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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Yusuf Elemen
A Cobertura da Mídia brasileira sobre o Golpe Militar
de 15 de julho de 2016 na Turquia
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS: POLÍTICA
SÃO PAULO
2017
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC-SP
Yusuf Elemen
A Cobertura da Mídia brasileira sobre o Golpe Militar
de 15 de Julho de 2016 na Turquia
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS: POLÍTICA
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção
do título de MESTRE em Ciências
Sociais-Política, sob a orientação da
Professora Doutora Vera Lúcia
Michalany Chaia.
São Paulo
2017
Elemen, Yusuf. A cobertura da Mídia brasileira sobre o Golpe Militar de 15 de julho
de 2016 na Turquia. 2017. 153 p. (Mestrado em Ciências Sociais: Política). Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP, São Paulo, 2017.
Banca Examinadora:
________________________________
________________________________
________________________________
Autorizo exclusivamente para fins acadêmicos e científicos a reprodução total ou
parcial desta Dissertação de Mestrado por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura: _______________________________________________________
Data: 09/11/2017
E-mail: [email protected]
E729
Elemen, Yusuf
A cobertura da Mídia brasileira sobre o Golpe Militar de 15 de julho de 2016
na Turquia / Yusuf Elemen. – São Paulo: s.n., 2017.
153 p. ; 30 cm.
Referências: 150-152
Orientadora: Profa. Dra. Vera Lúcia Michalany Chaia
Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais: Política), Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, 2017.
1. Tentativa de Golpe Militar - Turquia. 2. Recep Tayyip Erdogan. 3. AKP.
4. Fethullah Gulen. 5. Movimento Hizmet.
CDD 300
AGRADECIMENTOS
A CAPES pela provisão da bolsa de mestrado que tornou possível a realização desse
trabalho.
À minha orientadora, Vera Chaia, que me acolheu com muito carinho e atenção.
À professora Lucia Bogus, que sempre me atendeu com paciência e carinho.
À minha família e minha esposa, Eloise Elemen.
Aos professores do programa de Ciências Sociais, Prof. Rafael Araújo, Carmen
Junqueira, Rosemary Segurado, Maura Véras; e de outras universidades e
departamentos, Fernando Altemeyer, Peter Demant, Guilherme Casarões, Claudio
Couto, Monique Goldfeld, Heitor Loureiro, Valeriano Costa, Francisco Fonseca, Jorge
Lasmar, Paulo Hilu, Martin Grossmann, Aline Alencar, Ana Carla Fonseca, Ilana
Goldstein, Liza Dumovic.
Aos amigos Baris Yuce e Bunyamin Inan pelo apoio técnico.
Aos amigos Ana Helena Curti, Aurea Viera, Andreia Nogueira, Adilson Garcia,
Antônio Donato, Claudia Toni, Cris Oliviere, Cassio Menezes, Celise Niero, Heloisa
Pisani, Joel Batista, Jose Carlos Oliveira, Kamil Ergin, Lourival Sant’anna, Marcos
Tyonsk, Mustafa Goktepe, Paula Signorelli, Renata Motta, Renato Baldacci, Ricardo
Resende, Sergio Fausto, Sergio Napchan, Silvia Antibas e Silvia Eum, pelo apoio moral
durante esse período desafiador para mim.
Muito obrigado!
LISTA DE SIGLAS
(-): Valência Negativa
(+): Valência Positiva
(ø): Valência Neutra
ac: Avaliação Crítica
ai: Agência de Notícias Internacional
AKP: Partido da Justiça e do Desenvolvimento
BTK: Conselho de Monitoramento do Primeiro Ministro
CEDH: Convenção Europeia dos Direitos Humanos
CHP: Partido da República do Povo
CUP: Comitê da União e Progresso
ed: Editorial
ep: Episódico
ESP: O Estado de S. Paulo
EU: União Europeia
EUA: Estados Unidos da América
FETO: Organização Terrorista Fethullah
FJW: Fundação de Jornalistas e Escritores
FP: Partido da Virtude
FSP: Folha de S. Paulo
GAN: Grande Assembleia Nacional
HDP: Partido Democrático do Povo
ii: Interpretativa Indireta
je: Jornalista Externa
inf: Informativa
JOG: Jornal O Globo
KCK: União das Comunidades do Curdistão
MASAK: Conselho de Investigação de Crimes Financeiros do Ministério das
Finanças
MGK: Conselho Nacional de Segurança
MGSB: Documento de Política de Segurança Nacional
MH: Movimento Hizmet
MHP: Partido Nacionalista Turco
MIT: Organização Nacional de Inteligência Turca
MNP: Partido da Ordem Nacional
MSP: Partido da Salvação Nacional
MVN: Movimento Visão Nacional
NSA: Agência Nacional de Segurança - EUA
NYT: The New York Times
ojr: Outro Jornal ou Revista
OM: Oriente Médio
ONU: Organização das Nações Unidas
pa: Plural Aberta
pf: Plural Fechada
PKK: Partido dos Trabalhadores do Curdistão
PYD: Estrutura Paralela do Estado
RP: Partido do Bem-Estar
SP: Partido da Felicidade
T1: Tema 1, narrativas
T2: Tema 2, trajetória
T3: Tema 3, direitos e democracia
T4: Tema 4, Assuntos Internacionais
TWP: The Washington Post
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Quadro de partidos da visão nacional................................... 33
Tabela 2: Relação dos votos, percentagem, deputados do AKP.......... 37
Tabela 3: Relação problemática entre AKP e Movimento Hizmet....... 49
Tabela 4: Relação dos recursos nos três jornais.................................... 75
Tabela 5: Relação da origem dos recursos nos três jornais (nacional
/internacional)........................................................................
77
Tabela 6: Relação dos enquadramentos nos três jornais....................... 79
Tabela 7: Relação dos temas sobre Erdogan nos três jornais................ 81
Tabela 8: Relação dos temas sobre Gulen nos três jornais.................... 82
Tabela 9: Relação dos temas sobre Erdogan e Gulen nos três jornais.. 83
Tabela 10: Relação da valência do Erdogan nos três jornais.................. 84
Tabela 11: Relação da valência do Gulen nos três jornais...................... 85
Tabela 12: Relação da valência do Erdogan nos três jornais.................. 86
Tabela 13: Relação da valência do Gulen nos três jornais...................... 87
Tabela 14: Relação da cobertura do tema 1 Narrativas........................... 88
Tabela 15: Relação da cobertura do tema 2 Trajetória............................ 89
Tabela 16: Relação da cobertura do tema 3 Direito e Democracia......... 91
Tabela 17: Relação da cobertura do tema 4 Assuntos Internacionais..... 93
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico A: Gráfico A: Relação dos recursos nos três jornais...................... 76
Gráfico B: Gráfico B: Relação dos enquadramentos nos três jornais......... 80
Gráfico C1: Gráfico C1: Relação dos temas sobre Erdogan nos três jornais 83
Gráfico C2: Gráfico C2: Relação dos temas sobre Gulen nos três jornais.... 83
Gráfico D1: Relação da valência do Erdogan nos três jornais....................... 86
Gráfico D2: Relação da valência do Erdogan Total...................................... 86
Gráfico E1: Relação da valência do Gulen nos três jornais.......................... 87
Gráfico E2: Relação da valência do Gulen Total.......................................... 87
Gráfico F1: Relação do Tema 1, Narrativas nos três jornais........................ 88
Gráfico F2: Relação do Tema 2, Trajetória nos três jornais......................... 89
Gráfico F3: Relação do Tema 3, Direito e Democracia nos três jornais....... 91
Gráfico F4: Relação do Tema 4, Assuntos Internacionais nos três jornais... 93
Gráfico 1.1: Recurso das Notícias - Folha de S. Paulo................................. 75
Gráfico 2.1: Recursos – O Estado de S. Paulo.............................................. 75
Gráfico 3.1: Recursos – O Globo................................................................... 75
Gráfico 1.7: Recurso Interno / Recurso Externo – Folha de S. Paulo........... 78
Gráfico 2.7: Recurso Interno / Recurso Externo – O Estado de S. Paulo..... 78
Gráfico 3.7: Recurso Interno / Recurso Externo – O Globo.......................... 78
Gráfico 1.2: Enquadramento – Folha de S. Paulo......................................... 79
Gráfico 2.2: Enquadramento – O Estado de S. Paulo.................................... 79
Gráfico 3.2: Enquadramento – O Globo........................................................ 79
Gráfico 1.3: Temas Erdogan – Folha de S. Paulo......................................... 81
Gráfico 2.3: Temas Erdogan – O Estado de S. Paulo.................................... 81
Gráfico 3.3: Temas Erdogan – O Globo........................................................ 81
Gráfico 1.4: Temas Gulen – Folha de S. Paulo............................................. 82
Gráfico 2.4: Temas Gulen – O Estado de S. Paulo........................................ 82
Gráfico 3.4: Temas Gulen – O Globo............................................................ 82
Gráfico 1.6: Valência de Erdogan – Folha de S. Paulo................................. 84
Gráfico 2.6: Valência de Erdogan – O Estado de S. Paulo........................... 84
Gráfico 3.6: Valência de Erdogan – O Globo................................................ 84
Gráfico 1.5: Valência de Gulen – Folha de S. Paulo..................................... 85
Gráfico 2.5: Valência de Gulen – O Estado de S. Paulo............................... 85
Gráfico 3.5: Valência de Gulen – O Globo.................................................... 85
LISTA DE ANEXOS
Anexo I: Divisão de Temas e subtemas
Anexo II: Subtemas detalhados
Anexo III: Ficha de catalogação manual
Anexo IV: Primeira página dos jornais no dia 16 de julho de 2016
Anexo V: Primeira página dos jornais no dia 17 de julho de 2016
Anexo VI: Página internacional dos jornais no dia 17 de julho de 2016
Anexo VII: Primeiro edital de todos os jornais
Anexo VIII: Cobertura de decreto de Estado de Emergência na Turquia
Anexo IV: Cobertura de Suspenção de Convenção de Europeia de Direitos
Humanos
Anexo X: Cobertura de Controle de Forças Armadas pelo Erdogan
Anexo XI: Cobertura de fechamentos de veículos de comunicação
Anexo XII: As fotos do Erdogan no Folha de S. Paulo
Anexo XIII: As fotos do Erdogan no Estado de S. Paulo
Anexo XIV: As fotos do Erdogan no Globo
Anexo XV: As fotos do Gulen no Folha de S. Paulo
Anexo XVI: As fotos do Gulen no Estado de S. Paulo
Anexo XVII: As fotos do Gulen no Globo
Anexo VIII: Fichas de catalogação digital Folha de S. Paulo
Anexo XIX: Fichas de catalogação digital Estado de S. Paulo
Anexo XX: Fichas de catalogação digital Jornal O Globo
Anexo XXI: Distribuição de Recursos e Autoria de Notícias da Folha de S. Paulo
Anexo XXII: Distribuição de Recursos e Autoria de Notícias Do Estado de S. Paulo
Anexo XIII: Distribuição de Recursos e Autoria de Notícias Do jornal o Globo
Elemen, Yusuf. A cobertura da Mídia Brasileira sobre o Golpe Militar de 15 de julho
de 2016 na Turquia. 2017. 153 p. (Mestrado em Ciências Sociais). Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP, São Paulo, 2017.
RESUMO
No dia 15 de julho de 2016, houve uma tentativa de golpe militar na Turquia, por uma
facção dentro das Forças Armadas turcas que se apresentaram como o “Conselho da Paz
na Pátria”, contudo, desta vez – diferentemente do que ocorreu com os anteriores, como
os golpes de 1960, 1971, 1980 e 1997 – este não foi bem-sucedido. A tentativa de golpe
é considerada o mais importante acontecimento desde 1946 por seus resultados políticos
e sociais. Nesse sentido, a imprensa brasileira publicou um grande volume de notícias
sobre o assunto, devido ao impacto internacional gerado pelo golpe. O objetivo deste
trabalho é analisar o enquadramento da cobertura dos jornais Folha de S. Paulo, O
Estado de S. Paulo e O Globo, no período de 16 de julho a 30 de agosto de 2016.
Palavras-chave: Tentativa de Golpe Militar na Turquia; Recep Tayyip Erdogan; AKP;
Fethullah Gulen; Movimento Hizmet.
Elemen, Yusuf. A cobertura da Mídia Brasileira sobre o Golpe Militar de 15 de julho
de 2016 na Turquia. 2017. 153 p. (Mestrado em Ciências Sociais). Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, PUC-SP, São Paulo, 2017.
ABSTRACT
On July 15, 2016, there was a military coup attempt in Turkey by a faction within the
Turkish Armed Forces that presented themselves as the "Council of Peace at Home",
but, this time - different from what happened with the previous ones, such as 1960,
1971, 1980 and 1997 coup d'état - was not successful. The attempted coup is considered
the most important event since 1946 by its political and social results. In this sense, the
Brazilian press published a great volume of news on the subject, due to the international
impact generated by the coup. The aim of this work is to analyze the coverage of the
newspaper Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo and O Globo, from July 16 to
August 30, 2016.
Keywords: Coup Attempt in Turkey, Recep Tayyip Erdogan, AKP, Fethullah Gulen,
Hizmet Movement.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 17
CAPÍTULO 1 - A TURQUIA MODERNA E AS TRÊS FIGURAS MARCANTES: MUSTAFA KEMAL ATATÜRK, RECEP TAYYIP ERDOGAN E FETHULLAH GULEN .......................................................................................................................... 26 1. Mustafa Kemal Ataturk .............................................................................................. 26 a) A Liderança ............................................................................................................ 27 b) O Legado ................................................................................................................ 27
2. Recep Tayyip Erdogan ............................................................................................... 32 a) O Movimento Islã Político ..................................................................................... 32 b) Surgimento do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) .......................... 36 c) A Liderança ............................................................................................................ 40
3. Fethullah Gulen .......................................................................................................... 42 a) Movimento Hizmet ................................................................................................. 42 b) Liderança ................................................................................................................ 46 4. Aliança e Rompimento do AKP e MH ....................................................................... 49
a) Do renascimento à rivalidade ................................................................................. 49 b) Aliança Estratégica (2002-2010) ............................................................................ 50
c) Confronto Oculto (2010-2013) ............................................................................... 53
d) Confronto Aberto (2013-2016) .............................................................................. 55
e) Guerra Total (2016 e depois) .................................................................................. 58
CAPÍTULO 2 – COBERTURA INTERNACIONAL NOS JORNAIS E A
TURQUIA ..................................................................................................................... 61 2.1 História dos Jornais ................................................................................................... 61
a) Folha de S. Paulo ................................................................................................... 61 b) O Estado de S. Paulo .............................................................................................. 63
c) Jornal O Globo ........................................................................................................ 64 2.2 O Jornalismo a Distância .......................................................................................... 65
a) A Redação............................................................................................................... 67
b) Correspondentes e Enviados Especiais .................................................................. 68
c) Agências de notícias ............................................................................................... 69 2.3 Editorial sobre a Turquia .......................................................................................... 71
CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DAS NOTÍCIAS ............................................................ 74 3.1. Análise das notícias veiculadas pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S.
Paulo e O Globo ............................................................................................................. 74 a) Análise da cobertura conforme os recursos ............................................................ 74 b) Análise conforme origem do recurso, interno ou externo ...................................... 77 c) Análise da cobertura conforme os enquadramentos ............................................... 79 d) Análise da cobertura conforme os temas Erdogan e Gulen .................................... 80
e) Valência de Erdogan e Gulen ................................................................................. 84 f) Cobertura do Tema 1 narrativas: ............................................................................ 88
g) Cobertura do Tema 2 Trajetória: ............................................................................ 89 h) Cobertura do Tema 3 Direitos e Democracia ......................................................... 90 i) Cobertura do Tema 4 Assuntos Internacionais ....................................................... 92 3.2. A cobertura dos Jornais ........................................................................................... 94
a) No dia seguinte do golpe: 16 de julho de 2016 ...................................................... 94 b) No dia 17 de julho de 2016 ..................................................................................... 99 c) No dia 18 de julho de 2016 ................................................................................... 104
d) No dia 19 de julho de 2016 ................................................................................... 105 e) No dia 20 de julho de 2016 ................................................................................... 109 f) No dia 21 de julho de 2016 (Declaração de Estado de Emergência) ................... 112 g) No dia 22 de julho de 2016 ( Convenção Europeia de Direitos Humanos).......... 116 h) Nos dias 23-26 de julho de 2016 .......................................................................... 117
i) No dia 27 de julho de 2016 ................................................................................... 120 j) No dia 28 de julho de 2016 ................................................................................... 122 k) No dia 29-30 de julho de 2016 ............................................................................. 123
l) No dia 31 de julho de 2016 ................................................................................... 126 m) No dia 01 a 07 de agosto de 2016 ......................................................................... 127 n) No dia 08 a 14 de agosto de 2016 ......................................................................... 131 o) No dia 15 a 21 de agosto de 2016 ......................................................................... 136 p) No dia 21 a 31 de agosto de 2016 ......................................................................... 139
CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................... 141
a) A cobertura da Folha de S. Paulo......................................................................... 146
b) A cobertura de O Estado de S. Paulo ................................................................... 147 c) A cobertura do Jornal O Globo............................................................................. 148
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 150
17
INTRODUÇÃO
A Turquia, cujo nome oficial é República da Turquia (Türkiye Cumhuriyeti), é
um país eurasiático constituído por uma parte europeia, a Trácia, e uma grande parte
asiática, a Anatólia, banhado pelo mar Negro, Mediterrâneo e Egeu. Um museu aberto,
berço das grandes civilizações com história milenar, a República da Turquia, um Estado
democrático e secular, com a sua localização geoestratégica, ponte entre o oriente e o
ocidente, com uma população de 80 milhões, predominantemente muçulmanos, membro
da OTAN, candidato à União Europeia, desde 1987, um aliado dos Estados Unidos,
nunca perdeu a sua importância na política internacional.
Na noite do dia 15 de julho de 2016 ocorreu uma tentativa de golpe na Turquia,
nas cidades de Istambul e Ancara, por uma facção das Forças Armadas autointitulada
Conselho de Paz na Pátria. O Conselho citou uma erosão do secularismo, a eliminação
do domínio democrático, o desrespeito pelos direitos humanos e a perda de
credibilidade da Turquia na arena internacional como razões para o golpe. Sendo assim:
"as Forças Armadas da Turquia completaram a tomada da administração do país para
reinstalar a ordem constitucional, direitos humanos e liberdade, o estado de direito e a
segurança geral que foi afetada", todos os acordos internacionais ainda são válidos.
Esperamos que toda nossa boa relação com todos os países continue”1.
O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, estava de férias em um resort em
Marmaris, contudo, conclamou a população para tomarem as ruas e se oporem ao golpe,
em um discurso transmitido ao vivo na televisão a partir de um celular. Dezenas de
milhares de pessoas atenderam ao pedido, indo às ruas para se manifestarem,
enfrentaram os soldados quarteladas, subindo nos tanques implantados nas ruas. O
presidente Erdogan retornou a Istambul na madrugada e foi recebido no aeroporto por
uma grande multidão. Na coletiva de imprensa, ele disse que “esse golpe é uma dádiva
de Deus para que façamos uma limpeza no Exército”, após voltar a Istambul. “Quem
está mobilizado em tanques contra nós deve se render. Milhões de turcos estão nas ruas
1 Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,militares-turcos-tomam-pontos-de-
ancara-e-istambul-e-governo-denuncia-golpe>. Acesso em: 15 set. 2017.
18
em plena madrugada contra essa minoria do Exército”2. Durante a madrugada, os
soldados se renderam. Segundo informações oficiais, a tentativa de golpe deixou 312
mortos e 2 mil feridos.
Para a cobertura da mídia brasileira sobre o Golpe Militar de 2016 na Turquia, a
unidade de análise de nossa pesquisa são os jornais: Folha de S. Paulo, O Estado de S.
Paulo e O Globo. O período delimitado é o intervalo entre 15 de julho, realização do
golpe, a 30 de agosto de 2016, Reunião Anual do Supremo Conselho Militar.
A argumentação desta dissertação desenvolve-se em introdução, três capítulos e
conclusão, além dos anexos. A introdução inicia-se com uma breve exposição sobre a
importância da Turquia, o objetivo da pesquisa e a metodologia utilizada. O capítulo 1
faz uma breve exposição do contexto político e dos partidos políticos na Turquia
moderna e apresenta três figuras importantes nas discussões de hoje: Mustafa Kemal
Atatürk, fundador da Republica Turquia, Recep Tayyip Erdogan, fundador do partido da
Justiça e do Desenvolvimento (AKP) e, por fim, Fethullah Gulen, inspirador do
movimento Hizmet. O capítulo 2 traz uma abordagem literária sobre os três jornais
Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo e O Globo e suas linhas editorias sobre a
Turquia. O capítulo 3 analisa a cobertura dos jornais da unidade de pesquisa. Por fim, a
conclusão analisa os dados da cobertura dos três jornais e os anexos ilustram com dados
estatísticos nossa pesquisa.
Objetivo
A presente dissertação pretende analisar o enquadramento da cobertura
jornalística do Golpe de 15 de julho de 2016 na Turquia. Apesar de a grande mídia
brasileira não possuir nenhum correspondente na Turquia, o golpe militar turco foi
acompanhado desde o início até o final com atenção especial. Além das notícias
fornecidas pelas agências internacionais, colunistas, acadêmicos e comentaristas
procuraram entender o que estava acontecendo neste país.
2 Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,militares-turcos-tomam-pontos-de-
ancara-e-istambul-e-governo-denuncia-golpe>. Acesso em: 15 set. 2017.
19
Problema e Hipótese
O interesse surgiu da leitura de um post na rede social facebook sugerindo que
“seria uma pauta muito interessante fazer uma pesquisa sobre a cobertura da mídia
brasileira”, referindo-se às notícias veiculadas sobre o golpe fracassado. Nos
comentários, na sequência do post, houve perguntas sobre o motivo de tal sugestão e o
autor do post respondeu o seguinte:
O meu ponto é que a cobertura internacional do Brasil, de uma
maneira geral, é muito ruim. Normalmente se traduz informes de
agências estrangeiras e não se produz análises próprias. Acho que isso
é pior ainda quando diz respeito ao Oriente Médio e à Turquia em
especial. Jornalistas que mal conhecem o país, [...] dominam a
cobertura. [...]. Enfim, acho que precisamos de um debate sobre isso.
Partindo dessa colocação, podem-se elaborar algumas hipóteses, sobre a
cobertura jornalística da imprensa brasileira. De forma mais precisa, foram elaboradas
cinco perguntas para formar uma hipótese. Nos jornais de unidade de pesquisa: 1) se há
uma política da linha editorial sobre a Turquia. 2. Quais são as principais fontes
utilizadas sobre a Turquia? 3. Nessa linha editorial, qual é a importância da relação
Turquia com ocidente, ou seja, com UE e OTAN? 4. Nessa linha editorial, qual é a
importância da relação da Turquia moderna e laica, com o Islã? 5. Se há algum
jornalista/correspondente encarregado ou especializado na cobertura da Turquia.
Sob a luz dessas perguntas, foi formulada a seguinte hipótese: a linha editorial
jornalística brasileira apesar de aproveitar muitos informes de agências
internacionais produz análises próprias sim.
Metodologia
O método utilizado será a teoria do enquadramento das notícias veiculadas. Para
a análise da cobertura, foi feita uma adaptação das ferramentas da teoria do
enquadramento desenvolvida pelo Núcleo de Estudos em Arte, Mídia e Política
(Neamp). Os quesitos analisados são: título, resumo, veículo, data; valência sobre
personagens e visibilidade de cada um dos personagens; recursos e enquadramentos;
temas de cobertura de cada personagem e subtemas. Os quatro primeiros quesitos, entre
20
título e data, servem apenas para a identificação das entradas. Erdogan e Gulen foram os
principais personagens da pesquisa. Erdogan também será o personagem da matéria
quando a notícia for sobre seu governo. Gulen será o personagem da matéria quando a
notícia for sobre seu movimento.
Na análise do enquadramento da matéria também foi considerada sua
construção, a partir dos seguintes critérios: (a) Informativa, quando apenas uma
informação do fato/evento/ação ou tema é apresentado; (b) Interpretativa direta, na qual
o apresentador interpreta um fato ou tema; (c) Interpretativa indireta, na qual o jornal
relata a interpretação de outra pessoa sobre um fato ou tema. (d) Restrita, quando apenas
uma interpretação do fato/evento/ação ou tema é apresentado; (e) Plural Fechada,
quando mais de uma interpretação do fato/evento/ação ou tema é apresentada e
organizada em uma hierarquia, de maneira que uma das interpretações é preferida sobre
as demais e apresentada como superior ou mais correta; (f) Plural Aberta, quando mais
de uma interpretação do fato/evento/ação ou tema é apresentada e tratada de forma mais
indeterminada, de maneira que nenhuma interpretação é apresentada como superior ou
mais correta; (h) Episódica, quando nenhuma interpretação é apresentada na notícia, que
se limita a relatar algum fato/evento/ação ou tema; (i) Avaliativa Crítica, quando emite
uma crítica juízo de valor (g) Avaliativa Moral, quando emite um juízo de valor moral3.
1. Teoria do enquadramento
A mídia é uma importante ferramenta de formação de opinião das massas. Porto
(2004) afirma que, ao adotar enquadramentos positivos e negativos sobre temas,
acontecimentos e atores, constrói atributos (positivos ou negativos) sobre esses objetos;
há uma relação direta e causal entre as proeminências dos tópicos da mídia e a
percepção pública acerca desses temas em um determinado período de tempo.
No campo dos estudos de comunicação, a primeira aplicação mais relevante do
conceito de enquadramento foi feita pelo sociólogo Gaye Tuchman (1978). Ele
21
argumenta que as notícias impõem um enquadramento que define e constrói a realidade
e sugere que notícias são “um recurso social cuja construção limita um entendimento
analítico da vida contemporânea”. Gitlin (1980) apresentou a primeira definição mais
clara e sistemática do conceito de enquadramento.
Os enquadramentos da mídia […] organizam o mundo tanto para os
jornalistas que escrevem relatos sobre ele, como também, em um grau
importante, para nós que recorremos às suas notícias. Enquadramentos
da mídia são padrões persistentes de cognição, interpretação e
apresentação, de seleção, ênfase e exclusão, através dos quais os
manipuladores de símbolos organizam o discurso, seja verbal ou
visual, de forma rotineira (GITLIN, 1980, p. 7).
Na definição acima, enquadramentos são entendidos como recursos que
organizam o discurso através de práticas especificas (seleção, ênfase, exclusão) e que
acabam por construir uma determinada interpretação dos fatos. Entman (1994)
apresenta uma definição do conceito que resume os principais aspectos de
enquadramento. Segundo o autor:
O enquadramento envolve essencialmente seleção e saliência.
Enquadrar significa selecionar alguns aspectos de uma realidade
percebida e fazê-los mais salientes em um texto comunicativo, de
forma a promover uma definição particular do problema, uma
interpretação causal, uma avaliação moral e/ou uma recomendação de
tratamento para o item descrito (ENTMAN, 1994, p. 294).
Essa definição resume os aspectos centrais do conceito, principalmente das suas
aplicações na análise de conteúdo da mídia.
2. Análise dos enquadramentos
A análise dos enquadramentos será desenvolvida conforme a metodologia
sugerida por Porto (2004). Ele sugere três passos para a aplicação do enquadramento. O
primeiro passo é determinar o conceito a ser trabalhado e sistematizá-lo. A cobertura
jornalística do golpe militar ocorrido na Turquia foi definida como o conceito a ser
pesquisado e foi sistematizada com temas e subtemas (ver anexo 1 e 2). O segundo
3 Disponível em:
<http://www.pucsp.br/neamp/downloads/relatorio_final_midia_campanha_eleitoral_comportamento_poli
22
passo é identificar as principais controvérsias e os enquadramentos a elas relacionados.
Ao identificar as principais controvérsias e enquadramentos, é importante ressaltar que
atores sociais distintos possuem capacidades diferenciadas para influenciar os processos
de enquadramento da mídia. As fontes oficiais do governo, em especial, tendem a
predominar no processo de produção das notícias.
[...] o processo de enquadramento não é uma via de mão única através
da qual as elites manipulam o público. Enquadramentos não se
referem apenas a processos de manipulação, mas são parte de qualquer
processo comunicativo, uma forma inevitável através da qual atores
fazem sentido de suas experiências (PAN; KOSICKI, 2001, p.60).
Na ocasião do golpe militar fracassado, naturalmente houve atores distintos e
narrativas diferentes, como os membros das Forças Armadas, que têm uma tradição do
pensamento kemalista4, a do presidente turco Erdogan que é o fundador partido AKP, e
a do acusado pelo Erdogan por ser mentor do golpe, o inspirador do Movimento Hizmet
(MH)5, Fethullah Gulen. Cada um desses grupos opera em um nível mais específico e
possui uma independência relativa em relação aos jornalistas e especialistas que os
relatam.
Os enquadramentos interpretativos são padrões de interpretação que promovem
uma avaliação particular de temas e/ou eventos políticos, incluindo definições de
problemas, avaliações sobre causas e responsabilidades, recomendações de tratamento
etc. Na ocasião do golpe militar, além dos jornalistas, especialistas e acadêmicos
brasileiros, os representantes do governo turco e do MH fizeram parte dessas notícias. O
editor do portal de notícias Voz da Turquia, Kamil Ergin, e o presidente do Centro
Cultural Brasil Turquia (CCBT), Mustafa Goktepe fizerem enquadramentos
interpretativos através do entendimento do MH, e o embaixador Huseyin Diriöz e o
cônsul geral turco Özgün Arman reforçaram a narrativa oficial do governo turco e do
presidente Erdogan. O terceiro passo é desenvolver uma análise sistemática de
tico_SAO_PAULO.pdf>. Acesso em: 17 out. 2017. 4 Kemalismo, também conhecido como ideologia kemalista, ou ainda "Seis Setas" ou "Seis Flechas" é o
princípio político e ideológico que define as características básicas da República da Turquia. Os
princípios serão explicados no primeiro capítulo. 5 Hizmet: Movimento Gülen, também chamado de “Movimento Hizmet”, com atribuição ao sobrenome
de seu inspirador, Hizmet (“serviço” em na língua turca), é uma iniciativa civil mundial, enraizada na
tradição espiritual e humanística do Islã e inspirado pelas ideias e ativismo de Fethullah Gülen.
23
conteúdo, com mais método e menos subjetivismo. Para isso, foram adaptadas a
catalogação e os padrões desenvolvidos pelo Neamp. (Anexo III).
4. Preparação do Material
Inicialmente foi realizada uma pesquisa com os arquivos digitais dos jornais da
unidade de análise com as palavras-chave. Depois, com o auxílio de um gráfico foram
preparados dossiês de clipping das notícias veiculadas em cada jornal.
a) Preparação da planilha de catalogação
A primeira versão de catalogação era uma adaptação da planilha desenvolvida
pelo Neamp, com o objetivo de analisar a cobertura da mídia nas campanhas eleitorais.
Na ficha, foram colocados dados, recurso da notícia, parâmetros de enquadramento da
matéria, temas de enquadramento sobre o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, e
sobre o clérigo, inspirador do MH, Fethullah Gulen, e suas respectivas imagens.
b) Classificação dos recursos das notícias veiculadas
Por ser um país distante, com informações sobre ele pouco difundidas, os
recursos foram bem detalhados e classificados em 15 itens, sendo: colunista, jornalista,
jornalista externo, correspondente, especialista/acadêmico, entrevista, agências
internacionais, notícias pegos por outro jornal/revista, blogueiro, editorial, primeira
página, web, ilustração, gráficos e diagramas, fotografias.
c) Temas de enquadramento do Erdogan e Gulen
Inicialmente os temas do enquadramento foram: trajetória, propostas,
apoios/alianças, declarações, acusações, esclarecimentos. Para tanto, houve uma
adaptação dos parâmetros sugeridos pelo Neamp, devido à diferente natureza da
pesquisa. Os parâmetros sugeridos pelo Neamp e Doxa eram mais voltados para a
análise da cobertura das campanhas eleitorais e das imagens dos candidatos políticos.
No entanto, nessa pesquisa, há narrativas de um acontecimento visto de dois ângulos:
24
um lado é de Erdogan, presidente da Turquia e fundador do partido político AKP e, o
outro é do Gulen, pregador emérito e o inspirador de MH. Foram definidos quatro temas
principais, sendo eles: narrativas, trajetória, direito e democracia e assuntos
internacionais. As notícias sobre declarações, acusações e esclarecimentos foram
unificadas e nomeadas como narrativas. Trajetória, apoios, alianças e propostas foram
unificadas e nomeadas como trajetória. Golpe fracassado e suas consequências, tais
como: prisões, perseguições, expurgos, foram nomeados direito e democracia.
Assuntos de interesse da política internacional foram nomeados como internacional.
(Anexo I, II).
d) Subtemas de enquadramento de Erdogan e Gulen
Os subtemas do Tema 1 narrativas são: apoio ao governo democraticamente
eleito (população e partidos da oposição), narrativa do(s) Erdogan(istas), acusações
ao(s) Erdogan(istas), narrativa do(s) Gulen(istas), acusações ao(s) Gulen(istas) e
militares.
Os subtemas do Tema 2 trajetória são: trajetória do Erdogan(ismo),
establisment kemalista versus Erdogan e Gulen, modificação do regime de Estado,
trajetória do Gulen(ismo), aliança e rompimento.
Os subtemas do Tema 3 direitos e democracia são: golpe, expurgo, Judiciário,
mídia, prisões, perseguição, pena de morte, direitos humanos.
Os subtemas do Tema 4 assuntos internacionais são: relação da Turquia com a
União Europeia e suas instituições, com os Estados Unidos, com o Oriente Médio, com
a OTAN e UN, com a Rússia, com o Brasil e Venezuela e, por fim, com os curdos.
(Anexo I, II)
e) Criação do JornalApp, catalogação digital
Com a sugestão de um engenheiro de software, foi criada uma aplicação digital,
com o objetivo de diminuir os erros e facilitar a análise das notícias. Com essa ideia, foi
desenvolvido o JornalApp, no qual, foram inseridas todas as informações sobre todas as
notícias. A ficha de catalogação foi transformada em um formulário automático e foi
adicionada uma parte para escrever o resumo das notícias e uma parte de avaliação de
25
valência sobre Erdogan e Gulen. A catalogação online foi integrada com as páginas de
análise de gráficos da cobertura, ou seja, qualquer alteração na ficha de catalogação
reflete automaticamente nos gráficos. (Anexo XVIII, XIX, XX).
f) Avaliação de valência
Neste passo, foi utilizado o estudo de valência. Segundo Miguel (2015)6: “a
valência se estabelece sempre em relação a um determinado agente (individual ou
coletivo). Trata-se de saber se, em relação àquele agente, o viés do noticiário é mais
elogioso ou mais crítico”. Num estudo sobre uma “competição de narrativas”, o estudo
de valência ajudará a verificar se a informação ou opinião veiculada, em si, é positiva,
negativa ou neutra sobre o sujeito, (no caso do presente estudo, Erdogan e Gulen).
A partir da definição operacional de valência dada por Aldé, Mendes e
Figueiredo (2007)7 e adaptada no caso do presente trabalho, utilizar-se-ão as seguintes
regras.
A valência é positiva (+) se o conteúdo analisado encerra uma avaliação ou menção de
ordem pessoal, moral, política ou de desempenho nas funções público-privadas
favoráveis ao Presidente Recep Tayyip Erdogan e Fethullah Gulen, ou avaliação e
menção favorável de programas, projetos e ação do partido AKP e do MH.
A valência é negativa (-) se o conteúdo analisado encerra uma avaliação ou menção de
ordem pessoal, moral política ou de desempenho nas funções públicas, privadas
negativa a Erdogan e Gulen, ou avaliação e menção desfavorável na avaliação de
programas, projetos e ação do partido AKP e do MH.
A valência é neutra (ø) se o conteúdo analisado não apresenta nem elementos positivos
nem negativos na avaliação ou menção de ordem pessoal, moral, política ou de
desempenho nas funções público-privadas em relação a Erdogan e Gulen, ou avaliação
e menção desfavorável na avaliação de programas, projetos e ação do AKP e do MH.
Em caso de matérias ambivalentes, em que há equilíbrio entre elementos positivos e
negativos, o conteúdo é considerado neutro.
6 Disponível em:< http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-33522015000300165>.
Acesso em: 20 out. 2017.
26
CAPÍTULO 1 - A TURQUIA MODERNA E AS TRÊS FIGURAS MARCANTES: MUSTAFA KEMAL ATATÜRK, RECEP TAYYIP ERDOGAN E FETHULLAH GULEN
Neste capítulo, será abordada uma breve história dos três principais
protagonistas que estão no centro das discussões da Turquia contemporânea. O primeiro
protagonista é o militar e político Mustafa Kemal, fundador da República turca,
nomeado pai dos turcos “Ataturk”. Liderou a guerra de independência turca e o
estabelecimento de um Estado-nação, com diretrizes da cultura ocidental, sobre as
ruinas do império otomano. O pensamento de Ataturk foi concretizado pelo Partido
Republicano do Povo (CHP) com o kemalismo. O segundo protagonista é o político
Recep Tayyip Erdogan, fundador do partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP)
que governa a Turquia desde 2002, e possui uma legenda do islã político8. O terceiro é o
clérigo Fethullah Gulen, inspirador do movimento Hizmet, que atua principalmente na
área de educação, diálogo inter-religioso e cultural e segue o pensamento do sufismo9
contemporâneo.
1. Mustafa Kemal Ataturk
O Império Otomano foi um Estado turco que existiu entre 1299 e 1922, fundado
por Ertugrul e seu filho Osman (Otman) I, do qual deriva o nome otomano. Na
passagem do século XVI para o XVII, o império constava na lista das principais
potências políticas da Europa, tanto que vários países europeus temiam os avanços
otomanos nos Bálcãs. No auge do império, no século XVII, o território otomano
compreendia uma área de 5 milhões de quilômetros quadrados e estendia-se desde perto
do estreito de Gibraltar, a oeste, ao mar Cáspio e ao golfo Pérsico, a leste, e desde a
fronteira com as atuais Áustria e Eslovênia, ao norte, aos atuais Sudão e Iêmen, ao sul.
Sua capital era a cidade de Constantinopla, tomada do Império Bizantino, em 1453, e
que passou a se chamar Istambul. O declínio iniciou-se marcadamente depois da
Revolução Francesa, principalmente pelos movimentos nacionalistas, continuou ao
longo do século XIX até sua derrota na Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Ao final
7 Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0104-62762010000200005>. Acesso em: 20 out. 2017. 8 Islã político: esse formato de classificação foi concluído depois da leitura das notícias, para padronizar
metodologias utilizadas pelos referidos jornais. 9 O sufismo é uma vertente mística existente dentro do islamismo. Baseia-se na ideia de que o espírito
humano é uma emanação do espírito divino.
27
do conflito, o governo otomano desmoronou e o seu território foi partilhado e invadido.
O cerne político-geográfico do império transformou-se na República da Turquia, após a
Guerra de Independência (1919-1922) liderada pelo soldado Otomano Mustafa Kemal
Ataturk (MCMEEKIN, 2011; QUATAERT, 2008; ZÜRCHER, 2015).
a) A Liderança
No dia 18 de março de 1920, a capital do Império Otomano foi invadida pelos
ingleses e dissolvida pela assembleia, fazendo com que deputados otomanos fossem
presos. Atatürk convidou os deputados otomanos para a cidade Ankara (localizada no
centro da Anatólia) e anunciou que no dia 23 de abril uma nova assembleia seria
reunida em Ankara. Esse dia é considerado como a fundação da Grande Assembleia
Nacional (GAN) da Turquia, em meio à Guerra de Independência Turca. Atatürk foi
eleito o primeiro presidente por unanimidade (1920-1923). Como presidente da
assembleia era também chefe do poder executivo e legislativo. Depois da guerra, foi
firmado o tratado de paz de Lausanne (ou Lausana), no dia 24 de julho de 1923, na
cidade suíça de Lausanne pelo Reino Unido, França, Itália, Japão, Grécia, Romênia,
Reino dos Sérvios, Croatas, Eslovenos e Turquia. O acordo assinado pelo novo governo
de Ankara levou ao reconhecimento internacional da República da Turquia, como
sucessora do extinto Império Otomano, e anulou o tratado de Serves de 1920, que havia
sido assinado pelo governo otomano de Istambul (ZÜRCHER, 2015).
b) O Legado
Atatürk fundou o partido da República do Povo (CHP), em 9 de agosto de 1923.
A guerra havia acabado e era necessário definir um sistema político do Novo Estado.
Com a proposta de Atatürk, pela segunda Legislatura da GAN da Turquia, no dia 29 de
outubro de 1923, foi proclamada a República como o novo regime do Estado e Atatürk
foi eleito como o primeiro presidente da República da Turquia, com o poder de atribuir
o governo.
A GAN tinha o direito de escolher e controlar tanto o governo quanto o
primeiro-ministro; agia como Poder Legislativo, controlava o Executivo e, se
necessário, agia como órgão de fiscalização. A Constituição Turca de 1924 iniciou uma
28
leve separação de poderes entre os órgãos legislativos e executivos do Estado, enquanto
a separação destes dois com o Judiciário já era bem definida. O presidente, então
Mustafa Kemal, ocupava uma posição poderosa neste sistema político. O único partido
político da GAN era o "Partido do Povo", fundado por Mustafa Kemal nos primeiros
anos da guerra de independência, e que foi chamado posteriormente de Partido
Republicano do Povo (CHP), permanecendo no poder até 1950, sem interrupção.
A ocidentalização de alcançar o nível dos países civilizados foi o lema de
Atatürk. Ele implementou amplas reformas políticas, econômicas e socioculturais, cujos
resultados vieram a formar a espinha dorsal das estruturas legislativas, judiciárias e
econômicas da nova república.
Em 1924, a abolição do califado foi uma dimensão importante no movimento de
Mustafa Kemal para reformar o sistema político e promover a soberania nacional. O
califado era o conceito político central do islamismo sunita, determinado pelo consenso
da maioria dos muçulmanos nos primeiros séculos da religião. Conforme Atatürk, “A
religião do islã será elevada se deixar de ser um instrumento político, como foi o caso
no Império Otomano”. No mesmo dia da promulgação da abolição do califado, o último
califa, Abdul Mecid, e a sua família foram deportados da Turquia.
Em 1925, Mustafa Kemal passou a encorajar os turcos a vestirem roupas
europeias modernas, determinado a forçar o abandono das tradições de vestuário do
Oriente Médio. A "Lei do Chapéu de 1925" introduziu o uso de chapéus no estilo
ocidental, em vez do chapéu otomano. Mustafa Kemal, primeiramente, tornou o chapéu
obrigatório para os funcionários públicos. O véu para as mulheres foi banido. Elas
foram encorajadas a usar vestidos ocidentais e a participar do mercado de trabalho. A
proibição da poligamia e a colocação das questões do divórcio sob a jurisdição dos
tribunais constituiu apenas os primeiros passos importantes em matéria de direitos das
mulheres. Às mulheres foram concedidos o direito de votar e de ser eleita nas eleições
municipais em 1930.
Em 1926, o novo código penal, inspirado no código penal italiano e o novo
código civil turco, modelado a partir do código civil suíço, foi aprovado. Em outubro do
29
mesmo ano, as cortes islâmicas foram fechadas. O princípio da laicidade, no entanto, só
foi implementado totalmente em 5 de fevereiro de 1937.
Em 1928, foi realizada a anulação da cláusula que estipula que: “a religião do
Estado é o Islã” e, em 1937, inclui-se, na Constituição, a cláusula em que dizia que o
Estado turco é laico. Também em 1928, houve a criação do alfabeto turco, substituindo
o alfabeto árabe, a partir do alfabeto latino que foi realizada, sob a iniciativa de Atatürk.
As madraças foram fechadas. Seu novo sistema educacional "unificado"
tencionava formar um cidadão responsável que fosse, ao mesmo tempo, um membro útil
e apreciado da sociedade. A educação, na Turquia, tornou-se um sistema supervisionado
pelo Estado, projetado para criar uma base de mão de obra capacitada destinada ao
progresso socioeconômico do país, e serviu como uma força integradora, aliviando a
pobreza e forçando a igualdade entre os sexos, através da educação feminina. Participou
e incentivou a preparação do livro Conhecimento Cívico para os Cidadãos, que
introduzia a ciência do governo comparativo, e explicava os meios de se administrar a
confiança do público, especificando as regras do governo e a maneira que deveriam ser
aplicadas às novas instituições estatais.
Em 1931, Atatürk determinou o estabelecimento da Associação da Língua Turca
(Türk Dil Kurumu); e depois, seguiu-se o da história da Turquia e, no ano seguinte, foi
fundada a Sociedade Histórica Turca, com o objetivo de pesquisar principalmente a
história dos turcos antes do Islã.
Em 1931, a ideologia oficial do regime (os pensamentos de Ataturk, o
Kemalismo) foi promulgada pelo Partido Republicano do Povo (no poder), fundado e
controlado por Ataturk. Os seus seis princípios, conhecidos como as "seis setas do
kemalismo"10 eram o republicanismo, o nacionalismo, o populismo, o estadismo, o
secularismo e o revolucionismo. O republicanismo visava substituir a elitista ordem
social otomana, que investiu o poder no sultão e sua comitiva imediata, com um sistema
republicano. O nacionalismo sustentou uma identidade distintamente turca para
10 (Revista, Meu Atatürk, os princípios). Disponível em: <http://www.atam.gov.tr/dergi/sayi-
42/ataturkculuk-ve-ataturk-ilkeleri>. Acesso em: 30 out. 2017.
30
substituir o pan-islamismo do Império Otomano. O populismo11 de Atatürk prometeu
uma sociedade sem classes, mas ficou sem ideais verdadeiramente democráticos, pois
Ataturk governou o Estado somente no sistema de partido único. O estatismo de
Ataturk, como seus contemporâneos, o comunismo e o fascismo, favoreceu o
desenvolvimento econômico liderado pelo Estado em oposição à iniciativa privada. O
secularismo justificou uma revisão no poder da religião sobre Estado.
O secularismo12 não é irreligioso, mas proporciona a oportunidade de
desenvolver a verdadeira religiosidade, pois abre a porta para lutar
contra a falsa religiosidade e bruxaria [...]. A religião e a seita nunca
podem ser usadas como um instrumento de política [...]. (ATATÜRK,
1930).
O revolucionismo era uma doutrina usada para justificar a mudança grossista, e
não gradual, no sistema otomano. Conforme essa ideologia, a sociedade turca teria de se
"ocidentalizar", tanto política quanto culturalmente, para se modernizar, era central a
essas reformas. O kemalismo nunca foi aceito pelas grandes massas. A base de apoio do
regime kemalista era composto pelos militares, burocracia, comerciantes urbanos e
grandes fazendeiros (ZÜRCHER, 2015).
Em 1932, centenas de "Casas do Povo" (Halk Evi) e "Salas do Povo" (Halk
Odası) foram abertas por todo o país, permitindo um maior acesso a uma ampla
variedade de atividades artísticas e outros eventos culturais. As artes visuais e plásticas,
cujos praticantes já haviam até mesmo sido presos pelas autoridades otomanas no
passado, sob a alegação de que a forma humana era uma forma de idolatria, agora eram
encorajadas e até mesmo financiadas por Atatürk; muitos museus foram abertos, a
arquitetura passou a se inspirar em tendências ocidentais, e a música clássica ocidental,
juntamente com a ópera e o balé, ganharam um maior público no país.
11 A definição do populismo do Atatürk é diferente do significado entendido no Brasil. No Brasil,
populismo é o conceito que caracteriza o modo como um governante governa, usando estratégias e
recursos que têm como objetivo angariar o apoio e confiança popular, principalmente das classes mais
desfavorecidas. A definição de Atatürk é que todo cidadão da Turquia é igual perante à lei e proporciona
participação igual das pessoas à administração do estado e prevê que os políticos e administradores
trabalhem para o povo. Ele rejeita a distinção de classe. 12 Na Turquia, o princípio de secularismo é ensinado como laicismo.
31
Em 1932, a primeira tradução para o turco do Alcorão foi lida publicamente.
Atatürk queria "ensinar religião em turco para o povo turco, que vinha praticando o islã
sem o compreender por séculos a fio". O Alcorão em turco provocou uma oposição
feroz de setores mais religiosos, bem como o resto do mundo islâmico, à época, era
majoritariamente da opinião de que eles deveriam ser proferidos exclusivamente em
árabe.
Em 1934, ele exigiu que todos os turcos adotassem o uso de sobrenomes, como é
costumeiro no Ocidente, adotando ele próprio o nome de Atatürk, que significa "pai dos
turcos".
Conforme estudos do autor deste trabalho, entre Ataturk e Getúlio, há
semelhanças tais como, centralização de poder, formação de uma nova identidade
nacional, uma nova história para nação, um reforço no processo de industrialização e
modernização do país (ELEMEN, 2015).
As principais diferenças de Ataturk se deram porque que ele foi um soldado,
participou da Primeira Guerra Mundial, testemunhando o colapso de um império de seis
séculos. O processo de ocidentalização havia começado pelos sultões otomanos
(TANZIMAT, 1739), mas nunca foi consolidado, e o Império, por sua natureza, era
multiétnica e pluricultural. O lema de Ataturk foi a consolidação do processo de
ocidentalização e a formação uma identidade nacional turca. Ataturk aplicou uma linha
dura de processo de laicização do Estado enquanto Getúlio abraçava a religião nas
políticas populistas.
De acordo com o cientista político sírio, especializado nas sociedades islâmicas,
Bassam Tibi, a principal fonte de inspiração ideológica para Atatürk e, antes dele, para
os Jovens Turcos, foi o sociólogo curdo turco Ziya M. Gökalp (1875-1924), que foi o
principal responsável pela introdução, na Turquia, das ideias do positivismo francês tal
como ele foi cunhado por Auguste Comte. Em seu livro de 1994, Aufbruch am Bosfurus
(Partida no Bósforo), Tibi afirma que Atatürk pretendia não apenas separar a religião (o
islamismo) da política, mas também retirar a base de poder ao islã e subordiná-lo ao
32
Estado. De acordo com essa interpretação, Atatürk pretendia substituir a religião
islâmica por uma "religião civil", que seria o kemalismo.
Mustafa Kemal foi um dos mais importantes governantes do século. Ele fundou
e moldou a República da Turquia, hoje o Estado mais forte entre o Mar Adriático e a
China, no extenso cinturão terrestre no sul da Rússia e norte do subcontinente indiano.
Ele influenciou a história de seus países vizinhos [...]. Ataturk é comumente conhecido,
atualmente, como um radical modernizador e “ocidentalizador” [...]. A revolução
cultural por ele forjada foi genuína e ampla. O secularismo teve um papel central. É
verdade que a secularização da classe dominante turca e do estado havia se iniciado no
século dezenove. Foi forçada vigorosamente pelo CUP (Comitê da União e Progresso, o
partido dos Jovens Turcos que lideraram o Império Otomano durante seus últimos
anos), após 1908. Mas, foi Ataturk que decidiu que a religião não deveria ter voz no
governo (MANGO, 1999).
O secularismo tem sido uma característica das reformas e do legado
de Ataturk na Turquia. A resposta de Ataturk à perda da grandeza da Turquia foi torná-
la completamente europeia à moda entre guerras. Por conseguinte, o fundador e
primeiro presidente do país, que reinou por 15 anos, entre 1923-1938, usou todo o seu
controle do estado para moldar a Turquia de cima para baixo e sua própria imagem
secularista e europeia. Com certeza Atatürk não eliminou a religião. Melhor seria dizer
que ele criou um sistema secularista que essencialmente controlava e até marginalizava
cidadãos que se identificassem primeiramente por sua fé. Ataturk e seus seguidores,
chamados de kemalistas por causa do segundo nome do líder turco, eram extremamente
confiantes sobre o sistema que eles criaram (CAGAPTAY, 2016).
2. Recep Tayyip Erdogan
a) O Movimento Islã Político
Até o final dos anos 1960 não existia nenhum movimento de Islã político
relevante na Turquia. Este emergiu pela primeira vez apenas nos anos 1970, conhecido
como o Movimento Visão Nacional (MVN), fundado pelo Necmettin Erbakan e seus
33
companheiros. Formalmente entraram na cena política com a formação do Partido da
Ordem Nacional (Milli Nizam Partisi-MNP). Depois do golpe militar de 1971, o
Tribunal Constitucional dissolveu o MNP sob a acusação de que o partido buscava
“estabelecer um Estado teocrático” (YAVUZ, 2009, p. 49).
Posteriormente, Erbakan estabeleceu um novo partido, o Partido da Salvação
Nacional (Milli Selamet Partisi-MSP), com a mesma liderança e ideologia política de
seu antecessor. O golpe militar de 12 de setembro de 1980 baniu todos os partidos
políticos e decretou a prisão de vários de seus líderes inclusive do partido MSP. Com a
liberação de direitos de fundação de partidos, o MVN reemergiu na cena política com a
fundação do Partido do Bem-Estar, em 1983. Após a anistia dada aos políticos banidos
pelo golpe, Erbakan assumiu a liderança novamente.
Tabela 1: Quadro de partidos da visão nacional
Milli Görüş Hareketi
Movimento Visão Nacional
LIDERANÇA
PERÍODO
RAZÃO DO
FECHAMENTO
Milli Nizam Partisi (MNP)
Partido da Ordem Nacional
Necmettin Erbakan 1970-71 Determinação
Judicial
Milli Selamet Partisi (MSP)
Partido da Salvação Nacional
Necmettin Erbakan 1972-80 Determinação
Judicial
Refah Partisi (RP)
Partido do Bem-Estar
Ahmet Tekdal (1983-87) e
Necmettin Erbakan (1987-97)
1983-1997 Determinação
Judicial
Fazilet Partisi (FP)
Partido da Virtude
Recai Kutan 1997-2001 Determinação
Judicial
Saadet Partisi (SP)
Partido da Felicidade
Recai Kutan 2001- Presente
Adalet ve Kalkinma Partisi
(AKP)
Partido da Justiça e do
Desenvolvimento
Recep T. Erdogan
2001- Presente
Fonte: Alencar, Aline de Oliveira. Islã Político e Mobilização social na República da Turquia: uma
análise discursiva. Brasília, 2014
Nas eleições legislativas de 28 de junho de 1996, o Partido do Bem-Estar de
Erbakan ganhou a maioria e formou um governo de coalizão. Pela primeira vez, desde a
34
formação da Republica Turca, um líder, cuja filosofia política e identidade cultural
declaradas baseava-se na religião islâmica, estava no poder.
Uma vez no poder, “o movimento islamista superestimou sua própria força e
subestimou a disposição da oposição secularista a se opor ao movimento” (ELIGUR,
2010, p. 275). A atuação de Erbakan, em nível nacional, em vez de reduzir as tensões
sociais, contribuiu para polarizar a sociedade em uma oposição islamistas versus
secularistas. Na política interna, inflamou o establishment secular com várias iniciativas
islamizantes, como o projeto de construir uma mesquita na Praça Taksim, famosa em
termos de atividade artística e cultural e símbolo da ocidentalização. Na política externa,
afastou-se da política pró-Ocidente que caracterizou todo o período republicano em
direção a um maior engajamento com o mundo islâmico. Essas ações foram
responsáveis pelo aumento da desconfiança e da oposição do segmento secular. Já em
seu primeiro mês de governo, Erbakan tomou uma série de iniciativas, como a
promoção de um grupo econômico islâmico (o D-8) e uma primeira visita como
primeiro-ministro ao Irã, onde assinou um acordo de 23 bilhões de dólares em gás e
petróleo (DAĞI, 2001, p. 22). Erbakan também recebeu representantes de grupos
islamistas tradicionais da região, como o Hamas (da Palestina), a Irmandade
Muçulmana (do Egito) e a Frente de Salvação Nacional (da Argélia). Erdoğan, então
prefeito de Istambul, também teria feito afirmações polêmicas, tais como: “em nome de
Deus, eu sou pela sharia”; “ninguém pode ser um secularista e um muçulmano ao
mesmo tempo”; e “para nós, a democracia é um meio, não um fim” (YAVUZ, 2009, p.
3). Essas declarações também se revelaram incongruentes com a defesa da democracia
propagada pelo partido durante o período eleitoral.
Entretanto, o período no poder teve curta duração. Em 28 de junho de 1997,
Erbakan foi forçado a renunciar, no episódio que ficou conhecido na literatura como
“soft coup” ou “post-modern coup” (ELIGUR, 2010, p. 220; YAVUZ, 2009, p. 64). O
novo governo, liderado pelo partido de centro-direita e secularista Partido da Pátria
(ANAP), mostrou rapidamente a determinação de implementar as recomendações do
Conselho de Segurança.
35
O RP foi dissolvido pelo Tribunal Constitucional sob a acusação de “atividades
contra laicismo” e, em janeiro de 1998, Erbakan, líder do partido, foi banido da política
por cinco anos. Logo em seguida, o então prefeito de Istambul, Erdogan, foi preso por
recitar um poema que supostamente “incitava a divisão entre pessoas por diferenças
religiosas”, perdendo seu mandato (YAVUZ, 2009, p. 67).
O poema que Erdogan recitou em 1997 e o levou a ficar preso por 10 meses,
dizia:
As mesquitas são as nossas casernas/
As cúpulas os nossos elmos/
Os minaretes nossas baionetas/
E os fiéis os nossos soldados.
Ziya Gokalp.
Todo o processo de “des-islamização” da sociedade, que incluiu a deposição de
Erbakan, o banimento do partido e uma campanha total contra as forças sociais
religiosas, ficou conhecido como “processo de 28 de fevereiro” (YAVUZ, 2009, p.
6567; YAVUZ, 2003, p. 251; DAĞI de 2001, p. 24). Este foi um importante ponto de
inflexão na história da República turca, pois marcou o abandono da ideia de que a
religião poderia ser usada para estabilizar a sociedade. A partir de então, os militares
empreenderam uma forte campanha contra a ideologia islamista, que, juntamente com o
separatismo curdo, foram retratados como as principais ameaças à segurança do país
(YAVUZ, 2009, p. 65).
O Processo de 28 de fevereiro teve importante impacto na orientação do
movimento islamista a partir de então. Com a perseguição sofrida, muitos islamistas
concluíram que a única forma de garantir sua sobrevivência seria evitar a confrontação
direta com os secularistas.
36
b) Surgimento do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP)
O fechamento do quarto partido da Visão Nacional, desde 1970, levou ao
interior do movimento, e à sua cisão, em 2001, dando origem a dois partidos políticos
com ideologias diferentes. Os tradicionalistas estabeleceram o Partido da Felicidade
(Saadet Partisi - SP), sob a liderança formal de Recai Kutan, mas com Erbakan
exercendo a liderança real. A velha geração do movimento em torno de Erbakan
continuou a defender as ideias históricas do MVN, como antiocidentalíssimo, oposição
à entrada na União Europeia, defesa do reforço dos laços com os países islâmicos,
relutância em fazer concessões ao establishment secular e o objetivo de fundar uma
“nova civilização”, baseada em valores islâmicos tradicionais (ELIGUR, 2010, p. 244).
A outra ala do partido, constituída pelo setor mais jovem e reformista do FP, formou,
em agosto de 2001, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento (Adalet ve Kalkınma
Partisi - AKP), liderado por Recep Tayyip Erdogan, Abdullah Gül, Bulent Arinç.
A liderança do AKP buscou uma plataforma híbrida, que conjugasse as
aspirações do eleitorado islâmico e conservador e mitigasse a desconfiança do
establishment kemalista. Nesse intuito, o partido passou a definir-se como um
movimento “democrata-conservador” sem inclinação religiosa (DAĞI, 2002, p. 26). Sua
performance eleitoral nas eleições de 3 de novembro 2002, apenas um ano da sua
criação, confirmou o sucesso dessa estratégia, pois o partido dominou as eleições com
34,28% dos votos (formando sozinho o bloco majoritário, com 363 dos 550 assentos
parlamentares), enquanto o Partido da Felicidade (SP), que assumiu a retórica
tradicional da Visão Nacional, teve o desempenho marginal de 2,5% dos votos, sem
ganhar nenhum assento na Assembleia Nacional (ALENCAR, 2015).
O Partido da Justiça e do Desenvolvimento foi o mais bem-sucedido dos
partidos islamistas turcos, conseguindo uma votação sem precedentes na sua primeira
eleição e mantendo-se no poder até os dias de hoje. Veja a tabela 2 sobre resultado das
últimas cinco eleições do AKP.
37
Tabela 2: Relação dos votos, percentagem, deputados do AKP13
Data Votos % Deputados Partido Status
2002 10 808 229 34,30% 363 / 550 AKP Governo
2007 16 327 291 46,60% 341 / 550 AKP Governo
2011 21 399 082 49,80% 327 / 550 AKP Governo
Jun./15 18 867 411 40,90% 258 / 550 AKP Governo
Nov./15 22 947 478 49,50% 317 / 550 AKP Governo
Fonte: Wikipedia.14
No período de 2002 a 2011, a agenda do Partido da Justiça e do
Desenvolvimento representou a continuidade e o aprofundamento da tendência do FP de
abandonar uma retórica islâmica radical e adotar um discurso político liberal, com
ênfase nos valores ocidentais de democracia, direitos humanos e livre-mercado. Seus
membros têm persistentemente rejeitado o rótulo de “islamistas”, autoproclamando-se
um equivalente islâmico aos partidos cristão-democráticos da Europa Ocidental
(YILMAZ, 2011, p. 268; RABASA; LARRABEE, 2008, p. 46; YAVUZ, 2009, p. 89).
A adoção de uma linguagem política liberal, com ênfase na democratização, na
liberdade religiosa e de pensamento e no direito de ser tratado igual perante o Estado,
também foi uma das razões para os eleitores votarem no AKP (ELIGUR, 2010, p. 248;
DAĞI, 2006, p. 9; YAVUZ, 2009, p. 4). Entre os que votaram por essa razão, destaca-se
o eleitorado religioso desejoso de maior liberdade de expressão e o eleitorado curdo.
O eleitorado religioso esperava que o partido resolvesse questões controversas
simbólicas, como a proibição de usar o véu em instituições públicas e a questão das
escolas imam-hatip (religiosas) (RABASA; LARRABEE, 2008, p. 61). Conforme
Rabasa e Larrabee (2008, p. 61), para o eleitor do AKP usar o véu é uma questão de
escolha pessoal, e restrições ao seu uso são consideradas violações de direitos humanos.
Uma vez que a democracia liberal é mais receptiva à liberdade religiosa do que o
secularismo kemalista, esses eleitores votaram no AKP pela expectativa de uma maior
democratização da sociedade. Existia, ademais, a expectativa de que a entrada na União
13 Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_da_justiça_e_Desenvolvimento_(Turquia)>.
Acesso em: 15 set. 2017. 14 Ibid.
38
Europeia, defendida pelo partido, iria fortalecer a democracia liberal e a observância dos
direitos humanos no país.
A opinião pública turca tem sido fortemente a favor da adesão à União Europeia,
por causa dos benefícios materiais esperados e da perspectiva de maior democratização
interna (YAVUZ, 2003, p. 255; DAĞI, 2006, p. 5). Relatórios da União críticos à
política interna turca informavam a população da existência de um “governo dual” que
bloqueava o caminho do país a uma democracia de fato. O apoio popular esmagador à
adesão ao bloco europeu ao longo dos anos 1990, mesmo entre grupos islâmicos
radicais, vinha da percepção de que este proveria um mecanismo eficiente de pressão na
direção de reformas (YAVUZ, 2003, p. 255-256).
A orientação do movimento islamista em direção à Europa contribuiu para a
reconfiguração da política turca. Uma vez que o Ocidente se tornou um aliado tácito do
AKP, antigos partidos secularistas pró-Ocidente passaram a assumir uma postura de
oposição. O CHP, por exemplo, moveu-se progressivamente para uma posição
nacionalista e adotou uma postura de ambiguidade com relação ao Ocidente, vendo
alguns aspectos de sua influência como uma ameaça ao Estado turco e ao kemalismo.
Nesse cenário, a bandeira da adesão ao bloco europeu ficou largamente associada ao
AKP (RABASA; LARRABEE, 2008, p. 49-52). De acordo com pesquisas de opinião
conduzidas em julho de 2004, 79% dos eleitores do partido eram a favor da adesão à
União Europeia, acima da média nacional de 73% (DAĞI, 2006, p. 5).
Veio a Primavera Árabe, em 2011, e Erdogan rompeu com os ditadores e passou
a se promover como o campeão da liberdade no mundo muçulmano, apoiando grupos
extremistas na Síria. Passou a construir suntuosos palácios e mesquitas, ao estilo
otomano, e a dirigir-se, em seus pronunciamentos à nação, não mais ao povo turco, mas
à Umma, a comunidade muçulmana mundial. Confiante, Erdogan começou a mudar as
leis, restringindo o consumo de bebidas alcoólicas e permitindo o uso do véu em
repartições públicas. Foi aí que ele começou a enfrentar resistências mais visíveis
(SANT’ANNA, 2016)15.
15 Disponível em: <http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,silenciando-criticas,10000065991>.
Acesso em: 20 out. 2017.
39
Durante a Primavera árabe, que precedeu a revolta de Gezi, as contradições
internas do AKP ainda não haviam surgido, e pareceu a muitos comentaristas e
tomadores de decisão, que o "modelo turco" do AKP poderia ser exportado para países
como Tunísia, Egito, ou o Irã (TUGRUL, 2016).
Qualquer que tenha sido a reputação do modelo turco, em 2013, foi por água
abaixo em meados do verão do mesmo ano. Os protestos do Parque Gezi, em maio, os
quais iniciaram-se como uma reação ambientalista contra as crescentes construções
destrutivas do AKP, tornaram-se a revolta de Gezi ao final de agosto de 2013. Os
protestos logo atraíram grandes segmentos de pessoas que estavam descontentes com
diversos aspectos do governo AKP desde 2002 (TUGRUL, 2016).
Em dezembro de 2014, eclodiu um escândalo de corrupção, no qual Erdogan foi
acusado de desviar bilhões de dólares em um esquema de triangulação da venda do
petróleo iraniano, que estava sob embargo americano e europeu.
Erdogan mudou a lei, para submeter a nomeação de juízes e promotores ao
Ministério da Justiça, e obteve a prisão dos magistrados que o investigavam. Grampos
telefônicos publicados no Twitter, em fevereiro, comprometiam o primeiro-ministro e
seu círculo. Em um deles, Erdogan instruía seu filho a esconder o dinheiro guardado em
casa, ao saber de um mandado de busca e apreensão, em dezembro. O primeiro-
ministro, então, baniu o Twitter na Turquia e passou a acusar de conspiração o
movimento Hizmet (SANT’ANNA, 2016).
Erdogan e seu movimento evocam tanto o fascínio quanto o medo. Concentrou o
poder sem precedentes, o estado de direito erodido, envolvido em crises internacionais,
promoveu um crescimento insustentável e destrutivo do meio ambiente, impulsionado
pela construção, espaço público islamizado e prejudicou um secularismo já
problemático na Turquia (TUGAL, 2016).
40
c) A Liderança
Conforme a biografia de Erdogan, sua carreira política começa em 1976, como
líder dos jovens do partido MSP. Após o fechamento de todos partidos, ele volta à
política, em 1983, no partido da mesma legenda RP. Candidata-se como deputado em
1986 e, em 1991, como prefeito do distrito de Beyoglu de Istambul, mas não conseguiu
se eleger em nenhuma das eleições. Em 1994, ele é eleito como prefeito de Istambul.
Seguindo as lições de processo de 28 de fevereiro, Erdogan voltou à política,
tentado se afastar da imagem de islamista linha-dura do passado e queria posar como
um conservador pró-Ocidente.
Como o fundador do partido AKP, em 2001, nas eleições de 2002, 2007, 2011
ele foi presidente do partido e primeiro ministro do governo AKP. Em 2014, ele foi
eleito como presidente. Conforme a antiga Constituição do Estado turco, o presidente
deve ser neutro e não pode se afiliar em nenhum partido. Mas ele negou isso
publicamente, participou nos comícios do AKP, pediu voto para alterar o sistema
parlamentar turco para o sistema presidencial. Esse período foi chamado de Putinização
da Turquia na imprensa16. Esse período também foi encarado no referendo ocorrido em
abril de 2017, alterando o sistema político turco, de parlamentarismo para
presidencialismo. No dia 02 de maio de 2017 ele voltou a ser membro e presidente do
partido AKP novamente.
Erdogan, o fundador do AKP, em várias ocasiões, afirmou que este era um
partido de centro-direita, alegadamente herdeiro do legado de Menderes e Özal
(YILDIZ, 2008, p. 42; YAVUZ, 2009, p. 90). O político descrevia-se como um homem
“do caminho do meio” e afirmava que o AKP trabalharia como uma ponte entre uma
Turquia tradicional e moderna (MECHAM, 2004, p. 351).
A crise econômica e a insatisfação generalizada com os partidos no poder
encorajaram muito eleitores a votar no AKP (RABASA; LARRABEE, 2008, p. 48;
YAVUZ, 2009, p. 79; YAVUZ, 2003, p. 259; ELIGUR, 2010, p. 245). Muitos o viam
16 Muhammet Cetin, Turkey's Path to Democratization: Barriers, Actors, Outcomes,
41
como um partido com uma “cara nova”, o único com uma reputação limpa, em quem
podiam depositar a confiança de resolver os problemas econômicos (YAVUZ, 2003, p.
259). Diferentemente dos outros partidos, o AKP era novo, fundado por Recep Tayyip
Erdogan, um político que trazia um histórico de sucesso em lidar com crises econômicas
(ELIGUR, 2010, p. 243).
Outra tática de campanha da qual o AKP fez uso foi a chamada “personificação
da política”. Essa foi uma tendência dos anos 1990 de líderes partidários com forte
personalidade, tornando-se forte fonte de mobilização eleitoral. No caso do AKP,
Erdogan era visto como a personificação do partido e não como um simples membro. A
perseguição jurídica que sofrera durante a campanha tornou-o uma espécie de “herói”,
um “Nelson Mandela” da Turquia, que passou da prisão à liderança do seu país em
menos de quatro anos (YAVUZ, 2009, p. 67).
No início, seu carisma baseava-se também na boa reputação adquirida pelo
mandato limpo, sem histórico de corrupção, na prefeitura de Istambul. Erdogan
cultivava a imagem de um homem do povo, um dos despossuídos de Kasımpasa, o
distrito pobre de Istambul de onde provinha. Um self-made man, que vendia limonada
quando criança para sustentar sua família. Em suas aparições em público, dirigia-se às
pessoas diretamente, sem usar canais organizacionais. Sua bibliografia, somada à sua
forma de abordar o público, angariava-lhe simpatia e credibilidade (YILDIZ, 2008, p.
43; YAVUZ, 2009, p. 67; YAVUZ, 2009, p. 81)
Depois da Primavera árabe surgiu uma imagem nova de Erdogan. Os
correligionários começaram a atribuir umas características novas a Erdogan. Há alguns
exemplos, dentre eles: “Até tocar ao primeiro ministro Erdogan é uma oração”17;
“Erdogan é o líder que reuniu todos os atributos de Deus”18; “Somos tão fiel ao nosso
presidente do partido e primeiro ministro, para nós ele é segundo profeta”19; “A
17 Deputado do AKP, Huseyin Sahin. Disponível em:
<https://www.cnnturk.com/2011/turkiye/07/20/basbakana.dokunmak.bile.bence.ibadettir/623516.0/index.
html>. Acesso em: 20 out. 2017. 18Deputado do AKP, Fevai Arslan. Disponível em: < http://www.sozcu.com.tr/2014/gunun-
icinden/allahin-butun-vasiflari-derken-443213/>. Acesso em: 21 set. 2017. 19 Presidente do AKP na cidade Aydin, Ismail Eser. Disponível em:
<http://www.cumhuriyet.com.tr/haber/turkiye/190877/_Tayyip_Erdogan__2._Peygamber_.html>. Acesso
em: 12 set. 2017.
42
televisão que Erdogan aparecerá não pode ser colocada no chão”20; “Se preparem está o
califa [...]”21. Conforme o jornalista veterano Yavuz Baydar Desde (2011):
Erdogan foi se isolando cada vez mais da realidade, é uma tendência
muito reconhecida na história política. E este é um caminho no qual
não há mudança de sentido. Não há nenhum exemplo no qual um líder
eleito que se tornou cada vez mais autoritário, arbitrário e autocrático
mudasse e voltasse a ser democrático.22
Seus críticos denunciam que Erdogan pretende impor sua visão conservadora
particular a toda a sociedade turca. Especialmente nos últimos dois anos, seu Governo
deu mais espaço público à religião islâmica, também na educação, e aprovou leis de
forte caráter conservador, como a que restringe a promoção e venda de álcool. O próprio
Erdogan se imiscuiu na vida privada dos cidadãos, criticando ferozmente o aborto,
“recomendando” às mulheres que tenham pelo menos três filhos e tentando impedir que
garotos e garotas vivam juntos em apartamentos e residências de estudantes.
Segundo Çagaptay (2016), Erdogan estava fazendo a sua própria revolução. Ele
não quer ser nem segundo Atatürk, ele será o Erdogan I.
Erdogan é seu “Ataturk Anti-Ataturk”. Cresceu em uma Turquia
secular e enfrentou a exclusão social quando jovem por causa de seu
conservadorismo e sua fé, Erdogan é motivado por animosidades
arraigadas nos passos de seu predecessor. Ele também desmantelou o
sistema de Ataturk utilizando todas as ferramentas que as elites
fundadoras do país lhe prouveram: instituições estatais e engenharia
social top-down - ambas as marcas das reformas de Atatürk. Erdogan
usou os meios e métodos de Atatürk para substituir até mesmo o
próprio Atatürk. (ÇAGAPTAY, 2016, p. 266)
3. Fethullah Gulen
a) Movimento Hizmet
O chamado Movimento Hizmet é um movimento da sociedade civil. Começou
como um grupo de serviço comunitário composto por estudantes, professores, pais e
20 Disponível em: http://t24.com.tr/yazarlar/ridvan-akar/simdi-de-ona-dokunan-yaniyor,11293. Acesso
em: 17 set. 2017. 21 Presidente do AKP, na cidade Siirt, Fuat Calapkulu. Disponível em:
<http://www.cumhuriyet.com.tr/haber/turkiye/232345/AKP_il_Baskani_nin_Erdogan_tweeti__Halife_ge
liyor_hazir_olun.html>. Acesso em: 14 out. 2017. 22 Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2014/08/09/internacional/1407604160_017597.html>.
Acesso em: 18 out. 2017.
43
proprietários de pequenas empresas junto ao estudioso turco e pregador Fethullah
Gülen, na cidade de Izmir. Para uma referência mais fácil, agora, esse grupo é chamado
de Movimento Gülen, especialmente pelos estudiosos ocidentais por causa de sua
principal fonte de inspiração. Seus participantes, no entanto, muitas vezes, o chamam de
Hizmet, que significa serviço em turco. Quanto a Gülen, ele prefere se referir a ele
como "movimento de seres humanos unidos em torno de valores humanos elevados”.
Conforme o cientista político Ergil (2013), o movimento de Fethullah Gulen
começou como um pequeno grupo de turcos da classe média que o seguiam como seu
imã. Mais tarde, quando ele estava instalado em cidades metropolitanas tais como
Esmirna e Istambul, muçulmanos ricos também começaram a se reunirem em volta
dele. Eles não apenas consideravam Gulen como um líder espiritual, mas também como
um intelectual orientador, um instrutor da vida (ERGIL, 2013).
Em 1970, como resultado do Golpe de 12 de março, Gülen foi preso e mantido
encarcerado por seis meses sem acusação até sua libertação. Em 1972, os primeiros
albergues estudantis, em 1974, os primeiros cursos pré-vestibulares foram estabelecidos.
Em 1982, os participantes do movimento criaram uma escola particular em Izmir,
Yamanlar Koleji.
Na década de 1980, pela primeira vez, na Turquia, os sermões de um religioso
foram gravados e distribuídos em vídeo. Após o golpe militar de 1980, foi emitido o
mandato de prisão de Gulen.
Depois de seis anos foragido, Gulen foi preso em 1986. Mas, o Primeiro-
Ministro Turgut Ozal “transformou-se no fiador de Gulen” e ele foi solto, disse Mehmet
Kececiler, um ex-ministro do governo e membro fundador do partido de Ozal
(KEÇECILER, 2014).
A partir de janeiro de 1990, os participantes do movimento começaram a criar
escolas e universidades na Ásia Central, muitas vezes, trabalhando em condições
bastante adversas.
44
Conforme Keçeciler, o Presidente, Ozal é considerado amplamente como o líder
que abriu a Turquia para o resto do mundo. Ele era um grande aliado dos EUA que
queria ver a Turquia liderar as repúblicas túrquicas que tinham acabado de se separarem
doa União Soviética, em 1991. As escolas que os seguidores de Gulen estabeleceram
nesses países se encaixam tanto nas visões de Ozal quanto dos Estados Unidos.
A partir de 1994, o movimento inicia suas atividades de diálogo inter-religioso.
A Fundação de Jornalistas e Escritores (FJW), da qual Gülen era presidente honorário,
organizou uma série de reuniões envolvendo líderes das minorias religiosas e
intelectuais de diferentes campos de pensamento na Turquia. Em 1998, o Papa João
Paulo II o convidou para o Vaticano com o propósito de aprimorar o diálogo. A
Plataforma "Abant" reuniu os principais intelectuais de todas as esferas do espectro
político, esquerdistas, ateus, nacionalistas, conservadores religiosos, e liberais, provendo
um lugar onde pudessem debater sobre as preocupações comuns de todos os cidadãos e
problemas sociais urgentes.
Em março de 1999, por questões de saúde, Fethullah Gülen se mudou para os
EUA para receber tratamento para um problema cardiovascular.
Em junho de 1999, após Gulen ter deixado a Turquia, fitas cassetes foram
enviadas a certos canais turcos de televisão com gravações de Gulen:
O atual sistema ainda está no poder. Nossos amigos que possuam
alguma posição no legislativo e administrativo deveriam aprender
sobre os detalhes e ser vigilantes em todos os momentos para que eles
possam transformar (o sistema) e torná-lo mais proveitoso ao islã para
levar à cabo uma restauração nacional. No entanto, eles deveriam
aguardar até que as condições se tornem mais favoráveis. Em outras
palavras, eles não deveriam se expor antecipadamente23.
Gulen reclamou que essas gravações foram tiradas do contexto e seus seguidores
questionaram a autenticidade das fitas, as quais disseram ter sido “manipuladas". Depois
que o vídeo veio à tona, muitos acusaram Gulen de infiltrar a burocracia, o judiciário e a
polícia turca.
45
No final de agosto de 2000, pouco depois de se auto-exilar nos EUA, Gulen foi
acusado por um promotor turco, de organizar um movimento para derrubar o Estado
secular estabelecido na Turquia e instaurar um governo teocrático. O promotor alegava
que Gulen incentivava os seguidores a se infiltrarem na burocracia e nas Forças
Armadas do Estado.
Gulen foi absolvido em 2008. Apesar de ele ter descrito seu tempo nos Estados
Unidos como “aprisionamento”, ele se recusou a voltar para a Turquia. “Eu deverei
voltar no momento em que as condições estiverem propícias”24.
Ele foi um dos primeiros estudiosos muçulmanos a condenar publicamente o 11
de Setembro. Sua mensagem de condenação foi publicada no The Washington Post, em
21 de setembro de 2001 dizendo: “um verdadeiro muçulmano não é um terrorista, assim
como um terrorista não pode ser considerado um verdadeiro muçulmano”25.
Em 2002, Gulen solicitou um visto de residência permanente e trabalho nos
EUA e depois de um longo processo judicial, em 2008, lhe foi concedido o green card,
através de recomendação e cartas do vice-presidente da CIA, Graham E. Fuller e ex-
embaixador americano Morton Abramowitz.
Em 2003, foi realizada a primeira edição do Festival de Língua e Cultura com a
participação de 17 países, com o objetivo de unir uma vez por ano alguns alunos, até
2013 o festival foi organizado na Turquia.
O movimento tem sido muito cuidadoso ao rejeitar qualquer ajuda
governamental ou contribuição financeira de fundações estrangeiras para manter sua
independência e a natureza cívica de seus projetos. O principal mecanismo de captação
de recursos do movimento é uma reunião chamada "himmet", que poderia ser traduzida
como "promessa de doação." Isto é muito semelhante à noção de jantar para a
angariação de fundos, no ocidente. Esta reunião, geralmente, é realizada durante o mês
23 ATV, 1999. Transcrição de vídeo. 24 Disponível em: <http://www.hurriyet.com.tr/gulen-donemem-erdogan-takdir-kendisine-ait-20770721>.
Acesso em: 19 out. 2017. 25 Disponível em: http://www.movimentohizmet.com.br/na-imprensa. Acesso em 10 nov. 2017.
46
do Ramadã, no qual acredita-se que os atos de caridade virtuosos são mais valiosos.
Nesta reunião, os participantes fazem uma promessa de contribuição financeira ou em
espécie a uma instituição ou uma fundação (EBAUGH, 2009).
b) Liderança
Fethullah Gulen nasceu em 1941 (ou 1938) na conservadora província de
Erzurum, na Anatólia, filho de um imã aposentado. Frequentou os círculos locais de
formação de professores sufistas, onde aprendeu os princípios da espiritualidade
islâmica e humanismo. Ele também foi apresentado aos escritos de Said Nursi, um
renomado estudioso do Islã, que ensinou que os muçulmanos devem receber os
benefícios da modernidade e encontrar inspiração nos textos sagrados para lidar com
eles.
Conforme o site oficial de Gulen26, ele repetidamente expressou sua relutância
em liderar e até mesmo a sua repulsa a qualquer liderança ou menção de liderança, seja
comunitária, religiosa ou política.
No Movimento Gülen, a liderança é uma atividade grupal. Baseia-se na
influência social e gira em torno de uma tarefa comum. O próprio Fethullah Gülen
nunca assume, aceita ou aprova qualquer um dos recursos que são típicos dos estilos de
liderança carismática.
Gulen argumenta que "a liderança de uma única pessoa não é mais viável". Ele
diz: "Como tudo se tornou tão detalhado, particularizado, especificado e enumerado, as
tarefas agora assumem formas que até mesmo indivíduos únicos e destacados não
podem realizá-las sozinhos. É por isso que o lugar do gênio foi agora substituído pela
consciência coletiva com a tomada de decisão consultiva e coletiva ".
Sobre a liderança no Movimento Gülen, especificamente, Fethullah Gülen diz:
"Atrás das instituições existem muitas pessoas e empresas de quase todos os setores da
26 Disponível em: <http://www.fethullahgulen.com/en/home/1310-fgulen-com-english/fethullah-gulen-
life/about-fethullah-gulen-and-gulen-movement/31589-what-is-fethullah-gulens-concept-of-leadership>.
47
vida, independentemente da sua visão de mundo, crenças e estilos de vida [...]. O que fiz
foi encorajar as pessoas." O pressuposto de que quase mil instituições e milhões de
voluntários e participantes do Movimento Gülen em todo o mundo são governados por
Fethullah Gülen ou por qualquer outro indivíduo ou grupo específico de pessoas é
absolutamente insustentável.
O próprio Fethullah Gülen nunca aprovou e nunca usa os termos "Movimento de
Gülen" ou "Comunidade de Gülen". Ele prefere que a ação seja chamada de "Serviço de
Voluntários", porque isso não contesta qualquer alteridade contenciosa, separatismo
político ou uma frente conflituosa. Ele insiste que o Movimento Gülen não se envolve e
não deve se envolver em conflitos e, que o serviço dos voluntários deve ser oferecido
dentro de um certo quadro de princípios.
Conforme site oficial, os participantes do movimento claramente não concedem
esse tipo de autoridade ilimitada e arbitrária ao Fethullah Gülen. Embora todos que
conheçam e entrem em contato com Gülen reconheçam e respeitem seu conhecimento,
ascetismo, piedade, experiência e escolaridade em questões religiosas, espirituais e
intelectuais, isso não resulta em nenhum reconhecimento ou carisma sacral para Gülen.
Numa recente entrevista concedida por Gülen ao jornal Folha27 ele respondeu da
seguinte forma sobre a questão de liderança.
Em nenhum momento aleguei ser líder do grupo. Sempre considerei
uma virtude ser uma pessoa comum. O Hizmet surgiu com a ideia de
fundar instituições educacionais para formar jovens virtuosos, a fim de
tentar encontrar soluções para os problemas do país. Uma vez,
descrevi o Hizmet como "um movimento formado por pessoas que se
reúnem em torno dos valores universais humanos". Embora me veja
como uma pessoa comum, não poderia ignorar a consideração que
existe por mim, mesmo que ela aconteça por engano. Tentei usar esse
interesse para orientar as pessoas a projetos do bem. Tentei responder
a perguntas e solucionar os problemas das pessoas. Se eu tenho um
papel nesse movimento, é apenas esse.
27 Entrevista exclusiva concedida pelo clérigo turco Fethullah Gulen, no dia 19 de junho de 2016, ao
jornal Folha de S. Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2016/07/1792990-
governo-turco-nos-enganou-e-faz-caca-as-bruxas-diz-rival-de-erdogan.shtml>. Acesso em: 27 out. 2017.
48
Por ausência de liderança, é possível que surjam conflitos. Para isso Gülen
respondeu.
Na direção de uma instituição ou projeto, é muito melhor ter pessoas
de inteligência atuando de acordo com a consciência coletiva e
respeitando a opinião dos outros do que ter um gênio que atua
sozinho. Acredito que, mesmo que haja pequenos enganos nas
decisões da consciência coletiva, não haverá grandes erros. Até agora,
não vi nenhum exemplo que vá contra essa convicção. Porém, nas
congregações formadas em torno de opiniões compartilhadas, não se
pode esperar que todos pensem igual, isso é contra a natureza. O
Hizmet não é um movimento que ignora o livre arbítrio e a liberdade
de pensamento dos indivíduos. Se fosse assim, não atrairia tantas
pessoas cultas e de boa formação e não seria aceito em todo o mundo.
Posso dizer, citando um termo religioso, que a união na pluralidade é a
característica geral do movimento Hizmet.
Em 2013, a revista Time designou Gulen como uma das 100 mais influentes
personalidades mundiais28 — “o mais poderoso advogado da moderação no mundo
islâmico” e também “um dos mais intrigantes líderes religiosos mundiais”. Em 2005, os
leitores das revistas Foreign Policy e Prospect tinham-no eleito “o intelectual mais
influente do mundo”29.
Gülen arrasta também uma lenda negra. Nacionalistas turcos acusaram-no de ser
“agente da CIA”, “marioneta dos EUA”, “cardeal escondido da Igreja Católica”. Os
militares turcos quiseram-no julgar por conspiração para impor um “regime islamista”.
Esta acusação é repetida por alguns neoconservadores americanos que o apelidaram de
“Khomeini turco”. Um jornal americano de extrema-direita titulou há meses: “O mais
perigoso islamista do mundo – vivo, de saúde, e a viver na Pensilvânia” 30.
O movimento não possui uma administração central. Conforme as realidades dos
países um conselho local decide os projetos seguindo a filosofia de Gülen. “Todas as
instituições têm uma diretoria, e as diretorias são legalmente responsáveis por aquilo
que fazem ou deixam de fazer […]”. Gulen não possui nem um escritório oficial ou
posição oficial. E as tarefas diárias, além de escrever e falar, não envolvem o
28 Disponível em: <http://time100.time.com/2013/04/18/time-100/slide/fethullah-gulen/>. Acesso em: 10
out. 2017. 29 Disponível em: <http://foreignpolicy.com/2008/08/04/meet-fethullah-gulen-the-worlds-top-public-
intellectual/>. Acesso em: 27 out. 2017. 30 Disponível em: <https://www.publico.pt/2014/01/19/mundo/noticia/fethullah-gulen-percurso-e-lenda-
de-um-pensador-islamico-e-antiislamista-1620178>. Acesso em: 25 out. 2017.
49
funcionamento de nenhuma instituição em país algum explica CEO do RUMI Fórum,
instituição inspirada por Gulen, em Washington DC. (CAGAPTAY, 2016).
Aslandogan tem um pressentimento sobre com que um futuro sem Gülen possa
se parecer. “Penso que seu papel espiritual como um guia em questões centrais será
assumido por um grupo de pessoas”, disse ele. “Não será mais um indivíduo, porque
não há um indivíduo que possa preencher esse lugar”.
4. Aliança e Rompimento do AKP e MH
O cientista político Hakki Tas, resumiu, na tabela 3, como a imagem dos
Gulenistas mudou na projeção de AKP de "uma comunidade religiosa" para
"Pensilvânia" depois para "Estado paralelo" e, finalmente, para "Organização Terrorista
de Fethullah" (FETÖ) para alcançar uma determinada conclusão e política.
Tabela 3: Relação problemática entre AKP e Movimento Hizmet
Fonte: TAS, Hakki. A history of Turkey’s AKP-Gülen conflict, in Mediterranean Politics, 2017
a) Do renascimento à rivalidade
Gulen nunca se encontrou com Erdogan pessoalmente depois que este se tornou
o primeiro-ministro, em 2003, disse Alp Aslandogan, um porta-voz do Movimento
Gulen. Erdogan era um islamista político da escola de Necmettin Erbakan, um político a
quem Gulen se recusou a se juntar em 1969, de acordo com Mercan31.
31 Disponível em: <https://newrepublic.com/article/79062/global-turkey-imam-fethullah-gulen>. Acesso
em: 13 out. 2017.
50
O cientista político turco Ömer Taspinar, da Brookings Institution, afirmou que
tanto o conflito de hoje com Erdogan, como o dos anos 1990 com Erbakan exprimem o
choque entre duas tradições.
O AKP não é um clássico partido islamista, mas vem da tradição
ideológica de Erbakan, conhecida como Milli Gorus (Visão Nacional),
que segue os preceitos do clássico islão político [...] e partilha a
tradição da Irmandade Muçulmana. A Milli Gorus privilegia a uma, a
comunidade mundial dos crentes, menosprezando o Estado-nação
como invenção ocidental. Inversamente, Gülen aposta no Estado
democrático moderno, na ancoragem da Turquia no Ocidente e na
adesão à UE. A grande divergência está relacionada com a política e o
papel do Estado. Ao contrário da Milli Gorus, da Irmandade
Muçulmana ou do AKP, a tradição Nurcu-Gülen pretende estar fora
dos partidos políticos32.
Quando houve o confronto das Forças Armadas com o Partido da Virtude (RP)
que levou ao chamado "Golpe Militar Pós-Moderno de 28 de fevereiro de 1997", o que
obrigou o governo a renunciar e a impor um conjunto de duras medidas solicitado pelos
militares, Gülen não se solidarizou com Erbakan.
Na coletiva de imprensa concedida por Gülen, depois do golpe fracassado, ele
disse que havia se encontrado uma ou duas vezes com Erdogan. “Quando Erdogan
pretendia formar um novo partido ele fez uma visita, contou que pretendia romper com
Erbakan”. “-Eu o avisei sobre as sensibilidades do status quo e os erros cometidos
anteriormente” ele disse33.
b) Aliança Estratégica (2002-2010)
Ambos, AKP e MH foram inicialmente cautelosos o suficiente para não
desencadear um segundo golpe de 28 de fevereiro e manter sua distância um do outro.
Gülen continuou a evitar o alinhamento com o islamismo político, incluindo os novos
herdeiros do MVN. Da mesma forma, o AKP também se esforçou para evitar qualquer
associação com os Gulenistas. Em 25 de agosto de 2004, o Conselho de Segurança
Nacional (MGK), dominado pelos militares, que incluiu o primeiro-ministro Erdogan e
alguns membros do gabinete do AKP, assinaram uma decisão consultiva sobre
32 Disponível em: <https://www.publico.pt/2014/01/19/mundo/noticia/fethullah-gulen-percurso-e-lenda-
de-um-pensador-islamico-e-antiislamista-1620178>. Acesso em: 30 out. 2017.
51
"medidas necessárias para combater as atividades do grupo Fethullah Gülen" e
consultou o governo para elaborar um plano de ação34.
Apesar da percepção pública de que houve uma parceria inerente entre o AKP e
os Gulenistas nesse período, o relacionamento poderia ser melhor descrito como uma
aliança estratégica na busca de benefícios mútuos.
A nova afinidade política e estratégica permitiu que ambos os grupos
deixassem de lado suas diferenças. Primeiro, declarando uma quebra
clara de seus predecessores, o AKP (como fizeram os Gulenistas)
absteve-se de antagonizar a elite do estado com desafios ao
secularismo. Em segundo lugar, ambos os atores agora
compartilhavam uma agenda pró-ocidental que buscava promover o
processo de adesão da Turquia à União Europeia e a liberalização do
mercado. Terceiro, AKP e MH combinaram suas forças
complementares como meio de sobreviver ao ambiente secular hostil.
Enquanto o AKP se beneficiou do capital humano educado da GM na
burocracia estatal, a MH encontrou a oportunidade de ampliar ainda
mais nos campos sociais, econômicos e burocráticos. Especificamente,
em 2005 e 2007, o AKP rejeitou dois avisos de movimento proferidos
pelo principal partido da oposição, o Partido Popular Republicano
(CHP), para investigar o que inventou a "Organização tipo F", com F
referente ao primeiro nome de Gülen. (TAS, 2017)
Segundo o cientista político Hakki Tas (2017), esta aliança formidável foi capaz
de sufocar manobras legais destinadas a acabar com cada grupo. Na sequência da
instituição de mudanças liberais orientadas para a UE contra a Lei contra o terrorismo
33 (Fethullah Gulen deu resposta a Erdogan). Disponível em:
<http://www.cumhuriyet.com.tr/haber/turkiye/568596/|>. Acesso em: 09 out. 2017. 34 O jornal Taraf publicou (28 de novembro de 2013) um documento preparado pelo Conselho Nacional
de Segurança (MGK) em 25 de agosto de 2004, persuadindo o governo a implementar uma série de
medidas para conter as atividades do movimento Gülen. Ele aconselha o governo a adotar medidas legais
que imponham severas penalidades às instituições afiliadas a Gülen. O documento, identificado como
decisão MGK nº 481, pediu ao governo que elaborasse um plano de ação para prosseguir as
recomendações do MGK e encomendara ao Conselho de Monitoramento do Primeiro Ministro coordenar
os ministérios e monitorar se as etapas estavam sendo implementadas (BTK). A decisão do MGK exige
que o Ministério das Relações Exteriores, o Ministério do Interior e a Organização Nacional de
Inteligência (MİT) acompanhem de perto e relatem as atividades do movimento Gülen no país e no
exterior. Ele aconselha o governo a instruir o Ministério do Interior e o Ministério da Educação para
investigar e monitorar escolas afiliadas ao movimento Gülen e denunciar suas atividades ao BTK. O
documento afirma que o governo deve garantir que a atividade financeira dos empresários afiliados à
Gülen seja monitorada minuciosamente no Plano de Investigação de Crimes Financeiros do Ministério
das Finanças (MASAK). A MGK queria que o Ministério da Educação investigasse as escolas de Gülen
também. E pede ao então ministro das Relações Exteriores, Gül, que anule suas instruções anteriores às
missões turcas no exterior para ajudar a rede das escolas MNV e Gülen. O documento também faz
comentários sobre os aspectos psicológicos de uma operação contra o movimento de Gülen, descrevendo
o uso de táticas de difamação. Disponível em: <https://fgulen.com/press/news/37444-todays-zaman-govt-
endorsed-mgk-plot-against-gulen-exposed-by-daily>. Acesso em: 15 set. 2017
52
em 5 de maio de 2006, o Tribunal Penal de Ancara julgou Fethullah Gülen de subverter
o regime secular. Da mesma forma, o AKP sobreviveu à intervenção indireta do
Exército, em 27 de abril de 2007, conhecido como "e-memorandum", e no caso de
encerramento de 2008 no Tribunal Constitucional. No entanto, ao contrário do processo
de 28 de fevereiro, os islâmicos estavam mais confiantes desta vez e realizaram uma
contraofensiva. Os dois cooperaram nos julgamentos de Ergenekon35 e Sledgehammer,
que enviaram centenas de oficiais militares aposentados e ativos para a prisão e
neutralizaram a capacidade tutelar dos militares. A aliança atingiu o pico durante o
referendo constitucional de 12 de setembro de 2010, que alterou a composição dos
órgãos judiciais e, em última instância, quebrou a hegemonia secularista no judiciário.
Com Fethullah Gülen pessoalmente fazendo campanha para cidadãos turcos para
votarem afirmativamente no referendo, Erdogan estendeu gratidão aos "além do
oceano", uma referência intracomunitária a Gülen36.
Segundo o assessor de imprensa de Gulen, Alp Aslandogan, a ameaça das
Forças Armadas turcas de intervir contra o AKP fez Erdogan e Gülen ficarem mais
próximos. “A sua posição dele [de Gulen] e a posição dos participantes do movimento
tem sido a de que as Forças Armadas não devem ter um papel direto nas políticas
domésticas”, disse Aslandogan, “o AKP e os participantes do movimento estavam em
solidariedade na época”. “A operação [Ergenekon] tinha o objetivo de acabar com a
35 Em 2007, a polícia turca encontrou 27 granadas de mão em uma favela de Istambul. Os investigadores
acreditavam que as armas eram para serem usadas por uma organização terrorista ultra-nacionalista
chamada Ergenekon, e um golpe contra o governo do AKP. Ondas de prisões começaram. Uma mistura
de generais, jornalistas, acadêmicos foi levada em custódia. O número de réus rapidamente subiu para
275, alguns dos quais passaram anos na cadeia sem um veredito. 36 De acordo com as mudanças, tribunais civis têm o direito de processar militares por crimes contra o
Estado, enquanto militares dispensados ganham direito a apelar contra a expulsão. O novo documento
também deve reforçar a igualdade entre os sexos, além de proibir discriminação contra crianças,
deficientes e idosos. Trabalhadores também têm direito a integrar mais de um sindicato, e a proibição de
greves de fundo político será eliminada. No Parlamento, representantes que conquistaram cadeiras através
do voto terão direito a permanecer na casa mesmo que o seu partido seja banido. Pela primeira vez, os
turcos poderão entrar com ações individuais no tribunal constitucional do país. O número de juízes desse
tribunal será elevado de 11 para 17. O presidente do país e o Parlamento obterão maior poder de decisão
na escolha desses juízes. O círculo de magistrados que podem se candidatar ao posto é ampliado, e o
mandato é limitado a 12 anos.
. Também o alto conselho de juízes e procuradores, que indica magistrados para altos cargos judiciais, é
alvo da reforma. O órgão é hoje composto por seis pessoas, e a reforma vai ampliá-lo para 21 membros,
um terço deles escolhido pelo Parlamento. Grande defensor das reformas constitucionais, o Executivo
afirma que estas podem ser o passaporte para a União Europeia. Os defensores do "Não" apelaram à
rejeição das reformas em nome da separação de poderes, considerando que estas medidas garantiriam o
controle total da justiça por parte do Governo e que, ainda, estavam decepcionados pela posição da
Europa, em geral favorável às emendas.
53
tutelagem militar”. Mas, conforme acusação da oposição, isso aconteceu com a
cooperação de policiais, promotores, juízes e jornalistas que eram seguidores de Gülen.
“O Sr. Gülen negou categoricamente ter qualquer influência sobre os membros do
judiciário ou os membros da força policial, e ele apoiou as investigações sob o princípio
da prestação de contas”, disse Aslandogan37.
c) Confronto Oculto (2010-2013)
No final de 2010, embora o "antigo" já estivesse, o "novo" ainda não havia
chegado. Com as três fortalezas do establishment secular (a presidência, o militar e o
judiciário), neutralizaram uma nova era que estava no horizonte para os islamitas turcos,
que há muito se caracterizavam como vítimas da opressão secular, mas agora estavam
segurando as rédeas do poder do país. Isso também significava que a raison d'étre da
aliança estratégica deixou de existir e as diferenças surgiram em vários domínios. Em
primeiro lugar, a estratégia dos gulenistas para evitar perturbar o status quo
internacional enfrentou duramente a ambição de Erdogan de se tornar o principal poder
no mundo muçulmano. Em segundo lugar, enquanto os gulenistas agora exigiam uma
maior parcela de poder, Erdogan estava determinado a centralizar o poder do estado em
suas mãos sozinho e afastar até mesmo os seus companheiros de partido (rivais) (TAS,
2017).
Por fim, a política pragmática de Erdogan para negociar com o Partido dos
Trabalhadores do Curdistão (PKK), para uma resolução da questão curda, estava em
conflito com a abordagem de segurança da MH, que considerava que o processo só
ajudaria o PKK a fortalecer sua posição na região. Embora as fricções entre AKP e MH
tenham uma história muito mais longa, sua aliança estratégica escondeu essas diferenças
(ÖZBUDUN, 2014, p. 159). Por isso, seu primeiro conflito público depois do Inverno
de Mavi Marmara, no verão de 2010, surpreendeu muitos. O Mavi Marmara partiu para
quebrar o bloqueio israelense de Gaza, mas resultou no assassinato de dez ativistas
turcos quando as forças israelenses atacaram a flotilha. O incidente ecoou de forma
37 Alp Aslandogan é o diretor de Instituto para Valores Compartilhados, que faz assessoria de imprensa de
Gulen. Disponível em: <https://www.al-monitor.com/pulse/originals/2016/04/turkey-fethullah-gulen-
cleric-opposition-erdogan-akp.html>. Acesso em: 27 out. 2017.
54
bastante diferente nos círculos AKP e MH. Em contraste com o apoio completo da AKP
para a flotilha e a condenação do ataque israelense, Gülen criticou essa iniciativa como
uma violação ilegal e contraproducente da autoridade israelense38. Além deste atrito, a
política externa neo-otomana39 de AKP, que fortalece os laços com o Irã e um papel
assertivo na Síria, também entrou em confronto com o realismo evitando o conflito de
MH, que reconheceu os equilíbrios de poderes regionais e internacionais para garantir
que sua vasta rede global permaneceria intacta (TAS, 2017).
A tensão já tinha começado a acumular e “era conhecido que o fichamento dos
gulenistas vinha ocorrendo por anos sob a administração do AKP. Isso é algo que os
líderes do AKP tinham prometido parar”40, informa Aslandogan41.
No entanto, a divisão definitiva ocorreu com a chamada "Crise MIT
(Organização Nacional de Inteligência Turca)", em 7 de fevereiro de 2012, quando
Sadreddin Sarıkaya, procurador público, citou Hakan Fidan, o Subsecretário da MIT e
confidente de Erdogan, para explicar conversas secretas com o PKK em Oslo e
ultrapassar sua autoridade. Erdogan protegeu-o de novos processos legais através de
uma manobra legislativa imediata. Sem nomeá-los, Erdogan referiu-se aos afiliados de
Gülen no judiciário e à segurança por trás desse evento como um "estado dentro de um
estado"42.
Enquanto exercitava uma grande cautela para colocar Gülen como alvo
diretamente, as figuras pró-governo começaram a sugerir que Gülen estava sendo
38 Disponível em: <http://hizmetnews.com/18603/fethullah-gulen-view-israel/#.WgglQ2hSzIU>. Acesso
em: 01 nov. 2017. 39 Neo-otomanismo é uma ideologia política turca que, em seu sentido mais amplo, promove um maior
engajamento político da moderna República da Turquia dentro de regiões anteriormente sob o domínio do
Império Otomano, o seu estado predecessor. Ela tem sido usada para descrever a política externa turca
sob o Partido da Justiça e Desenvolvimento, que tomou o poder em 2002, sob o primeiro-ministro Recep
Tayyip Erdogan. Neo-otomanismo é uma mudança dramática da política externa turca tradicional da
ideologia Kemalista, que destacou olhando para o oeste em direção à Europa com o objetivo de evitar a
instabilidade e sectarismo do Oriente Médio. 40(O AKP praticou o plano de acabar o movimento Hizmet). Disponível em:
<http://www.radikal.com.tr/turkiye/hukumet-mgknin-2004teki-cemaat-eylem-planini-uygulamis-
1163747/>. Acesso em: 02 nov. 2017. 41 Disponível em: <https://www.al-monitor.com/pulse/originals/2016/04/turkey-fethullah-gulen-cleric-
opposition-erdogan-akp.html>. Acesso em: 10 nov. 2017. 42Disponível em: <https://www.turkeyanalyst.org/publications/turkey-analyst-articles/item/395-the-
coalition-crumbles-erdogan-the-g%C3%BClenists-and-turkish-democracy.html>. Acesso em: 15 nov.
2017.
55
induzido em erro pelo seu círculo interno, especialmente por um grupo gülenista nas
forças de segurança, que estavam ganhando vantagem na comunidade (KUÇUK, 2012).
A frase 'Gülen é bom, mas seu círculo íntimo é ruim' (Tabela 3) era comum em círculos
pró-governo. Ainda assim, ambos os lados estavam mantendo esse confronto nos
bastidores. Em junho de 2012, Erdogan até assistiu às Olimpíadas turcas organizadas
pelo Gülenist e convidou Gülen de volta à Turquia, dizendo: "Queremos que esse anseio
termine"43.
No verão de 2013, os protestos de Gezi explodiram e forçaram um teste final
para a frágil aliança. Gezi tornou-se um salva-vidas para o AKP, que estava perdendo
seu impulso inicial. Com base na tensão e polarização sustentadas para consolidar sua
base eleitoral, Erdogan empregou habilmente o desafio Gezi para fabricar novos
inimigos agora que o estabelecimento secular havia desaparecido. Ele retratou os
protestos como um plano internacional para derrubar o governo e declarou uma segunda
guerra de libertação contra os "imperialistas" ocidentais e os "traidores" colaboradores.
Nesta política de confronto, o apoio dos meios de comunicação do MH estava abaixo
das expectativas do AKP. Quando a dissonância atingiu um ponto de não retorno para o
final do ano, tudo o que restava para que Erdogan fizesse era amarrar os gülenistas aos
mesmos quadros conspiradores antiocidentais. Gülen condenou a repressão dos
ocupantes da Praça Gezi44.
d) Confronto Aberto (2013-2016)
Em novembro de 2013, Erdogan anunciou que os cursinhos preparatórios para a
faculdade, frequentemente operados por gulenistas, seriam fechados. O MH estava
operando um quarto dos cursinhos, que não eram apenas uma fonte financeira para o
movimento, mas também canais para o recrutamento de novos membros. Sendo assim,
isso foi amplamente percebido como uma ação com objetivo de paralisar o movimento.
43 Gulen recusou voltar com a “preocupação de perder os ganhos do país e não ser motivo de problemas
no país”. Disponível em: <https://fgulen.com/press/news/32569-todays-zaman-fethullah-gulen-says-he-
prefers-staying-longer-in-us-to-avoid-harming-positive-things>. Acesso em: 10 nov. 2017. 44 . "O povo expressou suas demandas democráticas [durante os protestos do Parque Gezi] e, inicialmente,
houve protestos inocentes. Esses protestos poderiam ter sido tolerados. Funcionários poderiam ter
visitado os manifestantes e terem ouvido sobre suas demandas. Em vez disso, os protestos foram
violentamente suprimidos. O shopping center que deveria ser construído lá valia uma única gota de
56
O movimento supostamente respondeu à ofensiva de Erdogan com uma
investigação de corrupção nos altos níveis, em que empresários próximos ao primeiro-
ministro, burocratas sêniores e filhos de três ministros foram presos. Em 17/25 de
dezembro de 2013, a polícia prendeu 52 pessoas, incluindo burocratas seniores,
empresários e filhos de ministros sobre acusações de corrupção no comércio secreto de
ouro para o petróleo da Turquia com o Irã que ultrapassou as sanções americanas para
este último45.
Mais tarde, uma conversa telefônica supostamente grampeada veio à tona nas
mídias sociais. Na gravação, que não pode ser verificada independentemente, o
primeiro-ministro supostamente conversa com seu filho sobre se dispor de milhões de
dólares. Erdogan chamou a investida de “uma conspiração suja” e culpou Gülen46.
Depois de 17 e 25 de dezembro de 2013, Erdogan e Gulen publicamente
afastaram-se e Gülen tornou-se o “inimigo público número um” do homem forte da
Turquia em 2013, no meio de um escândalo de corrupção. Vem daí as acusações de
Erdogan de que Gülen está agindo como “um Estado dentro do Estado”, ou seja,
“Estado paralelo”, e tentando desestabilizar o governo.
O governo do AKP iniciou uma expurga anti-gülenista maciça entre instituições
do estado. "Se isso é chamado de caça às bruxas, então, sim, vamos realizar aquela caça
às bruxas"47, declarou Erdogan como demonstração de sua determinação. Vários
milhares de policiais, juízes e procuradores considerados simpatizantes de Gülen foram
sangue? ”. Disponível em: <http://www.hurriyetdailynews.com/islamic-scholar-gulen-criticizes-turkish-
govt-response-to-gezi-protests-63849 . Acesso em: 20 nov. 2017. 45 O empresário iraniano Reza Zarrab. [5] que foi considerado o principal suspeito na investigação, que
teria sido envolvido em um esquema de lavagem de dinheiro, particularmente em relação à sua
transferência de ouro e dinheiro para o Irã através do Halkbank controlado pelo governo da Turquia,
como parte de uma estratégia para ignorar as sanções lideradas pelos Estados Unidos contra o Irã. Zarrab
foi preso pelo FBI em Miami nos EUA, em 19 de março de 2016, e acusado de fraude bancária, lavagem
de dinheiro e ajudando o governo iraniano a evitar as sanções econômicas dos EUA contra o Irã para
impedir seu programa de armas nucleares. Disponível em:
<https://www.washingtonpost.com/opinions/global-opinions/the-man-at-the-crux-the-of-us-turkey-
dispute-is-about-to-go-on-trial/2017/10/12>. Acesso em: 27 dez. 2017. 46 Disponível em: <https://www.theguardian.com/world/2014/feb/25/leaked-tapes-calls-erdogan-resign-
turkish-pm>. Acesso em: 21 nov. 2017. 47 “Para limpar os traidores, caçamos, faremos essa caça às bruxas. Enquanto eu respirar, nunca vou
esquecer e nunca vou perdoar eles”. Erdogan. Disponível em: <http://www.hurriyet.com.tr/cadi-aviysa-
cadi-avi-26399999>. Acesso em: 28 nov. 2017.
57
revogados ou demitidos. O governo também passou por meios de comunicação pro-
Gülen e confiscou o grupo Samanyolu e Zaman, em dezembro de 2014, e o grupo Koza
İpek, em outubro de 2015. Ao responder a esses eventos, os membros da MH, pela
primeira vez na história do movimento, iniciaram sentinelas pacíficas para protestar
contra o governo.
O vigilante bancário turco BDDK tomou o controle do Banco Asya, um banco
afiliado ao MH, alegando que ele não tinha conseguido atingir critérios legais.
Os dois grupos tinham base conservadora. Na tentativa de consolidar seus
seguidores, ambos adotaram uma retórica severa. Gülen amaldiçoou aqueles por trás de
expurgo de policiais envolvidos na investigação do processo de 17/25 de dezembro.
"Aqueles que não veem o ladrão, mas vão atrás daqueles que tentam pegar o ladrão [...]
unidades”48. Erdogan também escalou seu comportamento de ódio, atacando Gülen
como um "falso profeta" e rotulando os parasitas, "ladrões de túmulos", "vampiros
sugadores de sangue", "peões dos inimigos do turco" e "vírus a ser extirpado"49.
A MGK emitiu uma declaração oficial em 30 de outubro de 2014 que referia
"organizações ilegais sob máscaras legais" como uma grande ameaça para a segurança
nacional. Após outra reunião, em 27 de abril de 2015, o MH também entrou na lista de
ameaças internas no Documento de Política de Segurança Nacional (MGSB) com a
mesma referência. Eventualmente, em 26 de maio de 2016, o MGK se referia
explicitamente à "Estratégia Paralela do Estado" como organização terrorista pela
primeira vez.
Os grupos seculares na Turquia, já perplexos com a ira da atitude em público,
ficaram em silêncio, acreditando que o fratricídio islâmico só os beneficiaria. Além
disso, durante este confronto aberto com seu antigo aliado, Erdogan fez uma aliança
48 (Pela primeira vez Gulen amaldiçoou). Disponível em: <http://www.milliyet.com.tr/gulen-ilk-kez-
boyle-beddua-etti-/gundem/detay/1810674/default.htm>. Acesso em: 24 nov. 2017. 49 Página 26, Anexo I. Disponível em: <https://stockholmcf.org/wp-content/uploads/2017/06/Erdogans-
Vile-Campaign-Of-Hate-Speech-Case-Study-Targeting-Of-The-Gulen-Movement_2017.pdf>. Acesso
em: 14 nov. 2017.
58
tática com seu antigo inimigo, os kemalistas anti-ocidentais50, que ainda possuíam
algum poder no poder militar e judiciário. Para este fim, Erdogan rejeitou publicamente
os julgamentos de Ergenekon e Sledgehammer, e a maioria dos políticos encarcerados,
jornalistas e oficiais militares ativos e aposentados foram lançados em 2014 e 2015
(TAS, 2017).
e) Guerra Total (2016 e depois)
Pouco após a malsucedida tentativa de golpe de julho de 2016, o governo turco
alegou que a tentativa de golpe havia sido organizada por Gülen e seu movimento. Em
19 de julho de 2016, o primeiro ministro turco declarou que uma petição oficial havia
sido enviada aos EUA pedindo a extradição de Fethullah Gülen. "Por favor, não nos
enviem as alegações, enviem-nos as provas. Precisamos ter provas sobre as quais
podemos então fazer um julgamento", disse o secretário de Estado John Kerry51.
Em 20 de julho de 2016, o presidente Erdogan declarou um estado de
emergência capacitando-o e o gabinete para governar o país por decreto. Erdogan
estendeu por 4 vezes o período de Estado de Emergência52. Desde então foram
publicados 25 decretos por Erdogan, foram confiscados 3003 escolas, universidades e
alojamentos ligados ao MH, 146 mil servidores públicos foram demitidos, 128 mil
pessoas foram detidos, 65 mil pessoas foram presas53.
Ironicamente, os rótulos acusadores de dois casos legais anteriores foram usados
para atacar o movimento: "Estado paralelo", circulado durante as investigações do
50 Aqueles gulenistas que substituíram o pessoal do Grupo Perincek são eles mesmos eliminados. Agora,
surpreendentemente, o Grupo Perincek tornou-se a entidade que o Presidente Recep Tayyip Erdogan está
confiando na maior parte do estado dos gulenistas e luta contra o Partido dos Trabalhadores do Curdistão
(PKK). Erdogan dotou o grupo de amplos poderes. A filosofia básica do grupo é superar as condições
difíceis do presente, e tem que reverter para os primeiros anos da república e aderir ao kemalismo,
independência, secularismo, estatismo e nacionalismo. Perincek é visto mais influente do que o primeiro-
ministro Binali Yildirim, Perinçek afirma que: "O AKP com seus quadros atuais não pode governar a
Turquia. É por isso que o presidente Erdogan confia em nossa presença em lugares críticos do estado ".
Disponível em: <https://www.al-monitor.com/pulse/originals/2016/10/turkey-power-struggle-between-
islamists-and-secularists.html>. Acesso em: 17 out. 2017. 51 Disponível em: <http://www.independent.co.uk/news/world/europe/turkey-coup-fethullah-gulen-
erdogan-extradition>. Acesso em: 18 dez. 2017. 52 Disponível em: <https://www.reuters.com/article/us-turkey-security-emergency/turkish-government-
extends-state-of-emergency-rule-for-another-3-months->. Acesso em: 30 out. 2017.
59
KCK, agora preso ao MH. Do mesmo modo, a "Organização Ergenekon Terror" (ETÖ)
foi substituída por FETÖ. A tentativa de golpe de longo prazo fez com que o FETO
fosse usado pela primeira vez em um relatório secreto de segurança, datado de 4 de
março de 2015. Escrito pelo chefe adjunto do Departamento de Polícia Nacional Zeki
Çatalkaya, o relatório referiu FETO / PYD (Organização Terrorista Fethullah/ Estrutura
Paralela do Estado). As autoridades turcas inseriram Gülen como líder do PYD, em 28
de outubro de 2015, na lista dos terroristas mais procurados junto com os líderes do
PKK e do ISIS.
Sobre a aliança com o Erdogan, Gulen afirmou que54:
O apoio dos nossos amigos na forma de votos ou de suporte midiático
foi devido à promessa de reformas democráticas para que a Turquia se
unisse à União Europeia. O partido de Erdogan, o AKP, prometeu
parar de classificar as bases em sua visão política, respeitar a liberdade
de religião e conter a influência militar em questões domésticas. Tudo
isso estava no programa do partido, e seus líderes anunciaram essas
promessas inúmeras vezes. Durante o primeiro mandato, eles de fato
implementaram essas reformas e foram elogiados pelos líderes da
União Europeia. Infelizmente não continuaram nesse caminho.
Gülen afirma que desconfiou de Erdogan desde o começo. Menciona uma
reunião que teve com ele em 1999. “Por respeito ao seu pedido compartilhei algumas
ideias com ele. Mais tarde soube que quando me dirigia ao elevador ele disse aos seus
acompanhantes que deveriam acabar com o movimento na primeira oportunidade”,
lembra. “Eram intolerantes desde o começo”55.
Uma das acusações mais insistentes sobre os partidários de Gülen é sua
capacidade de infiltrarem-se nas estruturas de poder turcas. Até o ponto de criar um
Estado paralelo. Gülen respondeu ao país: “se você é um cidadão turco legal é normal
trabalhar, subir na carreira, e ser nomeado nessas posições. Isso não é infiltração”, diz.
“Pode ser que eu peça às pessoas que estudem para servir ao seu país, ir a essas
instituições para servir ao seu povo”, continua, “mas se me pedir para dar o nome de
vinte pessoas que trabalham para o governo, não consigo”.
53 Disponível em: <https://turkeypurge.com/>, <https://stockholmcf.org/wp-
content/uploads/2017/09/Turkeys-Contempt-for-The-Rule-of-Law.pdf>. Acesso em: 29 out. 2017. 54 Disponível em: <http://veja.abril.com.br/mundo/fetullah-gulen-o-inimigo-preferido/>. Acesso em: 28
out. 2017. 55 Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/09/24/internacional/1474724446_686061.html>.
Acesso em: 14 nov. 2017.
60
No dia 16 de agosto de 2016, o Ministério Público da Turquia pediu à Justiça a
condenação de Gülen, abarcando duas penas de prisão perpétua, além de outra de 1.900
anos de prisão pela fracassada tentativa de golpe em 15 de julho. O Ministério Público
acusou o clérigo de “tentar destruir a ordem constitucional pela força” e “formar e
dirigir um grupo terrorista armado”.
Mais amplamente, a cadeia de eventos que transformou o aliado estratégico de
Erdogan em seu inimigo tem suas repercussões nas paisagens sociais, políticas e
econômicas da Turquia. O dia 15 de julho é projetado como o momento fundamental da
"Nova Turquia" de Erdogan. No entanto, a discórdia social e a disputa política perpétua
em meio a sucessivos estados de emergência colocam o país em uma grave crise
existencial e a única saída é talvez por meio disso (TAS, 2017).
61
CAPÍTULO 2 – COBERTURA INTERNACIONAL NOS JORNAIS E
A TURQUIA
Neste capítulo, será analisada a literatura da cobertura internacional dos três
jornais da unidade de análise. O capítulo é dividido em três partes: na primeira parte,
serão apresentados os jornais e, na segunda, será analisado o modo de produção das
notícias estrangeiras e a participação dos principais agentes nesse processo: a redação,
os correspondentes e as agências de notícias e, por fim, a terceira parte, com as
entrevistas dos editores da página internacional da Folha de S. Paulo e do O Estado de
S. Paulo.
Um fato ou acontecimento, independente do lugar onde aconteça, não ocorre
isoladamente, ele está sempre inserido em um contexto econômico, político e cultural
que, por sua vez, encontra-se em constante transformação. Sendo assim, o jornalismo
também está inserido nesse contexto e é modificado por esse mesmo ambiente, por isso,
cabe traçar a contextualização da produção jornalística brasileira.
2.1 História dos Jornais
a) Folha de S. Paulo
De acordo com Carlos Eduardo Lins da Silva (2005), a Folha de S. Paulo não
ostenta biografia linear como outros jornais importantes no Brasil (O Estado de S.
Paulo, por exemplo). Em sessenta e seis anos de existência, pertenceu a quatro grupos
diferentes de empresários e alterou sua política editorial inúmeras vezes.
Ainda segundo o autor, o jornal foi fundado em 1921 e se chamava
Folha da Noite, quando começou a circular no dia 19 de fevereiro
daquele ano. Em julho de 1925, o empreendimento já comportava uma
ampliação e o grupo passou a publicar também um matutino, ao qual
seria dado o nome de Folha da Manhã (SILVA, 2005, p. 70).
De 1945 a 1962, Nabantino Ramos deu uma linha ao jornal. Em 1949, ele
fundou a Folha de Tarde e, em 1960, fundiu os três diários num só, ao qual deu o nome
de Folha de S. Paulo.
62
Em 1962, o jornal foi comprado por Carlos Caldeira Filho e Octavio Frias de
Oliveira (cuja família ainda mantém o controle do jornal). Em 15 de outubro de 1963,
era lançado o jornal Notícias Populares. Dois anos depois, em 1965, o Grupo Folha
incorporou o jornal. A partir de 1967, a Folha iniciou a modernização de seu parque
gráfico, tornando-se o primeiro jornal impresso em offset do Brasil.
Na década de 1970, a Folha desempenhou um papel decisivo no processo de
redemocratização do Brasil, quando abriu suas páginas ao debate de ideias que
fervilhavam na sociedade civil. Em 1978, começou a veicular Tendências/Debates, que
abrigava textos de intelectuais e políticos perseguidos pelo regime militar.
Na era de 1980, a Folha liderou a imprensa diária brasileira como o jornal de
maior circulação do país. E, em 1983, o jornal foi o primeiro da América do Sul a
iniciar o seu processo de informatização da redação. Nessa década, o jornal também foi
pioneiro na adoção de infográficos e quadros que explicam, de maneira didática, os
detalhes das principais notícias e o contexto das mesmas. Já no final dessa década, o
jornal inseriu um formato pioneiro e revolucionário para a época ao contratar um
ombudsman. No jornal, ele funciona como um ouvidor que anota as críticas e opiniões
dos leitores e que, com total independência, tem o poder de criticar matérias e
reportagens do jornal.
A década de 1990 não começou muito bem para a Folha, já que, em março de
1990, agentes da Polícia Federal, em plena democracia, invadiram a jornal sob o
pretexto de buscar irregularidades administrativas. Já no ano de 1991, a Folha foi o
primeiro órgão da imprensa brasileira a pedir o impeachment do presidente Fernando
Collor de Mello, que renunciou ao cargo no ano seguinte.
No que tange à nossa pesquisa, listamos alguns nomes de colunistas que
escreveram sobre a Turquia: Clóvis Rossi (4), Hélio Schwartsman (1), Patrícia Campos
Mello (1), Hussein Kalout (3) e os jornalistas que escreveram artigos são: Júlia Barbon,
Chico Felitti (2), Luísa Pessoa (1), Natuza Nery (1), Johanna Nublat, Diogo Bercito (7).
63
b) O Estado de S. Paulo
O Estado de S. Paulo é o mais antigo dos jornais da cidade de São Paulo ainda
em circulação, tendo sido fundado em 4 de janeiro de 1875, com base nos ideais de um
grupo de republicanos engajados no ideário republicano e abolicionista. Na época em
que foi criado, ainda no Império, o jornal se chamava A Província de S. Paulo. O
escritor Euclides da Cunha, sob o pseudônimo de Proudhon, foi um dos colaboradores
do jornal. Quando surgiu, o jornal tinha quatro páginas e uma tiragem de 2.025
exemplares. A tiragem foi aumentando e, em 1896, já estava em dez mil o número de
exemplares impressos.
Somente em janeiro de 1890, após a queda da monarquia e instituição da
República no Brasil, é o que o jornal A Província de S. Paulo passou a circular com o
nome de O Estado de S. Paulo. E quando o então redator-chefe Francisco Rangel
Pestana se afastou do jornal, o jovem redator Júlio Mesquita assumiu efetivamente a
direção do Estadão e deu início a uma série de inovações. Uma das ideias colocadas em
prática foi a contratação, pelo jornal, da agência Havas, à época, a maior do mundo,
para dar mais agilidade às notícias internacionais.
A modernização do jornal seguia no mesmo ritmo de desenvolvimento da cidade
de São Paulo, tanto que, ao final do século XIX, O Estado de S. Paulo já era o maior
jornal de São Paulo, superando o Correio Paulistano. A partir de 1902, o jornal passou
a ser de propriedade exclusiva da família Mesquita. Em 1966, o Grupo Estado lançou o
Jornal da Tarde, um diário com um acompanhamento especial dos problemas urbanos.
Em 1968, os dois jornais, que permaneciam se opondo ao regime militar, passaram a
contar com censores da Polícia Federal em sua redação, ao contrário dos outros grandes
jornais brasileiros, que aceitaram se autocensurar. “Entre 1968 e 1975, mais de 1.000
páginas dos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde foram censuradas”.
No entanto, apesar das restrições, O Estado de S. Paulo continuava com suas
denúncias de censura através da publicação de poemas de Luís de Camões, como nas
edições dos dias 28 de julho e 30 de novembro de 1974, e receitas culinárias, em lugar
das notícias proibidas. Em fevereiro de 1967, a tiragem do Estadão ultrapassou os
340.000 exemplares. Em 1969, com a morte de Mesquita Filho, o jornal passou a ser
64
dirigido por Júlio de Mesquita Neto. Com as dificuldades enfrentadas com a ditadura
militar, a censura aos jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde só foi retirada em
janeiro de 1975.
Na década de 1980 houve uma reformulação no jornal O Estado de S. Paulo. Em
1986, com o jornalista Augusto Nunes no posto de diretor de redação, o noticiário do
jornal começou a ser revigorado. As novidades passaram também pelo processo gráfico
e que culminaram em 1991, quando foram introduzidas cores no jornal, passando
também a ter edições diárias, pois, até então, não circulava às segundas-feiras e dias
seguintes a feriados.
Em 1996, Júlio de Mesquita Neto morreu, e o jornal passou a ser dirigido por
seu irmão, Ruy Mesquita, até então diretor do Jornal da Tarde, pertencente ao Grupo
Estado. Atualmente, a composição do jornal é feita por três cadernos e um suplemento,
que varia de acordo com o dia. O primeiro caderno contém os editoriais de Política,
Internacional, Metrópole e Esportes. O segundo caderno inclui os editoriais de
Economia e Tecnologia. Já o terceiro caderno, nomeado de "Caderno 2", faz a cobertura
de entretenimento e incorpora comportamento digital e literatura. Os colunistas,
blogueiros e correspondentes que escreveram sobre a Turquia, nesse jornal, foram:
Helio Gurovitz (1), Lourival Sant’Anna (2), Gilles Lapouge (2), Guga Chacra (4), e os
jornalistas que escreveram artigos foram: Jamil Chade (9), Fernanda Simas (5), Andrei
Netto (4).
c) Jornal O Globo
O Globo é um jornal diário de notícias brasileiro, fundado em 29 de julho de
1925 e sediado no Rio de Janeiro, de circulação nacional pela assinatura mensal nas
formas impressa ou digital. É parte integrante do Grupo Globo, de propriedade da
família Marinho, que inclui a Rádio Globo e a TV Globo.
Funcionou como jornal vespertino até 1962, quando se tornou matutino. De
orientação política conservadora, é um dos jornais de maior tiragem do país. Ao lado da
65
Folha de S. Paulo, Estado de Minas, Zero Hora, Correio Braziliense e O Estado de S.
Paulo, entre outros, forma o grupo dos principais jornais de referência do Brasil.
O jornal foi fundado em 29 de julho de 1925, por Irineu Marinho. No entanto,
Irineu faleceu 21 dias após a fundação deste. O Globo foi então herdado por seu filho
Roberto Marinho, que trabalhava na empresa como repórter e secretário particular do
pai. Roberto, entretanto, preferiu deixar o comando da empresa nas mãos do jornalista
Eurycles de Matos, amigo de confiança de seu pai. Somente assumiu o controle da
empresa após a morte de Eurycles, em 1931. Em 1936, O Globo lançou a primeira
telefoto da imprensa brasileira.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o jornal criou o Globo Expedicionário, que
levava informações sobre o Brasil para os soldados brasileiros servindo na Europa, por
meio do jornal, da venda de história em quadrinhos, graças ao lançamento de sua
primeira revista O Globo Juvenil, em 12 de junho de 1937; logo em seguida em, 1939,
foi lançada a revista O Gibi, esse nome se tornaria sinônimo de revista em quadrinhos.
Devido a investimentos no ramo imobiliário, Roberto Marinho conseguiu criar um
poderoso conglomerado de empresas de mídia, o Grupo Globo, hoje constituído pela
TV Globo, Rádio Globo, Editora Globo e demais veículos.
Tornou-se o primeiro jornal brasileiro a circular aos domingos, em 1972. Em 29
de julho de 1996 lançou sua versão digital, O Globo On, após o Jornal do Brasil, o
Estado de S. Paulo, o Estado de Minas e a Folha de S. Paulo. Os jornalistas que
escreveram sobre a Turquia foram: Demétrio Magnoli (1), Cristina Azevedo, Graça
Magalhães -Ruether (2), Luiza Souto, Henrique Gomes Batista.
2.2 O Jornalismo a Distância
O noticiário exterior no Brasil é abastecido por três fontes básicas de
informações: os correspondentes internacionais, as agências de notícias e veículos de
imprensa estrangeiras (CASTRO, 2016).
66
Significativa parte das reportagens, ou notas e fotografias, publicada nos jornais
e revistas brasileiros são de agência internacional ou de mídia estrangeira. O jornal O
Estado de S. Paulo compra matérias e colunas de articulistas de jornalões, e revistas
mundialmente conceituadas, tais como: The New York Times, The Washington Post (dos
EUA) e a revista The Economist (da Inglaterra). A Folha de S. Paulo compra material
do New York Times Internacional Weekly.
As mesmas imagens são distribuídas para inúmeros países, “homogeneizando”
cada vez mais as notícias e suas fontes. Uma crítica feita por Natali é que a compra,
sempre dos mais poderosos grupos de comunicação, acaba por manter a abordagem na
“sistemática da mesmice” (CASTRO, 2016, p. 25).
Um problema que atinge a imprensa latino-americana em geral é o fato de os
jornalistas da área internacional, na maioria das vezes, não terem acesso direto aos fatos
que relatam. Com o número de correspondentes pequeno e a maior parte do trabalho
sendo feita da redação, as “fontes” acabam sendo as agências internacionais de notícias,
especialmente na mídia impressa (SOUTO, 2009). Deste modo, o trabalho nos editoriais
que cobrem assuntos internacionais consiste basicamente na reciclagem da informação
para convertê-la aos padrões de cada veículo.
No cotidiano de nossas redações, a ‘checagem’ das informações nas
fontes primárias é praticamente nula, e sua reciclagem, por outro lado,
é intensa; em geral, a Internet, as rádios e a televisão tomam a
dianteira, ficando os jornais com mais tempo para ‘cozinhar’ os fatos,
isto é, contextualizá-los e interpretá-los (STEINBERGER, 2003, p.
30).
Além do processo de contextualizar e reinterpretar os fatos, as grandes empresas
jornalísticas costumam dar preferência a articulistas e comentaristas estrangeiros que
assinam textos em grandes jornais e revistas como The New York Times, Newsweek,
Washington Post etc. Steinberger acrescenta que os editoriais dos jornais brasileiros
acrescentam muito pouco e que faltam fontes alternativas de informação. Outra
característica deste tipo de cobertura é a dependência das fontes oficiais, como
assessorias de imprensa de governos e agentes envolvidos nas notícias.
67
Para ter uma noção geral sobre a cobertura da Turquia, foi realizada uma
entrevista, via e-mail, com a editora de “Mundo” da Folha de S. Paulo, Luciana Coelho,
o editor de “Internacional” do Estado de S. Paulo, Rodrigo Antunes e com a editora de
“Internacional” do Jornal O Globo, Sandra Cohen.
a) A Redação
O editorial internacional depende, basicamente, do trabalho de dois tipos de
profissionais: aqueles que trabalham como correspondentes ou enviados especiais – fora
do país – e os que trabalham dentro da redação.
O principal objetivo de uma editoria internacional seria informar “o que
acontece no mundo”. Para isso, os meios investem em serviços telegráficos de agências
e assinatura de jornais estrangeiros, recebendo as pautas e assuntos a serem escolhidos.
Diariamente, uma redação recebe, em média, 1.500 notícias diferentes. Nessas,
estão incluídas o trabalho de diferentes agências falando sobre o mesmo tema ou mesmo
atualizações do mesmo fato, várias vezes por dia. Aos despachos, são somadas as
matérias de correspondentes fixos, freelances e enviados especiais, além de haver
reportagens e artigos de jornais e revistas de todo o mundo.
Nesse momento, torna-se vital a figura do redator e do editor de internacional.
São eles os responsáveis por decidir qual notícia será dada e com que enfoque será feita
a cobertura de um fato. Como afirma o jornalista João Batista Natali:
O redator de Política Internacional é um jornalista que tem pouco
acesso direto às fontes que estão na origem da informação publicada.
Há a intermediação das agências, dos comentaristas estrangeiros de
cujas colunas o jornal é assinante, dos serviços que fornecem
fotografias e infográficos. O jornalista que toma como matéria-prima
essa montanha quase infinita de informações é, nas redações, um
especialista respeitado. Ele lida com uma diversidade imensa de
assuntos, com uma complexidade incrível de conflitos. É normal que
se exija dele uma qualificação diferenciada. (CASTRO, 2006, p. 30)
De cerca de 70 despachos e pautas relativos à política internacional, enviados
pelas agências e correspondentes, somente um é aproveitado. Por isso, para Natali, é o
68
editorial internacional o responsável pela maior produção de “lixo de informações”.
Obviamente, o “mundo” não caberia no pequeno espaço dedicado às questões
estrangeiras pela mídia brasileira. Para selecionar os assuntos que “serão notícia”, os
redatores baseiam-se em alguns critérios (até questionáveis) da importância do país para
a geopolítica, ou da visibilidade dele em acordos comerciais. Por exemplo, veem-se
com maior frequência na imprensa brasileira reportagens relacionadas aos Estados
Unidos ou países da União Europeia, enquanto outros como da América Central, África
e, mesmo da América Latina, são negligenciados. A seleção do material publicado é
feita através de um cuidadoso processo de hierarquização de temas, pautada numa
escala do que se considera ser de maior interesse do leitor.
Como a edição depende de um processo de escolha, nem tudo o que acontece ou
é notícia aparece no noticiário internacional. Os critérios de seleção dos assuntos e
temas, no entanto, nunca ocorrem de maneira totalmente neutra ou objetiva. Por isso, as
páginas dos jornais ou reportagens de televisão não constituem um “retrato fiel do
mundo”, mas são um recorte dos assuntos considerados mais importantes e abordados a
partir do ponto de vista de quem os escreve, sejam os correspondentes, redatores ou
agências de notícias (SOUTO, 2009).
b) Correspondentes e Enviados Especiais
A cobertura de acontecimentos mundiais depende, principalmente, dos
repórteres que trabalham a serviço das agências de notícias e dos veículos de
comunicação. Nesse contexto, tornam-se essenciais os correspondentes e enviados.
O correspondente internacional é um repórter fixo baseado em outro país,
normalmente numa grande cidade ou capital, considerada ponto estratégico para cobrir
acontecimentos de um país, uma região ou mesmo um continente. É contratado de um
órgão de imprensa, seja jornal, revista, rádio, televisão ou sites.
Já o enviado especial trabalha durante um fato específico, uma cobertura pontual
– guerra ou conflito, a situação do país depois de um desastre natural, uma crise
econômica ou política, as eleições presidenciais, um festival de música, um campeonato
mundial de esportes, entre outros. Pode ser um repórter nacional expatriado ou
69
correspondente deslocado para uma área próxima. Os enviados acompanham o
acontecimento durante um período determinado, como alguns dias ou semanas, e depois
voltam para a redação.
Existe, ainda, o jornalista que trabalha no exterior por conta própria, sem vínculo
empregatício ou contrato de prestação de serviços para a imprensa. Os freelances estão
em lugares onde os veículos não considerem importante manter um profissional,
normalmente, fora dos grandes centros, como na Ásia, África, Europa Oriental ou na
América Central.
c) Agências de notícias
As agências de notícias são empresas jornalísticas especializadas na difusão de
informações e notícias diretamente das “fontes do acontecimento” para os veículos de
mídia de todo o mundo. Elas funcionam como grandes multinacionais de informações e
contam com forte infraestrutura tecnológica e profissional: além de possuir escritórios
em vários países, trabalha com inúmeros correspondentes e enviados especiais aos
“mais remotos lugares do planeta” (SOUTO, 2009).
A principal função de uma agência é comercializar a informação coletada por
seus repórteres, fornecendo, por exemplo, um periódico brasileiro, fotos e reportagens
sobre uma guerra civil em um país da África, uma enchente em Bangladesh ou, mesmo,
sobre as eleições na Hungria.
Entre as maiores agências noticiosas internacionais estão a Associated Press
(AP), a britânica Reuters, a espanhola EFE, a alemã DPA, a francesa Agence France
Press (AFP) e a italiana ANSA; já a televisão Al Jazeera funciona como uma poderosa
agência de notícias do mundo árabe.
Os compradores do material de uma agência não têm perfil definido: são jornais,
revistas, televisões e sites do mundo inteiro; países com cultura, língua e situação
sociopolítica completamente diferente. Por essa razão, o trabalho do jornalista a serviço
de uma agência difere daquele do correspondente internacional. O “olhar estrangeiro” e
a contextualização do acontecimento para o país de origem – características vitais das
70
reportagens dos correspondentes – são completamente ignoradas por uma agência
noticiosa. Como são muitos os seus “clientes”, o texto busca ser neutro, sem defender
(claramente) um ponto de vista ideológico – sempre focando num “público abstrato e
homogêneo” (SOUTO, 2009).
O jornalista John Hohenberg constatou que as agências são a principal fonte de
informações estrangeiras para os veículos de comunicação americanos – o mesmo fato
também pode ser constatado no Brasil. “Desde os anos 80, elas forneciam 90% das
notícias internacionais publicadas. A relação construída seria, segundo ele, de
credibilidade e confiança na fonte (agências), causando, consequentemente, a
pasteurização do noticiário no mundo” (CASTRO, 2006, p. 39).
A confiança no serviço das agências tem como resultado a padronização mais ou
menos generalizada da cobertura internacional. Sem dúvida, considerando a
desvantagem de tempo e outros fatores que pressionam as agências, elas fazem
pequenos milagres todos os dias para conseguir notícias – e, às vezes, grandes milagres.
A agência deve satisfazer os padrões de milhares de jornais das mais variáveis religiões,
nacionalidades e simpatias. O que interessa a uma empresa pode não ter significado para
a agência, a não ser que o editor queira uma cobertura especial (HOHENBERG, 1981).
Para Hohenberg (1981), a principal diferença entre um profissional contratado
por um meio de comunicação – seja o freelance, o enviado especial ou o correspondente
– e o repórter de agência é que a esse não é permitido, em hipótese alguma, deixar claro
sua visão ou interpretação do fato:
A equipe das agências não é paga para dar opinião. Em consequência,
seus repórteres e redatores são “controlados” de perto para que não
haja nem sombra de opinião pessoal no seu trabalho. Aos que
possuem experiência e bom senso permite-se acrescentar aos fatos os
antecedentes e dar uma interpretação, quando é o caso. Porém, dizer
por que algo aconteceu, isto é, o processo interpretativo, é bem
diferente de argumentar sobre o que deveria ser feito, a prerrogativa
do editorial. (HOHENBERG, 1981, p. 191)
As agências noticiosas internacionais têm como possibilidade de pauta “qualquer
coisa que aconteça no mundo”. Elas ainda lidam com a dificuldade de proporcionar
71
notícias praticamente 24 horas por dia, porém, nesse caso, não pela necessidade de um
“bombardeio de informações”.
Têm defeitos, e não são poucos, mas também possuem qualidades.
Muitas vezes estão melhor informadas que os diplomatas sobre os
grandes acontecimentos de política mundial. [...] quando um político
tem algo a dizer, importante ou não, uma das primeiras perguntas que
faz a seu Secretário de Imprensa é se as agências foram informadas.
[...] São fornecedoras de informação para todo o inseguro edifício da
moderna comunicação de massa. O jornalismo (americano) não
existiria sem elas. Tornaram-se indispensáveis. (HOHENBERG, 1981,
p. 192)
Contudo, mesmo com as possibilidades de acesso a fontes mais variadas, as
agências de notícias continuam sendo as principais fontes de informação sobre o
noticiário estrangeiro.
As empresas jornalísticas brasileiras inserem-se na lógica capitalista global:
fazem acordos comerciais com as maiores companhias de mídia do mundo, desde
jornalões ou revistas, até diversificarem o serviço que recebem das agências de notícias.
Para uma publicação nacional, o fator financeiro passa a ser imperioso na hora de
manter uma equipe de produção e, exatamente por isso, o editorial internacional acaba
prejudicado.
2.3 Editorial sobre a Turquia
Baseados na leitura das notícias foram observadas as seguintes questões sobre a
política da cobertura da Turquia: a localização geoestratégica do país, por ser o vizinho
da Europa, a candidatura para adesão à União Europeia, por ser um país democrático
com a maioria da população muçulmana e membro do Otan.
Partindo dessas características foram elaboradas 5 questões para ter informações
direta dos editoriais sobre a Turquia. A editora da página de “Mundo” da Folha de S.
Paulo, Luciana Coelho deu as seguinte respostas:
1. Se há uma política da linha editorial sobre a Turquia? Qual é?
Não, não há uma política específica. É a mesma que adotamos em todas as
nossas coberturas, a de ouvir ambos os lados - tanto opositores quanto governistas,
72
com o máximo possível de atenção aos fatos e números. Por ser um país
geopoliticamente importante (grande população, peso econômico, localização
estratégica e certa proximidade cultural com o Brasil), costumamos dar destaque em
nossa cobertura.
2. Quais são as principais fontes utilizadas sobre a Turquia?
Agências de notícias, alguns jornais locais, contatos com jornalistas locais, enviados
especiais e a embaixada da Turquia no Brasil quando se trata de checar a versão
oficial.
3. Nessa linha editorial qual é a importância da relação Turquia com a UE e a
OTAN, ou seja, com o ocidente?
É importante. Costumamos destacar essa relação também na cobertura de crise de
refugiados, guerra na Síria, relação com os Estados Unidos.
4. Nessa linha editorial qual é a importância da relação da Turquia moderna e
laica com o Islã?
Temos tratado bastante da transformação do país desde a ascensão de Erdogan.
5. Se há algum jornalista/correspondente encarregado(a) ou especializado(a) na
cobertura da Turquia.
Não temos correspondente na Turquia, mas a repórter especial Patrícia Campos Mello
e o correspondente na Europa, Diogo Bercito, costumam acompanhar o noticiário do
país com atenção e já estiveram no país diversas vezes.
O editor de “Internacional” do jornal O Estado de S. Paulo, Rodrigo Antunes, enviou as
seguintes respostas:
1. Se há uma política da linha editorial sobre a Turquia? Qual é?
Não há uma linha editorial específica para um país. Na cobertura internacional, o
rompimento da ordem democrática é um dos principais fatos passíveis de cobertura,
assim como a afronta a direitos humanos. Sempre que há um golpe de Estado, por
menor ou distante que seja, a um país, há destaque.
73
2. Quais são as principais fontes utilizadas sobre a Turquia?
Agências de notícia. Não há correspondente na região. Em caso de eleições ou de um
golpe, é normal recorrer a um enviado especial.
3 Nessa linha editorial qual é a importância da relação Turquia com a UE e a
OTAN, ou seja, com ocidente?
O elo com a Otan é um dos que mais importam para o jornal, pois envolve algumas
das principais nações do mundo. Sem a relação com a Otan, boa parte das crises na
Turquia seria tratada como problemas locais, e não como foco de interesse mundial.
4. Nessa linha editorial qual é a importância da relação da Turquia moderna e
laica, com o Islã?
Medidas que vão contra o Estado laico e democrático chamam a atenção da imprensa
ocidental. Especialmente se ocorrem na Turquia, considerada por muito tempo um
exemplo de que democracia em um país com população de maioria muçulmana é viável.
Nossa obrigação é sempre dar a versão do governo e dos opositores, uma vez que a
narrativa sobre os fatos no país é alvo de controvérsia.
5. Se há algum jornalista/correspondente encarregado ou especializado na
cobertura da Turquia.
Não há.
Por fim, a editora de “Internacional” do Jornal O Globo, Sandra Cohen afirmou que:
Baseada nas respostas dos editores dos jornais da unidade de análise, nenhum jornal possui um
correspondente fixo na Turquia e o maior recurso de notícias são as agências e as notícias. A
relação com o Ocidente, a Europa e a Otan é um elo muito importante, o que difere a Turquia
dos outros países de população muçulmana da região. Os jornais não possuem uma política de
cobertura determinada sobre a Turquia.
74
CAPÍTULO 3 – ANÁLISE DAS NOTÍCIAS
Neste capítulo serão analisadas as notícias veiculadas sobre o golpe fracassado
de 15 de julho de 2016, ocorrido na Turquia. Os três jornais dedicaram grande espaço
para a cobertura do golpe, comparado a tempos anteriores.
O Estado de S. Paulo publicou matérias no primeiro caderno do jornal, onde
geralmente já publica seu noticiário de internacional. A Folha publicou no caderno
Mundo. Já o jornal O Globo publicou as notícias no primeiro caderno nas páginas de
Mundo.
A análise da cobertura começou sábado, dia 16 de julho de 2016 e foi até a
quinta-feira, 31 de agosto, um dia depois da reunião anual do Conselho Supremo Militar
turco, totalizando 47 dias. Dos 165 textos analisados, entre primeira página,
reportagens, artigos, análises e entrevistas, colunas, editoriais (63 textos de O Estado de
S. Paulo, 50 da Folha de S. Paulo e 53 do jornal O Globo), muitos trataram da reação de
Erdogan para o golpe militar fracassado.
3.1. Análise das notícias veiculadas pelos jornais Folha de S. Paulo, O Estado de S.
Paulo e O Globo
a) Análise da cobertura conforme os recursos
Conforme a tabela 4, abaixo, pode-se verificar que a maior porcentagem dos
recursos advém das agências internacionais. A Folha de S. Paulo (FSP) apresentou 14
notícias de origem de agências internacionais, 9 análises dos colunistas; O Estado de S.
Paulo (ESP) apresentou 20 notícias de agências internacionais, 13 notícias dos
correspondentes; e o jornal O Globo (JOG) apresentou 27 notícias de agências
internacionais e 7 análises dos especialistas e acadêmicos.
75
Fonte: o autor
RECURSOS
FSP ESP JOG
Primeira Página 4 1 3
Editorial 3 1 5
Jornalista 6 9 4
Colunista 9 4 1
Correspondente 7 13 2
Especialista/Acadêmico 2 0 7
Agências Internacionais 14 20 27
Jornalista Externo 3 0 4
Outro Jornal/Revista 2 10 0
Blogueiro 0 5 0
Total 50 63 53
Tabela 4: Relação dos recursos nos três jornais
76
As fotos, as ilustrações, os gráficos e as entrevistas foram consideradas como um
recurso, mas não foram incluídas na avaliação anterior (Gráficos 1.1, 2.1, e 3.1). A FSP
publicou 21, o ESP 24 e o JOG 27 fotos. Os recursos das notícias do ESP foram
destacados nas categorias de jornalista (9), correspondente (13), outro jornal e revistas
(10), blogueiro56 (5). Os recursos da FSP foram destacados nas categorias de gráficos e
diagramação (5), colunista (9) e primeira página (4). Os recursos do JOG foram
destacados nas categorias de ilustração (5), fotografias (27), agências internacionais
(27), editorial (5), especialista e acadêmico (7).
Fonte: o autor
56 Os blogs não são recursos impressos, mas devido ao conhecimento sobre o assunto, 4 artigos de Guga
Chacra e 1 artigo de Lourival Sant’anna foram incluídos na avaliação.
77
b) Análise conforme origem do recurso, interno ou externo
Conforme a tabela 5, abaixo, pode-se verificar que as notícias foram
classificadas conforme sua origem, nacional ou internacional. Os resultados desta tabela
são importantes por causa da hipótese. Nossa hipótese é a de que os jornais se
aproveitaram dos recursos internacionais, no entanto, fizeram mais análises e sínteses
nacionais. Para isso, foi separada a origem dos recursos; as notícias produzidas no
Brasil são: primeira página, editorial, jornalistas brasileiros, colunistas, especialistas e
acadêmicos e blogs; notícias produzidas fora do Brasil, que são: agências internacionais,
jornalistas não brasileiros (externos), outro jornal/ revistas. Do total de 166 notícias 86,
(51,8%) foram produzidas pelos recursos nacionais, e 80 notícias (48,2%) têm origem
exterior.
Fonte: o autor
Relação das notícias conforme origem
ORIGEM RECURSOS FSP ESP JOG Total
Notícias
produzidas
no Brasil
Primeira Página 4 1 3 8
Editorial 3 1 5 9
Jornalista 6 9 4 19
Colunista 9 4 1 14
Correspondente 7 13 2 22
Especialista/Acadêmico 2 0 7 9
Blogueiro 0 5 0 5
Total 31 33 22 86
Notícias
produzidas
fora do
Brasil
Agências Internacionais 14 20 27 61
Jornalista Externo 3 0 4 7
Outro Jornal/Revista 2 10 0 12
Total 19 30 31 80
Total número de notícias 50 63 53 166
Tabela 5: Relação da origem dos recursos nos três jornais (nacional /internacional)
78
Conforme a tabela 5, acima, pode-se verificar que 62% das notícias publicadas
na FSP, 52,4% do ESP e 41,5% do JOG foram produzidas pelos recursos nacionais.
Fonte: o autor
79
c) Análise da cobertura conforme os enquadramentos
Conforme a tabela 6 e os gráficos 1.2, 2.2, 3.2, abaixo, pode-se verificar que nos
jornais FSP e JOG foi publicada uma maior parte dos enquadramentos de avaliação
crítica, respectivamente 21 e 29.
Fonte: o autor
ENQUADRAMENTOS
FSP ESP JOG
Avaliativa Crítica 21 15 29
Episódica 12 12 5
Informativa 9 19 8
Plural Aberta 5 7 5
Plural Fechada 2 2 1
Interpretativa Indireta 1 6 4
Restritiva 0 1 1
Avaliação Moral 0 1 0
Total 50 63 53
Tabela 6: Relação dos enquadramentos nos três jornais
80
Conforme o gráfico B, abaixo, pode-se verificar os enquadramentos das notícias
da FSP que foram destacados nas categorias de episódica (12); do ESP foram
destacados como informativa (19), interpretativa indireta (6), plural aberta (7), episódica
(12), e, finalmente, no JOG foram destacadas as avaliações críticas (29).
Fonte: o autor
d) Análise da cobertura conforme os temas Erdogan e Gulen
Conforme a tabela 7, abaixo, e os gráficos 1.3, 2.3, 3.3, pode-se verificar que as
notícias com o tema 1 narrativa ocuparam o papel de destaque; em seguida, tema 3,
direitos e democracia foram os temas mais elaborados. Às vezes, uma matéria elabora
vários temas e, por isso, a soma da quantidade dos temas é maior do que quantidade de
notícias.
81
Fonte: o autor
Erdogan FSP ESP JOG
T 1: Narrativas 39 49 44
T 2: Trajetória 22 25 25
T 3: Direitos e Democracia 38 39 41
T 4: Internacional 29 35 30
Tabela 7: Relação dos temas sobre Erdogan nos três jornais
82
Conforme a tabela, abaixo, e os gráficos 1.4, 2.4, 3.4, pode-se verificar que as
notícias com o tema 1, narrativa, ocuparam o destaque. Em seguida, tema 3, direitos e
democracia foram os temas mais elaborados na FSP e no JOG. Observa-se que o
número de temas abordados sobre Gulen e MH é bem menor do que temas sobre
Erdogan.
Fonte: o autor
Gulen FSP ESP JOG
T 1: Narrativas 26 21 16
T 2: Trajetória 10 12 13
T 3: Direitos e Democracia 11 8 16
T 4: Internacional 7 9 7
Tabela 8: Relação dos temas sobre Gulen nos três jornais
83
Conforme os gráficos C1, C2, pode-se verificar que as notícias com o tema
narrativa se destacaram nas elaborações, tanto sobre Erdogan quanto sobre Gulen. A
diferença principal foi o domínio da narrativa de Erdogan nas notícias. Sendo assim,
interpreta-se que o valor noticioso de Erdogan pesa mais do que Gulen e a hegemonia
de Erdogan sobre recursos das notícias como, por exemplo, a agência de notícias
internacionais e nacional turca.
Fonte: o autor
E: Erdogan, G: Gulen E G E G E G
Temas / Jornais FSP ESP JOG
T 1: Narrativas 39 26 49 21 44 16
T 2: Trajetória 22 10 25 12 25 13
T 3: Direitos e Democracia 38 11 39 8 41 16
T 4: Internacional 29 7 35 9 30 7
Tabela 9: Relação dos temas sobre Erdogan e Gulen nos três jornais
84
e)Valência de Erdogan e Gulen
Conforme a tabela 10 e os gráficos 1.6, 2.6, 3.6, abaixo, pode-se verificar que a
valência de Erdogan foi dominantemente negativa nos três jornais. As valências
positivas foram das notícias dos primeiros dias após o golpe, no período em que todos
queriam entender o estava acontecendo na Turquia. Os temas sobre Erdogan foram
elaborados com muita frequência, isso naturalmente refletiu nas valências. A FSP
publicou um artigo com autoria do ministro de relações exteriores da Turquia.
Fonte: o autor
Erdogan FSP ESP JOG
Positivo 3 0 2
Negativo 33 40 40
Neutro 14 23 11
Total 50 63 53
Tabela 10: Relação da valência do
Erdogan nos três jornais
85
Conforme a tabela 11, abaixo, e os gráficos 1.5, 2.5, 3.5 pode-se verificar que a
valência de Gulen foi dominantemente neutra. A FSP publicou uma entrevista especial
concedida por Fethullah Gulen. O ESP publicou um artigo de Gulen, originalmente
publicado no jornal americano The New York Times e 7 notícias de valência negativa. O
JOG, no dia 17 de julho, usou 2 vezes o termo “clérigo radical” sobre Gulen nas
diferentes matérias.
Fonte: o autor
Gulen FSP ESP JOG
Positivo 0 7 5
Negativo 1 7 3
Neutro 49 49 45
Total 50 63 53
Tabela 11: Relação da valência
do Gulen nos três jornais
86
Conforme a tabela 12 e os gráficos D1 e D2, abaixo, pode-se verificar que a
valência de Erdogan foi dominantemente negativa nos três jornais. De 166 notícias, 113
foram enquadradas como negativas. No primeiro dia, a única informação nítida era que
uma facção dos militares estava dando um golpe no presidente e no governo
democraticamente eleito e o povo estava defendendo a democracia. Em geral, as
avaliações positivas sobre Erdogan foram publicadas nesse período. Mas, logo no dia
17, a aparição positiva se converteu em negativa por causa da forte repressão de
Erdogan. Durante o período de análise, as publicações sobre a demissão dos juízes,
ainda no dia 16 de julho, a declaração de estado de emergência, a suspenção da
convenção europeia de direitos humanos, a prisão de jornalistas e o fechamento dos
veículos de comunicação aumentaram mais a quantidade de notícias negativas.
Fonte: o autor
Valência de Erdogan %
Positivo 5 3%
Negativo 113 68,1%
Neutro 48 29,9%
Total 166 100%
Tabela 12: Relação da valência
total de Erdogan
87
Conforme a tabela 13 e os gráficos E1 e E2 abaixo, pode-se verificar que a
valência de Gulen foi dominantemente neutra nos três jornais. De 166 notícias, 143
notícias foram enquadradas como neutras. Podemos dizer que a imprensa brasileira
enquadrou Gulen de acordo com o jeito brasileiro, de forma desconfiada, ou seja, com
um pé atrás. Entre vários fatores, podemos citar que a forma agressiva de Erdogan, a
aliança de Gulen com Erdogan, em certos tempos, o pouco conhecimento sobre o
movimento, e os trabalhos dos Gulenistas no Brasil aumentaram a neutralidade sobre
Gulen.
Fonte: o autor
Valência de Gulen %
Positivo 12 7,23%
Negativo 11 6,62%
Neutro 143 86,15%
Total 166 100,00%
Tabela 13: Relação da valência
total de Gulen
88
f) Cobertura do tema 1 narrativas:
Conforme a tabela 14 e gráfico F1 abaixo, pode-se verificar que a narrativa de
Erdogan e de seus correligionários ocuparam maior espaço nos subtemas, em seguida
vieram as acusações contra Erdogan.
Tabela 14: Cobertura do Tema 1 narrativas
Fonte: o autor
Tema 1: Narrativas FSP ESP JOG
Apoio ao governo 15 20 8
Narrativa dos Erdogan(istas) 33 35 28
Acusações ao(s) Erdogan(istas) 19 25 25
Narrativa dos Gulen(istas) 22 16 11
Acusações ao(s) Gulen(istas) 5 4 6
Militares 11 10 14
89
g) Cobertura do Tema 2 Trajetória:
Conforme a tabela 15 e o gráfico F2, abaixo, pode-se verificar que apesar de
haver uma distribuição semelhante quanto à modificação do regime, à aliança e o
rompimento de Erdogan e Gulen, a trajetória de Erdogan se destacou. As análises sobre
“modificar regime” foram mais relacionadas com Erdogan, principalmente com a
islamização, mudança da constituição etc. Os motivos de aliança e rompimento entre
AKP e MH foram um subtema bastante questionado. No subtema trajetória, as matérias
analisaram detalhadamente a origem do pensamento de Erdogan e Gulen e seus
entendimentos sobre o Islã.
Tabela 15: Cobertura do Tema 2 Trajetória
Tema 2: Trajetória FSP ESP JOG
Trajetória de Erdogan 6 12 4
Establisment kemalista versus E&G 5 7 8
Modificar regime de governo 12 16 15
Trajetória do Gulen(ismo) 6 10 8
Aliança e Rompimento 8 13 5
Fonte: o autor
90
h) Cobertura do Tema 3 Direitos e Democracia
Conforme a tabela 16 e gráfico F3, abaixo, pode-se verificar que o processo de
expurgo, as demissões dos juízes, professores, acadêmicos e policiais foram o subtema
mais analisado. A maior parte dos professores que foram demitidos e tiveram seus
diplomas revogados trabalhavam na rede de ensino ligado a Gulen e o MH. Isso foi
interpretado como compreensível pelo fato de a educação ser o centro das atividades de
Gulen. Contudo, a demissão em massa, sem provas, dos servidores públicos,
principalmente juízes e promotores foi muito questionada. Todos os jornais
perguntaram: “como foram preparadas listas de expurgo tão rápido? ”. Depois da
declaração de estado de emergência e da suspenção do CEDH, foram questionadas as
estranhezas que ocorreram na tentativa de golpe.
Em matéria de golpes, o que ocorreu na Turquia é um exemplo
interessante de incompetência: não se observou nenhuma tentativa
séria para capturar ou derrubar a liderança política, nenhum líder
pronto para assumir o controle, nenhuma estratégia de comunicação
(ou mesmo conhecimento da mídia social) e uma incapacidade total de
mobilizar uma massa crítica no âmbito das Forças Armadas e da
sociedade57.
57 Disponível em: O Estado de S. Paulo, 19/07/2016.
91
Tabela 16: Cobertura do Tema 3 Direitos e Democracia
Tema 3: Direitos e Democracia FSP ESP JOG
O golpe 22 17 16
Expurgo 30 26 36
Judiciário 11 13 8
Mídia 16 16 15
Prisões 13 23 15
Perseguição 17 20 18
Pena de Morte 8 9 7
Direitos Humanos 4 13 4
Fonte: o autor
92
i) Cobertura do Tema 4 Assuntos Internacionais
Conforme a tabela 17 e gráfico F4, abaixo, pode-se verificar que nos jornais FSP
e ESP as relações da Turquia com os Estados Unidos, no JOG, com a União Europeia
foram discutidas. O principal assunto relacionado com os EUA foi o pedido de
extradição de Gulen por Erdogan e, em seguida, a ameaça de Erdogan de fechamento da
base militar americana na Turquia. Os pedidos de respeito aos princípios de Estado de
direito não foram bem recebidos por Erdogan. As respostas de Erdogan foram
desafiadoras e longe de uma linguagem diplomática. “Alguns nos dão conselhos, dizem-
se preocupados. Preocupem-se com seus próprios assuntos”58. Também foi bastante
discutido o realinhamento de sua diplomacia com a Rússia e o Irã, afastando-se dos
EUA e EU. O Itamaraty fez três declarações, expondo sua preocupação sobre a
demissão em massa do judiciário, nessas notícias foram utilizadas as palavras “triste
incidente” e “contragolpe”. Alguns colunistas traçaram semelhanças entre Erdogan e
Maduro.
58 Disponível em: Folha de S. Paulo, 30/07/2016.
93
Tabela 17: Cobertura do Tema 4 Direitos e Democracia
Tema 4: Assuntos Internacionais FSP ESP JOG
Turquia / EU 15 16 22
Turquia / EUA 21 24 21
Turquia / OTAN e UN 6 7 6
Turquia / Rússia 10 4 5
Turquia / Oriente Médio 14 7 8
Turquia / Brasil e Venezuela 6 3 4
Turquia / Curdos 13 10 15
Fonte: o autor
94
3.2. A cobertura dos Jornais
a) No dia seguinte do golpe: 16 de julho de 2016
Nos três jornais, “tentativa de golpe” foi o título da manchete, com as fotos da
resistência do povo turco contra militares ou impedindo a passagem dos tanques ou
ainda ocupando as principais praças de Istambul. Os jornais colocaram entrevistas e
comentários dos brasileiros que estavam na Turquia, comentários do ministro da
Cultura, Marcelo Calero, de jogadores de futebol, de alguns turistas, que descreveram a
situação do país. Os três jornais publicaram a trajetória política de Erdogan e poucas
informações sobre o movimento Hizmet, inspirado por Fethullah Gulen, que foi acusado
por Erdogan como mentor da tentativa de golpe. A incerteza e o caos institucional sobre
a Turquia, além da importância da Turquia por ser vizinho da Europa, foi o foco das
notícias em geral.
(FOLHA DE S. PAULO, 16/07/2016, p.01): “Tentativa de golpe militar leva caos
institucional à Turquia”. Informava que as tropas fecharam o acesso à Ancara e
Istambul e faziam ataques. O presidente disse que ele tinha retomado o controle e
prometeu punir os golpistas. O jornal informava que não estava certo, até a conclusão
desta edição, de quem era o controle do país. Foi utilizada uma foto por 6 a 6 colunas,
demostrando a luta dos turcos contra os tanques utilizados no golpe. Uma ilustração
indicando a localização da Turquia no globo e embaixo o anúncio da análise de Clovis
Rossi na página A8 do Mundo.
(O ESTADO DE S. PAULO, 16/07/2016, p. A01): “Militares tentam golpe na Turquia;
apoiadores de Erdogan vão às ruas”. O jornal informava que a instabilidade no país com
3 milhões de refugiados sírios e à beira de terroristas do Estado Islâmico amedronta
potências. “O presidente Recep Tayyip Erdogan apelou à população para que saísse às
ruas. Aeroportos foram fechados, o Parlamento foi cercado e os soldados ocuparam a
TV pública”. Foi utilizada uma foto por 5 a 6 colunas, demostrando a resistência dos
turcos contra os tanques utilizados no golpe.
(O GLOBO, 16/07/2016, p. 01): “Tentativa de golpe militar mergulha Turquia na
incerteza e no caos”. O jornal informava que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan,
95
que vem adotando medidas autoritárias contra as liberdades individuais, com
perseguição a jornalistas e juízes; ele mesmo disse que a ação foi organizada "por uma
minoria no seio do Exército". Ele conclamou a população para sair às ruas e resistir”.
Como subtítulo, o jornal frisava “tensão na fronteira da Europa”. Utilizada uma foto por
4 a 4 colunas, demostrando a comemoração dos turcos ocupando tanques e pontes
fechadas.
Na Folha de S. Paulo os subtemas que chamaram atenção foram:
T1, Subtema: narrativa dos militares, Erdogan (+), informativa (inf), ai (agência
internacional).
(FOLHA DE S. PAULO, 16/07/2016, p. A8): Militares tentam golpe na Turquia;
Erdogan afirma estar no controle. Soldados do Exército fecharam acessos à capital,
Ancara e a maior cidade do país, Istambul interromperam o tráfego aéreo nas duas
cidades e tomaram o controle de prédios e meios de comunicação do governo. Tropas
invadiram o prédio da televisão TRT, em Ancara, motivo pelo qual o canal não
transmita notícias do golpe. Os acessos ao Facebook e Twitter foram limitados, e o
toque de recolher e a lei marcial foram declarados no país. Em nota lida por um âncora
da TV estatal, o grupo autointitulado Conselho de Paz no País disse que agiu devido ao
"crescimento do terrorismo e do regime autocrático" em referência a Erdogan, há 13
anos no poder, e "para proteger a ordem democrática e os direitos humanos".
T1, Subtema: narrativa do Erdogan (+), inf, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 16/07/2016, p. A8): Três horas depois de os militares
ocuparem as ruas, Erdogan se manifestou pela primeira vez. Ele usou o aplicativo de
celular Facetime para mandar uma mensagem ao país, que foi transmitida pelo canal de
TV CNN Turk. No discurso, disse que os responsáveis pelo golpe são "um grupo
minoritário" das Forças Armadas e conclamou os turcos a irem às ruas das principais
cidades do país.
T2, establisment- AKP, (-), avaliação crítica (ac), colunista Clovis Rossi.
(FOLHA DE S. PAULO, 16/07/2016, p. A8): Do conflito entre Exército e o AKP basta
lembrar que o antepassado, desde o Refah, foi deposto em 1997 no mais recente golpe
de uma interminável série deles. O confronto é fácil de entender: os militares se
96
consideram os guardiões do laicismo entronizado por Kemal Ataturk, o fundador da
Turquia moderna. Conviver com um partido de orientação religiosa, ainda que
moderado, nunca foi fácil. Tanto não foi que Erdogan promoveu um megaprocesso
(batizado Ergenekon), que condenou à prisão perpétua 20 dos 275 acusados, entre
militares de alta patente, jornalistas e políticos da oposição "kemalista". O que ajuda a
entender o momento do golpe é a anulação do processo, ocorrida há apenas três meses,
para que ocorra um novo julgamento. É razoável supor que pelo menos uma parte dos
militares, ligada aos acusados, tenha se levantado para bloquear a retomada do processo.
T1, narrativa dos gulenistas, (ø), inf, jornalista Júlia Barbon.
(FOLHA DE S. PAULO, 16/07/2016, p. A9): O Hizmet, movimento civil de oposição
ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, negou envolvimento na tentativa de golpe
que tomou conta do país nesta sexta (15) [...]. Nos últimos anos, o presidente acusou
diversas vezes o clérigo, de quem já foi aliado, de organizar um golpe contra o seu
governo. "Não somos a favor de nenhum tipo de golpe civil ou militar. Defendemos os
valores democráticos", disse Kamil Ergin, do Centro Cultural Brasil Turquia ligado ao
Hizmet. Em nota, a entidade Aliança por Valores Compartilhados, também vinculada
ao grupo, declarou que "os comentários dos círculos pró-Erdogan sobre o movimento
são altamente irresponsáveis".
T1, narrativa do Gulen, (ø), inf, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 16/07/2016, p. A12): Gulen negou envolvimento na tentativa
de golpe e levantou a possibilidade de que a trama seja uma encenação de Erdogan para
fortalecer o seu governo. " Há uma pequena chance de que tenha sido um golpe
encenado para fazer acusação (a opositores) na Justiça", afirmou o clérigo. "Como
alguém que sofreu sob múltiplos golpes militares nas últimas cinco décadas, é
especialmente ofensivo ser acusado de ter qualquer ligação com esse tipo de tentativa"
disse Gulen.
No jornal O Estado de S. Paulo os subtemas que chamaram atenção foram:
T1 e T3: acusação ao Erdogan, (-) e Gulenistas (+), plural aberta (pa), blogueiro,
Guga Chacra.
97
(O ESTADO DE S. PAULO, 16/07/2016, http://internacional.estadao.com.br/blogs):
O líder turco, porém, sempre teve paranoia com outro grupo, os gulenistas. Os
gulenistas integram um movimento mais religioso que segue um líder atualmente
exilado nos EUA. Eles são extremamente educados (no sentido de educação formal,
acadêmica). Há membros em todos os setores da sociedade turca - militares, juízes,
médicos, jornalistas, acadêmicos. Não há paralelo no mundo. Erdogan sabe da
influência dos gulenistas, que foram seus aliados no passado. E tem uma paranoia
atualmente em relação a eles. Tanto que os acusa, em parte, pela tentativa de golpe. Nós
últimos tempos, a paranoia de Erdogan se agravou. Manda prender jornalistas que o
criticam. Afasta juízes e generais. Censura imprensa. O tempo toda acha que alguém
trama contra ele [...]. Os golpistas parecem ter fracassado. Erdogan acusa os gulenistas,
que negam. Outros falam em autogolpe. Nada é impossível na Turquia de Erdogan,
assim como na Rússia de Putin. Acho possível que organizasse um autogolpe para se
fortalecer.
T2, trajetória do Erdogan e modificar regime (-), ac, jornalista Renata Tranches.
(O ESTADO DE S. PAULO, 16/07/2016, p. A10): Líder islâmico sempre buscou
ampliar poderes. O presidente Recep Tayyip Erdogan surgiu no cenário político turco
na década de 70, muito ativo no Partido Welfare, de orientação islâmica. Foi prefeito de
Istambul entre 1994 e 1998, até ser removido por militares. Nesse ano, o Welfare foi
banido e Erdogan, detido por quatro meses. Em agosto de 2001, Erdogan fundou o
Partido da Justiça e Desenvolvimento, o AKP, com o aliado Abdullah Gul. Entre 2002-
2003, o AKP venceu com sólida maioria eleições parlamentares e Erdogan tornou-se o
primeiro ministro, o primeiro islâmico da história do país. Em entrevista ao Estado, o
analista do Instituto Cáucaso-Ásia Central (Istambul), Gareth Jenkins, relatou que
Erdogan costumava ter o "melhor instinto político" de sua geração. "Mesmo com
personalidade abrasiva e retórica implicante que alienavam a classe média secular, sabia
como se conectar com a maioria das pessoas". A virada, segundo Jenkins, ocorreu com
as eleições gerais de 2011. "Aquela terceira vitória do AKP tornou Erdogan confiante
ao ponto da arrogância", disse o analista, acrescentando que, desde então ele começou a
encorajar o culto pessoal. Erdogan começou a ser criticado por promover políticas
conservadoras, perseguir opositores políticos e jornalistas. Culpava o clérigo Fethullah
98
Gulen, que vive no exílio, de alimentar as informações e denúncias de corrupção contra
seu governo. Em 2013, reprimiu com a força um grande protesto popular. Após 12 anos
como premiê, foi eleito presidente em 2014. Erdogan assumiu o cargo, até então
figurativo, com ambições de mudar a Constituição para dar a ele poderes de chefe de
governo e continuar como homem forte da Turquia.
T4, ocidente, (ø), inf, correspondente Jamil Chade.
(O ESTADO DE S. PAULO, 16/07/2016, p. A9): O processo de desestabilização da
Turquia passou a ser acompanhado de perto pelas grandes potências, alarmadas diante
do risco de um colapso institucional e da violência num país quase com 3 milhões de
refugiados sírios e à beira dos territórios controlados pelo Estado Islâmico. O país que é
membro da Otan serve de base para operações contra os grupos jihadistas no Iraque e
Síria. Ontem mesmo, o presidente dos EUA, Barack Obama, emitiu uma declaração
apoiando "o governo eleito democraticamente" na Turquia, num sinal claro de que não
reconheceria o novo governo.
No jornal O Globo os subtemas que chamaram atenção foram:
T1, narrativa dos militares, (-), ac, ai.
(O GLOBO, 16/07/2016, p.26): Turquia sem rumo. Eles alegaram que as tradições
seculares do país foram corroídas pelo governo de Erdogan, que tem adotado medidas
autoritárias contra a liberdade de imprensa, como perseguição a jornalistas e juízes.
T2, trajetória do Erdogan, (-), ac, ai.
(O GLOBO, 16/07/2016, p.27): Na contramão do secularismo, 'sultão' colecionou
desafetos. Ao longo de seus anos no poder, líder do AKP intensificou repressão a
opositores. Se por um lado, Recep Tayyip Erdogan e seu partido (AKP) gozam do forte
apoio de sua base conservadora e muçulmana, por outro, seu estilo autoritário lhe
rendeu críticas cada vez mais ferozes por parte de seus opositores, que o acusam de
silenciar e oprimir rivais políticos e a imprensa independente. Vendedor de limonada na
infância e jogador de futebol na juventude, Erdogan se juntou ao Partido da Salvação
Nacional (MSP), a primeira de várias legendas de orientação islâmica da qual faria parte
até a formação do AKP, em 2001, e sua acachapante vitória nas eleições gerais do ano
seguinte. Embora tenha sido apontado pela mídia ocidental como o nome capaz de unir
99
o islamismo à democracia, Erdogan constantemente rejeitou rótulos como "islamista"
ou "muçulmano democrático", preferindo classificar o AKP "conservador democrático".
No entanto, várias de suas ações foram recebidas com desconfiança pelo establishment
secular turco -a espinha dorsal do país desde a fundação da republica, nos anos 1920,
por Mustafa Kemal Ataturk- como suspenção da proibição do uso de véus pelas
mulheres, e as fracassadas tentativas de criminalizar o adultério e criar zonas nas quais a
venda de álcool seria proibida. As desavenças entre o líder do AKP e seus opositores -
que o classificam pejorativamente como um "sultão neo-otomanista “-ou seja inimigo
do secularismo- ganharam dimensões cada vez maiores ao longo dos anos. Uma vez no
poder, Erdogan voltou-se contra os militares, os tradicionais guardiões da república
secularista, pouco a pouco solapando o poder que eles detiveram durante décadas.
Também pôs o Judiciário contra a parede, aumentando seu poder como chefe do
governo. Acusações de fraude eleitoral foram levantadas contra o partido nas eleições
locais de 2009 e 2014, e também eleições gerais de 2011. Em todos os casos, Erdogan
ignorou as reclamações enquanto o AKP triunfava nas urnas. Em 2013, no entanto, uma
série de protestos contra um plano de reforma do Parque Gezi e da Praça Taksim, em
Istanbul, rapidamente se espalharam pelo país, refletindo o descontentamento popular
com o comportamento autoritário do governo, que por sua vez, respondeu reprimindo as
manifestações e alegando que as ações haviam sido orquestradas pelo Partido do Povo
Republicano (CHP), principal legenda de oposição.
T4, Brasil, (ø), inf, ai.
(O GLOBO, 16/07/2016, p.26): Caos e incerteza na Turquia. José Serra, titular da pasta,
declarou em nota: "O governo brasileiro insta todas as partes a se absterem do recurso à
violência e recorda a necessidade de pleno respeito às instituições e à ordem
constitucional”.
b) No dia 17 de julho de 2016
O resultado do golpe fracassado e a morte de 265 turcos foram publicados na primeira
página de todos os jornais. A página A12 inteira do FSP, A12 e A13 do ESP inteira, 34
e 35 do JOG ocuparam as notícias da Turquia. FSP e JOG chamaram atenção da
destituição dos 2700 juízes. Pedido de aplicação de pena de morte, acusação e
extradição de Gulen foram citados. A mesma foto que mostrava espancamento aos
100
militares rendidos foi publicada nos três jornais. O JOG publicou editorial e chamou
atenção para a manutenção do Estado laico secular. As palavras “expurgo”, “repressão”
e “sufoco” foram resumo da notícia nos respectivos jornais.
(FOLHA DE S. PAULO, 17/07/2016, p. 01): Presidente faz expurgo, após golpe
frustrado no país. Erdogan prende milhares de militares e juízes e acusa líder religioso;
ao menos 265 morreram. Erdogan acusou o religioso Fethullah Gulen, líder de um
movimento contrário ao atual regime e exilado nos EUA, de armar o golpe e pediu ao
governo americano sua extradição. Gulen negou participação no caso. De acordo com a
agência de notícias estatal, após retomar o poder o governo expurgou cerca de 2.700
integrantes do Judiciário.
(O ESTADO DE S. PAULO, 17/07/2016, p. 01): Tentativa de golpe militar na Turquia
deixa 265 mortos. O governo da Turquia declarou o fracasso da tentativa de golpe e
prepara repressão aos que apoiaram o movimento [...]. Oposicionistas acusaram o
presidente Recep Tayyip Erdogan de usar o caso para ampliar seus poderes. O primeiro
ministro diz que pode propor a pena de morte aos acusados.
(O GLOBO, 17/07/2016, p.01): Turquia sufoca golpe após 265 mortes. Governo prende
2800 militares e destitui 2700 juízes. Fortalecido, presidente Erdogan culpa clérigo por
ofensiva e pede aos EUA sua extradição. Obama cobra ao Estado de direito.
Na Folha de S. Paulo os subtemas que chamaram atenção foram:
T1, narrativa do Erdogan, (-), ac, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 17/07/2016, p. A12): O saldo do conflito inclui 265 mortos,
cerca de 2.800 militares detidos e 2700 juízes e promotores afastados -membros do
Judiciário também foram presos, incluindo uma figura da mais alta instância legal da
Turquia. Os militares foram acusados de participar da tentativa de golpe, enquanto os
magistrados estariam ligados a Fethullah Gulen, religioso auto exilado nos Estados
Unidos, desde 1999, a quem Erdogan acusa de montar "uma estrutura paralela" entre os
militares e no Judiciário para derrubar o seu governo. "Essa rebelião é um presente de
Deus para nós, porque será uma razão para limparmos nossas Forças Armadas", afirmou
101
Erdogan. "Eles pagarão um alto preço por isso", ameaçou. Em discurso a apoiadores, o
turco pediu que presidente americano, Barack Obama, extradite o clérigo.
T1 acusação ao Erdogan, (-), ac, colunista Hussein Kalout.
(FOLHA DE S. PAULO, 17/07/2016, p. A12): Após 13 anos de hegemonia, o
presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, arremessou o país em um emaranhado de
problemas domésticos e internacionais. A expansão do autoritarismo sobre os setores
público e privado em todos os níveis e as equivocadas decisões diplomáticas na esfera
regional, puseram a Turquia na rota do terrorismo e aprofundaram a clivagem social.
Além disso, gerou ainda a repressão política e a supressão indiscriminada a grupos
étnicos, como os curdos. Se Erdogan já tinha uma tendência autoritária beirando a um
namoro ditatorial, agora, mais do que nunca, ele poderá conseguir governar com mão de
ferro. O que o presidente turco não conseguiu no Parlamento com suas manobras para
avocar poderes constitucionais e modificar o regime de governo, alcançará agora.
Fortalecido desse imbróglio, Erdogan usará todas as fendas para consumar o seu desejo
e se perpetuar no poder
No O Estado de S. Paulo os subtemas que chamaram atenção foram:
T1 e T4, acusação ao Erdogan (-) e Gulen (ø), Oriente Médio (OM), outro jornal ou
revista (ojr).
(O ESTADO DE S. PAULO, 17/07/2016, p. A13): Erdogan estava certo ao desconfiar
de um golpe. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan - o mais influente governante
do país desde seu fundador, Mustafa Kemal Ataturk, é obcecado com o Egito. Há três
anos, um golpe militar no Cairo derrubou o presidente eleito, Mohamed Morsi,
prendendo-o, com os aliados, investindo furiosamente contra sua Irmandade
Muçulmana e instalando um regime que continua no poder até hoje. Em duas
campanhas eleitorais, no ano passado, Erdogan falou de forças obscuras trabalhando
contra a democracia e seu governo - conspiradores estrangeiros e mesmo uma
“cruzada”. Falando em público, ele e outros membros do governo também dirigiram sua
ira contra o movimento Gulen, com base nos ensinamentos espirituais de um clérigo
idoso que vive na Pensilvânia. Os gulenistas, antes amigos de Erdogan, agora
supostamente tentam sabotar seu governo por meio de simpatizantes infiltrados em
vários órgãos do Estado.
102
T1, narrativa do Erdogan (ø) e Gulen (ø), inf, correspondente Jamil Chade:
(O ESTADO DE S. PAULO, 17/07/2016, p. A12): Retorno de presidente a Istambul
selou fracasso de movimento. “A Turquia tem um governo democraticamente eleito e
estamos no comando”, disse Erdogan, que contou que o hotel onde ele estava foi
atacado logo depois de sua saída. “Não vamos abandonar o país”, insistiu. Para ele, o
golpe havia sido um “ato de traição” e alertou que os responsáveis “pagarão um preço
muito alto” [...]. Nos últimos dias, Erdogan se voltou contra Fethullah Gulen, por ter
supostamente promovido o golpe. No Judiciário e nas Forças Armadas, o governo
iniciou uma limpeza geral de qualquer pessoa com simpatias a líderes da oposição.
Falando dos EUA, Gulen negou “categoricamente” qualquer envolvimento com o golpe.
“Condeno o golpe militar. Governos devem ser vencidos pelas eleições”, insistiu.
Segundo ele, era “especialmente insultante” ser acusado pelo golpe depois que ele
mesmo sofreu diversas tentativas de derrubada por décadas. Entre as entidades de
direitos humanos, o temor é de que Erdogan responda ao golpe com uma repressão
ainda maior.
T4, Oriente Médio, (-), pa, ojr.
(O ESTADO DE S. PAULO, 17/07/2016, p. A13): Embora a Turquia tenha se
esforçado nos últimos anos, EUA e UE desconfiam do governo cada vez mais islâmico
de Erdogan e de sua lealdade na luta contra o terrorismo. A Turquia tem sido acusada de
permitir que combatentes estrangeiros viagem através de sua fronteira e se unam ao EI
na Síria e no Iraque. Além disso, Erdogan também é acusado de apoiar combatentes dos
militantes radicais que tentam derrubar o regime de Bashar Assad.
No Jornal O Globo os subtemas que chamaram atenção foram:
T1, acusações do Erdogan (-), ac, ai.
(O GLOBO, 17/07/2016, p.34): Erdogan contra-ataca. Na noite de sexta-feira (15) antes
mesmo de retornar a Istambul, Erdogan anunciara que faria "uma limpeza nas Forças
Armadas", promessa que repetiu ontem (16/07) ao afirmar que militares envolvidos no
golpe eram "um tumor que estava sendo extirpado". -Esses eventos foram causados por
uma minoria dentro de nossas Forças Armadas que não conseguiu aceitar nossa unidade
nacional- afirmou em discurso a milhares de simpatizantes na cidade. O Exército
pertence ao povo turco e não ao Estado Paralelo [...]. No Judiciário, uma reunião de
103
emergência do Alto Conselho da Procuradoria, principal órgão da Justiça no país,
culminou na demissão imediata de 2.745 juízes.
T2, trajetória do Erdogan (-), ac, editorial (ed).
(O GLOBO, 17/07/2016, p.34): Não importa qual a proposta dos golpistas turcos,
porque uma ditadura miliar na fronteira entre o Ocidente e Oriente é tudo o que o
mundo menos precisa em especial a Europa. A Turquia tem de se manter como exemplo
de que é possível um regime de democracia representativa no universo islâmico. Uma
certeza que vale também para o presidente Erdogan, que tem revelado uma preocupante
faceta autoritária e demonstrado às vezes algum incômodo com o necessário laicismo do
Estado turco.
T3, mídia Erdogan (-), cri, ai.
(O GLOBO, 17/07/2016, p.35): Crítico das Redes, Erdogan Recorre ao Face time. O
presidente Recep Tayyip Erdogan tem um relacionamento difícil com a mídia
independente da Turquia, que foge ao controle do Estado. Ele já mandou bloquear redes
sociais, fechar jornais e TVs, e seu governo é um dos recordistas em prender jornalistas
no planeta. Mas, na tentativa de golpe de sexta feira, ele recorreu com agilidade às
comunicações modernas para rapidamente levar sua mensagem a uma população de
quase 80 milhões de pessoas, driblando o cerco dos rebeldes.
T1, narrativa do Gulen (-), ac, ai.
(O GLOBO, 17/07/2016, p.34): Em entrevista ao diário britânico Guardian, Gulen
condenou a tentativa de golpe e levantou suspeitas de que a ofensiva tenha sido
orquestrada para fortalecer, e não derrubar, o governo. -Agora que a Turquia encontrou
o caminho para a democracia, ele não pode ser revertido. O golpe parece ter sido muito
mal planejado e executado, e tudo parece estar funcionando a favor de Erdogan. -
Afirmou o clérigo que diz ter sofrido ao testemunhar todos os golpes de Estado
ocorridos no país. -Não creio que o mundo acredite nas acusações do presidente. É
possível que se trate de uma farsa para legitimar futuras acusações contra meus
seguidores.
104
T2, aliança Erdogan (ø), Gulen (-), inf, ai.
(O GLOBO, 17/07/2016, p.35): Ancara afirma que o imã busca estabelecer "um Estado
dentro do Estado" no país. Ex-aliado próximo do presidente Recep Tayyip Erdogan,
Gulen tem 75 anos, desde 1999 vive isolado numa pequena cidade nas montanhas de
Pocono, na Pensilvânia (EUA) [...]. Os dois romperam depois que Erdogan passou a ver
com desconfiança a forte presença do autodenominado movimento Gulen, também
conhecido como Hizmet, na sociedade turca, inclusive nos meios de comunicação. A
situação se agravou depois que autoridades judiciais, aparentemente ligadas ao clérigo,
apresentaram acusações de corrupção envolvendo diretamente pessoas do círculo íntimo
do presidente, incluindo seu filho Bilal Erdogan que respondeu expulsando militares,
demitindo policiais supostamente ligados ao grupo.
c) No dia 18 de julho de 2016
As notícias destacaram as declarações de Erdogan durante o funeral (17) de um dos
mortos no confronto.
T1, T3, T4 narrativa do Erdogan (-), pena de morte, EU, pa, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 18/07/2016, p. A10): Erdogan prometeu continuar a limpar o
"vírus" de todas as instituições do Estado. O presidente chorou no funeral de seu
marqueteiro, Erol Olcak, que foi morto, o filho de 16 anos no conflito. Apoiadores de
Erdogan também se reuniram do lado de fora do seu palácio presidencial na cidade,
onde voltaram a evocar a pena de morte. Erdogan respondeu que o pedido será ouvido
[...]. O chanceler francês Jean Marc Ayrault disse que a tentativa de golpe não é "um
cheque branco" para Erdogan.
T3, mídia Erdogan (-), ac, correspondente Jamil Chade.
(O ESTADO DE S. PAULO, 18/07/2016, p. A7): Antes inimiga, a internet salvou o
governo turco. Os piores inimigos de Recep Tayyip Erdogan viraram seu maior aliado
contra o golpe: a internet, as redes sociais e os meios de comunicação. Um dos
primeiros atos dos golpistas na Turquia foi ordenar a suspensão de sites como
Facebook, Twitter e WhatsApp. Foi o fracasso em controlá-los que permitiu uma brecha
para que o governo apelasse à população para que tomasse as ruas. Após o golpe, a
internet foi bloqueada, mas voltou uma hora depois. Imediatamente, o governo usou um
arsenal de mensagens nas redes sociais para pedir que o povo resistisse. Erdogan entrou
105
ao vivo na TV por meio do Face time [...]. Em julho de 2015, Erdogan declarou que era
“contra as redes sociais”. Nos últimos 12 meses, o governo ordenou, por cinco ocasiões,
que a internet fosse suspensa, alegando ameaças terroristas.
T1 narrativa do Gulen, (ø), inf, correspondente Jamil Chade.
(O ESTADO DE S. PAULO, 18/07/2016, p. A7): O analista Dogu Ergil, da
Universidade de Ancara, acredita que dificilmente Gulen esteja envolvido e o
amadorismo da iniciativa não condiz com a organização das redes do opositor. “Isso
significa, portanto, que pode haver outro grupo de oposição no país”, disse [...]. Ao New
York Times, Gulen negou envolvimento com o golpe, mas não descartou que seus
seguidores pudessem estar entre os organizadores. Ele comparou Erdogan ao nazismo.
“Eles confiscaram propriedades, imprensa, quebraram portas e assediaram pessoas da
mesma maneira que a SS de Hitler”, disse.
T3, perseguição, (-), ac, jornalista Luiza Souto.
(O GLOBO, 18/07/2016, p.20): Membros da comunidade turca no Brasil temem caça às
bruxas. Receio é que governo turco se aproveite de golpe frustrado para perseguir
opositores. Com irmão preso desde a manhã de sábado, o engenheiro Fatih Simsek, de
36 anos, afirmou ao GLOBO que "o medo de torturas e de prisão em campos de
concentração tem aumentado no país cada dia. A situação para os turcos está piorando,
mesmo que não se tenha relação com esse golpe. Somos contra qualquer tipo de golpe.
Ele (Erdogan) é o real golpista, e vem fazendo muitos golpes desde 2013". Para o
jornalista Kamil Ergin, de 32 anos, estão se aproveitando do ódio "para acabar com todo
o movimento Hizmet".
d) No dia 19 de julho de 2016
A FSP e o ESP destacaram “as medidas de vingança”, volta de pena de morte e o JOG
destacou a ampliação de caça às bruxas. A FSP publicou seu primeiro editorial sobre
Golpe e uma entrevista concedida por Gulen. O JOG publicou um segundo editorial
sobre assunto.
106
T2, trajetória do Erdogan, (-), ac, editorial.
(FOLHA DE S. PAULO, 19/07/2016, p. A2): Tentativas de rompimento da ordem
constitucional como essa devem, por óbvio, ser condenadas com veemência. Isso,
todavia, não impede que se reconheça a escalada autoritária do país sob o comando de
Erdogan. Até há pouco apontada como modelo de sucesso na constituição de um
Estado ao mesmo tempo islâmico e democrático, a Turquia tem se transformado num
regime cada vez mais tirânico, com perseguição a opositores e restrição da liberdade de
expressão [...]. É provável, ademais, que Erdogan aproveite o episódio -do qual sai
fortalecido- para aumentar suas forças e se perpetuar no poder [...]. Agindo dessa
maneira, Erdogan deve progressivamente aproximar seu país da fronteira que separa a
democracia da ditadura.
T1: narrativa do Gulen, (ø), ac, jornalista Luísa Pessoa, (Entrevista concedida por
Gulen).
(FOLHA DE S. PAULO, 19/07/2016, p. A10): Segundo Gulen, o Hizmet apoiou a
chegada do AKP ao poder, em 2002, por avaliar que ali existia um aliado para
"estabelecer uma cultura de democracia" na Turquia. "Mas nunca houve um apoio
partidário cego ou por interesses", disse. "As políticas do AKP sofreram um retrocesso
após 2010, e por isso o Hizmet suspendeu seu apoio. Consequentemente começou uma
caça às bruxas." "Nosso erro foi confiar demais no AKP. Não conseguimos perceber a
tempo que o governo Erdogan possuía um objetivo secreto. Fomos enganados", afirma
[...]. Gulen nega que possa haver simpatizantes do Hizmet que têm posições de
comando. "Ter espaço nas instituições públicas do país é um direito de todo o cidadão"
diz. "Se, durante as investigações de corrupção, membros do Judiciário ou da polícia
atuaram fora dos princípios de direito, eles devem ser encaminhados aos tribunais, com
provas concretas. Mas, se não foi assim, se cumpriram seus deveres dentro da lei, por
que tentar culpá-los? [...] "As ações do governo indicam que, na realidade, eles não
querem essa adesão", alega. Eles estão caminhando para um sistema de um homem só,
onde não há transparência, prestação de contas, cumprimento de padrões e acordos
internacionais. Com um regime desse, é impossível a Turquia ser aceita como membro
da UE."
107
T1, acusação ao Erdogan (-) e Gulen (ø), ac, colunista Clovis Rossi.
(FOLHA DE S. PAULO, 19/07/2016, p. A10): Os gulenistas estão presentes em vários
setores da sociedade turca, o que significa que alguns deles provavelmente participaram
da tentativa sem o movimento em si ter sido responsável por ele [...]. "Erdogan usará o
mote "seguidores de Gulen" como narrativa para refazer os militares, o Judiciários, a
educação superior, a mídia, e a mídia social à sua imagem. Não há muito a festejar com
a derrota do golpe, de fato uma boa notícia.
T4: Brasil, (-), ac, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 19/07/2016, p. A11): Nesta segunda, o chanceler José Serra
manifestou, em nota, a "preocupação" do Governo brasileiro com "relatos de
cerceamento de liberdade de individuais de milhares de membros do Poder Judiciário".
Após a tentativa de golpe, foram afastados 2.745 juízes e procuradores. O texto assinado
por Serra não fala em golpe, mas em "lamentável episódio".
T3, T4, pena de morte, EU, (-), ac, correspondente Jamil Chade.
(O ESTADO DE S. PAULO, 19/07/2016, p. A8): Erdogan radicaliza reação a golpe e
pena de morte tramita no Parlamento. Em entrevista à TV americana CNN, Erdogan
disse que o povo turco “quer a pena de morte” para os envolvidos na tentativa de golpe.
“O povo tem a opinião de que esses terroristas deveriam ser mortos. Por que eu deveria
mantê-los e alimentá-los em prisões pelos próximos anos, isso é o que o povo diz”,
disse Erdogan em um trecho da entrevista divulgado pela CNN [...]. O principal
negociador da adesão da Turquia à UE, Johannes Hahn, manifestou preocupação com o
fato de que Erdogan possa aumentar seu autoritarismo, sugerindo que a rapidez das
prisões dá sinais de que listas de opositores já estariam prontas antes mesmo da tentativa
de golpe. “Parece que havia algo preparado”, disse.
T3, o golpe, (-) ac, ojr, NYT.
(O ESTADO DE S. PAULO, 19/07/2016, p. A8): O golpe que não houve na Turquia.
Grande beneficiário do levante, Erdogan se dispõe a provar que o fracasso dos golpistas
não é exatamente um triunfo da democracia. Em matéria de golpes, o que ocorreu na
Turquia é um exemplo interessante de incompetência: não se observou nenhuma
tentativa séria para capturar ou derrubar a liderança política, nenhum líder pronto para
108
assumir o controle, nenhuma estratégia de comunicação (ou mesmo conhecimento da
mídia social) e uma incapacidade total de mobilizar uma massa crítica no âmbito das
Forças Armadas e da sociedade. Em seu lugar, um pelotão de soldados desventurados
sobre uma ponte em Istambul e tendo como alvos, aparentemente descoordenados,
alguns edifícios do governo em Ancara. Bastou o presidente Recep Tayyip. Erdogan,
usando o aplicativo Face Time do seu celular, convocar seus seguidores a irem para as
ruas, para a insurreição fracassar.
T2, aliança, Erdogan (-), Gulen (-), ac, correspondente Gilles Lapouge.
(O ESTADO DE S. PAULO, 19/07/2016, p. A9): Mas, há uns 15 anos, dois homens
trataram de erradicar todos os vestígios do kemalismo, e particularmente sua doutrina
laica, ainda presente na Turquia. Estes dois homens são Recep Tayyip Erdogan, o líder
do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP) de um lado, e do outro, o pregador
Fethullah Gulen, chefe da Confraria, por algum tempo, os dois trabalharam com o
mesmo objetivo, mas com métodos muito diferentes. A Confraria é uma espécie de
sociedade secreta, elitista, que se dedica a formar em suas escolas os futuros quadros do
país. Ela se infiltra na alta administração, na justiça e no Exército. Erdogan, ao
contrário, e seu partido o AK, escolheram tomar o poder por meio do sufrágio universal,
e conseguiram. Durante muito tempo, os dois homens caminharam pari passo. Juntos,
eles reduziram e desmantelaram o establishment kemalista. Mas, depois das primaveras
árabes, afastaram-se, tornando-se inimigos.
T2, modificar regime, (-), ac, editorial.
(O GLOBO, 19/07/2016, p.14): O perigo do autoritarismo de Erdogan na Turquia. A
fracassada tentativa de golpe militar na Turquia se tornou uma inesperada oportunidade
para o presidente Recep Tayyip Erdogan promover um expurgo bem mais amplo do
que, tudo indica, o grupo de insurgentes. O presidente turco chegou a classificar o
motim como um "presente de Deus" para limpar as Forças Armadas. Erdogan, porém, é
considerado um líder autoritário, que tenta introduzir preceitos islâmicos à ordem
constitucional do país. Há controle da mídia, inclusive redes sociais, na internet, e a
administração dos principais jornais e canais de televisão é aparelhada por aliados do
governo. A ofensiva contra juízes e procuradores mostra que Erdogan e seu Partido
(AKP) pretendem dominar o Judiciário, além dos militares. Todos esses sinais
109
preocupam [...]. Mas é preciso evitar que, com a desculpa do golpe, Erdogan acabe com
os predicados republicanos de um país crucial para o Ocidente e o Oriente Médio. O
projeto turco, de uma potência regional de maioria muçulmana, sustentado por um
regime democrático e uma economia próspera, é fundamental para a ordem mundial.
T1, T2, T3 narrativa de Erdogan, Judiciário, EU, (-), ac, ai.
(O GLOBO, 19/07/2016, p.21): Erdogan, por sua vez, irritou-se com a sugestão de que
estaria usando o golpe como pretexto de aumentar a repressão. Ele vem tentando mudar
a constituição para ampliar seus poderes. - É uma difamação. Se eu fosse uma figura
opressiva, não teria obtido 52% dos votos nas eleições presidenciais. - Rebateu o
presidente turco na rede de TV CNN, afirmando ter escapado 15 min. antes de ser morto
na quartelada. Ontem, a UE e Estados Unidos fizeram um apelo à Turquia e advertiram
o governo contra ir longe demais na repressão. Os EUA também voltaram a afirmar que
Ancara não pediu formalmente a extradição de Gulen. O secretário de Estado John
Kerry ainda lembrou que o regime turco deve apresentar "evidências e não alegações"
contra o opositor de 75 anos. Especialistas do Conselho da Europa divulgaram um
comunicado condenando as detenções em massa de juízes: "Não são um meio aceitável
de restaurar a democracia" diz a nota.
e) No dia 20 de julho de 2016
T4, EUA, (-), pa, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 20/07/2016, p. A11): A Turquia oficializou nesta terça-feira
(19) o pedido aos EUA de extradição do líder religioso Fethullah Gulen, enquanto
ampliou o expurgo contra suspeitos de participarem da tentativa de golpe da última
sexta (15). As duas iniciativas do governo do presidente Recep Tayyip Erdogan visam
acabar com a influência do clérigo, acusado pelo mandatário de ser um dos líderes do
grupo que tentou derrubá-lo. Nesta terça (19), Erdogan conversou sobre a extradição de
Gulen com o presidente Barack Obama. Segundo a Casa Branca, o pedido deverá ser
analisado pelas autoridades americanas.
T2, Ocidente, (-), ac, correspondente Gilles Lapouge
(O ESTADO DE S. PAULO, 20/07/2016, p. A10): O perigo turco. Mais um enigma
para a União Europeia: a Turquia. Já não era uma parceira fácil anos atrás, depois que
110
Erdogan, o presidente da república, entusiasmado com seus próprios sucessos, se
lançara numa diplomacia aventurosa e barroca, mantendo-se próximo da Organização
do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e da Europa, e, ao mesmo tempo, cultivando
fantasias islâmicas, com o estranho desejo de Ancara, nos últimos meses, de celebrar os
grandes momentos do Império Otomano.
T2 aliança, Erdogan (-), Gulen (+), ac, blog Guga Chacra.
(O ESTADO DE S. PAULO, 20/07/2016, http://internacional.estadao.com.br/blogs):
O argumento de Erdogan é de que todas estas pessoas são gulenistas. Primeiro, não é
crime ser gulenista. Eles integram um movimento que prega uma versão tolerante do
islamismo sunita, em busca de dialogar com outras religiões e condenar o terrorismo. O
movimento também valoriza a educação (no sentido acadêmico) e valores profissionais.
Sim, gulenistas interferiram na política turca no passado de forma condenável. Mas o
fizeram justamente para defender seu então aliado Erdogan de facções seculares. Depois
do rompimento, viraram inimigos. Alguns dizem que funciona como Estado paralelo,
mas creio que isso seja um exagero, embora o movimento seja sim poderoso. Em
segundo lugar, é impossível saber se todas estas dezenas de milhares de pessoas são
gulenistas. Muitos têm sido afastados pelo simples fato de criticarem um governo que
não respeita a democracia. Outros nem isso fizeram. Simplesmente são presos ou
afastados sem provas. Terceiro, o governo de Erdogan não tem provas de que os
gulenistas estejam envolvidos na tentativa de golpe. O grupo e muitos de seus membros
condenaram a ação quando esta ainda estava em andamento e parecia ser um sucesso.
Pode ser sim, que membros estejam envolvidos. Mas isso precisa ser provado.
T3, T4, Judiciário, ONU, (-), interpretativa indireta (ii), correspondente, Jamil Chade.
(O ESTADO DE S. PAULO, 20/07/2016, p. A10): ONU alerta para novas violações de
Erdogan. A ONU alertou ontem que a independência do Judiciário na Turquia está sob
risco depois das prisões de juízes e procuradores e, em reuniões com representantes de
Ancara e indicou que o governo de Recep Tayyip Erdogan estará violando o direito
internacional se reinstalar a pena de morte, como o presidente sugeriu na segunda-
feira. Em um comunicado emitido ontem, o alto comissário de Direitos Humanos das
Nações Unidas, Zeid Ra’as al-Hussein, pediu que a resposta do governo turco ao golpe
seja feita por meio do reforço da proteção dos direitos humanos e fortalecimento das
111
instituições democráticas. Para ele, é profundamente lamentável que a questão da pena
de morte tenha sido levantada por autoridades de alto escalão. “[...] Outro alerta da
ONU refere-se ao afastamento e prisões em massa de juízes e procuradores”. A
independência do Judiciário e da profissão legal é chave para uma administração justa
da Justiça e juízes precisam ser capazes de exercer suas funções sem restrições
indevidas, pressões e ameaçadas”, concluiu o representante da ONU.
T3, expurgo, (-), ac, ai.
(O GLOBO, 20/07/2016, p.25): Erdogan demite milhares de professores e reitores.
Quatro dias depois da tentativa de golpe militar contra o presidente Recep Tayyip
Erdogan, a gigantesca operação destinada a acabar com a suposta influência do clérigo
opositor Fethullah Gulen - ex-aliado de Erdogan acusado de estar por trás da quartelada-
atingiu em cheio, ontem, os professores da Turquia. O ministério revogou a licença de
21 mil profissionais que trabalham em instituições privadas e suspendeu 15 mil
funcionários públicos.
T2, Aliança, (-), ac, jornalista externo (je).
(O GLOBO, 20/07/2016, p.25): Erdogan substituiu Atatürk, e em vez de um Estado -
nação, optou por um país líder na região; em vez de revoluções, as políticas foram
baseadas na religião. Para realizar a sua agenda, deixou a política de "zero problema
com vizinhos" e optou por políticas mais simpáticas aos povos do Oriente Médio, para
administrar a região a partir da Turquia. Ao mesmo tempo, queria o apoio de todos os
movimentos religiosos da Turquia e iniciava um grande projeto de paz com os curdos.
Nessa hora ficou claro que os pensamentos de Fethullah Gulen não eram compatíveis.
As declarações e críticas abertas do clérigo incomodaram Erdogan. E ele quis mostrar
aos que não estavam obedecendo cegamente o que era capaz de fazer, usando Hizmet
como exemplo. Acusou abertamente Gulen de trabalhar para Israel, e os EUA, e afastou
de cargos públicos seus simpatizantes. Por fim, quando o projeto de remodelação do
Judiciário foi aprovado no parlamento, os militares perceberam que chegou sua vez de
serem perseguidos e reagiram.
112
f) No dia 21 de julho de 2016 (Declaração de Estado de Emergência)
No dia 20, Erdogan declarou estado de emergência. Essa notícia saiu na primeira página
dos três jornais. O ESP publicou seu primeiro editorial e o JOG o terceiro editorial
sobre a tentativa fracassada.
(FOLHA DE S. PAULO, 21/07/2016, p. A1): Estado de emergência autoriza
presidente a se sobrepor ao Parlamento. O presidente da Turquia, Recep Tayyip
Erdogan, voltou à capital Ancara e declarou estado de emergência de três meses no país,
como resposta à tentativa de golpe de Estado por militares na última sexta-feira (15).
Erdogan disse que o estado de emergência visa evitar novas ameaças à democracia e
negou que vá restringir direitos. A medida deve facilitar a continuidade do expurgo
contra os suspeitos de apoiar a tentativa de golpe.
(O ESTADO DE S. PAULO, 21/07/2016, p. A1): Presidente da Turquia decreta
emergência.
(O GLOBO, 21/07/2016, p.1): Erdogan põe a Turquia sob Estado de Emergência. Adota
por três meses em reação à tentativa de golpe a medida que amplia poderes do
presidente na repressão e permite censura: governo impede saída dos acadêmicos do
país e fecha mais de 600 escolas privadas.
Na Folha de S. Paulo os subtemas que chamaram atenção foram:
T3, Expurgo, (-), episódico (ep), ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 21/07/2016, p. A9): Medida permite que presidente crie leis e
limite ou suspenda direitos constitucionais e liberdades da população. Erdogan não
detalha extensão da decisão, mas promete manter expurgo; centenas de escolas são
fechadas. O presidente voltou a declarar que vai livrar os militares do "vírus" da
subversão e dar ao governo os poderes necessários para ampliar a repressão contra os
suspeitos de envolvimento no golpe. Ele permitirá que o presidente se sobreponha ao
Parlamento para aprovar leis e poderá limitar ou suspender direitos e liberdades civis
[...]. O expurgo sobre a educação turca ocorre porque o governo afirma que essas
instituições têm ligação com o clérigo auto exilado nos EUA, Fethullah Gulen. Gulen
nega envolvimento com o golpe e acusa Erdogan de promover "caça às bruxas".
113
Acadêmicos foram proibidos de viajar ao exterior, numa tentativa de evitar que grupos
ligados a Gulen fujam da Turquia para evitar punição
T2, Aliança, Erdogan (-), Gulen (-), ac, colunista Clovis Rossi.
(FOLHA DE S. PAULO, 21/07/2016, p. A9): Com a declaração de Erdogan, golpe na
Turquia agora está dando certo. O que está se instalando na Turquia é de fato um regime
de exceção, que não tem parentesco com a democracia nem com o respeito ao devido
processo legal. E óbvio que Erdogan tem todo direito de perseguir os responsáveis pela
tentativa de golpe que fracassou na semana passada. Mas o que ele está promovendo é
uma caça às bruxas, ou, mais exatamente, ao Hizmet ("Serviço"), o movimento
comandado pelo pregador islâmico Fethullah Gulen. O caso dos juízes e funcionários
da Justiça e os da Educação denuncia o jogo: é impossível saber, em apenas dois ou três
dias, quais deles estão de fato envolvidos no golpe fracassado. No entanto, exatamente
2.750 juízes foram suspensos, primeiro, e depois sujeitos às ordens de prisão, logo após
o golpe. A lógica é esta: o golpe, segundo Erdogan, foi tramado por Gulen, que está nos
EUA. Logo, todos os simpatizantes do movimento são "golpistas" e devem ser
perseguidos. Como é que o governo sabia quais juízes e/ou funcionário da Educação
eram "gulenistas"? Simples: Erdogan e Gulen colaboraram estreitamente, até o
rompimento entre eles em 2013, no preenchimento de cargos no aparelho estatal e na
educação, para livrar o Estado das sementes autoritárias plantadas pelos militares que
foram o poder de fato na Turquia até a ascensão ao poder dos Islamistas do AKP. Logo,
o AKP sabe quais funcionários ele próprio indicou e quais foram indicados pelo
"gulenismo". Consequência inescapável: o expurgo se concentra nestes [...] É típico dos
regimes de exceção que as pessoas deixam de ser inocentes até que provem o contrário -
ao contrário- passem a ser culpadas independentemente de provas concretas.
T3, o golpe, (-), ac, editorial.
(O ESTADO DE S. PAULO, 21/07/2016, p. A3): O que primeiro chamou a atenção
nesse episódio foi a facilidade com que o presidente Recep Tayyip Erdogan - depois que
grande parte da população atendeu a seu apelo para ir às ruas defender seu mandato -
derrotou os golpistas. Logo se constatou que essa foi uma tentativa bisonha de golpe
militar, num país que em passado ainda recente assistiu a operações muito bem
articuladas e planejadas desse tipo. Até agora ninguém sabe ao certo quem era o líder
114
dos golpistas e o que estes pretendiam além da derrubada pura e simples do presidente
[...]. Vencido o golpe, era natural - como acontece sempre nessas infelizes ocasiões -
que se procurasse identificar e punir os responsáveis por esse atentado às instituições.
Mas o que está fazendo Erdogan vai muito além disso, com uma agressividade que
assusta seus adversários políticos - que necessariamente não se confundem com os
golpistas - e deixa preocupados os países aliados da Turquia [...]. Além das dimensões
da repressão em curso na Turquia, o que causa uma espécie de mal-estar no exterior é a
sensação de que há algo estranho no golpe malogrado. Como explicar, por exemplo, que
as detalhadas listas com milhares de acusados e suspeitos tenham surgido já no dia
seguinte à tentativa de golpe, antes de qualquer investigação? E até agora o fato
indiscutível é que o único que saiu ganhando com ele foi Erdogan, cujas tendências
autoritárias não são segredo.
T3, expurgo, (-), ac, correspondente Jamil Chade.
(O ESTADO DE S. PAULO, 21/07/2016, p. A12): A medida aumenta os temores da
ONU, UE e potências ocidentais de que Erdogan esteja usando o golpe frustrado para
minar o estado de direito e enfraquecer qualquer tipo de oposição [...]. O último alvo de
Erdogan foi o setor de educação. Cerca de 1,5 mil reitores de universidades foram
demitidos, além de 21 mil professores e 15 mil funcionários do ministério. Os reitores
de todas as universidades ainda receberam ordens para avaliar a situação de todos os
professores e fazer um informe final até o dia 5 de agosto. “Estamos vivendo um
momento de terror”, disse ao Estado um dos professores da Universidade de Ancara, na
condição de anonimato. Todos aqueles acadêmicos no exterior são obrigados a voltar e
nenhum deles deve aceitar convites para palestras fora do país. A meta, segundo
diplomatas, é evitar que acadêmicos que tenham apoiado o golpe usem viagens para
fugir.
T2, trajetória do Erdogan, (-), ac, ojr – NYT.
(O ESTADO DE S. PAULO, 21/07/2016, p. A10): O drama que se desenvolve na
Turquia é a história de como uma nação antes bem-sucedida sai dos trilhos quando um
líder que demoniza seus rivais e flerta com teorias da conspiração chega a acreditar que
é a única pessoa que poderá tomar seu país um grande sucesso novamente - e se aferra
ao poder. Erdogan, que foi premiê de 2003 a 2014, manobrou para assumir a
115
presidência e conseguir que os poderes chave fossem deslocados para essa posição.
Qualquer pessoa que acompanha a Turquia sabe que Erdogan, há anos, vem montando
silenciosamente um golpe contra a democracia turca - prendendo jornalistas,
perseguindo rivais, revivendo uma guerra contra os curdos para insuflar paixões
nacionalistas - e se transformar no sultão da era moderna [...]. Um dia após o golpe
frustrado, Erdogan demitiu 2.745 juízes e promotores. Como ele sabia quem demitir em
um dia?
T3, expurgo, (-), ac, editorial
(O GLOBO, 21/07/2016, p.24): Como se temia, o presidente turco, Recep Tayyip
Erdogan, aproveita a fracassada tentativa de golpe militar para aprofundar o expurgo de
toda e qualquer oposição. Além dos militares insurgentes, o governo de Ancara destitui
e prende juízes, procuradores, funcionários públicos, professores universitários e
reitores, entre outros segmentos da sociedade. O número de pessoas atingidas já
ultrapassa os 60 mil, reforçando os sinais de que a Turquia se move rapidamente na
direção de um regime autoritária de caráter teocrático.
T4, EU, (-), ac, ai.
(O GLOBO, 21/07/2016, p.24): O expurgo sem precedentes levou os ministros das
Relações Exteriores da Holanda, Alemanha e Canadá a expressarem preocupação: -
Entendemos, é claro, que deve haver uma transformação política e jurídica após a
tentativa de golpe, mas ela deve ocorrer de acordo com o estado e direito. -Disse o
alemão Frank -Walter Steinmeier. Mas Erdogan continua reagindo com agressividade à
pressão internacional. Disse que ninguém de fora tem direito a criticar as decisões
tomadas, "antes de olharem para si mesmos". Em uma mensagem direta ao chanceler
francês, Jean-Marc Ayrault disse para que ele "cuide de sua vida". No domingo Ayraut
afirmou que a rejeição à tentativa de golpe não era um "cheque branco" para Erdogan. -
Ele tem autoridade para fazer essas declarações sobre minha pessoa? -Ironizou o
presidente turco.
116
g) No dia 22 de julho de 2016 (Suspenção de Convenção Europeia de Direitos
Humanos)
T4: Brasil, (-), ac, Editorial.
(FOLHA DE S. PAULO, 22/07/2016, p. A4): O Itamaraty vai endurecer o discurso
contra o governo turco caso o presidente Tayyip Erdogan mantenha, nas palavras de um
representante do governo, a "escalada autoritária" no país. O Brasil, que já havia
manifestado preocupações com relatos de cerceamento de liberdades individuais,
acionou diplomatas par avaliar, até a semana que vem, a real situação na capital Ancara.
Integrantes da gestão Temer usam o termo "contragolpe" para se referir às ações de
expurgo na Turquia.
T3, Direitos Humanos, (-), ep, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 22/07/2016, p. A9): País deixa temporariamente Convenção
Europeia sobre o tema depois de Erdogan decretar estado de emergência. Ancara diz
que medida ajudará em expurgo e nega restrição a direitos civis; UE pede respeito à lei
e às liberdades [...]. Apesar do precedente francês, a União Europeia manteve a
preocupação com o uso da emergência como pretexto para reprimir o movimento
Hizmet, do líder religioso Fethullah Gulen, apontado por Erdogan como o mentor da
tentativa de golpe. O Hizmet nega ter qualquer envolvimento. Para o presidente do
Centro Cultural Brasil Turquia, Mustafa Goktepe, ligado ao movimento de Gulen, o
estado de emergência é "o fim declarado da democracia" em seu país. "Faltam poucas
coisas, o fim das negociações com a União Europeia, e aliança com o OTAN. Se for
assim a Turquia realmente var ser um país isoladíssimo.
T3, Diretos Humanos, (ø), ep, ai.
(O ESTADO DE S. PAULO, 22/07/2016, p. A10): Ancara suspende carta de direitos
humanos. A Turquia suspenderá a Convenção Europeia de Direitos Humanos durante a
vigência do estado de emergência, decretado na quarta-feira pelo presidente turco Recep
Tayyip Erdogan. Ele justificou a medida alegando que está sob ameaça de um segundo
golpe e precisa proteger os valores democráticos do país. “A Turquia suspenderá a
Convenção Europeia de Direitos Humanos (CEDH) para não entrar em conflito com
suas obrigações internacionais, assim como a França em razão dos atentados de
novembro”, assegurou ontem o vice-primeiro-ministro, Numan Kurtulmus. O artigo 15
117
da CEDH reconhece aos governos, “em circunstâncias excepcionais”, a faculdade de
abolir “de maneira temporária, limitada e controlada” alguns direitos e liberdades
garantidas pela convenção. A decisão protege a Turquia contra eventuais condenações
por parte da CEDH, especialmente quando estão em curso grandes expurgos no
Exército, na Justiça, na magistratura, nos meios de comunicação e no ensino após a
tentativa fracassada de golpe militar contra o regime de Erdogan.
T3, Direitos Humanos, (-), ac, ai.
(O GLOBO, 22/07/2016, p.29): Na prática, a adoção do estado de emergência permite
que o presidente e seu gabinete decretem leis sem aprovação do parlamento e possam
limitar ou suspender direitos e liberdades de expressão e circulação. Mas apesar das
restrições, só direito de protestar, muitos turcos receberam, ontem, mensagens de texto
do próprio Erdogan, convidando seus partidários a continuar nas ruas para resistir aos
"traidores terroristas". "Meu querido povo não abandone a resistência heroica
demostrada ao país, à pátria, e à bandeira" e "os proprietários das praças não são os
tanques, são a nação" foram algumas mensagens.
h) Nos dias 23-26 de julho de 2016
T2, trajetória do Erdogan, (-), ac, colunista Hussein Kalout.
(FOLHA DE S. PAULO, 25/07/2016, p. A10): Na Turquia a democracia já é uma
fábula. O presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, aplicou um contragolpe dizimando
o Judiciário, imobilizando o sistema educacional e expurgo das forças de segurança
pública. O islã político liberal pode ter falhado no país. Não por ser islã, mas pelas
conotações autoritárias de um governo que parece ter abandonado as regras
democráticas. De forma geral, os políticos islamistas ainda não conseguiram provar que
é possível conviver com o contraditório, até porque a essência da política serve para
construir pontes entre diferentes e não para impor uma visão autocrática sobre os
demais. No Egito, a Irmandade Muçulmana cometeu erros crassos. Na Tunísia, o
Partido Ennahda teve um péssimo começo e depois se ajustou na Turquia, o AKP, de
Erdogan, que havia começado bem, implodiu todo seu capital político, ético e moral.
Via de regra, partidos políticos, de corte religioso, fracassaram praticamente em todos
os cantos do mundo [...]. No fundo, a malfadada tentativa de golpe está sendo utilizada
para Erdogan eliminar de cena inimigos, adversários e hipotéticos futuros oponentes
118
[...]. Saudosista do poder do Império Otomano, daqui para frente Erdogan tende a
adotar um personalismo composto.
T2, modificação de regime, (-), ac, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 26/07/2016, p. A12): Em meio ao expurgo, Erdogan se reúne
com partidos opositores, e premiê sinaliza redação de nova Constituição. O primeiro-
ministro, Binali Yildirim disse estar pronto para trabalhar com os opositores para a
redação de uma nova Constituição [...]. Em entrevista à rede de TV alemã ARD,
Erdogan voltou a dizer que a população turca quer a reintrodução da pena de morte após
a tentativa de golpe. O que os turcos dizem hoje? Eles querem a pena de morte, e nós
não podemos dizer: "não, isso não nos interessa."
T3, pena de morte, (-), inf.
(O ESTADO DE S. PAULO, 23/07/2016, p. A10): Ministro da Justiça diz que
reintrodução da sentença de morte é questão nacional e governo não está preocupado
com advertências da UE. Bozdag rejeitou as advertências feitas por Bruxelas de que um
país que executa sentenças de pena de morte não pode entrar na União Europeia.
“Temos regulamentada a pena de morte. Acrescentamos um artigo à Constituição
dizendo que não poderia ser reintroduzida. Eles nos aceitaram na UE? Não. Sempre
encontram uma razão para não nos aceitar. Eles não terão dificuldade em encontrar uma
desculpa para nos manter de fora do bloco”, disse o ministro. Por isso, segundo Bozdag,
o Executivo não levará em conta as considerações da União Europeia, mas sim “os
interesses do Estado e do país”.
T2, T3 modificar regime, o golpe, (-), ac, ojr- The Economist.
(O ESTADO DE S. PAULO, 24/07/2016, p. A12): Presidente da Turquia está
destruindo a democracia em cuja defesa os turcos arriscaram suas vidas. Ainda pairam
muitas dúvidas sobre a tentativa de golpe que os militares empreenderam na Turquia, na
noite do dia 15. Por que a coisa foi tão atabalhoada? Qual o grau de envolvimento da
cúpula militar? Eram golpistas à moda antiga, movidos por ideias seculares, como
indica seu comunicado inicial; ou seriam seguidores do clérigo Fethullah Gulen,
atualmente exilado nos EUA, como alega o governo? Mas duas coisas estão claras. A
primeira é que o povo turco demonstrou coragem e destemor ao sair às ruas e enfrentar
119
os soldados [...]. A segunda conclusão, bem mais preocupante, é que essa mesma
democracia, cuja defesa custou a vida de tantos turcos, está sendo solapada a galope por
Erdogan [...]. Colocando divergência e traição no mesmo saco, Erdogan executa o
próprio golpe contra o pluralismo. Com a liberdade de ação que o estado de emergência
lhe confere, o presidente acabará acirrando os conflitos internos e levando o país ao
caos, um desdobramento que pode representar séria ameaça aos países vizinhos, à
Europa e ao Ocidente.
T2, aliança, Erdogan (-), Gulen (+), pa, blog- Guga Chacra.
(O ESTADO DE S. PAULO, 26/07/2016, http://internacional.estadao.com.br/blogs):
Segundo Erdogan, Gulen estaria por trás da tentativa de golpe para derrubá-lo. Gulen
nega envolvimento e condenou a tentativa de golpe, embora também critique Erdogan.
Os dois foram aliados até 2013. Erdogan e seu partido AKP, de viés religioso,
dependeram dos gulenistas para chegar e se manterem no poder. Juntos, conseguiram,
anos atrás, reduzir o papel das tradicionais elites seculares “kemalistas” do país – os
kemalistas são os seguidores da ideologia de Mustafa Kemal Atatürk, que ocidentalizou
a Turquia [...]. Os dois romperam quando Erdogan, ainda premiê, começou a reprimir
com violência protestos em Istambul em 2013. Passou a viver em uma paranoia de que
os gulenistas estariam por trás de tudo contra o seu governo. Não sabemos,
honestamente, quem estaria por trás do golpe. Talvez tenha havido envolvimento de
gulenistas. Talvez, não. Enquanto não houver prova, não podemos cravar. Caso, porém,
Gulen tenha se envolvido no golpe, como diz Erdogan, os EUA teriam conhecimento. O
clérigo vive recluso em sua casa na Pensilvânia. É óbvio que a NSA (National Security
Agency) monitora todas as suas formas de comunicação [...]. E, apenas para deixar
claro, Gulen lidera o movimento Hizmet. Trata-se de uma organização que prega um
islamismo sunita tolerante, contra o terrorismo, buscando um diálogo religioso e
incentivando a educação de seus integrantes.
T3, perseguição, (-), ac, ai.
(O GLOBO, 25/07/2016, p.19): A Anistia Internacional afirmou ontem ter provas de
que a Turquia está submetendo prisioneiros a espancamentos, torturas e até estupros em
centros de detenção oficiais e extraoficiais no país. A organização pediu que o governo
turco permita o acesso de observadores independentes a todos os locais de detenção
120
estabelecidos depois da tentativa de golpe contra o presidente Recep Tayyip Erdogan,
incluindo delegacias, tribunais e centros esportivos. A Anistia Internacional acusa a
polícia turca em Ancara e Istambul de manter prisioneiros em posições estressantes até
por 48 horas, privá-los de comida, água e atendimento médico, além de cometer abusos
e ameaças verbais.
i) No dia 27 de julho de 2016
Dia 27 foi publicado artigo de Gulen no Estadão. Gulen respondia às acusações.
T1, T2, T4 narrativa, trajetória – aliança e extradição, Erdogan (-), ac, ojr- NYT.
(O ESTADO DE S. PAULO, 27/07/2016, p. A11): Condeno todas as ameaças à
democracia turca. Condenei com veemência a tentativa de golpe militar na Turquia. “O
governo deve vencer por meio de eleições livres e imparciais, não pela força [...].
Apesar do meu protesto, cada vez mais o autoritário presidente Recep Tayyip Erdogan
imediatamente me acusou de ter orquestrado o golpe [...]. Não só essa insinuação de
Erdogan vai contra tudo o que acredito, como também é irresponsável e equivocada.
Minha filosofia - de um Islã pluralista e inclusivo, a serviço dos seres humanos de todas
as crenças - é contrária à rebelião armada, que considero antiética [...]. Numa época em
que as democracias ocidentais estão em busca de vozes muçulmanas moderadas, eu e
meus amigos do Hizmet assumimos uma clara posição contra a violência extremista,
desde os atentados do 11 de Setembro pela Al-Qaeda às brutais execuções do Estado
Islâmico e os sequestros do Boko Haram. Além de condenar a violência sem sentido,
incluindo essa tentativa de golpe, enfatizamos nossa promessa de frear o recrutamento
de terroristas entre jovens muçulmanos e cultivar uma mentalidade pluralista, pacífica
[...]. Na verdade, tenho defendido a democracia há décadas. Tendo sofrido a experiência
de quatro golpes militares em quatro décadas na Turquia, jamais desejarei que meus
compatriotas vivam essa dura experiência novamente. Se alguém que parece ser um
simpatizante do Hizmet esteve envolvido na tentativa de golpe, traiu meus ideais [...].
Como muitos cidadãos turcos, os integrantes do Hizmet apoiaram os esforços iniciais de
Erdogan para democratizar a Turquia e cumprir as exigências com vistas a uma adesão à
União Europeia. No entanto, não silenciamos quando ele preteriu a democracia em
favor do despotismo. Mesmo antes dos recentes expurgos, Erdogan, nos últimos anos,
fechou jornais, removeu milhares de juízes, promotores, delegados de polícia e
funcionários públicos de seus cargos. Adotou medidas duras contra as comunidades
121
curdas. E declarou seus detratores inimigos do Estado. O presidente turco está
chantageando os EUA, ameaçando restringir o apoio do país à coalizão internacional
que combate o Estado Islâmico. Seu objetivo é garantir minha extradição, apesar de
falta de provas convincentes. Para o bem dos esforços realizados em todo o mundo para
restaurar a paz e salvaguardar a democracia no Oriente Médio, os EUA não devem levar
em consideração um autocrata que tem transformado uma tentativa de golpe num
autogolpe em câmara lenta contra o governo constitucional.
T3, mídia, Erdogan (-), ac, blog Lourival Sant’anna.
(O ESTADO DE S. PAULO, 27/07/2016, http://internacional.estadao.com.br/blogs):
O cientista político Sahin Alpay foi preso nesta quarta-feira em Istambul, por criticar o
governo do presidente Recep Tayyip Erdogan. Alpay era colunista do jornal Zaman e
comentarista da emissora Mehtap, confiscados pelo governo em março [...]. Alpay,
assim como outros colunistas e jornalistas do Zaman, não pertence ao movimento, mas
escrevia no jornal porque era o único grande espaço de crítica ao governo que havia
restado, assim como o canal de TV do Hizmet, também fechado. “Não cometi crime
nenhum, não sei por que estou sendo detido”, disse Alpay, de 71 anos, ao ser levado
pelos policiais de sua casa [...]. Trocamos e-mails pela última vez no dia 18 de julho,
quando lhe pedi uma análise da tentativa de golpe. Alpay me escreveu: “O governo
parece estar no controle, depois de suprimir uma tentativa de golpe muito amadora
principalmente por parte de oficiais de patentes mais baixas. A razão para a tentativa,
suspeito eu, é que, enquanto os comandantes se aliaram ao autoritarismo de Erdogan,
oficiais de patentes mais baixas estão insatisfeitos com suas políticas de inclinação
islâmica” [...]. Perguntei o que ele achava da acusação de Erdogan, de que o Hizmet e o
seu líder, Fethullah Gülen, estavam por trás do golpe: “São os secularistas autoritários,
os kemalistas os responsáveis pelo golpe fracassado. Erdogan há muito tempo procura
fazer uma caça às bruxas contra os gulenistas, acusando os de tramar o processo de
corrupção contra ele. O que é um absurdo. Isso é macarthismo puro. Agora ele está
acusando até os envolvidos no golpe de serem gulenistas, e usa esse argumento para
avançar na limpeza de integrantes das Forças Armadas, do Judiciário e da polícia nos
quais não confia” [...]. O movimento é inspirado no sufismo, corrente moderada do Islã,
que prega a tolerância e a integração entre as culturas e religiões.
122
j) No dia 28 de julho de 2016
Dia 27, 130 veículos de comunicação foram fechados. Icônicos jornalistas foram presos.
Um deles foi Sahin Alpay e esteve no Brasil uma vez. A FSP e o JOG publicaram essa
notícia na primeira página.
(FOLHA DE S. PAULO, 28/07/2016, p. A1): Turquia amplia expurgo e fecha TVs,
jornais e rádios. Duas semanas após tentativa frustrada de golpe, no país, o governo da
Turquia anunciou o fechamento de 131 veículos de comunicação, entre eles 45 jornais,
23 rádios e 16 emissoras de TV. O expurgo liderado pelo presidente Recep Tayyip
Erdogan já prendeu ou suspendeu 60 mil pessoas -militares, juízes, policiais, e
professores, entre outros. Eles são acusados de elo com o golpe. Governos Ocidentais
condenaram a tentativa de derrubar o governo, mas expressaram preocupação com
Erdogan. Ele é acusado de usar o ocorrido para reprimir opositores e elevar seu poder.
(O GLOBO, 28/07/2016, p.1): Turquia já fechou 130 veículos de mídia após golpe. O
governo Erdogan fechou 130 veículos de imprensa independente, após a tentativa de
golpe e mandou prender 42 jornalistas.
T3, mídia, (-), ac, jornalista Patrícia Campos Mello.
(FOLHA DE S. PAULO, 28/07/2016, p. A9): Sahin Alpay era colunista do "Zaman",
maior jornal turco até ser interditado em março, ligado a Gulen. Mas Alpay era um
conhecido ativista de esquerda, ex-integrante do CHP (principal partido de oposição
secular turco) sem relação clara com o clérigo. "Essas prisões são uma caça às bruxas,
uma tentativa de criminalizar opiniões críticas ao governo", disse à Folha o turco Timur
Kuran, professor de economia, ciência política e estudos islâmicos da Universidade
Duke (EUA). Alpay apenas trabalhava em um jornal ligado ao movimento de Gulen e
simpatizava com as atividades de caridade do movimento Hizmet, não tem nenhuma
ligação com terrorismo ou com tentativa de derrubar o governo.
T3, mídia, (-), ac, ai.
(O ESTADO DE S. PAULO, 28/07/2016, p. A14): Regime turco fecha 45 jornais e 16
emissoras de TV [...]. “Os promotores não estão interessados no que colunistas
individuais escreveram ou disseram”, disse a fonte, que pediu anonimato. “A motivação
123
é que funcionários proeminentes do Zaman provavelmente possuem informações sobre
a rede de Gulen e podem beneficiar a investigação”.
T3, mídia, (-), ac, ai.
(O GLOBO, 28/07/2016, p.26): Turquia fecha 130 veículos de comunicação. A
perseguição à imprensa, marca do governo do presidente Recep Tayyip Erdogan nos
últimos anos, tomou um novo rumo com a onda de repressão após um golpe militar
fracassado na Turquia, há duas semanas: ao menos 130 veículos de comunicação
independentes já foram fechados desde a quartelada. A Turquia ocupa hoje o 1510 lugar
no ranking de liberdade de imprensa no Mundo, de um total de 180 países. Após
repressão contra jornalistas, a Anistia Internacional denunciou "restrições draconianas à
liberdade de expressão". A ONG Repórteres Sem Fronteiras (RSF) também condenou
as ordens de prisão. -Criticar o governo ou trabalhar para veículos de mídia que apoiam
o movimento Gulen não são prova de envolvimento no golpe fracassado. Se as
autoridades não conseguem apresentar indícios mais concretos, serão culpadas de
perseguir as pessoas que por causa de suas opiniões e isso é inaceitável disse o porta-
voz Johann Bihr.
k) No dia 29-30 de julho de 2016
T2, modificar regime, (-), ac, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 29/07/2016, p. A9): Erdogan quer inteligência e militares sob
comando. Após mais de cinco horas de reunião do Conselho Militar Supremo, nesta
quinta-feira (28), uma autoridade turca disse a jornalistas que o presidente Recep
Tayyip Erdogan pretende colocar as Forças Armadas e a agência nacional de
inteligência sob o controle da Presidência, após a tentativa fracassada de golpe militar
do último dia 15. Como parte da tentativa de conter o poder do Exército, o ministro do
Interior, Efkan Ala, disse que a polícia também será equipada com armamento pesado.
T4, EU e EUA, (-), ac, colunista Patrícia Campos Melo.
(FOLHA DE S. PAULO, 29/07/2016): A União Europeia não é a única refém do
presidente turco Recep Tayyip Erdogan, que ameaçou inundar países europeus com
"caminhões de refugiados". Os Estados Unidos também são alvo de chantagem do
autocrata turco. Os EUA vêm se recusando a extraditá-lo, a despeito de vários
124
insistentes pedidos de Erdogan. Autoridades americanas afirmam que só irão extraditar
o clérigo se receberem provas claras de seu envolvimento no golpe fracassado [...]. Os
EUA e a Turquia, ambos membros da OTAN, têm cooperação militar estreita. Os EUA
usam a base turca de Incirlik, para ataques contra o EI na Síria e no Iraque e também
mantêm um posto da CIA no país. Mas o relacionamento entre os países vinha
azedando. Washington criticou publicamente o crescente autoritarismo de Erdogan e
suas investidas contra jornalistas e ativistas curdos. Os EUA e a UE sabiam da
ambiguidade do governo turco em relação ao Estado Islâmico e a grupos extremistas
como a Frente Al-Nusra -e a maneira pela qual deixava jihadistas cruzarem a fronteira
turca em direção à Síria [...]. Da mesma maneira que a UE vem fazendo apenas críticas
brandas contra a escalada de autoritarismo na Turquia, por ser refém de Erdogan por
causa de refugiados.
T2, trajetória, (-), ac, editorial.
(FOLHA DE S. PAULO, 30/07/2016, p. A2): Não acho que Recep Tayyip Erdogan, o
presidente da Turquia, tenha simulado um golpe militar contra seu governo com
objetivo de desferir a reação e endurecer o regime. Dirigentes paranoicos evitam
jogadas arriscadas. Não há dúvida, porém, de que a destrambelhada tentativa de golpe
foi um presente para o Erdogan ao seu AKP, o partido islamita com o qual governa
desde 2003. O presidente, que já vinha nos últimos anos adotando uma linha mais
despótica, encontrou o pretexto de que precisava para deslanchar sua ofensiva
autoritária. Nas últimas semanas, Erdogan já fechou 131 veículos de comunicação e
mandou prender ou suspender 60 mil pessoas, a maioria militares, juízes policiais e
professores [...]. Com tal currículo, Erdogan se perfila ao lado de outros líderes, como
Vladimir Putin, da Rússia, e Hugo Chávez da Venezuela, na categoria dos novos
semitiranos. Eles chegaram ao poder pela democracia, mas depois a torceram para servir
a seus projetos de poder. O interessante é que em nenhum momento adotam uma
medida que configure um rompimento muito claro com a legalidade e gozam, na maior
parte de tempo amplo, apoio popular.
T3, O Golpe, (-), plural fechada (pf), ojr-NYT.
(FOLHA DE S. PAULO, 30/07/2016, p. 3): Muitos se perguntaram como o governo
conseguiu identificar tão rapidamente tantos supostos traidores. A resposta, segundo
125
autoridades turcas, é que eles vinham preparando isto há anos. Membros do governo
foram francos sobre esse ponto, dizendo que antes da tentativa de golpe já estavam
compilando listas de militares e outras autoridades suspeitas de serem leais a Gulen.
Mas como o governo não tinha provas suficientes para condená-los em tribunais
planejou afastá-los e ao longo do tempo disse, Mehmet Simsek, vice premiê. "Sabíamos
muito, mas ou nos faltava base jurídica ou tempo" para remover os gulenistas do
governo, disse ele. "Não estávamos inventando essas histórias. Isso não é uma trilogia
de Jason Bourne" acrescentou Simsek. "Temos essas células maciças, redes, e eles têm
um banco. Eles têm recursos financeiros enormes".
T2, modificar regime, (-), ep, ai.
(O ESTADO DE S. PAULO, 29/07/2016, p. A10): Erdogan quer as Forças Armadas e a
inteligência sob seu comando. O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, pretende
realizar uma reforma constitucional para que as Forças Armadas e a Agência Nacional
de Inteligência (MIT) passem a ficar sob controle da presidência, informou uma
autoridade turca ontem. Para isso, será necessário que as forças opositoras concordem
com a proposta. Os comentários foram feitos depois de uma reunião do Conselho
Militar Supremo na qual se esperava um acordo para fazer uma revisão da varredura que
se seguiu ao fracassado golpe militar do dia 15. Antes da reunião, o governo turco
ordenou, por decreto, destituir 149 generais e almirantes, 40% de todos os militares
dessa categoria. O decreto foi publicado no diário oficial, citando o estado de
emergência proclamado na semana passada.
T2, modificar regime, (-), pf, ai
(O GLOBO, 29/07/2016, p.28): Após um amplo expurgo nos últimos dias, sob a
alegação de afastar das Forças Armadas partidários do clérigo exilado Fethullah Gulen -
acusado de planejar o fracassado golpe militar duas semanas atrás- o presidente Recep
Tayyip Erdogan iniciou uma reforma no aparato de segurança e de defesa da Turquia.
Numa reunião do Conselho Militar Supremo (YAS), o governo anunciou planos para
subordinar diretamente à Presidência tanto a chefia do Estado Maior do Exército quanto
a dos serviços secretos (MIT).
126
l) No dia 31 de julho de 2016
T2, trajetória do Erdogan, (-), ac, colunista Clovis Rossi.
(FOLHA DE S. PAULO, 31/07/2016, p. A16): A esta altura, está mais que evidente
que o expurgo que o presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, está promovendo vai
muito além da lógica -e justa- repressão aos golpistas que ensanguentaram o país no dia
15 passado. Trata-se, acima de tudo, de eliminar da cena pública aos aliados do líder
islâmico Fethullah Gulen -e no embalo, perseguir outros rivais. Em outras palavras, dar
passos rumo à ambição de Erdogan de se tornar caudilho ou, para entrar no contexto
turco, um sultão indisputado [...]. O "gulenismo" oferece o pretexto ideal para
perseguição: ninguém discute que o movimento incrustou seus militantes e/ou
simpatizantes em diferentes áreas do aparelho do Estado, como no Judiciário e entre as
Forças Armadas, e no setor educacional, que, aliás é o eixo central do Hizmet
("Serviço"), o movimento de Gulen [...]. Vale a análise de um liberal e secular -
portanto, crítico de um movimento islamita-, caso de Ali Bayramoglu: "Não pode ser
crime trabalhar para instituições gulenistas. Ser um membro da comunidade de Gulen
tampouco é um crime". Essa constatação civilizada está sendo desprezada na Turquia do
sultão Erdogan.
T1, acusações ao Erdogan, (-), ac, colunista Lorival Sant’anna.
(O ESTADO DE S. PAULO, 31/07/2016, p. A14): A Turquia se consolida ao lado da
Venezuela e da Rússia de hoje, e da Alemanha e da Itália dos anos 30, como laboratório
de um desconcertante experimento: a incursão no autoritarismo pela via democrática
[...]. Passou a construir suntuosos palácios e mesquitas, ao estilo otomano, e a dirigir-se,
em seus pronunciamentos à nação, não mais ao povo turco, mas à Umma, a comunidade
muçulmana mundial. Confiante, Erdogan começou a mudar as leis, restringindo o
consumo de bebidas alcoólicas e permitindo o uso do véu em repartições públicas. Foi
aí que ele começou a enfrentar resistências mais visíveis [...]. As manifestações de 2013,
na Praça Taksim, em Istambul, foram desencadeadas pelo projeto de construção de um
shopping que recriava um antigo quartel otomano, mas evoluíram rapidamente para
protestos contra o crescente autoritarismo de Erdogan. Os protestos acabaram
duramente reprimidos [...]. Erdogan tenta justificar essa repressão com o argumento de
que está enfrentando “conspiradores terroristas” do Hizmet. Mas nem o Hizmet tem
127
relação com terrorismo nem as perseguições se limitam ao movimento. O que Erdogan
está fazendo é simplesmente silenciar toda crítica contra ele.
T2: trajetória de Erdogan (ø) e Gulen (+), pa, jornalista Fernanda Simas.
(O ESTADO DE S. PAULO, 31/07/2016, p. A14): Crise na Turquia expõe velhas
disputas. Até 2013, os dois grupos eram aliados - mesmo com ideologias distintas - e
dividiam o poder na Turquia. “Durante os anos 2000, os grupos com visões políticas do
Islã rivais Milli Gorus e Hizmet formaram uma aliança contra os militares secularistas,
que tradicionalmente controlavam a política. A aliança foi apoiada pela União Europeia
e pelos Estados Unidos”, explica o professor de Estudos da Turquia Moderna na
Universidade de Graz, na Áustria, Karabekir Akkoyunlu. O movimento Milli Goras
(Visão Nacional) é a ramificação adotada por Erdogan e, segundo Akkoyunlu, tem uma
visão antiocidental e contra a ideologia secular. Esse ramo nasceu de partidos políticos
islâmicos fundados na década de 60 por Necmettin Erbakan - premiê em 1996 e
destituído um ano depois por um golpe militar. Erdogan integrava o partido de Erbakan,
Refah, antes de fundar o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), em 2001. O
Hizmet, atualmente presente em diversos países e inspirado em Gulen, surgiu da
ramificação Nurcu, que significa “seguidor de Said-i Nursi”, um teólogo de ascendência
curda proeminente entre os anos 30 e 50. Nursi, segundo o professor, defendia a
adaptação do Islã ao mundo moderno, a participação não ostensiva na política e a
realização de caridade.
m) No dia 01 a 07 de agosto de 2016
T2, modificar regime, (-), inf, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 01/08/2016, p. A12): Turquia amplia expurgo contra
militares. Junto com as expulsões, o governo turco anunciou no Diário Oficial as
mudanças no estruturado Conselho Militar Supremo. Além de primeiro ministro e do
ministro da defesa, passarão a ter assento no grupo os vices premiês e o ministro do
Interior e das Relações Internacionais. Também foi reduzido o número de militares, a
fim de dar mais controle aos civis. Além das decisões sobre operações da Forças
Armadas, o conselho é responsável por apontar e promover oficiais. No mesmo decreto,
Erdogan ainda submeteu as Forças Armadas ao controle do Ministério da Defesa e deu a
si e ao primeiro ministro, Binali Yildirim, o poder de dar ordens diretas aos militares
128
sem passar pela aprovação de outras autoridades. Os militares também perderam o
controle de hospitais, repassados ao Ministério da Saúde, e tiveram as instituições de
ensino fechadas. Em seu lugar, o governo criará uma universidade única para formar
oficiais das Forças Armadas, da Polícia Nacional, da Guarda Nacional e da Guarda
Costeira. O reitor desta nova instituição será apontado de forma direta pelo presidente.
T2, aliança, (ø), inf, ai
(FOLHA DE S. PAULO, 01/08/2016, p. A12): Em entrevista na noite de sábado (30)
Erdogan disse ter sido enganado pelo líder religioso. "Se este golpe tivesse ocorrido até
quatro anos atrás, acredite, eu não teria essa consciência. Que Deus nos perdoe."
T2, trajetória do Erdogan, (-), ac, editorial.
(FOLHA DE S. PAULO, 04/08/2016, p. A2): Retrocessos na Turquia. A malograda
tentativa de golpe na Turquia, não bastasse a quebra da normalidade democrática, deu o
pretexto para uma exacerbação da tendência autoritária do presidente Recep Tayyip
Erdogan. Frustrado o movimento de uma facção da Forças Armadas, era de esperar que
os vitoriosos punissem os insurgentes. A extensão dos expurgos e prisões, contudo,
indica que o contragolpe vai muito além. É indubitável que está em curso uma escalada
autoritária, em realidade iniciada bem antes do golpe malogrado. Embora até alguns
anos atrás fosse apontada como modelo de país ao mesmo tempo islâmico e
democrático, a Turquia de Erdogan já vinha em marcha batida para um regime cada vez
mais autocrata, com perseguição a opositores e restrição das liberdades de expressão e
de imprensa.
T2, modificar regime, (ø), ep, ai.
(O ESTADO DE S. PAULO, 02/08/2016, p. A11): Governo de Erdogan refaz Forças
Armadas. O Conselho Supremo Militar terá agora uma grande maioria de membros
civis e, em vez de contar com 14 militares e 2 ministros, como era até agora, será
composta por 11 cargos civis e 4 militares, antecipou Yildirim. A medida faz parte da
nova política do governo para recuperar o pleno controle das Forças Armadas após o
fracassado golpe militar do dia 15. Além disso, presidente e primeiro-ministro poderão
dar diretamente ordens aos comandantes das diversas forças e será simplificado o
sistema de promoção, até o ponto que um sargento possa ser nomeado general.
129
T4, EU, EUA, (-), inf, correspondente Andrei Netto.
(O ESTADO DE S. PAULO, 03/08/2016, p. A11): O presidente da Turquia, Recep
Tayyip Erdogan, fez ontem seu mais incisivo ataque ao Ocidente, acusando-o de ter
apoiado “terroristas” que cometeram a fracassada tentativa de golpe contra seu governo
no dia 15. As acusações foram direcionadas aos países da União Europeia e aos Estados
Unidos, no momento em que os governos de Ancara e Berlim trocam farpas
diplomáticas. Em resposta às pressões, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha,
Frank Walter Steinmeier, disse que seu país não aceitará o que chamou de “ameaças”
sobre a liberalização da imigração clandestina às portas da Europa [...]. As críticas são
uma referência direta ao suposto apoio recebido pelo clérigo islâmico Fethullah Gulen,
seu ex-aliado exilado nos Estados Unidos desde 1999, que Erdogan acusa de ser o
mentor da tentativa de golpe. Em razão de suas suspeitas, o presidente turco pediu a
Washington a extradição do religioso, o que até aqui foi rejeitado pela Casa Branca.
“Que tipo de parceiro estratégico nós somos se os EUA não extraditam Gulen, apesar de
nossos pedidos reiterados? ”, indagou. Na mesma ofensiva contra a oposição, o chefe de
Estado pediu à chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que aceite extraditar supostos
aliados de Gulen radicados em território alemão. Berlim também rejeitou o pedido [...].
T2, Aliança, (-), inf, ai.
(O ESTADO DE S. PAULO, 04/08/2016, p. A11): Erdogan lamentou ontem ter
apoiado Gulen no passado. “Eu também a ajudei (a rede de Gulen) sob o princípio de
que tínhamos um denominador comum, apesar de haver muitas questões com as quais
eu não estava de acordo”, disse Erdogan. Ele acrescentou que vários presidentes e
primeiros-ministros anteriores “também ajudaram essa estrutura com boa vontade.
Erdogan disse que Gulen e seus seguidores se estabeleceram na sociedade e se
expandiram “como um vírus”.
T1, narrativa dos Erdoganistas, (-), ep, ai.
(O GLOBO, 02/08/2016, p.21): O vice-premier Numan Kurtulmus reiterou que a
"grande limpeza de simpatizantes" de Fethullah Gulen, clérigo exilado nos Estados
Unidos e quem Ancara acusa de ter organizado o golpe fracassado, afeta principalmente
o Exército, a Justiça, o sistema educacional e a imprensa. Kurtulmus assegurou que as
possíveis falhas cometidas pelo governo nesse processo serão corrigidas. -Os cidadãos
130
que não têm ligação com eles (gulenistas) devem ficar tranquilos porque nenhum mal
lhes será feito tranquilizou o vice premier em uma entrevista coletiva. -Já aqueles
vinculados ao imã, "tem que ter medo. Pagarão o preço, enfatizou Kurtulmus. Mais um
discurso inflamado pela revolta de milhares de turcos que têm protestado em repúdio à
tentativa de golpe, o ministro da Economia, Nihat Zeybekci, afirmou que os
conspiradores irão se arrepender amargamente por "tentar destruir a democracia da
Turquia". -Nós, os faremos implorar. Vamos metê-los em buracos e sofrerão tantas
punições que não verão mais a luz do sol enquanto respirarem -disse Zeybekci.
T1, T2, T3 acusação a Erdogan, aliança, o golpe, Erdogan (-), Gulen (+), ac,
acadêmico.
(O GLOBO, 06/08/2016, p.19): Por falta de um general para apresentar como o
comandante golpista, Erdogan responsabilizou um filósofo religioso, de 75 anos de
idade, doente, morador dos EUA desde 1999, de nome Fethullah Gulen, que teria
insuflado contra o governo os voluntários do Hizmet, movimento social inspirado por
ele, décadas atrás. Gulen defende um Islã democrático, aberto ao diálogo com outras
religiões; aliado ao presidente Erdogan, afastou-se ao perceber o grau de corrupção que
rodeava o governo, passando então a ser perseguido. O movimento Hizmet, iniciado
pelo jovem Gulen, define a prestação de serviço à comunidade como o eixo central do
Islã: "Servir às pessoas para servir a Deus", é a frase que ele usa [...]. Foi preciso usar a
narrativa de tentativa de golpe, para dar o golpe em grande escala contra seus
opositores, especialmente aqueles que têm relações com o sentimento -movimento
Hizmet e seu inspirador espiritual e intelectual. Prática usada por Hitler ao se aproveitar
do incêndio do Parlamento alemão em 1933.
T1, acusação aos Gulenistas, Erdogan (+) Gulen (-), ac, acadêmica.
(O GLOBO, 07/08/2016, p.31): Como remediar os decretos? [...]. Então, todos nos
convencemos de que a "Organização Terrorista Fethullah Gulen" deve ser tratada sem
misericórdia. Este ataque gerou mais medo nas pessoas do que décadas de terror e do
PKK e as imagens de horror do Estado Islâmico. Sendo assim, a maioria está disposta a
dar carta branca para Erdogan. Acreditam que ele merece.
131
n) No dia 08 a 14 de agosto de 2016
T1, apoio ao governo, Erdogan (ø), Gulen (ø), ep, correspondente Diogo Bercito
(FOLHA DE S. PAULO, 08/08/2016, p. A12): Erdogan atrai milhares a ato em
Istambul. Durante o evento, Erdogan afirmou que, se a população quiser a pena de
morte no país e o assunto for votado pelo Parlamento, os partidos políticos irão seguir
sua vontade. Ao público Erdogan afirmou: "o mundo está olhando para vocês agora".
"Vocês deveriam estar orgulhosos. Cada um de vocês lutou pela liberdade e pela
democracia. Todos vocês são heróis. A partir de agora, nós vamos examinar
cuidadosamente quem nós temos abaixo de nós. Nós vamos ver quem temos no
Exército, quem temos no Judiciário, e colocar os demais para fora." Esta foi a primeira
vez em anos em que os principais partidos da oposição uniram- se para apoiar o
governo.
T1, narrativa dos Erdogan(istas) (+), Gulen (-), ac, Ministro de Relações Exteriores da
Turquia (Acadêmico)
(FOLHA DE S. PAULO, 10/08/2016, p. A12): Por volta das 22h de sexta-feira, 15 de
julho, membros de uma célula militar adormecida de culto ao terror tentaram aplicar um
golpe na Turquia e derrubar um governo eleito democraticamente. O golpe foi encenado
por um grupo das Forças Armadas da Turquia ligado à Organização Terrorista Fethullah
Gulen. Os oficiais traidores mataram dúzias de policiais encarregados de proteger o
povo e lançaram bombas contra o Parlamento turco num momento em que o legislativo
ainda se encontrava em sessão. Algo miraculoso e sem precedentes aconteceu. Cidadãos
da Turquia responderam, dando-se conta de que a democracia corria em perigo. As
mídias sociais noticiaram golpe, e as pessoas interromperam o que faziam e foram às
ruas. Cinco horas após o início da insurreição, os tanques, enviados às ruas para
intimidar, foram cercados por turcos enfurecidos com a tentativa de interferência na
ordem democrática. Soldados que haviam disparado contra civis inocentes abaixaram
suas armas e se renderam. A tentativa de golpe falhou ali. A democracia foi protegida
por cidadãos comuns que se juntaram contra o golpe. A mídia também teve um papel
fundamental na mobilização das pessoas. No parlamento, os partidos emitiram uma
declaração conjunta contra os traidores. Os participantes da tentativa de rebelião serão
processados e julgados no rigor da lei. Os depoimentos dos detidos e as informações
que recebemos de vários agentes oficiais do governo provam que o golpe foi
132
engendrado pela Organização Terrorista Fethullah Gulen. Por mais de 30 anos, o clérigo
Fethullah Gulen encorajou seus seguidores se infiltrarem nos serviços militar e
judiciário na Turquia. Imagens registradas por câmeras escondidas, em 1997, mostram
Gulen orientando-os a conseguir cargos em todos os níveis do Estado, especialmente os
mais centrais. Acobertando essa agenda sinistra e hedionda, Gulen formou uma vasta
rede de escolas, ONGs e negócios. Secretamente infiltrou-se em repartições públicas
para derrubar um governo democraticamente eleito. Gulen muitas vezes procurado por
autoridades turcas para ser julgado por várias acusações de conspiração, reside
atualmente no sul da Pensilvânia (EUA). Esperamos que as autoridades norte-
americanas se mostrem solidárias com a Turquia, sua aliada na Otan, e tomem medidas
imediatas para restringir as atividades de Gulen e sua rede e extraditá-lo para nosso país.
T4, Rússia, (ø), ep, correspondente Diogo Bercito.
(FOLHA DE S. PAULO, 10/08/2016, p. A2): Visita sela reaproximação de Rússia e
Turquia. Encontro entre Erdogan e Putin pode recompor alianças; turco ressente crítica
ocidental. A visita pode marcar um redesenho das alianças na região após sucessivas
críticas de Ancara aos EUA e a líderes europeus, seus aliados na OTAN, pela reação
morna à crise no país [...]. Erdogan tem repetido seu descontentamento em relação a
líderes ocidentais, e, em entrevista publicada nesta segunda (8) pelo jornal "Le Monde"
reclamou pela falta de empatia com seu país. "O mundo reagiu ao atentado contra o
"Charlie Hebdo". Nosso premiê se uniu à marcha em Paris" afirmou a "Monde". "
Estava que os líderes do mundo ocidental reagissem da mesma forma ao que ocorreu na
Turquia e não se contentassem com clichês.
T3, perseguição, (-), ep, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 11/08/2016, p. A10): O jogador turco de basquete Enes
Kanter, 24, pivô da equipe na NBA Oklahoma City Thunder, foi deserdado pela sua
família por expressar apoio a Fethullah Gulen, clérigo auto exilado, nos Estados Unidos
e opositor do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. Em mensagem à imprensa
turca, o pai do jogador, Mehmet Kanter, pediu desculpas "ao presidente e ao país por ter
um filho assim". O pai diz ainda temer que o movimento Hizmet o use "apenas por seu
sucesso e fortuna". Em resposta, o pivô publicou um texto em um canal oficial dizendo
133
que havia perdido pai, mãe e irmãos, e assinou a nota com um novo nome: "Enes
(Kanter) Gulen".
T1, narrativa do Gulen (ø), Erdogan (-), pa, correspondente Diogo Bercito.
(FOLHA DE S. PAULO, 13/08/2016, p. A13): Clérigo turco diz que voltará se
provarem laço com golpe. Fethullah Gulen quer que comissão independente apure
acusação de Ancara. O clérigo Fethullah Gulen, 75, acusado pelo presidente da Turquia,
Recep Tayyip Erdogan, de planejar a tentativa de golpe de Estado de 15 de julho, pediu
a criação de uma comissão internacional para investigar se ele de fato teve participação
nesse ato. O pedido por investigações foi feito em uma carta publicada nesta sexta (12)
pelo jornal francês "Le Monde". No texto, Gulen diz que aceitará as conclusões da
comissão e, se for o caso, voltará ao país. Simultaneamente, o governo turco afirmou
nesta sexta ter recebido "sinais positivos" dos EUA em relação ao pedido de extradição
do clérigo. A Turquia tem pressionado a administração norte-americana nas últimas
semanas, enquanto se aproxima da Rússia de Vladimir Putin.
T3, perseguição, (ø), ep, ai.
(O ESTADO DE S. PAULO, 11/08/2016, p. A12): Turquia quer prisão de maior ídolo
do futebol. Um promotor turco emitiu ontem uma ordem de prisão contra Hakan Sukur,
ex-deputado e um dos principais jogadores de futebol do país, por sua ligação com o
clérigo Fethullah Gulen, que Ancara acusa de ser o líder da tentativa de golpe no dia 15
de julho. Desde dezembro do ano passado, Sukur vive nos EUA com a família, por isso
foi emitido uma ordem internacional pedindo sua detenção e entrega à Turquia.
T2, modificar regime, (-), pf, ojr NYT.
(O ESTADO DE S. PAULO, 09/08/2016, p. A10): O presidente turco, Recep Tayyip
Erdogan, sempre teve a ambição de ofuscar Mustafa Kemal Ataturk, fundador da
Turquia moderna, como o mais importante personagem do país. Agora, como golpe
frustrado, talvez ele finalmente o consiga. Há anos Erdogan, um islâmico, comemora
grandes momentos do passado otomano quando Istambul era sede do califado,
subestimando a história secular da Turquia promovida por Ataturk. Com a frustrada
tentativa de golpe, ele agora tem sua própria história e não perdeu tempo em começar a
propagar sua coleção de eventos e símbolos para incutir esta nova narrativa na
134
consciência nacional. Agências de mídia e jornais pró-governo publicam material em
profusão sobre o golpe, homenageando as vítimas como heróis nacionais e uma
emissora estatal está produzindo um documentário a respeito. Está planejada a
construção de estátuas e monumentos e o dia 15 de julho do próximo ano, 1° aniversário
do golpe fracassado, será feriado nacional. Tudo isso em três semanas. O objetivo de
Erdogan é assegurar não só que nada seja perdido da história, mas também que esse
mais recente capítulo pertença totalmente a seus seguidores. Segundo historiadores e
analistas, ele encontrou uma oportunidade para celebrar o que há muito tempo qualifica
como “a nova Turquia” -uma nação moderna com ênfase no islamismo que rompeu com
o passado secular [...]. A tentativa de golpe já é citada no país como a segunda guerra de
independência da Turquia. A primeira, liderada por Ataturk, foi após o colapso do
Império Otomano no fim da 1a Guerra e cujo foco era a construção de uma identidade
turca com base em princípios nacionalistas e secularistas. “O governo do AKP - partido
político de Erdogan - já estava em busca de novas comemorações para marcar o que
define como a Nova Turquia”, afirmou Esra Ozyurek, que dirige o centro de estudos
turcos na London School of Economics.
T1, apoio ao governo, (-), ii, ai.
(O GLOBO, 08/08/2016, p.19): Demonstração de força. Segundo Erdogan, a tentativa
de golpe pode se tornar um marco para a construção de uma "nova Turquia". No que
chamou de "Comício da Democracia e dos Mártires", pediu aos conterrâneos que
levassem a bandeira da Turquia a praças ao redor do país e não de seus partidos". Faixas
na multidão diziam "Você é um presente de Deus" e "Peça para morrermos e assim o
faremos." A manifestação foi vista como uma demonstração de força. Apenas partidos
curdos não foram convidados. Como já vinha indicando, Erdogan defendeu abertamente
a pena de morte. -Se o povo quiser a pena de morte, os partidos respeitarão sua
vontade.
T4, EU, (-), ii, ai.
(O GLOBO, 08/08/2016, p.19): Na Alemanha, uma pesquisa do instituto do Emnid
mostrou ontem que 52% dos alemães querem o fim do acordo de imigração no qual a
Turquia recebe auxílio financeiro para barrar a saída de refugiados rumo aos países da
União Europeia e 66% querem fim das negociações com os turcos para sua entrada na
135
União Europeia. O aumento nas denúncias de violações no país fez um acordo que
elimina vistos para os turcos na UE ser suspenso. Ankara ameaçou liberar a saída de
refugiados caso o pacto não seja selado. Erdogan está construindo um regime autoritário
apenas para si mesmo. Ele não pode ser um parceiro da Europa -disse o líder o partido
alemão liberal Democratas Livres, Cristian Lindner.
T2, modificar regime, (-), ac, editorial.
(O GLOBO, 09/08/2016, p.12): O jogo perigoso de Erdogan na Rússia. A reunião hoje
entre presidente turco, Recep Tayyip Erdogan e seu colega russo Vladimir Putin
representa bem mais do que o processo de reatamento diplomático entre duas nações.
Na verdade, o encontro está sendo visto por especialistas como um jogo perigoso do
líder turco, que ameaça se afastar de seus aliados do Ocidente, principalmente EUA e
União Europeia. Após a fracassada tentativa de golpe em 15 de julho, a Turquia adotou
medidas autoritárias criticadas por seus aliados ocidentais. Erdogan aproveitou a
oportunidade para implementar o que ele chama de "nova Turquia" um país islâmico
que rompe com o passado secular inaugurado por Mustafa Kemal Ataturk, o fundador
da Turquia moderna. Com o apoio de uma população radicalizada e armada, Erdogan
prendeu milhares de pessoas acusadas de fazer oposição a ele, inclusive nas Forças
Armadas, nas Universidades, nos meios de comunicação e outras instituições. Para
justificar, reforçou uma retórica de elogio ao glorioso passado otomano, quando
Istambul era o centro de um califado, cujos domínios se espalhavam pela região.
T2, modificar regime, (-), ac, acadêmico.
(O GLOBO, 11/08/2016, p.15): Do golpe militar fracassado de julho, emerge a figura
de um novo sultão otomano, que enfeixa poderes extraordinários e ergue os alicerces de
um regime autoritário. A escalada autoritária começou anos atrás, ganhando ímpeto com
a violenta supressão dos protestos populares na Praça Taksim, no verão de 2013. A
repressão à imprensa independente ganhou justificativa pela difusão da lenda
conspirativa que atribui toda e qualquer crítica ao governo à rede política dirigida pelo
clérigo moderado Fethullah Gulen, um ex-aliado de Erdogan convertido em inimigo e
auto exilado nos EUA [...]. Tudo que é solido parece desmanchar-se no ar. A marcha
autoritária de Erdogan é o terceiro golpe sucessivo nos pilares da ordem estabelecida no
pós-Guerra Fria. O primeiro, em 2014, foi a invasão e anexação russa da Crimeia
136
ucraniana, que dissolveu a crença na segurança das fronteiras internacionais na Europa.
O segundo, menos de dois meses atrás, foi a decisão britânica de abandonar a União
Europeia. Agora, descortina-se o cenário de uma Turquia autoritária em ruptura com o
Ocidente, que impugna a convicção no triunfo definitivo da democracia no espaço
europeu externo à influência russa [...]. No outro plano, a erosão das liberdades públicas
na Turquia confere verossimilhança à narrativa ideológica dos neo- conservadores sobre
o "choque das civilizações", que se baseia na tese da incompatibilidade entre
democracia e o islã. Se a Turquia moderna secularista retrocede ao autoritarismo, como
acreditar nas chances de reforma democrática nos países muçulmanos do Oriente Médio
e da África do Norte? Depois de flertar com organizações jihadistas envolvidas na
guerra síria e extinguir o processo de paz com os curdos, o novo sultão turco oferece um
álibi perfeito aos partidos da extrema direita europeia engajados em projetos nativistas e
ultranacionalistas. Certamente não foi para isso que, resistindo aos militares golpistas,
morreram na rua dos turcos.
o) No dia 15 a 21 de agosto de 2016
T3, prisão, (-), ep, correspondente Diogo Bercito.
(FOLHA DE S. PAULO, 18/08/2016, p. A10): Com cadeias lotadas, Ancara solta
presos por crimes comuns. O governo turco anunciou nesta quarta (17) uma reforma
penal que resultará na libertação de cerca de 38 mil presos comuns. A medida é tomada
paralelamente às milhares de detenções durante o expurgo do último mês. O governo
turco não justificou a medida desta quarta formalmente, mas o país tem excesso de
população carcerária.
T4, Ocidente, (ø), pf, correspondente Hussein Kalout.
(FOLHA DE S. PAULO, 22/08/2016, p. A10): Putin procura convencer Erdogan de
que ambos são herdeiros de impérios históricos, ressaltando que a importância da
Turquia em vista de seu posicionamento geográfico somente seria reavaliada, na visão
do Ocidente, se houver uma guinada geopolítica turca mais no Oriente. Moscou utiliza
de forma calculada o isolamento internacional de Erdogan na fase do golpe e
contragolpe para alcançar dois objetivos pontuais: distanciar a Turquia da Europa e
debilitar a coesão da Otan.
137
T3, prisão, (ø), ap, correspondente Andei Netto.
(O ESTADO DE S. PAULO, 17/08/2016, p. A13): O Ministério Público da Turquia
anunciou ontem que pedirá à Justiça a condenação do ex-imã Fethullah Gulen,
adversário político do presidente Recep Tayyip Erdogan, a duas penas de prisão
perpétua, além de outra de 1.900 anos de prisão pela fracassada tentativa de golpe em
15 de julho. A acusação dos magistrados foi feita em meio a uma onda de repressão no
país e busca reforçar os argumentos do chefe de Estado - que pressiona EUA e Europa a
extraditarem Gulen, exilado em território americano, e seus principais seguidores,
refugiados em solo europeu [...]. Ontem, o Ministério Público acusou o teólogo de
“tentar destruir a ordem constitucional pela força” e “de formar e dirigir um grupo
terrorista armado”, segundo a peça de acusação divulgada pela agência estatal Anatólia.
T3, perseguição, Erdogan (ø), Gulen (-), pa, ai.
(O ESTADO DE S. PAULO, 18/08/2016, p. A13): Erdogan quer retomar salário de 13
mil servidores. Funcionários públicos suspeitos de simpatizar com clérigo acusado de
golpe terão de devolver 6 anos de pagamento. Cerca de 13 mil funcionários públicos da
Turquia terão de devolver seus salários dos últimos seis anos por terem chegado a seus
cargos com ajuda de uma operação supostamente manipulada por simpatizantes do
clérigo islamita Fethullah Gulen, acusado pelo governo de estar por trás do fracassado
golpe de Estado de 15 de julho.
T2, modificar regime, (-), ac, correspondente Gilles Lapouge.
(O ESTADO DE S. PAULO, 19/08/2016, p. A12): Ressurreição do Império. Erdogan
quer, ao mesmo tempo, ser tão grande quanto Ataturk e o califa Mehmet. Em 15 de
julho, houve um golpe militar na Turquia que tinha como objetivo destituir o presidente
Recep Tayyip Erdogan, cujos opositores o acusam de ter tomado dois rumos distintos:
de um lado, na direção de um islamismo cada vez mais agressivo, e de outro, tomado
por um desejo inebriante de poder absoluto, sonhando ressuscitar, depois de um longo
intervalo, uma espécie de Império Otomano. Um mês depois, em que pé estamos? O
presidente Erdogan continua no poder, mais sólido do que nunca e impaciente para se
tornar um novo “califa”. Quanto aos conspiradores e seus amigos (Exército laico,
funcionários do alto escalão, intelectuais, democratas etc.) foram presos em massa (35
mil) [...]. Em resumo, o presidente Erdogan estabeleceu dois objetivos incompatíveis
138
que acredita que estão hoje ao alcance do seu orgulho: ser o herdeiro de Ataturk, o pai
da Turquia moderna e laica, e de Mehmet, o califa que capturou Constantinopla quando
tinha 21 anos, em 23 de maio de 1453, inaugurando o Império Otomano.
T3, perseguição, (-), pa, ai.
(O GLOBO, 17/08/2016, p.22): Turquia fecha cerco a clérigo acusado de tentativa de
golpe e a empresas ligadas a ele. A promotoria nacional pediu ontem duas condenações
à prisão perpétua e uma pena adicional de 1900 anos de prisão para Fethullah Gulen, o
exilado clérigo e ex-aliado do presidente Recep Tayyip Erdogan que é acusado de ser o
mentor do golpe. De acordo com um documento de 2527 páginas da promotoria da
cidade de Usak, Gulen é acusado de "tentar destruir ordem constitucional, pela força" e
de formar e conduzir grupos terroristas armados. A ata de acusação afirma haver uma
"rede de organizações gulenistas infiltrada nas instituições estatais através de membros
que trabalhavam nos organismos públicos e de Inteligência", entre eles militares,
agentes da lei e funcionários da educação e da Justiça. Erdogan e o primeiro ministro
Yildirim vêm prometendo "extirpar pela raiz" o movimento Hizmet, do ex-aliado
Gulen, que consideram terrorista.
T1, acusação ao Erdogan (-), ac, acadêmico.
(O GLOBO, 17/08/2016, p.22): A democracia está sempre em risco na Turquia. No
mesmo período em que os positivistas foram imaginar a política na América Latina, os
jovens turcos da geração de 1889 foram reimaginar a política da modernidade como o
governo constitucional, parlamentar. Isso não resulta necessariamente em democracia.
A República Turca nunca teve mais de um partido político eficaz ao mesmo tempo.
Seus líderes de governo têm sido pessoas cujos poderes não foram limitados pela
Constituição. Sempre houve estruturas estatais profundas que exerceram poderes que
vão além da Carta Magna. Durante muito tempo, as pessoas pensavam que os militares
tenham esta liberdade. Quem tem o poder na Turquia sempre abusa dele. Erdogan tem
sido o líder político de maior sucesso da Turquia desde Turgut Ozal, na década de 1980.
No momento, seus seguidores ainda continuam a apoiá-lo. Mas nenhum líder abusou de
seu poder tanto quanto Erdogan. Em algum momento, isso tem que parar, e então o
futuro será incerto. Erdogan fez danos permanentes à cultura política da Turquia.
139
T1, acusação ao Gulen (+), ac, acadêmico.
(O GLOBO, 17/08/2016, p.22): O religioso leva uma vida de renúncia e serviço aos
outros, e tem muitos seguidores. O fato de ser líder religioso mais influente da Turquia é
suficiente para gerar hostilidade do governo. Gulen insiste que não sabia nada sobre o
golpe de Estado. É crível que ele que ele não soubesse. Por outro lado, tudo na Turquia
é politizado, e muita gente não vai acreditar ele era inocente, que não tinha
envolvimento na tentativa. Em certo sentido, o movimento de apoiadores de Gulen se
parece uma pirâmide de três níveis. O nível mais largo, mais baixo, inclui os muitos
membros com motivação inteiramente religiosa. O nível médio inclui pessoas que
misturam religião e negócios. No topo da pirâmide seriam pessoas religiosas com
motivações políticas. Se houve uma conspiração de seguidores de Gulen contra
Erdogan, teria vindo do topo. Outros membros do movimento (e não membros)
poderiam ter sido levados a participarem de algo que não entendiam. No entanto, o
apoio de Gulen não está formalmente organizado [...].
p) No dia 21 a 31 de agosto de 2016
T4, EUA, Erdogan (ø), ep, ai.
(FOLHA DE S. PAULO, 25/08/2016, p. A15): EUA pedem a Ancara paciência quanto
a extradição de clérigo. Em visita à Turquia, Biden diz que advogados estão avaliando o
pedido do país sobre rival. "Nossos especialistas jurídicos estão trabalhando neste
momento com suas contrapartes turcas na produção e avaliação de evidências que
precisam ser apresentadas a uma corte americana em respeito aos requerimentos de
nossa lei para o tratado de extradição", disse Biden. "Não temos nenhum, nenhum,
nenhum interesse em proteger alguém que tenha feito mal a um aliado. Nenhum",
completou o americano. “Mas precisamos respeitar o procedimento legal."
T4, EUA, Erdogan (-), Gulen (-), ep, ojr The Economist.
(O ESTADO DE S. PAULO, 31/08/2016, p. A14): Ao ameaçar promover
realinhamento da Turquia com a Rússia, Erdogan age como cão que ladra, mas não
morde. Na quarta-feira, o vice-presidente dos EUA, Joe Biden, esteve no local para se
desculpar com Erdogan pelo fato de os americanos não terem demonstrado mais
solidariedade com a Turquia nos dias que se seguiram ao golpe. Biden se esforçou ao
máximo para emendar as coisas. Comparou a tentativa de golpe com os atentados de 11
140
de setembro de 2001 nos EUA, disse lamentar não ter visitado antes e prestou
homenagem às vítimas do dia 15. Pesquisas mostram que a grande maioria dos turcos
acredita que os EUA tiveram alguma participação no episódio. A relutância dos
americanos em prender Gulen explica, em grande medida, o porquê dessa crença. A
seita de Gulen, conhecida como cemaat, administra uma rede global de escolas,
entidades filantrópicas e empresas, além de ter colocado seguidores seus em todos os
escalões da burocracia turca. O movimento era aliado de Erdogan e de seu Partido
Justiça e Desenvolvimento (AKP) até os dois grupos se desentenderem, em 2013. Os
turcos estão exasperados com a reação do Ocidente ao golpe, e a maioria deles suspeita
que os americanos apoiam a cemaat.
141
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Na valência total de Erdogan, obtiveram-se 68,1% (113 notícias) negativas, 28,
9% neutras (48 notícias) e 3 % positivas (5 notícias); enquanto que a de Gulen foi de
86,1% neutras (143 notícias), 7,2% positivas (12 notícias) e 6,6% negativas (11
notícias) (Gráficos: D1, D2 e E1, E2).
Possíveis motivos de Erdogan ter muitas avaliações negativas podem ser i.
Todas as notícias que foram publicadas sobre a Turquia de uma forma ou de outra
trataram um assunto sobre Erdogan ou do governo AKP, isso fez com que Erdogan
tivesse muitas avaliações; ii. Ainda nas primeiras horas do golpe, foram expurgados
mais de 2700 juízes promotores. Isso gerou uma reação negativa e criou uma impressão
de que Erdogan iria utilizar o golpe como um pretexto ideal para a remoção da oposição
e subordinação do Judiciário. Nos demais dias, o número de expurgo, sem provas,
contra professores, acadêmicos e jornalistas concretizou as dúvidas sobre a intenção de
Erdogan, pois naturalmente, no contexto de um golpe militar, espera-se ser punido
majoritariamente os militares não judiciários ou professores. iii. A percepção sobre
Erdogan, desde 2002, tanto no mundo quanto no Brasil mudou no decorrer dos anos.
Quando ele assumiu o primeiro mandado tinha dúvidas sobre suas raízes islâmicas,
sucessos na economia turca, boa relação com a União Europeia, demonstração da
convivência do Islã com valores Ocidentais. A posição durante a Primavera Árabe pró-
democracia e o acordo nuclear com Irã-Brasil-Turquia trouxeram uma certa simpatia e
um olhar positivo, mas, ultimamente, as Manifestação Juninas simultâneas de 2013 no
Brasil e na Turquia e a desproporcional opressão de Erdogan contra os defensores do
meio ambiente do parque Gezi, além das intenções de alteração da Constituição para
mudar o sistema parlamentar para presidencialismo, criaram uma percepção negativa.
Em suma, ele teve uma percepção duvidosa, positiva, mas, por fim negativa.
Os possíveis motivos de Gulen ter muitas avaliações neutras podem ser: i. Até
2013 (processo de corrupção 17/25 de dezembro), Gulen não apareceu nesse nível na
imprensa brasileira, por isso, ele não tem um histórico negativo ou positivo
anteriormente; ii: Apesar de não ter muita informação e conhecimento sobre o MH e
Gulen, as atividades sempre foram associadas com diálogo inter-religioso, centros
142
culturais, escolas e universidades de alta qualidade. Isso cria um certo receio de não
julgar rapidamente; iii: Ser oposição diante de um líder que, mundialmente foi
condenado pelas posturas autoritárias, faz com que o MH (como maior oposição) não
atraia muitos raios; iv: Desde 1999, Gulen vive nos Estados Unidos e o MH possui
atividades nos países ocidentais. O pedido de extradição de Gulen fez com que Erdogan
ficasse numa situação menos favorável diante dos países democráticos e ocidentais,
pois, os Estados Unidos pediram provas de envolvimento de Gulen, contudo, as provas
não foram publicamente divulgadas, tanto os Estados Unidos, como os outros países da
Europa não foram convencidos sobre a autoria de Gulen na tentativa de golpe. Isso pode
ter encorajado avaliações negativas sobre Erdogan e neutras sobre Gulen.
Os jornais analisados tiveram discursos similares em alguns aspectos: Turquia,
Erdogan e Gulen: todos os jornais enfatizaram a importância da Turquia. “Trata-se de
potência regional e membro da Otan com papel crucial na guerra que se desenrola na
vizinha Síria, seja como linha de frente dos ataques contra o Estado Islâmico, seja como
principal destino dos milhões de refugiados do conflito”59. “O projeto turco, de uma
potência regional de maioria muçulmana, sustentado por um regime democrático e uma
economia próspera, é fundamental para a ordem mundial”60.
Desde o primeiro dia, a cobertura dos jornais procurou o contato dos brasileiros
que estavam na Turquia. Entre eles, o ministro da Cultura, Marcelo Calero; a Gestora
Cultural do Iphan (Célia Corsino); o jogador de futebol (volante Souza); a turista (Ana
Souza); a artista (Camila Rocha); o estudante (João Nogueira); os jornalistas (Victor
Pascual-TRT, Luana Garcia). Com esse contato, objetivavam um contato direto para
descreveram a situação do país de maneira mais próxima.
Desde o primeiro dia os seguidores e as instituições do MH forneceram as
informações sobre eles (MH), atividades e responderam às acusações. No decorrer do
período, o Consul Geral da Turquia e Embaixador turco manifestaram a narrativa do
governo turco.
59 Disponível em: Folha de S. Paulo, 19/07/2016, editorial. 60 Disponível em: O Globo, 19/07/2016, editorial.
143
Os três jornais não esqueceram a repressão das manifestações de Gezi em 2013,
referindo a escalada do autoritarismo de Erdogan.
Estranhezas no golpe chamou atenção de todos os jornais. A rapidez das prisões
dá sinais de que listas de opositores já estariam prontas antes mesmo da tentativa de
golpe. “Parece que havia algo preparado”, (O Globo, 19/07/2016). Em matéria de
golpes, o que ocorreu na Turquia é um exemplo interessante de incompetência: não se
observou nenhuma tentativa séria para capturar ou derrubar a liderança política, nenhum
líder pronto para assumir o controle, nenhuma estratégia de comunicação (ou mesmo
conhecimento da mídia social) e uma incapacidade total de mobilizar uma massa crítica
no âmbito das Forças Armadas e da sociedade (O Estado de S. Paulo, 19/07/2016).
Os expurgos rápidos foram muito criticados. “Como ele sabia quem demitir em
um dia?” (O Estado de S. Paulo, 21/07/2016). Muitos se perguntaram como o governo
conseguiu identificar tão rapidamente tantos supostos traidores. A resposta, segundo
autoridades turcas, é que eles vinham preparando isto há anos. (Folha de S. Paulo,
30/07/2016).
Frase de Erdogan como: "Essa rebelião é um presente de Deus para nós, porque
será uma razão para limparmos nossas Forças Armadas" foram publicadas e
interpretadas pelos analistas apontando que o golpe deve dar o espaço necessário para
que Erdogan aumente seu poder. "Essa rebelião é um presente de Deus para nós. porque
será uma razão para limparmos nossas Forças Armadas" afirmou Erdogan (Folha de S.
Paulo, 17/07/2016). “O presidente turco chegou a classificar o motim como um
"presente de Deus" para limpar as Forças Armadas. Erdogan, porém, é considerado um
líder autoritário, que tenta introduzir preceitos islâmicos à ordem constitucional do país”
(O Globo, 19/07/2016). Erdogan insiste em transformar a Turquia de uma democracia
parlamentar em uma “presidência executiva”, assumindo um poder sem controles.
Nesse contexto, sua recente declaração, de que o golpe fracassado foi uma “dádiva de
Deus”, é ameaçadora. (O Estado de S. Paulo, 27/07/2016). “Erdogan aproveitou a
oportunidade para implementar o que ele chama de "nova Turquia" um país islâmico
que rompe com o passado secular inaugurado por Mustafa Kemal Ataturk, o fundador
da Turquia moderna”.
144
Os jornais citaram os “EUA e a UE desconfiam do governo cada vez mais
islâmico de Erdogan e de sua lealdade na luta contra o terrorismo” (Folha de S. Paulo,
29/07/2016).
No jornal O Globo e Estadão foram publicadas notícias sobre Erdogan do
assemelhado comportamentos e meios de Hitler. “Prática usada por Hitler ao se
aproveitar do incêndio do Parlamento alemão em 1933” (O Globo, 06/08/2016). “A
Turquia se consolida ao lado da Venezuela e da Rússia de hoje, e da Alemanha e da
Itália dos anos 30, como laboratório de um desconcertante experimento: a incursão no
autoritarismo pela via democrática.” (O Estado de S. Paulo, 31/07/2016, A 14).
Os especialistas, colunistas comentaram que, o "gulenismo" oferece o pretexto
ideal para perseguição de todos os opositores. (Folha de S. Paulo, 19/07/2016). Os
gulenistas estão presentes em vários setores da sociedade turca, o que significa que
alguns deles provavelmente participaram da tentativa sem o movimento em si ter sido
responsável por ele. Mas “Erdogan usará o mote “seguidores de Gulen” como uma
narrativa para refazer os militares, o Judiciário, a educação superior, a burocracia, a
mídia e até a mídia social à sua imagem” (Folha de S. Paulo, 19/07/2016). “Erdogan
não irá só atrás legitimamente dos golpistas, mas também atacará ainda mais os
dissidentes na medida em que fazer oposição a ele será comparado conspirar para o
golpe” (Folha de S. Paulo, 19/07/2016).
Desde 1999, Gulen vive nos Estados Unidos, as autoridades americanas
recusaram extraditá-lo, a despeito de vários insistentes pedidos de Erdogan. Autoridades
americanas afirmam que irão extraditar Gulen se receberam provas claras de seu
envolvimento na tentativa de golpe. Pelas matérias, a posição dos americanos foi
considerada importante motivo da crise entre Turquia e EUA.
Discussão de pena de morte, suspenção de CEDH, declaração de estado de
emergência, expurgo em massa, fechamento de veículos de comunicação, criaram fortes
reações pelas instituições da União Europeia. Foi abertamente declarada que a Turquia
pode esquecer a adesão ao EU, se aprovar a volta da pena de morte. A Turquia enviou
listas de seguidores de Gulen, -acusando-os como terroristas- que residem na Europa e
145
pediu extradição e banimento das atividades do MH. A Europa negou esses pedidos e
esses fatores foram frequentemente analisados nas matérias.
Foi bastante comentado que a Rússia aproveitou o afastamento da Turquia com
os EUA e da EU. “Moscou utiliza de forma calculada o isolamento internacional de
Erdogan na fase do golpe e contragolpe par alcançar dois objetivos pontuais: distanciar
a Turquia da Europa e debilitar a coesão da OTAN”. (Folha de S. Paulo, 22/08/2016).
Dia 30 de agosto é a data final da guerra de independência liderada por Atatürk,
e tradicionalmente esse dia anunciava nova hierarquia e promoções. O motivo de definir
a data final de (31 de agosto) foi abranger a reflexão do resultado da tentativa
fracassada. Não foi preciso esperar até essa data, pois as mudanças foram anunciadas no
dia 29 de julho. “Erdogan quer inteligência e militares sob comando”. Após mais de
cinco horas de reunião do Conselho Militar Supremo, uma autoridade turca disse a
jornalistas que o presidente Recep Tayyip Erdogan pretende colocar as Forças Armadas
e agência nacional de inteligência sob o controle da Presidência. (Folha de S. Paulo,
29/07/2016). “O chefe das Forças Armadas, general Hulusi Akar, será mantido em seu
cargo. Mas outros postos importantes passarão por mudanças. O governo turco ordenou,
por decreto, destituir 149 generais e almirantes, 40% de todos os militares dessa
categoria. O decreto foi publicado no diário oficial, citando o estado de emergência
proclamado na semana passada. Segundo a agência de notícias Anadolu, a ordem
pretende afastar do Exército todos os militares “que sejam membros da organização
terrorista de Fethullah Gulen ou tenham vínculos com ela” (O Estado de S. Paulo,
29/07/2016).
Junto com as expulsões, o governo turco anunciou no Diário Oficial as
mudanças na estruturado Conselho Militar Supremo. No mesmo decreto, Erdogan ainda
submeteu as Forças Armadas ao controle do Ministério da Defesa e deu a si e ao
primeiro ministro, Binali Yildirim, o poder de dar ordens diretas aos militares sem
passar pela aprovação de outras autoridades. Os militares também perderam o controle
de hospitais, repassados ao Ministério da Saúde, e tiveram as instituições de ensino
fechadas. Em seu lugar, o governo criará uma universidade única para formar oficiais
das Forças Armadas, da Polícia Nacional, da Guarda Nacional e da Guarda Costeira. O
146
reitor desta nova instituição será apontado de forma direta pelo presidente. (Folha de S.
Paulo, 01/08/2016).
O Governo de Erdogan refaz Forças Armadas. O Conselho Supremo Militar terá
agora uma grande maioria de membros civis e, em vez de contar com 14 militares e 2
ministros, como era até agora, será composta por 11 cargos civis e 4 militares. Além
disso, presidente e primeiro-ministro poderão dar diretamente ordens aos comandantes
das diversas forças e será simplificado o sistema de promoção, até o ponto que um
sargento possa ser nomeado general (O Estado de S. Paulo, 02/08/2016).
Este trabalho teve como escopo analisar a cobertura da tentativa de golpe
fracassado na Turquia, nos três jornais brasileiros: Folha de S. Paulo, O Estado de S.
Paulo, O Globo. Os jornais, de modo geral, fizeram avaliação negativa sobre Erdogan e
neutra sobre Gulen. As agências de notícias definiram a pauta da Turquia e os jornais
aproveitaram muitos informes de agências de notícias. Mas tanto pela quantidade
quanto pela qualidade houve muitas análises nos jornais analisados. Desde o primeiro
dia da tentativa de golpe houve contato direto com as fontes primárias. Renomados
colunistas, correspondentes, jornalistas e acadêmicos brasileiros fizerem análises, não
menos previsíveis do que as agências de notícias. Sendo assim, há uma subestimação
do poder do jornalismo brasileiro e da capacidade dos profissionais da área em
“considerar que não estão produzindo suas próprias análises”.
a) A cobertura da Folha de S. Paulo
Durante o período da pesquisa, 47 dias, a Folha de S. Paulo apresentou 50
notícias sobre a tentativa fracassada de golpe de 15 de julho de 2016. Nessas notícias,
Erdogan foi personagem de 49 matérias. Em 33 delas, ele dividia o protagonismo do
texto com Gulen. O jornal Folha de S. Paulo publicou ainda, no total, 21 fotos durante o
período de pesquisa, 11 delas foram sobre a tortura aos militares da tentativa de golpe,
manifestações e resistência do povo turco, imagens dos jornalistas presos. (Gráfico: A).
Erdogan teve 5 aparições positivas e uma neutra. Já Gulen teve 3 aparições positivas e
uma negativa. (Anexos: XII e XV). A valência de Erdogan foi 66% (33 notícias)
negativa, 28% neutra (14 notícias) e 6 % positiva (3 notícias); enquanto as de Gulen
147
foram 98% neutro (49 notícias) e 2% negativo (1 notícia) (Gráficos: 1.6 e 1.5). As três
notícias positivas sobre Erdogan foram publicadas no dia 16 de julho, (FOLHA DE S.
PAULO, 16/07/2016, p. A8); no dia 25, as manifestações pró Erdogan (FOLHA DE S.
PAULO, 25/07/2016, p. A10) e o artigo do Ministro de Relações Exteriores da Turquia,
(FOLHA DE S. PAULO, 10/08/2016, p. A2); de negativo sobre Gulen foi publicado um
artigo. A maior porcentagem de notícias positivas sobre Erdogan e notícias neutras foi
publicada na Folha. Na cobertura do periódico, 60% das matérias (30) foram produzidas
pelos recursos nacionais61. Entre eles, 9 matérias foram elaboradas pelos colunistas,
Clovis Rossi (4), Hussein Kalout (7), Patrícia C. Mello (1), Helio Swartzman (1). Clovis
Rossi fez análises da relação de Erdogan e Gulen com status quo. Hussein Kalout não
citou nenhuma vez Gulen nem o MH; fez análises sobre novo design do Oriente Médio
e as relações com o Oriente e o Ocidente. Patrícia C. Mello avaliou as relações da
Turquia com a Europa e os Estados Unidos. Helio Swartzman traçou semelhanças entre
Erdogan e os presidentes Putin e Maduro. Ainda, 7 matérias foram enviadas pelo
correspondente de Madri Diogo Bercito. A jornalista Luísa Pessoa fez uma entrevista
via e-mail com Gulen, e trouxe a narrativa de Gulen e esclarecimentos pelo clérigo.
(Gráficos:1.1 e 1.7 e anexo XXI).
O jornal fez uma cobertura muito crítica durante todo processo de expurgos, prisão dos
jornalistas e fechamento de veículos de comunicação. Depois da citação do nome de
Gulen, em 22 ocasiões foram colocados que “ele nega qualquer envolvimento com a
tentativa de golpe”.
b) A cobertura de O Estado de S. Paulo
O Estado de S. Paulo usou “Gulen nega envolvimento” pela primeira vez no dia 29 de
julho. Durante o período de pesquisa, 47 dias, o jornal O Estado de S. Paulo apresentou
63 notícias sobre a tentativa fracassada de golpe de 15 de julho de 2016. Nessas
notícias, Erdogan foi personagem de 60 matérias. Em 45 delas, ele dividia o
protagonismo do texto com Gulen. O jornal O Estado de S. Paulo publicou, no total, 24
fotos durante o período de pesquisa, 15 delas foram sobre as manifestações e resistência
do povo turco, militares torturados. Erdogan teve 6 aparições positivas. Já Gulen teve
uma aparição positiva e uma negativa e uma neutra. (Anexos -XIII e XVI). A valência
61 Primeira página, editorial, jornalista brasileiro, colunista, correspondente, especialista/acadêmico,
blogs.
148
de Erdogan foi 63,5 % (40) negativa, e 36,5% (23) neutro, enquanto que a de Gulen foi
77,8% (49) neutro, 11,1% (7) positivo e 11,1% (7) negativo. (Gráficos: 2.6 e 2.5). A
maior porcentagem de notícias neutras sobre Erdogan e positivas e negativas sobre
Gulen foram publicados pelo Estadão. Na cobertura do periódico, 52,4% das matérias
(33) foram de origem nacional, 13 matérias foram elaboradas pelos correspondentes de
Genebra, Jamil Chade, e de Paris, Andrei Netto. Guga Chacra apesar de não escrever no
jornal, desde o primeiro dia, publicou 4 artigos no blog do Estadão e tentou facilitar o
que estava acontecendo na Turquia e quem eram os protagonistas. Lourival Sant’anna
escreveu uma coluna e publicou um artigo no blog, analisou as políticas
contemporâneas de Erdogan e a relação dele com Gulen. Lourival e Patrícia Campos
Mello deram referências de Sahin Alpay, jornalista veterano (atualmente preso) turco,
sobre a autoria do golpe. Lourival também assemelhou Erdogan com o presidente Putin
da Rússia e o presidente Maduro da Venezuela. Gilles Lapouge possui uma coluna no
Estadão e, ao mesmo tempo, ele é correspondente de Paris. Ele acusou Erdogan de ter
realizado dois sonhos, ser califa e substituir Atatürk. Gilles fez críticas duras sobre
Gulen e MH acusando-os de serem uma “confraria secreta”. O Estadão publicou uma
maior quantidade de artigos (10) do que os outros jornais e revistas, um deles escrito
pelo próprio Gulen. (Gráficos 2.1, 2.7 e Anexo XXII). O jornal fez uma cobertura muito
focada na relação do Oriente com o Ocidente e sobre o autoritarismo crescente de
Erdogan; não foi feita nenhuma avaliação positiva sobre Erdogan.
c) A cobertura do Jornal O Globo
Durante o período de pesquisa, 47 dias, o jornal O Globo apresentou 53 notícias sobre a
tentativa fracassada de golpe de 15 de julho de 2016. Nessas notícias, Erdogan foi
personagem de 51 matérias. Em 36 delas, ele dividia o protagonismo do texto com
Gulen. O jornal O Globo publicou, no total, 27 fotos durante o período de pesquisa, 15
delas foram sobre manifestações e resistência do povo turco contra o golpe, os militares
torturados, comunidade turca no Brasil. (Gráfico: A). Erdogan teve 9 aparições
positivas. Já Gulen teve 3 aparições positivas. (Anexos: XIV e XVII). A valência de
Erdogan foi 75,5 % (40) negativa, 20,8 % (11) neutra e 3,8% (2) positiva, enquanto a de
Gulen foi 84,9% (45) neutra 9,4% (5) positiva e 5,7 (3) negativa. (Gráficos: 3.6 e 3.5).
A maior porcentagem de notícias negativas sobre Erdogan foi publicada no jornal O
Globo. Na cobertura do periódico, 41,5% das matérias foram produzidas pelos recursos
149
nacionais. A maior quantidade de especialistas e acadêmicos (7) escreveram sobre o
assunto sob diferentes óticas. Sendo assim, 5 editoriais chamaram atenção sobre a
preocupante islamização da Turquia e o autoritarismo de Erdogan. Demetri Magnoli
enfatizou as mudanças na Europa e fez análises sobre as políticas de Erdogan. O
Senador Cristovam Buarque deu ênfase a narrativa de Gulen e MH. A corresponde de
Berlim, Graça Ruether, escreveu 2 artigos sobre o assunto. (Gráficos:3.1, 3.7 e Anexo
XXIII). O Globo apresentou, percentualmente, um número maior de matérias com
enquadramento de avaliação crítica. Referido jornal também publicou o maior número
de editoriais (5); desde o início demostraram maior preocupação e manutenção das
tradições seculares do país da Turquia e a introdução de preceitos islâmicos na
Constituição. Ainda no dia 16, O Globo condenou Erdogan com intenções de ser o novo
Sultão publicando o título: Na contramão do secularismo, 'sultão' colecionou desafetos,
novamente colocando questão de secularismo. [...] "sultão neo-otomanista “-ou seja
inimigo do secularismo-, (O GLOBO, 16/07/2016, p.27).
150
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