaria todo o seu
trabalho.
Deveriam ser pistoleiros experientes, por
isso todo cuidado era pouco.
Da porta, sem entrar, olhou o interior do
saloon. Alguns homens jogando e dois
pistoleiros junto ao balcão, bebendo.
Imaginou que aqueles dois fossem parte
dos três que o caçavam. Se assim fosse,
onde estaria o terceiro homem?
Liberou os Colts nos coldres parte dos
três que o caçavam. Se assim fosse, onde
estaria o terceiro homem?
Peter sentiu todos os músculos de seu
corpo se retesarem, quando ouvi o estalido
seco do gatilho de um Colt bem junto ao seu
ouvido.
O terceiro homem o esperava ao lado da
porta. Fora apanhado como um principiante.
— Ora, ora, o que temos aqui? —
indagou um dos pistoleiros, vindo, do
balcão, ao encontro de Peter.
— Parece que não gostou muito da festa
na casa do Sr. Wallace. Saiu muito depressa
— comentou o outro, cujo nome era Ralph,
líder dos três irmãos.
— Estavam a minha procura? — indagou
Peter, tentando manter a calma.
— Sim, claro, queríamos conhecer um
delegado federal de perto — falou Ralph,
retirando os dois revólveres dos coldres do
delegado.
Os homens que jogavam pôquer deram o
jogo por encerrado e saíram. O barman pôs
uma garrafa de uísque sobre o balcão e
sumiu para os fundos.
Peter percebeu que sua situação era
realmente delicada. Estava nas mãos
daqueles três.
— Gostaria de ver o seu famoso
distintivo, delegado — pediu Ralph,
enfiando a mão no bolso da camisa de Peter
e retirando a carteira, onde estava o
distintivo. — Muito bonito!
— Ralph, por que não convidamos o
delegado para beber conosco? — indagou
um dos irmãos.
— Oh, claro, Ted! Que indelicadeza a
minha — comentou Ralph, piscando um
olho para o irmão que mantinha Peter sob a
mira do seu Colt.
Sem aviso, ele vibrou a arma e o cano
atingiu a nuca do federal, fazendo-o
avançar, desequilibrando, até bater a cabeça
no balcão e cair, aturdido.
— O delegado tropeçou, Ralph — riu o
pistoleiro, fazendo menção de ajudá-lo a se
levantar.
Peter se apoiava nos dois braços para se
erguer. O pistoleiro passou-lhe uma rasteira
nos braços, fazendo-o cair de boca no
assoalho.
Cuspiu sangue, quando ergueu a cabeça.
Aqueles homens não sossegariam enquanto
não o matassem.
— Rapazes, o que pensam que estão
fazendo? — questionou Ralph, com
zombaria, segurando o delegado pelos
cabelos e erguendo-o.
Peter se pôs de joelhos. Ralph tentou
chutar-lhe o rosto, mas o delegado
conseguiu bloquear o golpe, segurando-o
pelo tornozelo e girando-o com força.
Desequilibrado, Ralph foi jogado sobre
uma das mesas do saloon, arrebentando-a na
queda.
Levantou-se possesso Peter prometeu a si
mesmo que daria um beijo em Hanna,
quando a encontrasse de novo.
Aquele revólver em suas costas, oculto,
seria a sua salvação. Ralph apanhara um
pedaço da mesa e partira para cima do
homem da lei.
Peter sacou o revólver e o apanhou,
engatilhado, para a cara do pistoleiro, que
imobilizou-se.
— Os três, ali, junto ao balcão, apoiando-
se nele — ordenou aos pistoleiros.
Os três obedeceram. Peter retirou-lhes as
armas, jogando-as atrás do balcão.
— Gostaria de lhe devolver algo — disse
a um deles, golpeando-o na nuca com a
coronha da arma, fazendo-o desabar no
assoalho.
O outro irmão se virou para ver o que
estava acontecendo. Peter bateu-lhe no
queixo com o canos do Colt, derrubando-o
também.
Ralph começou a tremer, apoiado no
balcão.
— Acho que agora poderemos conversar
tranqüilamente, amigo. Qual é o seu nome?
— Ralph... Ralph Butte... — gaguejou o
outro.
— Pois bem, Ralph, tenho meia dúzia de
testemunhas dispostas a jurar que viram
você matar Slim e Billy Colma a sangue
frio...
— Diga isso ao juiz — ironizou o
pistoleiro, com desdém, começando a rir.
Peter socou-o nos rins, fazendo-o gemer e
cair de joelhos. Segurou-o pelos cabelos e
bateu-lhe a cabeça no balcão, fazendo-o cair
para trás em seguida. Pisou-lhe a garganta,
apontando-lhe o Colt no meio da testa.
— Para onde vou levá-lo nenhum juiz
corrupto poderá salvá-lo — informou. —
Será julgado em Bismarck e levado à forca
em seguida.
O pistoleiro não se abalou.
— Como acha que poderá me levar
daqui, delegado?
— É, essa é uma boa pergunta, delegado
— falou um homem, surgindo à porta do
saloon.
Entrou. Trazia uma cartucheira na mão.
Atrás dele entraram mais cinco capangas de
Jim Wallace, todos com espingardas
engatilhadas.
— Roy, que bom que chegou — falou
Ralph, tentando se levantar.
— Fique aí mesmo — avisou o recém-
chegado.
— Mas Roy, eu...
— Cale-se, idiota! Não percebe que está
acabado? — disse-lhe Peter.
— Como assim?
— É inteligente, delegado. Acho que já
percebeu o que vai acontecer aqui, não? —
falou-lhe Roy.
Ele e seus homens se distribuiriam em
leque diante do delegado e dos três irmãos
caídos.
— O que vai acontecer aqui, Roy? —
quis saber Ralph, apavorado.
— Simples, seu burro! O Sr. Wallace é
esperto demais para mandar matar
gratuitamente um delegado federal. Se o
fizesse, outros viriam investigar. O que vai
acontecer estará acima de qualquer suspeita.
O delegado aí soube que vocês haviam
matado os parentes. Envolveram-se num
tiroteio e todos morreram. Com o
testemunho do xerife e do juiz, tudo estará
acabado... — informou Roy.
— Seus malditos! Foi uma armação —
protestou Ralph, tentando se levantar de
novo.
Peter chutou-lhe o queixo, pondo-o
desmaiado no assoalho.
— Detesto sujeito chorão! — comentou
ele, apontando seu Colt na direção de Roy.
— Posso matá-lo primeiro — ameaçou.
— Quando eu disparar os dois canos
desta espingarda, garanto que não vai sobrar
muita coisa aí para apertar o gatilho —
disse Roy, sem se intimidar.
A iluminação do saloon vinha, em sua
maioria, de lampiões afixados numa roda de
carroça, presa no meio do saloon, numa das
traves mais altas, por uma corda cuja ponta
era amarrada atrás do balcão.
Havia dois lampiões atrás do balcão, um
em cada extremidade e mais dois no alto da
escada que conduzia aos quartos.
Tudo aconteceu numa fração de
segundos. Um tiro, vindo da porta, cortou e
deixou todos perplexos.
Os lampiões despencaram sobre os
pistoleiros, que saltaram para os lados.
Dois tiros simultâneos arrebentaram os
lampiões atrás do balcão. Dois outros os
lampiões no alto da escada.
Peter não perdeu tempo. Se os tiros
vinham de fora, lá estava algum amigo.
Correu naquela direção, atirando-se
contra a porta, quando as primeiras balas
começaram a assobiar atrás dele.
Rolou a tempo de ver Larry recarregando
rapidamente seu Colt. De arma em punho,
Peter se pôs de joelhos.
O assoalho começava a pegar fogo, com
o combustível que vazara dos lampiões. Isto
produzia uma claridade que deixava os
pistoleiros lá dentro contra a luz e,
portando, alvos fáceis.
— Quem são eles? — indagou Larry.
— Temos de capturá-los com vida —
pediu Peter.
Três homens surgiram à porta do saloon,
disparando suas espingardas furiosamente.
A poeira levantou-se ao redor de Peter,
onde os balotes de chumbo se cravavam na
terra.
Os homens jogaram as espingardas para o
lado e tentaram sacar as armas.
Larry não lhes deu trégua. Três disparo
rápidos e certeiros puseram fim àquelas
vidas miseráveis.
— Não atirem... O saloon está pegando
fogo — gritou alguém lá dentro.
Era o barman, pedindo ajuda.
— E os outros? — indagou Larry.
— Pelos fundos — gritou Peter, correndo
para o beco ao lado do saloon, a tempo de
ver os vultos perdendo-se na escuridão da
outra rua.
— Maldição! Nós os perdemos —
lastimou Larry.
— Eu os tinha na mão. Eram os malditos
que mataram meus parentes. Os outros
vieram para matar todos nós. Com isso Jim
Wallace planejava criar uma boa desculpa
para a minha morte, o que não seria difícil,
tendo o xerife e o juiz nas mãos.
— E agora?
— Eu volto à estaca zero — lamentou
Peter.
Os gritos do barman atraíram alguns
homens, que agora o ajudavam a apagar o
incêndio.
Pelo beco, uma figura feminina e
delicada surgiu correndo.
— Você está bem? — indagou ele,
parando diante de Peter, olhando-o com
apreensão.
— Ele está bem — disse Larry. — Você
salvou a vida dele me avisando.
— Como assim? — quis saber o
delegado.
— Eu o segui e vi o que estava
acontecendo lá dentro, depois que os outros
capangas chegaram. Larry vinha descendo a
rua. Eu corri pedir-lhe ajuda.
— Garoto, você me salvou a vida duas
vidas nesta noite — falou Peter, tomando-a
nos braços e beijando-a, deixando-a sem
fôlego.
Quando a soltou, a garota tremia de
deslumbramento.
— E eu, não mereço nada por salvar-lhe a
vida? — brincou Larry.
— Eu lhe pago um drinque — falou
Peter. — Mas por que está aqui tão cedo?
Pensei que ficaria na festa até o final?
— Problemas! — disse Larry,
desconsolado, demonstrando sua tristeza.
Hanna continuava imóvel, olhando com
adoração para Peter.
— Quer falar sobre o assunto?
— Pegue aquela garrafa de uísque que vi
sobre o balcão e vamos falar a respeito lá
em casa — propôs Larry.
— Posso ir também? — pediu Hanna.
— Não tem uma casa para onde ir,
garota? — protestou Peter.
— Tenho, mas não tenho ninguém lá me
esperando. Eu vivia com meu pai e ele foi
morto, lembra-se? Não quero ficar sozinha
naquela casa — reclamou ela, com voz
chorosa.
— Está bem, venha conosco, então! —
decidiu Larry.
Mesmo assim, a garota olhou para Peter,
esperando sua aprovação. Ele sorriu e lhe
acariciou suavemente o rosto.
— Vamos lá, menina! — convidou ele e
ela vibrou de alegria.
Numa pausa, Lucille correu indagar ao
pai a respeito do pastor.
— Ele teve de ir, filha. Estava muito
cansado da viagem e tudo o mais —
desculpou-se Jim.
Bill Lake surgiu logo em seguida, no
encalço de Lucille, que não via com bons
olhos aquele assédio, muito embora ele
contasse com a aprovação de seu pai,
conforme ela havia concluído.
— Preciso me refrescar um pouco —
disse a garota ao pai. — Vou subir, tomar
outro banho e me trocar. Este calor está
insuportável.
— Tudo bem, querida. A noite é sua. A
festa só vai acabar quando você assim o
desejar.
— Por mim ela vai até o dia amanhecer,
pai — decidiu ela, esforçando-se para ser
convincente.
Sorriu para Bill Lake, depois sumiu no
meio da multidão.
— Venha tomar um uísque especial, Bill
— convidou-o Jim Wallace.
Os dois rancheiros foram para a sala onde
Jim recebia seus amigos.
Serviu-lhe uma dose de seu melhor
uísque. Sentaram-se frente a frente para
conversar.
— Muito bem, Bill. O que achou de
minha filha?
— É uma garota finíssima, Jim.
— É uma Wallace, Bill. Ali tem sangue
de pioneiros, raça, coragem e dedicação,
tudo coroado com uma educação exemplar,
num dos melhores colégios de Boston.
— Sei disso, Jim. Sua esposa comentava
sobre isso e, ao conhecer sua filha, pude
comprovar tudo.
Jim se levantou e foi até a sua
escrivaninha. Voltou com a caixa de
charuto. Estendeu-a.
— São da Virgínia, os melhores que o
dinheiro pode comprar — informou.
Os charutos foram acesos. Os dois
homens baforaram por algum tempo,
impregnando o ar da sala com aquele cheiro
característico.
Jim observava Bill disfarçadamente.
— Que idade você tem, Bill? — indagou,
sem demonstrar qualquer emoção.
— Fiz quarenta e cinco, Jim.
Jim Wallace baforou mais algumas vezes,
antes da pergunta seguinte.
— Vou lhe dizer uma coisa, Bill.
Acredite, é de dentro do coração que lhe
digo isso. Você tem trabalhado toda a sua
vida. Eu sei disso. Tem parte das melhores
terras da região e uma manada invejável,
igual ou maior que a minha...
— Bondade sua — comentou Bill,
percebendo onde o outro iria chegar.
Esperava aquela conversa desde que
recebera o convite para a festa de Lucille.
Sabia o quanto Jim Wallace gostava das
terras que eram dele. Para Bill, isso já não
era tão importante. Passara toda a sua vida
fazendo fortuna. Agora a tinha, mas isso
nada significava para ele. Precisava, agora,
dedicar-se um pouco.
Nada melhor que uma garota como
Lucille ao lado dele para dar à vida um
sentido todo especial. A juventude que ele
havia desperdiçado sobrava nela.
Queria aproveitar isso. Jim era um
homem ambicioso. Que fosse! Trocaria de
bom grado todas as suas terras pelo amor de
uma garota como Lucille.
— Como eu dizia — continuou Jim. —
Você tem hoje uma grande fortuna. Não é
porque meu tio é presidente do banco que
eu sei disso. Todos na cidade sabem, isto
não é segredo. Lucille é uma garota de
educação refinada. Veja bem o que estou
lhe propondo: case-se com minha filha.
Case-se com ela e aproveite a vida na
companhia de uma mulher fantástica.
Façam uma viagem ao redor do mundo.
Divirtam-se. Dediquem seu tempo a me
proporcionar alguns netos, antes que eu me
acabe. — falou Jim, melosamente.
— Nada no mundo me daria maior
satisfação do que isso, Jim. Jurou-lhe. Mas
minhas terras são enormes... Como cuidar
delas?
— E para que servem os parentes? Vá
viver a vida e deixe o trabalho duro pra
mim, homem.
Bill o olhou nos olhos. Era a proposta que
esperava escutar.
Roy e os outros pistoleiros, que haviam
escapado do fogo no saloon, bateu na porta
da sala onde se encontrava o patrão.
Pela sua expressão, Jim deduziu que
alguma coisa saíra errado, por isso pediu a
Bill Lake que fosse se divertir.
O que era importante já ficara acertado
com ele. Enquanto ele e Lucille viajavam
pelo mundo, após o casamento, Jim tomaria
conta das terras.
Pensava, ainda, seriamente, sem mandar
alguém acompanhá-los durante aquela
viagem, de modo a se certificar que Bill
Lake jamais retornasse dela.
Lucille seria uma jovem rica e viúva, e a
família Wallace teria o controle de todas as
terras ao longo do rio.
— O que houve? — indagou ao seu
capanga, assim que Bill deixou a sala.
— Falhamos, patrão. Havia um outro
homem lá, nos pegou de surpresa...
Bastardos incompetentes! — esbravejou
Jim, esmurrando a cara do pistoleiro.
Roy caiu de joelhos no assoalho.
— Fechem aquela maldita porta! —
ordenou, ao perceber que alguns convidados
acompanhavam a cena. — E Ralph e seus
irmãos, onde estão?
— Nós os prendemos lá nos fundos, no
estábulo. Ficaram furiosos quando
perceberam que seriam mortos — explicou
Roy.
— Vocês fizeram tudo errado mesmo —
lamentou Jim, caminhando de um lado para
outro. — Só há uma forma de consertar isso
agora.
Deixou a sala, seguido pelos capangas, e
foi até o estábulo, onde os três irmãos
estavam trancados.
Ordenou que abrissem a porta.
— Rapazes, acho que houve um mal
entendido — começou, entrando.
— Eles iam nos matar, Sr. Wallace —
protestou Ralph.
— Eu sei, eu sei, mas o objetivo não era
esse. Fizeram um bom com os Colman, só
que apareceu mais um para nos atrapalhar.
Ouçam a minha proposta, rapazes: mil
dólares para cada um se matarem o
delegado federal. Depois disso, vocês irão
sumir por algum tempo, até as coisas
esfriarem. O que me dizem?
Ralph e seus irmãos trocaram olhares
desconfiados. Haviam passado por um maus
bocado naquela noite. Não queria ser
enganado novamente.
Jim Wallace sabia ser convincente. Abriu
a carteira e retirou um punhado de cédulas.
— Aqui tem metade para cada um.
Quando terminarem o serviço, terão o
restante — propôs.
A visão das notas convenceu os irmãos.
Ralph apanhou o dinheiro e o separou entre
eles.
— Precisamos de mais armas — disse.
— Tudo que precisarem. Roy,
providencie! — ordenou.
Enquanto os pistoleiros se preparavam,
Jim retornou à casa, onde a festa continuava
animada.
Bill Lake tomava um uísque, observando
os casais que dançavam no pátio.
— E Lucille? — indagou.
— Ainda não desceu.
— Vou mandar chamá-la...
— Não, não se preocupe, Jim. É
compreensível, ela deve estar muito cansada
da viagem. Eu a fiz dançar bastante...
— Mas ela é a dona da festa...
— Por isso mesmo. Deixe-a relaxar um
pouco, pobrezinha. Deve ter sido uma
viagem e tanto.
— Como queria, Bill. Que tal mais um
charuto?
Enquanto retornava à sala, no andar
superior, Lucille permaneceu um pouco
mais, oculta pela cortina, observando o
movimento lá fora.
Vira o pai conversando com seus homens
e os ouvira, também, traçando planos para
matarem o delegado federal.
Um deles, inclusive, comentou que o
pastor ajudara o delegado e que os dois
poderiam ser encontrado juntos.
Eles selaram cavalos e partiram. Lucille
mudou rapidamente de roupas e, usando
uma corda, feita com lençóis, desceu pelos
fundos da casa e foi apanhar um cavalo para
si.
Não precisou selá-lo. Podia cavalgar em
pêlo. Discretamente ela seguiu os homens,
na direção da cidade.
Viu-os pararem diante do saloon, ainda
fumaceando, mas intacto. O fogo queimara
apenas um pedaço do assoalho.
Alguns homens que estavam apagando o
incêndio do saloon indicaram a direção
tomada por Peter e pelo pastor.
Ralph e seus irmãos seguiram em frente.
Lucille se aproximou dos homens em frente
ao saloon.
— Viram o novo pastor? — indagou.
— Ele foi para casa, atrás da igreja —
apontou um deles.
Lucille nem agradeceu. Cavalgou pela
rua, na direção da casa. Viu que os homens
de seu pai contornavam a igreja pela direita.
Ela o fez pela esquerda, saltando do cavalo
e correndo para a porta.
Entrou, ao ver luz na sala. Larry e os
outros se surpreenderam ao vê-la chegando.
Sem uma palavra, Lucille correu até o
lampião e o apagou.
— Preparem-se. Há três homens lá fora
para pegá-los — disse ela.
— Quem são? — quis saber Peter.
— Capangas de meu pai.
Hanna correu para junto de Peter, que, da
janela, observava a rua lá fora.
Larry foi até Lucille.
— Arriscou-se vindo até aqui.
— Eu não podia ficar parada vendo isso...
Não chegou a terminar. Uma saraivada de
balas arrancou lascas e quebrou coisas por
toda a cabana.
— Viu alguma coisa? — indagou Larry,
correndo para a outra janela, trazendo
Lucille consigo.
— Só línguas de fogo — respondeu
Peter.
— De que lado eles estão? — quis saber
Larry.
— Do lado direito da rua — informou
Lucille.
— O que tem em mente? — indagou
Peter.
— Sair pelos fundos, dar a volta na rua e
pegá-los pelas costas.
— Boa idéia!
— Você me dá cobertura?
— Toda — respondeu Peter, já com seus
dois Colts nas mãos, pronto para a ação.
— Tome cuidado! — pediu Lucille,
retendo Larry por alguns instantes.
— Tomarei — prometeu ele, segurando a
mão dela por um breve momento, antes de
sair.
Lá fora tudo era silêncio. Peter viu um
vulto se esgueirando pelas sombras.
Não hesitou. Apontou e atirou
rapidamente. Um gemido se ouviu e o corpo
do pistoleiros rolou na poeira.
— Ele me acertou, Ralph — gritou
dolorosamente um dos irmãos Butte.
— Maldito seja! — berrou Ralph,
despejando chumbo contra a casa, seguido
pelo outro irmão. — Tentem tirá-lo da rua
— ordenou.
O segundo irmão correu em socorro do
ferido, enquanto o irmão mais velho
disparava incessantemente contra Peter.
O delegado esperou até que a munição se
esgotasse. Num breve instante, o irmão que
socorria o ficou a descoberto, parcialmente
curvado.
Peter disparou e a bala varou as costelas
dele, jogando lascas de ossos contra os
órgãos vitais.
Os dois ficaram caídos na rua,
estrebuchando.
— Eu o mato, maldito! — gritou Ralph,
sem perceber que Larry se aproximara por
trás dele.
— Mata coisa nenhuma — afirmou
Larry, encostando o cano do revólver na
nuca do pistoleiro, que ficou paralisado.
Empurrou o capanga na direção da casa,
depois de desarmá-lo. Peter já havia
acendido novamente o lampião.
— Ora se não é o nosso velho conhecido
— comentou, ao reconhecer Ralph.
— Quem é ele? — quis saber Larry.
— Um dos homens que matou meus
parentes. Devo reconhecer que ele é
persistente...
— Ou talvez seja isso que o tenha feito
ser assim — ajuntou Larry, exibindo o
maço de notas que encontrara no bolso do
pistoleiro.
— Na certa foram pagos para me matar
— comentou Peter, obrigando Ralph a se
sentar.
Apanhou um pedaço de corda e amarrou
as mãos dele nas costas da cadeira.
— O que vai fazer agora? — indagou
Hanna.
— Vocês são testemunhas do ataque —
explicou Peter. — Se testemunharem isso
num tribunal federal, Ralph irá para a forca
por atentar contra a vida de um delegado
federal.
— Eu testemunharei com o máximo
prazer — disse Hanna.
— Eu também — ajuntou Lucille,
corajosamente.
— Não pode fazer isso comigo... Sabe
que há alguém por trás disso tudo —
choramingou Ralph.
— Sim, eu sei, mas você está disposto a
testemunhar dizendo quem é? — intimou-o
Peter.
— Estarei morto se fizer isso...
— Se não o fizer estará também. A
escolha é sua. Posso selar meu cavalo e
partir esta noite mesmo. Amanhã à tarde
estaremos em Bismarck e você será jogado
numa cela de onde só sairá para a forca.
Ralph hesitou, percebendo que Peter
falava sério. Não tinha outra alternativa,
senão entregar Jim Wallace.
O maldito bem que merecia isso, pois
tentara matá-lo e aos seus irmãos.
Era uma víbora traiçoeira e merecia ser
traído.
— Está bem, eu testemunharei contra ele
— decidiu-se, afinal.
— Ótimo! — exclamou Peter.
Por momentos, concentrados em ouvir o
que Ralph decidiria, os dois amigos se
descuidaram da guarda.
Não era à toa que Roy era o homem de
confiança de Jim Wallace. percebera o jogo
do patrão, ao tentar convencer os Irmãos
Butte a liquidar o delegado.
Deixou-os partir, depois os seguiu, com
mais alguns capangas. Surpreso, viu a filha
do rancheiro ir até a casa do pastor, avisá-
lo.
Esperou, juntamente com os outros, pelo
desfecho do ataque. Quando Ralph foi
flagrado, imaginou o que aconteceria.
Ao ouví-lo confirmar que testemunharia,
não hesitou. Apontou sua Winchester para o
peito do pistoleiro e puxara o gatilho.
O tiro surpreendeu todos no interior da
casa. O impacto da bala jogou Ralph para
trás.
Roy havia alertado seus homens para
tomarem cuidado com a filha de Jim
Wallace.
No tiroteio que se seguiu, uma bala
atingiu o lampião. Os projéteis cortaram a
escuridão, sem escolher seus alvos.
Larry havia puxado Lucille para junto de
si e se atirado ao assoalho, cobrindo-a com
seu corpo.
Peter fizera o mesmo em relação a
Hanna. Quando seus olhos se encontraram à
escuridão da cabana, ele procurou um alvo
onde atirar, mas os homens já haviam
fugido.
—Diabos, Peter, mataram Ralph! —
comentou Larry.
— Não se mexam. Podem estar aí fora
ainda. Há alguém mais ferido?
— Eu estou bem — confirmou Larry.
— Eu também — falou Lucille.
— Meu ombro está doendo — gemeu
Hanna, sentindo o sangue quente escorrer
de seu ombro.
Larry correu até a janela e, depois, saiu
para a rua, enquanto Peter riscava um
fósforo para examinar o ferimento no
ombro da jovem, que tremia de dor ao seu
lado.
— Já foram — informou Larry,
retornando.
— Há um médico aqui na cidade? —
perguntou Peter a Hanna.
— Rua acima... Depois do saloon... —
disse a jovem, lutando contra a dor.
— Vou até lá — falou Larry.
— Cuidado! — pediu Lucille, indo para a
cozinha e encontrando um outro lampião.
Após acendê-lo, tratou de providenciar
água quente para limpar o ferimento de
Hanna.
A porta fora trancada e, a despeito da
festa lá fora, um clima de desespero
dominava os Wallace ali reunidos.
Jim havia recebido a noticia de Roy e não
se conformava com o que Lucille fizera.
Isso simplesmente jogava por terra a
continuidade de seus planos em relação às
terras de Bill Lake.
Estava justamente expondo isso aos
parentes.
— Bill Lake não precisa saber que
Lucille saiu — disse o juiz.
— Isso mesmo. Basta reunir um grupo de
pistoleiros e mandá-los até a casa do pastor
buscá-la. De passagem poderiam acabar
com aqueles dois intrometidos — propôs o
xerife.
— E você estaria disposto a chefiar esse
grupo? — desafiou-o Jim.
— Ora, Jim, não ficaria bem eu, o xerife,
me metendo numa encrenca como essa.
— Não fica bem a minha filha metida
com aqueles homens. E quem é aquele
pastor, afinal de contas? Um homem de
Deus que porta uma arma e mata como
qualquer bandido? Há alguma coisa errada
nisso tudo, pessoal, e não estou gostando
disso — ponderou o rancheiro, preocupado.
— Veja bem, Jim, você sempre quis fazer
as coisas a seu modo. Por que mandou
Ralph e os irmãos darem cabo do delegado?
— Porque eles terminariam um serviço
que começaram com os Colman. Seria fácil
criar uma estória de vingança, onde o
delegado tentara pegar os assassinos de seus
parentes. Quando os Butte terminassem
com ele, eu mandaria matá-los e não
sobraria ninguém do caso para contar a
estória.
— Tentou ser sutil e não deu certo. Acho
que agora terá de apelas para a violência
mesmo — opinou o juiz.
— O que sugere, primo?
— Mande todos os seus homens contra
eles.
— E Lucille? Terei de tirá-la de lá
primeiro.
— Por que não negocia com ele? —
propôs o banqueiro.
— Tentei...
— A situação é outra. Inicie uma
negociação, cedendo tudo que for
necessário, apenas para libertar Lucille.
Assim que tirá-la de lá, mande seus homens
atacarem com toda a força disponível.
Jim pensou na proposta. Tinha lógica e
poderia funcionar, se bem conduzida.
Olhou para os outros parentes.
— O que acham? — perguntou.
— Acho que dará certo — falou o xerife.
— Eu também — ajuntou o prefeito.
— É isso mesmo — concordou o juiz.
— E então — quis saber o banqueiro,
olhando para o sobrinho, que pensava ainda
a respeito.
— Mande Roy reunir todos os homens
disponíveis lá nos fundos — ordenou a
Harry.
— Posso mediar a negociação, Jim —
propôs o juiz.
— Ótimo, tio! Acho que ficará bem.
Quando tudo terminar, quero ter o prazer de
matar aquele homem pessoalmente, com
minhas próprias mãos — prometeu Jim.
— Quando acabar, poderá fazer com ele
o que desejar. Agora vamos planejar isso
com cuidado para não haver furos —
ponderou o juiz.
Jim respirou fundo e aliviado. Por
momentos julgara que pudesse estar
perdendo o controle da situação.
Para alguma coisa, afinal, seus parentes
estavam servindo, além de sugá-lo
constantemente.
Com a ajuda deles daria um passo
decisivo para consolidar sua posição de
maior rancheiro do Território.
Hanna havia sido atendida pelo médico.
Felizmente a bala havia atravessado seu
ombro, sem ferir nenhum osso.
— Só vai precisar manter esse braço
imóvel por algum tempo. Procure-me
amanhã, lá no consultório, para trocarmos o
curativo — recomendou o doutor.
Peter o acompanhou, depois, até a rua.
— Ouvi rumores sobre sua presença aqui,
delegado. Sei que fará o que é correto para a
cidade, mas fique preparado. Jim Wallace é
um homem traiçoeiro. Nada faz que não
vise proveito próprio, disso pode ter certeza
— falou o médico.
— Gostaria que mais pessoas como você,
doutor, estivessem dispostas a se unir para
combater esse tipo de tirano — ponderou
Jim.
— Isso já foi tentando antes, delegado,
mas acho que sabe no que deu. O pobre
Alfred, pai de Hanna, pagou com a vida
pela ousadia.
— Isso não ficará impune, eu lhe garanto.
— Espero que sim, delegado, mas esteja
preparado.
— Obrigado pelo conselho, doutor —
finalizou Peter, retirando a carteira para
pagar o serviço feito.
— Não é preciso, delegado. Apenas cuide
daquela garota, por favor. É tão ou mais
explosiva que o pai e uma encrenqueira de
mão cheia.
— Já deu para perceber — riu Peter.
Um cavalo relinchou na noite, fazendo-os
olharem rua acima. Um bando de cavaleiros
descia na direção deles.
— Acho que a encrenca está chegando —
disse Peter, despedindo-se do médico e
correndo para a casa. — Prepare-se, Larry,
acho que vamos ter companhia — alertou o
amigo.
— É meu pai! — comentou Lucille.
— Desta vez resolveu vir pessoalmente
— murmurou Peter, tentando contar o
número de cavaleiros.
Passava de duas dezenas, muito mais do
que suas armas poderiam abater.
— Vamos ter que caprichar na pontaria e
economizar munição — disse a Larry.
— Não acho que estão vindo dispostos a
lutar — observou o falso pastor. —
Parecem muito expostos, não?
Peter atentou para esse fato. Jim Wallace
cavalgava na frente do grupo todo. Se
fossem atacar a casa, não o fariam daquela
forma.
— Acho que vem para conversar —
opinou Lucille. — Eu vou falar com ele.
— Cuidado! — alertou Larry, segurando-
a pelo braço e olhando-a nos olhos, como se
tivesse alguma coisa a lhe dizer.
Depois desistiu, soltando-a. A jovem
correu para a rua, na direção do pai.
— É Lucille — gritou alguém.
— Isto vai ser mais fácil do que eu
pensava — comentou Jim. — Roy, pegue-a
e leve-a para casa. Mantenham-na sob
vigilância.
Ante os olhos surpresos de Larry e Peter,
o capanga agarrou Lucille e a levou para
trás do grupo.
Jim Wallace avançou até junto da casa.
— Delegado! — chamou ele.
Peter abriu a porta e foi ao encontro dele,
com as armas livres nos coldres.
— O que quer?
— Vou lhe dar uma última chance. Já
vingou a morte de seus parentes. Pegue seu
cavalo e vá amanhecer o mais longe
possível de New Rockfort.
— Tenho por principio jamais deixar um
serviço incompleto. Você foi o responsável
e vai pagar por isso.
— É um tolo, delegado! Acha que poderá
enfrentar meus homens sozinhos?
— Ele não está sozinho — gritou o
pastor.
Jim Wallace riu alto, zombeteiramente.
— Dois homens contra duas dúzias. Está
superestimando sua capacidade, pastor. Mas
chega de conversa. Não digam depois que
não lhe dei uma chance — falou Jim, dando
meia-volta em seu animal.
— Wallace! — chamou-o Peter.
O rancheiro virou o corpo na sela para
olhá-lo.
— Como membro da família Colman,
pretendo pagar a dívida no Banco e
recuperar aquelas terras — avisou ele.
— Mortos não compram terras —
finalizou Wallace, esporeando seu cavalo.
Nem bem se adiantou alguns metros, seus
capangas começaram a disparar.
Peter correu para a casa, com balas
assobiando ao seu redor. Na janela, Larry
mirou cuidadosamente e disparou, atingindo
um dos pistoleiros.
Os outros debandaram, procurando
proteção, mantendo a casa sob fogo cerrado.
Os dois homens ficaram abaixados atrás
das janelas, enquanto as balas iam
despedaçando tudo a sua frente.
— Alguma idéia, parceiro? — indagou
Larry.
— Bom, só faltam vinte e três.
— Acha que Hanna estará segura?
— Sim, lá no quarto não haverá como as
balas chegarem até ela.
— Precisamos fazer algo.
— Vamos esperar. Eles terão de se
acalmar.
Ouviram passos pesados. Lá fora, se
aproximando da casa. Um homem surgiu na
porta, chutando-a.
Peter mandou-lhe um balanço no peito,
jogando-o de volta para fora.
— Vinte e dois! — gritou Larry. Dois
vultos se desenharam, um em cada uma das
janelas. Peter e Larry dispararam a queima-
roupa, na cara dos dois, fazendo seus
chapéus voarem pelo ar com pedaços de
crânio e cérebro dos atrevidos.
— Vinte! — falou Peter, rastejando até a
porta.
Um homem correu, atravessando a rua.
Peter mirou com calma e disparou. O
pistoleiro rodopiou e caiu estatelado na
poeira.
— Dezenove! — contou Larry.
Nova descarga de chumbo ameaçou
derrubar a casa, de tanta violência. A parede
pontilhada de furos. No interior, as
prateleiras de um armário junto à lareira
enchiam-se de cacos de copos e louças
quebrada.
Depois, tudo ficou em silêncio. Os dois
homens arriscaram uma rápida olhada.
Meia dúzia de homens se esgueiravam na
direção da casa.
— Planejam uma invasão — concluiu
Peter, recarregando suas armas.
Larry fazia o mesmo. O tiroteio
recomeçou. Um homem saltou pela janela,
disparando sua arma.
Peter o apanhou em pleno ar,
atravessando-lhe o corpo com um balaço.
Ele caiu no assoalho estrebuchando, antes
de ficar imóvel.
— Dezoito! — contaram os dois juntos.
Uma tempestade de chumbo invadiu a
cabana. Dois homens rolaram porta adentro,
enquanto que, nas janelas, outros
disparavam em todas as direções.
Peter apertou os gatilhos de seus dois
Colts ao mesmo tempo, fazendo os dois
homens que entravam pela porta rolarem
mortos até a parede oposta.
Larry girou o corpo rapidamente de um
lado para outro, disparando seu Colt com
rapidez, batendo a mão esquerda no gatilho
repetidas vezes.
Chapéu voaram. Um homem ficou
debruçado na janela. Os outros foram
jogados para trás. Gemidos e gritos de dor
cortaram a noite.
— E agora, quantos? — quis saber Peter.
— Acho que acertei três — falou Larry.
— Eu derrubei aqueles dois ali.
— Cinco a menos... Temos treze, no
mínimo, lá fora.
Um silêncio pesado caiu sobre a cidade.
Atrás das portas e janelas as pessoas
observavam o tiroteio, mas ninguém tinha
coragem o bastante para se intrometer.
Sabiam que o delegado federal poderia
libertar a cidade daquela tirania, mas não se
atreviam a ajudar.
— O que eles estão pretendendo agora?
— questionou Larry, olhando discretamente
lá fora.
Viu, então, num beco, o brilho de chamas
e o movimento de sombras na parede.
— Surpresa! — disse ele. — Acho que
vão nos assar vivos.
— Maldição! — praguejou Peter,
olhando também.
Para chegarem até a casa, os homens
teriam, fatalmente, que atravessar a rua.
Seria o único momento em que ficariam
vulneráveis, mas, em contrapartida, o fogo
de cobertura dos demais manteria os
ocupantes da casa abaixados.
Foi realmente o que aconteceu. Os
homens mantiveram o fogo concentrado nas
janelas da casa, enquanto os outros corriam
com as tochas, dispostos a arremessá-las
pela janela.
— Feche as janelas — gritou Peter e
Larry o atendeu.
As tochas bateram contra a madeira,
impregnando-a de óleo e incendiando-a.
Imediatamente Peter abriu novamente sua
janela e, como um pedaço de pano, apagou
o fogo. Larry fez o mesmo.
As tochas haviam caído próximas da
parede. Em pouco tempo acabariam por
incendiar a madeira.
Nova saraivada de balas varreu as janelas
da casa.
— Lá vem eles de novo — alertou Larry.
Quatro homens atravessavam a rua com
tochas nas mãos. Peter abriu a porta
repentinamente e rolou para fora.
Suas armas cuspiram balas, colhendo os
quatro no meio da rua. As chamas ficaram
brilhando tetricamente em meio à poeira
devastada pelos corpos em sua queda.
Havia um tronco ao lado da casa e Peter
rolou na sua direção, escondendo-se.
— Nove! — gritou Larry da cabana.
Os pistoleiros restantes concentraram o
fogo na direção de Peter.
Estava se apavorando. Inapelavelmente
os dois homens estavam matando todos
eles.
Ao desviarem sua atenção para Peter,
abriram a Larry a possibilidade de atacá-los.
Ele se ergueu numa das janelas e foi
disparando sucessivamente contra os
pistoleiros.
Assustados e sem comando, eles
desistiram e começaram a correr. As balas
dos dois homens iam ceifando um a um.
Quando o tiroteio cessou, a rua estava
juncada de cadáveres e um cheiro de
pólvora e sangue tomava conta da noite.
— Acho que fechamos a conta — disse
Peter, recarregando suas armas.
Larry o imitou. As tochas junto à parede
da casa foram apagadas, enquanto, na rua,
as outras brilhavam iluminando aquela cena
macabra.
Timidamente as pessoas começaram a
deixar suas casas e avançar pela rua.
Nunca tinham visto algo como aquilo.
Aqueles dois homens, sozinhos, haviam
vencido um pequeno exército.
Peter e Larry foram ver como estava
Hanna. Felizmente ela adormecera, graças
às pílulas que o médico lhe dera.
— E agora, parceiro? — indagou Peter.
— Acho que só temos uma direção a
tomar — falou Larry. — Lucille está lá e
preciso ir buscá-la.
— Não me diga que se apaixonou pela
garota...
— Pois acredite que sim. Durante a
viagem ela foi sensacional. Sua juventude,
sua beleza e sua energia me cativaram...
— E parece que isso foi recíproco —
observou Peter.
— É, pela primeira vez na vida estou
envolvido com uma missão...
— Como assim?
— A garota... Minha missão era
acompanhá-la...
— Disso eu sei...
— Mas não fomos contratados pela
madre superiora do colégio...
— Não? E por quem?
— Seu pai quer casá-la com um tal de
Bill Lake. Foi ele que contratou a Agência
para acompanhar a garota, investigá-la e, ao
chegar aqui, dar-lhe todas as informações
sobre ela.
— E você fez isso?
— Encontrei Bill Lake esta noite, mas
não pude lhe dar o relatório.
— E fará isso?
— Tenho que fazê-lo. É meu trabalho.
Ele ficará com as informações e eu ficarei
com a garota.
Um tumulto lá fora chamou a atenção dos
dois. Eles correram, de armas em punho, na
direção da rua.
A multidão apedrejava um pistoleiro, que
capengava, correndo rua acima, até alcançar
seu cavalo. Partiu a galope em seguida.
— Vai avisar Jim Wallace — concluiu
Peter.
— Isso era fatal. Não podemos contar
com o elemento surpresa.
— Não será fácil invadir aquela fortaleza,
mas preciso ir até lá e resgatar Lucille.
— Iremos juntos, parceiro, embora não
saiba como fazer isso ainda — falou Peter.
Um homem ouvia a conversa deles e se
aproximou.
— Sou Ollie, o carvoeiro. Acho que sei
como poderão entrar na casa sem serem
percebidos.
— Sabe? E como poderemos fazer isso?
— indagou Larry.
— Amanhã cedo tenho de entregar uma
partida de lenha e de carvão na casa de Jim
Wallace. Normalmente a entrega é feita
pelos fundos, num alçapão que dá direto no
porão da casa.
— E como vamos nos aproximar? —
questionou Larry.
— Onde descarrego não há vigilância
nem como eles vigiarem. Para nos
aproximarmos, faço uma pilha de lenha e
vocês e vocês se escondem conforto, vocês
chegarão até o porão da casa.
— Como vamos nos guiar a partir de lá?
Alguém aqui conhece a casa com mais
detalhes? — quis saber Peter.
— Eu sei — disse um rapazola. — O
porão o levará a duas saídas. Uma direta no
pátio da casa, outra no interior, na sala
principal.
— Acho que estivemos lá hoje, Larry —
lembrou-se Peter. — O que me diz?
— É um plano tão bom que qualquer
outro.
O médico se aproximou, com um rifle.
— Acho que chegou nossa hora de
participarmos também — decidiu ele. — O
que podemos fazer para ajudá-los?
Peter pensou por instantes.
— Não os deixem dormir. Disparem a
noite toda contra a casa, de forma a não
permitir que eles durmam. Mantenham-nos
em vigília. Estarão preocupados em cobrir a
parte de fora da casa e nós poderemos
atacá-los de dentro.
— Certo, pessoal — gritou o médico. —
Quem está comigo? Jim Wallace e sua
família já tiranizaram New Rockford por
muito tempo. Esta cidade é do povo e
vamos provar isso a ele.
— Eu vou com você, doutor. Só me dê
tempo de apanhar meu rifle — gritou
alguém.
— Eu também — ajuntou um outro e, em
poucos instantes, um coro de vozes se unia,
atendendo ao apelo do médico.
O grupo subiu a rua para desempenhar
sua missão. Peter e Larry olharam ao redor.
— Tantas mortes inúteis, não? —
comentou Peter.
— É esse sangue derramado que faz do
oeste essa terra de bravos e de lutadores,
amigo. Sempre foi assim e sempre será.
— Vamos dormir um pouco. Acho que
Jim Wallace terá um pouco de seu próprio
remédio.
— A que horas iremos para lá? —
indagou Larry ao carvoeiro.
— Assim que amanhecer, pensarei por
aqui para apanhá-los, está bem?
— Ok! — concordaram os dois.
Pouco a pouco a rua foi ficando vazia. As
tochas se apagaram. O papa-defuntos e seus
auxiliares removiam os corpos. Ao longo,
na direção da casa de Jim Wallace,
começaram a pipocar os primeiros disparos.
Aquilo soava como música aos ouvidos
de Peter e Larry.
A noite havia sido um inferno na casa de
Jim Wallace. A festa fora encerrada
prematuramente e os convidados foram
dispensados sem maiores explicações.
Quando o médico e seus amigos
começaram a disparar contra a casa, os
primeiros convidados estavam saindo e isso
aumentou a confusão.
Jim reuniu seus familiares e exigiu que
permanecessem com ele. O capanga que
viera da cidade havia contado a chacina que
fora o tiroteio com os dois forasteiros.
Bill Lake, ao se inteirar do que acontecia,
resolvera desistir de Lucille.
Era uma linda garota, mas aquela família
era demais para ele. Não conseguiria
conviver com toda aquela ambição e toda
aquela crueldade.
Durante toda a noite, os moradores e os
pistoleiros foram incomodados com os tiros
disparados da escuridão.
Eles vinham a qualquer momento e de
qualquer direção. Os pistoleiros foram se
enervando e respondiam ao fogo, sem
sucesso.
Roy correu de um lado para outro,
tentando acalmar seus comandados, sem
sucesso.
Alguns, de tão assustados, queriam fugir,
obrigando Roy a mantê-los sob a mira de
armas.
Quando o dia começou a clarear, a trégua
se abateu sobre a casa. Em seu quarto,
insone, Lucille pensava em Larry e no que
poderia ter acontecido com ele.
Aquele medo que pairava entre os muros
da fortaleza de Jim Wallace davam à jovem
a esperança de que ele não havia morrido.
Talvez estivesse lá fora, disparando
também.
Isso a manteve acordada e inquieta toda a
noite. Quando o silêncio das armas de fogo
se impôs, todos, indistintamente, se
acomodaram da melhor maneira e pegaram
no sono, inclusive Lucille.
O carvoeiro e sua carroça se
aproximaram pela parte de trás da casa sem
serem incomodados.
Ele abriu o alçapão e começou a despejar
carvão e lenha direto no porão.
Sorrateiramente, Peter e Larry saltaram
para dentro, caindo sobre o carvão.
Quando se levantaram de armas em
punho, estavam cobertos de fuligem, como
duas assombrações.
— Por onde atacaremos primeiro? —
indagou Peter.
— Preciso encontrar Lucille. Vou sair
pela porta da sala. Por que você não vai ver
como estão as coisas lá no pátio?
— Ok! — concordou Peter, procurando a
saída.
Separarem-se. Peter abriu uma porta e se
viu na varanda que circundava a casa.
A sua frente, encostados nos muros, os
capangas de Wallace dormiam.
Imaginou a melhor forma de dominá-los.
Não queria disparar a esmo, pois isso
acordaria todos e poderia dificultar o
trabalho de Larry.
O pistoleiro mais próximo estava sentado
ali perto, com as costas apoiadas na parede
e cobrindo o corpo com uma capa.
Peter foi até lá. Golpeou-o na cabeça,
depois arrastou-o até o porão. Vestiu a capa.
Foi atacando dessa forma, um por um,
golpeando-os e levando-os para o porão.
Tinha dominado quatro ou cinco deles,
quando, ao se aproximar de mais um, ouviu
o estalido de um Colt sendo engatilhado.
— Que diabos pensa que está fazendo
aqui, eu... — ia dizendo Roy, com a arma
apontada para a cabeça de Peter.
O delegado foi rápido. Bateu com o cano
na boca do chefe dos capangas, quebrando-
lhe alguns dentes.
Abaixou-se, em seguida, bem a tempo.
Roy havia apertado o gatilho e o disparo foi
atingir o pistoleiro que Peter tentava
dominar, matando-o.
Com o tiro, o inferno se abateu
novamente sobre o pátio. Peter disparou
uma vez contra a cabeça de Roy, que caiu
para trás sem um gemido.
Balas bateram no muro, arrancando
lascas. Peter correu para trás de um
bebedouro, respondendo aos tiros.
Derrubou mais dois homens. Oculto atrás
do bebedouro, ouvia as balas batendo na
madeira e assobiarem sobre sua cabeça.
Larry surgiu na varanda, ajudando-o.
Acertou dois pistoleiros, semeando o pânico
entre os demais, que voltaram para ele a
mira de suas armas.
Isso permitiu a Peter derrubá-los como
patinhos num tiro-ao-alvo.
— Para cá! — gritou Larry.
Peter atravessou o pátio e novos disparos
o perseguiram. Eles responderam ao fogo e,
em seguida, tudo ficou em silêncio de novo.
— Por que voltou? — indagou a Larry.
— Há uma dúzia deles, pelo menos, na
sala. Vai ser difícil entrar lá.
— E Lucille?
— Não consegui localizá-la.
Um lenço de seda flutuou no ar e caiu a
poucos passos deles. Larry correu apanhá-
lo.
Ao olhar para cima, viu Lucille na janela,
acenando para ele.
— Fique aí, vou buscá-la! — disse ele.
— Não, eu desço. É muito arriscado
entrar aqui — falou ela, jogando uma corda
de lençóis.
Rapidamente ela caiu nos braços de
Larry, que a levou para um local protegido.
— Já tenho o que vim buscar, Peter —
disse Larry.
— Meu trabalho ainda não terminou...
— Não pretende entrar lá, pretende?
— A lei tem que ser cumprida, Larry.
Desculpe-me dizer isso, Lucille, mas seu
pai foi além dos limites toleráveis. Terei de
prendê-lo.
— O que posso fazer? Pedir clemência
por um homem que sei que é um criminoso,
muito embora seja meu pai? — lamentou
ela, com tristeza.
Larry a segurou pelos ombros, olhando-a
com ternura.
— Querida, não posso deixar meu amigo
sozinho. Quero que vá para fora daqui e me
espere.
— Promete que tomará cuidado?
— Sim, prometo — disse ele, beijando-a
apaixonadamente.
Lucille lançou-lhe um último olhar,
depois correu para o portão. abriu-o e saiu
para a estrada que levava à cidade.
Os dois homens se entreolharam.
— Vamos nessa? — convidou Peter.
Naquele momento, para surpresa deles, o
portão se abriu e Jim Wallace, montado
num imponente cavalo, surgiu, seguido por
um bando de capangas.
Fumava um de seus charutos. Ao lado,
Lucille era carregada por um dos
pistoleiros, que mantinha a arma apontada
para a cabeça da jovem.
As portas da casa se abriram. Os outros
pistoleiros começaram a sair, juntamente
com os outros parentes de Jim Wallace.
Triunfante, no alto de seu cavalo, ele se
sentia como um verdadeiro rei.
— Estive no México há uns vinte anos
atrás. Conheci as haciendas mexicanas e
aprendi com eles a praticidade de se ter uma
saída de emergência em sua casa. Como
vêem, estão cercados agora.
— Solte Lucille. Deixe-a ir, Wallace.
Você está louco de verdade — falou Larry.
— Não, de forma alguma. Lucille é tão
valiosa quanto ouro puro. Vai me comprar
as terras de Bill Lake, sabiam?
A garota não conseguia acreditar no que
ouvia nem no que estava acontecendo.
Seu próprio pai a mantinha sob a mira de
uma arma e falava em dispor dela como se
ela fosse uma simples mercadoria, um
artigo de troca.
Olhando para Larry, ela viu nos olhos
dele a impotência. Não faria nada enquanto
ela estivesse ameaçada.
Ela observou bem a arma encostada em
sua cabeça. Percebeu que, se colocasse o
polegar entre o cão e a culatra, não haveria
como a arma disparar.
Foi o que fez. Levado pelo reflexo, o
pistoleiro apertou o gatilho, prendendo a
mão à arma. Ela gritou de dor e se jogou
para o lado, caindo do cavalo, levando a
arma consigo.
Larry não esperou uma segunda chance.
Abriu fogo contra o homem no cavalo,
abrindo sua cabeça como um melão.
A confusão se generalizou. Peter não deu
tréguas a Jim Wallace. Meteu-lhe um balaço
no peito, depois se voltou para fuzilar Harry
Wallace e o juiz.
Os pistoleiros se confundiram, quando
uma saraivada de balas veio da entrada, na
direção deles.
Soltaram as armas e ergueram as mãos,
entregado-se. Larry correu na direção de
Lucille, erguendo-a nos braços.
A mão dela sangrava, onde o cão do
gatilho perfurara a pele. O médico também
se aproximou e examinou o ferimento.
— Nada mais sério, bastará um curativo
— disse.
— Devemos a vida a vocês — falou
Peter.
— Acho que foi a insistência daquela
garota ali — explicou o médico, apontando
na direção de Hanna.
Um pouco pálida, mas sorridente, ela
caminhou na direção de Peter.
— Não achei justo que eles os deixassem
enfrentar todos os Wallace e seus capangas
sozinhos — contou ela, timidamente, com
os olhos brilhantes fitando Peter com
admiração.
— Você está ficando especialista em
salvar a minha vida — disse ele,
acariciando o rosto dela.
A garota se lançou nos braços dele,
beijando-o ardentemente.
Três meses depois, Lucille parava sua
charrete diante da nova construção do
armazém.
Hanna veio recebê-la na porta.
— Ficou lindo, Hanna — elogiou Lucille.
— Você ainda não viu nada. O estoque
está completo agora. Recebi uma carroça
ontem à noite com cada tecido que você vai
adorar. Venha ver — disse Hanna,
entusiasmada, tomando a amiga pelo braço
e levando-a para o interior do novo
armazém.
Lucille se deslumbrou com as novidades.
— Ficou ótimo! Tenho certeza que você
saberá cuidar disso tudo agora — afirmou
Lucille.
— Tudo graças a você, amiga.
— Que nada! O que fiz foi um ato de
justiça. Ao indenizá-la, estava apenas
pagando a dívida contraída por meu pai.
— Obrigada mesmo assim! — agradeceu
Hanna, abraçando a outra.
Ficaram algum tempo em silêncio. Um
clima de tristeza as envolveu.
— Teve notícias dele? — quis saber
Hanna.
— Não. Ele disse que iria resolver suas
coisas com a Agência e que depois voltaria.
E Peter?
— Nem uma carta nem um telegrama! —
falou ela, furiosa. — Se eu soubesse onde
encontrá-lo, juro como iria atrás dele.
— Eles prometeram voltar. Aguardo
impaciente a volta dele. Sei que a qualquer
momento eu o verei de novo — confessou
Lucille, com convicção.
— Os homens são uns mentirosos!
— Preciso ir. Só passei mesmo para ver
como estava tudo por aqui. Preciso assinar a
escritura das terras que arrematei.
— Dos Colman?
— Sim, vou deixar como está. Mandarei
cercar de novo. Nenhum gado pisará lá. As
nascentes serão sagradas para mim.
— Fico feliz que pense assim — falou
Hanna, acompanhando a amiga até a rua.
Pararam na calçada, olhando o céu. O
pôr-do-sol tingia de sangue o céu limpo e
sem nuvens.
As pessoas passavam, em suas carroças, a
caminho de casa, depois de um dia de
serviço.
Vaqueiros começavam a chegar no
saloon, para uma noitada de bebida e
diversão.
No fim da rua, dois cavaleiros, vestindo
capaz de viagem, entraram lentamente na
cidade.
Hanna os viu primeiro. Firmou os olhos,
querendo acreditar no que seu coração dizia.
— Olhe lá! — disse à amiga.
— O quê? — indagou Lucille, olhando
na direção apontada por ela.
Viu os dois cavaleiros que, pelo andar
dos cavalos, pareciam estar vindo de muito
longe.
— São eles? — indagou Lucille,
contendo sua felicidade.
— Sim, são os malditos! Chegaram,
afinal. Onde vamos fazer o jantar, na minha
casa ou na sua? — questionou Hanna.
— Jantar? Você está pensando em jantar?
— retrucou Lucille, com malícia, descendo
para a rua.
— Sabe que você tem razão? —
concordou Hanna, alcançando-a.
As duas caminharam sem pressa pela rua,
ao encontro de seus homens.
Sangue no Oeste
Seu nome era William Stone, nascido no
Colorado e, por isso, todos o chamavam
dessa forma: Colorado.
Durante muitos anos fora delegado
federal, com jurisdição em três Estados:
Idaho, Montana e Wyoming.
Colorado Stone se transformou numa
lenda, não apenas pelo rigor com que
tratava os malfeitores, mas pela rapidez de
sua arma, considerada a mais rápida
daqueles territórios.
Aos trinta e cinco anos, finalmente,
Colorado julgou que o melhor a fazer era
parar.
Havia viajado demais, tido aventuras
demais. Matara muitos homens, conduzira
outro tanta à prisão.
Conseguira amealhar algum dinheiro,
economizando o salário, engordando-o com
uma e outra recompensa.
Planejava comprar um rancho num local
distante, onde jamais tivessem ouvido falar
de Colorado Stone. Penduraria suas armas e
iria cuidar da terra e viver com mais
estabilidade e paz.
— Como lhe disse, Sr. Stone, esta é a
melhor terra ao sul do Novo México,
próximo da fronteira. Além disso, Las
Cruces é uma cidade estratégica, pois fica
no caminho para El Passo. Suas terras farão
fundos com o Rio Grande. Não encontrará
nada melhor, posso lhe garantir —
assegurou o corretor.
Colorado Stone acendeu um cigarro e se
recostou na cadeira, pensando. Aqueles
nomes tão distantes lhe acenavam com a
possibilidade de iniciar nova vida, em um
novo mundo.
Las Cruces, El Passo, Rio Grande, tudo
era novidade. Lá ninguém o conheceria nem
o chamaria de Colorado. Seria apenas
William Stone, ou Bill Stone, para
simplificar.
— E o preço? — indagou.
— Doze mil dólares.
— Não tenho isso. Consiga uma redução
para dez mil e fechamos o negócio.
— Impossível! O preço inicial era de
quinze mil, não posso fazer mais nada —
descartou o corretor.
— Dê-me alguns dias, então.
— Posso lhe dar uma semana, Sr. Stone.
— É o bastante.
O corretor despediu-se e saiu. Colorado
ficou pensando, enquanto fumava, sozinho
no saloon vazio.
A tarde ia pelo meio. O barman limpava
os copos, preparando-se para o movimento
da noite.
— Dê-me um uísque, Sam — pediu
Colorado.
— Certo, Delegado! — respondeu ele,
servindo-o imediatamente.
Colorado tomou-o num só gole.
Precisava conseguir dois mil dólares e só
conhecia uma forma de fazer isso.
Levantou-se e deixou um dólar sobre a
mesa. Saiu para a rua. As ruas de Laramie
estavam calmas, com apenas algumas
carroças se movimentando
preguiçosamente.
Foi até a cadeia.
— Olá, Colorado — cumprimentou-o o
xerife, que cochilava recostado em sua
cadeira, as botas sobre a mesa.
— Peter! Alguma novidade?
— Tudo calmo, como sempre.
— Falei com o corretor agora...
E então?
— O preço final é doze mil dólares...
Faltam-me dois mil ainda.
— Com mais um ano de trabalho poderá
juntar isso e...
— Não vou esperar tanto tempo, Peter.
Ando cansado demais dessa vida de caçador
de bandidos.
— Conhece outra forma de conseguir
dinheiro?
— Diabos! Claro que não. Onde estão
aqueles cartazes?
O xerife abriu uma gaveta e retirou um
punhado de cartazes de procurados.
— Estão todos aqui, inclusive os que
chegaram esta semana.
— Alguma coisa nova e interessante?
— Há uma quadrilha que anda
infernizando Milles City...
— Nada mais perto?
— Há um assassino fugitivo em
Sheridan, mas duvido que vá encontrá-lo
por lá.
Colorado folheou os cartazes, até
encontrar os que falavam da quadrilha que
atormentava Milles City, em Montana.
Meia dúzia de homens mal encarados.
Havia uma recompensa de quinhentos
dólares pelo chefe e de trezentos para cada
um dos outros.
— Temos quinhentos dólares pelo chefe
e mais... — murmurou ele, fazendo as
contas. — Dois mil dólares, exatamente o
que preciso, mas será uma enorme distância
a percorrer.
— Você tem todo o tempo para isso, não?
— Pelo contrário. Tenho apenas uma
semana para confirmar o negócio.
— Podemos fazer o seguinte: eu lhe
empresto os dois mil dólares e você fecha o
negócio.
— É uma oferta irrecusável, Peter, mas o
que acontecerá se eu não voltar de Milles
City?
— Eu fico com seu rancho. Nada mais
justo, não?
Colorado pensou rapidamente. O que
tinha a perder? Já enfrentara quadrilhas
maiores e mais perigosas.
— Está feito, Peter. Vou fechar o
negócio, então, amigo. Obrigado — disse
Colorado, estendendo a mão.
O xerife apertou-a firmemente.
As grandes planícies ao redor de Milles
City favoreciam a criação de gado. Enormes
fazendas se espalhavam na pradaria, por
onde o gado pastava livremente.
A lei vinha sendo mantida com rigor por
um xerife calejado e rápido nas armas, mas,
inesperadamente, fora morto numa
emboscada.
Imediatamente convocou-se nova eleição,
mas, enquanto isso, uma quadrilha de
ladrões de gado surgiu, causando inúmeros
prejuízos aos fazendeiros.
— Precisamos apressar essa eleição —
dizia o prefeito, numa reunião na sala de
jogos do saloon.
— Já me roubaram centenas de cabeças
— comentou um dos fazendeiros.
— O que me intriga é para onde estão
levando esse gado — comentou outro.
— O único que parece não ter sido
roubado ainda foi o Stanley, não? — disse
um outro, olhando para o maior fazendeiro
da região.
— Tenho cinqüenta atiradores
protegendo minha propriedade. Acha que
alguém se atreveria a tentar roubá-la? —
explicou, sem desviar os olhos das cartas
que tinha nas mãos.
Alguém apostou. Por momentos ficaram
em silêncio, até que as apostas terminaram.
— Acha que seu capataz será um bom
xerife? — indagou alguém a Stanley.
— Oliver é responsável pela segurança
de minha fazenda e tem feito um ótimo
trabalho. Será um excelente xerife. É
inteligente, valente e sabe usar as armas,
como já devem saber — explicou o
fazendeiro.
Ninguém contestou. O jogo terminou.
Stanley ganhara mais uma partida. As cartas
voltaram a ser embaralhadas.
— Tenho visto muita gente nova na
cidade — observou Stanley.
— São os caçadores de recompensa.
Vieram pelos cartazes que espalhamos. Vão
nos ajudar a nos livrarmos dessa quadrilha,
Sr. Stanley — explicou o prefeito.
— Acho que só vão causar problemas. Se
tivesse pedido a minha ajuda, poria Oliver e
um grupo no encalço desses ladrões.
Garanto como os apanharia em dois tempos.
— Ainda está em tempo de fazer isso —
lembrou o prefeito.
— Vamos ver o que os caçadores de
recompensa conseguem. Se até a eleição de
Oliver isso não tiver se resolvido, darei uma
ajuda.
— Isso nos deixa mais tranqüilos —
comentou o prefeito, distribuindo as cartas.
Se soubesse, porém, que naqueles
momento, um grupo de homens fortemente
armado invadia sua fazenda, ao norte da
cidade, o prefeito não estaria tão tranqüilo.
— É uma bela boiada — comentou um
dos cavaleiros.
— E vamos ter sorte. Está vindo chuva.
Vai apagar os rastos. Poderemos levar toda
ela — decidiu o outro.
Um céu escuro e carregado cobria a
pradaria. Os cavaleiros começaram a reunir
o gado.
De repente, no alto de uma colina,
alguém disparou um rifle.
— Há um vigia lá encima — gritou
alguém e os cavaleiros trataram de
encontrar cobertura.
Responderam ao fogo furiosamente,
inquietando o gado. O homem que
disparava no alto da colina silenciara.
— Steve, vá até lá — ordenou o que
chefiava.
— Certo, chefe — respondeu o cavaleiro,
esporando seu cavalo e rumando para a
colina, de onde retornou pouco depois. —
Está morto, mas os tiros podem chamar a
atenção de outros.
— Não estamos longe da sede da
fazenda. Vamos ter de preparar uma
emboscada. Não podemos nos dar ao luxo
de sermos seguidos.
O grupo distribuiu-se, procurando cada
homem um local estratégico para ficar,
armado de rifle, esperando.
Não demorou e o tropel de cavalos se
misturou ao eco dos trovões que
ribombavam no céu.
O barulho se tornou mais confuso,
quando as armas começaram a disparar. Os
vaqueiros eram jogadas de suas selas,
atingidos em cheio pela mortal pontaria de
quadrilha.
Quando tudo silenciou e a fumaça se
dissipou, oito homens da fazenda jaziam
estendidos no pasto.
— Isso servirá de lição para que não
queiram mais nos seguir — disse o chefe.
— Vamos nos apressar. Precisamos chegar
ao esconderijo antes da chuva. Vamos ter
muito trabalho para refazer as marcas de
todas essas reses.
A cidade estava consternada. Já não se
tratava mais de roubo de gado, mas de
assassinatos em massa.
Nove vaqueiros do Rancho Eagle,
pertencentes ao prefeito, haviam sido
mortos e duzentas cabeças de gado
roubadas.
Uma reunião havia sido convocada e se
realizava no interior do saloon.
— Precisamos fazer alguma coisa —
disse o prefeito. — Estão roubando e
matando impunemente...
— Posso lhe dar uma sugestão, prefeito?
— indagou um homem vestido de negro,
com um cinturão onde rebrilhavam detalhes
em prata de lei.
— Pois não, cidadão — falou o prefeito,
dando-lhe a palavra.
— Comece aumentando o valor das
recompensas...
— Isso não vai ajudar em nada — cortou-
o Stanley, olhando-o desafiadoramente. —
Caçadores de recompensa são uma escória
que não precisamos aqui — acrescentou e
três ou quatro pistoleiros ali presentes não
ficaram muito satisfeitos com essa
afirmação. — O que precisamos realmente é
nomear um novo xerife.
— E por que não fazemos isso de
imediato? — indagou alguém.
— Porque passar por cima de tudo isso.
Sabemos que Oliver vai ser eleito xerife.
Por que não passamos por cima da
burocracia e o nomeamos de imediato? com
o distintivo e uma nova turma de ajudantes,
logo estaremos livres desses ladrões. —
insistiu Stanley, demonstrando seu interesse
pelo assunto.
— Não basta um xerife apenas para
resolver isso — disse alguém, a voz grave e
forte soando firmemente no saloon.
Todos se voltaram para aquele estranho,
de pele curtida pelo sol e olhar penetrante.
Parecia um pistoleiro, pelo modo como
portava a pistola, mas havia seriedade em
seu rosto, um ar que inspirava respeito.
— E o que tem a sugerir? — falou o
prefeito, dirigindo-se a Colorado Stone.
— Não acredito que apenas meia dúzia
de homens estejam causando toda essa
confusão. Quando vinha para cá, eu...
— Quer dizer que também é um caçador
de recompensas? — cortou-o Stanley.
Colorado olhou-o com firmeza e Stanley
estremeceu diante daquele olhar reprovador.
Havia algo naquele forasteiro que
intimidava realmente.
— Como eu dizia, no caminho para cá
vim pensando. Como meia dúzia de homens
pode roubar tanto gado e sumir com ele?
Devem ser mágicos, pois estão fazendo o
gado sumir no ar... — disse Colorado, com
ironia.
— O que está sugerindo? — indagou um
dos fazendeiros, percebendo onde Colorado
queria chegar.
— Esse gado deve estar sendo levado
para algum lugar. Pelo que sei, só há
fazendas ao redor de Milles City.
— Acha que eles estão a serviço de
alguém? — insistiu o fazendeiro.
Stanley se calara estranhamente. Olhou
fixamente para a porta, onde um de seus
homens assistia à reunião.
Fez um sinal imperceptível de cabeça. O
capanga se adiantou até postar-se ao lado de
Colorado.
— Está falando asneiras, estranhos.
Quem pensa que é para vir não sei de onde
acusar nossa gente? — falou o pistoleiro,
encarando Colorado.
O ex-delegado federal retribuiu o olhar à
altura, fazendo o outro vacilar.
— Tem uma explicação melhor para o
sumiço do gado?
O outro não teve resposta e Colorado lhe
virou as costas para se dirigir aos homens
na mesa junto ao balcão.
— Não vire as costas para mim — disse o
pistoleiro, pondo a mão no ombro de
Colorado e puxando-o para trás.
Ele se voltou lentamente, encarando
novamente o pistoleiro.
— Jamais repita isso — disse, num fio de
voz ameaçador.
— Você não me faz medo — respondeu
o outro.
— Não foi esse o objetivo. Recebeu um
aviso e isso basta. Afaste-se de mim ou será
um homem morto — prometeu, voltando a
virar as costas para o pistoleiro.
— Há lógica na sua afirmação, estranho
— disse o prefeito. — Esse gado tem de
estar em algum lugar. Pelo que sabemos,
nenhuma grande boiada saiu daqui nos
últimos tempos...
— Procurem o gado roubado. Não só o
encontrarão como extirparão o mal pela
raiz, encontrando o mandante de todos esses
crimes — concluiu Colorado.
— Eih, eu estou reconhecendo você! —
gritou um dos fazendeiros. — Estava em
Cody, no ano passado. Capturou a quadrilha
dos Irmãos Powell. Você é delegado
federal, não?
— Já não sou mais. Pedi minha baixa.
Estão encerrando minha carreira de homem
da lei.
— Talvez cedo demais — falou o
prefeito. — Estamos precisando de um
xerife e um homem com a sua experiência
seria mais valioso que qualquer outro.
— Mas prefeito, temos uma eleição e
Oliver...
— Por mais valente e esforçado que
Oliver seja, jamais poderá se rivalizar com
um delgado federal. Além disso, todos
pediam providências, não? Que acham de
nomearmos um xerife agora mesmo, por
aclamação?
— Esperem um pouco, não vim aqui para
ser xerife. Quero prender a quadrilha,
receber a recompensa e partir.
— Discutiremos isso, delegado...
— Não sou delegado e...
O prefeito pôs em votação a proposição,
que foi aceita por todos, exceto Stanley, que
disfarçava ao máximo seu aborrecimento
com o rumo inesperado tomado pela
situação.
Stanley Ross estava na sala de sua
enorme casa, no rancho. Havia ficado muito
aborrecido com o que houvera na cidade.
A intenção de nomear aquele recém-
chegado como xerife frustrava todos os
planos que havia cuidadosamente
elaborado.
Era um homem poderoso, com amigos
políticos em Washington. Recebia
informações, informações preciosas,
capazes de tornarem um homem rico da
noite para o dia.
Algo grande estava sendo preparado para
Milles City. Stanley sabia que poderia se
tornar o homem mais rico do Oeste, se
soubesse aproveitar aquela chance.
Não contava, porém, com aquela
mudança repentina nos seus planos. A
chegada daquele caçador de recompensas
mudava toda a estória e exigia, agora, uma
ação drástica.
Havia mandado Oliver à cidade e
esperava, agora, a chegada dele.
Já entardecia. Os vaqueiros retornavam à
fazenda, após mais um dia duro de trabalho.
Uma das mulheres que trabalhava na
cozinha veio ter com ele.
— Devemos servir o jantar agora, Sr.
Stanley?
— Não, Maria. Ainda não. Estou
esperando um convidado. Deixe tudo
preparado. Avisarei quando ele chegar.
Enquanto a mulher se retirava, Stanley
foi até um armário, abriu-o e escolheu sua
bebida predileta.
Serviu uma dose generosa. Caminhou até
uma escrivaninha. Sentou-se e abriu uma
das gavetas.
Retirou alguns maços de notas e os
guardou no bolso interno de seu elegante
paletó.
Terminava o uísque, quando Oliver
chegou com o convidado. Era o homem de
negro que Stanley vira lá no saloon, durante
a reunião daquela manhã.
— Aqui está o homem, Sr. Stanley —
disse o capanga.
Stanley examinou-o cuidadosamente. Era
alto e forte, de olhar duro e penetrante.
Portava dois Colts de coronhas de
madrepérola bem baixos, ao alcance das
mãos.
— É bom nisso? — indagou Stanley,
apontando as armas.
— Tenho me mantido vivo, não? —
retrucou o outro, dando a entender que não
era homem de muitas palavras.
— Conhece Colorado Stone?
— Sim, já cruzei com ele.
— É tão bom como dizem?
— Um dos melhores.
— Acha que pode detê-lo num duelo?
O outro sorriu ligeiramente, tentando
entender onde Stanley queria chegar.
Enquanto o pistoleiro pensava, Stanley
foi até o armário e retornou com dois copos
de bebida.
Entregou um deles ao pistoleiro, que
tomou um gole, estalando a língua.
— É foi bom! — comentou.
— É escocês, vem de navio direto para
mim.
O pistoleiro deu uma olhada ao seu redor.
Não precisava analisar muito para perceber
que estava falando com um homem rico e
poderoso.
— O que quer de mim realmente? —
indagou.
— Vamos discutir isso no jantar. Oliver,
avise as mulheres da cozinha — ordenou.
Enquanto Oliver se apressava em cumprir
a ordem, Stanley conduziu o pistoleiro até
uma outra sala, onde havia uma mesa
ricamente decorada.
Sentaram-se. Oliver foi se juntar a eles.
As mulheres começaram a servir a mesa.
O pistoleiro percebeu que havia muita
coisa em jogo na proposta até então velada
que Stanley lhe fizera.
— Por que eu deveria enfrentar Colorado
Stone? — indagou, após algumas garfadas.
— Acha que isto é um bom motivo? —
retrucou Stanley, depositando um pacote de
notas diante dele, que apanhou e contou
rapidamente.
— Quinhentos dólares? para enfrentar
Colorado Stone? É pouco, muito pouco —
respondeu, devolvendo o pacote para
Stanley.
— Sr. Stanley, eu posso fazer isso, se me
deixar — adiantou-se Oliver.
— De forma alguma, temos de ficar de
fora disso. Você ainda será o xerife de
Milles City e tudo correrá conforme eu
planejei. Aquele intrometido tem de ser
morto por alguém de fora e acho que nosso
amigo aqui pode fazê-lo. É tudo uma
questão de preço, senhor... — falou Stanley,
querendo saber o nome do pistoleiro.
— Dam Rowlings!
— Exatamente, Sr.Rowlings. Qual é o
seu preço para fazer o trabalho?
— Nada menos que dois mil dólares...
— Eu e mais alguns homens poderíamos
emboscá-lo e... — ia dizendo Oliver, mas
calou-se quando Stanley lhe fez um sinal
rispidamente.
— Sei que poderia fazê-lo, Oliver, mas
deixe-me conduzir isto da minha maneira,
está bem?
— Sim, senhor — concordou o capanga,
abaixando a cabeça.
— Aqui tem mil dólares — falou Stanley,
depositando outro maço de notas sobre o
primeiro e empurrando-o na direção de
Dam. — Quando terminar o serviço,
receberá o restante.
— Trato feito. Quando quer que eu o
mate?
— O mais depressa possível!
— Ele não passará desta noite, eu lhe
garanto — disse Dam, levantando-se da
mesa.
Fez um sinal de cabeça e saiu. Momentos
depois ouvia-se o galope de seu cavalo.
— Por que não me deixou fazer o
trabalho? — indagou Oliver, humildemente.
— Dam Rowlings é um pistoleiro sem
eira nem beira. Quando terminar o serviço,
nós sumimos com ele e não haverá
testemunhas para nos incomodar, entendeu?
Oliver ficou pensativo por instantes,
depois sorriu, ao perceber o plano do patrão.
— É um homem inteligente, Sr. Stanley.
— As coisas devem ser feitas com
cautela, Oliver. Só assim se pode garantir o
sucesso. Depois do jantar, quero que vá
chamar Sinclair e sua quadrilha. Vamos
passar à segunda fase do meu plano o mais
depressa possível.
Ao Sul de Milles City, às margens do rio
Yellowscone, ficava a pequena fazenda de
Hank Bosler, um velho pioneiro que
chegara ali no inicio da colonização.
Ele e muitos outros eram donos eram
donos das pequenas propriedades que mais
sofriam com o ataque daquela quadrilha de
ladrões de gado.
Ultimamente, com constantes ataques de
artrite e gota, vivia imobilizado, gritando
ordens de uma cadeira no alpendre da casa.
Todo o trabalho duro, na verdade, era
feito por Anne, sua filha, que comandava os
poucos vaqueiros.
Naquela noitinha, quando ajudava os
vaqueiros a separarem algumas vacas
prenhas no curral, Anne estava preocupada,
muito embora tentasse esconder isso.
Quando terminaram o trabalho e os
vaqueiros se dirigiram ao dormitório,
chamou Frank, uma espécie de capataz.
— Frank, teve mais alguma notícia
daqueles homens? — indagou ela.
— Não, srta. Bosler. Os vaqueiros
comentaram que os viram ao longe. O
mesmo aconteceu em outras fazendas desta
parte do rio.
— Acha que podem ser os ladrões?
— O que mais poderia ser? Quando
tentamos nos aproximar deles simplesmente
se afastaram rapidamente.
— Vamos ter de pôr guardas nesta noite.
— Vou cuidar disso, apesar de saber
como os vaqueiros estão apavorados. Não
estão acostumados a tratar com ladrões,
principalmente gente tão perigosa como
essa.
— Eu entendo, mas o que mais podemos
fazer? Já perdemos mais de cem cabeças de
gado. Se continuar assim, estaremos falidos
e o banco tomará nossa propriedade.
— Eu sinto muito, Srta. Bosler. Vou
fazer o possível.
— Sim, Frank, por favor! Talvez
devêssemos mandar alguém à cidade
informar o novo xerife, se é que ele é
confiável, o que não se sabe até agora —
ponderou ela.
— Já ouvi falar de Colorado Stone,
senhorita. É um homem sério e de valor.
Seu nome é respeitado por toda parte.
— Então mande alguém avisá-lo do que
viu hoje.
— Certo. Essa movimentação pode não
ser nada, mas pode ser o prenúncio de um
novo ataque.
Anne despediu-se de Frank e rumou para
a casa principal da fazenda. Estava faminta
e cansada, além de realmente preocupada
com a presença de estranhos em suas terras.
— E então, Anne, como vai indo a
criação? — indagou-lhe o pai, sentado à
mesa, jantando.
— Separamos mais uma dúzia de vacas
prenhas, pai.
— Bom sinal, querida. Nosso rebanho
logo estará enorme — falou o velho, com
satisfação.
— Com toda certeza — assegurou Anne,
indo até lá e beijando-o no rosto. — E as
dores?
— Suportáveis, mas poderia ser melhor
se você não escondesse meu uísque.
Anne sorriu e deu de ombros.
— O médico o proibiu de beber. Agora
termine a sua comida. Vou tomar um banho
rápido e volto para fazer-lhe companhia —
falou a garota, indo para o seu quarto.
Fechou a porta atrás de si, respirando
fundo. Não havia contado para seu pai sobre
os roubos do gado que haviam sofrido.
Simplesmente não tivera coragem.
O velho lutara sempre com muita
dificuldade e não merecia aquele tipo de
aborrecimento.
Diante dela o espelho mostrava uma
figura nada feminina. Fez cara de tristeza e
se aproximou.
Alisou os cabelos amassados pelo
chapéu. As calças largas escondiam seu
corpo, assim como a camisa e o colete de
vaqueiros disfarçavam seus seios rijos e
empinados.
O rosto estava coberto de poeira e sujeira.
— Ângela! — chamou ela e, pouco
depois, a porta se abriu e a mexicana
empregada da casa se apresentou.
— Si, patroa!
— Prepare-me um banho, por favor!
Estou imunda e cansada.
Rapidamente a mulher tratou de
providenciar o que lhe fora ordenado. Anne
tomou um banho rápido, esfregando-se
vigorosamente e lavando os cabelos.
Desistiu de escová-los. Estavam cheios
de nós, ondulados e louros. Amarrou uma
toalha na cabeça, vestiu seu roupão e foi
para a cozinha.
Seu pai dormia na cadeira, após ter
jantando. Anne sorriu e se sentou a mesa
sentindo-se terrivelmente solitária.
Sentado atrás daquela escrivaninha,
Colorado Stone tentava entender como fora
parar ali.
Simplesmente se deixara envolver pelos
apelos do prefeito e de todos aqueles
fazendeiros.
Além disso, o prefeito usara um
argumento a que ele não pudera resistir.
— Livre-nos da quadrilha e lhe daremos
a recompensa, mais mil dólares de
gratificação. Até conseguir isso, terá casa,
comida e um salário de cem dólares por
mês. Aceita? — indagara o prefeito,
cercado por todos aqueles fazendeiros e
cidadãos.
Dois mil dólares era o que precisava para
terminar de pagar o seu rancho. Mil dólares
a mais seriam úteis para ele começar a se
estabelecer. Não havia como recusar.
— Gostaria que vocês se apresentassem
— pediu ele aos ajudantes perfilados diante
da escrivaninha.
Eram três rapazes altos e fortes, de
aparência decidida.
— Meu nome é Rock e sou o guarda da
cadeia. Como não há presos, ajudo a fazer a
ronda. Não atiro muito bem, mas sei usar
uma faca como ninguém — disse o jovem.
Colorado olhou para o seguinte, que se
aprumou, respirando fundo.
— E você? — indagou.
— Sou Faster, meio índio, meio branco.
Faço a ronda nos estabelecimentos e sou o
melhor rastreador deste lado do Oeste.
— É tão bom assim?
— Sou capaz de seguir um pássaro pelo
cheiro que ele deixa no ar — brincou o
mestiço.
— Se é assim, por acaso você tentou
seguir alguma das pistas deixadas pelos
ladrões de gado? Afinal, gados tem patas e
patas deixam marcas no chão.
O rapaz se remexeu todo, perturbado.
— O xerife não deixou.
— Como assim?
— Um dia tentamos seguir uma pista.
Apontei a direção para onde o gado poderia
ter sido levado. O xerife desistiu de seguir a
trilha e jamais entendi o motivo.
— Estranho, não?
— Alguns dias depois o xerife foi morto
e eu jamais soube mesmo seus motivos para
não ter seguido aquela pista fresca.
— Pressinto que você terá uma nova
chance, Faster. Eu lhe prometo isso. E
você? Quem é e o que sabe fazer? —
indagou ao terceiro ajudante.
— Emmet é o meu nome e sou bom nisso
— afirmou o rapaz, mostrando seu rifle de
repetição.
— É um caçador?
— Sim, caço desde pequeno. Meu pai me
ensinou tudo sobre uma arma como esta.
— O que é capaz de fazer com ela?
— Acertar um pássaro em pleno vôo?
Colorado assobiou, maravilhado.
— Fala sério?
— É verdade, xerife — confirmou Rock.
— Bom, temos aqui um belo grupo de
ajudantes, rapazes. Espero que gostem de
trabalhar comigo. Em primeiro lugar, quero
saber se estão satisfeitos com o salário que
recebem.
— Não vejo por que não? — disse
Emmet, intrigado com a pergunta.
— É um serviço fácil — ajuntou Faster.
— É só enjaular uns bêbados nos finais
de semana e...
— Acho que não entenderam, rapazes.
Estou falando de serem homens da lei e não
brincarem de ser isso. Vamos enfrentar
gente perigosa, realmente perigosa. Vocês
vão arriscar a vida e não posso garantir que
um ou outro não seja baleado.
Os jovens se entreolharam assustados.
— Homens da lei de verdade? —
procurou confirmar Emmet.
— Sim, homens da lei de verdade —
confirmou Colorado.
— Eu sempre achei que estava grande
para brincar. Quero ver como é isso de
verdade — afirmou Rock.
— Nós também, não é Emmet?
— Pode apostar que sim.
Colorado Stone sorriu. Tinha uma equipe
valente e com algumas habilidades. Talvez
conseguisse fazer dar certo.
O vaqueiro entrou respeitosamente,
torcendo as abas do chapéu com as mãos.
— Olá, rapazes — cumprimentou,
dirigindo-se aos ajudantes do xerife.
— É o MacClusky, xerife, trabalha no
Rancho Bosler, às margens do rio —
informou Rock.
— Pois não, MacClusky, o que podemos
fazer por você? — indagou-lhe Colorado.
— Minha patroa pediu que o avisasse,
xerife. Durante todo o dia houve uma
movimentação de homens por aquela
região. Parecia o bando que vem roubando
gado...
— Algum ataque?
— Não, e isso que pareceu estranho.
Apenas andaram por ali, de um lado para
outro, como se estivessem observando o
terreno.
— Estranho, não? Ninguém os
reconheceu?
— Estavam longe e, quando tentamos nos
aproximar, eles se afastaram. Os rapazes de
outros ranchos também os perceberam...
— Obrigado pelo aviso, rapaz! —
agradeceu Colorado.
— Vai fazer alguma coisa, xerife?
— Acho que vamos lá dar uma olhada
pela manhã.
— Está bem, avisarei minha patroa —
despediu-se o vaqueiro, saindo.
— Estranho isso, rapazes, não acham? —
indagou Colorado, assim que o vaqueiro
saiu. — Alguma notícia desse tipo de ação
antes?
— Que eu saiba, jamais. Eles
simplesmente chegavam e atacavam —
informou Emmet.
— Veremos isso amanhã. Agora eu estou
faminto. Onde posso comer um bom bife
com arroz? — quis ele saber.
— Lá no saloon, xerife. É o melhor bife
da cidade — avisou Faster.
— Algum quer me acompanhar?
— Não, vamos fazer a ronda. Bom
apetite, xerife.
Colorado deixou a cadeia e rumou para o
saloon. A cidade estava calma. Parecia uma
cidade calma.
Tinha uma missão pela frente e esperava
resolver tudo bem rápido e rumar para seu
rancho.
Quando entrou no saloon, fez-se um
silêncio respeitoso.
— Dizem que posso comer um bom bife
aqui — comentou com o barman.
— Vou mandar preparar um, xerife. Por
que não se senta naquela mesa? Mandarei
servi-lo. quer beber alguma coisa?
— Um uísque e uma cerveja.
O barman atendeu prontamente. Colorado
levou os copos até a mesa e sentou-se.
Percebeu, então, junto ao balcão, o
pistoleiro de negro, olhando-o com desdém.
Reconheceu-o imediatamente. Eram Dam
Rowlings, um caçador de recompensa.
O outro continuou olhando com
insistência. Colorado já vira aquele tipo de
atitude antes. Farejou encrenca no ar.
Suas previsões se confirmaram, quando o
pistoleiro caminhou até a mesa e se sentou
provocativamente.
Antes que Colorado fizesse um gesto,
Dam tomou o copo de uísque e entornou-o.
Depois apagou o cigarro no copo de cerveja
do xerife.
Colorado respirou fundo e reclinou o
corpo na cadeira. Dam o olhava com
desdém, sorrindo ligeiramente.
Sabia que não haveria outra forma de
apagar aquele sorriso idiota dos lábios dele,
a não ser com uma bala.
Apenas não entendia por que Dam se
metia a provocá-lo gratuitamente.
— Eu o julgava um homem inteligente,
Dam — comentou Colorado, olhos fixos no
seu interlocutor.
— Por que diz isso?
— Está fazendo algo idiota, sabia?
— Eu o aborreci?
— Muito.
— E o que pretende fazer a respeito?
— Se você me pedir desculpas e sair
daqui, talvez eu poupe a sua vida — disse
Colorado, ameaçadoramente.
Dam riu alto, reclinando-se na cadeira e
olhando ao seu redor. Conseguira chamar a
atenção.
— Não vai beber sua cerveja, xerife?
Colorado segurou o copo, levantou-o no
ar e fez menção de levar o copo até a boca,
surpreendendo Dam.
Inesperadamente, porém, atirou todo o
seu conteúdo no rosto do pistoleiro.
— Maldito! — berrou Dam, dando um
salto e pondo-se em pés, as mãos
procurando as armas.
Colorado não lhe deu tréguas. Precisava
dar-lhe uma lição definitiva. A ele e a
qualquer outro idiota que tentasse desafiar
sua autoridade.
Dam sacou rapidamente, mas não chegou
a disparar. O xerife bateu-lhe com o copo na
testa, espatifando-o.
O rosto do pistoleiro se cobriu de cacos e
de sangue. Colorado segurou o pulso dele
na testa, espatifando-o.
Um estalido seco e a mão de Rowlings
ficou numa posição grotesca, com o pulso
quebrado.
— Vai pagar por isso, Colorado —
prometeu, tentando sacar a arma da
esquerda.
O xerife não lhe deu tréguas novamente.
Enfiou seu punho no estômago dele, depois
golpeou-lhe a nuca com a mão fechada.
Dam caiu pesadamente no assoalho,
agora desarmado. Tentou se erguer, mas
levou um chute em pleno rosto, sendo
jogado para trás como um saco de palha.
Arrastou-se até o balcão e tentou apanhar
uma garrafa. Colorado puxou-o pelo
colarinho e golpeou-lhe os rins repetidas
vezes, Dam gemeu, o corpo fraquejando.
— Isto é por beber meu uísque — falou
Colorado, jogando-o contra o balcão.
O pistoleiro estava coberto de sangue, o
rosto transformado numa máscara.
— Isto é por estragar a minha cerveja —
ajuntou, chutando o rosto do pistoleiro, que
tombou inanimado, vertendo sangue.
Virou-se para o barman.
— mande pôr este traste encima de uma
cavalo e o despachem para fora da cidade.
Só quero agora um uísque, uma cerveja e
aquele bife — disse ao barman.
— como quiser, xerife — falou ele,
apressando-se em servir novamente.
Colorado retornou para a mesa. Arrumou
a cadeira. Sentou-se. Tudo era silêncio ao
seu redor.
Bebeu lentamente o uísque, saboreando-
o. Dois homens apanharam o pistoleiro
ensangüentado e o levaram para fora.
Terminou o uísque e começou a bebericar
a cerveja. Ouviu vozes alteradas lá fora. Os
dois homens retornaram, assustados,
olhando na direção do xerife.
O motivo logo surgiu na porta do saloon.
com uma espingarda de cano serrado na
mão e o rosto coberto de sangue, Dam
Rowlings retornava para tirar satisfações.
— Cometeu um erro, xerife — disse ele,
caminhando na direção da mesa.
Colorado percebeu que a arma estava
engatilhada. Eram dois canos devastadores,
serrados daquela forma.
Mesmo machucado daquele jeito, não
seria difícil para Rowlings cortá-lo ao meio,
disparando aquele canhão.
— Acho que o erro foi seu — respondeu
Colorado, calmamente, apoiando a ponta
das botas nas pernas da mesa a sua frente.
— Vou matá-lo, maldito! Vou espalhar
seu cadáver contra aquela parede —
anunciou o pistoleiro, cada vez mais perto.
Colorado o olhava fixamente. Esperava a
qualquer momento um sinal do momento do
disparo.
— É um homem morto, xerife —
afirmou, torcendo o canto da boca.
A arma se levantou imperceptivelmente,
mirando o peito de Colorado, que empurrou
a mesa para frente, ao mesmo tempo em que
jogava o corpo para trás.
O movimento inesperado surpreendeu
Dam Rowlings, que disparou os dois canos
da arma.
O saloon encheu-se de fumaça por
instantes. Todos julgaram que o xerife
estivesse morto.
Quando a fumaça se dissipou, Dam jazia
tombado contra o balcão e Colorado tinha
na mão uma pistola fumegante.
— Não ouvi o seu disparo — comentou
alguém.
— Disparou ao mesmo tempo que o
pistoleiro...
— É muito rápido...
Os ajudantes chegaram em seguida.
Colorado explicou-lhes o que houvera. O
papa-defuntos também se fez presente,
revistando o morto, como era de costume.
Se tivesse dinheiro, seria usado no
funeral. Caso contrário, seria jogado
simplesmente num buraco na colina dos pés
juntos.
— Xerife, veja isso — comentou o papa-
defuntos, indo até ele, exibindo dois maços
de notas.
Colorado apanhou o dinheiro e contou
rapidamente.
— É muito dinheiro para um homem
como este — comentou, percebendo que as
notas eram novas e que ainda estavam
presas como uma cinta de papel do banco
local.
Poderia ser uma pista importante. Desde
o principio, aquela atitude de Rowlings lhe
parecera forçada.
Por que se meteria a desafiá-lo? Não
tinha um motivo plausível, a menos que
tivesse sido pago para isso. Mas quem
pagaria um pistoleiro para matar um xerife,
no dia de sua posse?
Somente alguém com culpa em cartório.
— Vou confiscar este dinheiro — disse,
retirando algumas notas e entregando-as ao
papa-defuntos. — Venda as armas e o
cavalo dele para cobrir o resto das despesas.
— Sim, xerife — concordou rapidamente
o homem, soltando o cinturão do falecido.
As armas estavam sobre o balcão.
Sempre havia alguém interessado num par
de pistolas como aquelas.
Colorado retornou a sua mesa, disposto a
terminar o jantar, antes de qualquer
interrupção.
Do lado de fora do saloon, pela janela,
Oliver e alguns homens haviam
acompanhado todos os acontecimentos.
Tratou de retornar ao rancho e contar ao
patrão o insucesso da tentativa.
Anne acordou com o barulho dos tiros,
com os gritos, tropel de cavalos e as chamas
que iluminavam seu quarto.
Vestiu-se rapidamente, tentando ver, da
janela, o que estava acontecendo.
O dormitório dos vaqueiros estava em
chamas. Alguns deles estavam nas janelas,
disparando contra um grupo de homens
mascarados, que revidavam.
— Anne! — ouviu a voz de seu pai
gritando.
Correu para o quarto ao lado, onde o
velho, tendo escorregado da cama,
procurava alcançar a janela.
Tinha na mão seu Colt e estava disposto a
se defender da agressão.
— O que está havendo lá fora? —
indagou.
— Estamos sendo atacados.
— Mas por quem?
— Não sei talvez os ladrões de gado.
— Pegue meu rifle, depois me ajude a
chegar até a janela.
Anne fez como seu pai pedira. Da janela
os dois tentaram acertar os agressores, mas
eles estavam fora do campo de visão.
Ouviu, então, barulho de vidros
quebrando, depois passos pesados e
apressados subindo a escadaria.
Virou-se, julgando que fosse um dos
vaqueiros, mas era um dos mascarados.
— Maldito! — gritou ela, disparando.
O homem foi mais rápido, desviando-se e
disparando em resposta.
Anne sentiu o impacto quente em seu
ombro, fazendo a arma voar longe.
Depois, tudo escureceu e ela desfaleceu,
acordando algum tempo depois, sentindo o
ombro em fogo.
— Está bem, Srta. Bosler? — indagou-
lhe Frank.
— Meu ombro...
— Felizmente a bala atravessou, mas
vamos precisar levá-la para a cidade. Além
disso, há outros feridos também...
— Quantos?
— Dois feridos e outros três mortos... —
informou Frank, com pesar.
— Oh, meu Deus! — exclamou ela,
tentando se erguer. Eles a havia posto numa
carroça, juntamente com os outros feridos.
O dormitório estava em chamas. A casa
igualmente.
Ver o seu lar ardendo daquela forma pôs
lágrimas nos olhos da garota e um ódio
insano em seu coração.
Só então deu pela falta do pai.
— E meu pai? Onde está o meu pai? —
indagou, saltando da carroça, ainda
atordoada.
— Acalme-se, senhorita, por favor. Nós
tentamos tirá-lo, mas era tarde demais. Ele
estava morto... Ficou lá encima, na casa...
— Oh, não! Papai! — gritou ela, em
desespero, tentando correr na direção da
casa, mas foi contida por Frank, que a
segurou com firmeza, abraçando-a.
Ela encostou a cabeça no peito do
vaqueiro e chorou desconsoladamente.
— Malditos! Por que fizeram isso?
— Não sei dizer, senhorita. Atacaram
sem mais nem menos, queimaram o
dormitório e a casa e foram embora.
— Conseguiram acertar algum deles?
— Difícil dizer, no meio de toda aquela
confusão.
Anne sentiu seu braço latejando. Morna e
lentamente o sangue escorria de seu ombro,
empapando a camisa.
— Vamos, senhorita, precisamos ir para a
cidade. Está perdendo muito sangue —
alertou Frank.
— Eu estou bem — murmurou ele,
desfalecendo em seguida.
Frank a levou de volta para a carroça. Os
poucos vaqueiros que sobraram sem
ferimentos haviam selado seus cavalos.
— Onde vão, rapazes? — quis saber
Frank.
— Dar o fora daqui. Sou vaqueiro, não
pistoleiro — respondeu um deles.
— Isto aqui está ficando perigoso demais
— ajuntou outro.
— Não podemos fazer isso dessa forma.
É o que esses bandidos estão querendo, nos
assustar e... — ia dizendo.
— Se era isso, conseguiram. Não vou
ficar para levar um tiro ou ser morto. É
decisão final, Frank. Vamos procurar um
rancho mais seguro para trabalhar. Depois
mandaremos buscar o que tivermos para
receber de salário — finalizou o vaqueiro e
o pequeno grupo partiu rapidamente.
Frank assumiu a boléia da carroça e
chicoteou os cavalos. Precisavam chegar
logo à cidade.
Colorado Stone foi acordado ao
amanhecer por um dos ajudantes. passara a
noite numa das celas da cadeia, enquanto
preparavam uma casa onde ele iria morar.
— O que houve, Emmet? — indagou
sonolento, aceitando a xícara de café que o
rapaz lhe estendia.
— Encrencas, xerife. O Rancho Bosler
foi atacado nessa noite. Houve mortes e
feridos.
— Refere-se ao Rancho mencionado por
aquele vaqueiro ontem à noite? — indagou,
lembrando-se.
— Sim, esse mesmo.
— Diabos! — lamentou, julgando que
alguma coisa poderia ter sido evitada se
tivesse tomado alguma providencia.
— Os feridos estão lá na casa do médico.
O proprietário do rancho está morto e sua
filha foi ferida.
— Vamos lá dar uma olhada nisso.
Faster. Vamos ver se ele é tão bom
rastreador como diz — ordenou, terminando
o café e afivelando o cinturão.
— Vou levá-lo até a casa do médico,
depois procurarei Faster — disse Emmet.
Pouco depois, Colorado estava na
enfermaria da casa do médico, que
terminava de costurar o último dos
vaqueiros.
— Todos vão ficar bem, inclusive a
garota. Perdeu muito sangue, mas é forte.
Só precisa de repouso agora — disse o
médico, assim que o xerife chegou.
— Quantos mortos? — perguntou Frank.
— Três mortos, incluindo o patrão.
— Onde fica esse rancho?
— Ao sul, por quê?
— Pretendo seguir as pistas. Devem estar
frescas ainda.
— Se permitir, vou com você, xerife.
Tenho muito a me vingar desses malditos
bastardos — pediu Frank.
Colorado foi até a cama onde Anne havia
sido acomodada. Surpreendeu-se com a
beleza da jovem, apesar dos cabelos
anelados e embaraçados.
Deixou rapidamente a enfermaria. Faster
e Emmet surgiram logo em seguida.
— Mande selar meu cavalo, Emmet. Peça
ao Rock para cuidar de tudo aqui, enquanto
estivermos fora.
Algum tempo depois o grupo partiu, na
direção do Rancho Bosler. Colorado tinha
esperança de poder seguir uma pista fresca
ainda, localizando o esconderijo da
quadrilha.
Quando chegaram no rancho, só
encontraram desolação e morte. As
construções fumegavam, tendo queimado
até os alicerces.
Os cadáveres dos vaqueiros estavam ao
relento. Colorado mandou que os
enterrassem rapidamente.
Depois, saiu com o grupo dar uma olhada
ao redor. Viu o gado no pasto.
— Faster, já localizou a pista?
— Sim, xerife. Eles vieram do norte e
para lá retornaram. É um grupo pequeno,
seis homens no máximo.
— Como sabe que retornaram para lá? E
o gado? Não levaram nenhum gado?
— Vieram direto para a sede do rancho e
de lá voltaram pelo mesmo caminho. Não
cruzaram os pastos.
— Por que não levaram gado desta vez?
— intrigou-se Colorado. — Tem mesmo
certeza disso?
— Haveria pistas, xerife. Só vi os rastos
vindo e voltando.
— Vamos seguí-los, então, mas com
muito cuidado.
O grupo rumou para o norte, sempre
guiados por Faster, que se mostrava mesmo
um ótimo rastreador.
Colorado Stone ia pensando no que
estava acontecendo e sentia que as coisas
não se encaixavam.
— Tomaram a direção do Rancho Ross
— disse Faster, após cavalgarem metade da
manhã.
— Pertence a Stanley Ross, o maior
fazendeiro da região. Suas terras chegam até
Rocky Springs, umas cem milhas ao norte,
xerife — explicou Emmet.
— Tudo isso?
— Ouvi dizer que ele anda comprando
toda terra disponível de Clendive para cá.
Acho que deseja se tornar o mais rico
rancheiro de gado desta parte do Oeste,
xerife — continuou Emmet.
Repentinamente, foram surpreendidos
por um disparo. Logo em seguida, um grupo
de dez cavaleiros os cercou, apontando
armas.
— Onde pensam que vão? — indagou um
deles.
— Este é o novo xerife e estamos
seguindo uma pista — explicou Faster.
— Não nestas terras — determinou o
outro.
Colorado encarou-o.
— Está atrapalhando o trabalho da lei,
rapaz — disse firmemente.
— Nada sei sobre o seu trabalho, xerife.
Sei que o meu é patrulhar estas terras e
ninguém entra nelas sem autorização do
meu patrão. Além disso, que pista
pretendem seguir?
—A dos homens que atacaram o Rancho
Bosler nesta noite. Foram naquela região —
apontou Faster.
— Lamento, mas sua pista acaba aqui
mesmo — disse o homem, fazendo um sinal
para que o seguissem.
Subiram rapidamente uma colina. À
frente deles, uma enorme manada pastava
tranqüilamente. A pista conduzia
diretamente para o meio delas.
— Vai ser impossível agora, xerife —
afirmou Faster, desconsolado.
— Não viram esse bando passando por
aqui? — perguntou o xerife aos homens.
— Não, xerife. Estivemos de guarda a
noite toda e nada vimos — afirmou o líder
dos capangas que vigiavam a fazenda.
— Tempo perdido, rapazes. Vamos voltar
à cidade — decidiu Colorado Stone.
Cavalgaram por algum tempo, até se
afastarem das vistas dos guardas. Colorado
fez um sinal para que seus dois ajudantes
parassem.
— Tenho certeza que eles estão mentido,
rapazes — começou a dizer.
— Também tenho, xerife. Se estiveram
por ali, durante toda a noite, teriam visto o
bando tanto na ida quanto na volta. Não
poderiam passar despercebidos —
concordou Faster.
— É certo que sim. Mas por que estão
fazendo isso? Por que acobertam os ladrões
e assassinos? — intrigou-se o xerife.
— Também não entendi essa, xerife —
ajuntou Emmet.
— Você conhece bem esta região, Faster?
— questionou-o o homem da lei.
— Pode ter certeza que sim, xerife.
— Há algum lugar onde um bando possa
se esconder?
— Posso me lembrar de uns dois ou três
lugares.
— O que acha de circular por aí, com
toda cautela, para ver o que consegue
descobrir?
— Vou gostar disso, xerife. Posso fazer
isso de olhos fechados.
— Então veja o que consegue descobrir.
Vimos que o bando cavalgou sempre em
direção ao norte. Siga essa direção e veja o
que tem pela frente.
O mestiço esporeou seu cavalo e se
afastou rapidamente. Colorado e Emmet
retornaram à cidade.
Passaram pela casa do médico.
— Como estão eles, doutor.
— Estão bem. A garota está muito
agitada, mas creio que é pela morte do pai.
— Dê-me notícias — pediu, saindo.
Quando chegou à cadeia, o prefeito
estava a sua espera.
— Bom dia, xerife! Soube que foi seguir
uma pista, é verdade?
— Sim, estivemos trabalhando durante
toda a manhã.
— E o que descobriu?
— Ainda não descobri nada, mas fiquei
tranqüilo que tenho algumas suspeitas.
— Suspeitas? Gostaria de saber quais
são.
— É cedo. Eu o manterei informado.
— Ah, ia me esquecendo. Mandei levar
suas coisas para a casa onde vai ficar
alojado. Rock lhe mostrará o caminho. Uma
vizinha cuidará da comida, de suas roupas e
da limpeza. Tudo por conta da cidade.
— Ótimo, prefeito! Agradeço as
providências.
Colorado apanhou um pouco de café,
depois foi se sentar. Pôs os pés sobre a
escrivaninha e ficou pensando.
Rock e Emmet se entreolharam,
observando a atitude do chefe. Colorado
estava intrigado.
Era muita coincidência os rastros da
quadrilha virem da fazenda de um homem
que estava comprando muita terra, além de
toda a que já tinha.
Mas qual o seu interesse em aterrorizar
um pequeno fazendeiro como o dono do
rancho Bosler?
Começaram roubando gado. Um gado
que não poderia estar desaparecendo no ar.
Agora passavam para o ataque
simplesmente para matar e queimar.
Era estranho, muito estranho, como se
isso fizesse parte de um plano que Colorado
não conseguia entender.
— A que horas abre o banco? —
indagou.
— Já está aberto, xerife.
— Ótimo, vou dar um pulo até lá.
Cuidem de tudo por aqui — ordenou,
apanhando os maços de notas que estavam
com o pistoleiro morto na noite anterior.
Foi até o banco. O próprio gerente o
atendeu. Colorado depositou os dois maços
de cédulas sobre a mesa.
— Retirei isto de um pistoleiro morto
ontem à noite. Preciso saber se ele sacou
esse dinheiro pessoalmente. Pode me trazer
os livros?
O homem hesitou, empalidecendo
rapidamente. Suas mãos tremerem, quando
examinou as cédulas.
— Não sei se posso mostrar-lhe os
livros... Afinal, isto é confidencial e...
— Estamos falando de assassinatos e
roubos aqui. Posso resolver isso de uma
forma drástica, mas prefiro contar com a
sua colaboração — exigiu Colorado,
incisivo.
O gerente não teve outra alternativa. Fez
um sinal, chamando o guarda-livros.
— Lembra-se de uma retirada de mil
dólares, feita ontem ou antes de ontem? —
perguntou-lhe.
— Mil dólares, ninguém retirou esse
valor.
— Tem certeza disso? — insistiu
Colorado.
— Claro que sim, xerife. Eu me
lembraria de um valor desses — confirmou.
— Pode me mostrar os livros com os
registros dos últimos dias?
O guarda-livros olhou para o gerente, que
concordou com um aceno de cabeça.
Minutos depois, Colorado examinou os
lançamentos. Nenhuma retirada vultuosa
fora feita nos dias anteriores.
Continuou voltando as páginas. Cinco
dias antes, houvera uma retirada de três mil
dólares no banco.
Não se surpreendeu ao ver o nome do
sacador: Stanley Ross. Agradeceu e
retornou à cadeia.
— Descobriu alguma coisa, xerife? —
quis saber Emmet.
— Pistas... Apenas pistas... Falem-me
sobre esse tal de Stanley Ross — pediu.
— É um homem muito rico. Chegou aqui
há uns cinco anos. Começou a comprar
terras e gado e, desde então, não parou. Fica
cada vez mais rico. Soube que andou
fazendo umas ofertas pelas terras ao sul da
cidade e na direção Billings.
— Há um mapa do território por aí? —
quis saber o xerife.
— Sim, numa dessas gavetas aí —
apontou Emmet.
Colorado procurou, até encontrar. Abriu-
o. Examinou a posição de Milles City, entre
Glendive e Billings. Era uma enorme
extensão de terra. Qual o interesse de
Stanley Rose naquelas propriedades todas?
Todas as suas investigações o conduziam
àquele nome. O dinheiro com o pistoleiro.
Não fora sacado por nenhum outro cliente,
exceto Stanley Ross.
O mesmo Stanley era o dono das terras
por onde a quadrilha de ladrões e assassinos
circulava livremente.
Além disso, estava comprando terras.
Precisava de muito mais dinheiro do que se
poderia imaginar para fizer tudo isso.
De onde estava vindo esse dinheiro? De
seu enorme rancho? Do gado roubado? De
onde?
— Falando no diabo, olha ele ali em
pessoa — comentou Rock, olhando pela
janela.
Colorado foi até lá. Stanley Ross passava
na rua, todo imponente, num cavalo branco
puro-sangue.
Vestia-se com elegância e usava um
chapéu de abas largas, projetando sombra
em seu rosto.
Colorado observou que Stanley parou ao
passar diante do banco. O gerente foi até a
rua e conversou alguma coisa com ele.
Stanley demonstrou certo aborrecimento,
pois esporeou o cavalo, quase derrubando o
gerente do banco.
— Acho que preciso conhecer de perto
essa figura — falou Colorado.
— É bom tomar cuidado, xerife. Aqueles
homens que o acompanham são pistoleiros
da pior espécie.
— Estou acostumado a lidar com esse
tipo de gente — afirmou o xerife, checando
sua arma, antes de sair da cadeia.
Faster sabia que seu instinto índio estava
certo. Seguindo a direção da pista deixada
pela quadrilha, só havia uma possibilidade
de encontrar um esconderijo.
À beira de um regato, junto a uma colina,
havia uma cabana, que os vaqueiros usavam
no inverno, quando vinham à procura de
desgarradas.
Teve certeza que havia gente lá dentro
pela fumaça. Além disso, havia seis cavalos
no curral.
Deixou seu cavalo a uma distância
prudente e se aproximou, procurando se
certificar.
Afinal, podiam ser apenas alguns
vaqueiros, por isso ficou a espreita,
aguardando.
Viu quando um deles deixou a cabana
com um balde na mão e foi até o rancho
apanhar água.
Pela maneira como carregava a arma não
parecia um vaqueiro. Além disso, a maneira
desconfiada como sondava os arredores
demonstrava que era alguém que esperava,
a qualquer momento, uma surpresa, coisa
típica de quem tem culpa em cartório.
O xerife iria gostar de saber daquilo. A
quadrilha encontrara um bom esconderijo,
no meio da fazenda de Stanley Ross.
Faster foi apanhar seu cavalo e se
apressar em retornar à cidade, tomando todo
o cuidado para não ser apanhado por uma
das patrulhas dos guardas daquele rancho.
Stanley e seus capangas estavam no
saloon. Colorado entrou, memorizando a
posição de cada um deles.
Eram pistoleiros experientes aqueles, pois
se postaram ao lado da porta, na janela, no
fundo do saloon e ao lado do balcão,
enquanto o patrão se sentava a uma mesa,
protegido por aquele círculo armado.
Havia uma garrafa sobre a mesa onde
Stanley se sentara, juntamente com um
copo. Assim que Colorado entrou, Stanley
olhou-o com desdém.
— Venham beber comigo, xerife —
convidou. — Pegue um copo para você no
balcão.
O xerife não gostou do tom usado pelo
fazendeiro. Parecia o patrão dando ordens a
um subordinado.
— Não, eu agradeço. Estou de serviço —
disse Colorado, puxando a cadeira e se
sentando.
Na posição em que estava podia ver
quatro dos capangas ali presentes. O quinto
ficara exatamente a suas costas.
Não gostava daquilo. Punha-o nervoso.
— Soube que meus homens o barraram
na entrada de minhas terras — comentou o
latifundiário, bebericando seu uísque.
— Nós seguíamos uma pista inútil. Ela
acabava no meio de sua manada.
— Uma pena, xerife. Se tivesse ido me
procurar e pedido a minha ajuda...
— Pelo contrário, acho que você deveria
pedir a minha ajuda — cortou-o o xerife.
— Não entendo — comentou Stanely.
— Se minhas conclusões não forem
falhas, aquele bando está se escondendo em
suas terras, talvez misturando o gado
roubado com o seu. Já imaginou está
possibilidade?
Stanley Ross empalideceu. A mão que
segurava o copo tremeu ligeiramente.
Colorado viu os pistoleiros a sua frente se
aprumarem, como que incomodados com
alguma coisa.
— Talvez queira vasculhar minha
propriedade — falou o fazendeiro, tentando
demonstrar naturalidade.
— Eu agradecerei a sua autorização.
— Está concedida, xerife. Tudo o que
precisar para apanhar essa quadrilha.
— É bom contar com cidadões como
você, Stanley. A propósito, fez algum
pagamento grande nos últimos dias?
— Ora, xerife, mexo constantemente com
grandes quantias. Por que pergunta?
— Fez algum negócio de mil dólares? —
insistiu Colorado, tentando provocar o
fazendeiro.
Vira sua reação, quando o gerente do
banco conversara com ele. Se o assunto fora
a visita do xerife ao banco, a reação de
Stanley era um sinal de que tinha alguma
coisa a ver com o dinheiro encontrado com
Dam Rowlings.
— Não me lembro das quantias, xerife,
mas tenho tudo registrado em meus livros.
Se quiser olhá-los...
— Não, agradeço. Acho que não
encontraria o que procuro.
Levantou-se e fez menção de sair. Parou,
no entanto, voltando a encarar o fazendeiro.
— O que há de especial entre Clendive e
Billings? — indagou, sondando a reação do
outro.
Stanley empalideceu novamente. O brilho
em seus olhos refletiu um ódio inesperado.
Colorado sentiu que estava conseguindo
perturbá-lo.
— Terras são a minha paixão — disse
Stanley, num fio de voz.
— Eu também gosto de terras. Até
comprei uma "hacenda" em Las Cruces, na
divisa com o México. Não é tão grande
como sua propriedade, mas me satisfaz,
Stanley — ironizou, rumando para a porta.
Atrás dele, Stanley fez um sinal para o
capanga que estava junto da porta. Quando
Colorado se aproximou, o pistoleiro se pôs
diante dele.
— Você é um ex-delegado federal, não?
— comentou.
— Sim, e o que tem?
— Eu o vi matar um homem há dois
anos, em Búfalo. Nem deu uma chance ao
pobre diabo. Ainda bem que usava uma
estrela. Caso contrário, teria sido linchado
como um covarde qualquer — continuou o
outro, com a deliberada intenção de
provocá-lo.
Colorado entendeu imediatamente a
jogada. Havia mais quatro homens no
saloon, esperando a chance para matá-lo.
Stanley se precipitara e isso era um bom
sinal. Apavorá-lo a ponto de fazê-lo ordenar
sua morte era a resposta que procurava.
Conseguira atingi-lo, dando a entender que
suas investigações caminhavam no rumo
certo.
— Eu não gosto dessa palavra que você
usou — murmurou o xerife, recuando um
passo.
Ouviu o movimento dos homens atrás de
si. Pelo canto dos olhos observou Stanley
acompanhar toda a cena sem intervir.
— E o que fará a respeito? — desafiou o
capanga.
A porta do saloon se abriu e Faster e
Emmet entraram com suas espingardas
engatilhadas.
— Algum problema, xerife? — indagou
Emmet.
— Um bocudo precisando de uma lição
— respondeu e, antes que o pistoleiro diante
do si pudesse esboçar um gesto de reação,
Colorado esmurrou-o no queixo, jogando-o
para fora do saloon.
— Todo mundo quieto — berrou Emmet.
— Essa conversa é particular — explicou,
mantendo os outros sob a mira, assim como
o fazia Faster.
Lá fora, atordoado, o capanga de Stanley
tentou se levantar, mas a ponta da bota do
xerife atingiu-lhe a boca, fazendo-o engolir
alguns dentes.
O homem gemeu, tombando na poeira.
Sua mão procurou a arma. Mais rápido,
Colorado sacou a sua e disparou uma única
vez.
A bala atingiu a cabeça do pistoleiro,
rachando-a como a uma abóbora madura,
num som seco e tétrico.
O capanga estrebuchou no meio da rua.
Colorado retornou ao saloon.
— Eu sinto muito, xerife. Trabalhava
para mim, mas parece que não se
simpatizava com você... — zombou
Stanley.
— Quando eu terminar por aqui, pode ter
certeza que muita gente não vai se
simpatizar comigo — prometeu, saindo,
seguido pelos ajudantes.
Mantê-los do lado de fora do saloon fora
uma boa medida. Não fosse isso, teria
corrido um risco enorme lá dentro, com
aqueles cinco pistoleiros.
— Bom trabalho, rapazes! Acho que dei
o que pensar ao Stanley.
— Ouvi quando ele autorizou a entrada
nas terras dele, xerife. Pretende mesmo
voltar lá? — quis saber Emmet.
— Tudo vai depender do que Faster
descobrir por lá — respondeu.
Frank, o capataz do Rancho Bosler, foi ao
encontro do grupo.
— Olá, xerife! Quero agradecê-lo por
sepultar os rapazes lá no rancho.
— Ora, esqueça! como estão os feridos?
— Em recuperação. Minha patroa já
acordou e pediu para falar com você.
— Vamos até lá, então.
— Estive lá no rancho, xerife, e na volta
passei nas outras propriedades — foi
dizendo Frank, enquanto caminhavam. —
Os pequenos rancheiros estão apavorados.
Falam em vender as terras...
— Para Stanley Ross?
— Sim, todos já haviam recebido uma
oferta antes. Com o ataque ao rancho
ontem, todos se apavoraram. Stanley veio à
cidade hoje apenas para negociar com eles.
Veja, estão começando a chegar — disse,
apontando as carroças que seguiam devagar
pela rua principal.
— Vender as propriedades é fazer o jogo
de Stanley veio à cidade hoje apenas para
negociar com eles. Veja, estão começando a
chegar — disse, apontando as carroças que
seguiam devagar pela rua principal.
— Vender as propriedades é fazer o jogo
do Stanley. Não posso deixar isso acontecer
— afirmou Colorado, retornando ao saloon.
Quando entrou, Stanley discursava para
os pequenos fazendeiros ali presentes.
— ... com o dinheiro poderão ir para o
oeste, para a Califórnia, onde há terras
baratas, bom clima, excelente oportunidade
para todos.
— Mas temos nossas casas aqui e tudo o
mais — lembrou alguém.
— O velho Bosler tinha uma casa até
ontem à noite. O que ele tem hoje? —
argumentou Stanley, provocando um
murmúrio de pavor entre aquela gente
simples.
— Meus amigos! — interrompeu
Colorado. — Não há motivos para pânico.
Não vendam suas terras assim...
— E por que não, xerife? Onde estava
ontem à noite, quando mandaram avisá-lo
de que seríamos atacados? — disse alguém
com raiva.
— Ninguém falou em ataque ontem à
noite. O aviso que recebi falava da
movimentação de alguns homens naquela
região. O que eu poderia ter feito?
— E o que poderá fazer de agora em
diante, com seus três ajudantes? É um
homem, não um mágico, xerife. Como vai
patrulhar toda a região? — insistiu um dos
rancheiros.
— Tempo, um pouco de tempo, é tudo
que lhes peço. Tempo para concluir minhas
investigações. As pistas que tenho em mão
são importantes e podem me levar à solução
de todo esse problema — afirmou,
observando a reação de Stanley.
A segurança do xerife dava a entender ao
fazendeiro que havia fortes pistas em jogo.
— Não tenho pressa, rapazes, em
comprar as terras. Estou aguardando umas
propostas do pessoal de Glendive. Se eu não
comprar aqui, comprarei lá — falou
Stanley, tentando forçar uma decisão.
— Só preciso de mais uns dias. Esperem
um pouco — pediu o xerife.
— Eu digo que nós podemos confiar no
xerife — disse uma voz feminina, firme,
apesar de combalida.
Todos se voltaram para a porta. Anne
Bosler entrava, apoiada em Frank.
— Estas terras são a nossa vida. Meu pai
morreu defendendo a dele. O xerife é um
homem incomum, acostumado a lidar com
bandidos como esses que nos aterrorizam.
Tenho certeza que ele irá apanhá-los mais
depressa do que imaginamos.
— Confia nele tanto assim, Anne? —
perguntou um dos rancheiros.
— Totalmente.
— Se Anne confia nele, nós também
confiamos — decidiu um, logo seguido
pelos outros.
Stanley, irritado, deixou o saloon
apressadamente. Colorado foi ter com
Anne. Mais do que nunca, aquela figura
feminina tão decidida o impressionava.
— É uma mulher corajosa, senhorita, mas
deveria estar repousando — observou
Colorado.
— Terei muito tempo para descansar
depois, xerife. Agora quero fazer o possível
para ajudá-lo a prender aqueles bandidos.
— Vai me ajudar se concentrar apenas
em recuperar a saúde. Ainda está pálida e
fraca...
— Não o bastante para ficar presa numa
cama, xerife. Precisamos estabelecer um
plano para evitar que novos ranchos sejam
atacados. Pode nos ajudar nisso?
— Claro que sim — prontificou-se
Colorado.
Com a ajuda dos rancheiros, foi montado
um grupo de vigilantes que patrulharia os
limites das propriedades menores com as de
Stanley.
Colorado não disse isso claramente, mas
deu a entender que de lá é que vinha a
ameaça.
— Agora que já resolvemos essa parte,
gostaria que fosse repousar — pediu
Colorado e Anne.
— Não vou voltar para aquela
enfermaria, nem posso voltar para o meu
rancho — disse a garota.
Colorado pensou por instantes.
— Acho que sei onde pode ficar —
decidiu. — Rock, leve-a até a casa que
destinaram a mim.
— Não posso aceitar isso — protestou
Anne.
— Por que não? Vou estar ocupado
demais para ocupar uma casa. Além disso,
se tiver sono, durmo numa das celas da
cadeia...
— Está sendo bondoso demais —
afirmou ela.
— Esqueça. Só passarei lá mais tarde
para apanhar uma muda de roupa. Minhas
coisas foram todas levadas para lá.
Anne aquiesceu com um sorriso terno e
agradecido.
Mal havia deixado a cidade, Stanley
freou violentamente seu cavalo, fazendo o
animal empinar e relinchar de dor.
Estava possesso com a situação do xerife
que, além de humilha-lo matando um de
seus capangas, ainda frustrara todo o seu
plano de comprar as terras ao sul da cidade.
Aquilo exigia providências drásticas.
— Joe, quero que procure Oliver lá nos
pastos e que diga para ele mandar três
daqueles pistoleiros que vieram de
Tombstone à cidade. Quero que matem o
xerife.
— Certo, patrão!
O capanga saiu a galope. Stanley
esporeou seu cavalo, rumando para a sede
de sua propriedade. Quando lá chegou,
percebeu que alguém o esperava, pois havia
um par de cavalos estranhos amarrados à
porta.
Quando entrou, já sabia de quem se
tratava. Engoliu seco e adotou um ar
submisso.
— Stanley, o que está havendo? —
indagou um dos homens sentados
tranqüilamente na sala. — Está trocando os
pés pelas mãos?
— Não, apenas um acidente de percurso,
mas está tudo sob controle...
— Então por que a pressa? Bastava
roubar o gado deles, deixá-los endividados.
Então tomaríamos as terras. Por que a
pressa? — insistiu o homem, que vestia
uma elegante casaca.
— Prometo que tudo se resolverá, Sr.
Wordland.
— Espero que sim, Stanley. Eu e meus
sócios estamos investindo muito dinheiro
nesta operação. Não vá pôr tudo a perder.
— É aquele xerife... Vou cuidar dele —
falou Stanley, indo apanhar um uísque.
— Nisso você também está exagerando
— comentou o outro. — Não é mesmo,
prefeito.
— Concordo com você. Fizemos toda
aquela encenação para dar a entender que
tínhamos interesse em resolver o assunto.
Colorado Stone seria o bode expiatório no
momento certo...
— Mas ele tem pistas, pistas fortes e... —
ia dizendo Stanley.
— Que pistas? Rastros que se perdem no
meio de uma boiada? Um maço de notas? O
fato de você estar comprando terras? E daí?
O que isso quer dizer? Nada! Ele nada tem
contra você, percebeu? — repreendeu-o o
outro.
O prefeito concordou com movimentos
de cabeça, quando Stanley olhou na sua
direção.
— Mandei matar o xerife — informou o
fazendeiro.
— Não foi uma boa idéia...
— Espere aí, se o Stanley se sente mais
tranqüilo com o xerife fora do caminho,
tudo bem. Podemos nomear Oliver em
seguida e tudo será como havíamos
planejado no começo.
O outro ficou pensativo por instantes,
depois concordou, para alívio de Stanley.
— Como pode ter certeza de que era
mesmo a quadrilha e não vaqueiros ou
capangas que vigiam o rancho? — indagou
Colorado a Faster, que havia acabado de
chegar.
— Os cavalos ainda estavam suados,
xerife, como se tivessem cavalgado toda a
maldita noite. Vaqueiros não fazem isso. O
homem que saiu para apanhar água, saiu
armado e olhava para os lados como se
esperasse uma emboscada. Para finalizar,
segui a direção que a pista apontava. Só
havia aquele esconderijo, num raio de
cinqüenta milhas.
— A que distância eles estão?
— A uma três horas daqui.
— Devem estar descansando da noite
atribulada e preparando novos ataques.
Precisamos pegá-los de surpresa. Ao
entardecer seria o melhor horário —
ponderou o xerife.
— Se são eles e se os pegarmos,
solucionaremos todos os problemas dos
rancheiros — falou Rock.
— Nem todos, Rock. Acho que os
problemas aqui são mais sérios do que eu
pensava. Me intriga o fato de Stanley estar
comprando tanta terra. Por quê? E de onde
vem tanto dinheiro assim? — intrigava-se o
homem da lei.
— São planícies e pastos, com algumas
ravinas e colinas, nada além disso, xerife —
observou Emmet.
— Se for para criar gado, onde ele
arranjará tantas cabeças para preencher
essas terras? — completou Faster.
— Há alguma coisa grande por trás de
tudo isso e acho que sei quem poderá nos
ajudar.
— Quem, xerife?
— Um amigo na Secretária da Justiça,
em Washington. Era o meu chefe, quando
eu era delegado federal. Vou lhe mandar
uma carta pela diligência, pedindo que faça
algumas investigações.
— Por que não usa o telégrafo? —
questionou Rock.
— Sigilo, Rock! Em pouco tempo toda a
cidade saberia o que procuro e isso alertaria
um bocado de gente.
— Do que desconfia afinal, xerife?
— Vocês ficaram sabendo no devido
tempo. Agora vou escrever aquela carta —
decidiu Colorado, indo para sua
escrivaninha.
Quando terminou, pediu a Rock que
despachasse e foi ao saloon, almoçar.
Pediu um bom bife e feijão, atacando o
prato vorazmente. Na volta decidiu passar
pela casa que lhe fora destinada e apanhar
umas roupas.
Anne o recebeu com alegria. Parecia bem
melhor, pois as cores haviam voltado a suas
faces e seus olhos brilhavam, cheios de vida
novamente.
— Tomei a liberdade de passar suas
roupas, xerife — disse ela. — Estavam
todas amarrotadas.
— Não precisava se incomodar...
— Ora, era o mínimo que eu poderia
fazer, depois de sua gentileza.
— Fique o quanto quiser — ofereceu ele.
— Apareça quando quiser, também. Sou
boa cozinheira, adoraria fazer-lhe o jantar
qualquer dia desses.
— Sim, qualquer dia desses —
concordou ele, agradecendo e saindo.
Anne ficou na porta, olhando-o se afastar.
Era um homem maduro, calejado, mas com
um bom coração por trás de toda aquela
aparência de durão.
Um homem de verdade, que despertava
nela desejos de mulher. Voltou para o
interior da casa e parou diante de um
espelho.
Seus cabelos estavam horríveis. Ela
estava toda horrível. O que Colorado
poderia ver nela?
Aborreceu-se com essa idéia.
Billy Cachorro Louco, Dodge Bull e Red
Daniel era um trio da pior espécie.
Expulsou de Tombostone por roubar nas
cartas e promover arruaças, o trio acabara
indo parar em Milles City.
Suas habilidades com as armas logo
chamaram a atenção e Oliver os contratará
para patrulhar as terras de Stanley Ross.
Eram homens sem escrúpulos e
ambiciosos. Poucos na cidade sabiam que
eles trabalhavam para Stanley, mas isso era
o de menos naquele momento.
O importante era que Oliver os julgava
talhados para a missão toda especial que
estabelecida pelo patrão.
— Quem é esse xerife que vamos matar?
— indagou Billy Cachorro Louco, um
mestiço apache que se vestia como um
branco e se parecia com um branco, exceto
pelos longos e lisos cabelos.
— Seu nome é Colorado Stone —
informou Oliver.
Os três trocaram olhares cheios de
significado. Conheciam o Delegado Stone.
Não seria uma tarefa das mais fáceis,
mesmo sendo três contra um.
— Quanto ganharemos com isso? — quis
saber Dodge Moore, um homem
esquelético, que se vestia de preto, como se
fosse um pastor.
— O recado que recebi não falava em
dinheiro, mas sei que o Sr. Stanley será
generoso, caso façam o trabalho como ele
pediu — falou Oliver.
— Não será fácil matar Colorado Stone
— comentou Red Daniel, um irlandês alto e
gordo, de longas barbas e suíças, rosto
vermelho e inchado.
— Por isso vocês três estão sendo
mandados. Se há alguém que possa fazer o
trabalho, são vocês — elogiou Oliver.
— O que acham, rapazes? — indagou
Billy, olhando interrogativamente para os
parceiros.
— Acho que podemos fazer o serviço
depois discutir o preço. Como Oliver disse,
o Sr. Stanley é um homem muito generoso
— ponderou Red Daniel, com seu vozeirão
grave e tonitroante.
— Então vamos para a cidade. Quero
pegar esse xerife antes do escurecer. Será
seu último pôr-do-sol — sentenciou Dodge.
O trio foi selar os cavalos e, momentos
mais tarde, partiam rumo à cidade.
— Como vamos fazer a coisa? —
indagou Billy.
— Do nosso jeito, você sabe — disse
Dodge, rindo.
— É disso que eu gosto — gritou Red
Daniel, gritando e esporeando seu cavalo.
Chegaram à cidade pouco antes do
entardecer. Assim que atingiram o começo
da rua principal, sacaram suas armas e
começaram a disparar para o alto, gritando e
uivando como um bando de vaqueiros
bêbados.
Os cidadões pacatos correram em busca
de proteção. Carroças disparam. Cavalos se
assustaram, lançando cavaleiros no chão. O
trio passou como um furacão diante da
cadeia e foi parar em frente do saloon, onde
desmontaram e entraram com grande
alarido.
— Que diabos foi isso? — quis saber
Colorado, saindo à porta.
— Parece um grupo de vaqueiros
festejando, xerife — informou Rock.
— Alguém deveria ensinar bons modos a
eles. Poderiam ter matado alguém com essa
balbúrdia...
— Deixe comigo, xerife. Vou até lá
conversar com eles, enquanto vocês se
preparam para ir no encalço daquela
quadrilha — propôs o garoto.
— Certo, Rock, mas não se arrisque. Se
surgir problema, venha nos avisar.
— Não se preocupe, xerife — disse
Rock, apanhando sua cartucheira e rumando
para o saloon.
De vez em quando os vaqueiros se
exaltavam e descarregavam suas armas para
o céu. Nada de mais. Estavam apenas
comemorando.
Entrou no saloon com tranqüilidade. O
grupo estava no balcão, bebendo e
recarregando as armas.
— Ok, rapazes! Vamos deixando de lado
essa artilharia — disse, sem suspeitar de
nada.
Os homens guardaram as armas nos
coldres, depois levantaram os olhos para o
ajudante.
Rock estremeceu. Já vira tipos perigosos
na aparência, mas aqueles pareciam ser os
piores.
— Onde está seu chefe? — indagou
Billy.
— Mandando meninos fazerem o
trabalho de homens — provocou Dodge.
O rapaz recuou lentamente. A espingarda
em sua mão seria inútil naquele momento.
Antes que fizesse um gesto, seria morto.
Red Daniel se adiantou e cortou a saída
de Rock, ficando entre ele e a porta.
— Acho melhor se comportarem,
rapazes, ou vão arrumar encrenca...
— Encrenca é o nosso nome, garoto.
Comemos e bebemos encrenca. Encrenca é
a nossa vida. Adoramos isso — comentou
Billy. — Nossa diversão e brincar com
garotinhos como você, que pensam que são
homens, mas não passam de bebes de
fraldas sujas.
As poucas pessoas que já haviam
chegado ao saloon para a noitada trataram
de ir saindo. somente os quatro ficaram.
— E então, bebê? Para que carrega essa
arma aí? — provocou Red Daniel.
— Acho melhor se acalmarem. O xerife
está vindo aí e... — não chegou a terminar.
Red Daniel se adiantou e arrancou a
espingarda de sua mão. Quando fez menção
de protestar, a coronha da arma se afundou
em seu estômago.
Rock sentiu que todo o ar de seus
pulmões fora expelido de uma só vez.
Dobrou-se para frente. A coronha da arma
subiu, como um relâmpago amarelado,
atingindo-o na testa, jogando-o para trás,
sobre uma das mesas.
Red Daniel riu, assanhado pelo cheiro de
sangue. Avançou para Rock e o segurou
pelos colarinhos, erguendo-o com
facilidade.
Rock puxou a faca que trazia à cintura e
golpeou entre as costelas do seu agressor.
Red urrou de dor e fúria, atirando o rapaz
contra o balcão, como se ele fosse um
graveto.
Retirou a faca. O sangue manchou sua
camisa.
— Maldita! Vou matá-lo por isso —
rosnou, avançando contra Rock, que tentava
se pôr em pé.
Red o agarrou pelos cabelos e pôs a faca
contra a garganta do ajudante.
— Não faça isso! — gritou Colorado,
surgindo à porta.
Alguém que saíra do saloon correra
avisá-lo da encrenca em que Rock estava se
metendo.
Por momentos seu olhar e o de Red
Daniel se cruzaram, faiscantes. O
desesperado sorriu malignamente e deslizou
a faca com força, cortando a garganta de
Rock, que rouqueijou macabramente e
esperneou, suspenso pelos cabelos.
Red voltou a repetir o movimento com a
faca, separando a cabeça do corpo, que caiu
no assoalho e ficou estremecendo.
Colorado já vira coisas incríveis em sua
vida, mas nada se comparava ao olhar
surpreso e desesperado de seu ajudantes.
Aquela cabeça ainda não estava consciente
da morte que chegava rapidamente.
Billy e Dodge pretendiam não dar chance
ao xerife, aproveitando-se de sua surpresa
para sacar suas armas.
Não tiveram tempo para isso. A arma do
xerife voou para fora do coldre. O primeiro
tiro atingiu a testa de Red Daniel, que
balançou, mas continuou em pé, segurando
a cabeça de Rock.
O segundo tiro explodiu no peito de Billy
Cachorro Louco, lançando-o pata trás,
contra o balcão.
Dodge desistiu de sacar e tentou correr
em busca de abrigo ou proteção.
O terceiro tiro de Colorado o atingiu na
espinha, um pouco abaixo do pescoço.
O corpo do pistoleiro estremeceu e se
desgovernou, caindo no assoalho como um
boneco desarticulado.
Ficou piscando e gemendo, boca aberta,
por onde escorria um filete de sangue.
Colorado sabia que a morte era uma
questão de tempo para o pobre diabo.
O que o punha surpreso era Red Daniel,
ainda em pés, com o sangue escorrendo
pelo orifício em sua testa, segurando a
cabeça do ajudante.
Os olhos do bandoleiro estavam fixos e
sem brilho, como se a vida se esvaísse
rapidamente por eles.
Colorado disparou mais uma vez, desta
feita contra o peito do seu oponente, que
definitivamente, tombou sem vida.
Por um longo tempo o xerife ficou ali,
olhando aquela cena, maldizendo a morte
inútil de um jovem promissor e cheio de
vida.
— Alguém os conhece? — indagou às
pessoas que foram se ajuntando.
— Eu já os vi aqui, xerife, há algum
tempo atrás — falou o ferreiro. —
Deixaram seus cavalos para serem ferrados,
fizeram algumas arruaças, depois partiram,
dizendo que haviam encontrado trabalho...
— Quem daria trabalho para homens
como esses? — indagou o homem da lei.
— Saíram da cidade com Oliver, o
capataz do Sr. Ross — informou o homem.
— Maldito! — vociferou Colorado.
A cada vez mais se convencia de que o
rancheiro estava por trás de tudo aquilo que
acontecia naquela cidade.
— Faster, vamos fazer aquela visita.
Alguém avise a família de Rock, mas não a
deixem ver o rapaz nesse estado. Peçam ao
papa-defuntos para caprichar no trabalho —
decidiu o xerife, cheio de ódio e desejo de
vingança.
Wolf Baker e seus cincos irmãos
atacaram vorazmente a comida sobre a
mesa, comendo como verdadeiros animais,
disputando avidamente cada pedaço de
guisado com feijão.
— Como vai ser hoje à noite, Wolf? —
indagou Bret, o mais novo dos irmãos,
cuspindo para longe a rolha da garrafa de
uísque.
Tomou um gole. Antes que terminasse,
seu outro irmão, ao lado, arrancou
bruscamente a garrafa de seus lábios.
— Me dá isso de volta — protestou Bret,
mas Willy deu-lhe um cascudo no alto da
cabeça, mandando-o ficar quieto.
— Há aquele pequeno rancho, perto da
ravina, a umas cinco milhas do Rancho
Bosler. Sei que há apenas o capataz e meia
dúzia de homens lá — informou Wolf,
tomando a garrafa da mão de Willy e
entornando-a.
A bebida encheu sua boca, quase
engasgando-o, derramando-se pelo seu
queixo e indo encharcar seu peito.
— E os vigilantes? Oliver mandou avisar
que eles formaram um grupo de vigilantes
— lembrou Pierce, outro dos irmãos.
— Não gosto de vigilantes, Wolf — disse
Murdo, numa voz estranha, gutural, fruto de
uma bala que lhe atravessara a garganta
num duelo.
— Esses vigilantes não são de nada.
Quando surgirmos disparando, eles vão
borrar nas calças e correr até o Canadá —
brincou Mott, o mais louco de todos eles,
caindo na gargalhada.
— Acho que devemos ir e tentar localizar
esses vigilantes, Wolf. — disse Bret. — Se
nós os pegarmos, ninguém mais vai querer
brigar conosco.
— Acho que Bret tem razão, Wolf —
concordou Pierce.
— Assim que se fala, rapazes — falou
Mott, tomando a garrafa de uísque de
despejando o líquido goela a dentro.
Lá fora anoitecia. em breve uma enorme
lua cheia viria para clarear a pradaria. Os
Baker se preparavam para mais uma
cavalgada noturna.
O grupo cavalgava em silêncio, no lusco-
fusco do entardecer. O sol já se pusera, mas
ainda persistia sobre a pradaria uma
claridade esmaecida.
Todos ainda estavam chocados com a
morte inesperada e violenta de Rock,
naquela tarde.
O mais enfurecido de todos eles era
Colorado, que não podia tirar de sua mente
aquela cena estarrecedora.
Em toda a sua vida de delegado federal,
correndo o oeste em busca de foras-da-lei,
vira as piores atrocidades. Nenhuma,
porém, se igualava àquela.
Concluiu que estava mesmo cansado
daquela vida. Precisava acabar logo com
aquele serviço, pendurar as armas e ir
cuidar de sua hacienda em Las Cruces.
— Ainda falta muito? — indagou
Emmet, que cavalgava com o rifle apoiado
contra a coxa, como se esperasse encrenca a
qualquer momento.
— Não muito — respondeu Faster, de
olho em um bando de pirilampos que
circulava ao redor deles.
Com uma habilidade incomum, Faster
apanhou alguns, seguido por Emmet.
— Para que isso? — indagou Colorado.
— Nunca caçou à noite, xerife? —
retrucou Faster.
— Sim, mas nunca cacei vaga-lumes.
— Não estamos caçando vaga-lumes.
Estamos caçando com vaga-lumes —
corrigiu o ajudante.
— E qual é a diferença?
— Faster só o está confundindo, xerife.
Veja isso — disse Emmet, esmagando um
vaga-lume na mira do rifle, depois outro na
ponta do cano.
Entregou a arma a Colorado, que fez mira
com ela. A luminosidade impregnada na
alça de mira e na mira tornava fácil
enquadrar uma presa e disparar.
— Bem pensado, rapazes — elogiou,
devolvendo a arma e Emmet e tratando de
apanhar seus próprios vaga-lumes.
Pouco depois chegavam próximos da
colina. Faster recomendou que deixassem
os cavalos e seguissem à pé.
Aproximaram-se cautelosamente da
cabana. A lua cheia e enorme começava a
surgir no céu.
— Vejam, lá está a cabana, como eu falei
— apontou Faster. — Os cavalos ainda
estão no curral e há fumaça.
— Bom trabalho, Faster — elogiou o
xerife. — Precisamos pegá-los de surpresa e
nos certificarmos de que se trata mesmo da
quadrilha que procuramos.
— Como pretende fazer isso? — indagou
Emmet.
— Só há uma forma. Indo lá e
perguntando para eles — respondeu
Colorado Stone.
— Assim tão simples? — retrucou
Emmet, perplexo.
— Assim tão simples — confirmou o
homem da lei. — Vocês me seguem e me
dão cobertura. Vou entrar na cabana. Assim
que entrar, sairei para o lado, permitindo
que você, Faster, tenha uma visão do
interior, enquanto que Emmet assume sua
posição naquela janela aberta. Entenderam?
— Sim — confirmaram os dois.
— Talvez não sejam eles e não tenhamos
problemas. Mas, se Faster estiver certo,
preparem-se para toda sorte de encrenca,
rapazes — alertou o xerife, examinando seu
revolver, depois sua Winchester.
Os ajudantes fizeram o mesmo.
— Estão prontos? — quis saber
Colorado.
— Preparados! — respondeu Emmet e
Faster confirmando com um aceno de
cabeça.
Os três começaram a descer lentamente a
colina, na direção da cabana.
A lua subia lentamente, jogando uma
claridade de prata sobre a planície. O regato
tornava fresco o ar, mas pairava um cheiro
de morte naquele lugar.
Músculos tensos e sentidos em alerta
conduziram aqueles três homens ao
encontro de seus destinos.
Repentinamente, a porta se abriu e a luz
de um lampião alongou-se diante da cabana.
Bret ficou um segundo surpreso e
estático, vendo aqueles três vultos que
caminhavam silenciosamente na sua
direção.
— Alto! Quem vem lá? — indagou,
levando a mão à cintura.
Colorado percebeu que haviam perdido o
efeito surpresa. Viu o vulto na porta da
cabana tentar sacar a arma. Antes que o
fizesse, ele e seus ajudantes levantaram os
rifles e dispararam quase que ao mesmo
tempo.
A idéia dos ajudantes funcionou. Foi fácil
enquadrar o homem na porta da cabana.
Três tiros soaram ao mesmo tempo e o
corpo ensangüentado e sem vida de Bret foi
atirado para dentro.
Tudo transcorreu no tempo de um
simples segundo. O lampião foi arrebentado
com um tiro. Uma chuva de balas partiu da
cabana, na direção dos homens na lei.
— Protejam-se! — gritou Colorado,
saltando atrás de um tronco.
Seus ajudantes conseguiram também se
cobrir a tempo e as balas zumbiram como
abelhas sobre suas cabeças.
— Malditos! Mataram meu irmão
caçula... Ele está morto — berrava no
interior da cabana um dos homens.
— Cale a boca, Mott, e mande balas
nesses malditos...
— Eu vou sair, Wolf... Vou lá fora
apanhá-los...
— Não seja idiota... Abaixe-se —
ordenou Wolf Baker ao seu irmão.
Do lado de fora, Colorado se lembrou
daqueles nomes. Wolf Baker e Mott Baker.
Possivelmente junto com eles estavam Bret,
Willy, Pierce e Murdo, a Quadrilha Baker,
um bando de arruaceiros e assassinos
procurados em todo o Oeste.
— Rendam-se Bakers — gritou
Colorado. — Tenho aqui uma patrulha e
muita munição. Poderemos ficar aqui toda a
noite, mas não tenho paciência para isso.
Prefiro queimar logo essa cabana e acabar
com o assunto rápido — ameaçou ao final.
— Quem está falando? — quis saber
Wolf.
— Colorado Stone, o xerife de Milles
City.
— Maldito seja mil vezes por matar meu
irmão caçula, xerife. Não nos pegará vivos.
Terá de vir nos buscar — afirmou Wolf,
sondando a semi-escuridão lá fora.
Quando a lua surgisse de todo, poderia
ver o tamanho daquela patrulha. Até então,
não sabia quantos homens havia lá fora.
— Conseguiram ver quantos há lá fora?
— indagou aos irmãos.
— Não. Quando disparamos eles apenas
se esconderam e não responderam ao fogo.
Pode ser meia dúzia ou cinqüenta, quem
saberá? — retrucou Murdo, com sua voz
estranha.
— Fogo neles! Vamos ver se reagem —
ordenou Wolf e os irmãos voltaram a
disparar selvagemente.
— Não atirem, rapazes — ordenou
Colorado, lá fora. — Eles ainda não sabem
quantos somos.
— O que faremos em seguida, xerife? —
quis saber Emmet, o rifle apontado para a
cabana à procura de um alvo, mas apenas as
línguas de fogo das armas eram visíveis.
— Vamos ter que agir rápido, rapazes.
Quando a lua surgir de todo, seremos alvos
fáceis.
— Xerife, posso rastejar pelo barranco do
rancho até um ponto longe da visão deles e
retornar esgueirando-me por aquelas
árvores — apontou. — Dali posso atear
fogo no telhado da cabana. O que me diz?
— Acho que é a melhor coisa a fazer,
Faster. Enquanto isso, Emmet, vamos ver se
você é bom mesmo com esse rifle. Mire um
pouco à esquerda do clarão das armas —
ordenou o xerife.
Faster recuou sorrateiramente. Emmet
mirou cuidadosamente. Quando uma das
armas disparou na cabana, ele respondeu ao
fogo.
Um grito de dor se ouviu logo em
seguida.
— Maldito! Ele me acertou, Wolf...
Estou sangrando... Estou baleado, rapazes...
— ficou repetindo Willy, estendido no chão
da cabana.
Os demais irmãos concentraram fogo no
ponto de onde partira o disparo. Emmet se
protegeu, enquanto as balas assobiavam e
arrancavam lascas do tronco atrás do qual se
ocultara.
Colorado aproveitou o momento. Mirou
na direção da cabana e apertou o gatilho.
Pierce Baker parou de atirar no mesmo
instante e caiu de joelhos. Passou a mão no
peito. Sentiu-o molhado. O cheiro de
sangue impregnava o ar.
— Wolf — chamou ele.
— O que foi, Pierce?
— Acho que ele me acertou — respondeu
o facínora, caindo de cara no chão.
— Parem de atirar, rapazes! — ordenou
Wolf.
Willy havia parado de gemer. Estava
morto.
— Wolf, eles já mataram Bret, Willy e
Pierce — comentou Murdo.
— Eu sei, diabos!
— Eles vão nos matar como patos numa
lagoa, Wolf — comentou Mott. — Vamos
sair disparando...
— Seríamos mortos mais rápido ainda —
observou Wolf, posicionando-se junto à
janela. — Você aí fora! — gritou.
— O que quer? — respondeu Colorado.
— O que nos acontecerá se nos
entregarmos? — quis saber o bandido.
— O que está falando, Wolf? —
protestou Murdo.
— Cale-se, idiota! Estou tentando salvar
nossas peles.
— Depende do que tiver a nos oferecer
— negociou Colorado.
— Como assim?
— Sei que não estão agindo por conta
própria. Quero uma confissão e o nome do
mandante de tudo isso que estão fazendo.
— Deixe-me conversar com meus
irmãos.
Faster tomou posição na lateral da
cabana, preparando para atear-lhe fogo,
esperando um sinal do xerife.
Lá dentro os irmãos confabulavam.
— Como pode negociar com alguém que
matou três dos nossos irmãos? — protestou
Murdo.
— Ele tem razão — concordava Mott.
— Ouçam-me, seus imbecis. É a única
forma de nos livrarmos dessa encrenca.
Fazemos um negócio com eles até que
possamos nos vingar. Não pensem que vou
deixar por menos as mortes de nossos
irmãos. Façam o seguinte. Escondam
algumas armas pela cabana. Vamos nos
entregar e esperar uma chance.
Wolf foi até a janela e se expôs, gritando:
— Estou pronto para negociar, xerife.
— Está bem! Acendam um lampião e
saiam com as mãos para cima — ordenou o
xerife.
— Vou levar uma arma comigo — disse
Mott, prendendo-as às costas, no cinto.
— Eu também — confirmou Murdo.
— Faça o mesmo, Wolf — pediu Mott.
— Está bem — concordou afinal.
Um lampião foi aceso. os três homens
começaram a sair lentamente. Motto foi à
frente, com o lampião seguro acima da
cabeça. Assim que saíram, Faster, oculto ao
lado da cabana, viu as armas que eles
haviam escondido nas costas.
— Eles estão armados, xerife — gritou.
No mesmo instante com o lampião. A
bala que Emmet disparou atingiu o lampião,
jogando querosene no corpo do facínora,
que imediatamente pegou fogo,
transformando-se numa tocha que pulava e
berrava como um demônio possesso.
A bala que Faster disparou jogou Mott
para frente. O tiro de Colorado, atingindo-o
na testa, fez seu corpo rodopiar no ar e se
estatelar na poeira.
Mott correu na direção do rio. Wolf
conseguiu sacar sua arma, mas estava
confuso demais para perceber seus alvos.
— Não o matem! — gritou Colorado. —
Renda-se, Wolf. Há armas demais
apontadas para o seu corpo.
— Malditos sejam... Bastardo... —
murmurou o pistoleiro, vendo seu irmão em
chamas cair, pouco antes do riacho e ficar
estrebuchando até morrer.
Faster se adiantou e o desarmou. Depois
deu-lhe uma coronhada nos rins, fazendo o
facínora gemer e ajoelhar-se.
— Isto é pelos homens que mataram,
malditos! — vociferou.
— Acalme-se, Faster. Esse homem pode
ser muito importante para nós agora —
ponderou Colorado, agarrando-o pelos
colarinhos e erguendo-o.
Empurrou Wolf na direção da cabana,
onde acenderam um outro lampião?
— Onde estão os outros? — quis saber
Wolf, cheio de fúria.
— Só nós — respondeu Colorado.
— Você é o delegado Stone, não?
— Sim, me conhece?
— Já ouvi falar.
— Pena que nossos caminhos não
tivessem se cruzado antes, seu canalha.
Muitas vidas teriam sido salvas.
— O que fazemos com estes corpos,
xerife? — indagou Emmet, apontando os
cadáveres dos Bakers dentro da cabana.
— Jogue-os lá fora. Que sirvam de pasto
os coiotes. Vocês serão as testemunhas da
morte deles. Quanto a você, vai me
responder algumas perguntas — falou
Colorado, encarando Wolf.
— Se pensa que vou delatar quem nos
está pagando, está muito enganado, xerife.
Esse é o meu trunfo e não vou abrir mão
dele.
Colorado respirou fundo. Não gostava
daquilo, mas não havia outra forma de obter
a informação que precisava.
— Amarrem-no, rapazes! — ordenou.
Emmet se apressou em atender o pedido
do xerife. Wolf foi amarrado firmemente
numa cadeira.
— Faster, você disse quem tem um pouco
de sangue índio, não é verdade?
— Sim, xerife.
— O que sua metade índia sabe fazer
para que um homem fale como a mais
tagarela das mulheres — continuou
Colorado.
— Uma porção de coisas, xerife —
respondeu Faster, com um sorriso,
percebendo onde o outro queria chegar.
— O quê, por exemplo?
Faster sacou uma faca Bowie que levava
às costas. A enorme lâmina afiada
rebrilhou.
— Eu, particularmente, gosto de começar
cortando as orelhas da vítima. Dizem que
elas ouvem melhor nossas perguntas,
quando lhes cortamos as orelhas.
— E depois?
— Para tornar tudo muito amigável,
cortamos os lábios e deixamos os dentes à
mostra. A pessoa morre com um sorriso nos
lábios. É muito divertido.
— E se ainda assim não conseguir?
— Começamos a tirar a pele a partir do
couro cabelo. Polegada a polegada, a pele se
solta como se fosse uma máscara. Não é um
espetáculo bonito, mas sempre funciona.
Wolf começou a rir.
— Não me mete medo com essas
brincadeiras de criança, xerife. Isso não me
assusta — zombou ele.
— Você ouviu o homem, Faster — disse
Colorado.
Faster nada disse. Aproximou-se de
Wolf, pôs a lâmina da faca no alto da testa
dele, junto à linha de cabelos, e deslizou-a
num gesto decidido.
Wolf Baker era duro na queda, mas,
quando Faster começou a puxar seu couro
cabeludo para cima, deslocando-o de seu
crânio, percebeu que o mestiço estava
brincando.
— Pare este maldito! — berrou, o sangue
deslizando pelo seu rosto numa máscara
macabra.
— Deixe-me continuar, xerife — pediu
Faster, a lâmina da faca tinta de sangue.
— Foi Stanley Baker e seus sócios —
falou Wolf, cuspindo sangue enquanto
falava.
— Como disse? sócios? Que sócios?
Wolf gargalhou da surpresa de Colorado
Stone, o rosto transformado numa máscara
ridícula.
— Não suspeitava de nada, xerife? —
indagou o pistoleiro.
— Tinha algumas dúvidas mas nenhuma
conclusão. Quem são esses sócios?
— O que me oferece em troca?
— Nada posso lhe prometer, mas talvez
consiga livrá-lo da forca...
— Quero mais, xerife. Quero a minha
liberdade. E justo, após você ter
exterminado minha família.
Colorado pensou por instantes. Não só
havia dado cabo na quadrilha, como poderia
solucionar todo o caso de Milles City.
Libertar Wolf Baker seria até um ato de
caridade, depois de todas a ajuda que ele
estava prestando.
— Está bem, Wolf. Trato feito. Você
testemunha contra Stanley e seus sócios e,
depois do julgamento, eu o liberto.
— Trato feito então, xerife — concordou
o outro.
— Quem são esses sócios, afinal?
Wolf abriu a boca para falar, mas o
estampido de uma arma soou na janela e o
rosto do pistoleiro simplesmente
desapareceu, afundando por uma carga de
chumbo grosso.
Seu corpo foi jogado para trás e, quando
bateu no chão, já estava morto.
Uma chuva de balas veio lá de fora,
obrigando o xerife e seus ajudantes se
atiraram no chão em busca de proteção.
As balas entravam pela janela e pela
porta, arrebentando tudo pela frente,
arrancando grossas lascas dos troncos da
cabana.
A situação acabava por se inverter.
Concentrados em fazer Wolf falar haviam
se esquecido de que haviam patrulhas do
rancho ao redor.
Uma delas fora atraída pelos tiros e Wolf
havia sido liquidado antes de entregar seus
patrões.
Colorado disparou um tiro contra o
lampião, apagando-o. As balas continuaram
zumbindo. O terreno do lado de fora se
iluminava com os clarões dos disparos.
— Fogos pegos numa ratoeira — disse
Colorado.
— O que podemos fazer, xerife? — quis
saber Emmet.
— Faster, você sondou o terreno lá fora.
Há alguma chance de sairmos daqui?
— Acho que não, xerife. É tudo campo
aberto. Aqui, pelo menos, temos a proteção
dos troncos da cabana.
— Vamos tentar descobrir quantos são os
homens lá fora — propôs o xerife,
esgueirando-se até debaixo da janela.
Havia uma fresta entre dois troncos, logo
abaixo da janela. Pode observar por ali.
Contou pelo menos meia dúzia de armas,
protegidas atrás de troncos e pedras.
— Emmet, vamos testar de novo a sua
pontaria. Veja o que consegue fazer —
ordenou o homem da lei.
Emmet rastejou até junto da porta,
observando lá fora. viu um vulto,
iluminando pela lua, esgueirar-se na direção
de uma árvore.
Levantou o rifle e fez fogo de imediato,
fazendo o homem que corria rodopiar e se
estatelar no chão.
— Belo tiro! — elogiou Colorado.
— Xerife, veja o que encontrei aqui —
disse Faster, aproximando-se do xerife.
Na claridade do luar Colorado pode ver
um arco indígena e uma aljava com algumas
flechas.
Começou a rir.
— Vamos matá-los a flechadas, Faster?
— indagou, sem entender o objetivo do
ajudante.
— Mais do que isso, xerife. Já esteve
num daqueles parques de diversão, onde se
fica atirando contra patinhos?
— Sim, mas o que isso tem a ver com as
flechas?
— Observe — pediu Faster, indo apanhar
o lampião que Colorado apagara com um
tiro.
Enrolou alguns trapos nas pontas das
flechas, depois molhou-os com o
combustível do lampião.
Aproximou-se da janela.
— Quando eu retesar o arco, acenda o
trapo na ponta — pediu.
Ainda sem entender, Colorado atendeu.
Quando Faster retesou o arco, o trapo foi
aceso.
As balas choveram com maior
intensidade no momento em que o fogo
envolveu a ponta da flecha.
Faster disparou-a. A chama cruzou o céu,
fazendo um arco e indo cair atrás de onde
estavam os atacantes.
Por momentos o fogo bruxoleou, depois
começou a se espalhar pela relva.
— Mais uma — pediu Faster e Colorado
acendeu-a.
Lá fora os homens cessaram de atirar,
tentando entender o que se passava.
Faster disparou uma série de flechas e,
em pouco tempo, a pradaria ardia. Os
agressores se destacaram facilmente contra
o fundo brilhante.
Os cavalos deles se assustaram,
relinchando e disparando. A confusão se
instalou entre eles.
— Vamos ser torrados — berrou um
deles, levantando-se.
Mal dera alguns passos e seu chapéu saiu
voando de sua cabeça, como se um vento
repentino o houvesse arrancado.
A bala disparada por Emmet fora certeira.
Junto com o chapéu também foi parte do
crânio do pistoleiro.
Colorado e Faster aproveitaram a chance.
Os homens lá fora se dispersaram, aturdidos
e acossados pelo fogo, que avançava na
direção deles.
Foi uma verdadeira carnificina. Um a um,
em plena corrida, eles foram sendo abatidos
como patos de tiro ao alvo.
Quando o último deles tombou, um
silencio de morte se abateu sobre o local.
— Bom trabalho, Faster! —
cumprimentou-o xerife. — Conseguimos
livrar nosso couro, mas ficamos sem prova
nenhuma de envolvimento de Stanley. Com
a morte de Wolf, perdemos a nossa única
testemunha.
O grupo ficou em silencio por instantes.
Repentinamente, o rosto de Emmet brilhou.
— Espere um pouco, xerife! Nós
sabemos que Wolf e seus irmãos estão
mortos, mas Stanley Ross não. Vamos
deixar todos os cadáveres aqui, exceto o de
Wolf. Basta amarrar algumas pedras e jogá-
los num ponto do riacho.
— Excelente idéia, Emmet! vocês dois
estão se saindo melhor que a encomenda.
Vamos fazer isso imediatamente, depois dar
o fora daqui. Esse jogo vai atrair outras
patrulhas e não estou com munição para
outro tiroteio.
Trataram de executar o plano e partir
imediatamente. À luz da lua cheia, o grupo
cavalgou velozmente na direção da cidade.
Stanley Ross estava possesso, andando de
um lado para outro de sua sala, enquanto
Oliver o punha a par do que houvera.
— Encontramos os cadáveres de todos os
irmãos Baker, exceto o de Wolf, patrão.
— Não procuraram direito. Foi isso. O
que poderia ter acontecido com Wolf?
Voando por sobre as chamas? — berrou,
fora de si, o rancheiro.
— Pior que isso, patrão — disse Oliver.
Só então Stanley parou para pensar,
encarando o capataz.
— Está vivo! — exclamou.
— E o que é pior, nas mãos do xerife.
— Demônios! Isso Não podia ter
acontecido. Aquele bastardo vai abrir o bico
e pôr tudo a perder.
— Esse tipo de gente não é confiável,
patrão. O que quer eu faça?
Stanley nadou de um lado para outro,
depois foi se servir de uma dose de uísque.
Bebeu-o num só gole, depois voltou a
encher o copo.
As coisas estavam mesmo fora de
controle. Aquele maldito xerife era mais
esperto do que pensara. Não só matara os
três pistoleiros de Tombstone, como
liquidara com a quadrilha dos Bakers.
Tinha de tomar uma medida drástica, ou
iria ter problemas para explicar tudo aquilo
aos seus sócios.
Só que, desta vez, as coisas precisavam
ser feitas com precisão, sem nenhum erro.
Antes de mais nada, precisava deter o
xerife antes que fizesse Wolf Baker falar.
Se isso acontecesse, a cidade toda se
voltaria contra ele.
Em pouco tempo um bando de loucos se
abateria sobre o rancho, clamando por
vingança. Tinha de se apressar e mostrar
sua força 4e sua astúcia.
Se conseguisse tirar aquele xerife do seu
caminho, seria fácil continuar aterrorizando
os rancheiros, fazendo-os venderem suas
terras como havia sido planejado.
Tudo passava, então, pela morte do
xerife.
— Oliver, esta missão pode ser a mais
importante de todas a que já recebeu. Quero
selecionar um grupo de dez homens. Os
melhores atiradores e os mais rápidos
cavaleiros. Devem partir imediatamente
para a cidade e matar o xerife e Wolf Baker,
antes que eles consigam por toda a cidade
contra nós.
— Como quer que isso seja feito, patrão?
— Use tudo que estiver ao seu alcance.
Quero aquele homem morto. quero Wolf
morto. Quero a cidade aterrorizada. usem
máscara, fogo, balas, dinamite, o diabo que
for preciso, mas faça o que estou
ordenando, Oliver. Não se arrependerá
disso, eu prometo —a firmou Stanley e seu
rosto tinha um brilho insano e preocupado.
— Pode contar comigo, patrão —
prometeu Oliver, deixando a casa.
Seus homens o esperavam do lado de fora
da casa.
— Tenho uma missão importante e vou
precisar de dez de vocês. Vou apontar cada
um. Peguem os melhores cavalos, toda a
munição que puderem carregar, inclusive
dinamite tochas. Haverá um prêmio pelo
trabalho desta noite e eu garanto
pessoalmente que ninguém se arrependerá
de estar comigo fazendo-o.
— O que será afinal, Oliver — indagou
um deles.
— Vamos invadir a cadeia e matar o
delegado e Wolf Baker, antes que o dia
amanheça, rapazes.
Um silencio pesado se abateu sobre o
grupo. Todos ficaram na expectativa da
escolha. Oliver foi caminhando entre eles,
fazendo a escolha.
Cada cavalheiro apontado corria para o
curral para escolher um dos melhores
cavalos, antes de ir ao deposito apanhar
armas, tochas e dinamite.
Do alpendre da casa, Stanely observava
tudo com satisfação. Tinha poder e
dinheiro. Isso comprava tudo, inclusive
homens para morrerem em seu lugar ou
fazerem o trabalho sujo que ele não tinha
coragem de fazer.
Quando retornaram à cidade, não havia
ninguém nas ruas de Milles City. Os pálidos
lampiões jogavam uma claridade suja na
poeira que se levantava à passagem dos
animais extenuados.
Diante da cadeia, Colorado se
surpreendeu ao ver Anne, sentada numa
cadeira, esperando-os.
— Graças a Deus estão vivos —
murmurou ela, observando os semblantes
cansados e tensos dos homens da lei.
— O que faz aqui? — indagou Colorado,
parando diante dela e mergulhando na paz
daquele olhar feminino e sedutor, tão cheio
de ternura e calor.
Naquele momento, depois de tudo que
havia passado naquele dia, Colorado daria
tudo para abraçar aquele corpo de mulher e
esquecer o perigo e a fatalidade que o
acompanhara.
— Vim lhe trazer comida. Deixei lá
dentro, sobre o fogão. Há o bastante para
todos vocês — disse ela.
— Anne, esta foi a melhor notícia que
recebi hoje — falou Emmet, adiantando-se
e entrando antes de Faster.
Os dois se empurraram cadeia a dentro.
Momentos depois, ouviam-se os elogios e
os murmúrios de satisfação dos dois
rapazes.
— São ótimos rapazes — disse Colorado.
— Devo a minha vida a eles.
— O que conseguiu descobrir?
— Tudo e nada ao mesmo tempo — disse
ele, com expressão cansada e abatida.
— Pobre xerife! sussurrou ela, fazendo
uma carícia no rosto áspero do homem a sua
a frente.
Colorado estremeceu, arrepiando-se por
inteiro, tocado profundamente por aquela
carícia despreendida e espontânea.
— Tenho mais comida lá em casa. Por
que não vamos até lá, xerife? Pode tomar
um banho, fazer a barba, trocar de roupa —
sugeriu ela, num tom de voz irrecusável.
— Rapazes, cuidem de tudo por aqui —
pediu ele, indo até a porta.
— Onde vai, xerife? — quis saber
Emmet.
— Nem se atreva a perguntar, seu
estúpido — disse-lhe Faster, dando-lhe um
tapa na cabeça.
— O que foi que eu fiz, idiota? —
protestou Emmet.
Colorado já se afastara pela rua
silenciosa, na companhia de Anne. Um
certo constrangimento pairava entre eles,
mas, caminhando junto daquela mulher, o
homem da lei sentiu uma sensação que
havia muito tempo não experimentava.
Assim que chegaram na casa, Anne
colocou água para esquentar. Serviu um
uísque ao xerife, que, sem jeito, perambulou
de um lado para outro, enquanto ela cuidava
de tudo.
A água esquentava. A mesa foi posta. A
comida começou a ser esquentada. Anne
trouxe uma muda de roupa limpa e passada.
Colorado foi apanhar sua navalha no
alforge.
O banho ficou pronto.
— Assim que terminar, o jantar estará
pronto, xerife — falou a garota.
Só então Colorado reparou. Os cabelos
dela estavam diferentes, soltos, envolvidos
num perfume delicioso.
Anne não vestia calças de vaqueiro nem
camisa rústica, de homem. Usava um
vestido vaporoso, com um decote discreto,
mas provocante, que deixava a mostra parte
de seu colo e delineava sutilmente os
contornos rijos de seus seios.
Colorado fraquejou.
— Você está linda! — murmurou ele.
— Por que não toma um banho e faz a
barba, Bill?
— Bill? como sabe?
— Uma mulher sabe o que é importante
para ela — explicou a garota, um brilho
promissor no olhar.
Quando a garota o olhava daquela forma
e lhe dava uma ordem, Colorado jamais
deixava de obedecer. Correu para o banho
pois sabia que todos os acontecimentos
trágicos daquele maldito dia seriam
rapidamente esquecidos junto ao corpo
morno e perfumado de Anne Bosler.
A explosão abalou a cidade
inesperadamente, semeando o terror no
meio da noite.
Colorado saltou da cama, procurando por
sua arma. Anne se levantou em seguida,
acendendo o lampião.
— Você ouviu? — indagou ele, aturdido,
quando a luz invadiu o quarto.
Anne não teve tempo de responder. Uma
fuzilaria terrível se seguiu na rua principal,
como se uma guerra tivesse sido deflagrada
naquela noite.
O xerife se vestiu rapidamente. Anne
tentou segurá-lo, mas Colorado havia tido
um pressentimento.
Correu na direção da cadeia, de arma em
punho. Um bando de cavaleiros
mascarados, portando tochas, disparava
contra o que sobrara da cadeia dinamitada.
— Emmet! Faster! — exclamou ele, sem
se importar com o perigo.
Os cavaleiros haviam terminado o
macabro trabalho e partiram a galope pela
rua.
Colorado se arrastou agoniado na direção
dos escombros.
— Malditos! Mil vezes malditos! —
murmurou, enquanto se aproximava daquele
quadro de desolação.
Caiu de joelhos na poeira da rua.
Colorado Stone era um homem duro,
calejado, mas não conseguiu resistir.
Lágrimas deslizaram de seus olhos contra a
sua vontade.
Anne surgiu correndo e parou atrás dele,
abraçando-o.
— Oh, Bill! — exclamou ela, apertando
contra si o corpo dele, que tremia de
indignação, ódio, fúria, desejo de vingança.
Não havia dúvidas a respeito de quem
estava por detrás de tudo aquilo. Com
certeza Stanley Ross soubera do que
acontecera na pradaria, das mortes da
quadrilha Baker, dos patrulheiros, capangas
que vigiavam a propriedade.
A armadilha sugerida por Emmet surtira
um efeito contrário. Provocara a reação
imediata de morte e destruição.
Pessoas começaram a chegar,
aglomerando-se diante da cadeia. Os
familiares de Emmet e Faster, ao
perceberem o que havia acontecido, caíram
no desespero, lastimando em altos brandos.
As chamas que ardiam nos escombros
lançavam um jogo de sombras tenebroso no
rosto contraído de Colorado Stone.
Tinha certeza agora de que o jogo era
pesado, muito pesado. Mas não o suficiente
para um homem como ele, que já havia feito
de tudo na vida e nada mais tinha a perder,
exceto o amor de uma mulher e o conforto
de um rancho pelo qual sonhara toda a sua
vida.
Stanley Ross era a sombra que tornaria
tudo isso um pesadelo, algo que jamais ele
poderia desfrutar sem se sentir culpado.
Se Stanley sabia atacar no meio da noite,
de forma devastadora, ele também poderia
fazer isso.
Levantou-se. Anne se agarrou nele,
tentando detê-lo.
— Onde vai, querido? — indagou ela,
percebendo aquela firme e mortal decisão
nos olhos dele.
— Resolver esta situação da única
maneira possível — falou ele, com decisão.
— Como?
— Olho por olho... Dente por dente... —
murmurou ele, segurando o rosto dela entre
as mãos trêmulas. — Não se preocupe,
querida. Tenho de resolver isto a minha
maneira. Eu voltarei, eu prometo. —
afirmou ele, beijando-a levemente e se
afastando.
Stanley Ross saltitava de satisfação,
enquanto Oliver lhe contava os detalhes da
operação daquela noite.
— Não lhes dei tempo para nada —
contava Oliver. — Disparamos contra as
janelas, quebrando-as. Atiramos a dinamite
lá dentro e nos afastamos. Quando tudo
explodiu, retornamos e varremos tudo com
chumbo. Não deve ter sobrado uma viva
alma lá dentro, posso lhe garantir, patrão.
Os cavalos estavam diante da cadeia...
Três... Só três cavalos! — finalizou Oliver,
percebendo, de repente, que alguma coisa
não batia em tudo aquilo.
— O que quer dizer com isso? — quis
saber Stanley.
— Três cavalos... Três homens... O xerife
e dois ajudantes... E Wolf?
— De que está falando afinal, Oliver —
irritou-se o rancheiro.
— Pelas pegadas, três cavaleiros
chegaram e três cavaleiros partiram.
Nenhum levou carga extra. Não localizamos
Wolf e supusemos que ele tivesse sido
levado pelo xerife. Se assim fosse, deveria
haver quatro cavalos diante da cadeia e não
três...
— Não seja tão preocupado, Oliver. Na
certa um dos ajudantes foi ido para casa. Vá
repousar. Você merece. Diga aos rapazes
que amanhã receberão o prêmio pelo
trabalho.
Oliver deixou a casa pensativo e
intrigado. Depois de tudo que já acontecera,
sabia que não menosprezar o trabalho
daquele xerife.
Era um homem perigoso demais, alguém
de quem se poderia esperar de tudo.
— O patrão está satisfeito — disse aos
homens diante da casa. — Vamos
descansar. Amanhã vamos receber nosso
prêmio.
Os rapazes gritaram de satisfação e foram
para o curral, tirar as selas dos cavalos e
soltarem-nos.
Do alto de sua janela, Stanley observou
com satisfação. Livrara-se do perigo.
Poderia tranqüilizar seus sócios. Tudo
seguiria o plano pré-estabelecido.
Levantou os olhos para o céu. Em breve,
cortando o silêncio da pradaria, numa noite
de lua cheia como aquela, um novo
elemento viria se incorporar àquela
paisagem.
Uma novidade que vinha do leste,
avançando rapidamente, levando o
progresso e fazendo fortunas.
A ferrovia avançava inexoravelmente. De
Glendive, na divisa com Dakota do Norte,
ela avançaria pelas pradarias de Montana na
direção de Milles City e, dali, para Billings,
rumando para o oeste.
Quem tivesse terras no caminho do
progresso lucraria, não só com a
valorização, com o preço da desapropriação,
mas com a facilidade de transportar o gado
para os centros de consumo, no Leste.
Lamentou não ter tido capital suficiente
para ter bancado tudo aquilo sozinho.
Só que havia muito, mas muito dinheiro
mesmo em jogo. Mais do que poderia gastar
em toda a sua vida.
O que mais poderia desejar? apenas que
ninguém, mas ninguém mesmo, se
intrometesse entre ele a fortuna.
Terminou de fumar um cigarro, depois
foi para o seu quarto. Deitou-se para dormir
como um homem de bem, com todo o
futuro pela frente, sem peso nenhum em sua
consciência.
Lá fora havia um grupo de homens
sempre dispostos a fazer todo o trabalho
sujo que ele não tinha coragem de fazer.
Realmente, Oliver e seus homens eram
pagos para isso. Só que muito bem pagos.
Era nisso que o capataz pensava, após
haver tirado o arreio de seu cavalo e o
soltado no curral.
Pôs o arreio encaixado sobre a trave de
uma das baias, depois se voltou para ir para
o dormitório.
Estava ansioso por um gole de uísque.
Depois do trabalho daquela noite, tinha
certeza de que tudo ficaria mais fácil para
seu patrão.
Ao passar diante de um lampião,
percebeu um homem no fundo de uma baia,
parado.
— Vamos dormir, rapaz. Já trabalhamos
demais para uma noite — disse,
descontraído.
— Será? — respondeu o outro, num tom
de voz que fez com que Oliver se
arrepiasse.
— Quem está aí? — indagou.
O outro avançou lentamente, as sombras
cobrindo seu corpo. Gradativamente a luz
foi subindo por suas pernas, iluminando o
cinturão de pistoleiro, refletindo-se na
estrela prateada do peito.
— Quem diabos... — ia dizendo, mas
calou-se quando Colorado engatilhou o
Colt, apontando-o para a cabeça do capataz.
— Fez sua última besteira — disse o
xerife, com voz ameaçadora.
Oliver esboçou um sorriso de desafio.
— Há cinqüenta homens armados
naquele dormitório, xerife. Todos virão
correndo, assim que ouvirem o disparo de
sua arma.
— Eu duvido — comentou Colorado.
— Por quê? — insistiu Oliver,
estranhando aquele tom.
— Mortos não correm — respondeu o
xerife, retirando o relógio do bolso do
colete e olhando as horas.
Oliver olhou-o sem entender.
Repentinamente, um clarão iluminou o céu,
como se o sol resolvesse surgir no meio da
madrugada.
A explosão em seguida estremeceu o
chão. O dormitório dos capangas
simplesmente se desfez em milhões de
lascas que voaram pelos ares, iluminados
pela luz ofuscante e tétrica da explosão.
— O que foi que fez, seu maldito? —
questionou Oliver, o corpo tremendo de
espanto e indignação.
— Olho por olho, dente por dente —
sentenciou o xerife.
Oliver sabia que era seu fim, mas
resolveu arriscar suas chances.
Levou a mão rapidamente à arma. Era
rápido, muito rápido, um dos mais rápidos
que Colorado já enfrentara.
As duas armas disparam com uma fração
mínima de diferença entre ambas.
A bala disparada por Colorado atingiu o
peito de Oliver e, naquela fração de
segundo, provocou uma ligeira alteração na
mira instintiva do pistoleiro.
Colorado sentiu o calor e o impacto em
seu ombro esquerdo. O braço pesou
repentinamente.
Oliver caiu de joelhos, segurando
tremulamente o Colt em sua mão, olhando o
sangue que empapava sua camisa.
— Maldito! — balbuciou, levantando os
olhos para o xerife, percebendo o sangue
que escorria também no corpo dele. — Vai
morrer comigo — acrescentou, tentando
levantar a arma.
O chapéu voou de sua cabeça, assim
como metade de seu crânio, quando
Colorado disparou.
Oliver tombou para trás, o corpo
retorcido numa posição grotesca.
— Filho de uma cadela — murmurou
Colorado, sentindo a dor aumentar,
latejando em seu ombro.
A cabeça girou, como se a explosão ainda
fizesse o chão balançar sobre seus pés.
As coisas começavam a ficar confusas
em sua mente. Sabia que tinha uma missão
a cumprir, mas havia perdido todo o senso
de direção, após a bala.
As forças começavam a se esvair,
juntamente com o sangue que já gotejava
em suas botas.
Virou-se, na direção da entrada da
estábulo. Percebeu um vulto caminhando na
sua direção.
— Que diabos fiz para merecer um
demônio como você em minha cola? —
indagou Stanley, engatilhando a
Winchester.
Longos anos de condicionamento e
reflexos treinados se fizeram senti naquele
momento.
O estalido metálico de uma arma sendo
engatilhada sempre provocara em Colorado
uma mesma reação.
O senso de defesa e de preservação falou
mais alto. Inicialmente ele procurou sair do
campo de tiro, jogando-se para o lado.
A bala assobiou a centímetros de sua
cabeça, enquanto ele caía atordoado,
Colorado sentiu a arma escapar de sua mão.
Rastejou, então, por entre as baias,
sentindo seu corpo perder rapidamente as
forças.
— Ora, xerife! Que pena! Perdeu sua
arma — comentou Stanley, com satisfação,
vendo o que ocorrera. — Quanto tempo vai
suportar? Está ferido, perdendo sangue.
Suas forças o estão abandonando, xerife.
Logo estará a minha mercê... — continuou
Stanley, com zombaria e arrogância, seguro
de si.
Rastejando por entre as fezes dos
animais, evitando os pisões dos cavalos
assustados, Stone, só conseguia pensar em
Rock, com a cabeça decepada, e em Emmet
e Faster, três bons rapazes.
A voz irritante e zombateira de Stanley
era como um ferro em brasa ardendo em seu
coração.
— Não adianta fugir, xerife! Você está
em minhas mãos — disse Stanley, voltando
a engatilhar a Winchester.
Como sempre, aquela seqüência metálica
sempre provocava uma reação inesperada
em Colorado Stone.
Clac!
A cápsula deflagrada saltava longe.
Clec!
A alavanca recuava. A chapa metálica se
embutia à frente do gatilho, deixando a
arma pronta para o disparo.
Dentro dela, o mecanismo já instalara
uma outra bala no percursor.
Bastava puxar o gatilho e o projétil
surgiria pelo cano, carregando a morte.
Colorado sentiu o cabo do ancinho em
sua mão. Era sua arma. Era a única arma ao
seu alcance.
Stanley arregalou os olhos, surpresos. O
tridente rasgou seu peito num barulho
enjoativo e brutal.
Diante dele, com o peito coberto de
sangue, Colorado Stone movia o cabo de
ancinho para cima e para baixo, alargando
as feridas.
O ferimento havia sido profundo e
Colorado perdera muito sangue. Por longos
dias ele lutou contra a morte, numa cama,
sendo assistido por um anjo.
Anne não se desgrudava do leito dele,
atormentando-se com os delírios que o
tomavam de assalto.
Havia muitas fantasmas na vida do
delegado Colorado Stone. Em sua febre, ele
tentava exorcisá-los e, ao mesmo tempo,
superar o ferimento e voltar à vida.
Em momento nenhum Anne esmoreceu.
Tinha plena convicção de que ele iria
superar a doença.
Tornara-se importante demais para ela.
Precisava dele como precisava do ar que
respirava. Sem ele, nada mais teria sentido,
já que perdera sua casa e sua família.
Colorado era a chance de recomeçar tudo
em sua vida. Para ele, em seus pesadelos,
havia a nítida sensação de que os
verdadeiros culpados por tudo aquilo ainda
não haviam sido punidos.
Tinha consciência de que matara Stanley
Ross, mas as palavras zombeteiras de Wolf
ecoavam em sua mente, no delírio da febre.
Quem eram os sócios? O que havia por
detrás de tudo aquilo?
Noites e dias de tormento se sucederam,
enquanto ele oscilava entre a vida e a morte.
Sua constituição robusta, no entanto,
prevaleceu. A febre começou a ceder,
graças aos cuidados de Anne.
O sono atribulado e atormentado foi
sendo substituído por um descanso
benéfico.
Finalmente, numa fresca manhã de
outono, Colorado Stone recuperou
definitivamente a consciência.
Passeou os olhos por aquele quarto que
ele desconhecia. Viu Anne adormecida
numa cadeira, ao lado da cama.
— Anne! — murmurou ele e,
imediatamente, ela abriu os olhos.
E ao vê-lo desperto, os olhos dela
marejaram.
— Oh, Bill! Graças a Deus! — exclamou
ela, caindo de joelhos ao lado da cama.
— O que houve? — indagou ele,
aturdido.
— Você foi ferido... Esteve entre a vida e
a morte... Nós o encontramos no rancho
Ross, naquela noite...
— Há quanto tempo estou nesta cama?
— Muitos dias, querido. Muitos dias! —
suspirou ela, abraçando-o e começando a
chorar.
— Calma, Anne! Estou vivo! Não precisa
chorar agora — consolou-a ele, acariciando-
lhe os cabelos.
— Temi por você, Bill.
— Agora estou bem. Acho que as coisas
se resolveram, não?
Ela hesitou, antes de responder, dando a
entender que todo aquele trabalho fora em
vão.
— O que há, Anne?
— Está tudo começando de novo,
Colorado. Uns homens chegaram do Leste,
reclamando a propriedade do rancho de
Stanley Ross, Voltaram a fazer ofertas para
compra dos ranchos dos pequenos
proprietários. Homens mal encarados
começaram a chegar à cidade.
— Malditos! O que há por trás disso
tudo? — indagou o xerife, intrigado.
— Não pense nisto agora. Descanse.
Recupere-se. Poderá se preocupar com tudo
depois que estiver bom.
Colorado respirou fundo, sentindo que
nada estava resolvido. No entanto, nada
havia que pudesse fazer naquele estado.
Seguindo os conselhos do médico e sob
os cuidados de Anne, ele rapidamente foi se
recuperando.
Em uma semana conseguia se pôr em pé.
Alguns dias mais tarde já pode caminhar
pela cidade. Quinze dias depois já
cavalgava e podia exercitar o saque e o
disparo, nos arredores da cidade.
Certa tarde, quando retornava após haver
treinado sua pontaria, foi chamado pelo
prefeito.
— Tome, acho que isto resolve tudo —
disse o maioral da cidade entregando-lhe
um envelope.
Intrigado, Colorado o abriu. Havia
dinheiro lá dentro. Muito dinheiro. Mais do
que o combinado.
— Há dois mil dólares pela captura dos
Bakers, mil dólares que encontramos nos
escombros da cadeia, mais mil de
bonificação e outros dois para compensar
todo esse tempo que esteve de cama, xerife.
Com isso está liberado, com a gratidão da
cidade.
Colorado o olhou desconfiadamente.
— Estou sendo despedido? — indagou.
— Fez o seu trabalho e, diga-se de
passagem, muito bem feito. É digno de
todos os elogios. A cidade lhe será
eternamente grata, xerife. Quando pretende
partir?
Colorado não estava preparado para
aquela decisão. Havia a hacienda em Las
Cruces, com um gancho na parede onde
penduraria as suas armas.
— Assim que me recuperar totalmente,
entregarei o distintivo e partirei.
— Não precisa se apressar. Estamos
convocando novas eleições para xerife,
dentro de quinze dias. Até lá, sinta-se em
casa.
Colorado agradeceu e voltou para casa.
Sentou-se no alpendre e acendeu um
cigarro. Anne surgiu, trazendo-lhe uma
xícara de café. Algumas mulheres passaram
diante deles, cochichando com desprezo,
olhando-os de soslaio.
Colorado percebeu isso, assim como a
garota, que ficou constrangida.
— Não vêem com bons olhos nós
morarmos juntos, querida — comentou ele.
— Eu não me importo...
— Mas eu sim. Recebi minha demissão
ainda há pouco do prefeito. Pagou-me e me
desejou boa sorte. Posso partir no momento
em que desejar.
Os olhos dela brilharam de expectativa.
— Recebi uma oferta pelo rancho hoje...
Acho que vou vender.
— Daquela gente que você falou?
— Não, foi de George Flannagan, meu
vizinho. A irmã o cunhando chegaram do
Leste para se estabelecer aqui e decidiram
comprar o meu rancho. A oferta é justa.
Colorado pensou por instantes.
— Quer ir comigo para Las Cruces? —
convidou ele.
— Pensei que nunca fosse me convidar
— exclamou ela, ajoelhando-se ao lado dele
e depositando a cabeça sobre as coxas do
homem da lei.
Colorado ficou acariciando os cabelos
dela, enquanto seus olhos acompanhavam a
movimentação na rua.
Alguns homens de terno, juntamente com
o xerife, deixaram a prefeitura e
caminharam pela rua principal até o banco.
— Conhece aquela gente? — indagou
ele, apontando-os.
— São os homens que estão comprando
as terras por aqui.
Os olhos do xerife brilharam
repentinamente.
— Falando em terras, o que houve com o
rancho de Stanley Ross?
— Pelo que sei, foi confiscado pelo
Banco. Havia uma dívida que ninguém sabe
qual. Só sei que o negócio parece ter sido
honesto, pois foi o prefeito quem cuidou de
tudo.
Em algum lugar, de alguma forma, dentro
do cérebro do homem da lei, algumas peças
começaram a se encaixar.
— O cunhando de George Flannagan
ofereceu metade do dinheiro agora e a outra
metade em um ano — comentou Anne, mas
Colorado não a ouviu inteiramente.
Estava atento, acompanhando a chegada
da diligência. Isso o fazia se lembrar de
algo, embora não soubesse exatamente o
que era.
A garota se apressou em atender.
Retornou em seguida, com uma carta na
mão.
— É para você... Vem de Washington —
comentou ela, entregando-a.
Colorado se lembrou, então. Havia
mandado uma carta ao seu ex-chefe,
pedindo algumas informações.
Abriu-a avidamente e a leu. Seu
semblante se alterou. Anne percebeu isso de
imediato.
— O que houve, querido? Más noticias?
Colorado entregou-lhe a carta. Enquanto
Anne lia ele foi até a sala e apanhou o
cinturão, prendendo-o à cinturão.
Verificou a arma. Estava carregada. O
Colt retornou ao coldre, pronto para agir.
Anne foi ter com ele.
— Isso explica tudo — comentou ela e,
ao ver o cinturão preso à cintura dele,
empalideceu. — O que vai fazer?
— Terminar o que comecei, querida.
Acha que pode por tudo que pretende levar
numa carroça? — indagou ele.
— Não tenho muito o que levar.
— Passaremos ao rancho Flannagan para
fechar o negócio. Assim que eu terminar o
trabalho, nós partiremos — disse ele.
Anne viu decisão, coragem e uma
vontade férrea no olhar daquele homem.
Embora temesse por ele, sabia que nada no
mundo o demoveria de seu intento.
— Querido— chamou ela, quando ele se
voltou, pronto para abrir a porta.
— Sim? — respondeu ele, olhando-a
longamente.
— Tenha cuidado — murmurou ela, num
sopro de voz.
— Terei. Espere-me preparada para
partir. Temos um longo caminho pela
frente.
— Estarei pronta — confirmou ela.
Colorado caminhou pela rua principal,
silenciosa e mal iluminada.
O único sinal de vida vinha do saloon,
onde viu o prefeito e seus comparsas
entrando, após o que parecia ter sido uma
reunião no banco.
Havia pouco movimento no
estabelecimento. Os homens que ele
procurava festejavam numa sala reservada,
com as melhores mulheres do local.
Assim que entrou, Colorado contou-os.
Eram seis homens de terno. Homem de
ambição, dispostos a tudo.
Conhecia o prefeito. Também o gerente
do banco. Não sabia quem eram os outros
quatro.
Havia seis homens festejando ali dentro,
assim como havia seis balas no seu
revólver.
Sua expressão intimou as garotas, que,
farejando encrenca, saíram rapidamente.
— Lamento não tê-lo convidado, xerife.
É uma festa particular, mas já que está aqui,
venha festejar conosco — foi dizendo o
prefeito, levantando-se e caminhando na
direção dele.
Colorado pensou em Rock, em Emmet e
em Faster. Lembrou-se dos vaqueiros
mortos no rancho de Anne e do terror que
havia sido instalado ali.
O sorriso cínico do prefeito não o
convenceu. Sem poder se conter, Colorado
golpeou-o fortemente na boca, fazendo-o
engolir fragmentos de dentes, enquanto
tombava sobre a mesa farta e ricamente
servida.
Os outros homens se puseram em pé
rapidamente. Sob os paletós Colorado viu
faiscarem armas de coronhas trabalhadas e
corpos cromados.
— A ferrovia explica tudo, não? — falou
ele.
— O que sabe sobre a ferrovia? —
retrucou um dos homens, surpreso.
— O bastante para jogar toda a cidade
contra vocês, seus bastardos gananciosos —
respondeu.
— Jamais permitiremos que faça isso.
— E como pretendem me impedir?
A resposta foi muda, mas muito
significativa. Os homens se espalharam pela
sala, diante de Colorado, procurando
dificultar sua ação.
O ex-delegado já estivera em situação
como aquela. Sondou os rostos dos homens
a sua frente.
— Por quê? Por que tanta morte, tanta
destruição? — indagou, sem entender as
razões que moviam homens como aqueles.
— É o progresso... É a riqueza... As
oportunidades que não podem ser
desperdiçadas... — respondeu um deles.
— E as vidas humanas? De nada valem?
— São peões num jogo de poderosos, seu
bastardo — disse o prefeito, cuspindo
sangue e adiantando-se um passo. — Acha
que pode lutar contra isso? Acha que pode
lutar contra nós? É um homem morto,
Colorado.
— Muitos já tentaram isso antes, prefeito.
Hoje moram na colina dos pés juntos —
disse o xerife.
O que tinha a fazer não livraria o oeste de
gente como aquela, que o explorariam até a
exaustão.
O que tinha a fazer era ditado por sua
consciência, por sua coragem, por sua vida
de homem da lei.
A seqüência era sempre a mesma em sua
mente, onde os reflexos rápidos decidiam
quem vivia ou morria.
Colorado soube medir os movimentos de
cada um daqueles homens. Atirou nos mais
rápidos primeiro. Uma bala para cada um.
Não podia se dar ao luxo de errar.
Foram seis disparos sucessivos, sem que
seus oponentes disparassem uma vez.
Quando a fumaça se dissipou, ele teve
certeza de que fizera a sua parte. Rock,
Emmet e Faster, em algum lugar no céu,
deveriam estar agradecendo-o pela
vingança. Uma aglomeração se formou à
porta da sala. Colorado soube então, que
teria que contar muita coisa ao pessoal da
cidade, antes de partir com Anne.
Uma hacienda em Las Cruces o esperava.
Uma hacienda e uma mulher.
Terra da Discórdia
Antes do amanhecer, o Capitão Dave
Byron, dos Texas Ranges, já deixara a
cidade. Levava uma estrela de metal
espetada na capa de viagem e todas as suas
armas consigo. Além dos dois Colt
Peacemaker na cintura, levava um rifle
Winchester e uma cartucheira Overland, de
dois canos, uma arma em cada lado da sela,
em coldres de couro especialmente
montados por um celeiro de El Paso.
Galopou na direção de um rancho, local
onde poderia encontrar o homem que
procurava. Era o tipo de missão que o
aborrecia. Enquanto os outros oficiais eram
encarregados de casos mais complicados e
perigosos, davam-lhe aquele tipo de
trabalho.
Alguém não confiava em seu trabalho e
isso o aborrecia muito.
Chegou lá quando os vaqueiros se
levantavam e dirigiam-se para o refeitório.
— Onde posso achar Elb Porter? —
indagou a um vaqueiro que passava
apressado, na direção do seu café da manhã.
— Se ficar aqui, vai vê-lo passar. É o
único idiota neste lado do Rio Grande que
usa um cinturão com dois coldres, como se
fosse um pistoleiro perigoso.
— Duas armas?
— Eu lhe disse que ele era um idiota.
Para que um vaqueiro precisa de duas
armas? — confirmou o rapaz, afastando-se.
O policial não precisou esperar muito.
Logo um dos vaqueiros, com um cinturão
com duas armas, saiu pela porta do
dormitório.
Era um tipo magro, todo vestido com
couro negro e aquele cinturão com coldres
baixos, onde balançava um par de pistolas
Smith & Wesson, modelo Scolfield, com
elegantes coronhas de madrepérola.
Quando avançou, Dave pôs seu cavalo no
caminho dele.
— Quem é você? O que pensa que está
fazendo? — indagou ele, com arrogância,
sem perceber a estrela.
Dave havia tirado a espingarda Overland,
de canos duplos, ocultando-a sob a capa.
— Você tem uma conta para acertar e
estou aqui para cobrá-la — disse-lhe Dave,
mostrando-lhe a estrela.
O vaqueiro sorriu com cinismo e ia dizer
alguma coisa. O ruído dos gatilhos da
espingarda alertou-o. Os dois canos
surgiram discretamente, apontados para ele.
— Tenho pressa e gostaria de resolver o
assunto o mais depressa possível e com um
mínimo de sangue e de sujeira. Cada vez
que aperto os gatilhos desta beleza aqui,
alguém me acusa de estar sujando o mundo.
Na verdade, detesto ficar espalhando merda
nas paredes, mas se você quiser, vai ser um
prazer para mim — falou friamente o
Ranger.
— Do que está falando? — indagou o
cowboy, num fio de voz.
— Falo de uma maldita dívida de cem
dólares que deixou no armazém da cidade,
justamente pela compra desse par de
porcarias que trás pendurado nos quadris.
Lembra-se disso?
Elb engoliu seco. A expressão daquele
ranger, seu tom de voz e aquela espingarda
não lhe davam muita escolha.
— Espere um pouco... Não tenho esse
dinheiro... Mas tenho dez bons cavalos...
Posso dá-los pela dívida. Valem mais do
que dez dólares. Estão lá no curral. Terá de
pegá-los — falou o vaqueiro.
— Não, vaqueiro, o devedor aqui é você.
Vá lá e os pegue. Amarre todos eles pelo
pescoço numa só corda e os traga para mim.
Vou levá-los para a cidade. Se o dono do
armazém aceitar, está resolvida a questão.
Se não, eu volto atrás de você. E,
sinceramente, detesto este tipo de trabalho.
Ele me aborrece e me irrita, por isso torça
para que ele aceita sua oferta. Agora vamos
cuidar disso logo.
— Ei, Elb, algum problema? — indagou
um de seus amigos.
— Não, está tudo tranqüilo por aqui. Só
estamos negociando alguns cavalos —
explicou Dave. — Não é mesmo, Elb.
— Sim, claro — concordou ele,
caminhando na direção do curral.
Enquanto ele reunia os cavalos, Dave
mantinha-o sob a mira da arma. Quando
terminou, pegou a ponta da corta e prendeu
no arção de sua sela.
— Quer assinar um recibo agora? Fará a
transação ficar legalizada, se o dono do
armazém aceitar — exigiu Dave Byron.
A maneira como Elb o olhava e abria e
fechava a mão indicava que o vaqueiro
estava indignado por ter de fazer aquilo.
Dave Byron sabia que aquilo não ficaria
barato, por isso, assim que se afastou do
rancho, resolveu pôr-se na defensiva.
Escolheu um bom lugar de onde pudesse
observar o rancho e de onde pudesse
preparar uma emboscada para algum
perseguidor que, com certeza, viria atrás
dele.
Desmontou, amarrou bem os cavalos e
apanhou sua Winchester, subindo no alto
das rochas. Esperou pacientemente. Sabia
que em breve uma nuvem de poeira
indicaria que Elb Porter e seus amigos
estavam a caminho.
Não teve tempo nem de enrolar um
cigarro. Um bando de vaqueiros surgiu na
curva do caminho, vindo da direção do
rancho. Pela rapidez e decisão com que
cavalgavam, não havia como duvidar de
suas intenções.
Dave engatilhou sua arma. Elb era um
alvo fácil, na frente dos outros, com um
chapéu branco, de abas bem largas, que
tremulavam ao vento, enquanto ele
esporeava seu cavalo.
Dave mirou cuidadosamente e apertou o
gatilho. Elb julgou que o vento tivesse
arrancado o chapéu de sua cabeça. No
momento seguinte, quando o eco do tiro
soou pela planície, percebeu que fora algo
mais perigoso que isso.
— Emboscada! — gritou e o bando
espalhou-se.
Dave mirou de novo, com toda calma,
quando viu Elb desviando-se para a direita.
Detestava fazer aquilo, mas não tinha
alternativa.
— Sujeito idiota! — praguejou ele,
quando apertou o gatilho e viu o cavalo
montado por Elb dobrar as patas da frente e
girar sobre si mesmo algumas vezes,
enquanto o vaqueiro era atirado na poeira.
Alguns vaqueiros atiraram a esmo, na
direção nas rochas. Dave visou um deles e
arrancou-lhe o chapéu da cabeça com um
balaço.
Fez o mesmo com mais dois ou três,
depois, dando-se por satisfeito, foi apanhar
os cavalos e ir embora.
Sabia que a coragem daqueles vaqueiros
havia sido posta violentamente à prova.
— Bastardo, filho da mãe! — berrava
Elb, todo sujo de poeira, olhando seu
cavalo.
O tiro fora certeiro. O animal não sofrera.
Estava morto, quando caiu.
— Seu chapéu, Elb — disse-lhe um dos
amigos, aproximando-se e entregando-o.
O vaqueiro olhou o buraco de bala pouco
acima de onde estava sua cabeça e engoliu
em seco.
— É um belo furo, Elb e tenho certeza
que não foi por acaso. Se ele quisesse, não
teria apenas ventilado seu chapéu — falou
outro e todos concordaram com acenos de
cabeça.
— O que estão esperando, seus
bastardos? Ele está indo embora. Temos que
ir no encalço dele. Está roubando meus
cavalos... — protestou ele.
— Elb, se quiser, eu lhe empresto meu
cavalo para você ir atrás dele, mas eu não
vou. Aquele homem atira demais. Viu o que
fez no seu chapéu. Viu o que fez com o
cavalo... — ponderou um deles.
— Ele não atira bem... Não se deixem
impressionar...
Um dos vaqueiros, com o dedo indicador
enfiado no buraco feito na copa do seu
chapéu, mostrou-o a Elb.
— Não seja estúpido, Elb. Se ele
quisesse, teria acertado minha cabeça —
disse ele.
— Maldição! — praguejou Elb, atirando
seu chapéu no chão e pisando-o, num
acesso de raiva.
Nada havia a ser feito a não ser amargar o
prejuízo. No fundo, reconhecia que seus
amigos tinham razão.
Aquele homem que o fora procurar tinha
a morte nos olhos. Seria loucura ir atrás dele
agora e tentar enfrentá-lo abertamente.
Sabia que não teria chance.
Afinal, aquele era um maldito Ranger do
Texas.
O dia avançava lento na cidade
empoeirada, naquele verão quente. Até
alguns dias antes, tudo estivera
sinistramente parado e pouca gente se
atrevia a sair às ruas e enfrentar o calor.
Agora, repentinamente, os homens
haviam começado a chegar, trazendo
dinheiro em suas carteiras, ocupando os
quartos vazios do hotel, comprando armas
novas e munição no armazém, fazendo o
dono do saloon abrir um novo barril de
uísque.
As poucas garotas do saloon tinham
agora trabalho. Elas se revezavam no
trabalho de dar àqueles homens um pouco
de diversão naquela cidade parada.
Ninguém se importava com o que eles
teriam vindo fazer ali. A maioria olhava
para eles e via apenas a cor do dinheiro.
Ninguém se atrevia a perguntar.
— Há dias que eles chegam, já observou?
— indagou Tim Arnold, o ferreiro, a Luther
Malory.
O dono do armazém coçou o queixo,
antes de responder:
— Sim e não vejo nada de errado. É bom
para a cidade um pouco de movimento.
- Concordo com você. Eles chegam,
gastam e não causam problemas, mas acho
que são todos pistoleiros.
— Pistoleiros? Que tolice, Tim.
— E por que não? Olhe para aqueles dois
na porta do saloon. Veja o modo como
observam as pessoas, a maneira de portar a
arma no coldre...
— Não quer dizer nada. Muitos viajantes
passam por aqui.
— Mas nunca tantos ficaram tanto tempo.
Parecem estar se agrupando.
— Tolice! — exclamou o dono do
armazém, indo atender a um freguês.
Tim Arnold atravessou a rua e se dirigiu
ao local onde trabalhava.
Naquele momento três homens entravam
na cidade. Não se pareciam com pistoleiros
e usavam roupas de cavalheiros.
Desceram a rua calmamente, parando
diante do Escritório de Terras, onde se
entreolharam.
Só então desmontaram. Um deles entrou
na frente. Os outros dois ficaram do lado de
fora, olhando para a entrada da cidade.
— Em que posso servi-lo? — indagou
Milan Dewar.
— Meu nome é Arbuckle Miles e preciso
de algumas informações, Sr...
— Milan Dewar.
— Sim, Sr. Dewar. Gostaria de saber a
quem pertencem as terras marcadas aqui no
mapa — falou Arbuckle Miles,
desdobrando um papel que trazia no bolso.
— Posso saber qual seu interesse nestas
terras? — indagou Milan.
— Gostaria de comprá-las.
— Comprá-las? — riu Milan, com
surpresa. — Não valem grande coisa. Afora
um ou dois ranchos, aquela terra é
praticamente imprestável para qualquer
coisa que se possa imaginar.
— Não me importo com isso. Poderia me
fornecer uma lista dos proprietários?
— Sim, claro, se aguardar um pouco.
— Não tenho pressa — disse Arbuckle,
sentando-se.
Milan apanhou o mapa e começou a
assiná-lo, enquanto escrevia em uma folha
de papel.
— Vou numerar os lotes no mapa. Ficará
mais fácil para entender a relação.
— Obrigado, Sr. Dewar.
Enquanto Milan Dewar elaborava a
relação, os dois homens que estavam à porta
entraram.
Um deles disse a Arbuckle:
— Ele acaba de chegar.
— Ótimo, logo terminarei aqui.
— Quer que ele reuna o pessoal?
— Depois que se instalar. Quero que tudo
seja muito discreto. Não quero chamar a
atenção demais.
— Direi isso a ele.
— Sim, faça isso.
Momentos depois a relação estava pronta.
Antes de entregá-la, Milan Dewar indagou:
— Posso lhe perguntar o que pretende
fazer com aquelas terras?
— Criar cavalos — disse Arbuckle,
estendendo a mão para apanhar a relação.
Milan sorriu de modo especial, retendo a
relação em suas mãos.
Arbuckle ficou sério, demonstrando que
não apreciara aquele gesto.
— Algum problema, Sr. Dewar? —
indagou Arbuckle.
— Verá, pela relação, que parte daquelas
terras me pertencem, Sr. Miles. Herdei-as
de meu avô e até alguns minutos atrás eu as
venderia por qualquer preço.
— E o que o fez mudar de idéia?
— Ninguém precisa de tanta terra para
criar cavalos, Sr. Miles — falou Milan, com
ironia.
— O quer dizer com isso?
— Que estou farejando mais que um bom
negócio.
— Escute aqui, Sr. Dewar: se não quer
vender suas terras é problema seu. Agora, se
não se importa, poderia me entregar a
relação?
— Além disso, tenho a opção de compra
da maioria daquelas terras. O pessoal anda
louco para vender e achou que seria mais
fácil deixando tudo em minhas mãos.
— Falarei com todos eles. A menos que
compre todas aquelas terras, creio que os
proprietários estarão dispostos a negociar
comigo — ponderou Arbuckle.
— Acontece que posso comprar todas
aquelas terras.
— E por que faria isso?
— Porque tenho em você um comprador
em potencial.
— Não gosto de seu modo de agir, Sr.
Dewar.
— Por que não somos sinceros um com o
outro? Qual é o seu verdadeiro interesse
naquelas terras?
— Já lhe disse, pretendo criar cavalos e...
— Não me engana, Sr. Miles. A menos
que fale francamente, ficará sem as terras.
— Vou correr o risco. Dê-me a relação.
— Cinco dólares pelo trabalho.
Arbuckle Miles pagou os cinco dólares,
saindo aborrecido. Lá fora, um dos homens
lhe indagou:
— Alguma coisa errada?
— Sim, o sujeito aí quer dar uma de
espertinho. Parece que farejou alguma
coisa.
— Ele pode causar algum tipo de
problema?
— Sim, ele pode.
— Podemos cuidar dele.
— Não, não seria bom começar algo
assim. É preciso que tudo seja feito
discretamente, nada que possa alarmar a
população e levá-los a descobrir o
verdadeiro motivo porque desejamos as
terras.
— Como faremos, então?
— Você e Dam irão visitar os
proprietários. Aqui está a relação e o mapa.
Eu estarei no hotel. Sinto-me um pouco
cansado. — Está bem, repouse então. Eu e
Dam cuidaremos disso — falou Wilde
Miles, irmão de Arbuckle.
— Seja discreto com os proprietários.
Não demonstre muito interesse.
— Não se preocupe, irmão. Já estudamos
isso em cada mínimo detalhe. Não vamos
perder essa chance.
Arbuckle se despediu do irmão e de Dam,
indo para o hotel, onde se hospedou.
No saloon, um pistoleiro chamado Ryle
Jenkins jogava raivosamente sobre a mesa
as cartas que tinha nas mãos, dizendo:
— Vá para o inferno você e sua sorte,
Greg!
— O que há, Ryle? Parece nervoso.
— Sim, estou farto dessa espera. Quero
ação! — gritou o pistoleiro, sacando a arma.
— Sossegue, homem. Você sabe das
ordens.
— Ao diabo com as ordens! — gritou
Ryle, disparando contra algumas garrafas na
prateleira.
O barman se abaixou atrás do balcão. As
pessoas ali presentes fugiram, buscando a
saída.
— Pare com isso, Ryle! — ordenou Greg.
— Cale a boca você também — disse
Ryle, voltando a arma para o amigo.
— Vá com calma, não gosto de
brincadeiras assim — avisou Greg.
— O que vai fazer, então? — indagou
Ryle, engatilhando a arma bem diante dos
olhos de Greg.
Naquele instante, um homem entrou no
saloon, de armas na mão.
Trazia uma estrela de xerife no peito e
parecia decidido a resolver o problema.
— Ponha essa arma sobre a mesa e se
levante — ordenou o homem da lei.
Ryle voltou o rosto para encarar o xerife,
sem soltar a arma, no entanto.
— O que há, xerife? Não fiz nada de
errado. Há alguma lei contra se divertir um
pouco?
— Discutiremos isso mais tarde. Agora
solte essa arma.
Ryle sorriu, sem obedecer a ordem.
Alguns homens surgiram à porta.
Um deles olhou ferozmente para Ryle,
que estremeceu, depositando a arma sobre a
mesa.
— Muito bem, agora vamos conversar
sobre o que houve — falou o xerife, se
aproximando.
— Pode deixar que eu cuido disso, xerife
— falou o homem que olhara para Ryle.
— Você conhece esse maluco? — quis
saber o xerife.
— Sim, ele trabalha para mim. Eu cuido
dele, não se preocupe. Pagarei pelos
prejuízos e prometo que isso não se repetirá.
O xerife olhou para o barman, indagando:
— Está bem para você?
— Claro, xerife.
— Está certo, mas da próxima vez vou
trancá-lo até que se acalme — avisou o
xerife, guardando as armas e se retirando.
O recém-chegado foi até o balcão e
pagou os prejuízos. Assim que o barman
recolheu as notas, ele indagou:
— Há algum lugar onde se possa
conversar em paz?
— Naquela porta ali, leva a uma sala nos
fundos — informou o barman.
— Obrigado! — respondeu o recém-
chegado, indo até a mesa onde estava Ryle.
— Olá, Wyoming! — cumprimentou
Ryle.
— Venha comigo! — ordenou Wyoming,
dirigindo-se para o local indicado pelo
barman.
Ryle olhou para os outros homens que
haviam chegado com Wyoming, depois
apanhou sua arma e a pôs no coldre.
— Venha! — insistiu Wyoming, à porta
da sala dos fundos.
Ryle caminhou até lá.
— Entre! — ordenou Wyoming.
O pistoleiro sorriu cinicamente, depois
entrou. Wyoming entrou em seguida,
fechando a porta.
— Não queria estar na pele de Ryle agora
— comentou um dos homens do lado de
fora.
— Ele bem que merece uma lição —
falou Greg.
Dentro da sala havia uma mesa com duas
cadeiras.
— Sente-se! — ordenou Wyoming.
— Até quando pensa que vai continuar
me dando ordens? — replicou Ryle, furioso.
A resposta foi um potente murro que o
atingiu no nariz. Ryle foi jogado contra a
parede.
O sangue escorreu de suas narinas. Ele
esfregou a manga da camisa no rosto,
depois olhou surpreso para Wyoming.
— Você sabia das recomendações. Nada
de criar caso ou chamar a atenção, seu
idiota.
— Acontece que eu... — ia dizer Ryle,
mas o punho de Wyoming enterrou-se em
seu estômago, fazendo-o tossir.
Antes que Ryle pudesse recobrar o
fôlego, o punho de Wyoming bateu contra
seu queixo secamente, fazendo-o arregalar
os olhos e cair pesadamente para trás.
Com raiva, Ryle apanhou uma cadeira,
mas antes que a pudesse atirar contra
Wyoming, este o atingiu com um pontapé.
Ryle urrou de dor, contorcendo-se no
assoalho. Wyoming o agarrou pela camisa,
fazendo-o ficar em pé.
Depois o golpeou novamente no
estômago. Ryle gemeu, subjugado.
— Pare! — pediu ele, ofegante.
Wyoming o empurrou contra a parede,
onde o pistoleiro ficou apoiado com
dificuldade.
— Eu o avisei antes, Ryle. Ainda quer
continuar conosco? — indagou Wyoming,
esfregando o punho com que golpeara Ryle.
— Sim, quero.
— Então vou avisá-lo pela última vez:
meta-se novamente em uma encrenca e eu o
matarei a pancadas. Entendido?
— Certo, Wyoming, você manda.
Wyoming abriu a porta e deixou a sala.
Ryle firmou o corpo, fazendo uma careta.
Em seus olhos havia ódio, demonstrando
sua disposição de se vingar na primeira
oportunidade.
Wyoming deixou o saloon, indo
diretamente para o hotel, onde se avistou
com Arbuckle Miles.
— O que houve lá no saloon? — quis
saber Miles.
— Aquele idiota do Ryle, nervoso
novamente.
— Eu sabia que aquele imprestável só
nos traria aborrecimentos.
— Não se preocupe com ele, dei-lhe uma
boa lição.
— O xerife esteve lá, não?
— Sim, mas eu o descartei.
— Como é ele?
— Do tipo durão.
— Eu já esperava por isso.
— Como vai agir com ele?
— Do modo como combinamos.
— Acha que ele se venderá?
— Todo homem tem seu preço,
Wyoming. Você sabe que eu sou
especialista em comprá-los.
— Assim espero, ou teremos um bocado
de complicações.
— Não se preocupe com isso. Amanhã
conversarei com o xerife. Garanto que ele
virá para o nosso lado.
— Onde estão Wilde e Dam?
— Foram à procura dos proprietários das
terras.
— Então está tudo correndo bem...
— Talvez tenhamos complicações com
Milan Dewar, do escritório de Terras.
— Como assim?
— Quis dar uma de esperto. Farejou um
negócio.
— Basta comprá-lo...
— Ou silenciá-lo. Depois verei o que
deve ser feito. Agora, por favor, preciso
repousar. Estou muito cansado.
— Certo Arbuckle. Estarei no saloon.
Vou ver como está todo o pessoal.
Após a saída de Wyoming, Arbuckle se
deitou para descansar, só se levantando após
o anoitecer, quando Wilde e Dam Hodgson
retornaram.
— Como foi tudo? — indagou Arbuckle.
— Mais difícil do que esperávamos —
informou Wilde.
— Como assim?
— A maioria do pessoal entregou suas
terras para que Milan Dewar as vendesse.
Alguns estão dispostos a negociar conosco e
há dois rancheiros, aqui e aqui — falou
Wilde, apontando no mapa.
— O que há com esses?
— Deixaram claro que não pretendem
vender as terras.
— Há algum motivo especial?
— De todas as terras, estes ranchos
representam a única parte aproveitável.
— Oh, sim! Dewar já havia me falado a
respeito.
— Como vê, Dewar nos tem em suas
mãos — falou Wilde.
— É possível. Quanto a esses rancheiros,
percebeu se uma boa oferta os convenceria?
— Sim, eu os fiz ver isso, mas creio que
não mudarão de idéia.
— Bem, eu já esperava por casos assim.
Wyoming e seu homens cuidarão disso.
Quanto a Milan Dewar, preciso pensar em
um modo de anulá-lo.
— Já falou com o xerife?
— Não, ainda não. Ele é do tipo durão,
mas conseguirei dobrá-lo.
— O que tem em mente?
— Oferecer uma pequena participação a
ele.
— Não acha arriscado?
— Um homem desses ganha uma miséria
para arriscar sua vida. Só faz isso porque
sabe que, cedo ou tarde, terá a sua chance
de fazer um grande negócio.
— Acha mesmo?
— Fique tranqüilo quanto a isso.
Conhece muito bem essa gente. Estou
acostumado a tratar com elas.
— Sim, seria ótimo tê-lo do nosso lado.
Será mais fácil agir contra os que se
recusarem a vender.
— Esses não me preocupam. Milan
Dewar é que está atravessado em minha
garganta.
— Deixe que Wyoming cuide dele.
— Não podemos nos arriscar a isso. É
bem possível que nomeiem um outro agente
de terras que seguramente saberá do que vai
acontecer.
— Então temos que negociar com ele.
— Sim, mas ele pretende ditar as regras e
não posso permitir isso.
— Encontraremos um modo de
convencê-lo — falou Wilde.
— Bom, pelo visto ele é ambicioso. Só
que sabe que sua vida nada vale em nossas
mãos. Não é um sujeito burro. Vai negociar,
tenho certeza.
— Eu também acho. Com ele do nosso
lado acho que temos quase cem por cento
do trabalho feito, por isso acho que
poderemos fazer-lhe algumas concessões.
Se ele ficar muito ambicioso, o que não
acredito, nós daremos um jeito nele.
— Com certeza!
Alguns dias depois, três vaqueiros do
Rancho de George Byron se aproximaram
da casa principal, atraindo a atenção de
outros vaqueiros.
Preso a um laço, logo atrás deles,
caminhava um desconhecido.
— Sr. Byron! — chamou um dos
vaqueiros.
O velho rancheiro saiu à porta,
indagando:
— O que está havendo aqui, Arnold?
— Apanhamos esse sujeito nas
proximidades do rancho. Parecia muito
interessado em observar tudo que acontecia
por aqui.
— Muito interessante! — exclamou
George, aproximando-se do prisioneiro até
encará-lo.
— Seus vaqueiros estão errados, eu só
estava de passagem — defendeu-se o
pistoleiro.
— Ninguém passa por dentro do rancho,
quando há uma estrada — contestou
Arnold. — Além disso, você não tinha seu
cavalo.
— Meu cavalo sofreu um acidente e...
— Mentira! — falou Arnold. — Nós
vimos seu cavalo muito bem para um
animal ferido. Ele estava espionando o
rancho e não tenho a menor idéia por que
fazia isso.
— Deixem que eu resolvo isso — falou
George, voltando a encarar o pistoleiro.
— Qual é seu nome, filho?
— Al Beddoes — respondeu ele.
— Para quem trabalha?
— Não trabalho para ninguém, aliás, no
momento estou desempregado.
— O que fazia no meu rancho?
— É como eu disse, só estava de
passagem. Pensava em pedir emprego...
— Oculto atrás de algumas árvores e com
isso nas mãos? — atalhou Arnold,
mostrando uma luneta.
George Byron olhou para o objeto nas
mãos de seu capataz e depois para o
prisioneiro.
— Não devia mentir, filho — disse ele.
— Não estou mentindo, juro.
— É um bastardo nojento! — falou
George, com desprezo. — Vou lhe dizer o
que fazia em meu rancho: trabalha para
aqueles homens que vieram aqui tentando
comprar minhas terras, não é verdade?
— Não, eu...
— Cale-se! Ainda não terminei. Não sei
porque eles desejam todas as terras da
região, mas sei que não ficaram satisfeitos
com minha recusa. Por isso você estava lá,
espionando, para que, de um modo ou de
outro, eles encontrassem um modo de me
forçar a vender.
— Não, o senhor está enganado... — ia
dizendo Al Beddoes, mas calou-se diante do
olhar duro de George Byron.
— Vou lhe mostrar como nós aqui
tratamos com mentirosos, rapaz — disse
George, fazendo um sinal para Arnold.
Este arrastou Al para junto de uma
árvore. Ali, soltou o laço e prendeu as mãos
do pistoleiro.
Em seguida, atirou a corda por cima de
um galho e a esticou.
Al ficou pendurado pelos braços. Arnold
sacou de uma faca e cortou a camisa do
prisioneiro, deixando-o com o tronco nu.
— O que vão fazer comigo? — indagou
Al, apavorado.
— Vamos lhe dar uma lição, rapaz.
Apenas isso — falou George, aproximando-
se com um chicote na mão...
— Não, por favor, eu... — tentou explicar
Al, mas suas palavras foram cortadas por
um grito de dor.
A primeira chicotada desenhou-lhe um
riso vermelho nas costas, por onde o sangue
escorreu rapidamente.
Al urrou de dor, gritando a cada vez que
o chicote estalava em sua pele.
Quando suas costas já estavam em carne
viva, George interrompeu o castigo,
ordenando a Arnold:
— Vá buscar o cavalo desse pobre
coitado.
— Sim, Sr. Byron — disse o capataz,
apressando-se em cumprir a ordem.
— Quanto a você — falou George a Al.
— Volte e diga a seus patrões que não
venderei minhas terras. E que, caso eles
insistam, não hesitarei em aplicar neles o
mesmo castigo que você recebeu.
Dito isso, apanhou sua faca e cortou a
corda que prendia os pulsos do pistoleiro.
Al foi ao chão, gemendo de dor.
Momentos depois, Arnold chegou, trazendo
o cavalo.
— Ajudem-no a montar — ordenou
George.
Seus homens puseram Al sobre o animal.
George chicoteou o cavalo, fazendo-o se
afastar a galope.
— Desse estamos livres — disse o
rancheiro. — Agora, estão todos convidados
a receber o pagamento da semana —
finalizou ele.
Seus vaqueiros atiraram o chapéu para
cima e gritaram de alegria.
— Teremos a tarde de folga, Sr. Byron?
— indagou Arnold.
— Sim, desde que prometam voltar
sóbrios amanhã.
Novamente os vaqueiros fizeram
algazarras, satisfeitos com a decisão do
patrão.
Quando Al chegou à cidade, sentia-se
mais morto do que vivo. Seu corpo pendeu
da cela e ele caiu, diante do saloon.
Wyoming e alguns homens já corriam em
seu auxílio.
— O que houve? — indagou Wyoming.
Al mal podia responder.
— Ele não me parece muito bem — disse
um outro pistoleiro.
— Sim, vamos levá-lo ao médico —
ordenou Wyoming — Moe, vá avisar o Sr.
Miles.
Algum tempo depois, quando Al já havia
sido medicado, foi deixado a sós com os
irmãos Miles e Wyoming.
— Conte-nos o que houve, Al — pediu
Arbuckle.
— Foi o velho, eles me pegaram de
surpresa. Seus vaqueiros me surpreenderam
e...
— Está bem, já entendi — interrompeu
Arbuckle. — Eu já sabia que aquele velho
nos causaria muitos aborrecimentos.
— Temos o xerife do nosso lado agora —
opinou Wilde. — Podíamos jogá-lo contra o
velho.
— Não daria certo. Havia os vaqueiros,
eles testemunharam tudo e protegerão o
patrão.
— Se deixarmos que ele se julgue
vitorioso desta vez, ele poderá influenciar
aquele seu vizinho a não vender o rancho.
Aí nossos problemas começarão a se
complicar.
— Já pensei nisso e não vou deixar que
ele leve a melhor sobre nós. Encontrarei um
modo de lhe dar uma lição — prometeu
Arbuckle.
Os irmãos Miles e Dam Hodgson
deixaram o consultório do médico e foram
até o Escritório de Terras.
Milan Dewar sorriu ao vê-los entrar,
indagando:
— E então, sócios? Como vão indo os
negócios?
— Está na pior, Milan, por culpa
daqueles dois rancheiros.
— Refere-se ao velho Byron e a August
Carry?
— Sim, principalmente o velho. Eu havia
deixado um homem tomando conta daquele
rancho, mas ele foi apanhado e chicoteado.
Quase o mataram.
— É um problema sério — ponderou
Milan, coçando o queixo.
— Quando teremos as escrituras dos
outros ranchos? — quis saber Arbuckle.
— Dentro de alguns dias. Estou
aguardando os proprietários para as
assinaturas.
— Bom, pelo menos essa parte já está
solucionada. O que me preocupa agora são
aqueles dois ranchos.
— Por que não age drasticamente contra
eles? O xerife não apoiará?
— Não quero estragar minha imagem
diante da população, Dewar. Isso é
importante para o que virá depois. Tenho
contribuído com um bom dinheiro para as
senhoras dos membros do Conselho da
Cidade, em suas atividades filantrópicas.
Por isso os tenho do meu lado. Um passo
errado e todo o meu prestígio se acabará.
— Bem, minha parte eu estou cumprindo
— falou Dewar. — Você se responsabilizou
pelo resto. Quando os homens da ferrovia
chegarem por aqui para...
— Cale-se imbecil! — ordenou
Arbuckle. — Se alguém o ouve mencionar
isso a notícia se espalhará e nossos negócios
irão por terra.
— Está bem, desculpe-me.
— Vá em frente com as escrituras. Eu
cuidarei do resto.
Arbuckle e os outros deixaram o
Escritório de Terras. Wyoming, saindo do
saloon, se aproximou deles.
— Acho que descobri um modo de
pressionar o velho — disse o pistoleiro.
— Como? — indagou Arbuckle,
interessado.
— Hoje é dia dos vaqueiros do rancho
receberem seus pagamentos. Segundo o
barman, eles costumam festejar no saloon.
Se assustarmos aqueles vaqueiros o
bastante, creio que o velho não terá
ninguém para ajudá-lo no rancho.
— Sim, mas seja duro com eles, usando a
surra que aplicaram em Al como pretexto.
— Eu havia pensado justamente nisso. E
quanto ao xerife?
— Falarei com ele. Ele deixará a cidade
estrategicamente, de modo a não estar
presente quando tudo acontecer.
— Certo, boa idéia. Logo os vaqueiros
começarão a chegar. Vou reunir o pessoal.
— Dê a entender que as coisas para o
pessoal daquele rancho não serão fáceis de
agora em diante. Se for preciso, mate dois
ou três deles.
— Direi isso aos rapazes. Eles devem
estar esperando por isso, depois do que
aconteceu com Al.
Wyoming se afastou, indo reunir seus
homens. Arbuckle e os outros rumaram para
o hotel.
Já nos aposentos de Arbuckle, Wilde
apanhou um pouco de uísque numa garrafa
sobre um móvel, depois indagou:
— Creio que já podemos dar por
resolvido o caso com o velhote. E quanto ao
outro rancheiro, o tal de August Carry?
— Acho que já sei como tratar dele —
disse Arbuckle, olhando pela janela.
Seu rosto se abriu num sorriso e ele
parecia estar observando algo, muito
interessado, na rua.
Wilde se aproximou da janela para olhar.
Daryl Carry acabava de passar com seu
cavalo.
— Algo a ver com a garota? — indagou
Wilde.
— E por que não? Não acho que seria
ponderado lutar contra August Carry. O
melhor seria se aliar a ele.
— Através da filha?
— Sim, ela e a mãe são as diretoras do
Clube Feminino da cidade. Assim, tenho
todo o prestígio diante das duas em virtude
das doações que já fiz.
— Isso não quer dizer nada — falou
Dam. — Você já tentou algo com a garota?
— Não, mas farei isso assim que
possível. Lembre-se de que temos um mês
ainda, até que o pessoal da ferrovia comece
a chegar.
— Mesmo assim, creio que é pouco
tempo para se aproximar da garota e ainda
convencer o pai dela a vender o rancho.
— Eu sei o que faço — arrematou
Arbuckle. — Farei ver à garota que o pai
faria um bom negócio vendendo o rancho.
Além disso, há terras melhores ao sul
daqui. August Carry talvez venha se
interessar por alguma.
— Arbuckle está certo, Dam — atalhou
Wilde. — Até agora ele soube muito bem
conduzir as coisas dentro dos planos.
Vamos deixar que ele cuide disso, do
mesmo modo como cuidou de Milan Dewar
e do xerife.
— O xerife é um elemento importante em
nosso plano. Quanto a Milan, é totalmente
dispensável, a partir do momento em que
tenhamos as escrituras.
— O que pretende fazer com ele,
Arbuckle?. — quis saber Dam.
— Wyoming cuidará dele — sentenciou
Arbuckle. — Agora, se me permitem, vou
me avistar com a Srta. Carry.
Algum tempo depois, Arnold e os
vaqueiros do rancho de George Byron
chegaram ao saloon.
Alegremente, se aproximaram do balcão
e exigiram bebidas. O pianista se apressou
em uma canção.
As garotas do saloon, cientes que os
vaqueiros haviam recebido os pagamentos,
se apressaram em agradá-los.
Arnold e os vaqueiros, então, foram se
sentar em algumas mesas do fundo. As
garotas os acompanharam, tornando o
ambiente descontraído e festivo.
Assim, a presença de Wyoming e dez de
seus melhores pistoleiros passou
desapercebida.
Os pistoleiros se encostaram ao balcão.
Wyoming ordenou bebida para seus
homens.
— Quando vamos agir, Wyoming? —
indagou Ryle Jenkins.
— Não se apresse, nervozinho. Temos a
tarde toda para isso. Vamos deixar que eles
bebam um pouco. Tornará as coisas mais
fáceis para nós.
Os vaqueiros continuaram a festejar o
pagamento. Um deles, o novato da equipe,
se levantou para ir apanhar mais bebida.
Wyoming piscou um olho para Ryle. Este
se preparou para iniciar a confusão.
Quando o vaqueiro se encostou ao balcão
e pediu uma garrafa de uísque, Ryle o
encarou, dizendo:
— Desde quando covardes bebem bebida
de homem?
O vaqueiro se voltou para ele, sem
entender a insinuação.
— O que disse? — indagou.
— Eu o chamei de covarde. Soube que
surraram um de meus amigos e não gostei
nada daquilo.
O vaqueiro recuou um passo, depois
olhou para Arnold e os outros.
— Arnold, está aqui um homem tomando
as dores daquele pistoleiro que foi surrado.
— Realmente? — indagou Arnold,
pondo-se em pé.
Imediatamente os outros vaqueiros
fizeram o mesmo. As garotas, prevendo
encrencas, foram se escondendo no outro
lado do saloon.
O mesmo fizeram os outros fregueses que
ali estavam. Wyoming se adiantou.
— Não só ele, como todos nós — disse
ele.
— Então estejam avisados de que, na
próxima vez que aparecerem por lá, terão o
mesmo castigo — falou Arnold.
— Claro, todos vocês contra um de nós.
Isso mostra o quanto vocês são corajosos.
— Está duvidando disso? — indagou
Arnold, caminhando até junto de Wyoming.
— Sim, estou — respondeu Wyoming,
soltando uma baforada de seu cigarro na
cara de Arnold.
— Sei que você é um pistoleiro — falou
Arnold. — Mas será que sabe lutar como
homem? Porque não deixa cair esse
cinturão e mostra que sabe lutar com os
punhos?
— Você é um idiota! — disse Wyoming,
iniciando lentamente o gesto de desafivelar
o cinturão, enquanto seus olhos de
mantinham fixos em seu oponente.
Arnold se virou para olhar seus homens e
sorrir. Quando se virou para Wyoming, este
o golpeava com o cano de seu Colt.
Arnold recuou, aturdido. Um dos
vaqueiros levou a mão à arma.
Wyoming o fulminou com um tiro
certeiro que o atingiu entre os olhos.
Imediatamente os outros pistoleiros
sacaram suas armas, apontando-as para os
vaqueiros.
— Você começou tudo, vaqueiro — disse
Wyoming ao capataz.
— Pelo contrário, você e seus patrões
começaram tudo quando vieram para cá,
tentando se apoderar das terras do velho
Byron.
— Byron recebeu uma proposta honesta
— retrucou Wyoming.
— O mesmo tipo de honestidade que
você mostrou agora, atacando-me à traição.
Wyoming o encarou, furioso. Depois
desafivelou o cinto, jogando suas armas
sobre o balcão.
— Vou fazê-lo engolir suas palavras,
vaqueiro — prometeu ele.
— Estou esperando por isso.
— É bom que saibam que isso vai
acontecer para todos que trabalharem para o
velho Byron.
— Você fala demais — disse Arnold, se
atirando sobre Wyoming.
O pistoleiro foi mais rápido, desviando o
corpo. Arnold se chocou contra o balcão e,
quando pensou em se voltar, uma joelhada o
atingiu nas costelas, fazendo-o perder o
fôlego.
Wyoming não lhe deu trégua. Seus
punhos se abateram implacavelmente sobre
o corpo do capataz.
Em poucos instantes Arnold perdeu os
sentidos. Wyoming, no entanto, continuou
golpeando-o.
— Acho que está exagerando... — disse
um vaqueiro, adiantando-se.
— Então vá se juntar a ele — falou Ryle,
disparando contra o vaqueiro.
Dois outros amigos de Arnold resolveram
intervir, mas tiveram seus corpos varados
por diversos balaços.
Os outros acharam por bem assistir a tudo
sem nenhuma reação.
Estavam sob a mira das armas dos
pistoleiros e a única coisa que poderiam
fazer era aquilo.
Wyoming, finalmente, cessou o brutal
espancamento a que submetera Arnold.
O capataz do Rancho Byron estava mais
morto que vivo e mal respirava.
O pistoleiro encarou os outros vaqueiros:
— Isso é o que acontecerá a cada um de
vocês, se voltarem a trabalhar no Rancho
Byron.
— Sim, e não se esqueçam que vocês
começaram tudo, quando espancaram um de
nossos rapazes.
— Agora caiam fora! — ordenou
Wyoming.
— Não sei porque se interessa tanto por
aquelas terras, Sr. Miles — comentou a bela
Daryl Carry.
Estavam diante da loja do modista da
cidade. A Sra. Carry experimentava um
vestido.
Daryl e Arbuckle Miles conversavam.
— Estou adquirindo todas as terras ao
redor do rancho de seu pai, Daryl. Assim, é
importante adquirir aquele rancho também.
— Isso não explica suas intenções.
— Negócios, Daryl. Pretendo criar
cavalos.
— Muitos cavalos, pelo que vejo.
— Sim, bastante realmente. Acha que seu
pai aceitaria o negócio?
— Ele está estudando sua proposta, mas
não creio que ele venda o rancho. Razões
sentimentais, acho que entende...
— Sim, talvez.
Conversaram durante mais algum tempo,
até a saída da Sra. Carry.
Arbuckle foi muito cavalheiro com
ambas, procurando, em especial, agradar à
jovem.
Daryl, porém, não parecia demonstrar
nenhum interesse maior por Arbuckle
Miles.
Quando elas se afastaram de volta ao
rancho, Arbuckle ficou pensativo.
— O que conseguiu, Arbuckle? —
indagou Wilde, aproximando-se.
— Pensei que fosse me sair melhor.
— Não se aborreça por isso. Podemos
agir a nosso modo.
— Estou pensando seriamente nisso. E
Wyoming, deu uma lição naqueles
vaqueiros? Eu os vi sair assustados, após o
tiroteio lá no saloon.
— Wyoming cuidou bem de tudo.
Garanto que nenhum daqueles homens
voltará a trabalhar no Rancho Byron.
— Penso que teremos de fazer o mesmo
com os homens do Rancho Carry.
— Basta dar a ordem.
— Vamos esperar um pouco mais. Ainda
pretendo me avistar novamente com o pai
de Daryl.
— Não se esqueça de que o tempo
trabalha contra nós.
— Estou ciente disso. Depois do que
houve hoje, apenas o pai de Daryl nos
separará de uma verdadeira fortuna.
— Sim, graças a informação que obtemos
em Dallas, sobre a abertura da...
— Não fale. Ninguém mais deve saber
sobre isso — finalizou Arbuckle, dirigindo-
se ao hotel, em companhia do irmão.
Enquanto isso, os vaqueiros do Rancho
Byron começaram a chegar lá.
George Byron saiu à porta, estranhando o
fato de seus homens haverem retornado tão
cedo. Normalmente, quando saíam para
festejar, só voltavam quando o dia
amanhecia.
— O que há, rapazes? Não gostaram do
uísque dessa vez? — brincou ele.
Um dos vaqueiros apontou para os
cavalos que traziam os vaqueiros mortos.
Arnold, que mal se firmava sobre a sela,
foi ao chão. George Byron correu para ele.
— Deus do céu! O que houve com ele?
— quis logo saber.
— Foram os amigos do homem que
chicoteamos aqui — informou um dos
vaqueiros.
— Malditos! — Esperem-me aqui,
rapazes. Vou buscar minhas armas. Iremos
à cidade acertar contas com eles...
— Não, Sr. Byron, não iremos à cidade
— respondeu o vaqueiro.
— E por que não, Emmet?
— Estamos caindo fora, Sr. Byron.
— Caindo fora? — espantou-se o velho
homem.
— Sim, Só voltamos aqui para apanhar
nossas coisas.
— Não podem fazer isso, há muito
trabalho aqui e...
— Eles foram muito claros, Sr. Byron.
Doravante vai ser muito perigoso trabalhar
aqui.
— Eu sempre disse que isso era trabalho
para homens.
— Isso não nos ofende, Sr. Byron.
Prezamos nossas peles, não queremos
acabar como eles. A briga é sua, resolva-a
sozinho.
— Nunca pensei que os veria
acovardados um dia — lamentou George.
— Desculpe-nos, Sr. Byron. Somos
vaqueiros, não pistoleiros — argumentou
Paul. — Pelo que vimos na cidade, não será
saudável continuar aqui.
Ele o os outros vaqueiros rumaram para
os alojamentos, onde arrumaram suas
coisas.
Minutos depois, todos eles partiam.
George se viu só, diante de um homem
ferido e alguns cadáveres.
Ele olhou, então, para Arnold, que
parecia muito mal, quase agonizante.
— Pode se levantar?— indagou ele.
— Não sei, sinto que todos os meus ossos
estão quebrados.
— Está bem, firme o corpo em mim —
disse George.
Arnold apoiou-se, mas gemeu
dolorosamente ao tentar se pôr em pé.
— Eles o surraram de verdade, não?
— Sim, mas um homem só fez isso. Eu
não consegui evitar.
— Não se preocupe com isso agora, filho.
Eu vou levá-lo para dentro — falou George,
erguendo Arnold em seus braços.
Vergado ao peso do vaqueiro, George
caminhou apressadamente para dentro da
casa.
Depositou Arnold em sua própria cama.
Depois tratou dele, cuidando de seus
ferimentos.
— Como se sente agora? — indagou ele,
ao final.
— Bem melhor, mas essa dor...
— Vamos cuidar dela agora — falou
George, indo apanhar uma garrafa de seu
melhor uísque. — Tome, isso vai aliviar a
dor.
— Obrigado, Sr. Byron — agradeceu o
capataz.
— Trate de descansar. Amanhã você se
sentirá bem melhor — disse o velho,
deixando o aposento.
Foi até o celeiro e apanhou uma pá.
Depois rumou até uma colina, onde cavou
as sepulturas para os vaqueiros mortos.
Após enterrá-los, George Byron retornou
à casa.
— O que pretende fazer, Sr. Byron? —
indagou Arnold, percebendo que o velho
apanhava suas armas e recarregava cada
uma delas com movimentos decididos.
— Cuidar disso definitivamente, ou acha
que vou permitir que assustem e expulsem
meus homens?
— Não terá nenhuma chance, Sr. Byron.
Eles são muitos. Além disso, são todos
pistoleiros de aluguel.
— Já decidi isso, Arnold. Vou à cidade
falar com o xerife. Se ele não tomar uma
providência, eu o farei pessoalmente.
Antes que Arnold pudesse argumentar
com ele, George Byron apanhou um cavalo
e rumou para a cidade.
Lá, após procurar pelo xerife, parou
indeciso à porta do xerifado.
Viu o ferreiro em sua oficina, do outro
lado da rua e foi até lá.
— Viu o xerife? — indagou George.
— Não. Acho que ele deixou a cidade.
Foi um pena o que aconteceu com seus
vaqueiros.
— Isso tem de ter um fim. Acho que terei
que fazer algo pessoalmente.
— Se pretende realmente, é melhor
passar primeiro pelo papa-defuntos, George.
— Feche essa boca agourenta. Apesar de
tudo, você me deu uma idéia — disse
George, olhando para o prédio onde
funcionava o Correio.
— O que vai fazer?
— Depois conversaremos — respondeu o
rancheiro indo até o Correio.
Após passar um telegrama, George Byron
saiu à porta do prédio, olhando para o
saloon.
Ouviu algazarra e música. Após verificar
sua arma, o velho rumou para lá. Sabia que
aquilo era algo que tinha de fazer ou tudo
porque lutara teria sido em vão.
Quando entrou, a música e o barulho
foram cessando pouco a pouco.
Um silêncio macabro pairou no ambiente.
George caminhou até o balcão.
— O que vai ser, Byron? — indagou o
barman.
— Um uísque.
Da outra ponta do balcão, Wyoming,
Ryle e alguns pistoleiros olhavam com
provocação.
— Quais deles fizeram aquilo? —
indagou o velho ao barman.
— Refere-se ao que aconteceu com seus
vaqueiros?
— Sim.
— Todos eles estão metidos nisso.
— Quem surrou Arnold?
— Wyoming, aquele mais alto, na ponta
do balcão.
— Ele é bom pistoleiro?
— Um dos melhores que já vi. Não vá
me dizer que pretende enfrentá-lo...
— Tudo vai depender dele — disse
George, emborcando o uísque de uma só
vez.
Após pagar, caminhou lentamente na
direção dos pistoleiros. Estes o receberam
com um sorriso de ironia aos lábios.
— Parece que vocês exageraram um
pouco — disse George, olhando-os
fixamente.
— Você começou tudo, vovô — retrucou
Wyoming.
— Eu estava no meu direito. Aquele
homem havia invadido a minha
propriedade.
— Então vamos dizer que seus vaqueiros
também fizeram o mesmo.
— Vocês não são os donos da cidade.
— Quer apostar nisso, vovô?
— Vá para o inferno! — rugiu George
Byron, sacando suas armas.
Wyoming, muito mais jovem e ágil, o
dominou, tomando-lhe as armas.
— Ryle, vá buscar um chicote —
ordenou o pistoleiro.
— O que pretende fazer?
— Dar ao velho aqui um pouco de seu
próprio remédio — informou Wyoming.
— Não conseguirá isso — gritou George
Byron, livrando-se dos braços de Wyoming.
Com a força do desespero, o velho soltou
seu punho na direção do rosto do pistoleiro.
Wyoming recuou alguns passos, ante a
força o impacto, que fez sangrar seus lábios.
— Velho idiota! — rugiu ele, limpando o
sangue de sua boca com a manga da camisa.
Ryle tentou segurar o velho, mas recebeu
um murro no estômago.
Os outros pistoleiros, porém, atacaram
George e o subjugaram.
Ryle, ansioso por se vingar, se aproximou
do velho. Este, porém, atingiu um pontapé
em seu estômago, fazendo com que o
pistoleiro fosse ao chão dessa vez.
Wyoming, com seu lábios ainda
sangrando, fez sinal para um dos homens
que estavam atrás de George.
O pistoleiro chutou violentamente as
pernas do velho, fazendo-o se dobrar.
Só então Wyoming se aproximou. Olhou
George Byron com ódio mortal, depois o
socou diversas vezes no estômago, fazendo
isso com um prazer todo especial.
Quando o velho mal podia respirar,
Wyoming o golpeou no rosto, fazendo-o
sangrar.
— Soltem-no — ordenou ele, ao final.
O corpo de George Byron caiu
pesadamente no assoalho do saloon.
Ryle, sacando sua arma, disparou contra
ele, matando-o instantaneamente.
— Seu idiota! — falou Wyoming,
vibrando uma bofetada no rosto de Ryle.
— Para mim chega! — gritou Ryle,
apontando sua arma na direção de
Wyoming — Não vou obedecer suas ordens
e...
Não chegou a terminar. Wilde Miles por
trás dele, o golpeou na cabeça.
Ryle se estatelou no soalho.
— Eu devia matá-lo! — vociferou
Wyoming, sacando suas armas.
— Pare, acho que Ryle nos prestou um
grande favor — falou Wilde.
Wyoming hesitou por instantes, depois
guardou suas armas.
— Sim, acho que tem razão. Com o velho
fora do caminho, será fácil se apoderar das
terras dele.
— Silêncio! não queremos comentários
sobre isso — pediu Wilde, após se certificar
que ninguém havia ouvido as palavras de
Wyoming.
O barman estava na outra ponta do
balcão. As garotas se amontoavam atrás das
escadas.
— Está tudo bem — falou Wilde. —
Acho que Arbuckle ficará satisfeito com
essa notícia. Vou avisá-lo agora mesmo.
Wilde foi ao hotel, onde narrou ao irmão
o que acontecera. Após ouví-lo, Arbuckle
sorriu com satisfação.
— Vá chamar Milan Dewar. Creio que
ele deve ter uma solução para isso.
— Como assim?
— Ele deve ter algum recurso legal que
nos permita pôr as mãos nas terras do velho,
sem desembolsar dinheiro nenhum.
— Farei isso agora mesmo — disse
Wilde, saindo.
Momentos depois estava diante de Milan
Dewar, o Agente de Terras.
Após informá-lo do ocorrido, rumaram os
dois para o hotel, onde se avistaram com
Arbuckle Miles e Dam Hodgson.
— Wilde me disse que seus pistoleiros
mataram... — ia dizendo Dewar.
— Sim, o velho está morto. Acho que
isto nos deixa mais próximos de controlar
todas as terras por onde passará a ferrovia
— falou Arbuckle.
— Não tão perto assim — desmentiu
Dewar.
— Como não? Acho que você poderá
encontrar um modo de nos fazer ficar com
as terras e...
— Nada disso.
— Explique-se, então.
— Todos na cidade sabem que George
tinha um sobrinho, a quem suas terras
passariam após sua morte.
— Quer dizer que o velho tinha um
herdeiro?
— Sim, seu sobrinho Dave Byron.
— E onde está ele?
— Vive em Dallas, segundo o que sei.
— Mas ele não sabe nada sobre o velho.
Podemos passar as terras em nosso nome
e...
— Não é tão fácil assim. Há um
testamento legando as terras ao sobrinho.
— Então negociaremos com esse
sobrinho.
— Talvez seja a solução mais sensata. O
rapaz, por certo, não vai desejar tomar posse
das terras. Mesmo assim, é preciso ir à
Dallas falar com ele.
— Faremos isso — decidiu Arbuckle. —
Afinal, temos muito em jogo com isso.
— Espere um pouco, Arbuckle. Por que
não telegrafa àquele seu amigo que lhe deu
a informação e pede que ele procure o
jovem Byron? — sugeriu Dam.
— Sim, grande idéia, Dam — aceitou
Arbuckle. — Wilde, vá cuidar disso agora
mesmo. Telegrafe ao nosso amigo e dê o
nome do sobrinho do velho. Peça que
localize o rapaz e que negocie com ele.
— Certo, vou fazer isso agora mesmo.
Espero que em poucos dias tenhamos isso
resolvido.
— Teremos, fique tranqüilo.
Wilde entrou no prédio do Telégrafo,
saindo dali algum tempo depois, um tanto
atrapalhado.
Ficou parado à porta durante algum
tempo, como se raciocinasse.
Depois rumou apressadamente para o
hotel, onde se avistou com o irmão.
— Telegrafou para Carl, em Dallas? —
indagou Arbuckle.
— Não, isso não vai adiantar agora.
— Como assim?
— O telegrafista mencionou que aquele
seria o segundo telegrama que mencionava
a mesma pessoa. Eu indaguei a respeito e
descobri que o velho, antes de morrer,
telegrafou ao sobrinho, solicitando sua
vinda.
— Tem certeza disso?
— Sim, eu vi o papel que ele escreveu.
— Creio que isto, então, vai facilitar o
nosso trabalho.
— Acha mesmo?
— E por que não?
— Bem, a vinda dele pode dificultar tudo
de novo. Não sabemos o que ele pensa ou
sabe a respeito das terras...
— Pelo contrário. Será mais fácil agora.
Assim que aquele rapaz chegar, estaremos à
espera dele com os papéis da escritura.
Bastará ele assinar e depois morrer.
Wilde sorriu de modo especial, aliviado
com o plano do irmão.
— Wilde, você é muito eficiente quando
se trata de agir, mas não é muito bom nisso
— falou Arbuckle, apontando para sua
própria cabeça.
— Você é o cérebro da família, Arbuckle.
Qual é a idéia?
— Esse rapaz, vivendo em Dallas, deve
ser um almofadinha que nada sabe sobre a
vida por essas bandas. Na certa virá com a
diligência. O que temos a fazer é passar o
telegrama, pedindo ao nosso amigo que o
localize e informe da morte do dia, dizendo
que há uma herança em jogo. Com certeza
isso vai trazê-lo para cá o mais depressa
possível. Escalaremos alguns de nossos
rapazes para esperarem por ele, na estrada.
— Sim, entendo agora. Eles pararão a
diligência e farão o rapaz descer.
— Com uma desculpa que não alarme os
outros passageiros, é claro. — lembrou
Arbuckle.
— Grande! Falarei com Wyoming, ele
cuidará disso.
— Sim. A diligência só passa aqui de
quinze em quinze dias, será fácil vigiar.
Qualquer dia desses o rapaz aparecerá por
aqui, se tiver pressa. Assim, a partir dessa
data, Wyoming deverá mandar alguns dos
pistoleiros para a estrada, sempre que for
dia de chegada da diligência, entendido?
— Cuidarei disso agora mesmo.
Cinco semanas dias depois, quatro
pistoleiros bocejavam num ponto qualquer
da estrada que vinha de Dallas.
— A que horas passará a diligência? —
indagou um deles.
— Já devia ter passado, Albee.
— Acha mesmo que ele virá na diligência
desta vez?
— Já deve ter recebido a carta do tio.
Claro que sim. Um almofadinha não se
arriscaria no lombo de um cavalo. Conheço
esse pessoal.
De repente, os quatro foram alertados
pelo som de uma rabeca e de um homem
cantando.
— Sosseguem, é apenas um vaqueiro —
falou Albee.
Momentos depois, o vaqueiro parava
diante deles, indagando:
— Falta muito para chegar à cidade?
— Umas dez milhas.
— Estou vendo um bule de café ali,
posso me servir?
— À vontade — respondeu Albee.
O vaqueiro desmontou e foi até a
fogueira, servindo-se de uma caneca de
café.
— Isso ficaria melhor com um pouco de
uísque — disse ele, após tomar um gole.
— Só vai achar uísque na cidade,
vaqueiro. Está a procura de trabalho? —
indagou Albee.
— Sim, pode-se dizer que sim.
— Sabe atirar?
— Por que acha que carrego essas armas?
— retrucou o vaqueiro, batendo as mãos nas
coronhas de seus Colts.
— Se souber usar isso, procure por
Wyoming ou Arbuckle Miles, lá na cidade.
Naquele momento, um tropel de cavalos
alertou os pistoleiros.
— É a diligência — afirmou Moe.
Os quatro homens pararam em fila, lado a
lado, no meio da estrada.
O cocheiro, ao vê-los, diminuiu a marcha.
O guarda engatilhou sua espingarda.
— Algum problema, rapazes? — indagou
o cocheiro.
— Nada em especial, homem. Leva um
passageiro chamado Dave Byron?
— Nunca o vi mais gordo — respondeu o
cocheiro.
— Tem certeza?
— Se não acredita, pergunte ali dentro.
— Trabalhamos no rancho dele e estamos
esperando por ele — explicou Albee.
Nenhuma das pessoas na diligência se
manifestou.
— Sinto muito, rapazes. Talvez na
próxima viagem — falou o cocheiro,
chicoteando os cavalos assim que os
pistoleiros deixaram a estrada.
— Diabos! — praguejou Albee. —
Vamos ter de esperar mais dois dias.
— Esperam pelo patrão? — indagou o
vaqueiro, que os observava com
curiosidade.
— Que patrão, que nada! — resmungou
Albee, aborrecido. Se esse tal de Dave
Byron soubesse o que o espera...
O vaqueiro terminou de tomar o café,
depois foi para o seu cavalo.
— É uma pena que eu não possa ajudá-
los, rapazes — disse ele após montar.
— A menos que se chamasse Dave Byron
e estivesse disposto a morrer, abatido como
se fosse um coelhinho assustado — falou
Moe, começando a rir.
Os outros pistoleiros riram com ele. O
vaqueiro sorriu levemente, depois
agradeceu pelo café e partiu.
Havia se afastado um pouco, quando
freou sua montaria e retornou.
— Não diga que deseja mais café —
ironizou Albee.
— Não, trata-se de outra coisa — disse o
vaqueiro.
— O que é?
— O que desejam realmente com esse
Dave Byron?
Albee olhou para seus amigos, fazendo
uma careta. Depois encarou o vaqueiro,
dizendo:
— Nada que possa interessá-lo, vaqueiro.
— Talvez isso possa me...
— Dê o fora — ordenou Albee,
aborrecido.
O vaqueiro hesitou por alguns instantes,
depois desmontou. Os quatro pistoleiros se
entreolharam.
— Está procurando encrenca, vaqueiro?
— indagou-lhe Moe.
— Talvez.
— Garanto que vai encontrá-la. Albee já
lhe disse para dar o fora, por que não faz o
que ele sugere?
— Porque vocês não responderam a
minha pergunta.
— Que pergunta?
— O que desejam realmente com Dave
Byron.
— Quer mesmo saber?
— É o que estou perguntando.
— Vamos matá-lo, depois de conseguir
sua assinatura neste papel — explicou
Albee, mostrando a folha que Milan Dewar
preparara para elaborar a escritura do
rancho.
— Posso ver isso?
— Para quê?
— Posso querer entrar para a turma —
riu o rapaz.
— Você está abusando da sorte,
vaqueiro. Já sabe demais sobre nós. Se
pretende entrar para a turma, tudo bem. Se é
um linguarudo, considere-se um homem
morto.
O vaqueiro encarou os quatro homens
com um sorriso irônico nos lábios.
— Vocês me dão pena — falou ele.
— Basta! — ordenou Albee. — Vou
fazê-lo engolir sua rabeca para deixar de ser
intrometido.
O punho de Albee se deslocou, na
direção do queixo do vaqueiro.
Sem que o pistoleiro pudesse entender
como, o vaqueiro se desviou.
Seu punho se enterrou no estômago de
Albee, fazendo-o se dobrar, praticamente
sem fôlego.
— Assinou sua sentença de morte —
informou Moe, levando as mãos às armas.
Seus amigos o imitaram, com exceção de
Albee, que se contorcia no chão, após o
murro que recebera.
Antes que os pistoleiros pudessem
perceber o que acontecia, as armas do
vaqueiro já cuspiam fogo.
Moe teve sua garganta varada por um
balaço certeiro. Seus dois amigos tiveram as
cabeças partidas.
Os três homens tombaram agonizantes na
poeira. Moe reuniu forças para apertar o
gatilho de sua arma ainda.
A dor atrapalhou sua pontaria, pois ele
não conseguia atingir o vaqueiro.
Este, porém, não ter um mínimo de
piedade e uma pontaria excelente.
Simplesmente varou-lhe o coração com
dois disparos rápidos e certeiros.
— Pare aí mesmo! — ordenou o
vaqueiro, virando-se a apontando suas
armas para Albee, no exato momento que o
pistoleiro pretendia sacar as suas.
— Quem é você, afinal de contas? —
indagou Albee, levantado os braços.
— Dave Byron, em pessoa. Agora
explique-me o que significa esse papel.
— É um recibo de venda.
— Passe-o para cá.
Albee retirou cautelosamente o papel de
seu bolso, estendendo-o ao vaqueiro.
Este o apanhou com a mão direita,
enquanto a esquerda ainda apontava uma
arma para Albee.
— Solte seu cinturão — ordenou Dave,
antes de ler o papel.
— Agora vá para junto daquela árvore —
ordenou Dave.
Assim que Albee se encostou ao tronco,
Dave começou a ler o papel.
Ao final, parecia não haver entendido
nada do que ele significava.
— Quem é Arbuckle Miles? — indagou.
— É um dos homens para quem eu
trabalho.
— O que sabe sobre isso? — perguntou
Dave, exibindo a folha de papel.
— Sei tanto quanto você. Disseram-me
que eu deveria retirá-lo da diligência e fazê-
lo assinar isso.
— E depois?
— Bem...
— Diga logo! — ordenou Dave,
disparando rente a cabeça do pistoleiro.
— Nós deveríamos matá-lo.
Dave o encarou com seriedade. Albee
estremeceu diante daquele olhar frio e
implacável.
— Apanhe seu cinturão — ordenou
Dave.
— O que pretende?
— Dar-lhe a chance que eu não teria.
— Pretende me obrigar a duelar com
você?
— Sim, isso mesmo.
— Não farei isso. Eu vi você sacar, eu
não teria uma chance.
— Acontece que essa é sua chance. Ao
menos que deseje morrer como um cão,
apanhe suas armas.
Albee, sem outra alternativa, foi apanhar
seu cinturão. Após afivelá-lo em seu
quadril, encarou Dave.
— Saque quando tiver pronto — falou
Dave, guardando sua arma no coldre.
O pistoleiro ficou indeciso. Suas mãos
tremiam, próximas das armas.
Dave demonstrava segurança e
tranqüilidade. Suas mãos se mantinha
próximas das armas, à espera de um
movimento de Albee.
— Acho bom sossegar, Byron — falou
Albee, relaxando repentinamente.
— Saque sua arma ou o matarei a
sangue-frio.
— Agora mesmo, atrás de você, um de
meus amigos lhe aponta uma arma — disse
Albee, com segurança.
— Não vou cair nesse truque tão velho.
— Problema seu. Meu amigo o matará
imediatamente.
Dave Byron sorriu ligeiramente, girando
o corpo como se pretendesse olhar para trás.
Albee sorriu triunfante, sacando suas
armas. Seu truque não deu resultado.
Dave já havia sacado suas armas e
disparado duas vezes. Ferido no peito,
Albee caiu de joelhos, com as armas nas
mãos.
Uma careta de dor se estampava em seu
rosto. Ele tentou levantar os braços, mas
Dave não lhe deu chance.
O tiro de misericórdia atingiu a cabeça de
Albee, fazendo-o cair para trás, numa
posição grotesca.
Dave olhou para o céu. Alguns abutres
voavam ao longe. Logo farejariam o cheiro
de morte e se aproximariam.
Guardou suas armas e montou seu cavalo,
rumando para a cidade.
Assim que chegou, dirigiu-se ao saloon.
Havia muito movimento, principalmente
por parte dos homens de Arbuckle Miles.
Dave se aproximou do balcão.
— O que vai ser? — indagou o barman.
— Cerveja.
Quando o barman lhe trouxe o copo,
Dave lhe indagou:
— Conhece George Byron?
Alguns homens, que estavam junto dele
no balcão, se voltarão para olhá-lo.
Depois olharam na direção da mesa onde
Ryle Jenkins e outros pistoleiros bebiam,
acompanhados de algumas garotas.
O barman percebeu isso, ficando
constrangido.
— Eu lhe fiz uma pergunta — falou
Dave, depositando uma moeda sobre o
balcão.
— Sim, eu conhecia George Byron —
respondeu o barman.
— Conhecia?
— Sim, conhecia.
— O que houve com ele?
— Foi morto, aqui mesmo, neste saloon.
— George Byron foi morto? Como
aconteceu isso?
O barman notou que Ryle e alguns
pistoleiros se aproximavam, pois haviam
ouvido a conversa.
— Não é muito saudável falar nisso —
respondeu o barman, afastando-se.
Dave, ainda sem acreditar na morte do
tio, se voltou para olhar na direção onde o
barman olhara.
Ryle, já próximo dele, indagou:
— O que deseja saber a respeito de
George Byron?
— Tudo que for possível.
— Está pedindo demais...
— E por quê?
— Acho melhor não insistir. Tudo que
precisa saber é que ele está morto. Agora
tome sua cerveja e dê o fora. George Byron
não vai dar emprego a mais ninguém por
aqui.
— E como ele morreu? — insistiu o
rapaz, demonstrando que queria saber toda a
verdade sobre o assunto.
— Você é mesmo um idiota teimoso. Ele
está morto, entendeu? Alguém o ajudou a
fazer isso, fazendo alguns buracos no couro
velho dele — falou Ryle, rindo divertido.
Seus amigos no saloon riram da mesma
forma, zombando do forasteiro.
Dave não se intimidou, lançando a todos
eles um olhar gélido que fez o sorriso
morrer nos lábios deles.
— Você tem alguma coisa a ver com
morte dele? — indagou Dave,
corajosamente.
— Mas você é mesmo muito petulante,
muito louco e muito idiota para me fazer
uma pergunta como essa. E se eu tive? O
que isso lhe interessa? — replicou Ryle,
disposto a intimidá-lo.
— Eu diria que é um covarde. É como eu
considero alguém que mata um velho —
falou Dave.
Fez-se um silêncio de morte no saloon.
Rapidamente as pessoas se afastaram do
balcão.
Um pequeno tumulto se formou junto à
porta, quanto as pessoas se empurraram, na
ânsia de sair logo dali.
Dave ficou diante de Ryle e outros três
pistoleiros. Ao fundo do saloon, meia dúzia
de outros pistoleiros observavam os
acontecimentos.
O silêncio que caiu era opressivo e
angustiante, mas não tirava a concentração
de Dave.
Ryle sorriu cinicamente, tragando seu
cigarro, jogando a fumaça na cara do rapaz
e apagando-o no copo de cerveja do Texas
Ranger.
Este não se intimidou, continuando a
encarar o pistoleiro com seus olhos frios,
fazendo o outro vacilar por instantes, diante
daquele olhar duro e impiedoso.
— Você é muito corajoso. Diria até que
um pouco imbecil — falou Ryle,
lentamente.
— Desculpe-me se o ofendi — retrucou
Dave com a mesma ironia. — É que,
realmente, eu só aprecio covardes de uma
forma: mortos e enterrados.
Ryle ficou sério. Seus punhos se
fecharam ameaçadoramente, enquanto
olhava com preocupação o homem diante
dele.
Inesperadamente, porém, o xerife entrou
no saloon. Sua chegada serviu para acalmar
um pouco os ânimos.
— O que está havendo por aqui, Ryle? —
indagou ao pistoleiro.
— O vaqueiro aqui está a procura de
encrenca.
O xerife se voltou para Dave Byron,
dizendo:
— Termine sua cerveja e vá dando o fora,
rapaz. Não queremos encrencas por aqui.
— Pode deixar que eu cuido dele —
antecipou-se Ryle.
— Trate de se acalmar, Ryle. Deixe o
vaqueiro em paz.
— Olhe aqui, xerife — falou Ryle,
ameaçador — Não queira me dar ordens,
você sabe muito bem de sua função.
— Sei que não me obrigam a obedecer
ordens de ratos como você, Ryle. Agora
trata de esfriar ou quebro-lhe a cabeça.
O pistoleiro estremeceu de raiva, as mãos
próximas das armas.
Sabia, no entanto, que não poderia vencer
o xerife. Assim, resolveu atender as ordens
recebidas.
— Está certo, xerife, mas qualquer hora
dessas eu terei que acertar minhas contas...
— Está bem, estarei à sua disposição.
Agora feche essa boca e caia fora.
— Quanto a você, vaqueiro — disse
Ryle, encarando Dave. — É bom que dê o
fora da cidade. Se nossos caminhos se
cruzarem novamente, vou fazê-lo se
arrepender disso.
— Você não me assusta nem um pouco
— falou Dave, calmamente, virando-se para
pedir outra cerveja.
Quando o barman o serviu, Dave lhe
disse:
— Aquele cavalheiro vai pagar pela
cerveja.
O barman olhou para Ryle e depois para
Dave.
— Cobre dele — insistiu Dave, tomando
sua cerveja.
Quando ia sair, encontrou o xerife à
porta.
— Se quer se ver livre de encrencas, dê o
fora daqui — aconselhou o xerife.
— Pensarei nisso. Pode me dizer onde
fica o Rancho de George Byron?
— O que pretende fazer lá?
— Assunto particular.
— Problema seu, então. Siga em frente,
pela estrada. A umas cinco milhas verá a
entrada para o rancho.
— Obrigado, xerife — agradeceu Dave,
indo apanhar seu cavalo.
Dave tomou aquela direção. Algum
tempo depois, chegava à entrada do rancho.
Estava tudo deserto e silencioso. Dave se
aproximou cuidadosamente da casa
principal.
Quando já estava próximo, ouviu uma
série de disparos. Saltou de seu cavalo, já de
armas nas mãos.
Ocultou-se atrás de uma cerca. Minutos
depois, os disparos recomeçaram.
Dave correu até a casa. Os disparos
vinham dos fundos. Cautelosamente ele a
contornou.
Após um instante de silêncio, nova série
de tiros foi ouvida.
Dave se adiantou, surpreendendo um
homem que recarregava o revólver.
— Maldito! Apanhou-me sem munição
— falou Arnold, imobilizando-se.
— Quem é você? — indagou Dave.
— Como se você não soubesse.
— Realmente não sei.
— Não vamos brincar de adivinhações
agora. Deixe-me terminar de recarregar
minha arma e decidiremos tudo, então.
— Acho que está havendo um engano por
aqui, amigo.
— Não sou seu amigo — retrucou
Arnold, com ódio.
— Meu nome é Dave Byron — falou o
recém-chegado.
— Byron? Dave Byron?
— Sim, meu tio me telegrafou, pedindo
que eu viesse.
— Você é mesmo o sobrinho do Sr.
Byron?
— É o que estou dizendo — falou Dave,
guardando suas armas.
Arnold o olhou, ainda indeciso. Depois
guardou sua arma e se aproximou.
— Tem algum documento aí?
— Sim, tenho — disse Dave, mostrando
a carteira.
— Mas esse é o emblema dos Texas
Ranger...
— Sim, sou o capitão Dave Byron. Agora
quer me explicar quem é você e o que fazia?
— Meu nome é Arnold, eu era o capataz
de seu tio.
— Ele está morto, realmente?
— Sim, foi covardemente assassinado lá
na cidade.
— Por que isso?
— Uns homens chegaram à cidade
comprando todas as terras desta região. Seu
tio se recusou a vender. Então eles o
mataram.
— E o resto dos vaqueiros?
— Os pistoleiros assustaram.
— E você, por que ficou?
— Devo confessar que era o único sem
condições de fugir. Se não fosse por seu tio,
talvez eu estivesse morto agora.
— Por que estava treinando tiro-ao-alvo?
— Porque desejo vingar George Byron.
— Está bem, Arnold. Por que não
entramos e você me conta com detalhes
tudo que aconteceu por aqui?
— Certo, Dave.
Enquanto isso, na cidade, um pistoleiro
desmontava apressadamente diante do hotel.
Subiu rapidamente as escadas, parando
diante do quarto de Arbuckle Miles.
— Entre! — ordenou este, assim que o
homem bateu na porta.
— Sr. Miles, fui levar mantimentos a
Albee e os outros e adivinhe o que encontrei
lá?
— Como vou saber, seu idiota?
— Todos eles mortos.
— Mortos?
— Sim, foram mortos a tiros.
— Sabe como aconteceu?
— Não tenho a menor idéia.
— Vá procurar meu irmão e os outros.
O pistoleiro tratou de cumprir a ordem o
mais depressa possível.
Momentos depois, Wilde, Dam,
Wyoming e Ryle estavam lá, ouvindo o
acontecido.
— Diabos! Isso só pode significar uma
coisa — falou Dam.
— Acha que o sobrinho dele fez aquilo?
— indagou Wilde.
— Só pode ter sido.
— Esperem um pouco. Um homem
esteve no saloon procurando por George
Byron — falou Ryle.
— Pode ser o sobrinho do velho, então —
concluiu Arbuckle.
— Mas tinha todas as características de
um vaqueiro comum — contestou Ryle.
— E você sabe como era esse sobrinho?
Ninguém aqui sabe nada sobre ele. Você
deveria ter nos avisado disso — observou
Arbuckle.
— Para onde ele foi? — indagou Wilde?
— Para o rancho do velho.
— Então é o homem que esperávamos —
concluiu Arbuckle.
— O que vamos fazer, irmão? — indagou
Wilde.
— Isso não muda nada, agora que ele está
aqui. Ryle, reuna alguns homens e vá ao
rancho cuidar do sobrinho do velho.
— Farei isso com todo prazer.
— Por que não me deixa cuidar disso? —
pediu Wyoming. — Ryle talvez não dê
conta do recado.
— Pare de me provocar, Wyoming.
— Acalmem-se os dois — ordenou
Arbuckle. — Vou precisar de você,
Wyoming. Ryle, vá cumprir minhas ordens.
Assim que o pistoleiro deixou o quarto,
Arbuckle disse a Wyoming:
— Você irá comigo ao Rancho Carry.
Vou ter uma última conversa com August
Carry. Tomei a decisão de acabar logo com
isso.
— E se o rancheiro não quiser negociar?
— falou Wilde.
— Já pensei num plano que vai
convencê-lo.
— O que pretende?
— Algo que ele não poderá fugir. Vamos
usar a filha como meio de fazê-lo
concordar.
— Como assim?
— Se ele se recusar a vender o rancho
hoje, Wyoming se encarregará de raptar
Daryl.
— Está falando sério?
— Sim, August Carry negociará, quando
souber que temos a filha em nossas mãos.
— E depois? É certo que ele vai criar um
caso muito grande.
— Só precisamos de August Carry até
que ele assine a venda do rancho. Depois
disso, sua vida não vale um níquel para nós.
— Você é um gênio, irmão — elogiou
Wilde, sorrindo de modo especial.
No rancho Byron, Arnold acabara de
contar em detalhes tudo que acontecia por
ali.
— Então apenas meu tio e August Carry
ainda não negociaram suas terras.
— Sim. São as únicas terras produtivas
desta região.
— Miseráveis! Pretendiam enriquecer
facilmente — comentou Dave.
— Mas por quê? Afora esses dois
ranchos, o resto das terras não tem valor
algum.
— Agora, Arnold. Imagine o que a
ferrovia pagará por elas.
— Ferrovia?
— Sim, Arnold. Pode entender agora o
plano desta gente?
— Com todas as terras nas mãos deles,
ficarão ricos, pressionando a ferrovia. Isso,
infelizmente, está acontecendo em toda
parte por onde a ferrovia está passando.
— Foram muito espertos, mas agora eu
estou aqui para cuidar disso. E o que me diz
do xerife da cidade?
— Foi comprado também, assim como o
prefeito e alguns conselheiros.
— A situação está pior do que eu
imaginava, então.
— Vai lutar contra eles, Dave?
— Sim, é meu dever.
— Quero ajudá-lo, então.
— Não posso obrigá-lo a isso, Arnold,
mas estou disposto a aceitar todo tipo de
ajuda.
— Não atiro muito bem com um
revólver, mas nunca fui batido com um
rifle.
Naquele momento, ouviu-se um tropel de
cavalos. Dave e Arnold foram à janela.
Um grupo de cavaleiros se aproximava.
Dave disse a Arnold, então:
— Penso que chegou a hora de provar a
sua pontaria com o rifle, Arnold. Conheço o
que vem na frente.
— Ele é um dos que mataram seu tio.
— São seis homens ao todo. Vamos ter
um pouco de ação.
— Vou apanhar um rifle.
Arnold correu para um armário de armas,
retirando uma Winchester.
Após municiá-la, meteu uma caixa de
balas no bolso de seu colete.
— O que acha que eles querem aqui? —
indagou Arnold, notando que os pistoleiros
haviam desmontado a alguma distância da
casa.
— Acho que vieram atrás de mim.
— Já se avistou com eles?
— Sim, lá no saloon.
— Teve sorte, então.
— Eles não sabiam ainda que eu era
Dave Byron. Não me dariam a menor
chance lá, se o soubessem.
Do lado de fora, Ryle ordenava aos
homens:
— Cerquem a casa. Vamos ver se o faço
sair sem maiores problemas.
— O que pretende fazer?
— Vou tentar atraí-lo para fora da casa.
Assim que ele sair, quero que o matem.
— E a assinatura de que Arbuckle
precisa?
— Milan Dewar saberá como falsificar
isso. O importante é que ele esteja morto.
— Está bem, estaremos atentos.
Os pistoleiros se espalharam. Ryle se
adiantou gritando:
— Byron! Sais daí, precisamos
conversar.
— Pode falar, eu o estou ouvindo —
respondeu Dave.
— Saia, só queremos negociar.
— Conheço o tipo de negócio que
pretendem comigo. Saiba que eu o tenho
sob a mira de minha arma. Se fizer um
movimento, será um homem morto.
— O que pretende?
— Chame o resto de seus homens. Quero
todos reunidos diante da casa, ou você será
um homem morto.
Ryle estremeceu. Podia ver, nas janelas
da casa, duas armas apontadas para ele.
— O que está esperando, pistoleiro? Dou-
lhe cinco segundos para reunir seu pessoal.
— Está bem, eles farão isso — disse
Ryle, notando que dois de seus homens se
aproximavam da casa.
Dave e Arnold quase foram
surpreendidos. Os dois pistoleiros se
postaram diante das janelas, disparando
suas armas.
Ryle aproveitou o momento para se
esconder atrás de uma carroça.
Arnold mostrou que era bom com o seu
rifle. Seu disparo atingiu a cara do
pistoleiro, jogando-o para fora do alpendre.
Dave não deixou por menos. Duas balas
se alojaram no peito do pistoleiro que
atirara contra ele.
Ryle entendeu, então, que os dois homens
na casa estavam dispostos a vender caro
suas vidas.
Tratou de reunir seu pessoal, dando novas
ordens.
— Não será fácil tirá-los de lá. Não
vamos perder tempo trocando tiros com
eles. Quero que incendeiem a casa. Eles
terão de sair como ratos assustados.
— Vamos cuidar disso — disse um dos
pistoleiros, apontando para a carroça de
feno.
Ryle e os outros a empurraram em
direção da casa. Quando iam atear fogo,
porém, uma voz atrás deles ordenou:
— Fiquem quietos! Um movimento e os
mato sem piscar.
Ryle se voltou lentamente, assim como os
outros. Dave e Arnold estavam atrás deles,
apontando suas armas.
Enquanto estiveram ocupados com a
carroça, Dave e Arnold simplesmente
haviam saído pelos fundos da casa e dado a
volta para ficar atrás de seus atacantes.
— Você é mesmo um idiota! — falou
Dave.
— Está bem, você nos apanhou —
concordou Ryle.
— Joguem suas armas para cá.
— Não faremos isso.
— Você não teria a menor chance.
— É o que veremos.
— Como você disse, só queremos
conversar agora — disse Dave — O que
pretendiam aqui?
— Você me parece bastante esperto para
saber isso, não? — retrucou Ryle, com
ironia.
— Quem os mandou?
— Não é de sua conta.
— Dou-lhe a chance de viver. Se me
contarem tudo, não os matarei.
Ryle sorriu nervosamente.
— Acham que vencerão nós quatro?
— Se eu estivesse lutando contra quatro
homens, pensaria no assunto. Vocês não
passam de ratos.
— Está bem, valentão. Diz isso porque
tem suas armas na mão.
Dave sorriu, olhando para Arnold. Depois
guardou seus revólveres nos coldres.
Arnold baixou seu rifle. Os dois homens
encararam os pistoleiros.
— E agora, seu covarde? Estamos na
mesma situação.
— Foi seu erro, idiota. Vai morrer como
um imbecil — disse Ryle, levando a mão às
armas.
Seus amigos o imitaram.
O ar se encheu, repentinamente, de
fumaça. Ryle e seus amigos rodopiaram
como bonecos de mola.
Os disparos certeiros das armas de Dave
os atingiram, antes mesmo que Arnold
pudesse erguer seu rifle.
Ao final, quatro cadáveres estavam
estendidos na poeira.
— Caramba! — exclamou Arnold. —
Nunca vi alguém atirar assim.
— A gente aprende a se defender,
Arnold.
— O que faremos com eles?
— Vamos pô-los em seus cavalos e
enxotá-los daqui.
— Vai ser uma bela surpresa se eles
voltarem à cidade, não acha?
— Sim — concordou Dave.
Ele e Arnold trataram de pôr os cadáveres
dos pistoleiros sobre seus cavalos.
Depois os enxotaram do rancho. Os
cavalos se dirigiram calmamente na direção
da cidade.
— Vai ser o diabo agora, Dave — falou
Arnold.
— Sei disso. Em que direção fica o
rancho de August Carry?
— É vizinho do nosso, podemos ir por
aqui.
— Está mesmo disposto a ficar comigo?
— Sim, jurei que vingaria a morte de seu
tio.
— Está bem, Arnold, mas faremos isso,
se possível, dentro da lei.
— Sabe que isso vai ser impossível,
Dave.
— Se não houver outro modo, agiremos
pelas armas, então. Vamos para o Rancho
Carry.
Enquanto isso, Arbuckle Miles, seu
irmão, Dam e Wyoming cavalgavam na
direção do Rancho Carry também.
Quando se aproximavam, Wyoming lhes
apontou algo.
— Aquela não é a garota?
Todos olharam na direção indicada.
Daryl Carry estava passeando a cavalo.
— Parece que estamos com sorte. Se
August Carry não quiser negociar por bem,
teremos a garota em nossas mãos.
— Quer que a pegue agora mesmo? —
indagou Wyoming.
— Não, ainda não, mas fique aqui e a
mantenha sob vigia. Na volta eu lhe direi o
que fazer.
Algum tempo depois eles estavam na
sede do rancho. O proprietário do rancho,
porém, deixou claro que não o venderia.
Arbuckle ainda tentou argumentar, mas
August Carry acabou por colocar um ponto
final na conversa.
— Está perdendo um bom negócio, Sr.
Carry — falou Arbuckle, aborrecido.
— Pode ser, mas já estou neste rancho há
muito tempo.
— Há outras terras melhores no outro
lado da cidade. Poderia fazer um bom
negócio se...
— Compre-as, então — finalizou August
Carry, sorrindo.
— Está bem, mas não diga depois que
não lhe dei nenhuma chance — despediu-se
Arbuckle.
Eles e os outros retornaram
apressadamente, encontrando Wyoming à
espera deles.
— Onde está a garota? — indagou
Arbuckle.
— Logo após aquela colina.
— Ainda está só?
— Sim.
— Pegue-a, então.
— Para onde devo levá-la?
— Se não me engano, há um rancho
abandonado nas terras que compramos, a
duas milhas naquela direção. Leve-a para lá.
Assim que eu chegar à cidade, lhe mandarei
um grupo de rapazes.
— Não acha muito perigoso levá-la para
tão perto assim? — indagou Wilde.
— Claro que não. Ninguém se lembraria
de procurá-la tão perto do rancho dela, se
lembraria? — finalizou Arbuckle, sorrindo
de modo especial.
— Acho que tem razão — concordou
Wilde.
Wyoming já ia se afastar, quando
Arbuckle o avisou:
— Não a machuque, Wyoming. Depois
que tudo isso terminar, tenho algo pessoal
para tratar com ela.
— Entendo — respondeu o pistoleiro,
sorrindo com ironia.
Enquanto o grupo voltava para a cidade,
Wyoming tratava de ir cumprir a ordem.
— Como fará para dar a notícia para
August Carry? — indagou Wilde.
— Vou esperar que ele procure pela filha
por algum tempo. Quando ele estiver
desesperado, darei o golpe final.
— Genial, Arbuckle. Simplesmente
genial! — elogiou Wilde.
Enquanto isso, Dave e Arnold chegavam
ao Rancho Carry, sendo recebidos pelo
proprietário.
Após Dave expor tudo que estava
ocorrendo, August ficou pensativo e
indagou:
— Acha mesmo que é tudo tão sério
assim?
— Pode ter certeza que sim, Sr. Carry.
— Mas o Sr. Miles sempre se mostrou
um cavalheiro. Não posso crer que ele seja
capaz de uma coisa dessas. — argumentou
August.
— Dave não mentiria sobre isso, August.
— falou Arnold. — Além disso, mais do
que ninguém, ele tem autoridade para
decidir o que fazer.
— Como assim?
Dave, então, exibiu suas credencias de
Texas Ranger.
— O caso aqui já é de conhecimento dos
Rangers? — quis saber August.
— Não, Sr. Carry. Eu vim para cá apenas
para atender um chamado de meu tio. Só
depois de minha chegada tomei
conhecimento da situação.
— O que pretende fazer?
— Falar com o xerife, inicialmente, e ver
sua verdadeira posição em tudo isso. Caso
ele tenha se vendido, eu o destituirei a
assumirei o xerifado, até que tudo esteja
normalizado.
— O que posso fazer para ajudá-lo nisso
tudo?
— Não negocie o rancho, Sr. August.
Estas terras, bem como todas as outras,
serão muito valiosas. Não lhe direi o
motivo, mas peço que acredite em mim.
— Está bem, Dave. Farei como disse.
Naquele momento, houve uma
movimentação incomum por parte dos
vaqueiros, do lado de fora da casa.
— O que está havendo? — indagou
August, indo até a porta para verificar.
— O cavalo de Daryl acaba de retornar
sem ela — informou um vaqueiro.
August Carry ficou muito preocupado,
ordenando uma busca imediata.
— Espere um instante, Sr. Carry. Se
houver uma busca, esta poderá destruir
alguma pista que ainda exista, concorda
Dave? — disse Arnold.
— O que tem em mente? — indagou
August Carry.
— Calma, Arnold. Não creio que
devamos alarmar o Sr. Carry. Afinal, a
garota pode ter sofrido uma queda apenas.
— Não, espere. Acho que Arnold tem
razão, considerando que Arbuckle Miles e
os outros saíram daqui a menos de quinze
minutos.
— Realmente? — disse Dave, olhando
interessado na direção do rancheiro. — O
que ele queria?
— Comprar minhas terras. Pelo modo
como ele agiu, deu a entender que aquela
seria sua última oferta. Agora posso
entender isso. Com minhas filha nas mãos,
eu não tenho outra escolha.
— Acalme-se, Sr. Carry. Deixe-me
cuidar disso pessoalmente. Vou tentar
localizar sua filha.
— Acha isso possível?
— Tentaremos. Em que parte do rancho
sua filha costuma passear? — indagou
Dave.
— Eu os levarei ao locais preferidos dela.
— Talvez consigamos encontrar um
pista.
Naquele momento, na cidade, os cavalos
de Ryle e de seus amigos começavam a
chegar.
Tão logo Arbuckle tomou conhecimento
do fato, foi à procura do xerife.
Encontrou-o às voltas com os cadáveres.
— Quem diabos fez isso? — indagou o
xerife a Arbuckle.
— Vamos lá dentro conversar.
— E os cadáveres?
— O papa-defuntos tomará conta deles
— disse Arbuckle, rumando para o
xerifado.
Wilde e Dam, como sempre, o
acompanhavam.
— Muito bem, xerife, é hora de merecer
o ordenado que pagamos.
— O que quer que eu faça?
— Aquele vaqueiro que chegou é
sobrinho de George Byron. Já matou dez de
meus homens, pode acreditar nisso?
— Eu o vi no saloon, parecia muito
corajoso.
— E deve ser mesmo, além de ótimo
atirador.
— Quer que eu vá atrás dele?
— Sim, é o único que pode fazer isso
agora. Ele não permitirá a aproximação de
meus pistoleiros.
— É um trabalho arriscado, se ele já sabe
que eu estou do lado de vocês.
— Ele não teve meios ainda de saber.
— Está bem, irei atrás dele e o trarei à
cidade. O resto é com vocês. — decidiu o
xerife.
— Consiga prendê-lo e terá feito o
suficiente. Ele deve estar no rancho que
pertenceu ao tio.
— O rancho é dele, agora.
— Não por muito tempo, xerife. Não por
muito tempo — ponderou Arbuckle.
Naquele momento, no rancho Carry,
Dave havia descoberto uma pista, junto a
um grupo de árvores.
— Parece que houve luta aqui — apontou
ele, após examinar o local.
— Acha que ela está bem? — indagou
August Carry, preocupado.
— Eles não fariam mal a ela, não
enquanto esperam forçá-lo a vender as
terras.
— Pode descobrir que direção tomaram?
— É o que eu estou tentando fazer —
falou Dave, continuando a examinar o
terreno.
Repentinamente, parou junto a algumas
marcas de ferraduras. Após examiná-las
com as pontas dos dedos, seguiu-as durante
um trecho.
— O que há naquela direção? — indagou
ele, apontando.
— O Rancho de Silas Zake, mas está
abandonado agora.
— A que distância fica?
— Menos de duas milhas.
— Acho que foram naquela direção. É
apenas um cavalheiro que raptou sua filha.
— Como sabe?
— As marcas de ferraduras são mais
profundas. Indica que o animal levava um
peso extra. Vamos segui-las.
Dave, Arnold e August Carry seguiram as
pistas até as proximidades do rancho
abandonado.
— Escondam-se, estou ouvindo um
tropel de cavalos — alertou Dave.
Os três homens levaram seus cavalos
para trás de algumas rochas e desmontaram.
Depois procuraram um local de onde
pudessem vigiar o que se passava ali.
Um grupo de meia dúzia de homens
desmontou diante da casa. Um homem foi
recebê-los.
— Você conhece aquele? — indagou
Dave.
— É Wyoming, o chefe dos pistoleiros
dos Miles — respondeu Arnold. — Foi ele
que matou seu tio.
Os olhos de Dave brilharam
estranhamente, mas nenhum músculo de seu
rosto se moveu.
— O que vamos fazer agora? — indagou
Arnold.
— Vamos esperar e ver o que acontece.
Junto a casa, os homens conversaram
com Wyoming, depois se espalharam, cada
um com seu rifle.
Wyoming entrou na casa por instantes,
depois saiu e apanhou seu cavalo.
— Acho que ele vai voltar para à cidade
— disse Arnold.
— Sim, os outros estão vigiando a casa.
— Como tiraremos minha filha de lá?
— Não há nada que possamos fazer no
momento. O melhor será esperar anoitecer.
— Vamos voltar ao rancho, então. Trarei
um grupo de vaqueiros e... — ia dizendo
August.
— Não, Sr. Carry. Teremos de fazer isso
com todo cuidado ou poremos em risco a
vida de sua filha.
— O que decide, então?
Dave olhou cuidadosamente na direção
da casa, mentalizando o terreno.
— Aproximar daquela casa fica muito
difícil. É campo aberto. Se houvesse um
modo de eliminar os guardas
silenciosamente, sem que fosse preciso se
aproximar deles para isso, teríamos uma
chance.
— Isso vai ser difícil, a menos que você
saiba disparar um flecha — ponderou
Arnold.
— Espere, acho que é isso mesmo. Você
acaba de nos dar uma boa idéia, Arnold.
— Se for, há um arco apache e algumas
flechas lá no rancho. Seu tio os guardava
como recordação. Estão em um armário,
num dos quartos.
— Vou buscá-las. Arnold ficará vigiando
aqui. O Sr. Carry vem comigo.
— Prefiro ficar.
— Por favor, faça como eu disse. Sua
filha será salva.
August acabou cedendo. Momentos
depois eles se afastavam dali.
Dave aconselhou o rancheiro a esperar
em sua casa, até que Daryl fosse salva.
Depois rumou para seu rancho, à procura
do arco e das flechas.
Assim que chegou, desmontou e entrou
rapidamente na casa. Quando havia
localizado o que buscava e se dispunha a
sair, notou um homem que lhe apontava
uma arma.
Dave estacou, pronto para sacar suas
armas. Ao ver a estrela de prata, porém,
relaxou os músculos.
— Foi bom encontrá-lo aqui, xerife.
Precisava mesmo falar com você.
— Sem conversa, vaqueiro. Vá soltando
o cinturão, sem nenhum movimento em
falso.
— O que quer de mim, xerife?
— Eu não quero nada, mas parece que
você é um aborrecimento para algumas
pessoas que conheço.
— As mesmas pessoas que o
compraram?
O xerife sorriu cinicamente,
respondendo:
— Você não me ofende com isso, rapaz.
Cansei de prender vaqueiros bêbados nas
noites de sábado e nada lucrar com isso.
— Saiba que está desonrando sua estrela.
— E o que vale isso?
— Está bem, xerife. Fez sua escolha.
Antes que faça qualquer outra coisa, porém,
é bom ver o que há aqui no bolso de minha
camisa.
— Não caio em truques tão idiotas, rapaz.
— Falo sério, xerife.
— Está bem, o que há aí?
Dave retirou sua carteira. O xerife sorriu
satisfeito, pois concluiu que Dave estava
disposto a pagar por sua vida.
— Coloque sua carteira sobre a mesa,
rapaz.
Dave obedeceu. O xerife a apanhou e,
quando a abriu, seu rosto se transformou em
uma careta de espanto.
— Você é um Texas Ranger?
— Sim...
— Isso aqui não quer dizer nada agora,
Texas Ranger. Pelo contrário, acaba de
decretar sua sentença de morte.
— Eu não faria isso se fosse você, xerife
— respondeu Adam, deixando cair o arco e
as flechas.
Suas mãos ficaram próximas das armas.
O xerife vacilou por instantes.
— Você não pode ser tão bom quanto
pensa... — falou o xerife, esfregando a
manga da camisa no rosto para secar o suor
que escorria, revelando seu medo.
— Eu não tentaria se fosse você, xerife
— alertou-o o Ranger, com tranqüilidade.
— Sabe que não me deixa escolha
agora...
— Você fez sua escolha quando resolveu
trair seu distintivo, xerife...
— Sim, eu sei, mas estava cansado de
ganhar míseros vinte dólares por mês...
Sabe como é...
— Não, xerife, eu não sei como é. Se
quer ter a chance de um julgamento justo,
entregue seu distintivo e suas armas agora
mesmo. Caso contrário terei de exercer meu
poder de polícia e destituí-lo...
— É seu direito, Ranger, mas não pense
que será fácil — falou o xerife, levando a
mão direita na direção do cabo de sua
pistola.
Com desespero, porém, percebeu tarde
demais que o Ranger era muito mais rápido.
Viu a mão do outro descer velozmente na
direção do Colt, sacá-lo, enquanto o polegar
puxava o cão do gatilho para trás, deixando
a arma pronta para matar.
Hesitou por instantes, imaginando se não
seria mais inteligente render-se, mas era
tarde demais.
Isso lhe custou a vida. A arma de Dave
saiu do coldre despejando chumbo.
O corpo do xerife rodopiou e bate contra
a parede, caindo para frente de braços
abertos.
Dave se certificou de que o xerife não
mais vivia. Depois guardou suas armas.
Em seguida apanhou o arco e as flechas,
mas, antes de partir, arrastou o corpo do
xerife para fora.
Procurou pelo cavalo do falso homem da
lei. Amarrou o laço na sela e depois o
prendeu nas pernas do xerife.
Antes de espantar o cavalo, Dave retirou
a estrela de prata e a espetou em seu próprio
peito.
Depois cavalgou ao encontro de Arnold.
Ao anoitecer, Dave e Arnold procuraram
se aproximar o mais possível da casa.
— Há dois guardas do lado de fora. Os
outros quatro estão na casa — informou
Arnold.
— Sim, eu os vejo.
— Acha que pode atingí-los daqui?
— Preciso tentar — respondeu Dave,
apanhando o arco e uma flecha. — Fique
pronto para qualquer emergência, Arnold.
Um dos guardas estava, naquele
momento, circulando ao redor da casa.
Dave aguardou até que ele fugisse das
vistas do outro guarda, plantado diante da
casa.
Quando isso aconteceu, o Texas Ranger
distendeu a corda do arco o mais que pôde.
A flecha sibilou, cravando-se nas costas
do pistoleiro que, sem um gemido, abriu os
braços e caiu de frente na poeira.
— Belo tiro, Dave. — elogiou Arnold. —
Onde aprendeu isso?
— Tínhamos treinamento no companhia.
Vamos ver o outro, agora — respondeu
Dave, apanhando outra flecha.
Com a mesma pontaria, fez a flecha se
encravar no peito do segundo pistoleiro.
Este encolheu o corpo, caindo imóvel.
— Agora poderemos nos aproximar —
falou Dave.
Ele e Arnold deixaram seu esconderijo e
caminharam lentamente na direção da casa.
Repentinamente, a porta se abriu. Um
pistoleiro surgiu, dizendo:
— Larry, John, venham jantar. Nós
vamos substituí-los.
— Ele nos confundiu com seus amigos
— murmurou Arnold.
— Vamos nos aproximar. A escuridão
nos favorece.
O pistoleiro que estava à porta saiu ao
encontro dos dois.
Quando já estava próximo, indagou,
levando a mão às armas:
— Quem são vocês?
— Tarde demais, amigo — falou Dave,
enterrando sua faca no estômago do
pistoleiro.
Este, no entanto, ainda conseguiu sacar
uma de suas armas e disparar a esmo.
— A garota — exclamou Dave,
entendendo que aquilo poderia ser o fim
para ela.
Dois pistoleiros surgiram à porta, de
armas na mão. Dave e Arnold dispararam
sobre eles quase que ao mesmo tempo.
Os dois renegados tentaram se sustentar
um ao outro, mas acabaram indo ao chão.
Dave, preocupado com a garota e o
último dos pistoleiros, se jogou pela porta
aberta.
Suas armas estavam prontas para
disparar, mas ele interrompeu qualquer
movimento, ficando imóvel no assoalho.
O pistoleiro apontava seu Colt para a
cabeça da jovem amarrada em uma cadeira.
— Se fizer um movimento, eu mato a
garota — ameaçou o pistoleiro.
Dave deixou cair suas armas, enquanto se
levantava lentamente.
— Quem é você? Onde conseguiu essa
estrela?
— Sou o novo xerife da cidade.
— Cometeu um erro vindo aqui, xerife. O
que houve com meus amigos?
— Eu os matei — disse Dave, tentando
manter a atenção do pistoleiro, já que
Arnold se aproximava de uma das janelas.
— Vai pagar por isso, então —
sentenciou o pistoleiro, apontando a arma
para a cabeça de Dave.
Antes que ele pudesse disparar sobre o
Texas Ranger, Arnold se antecipou,
abatendo-o com dois certeiros balaços.
Dave tratou, então, de soltar a garota.
— Quem são vocês? Arnold, eu o
reconheço agora — falou ela, assim que o
Texas Ranger lhe tirou a mordaça.
— Tudo bem com você, Daryl? —
indagou Arnold.
— Sim, não fui maltratada, apesar das
ameaças constantes.
— Este é Dave Byron, sobrinho de
George Byron — apresentou Arnold.
— Olá, Daryl. Fico aliviado de encontrá-
la a salvo.
— Como souberam disso?
— Estávamos no rancho de seu pai,
quando seu cavalo retornou sem você —
explicou Dave.
— E papai, onde está agora?
— Ele nos espera no rancho. Vamos
retornar agora mesmo.
Enquanto isso, na cidade, havia um
alvoroço causado pela chegada do corpo do
xerife, arrastado pelo seu cavalo.
Arbuckle Miles e os outros se mostraram
bastantes preocupados.
Estavam reunidos no saloon, discutindo o
que fazer em seguida.
— Aquele homem é perigoso — dizia
Wyoming. — Acho que chegou a hora de
me deixarem cuidar disso, precisamos
cuidar do caso da garota — respondeu
Arbuckle.
— Isso já são favas contadas — antecipo-
se Wilde. — O que me preocupa é esse
homem solto por aí. Quem sabe o que fará
em seguida?
— Está bem, acho que devemos agir
drasticamente a partir de agora, ou corremos
o risco de perdermos tudo que já
conseguimos — decidiu Arbuckle.
— O que faremos, então? — indagou
Dam.
— Ao amanhecer, iremos falar com
August Carry e lhe dar um ultimato quanto
à venda do rancho. Enquanto isso,
Wyoming cuidará de manter a cidade sob
vigia, nos informando se aquele vaqueiro
aparecer.
— Como poderei fazer isso se não o
conheço?
— Diga aos homens que detenham todo
desconhecido que se aproximar da cidade.
— Está bem, eles farão isso —
concordou Wyoming, indo reunir os
pistoleiros.
— Alguns dos rapazes já o viram lá no
saloon, quando discutiu com Ryle —
lembrou Dam.
— Sim, isso mesmo — emendou
Arbuckle. — Deixe um deles em cada
grupo que permanecerá de vigia. Quero que
todos fiquem atentos. Estamos lidando com
um sujeito perigoso.
Wyoming, então, tratou de cumprir as
ordens recebidas, enquanto os outros
ficavam bebendo e conversando.
Naquele momento, Dave, Arnold e Daryl
chegavam ao rancho Carry.
Foram recebidos com muita alegria,
principalmente por parte dos pais da garota.
Dave assistiu, com emoção, ao
reencontro da garota com seus familiares.
Depois, August os convidou para o
jantar. Após isso, sentaram-se no alpendre
para conversar.
— O que pretende fazer em seguida,
Dave, já que está de posse da estrela de
xerife? — indagou August.
— Pretendo ir à cidade e fazer valer meu
cargo — respondeu Dave corajosamente.
— Vai ser difícil conseguir isso. Terá a
cidade contra você. Para os outros,
Arbuckle Miles e seus comparsas são os
novos benfeitores da cidade.
— Sim, eu estava justamente pensando
nisso. Vai ser difícil abrir os olhos daquele
pessoal, a menos que...
— O que tem em mente, Dave? —
indagou Arnold.
— A menos que toda cidade saiba da
chegada da ferrovia.
— E como fazer isso? Acho que vai ser
difícil até para conseguir entrar na cidade.
— Precisamos encontrar um meio. Se a
população não nos acreditar, pelo menos
teremos lançado uma suspeita. Se eles não
nos ajudarem, ficarei satisfeito se não se
intrometerem na luta.
— Acho que há um modo de fazer isso,
Dave — disse Daryl.
— O que sugere?
— Sabe manobrar uma impressora
tipográfica?
— Penso que sim. Qual é a idéia?
— Há uma na cidade, usada para
imprimir boletins. Você poderia usá-la para
editar uma espécie de alerta à população,
falando-lhes do que está acontecendo.
— Sim, é uma idéia muito boa —
concordou Dave.
— Eu posso ajudá-lo nisso — propôs
Arnold.
— Conto com você, então. Se formos
para a cidade agora e trabalharmos durante
toda a noite, teremos os boletins logo pela
manhã. Quando a cidade acordar, eles
estarão espalhados por toda parte.
— Eu também vou com vocês. Vão
precisar de muito café e de alguma comida
— ofereceu-se Daryl.
— Pode ser perigoso — alertou Dave,
não escondendo sua satisfação pela oferta.
— Com vocês dois por perto, Não tenho
medo de nada — disse ela.
— O que acha, Sr. August? — indagou
Dave ao rancheiro.
— Daryl toma suas próprias decisões.
— Então está decidido, irei com vocês.
— finalizou ela.
Algum tempo depois, naquela mesma
noite, Dave, Arnold e Daryl se
aproximavam da cidade.
— Nota alguma coisa de anormal? —
indagou Arnold.
— Parece tudo calmo, mas é bom não
confiar nisso. Vamos nos aproximar.
— Poderemos chegar à tipografia pela
entrada dos fundos. Assim não
precisaremos entrar direto na cidade —
lembrou Daryl.
— Boa idéia, Daryl. Pode nos guiar?
— Claro, Dave. Vamos por ali.
Os três cavalgaram cautelosamente,
aproximando-se da cidade. Repentinamente,
três homens surgiram à frente deles, quando
já chegavam aos primeiros prédios da
cidade.
— Parem! — ordenou um deles.
— O que desejam? — indagou Arnold.
— Quem são vocês?
— Eu, meu irmão e minha cunhada
estávamos visitando um amigo doente —
mentiu Arnold.
— Qual é o seu nome?
— Albert Carlyle.
O pistoleiro se aproximou um pouco
mais. Um dos que estavam mais afastados,
riscou um fósforo para acender um lampião.
Arnold, com rapidez, deu um pontapé no
queixo do pistoleiro que se aproximava.
Dave esporeou seu cavalo sobre os outros
dois, derrubando-os.
Antes que ele se levantassem, Dave já
lhes apontava suas armas.
— Fiquem quietos ou os matarei como
ratos — ameaçou o Texas Ranger.
— É ele! — exclamou o pistoleiro que
havia sido golpeado no queixo.
— Procuravam por mim? — indagou
Dave.
— Sim, toda a cidade está atrás de você.
— Pior para vocês. Arnold, traga cordas,
vamos amarrar esses três.
— Não farão isso — respondeu o
pistoleiro, desafiador.
— Prefere morrer?
— Talvez, mas se você disparar sua arma
contra nós, terá todo o bando sobre vocês,
ansiosos para matá-los. Garanto que não é
isso que deseja, não?
Dave percebeu que o pistoleiro tinha
razão, notando que eles se preparavam para
reagir.
Poderia matá-los facilmente, mas os
disparos atrairiam a atenção dos outros.
Assim, Dave esperou pelo ataque de dois
pistoleiros que estavam perto dele.
O cano de sua arma atingiu a cabeça de
um deles. Uma joelhada fulminante fez o
outro se dobrar.
Arnold avançou para o pistoleiro junto
dele, tentando atingí-lo.
Este, porém, foi mais rápido, foi mais
rápido, desviando-se de Arnold e
golpeando-o com um murro.
Antes que os dois homens pudessem
fazer alguma coisa, o pistoleiro correu para
longe deles.
— Pare! — ainda ordenou Dave.
O pistoleiro, no entanto, não o obedeceu.
Dave, então, guardou suas armas, dizendo
para Arnold e Daryl:
— Vamos sair rápido daqui, ele vai dar o
alarme!
— Venham comigo, estamos perto da
tipografia.
— Vamos deixar os cavalos — lembrou
Dave.
Os três se esgueiraram por entre os
prédios, guiados por Daryl.
Pouco depois estavam na porta dos
fundos da tipografia.
— É aqui — informou Daryl.
— Mora alguém aí dentro?
— Não, isso não é muito usado. Foi
abandonado por um jornal falido e se
mostra útil às vezes.
— Nesse caso, não temos escolha —
falou Dave, abrindo a porta com um
pontapé.
— Eles revistarão a cidade a nossa
procura — falou Arnold, indo até uma das
janelas da frente, de onde se podia observar
o que acontecia na rua.
— Não acho que se lembrarão de nos
procurar aqui. Vamos escurecer as janelas e
as frestas da porta — ordenou Dave,
espalhando papel e alguns cobertores que
estavam ali.
— Temos muito trabalho a fazer.
Após tamparem as janelas, puderam
acender alguns lampiões. Dave verificou o
material e a prensa, depois tratou de pôr se
plano em prática.
Enquanto isso, no saloon, Arbuckle e os
outros tomavam conhecimento da chegada
de Dave Byron à cidade, através do
pistoleiro que o vira.
— Tem certeza de que era ele mesmo? —
insistiu Wilde.
— Sim, não há dúvida nenhuma.
— Quem estava com ele?
— Arnold, aquele capataz do rancho e a
garota Carry.
— Daryl? Tem certeza disso?
— Sim, mal pude acreditar, mas era ela
mesma.
— Diabos! Isso põe em terra todos os
nossos planos — praguejou Arbuckle,
esmurrando o balcão.
— Além disso — continuou o pistoleiro
que trouxera a informação. — Aquele
indivíduo estava usando a estrela do xerife.
— Isso quer dizer que ele sabe sobre nós,
então — deduziu Dam.
— Deixem-me cuidar disso pessoalmente
— pediu Wilde.
— O que me preocupa é saber o que ele
veio fazer aqui na cidade, principalmente
acompanhado daquela garota — falou
Arbuckle.
— Só temos que encontrá-los para saber
isso.
— Tem alguma idéia de como fazê-lo?
— Eu tenho — antecipou-se Wyoming.
— Qual é sua idéia?
— Vou reunir todo o pessoal.
Cercaremos toda a cidade e depois
acordaremos toda a população.
Revistaremos casa por casa.
— É uma boa idéia, mas como a cidade
reagirá a isso? — indagou Dam.
— Só temos de convencê-la de que o
assassino do xerife se ocultou aqui. Ela
ficará do nosso lado — respondeu
Arbuckle.
— Sim, é isso mesmo. Vou reunir o
pessoal agora mesmo decidiu Wyoming.
— Acho que todos devemos participar
disso — falou Arbuckle Miles. — O futuro
de nosso investimento está em jogo.
— É apenas um homem, Arbuckle —
lembrou Wilde.
— Mas ele já mostrou do que é capaz. Se
não o liquidarmos essa noite mesmo, tenho
a absoluta certeza de que estaremos
perdidos.
Dave interrompeu seu trabalho para olhar
na direção de Arnold e dizer:
— Arnold, saia pelos fundos e veja o que
está havendo lá fora. Parece que toda a
cidade está saindo às ruas.
O vaqueiro obedeceu prontamente.
Quando retornou, parecia bastante
alarmado.
— E então, o que houve? — indagou
Dave.
— Eles estão revistando casa por casa. A
cidade parece cercada.
— Casa por casa?
— Sim, há diversos grupos deles fazendo
isso e parece que não estão brincado em
serviço.
— Por essa eu não esperava! —
exclamou Dave, pensativo.
— O que vamos fazer, Dave? Fatalmente
seremos descobertos.
Dave, então, apagou os lampiões e depois
foi observar por uma das janelas.
— Se sairmos daqui, acabaremos
descobertos também — lembrou Arnold.
— Não se estivermos disfarçados.
— Disfarçados?
— Sim, estou vendo alguns mexicanos lá
fora. Se conseguíssemos ponchos e
sombreros, passaríamos desapercebidos na
multidão.
— Talvez eu possa conseguir isso —
falou Daryl. — A filha do proprietário do
armazém é minha amiga.
— Pode ser perigoso — alertou Arnold.
— Eles estão muito preocupados em
encontrar vocês dois. Eu posso fazer isso.
— Daryl tem razão, Arnold. Acho que
vale a pena tentar — decidiu Dave.
— Sairei pelos fundos.
A garota se afastou. Dave e Arnold se
postaram à janela, observando os
acontecimentos lá fora.
Um grupo de pistoleiros estavam a alguns
prédios dali. Felizmente Daryl retornou a
tempo.
— Pronto, aqui está tudo de que precisam
— disse ela.
Dave e Arnold vestiram os ponchos e os
sombreros, escondendo seus chapéus.
Depois saíram pelos fundos e foram se
misturar à população nas ruas.
— Alguma idéia agora, Dave? —
indagou Arnold.
— Sim, acho que devíamos aproveitar
toda essa gente e avisá-los a respeito do que
está acontecendo.
— Seríamos denunciados assim que nos
revelássemos. — lembrou Arnold.
— Daryl fará isso. É conhecida de todos.
— Diga o que devo fazer, Dave.
— Muito bem, Daryl. Conte-lhes de que
sou um Texas Ranger e peça-lhes que
voltem para suas casas, à medida que elas
forem sendo revistadas. Não quero que
ninguém se machuque.
— E vocês, o que farão?
Dave olhou na direção do saloon, antes
de responder:
— Acho que vamos entrar direto na boca
do lobo.
— Não pretende entrar lá, pretende? —
indagou Daryl, apreensiva.
— Não seremos reconhecidos. Assim
poderemos observar o que se passa lá
dentro. Além disso, chegou o momento de
decidir esta questão. Agora faça o que eu
disse, Daryl. É importante para todos nós.
Daryl concordou. Dave e Arnold, metidos
em seus disfarces, rumaram para o saloon.
Foram se sentar numa das mesas ao
fundo, debruçando suas cabeças como se
estivessem dormindo.
Arbuckle e os outros estavam em uma
das mesas no outro lado do saloon e
pareciam muito nervosos.
— O que faremos agora, Dave? —
indagou Arnold.
— Vamos esperar para ver o que
acontece. Não poderemos agir enquanto
aquele pessoal estiver lá nas ruas.
— Eu gostaria de ter o meu rifle comigo
agora.
— Vai ter que se contentar com seu
revólver mesmo, Arnold.
Repentinamente, porém, dois pistoleiros
entraram no saloon, escoltando Daryl Carry.
— Diabos! Ela foi apanhada — falou
Arnold.
— Calma, vamos observar apenas —
ordenou Dave.
Daryl foi levada à presença de Arbuckle
Miles e dos outros.
— É uma surpresa encontrá-la aqui,
Daryl — falou Arbuckle.
— Acredito realmente. Na certa pensava
que eu ainda estivesse na prisioneira de seus
homens, não? É um covarde desprezível,
sabia?
— Agora chega, Daryl. Isto aqui não vai
ser uma reunião social. Quero saber onde
está aquele vaqueiro intrometido.
— Vaqueiro? Dave Byron é mais do que
isso, Arbuckle. Ele é um Texas Ranger.
— Texas Ranger! — exclamou Arbuckle
surpreso.
Os outros homens se entreolharam,
apreensivos.
— O que os Texas Rangers têm contra
nós? — indagou Wilde.
— Posso dizer que ela já sabe de todos os
seus planos, inclusive a respeito da ferrovia.
Arbuckle se levantou, encarando Daryl,
seriamente.
— Onde está ele?
— Está perdendo seu tempo procurando
aqui na cidade. Ele e Arnold rumaram para
o rancho Byron.
— Não pensa realmente que vou
acreditar nisso...
— Então espere. Dave foi se encontrar
com uma patrulha da Texas Ranger. Logo
eles estarão aqui, de volta, para acabar com
você e seus comparsas.
— Reuna os homens — ordenou
Arbuckle a Wyoming.
— Não vai acreditar nela, vai?
— E por que não? Ela será nossa refém.
Se estiver mentindo, sua vida não valerá um
níquel.
— E se houver realmente essa patrulha?
— indagou Wyoming.
— Acabe com todos. Se pegá-los de
surpresa, eles não terão chance.
— Está bem, cuidarei disso — falou
Wyoming, saindo.
Momentos mais tarde, um tropel de
cavalos indicava que os pistoleiros estavam
saindo da cidade.
— Muito esperta a garota — comentou
Dave a Arnold.
— Sim, isso praticamente deixa o
caminho livre para nós agirmos.
Junto a outra mesa, os dois pistoleiros
ainda vigiavam Daryl.
Arbuckle olhou para a garota de modo
especial. Daryl não gostou daquele olhar,
mas se sentiu protegida ao notar a presença
de Dave e Arnold, ali no saloon.
— O que podemos fazer enquanto
esperamos? — indagou Dam.
— Tenho uma boa idéia — disse
Arbuckle, ainda olhando Daryl do mesmo
modo. — Eu serei o primeiro.
Daryl tentou escapar aos braços que a
seguravam, mas os pistoleiros a prendiam
firmemente.
— Deixem-na comigo, rapazes — falou
Arbuckle, segurando o braço da garota. —
Venha comigo e seja boazinha. Prometo que
não a machucarei.
Daryl hesitou por instantes, mas acabou
confiando na ação de Dave e Arnold,
deixando-se conduzir por Arbuckle para o
andar superior do saloon.
— O que faremos? — indagou Arnold.
— Fique aqui, eu cuido disso
pessoalmente — falou Dave, levantando-se
e deixando o saloon.
Imediatamente contornou o prédio,
chegando aos fundos. Havia uma escada
que conduzia ao andar de cima.
Rapidamente ele subiu. Ao abrir uma
porta e entrar num corredor, Dave sacou
suas armas.
De um dos quartos vinha um ruído
abafado de luta. Dave caminhou rente a
parede, para não ser visto pelos que estavam
na parte de baixo do saloon.
Diante da porta, experimentou o trinco.
Arbuckle se sentia realmente muito
confiante, pois nem trancara a porta.
Dave a empurrou e entrou. Arbuckle
deixou Daryl e se levantou rapidamente.
— Não toque nessas armas — ordenou
Dave.
— Maldito! Eu devia saber que se tratava
de um truque.
— Chegou ao fim, Miles. Você e os
outros pagarão pelas trapaças que
realizaram.
— Não pense que vou facilitar as coisas
para você, Texas Ranger. Meu irmão e Dam
Hodgson estão lá embaixo. Se disparar suas
armas, eles subirão aqui e você não terá a
menor chance com eles.
— Eles estão lá embaixo, Arbuckle
Miles, mas nós estamos aqui. Pretende jogar
com sua vida?
Daryl, que havia se levantado, tentou
correr para junto de Dave.
Arbuckle a segurou pelo braço, sacando
sua arma. Dave não pôde atirar, temendo
ferir Daryl.
— Agora inverteram-se os papéis, Texas
Ranger. Solte suas armas ou mato a garota.
— Não faça isso Dave. Enfrente-o —
pediu Daryl.
— Não posso fazer isso, Daryl — disse
Dave, abaixando suas armas.
Arbuckle, triunfante, deixou de apontar
sua arma para a cabeça de Daryl.
A garota, percebendo isso, jogou-se no
chão. Arbuckle ficou indeciso e isto lhe
custou a vida.
Dave rapidamente levantou suas armas,
disparando certeiramente.
O corpo de Arbuckle, mortalmente
ferido, foi bater contra a parede e depois
escorregou lentamente para o chão.
— Fique aqui, Daryl — ordenou Dave,
correndo para a porta.
Wilde Miles e Dam subiam
apressadamente as escadas, já de armas em
punho.
Ao perceberem Dave, dispararam suas
armas com rapidez. Dave recuou. Balas se
encravaram perigosamente na porta.
— Proteja-se, Daryl — ordenou Dave,
após fechar a porta.
Wilde e Dam se postaram um de cada
lado da porta.
— Era o Texas Ranger, tenho certeza —
falou Wilde.
— Sim, eu também o vi.
— Diabos! Se ao menos Wyoming e os
outros estivessem aqui.
— O Texas Ranger está encurralado, não
tem como sair daí.
— E como podemos tirá-lo? Não se
esqueça de que meu irmão está aí dentro.
— Pode apostar que ele já está morto,
Wilde
— Se isso aconteceu, eu esfolarei esse
Texas Ranger vivo.
— Vamos ter de entrar aí.
— Proteja-me, eu farei isso — disse
Wilde.
Antes que pudesse se mover, no entanto,
Arnold chegava ao topo da escada e lhes
apontava suas armas.
— Não se movam! — ordenou.
Wilde, o mais desesperado dos dois,
girou o corpo, apontando suas armas para
Arnold.
O vaqueiro disparou apressadamente. As
balas não atingiram Wilde, que respondeu
ao fogo.
Mortalmente atingido, o corpo de Arnold
rolou pela escada, indo se estatelar lá
embaixo.
Antes que Wilde e Dam pudessem se
refazer daquele ataque, a porta se abriu
violentamente.
As armas de Dave dispararam com
incrível rapidez. Os corpos de Wilde e Dam
se contorceram, à medida que eram
atingidos.
Quando as armas de Dave silenciaram,
Wilde e Dam ainda tentavam se manter
agarrados ao corrimão, com o sangue
escorrendo generosamente de seus corpos.
O corpo de Wilde escorregou lentamente
para o assoalho. O de Dam se soltou,
rodopiando no ar.
Com um baque surdo, seu corpo bateu
contra o assoalho, ficando imóvel.
— Arnold! — gritou Dave, correndo para
a escada.
Quando se preparava para descê-la,
Wyoming e cinco pistoleiros entraram no
saloon, apontando suas armas.
— Eu bem que imaginava — falou o
pistoleiro. — Pare aí mesmo, Texas Ranger.
— Vocês não tem mais motivos para
lutarem, homens. Acabo de matar seus
patrões.
— Isso não quer dizer nada. Agora eu sou
o patrão aqui — retrucou Wyoming.
— Estou lhes dando uma chance de
escaparem desta sem qualquer outro
problema.
— Já estamos metidos nisso e vamos até
o fim. Pena que mandei o resto dos homens
para o seu rancho. Gostaria que todos
estivessem aqui para ver como se mata um
Texas Ranger.
— É valente porque tem armas e alguns
capangas. Por que não me enfrenta cara a
cara?
— Não sou estúpido, Texas Ranger.
Arbuckle se precipitou a seu respeito.
Aposto como não há nenhuma patrulha da
Texas Ranger por aqui. Você tomou
conhecimento disso por coincidência.
— Aposta sua vida nisso?
— Meus homens estão preparados.
Cercarão seu rancho. Se houver algum
Texas Ranger por lá, será morto sem
piedade, mas eu duvido que esteja falando a
verdade.
— Nesse caso, somos apenas nós.
— Mas você está liquidado. Suas armas
estão nos coldres, as minhas estão prontas
para disparar.
— O que está havendo aqui? — indagou
Milan Dewar, entrando repentinamente no
saloon.
— Fique fora disso, agente de terras —
ordenou Wyoming, desviando os olhos para
olhar Dewar.
Aquele segundo de indecisão foi o
bastante para o possibilitar a Dave uma
reação.
Ele se atirou escada abaixo, buscando a
proteção do balcão. As armas do pistoleiro
dispararam, arrebentando garrafas.
Dave se levantou na outra ponta do
balcão. Suas armas dispararam com incrível
pontaria.
Um a um os pistoleiros foram tombando,
varados por balas certeiras, inclusive Milan
Dewar.
Restou apenas Wyoming, oculto atrás de
uma das mesas. Dave disparou contra ele.
As balas arrancaram lascas, mas não
atingiram o pistoleiro. De repente, no
saloon, ouviu-se apenas os estalidos secos
dos gatilhos das armas de Dave, sem
munição.
Wyoming riu alto, cheio de confiança.
Adiantou-se, saltando sobre o balcão.
Dave o encarou, esperando pela morte.
— O que está esperando? — indagou o
Texas Ranger.
— Quero vê-lo implorar por sua vida, seu
bastardo maldito — disse Wyoming.
— Vai esperar em vão — respondeu
Dave, fazendo menção de jogar suas armas
contra Wyoming.
Um tiro soou no saloon. Depois outro. O
rosto de Wyoming, dominado por um
sorriso, se transformou em uma careta de
dor. As balas haviam atravessado seu corpo
e agora o sangue escorria dos dois lados
dele, descendo por suas pernas e enchendo
sua bota. Quando ele cambaleou, suas botas
fizeram um ruído grotesco.
As armas escorregaram de suas mãos. Se
corpo desabou pesadamente.
No alto da escada, Daryl ainda segurava
um revólver fumegante, que havia apanhado
junto ao cadáver de Wilde.
— De repente, senti uma vontade enorme
de abraçá-la e beijá-la — falou Dave,
sorrindo para Daryl.
— Falaremos nisso depois que você
cuidar daquele bando de pistoleiros que
estará de volta daqui a pouco — respondeu
ela, começando a descer as escadas.
— Então temos que nos preparar para
eles — falou Dave, caminhando ao encontro
dela.
Abraçaram-se com força. Dave sentiu
que o corpo dela tremia.
— O que vamos fazer? — indagou ela.
— Acho que devíamos ir ao encontro
deles.
— Fala sério?
— Sim, aqui na cidade poderiam pôr em
risco a vida de inocentes. Acha que
encontraremos alguma ajuda aqui?
— Duvido muito. Você está matando a
galinha dos ovos de ouro deles.
— Acho que tem razão. Agora vamos,
temos de nos apressar.
Um tropel de cavalos lá fora indicou que
um grupo de cavaleiros vinha a todo galope
pela rua principal.
A garota correu até a porta para verificar,
enquanto Dave recarregava as armas, tendo
retirado os cartuchos que encontrava nos
cinturões dos pistoleiros mortos.
— O que foi? — indagou ele.
— Temos visitas! — informou ela.
Dave sabia que tipo de visita seria aquele.
Correu pelo saloon, recolhendo armas e
munição, levando-as para trás do balcão,
onde Daryl foi ter com ele.
— Já vi que sabe usar uma dessas —
observou ele, entregando a Winchester para
a garota.
— Farei o melhor que puder — disse ela,
engatilhando a arma com familiaridade.
Dave municiou uma espingarda que
encontrara atrás do balcão, juntamente com
uma caixa de cartuchos, depois observou os
homens que desmontavam e se postavam lá
fora.
Eles formavam um grupo decidido, que
esperava o melhor momento para invadir o
saloon.
— Quantos são? — indagou ele.
— Meia dúzia, no máximo... Talvez
sete...
Dave observou as sombras que se
deslocavam do lado de fora, preparando-se
para o ataque.
— São oito — contou ele. — Vão nos
cercar... E todos gente da pior espécie, que
não hesitará em furar nosso couro por nada.
— Vamos ficar e nos defender?
— Você fica aqui e atrai a atenção deles.
Vou impedir que eles nos cerquem — falou
ele, correndo para a porta que levava para
os fundos do saloon.
Daryl foi no seu encalço.
— O que vai fazer?
— Vou sair pelos fundos e contorná-los.
Fique atrás do balcão e comece a disparar
contra eles. Estão todos aos lados da porta e
da janela.
— Deixe comigo... Vou começar a
assustá-los — garantiu ela.
— Mas tome muito cuidado. Não quero
que nada lhe acontece. Fora isso, chumbo
naqueles bastardos! E atire para matar. Sabe
que eles não nos darão nenhuma chance...
Daryl obedeceu-o. Enquanto ele saia
pelos fundos, ela foi para o seu posto.
Apoiou o cano da arma no balcão,
procurando por um alvo.
Olhou para a janela, enquanto mirava
cuidadosamente. Viu que os homens se
movimentavam pelos chapéus que
passavam rapidamente sob a janela.
Continuou apontando. Quando enquadrou
um deles na mira, apertou o gatilho.
Através da fumaça ela viu o pistoleiro ser
atirado para o meio da rua, com um grito de
dor.
Um buraco ficou indicando, na madeira
sob a janela, o local para onde ela apontara.
Imediatamente os atacantes começaram a
disparar suas armas para o interior do
saloon.
Felizmente o balcão era feito de grossas
pranchas de madeira maciça, resistindo aos
impactos das balas, mas o mesmo não
acontecia com a porta e a janelas e
prateleira de bebidas atrás dela, que se
lascavam e estilhaçavam todas com o
impacto dos projéteis, que iam estilhaçando
garrafas e copos lá dentro.
Daryl abaixou-se, tapando os ouvidos
com as mãos, enquanto a saraivada de balas
continuava.
Lá fora, Dave havia se afastado o
suficiente para ter uma boa visão do
tiroteio.
Os homens haviam tomando suas
posições. Um deles foi na sua direção, sem
vê-lo, enquanto disparava furiosamente
contra a janela do saloon.
Dave esperou até que ele estivesse perto.
Então, surgindo inesperadamente de um
beco diante do pistoleiro, bateu com a
coronha da arma na cara do outro, fazendo-
o cair e rolar na poeira com o rosto banhado
de sangue.
Antes que o fora-da-lei tivesse condições
de entender o que estava acontecendo, Dave
caiu sobre ele, golpeando-o de novo, desta
vez sobre o nariz, com a coronha da
espingarda.
O homem gemeu, enquanto o sangue
escorria generosamente, transformando sua
cara numa máscara sangrenta.
Ainda assim ele tentou sacar seu
revólver. Dave praticamente encostou o
cano da arma na garganta dele e apertou os
dois gatilhos, degolando-o.
Um cheiro nauseando de carne queimada
misturou-se à fumaça. Rapidamente ele
remuniciou a espingarda.
Contou o número de armas que
disparavam agora contra o saloon cabana.
Eram quatro. Daryl deveria ter acertado
mais dois deles, concluiu ele, dando graças
à pontaria mortal daquela corajosa garota.
— Demônios! — berrou, quando um
cavaleiro surgiu praticamente sobre ele,
atropelando-o com o animal, derrubando-o
e pisoteando-o.
Dave rolou na poeira da rua. O cavaleiro
havia se atrasado em relação ao grupo e
chegava naquela hora. Vira quando o
Ranger atacara seu amigo e viera em seu
socorro.
Dave, ignorando as dores em seu corpo,
só se preocupava com aquele Colt apontado
para ele agora.
O tiroteio continuava cerrado contra o
saloon. Dave Byron rolava
desesperadamente, tentando fugir às patas
do cavalo e ao revólver que era apontado
contra ele. Não conseguia mirar o cavaleiro.
Não teve escolha, então. Apontou a
espingarda contra as patas do cavalo e
disparou, estraçalhando-as. O animal foi ao
chão e o homem sobre ele rolou. Sua arma
voou longe.
— Oh, meu Deus! O que você fez com a
minha perna? — indagou ele, gemendo,
olhando a perna quebrada e o osso que
furara o tecido da calça.
— Minha perna... Minha perna... —
repetia, sem entender o que aquele osso
estava fazendo fora de seu lugar normal.
Dave recarregou a arma. Apontou para o
cavalo e sacrificou-o. Depois, mancando,
aproximou-se do homem caído, que
levantou para ele seus olhos suplicantes.
— Ajude-me! — pediu ele,
pateticamente. — Você tem que me
ajudar... Olhe o que aconteceu com a minha
perna...
— É, está feio mesmo... Tive um cavalo
que sofreu uma queda e aconteceu isso com
a pata dele... — falou Dave, friamente,
olhando o outro nos olhos.
— E o que você fez? — indagou
pateticamente o pistoleiro, pálido como um
fantasma.
— Nunca fui de deixar um animal sofrer
— disse Dave, apontando a arma para a
cabeça do outro e apertando o gatilho.
— Piedade! — suplicou o outro, num fio
trêmulo e acovardado de voz.
Sua cabeça transformou-se numa massa
sanguinolenta e disforme, fumegando ainda
pelo tiro disparado à queima-roupa.
Não havia piedade alguma ou remorso
nos olhos do policial. Sabia que gente
daquela espécie não merecia consideração.
Eram piores que cascavéis.
Ele correu, então, para um ponto
privilegiado. Viu que os homens
disparavam suas armas contra o saloon e
que um deles preparava uma tocha.
— Diabos! — preocupou-se ele, pois
aqueles homens pretendia queimar Daryl lá
dentro. — Não posso deixar que nada
aconteça a ela — acrescentou, analisando a
situação.
O homem com a tocha se aproximava da
porta do saloon. Com toda aquela bebida
caída lá dentro, aquilo queimaria como uma
enorme fogueira de gravetos.
— Diabos! — praguejou de novo,
observando também a posição dos outros
atiradores.
Dos oito que haviam chegado
inicialmente, restavam quatro. Daryl
continuava disparando, mas já não podia
mirar com calma.
Ele correu, então, até onde estavam o
homem que ele havia acabado de matar e
apanhou o rifle de sua sela.
De volta ao seu posto, apontou com
calma para o homem que levava a tocha e
estava agora perigosamente junto da porta
do saloon.
Quando apertou o gatilho, viu o chapéu
voar da cabeça do homem, enquanto ele
caía para o lado com a cabeça partida.
Restavam três agora, mas não seria fácil
pegá-los, pois eles haviam percebido sua
localização.
As balas começaram a assobiar sobre sua
cabeça. Ele se escondeu. Daryl aproveitou-
se da distração dos homens lá fora e pôde
mirar atentamente contra um deles,
atingindo-o.
— Só faltam dois bastardos agora —
comentou Dave, agradecendo Daryl pela
pontaria.
Os últimos dos pistoleiros que haviam
chegado para o ataque pararam de atirar e
abaixaram-se, olhando um para o outro,
com caras de assustados.
— Diabos, Doug, só restamos nós.
— Não temos escolha, Hutch. Ele é um
Ranger, depois de tudo que aconteceu aqui,
seremos enforcados.
O outro parecia muito assustado.
— Doug... Diabos, homem, mas eu não
quero morrer assim... Eu não quero morrer
como um rato encurralado...
— Fique calmo, Hutch, nós vamos sair
disso...
— Eu estou com medo — revelou ele,
trêmulo e suando frio, sentindo a sombra da
morte pairando sobre ele.
Apavorava-o o fato de que todos os seus
amigos estavam mortos. Se ficasse ali, teria
o mesmo destino. Em pânico, correu
apanhar seu cavalo.
— Não seja covarde! — gritou-lhe Doug.
O pistoleiro não lhe deu resposta.
Esporeou seu cavalo e tentou afastar-se dali
o mais depressa possível.
— Covarde maldito! — berrou Doug,
fora de si, apontando seu rifle para o
homem em fuga e apertando o gatilho.
Com um grito o cavaleiro tombou para
frente, na sela, depois foi pendendo para o
lado, até cair. Seu pé ficou preso ao estribo
e seu corpo foi arrastado pelo animal em
disparada, levantando poeira no meio da
rua.
— Agora eu o pego — murmurou Daryl,
enquadrando Doug sua mira e apertando o
gatilho.
O pistoleiro gemeu, erguendo os braços e
deixando cair sua arma. Rolou para trás,
amaldiçoando o tiro que lhe arrancava
sangue e provocava uma dor lancinante no
ombro.
Ao vê-lo atingido, Dave precipitou-se de
onde estava, correndo até o pistoleiro, que
tentava rastejar na direção de seu cavalo.
Quando o alcançou, o rancheiro chutou-
lhe o corpo sem piedade repetidas vezes,
fazendo-o gemer e rolar na poeira.
A bala que Daryl disparara contra ele
havia atingido seu ombro direito e aberto
um enorme buraco, por onde o sangue fluía
continuamente.
— Estou morrendo, homem — disse
Doug, olhando os olhos frios de seu
oponente.
— Que se dane você, maldito! Que o
inferno o receba com todas as honras e que
Satanás tenha um bom lugar reservado para
você...
Doug continuava olhando aqueles olhos
frios e sem emoção que apenas observavam
sua agonia.
Tossiu, sentindo fortes dores nas costelas,
quebradas a pontapés. O sangue não cessava
de escorrer de seu ferimento. Daryl
aproximou-se dos dois.
— O que vai fazer com ele? — indagou
ela.
— Sangrando assim, não vai durar muito.
— Ei, Ranger... Se um animal está
sofrendo, você o sacrifica, não? Não me
deixe sangrar até morrer... Mate-me! —
suplicou o pistoleiro.
Dave encarou-o com frieza.
— Pode estar certo que tocou meu ponto
fraco, pistoleiro, mas não vou matá-lo.
Preciso poupar pelo menos um para ser
enforcado e servir de exemplo, bastardo! —
falou ele, virando-lhe as costas.
O pistoleiro traiçoeiramente encolheu
uma das pernas, retirando dali uma faca.
Com dificuldade ergueu-a, prestes a
arremessá-la contra o homem da lei.
Daryl, no entanto, percebeu o
movimento. Com rapidez ela levantou o
rifle que tinha mas mãos, disparando na
cara do pistoleiro.
O corpo do malfeitor estrebuchou no
meio da rua, com aquele buraco aberto em
sua cara.
Dave olhou-se sem nenhuma piedade.
Depois se voltou para olhar a garota.
— Acha que acabou agora? — indagou
ela.
— Sim, penso que sim...
— O que vai acontecer agora? — quis
saber ela.
— Terei de fazer um relatório para meu
comandante... Vou explicar como estava a
situação aqui. Haverá uma intervenção, até
que um novo xerife seja eleito..
Enquanto ele falava, ela o olhava
fixamente. Dave percebeu isso.
— Por que não se candidata? Não há
mais ninguém nesta cidade capaz de manter
a lei — disse ela.
As portas e janelas começavam a se abrir.
Timidamente as pessoas saíam à rua. O
prefeito e os conselheiros da cidade
surgiram, com armas engatilhadas nas
mãos.
Dave retirou seu distintivo de Texas
Ranger e estendeu-o na direção deles.
— Acho que temos muito que conversar,
senhores. O povo desta cidade precisa saber
da novidade...
— Que novidade, moço? — indagou
alguém.
— Sobre a passagem da ferrovia pela
cidade. O governador deverá anunciar
oficialmente isso na próxima semana, mas
já havia alguns espertalhões que sabiam
disso antes e queriam lucrar. Peçam ao
prefeito e aos outros que o acompanham
para explicar melhor — falou ele, tomando
Daryl pelo braço e se afastando.
— E então, o que me diz? — indagou ela.
— Primeiro precisamos resolver aquela
questão do beijo — falou ele, passando o
braço pelo ombro dela.
Daryl não protestou. Pelo contrário.
Abraçou-o pela cintura e encostou-se bem
Coleção Novelas de
Faroeste
Se gostou deste livro ou é um
apreciador de histórias do Velho Oeste,
publicadas nos anos 70/80 em formato de
bolsilivro, com certeza vai desejar conhecer
os outros títulos desta coleção.
L P Baçan O Mago das Letras
1975: escreveu e publicou seu primeiro
livro de bolso, a novela Uma Tese
para o Amor, pela Editora Cedibra,
Rio de Janeiro, passando, daí, a
escrever mensalmente novelas por
encomenda para essa e outras
editoras.
1985: teve 11 letras incluídas no LP
Saudação ao Mato Grosso, da dupla
Estudante & Caminhoneiro.
1986: teve 6 letras incluídas no LP
Oração de Um Caminhoneiro, da
mesma dupla.
1991: participou da Coletânea do I
Concurso Nacional de Literatura da
FENAE, com um conto premiado
em 1º. lugar.
1994: participou da Antologia Os Poetas,
do V Concurso Helena Kolody de
Poesia, Governo do Paraná, Curitiba
– PR.
1995: traduziu a obra El Contuberneo
Judeo-Maçónico-Comunista, de José
Antonio Ferrer Benimelli, em 2
volumes intitulados Maçonaria &
Satanismo, para a Editora "A
Trolha".
1996: publicou a novela rural Sassarico,
sobre o fim do ciclo do café, início
da rotação de culturas (soja e trigo)
e surgimento dos bóias-frias e editou
os livros Vida Minha, de Emília
Ramos de Oliveira (biografia) e
Círculo Vicioso, de Arlene Cirino de
Oliveira.
1997: participou da coletânea Poema,
Poesia... Maçom, Maçonaria,
organizada por Mário Cardoso para
a Editora Arte Real.
1998: publicou o livro de poemas
Alchimia.
1999: publicou o livro Redação Passo a
Passo e editou o livro URAÍ - Nossa
Terra, Nossa Gente, 2 volumes, de
Emília Ramos de Oliveira.
2000: teve 2 letras incluídas no CD
Nosso Negócio É Cantar, da dupla
Márcio Rogério & Luciano e 3 letras
no CD Mais, do cantor Cícero de
Souza. Publicou, neste ano de 2000,
Brincando nos Caminhos do Senhor,
revista infantil cristã, Editora e
Gráfica Cotação da Construção,
Londrina – PR.
2001: editou e prefaciou o livro
Templários, de Lori Andrei Perez
Baçan.
2002: foi o autor da letra do hino da Loja
Maçônica Londrina, em parceria
com o músico Wilmar Cirino.
2004: organizou, editou e participou do
livro I Antologia do Portal "Cá
Estamos Nós".
2006: organizou, editou e participou do
livro II Antologia do Portal "Cá
Estamos Nós".
2007: publicou os livros A Sabedoria dos
Salmos, A Sociedade Secreta dos
Templários e O Livro Secreto da
Maçonaria, pela Universo dos
Livros Editora Ltda.
2010: publicou os livros Manual da
Futura Mamãe, Quem Disse Que
Cozinha Não è Lugar de Homem e
Receitas Naturais pela editora
Universo dos Livros. Editou o livro
de contos Solidariedade, do autor
baiano João Justiniano da Fonseca.
Produziu, dirigiu e apresentou uma
série de 7 (sete) programas
radiofônicos Vila das Artes, na
Rádio Boa Nova FM, de Pérola, PR,
sobre literatura atual.
2012: traduziu, editou e publicou o livro
A Origem do Satanismo na
Maçonaria, de Arthur Edward
Waite.
2013: traduziu, editou e publicou em
formato eletrônico os livros Carmila,
de J Sheridan LeFanu, e Teoria da
Esgrima a Cavalo, de Alex Muller,
Anjos, o Caminho de Volta, Os Olhos
do Carrasco, Novelas de Terror
(Volumes I e II) Novelas Policiais
(Volumes I a 7) e Novelas de Faroeste
(Volumes I a IX) pela Lulu Press, Inc.
e Editora Saraiva.
1975 até 2015: hoje escreveu mais de 700
livros, publicados em sua maioria
em formato de bolso, sobre os mais
diferentes assuntos, como:
romances, erotismo, palavras
cruzadas, charadas, passatempos,
literatura infantil, passatempos
infantis, horóscopos, esoterismo,
simpatias populares, rezas, orações,
intenções, anjos, fadas, gnomos,
elementais, amuletos, talismãs,
estresse, manuais práticos, religião e
outros livros de bolso com os mais
diversos temas e letras para músicas.
Já editou em formato eletrônico
mais de 1000 títulos, entre
publicações individuais e antologias,
de autores de Língua Portuguesa e
Espanhola.
Publicou ao longo dos últimos 40 anos
poemas e contos em jornais de
circulação regional. Ultimamente,
Tem traduzido e editado livros
eletrônicos e empenhado em editar
todos seus títulos em formato
eletrônico para serem
disponibilizados a seus leitores.
www.acasadomagodasletras.net