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1/71 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” CAMPUS DE GUARATINGUETÁ DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ELÉTRICA Mudança comportamental e educação para eficiência energética Prof. Dr. Kaster Carrara Departamento de Psicologia UNESP Campus de Bauru Prof. Dr. Wilson M. Yonezawa Departamento de Computação UNESP Campus de Bauru Prof. Dr. Leonardo Mesquita Departamento de Engenharia Elétrica UNESP Campus de Guaratinguetá Prof. Dr. Galeno José de Sena Departamento de Matemática UNESP Campus de Guaratinguetá Prof. Dr. Silvio Henrique Fiscarelli Instituto de Química UNESP Campus de Araraquara Me. Fábio Esteves da Silva Doutorando em Energia UNESP Campus de Guaratinguetá

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Mudança comportamental e educação para

eficiência energética

Prof. Dr. Kaster Carrara

Departamento de Psicologia – UNESP Campus de Bauru

Prof. Dr. Wilson M. Yonezawa

Departamento de Computação – UNESP Campus de Bauru

Prof. Dr. Leonardo Mesquita

Departamento de Engenharia Elétrica – UNESP Campus de

Guaratinguetá

Prof. Dr. Galeno José de Sena

Departamento de Matemática – UNESP Campus de Guaratinguetá

Prof. Dr. Silvio Henrique Fiscarelli

Instituto de Química – UNESP Campus de Araraquara

Me. Fábio Esteves da Silva

Doutorando em Energia – UNESP Campus de Guaratinguetá

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No contexto das atividades preliminares do Centro Educacional para

Eficiência Energética, criado pelo convênio Nº ECV-291/2009 e tendo por

objetivo viabilizar cooperação técnica e financeira entre

ELETROBRÁS/PROCEL e a UNESP, o presente Relatório de Atividades

objetiva, fundamentalmente, enunciar conceitos, tecnologia comportamental e

estratégias possíveis para intervenção baseadas na literatura científica mais

recente da Análise Comportamental da Cultura. Nessa perspectiva, este

relatório buscará caracterizar, preliminarmente: (1) Quais os fundamentos

teóricos, epistemológicos e metodológicos da Análise do Comportamento no

cenário da Psicologia contemporânea; (2) Em que medida uma linha de

investigação específica dentro da Análise do Comportamento, referenciada no

conceito de Delineamentos Culturais, pode contribuir para a mudança de

repertórios comportamentais de grandes grupos de pessoas – as práticas

culturais – no sentido e com o foco específico relacionado à conservação de

energia elétrica; (3) Quais as condições de participação de pesquisadores,

técnicos e população em geral, potenciais projetos de investigação científica e

intervenção social até aqui concebidos para desdobramentos futuros em ações

a serem apoiadas pelas instituições envolvidas e com a retaguarda do Centro

de Educação para a Eficiência Energética (CEEE); (4) Projeção de implicações

dos programas de pesquisa e intervenção em curto e longo prazo, perspectivas

e recomendações.

Entendemos redundante proceder a um aprofundamento investigativo e

de revisão de literatura para ressaltar a relevância de ações urgentes e

abrangentes, por meio de políticas públicas, visando a conservação de energia

elétrica. Assim como uma série de outros recursos naturais, aqueles, como a

água, diretamente articulados à produção de energia elétrica, são

consensualmente considerados pela população esclarecida como

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imprescindíveis à vida humana. Uma revisão de literatura científica e das

práticas vigentes no Brasil e em outros países vem sendo desenvolvida

sistematicamente no contexto da Linha 1. Em decorrência, toma-se como ponto

de partida, nesta linha de pesquisa, a existência inequívoca de consenso entre

técnicos, pesquisadores e dirigentes a respeito da necessidade, pertinência e

relevância do desenvolvimento de estratégias apoiadas em conceitos

científicos bem apoiados em dados e critérios de avaliação de eficiência

estratégica visando a conservação de energia elétrica. Por tais razões, passa-

se, neste relatório preliminar, a enfocar diretamente o contexto e características

dos delineamentos culturais voltados a subsidiar políticas públicas

preocupadas com a mudança do comportamento da população em relação à

utilização de energia elétrica em seus afazeres cotidianos.

Da Psicologia à Análise do Comportamento

Parece ao leigo que a Psicologia é uma área de conhecimento, de

investigação, de estudo e de intervenção bastante consensual. O pensamento

livre na “folk psychology” (ou “psicologia popular”, “psicologia folclórica) é o de

que temos uma espécie de ciência que tem um método, estratégias, tecnologia

e uma lógica única e compartilhada entre os profissionais que nela atuam.

Nada mais equivocado. De fato, a constituição e caracterização da Psicologia

sempre dependeram de um conjunto de pressupostos epistemológicos e

filosóficos adotados preliminarmente pelos profissionais. A título de exemplo,

podem-se encontrar muitas divergências em relação à concepção da

“natureza” humana adotada (trata-se de um ser passivo, ativo ou interativo em

relação ao seu ambiente?), em relação à própria finalidade da Psicologia em

questão (pretende essa área, disciplina ou ciência ocupar-se da consciência,

do inconsciente, da cognição ou do comportamento humano?) e mesmo em

relação às técnicas e estratégias propriamente ditas e empregadas na atuação

do psicólogo (pretende ele mudar “personalidade”, “consciência” ou

“comportamento” ?). Como se pode depreender desse singular exemplário de

situações e contextos, a Psicologia não é, de fato, consensual.

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Parte significativa do público leigo apreende a ideia de Psicologia no seu

sentido etimológico original, ou seja, de que se trata de uma “ciência” ou “área

de estudo” interessada em desvendar, estudar, esclarecer os fenômenos da

“alma” (psique ou “psyché”). Conceber a Psicologia como constituída da

interação entre duas instâncias, dimensões ou substâncias (corpo e “alma”)

parece ter sido, historicamente, a solução mais fácil (ou possível) para tentar

descrever, explicar e/ou interpretar as atividades humanas (e, por extensão, de

todos os organismos vivos, respeitadas suas diferenças filogenéticas). Tal

compreensão conservadora da Psicologia implica uma visão dualista das ações

humanas: um corpo em constante interação com uma “alma” (alma essa que,

resumida e simplificadamente, com o avanço dos estudos e discussões sobre o

assunto, é hoje frequentemente reconhecida como sendo representada pela

“mente”). Essa compreensão arcaica tem vários motivos, sempre interligados,

para ter prosperado e para permanecer, ainda hoje, como uma concepção

reconhecida por várias mediações teórico-epistemológicas da Psicologia.

A título de exemplo, pode-se mencionar: 1) ao longo da história da

própria Psicologia parece ter constituído difícil missão assimilar qualquer

possibilidade de um modelo monista de homem (um modelo em que “alma” –

ou “mente” - e corpo sejam constituídos de uma mesma e intercambiável

substância, de natureza material e física); essa dificuldade se apoiou, de início,

na influência corporativa da intensa dependência econômica, social e

administrativa da população em relação às instituições detentoras do poder

político, então centrado em representantes de algumas organizações

religiosas; 2) o desenvolvimento científico, em diversas áreas de conhecimento

(Biologia, Física, Psicologia) tem sido alvo de grande resistência que decorre

do primeiro motivo, ou seja, a humanidade tem preservado a custo muito alto a

ideia de que cabe ao homem um papel central na natureza; de que,

consequentemente, a ele pode ter sido dada outra origem que não a explicitada

pelos evolucionistas darwinianos; de que, para além da existência física

mundana haveria uma outra dimensão posterior a tal existência, representada

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pela permanência eterna da “alma”; 3) uma prática cultural fortemente

estabelecida de busca por explicações referenciadas num mundo imaterial ou

de materialidade distinta do corpo, daí, na Psicologia, continuarem a vigorar as

designadas concepções “mentalistas”.

Nessa perspectiva, como já mencionado e a título de resumo, como

empreendimento que pretende ter um caráter científico, a Psicologia defronta-

se, há certo tempo (pouco mais de um século), com os embates relacionados à

sua própria natureza. Por exemplo, será objeto da Psicologia: 1) estudar a

consciência humana? 2) estudar a alma humana? 3) estudar a personalidade?

4) estudar o comportamento? 5) estudar a cognição 6) estudar as atividades

corporais?

Muitas discussões, muitos debates e muitos artigos sobre temas

correlatos às perguntas básicas aqui formuladas têm sido veiculados ao longo

do último século. Para os propósitos presentes, tomemos algumas referências

que, inevitavelmente, já por terem sido selecionadas, representam apenas uma

fração – suposta aqui, todavia, representativa – de uma das mediações teórico-

epistemológicas e, também, metodológicas, possíveis na Psicologia.

Nesse sentido, uma publicação seminal foi veiculada já em 1913 pelo

psicólogo norte-americano J. B. Watson, no periódico Psychological Record.

Watson propunha, no seu artigo “Psychology as the behaviorist views it”, uma

nova forma de conceber o estudo das ações humanas: o Behaviorismo. Para

esse autor, a proposta do Behaviorismo implicava duas mudanças substanciais

na Psicologia. Por um lado, o objeto de estudo escolhido era o comportamento

(dos seres vivos em geral), em substituição à consciência e outras instâncias

“mentalistas”; por outro, a estratégia metodológica passaria a ser a observação

(do organismo, nas suas interações com o ambiente, via comportamento), em

contrapartida à então vigente estratégia da introspecção. Nesse mesmo artigo,

que passou a ser conhecido como o “manifesto behaviorista”, Watson tratava

de várias outras questões do entorno da Psicologia, propondo que a nova visão

implicasse uma filiação à Biologia, que se buscasse um conjunto de estratégias

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de pesquisa baseadas em bons critérios de objetividade, que o conceito de

interações entre organismos biológicos e ambiente teria como consequência a

necessidade de pesquisas empíricas mediante controle rigoroso de variáveis

estranhas. Ou seja, Watson propunha o Behaviorismo como uma forma de

“Psicologia” (entre aspas porque certamente não se tratava mais de um “estudo

da alma”, como concebia a velha Psicologia) que inspirava um modelo

puramente objetivo e experimental vinculado à Biologia e, mais estritamente,

aos parâmetros de uma ciência natural (tendo como modelo fundamental os

rigores metodológicos equivalentes aos da Física, por exemplo).

Entretanto, a proposta original de Watson viria a ser aperfeiçoada por

outros pesquisadores. Já a partir de 1930, considerando que o modelo

watsoniano ainda permanecia eivado de algumas influências dualistas, que

Watson mantinha explicações confusas e praticamente excluía de

consideração os eventos privados (o pensamento, por exemplo), outro

pesquisador importante começa a apresentar um programa de pesquisas, mais

tarde consolidadas na proposição de uma ciência por ele designada como

Análise Experimental do Comportamento e está baseada numa filosofia

designada como Behaviorismo Radical: B.F. Skinner. Esse autor, por certo

bastante polêmico durante o transcurso da história da Psicologia em seu

tempo, desenvolveu, com a participação de diversos colaboradores, um grande

número de pesquisas empíricas sobre muitos tipos de relações entre

organismos biológicos e ambiente (químico, físico, biológico, social).

Identificou, reiteradamente, que os comportamentos são especialmente

sensíveis às consequências, de modo que o seu modelo paradigmático de

ciência está apoiado na ideia do que chamou de tríplice relação de

contingências: uma relação entre eventos antecedentes – comportamento –

consequências. Os eventos antecedentes ao comportamento são quaisquer

acontecimentos, aspectos, partes do ambiente (físico, naturalmente, já que o

Behaviorismo Radical é monista e fisicalista) que, de alguma maneira, sirvam

como condições diante das quais, se um comportamento é emitido, então sua

consequência se apresenta menos ou mais provável de acontecer. Essas

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relações de dependência (se... então) entre comportamento e seus eventos

antecedentes e consequentes é designada, na Análise do Comportamento,

como contingência. Isto quer dizer que a probabilidade de ocorrência dos

comportamentos é maior ou menor dependendo do arranjo de contingências

que elaboramos, que construímos, que planejamos para que tal

comportamento ocorra. A contingência, portanto, constitui-se na descrição de

uma relação entre comportamento e ambiente (antecedente e consequente).

Da Análise do Comportamento aos Delineamentos Culturais

Skinner, então, propõe, com base em inúmeros estudos científicos com

rigoroso controle de variáveis independentes, dependentes e estranhas, que:

1) O comportamento (entendido, de modo simplificado, como quaisquer

“ações” dos organismos nas suas relações com o ambiente) deve ser o foco

de análise e intervenção; (sugere-se, desde já, que se comece a pensar

que o comportamento do consumidor comum de energia elétrica também

segue os mesmos parâmetros, porque sua ocorrência depende de sua

história particular – e do grupo social ao qual pertence - de interações com

o ambiente químico, físico, biológico e social).

2) É possível um estudo científico do comportamento humano e,

consequentemente, o desenvolvimento de uma tecnologia apropriada para

isso e um conjunto de estratégias de planejamento de como tornar mais

provável ou menos provável o aparecimento, consolidação, mudança de

frequência (duração, magnitude, intensidade) ou extinção de

comportamentos; (sugere-se começar a refletir, então, sobre a possibilidade

de planejamento estratégico de ações, que chamamos tecnicamente de

delineamentos culturais, quando aplicado a um grupo social, conjunto de

pessoas, comunidade, cultura, sociedade);

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3) Quando estamos interessados na mudança do comportamento de um único

indivíduo, buscamos auxílio no arranjo de contingências (que é um

delineamento, um plano de ação para mudança dos eventos antecedentes

e consequentes para o comportamento individual, que tem uma história

particular para cada um de nós, para cada indivíduo – é o exemplo dos

casos clínicos: a história de vida é particular e o rearranjo de contingências

depende de tal história para receber alguma intervenção planejada para

uma instância individual);

4) Quando estamos interessados na mudança de comportamento de um grupo

de pessoas (de duas ou mais pessoas nas suas relações interpessoais ou

nas suas relações comuns ou compartilhadas com o contexto ambiental em

que vivem), estamos falando de uma intervenção social, uma intervenção

na comunidade, um delineamento cultural (tecnicamente falando); já se

pode perceber que deve ser este o nosso foco quando buscamos atender

aos objetivos da eficiência energética: direta e objetivamente, o que

estaremos buscando é que haja uma ampliação de frequência de

ocorrência (uma medida concreta das predições probabilísticas) dos

comportamentos “ecologicamente corretos” (no limite, que garantam

sustentabilidade) e uma redução da frequência de ocorrência (também uma

medida concreta das previsões probabilísticas) dos comportamentos

“ecologicamente inadequados”. Ou seja, quando elaboramos um

delineamento cultural, estamos fazendo uma proposta com base empírica

referenciada na literatura científica, de uma intervenção abrangente, que

deve alcançar significativo número de pessoas, que deve abranger grupos

sociais importantes. E que busca trazer resultados mensuráveis que são

aferidos mediante o cotejamento de dados anteriores e posteriores à

intervenção, seja diretamente (pela observação e registro dos próprios

comportamentos), seja indiretamente (pela observação e registro dos

subprodutos do comportamento: os registros escritos de níveis de consumo

energético, no nosso caso de interesse atual).

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5) Pode-se resumir, então, que não estamos mais diante de uma proposta da

Psicologia tradicional que acredita (como, por vezes, assim podem crer

muitos leigos) que a “conscientização” da população mediante campanhas

de esclarecimento seja suficiente para conseguir substanciais mudanças de

comportamento. A título de exemplo, observe-se que não funcionam

completamente quaisquer das campanhas de “conscientização”, embora se

tenha uma mudança parcial de comportamento: por exemplo, de combate à

dengue (estamos todos “conscientizados” de que se não cuidarmos dos

recipientes com água “parada”, ocorrerá a reprodução do aedes egipty,

aumentará a probabilidade de contaminação, etc. – a população, apesar de

“conscientizada” pelas campanhas, não atua concretamente pró-mudança);

no combate à AIDS (os efeitos de uma “conscientização” têm sido

duradouros apenas na medida em que consequências concretas são

tornadas muito visíveis para a população – a punição é a própria

possibilidade de morte); as campanhas anti-tabaco (antes, dizer que fumar

fazia mal à saúde tinha quase nenhum efeito, porque tratava de que

“provavelmente as pessoas teriam problemas de saúde se fumassem”;

depois disso, com as campanhas mostrando, nos maços de cigarro, quase

“simbolicamente”, os efeitos via estampas nos maços de cigarro,

diminuíram um pouco mais os fumantes; entretanto, talvez apenas medidas

que exponham os fumantes às consequências reais, imediatas e concretas

do comportamento de fumar possam implicar efeitos mais drásticos nas

estatísticas); do mesmo modo, todos estamos “conscientes” da importância

de uma série de medidas que as agências responsáveis pela produção e

distribuição fazem em relação à eficiência energética. Isso constitui uma

parte importante do empreendimento a ser feito, mas é apenas parte da

tarefa. “Saber” ou “estar consciente” de que é necessário economizar água,

petróleo, energia elétrica, embora importante, é seguramente insuficiente

para conduzir a população usuária a uma ação concreta de

comportamentos pró-sociais de conservação. Planejar e garantir

consequências para os comportamentos implicados é condição

indispensável num adequado planejamento de práticas culturais.

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6) Sabemos que eficiência energética implica um esforço articulado:

naturalmente, o desenvolvimento de novas tecnologias de produção

energética e a melhoria dos materiais e técnicas de transmissão constituem

providências altamente relevantes; naturalmente, o desenvolvimento e

aplicação dos conhecimentos técnico-científicos em novas estratégias de

exploração de recursos naturais, com a produção de energia limpa e com

preservação das condições ambientais que, no futuro, serão

imprescindíveis para a sobrevivência da espécie humana e de todas as

demais espécies são igualmente importantes. Sabemos, portanto, que

muitas variáveis têm implicações para a eficiência energética. Uma parte

dessas variáveis está implicada, inevitavelmente, nos determinantes do

COMPORTAMENTO HUMANO. Ou seja, uma meta a ser cumprida,

pesquisada, experimentada, com criação de novas tecnologias e com o

desenvolvimento de PROGRAMAS DE ATUAÇÃO concretos é o dos

delineamentos culturais, que devem alimentar e consubstanciar

teoricamente e tecnologicamente as políticas públicas do setor energético.

Em outras palavras, trata-se de um investimento de custo compatível com

seus prováveis resultados, no curto e longo prazo.

7) De modo sucinto, intervenções e pesquisas com esse novo instrumental

teórico-tecnológico implicam, entre várias outras providências de

planejamento detalhado e sistemático: a) seleção dos comportamentos a

serem afetados (por exemplo, comportamentos típicos de conservação de

energia, como os já sobejamente elencados nas cartilhas e manuais das

agências); b) investigação científica direta sobre quais as consequências

ambientais capazes, numa dada população, de ser funcionais para a

instalação, manutenção e/ou mudança dos comportamentos arrolados (por

exemplo, bônus para trocas; novos tipos de lâmpadas; redução de custo de

conta ou benefícios semelhantes; reforçamento social; reconhecimento

público, etc.); c) Programação de contingências: estabelecimento prévio das

condições e ocasiões nas quais os comportamentos serão aferidos, o

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consumo será registrado, as consequências serão liberadas, os resultados

serão divulgados, o follow up será aplicado.

8) Observe-se, também, que estamos falando de programação das

consequências para os comportamentos pró-eficiência energética. Ao fazê-

lo, deveremos estar muito atentos para um aspecto importante: a relação

temporal entre comportamento e consequências. Consequências imediatas

são importantes para manutenção de certo ritmo de “produção” (fluxo

comportamental), mas a finalidade principal de nosso interesse são as

consequências de longo prazo. Para facilmente compreender através de um

exemplo: todos sabemos que a coleta seletiva de lixo conduz a

consequências de longo prazo que implicam a preservação ambiental,

qualidade do ar, da terra, de todos os recursos naturais que, por sua vez,

trazem consequências para a higiene, saúde, preservação das fontes

naturais de condições para a sobrevivência da espécie humana. No

entanto, o ser humano não é capaz, via de regra, de se comportar apenas

por vislumbrar e “compreender” o sentido das consequências de longo

prazo; precisa, objetivamente, receber as consequências de curto prazo

(negativas e temporárias para o jogar o papel de bala na rua, para o deixar

de selecionar o lixo no cotidiano; positivas para os comportamentos

apropriados e inversos, de selecionar e reciclar o lixo, de economizar

energia elétrica, etc.); ou seja, para cada unidade comportamental (que

designamos como resposta na Análise do Comportamento) e, em conjunto,

para todo o repertório comportamental (constituído por esse conjunto de

respostas ou por conjuntos de classes de respostas). Assim, o

Delineamento de práticas culturais para a eficiência energética precisa ser

pensado contemplando consequências de longo prazo e, inevitavelmente e

conforme sobejamente já demonstrado via experimentação, as

consequências imediatas para o comportamento de nosso interesse.

9) Note-se, naturalmente, que embora essa possibilidade (behavior

management) de atuação esteja bastante avançada do ponto de vista

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conceitual, sua tecnologia está em fase de consolidação. Trata-se de um

desenvolvimento científico bastante inovador e que, ao ser aplicado em

projetos apoiados pelas agências, estará testando estratégias que, bem

sucedidas, visam multiplicar-se e transformar-se em políticas públicas

consolidadas para o setor.

10) Note-se, paralelamente, que os desenvolvimentos mais recentes de uma

tecnologia para os delineamentos culturais (que implicam intervenções

sistematicamente planejadas para contingenciar comportamento humano

em situações sociais concretas, como a de busca de eficiência energética)

oferecem exemplos na literatura científica contemporânea que, em paralelo,

tornam transparente a potencialidade desses novos instrumentos de ação.

Breve contextualização da Análise Comportamental da Cultura

A Análise Comportamental da Cultura é um empreendimento marcado

por duas etapas bastante distintas:

(1) a primeira, reportado à obra científica de B. F. Skinner (1904-1990),

composta de mais de 250 trabalhos, entre artigos, livros, capítulos de

livros, entrevistas e material similar, todos voltados à criação,

disseminação e consolidação do que o autor designa como uma ciência

do comportamento: a Análise do Comportamento, propriamente dita.

Essa ciência skinneriana se estabeleceu a partir de uma grande ênfase

dada pelo autor na pesquisa experimental, que nesse caso busca,

pautada na técnica metodológica do delineamento de sujeito único,

estabelecer quais as variáveis determinantes do comportamento dos

organismos vivos, sob diferentes condições. Nesse sentido, Skinner

denominou esse empreendimento de Análise Experimental do

Comportamento, uma vez que buscou, principalmente, a utilização de

animais de laboratório, em sua fase inicial de pesquisa (anos 30 a 60),

pela facilidade de controle de variáveis estranhas e pela possibilidade

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de uma manipulação segura dos valores das variáveis independentes

estudadas, de modo a produzir conhecimento consistente dos valores

das variáveis dependentes examinadas (o comportamento como objeto

de estudo, via de regra). A pesquisa experimental acumulou dados por

longo período de tempo e gerou diversos princípios essenciais à

Análise do Comportamento: reforço, punição, modelagem, modelação,

esquemas de reforçamento, esquiva, fuga, discriminação e muitos

outros. Esses princípios foram testados com humanos em inúmeras

situações e os resultados parecem ter consolidado sua validade para a

descrição e explicação de ampla gama de comportamentos em

situações diversas. A ciência do comportamento sempre esteve

acompanhada de um arcabouço epistemológico bastante consistente,

uma filosofia de ciência que Skinner designou de Behaviorismo Radical,

que constitui, tipicamente, a filosofia que embasa a ciência que é a

Análise do Comportamento. Para além dos princípios testados em

situações experimentais diversas, portanto, os dados de pesquisa

apontam uma lógica permanente entre as diversas situações: a seleção

pelas consequências. Essa lógica implica, de modo simplificado, que

grande parte do comportamento dos organismos é instalada e

consolidada em função das relações desses organismos com seu

ambiente (químico, físico, biológico e social). Ou seja, os

comportamento se estabelecem, se extinguem, mudam sua frequência

ou topografia em função das consequências que produzem no

ambiente. A literatura histórica mostra a criação do Behaviorismo

(clássico) em função do trabalho de J. B. Watson (demarcado na sua

seminal publicação do “manifesto behaviorista” em 1913 – Psychology

as the behaviorist views it) e depois aperfeiçoado por B. F. Skinner a

partir de suas publicações e todo sua produção científica entre 1930 e

1990. O legado maior de Skinner passa a ser a lógica da seleção por

consequências, constatada em milhares de experimentos com outros

animais da escala filogenética e com humanos em inúmeras situações.

Naturalmente, Skinner é conhecido também pela reclassificação que

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faz, pós-Pavlov, do comportamento em dois tipos fundamentais:

respondente e operante, sendo o primeiro afeto às ações reflexas e

transmitidas filogeneticamente pelas respectivas espécies e o segundo

pautado por ações diretas sobre o ambiente, afetando-o e sendo

afetado por este. Skinner se deteve no estudo do comportamento

operante, que abrange a grande maioria de nossas ações no cotidiano,

sendo tipicamente associado, no jargão leigo, a verbos de ação

(caminhar, fazer, brincar, verbalizar, correr, escrever, falar e milhares de

outras possibilidades, cuja topografia e funcionalidade são modeladas

conforme a história particular de cada indivíduo). Importante frisar, para

os propósitos que nos ocupam no momento (a instalação, mudança ou

consolidação de práticas culturais – comportamentos das pessoas em

situação coletiva – dirigidas à eficiência na utilização de energia

elétrica), que Skinner, desde cedo e durante toda a sua carreira (por

exemplo, em sua novela utópica Walden Two, de 1948, assim como no

seu Ciência e Comportamento Humano, de 1953 e em diversos artigos

e outros livros), em buscar a generalidade dos princípios que descobriu

para situações típicas das interações sociais humanas. Em outros

termos, declara consistentemente em sua obra seu propósito

indiscutível de encontrar maneiras pelas quais, através de um exame

científico do comportamento, pudesse derivar formas de controle

comportamental que levassem a resultados construtivos e que

buscassem uma organização social efetivamente voltada para o bem-

estar geral e a justiça social). Nessa perspectiva, a filosofia behaviorista

radical, a partir de Skinner, propõe três níveis de variação e seleção dos

comportamentos: a) nível filogenético (comporto pelo repertório

transmitido entre os membros da espécie – tipicamente reflexos no

comportamento respondente); b) nível ontogenético (composto pelo

repertório elaborado nas interações do indivíduo com seu ambiente,

mas não resultante de herança genética; trata-se do repertório derivado

da seleção pelas consequências presentes no cotidiano das pessoas, o

que lhes permite comportar-se de modo tipicamente individual em cada

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situação, mas sempre sob a mesma lógica válida para todos, ou seja, o

controle decorrente dos efeitos do comportamento sobre o ambiente); c)

nível cultural (composto não mais pelo repertório individualmente

modelado, mas pelo repertório interdependente das pessoas em

situações coletivas de ação, ou seja, no contexto das práticas culturais

(reconhecido no jargão comum como comportamento “social). Por sua

absoluta importância para a questão da conservação de energia elétrica

(e para todas as situações e instâncias onde práticas culturais mais

sustentáveis, efetivas e pró-sociais sejam requeridas), é neste terceiro

nível de seleção e variação que se propõe que se priorizem pesquisas,

disseminação do conhecimento e intervenções concretas via políticas

públicas cientificamente subsidiadas, visando otimizar a variável

“comportamento humano” no contexto aqui examinado.

(2) a segunda etapa do desenvolvimento científico da Análise

Comportamental da Cultura tem seu ponto de partida acontecendo

recentemente (por volta de 1986), mediante literatura pioneiramente

liderada por S. Glenn, que propõe alguns novos conceitos compatíveis

com a obra de B. F. Skinner. Glenn cria e explora o significado do

conceito de metacontingências, que se aplica a situações sociais

complexas. Nesse sentido, segue-se a Skinner, que já trabalhava com o

conceito de contingências, quando propõe o paradigma da tríplice

relação de contingências. Uma contingência, para Skinner, é um

descritor das instâncias relacionais de um comportamento: dito de outro

modo, a maneira pela qual, especificamente, um comportamento está

relacionado com os eventos antecedentes e consequentes à sua

ocorrência pode ser considerado uma contingência. Para Glenn,

diferentemente do que propõe Skinner, no caso dos comportamentos

complexos em situações de grupo, acontece um entrelaçamento entre

comportamentos e contingências, de maneira que se estabelece – em

bases variáveis – uma interdependência entre os comportamentos de

diversas pessoas, representados pelas chamadas práticas culturais.

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Instalar novas práticas culturais (a prática cultural da conservação de

energia elétrica, neste caso) em um número grande de comunidades,

ampliando a abrangência do novo repertório entre componentes de

diversos grupos, é meta das políticas públicas. Todavia, ainda para

além desses pressupostos, os achados científicos em Análise do

Comportamento têm mostrado outras facetas importantes dos projetos

de Delineamentos Culturais a serem levadas em conta. Uma delas,

fundamental, constitui-se no desafio para uma compatibilização efetiva

entre consequências de curto e de longo prazo. Ou seja, os achados de

laboratório de Skinner e os achados de Glenn e colaboradores em

situações culturais típicas, têm demonstrado que esperar que as

pessoas mudem seu comportamento (por exemplo, de típico

“desperdício” para um “uso parcimonioso” de recursos naturais) pelo

simples fato de que elas “sabem” que é importante economizar e usar

cautelosamente os recursos naturais, é uma grande ilusão já explicitada

pelos dados científicos de estudo do comportamento. Em outras

palavras, “estar consciente de” não é o mesmo que ou não implica

necessariamente “fazer”. Como vários estudos controlados já

demonstrados (exemplo interessante pode ser visto na pesquisa de

Hori, 2010, entre estudantes de Engenharia Ambiental, sobre a

discrepância entre “conscientizar-se” e “fazer, de fato” economia em

várias situações práticas de utilização de recursos naturais), a

conciliação entre consequências de curto e longo prazo precisa estar

presente nos projetos de delineamentos culturais, sob pena de que,

faltando tal articulação, os efeitos das políticas públicas implementadas

no setor serão certamente falíveis e trarão apenas resultados

moderados gerados pela simples “informação” e ausência de

contingências que clarifiquem as consequências imediatas e de longo

prazo para os comportamentos requeridos.

Uma breve revisão da literatura nacional sobre delineamentos culturais

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Alguns exemplos do uso da unidade conceitual de metacontingências

proposta por Glenn já começam a se tornar clássicos da literatura científica na

área. Entre aqueles da produção nacional, Todorov (1987) estudou o efeito da

prescrição de consequências que afetam o comportamento coletivo, mediante

a identificação de regras que preveem as oportunidades para a emissão ou

proibição de emissão de certos comportamentos, bem como as eventuais

sanções para comportamentos não aprovados pela sociedade. Noutro estudo,

desenvolvido por Todorov e Carneiro (2003), com relação ao Estatuto da

Criança e do Adolescente, o ECA foi considerado como uma fonte de

prescrições analisáveis mediante metacontingências, uma vez que esse

documento legal descreve comportamentos possíveis e necessários para

diferentes segmentos e classes sociais, assim como, especificamente, pais ou

responsáveis e crianças e adolescentes alcançados pela legislação. O objetivo

central do ECA, naturalmente, é a proteção dos direitos de crianças e

adolescentes e, nesse sentido, o estudo de Todorov e Carneiro (2003) seguiu

adiante nessa ótica e revelou vários dados interessantes, entre eles que

contingências completas e contingências incompletas foram analisadas,

entendendo-se as primeiras como cobrindo todos os termos de uma relação

funcional e as segundas deixando de dar conta de um dos termos da

tradicional tríplice relação de contingências. Mais da metade das contingências

especificadas no texto do ECA constituem contingências incompletas. Parte

desses exemplos mostra que a perspectiva de Glenn (2003a, 2003b), de modo

recorrente, explicita que as origens e a evolução da biologia humana não

podem ser completamente explicadas sem recorrer a alguns princípios

funcionais, em adição às leis que descrevem os processos químicos e físicos;

do mesmo modo, o comportamento coletivo aprendido não poderia ser

explicado sem se recorrer à explicação da origem e da evolução das culturas.

Para tanto, Glenn considera que não parece ser suficiente levar em conta

apenas as condições sob as quais são aprendidos os comportamentos

individuais: uma análise em outro nível precisaria ser formulada e aí se insere a

ideia de metacontingências como ferramenta conceitual importante para a

descrição das relações funcionais implicadas entre práticas culturais, suas

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consequências e a probabilidade de sua sobrevivência no transcurso da atual e

das próximas gerações. Embora a aprendizagem social pelos seres humanos

não requeira novos processos além da seleção pelas consequências, Glenn

assinala que em virtude da complexidade do processo de análise, a elaboração

de diagramas descritivos das relações entre o comportamento dos indivíduos

em seu convívio comunitário é instrumento útil para identificação de cada

instância relacional e sua função. Glenn (2003b) não rejeita a possibilidade de

que exista uma tendência inata nos seres humanos a imitar aquilo que seus

congêneres fazem, mas frisa que é a preservação e retenção seletiva de

comportamentos imitados que torna plausível a evolução cultural.

Em outro artigo, Glenn (2004) examina o princípio operante de seleção

pelas consequências como protótipo definitivo da seleção cultural e o papel do

ambiente social como elemento crucial para o surgimento do fenômeno

cultural. As contingências operantes individuais são comparadas com as

contingências de seleção cultural que ela designa metacontingências. Glenn

frisa que as relações resultantes desses dois tipos de seleção contribuem para

a formação de redes de relação responsáveis pela organização social. Para

Glenn (2004), quando se “somam” os efeitos das contingências individuais e

coletivas, constituindo-se as redes de relações cujo impacto é decisivo para a

vida humana e a sobrevivência das culturas, tem-se o que é designado como

macrocontingências, que não envolvem o nível cultural de seleção

necessariamente, mas que têm suas funções ampliadas e ainda mais

complexas quando organizadas para as funções do processo de seleção de

consequências na dimensão das práticas culturais.

De Skinner e Glenn, parece possível saber que estamos diante de

unidades conceituais distintas, mas que não são incompatíveis. Ao contrário,

completam-se e parecem poder ser instrumentos úteis para aperfeiçoar o

aporte da Análise do Comportamento e do Behaviorismo Radical às questões

sociais complexas, mediante análise funcional criteriosa das práticas culturais.

Seus respectivos convites à ação dos analistas parecem irrecusáveis, ainda

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que tenhamos que nos defrontar com um trabalho preliminar de sistematização

do uso de contingências e metacontingências em delineamentos culturais e de

real experimentação cultural, a partir da realidade próxima. Para tanto, parece

adequado endossar e ampliar o esforço de Andery, Micheletto e Sério (2005),

no sentido de organizar o conjunto de princípios, descrever os principais

conceitos e, agora, no contexto deste convênio, dimensionar a sequencia de

passos típicos a serem executados na área de planejamento cultural.

A resposta positiva ao chamado de Skinner e Glenn implica trabalho

metódico, criterioso e que, certamente, não pode se restringir aos achados dos

pesquisadores individualmente. Implica, igualmente, práticas culturais no

contexto da comunidade científica de analistas e requer buscar respostas a

cada qual das tarefas a serem enfrentadas, para uma posterior articulação e

busca de consequências aparentemente comuns a tal comunidade: relações

interpessoais igualitárias e culturas amparadas nos melhores critérios de justiça

social.

Algumas questões importantes no contexto das metacontingências

começam a ser tratadas na literatura brasileira. Um artigo conceitual bastante

relevante foi publicado por Andery, Micheletto e Sério (2007). Nele, são

examinados os conceitos de metacontingências e contingências entrelaçadas,

de especial importância para a definição de projetos. Discutem-se, nesse

artigo, alguns dos aspectos que devem ser considerados para que a Análise do

Comportamento possa, efetivamente, assumir o estudo de fenômenos “sociais”

como parte de seu objeto de investigação. As autoras ressaltam as palavras

diretas de Skinner ressaltando um convite ao estudo e intervenção em práticas

culturais. Em seguida, conceituam comportamento social (“o comportamento de

duas ou mais pessoas, uma em relação à outra ou [dessas pessoas] em

conjunto, em relação a um ambiente comum”, ressaltando que há um

componente social (exemplificado pelo comportamento de uma das pessoas)

na contingência, seja como contexto ou agente determinante da consequência.

Em seguida, as autoras definem prática cultural segundo a posição mais

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recente (1991) de Sigrid Glenn e dizem que ela “envolve a repetição de

comportamento operante análogo entre indivíduos de uma dada geração e

entre gerações de indivíduos”. As práticas culturais são selecionadas e

repetidas por apresentarem um “efeito sobre o grupo”, efeito ou produto esse

em comum, que é produzido pelo conjunto de comportamentos dos membros

do grupo.

No tocante à diferença entre comportamento social e prática cultural, as

autoras citam Glenn para afirmar que as práticas culturais contêm

comportamentos individuais, mas não se reduzem a eles, da mesma forma que

os comportamentos não se reduzem a um conjunto de fenômenos físico-

químicos. Com base nessa distinção de objeto de estudo, apresenta-se a

necessidade de uma unidade de análise diferente da tríplice contingência e

duas possíveis unidades analíticas – contingências entrelaçadas e

metacontingências – são apresentadas.

As autoras apresentam diagramas representativos das contingências

entrelaçadas (imitação, troca recíproca, entrelaçamento que exige

contingências sociais de “suporte”) e metacontingências (quando, de algum

modo, o produto agregado – que é dependente de contingências entrelaçadas

– retroagir sobre elas, selecionando-as). As diferenças entre contingências

entrelaçadas e metacontingências enquanto unidades de análise distintas

parecem se fazer necessárias no contexto atual da literatura, porque a primeira

unidade não inclui a identificação de um produto agregado (efeito coletivo) que

seleciona os comportamentos entrelaçados (os quais são mantidos, nesse

caso, por consequências individuais); ao passo que na metacontingência se

descreve uma prática cultural na qual as interações produzem consequências

para cada um deles individualmente e, além disso, o conjunto de

comportamentos produz um produto agregado que pode ou não ter um efeito

comportamental. Dito de outro modo, a metacontingência seria a unidade mais

apropriada para descrever a interdependência entre contingências

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entrelaçadas e produto agregado que retroage no entrelaçamento ou conjunto

de contingências.

A análise de fenômenos sociais, nessa perspectiva, não exigirá do

analista do comportamento um novo conjunto ou corpo de princípios ou um

novo modelo explicativo-causal; no entanto, exigirá o reconhecimento de que

esses fenômenos têm algumas propriedades especiais. Nesse sentido, são

apresentadas algumas características especiais dos fenômenos sociais,

destacando-se: (a) enquanto ambiente social, seja como estímulos

antecedentes (por exemplo, quais dimensões do contexto discriminativo social

controlam cada resposta? Que mudanças no contexto social antecedente

podem sinalizar oportunidade para mudanças de comportamento social?) ou

como consequências (por exemplo, a variabilidade do agente reforçador social,

a dificuldade de mudanças comportamentais controladas por reforçamento

social); (b) os elementos constitutivos das contingências entrelaçadas

(participantes e as diferentes formas de como os estímulos e consequências

sociais estão presentes no entrelaçamento) e (c) o comportamento verbal

relacionado à manutenção das contingências entrelaçadas (o comportamento

verbal como chave da complexidade da instalação e manutenção de várias

práticas culturais complexas, pois considerando o potencial do comportamento

verbal para controlar respostas nunca emitidas anteriormente entende-se o

quanto as contingências verbais de suporte ampliam a extensão do controle

social de uma prática cultural).

Ao final, são abordadas diferentes alternativas metodológicas para o

estudo dos fenômenos sociais via Análise do Comportamento. As autoras

reconhecem que o tema metodológico da análise social comportamentalista

merece maior destaque e listam superficialmente métodos e estratégias aos

quais os pesquisadores têm recorrido: interpretação (por exemplo, descrição e

inferência de efeitos coletivos produzidos por uma determinada prática);

experimentos naturais (que são apontados como solução para o problema do

controle experimental e do tempo para experimentos na área de Psicologia);

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experimentos de campo (pesquisa em contexto de aplicação) e métodos

experimentais que reproduzam ou constituam análogos de práticas culturais

em laboratório (opção defendida pelas autoras como importante foco de

estudos que elucidem questões da análise cultural).

Embora esse texto traga importantes elucidações conceituais, a

contribuição da representação de práticas culturais em diagramas, oferecido

pelas autoras, ressalvando caracterizar-se como tentativa importante, não inclui

todas as descrições específicas de como proceder à análise e identificar os

elementos constituintes apontados, revelando uma importante lacuna de

tecnologia e metodologia da análise cultural. Nesse sentido, a partir dessa

literatura, uma vez mais justifica-se a execução de projetos para constituição e

consolidação de estratégias de atuação consistentes na área de eficiência

energética.

Martone e Todorov (2007) também trouxeram significativa contribuição à

caracterização do conceito de metacontingência e à lógica dos delineamentos

culturais. O objetivo do artigo mencionado é apresentar o desenvolvimento do

conceito de metacontingência. Ao tentar descrever parte das complexas

relações comportamentais que ocorrem no terceiro nível de variação e seleção,

o conceito de metacontingência nos coloca frente a importantes questões

conceituais e metodológicas com implicações diretas sobre a análise de

contingências sociais, seja ela experimental ou não. Por exemplo, duas

questões intrinsecamente relacionadas, uma conceitual e outra metodológica,

são exemplos da importância e pertinência do desenvolvimento de estudos

experimentais e descritivos sobre metacontingências: o problema da unidade

de análise no nível cultural e, em se tratando de análise experimental, a

variável crítica a ser manipulada no sentido de produzir, em condições

controladas de laboratório, a seleção de um entrelaçamento específico de

muitos comportamentos ao longo do tempo, desencadeando a transmissão do

que Glenn & Malott (2004) denominam de “linhagem cultural” (ou culturante,

em analogia a operante).

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Os autores retomam o modelo explicativo de seleção pelas

consequências da Análise do Comportamento para facilitar o pleno

entendimento de metacontingência. Ao apresentar o terceiro nível, de seleção

cultural, os autores citam as dimensões controladoras do comportamento

social, o controle por sistemas/grupos/agências sociais e, finalmente, citam que

a relação existente entre os entrelaçamentos dos comportamentos de

indivíduos e os efeitos que tais entrelaçamentos produzem sobre o ambiente

social e não social e, ainda, a continuidade, através de várias gerações de

indivíduos, desses entrelaçamentos e de seus efeitos, constituem uma prática

cultural ou uma “linhagem cultural”. Citam Skinner (1981), na explicação do

terceiro nível de seleção, que é constituído pela seleção de tais práticas

culturais: “é o efeito sobre o grupo e não as consequências reforçadoras aos

indivíduos membros do grupo, o responsável pela evolução da cultura”. Em

seguida, os autores passam para a identificação de três formulações

subsequentes à ideia de metacontingência primeiramente apresentada por

Sigrid Glenn no artigo Metacontingencies in Walden II, de 1986 (ex: a

democratização do Brasil nas “Diretas Já”, quando um número muito grande de

operantes produziu um efeito coletivo, um produto agregado, sem função

selecionadora previamente estabelecida):

1) Ênfase no processo seletivo do entrelaçamento de muitos operantes e,

consequentemente, na transmissão de padrões comportamentais através do

tempo (ex: prática de alfabetização, cujo produto – maior número de pessoas

alfabetizadas – seleciona a prática através do tempo, mesmo que inúmeros

operantes sejam controlados imediatamente por consequências individuais

independentes);

2) A descrição das funções de diferentes efeitos ambientais produzidos

pelo entrelaçamento (ex: a existência de um ambiente receptor – o público que

frequenta um restaurante – para quem o produto agregado – a comida – de um

entrelaçamento de contingência – operantes de garçons, cozinheiros,

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administrador, etc. – têm um efeito selecionador do entrelaçamento – continuar

frequentando o restaurante);

3) Diferenciação entre processos de variação e seleção de muitos

operantes semelhantes que ocorrem em nível individual (relações de

macrocontingência) e processos de variação e seleção que ocorrem em nível

cultural (relações de metacontingência). No caso da macrocontingência, o

comportamento semelhante de muitos indivíduos – motoristas dirigem

alcoolizados – não pode ser considerado uma unidade funcional única, passível

de ser selecionada e propagada por um efeito coletivo (o qual existe, como alto

índice de mortes no trânsito devido ao álcool, mas que não retroage

selecionando qualquer prática). A prática cultural em questão congrega

comportamentos funcionalmente e topograficamente semelhantes que não

precisam, necessariamente, estar relacionados uns aos outros – motoristas

dirigem sob influência do álcool geralmente de maneira independente uns dos

outros, dirigem sob controle de consequências individuais. Apesar de

intervenção que diminua o produto agregado – mortes no trânsito – e diminua a

frequência dessa prática – menos motoristas que dirigem alcoolizados, o lócus

de mudança ainda é o comportamento individual.

No caso da metacontingência, se faz possível a descrição de relações

comportamentais complexas que envolvem comportamentos de muitos

indivíduos, os resultados ambientais da interação desses indivíduos e

necessariamente a transmissão de padrões comportamentais através do tempo

(ou seja, o efeito selecionador do produto agregado sobre o entrelaçamento de

contingências).

Para cada uma dessas discussões dos acréscimos conceituais que o

conceito de metacontingências passou, os autores apresentam um diagrama

representativo útil para a compreensão dos conceitos reformulados ao longo do

tempo. Nesse sentido, esse artigo busca demonstrar o refinamento conceitual

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recente na área de análise cultural, procurando solucionar parte do problema

conceitual próprio de uma área em desenvolvimento e ascensão.

Para Naves e Vasconcelos (2008), a família é um grupo social

importante na vida de um indivíduo, ao promover sua socialização e assegurar

a sua inserção em grupos sociais mais amplos, tais como os do Estado,

Política, Educação e Religião. As autoras contextualizam o conceito de família

de acordo com o momento histórico e considerações da Antropologia e da

Psicologia. No conceito de família enquanto grupo de pessoas vinculadas por

relações afetivas e/ou de consanguinidade que desenvolvem padrões de

interação e possuem uma história de convivência que justifica tais padrões,

destacam-se os três níveis de variação e seleção: o filogenético

(consanguinidade/hereditariedade), o ontogenético (história dos operantes com

subprodutos afetivos entre os membros) e o cultural (padrões de reforçamento

social mantidos pelo agrupo atual com replicação da prática por membros da

família). As autoras consideram que o conceito de metacontingência tem sido

reconhecido como uma ferramenta útil para a análise das práticas culturais e é

formada pelas contingências comportamentais entrelaçadas, pelo produto

agregado originado a partir desse entrelaçamento e pelo sistema receptor que

seleciona tais práticas culturais. Após uma breve revisão do desenvolvimento

desse conceito, o artigo analisou duas práticas culturais presentes nas famílias

brasileiras: o uso de práticas educativas parentais aversivas e a valorização ou

desvalorização de determinados membros dentro da família. Observou-se que

para uma análise mais ampla do comportamento de um indivíduo, é necessário

considerar a transmissão e manutenção das suas práticas culturais.

Em relação ao que pode ser destacado como contribuição para a

discussão dos problemas e lacunas da análise social, as autoras reafirmam a

utilidade do conceito de metacontingência para auxiliar as análises culturais.

Em relação aos estudos de famílias, as autoras ressaltam que o conceito pode

ajudar a identificar variáveis presentes em grupos e agências sociais (Estado,

Mídia, Religião, Escola, Ciência, Economia) que controlam as interações dos

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membros da família brasileira, assim como tais agências sociais têm função

receptora e selecionadora de muitas práticas culturais recorrentes em gerações

familiares, como práticas educativas aversivas (por exemplo, reprodução de

padrões de punições físicas e desvalorização em relação aos filhos sob

controle dos modelos de educação das gerações anteriores presentes na

maioria das famílias brasileiras, bem como o produto agregado dessa prática

que gera diferentes formas de contracontrole – leis como o ECA – que não têm

sido suficientes para mudar a reprodução de tal prática cultural). As autoras

apresentam como recurso metodológico para essa e outras análises sobre

práticas culturais familiares um levantamento histórico e revisão bibliográfica de

diversas áreas sobre família – história do papel da paternidade e maternidade,

desvalorização das crianças e mulheres, desenvolvimento de leis, dados

estatísticos em geral sobre esses e temas similares. As autoras apontam que

pouco se tem feito para o avanço da análise comportamental das práticas

culturais e, dessa forma, defendem como solução para os problemas

metodológicos que os primeiros estudos devem ser realizados em pequenos

grupos dentro da sociedade, a partir de estudos observacionais e

interpretativos das contingências comportamentais entrelaçadas dentro de

sistemas culturais menores, para depois se avançar para a experimentação.

Com a metodologia empregada e discussão bibliográfica as autoras

chegam à conclusão de que práticas educativas coercitivas foram

desenvolvidas por diversas agências de controle e se mantiveram ao longo do

tempo, de modo que, atualmente, essa prática pode ser mantida ou não

dependendo da agência de controle envolvida. Ressaltam que interações entre

os membros familiares pode ser um objeto de estudo rico de informações que

contribuem para a especificação de contingências comportamentais

entrelaçadas e, consequentemente, acerca da identificação do produto

agregado originado dessas consequências.

Uma boa revisão crítica do “novo” conceito de metacontingência foi

desenvolvida por Gusso e Kubo (2007). Trata-se de uma resenha crítica do

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livro Metacontingências: comportamento, cultura e sociedade, organizado por

J.C. Todorov, R.C. Martone e M.B. Moreira, publicado em 2005 pela Editora

ESETec. Os autores comentam que apesar do conceito de metacontingências

ter completado 21 anos em 2007, a necessidade ou relevância do mesmo para

o estudo dos fenômenos sociais ainda não foi completamente demonstrada. No

texto, os autores ressaltam que:

-Glenn, 1986: Metacontingências em Walden II – embora a autora, nesse texto

não ofereça definição clara e precisa sobre o conceito, traz muitos exemplos

daquilo que vem a chamar, pela primeira vez, de metacontingências.

-Martone e Banaco, 2005 – A imprensa como agência e ferramenta de controle

social – Os autores fazem a análise do controle comportamental exercido pelas

agências de comunicação e as repercussões desse controle em uma cultura,

assim como explicam as relações entre os níveis de análise comportamental e

cultural. Os autores demonstram, com os recursos da análise comportamental,

que o jornalismo imparcial não existe. Concordam em que noticiar, relatar,

apresentar informações são comportamentos e, logo, são controlados por

variáveis que devem ser conhecidas pelo público.

-Vichi, 2005 – No texto Igualdade ou desigualdade: manipulando um análogo

experimental de prática cultural em laboratório – O autor demonstra a

possibilidade de estudar em laboratório o que seria uma prática cultural, com o

objetivo de avaliar o quanto metacontingência é um conceito que auxilia na

visibilidade acerca da seleção de práticas culturais. Entretanto, com base nas

definições desse artigo, os autores da crítica encontram um problema

conceitual e metodológico, qual seja: qual a diferença precisa entre

comportamento social e prática cultural? Isso é apontado como uma questão

importante na medida em que os trabalhos da área apresentam muitas

contradições conceituais.

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-Andery, Micheletto e Sério, 2005 – A análise de fenômenos sociais:

esboçando uma proposta para a identificação de contingências entrelaçadas e

metacontingências e Andery e Sério, 2005 – O conceito de metacontingências:

afinal, a velha contingência de reforçamento é insuficiente? – Tais publicações

apresentam de forma sintética as noções de “comportamento social”, “prática

cultural”, “cultura” e “metacontingência”, que são centrais para o tipo de análise

que tem sido realizada sob o nome de metacontingência. São boas referências

para análise de fenômenos culturais em relação aos principais conceitos e

diagramas utilizados, embora não fique evidenciada a diferença, com clareza

de procedimentos, o que cabe respectivamente à análise comportamental e à

análise cultural – ou seja, o mesmo problema conceitual e metodológico

ressaltado anteriormente: dificuldade de definir o que é explicado pelo

comportamento social e o que é explicado como uma prática cultural, assim

como reafirma a lacuna de como proceder à análise cultural.

Os problemas conceituais apontados nesse texto, entre análise

comportamental ou cultural, ou ainda, entre comportamento social e prática

cultural, foram pouco discutidos em trabalhos posteriores a essa publicação e

parece ainda não haver consenso na literatura sobre essa distinção, assim

como sobre o procedimento de análise e intervenção cultural. Exemplos de

problemas conceituais levantados pelos autores da crítica: leis são

metacontingências ou descrevem metacontingências: Metacontingências

descrevem práticas culturais ou são sinônimo das mesmas? O que é

fundamental para o conceito de prática cultural? O que é fundamental no

conceito e na diferença entre metacontingência e macrocontingência?

Além de comentários sobre os textos já mencionados, os autores

enfatizam que seria possível uma intervenção em práticas culturais apenas

com o conceito de contingências, ou seja, estabelecer de que forma as

contingências são organizadas de maneira a atingir uma meta planejada ou

descrever práticas culturais e controle de agências sociais. Enfatizam que a

noção de metacontingência não tornará um novo campo de análise possível;

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poderá, talvez, aperfeiçoar as análises e sínteses culturais. Portanto, a meta

dos analistas do comportamento, para esses autores, é encontrar e delimitar o

quanto o conceito de metacontingência pode tornar as análises sociais mais

eficientes.

Todorov e Moreira (2004), sinalizam que o estudo do comportamento em

sociedades foi relegado por quase 50 anos, apesar das reiteradas propostas de

Skinner considerando sua importância. Na década de 1980, Sigrid Glenn criou

o conceito de metacontingência, que contribui como importante ferramenta

para a descrição e análise do comportamento social. Neste artigo são

apresentados alguns estudos envolvendo metacontingências e discute-se o

papel do analista do comportamento no desenvolvimento de temas que

abordam questões sociais, incluindo análise e modificação de práticas

culturais. O artigo inicia a análise explicando que muitas de nossas práticas

culturais trazem prejuízos à vida das pessoas, e que apesar dos grandes

progressos técnicos e científicos, não há suficiente preocupação sobre o gasto

dos recursos naturais ou com a excessiva poluição das águas e do ar, e menos

ainda mecanismos de controle do uso da violência, seja por pessoas, por

organizações ou por países. O autor aponta que a Análise do Comportamento

tem considerável potencial para lidar com essas questões, mas que esse

potencial tem sido pouco utilizado, apesar das contribuições de B.F. Skinner

sobre a análise social e cultural como um componente fundamental do

Behaviorismo Radical. É indicado que a ciência do comportamento tem se

dedicado a resolver problemas principalmente de indivíduos, ainda que em

organizações ou instituições, muitas vezes vítimas de um mau planejamento

cultural, mas sem um instrumental teórico explícito que se aplicasse ao

comportamento de grupos sociais. Nesse sentido é apontada uma autora que

tem papel de destaque nesses estudos, Sigrid Glenn, que considerou que

estudar sociedades e práticas culturais tendo como instrumento a contingência

tríplice pode não significar êxito total, pois corremos o risco de reduzir a análise

a um ponto que não mostra como se deu a evolução e a manutenção da

prática em estudo. Ela apresentou o conceito de metacontingências definido

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como: “uma unidade que descreve as relações funcionais entre classes de

operantes, cada classe associada a uma contingência tríplice diferente, e uma

consequência de longo prazo, comum a todos os operantes na

metacontingência”. Os comportamentos operantes dos membros do grupo

formam um conjunto de ações coordenadas, geralmente chamado de prática

cultural, que se relaciona a um ambiente comum aos membros. Práticas

culturais envolvem o comportamento operante de grupos de pessoas que

compõem a sociedade. Os autores também apresentam a denominação dada

por Glenn à metacontingências cerimoniais e tecnológicas, e concluem

afirmando que entende-se que o conceito de metacontingência amplia o campo

de estudo da Análise do Comportamento, resgatando a preocupação de

Skinner sobre planejamento cultural, já discutida em "Ciência e Comportamento

Humano". Dizem ainda que “o desenvolvimento do conceito de

metacontingência mostra a importância da realização da pesquisa básica, mas

enfatiza o valor dos resultados desta pesquisa no estudo social.”

São apresentados também alguns estudos envolvendo

metacontingências, como a análise da Constituição do Brasil sob o ponto de

vista do conceito de metacontingência (Todorov, 1987), e o de Lamal e

Greenspoon (1992) que descrevem uma metacontingência que controla a

maioria dos comportamentos dos membros do Congresso dos EUA: a

metacontingência da reeleição. Discute-se também o papel do analista do

comportamento no desenvolvimento de temas que abordam questões sociais,

incluindo análise e modificação de práticas culturais. Os autores lembram que

esses estudos sobre metacontingências fazem parte de uma pequena amostra

do trabalho que os analistas do comportamento começam a fazer em nível

social, e que é preciso o aperfeiçoamento destes para que seja possível

efetivar estudos sociais relevantes, aproveitando a oportunidade oferecida por

verdadeiros experimentos naturais em andamento.

Excelente ensaio teórico é apresentado por Dittrich (2008a). De acordo

com o autor, as consequências de práticas culturais retroagem sobre as

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culturas, no sentido de aumentar ou diminuir suas chances de sobrevivência. O

livro Colapso, do biólogo e geógrafo norte-americano Jared Diamond,

apresenta semelhanças marcantes com a teoria de Skinner, evidenciando que

as consequências de práticas culturais têm influência decisiva sobre o destino

das culturas. Esse artigo busca detalhar tais semelhanças, argumentando que

o livro de Diamond (2007) serve como complemento à teoria skinneriana, pois

ilustra com exemplos concretos as afirmações gerais de Skinner sobre a

evolução das culturas e, com isso, confere-lhes maior clareza e credibilidade. O

artigo considera que um dos aspectos mais interessantes e polêmicos da obra

de Skinner é sua interpretação sobre a evolução das culturas, entendendo que

a matéria-prima das culturas é o comportamento humano, e que as culturas

caracterizam-se por suas práticas. Práticas culturais são conjuntos complexos

de comportamentos executados por pessoas que interagem entre si,

transformando seus ambientes físico e social. Tais práticas são não apenas

modeladas e mantidas pelos membros de uma cultura, mas por eles

transmitidas para as gerações seguintes. Elas caracterizam-se por produzir

efeitos que retroagem sobre a própria cultura. Ademais, o autor lembra o que

Skinner ressaltou, que "é o efeito sobre o grupo, não as consequências

reforçadoras para membros individuais, que é responsável pela evolução da

cultura". Dittrich aponta que o livro Colapso, de J. Diamond, embora não faça

nenhuma referência a Skinner, serve como uma espécie de complemento à

teoria skinneriana, ilustrando com exemplos concretos as afirmações gerais de

Skinner sobre a evolução das culturas e, com isso, conferindo-lhes maior

credibilidade e tornando-as mais facilmente compreensíveis. São apresentadas

algumas das várias convergências entre a teoria da evolução cultural de

Skinner e as evidências históricas apresentadas por Diamond. Ele aponta

alguns fatores (como mudanças climáticas, neste caso, as naturais, ou seja,

não influenciadas pelo homem; vizinhança hostil, como guerras, invasões, etc.;

declínio de parcerias comerciais essenciais e, por fim, as respostas da

sociedade aos seus problemas ambientais, ou a ausência delas) que,

isoladamente ou em conjunto ameaçam a sobrevivência das culturas, sendo

que o principal deles é o gerenciamento inadequado dos recursos ambientais

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dos quais depende uma sociedade. Dittrich apresenta a ideia, referenciada

tanto por Skinner quanto por Diamond, de que nenhuma cultura está em

permanente equilíbrio, que o ambiente físico e as contingências sociais

também mudam, e que o fato de uma sociedade existir, sobreviver, não

significa que suas práticas tenham valor de sobrevivência. Nesse sentido é

discutido que boas culturas não são apenas culturas que sobrevivem, mas

culturas com boas perspectivas de sobrevivência – culturas nas quais a

permanência de um status quo seja mais do que um feliz acidente, e nas quais

o futuro seja uma preocupação constante. Uma cultura torna-se,

provavelmente, ainda mais eficiente quando não apenas modifica práticas

culturais, mas também reforça entre seus membros a "prática de mudar a

prática" em função de suas possíveis consequências no longo prazo, sendo

que dois extremos devem ser evitados pelas culturas: "respeito excessivo pela

tradição e medo da novidade, por um lado, e mudança excessivamente rápida,

por outro." A importância de manter ou modificar práticas culturais é um tema

recorrente na obra de Diamond: "Talvez o segredo do sucesso ou fracasso de

uma sociedade esteja em saber a quais valores fundamentais se apegar, e

quais descartar e substituir por novos quando os tempos mudarem" (2005, p.

518). O "respeito excessivo pela tradição e medo da novidade", em especial,

surge como determinante para o colapso de certas culturas. Diante disso

Diamond apresenta um exemplo: “A adoção de costumes tipicamente europeus

e cristãos entre os colonizadores da Groenlândia acelerou seu declínio, pois

alguns destes costumes (na agricultura, na pecuária, na caça e na pesca)

simplesmente não se adaptavam às condições ambientais da ilha. O autor

aponta também a importância da existência de reforçadores imediatos,

argumentando que: “No campo do planejamento cultural, o comportamento

precisa ser controlado por consequências de curto prazo para que produza

consequências benéficas de longo prazo.” E nessa medida, a utilização de

reforçadores imediatos para a produção de comportamentos com

consequências favoráveis à sobrevivência das culturas é a própria essência da

ideia de planejamento cultural. No tópico: Bem Público e Bem Privado, Longo

Prazo e Curto Prazo, Dittrich mostra que parece ser um padrão recorrente que:

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“...os interesses da elite que toma as decisões entram em conflito com os do

restante da sociedade. Especialmente se a elite pode se precaver das

consequências de seus atos, ela tende a fazer coisas em seu próprio benefício,

sem se incomodar que tais ações venham a prejudicar outros.” (Diamond,2005.

p. 514). O autor recupera a afirmação de Skinner que esclarece que uma forma

de promover as mudanças necessárias e com a rapidez necessária – isto é,

controlar o crescimento demográfico, promover estilos de vida mais simples,

com menos desperdício e prejuízo para o meio ambiente – seria se a Indústria,

a Igreja ou o Governo, que têm grande poder de controle, se dispusessem a

implementá-las. (1983, p. 4). Parte da solução, para Skinner, reside em

submeter os governantes às mesmas contingências que controlam os

governados – fazendo com que suas decisões afetem, portanto, o seu próprio

cotidiano. Diamond apresenta reflexão semelhante: “A incapacidade de

resolver problemas percebidos devido a conflitos de interesse entre a elite e as

massas são muito menos prováveis em sociedades onde a elite não pode se

eximir das consequências de seus atos. A alta conscientização ambiental dos

holandeses (incluindo a de seus políticos) provém do fato de que a maioria da

população – tanto os políticos quanto as massas – vivem em uma terra abaixo

do nível do mar, onde apenas os diques se interpõem entre eles e a inundação,

de modo que um mau planejamento de terras feito pelos políticos os colocaria

em perigo.” No campo das políticas ambientais, conforme aponta Diamond, é

evidente a necessidade de "praticar raciocínio de longo prazo, e tomar

decisões antecipadas firmes, corajosas, em um tempo em que os problemas se

tornam perceptíveis, antes de assumirem proporções críticas" (2005, p. 624).

Skinner também destaca, com frequência, o papel do planejador cultural como

alguém cuja principal função é prever tendências com a maior segurança

possível, a fim de preparar a cultura antecipadamente para enfrentá-las.

No tópico Capitalismo e contracontrole é colocada a ideia de que no

mundo da política e dos negócios são comuns exemplos de empresas cujos

interesses estão em conflito com os da população, e Diamond coloca a ideia de

que a população deve contracontrolar as atividades empresariais: “A

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responsabilidade pelas práticas das empresas, portanto, é do público, pois "é o

público, seja diretamente ou através de seus políticos, que tem o poder de

tornar não lucrativas e ilegais políticas ambientais destrutivas e fazer as

políticas ambientais sustentáveis lucrativas" (p. 578) Ele apresenta exemplos

para isso, tais como: processar empresas que adotam práticas prejudiciais ao

ambiente; consumir produtos gerados de modo sustentável, e evitar os demais;

pressionar governos a contratar empresas ambientalmente responsáveis e a

criar e fazer cumprir boas legislações ambientais; ou simplesmente votar em

candidatos comprometidos com a agenda ambiental. Para concluir, Dittrich

mostra que a perspectiva final de Diamond é otimista, pois argumenta que

parte dos fatores que determinam o colapso das culturas independe do que

fazem seus membros – notadamente, fatores ambientais típicos de um certo

local, como características climáticas, do solo, etc. Contudo, para além de tais

fatores, o destino das culturas depende diretamente do comportamento de

seus integrantes, ou seja, de como eles administram os recursos que possuem.

E quanto às reflexões de Skinner, aponta-se o campo das políticas

públicas, sendo que Dittrich finaliza dizendo que: “A importância delas (políticas

públicas) para o destino das culturas é imediatamente evidente, e a obra de

Diamond oferece vários exemplos concretos disso (2005, p. 449-451, 470-471,

494, 510-511). A despeito das reservas de Skinner, fortalecer o poder de

contracontrole da sociedade civil – e, em especial, do quarto estado – a fim de

influenciar políticas públicas pode ser, neste momento histórico, a única forma

de evitar um colapso global.”

Em outro artigo, Dittrich (2008b) ocupa-se de: 1) abordar, de um ponto

de vista behaviorista radical, o problema da justificação racional de valores; 2)

a partir da abordagem desse problema, oferecer algumas sugestões sobre

como os behavioristas radicais podem se posicionar diante de debates éticos e

políticos. Argumenta-se que, de um ponto de vista behaviorista radical, valores

não podem ser justificados, pelo menos em termos lógicos: a única justificativa

possível remete à história de seleção do comportamento por suas

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consequências de quem defende certos valores. A despeito disso, argumenta-

se que debates éticos e políticos não devem ser meramente desprezados.

Ainda que isso não esgote tais debates,cabe àqueles que deles tomam parte –

e em especial, aos behavioristas radicais – apontar tão claramente quanto

possível os objetivos que buscam produzir.” Para Dittrich, Skinner classifica os

valores em termos de sua função reforçadora ou não reforçadora, de modo que

faz alusão a eventos que selecionam comportamentos e, por sua natureza

histórica e seu papel nas interações dos organismos com seu ambiente,

estabeleceram tais condições de “bons” ou “maus” valores. Tal consolidação se

daria nas três dimensões do processo de variação e seleção proposto por

Skinner: filogenética, ontogenética e cultural. Nesse sentido, a principal razão

para a promoção da sobrevivência de uma cultura está, exatamente, nas

práticas que realizam e que selecionam ou não valores reforçadores

compartilháveis pelos seus componentes. Nessa perspectiva, simplesmente

identificar consequências não é suficiente: para dada população, é preciso

arranjar ou programar as contingências sob as quais as consequências podem

ter efeito, orientando-se a partir do seu possível valor de sobrevivência para a

cultura. Portanto, o planejamento parece oferecer maiores possibilidades de

sucesso de determinadas práticas culturais, em relação a uma sociedade com

práticas não planejadas e que são selecionadas ao acaso. No entanto, mesmo

com cuidadoso planejamento, apoiado em avaliações empíricas sobre a

eficiência das consequências organizadas, em hipótese alguma é possível

estabelecer, com toda certeza, se as consequências hoje identificadas como

eficientes, serão, no futuro, eficientes para a comunidade, visto que seus

componentes já poderão ser outros e os eventos do ambiente físico, químico,

biológico e social poderão ter passado por grandes transformações. Ou seja,

não parece plausível estar absolutamente certo de que determinadas

consequências controlarão o comportamento de nossos descendentes, ao

menos no longo prazo. Dessa maneira, o planejamento atual deve incluir a

ideia de que possamos prever mecanismos para que a própria comunidade

consiga substituir os eventos controladores, antecedentes e consequentes, na

medida em que as transformações ambientais aconteçam. Dittrich também

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elabora, nesse artigo, um debate ético que alcança a análise dos valores

objetivos empregados no planejamento, ou seja, quem planeja e quem recebe

o planejamento devem lidar com conceitos valorativos abertamente declarados

e definidos, levando em conta que desse planejamento participam, além de

delineadores e população interessada, outros grupos que convivem ou têm

interesse no curso de ações dessa comunidade-alvo.

Em artigo ainda mais recente, Dittrich (2009) assevera que o

comportamento de decidir envolve a busca de subsídios que permitam prever

quais as possíveis consequências de nossos cursos de ação. Decisões éticas

demandam, igualmente, tais previsões. Neste artigo, A. Dittrich apresenta uma

análise de consequências como proposta de procedimento que pode

sistematizar e facilitar esse tipo de previsão. Sugere quatro etapas para o

processo de análise de consequências: (1) categorizar as consequências; (2)

definir as pessoas ou grupos afetados; (3) definir os efeitos seletivos das

consequências; (4) definir a sequência temporal das consequências. Por fim,

discute as possíveis limitações do procedimento.

O autor considera condição preliminar às decisões éticas sobre os

objetivos de intervenção a previsão de possíveis consequências componentes

do delineamento proposto. Nesse sentido, conseguir antecipar as prováveis

consequências implicadas no planejamento equivale a explicitar critérios para

se dizer o que é correto ou incorreto fazer em diferentes situações. Contribuem

para a dificuldade e constituem, por assim dizer, “obstáculos éticos” ao

planejamento, a necessidade de respeito às diferenças culturais, a identificação

dos limites impostos ao planejamento pela necessidade desse respeito às

diferenças, assim como qual o referencial ou quais os referenciais para

delimitação das condições éticas planejadas para o grupo (Por exemplo: o

plano se aterá aos desejos e objetivos do grupo? Para além do grupo, será

obedecida determinada legislação? Ou serão levados em conta os direitos e

deveres das outras populações que se relacionam com esse grupo em

particular?). Ato contínuo, o analista comportamental precisa desenvolver

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instrumentos e procedimentos específicos para avaliar e prever as

consequências para o comportamento dos indivíduos da comunidade de uma

forma sistemática e precisa. Na maioria dos casos, precisa estabelecer, no

planejamento, procedimentos auxiliares para que as pessoas e grupos possam

tomar, por si mesmas, decisões éticas compatíveis com as finalidades do

planejamento. Para tanto, será necessário categorizar as consequências,

classificá-las (por exemplo, consequências econômicas, de segurança, de

preservação da qualidade do meio ambiente). Precisará, igualmente, definir

pessoas e grupos afetados (por exemplo, grupos familiares ou uma pessoa em

particular, como no caso do programa “Bolsa Família”, enquanto política

pública?). O analista também precisará se ater a um estudo sistemático dos

processos de transformação social que atingirão, provavelmente, o grupo, de

modo a assegurar maior precisão das consequências de longo prazo. Fará isso

com precisão relativa, naturalmente, porque o fará sempre a partir de um

passado que indique que certos comportamentos costumam produzir certas

consequências. Dessa maneira, conclui-se que a complexidade de variáveis

limita a acuidade das previsões e, além disso, a análise das consequências

deve ser um procedimento democrático, acessível a todos os possíveis

interessados em certa decisão ética.

BECC

Desde 2007, realiza-se nos Estados Unidos da América a Behavior,

Energy and Climate Change Conference - BECC , evento anual de grandes

proporções, que reúne pesquisadores, técnicos, homens de negócios,

administradores públicos e representantes de organizações não

governamentais e órgãos diversos interessados nos temas abordados. Em

2010, a Conferência será realizada de 14 a 17 de novembro, em Sacramento,

na California. Trata-se do quarto encontro anual e focalizará a compreensão da

natureza do comportamento individual e coletivo e o uso de conhecimento para

acelerar uma transição em busca da eficiência energética e uma economia de

redução de emissão de carbono. Esta edição dá prosseguimento ao sucesso

alcançado na BECC-2009, realizada em Washington, na qual estiveram

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presentes mais de 650 participantes, discutindo programas estratégicos e

resultados de pesquisa, assim como proporcionando maior dinâmica para uma

rede de colaboração sobre as questões abordadas.

Em 2010, seis temas importantes serão priorizados:

1) Comportamento e diretrizes públicas, incluindo estratégias

comportamentais para questões de energia e clima, através de

legislação, regulação, implementação e consolidação de políticas

específicas;

2) Ambiente físico e tecnologia, incluindo integração de insights

comportamentais para o planejamento, estabelecimento de interfaces,

uso, manutenção e disponibilização de tecnologia para conservação de

energia;

3) Corporações, Organizações, Comunidades e Redes (abordagens

baseadas no comportamento em corporações, negócios, agências

governamentais, militares, escolares, universidades, igrejas e

comunidades interessadas em energia e clima; grupos sociais e redes

sociais; sociologia; comportamento em organizações);

4) Mídia, Marketing e Comunicação (novas e tradicionais mídias,

comunicações, jornalismo, informação, entretenimento, marketing social

e marketing social de base comunitária, marcas industriais);

5) Indivíduos, Psicologia e Economia Comportamental (implementação

prática de modelos individuais e sociais de comportamento e de

processos de tomada de decisão; normas sociais, formação de hábitos,

atitudes, estilo de vida, incentivos e ausência de incentivo;

6) Avaliação, Mensuração, Modelos e Métodos (métodos práticos de

mensuração de impactos comportamentais, avaliação de programas,

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análises de custo-benefício, benefícios não energéticos, avaliação em

tempo real, modelos de tomada de decisão e delineamentos

experimentais).

Entre as inúmeras apresentações já realizadas nas quatro edições do

BECC, observa-se que esse evento significativo para a dimensão da

sustentabilidade ambiental e, particularmente, para a conservação de energia

elétrica não incluiu a participação efetiva de analistas do comportamento

interessados em aplicação de pressupostos, conceitos e princípios funcionais

behavioristas para a conservação de energia elétrica.

É interessante notar que o conhecimento disseminado no evento decorre

de várias iniciativas práticas de instâncias de governos, de pesquisa na área de

Economia e administração pública, de projetos de “conscientização” da

população em favor da conservação energética, mas de modo algum

constituindo iniciativas que visem consequenciar comportamentos para

selecionar aqueles compatíveis com a preservação ambiental e a consolidação

de repertórios dirigidos à finalidades e estratégias apontadas pela Análise

Comportamental da Cultura.

Para aferir as modalidades dos debates, das mesas, das conferências

apresentadas ao longo do BECC, mencionamos alguns temas gerais e o tipo

de tratamento conceitual e prático que lhes foi dado.

Por exemplo, um projeto que implica exortação popular à conservação

foi objeto de conferência de N. Pelosy (2007): “Hoje devemos dizer que o

Capitólio não poderá ser simplesmente um símbolo da nossa democracia, mas

um símbolo do nosso compromisso com o futuro. Não somente pela

importância de nossas ideias sobre independência em energia, mas pelo poder

de nosso exemplo, nós esperamos estar transmitindo uma mensagem ao

mundo e ao nosso país”. Várias manifestações de representantes do

Congresso americano ecoaram no BECC e em outras instâncias do país,

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exortando à economia de energia. Do ponto de vista técnico, sob um olhar da

Análise do Comportamento, trata-se de um procedimento de modelação

comportamental, onde exemplos bem sucedidos são apresentados à

população, na expectativa de que, via imitação indiretamente reforçada outras

iniciativas compatíveis sejam realizadas. O prédio do Congresso, construído

originalmente em 1793 e reformado completamente em 1965, tem 6,1 milhões

de pés quadrados e abriga 10.000 pessoas ali empregadas. Diversas

mudanças técnicas nos procedimentos de transmissão e consumo de energia

elétrica foram feitas desde 2008 nessas instalações e o “Green is Good”

passou a ser lema obrigatório entre as pessoas que ocupam os diversos

escritórios da edificação.

Na BECC de 2008, Loren Lutzenheiser, professor de estudos urbanos e

planejamento da Portland State University, apresentou conferência intitulada

Behavioral Assumptions Underlying California Residential Energy Efficiency

Programs , onde comunica alguns dados da campanha com o lema “save

energy, save Money, good for the environment” e que se baseia numa outra

lógica, diferente daquela aqui proposta para os projetos brasileiros que

articulam UNESP e ELETROBRÁS. Diferentemente de uma visão

comportamental do problema, o autor relatava uma visão cognitivista do

problema, que levava em conta a disseminação de muitas informações ao

usuário, um processamento dessas informações por este e uma mudança de

atitude dirigida à conservação. Em nenhuma das etapas está presente um

controle pelas consequências dos comportamentos envolvidos.

Apresentação feita em 2008 por G. Capunitan, da DDB Worldwide, tinha

como slogan “criar consciência e engajamento das pessoas através de pontos

digitais”. Na prática, trata-se da utilização de novos recursos midiáticos e

eletrônicos que, em tese, multiplicam a informação e acabam por estabelecer

rapidamente uma “consciência para a ação”. Estão aí compreendidos, sites,

blogs, comunidades virtuais de relacionamento, marcas, aparelhos eletro-

eletrônicos e outros recursos, principalmente aqueles com telas sensíveis ao

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toque e compartilháveis por muitas pessoas. Também está presente na

apresentação a lógica designada “viral marketing”, uma espécie de rede de

relacionamentos e informação possível sob várias formas para “conscientizar”

as pessoas sobre a necessidade de participação nas atividades de

conservação. Embora a inovação constantemente possível presente nas novas

mídias e recursos tecnológicos atualmente em grande atenção, a dimensão

funcional do projeto fixa-se no fato de que “conscientizar” as pessoas implica

que elas se comportarão, necessariamente, de modo compatível com tal

consciência.

Outras apresentações, aqui não pormenorizadas, sugerem interesse por

seus títulos: “Designing Incentive Preserving Rebates to increase acceptance of

Critical Peak Pricing”, por R. Letzler, da Federal Trande Commission. Já Sally

Blackwell, da Victoria University of Wellington (Nova Zelândia), especialista em

estudos ambientais, apresentou o trabalho “Electricity conservation in context:

A mixed methods study of residential conservation behaviour during na

electricity shorthage in New Zealand”, onde apresenta dados de pesquisa sobre

as alternativas adotadas pela população durante uma crise energética em

2008.

Em 2009, L. Storm, D. Sklarew e R. Johnson apresentaram o trabalho

“Changing culture and behavior to achieve climate neutrality on campus”. Os

autores são da George Mason University, que realize campanhas desde 2007

abrangendo diversas ações integradas de mobilização da comunidade

acadêmica para a preservação ambiental e conservação de energia.

Na Conferência BECC de 2009, em Washington, M. Mildenberger, da

University of Toronto, apresentou o trabalho “Integrating Psychology and

energy in social marketing evaluation, onde revisa e avalia um programa da sua

universidade na área de sustentabilidade, comportamento, energia e clima. O

programa abrange 19 edifícios internos da universidade.

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Também na BECC 2009, E. Vine, do Lawrence Berkeley National

Laboratory e California Institute for Energy and Environment, apresentou o

trabalho “What do we know about behavior and energy? Lessons learned and

recommendations for future research, improved program design and

implementation, and creative policymaking. No mesmo ano, K. Ehrhardt-

Martinez e J. A. Laitner, do American Council for an Energy-Efficient Economy,

apresentaram o trabalho “Examining the Scale of the Behaviour Energy

Efficiency Continuum. Os autores chegam à conclusão de que: “…Should we

take the time to understand the behavioral perspective and recognize its full

“resource potential”, valorizando, nesse sentido, soluções apoiadas em uma

compreensão mais clara do papel do comportamento das pessoas diante das

situações de consumo disponíveis.

Já a apresentação do Diretor do Committee on the Human Dimensions

of Global Change, P. C. Stern, intitulada “Changing Behavior in Households

and Communities through Education and Information: Critical Insights”, sinaliza

a importância do papel das instâncias escolares formais no processo educativo

para a conservação, seja através da informação ou da conscientização para os

problemas de consumo exorbitante. Este trabalho é o que mais se aproxima,

provavelmente, da busca de múltiplas variáveis que afetam o consumo de

energia elétrica, principalmente no setor residencial. Aponta algumas variáveis

que podem afetar comportamentos, incluindo nestas a informação clara e

consequências na forma de redução de tarifas, o que se reporta ter sido feito

em alguns Estados desde os anos 80, mas sem continuidade.

Do BECC AO CEEE

Como se pode notar pelo breve exemplário de apresentações,

comunicações e painéis apresentados nas últimas edições do BECC, há algo

de comum entre todas as instituições controladoras da produção, transmissão

e fornecimento de energia elétrica em todo o mundo: o consumo em constante

ampliação, acompanhando o crescimento da população mundial, de maneira

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que proximamente se alcançará o esgotamento de recursos naturais para a

capacidade instalada. Ou seja, o uso racional exige fortemente capacitação em

eficiência energética, seja pelos meios técnicos próprios de aperfeiçoamento

de produção, transmissão e fornecimento, seja pelo estabelecimento e

consolidação de práticas sustentáveis de conservação de energia. Todos esses

temas estiveram presentes nas edições do BECC, todavia prioritariamente na

perspectiva da “conscientização” da população usuária para a conservação de

energia elétrica, sem políticas, regras, normas e contingências de

comportamento consistentemente estabelecidas para controle do

comportamento do usuário de eletricidade.

Particularmente, o que se pode notar nas publicações ocorridas ou

referenciadas no BECC pelos diversos representantes é que, além de não se

contar com a participação de analistas do comportamento habilitados em

Análise Comportamental da Cultura, nas primeiras três edições, o foco

essencial dos trabalhos, embora use na denominação do próprio evento o título

“Behavior...”, não há qualquer trabalho apresentado que descreva a

programação de contingências (relações entre comportamento, eventos

antecedentes e consequentes no contexto do uso de energia elétrica). Os

trabalhos são apresentados por técnicos em meio ambiente e energia,

economistas, ambientalistas em geral, porém neles falta a menção e descrição

de procedimentos típicos de controle de variáveis que afetem diretamente, via

consequências, o comportamento do consumidor.

É, portanto, justamente essa a diferença de procedimentos que esta

linha propõe seja desenvolvida, consolidada e executada, inicialmente em

termos de projetos de pesquisa e pequenos projetos de intervenção e,

posteriormente, em larga escala via programas de conservação de energia

elétrica via executores diversificados nos estados brasileiros. A ótica da Análise

do Comportamento via práticas culturais é a proposta aqui apresentada e para

a qual, no contexto do convênio CEEE- UNESP, entendemos que devem ser

aportados recursos para fortalecimento de uma importante referência em

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pesquisa, desenvolvimento e tecnologia comportamental para o uso eficiente

de energia elétrica no Brasil.

Dois Projetos-piloto: conjecturas e prospecções

Vários projetos são objeto de reflexões e discussões entre os

pesquisadores afiliados ao CEEE no campus de Bauru da UNESP. Na área da

Linha 2 (Mudança Comportamental e Educação para a Eficiência Energética),

projetos poderão se viabilizar, nos próximos semestres, seja através das

iniciativas associadas do GEPEDEC – Grupo de Estudos e Pesquisas em

Delineamentos Culturais, cadastrado no CNPq e liderado pelo prof. Dr. Kester

Carrara, assim como por iniciativas vinculadas a bolsistas e estudantes de

graduação e pós em geral orientados pelo prof. Kester Carrara no contexto de

sua disciplina Análise Comportamental da Cultura: Delineamentos Culturais e

do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento e

Aprendizagem. Também poderão consolidar-se novas iniciativas a partir dos

trabalhos de pesquisa do prof. Dr. Wilson Yonezawa e orientandos de

graduação dos cursos de Bacharelado em Ciências da Computação e

Bacharelado em Sistemas de Informação. Atualmente, dois projetos, ora em

desenvolvimento, deverão se concretizar nas próximas etapas do Convênio. O

primeiro diz respeito a atuação em Educação Colaborativa Escolar, vinculado a

projeto mais amplo do qual participa o prof. Dr. Kester Carrara com grupo de

pesquisadores da UNESP-Bauru, mediante de apoio no Edital de Ensino

Público da FAPESP. No contexto desse projeto se pretende realizar um sub-

projeto, com participação de alunos de graduação, para consequenciação de

comportamentos dos estudantes, individualmente, e de grupos de estudantes,

mediante consequenciação de práticas culturais sustentáveis (contingências

grupais), que deverão resultar em benefícios para os participantes e também

para a instituição escolar participante, na forma de produto agregado. Os

detalhes de Método, Materiais e Procedimento de tal projeto estão em fase de

elaboração.

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Por outro lado, o formato lógico e de procedimento do segundo projeto,

que envolve a concepção e delineamento de pesquisa e intervenção mediada

teoricamente pela Análise do Comportamento e com foco no desenvolvimento

e consolidação de repertórios comportamentais pró-eficiência energética está

previamente concebido como se segue:

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Projeto COREE - Consumo Racional de Energia

Elétrica

Prof. Dr. Kester Carrara - Depto. Psicologia

Prof. Dr. Wilson M. Yonezawa – Depto. Computação

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Objetivo:

O objetivo geral do projeto é promover ações junto ao cidadão que

possibilite uma mudança efetiva no seu comportamento quanto a gestão do

consumo de energia elétrica em sua residência.

Introdução

Um dos objetivos do programa PROCEL da Eletrobrás é promover a

racionalização da produção e do consumo de energia elétrica. A produção está

associada às empresas geradoras, já o consumo está associado às empresas

distribuidoras e aos consumidores finais. O foco deste projeto está na

racionalização do consumo, mas especificamente no uso residencial da energia

elétrica. Neste tipo de programa é comum o desenvolvimento de ações

educativas cujo objetivo, por meio de informações e consequências

comportamentais, é mudar a forma com que o consumidor trata a questão da

energia elétrica no seu dia-a-dia. Entretanto, este tipo de ação é, na maioria

das vezes, unilateral, isto é, o processo informativo ou educativo é direcionado

para o cidadão individualmente, porém, a observação da efetividade da ação

nem sempre é mensurável ou é de difícil mensuração. Como diferencial em

programas desta natureza, este projeto tratará a observação da mudança de

comportamento como forma de mensuração da efetividade da ação educativa.

A mudança de comportamento é o objetivo de uma ação sistemática e

planejada que poderá observada diretamente. A estratégia para esta ação

sistemática utilizará três atores principais (Figura 1): a empresa distribuidora de

energia elétrica, o consumidor final e o agente mediador; no caso deste projeto,

a Eletrobrás através do Procel.

O papel do mediador é capacitar e fornecer informações úteis

(conteúdos) aos consumidores finais, sobre o assunto em questão. O papel do

consumidor final é interagir o conteúdo oferecido pelo mediador. O papel da

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empresa distribuidora é informar sobre o consumo de energia elétrica por parte

do consumido.

Figura 1: Principais envolvidos.

Descrição do projeto

O projeto propõe uma forma de integração de alguns dos elementos que

envolvem o sistema de distribuição e consumo de energia elétrica. Os

elementos são representados pela empresa de distribuição de energia elétrica

(ex: CPFL, Light, etc), pelos consumidores domésticos, e pelo agente

mediador, representado aqui pelo programa PROCEL. A integração envolve a

troca de informações entre os envolvidos. A Figura 2 descreve o

funcionamento do sistema proposto.

O PROCEL será responsável por oferecer um jogo de computador cuja

temática envolve a gestão dos gastos domésticos referentes ao consumo de

energia elétrica. Qualquer cidadão (usuário do jogo) poderá instalar o jogo em

seu computador. Entretanto, para jogá-lo é preciso efetuar um cadastro no site

da PROCEL (site do jogo). No site, durante o cadastro, o usuário pode a

informar o seu código de consumidor que aparece em sua conta de energia

elétrica. Esse dado será o elo entre o PROCEL, o usuário e a empresa

distribuidora de energia elétrica. Por meio desse código o usuário pode receber

informações sobre o consumo mensal de energia elétrica em sua residência. A

análise do consumo de energia (histórico de consumo), fornecerá dados

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importantes para observação da mudança de comportamento do usuário. O

estímulo (reforçador) para mudança de comportamento será fornecido pelo

jogo. O desempenho no jogo poderá gerar algum tipo de premiação ou

benefício, virtual ou real para o jogador. Um exemplo de beneficio real seria um

desconto na sua conta de energia elétrica. Um exemplo de premiação virtual

seria o recebimento de algum direito de acesso em áreas privativas do site do

jogo, onde o usuário obteria acesso a conteúdos diferenciados.

Figura 2: Arquitetura do projeto.

A idéia do jogo:

Um cidadão em sua residência se depara com várias situações no dia-

a-dia que utilizam aparelhos elétricos e eletrônicos, tais como TV, máquina de

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lavar, computador, forno micro-ondas, chuveiros, etc. Todos esses

equipamentos são necessários para sustentar a vida do personagem. O

cidadão conta com uma quantidade X de dinheiro para gastar durante o mês.

Um mês é composto por 30 dias, um dia é um turno no jogo (cerca de Z

minutos), nesse tempo acontece o dia e a noite. Durante o dia o ambiente da

casa recebe iluminação natural e durante a noite, é preciso iluminá-la

artificialmente, mas isso representa um consumo de energia (possibilidade de

incluir e montar a sua casa – simular a sua casa). Por exemplo, o cidadão pode

trocar as lâmpadas da casa por lâmpadas mais ecologicamente corretas que

agridem menos a natureza e com menos consumo, porém como um gasto

menor.

Itens na casa podem ser vendidos, descartados. Novos itens podem ser

adquiridos. Informações técnicas relacionadas com os itens, tais como,

consumo, preço, etc, também estão disponíveis para o cidadão. As ações

tomadas pelo cidadão influência diretamente a sua própria vida (conseqüência

de curto prazo) bem como a natureza (consequências de longo prazo). Tais

informações são apresentadas para o jogador na forma de indicadores (ex:

vida, índice de conforto, social, índice de sustentabilidade, etc).

O objetivo do jogo é conseguir que determinados indicadores atinjam

certos valores. Eventos aleatórios, tais como apagões, roubos, quebra de

equipamentos, etc, ocorrem e influenciam na gestão e nas ações do jogador.

Lembrando que as ações levam a determinados reforçadores (positivos e

negativos).

O servidor do jogo:

O desempenho do jogador ou o cumprimento de determinadas metas

(“achievements”) são registradas no Servidor do Jogo. Um conjunto de

“achievements” permite que o jogador ganhe méritos e progrida em um

ranking. A progressão nesse ranking gerar benefícios e premiações oferecidas

tanto pelas empresas distribuidoras como pelo PROCEL.

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Website do jogo:

O website do jogo funcionará como uma central de informações e

conteúdos sobre o tema “uso racional da energia elétrica”. Conteúdos

baseados em textos, vídeos, animações e simulações na forma de objetos de

aprendizagem, serão construídos e disponibilizados para os usuários do jogo.

Fórum de discussões sobre os aspectos do jogo permitirão que os usuários

troquem informações entre eles. Informações sobre o desempenho dos

jogadores também serão disponibilizadas pelo site.

Perspectivas futuras:

1) Implementação do jogo no formato multiplayer massivo.

2) Exploração de novos cenários como a gestão de energia elétrica nas

empresas ou até mesmo em órgãos públicos.

3) Realização de pesquisas acadêmicas nas áreas de Computação,

Educação e Análise Comportamental da Cultura

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Projeto PEDUEE – Promoção de Educação em

Energia e Eficiência Energética

Prof. Dr. Leonardo Mesquita

Prof. Dr. José Galeno de Souza

Me. Fábio Esteves da Silva

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1) OBJETIVO:

O objetivo geral deste projeto é fazer uma sistematização de possíveis

ações educacionais para a divulgação de conceitos sobre uso racional de

energia utilizando recursos didáticos variados.

2) INTRODUÇÃO

Tradicionalmente os conhecimentos da área de Ciências são

transmitidos de forma expositiva, utilizando para isto demonstrações de

fórmulas matemáticas e fazendo com que os alunos decorem tais conceitos

resolvendo exercícios que, muitas vezes não apresentam um significado real

ou uma conexão palpável do cotidiano

Neste sentido, um dos desafios atuais para a melhoria do ensino é o

desenvolvimento de recursos didáticos que sejam capazes de despertar o

interesse dos alunos para determinados conteúdos curriculares ou que atuem

como meios facilitadores dos processos de ensino-aprendizagem.

O entendimento dos princípios da ciência de um modo geral constitui um

elemento fundamental para a compreensão crítica do mundo em que vivemos.

O uso de atividades experimentais como estratégia de ensino vem sendo

apontado como uma das maneiras mais adequadas de minimizar as

dificuldades de se aprender e de se ensinar de modo significativo e

consistente. É muito importante para a o processo educacional dispor de

materiais didáticos que partam de elementos do cotidiano para despertar o

interesse dos alunos, permitindo a aquisição de competências e habilidades de

uma forma mais interativa; no entanto, ainda existe uma carência de materiais

didáticos desenvolvidos com esse propósito.

Durante os últimos anos algumas iniciativas estão sendo feitas com o

intuito de disseminar informações sobre o uso racional de energia. Europa,

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Estados Unidos hoje são os principais desenvolvedores de programas e

projetos que estabelecem intima relação com questões sobre energia, meio

ambiente e suas implicações na sociedade. Não obstante, o Brasil, assim como

outros países como alguns países asiáticos e da Oceania, também mantém, e

como é o caso do nosso país, programas desta natureza há mais de duas

décadas.

3) DESCRIÇÃO DO PROJETO

A presente proposta de pesquisa busca promover atividades, eventos e

desenvolvimento de recursos didáticos sobre a temática “Energia”. Para tanto,

propõe o desenvolvimento e aprimoramento de alguns veículos de divulgação

destinados a professores e alunos do Ensino Fundamental. Tais veículos

contam com metodologias, materiais e objetivos distintos, fundamentados na

experimentação e capacitação de professores deste setor educacional.

As atividades inicialmente sugeridas deverão atingir professores e

alunos da Região do Vale do Paraíba, bem como outras regiões que se

mostrarem receptivas às intenções do projeto. Para isto pretende-se realizar

uma série de atividades sistematizadas tanto dentro do Centro de Educação

para Eficiência Energética, escolas, feiras cientificas e congressos na área.

Para a coleta de dados e análise dos resultados da pesquisa serão

utilizadas várias técnicas, qualitativas e quantitativas, comumente utilizadas em

pesquisa-ação, tais como: documentos, registros arquivados, entrevistas,

observação direta, observação participante, e artefatos produzidos para a

execução do projeto.

3.1) Exemplos de Atividades de Difusão

Para a efetivação dos objetivos do projeto de pesquisa, inicialmente uma

série de atividades poderão ser realizadas e devidamente aprimoradas para

uma melhor difusão dos conceitos abordados. Cabe destacar que além das

atividades propostas, a equipe de pesquisadores poderá incluir novas

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experiências que forem pertinentes à divulgação de conceitos sobre o uso

racional de energia. Atividades como: formação de Professores; capacitação de

estagiários, técnicos e graduandos; Show de Energia; Mostra de Energia;

organização de Feiras de Ciências; Desenvolvimento de Equipamentos e

Experimentos; Desenvolvimento de objetos virtuais de aprendizagem. A seguir

será apresentado um breve resumo sobre atividades realizadas e que podem

contribuir para a promoção e difusão de conceitos

3.1.1) Formação de Professores

A equipe de pesquisadores do Laboratório deverá proporcionar o

aperfeiçoamento profissional de professores em atuação, e em cursos de

graduação, em diferentes áreas ligadas à energia. Cursos sobre metodologia

de Aprendizagem Baseada em Projetos, Conceitos sobre Energia,

Experimentação em sala de aula, entre outros, poderão ser trabalhadas para a

efetivação de uma difusão do projeto.

Nos cursos destinados aos professores do Ensino Fundamental,

deverão ser desenvolvidos conteúdos específicos e para os cursos de

graduação poderão ser reforçados conteúdos específicos nos cursos de

licenciaturas. Para a execução destes cursos, o envolvimento da coordenação

pedagógica das escolas, apoio da direção da escola serão de fundamental

importância para conclusão dos objetivos propostos em cada etapa. A Figura 1

apresentada alguns momentos de capacitações já realizados anteriormente e

que deverão ser reformulados e difundidas no decorrer do desenvolvimento do

projeto.

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Figura 1: Grupo de professores montando experimentos.

3.1.2) Show de Energia

Em meados da década de 1980, um professor chamado Clint Sprott, da

Universityof Wisconsin – USA, desenvolveu uma série de experimentos que

pudessem ser mostrados a um público leigo em ciências que retratavam

diversos conceitos científicos e aspectos tecnológicos, outrora confinado

somente aos laboratórios avançados de cientistas nas Universidades e em

algumas empresas.

No mesmo sentido de divulgar a Ciência, mais especificamente a Física,

o Prof. FuadDaher Saad, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo,

criou o Show de Física na década de 1990, além de manter um laboratório

auxiliar para o desenvolvimento de experimentos e que hoje conta com

centenas de exemplares expostos em suas dependências.

Esta vontade aliada à necessidade de se desenvolver e divulgar

Ciências também foi vivenciada na UNESP, mais especificamente em dois de

seus Campi, sendo que no ano de 2.003 foi implantado pelo Prof. Jorge

Roberto Pimentel, no Departamento de Física da Campus de Rio Claro o Show

de Física. No ano seguinte o Campus de Guaratinguetá, sob a coordenação do

Prof. JanioItiroAkamatsu, deu início também às primeiras apresentações do

Show de Física nesta unidade.

Nos anos seguintes uma equipe de professores, alunos de graduação e

pós-graduação, bolsistas e estagiários teve a oportunidade de adaptar o então

conhecido Show de Física para uma versão especifica para tratar de energia,

recebendo então o nome de Show de Energia. Esta evolução foi efetivada em

parceria com órgãos, instituições e empresas e resulta hoje em com o acúmulo

de mais de oito centenas de apresentações realizadas ao longo de mais de três

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centenas de dias espalhados por vários estados do Brasil, sendo levado

inclusive para Manacapuru, uma cidade no interior da Amazônia.

O Show de Energia é uma apresentação teatral interativa realizada por

monitores capacitados para desenvolver uma sequência de demonstrações

para um público das mais variadas idades e níveis de formação. Normalmente

as apresentações têm a duração de uma hora e meia, e contam com recursos

tecnológicos e impactantes, destinados a causar o fascínio e despertar o

interesse dos alunos para questões relacionadas à Ciência de um modo Geral.

Recursos didáticos que abrangem as três grandes áreas da Física, que são:

Mecânica, Eletricidade e Eletromagnetismo, Termodinâmica compõem o

acervo de experimentos que dão suporte tanto ao Show quanto à Mostra de

Energia, detalhada logo a frente. Uma visão geral do palco montado para as

apresentações é mostrada na Figura 2, bem como a Figura 3 ilustra alguns

momentos e equipamentos do Show de Energia.

Figura 2: Visão Geral do Palco montado para a apresentação do Show de Energia.

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Figura 3: Exemplos de experimentos utilizados durante o Show de Energia

3.1.3) Mostra de Energia

Consiste em uma exposição ministrada por monitores sobre

equipamentos e protótipos desenvolvidos com fins educacionais sobre a

temática da Energia. Tem por objetivo dar aos alunos a oportunidade de

conhecer e adquirir informações sobre equipamentos, produtos e processos de

produção de energia. Os materiais utilizados são estrategicamente organizados

permitindo a circulação e interação direta entre alunos e professores.

Inicialmente concebida para abranger principalmente as grandes áreas

da Mecânica, Eletricidade, Eletromagnetismo e Termodinâmica. Abaixo se

encontram ilustrações desenhadas em 3D com auxilio de software especifico

para desenho. Ao fim deste documento encontra-se uma lista com cerca de 30

experimentos que podem ser utilizados para tratar questões fundamentais de

Energia, bem como utilizá-los para contextualização e disseminação de

conhecimentos sobre uso racional de energia.

Figura 4: Máquina de Winshurst.

Figura 5: Eficiência de lâmpadas.

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Figura 6: Bobina de Tesla.

Figura 6: Transformador de baixa tensão.

3.1.4) Capacitação de estagiários, graduandos e Pós-graduandos

Para a efetivação das atividades de Show, Mostra de Energia, formação

de professores, desenvolvimento de novas metodologias de ensino, entre

outros, se faz necessário que uma equipe devidamente capacitada seja

formada no Centro de Educação para Eficiência Energética. Neste sentido será

necessário contar com a dedicação de técnicos, alunos de graduação e pós-

graduação, que deverão ficar responsáveis pelo assessoramento de visitantes

no Centro. Para atingir este objetivos os pesquisadores do Centro deverão

contar com o apoio de outras instituições de fomento à pesquisa, como

FAPESP, CAPES, CNPq, empresas do setor energético, mediante a

elaboração projetos destinados a este fim.

Devido ao desenvolvimento de outros projetos ocorridos no passado, a

equipe de pesquisadores já proporcionou a capacitação de cerca de dez alunos

formados em cursos técnicos, mais trinta alunos de cursos de graduação em

engenharias (elétrica, mecânica, produção, civil, entre outras), física e

matemática. Como parte integrante deste projeto, dezenas de novos

estudantes e professores já atuantes deverão ser capacitados para a

efetivação da proposta para a difusão do uso racional e eficiente da energia

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3.1.5) Organização de Feiras de Ciências

Com o intuito de promover ações para a comunidade no entorno da

Universidade, bem como em outras regiões do país, atividades referentes à

organização de Feiras de Ciências deverão ser estimuladas e assessoradas

pelos pesquisadores. Estas feiras poderão contemplar diferentes áreas ligadas

ao tema energia. Algumas experiências no passado servirão como base para a

ampliação e aumentar a frequência destas atividades, que aparecem como um

importante elemento para a aprendizagem dos alunos. A Figura 7 apresenta

alguns momentos de feiras de ciências já realizadas

Figura 8: Algumas Feiras de Ciências realizadas em escolas da região.

4) FASES DE EXECUÇÃO

a) Contato com Diretorias e Secretarias de Ensino das cidades

pertencentes à região do Vale do Paraíba para apresentar o projeto e estreitar

laços com os dirigentes de ensino.

b) Estudo da viabilidade e exequibilidade de capacitação de professores

bem como o desenvolvimento de feiras de ciências nas escolas.

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c) Produção de material de apoio aos educadores para que eles adquiram

conhecimentos específicos sobre os conceitos científicos envolvidos nos

experimentos selecionados.

d) Capacitação de estagiários e bolsistas de iniciação científica de forma a

se adequarem á proposta do projeto, seja para adquirirem um completo

conhecimento sobre o funcionamento e preparo de recursos didáticos, seja

para o domínio dos conceitos científicos, técnicos e didáticos envolvidos nos

recursos desenvolvidos.

e) Aperfeiçoamento dos materiais e equipamentos envolvidos no Show

“Energia em Ação”, bem como os envolvidos na Mostra de “Energia em Ação”.

f) Elaboração de fichas de avaliação destinadas aos professores e alunos

que tiverem contato com as ações desenvolvidas.

g) Agendamento de cursos de capacitação e apresentações do Show e

Mostra de Energia nas escolas da região do Vale do Paraíba.

h) Incentivo a formação de feiras de ciências voltadas para os temas

Energia, Meio Ambiente e Sustentabilidade nas escolas atendidas.

i) Produção de artigos de científicos e cartilhas serem veiculados em

diferentes meios de comunicação a fim de se obter uma maior visibilidade e

consequentemente uma maior aceitação do projeto por parte das escolas alvo

do mesmo.

5) RESULTADOS ESPERADOS.

A proposta de trabalho neste projeto buscará desenvolver ferramentas que

proporcionem ao ensino um contexto para a discussão de aspectos ambientais,

sociais, econômicos, políticos, históricos e éticos diretamente relacionados com

o uso da energia.Com relação às atividades acima citadas, a presente proposta

consiste em detalhar futuramente estas ações de forma sistematizada, dando

especial atenção à formação do professor, visto que serão os transmissores

dos conhecimentos a eles passados.

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Além disso, o desenvolvimento de novos materiais didáticos para uso na

educação formal e informal deverão ser pensados de forma a auxiliar no

processo de ensino-aprendizagem, proporcionando um ensino contextualizado

e que procure fixar nos professores e alunos conceitos necessários para a

implementação de uma cultura pró-eficiência energética.

6) REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ANDREWS, J.; JELLEY, N. Energy Science: Principles, Technologies, and

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HERNANDEZ, F.; VENTURA, M. A Organização do Currículo por Projetos de

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HEWITT, P.G. Física Conceitual. 9.ed. Porto Alegre: ARTMED Editoras S.A.,

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Etapa 7: Apresentação e discussão da pesquisa 2 com gestores da Eletrobrás.

Em reunião ocorrida na Faculdade de Ciências do Campus de Bauru foi

apresentado e discutido os resultados da Pesquisa 2 – Mudança

comportamental e educação para eficiência energética. A apresentação dos

resultados foi realizada pelo Prof. Dr. Kester Carrara contando com a presença

de docentes/pesquisadores vinculados ao convênio, gestores da Elétrobrás e

por discentes vinculados aos programas de graduação e pós-graduação da

UNESP - campus de Bauru.

Todas as etapas desenvolvidas vinculadas ao TRABALHO II do convênio são

listadas na Tabela 2.

Tabela 2: Etapas de desenvolvimento do TRABALHO II (06 meses).

Metas / Produtos – TRABALHO II Status

1 Formação da equipe de trabalho. Em

desenvolvimento

3 Desenvolvimento e manutenção de um Portal WEB para

divulgação das atividades do Centro e interação como público.

Em

desenvolvimento

6 Pesquisa 2: Mudança comportamental e educação para eficiência Concluído

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energética.

7 Apresentação e discussão da pesquisa 2 com gestores da

Eletrobrás. Concluído

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Deste modo, pelos resultados apresentados ao longo deste relatório esperamos estar

cumprindo com os objetivos previstos no Convênio. Ficamos a disposição para qualquer

outro esclarecimento.

Data: de de 2010.

Prof. Dr. Leonardo Mesquita

Coordenador do Convênio