Notícias para ver

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“Notícias para ver” (Uma introdução ao estudo morfológico dos projetos gráficos de jornais) Palavras chaves: comunicação visual, jornalismo, sintaxe e semântica gráfica, projeto gráfico, infográficos. Norah Shallymar Gamboa Vela Mestranda pela ECA- USP Linha de pesquisa: jornalismo comparado Bolsista da FAPESP RESUMO O desenvolvimento das novas tecnologias de informação e as novas tendências de edição têm tido um impacto significativo na conquista e manutenção de leitores de meios impressos, especialmente nos jornais dos países latino-americanos. Uma revolução tecnológica que hoje acontece nos diários mais importantes do mundo tem mudado a forma de fazer jornais. Novas tecnologias de edição têm permitido que a informação "entre em cena". A partir do redesenho ou remodelação dos jornais nascem novos projetos jornalísticos que se expressam graficamente. Estes projetos privilegiam a imagem, como elemento primário. Elementos visuais tais como fotografias a cor, gráficos, desenhos, selos e retículas adquirem cada vez maior importância. Contudo, o elemento privilegiado nestas novas semântica e sintaxe gráfica é a infografia, considerada como um gênero jornalístico visual.

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Uma introdução ao estudo morfológico dos projectos gráficos de jornais. “Paper” da autoria de Norah Shallymar Gamboa Vela. Visite outros sítios de Dinis Manuel Alves em www.mediatico.com.pt , www.youtube.com/mediapolisxxi, www.youtube.com/fotographarte, www.youtube.com/tiremmedestefilme, www.youtube.com/discover747 , http://www.youtube.com/camarafixa, , http://videos.sapo.pt/lapisazul/playview/2 e em www.mogulus.com/otalcanal Ainda: http://www.mediatico.com.pt/diasdecoimbra/ , http://www.mediatico.com.pt/redor/ , http://www.mediatico.com.pt/fe/ , http://www.mediatico.com.pt/fitas/ , http://www.mediatico.com.pt/redor2/, http://www.mediatico.com.pt/foto/yr2.htm , http://www.mediatico.com.pt/manchete/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/foto/index.htm , http://www.mediatico.com.pt/luanda/ , http://www.biblioteca2.fcpages.com/nimas/intro.html

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“Notícias para ver”

(Uma introdução ao estudo morfológico dos projetos gráficos de jornais)

Palavras chaves: comunicação visual, jornalismo, sintaxe e semântica gráfica, projeto

gráfico, infográficos.

Norah Shallymar Gamboa Vela

Mestranda pela ECA- USP

Linha de pesquisa: jornalismo comparado

Bolsista da FAPESP

RESUMO

O desenvolvimento das novas tecnologias de informação e as novas tendências de

edição têm tido um impacto significativo na conquista e manutenção de leitores de meios

impressos, especialmente nos jornais dos países latino-americanos. Uma revolução

tecnológica que hoje acontece nos diários mais importantes do mundo tem mudado a forma

de fazer jornais.

Novas tecnologias de edição têm permitido que a informação "entre em cena". A

partir do redesenho ou remodelação dos jornais nascem novos projetos jornalísticos que se

expressam graficamente. Estes projetos privilegiam a imagem, como elemento primário.

Elementos visuais tais como fotografias a cor, gráficos, desenhos, selos e retículas

adquirem cada vez maior importância. Contudo, o elemento privilegiado nestas novas

semântica e sintaxe gráfica é a infografia, considerada como um gênero jornalístico visual.

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INTRODUÇÃO

Os dados dos fatos noticiosos chegam à redação dos jornais nas anotações, nas

gravações, nos filmes fotográficos e nas experiências dos jornalistas. Já colocados na

"fábrica de informações" começa um verdadeiro processo de produção técnica e intelectual.

As versões jornalísticas dos fatos, segundo sua redação, estrutura e conteúdo,

transformam-se em notícias, resenhas, entrevistas e reportagens.

O processo acontece nesse espaço importante e pequeno conhecido pelos jornalistas

como a Secretaria de Redação. Ali o material informativo toma forma gráfica e sua

qualidade é otimizada. O objetivo desse departamento é determinar os títulos certos,

corrigir estilos e dar sentido visual à informação.

A organização das unidades informativas numa página de jornal não pode ser uma

tarefa ao acaso. Essa deve responder a uma pauta de edição jornalística baseada nos

princípios de legibilidade e visibilidade, de acordo com o manual de estilo do jornal.

Os elementos básicos deste desenho são critérios em relação ao formato (tamanho

da página), mancha (margens laterais, inferior e superior), colunas (medidas do texto), fio

(espaço entre colunas), tipografia (fontes ou famílias de tipos), cores, diagramação

(retangular ou em bloco, e irregular) e elementos iconográficos.

O Projeto Gráfico é uma questão conceptual que tem um embasamento teórico.

Quando enfrentamos um diagrama em branco se faz presente um acumulado de

conhecimentos que nos permite hierarquizar e colocar adequadamente cada unidade

informativa, aproveitar ao máximo todos os elementos que a compõem (texto, título, olhos,

intertítulos, gráficos e legendas, entre outros). Falamos de sintaxe e semântica gráfica.

Já os gregos, no século V antes de nossa era, preocupavam-se com os problemas da

forma. Seu desenvolvimento arquitetônico e a contribuição de Proclo sobre retângulos e

quadrados dão conta do fato. Em nosso tempo podemos assinalar os estudos feitos pelos

especialistas da Psicologia da Forma (Gestalt) que afirmam que é precisamente a "boa

forma" que se percebe com agrado.

Este conceito se expressa nas tendências atuais -em nível internacional- que

privilegiam a diagramação em bloco em detrimento do tradicional estilo assimétrico.

A combinação de uma formação jornalística, que desperta e internaliza o sentido do

"noticioso", com os elementos básicos da expressão plástica, como a tensão ótica, o

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equilíbrio, a cor, o contraste e a harmonia é a base fundamental para um adequado trabalho

de diagramação jornalística.

Estamos no tempo das imagens. A revolução da cibernética e dos satélites têm dado

um impulso realmente significativo aos processos de difusão massiva. Os meios eletrônicos,

e particularmente a TV, estão no primeiro lugar nesse processo. Mas, os outros meios

continuam cumprindo um papel importante. No caso da imprensa escrita é preciso assinalar

que ela tem um desafio de competir no conteúdo e na forma com esses meios que estão na

vanguarda tecnológica. Impõe-se, enquanto conteúdo, um jornalismo aprofundado, de

interpretação, que entre no contexto e nos antecedentes dos fatos. Na forma, precisa-se de

uma capacidade para fazer "notícias para ver". Trata-se do aproveitamento de todos os

recursos gráficos, dentro de uma pauta de edição feita com sentido informativo.

Esse complexo processo que implica o uso de tecnologias recentes e a aplicação de

novos conceitos na elaboração dos jornais, deu passo ao que podemos considerar um novo

gênero jornalístico: as infografias, onde o visual é o primordial.

As mudanças verificadas nos jornais paulistas mais importantes reflete que estes

meios de comunicação impressos têm percorrido, há algum tempo, o caminho da

modernização e, de alguma maneira, é um reflexo do que acontece, nesta disciplina, nas

cidades mais importantes da América Latina.

A COMUNICAÇÃO VISUAL: DA GESTALT À SINTAXE VISUAL

Tudo o que se relaciona com o ato de ver é parte do processo da comunicação visual.

As pessoas recebem continuamente comunicações visuais, das quais podem extrair

informações, conhecimentos, sem utilizar palavras.

A comunicação visual se produz por meio de mensagens visuais, cujo suporte principal

é a imagem. Essas mensagens formam parte de todas as informações que atuam sobre

nossos sentidos. Isto supõe que existe um emissor de mensagens, que são recebidas por um

receptor.

Segundo explica Rafael Souza Silva (1985), “Tudo aquilo que podemos captar através

da visão acaba constituindo uma comunicação visual. Um cartaz, um edifício, um jornal,

uma flor, isto é, uma série de elementos visuais inseridos numa paisagem onde o fenômeno

espaço-tempo completa essa significação” (p.26). Mas são muitos os fatores que podem

modificar e inclusive anular a percepção da mensagem.

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Toda composição ou desenho, por exemplo, constitui, por si mesmo, uma mensagem

destinada a destacar cada uma de suas partes, dando-lhe um sentido global e vários sentidos

secundários.

O receptor de mensagens visuais observa inicialmente os fatos gráficos extraídos de

seu entorno ou os símbolos susceptíveis de definição. Depois, analisa o conteúdo

compositivo, os elementos básicos e as técnicas da mensagem visual. No caso do jornalismo

impresso, o texto transmite uma informação através de signos compreensíveis, por ser parte

de sua cultura. Mas os elementos gráficos presentes nas páginas (ilustrações, janelas,

legendas, espaços em branco, o próprio texto, títulos etc.) produzem uma informação visual

que coexiste junto do sentido semântico do próprio texto. Primeiro vemos o jornal, olhamos

sua apresentação, e depois, em um segundo momento, começamos sua decodificação.

Diferentemente de outras, a mensagem visual dos jornais é intencional, tanto na sua

forma de apresentação como no seu conteúdo, e atende a fundamentos teóricos, culturais e

operacionais. Ela deveria ser recebida na plenitude do significado desejado pelo emissor.

Para que a comunicação seja efetiva o receptor deve captar o exato significado da

mensagem enviada pelo emissor, que neste caso é o diagramador, o jornalista gráfico, o

editor gráfico. Para isso tanto emissor como receptor devem utilizar códigos conhecidos.

Nesse sentido, a mensagem gráfica dos jornais possui códigos específicos, que formam

uma linguagem também específica. Estes códigos são utilizados pelos planejadores gráficos,

ou diagramadores, na ordenação e disposição dos elementos na página do jornal ou

diagramação.

Como expressa Silva (1985), “a diagramação é o projeto, a configuração gráfica de

uma mensagem colocada em determinado campo (página, livro, revista, cartaz), que serve

de modelo para a sua produção em série. A preocupação do programador visual, e,

consequentemente, sua tarefa específica, é dar a tais mensagens a devida estrutura visual a

fim de que o leitor possa discernir, rápida e confortavelmente, aquilo que para ele representa

algum interesse” (p. 43).

É através do layout (composição de uma página impressa) que o diagramador revela a

sua intencionalidade, onde a disposição dos elementos funciona como uma linguagem, onde

forma e conteúdo permitem uma sintaxe da página.

Para poder determinar esse layout precisa-se de um projeto gráfico. É dizer, de um

documento que estabeleça, em linhas gerais, o conjunto de dados elaborados como fase

preliminar de organização e execução dos elementos que formam parte da página impressa.

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Além dos conhecimentos das técnicas e dos instrumentos de reprodução gráfica, esse

projeto gráfico deve ter em conta como se produz o processo de percepção visual e quais

são os elementos que entram em jogo na sintaxe visual.

Nesse sentido, afirma Allen Hurlburt (1980) que a escola da Gestalt continua ainda

hoje a ser a principal fonte de informação científica sobre a percepção. A capacidade que

temos de reunir e de agrupar padrões visuais, de perceber unidades de uma maneira global,

nos permite “aceitar” uma página impressa como um todo. Esta capacidade constitui a base

do processo de design e proporciona o princípio que torna possível o layout de uma página.

A PERCEPÇÃO VISUAL ATRAVÉS DA GESTALT

Qualquer projeto gráfico, e especificamente o projeto gráfico de jornal, vai encontrar

recursos para um tratamento mais objetivo nos estudos realizados pela chamada psicologia

da Gestalt, ou psicologia da Forma.1 Esta é uma escola alemã de psicologia experimental,

que teve seu origem em 1910.

O estudo da percepção tornou-se o ponto de partida histórico e teórico do

gestaltismo, possibilitando a Max Wertheimer, fundador da escola da Gestalt, formular a sua

tese fundamental, segundo a qual há contextos em que o que acontece no todo não pode ser

deduzido das características das partes separadas, mas, inversamente, o que acontece a uma

parte do todo é determinado, em casos bem nítidos, pelas leis da estrutura intrínseca do seu

todo. A unidade, a harmonia e o equilíbrio são os pilares da noção de “Boa Gestalt” no

campo da percepção. (FRACCAROLI, 1982, p. 6)

Para a Gestalt, nossa percepção está estreitamente relacionada com as forças

integradoras do processo fisiológico cerebral. Para justificar tais forças, atribui ao sistema

nervoso central um dinamismo auto-regulador que, ao procurar sua própria estabilidade,

tende a organizar as formas em “todos” coerentes e unificados. Essas organizações são

independentes de qualquer aprendizado. Para provar a sua hipótese os estudiosos da Gestalt

desenvolveram suas pesquisas, sobretudo, no campo da percepção visual. É nesse sentido

que nos interessa, pois constitui problema vital na área gráfica.

1. A palavra “Gestalt”, que dá o nome à escola, não tem em português uma tradução precisa, ainda que demaneira geral seja traduzida como forma. No seu sentido mais amplo significa uma integração de partes emoposição à soma de partes. (FRACCAROLI, 1982, p. 7)

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Através de suas pesquisas sobre a percepção, os psicólogos da Gestalt precisaram

certas constantes, quanto à maneira de como se ordenam ou se estruturam as formas

psicologicamente percebidas.

Os principais fatores ou leis consideradas são proximidade, semelhança, boa

continuidade, do destino comum ou direcionalidade e orientação, fechamento e pregnância

ou boa Gestalt. Alguns autores consideram que o princípio da pregnância abrange os da boa

continuidade e do destino comum e fechamento, e ainda incluem dentro desta lei outras

variantes como a lei da simetria ou regularidade e coerência estrutural.

A lei da “boa forma” ou princípio da pregnância é o mais geral e expressa a tendência

que cada estrutura possui de se organizar psicologicamente segundo uma forma tão

completa ou perfeita quanto as condições do momento o permitam. Quer dizer que a

organização psicológica tenderá a ser sempre a melhor possível do ponto de vista estrutural.

No caso da percepção visual, explica Rudolf Arnheim (1980), os psicólogos da Gestalt

com suas pesquisas lograram estabelecer uma lei básica: “qualquer padrão de estímulo tende

a ser visto de tal modo que a estrutura resultante é tão simples quanto as condições dadas

permitem” (p. 47). É dizer que as interações dentro do campo visual são controladas pela lei

da simplicidade, segundo a qual as forças perceptivas que constituem tal campo organizam-

se nos padrões mais simples, mais regulares e mais simétricos possíveis.

Experiência passada

Todos estes fatores são considerados fatores autônomos, não apreendidos, expressão

dos princípios estruturais relacionados ao sistema perceptivo. Mas, a Gestalt também

estudou o que se relaciona ao fator empírico. Segundo explica Kanizsa, Wertheimer

demonstrou, com as suas experiências, que em igualdade de condições a percepção do

espaço se dará também em função de nossas experiências passadas. Desta maneira, será

favorecida a constituição de objetos com os quais temos familiaridade, que já tivermos visto,

antes que formas desconhecidas ou pouco familiares.

No caso dos jornais é de grande significação esses cuidados no que se refere na

identidade gráfica. Os leitores tendem a reconhecer com maior facilidade aqueles jornais que

mantém uma estrutura gráfica padrão. Alguns autores, como Mario García (1984), definem

esse fato como personalidade gráfica, é dizer, o jornal se parece com ele mesmo. Nesta

padronização a primeira página é a que tem maior peso, para que o leitor identifique

imediatamente o jornal. A continuidade e ilação da primeira página derivam-se de elementos

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gráficos, como o cabeçalho e outros elementos fixos como o sumário (p. 50). A primeira

página não só indica o estilo do jornal. É sua apresentação. Esse mesmo princípio de

continuidade, aplica-se a elementos como filetes, legendas, tipos, formato de colunas, etc.

(p. 74).

SINTAXE VISUAL

Se existe uma comunicação visual, onde códigos ou elementos visuais podem ser

organizados para levar uma determinada mensagem compreensível para todos os membros

de um grupo, pode-se assegurar que existe uma alfabetidade visual, que implica em

semântica e sintaxe visuais.

No estudo da linguagem escrita, a semântica refere-se à “ciência da linguagem que tem

por objeto o estudo do sentido de que são portadoras as formas lingüísticas. (...) ao estudo

da significação das palavras se junta a preocupação com a análise da interação de

significados no plano sintagmático ou combinatório, e não só se tenta explicitar o

mecanismo de interpretação de frases, como estabelecer as suas relações com a realidade ou

coisas da realidade que significam” (Enciclopédia Mirador Internacional, 1975, p. 10312).

Por sua vez, a sintaxe tem relação com limites construtivos, a ordem que devem ter

estas formas lingüísticas, para que tenham um significado para uma determinada estrutura

social. Em outras palavras, é “a parte da gramática que ensina a dispor as palavras para

formar as orações, as orações para formar os períodos e parágrafos, e estes para formar o

discurso” ( Dicionário Melhoramentos, 1992, p. 480).

Na comunicação visual também existem elementos, básicos como o ponto, a linha, a

cor, ou mais complexos como formas diversas, textos, ilustrações, títulos, etc. que são

organizados de acordo com determinados parâmetros, que podem ser apreendidos, e que

têm significados para o grupo social onde são desenvolvidos.

Nesse sentido, fundamentando-se nos estudos científicos da Gestalt sobre a percepção

visual e nos trabalhos de alguns estudiosos como o psicólogo Rudolf Arnheim, Donis

Dondis tenta elaborar uma teoria geral, que explique a elaboração de uma sintaxe visual da

forma.

Para Dondis, (1995, pp. 24-29) há uma sintaxe visual, já que existem:

- linhas gerais para a criação de composições, que têm seu embasamento nos

princípios perceptivos,

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- elementos visuais básicos que podem ser aprendidos e compreendidos

- técnicas visuais, para a criação de mensagem claras e que podem ser usados, em

conjunto com os elementos visuais.

Estas três áreas são as que fundamentam a busca da alfabetidade visual.

Linhas gerais de composição

O processo de composição é o passo mais importante na solução dos problemas

visuais. A disposição ordenada de partes dentro da área gráfica, em nosso caso a página

impressa, é o que podemos chamar de sintaxe visual. Ainda que não existam regras absolutas

para abordar o processo de composição, há certo grau de compreensão do que acontecerá

em termos de significados se colocamos as partes de determinada maneira, segundo algumas

técnicas, que podem ser apreendidas e aplicadas com certa criatividade. Muitos dos critérios

que permitem a compreensão do potencial sintático da estrutura na alfabetidade visual são

dados pelos estudos da percepção.

No caso dos fatores que afetam a percepção visual, além dos estudados pela Gestalt,

(pregnância, atração e agrupamento), poder-se-ia falar da predileção pelo equilíbrio e as

tensões que gera a falta deste, como fatores compositivos que podemos utilizar

sintaticamente na busca da alfabetidade visual.

Segundo Dondis o equilíbrio é a referência visual mais forte e firme do homem, sua

base consciente e inconsciente para fazer avaliações visuais. Ao lado desta opção visual,

onde prevalece a regularidade e a simplicidade, encontra-se outra, a tensão, cuja

característica principal é a variação complexa e inesperada. O fator de tensão se apresenta

ante o irregular, o complexo, o instável. Tanto para o emissor quanto para o receptor a falta

de equilíbrio e regularidade é um fator de desorientação. A tensão gerada pelo desequilíbrio

é o meio visual mais efetivo para criar um efeito em resposta ao objetivo da mensagem.

Dito efeito tem a capacidade de transmitir a informação visual.

Elementos básicos da sintaxe gráfica

Na busca da alfabetidade visual, além das linhas gerais para a criação de composições,

Donis Dondis (1995) afirma que é preciso conhecer quais são os elementos básicos que

podem ser utilizados para criar mensagens visuais. O ponto, a linha, o contorno, a direção, o

tom, a cor, a textura, a dimensão a escala e o movimento constituem a matéria-prima de

toda informação visual.

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Outro elemento a levar em conta, refere-se ao que Germani-Fabris (1973) chama de

espaço-formato. O espaço é o marco no que se objetivam os signos, por cuja razão possui a

capacidade de contê-los. Quando o espaço se limita se converte em formato. Trata-se de um

espaço determinado por medidas, que é o suporte onde serão distribuídos os demais

elementos gráficos. No caso dos jornais, este espaço seria a página impressa (pp. 60-62).

O espaço-formato possui várias zonas úteis para a composição, e que estão

relacionadas com os hábitos de leitura, no caso da civilização ocidental, da esquerda à direita

e de cima para baixo.

Outros autores, como Silva (1985), indicam que o método de leitura aprendido no

ocidente obriga, além dos dois movimentos anteriormente mencionados, a um terceiro

movimento, que é resultante dos outros dois. A vista vai da parte superior esquerda à parte

inferior direita.

Técnicas gráficas

Junto aos elementos visuais existem técnicas que permitem a criação de uma

mensagem visual clara. As técnicas da comunicação visual manipulam os elementos visuais e

dão forma à mensagem. A técnica visual mais dinâmica é o contraste, que se contrapõe à

técnica oposta, a harmonia. Estas técnicas não só se aplicam nos extremos, pelo contrário,

seu uso se expande em sutil gradação entre ambos pontos.

Referindo-se aos jornais, Mario García (1984), indica que o mais importante, além de

conhecer e aplicar as técnicas gráficas no desenho das páginas, é ter uma idéia previa de

como irá cada um dos elementos, onde se vai colocar e que efeito terá no aspeto geral da

página. O desenho da página significa a harmonização dos seus elementos para lograr um

impacto gráfico e uma leitura fácil. Isto requer uma combinação adequada de tipografia,

fotografia e espaços brancos. (p. 57). É nesse ponto que temos de levar em conta algumas

noções sobre visibilidade e legibilidade nos jornais.

SEMÂNTICA E SINTAXE GRÁFICA NOS JORNAIS

A organização das unidades informativas em uma página de jornal, ou layout, não

pode ser uma tarefa deixada ao acaso. Ela deve responder a uma pauta de edição jornalística

baseada nos princípios de visibilidade e legibilidade, de acordo com o manual de estilo do

jornal.

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Os elementos básicos deste desenho são critérios em relação ao espaço-formato,

número e tamanho das colunas, fio, tipografia, cor, diagramação e elementos iconográficos

(semântica gráfica).

O Projeto Gráfico é uma questão conceptual que tem um embasamento teórico.

Quando enfrentamos um diagrama em branco se faz presente um acumulado de

conhecimentos que nos permite hierarquizar e colocar adequadamente cada unidade

informativa (sintaxe gráfica) e aproveitar ao máximo todos os elementos que a compõem

(texto, título, olhos, intertítulos, fotografias, gráficas e infográficas, entre outros).

Em linhas gerais, na parte gráfica todas as regras gerais de composição, elementos e

técnicas gráficas podem ser aplicadas. A combinação de uma formação jornalística, que

desperta e internaliza o sentido do “noticioso”, juntamente com a aplicação das técnicas

gráficas, como contraste e harmonia, o equilíbrio e a tensão ótica, é a base fundamental para

um adequado trabalho de diagramação jornalística, não obstante a existência de outros

elementos e técnicas mais diretamente relacionadas com o projeto gráfico do jornal, que

devem ser observadas.

Entre eles os tipos de formato (número de colunas, retrancas gráficas, tipos de

diagramação, alinhamento dos textos, tipologia), os chamados elementos morfológicos

(primários e secundários), e os gêneros jornalísticos, cujas caraterísticas têm grande

influência na apresentação gráfica.

A utilização de novos formatos e mais especificamente de novos elementos gráficos

está intimamente relacionado com o desenvolvimento tecnológico. Além dos elementos

tradicionalmente considerados, como texto, títulos e ilustrações, o desenvolvimento de

novas tecnologias de edição e produção têm facilitado a utilização de novos elementos que

anteriormente eram quase impossíveis de serem usados, como retículas, janelas, cor e

infografias.

A valorização da imagem é cada vez maior, não só porque ela permite a transmissão

de algumas informações com maior facilidade que o texto só, mas também pela facilidade de

produção, através dos modernos programas de editoração. As técnicas informatizadas

tornam possível a produção potencial quase infinita de imagens, sem que nenhuma delas

exista como tal. E aqui onde reside a novidade. Dentro desta realidade se começa a falar de

jornalismo iconográfico. Um exemplo são os infográficos coloridos, do tamanho da página

do jornal.

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Para o especialista Gonzalo Peltzer (1992) as mensagens jornalísticas visuais não são

novas. Sempre existiu uma quantidade de notícias, histórias e artigos que precisaram ser

publicadas de um modo visual. A informação gráfica apareceu na imprensa praticamente

com os primeiros jornais, mas sempre foi considerada como simples complemento da

informação textual, do que como informação em si mesma. É a partir da utilização dos

computadores nos mídia, nos anos 80, que se pode falar de uma verdadeira revolução

gráfica nos meios de comunicação.

As imagens (fotográficas ou desenhos) adquirem no jornalismo da atualidade cada vez

maior importância, e ganham cada dia maior espaço nos jornais. Junto a elas, os textos e

títulos constituem os elementos principais que dão forma á página. São os chamados

elementos morfológicos principais. Além destes devem ser considerados outros, presentes

nas páginas dos jornais brasileiros, alguns tradicionalmente utilizados e outros gerados a

partir da utilização de novos recursos gráficos, tais como as janelas. Entre eles: chapéu,

sobretítulo, créditos, olho, fios, box, logotipos, vinhetas, epígrafe, selos, selo-texto, arte-

texto.

Por outro lado, Peltzer (1992) como mencionamos anteriormente, diferencia as

fotografias das imagens ou desenhos realizados pelo homem, o que chamou de

iconográficas. A fotografia representa a realidade, em contrapartida, a linguagem

iconografica tende a abstração, já que busca a realidade em códigos universais.

Ele divide o que chama de gêneros ou códigos visuais jornalísticos em sete grupos:

gráficos, infográficos, mapas, símbolos, ilustrações, comics e iconografia animada (p. 125).

Dentro deles vamos dar especial importância ao que pode ser considerado um gênero

jornalístico visual, devido a suas caraterísticas: os chamados infográficos ou infografias.

INFOGRÁFICOS: O GÊNERO VISUAL

Apesar de a força dos fatos estar a impor em todo o mundo o nome genérico de

infografia a toda mensagem iconografica, parece mais adequado utilizar este para designar

formas concretas de veicular a mensagem visual. Assim só pode-se considerar infográficos a

"expressões gráficas, mais ou menos complexas, de informações cujo conteúdo são fatos

ou acontecimentos, a explicação de como algo funciona, ou a informação de como é uma

coisa". Os infográficos podem ser um desenho essencialmente explicito, em que todos os

elementos reais estão postos exatamente no seu sitio, acompanhado por legendas e

números explicativos. Mas também pode ser a representação gráfica de uma superfície de

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um terreno ou da planta de um campamento ou praça, a vista do interior de um corpo, a

representação dos objetos em três dimensões, vista de um panorama, etc. (Peltzer , p. 125-

133). Os mais utilizados nos jornais brasileiros, e de América Latina em geral, são os

chamados gráficos informativos, onde fotografia, desenhos, tabelas, gráficos e cor junto a

título e legendas misturam-se para dar passo ao novo elemento jornalístico.

Ao conceito utilizado por Peltzer é preciso agregar o uso dos programas de edição

gráfica e o fato de ser informação jornalística, com o que poderíamos chegar a uma outra

noção de infográficos: informação jornalística traduzida a uma linguagem gráfica, mediante a

utilização de programas de edição e tratamento de imagens, que permite ao receptor captar

visualmente a essência de cada mensagem.

É importante ressaltar que os infográficos não nasceram a partir do uso de

computadores nas redações. Eles existem praticamente desde que o homem começou a

comunicar-se a través de desenhos, junto com a escritura. Nos jornais ele também não é um

elemento novo. Mas, é só a partir da informatização das empresas jornalísticas que os

infográficos lograram o desenvolvimento que têm atualmente. Foi a partir dos anos 90 que

os infográficos começaram ocupar um lugar importante dentro das páginas de jornais e

começou-se falar da existência de um novo gênero jornalístico.

O que nos faz pensar nos infográficos como um gênero visual é o fato de que a

informação literária por eles contida permite localizar o acontecimento no tempo e no

espaço, assim como responder as clássicas perguntas que, como, onde, quem, quando e

por quê. Por isso, a diferencia de qualquer outra ilustração, eles são uma unidade

informativa total e independente. Eles devem ter a suficiente informação que permita

compreender um fato, por ele mesmo, sem necessitar de outros suportes literários ou

textuais, fora de seus limites gráficos.

Contudo, estas características têm que estar acompanhadas de simplicidade, sem

perder a qualidade. Os infográficos devem ser claros, simples de entender e rápidos de ler.

Do contrário eles perdem sua principal função: informar visualmente.

Em geral, os infográficos, além de ser a parte visual das matérias jornalísticas,

expressam o que muitas vezes não podem mostrar as fotografias e o próprio texto. Temas

como globalização, clonagem, bolsa de valores e copa do mundo são a principal inspiração

para a criação de infográficos nas redações dos jornais.

A informatização dos jornais, a utilização de infográficos, junto com outros

elementos tais como selos, retículas, gráficos e desenhos em geral, têm tido uma influência

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decisiva no surgimento de equipes de especialistas gráficos, dentro das redações. Jornais

como O Dia, do Brasil e El Clarín, da Argentina contam com um editor de infografia e

ilustração, que acompanha repórteres e fotógrafos no seu trabalho diário, assim como um

arquivo de infográficos.

Outros, como a Folha de São Paulo, encontram-se formando e treinando na sua

redação uma equipe de design, para melhorar a apresentação gráfica do jornal.

Poder-se-ia falar de uma revolução tecnológica e conceptual que está acontecendo

nas redações dos principais jornais do mundo, e da América Latina em particular, onde a

partir do uso de novas tecnologias e do desenvolvimento de conceitos gráficos, ligados ao

jornalismo, tem mudado não só a apresentação, mas a estrutura e funcionamento dos

jornais. A existência de diretorias gráficas ou infográficas, arquivos de infografias e imagens

e assessores gráficos internacionais são um reflexo direto desse fenômeno.

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