Nova Jerusalém: As nuances e desígnios da última cidade da Terra.

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| 1 Página Fabio Marchiori Machado www.BereiaBlog.com.br NOVA JERUSALÉM: AS NUANCES E DESÍGNIOS DA ÚLTIMA CIDADE DA TERRA. Fabio Marchiori Machado RESUMO O principal objetivo deste artigo é demonstrar as particularidades que envolvem a Nova Jerusalém descrita no livro do Apocalipse. A intenção é discutir aspectos periféricos da cidade e a importância para ela, como o caso do novo céu e a nova terra. Neste mesmo sentido, ver quem serão as pessoas que habitarão na cidade, seja por suas qualificações ou pelos impeditivos. O artigo debate também a questão interpretativa da Nova Jerusalém. Mostra ser plausível considerar a Nova Jerusalém como símbolo da igreja de Jesus Cristo, bom como a promessa de uma cidade real futura. PALAVRAS CHAVE Nova Jerusalém; Apocalipse; Deus; simbolismo; cidade; Cristo; novo céu e nova terra. INTRODUÇÃO Em um cenário perfeito e santo, Deus estará eternamente com seus escolhidos. Estas são as palavras que, talvez, resumem os últimos versos da revelação de Deus, em Ap 21-22. O novotoma lugar central nesta conjuntura, com destaque para uma cidade, diferente de tudo que nossa humanidade pode construir ou vislumbrar: A Nova Jerusalém. É certo que ela surge no texto do apóstolo bem longe dos versículos finais da descrição da visão, mais especificamente em Ap 3.21, com ares de recompensa que é prometida a mais fiel das sete igrejas da Ásia menor, Filadélfia. O sonho de uma Nova Jerusalém era algo permeado na literatura apocalíptica judaica. Nós podemos encontrar o conceito da nova cidade revelada com o advento do messias em vários textos de literatura apocalíptica como no Testamento de Dã, 2 Baruque e 2 Esdras 1 . As riquezas de detalhes na exposição que João faz da Nova Jerusalém, aliado a dificuldade em relação aos diferentes métodos de interpretação do livro do Apocalipse desenvolvidos até hoje (longe do consenso) trazem consigo um desafio e ao mesmo tempo uma grande oportunidade de estudo. Vamos procurar entender aqui o que de fato representa a Nova Jerusalém e quais são os desdobramentos a partir dela, desde o cenário em que ela surge, passando pelo povo que habitará nela, junto com Cristo e com o Senhor, até a literalidade e o simbolismo desta que será a última cidade da terra. 1. O CONTEXTO DA DESCIDA DA CIDADE A Nova Jerusalém celestial surge na última das sete seções do livro do Apocalipse 2 (que compreende o intervalo dos capítulos 20 e 22), sendo mais especificamente tratada nos meandres do capítulo 21. 1 MOUNCE, Robert H. The book of Revelation. Grand Rapids: W. B. Eerdmans, 1977, p. 370. 2 Vários teólogos no decorrer da história defenderam, e ainda defendem a teoria de que o livro do Apocalipse é composto pela mesma história contada sete vezes. A esta teoria dá-se o nome de Teoria da Recapitulação. O

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O principal objetivo deste artigo é demonstrar as particularidades que envolvem a NovaJerusalém descrita no livro do Apocalipse. A intenção é discutir aspectos periféricos da cidadee a importância para ela, como o caso do novo céu e a nova terra. Neste mesmo sentido, verquem serão as pessoas que habitarão na cidade, seja por suas qualificações ou pelosimpeditivos.O artigo debate também a questão interpretativa da Nova Jerusalém. Mostra serplausível considerar a Nova Jerusalém como símbolo da igreja de Jesus Cristo, bom como apromessa de uma cidade real futura.

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    NOVA JERUSALM: AS NUANCES E DESGNIOS DA LTIMA CIDADE

    DA TERRA.

    Fabio Marchiori Machado

    RESUMO

    O principal objetivo deste artigo demonstrar as particularidades que envolvem a Nova

    Jerusalm descrita no livro do Apocalipse. A inteno discutir aspectos perifricos da cidade

    e a importncia para ela, como o caso do novo cu e a nova terra. Neste mesmo sentido, ver

    quem sero as pessoas que habitaro na cidade, seja por suas qualificaes ou pelos

    impeditivos.

    O artigo debate tambm a questo interpretativa da Nova Jerusalm. Mostra ser

    plausvel considerar a Nova Jerusalm como smbolo da igreja de Jesus Cristo, bom como a

    promessa de uma cidade real futura.

    PALAVRAS CHAVE

    Nova Jerusalm; Apocalipse; Deus; simbolismo; cidade; Cristo; novo cu e nova terra.

    INTRODUO

    Em um cenrio perfeito e santo, Deus estar eternamente com seus escolhidos. Estas so

    as palavras que, talvez, resumem os ltimos versos da revelao de Deus, em Ap 21-22. O

    novo toma lugar central nesta conjuntura, com destaque para uma cidade, diferente de tudo

    que nossa humanidade pode construir ou vislumbrar: A Nova Jerusalm.

    certo que ela surge no texto do apstolo bem longe dos versculos finais da descrio

    da viso, mais especificamente em Ap 3.21, com ares de recompensa que prometida a mais

    fiel das sete igrejas da sia menor, Filadlfia.

    O sonho de uma Nova Jerusalm era algo permeado na literatura apocalptica judaica.

    Ns podemos encontrar o conceito da nova cidade revelada com o advento do messias em

    vrios textos de literatura apocalptica como no Testamento de D, 2 Baruque e 2 Esdras1.

    As riquezas de detalhes na exposio que Joo faz da Nova Jerusalm, aliado a

    dificuldade em relao aos diferentes mtodos de interpretao do livro do Apocalipse

    desenvolvidos at hoje (longe do consenso) trazem consigo um desafio e ao mesmo tempo

    uma grande oportunidade de estudo.

    Vamos procurar entender aqui o que de fato representa a Nova Jerusalm e quais so os

    desdobramentos a partir dela, desde o cenrio em que ela surge, passando pelo povo que

    habitar nela, junto com Cristo e com o Senhor, at a literalidade e o simbolismo desta que

    ser a ltima cidade da terra.

    1. O CONTEXTO DA DESCIDA DA CIDADE A Nova Jerusalm celestial surge na ltima das sete sees do livro do Apocalipse

    2 (que

    compreende o intervalo dos captulos 20 e 22), sendo mais especificamente tratada nos

    meandres do captulo 21.

    1 MOUNCE, Robert H. The book of Revelation. Grand Rapids: W. B. Eerdmans, 1977, p. 370. 2 Vrios telogos no decorrer da histria defenderam, e ainda defendem a teoria de que o livro do Apocalipse composto pela mesma histria contada sete vezes. A esta teoria d-se o nome de Teoria da Recapitulao. O

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    O estudo do contexto da Nova Jerusalm muito importante, principalmente quando

    pensamos no sistema filosfico dualista grego, com seus argumentos a favor de uma

    transitoriedade terrena, de carter mau, e sua contraposio na existncia de um mundo

    espiritual perfeito somente no ps-vida, que sendo muito popular no primeiro sculo, ainda se

    perpetua com considervel proliferao em vrios grupos do cotidiano.

    A tratativa bblica clara ao mostrar o aspecto terreno dos planos de Deus. O destino

    final dos eleitos certamente no est no cu, mas sim nesta esfera que vivemos. Neste sentido,

    o texto de Apocalipse demonstra a inteno do Senhor em estabelecer uma dissoluo

    completa com o sistema antigo vigente, representado por Roma. Surge, ento, o Novo Cu e a

    Nova Terra.

    1.1 Novo Cu e Nova Terra, um conceito de vida recriado.

    O simples leitor do Apocalipse do apstolo Joo, por muitas vezes, pode se deixar levar

    ao engano no entendimento do que ser o novo cu e a nova terra. salutar, ento,

    entendermos com profundidade o significado do conceito novo/nova que surge na percope

    de Ap 21.1-7.

    Numa primeira passada de olhos pode se ter a ideia de que um novo mundo ser criado,

    a partir do nada novamente (ex nihilo), como no primrdio da histria, assim como descrito

    nas primeiras palavras do livro de Genesis.

    Muitas vezes o texto em lngua portuguesa nos trai quanto compreenso plena do

    texto sagrado. Aqui h um caso implcito. Usualmente, o texto grego do Novo Testamento se

    apropria do termo nh/oj (nos) quando quer retratar, de maneira adjetivada, o novo. Contudo, este trecho de Apocalipse que contempla a descrio do novo cu e nova terra, e

    subsequentemente a Nova Jerusalm, se utiliza do termo grego kaino/j (kains) ele aparece nove vezes no texto de Apocalipse, e em sua maioria no captulo vinte um. A diferenciao se

    faz no fato de enquanto nh/oj um adjetivo que traz consigo o conceito de algo novo, sem existncia prvia, kaino/j representa o significado de qualitativamente novo3. Isso nos leva a entender que neste trecho das escrituras devemos ter a percepo que se trata de alguma coisa

    nova a partir de algo existente.

    O novo cu e a nova terra no sero um segundo cu ou terra, como se surgisse um

    outro mundo completamente diferente. Eles sero o mesmo cu e a mesma terra, como local

    fsico, s que recriado. O termo kaino/j nos sugere que o novo cu e a nova terra sero qualitativamente diferentes, principalmente em razo da presena santa de Deus nele. O

    antigo sistema operante no mundo onde o drago, a besta, o falso profeta e a meretriz

    desenvolviam seu agir de iniquidade e corrupo no existir mais4.

    Este novo padro de mundo tem conexo direta com a criao nos seus primrdios. Por

    isso que defendida a tese que o novo cu e a nova terra no sero algo totalmente novo, mas

    sim como o paraso restaurado. Todavia, preciso verificar que o novo cu e nova terra no

    primeiro expoente dela foi Vitorino de Poetovio atravs do seu comentrio escrito perto de 300 d.C. Entre os telogos modernos de maior destaque que a defendem est William Hendriksen. 3 KISTEMAKER, Simon J. Apocalipse. So Paulo: Cultura Crist, 2004. P. 696. 4 HENDRIKSEN, William. Mais que vencedores: uma interpretao do livro do Apocalipse. So Paulo: Cultura Crist, 2011, p. 231.

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    sero o resgate pleno, materialmente falando, do Jardim do den. Lembramos que o plano de

    Deus para o futuro urbano, na cidade, e neste caso na Nova Jerusalm. O paralelo com a

    criao descrita em Genesis em termos atributivos. O novo cu e nova terra proporcionaro

    a mesma experincia de gozo para a humanidade, como ocorria no den, um lugar onde a

    comunho com Deus era plena e sem qualquer tipo de sofrimento proveniente do pecado,

    como morte, dor e tristeza.

    1.2 Deus est com seu povo

    O novo cu e a nova terra ser o lugar da habitao permanente de Deus. Na verdade,

    este momento a consumao de todo um trabalho de Deus, atravs dos sculos, no objetivo

    de restabelecer a comunho plena criatura-criador. Nas palavras de KISTEMAKER Deus

    est com o seu povo em um cenrio santo e perfeito5. Este estabelecimento permeado por

    toda estrutura das Escrituras ( Gn 17.7; Ex 6.7; Lv 26.12; Ez 11.20; Zc 2.10-11; 2Co 6.16 e

    Ap 21.3-7).

    Deus s poder estar com seu povo por causa do cenrio purificado que o novo cu e a

    nova terra representaro. O apstolo Joo no aborda isso no seu Apocalipse, mas outro

    apstolo, Pedro, o faz em sua segunda epstola (2Pe 3.1-13). Neste texto, Pedro diz manter a

    esperana da promessa feita por Deus de uma nova habitao, um novo cu e nova terra,

    descrita nos captulos sessenta e cinco e sessenta e seis do livro do profeta Isaas.

    Acreditamos que Pedro tem a ideia de purificao por causa das inmeras vezes que ele usa o

    fogo como elemento do seu discurso.

    1.3 O mar no existe mais

    A inexistncia do mar traz uma das maiores mensagens do novo cu e nova terra em sua

    rica simbologia. A primeira delas o rompimento total com o modelo de vida vigente no

    mundo, com bem observou LADD:

    A afirmao de que o mar j no existe indica a diferena radical entre o sistema novo,

    redimido, e o antigo, cado. A mesma ideia aparece na literatura apocalptica judaica (Orculus

    Sibilinos 5:447, Assuno de Moiss 10:6). Novos milagres cientficos modernos praticamente

    conquistaram os oceanos; mas no mundo antigo, com seus navios frgeis, o mar era o domnio

    das trevas, do mistrio, do traioeiro. Mas os perversos so como o mar agitado, que no pode

    se aquietar, cujas aguas lanam de si lama e lodo...No h paz (Is 57.20-21)6

    Alm de mostrar a diferena radical entre o sistema corrompido e o redimido, novo, a

    ausncia do mar no novo cu e nova terra nos ensina que no haver continuidade entre o

    antigo sistema e o novo. Ou seja, mais uma vez, como j debatido acima, vemos a

    sobreposio de sistema.

    No texto do Apocalipse, o mar, mais do que representar o inimigo do mundo antigo,

    simboliza, tambm, as inquietaes e conflitos do mundo. Tal entendimento pode ser

    5 KISTEMAKER, Simon J. 2004, p. 695. 6 LADD, George Eldon. Apocalipse: introduo e comentrio. So Paulo: Vida Nova, Mundo Cristo, 1986, p. 205.

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    defendido pelo fato de ser deste mar que surge a Besta (Ap 13.1; 17.15). O novo cu e nova

    terra ser uma anttese disso, a dizer, um lugar de plena paz.

    Por ltimo, podemos ressaltar que a inexistncia do mar simbolize a extino de limites

    entre os continentes. O mar como limite territorial no primeiro sculo era sinnimo de

    dificuldades e dispndio financeiro elevado para a realizao do comrcio. Muitas vidas eram

    ceifadas pelo mar e, por causa de seu elevado custo de transposio, fazia boa parte das

    mercadorias, dentre elas os alimentos, serem produtos acessveis a poucas pessoas.

    A Nova Jerusalm surge neste contexto, totalmente novo, sem relao nenhuma com o

    modelo operante. Seguindo a linha de mudanas, a Nova Jerusalm aparece como um romper

    definitivo com o mundo corrompido pelo pecado.

    2. QUEM PODER HABITAR NESTA CIDADE?

    Uma temtica muito explorada no livro de Apocalipse: O prmio pela perseverana da

    fidelidade a Cristo (Ap 2.7, 10, 17 e 26; 3.5, 12 e 21; Ap 21.7). Somente os vencedores

    podero beber do rio da gua da vida (Ap 22.1). Mas quem so de fato estes vencedores? A

    partir do que escreveu o apstolo Joo, h duas maneiras de determin-los, a saber, uma por

    incluso e outra por excluso.

    Estabelecendo pelo mtodo inclusivo, os vencedores so aqueles que conseguirem

    perseverar na lealdade a Jesus, mesmo diante de grande perseguio e, at mesmo, perigo de

    morte.

    O contexto histrico do Apocalipse se d na sia Menor, num tempo de pleno domnio

    do Imprio Romano. Esta parte do mundo tornara-se um grande centro de produo e

    comrcio de bens de consumo. O importante comrcio praticado ali, por sua vez, girava em

    torno de agrupamentos de produtores e mercadores em forma de associaes, tipo as cmaras

    de comrcio que temos atualmente. Elas eram conhecidas como guildas.

    No primeiro sculo, estas associaes, alm do carter comercial, tinham em si uma

    funo religiosa muito importante no imprio romano. Entre outras coisas, cabiam as guildas

    o culto ao imperador de Roma.

    A oposio a este culto compe o pilar central do desenvolvimento das sete cartas s

    igrejas da sia (Ap 2.8-3.22). O que ocorria ali era que alguns cristos para no perderem seu

    sustento ou at mesmo privilgios oriundos de suas atividades profissionais, adotavam

    prticas que tinham a falsa pretenso de alinhar suas vidas crists, e a subsequente fidelidade

    a Cristo, com as exigncias religiosas da guilda na qual eram filiados. O vencedor que Deus

    promete habitar com ele na Nova Jerusalm, ento, seria o que conseguisse se manter fiel a

    um culto somente, com apenas um senhor, e neste caso, Jesus Cristo.

    Tal fidelidade poderia fazer com que a pessoa perdesse seu emprego, e

    consequentemente seu sustendo e de sua famlia. Alguns, em razo da opo de no prestar

    culto ao imperador eram perseguidos ou at mesmo mortos (Ap 2.13). Mas este cenrio de

    terror no deveria ofuscar o gozo e a glria que o vencedor ter na Nova Jerusalm.

    Pelo outro prisma, temos o mtodo de excluso. Este mtodo traz as caractersticas

    daqueles que no habitaro na nova morada com Deus.

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    O capitulo 21 de Apocalipse descreve uma cidade contornada por uma grande muralha.

    No mundo antigo a parte mais importante de uma cidade era o muro. Ele proporcionava a

    segurana dos habitantes e a clara separao entre o que fazia e o que no fazia parte do

    conglomerado urbano. Neste sentido podemos considerar um simbolismo que nos indica que

    na Nova Jerusalm haver uma clara diviso entre aqueles que estaro dentro e fora da cidade.

    O versculo de Ap 21.27 tende a aumentar o espectro do nosso entendimento desta questo:

    Nela, nunca jamais penetrar coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominao e

    mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro.

    Fica claro que a Nova Jerusalm ser imune a investidas que viro do lado de fora.

    Estas investidas sero, certamente, proferidas por aqueles que no forem achados vencedores

    no acerto de contas final de Deus com a sua criao. Logo, ento, temos pessoas que sero

    excludas de participar da alegria de habitar pelos sculos na cidade construda pelo Pai para

    seus filhos (Ap 21.7, 26; 22.5).

    Ns temos a disposio no Apocalipse duas listas que mostram quem sero aqueles

    preteridos do grupo dos vencedores. A primeira lista est em Ap 21.8 e a segunda em Ap

    22.15. Ambas convergem entre si e so quase idnticas. A diferena que em Ap 21.8 temos

    oito tipos de pecados (se assim pudermos chamar) contra seis de Ap 22.15:

    Ap 21.8 Ap 22.15

    Covardes Ces

    Incrdulos

    Abominveis

    Assassinos Assassinos

    Impuros Impuros

    Feiticeiros Feiticeiros

    Idlatras Idlatras

    Mentirosos Mentirosos

    Tabela 1 Lista paralela de excludos de Nova Jerusalm

    Acreditamos que a inteno do autor foi na segunda lista sintetizar em ces os trs

    primeiros pecados constantes na primeira7, por isso iremos detalhar os tipos constantes na

    relao de Ap 21.8 por ser mais completa:

    Covardes Estes so o que escolheram uma segurana pessoal ao invs de se

    manter fiel a Cristo. So aqueles que como predito na parbola do semeador no

    tem raiz, e vindo a tribulao se perdem (Mt 13.21). Eles contrariam as palavras

    7 THOMAS, Robert L. Revelation 8-22: an exegetical commentary. Chicago, IL: Moody press, 1995. xv, p. 507. - Apesar de comumente as escrituras tambm trazerem simbolizado nos ces a prtica de prostituio (Dt 23.18), os gentios (Mt 15.26) e os judaizantes (Fp 3.2-3), entre outros.

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    de advertncia de Jesus que diz que quem quiser, pois, salvar a sua vida, perd-

    la- (Mc 8.35)8.

    Incrdulos Estes seriam os que pressionados pelos poderes do mundo, mudam

    de opinio em relao a sua prtica de f9. Tambm podem ser aqueles em quem

    Deus no pode confiar a preciosa mensagem de pregar o evangelho de Jesus10

    .

    Abominveis Certamente este grupo formado pelos homens que se renderam

    a prtica cltica ao imperador. Numa anlise cotidiana, so os que abrem mo da

    sua f de maneira velada a fim de participarem do sistema corrupto vigente pelo

    pecado. Nas palavras de MOUNCE They are successor to the idolatrous

    Israelites Who consecrated themselves to Baal, and became detestable like the

    things they loved (Hos 9.10; Ex 5.21; Titus 1.16 e Rev 17.4)11

    Assassinos Jesus por duas vezes faz meno no inicio do Apocalipse a

    Sinagoga de Satans (Ap 2.9 e 3.9). Esta expresso procura representar judeus

    que delatavam os cristos as foras imperiais e que, por consequncia,

    promoviam perseguio e morte das vidas de mrtires12

    . Estes so os assassinos

    que agem por influncia da Besta (Ap 13.15).

    Impuros O que traduzido por impuros o termos po/rnoj (prnos). O pecado da impureza descrito aqui tem total relao com a prtica da imoralidade

    sexual. Neste grupo concentra-se todo tipo como a prostituio, o adultrio, a

    lascvia e a homossexualidade13

    . Existe, tambm, uma relao com a

    prostituio cltica (realizada atravs das prostitutas dos templos pagos) que

    cristos infiis se envolviam atravs de suas guildas.

    Feiticeiros O uso de farma/koi (farmkoi) pode nos dar a ideia de pessoas que usavam poes mgicas e encantamentos em um culto pago de baixo

    nvel14

    . Esta uma herana da tradio hebraica, onde os feiticeiros so

    altamente combatidos por aparecerem sempre atrelados a adorao a outros

    deuses (Ex 7.11, 22.18; Lv 20.6, 27; Dt 18.11; Dn 2.2; Ml 3.5). Talvez

    possamos abranger neste pecado aqueles que procuravam praticar um

    sincretismo entre a f crist e a prtica pag imperial.

    Idlatras A prtica pag sempre esteve presente no mundo como semelhante a

    um vcio. Os idolatras so os que adoram falsos deuses, que cedem ao

    misticismo e ao oculto.

    Mentirosos Traando um paralelo conjunto com Ap 22.15, mentirosos so

    aqueles quem tem dentro de si o hbito e o prazer da mentira. Em Ap 21.27

    dito que a mentira no estar dentro dos limites da Nova Jerusalm. S por isso

    8 MOUNCE, Robert H. 1977, p. 375. 9 KRAYBILL, J. Nelson. Culto e comrcio imperiais no Apocalipse de Joo. So Paulo: Paulinas, 2004, p. 276. 10 LADD, George Eldon. 1986, p. 208. 11 MOUNCE, Robert H. 1977, p. 375. Eles so herdeiros dos israelitas idlatras que consagraram eles mesmos a Baal, e tornaram-se abominveis como as coisas que eles amavam (Os 9.10; Ex 5.21; Tt 1.16 e Ap 17.4) (traduo nossa) 12 KISTEMAKER, Simon J. 2004, p. 704. 13 Ibid. 14 LADD, George Eldon. 1986, p. 104.

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    os mentirosos j seriam excludos. A mentira o pecado principal daqueles que

    se encontram condenados separao eterna de Deus15

    .

    Estar nesta lista significa ficar de fora dos muros da Nova Jerusalm, num lugar que as

    Escrituras chamam de lago de fogo (Ap 21.8).

    3. NOVA JERUSALM SIMBOLISMO E LITERALIDADE Ns sabemos que a caracterstica mais marcante da literatura apocalptica judaica o

    uso de figuras simblicas em quase sua totalidade. por isso que um erro estudar o livro de

    Apocalipse como um relato cronolgico pleno, ou que suas descries sejam totalmente

    literais. Logo, no sendo um consenso no meio eclesistico-acadmico, tal matria objeto de

    acalorados debates.

    Dentro destas discusses est a interpretao do relato da Nova Jerusalm (Ap 21.9-

    22.3). Existem grupos que entendem que a Nova Jerusalm do Ap 21 a descrio simblica

    exclusiva da igreja crist. Outros, no polo contrrio, defendem a tese de que o relato fiel de

    uma cidade fsica, em todos os seus detalhes, como ruas de ouro e portas enormes compostas

    de uma nica prola.

    O que ns precisamos ter em mente para tentar clarear tal embate o papel impactante

    que a Nova Jerusalm tinha para o leitor/ouvinte do I sec. Para o judeu convertido, o

    restabelecimento da cidade devastada em 70 d.C. era algo que soava doce aos ouvidos por

    causa de toda sua raiz histrica. J para o gentio convertido, a possiblidade de um local nico,

    onde todos conviviam em plena harmonia e paz, representava simbolicamente a humanidade

    que tanto se sonhava. Assim, a conjuno destes dois cenrios faz-nos pensar que a Nova

    Jerusalm seria uma promessa simblica, mas ao mesmo tempo real de um mundo vivendo

    em plena harmonia com seu criador16

    . Por tanto, seria um equvoco de nossa parte se

    separssemos a Nova Jerusalm celestial da real.

    3.1 O Simbolismo da Nova Jerusalm Em Ap 21.9 a cidade mostrada a Joo como se Deus estivesse oferecendo um blsamo

    ao corao do apstolo em relao a tudo de errado que este via na igreja crist do final do

    primeiro sculo. Assim podemos entender que a Nova Jerusalm a expresso simblica da

    igreja de Cristo, a noiva, que est com ele e descer triunfante para seu local de origem, agora

    renovado.

    A igreja como noiva, a Nova Jerusalm celestial, representa o estabelecimento na

    plenitude do Reino de Deus na Terra17

    .

    Ela vem adornada produzindo um contraponto com o modo de vida mundano e terreno,

    representado no Apocalipse de Joo pela figura da Meretriz. Isso pode ser observado na

    similaridade da apresentao da Meretriz (Ap 17.1-3) e da Nova Jerusalm (Ap 21.9-10). Em

    ambos os casos o mesmo anjo (quem tem as sete taas) que leva Joo, com a mesma atitude

    (em esprito), para a contemplao. A pequena distino se faz no local. Enquanto a Meretriz

    vista de um deserto (lugar comumente que representa morte), a Nova Jerusalm vista de

    um monte (sinnimo de santidade). Logo, a Nova Jerusalm celestial certamente a

    transformao que Paulo v nos crentes a ps a converso (2Co 3.18; 4.16-18 e 5.16-17)

    15 THOMAS, Robert L. 1995. xv, p. 452. 16 KRAYBILL, J. Nelson. 2004, p. 286. 17 KISTEMAKER, Simon J. 2004, p. 707.

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    numa escala csmica, quando uma nova ordem plena suplantar a velha afetada pelo

    pecado18

    .

    Os adornos da noiva so detalhados entre os versculos onze e vinte e sete, transmitindo

    de maneira simblica as caractersticas desta nova cidade. O simbolismo da Nova Jerusalm

    como sendo a igreja se mistura de maneira rica e impressionante ao dela como cidade.

    A primeira caracterstica simblica da Nova Jerusalm a aparecer no texto que ela ter

    a glria de Deus. Este certamente o atributo mais importante da cidade. Ela ter o fulgor da

    pedra jaspe cristalina (v. 11). Parece-nos que esta pedra seria um pouco diferente do jaspe que

    conhecemos atualmente. Ela seria algo mais prxima do diamante. a mesma pedra utilizada

    para descrever a Deus assentado no seu sublime trono em Ap 4.3. A Nova Jerusalm ser

    superexposta a glria de Deus, a ponto de no necessitar de nenhum lumiar (sol ou lua ver

    v.23). A prpria glria emprestar luz a cidade.

    Alm do Jaspe, mais pedras preciosas fazem parte da descrio que Joo traz do adorno

    da noiva de Cristo. Segundo KISTEMAKER, esta a representao que algo que cabe ao

    noivo, o prprio Cristo (Ef 5.26-27)19

    . KRAYBILL tem uma viso interpretativa das pedras

    preciosas que adornam a cidade como sendo a representao da justia econmica da Nova

    Jerusalm20

    . Estas pedras representariam as riquezas dos reis da terra derrotados que seriam

    devolvidos para usufruto comum. Nossa viso ainda permanece alinhada com a

    representatividade figurativa da glria e da majestade de Deus presente na igreja e na cidade.

    Outro smbolo a se destacar a da santidade. No AT, Jerusalm j trazia consigo o

    emblema de ser uma cidade santa (Ne 11.1,18; Is 48.2 e 52.1; Dn 9.24). Neste caso, Jerusalm

    poderia ser considerada santa por ser o local do templo, habitao do altssimo no meio dos

    homens. Na Nova Jerusalm, indo a um nvel mais elevado, a santidade ser decorrncia da

    comunho plena de Deus com seus escolhidos.

    Existem vrios aspectos no texto de Ap 21 que representam o que o versculo nove diz

    diretamente (a santa cidade). O mais importante diz respeito a descrio do tamanho da

    cidade. Joo descreve a cidade como sendo um cubo:

    Aquele que falava comigo tinha por medida uma vara de ouro para medir a cidade, as suas

    portas e a sua muralha. A cidade quadrangular, de comprimento e largura iguais. E mediu a

    cidade com a vara at doze mil estdios. O seu comprimento, largura e altura so iguais. (Ap

    21.15-16)

    A inteno de tal descrio seria fazer um comparativo com o Santo dos Santos do

    templo de Salomo, que tambm era cbico (1Rs 6.20; 2Cr 3.8). Da mesma maneira que o

    Santo dos Santos representava a presena de Deus em santidade no meio do povo de Israel, a

    Nova Jerusalm ser o estandarte da santidade do Senhor em meio a criao. Em consonncia

    disso, podemos ver que o autor afirma que na nova cidade no haver templo, mas Deus ser

    o prprio templo (v.22). Em virtude disso, a cidade ter uma pureza perfeita, simbolizada pelo

    ouro puro, semelhante ao vidro transparente (v.18).

    Ainda tratando da medida da cidade, temos outro ponto a considerar. A cidade descrita

    em Ap 21 ter 4,8 milhes de m, a mesma extenso territorial do imprio romano na poca

    em que o Apocalipse foi escrito21

    . Isso refora a ideia, trazida desde o comeo do captulo

    vinte um com o relato do novo cu e nova terra, de que este evento histrico suplantar o

    modelo corrupto antigo por um novo, perfeitamente santo.

    18 MOUNCE, Robert H. 1977, p. 373. 19 KISTEMAKER, Simon J. 2004, p. 698. 20 KRAYBILL, J. Nelson. 2004, p. 288-289. 21 Taagepera, Rein. Size and Duration of Empires: Growth-Decline Curves, 600 B.C. to 600 A.D. Social Science History 3, Durhan: Duke University Press, 1979, p. 125.

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    O nmero doze tem destaque nesta percope do Apocalipse. A dimenso da cidade

    medida em 12.000 estdios em cada lado. H na cidade doze portas com os nomes das tribos

    de Israel e doze anjos. A muralha mede cento e quarenta e quatro cvados (ou seja, doze

    vezes doze) e sustentada por doze fundamentos, cada um representando um apstolo do

    Senhor. Este simbolismo nos remete ao fato da Nova Jerusalm ser resultado de uma ao

    direta de Deus no seu povo, na histria (em virtude do nmero doze). Sobre isso LADD

    discorre:

    os doze nomes dos doze apstolos do Cordeiro. Isso uma aluso bvia a teologia da igreja,

    edificada sobre o fundamento dos apstolos e dos profetas (Ef 2.20). Com este simbolismo das

    doze portas com os nomes das doze tribos de Israel e dos doze fundamentos com os nomes dos

    doze apstolos Joo indica que a cidade engloba as duas dispensaes, mostrando que o Israel

    do Antigo Testamento e a igreja do Novo Testamento tem seu lugar na morada derradeira de

    Deus22.

    Este conjunto de doze simboliza toda a dinmica do projeto redentivo de Deus. Pois

    por Israel (as portas) o mundo pode ter um salvador e pela mensagem registrada (Evangelho)

    e pregada pelos apstolos dele, este mesmo mundo teve acesso a obra expiatria do Messias.

    3.2 Nova Jerusalm Uma cidade real. Como j tratado acima, o entendimento mais comum a respeito da Nova Jerusalm

    descrita em Ap 21 do simbolismo que leva a igreja de Cristo. No entanto, o texto bblico no

    nos desautoriza a pensar numa cidade literal, real. Em verdade, toda a descrio de ruas de

    ouro, pedras preciosas, portas gigantescas composta de uma prola s, entre outras coisas

    devam ficar no campo da linguagem figurativa. Contudo, importantes aspectos podem surgir a

    partir do momento que considerarmos a possibilidade de uma cidade real no plano futuro e

    eterno de Deus.

    Uma cidade real como morada eterna tem muito mais elos em comum com a narrativa

    bblica do que se imagina. Considerando, por exemplo, que no temos dificuldade de entender

    que o den era um lugar fsico, que existiu neste plano terrestre em algum momento da

    histria, e que a nova terra e o novo cu, em conjunto com a Nova Jerusalm ser a

    restaurao deste modo operante, no poderia ser to difcil para ns aceitar a ideia de que a

    Nova Jerusalm ser uma cidade de verdade num futuro dentro dos planos de Deus. Mais

    alm, comumente aceito o argumento do novo cu e a nova terra como sendo literal. Por que

    ento no aceitar a cidade mencionada no mesmo contexto como sendo literal tambm?

    Outro ponto a favor que os patriarcas nutriam por f e ansiavam por uma cidade fsica

    arquitetada e edificada por Deus (Hb 11.10), de carter superior (Hb 11.16).

    Talvez a nossa maior dificuldade de compreenso esteja no fato de que mesmo depois

    de mais de dois mil anos de igreja, ainda estejamos sujeitos a direcionamentos do pensamento

    grego clssico. No fundo muito de ns considera que Deus s faz coisas boas no mbito

    espiritual. No que no acreditamos que Deus no possa fazer, mas aceitamos a ideia de que

    algo perfeito s existe se for desmaterializado.

    Alguns estudiosos, como Robert Gundry, defendem a tese de que a Nova Jerusalm j

    existe hoje na prtica. A Nova Jerusalm seria a descrio dos prprios santos, como sendo

    morada de Deus nos santos, a habitao do Esprito Santo23

    . Todavia, tal explanao fica

    inconclusiva, ao nosso entender, ao explicar o porqu a cidade aparece somente nos finais dos

    22 LADD, George Eldon. 1986, p. 209. 23 GUNDRY, RH. THE NEW JERUSALEM : PEOPLE AS PLACE, NOT PLACE FOR PEOPLE. NOVUM TESTAMENTUM. 29, 3, 254-264, JULY 1, 1987

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    tempos no relato bblico. No h em qualquer outra referncia de sustentao para esta ideia

    em qualquer das sete sees do Apocalipse.

    Outro ponto a se pensar quanto a repetio da palavra po/lij (plis) no capitulo vinte um. Das vinte e trs ocorrncias deste substantivo em todo texto de Apocalipse, dez referem-

    se diretamente a Nova Jerusalm, sendo nove delas somente no captulo vinte um. Tamanha

    repetio pode nos levar a entender que no se trata de uma concepo figurativa.

    Corroborando a isso, podemos pensar tambm que no faria sentido que seres humanos

    fisicamente ressuscitados em um corpo terem que habitar num local no fsico.

    Por ltimo, conseguimos traar um paralelo direto entre a Nova Jerusalm e as cidades

    do primeiro sculo. A cidade santa descrita com todas as caractersticas comuns de uma

    cidade do tempo da composio do Apocalipse. Ambas so munidas de edificaes, muros,

    portas, praas e etc. Contudo, importante ressaltar que mesmo com as caractersticas

    principais idnticas, ela guarda alguns contrastes com as cidades romanas. Na Nova Jerusalm

    no haver templo, Deus ser o templo. Nas cidades romanas sempre havia um templo pago

    ligado a uma guilda. Na Nova Jerusalm no haver noite, que era um problema srio para

    uma cidade romana, devido a precariedade de iluminao. E os portes ficaro sempre

    abertos, pois sero guardados por anjos, o que seria impensvel para uma cidade construda

    por mos humanas do sc. I.

    CONCLUSO

    Concluindo, de tudo que pudemos nos aprofundar no conhecimento das nuances da

    Nova Jerusalm, h duas questes que devemos trazer em destaque. A primeira delas que

    ela nos mostra, em definitivo, que o final ltimo do homem no ser o cu. O cu um estado

    transitrio na nossa existncia (para aqueles que creem no sangue derramado do Cordeiro). O

    projeto de Deus para ns terreno e urbano. E a segunda que a Nova Jerusalm ser o

    grande e definitivo memorial do plano redentivo de Deus, que ser dado por recompensa para

    aquele que se manter fiel e vigilante at o ltimo dia.