Monografia Josilene Pedagogia 2011
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA-UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO-CAMPUS VII
SENHOR DO BONFIM
JOSILENE RIBEIRO BORGES
A RELAÇÃO ENTRE AS EXPECTATIVAS E PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO
PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DOS FILHOS COM NECESSIDADES
ESPECIAIS NA ESCOLA PEDRO CALMON, NO DISTRITO DE PILAR,
JAGUARARI - BA.
SENHOR DO BONFIM – BA
2011
JOSILENE RIBEIRO BORGES
A RELAÇÃO ENTRE AS EXPECTATIVAS E PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇÃO DOS FILHOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA ESCOLA PEDRO CALMON,
NO DISTRITO DE PILAR, JAGUARARI - BA.
Monografia apresentada como pré-requisito
para conclusão do curso de Pedagogia:
Docência e Gestão de Processos Educativos,
pelo Departamento de Educação – Campus
VII da Universidade do Estado da Bahia –
UNEB.
Orientadora: Profª Ms.. Rita de Cássia
Oliveira Carneiro
SENHOR DO BONFIM – BA
2011
JOSILENE RIBEIRO BORGES
A RELAÇÃO ENTRE AS EXPECTATIVAS E PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇÃO DOS FILHOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NA ESCOLA PEDRO CALMON,
NO DISTRITO DE PILAR, JAGUARARI - BA.
Aprovada em ______de ______________ 2011
_________________________________________________
Profª. Ms. Rita de Cássia Oliveira Carneiro
_________________________________________________
Avaliador(a)
_________________________________________________
Avaliador(a)
Dedico este trabalho a todas as pessoas
que possuem alguma limitação, seja ela
permanente ou temporária; e que
infelizmente são tratadas na maioria das
vezes como ineficientes e não como
deficientes.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus, que me deu forças para que eu continuasse
e principalmente concluísse este curso.
Esta monografia foi construída com o auxilio de pessoas muito importantes
que não posso deixar de agradecer:
Todas as colegas de curso.
Todos os profissionais da UNEB, especialmente a minha orientadora Rita de
Cássia Oliveira Carneiro, pela paciência, pela competência e principalmente pela
sua contribuição para a realização deste trabalho.
Agradeço à Direção, a coordenação e aos professores da Escola Municipal
Professor Pedro Calmon, por ter me recebido e contribuído de maneira significativa
e determinante para a realização desta pesquisa.
Aos meus pais, Lucilene e José Ribeiro, pois cuidaram muito bem dos meus
filhos, Maria Clara e Felipe durante o tempo que tive que pesquisar e construir este
trabalho, e por tudo que fazem por mim.
Não posso deixar de agradecer a Marcos Welby que contribuiu para a
realização deste trabalho, revisando, dando opiniões e sendo responsável inclusive
pela temática abordada neste trabalho.
Agradeço a todos e me sinto muito feliz por ter sido sempre bem recebida,
bem acompanhada e muito bem orientada. Esta é uma etapa da minha vida e
formação que vai ficar marcada para sempre.
A todos, obrigada por tudo.
“Quando plantamos alface e ela não
cresce bem, não pomos a culpa na alface.
Investigamos os motivos que a levaram a
não se desenvolver. Pode ser que ela
precise de mais adubo, de mais água ou
de menos sol. Nunca pomos a culpa na
alface... se soubermos como cuidar das
pessoas, elas também se desenvolverão,
como a alface”.
Thich Nhat Hanh
RESUMO
Apresentamos este trabalho monográfico a partir da pesquisa realizada na Escola
Municipal Professor Pedro Calmon, no Município de Jaguarari-Ba, que teve como
objetivo compreender a relação entre expectativas e participação dos pais no
processo de escolarização dos filhos com necessidades especiais. Para o alcance
do objetivo proposto utilizamos a observação participativa, a entrevista semi-
estruturada e o questionário fechado. A partir da utilização desses instrumentos
aplicados com os sujeitos da pesquisa que foram dez professores e quatro pais de
alunos. Analisamos os dados coletados norteados pela contribuição dos seguintes
autores: Sassaki (1997), Mantoan (1997), Correa (1993), Buscaglia (2002), Ferreira
(2003), Glat (2003), entre outros. Ao analisar as declarações podemos afirmar que
os pais criam expectativas em relação à escolarização dos seus filhos, mas, no
entanto a maioria não participa da vida escolar de seu filho. E principalmente que
enquanto a lei garante a prática nega no que se refere à inclusão escolar, pois existe
um descrédito tanto no desenvolvimento da aprendizagem das crianças com
necessidades especiais, como também na socialização das mesmas. A escola está
aberta a receber esses pais, e junto com eles identificar os fatores que dificultam o
processo de escolarização dessas crianças, no entanto essa procura e preocupação
dos pais em melhorar o atendimento escolar de seu filho na maioria das vezes não
acontece.
Palavras-Chave: Educação inclusiva, pais, professor e crianças com necessidades
especiais.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................10
CAPÍTULO I
1. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E AS RELAÇÕES ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA:
SITUANDO A QUESTÃO.....................................................................................................13
CAPÍTULO II
2. EDUCAÇÃO INCLUSIVA: AS RELAÇÕES ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA NO PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇÃO DAS CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS.......................................21
2.1 CARACTERIZANDO A EDUCAÇÃO INCLUSIVA..................................................................21
2.2 AS LEIS QUE REGULAMENTAM A INCLUSÃO..................................................................24
2.3 O CONCEITO DE DEFICIÊNCIA.....................................................................................27
2.3.1 SÍNDROME DE DOWN.........................................................................................28
2.3.2 DEFICIÊNCIA FÍSICA ..........................................................................................29
2.3.3 DEFICIÊNCIA MENTAL........................................................................................29
2.4 OS PAIS: PERSPECTIVAS E PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO..............30
CAPÍTULO III
3. TRILHA METODOLÓGICA: DEFININDO OS CAMINHOS DA PESQUISA...........................33
3.1 OBSERVAÇÃO PARTICIPANTE.................................................................................35
3.2 ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA ..........................................................................36
3.3 QUESTIONÁRIO FECHADO......................................................................................37
CAPÍTULO IV
4. ANALISANDO AS EXPECTATIVAS E A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS DE
CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NO PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇÃO DE SEUS FILHOS: O QUE APONTAM OS DADOS..............................39
4.1 OS CONTATOS INICIAIS E AS ENTREVISTAS APLICADAS..................................................40
4.1.2 O PERFIL DOS PROFESSORES ENTREVISTADOS.....................................................40
4.1.3 O PERFIL DOS PAIS DOS ALUNOS COM NECESSIDADES ESPECIAIS...........................41
4.1.4 A ÓPTICA DOS PROFESSORES NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DOS ALUNOS
ESPECIAIS..................................................................................................................41
4.1.5 O QUE EXIGEM OS PAIS NO PROCESSO DE ESCOLARIZAÇÃO DOS FILHOS COM
NECESSIDADES ESPECIAIS...........................................................................................49
4.1.6 A RELAÇÃO ENTRE AS EXPECTATIVAS E PARTICIPAÇÃO DOS PAIS NO PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇÃO DOS SEUS FILHOS...............................................................................53
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................56
REFERÊNCIAS............................................................................................................59
ANEXOS
INTRODUÇÃO
Embora haja avanços no conceito de inclusão, os preconceitos e estereótipos
acerca das pessoas com deficiência foram construídos culturalmente, determinando
e expressando as atitudes e ações no contexto em que estamos inseridos. Essas
barreiras são por vezes, evidenciadas pelos mecanismos de negação das
possibilidades dessas pessoas, fortemente firmados no conceito de limitação e
incapacidade, existentes ainda em nosso meio. E é esse o desafio que a escola
inclusiva se propõe a romper.
Perdurou por muito tempo o atendimento assistencialista para as pessoas
com necessidades especiais. Vários documentos e discussões são feitos e voltados
para que a inclusão dessas pessoas tanto no meio social como no ambiente escolar
acontecesse. A década de 90 foi a década da Educação Para Todos e em 1994 a
Declaração de Salamanca promulga o modelo inclusivista e as escolas regulares
devem “acomodar as crianças independentemente de suas condições físicas,
sociais, emocionais, lingüísticas ou outras” (BRASIL, 2006, p.330).
O Plano Nacional de Educação Lei n. 10.172/2001, traz a perspectiva de que
um “avanço que a década da educação deveria produzir seria a construção de uma
escola inclusiva que garanta o atendimento à diversidade humana”.
A Convenção de Guatemala (1999) que foi promulgada no Brasil pelo Decreto
n. 3.956/2001 afirma que as pessoas com deficiência têm os mesmos direitos
humanos e liberdades fundamentais que as demais pessoas, e define como
discriminação com base na deficiência toda diferenciação ou exclusão que possa
impedir ou anular o exercício dos direitos e suas liberdades fundamentais.
Apesar de existirem diversas leis e de documentos para que a inclusão das
pessoas com deficiência se efetive, os pais dos alunos com necessidades especiais
devem ter a consciência de que deverão ser os primeiros a lutarem por uma
condição melhor de vida para seus filhos.
Com base no exposto acima partimos em busca da nossa inquietação que foi
compreender a relação entre expectativas e participação dos pais no processo de
escolarização dos filhos com necessidades especiais na Escola Municipal Professor
Pedro Calmon no Distrito de Pilar, município de Jaguarari-BA.
O objetivo foi identificar quais as expectativas e participação dos pais em
relação ao processo de escolarização de seu filho na escola regular e para subsidiar
nossa pesquisa foi preciso ouvir também os professores para que assim
pudéssemos enumerar medidas que os pais tomam junto à escola e noutros
contextos tendo em vista as suas expectativas e identificar fatores apontados pelos
pais e pela escola que contribuem para facilitar e/ou dificultar a participação na
escolarização de seu filho.
Contamos com a contribuição de muitos estudiosos que discutem a respeito
da inclusão, entre eles citamos: Brandão (1996); Rodrigues (1998); Mazotta (1998);
Aiello (2002); Oliveira e Glat (2003); Mantoan (2003); Moreira (2004); Lopes (2009).
Para a execução deste trabalho monográfico foi preciso inicialmente o
aprofundamento bibliográfico sobre a temática apresentada, e a partir daí aplicar os
instrumentos de coleta de dados no lócus da pesquisa, dando assim subsídios para
discutirmos e compreendermos a relação entre as expectativas e a participação dos
pais no processo de escolarização dos filhos com necessidades especiais.
Neste contexto, no Primeiro Capítulo situamos a questão de pesquisa
trazendo uma discussão sobre a escola inclusiva e as relações entre a família e
escola. É apresentado também neste capítulo a questão de pesquisa e os seus
objetivos.
No Segundo Capítulo fundamentamos com base em alguns teóricos a
problemática apresentada, trazemos as leis que regulamentam a inclusão e
categorizando as características das deficiências dos alunos, filhos dos envolvidos
na pesquisa.
Apresentamos no Terceiro Capítulo uma abordagem sucinta sobre o percurso
metodológico utilizado para a realização desta pesquisa, caracterizando o local, os
sujeitos e os instrumentos aplicados, para obter informações acerca do tema.
No Quarto Capítulo realizamos a análise e a interpretação dos dados
coletados bem como discutimos a relação entre as expectativas e a participação dos
pais no processo de escolarização dos filhos com necessidades especiais na escola
regular.
Finalizamos o trabalho com as considerações finais, onde buscamos realizar
uma síntese das reflexões desenvolvidas por todo o trabalho.
CAPÍTULO I
1. EDUCAÇÃO INCLUSIVA E AS RELAÇÕES ENTRE FAMÍLIA E ESCOLA:
situando a questão.
O conceito de inclusão passa por uma evolução sócio/ histórica e aponta para
a necessidade de se aprofundar um debate sobre a diversidade, implicando na
busca de compreender a heterogeneidade, as diferenças individuais e coletivas e,
sobretudo as diferentes situações vividas na realidade social e no cotidiano escolar.
O espaço escolar é um dos principais espaços de convivência social durante
as primeiras fases do desenvolvimento do ser humano, desta forma na escola o
individuo deve desenvolver a consciência de cidadania e de direitos, já que é nela
que a criança começa a conviver no espaço coletivo de forma diversificada, fora do
contexto familiar.
Para fazermos uma discussão sobre a relação e a participação dos pais no
processo de escolarização dos filhos com necessidades especiais devemos partir do
pressuposto de que o espaço escolar e todos que fazem parte dele devem estar
preparados para atender as necessidades e especificidades dos sujeitos para que o
processo de ensino e aprendizagem tenha sucesso. Os envolvidos diretamente no
processo de ensino e aprendizagem devem sempre fazer a seguinte pergunta:
Como fazer com que todos os educandos, apesar de suas diferenças, consigam
caminhar juntos?
No entanto o que acontece na prática é que nem sempre a instituição escolar
consegue atender as expectativas e aos anseios desses alunos. Pois é sabido que
pessoas com necessidades especiais, de forma permanente ou temporária
demandam um atendimento diferenciado no processo de ensino e aprendizagem.
As crianças com necessidades educativas especiais, ao longo de seu
desenvolvimento, apresentam determinados impedimentos no processo de
aprendizagem, porém isto não as impossibilita de interagir com os demais sujeitos
do seu meio sócio-cultural.
Vale salientar que os PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), da Educação
Especial definem como alunos com necessidades especiais aqueles que: “por
apresentar necessidades próprias e diferentes dos demais alunos no domínio das
aprendizagens curriculares correspondentes à sua idade, requer recursos
pedagógicos e metodológicos educacionais específicos” (p.24).
Desta forma, o aluno que apresenta necessidades educacionais especiais
precisa ser atendido no ambiente escolar, promovendo assim a sua aprendizagem,
integração, respeitando suas limitações e para que isso ocorra é necessário que o
professor esteja preparado. Vale enfatizar, que no espaço escolar os alunos
apresentam, de forma diferenciada, valores, costumes e hábitos aprendidos e
vivenciados no ambiente cultural e familiar.
Portanto o conhecimento e o acompanhamento, por parte da escola, das
relações desenvolvidas pelo aluno no seu cotidiano com sua família são
indispensáveis para que o mesmo se insira no ambiente escolar sem maiores
problemas. Nesse contexto a escola é provocada a pensar sua prática a partir da
perspectiva da diversidade cultural, num perfil de inclusão cultural, incorporando e
dialogando com as diferentes formas de expressão vivenciadas pelos alunos em
suas comunidades.
Desta forma o aluno tendo um espaço educativo propício para sua
aprendizagem, terá sucesso em sua vida estudantil, a partir do reconhecimento de
que a melhor maneira de ajudar as crianças com necessidades educativas especiais
é segundo a Declaração de Salamanca (1994, p.10) “[...] adotar como matéria de lei
ou como política o principio da educação inclusiva, admitindo todas as crianças nas
escolas regulares, a não ser que haja razões que obriguem a proceder de outro
modo.
Os pais de alunos com necessidades especiais demonstram anseios e
expectativas em relação ao desenvolvimento e as aprendizagens escolares de seus
filhos. Por isso mesmo é que podem e devem se transformar em parceiros da escola
no processo de escolarização dos seus filhos, e conseqüentemente, nos processos
de inclusão escolar e social destes sujeitos. A Declaração de Salamanca (UNESCO,
1994, p.9), entre outros aspectos, aponta que “... as crianças e jovens com
necessidades educativas especiais devem ter acesso às escolas regulares, que a
elas devem se adequar através de uma pedagogia centrada na criança, capaz de ir
ao encontro destas necessidades.
Sabemos que não basta colocar a criança na escola, é preciso um
acompanhamento efetivo por parte da família para que o processo de escolarização
aconteça numa parceria família e escola. Por isso a importância de uma
investigação sobre como os pais vêem esse processo de inclusão
concomitantemente como eles participam dele.
Os alunos devem não apenas ter o acesso a escola, mas que esta realmente
cumpra seu papel, contribuindo assim no processo de inclusão social dessas
crianças, pois é a partir do convívio com as outras crianças que eles vão poder se
socializar e participar efetivamente da sociedade. Neste sentido, a Declaração
enfatiza ainda que:
As escolas regulares com orientação para a educação inclusiva são as mais eficazes no combate às atitudes discriminatórias, propiciando condições para o desenvolvimento de comunidades integradas, base da construção da sociedade inclusiva e obtenção de uma real sociedade para todos (UNESCO, 1994, p.09).
É importante ressaltar que a escola inclusiva propõe que todas as pessoas
com necessidades Educacionais Especiais sejam atendidas na rede regular de
ensino, a escola deve ser uma instituição social que tem por obrigação atender a
todas as crianças, sem exceção, sendo aberta, pluralista, democrática e de
qualidade. Sobre esta questão Moreira (2004) afirma que:
O princípio democrático de educação poderá viabilizar mediante o redimensionamento da escola e a formação continuada dos docentes, de forma a atender com êxito a todas as crianças, independentemente de suas especificidades para aprender. É um compromisso a ser assumido por todos especialmente pelos dirigentes políticos e professores, a garantia de educação de qualidade, onde todas as crianças devem aprender juntas, respeitando, acima de tudo, a diversidade existente entre elas (p.63).
Diante disto fica evidente que a escola deve receber todos os alunos
especiais e promover a sua integração e aprendizagem, para isso é necessário uma
metodologia que atenda a todos respeitando as diferenças e necessidades
individuais.
O processo inclusivo tem como objetivo adaptar o sistema escolar às
necessidades dos alunos, considerando que a inclusão propicie o acesso de todos a
uma educação de qualidade, assim como ao seu desenvolvimento pessoal,
aceitando as diferenças individuais como atributos e não como obstáculos,
valorizando a diversidade para o enriquecimento dos indivíduos e principalmente
envolvendo a família no acompanhamento de seus filhos no processo de
escolarização.
A Declaração de Salamanca (1994) também nos traz a importância da
parceria com os pais no processo de desenvolvimento e escolarização das crianças
com necessidades educativas especiais, afirmando que a educação delas deve ser
dividida entre pais e profissionais, como também as demais pessoas envolvidas no
processo de inclusão e que precisam de apoio para assumir este papel.
Para Aiello (2002, p.91) apesar da necessidade do envolvimento da família no
trabalho escolar dessas crianças, isto não significa que isso esteja acontecendo.
“Este fato pode ser constatado pelo reduzido número de trabalhos e pelas
discussões e pesquisa envolvendo a escola inclusiva, as quais fazem referência à
participação da família da criança com necessidades especiais” ela ainda acrescenta
que caberia aos pais terem maior compreensão sobre o processo de inclusão
escolar quanto aos seus objetivos, benefícios e limites.
O que acontece na maioria das vezes é que esses pais não têm
conhecimento das leis que garantem esses direitos aos seus filhos, e
conseqüentemente, não as fazem acontecer. Existem várias leis em relação à
inclusão de pessoas com necessidades especiais, mais muitas delas não são
efetivadas na maioria das vezes por falta de conhecimento e pressão dos
interessados. Alguns documentos importantes como: Declaração de Salamanca,
Leis de Diretrizes e Bases da Educação, Constituição de 1988, Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCNs) regulamentam a inclusão, não são de conhecimento
de todos e, ás vezes, os pais sabem que existem, porém não sabem como acioná-
los em favor dos interesses e necessidades de seus filhos. Diante disso vale lembrar
o que afirma o Art. 59 da LDB nº 9394/96
Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos com necessidades especiais, currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e organização especifica para atender às suas necessidades. Professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns (BRASIL, 2001).
No entanto, muitas escolas entendem que incluir pessoas com necessidades
especiais é simplesmente aceitar e atender alunos com deficiências físicas ou com
pequeno déficit de comunicação. Porém o modelo de inclusão é para todo e
qualquer tipo de comprometimento seja ele reduzido ou não.
Portanto, o processo de inclusão, deve ser compreendido como interativo e
dinâmico resultante da influência mútua de múltiplos fatores (RODRIGUES, 1998).
Assim sendo, para assegurar a educação de crianças com necessidades especiais
no âmbito escolar, algumas medidas precisam ser tomadas no que diz respeito ao
envolvimento de todos no processo de escolarização, ao material didático
especializado, o espaço físico adequado às necessidades dos educandos, a prática
pedagógica adaptada às diferenças individuais, metodologias e recursos
pedagógicos, a formação continuada dos professores e um currículo organizado
para atender às necessidades dos indivíduos envolvidos no processo. Assim,
Oliveira e Glat (2003) afirmam que:
As adaptações de acessibilidade ao currículo referem-se à eliminação de barreiras arquitetônicas e metodológicas, sendo pré-requisito para que o aluno possa freqüentar a escola regular com autonomia, participando das atividades acadêmicas propostas para os demais alunos. Estas incluem as condições físicas, materiais e de comunicação (pág.4).
Portanto, fazer educação inclusiva não é apenas permitir que as crianças com
necessidades especiais freqüentem a escola, mas garantir-lhes as efetivas
condições de avançarem em seu processo de desenvolvimento e aprendizagem.
Segundo Schwartzman (1999, p. 23) a educação da criança é uma atividade
complexa, pois exige adaptações de ordem curricular que requerem um cuidadoso
acompanhamento dos educadores e pais. É freqüentando a escola que a criança
com necessidade especial irá adquirir, conhecimentos cada vez mais complexos que
serão exigidos da sociedade e cujas bases são fundamentais para a formação de
qualquer individuo.
A necessidade de adaptação curricular é imprescindível para que o aluno não
apenas faça parte momentaneamente e sim permaneça no âmbito escolar
contribuindo para que essa permanência seja significativa e construída
cotidianamente. Nesse processo é fundamental a presença da família para em casa
dar continuidade aos estudos e socialização desses sujeitos.
A deficiência seja ela física, intelectual, visual, auditiva, social, emocional,
lingüística ou outra, não deve prevalecer, isoladamente, como obstáculo ou
impedimento que impossibilita o pleno desenvolvimento das potencialidades de uma
pessoa. As escolas inclusivas buscam novas estruturas e novas competências.
Nesse sentido Mauri (1998), nos diz que “a função da escola é o ensino em todas as
dimensões relevantes do conhecimento” (p.88).
Por isso a importância de um currículo flexível que permita atender a todas as
necessidades dos alunos, contemplando esse universo diversificado e fazendo com
que todos se sintam parte integrante de um aprendizado que deve ser coletivo e
heterogêneo. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Especial, de
1998, nos mostram que a inclusão,
não significa, simplesmente matricular os educandos com necessidades especiais na classe comum, ignorando suas necessidades especificas, mas significa dar ao professor e à escola o suporte necessário à sua ação pedagógica. (MEC/ SEESP, 1998).
Além disso, para tornar uma escola inclusiva, Mantoan (2003, p. 59-60) alerta
que é preciso enfrentar muitas “frentes de trabalho” e dentre elas estão a
reorganização pedagógica e a valorização do professor e para que isso aconteça as
escolas devem ir:
Abrindo espaços para que a cooperação, o diálogo, a solidariedade, a criatividade e o espírito crítico sejam exercitados nas escolas, por professores, administradores, funcionários e alunos, porque são habilidades mínimas para o exercício da verdadeira cidadania. Formar, aprimorar continuamente e valorizar o professor; para que tenha condições e estímulo para ensinar a turma toda, sem exclusões e exceções.
Portanto, a escola inclusiva não pode, de forma nenhuma, excluir o professor
dos espaços de discussão e avaliação dos seus trabalhos, pois a inclusão é para
todos, inclusive para os docentes.
O processo de inclusão vem quebrando barreiras que foram se cristalizando
ao longo dos tempos, e este processo tem por objetivo preparar a escola para
receber os alunos com necessidades educacionais especiais e desta forma construir
uma sociedade mais justa, igualitária e comprometida com a educação. Ao colocar
um aluno especial na sala de aula sem oferecer apoio adequado aos profissionais
da educação, esta ação não é, necessariamente, inclusão visto que as condições
reais para a efetivação desta não são dadas, assim sem uma estruturação
adequada pode gerar a exclusão e não a inclusão destes alunos.
Ressaltando que as leis que favorecem a inclusão começaram a ser
cumpridas a partir da última década do século XX, principalmente no âmbito escolar,
salientamos que muitos dos professores que estão lecionando, ainda não tiveram
acesso a esses estudos e, conseqüentemente, não tiveram uma formação especifica
sobre esse tema, o que aumenta ainda mais a responsabilidade da escola em
relação à inclusão desses alunos. Por isso os cursos de capacitação profissional e
formação continuada são indispensáveis para que os educadores atuem de maneira
a oferecerem melhores condições e adequações no processo de ensino e
aprendizagem.
Em contra partida muitos pais demonstram anseios e expectativas em relação
ao desenvolvimento e as aprendizagens escolares de seus filhos, e por isso mesmo
é que podem e devem se transformar em parceiros da escola no processo de
escolarização dos filhos, e conseqüentemente, em seus processos de inclusão
escolar e social. Sendo assim, os pais são de fundamental importância para que,
junto com o corpo escolar, possam dar subsídios para que esses alunos sintam-se
motivados a permanecerem na escola.
A partir dos estudos sobre o tema e de nossas inquietações sobre a
participação dos pais de crianças com necessidades especiais no acompanhamento
do processo de escolarização de seus filhos, surgiu a questão que nos moveu nesta
pesquisa que foi compreender quais as expectativas e participação dos pais no
processo de inclusão dos filhos com necessidades especiais da Escola Municipal
Professor Pedro Calmon no Distrito de Pilar, município de Jaguarari-BA.
Assim propusemos alguns objetivos a alcançar neste trabalho. Inicialmente
buscamos Identificar quais as expectativas dos pais em relação ao processo de
escolarização de seu filho na escola regular, para então compreender a relação
entre as expectativas e a participação dos pais no processo de escolarização das
crianças com necessidades especiais nas escolas regulares e identificar fatores
apontados pelos pais que contribuem para facilitar e/ou dificultar a participação na
escolarização de seu filho.
CAPÍTULO II
2. EDUCAÇÃO INCLUSIVA: As relações entre família e escola no processo
de escolarização das crianças com necessidades especiais.
Neste capítulo nos propomos a fazer uma discussão sobre as questões
teóricas que fundamentam a nossa análise e dão sustentação às nossas
conclusões, ainda que provisórias, no âmbito deste trabalho.
2.1 Caracterizando a Educação Inclusiva.
No decorrer dos séculos, a educação escolarizada tem papel relevante na
vida das pessoas, pois através dela o indivíduo pode apropriar-se dos
conhecimentos social e historicamente construídos, o que pode contribuir para a sua
emancipação e transformação social e interpessoal. Descobrir, conhecer,
compreender e reconstituir o conhecimento passa a ser um dos pilares fundamentais
do processo de educação e escolarização dos sujeitos. Portanto o processo
educacional deve ser pensado dentro de uma perspectiva que respeite as relações
humanas. Como relata Brandão, crianças, adolescentes e jovens não aprendem
apenas na escola, mas com a convivência cotidiana dos seus familiares e também
com a observação do trabalho realizado pelos seus pais ou membros mais idosos da
comunidade. Segundo Brandão, (1996):
não há uma forma única nem um único modelo de educação; a escola não é o único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a sua única prática e o professor profissional não é o único praticante (p.09).
Desta forma, mesmo sem utilizar uma metodologia específica e não tendo a
intencionalidade de uma educação sistematizada, a educação sempre existiu nos
mais diversos espaços construídos pelo homem em suas relações com os outros
homens, desde as primeiras comunidades humanas. Com o aparecimento da
sociedade dividida em classes começam a surgir também os primeiros espaços
formais, dentre eles a instituição escolar, que estava voltada para atender os
interesses e necessidades do grupo a quem se destinava essa educação. As
classes menos privilegiadas não tiveram acesso à educação escolarizada por muito
tempo, somente a partir do advento da modernidade e da constituição dos estados-
nação foi que essas sociedades passaram a contemplar, em suas leis, a ideia de
uma educação escolar para todos. Mesmo assim, no Brasil somente no início do
século XX é que se deu de fato a expansão do ensino elementar para todos.
O atendimento escolar às pessoas deficientes, no Brasil, deu-se a partir na
década de 50 do século XIX, durante o império. Foi nesta época que D. Pedro II
fundou no Rio de Janeiro o imperial Instituto de Meninos Cegos e depois fundou o
Imperial Instituto dos Surdos-mudos. Na primeira metade do século XX, até 1950
havia quarenta estabelecimentos mantidos pelo poder público. Nos anos de 1957 a
1993 houve várias iniciativas oficias no âmbito nacional.Segundo Mazotta (1998):
Foram instituídas campanhas, criados institutos de surdos (INES), no Rio de Janeiro, que tinha por finalidade promover, por todos os meios a seu alcance, as medidas necessárias à educação e assistência no mais amplo sentido, em todo território nacional (p.29).
Instituições de amparo às pessoas com deficiência foram surgindo, no intuito
de educá-las e profissionalizá-las, porém, acomodando-as em locais especializados,
distantes do convívio social. Até a metade do século XX, este modelo perdurou nas
escolas, através das salas de recursos e, nas empresas ou nas oficinas de trabalho,
através da segregação em locais especializados. O Instituto Pestalozzi (1926), a
APAE – Associação de Pais e Amigos do Excepcional (1954) e o Instituto Padre
Chico são exemplos deste modelo de atendimento.
Em 1981, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) declarou o “dia
internacional das pessoas portadores de deficiências”, dando assim o impulso ao
surgimento de vários movimentos sociais, institucionais ou dirigidos pelos próprios
deficientes. Contribuiu também para o fortalecimento de um modelo de inserção de
pessoas com deficiências o “Paradigma da Integração”.
Neste modelo acreditava-se que as pessoas com alguma limitação
precisavam preparar-se e adaptar-se para que sua inserção na educação ou no
mercado de trabalho se completasse. Assim, se esta “normalização” da pessoa com
a deficiência não fosse possível ele seria mantido no modelo de “segregação”,
dentro de espaços especiais. Segundo Sassaki (1997) este é um modelo médico,
onde os deficientes são pacientes que precisam ser tratados, curados,
normalizados, para assim poderem ingressar no convívio social, ainda que, para
isso, enfrentem grandes barreiras decorrentes de uma sociedade excludente, em
suas estruturas arquitetônicas e sociais. E ele ainda acrescenta:
... os diferentes são freqüentemente declarados doentes. Este modelo médico da deficiência nos designa o papel desamparado e passivo de pacientes, no qual somos considerados dependentes do cuidado de outras pessoas, incapazes de trabalhar, isentos de desejos normais, levando vidas inúteis (p.10).
Podemos dizer que, este período é marcado pelo assistencialismo como se
estes alunos especiais precisassem apenas de ajuda humanitária, paternalista, sem
uma perspectiva de mudanças dos indivíduos para atuarem com cidadania. Neste
sentido Mazzota, (2001) afirma que:
Sobre o tipo de assistência prestada, há, no entanto, informações insuficientes para sua concretização como educacional. Poderia tratar-se de assistência médica a crianças deficientes mentais e não propriamente atendimento educacional; ou, ainda atendimento médico pedagógico (p.30).
Na década de 90, principalmente na Declaração de Salamanca, um novo
modelo, vigente até o momento, começou a ser discutido e implantado como opção
de inserção social dos deficientes, o modelo “inclusivista“, que define ou defende a
preparação de toda a sociedade para pleno ingresso das pessoas com deficiência
na vida sócio-politico-educacional.
Diante das exigências da sociedade contemporânea vemos que a Educação
Brasileira vem modificando seus paradigmas, reflexo das políticas públicas que tem
colocado certa evidencia no paradigma da inclusão e possibilitado o acesso de
alunos com necessidades especiais no ensino regular.
Atualmente, a escola começa a fazer parte cada vez mais cedo da vida das
crianças e nela são oferecidas atividades que lhes possibilitam desenvolverem-se de
forma dinâmica. Cabe a instituição cumprir os conteúdos sistematizados e fazer com
que as crianças formem hábitos, atitudes e habilidades próprios de uma cultura
letrada, mas que também cumpra a função de socializá-las, pois as atividades
comunitárias no bairro, na vizinhança, na rua estão ficando cada vez mais raras.
Neste sentido a educação escolar deve basear-se na formação do indivíduo
enquanto cidadão crítico e reflexivo, que tenha consciência de seu papel na
construção da sociedade, na qual está inserido, havendo por conseqüente,
coerência nas ações dos agentes nela envolvidos. Freire (1996) pontua que:
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para sua produção
ou sua construção” (p.25).
O conhecimento é construído pelo individuo, e a aprendizagem é um
processo com tempo e ritmo diversificado, determinado pela qualidade da interação,
do nível de participação e problematização das oportunidades de se vivenciar
experiências, construir significados, elaborar e partilhar conhecimentos em grupo.
Assim a escola, o professor e a família têm papel determinante na mediação sócio-
cultural do aluno para que ele avance no seu processo de desenvolvimento e
aprendizagem, e na formação humana por meio de situações desafiadoras para o
desenvolvimento positivo da auto-imagem, independência e autonomia (BRASIL,
2006).
Portanto, a escola inclusiva deve investir nas potencialidades do aluno, dando
oportunidades a todas as crianças, e condições, principalmente, às crianças com
necessidades especiais, para que possam se desenvolverem social e
intelectualmente, junto com as outras crianças na classe comum.
2.2 As leis que regulamentam a inclusão:
A educação inclusiva é um movimento coletivo que avança para superar o
preconceito e a segregação, e nas políticas nacionais afirmam-se iniciativas de
formação docente, experiências pedagógicas, de gestão educacional e ampliação da
consciência coletiva dos direitos, tratando-se então de um desafio dos governos e do
conjunto da sociedade, professores, famílias e todos aqueles que acreditam na
inclusão como princípio.
Como aborda o documento das Diretrizes Nacionais para Educação Especial
na Educação Básica, esta tem como objetivo orientar o sistema de ensino para a
organização da educação especial, como elo que perpassa todos os níveis, etapas e
modalidades de ensino, garantindo às pessoas com necessidades especiais acesso
à escola regular atendimento educacional especializado, promovendo assim a
aprendizagem e a participação de todos, proporcionando uma educação de
qualidade.
Há um enfoque na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº
9394/96 no art. 58, com relação à educação especial que diz: “entende-se por
educação especial, para efeitos da lei, a modalidade de educação escolar, oferecida
preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de
necessidades especiais” (BRASIL, 2001).
Esse direito fica claro na Declaração Mundial de Educação para todos,
aprovada pela ONU em 1990 e por sua vez inspirou o Plano Decenal de Educação
para Todos. Em seguida, a UNESCO (Organizações das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura) registrou, na Declaração de Salamanca (1994), o
conceito de inclusão no campo da educação comum:
O princípio da inclusão consiste no “reconhecimento da necessidade de se
caminhar rumo à escola para todos – um lugar que inclua todos os alunos celebre a
diferença, apóie a aprendizagem e responda às necessidades individuais”.
(Declaração de Salamanca, 1994).
Com base nessas afirmações indica-se uma transformação no sistema
educacional a partir da construção de escolas abertas para todos e de uma
pedagogia heterogênea com a participação da comunidade, significando assim uma
nova sociedade, em que não mais as pessoas com necessidades especiais vão
buscar sua integração e adaptação ao sistema, mas sociedade é que vai se
organizar e modificar-se de acordo com as circunstâncias para incluir todas as
pessoas, incluindo aí as pessoas com necessidades especiais e, simultaneamente,
estas se preparam para assumir seus papéis na sociedade.
A conferência Mundial sobre necessidades Educativas Especiais: Acesso e
Qualidade, realizada pela UNESCO, em Salamanca (Espanha) em junho de 1994,
teve como objetivo especifico de discussão, a atenção educacional aos alunos com
necessidades especiais. Nela os países signatários, dos quais o Brasil faz parte,
declaram:
Todas as crianças, de ambos os sexos, tem direito fundamental à educação e que a elas deve ser dada oportunidade de obter e manter um nível aceitável de conhecimentos. Os sistemas educativos devem ser projetados e os programas aplicados de modo que tenham em vista toda a gama dessas diferentes características e necessidades.
Cabe ressaltar que a Constituição de 1988 surge dando garantias
educacionais as pessoas com necessidades especiais e ao superdotado, sendo a
educação formal assegurada em igualdade e condições para o acesso e a
permanência, independente de seus atributos individuais, ficando garantindo o
atendimento especializado a este segmento de preferência na rede regular de
ensino. Em 1992, foi criada a Secretaria de Educação Especial, vinculada ao
Ministério de Educação e Cultura, que normatiza e coordena a política de educação
especial em nível nacional.
O desafio, portanto, para os profissionais que estão a serviço da melhoria da
qualidade da vida humana é além de conhecer e fazer valer as leis, lançar propostas
que não se destinam apenas a um grupo restrito de pessoas. A inclusão na escola
se fundamenta na realidade contemporânea e devem ser projetadas frente aos
preconceitos e instabilidades que são apresentadas na escola, levando em
consideração que o tempo define as oportunidades de conhecimentos e de que as
limitações e obstáculos fazem parte do desenvolvimento humano.
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência é um marco
para os Direitos Humanos e para seu público destinatário. Sendo um dos tratados do
direito internacional, a Convenção surgiu para promover, defender e garantir
condições de vida com dignidade e a emancipação dos cidadãos e cidadãs do
mundo que apresentam alguma deficiência.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o Brasil apresenta
um número cada vez maior de pessoas com deficiência. Dados de 2000 apontavam
que 14,5% da população brasileira eram constituída de pessoas com deficiência, as
quais dão contorno a estrutura das famílias brasileira no seu contexto sociocultural.
De acordo com esses dados do IBGE nas regiões mais afastadas dos centros
urbanos, onde se presume menor atendimento, estes números aumentam. Assim
como aumentam nas famílias de etnias menos assistidas, como as indígenas e afro
descendentes.
2.3 O Conceito de deficiência
Reconhecendo que a deficiência é um conceito em evolução e que esta
resulta da interação entre pessoas com deficiência e as barreiras ou atitudes que
impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade, em igualdade
de oportunidades com as demais pessoas, assim, podemos conceituar inicialmente
que pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de
natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas
barreiras, podem obstruir suas participações plenas e efetivas na sociedade em
igualdade de condições com as demais pessoas. A Convenção sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência conceitua a deficiência como
[...] perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica, temporária ou permanente. Incluem-se nessas a ocorrência de uma anomalia, defeito ou perda de um membro, órgão, tecido ou qualquer outra estrutura do corpo, inclusive das funções mentais. Representa a exteriorização de um estado patológico, refletindo um distúrbio orgânico, uma perturbação no órgão. (AMIRALIAN et al., 2000, p. 98).
Como podemos perceber o conceito de deficiência abrange uma série de
outros, pois se faz necessário entender cada uma dessas limitações, principalmente
para a escola e o professor, para que se possa planejar as ações e adaptações
necessárias para o processo de escolarização e, portanto, de inclusão, mais efetivo
das pessoas com necessidades especiais. Não vamos conceituar todas as
deficiências, pois não é o objetivo desse trabalho, mas faremos uma
conceitualização das deficiências encontradas na escola pesquisada, pois se faz
necessário para o entendimento de nossas análises.
2.3.1 Síndrome de Down
Síndrome de Down é essencialmente um atraso do desenvolvimento, tanto
das funções motoras do corpo, como das funções mentais. Um bebê com síndrome
de Down é pouco ativo, “molinho”, o que nomeia como hipotonia. A hipotonia diminui
com o tempo, e a criança vai conquistando, embora mais tarde que as outras, as
diversas etapas do desenvolvimento: sustentar a cabeça virar-se na cama,
engatinhar, sentar, andar e falar. “Considera-se que a síndrome de Down é
decorrente de um erro genético presente desde o momento da concepção ou
imediatamente após” (SCHWANTZMAN,1999, p.3).
A síndrome de Down é conhecida popularmente como mongolismo. O nome
mongolismo foi dado devido ás pregas no canto dos olhos que lembram o aspecto
das pessoas da raça mongólica. A palavra síndrome significa um conjunto de
características que prejudica de algum modo o desenvolvimento da pessoa e Down
em referência ao médico inglês Jonh L. Down, que a identificou.
Grosso modo, conjunto de características apresentadas é resultante de
alteração genética, caracterizada pela presença a mais do cromossomo 21. Assim,
ao invés do indivíduo apresentar dois cromossomos 21, apresenta três, recebendo o
nome por essa alteração de trissonomia simples. No entanto podem-se encontrar
outras alterações genéticas, que causam síndrome de Down.
A criança com síndrome de Down apresenta algumas limitações dependendo
das características da síndrome apresentadas pelo individuo, assim o trabalho
pedagógico deve primeiro respeitar o ritmo da mesma e propiciar-lhe estimulação
adequada para o desenvolvimento de suas habilidades, criando-se programas e
implementando-os de acordo com as necessidades especificas da criança. Portanto
o atendimento ao individuo com Down deve ocorrer de forma gradual, pois o mesmo
não consegue absorver grandes números de informações.
Convêm ressaltar que não deve ser apresentado a esses indivíduos
informações isoladas ou mecânicas, o processo de ensino e aprendizagem deve ser
interativo e dinâmico. Essas crianças apresentam idade cronológica diferente da
idade funcional, desta forma, não se espera uma resposta idêntica à resposta das
demais crianças.
2.3.2 Deficiência física
A deficiência física refere-se a uma gama de alterações na parte física que
pode causar, ou não, limitações à pessoa. Os documentos referentes aos conceitos
das deficiências concordam na seguinte definição de deficiência física
[...] alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o desempenho de funções (DECRETO Nº 5.296 DE 2 DE DEZEMBRO DE 2004).
2.3.3 Deficiência mental
A deficiência mental diz respeito ao funcionamento intelectual
significativamente inferior à média, com manifestação antes dos dezoito anos e
limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades adaptativas, tendo
destaque no decreto 5.296 as seguintes limitações: “Comunicação, cuidado pessoal,
habilidades sociais, utilização dos recursos da comunidade, saúde e segurança,
habilidades acadêmicas, lazer e trabalho.”
Os problemas apresentados pelas pessoas com deficiência mental, - ou mais
recentemente como é denominada – deficiência intelectual, dizem respeito
diretamente ao atraso no desenvolvimento, o que significa que o processo de
orientação e educação deve centrar esforços no sentido de trabalhar no aprendizado
de atividades que permitam a essas pessoas crescerem e se tornarem
independentes, ao mesmo tempo em que possam desenvolver suas aptidões e
capacidades.
2.4 Os pais: perspectivas e participação no processo de escolarização
Participar significa ter ou fazer parte de um fato ou evento, mas também
comunicar um fato ou evento (FERREIRA, 1986), portanto podemos concluir que
participar é um processo de interação e comunicação onde a verbalização tem
significante importância. Desta forma a participação dos pais deve ser entendida
como um amplo processo de comunicação que engloba não apenas a presença
física dos mesmos na instituição escolar, mas também a constante comunicação
com a escola e todos os envolvidos no processo de ensino aprendizagem.
Essa participação pode fazer diferença no processo de escolarização das
crianças, principalmente no acompanhamento do filho com necessidades especiais
onde a participação deve ser mais efetiva, pois essas crianças necessitam estar
inseridas no ensino regular junto como as demais.
Segundo afirma Bruno (2006), a educação inclusiva deve ter como ponto de
partida o cotidiano: o coletivo, a escola e a classe comum, onde todos os alunos
com necessidades especiais ou não, precisam aprender e ter acesso ao
conhecimento, à cultura e progredir no aspecto pessoal e social.
As expectativas e participação dos pais na escolarização dos filhos
necessitam de uma maior atenção e reflexão para que sirvam de guias para formas
mais humanas de acompanhamento do seu desenvolvimento social e educacional.
Isto significa, entre outras coisas, dar-lhe tempo em casa para brincar, sonhar,
encenar... E os pais também disponibilizarem tempo para brincar com seus filhos
para que eles possam viver a conquistada infância como as outras crianças,
respeitadas as características do seu tempo e de suas limitações.
No entanto numa sociedade capitalista como a nossa há uma exigência maior
dos membros da família de participarem do orçamento familiar, os pais dividem cada
vez mais as responsabilidades e assim são obrigados a desde cedo deixarem seus
filhos a cargo de instituições como creche, escola e professores particulares para o
acompanhamento e a educação dos mesmos.
A família como primeiro ambiente de socialização, interação e acesso aos
elementos da cultura a qual pertence o individuo tem função fundamental na
construção identitária do mesmo, “A cultura, enfim, proporciona-nos um sentido do
"nós" como membros de um grupo social que tem uma trajetória histórica; ela nos dá
consciência de sermos continuadores de "outros", porém semelhantes a nós.”
(SACRISTÁN, 2002, p. 85).
Neste contexto, apontamos a família como elemento inicial e fundamental na
evolução mental, emocional, cultural e social das crianças, principalmente nas
crianças com alguma deficiência ou limitação, visto que os pais e outros membros
da família são referencia na vida destes educandos. No grupo familiar a criança
construirá suas Impressões do mundo e de si mesmo em seus primeiros passos de
vida.
No espaço escolar a criança terá complementado o seu acesso aos
elementos necessários para sua vida em comunidade, porém o seu tempo e
aprendizado junto com sua família é maior que o disponibilizado no espaço da
escola. Desta forma, é na interação escola e família que poderemos construir
condições melhores de aprendizagem para estes educandos.
Quando a criança encontra um espaço familiar favorável a sua exploração de
forma independente é possível ganhar condições favoráveis para perceber as coisas
sozinhas, por outro lado, este núcleo familiar pode anulá-la colocando-a sempre
numa posição de incapaz e não permitir esta autonomia. Uma família pode
superproteger esta criança impedindo-a de desenvolver suas potencialidades.
É importante citar a obra em que Vygotsky faz afirmações em sua teoria do
desenvolvimento sobre a importância da interação com outras crianças mais
desenvolvidas ou pessoas mais velhas, podendo ser os professores ou mesmo os
pais, desta forma a criança que interage com alguém com maior conhecimento
poderá sair de um estágio denominado por ele de desenvolvimento real para o outro
estágio de desenvolvimento potencial. Na família a criança desenvolve todo
esquema mental e corporal. No caso da criança com alguma limitação, por vezes os
reforços positivos ou negativos são incorporados neste convívio.
CAPÍTULO III
3. TRILHA METODOLÓGICA: definindo os caminhos da pesquisa
A educação é um direito de todos, por isso é importante compreender que a
educação está baseada na aceitação das diferenças e na valorização do individuo,
independentemente dos fatores físicos e psíquicos. Nesta perspectiva é que se fala
em inclusão, onde todos possam ter os mesmos direitos e deveres, construindo um
universo que favoreça o crescimento, valorizando as diferenças e o potencial de
cada um.
Procurar entender a educação em todas as dimensões e processos é uma
necessidade do educador e esta pesquisa se configura na necessidade de
compreender qual a relação entre expectativas e participação dos pais no processo
de escolarização das crianças com necessidades especiais. Neste capítulo,
portanto, descrevemos o caminho percorrido nesta pesquisa.
Por tratar-se de uma área que envolve os homens e seus processos de
construção de conhecimento e as inter-relações intra e interpessoais, a pesquisa em
educação tem como pressuposto metodológico mais adequado a abordagem
qualitativa. Neste sentido Macedo (2004) afirma que “para o olhar qualitativo é
necessário conviver com o desejo, a curiosidade e criatividades humanas; com as
utopias e esperanças; com a desordem e o conflito;com a precariedade e a
pretensão; com as incertezas e o imprevisto” (p.69).
A pesquisa qualitativa consente ao pesquisador examinar atentamente os
indivíduos envolvidos no processo educacional. Além disso, este método é muito
usado nas pesquisas educacionais nas últimas décadas, tem como uma das
características investigarem os significados que os envolvidos dão ao assunto
pesquisado. Segundo Ludke e André (1986), ”a pesquisa qualitativa supõe o contato
direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que esta sendo
investigada, via de regra através do trabalho intensivo de campo” (p.11). Isso
significa que o pesquisador deverá vivenciar todo o cotidiano escolar para que possa
visualizar em quais condições ela se manifesta.
A presente investigação é basicamente caracterizada como uma pesquisa no
âmbito da educação especial. O estudo foi realizado seguindo uma metodologia que
nos permitiu compreender a problemática apresentada. E para que o nosso objetivo
fosse alcançado, foi preciso considerar muitos aspectos como: sociais, econômicos
e culturais, dos sujeitos envolvidos, pois estes determinam atitudes e condutas dos
pais em relação aos seus filhos com necessidades especiais. A pesquisa aconteceu
na Escola Municipal Professor Pedro Calmon, que pertence à rede Municipal de
ensino, localizada no Distrito Pilar, Jaguarari-BA. Utilizamos a metodologia para
trabalhar detalhadamente o objetivo proposto que foi investigar a relação entre as
expectativas e participação dos pais no processo de escolarização dos filhos com
necessidades especiais na referida escola.
O locus escolhido para desenvolver a pesquisa foi a Escola Municipal
Professor Pedro Calmon, situada no Distrito Pilar, na cidade de Jaguarari-BA. Sua
estrutura física é composta de nove salas de aula e uma sala de leitura, secretaria,
sala de direção, sala dos professores, sala de coordenação, dois depósitos,
banheiros feminino e masculino, cantina, um banheiro de funcionários, um banheiro
para professores, almoxarifado, dispensa para merenda, pátio coberto e uma mini
quadra esportiva. A Escola foi escolhida por ser a única escola do Distrito que
atende um número razoável de crianças com necessidades especiais.
Os sujeitos da pesquisa foram os pais e 10 professores da referida escola,
sendo que atualmente apenas seis professores lecionam com esses educandos, e
os demais lecionaram em anos anteriores. Essas crianças apresentam as seguintes
limitações: síndrome de Down, limitação física (cadeirante) e deficiência mental.
Conforme Barros (2000), a coleta de dados significa a fase da pesquisa em
que se indaga e se obtêm informações da realidade através da aplicação de
instrumentos. Fazendo-se necessário a análise dos dados como forma de interpretar
e analisar o que foi revelado na investigação.
Os dados para a efetivação deste trabalho foram levantados através de fontes
e instrumentos diversificados tais como: Observação participante, entrevista semi-
estruturada e o questionário fechado.
Cabe ressaltar que não foi possível gravarmos as entrevistas com os pais e
os professores, foi utilizado um diário de bordo, para que assim fossem registradas
diariamente as observações, percepções, vivências e experiências para que ao
analisar os dados observados todos os detalhes fossem levados em consideração.
Pois fazer a relação entre expectativa e participação exige uma análise criteriosa
tanto da observação em sala de aula, da conversa com os educandos, da fala de
professores e da inter locução com os pais dos alunos com necessidades especiais.
A coleta de dados foi estruturada com observações no espaço escolar
juntamente com um roteiro de entrevistas e questionários direcionados aos pais e
professores. Visto que analisar só as respostas dos pais sem levar em consideração
o cotidiano e o que dizem os professores não iria dar subsídios suficientes para que
a questão de pesquisa fosse desvelada.
3.1 Observação Participante
A observação participante permite maior contato com os sujeitos
pesquisados, uma experiência direta de envolvimento entre pesquisador e
pesquisado. André (1995), diz que a observação participante “é chamada de
participante porque parte do principio de que o pesquisador tem sempre um grau de
interação com a situação estudada, afetando-a e sendo por ela afetado” (p.28).
Ao serem observados em sala de aula os alunos se sentiram à vontade e
participaram da aula normalmente, a minha presença não interferiu no processo de
ensino e aprendizagem, entretanto os professores sentiram certo constrangimento,
pois pude perceber que tiveram receio por estarem sendo observados
especificamente sobre a sua prática com os alunos com necessidades especiais.
As observações foram feitas seguindo o roteiro: na primeira semana foram
feitas observações apenas com as anotações de quem levava as crianças para a
escola e de como os educadores recebiam esses alunos, e houve também uma
conversa com diretora e coordenadora sobre os alunos com necessidades especiais
que freqüentam a escola. Na segunda semana as observações passaram a ser
feitas em sala e a cada final de aula uma breve conversa com educadores e pais
e/ou responsáveis que pegavam as crianças. As entrevistas e questionários foram
entregues para professores, pais e uma avó que é a responsável por um dos
educandos.
Foi a partir das observações e questionamentos da realidade escolar, das
conversas com os educandos, pais e responsáveis e de um diálogo com a diretora
da instituição que as entrevistas para os educadores e pais foram elaboradas.
Portanto, este tipo de pesquisa facilita a aquisição de respostas e pode
proporcionar resultados inesperados e surpreendes, pois o contato direto com os
sujeitos propicia a percepção da realidade. E é de fundamental importância para
compreender a relação entre expectativas e participação dos pais no processo de
escolarização dos filhos com necessidades especiais.
3.2 Entrevista semi-estruturada
A entrevista semi-estruturada é um dos meios utilizados pelo pesquisador
para se obter dados e assim se fazer uma pesquisa qualitativa. Esse tipo de
instrumento foi escolhido, pois fornece subsídios para alcançar o objetivo proposto
na pesquisa. De acordo com Triviños (1987, p.146) ela “oferece amplo campo de
interrogativas, fruto de novas hipóteses, que vão surgindo à medida que se recebem
as respostas do informante.
Por ser considerado um encontro de duas pessoas a fim de que elas
obtenham informações que contribuam para o alcance do objetivo proposto, as
entrevistas foram realizadas individualmente com os educadores. De acordo com a
conversa, o roteiro que foi elaborado antecipadamente ia se ajustando para que o
foco da questão não fosse perdido. Portanto a entrevista não se tornou numa
conversa neutra, pois o objetivo da mesma era coletar os dados relatados pelos
envolvidos, focalizando a realidade pesquisada.
As entrevistas, tanto com os educadores, como com os professores, foram
realizadas em etapas e os questionamentos foram elaborados depois da observação
in loco. Foi um instrumento que muito contribuiu para esta pesquisa, pois foi diante
do diálogo com os educadores e pais que pudemos investigar para assim
compreender a relação entre expectativas e participação dos pais no processo de
escolarização dos seus filhos.
As entrevistas foram feitas depois da observação para que assim tivéssemos
subsídios para conduzi-la. Com os pais as entrevistas foram realizadas com o
objetivo de coletar informações sobre a estrutura e a dinâmica familiar e
principalmente sobre as suas expectativas e participação quanto à escolarização
dos seus filhos, já que foi esse o objetivo da pesquisa. Com os professores o intuito
foi coletar dados sobre o funcionamento da escola, das crianças com necessidades
especiais, como eles viam a inclusão e como percebiam as expectativas e
participações dos pais no processo de escolarização desses educandos, para que
assim pudéssemos alcançar o objetivo proposto neste trabalho. Com os professores
as entrevistas foram feitas na hora do intervalo escolar sempre estando presente ou
a coordenadora ou outro educador.
3.3 Questionário Fechado
Esse instrumento foi escolhido no intuito de definir os aspectos sociais,
econômicos e educacionais, tendo como foco a definição de diversos aspectos que
contribuíram para as análises dos dados.
Para Marconi e Lakatos (1996, p.88) “o questionário fechado é um
instrumento constituído por uma série de perguntas, devendo ser respondido por
escrito e sem a presença do entrevistador”. Sendo assim, não houve interferência
nem influência nas respostas apresentadas.
O questionário foi entregue para pais e professores e a partir dele foi possível
analisar e traçar o perfil dos professores e pais que acompanham diariamente as
crianças com necessidades especiais. E foi a partir do questionário que percebemos
que a maioria dos pais é de classe baixa, que estes têm entre 30 e 50 anos e o grau
de escolarização varia de não alfabetizado ao fundamental I. O questionário fechado
foi entregue a ambos e recolhido na semana seguinte.
A partir das análises dos instrumentos da coleta de dados será feita agora a
apresentação, análise e interpretação dos dados, tendo como base alguns dos
seguintes teóricos: Sassaki (1997), Machado (2005), Mantoan (1997), Carneiro
(1997), Vygotsky (1997) e Buscaglia (2002).
CAPÍTULO IV
4. ANALISANDO AS EXPECTATIVAS E A PARTICIPAÇÃO DOS PAIS DE
CRIANÇAS COM NECESSIDADES ESPECIAIS NO PROCESSO DE
ESCOLARIZAÇÃO DE SEUS FILHOS: O que apontam os dados coletados.
Neste capítulo apresentamos os dados coletados e procedemos a sua análise
a partir dos referenciais teóricos discutidos no capitulo II deste trabalho monográfico.
A coleta foi realizada através de vários instrumentos e ao cruzarmos as informações
buscamos compreender a relação entre as expectativas e participação dos pais no
processo de escolarização dos filhos com necessidades especiais. Conhecer o que
pensam os professores dessas crianças também foi de fundamental importância
para que o objetivo da pesquisa fosse alcançado, pois ao observar e ouvir apenas
os pais as informações dadas poderiam não ser suficientes para o alcance do
objetivo proposto, pois elas poderiam ser dadas superficialmente, onde os mesmos
poderiam negar ou até mesmo omitir o que realmente acontece no cotidiano de seu
filho no ambiente escolar.
As falas das educadoras estão apresentadas distintamente através das letras
A, B, C, D, E, F, G, H, I e J. E a fala dos pais pelos números 1, 2 , 3 e 4, fazendo
com que a identidade de todos os envolvidos na pesquisa seja preservada.
4.1 Os contatos iniciais e as entrevistas aplicadas
O contato inicial foi feito com a observação e uma prévia conversa com o
corpo escolar. Foi observado com quem e como essas crianças chegam à escola e
principalmente como são recebidas por ela. A observação foi realizada nos meses
de março e abril, a entrevista e o questionário foram elaborados em maio a partir das
observações feitas na escola e aplicadas em junho.
Durante as entrevistas foram coletados dados iniciais dos sujeitos, momentos
de questionamentos traziam à tona a questão da pesquisa e ainda momentos de
síntese sobre as colocações da problemática apresentada e apontadas pelos
entrevistados. Estes momentos foram conduzidos de forma que os entrevistados
focalizassem sua atenção no aprofundamento das questões, pois por muitas vezes
eles desviavam ou davam respostas superficiais. E ao estabelecermos essa
interação pudemos eliminar os fatores que poderiam distorcer os dados coletados.
Todos esses dados foram anotados no diário de bordo, permitindo assim uma
análise categorizada pelas situações que os professores, pais e alunos vivenciam
naquele cotidiano escolar, focalizando o objetivo deste trabalho.
4.1.2 O perfil dos professores entrevistados
A partir daqui os professores serão tratados como professoras, pois 100% são
do sexo feminino, têm entre 31 e 48 anos, estão lecionando a mais de cinco anos e
70% trabalham 40 h, e 30% 20h.
É relevante mencionar a formação das professoras, onde 50% são
graduadas, 30% estão em processo de graduação e 20% se especializando. O que
chamou atenção é que 80% delas ensinam por opção. É importante trazer o que as
educadoras falam sobre a sua profissão:
Escolhi a educação porque me encanto todos os dias com esses meninos. É uma profissão difícil mas qual a profissão é fácil hoje em dia? Pelo menos estamos preparando esses meninos para a vida, contribuindo para que no futuro eles não caíam na marginalização (Professora A).
Podemos notar a partir da fala da professora que há uma preocupação com
as crianças e uma consciência do seu papel de educadora e das dificuldades do seu
trabalho. Esta mesma postura também ficou clara no contato com a maioria das
educadoras que participaram desta pesquisa. Algumas das que acompanharam os
meninos em anos anteriores, contam que sentem saudades deles e que às vezes
conversam com eles e com seus pais.
4.1.3 O perfil dos pais dos alunos com necessidades especiais
Os pais dos alunos são na sua maioria oriundos da classe popular, e por isso
muitos deles não têm acesso a informações dos seus direitos e deveres quanto ao
processo de inclusão de seus filhos nas escolas.
O que denominamos de pais na realidade refere-se a duas mães, uma avó e
um pai de aluno com deficiência. No entanto, continuaremos a chamar de pais, pois
na realidade eles são mães e pais dessas crianças que por vezes são excluídas
tanto do contexto familiar, quanto do social.
A mãe 1 ao falar sobre o filho que tem deficiência mental, afirmou que
“demorou muito para que eu aceitasse o meu filho após o nascimento. Meu marido
me abandonou e eu fiquei cuidando dele sozinha”. E isto acontece muitas vezes, um
dos pais – em muitos casos, o pai – não aceita o filho deficiente e acaba por
abandonar toda a família e o outro assume sozinho, as funções de pai e mãe. E
quando isso acontece a presença dessa mãe se torna fundamental na vida dessa
criança, visto que a ausência do pai obrigou a mesma exercer os dois papéis,
materno e paterno.
É relevante ressaltar a importância do acompanhamento de pais e
responsáveis na vida dessas crianças que necessitam tanto de apoio para que
convivam de uma maneira digna na sociedade, como de carinho para que convivam
com todos ao seu redor.
4.1.4 A ótica dos professores no processo de escolarização dos alunos
especiais.
O processo de escolarização das pessoas com necessidades especiais exige
prioritariamente respeito. A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com
Deficiência assinada em Nova York em 30 de março de 2007 sendo aprovada no
Congresso Nacional em 25 de agosto de 2009 no seu artigo 8 que trata da
conscientização diz que: Os Estados Partes se comprometem a adotar medidas
imediatas, efetivas e apropriadas para:
a) Conscientizar toda a sociedade, inclusive as famílias, sobre as condições
das pessoas com deficiência e fomentar o respeito pelos direitos e pela dignidade
das pessoas com deficiência.
Portanto não é apenas no processo de inclusão escolar como em todos os
âmbitos, que as pessoas com deficiências devem ter condições dignas para a
convivência no meio social. De acordo com Sassaki (1997), a inclusão causa uma
mudança de perspectiva educacional, pois não se limita a ajudar somente os alunos
que apresentam dificuldades na escola, mas apóia a todos os envolvidos no
processo de inclusão dando um passo para caminhar em sociedade livre de
preconceitos e limitações.
O educador deve estar preparado para que na escola essa conscientização
comece a ser entendida e efetivada por ele, pelo alunado e por todos que fazem
parte e convivem no espaço escolar. Pois:
A educação inclusiva vem propor que todas as crianças, independentes de suas características pessoais, estilos de aprendizagem, condição orgânica, origem socioeconômica ou cultural, estejam em sala de aula e que suas necessidades sejam satisfeitas, baseando-se no principio da educação para todos (MACHADO, 2005, p.37).
As relações de respeito pelos alunos com limitações ou não devem ser
ensinadas e tratadas com naturalidade dentro da escola, para que fora dela se
possa ter uma relação digna entre as pessoas com deficiências e as demais
pessoas. Nesse sentido a capacitação profissional no que diz respeito ao corpo
escolar é imprescindível para que a inclusão se efetive. No entanto, ao serem
questionadas sobre cursos promovidos para essa capacitação a resposta dos
professores foram as seguintes:
Anos atrás foram disponibilizados alguns cursos, mas recentemente nada acontece nesta Rede Municipal de Educação (Professora B)
Os cursos de capacitação estão cada vez mais escassos, ficamos sem saber como fazer ao nos deparamos com alunos portadores de
necessidades especiais, como agir em determinadas situações (Professora C)
Se tivéssemos cursos que nos proporcionasse uma aprendizagem sobre crianças portadoras de deficiências, com certeza faríamos um trabalho diferenciado. O que acontece é que muitas vezes não sabemos lidar com essas crianças e nem o pessoal que faz parte da escola não sabe. Ficamos muitas vezes sem saber o que fazer (Professora D)
Ao observar e ao entrevistar esses professores percebemos o carinho que
eles têm com os alunos em geral, mas infelizmente por falta de formação adequada
e conhecimento específico para o trabalho com crianças com deficiência, a maioria
deles tratam estas crianças de maneira diferenciada, fazendo com que ela sintam-
se “excluídas” da classe, visto que as atividades propostas dividem os alunos com
deficiências dos alunos ditos “normais”. No entanto,
Os portadores de deficiência precisam ser considerados, a partir de suas potencialidades de aprendizagem. Sobre esse aspecto é facilmente compreensível que a escola não tenha de consertar o defeito, valorizando as habilidades que o deficiente não possui, mas ao contrário, trabalhar sua potencialidade, com vistas em seu desenvolvimento (CARNEIRO 1997, p.33).
E é justamente essa consciência que a escola e os professores devem ter ao
trabalhar com crianças com deficiência, pois a educação inclusiva não consiste
apenas em matricular os alunos com deficiência numa turma regular de ensino. Ela
só terá significado se além de ingressar o aluno permaneça nela se sentindo como
parte importante no processo de ensino. O exemplo citado abaixo descreve um
momento da aula onde a exclusão é evidenciada:
Numa aula observada de matemática em que era trabalhado o conceito de
“maior que” e “menor que”, as crianças estavam todas sentadas em círculo
atendendo ao que era proposto pela educadora, no entanto o aluno com Síndrome
de Down apenas coloria um desenho, sentado na cadeira no canto da sala. A
Professora B ao ser questionada sobre essa atitude disse que “a criança não
acompanha a turma, ele faz somente traços desordenados, não se encontra no
mesmo nível silábico que os demais alunos, ele está nesta turma por exigência da
mãe, pois seu irmão estuda na mesma turma, para que assim ele se sinta mais
seguro”
Durante o período de observação percebemos que as educadoras não se
sentem preparadas para contribuírem e principalmente efetivarem o processo de
inclusão. Os alunos são apenas recebidos pela escola.e na opinião delas a escola
apenas oferece a matricula, pois é uma exigência da lei que essas crianças estejam
freqüentando as classes regulares, no entanto elas não se sentem preparadas,
considerando a inclusão um processo complexo e que exige além de esforço e
dedicação uma preparação e formação prévia para receber esses alunos.
Ao responderem questões da entrevista semiestruturada as professoras
citaram algumas dificuldades enfrentadas no cotidiano escolar enumerando alguns
fatores que dificultam a inserção dos alunos com necessidades especiais:
Não saber que tipo de necessidade especial ou transtorno a criança apresenta. (Professora F)
Falta de apoio especializado para diagnosticar e acompanhar essa criança. (Professora G)
Ausência de material especializado e sala adequada para ajudar e atender as individualidades. (Professora H)
Ausência de tempo disponível para atender individualmente essas crianças, pois trabalham numa classe numerosa, havendo vários alunos com outros transtornos e dificuldades de aprendizagens. (Professora I)
Na fala das professoras fica claro que elas acham que as crianças que
apresentam alguma limitação devem ser atendidas isoladamente, esquecendo elas
que todos os alunos são especiais e que eles devem ter a mesma dedicação e
atenção, sem distinção ou preconceito. A Professora E disse: “não tem como aplicar
uma mesma atividade para todos numa classe que possui criança com alguma
deficiência, é impossível, assim também como não podemos dar atenção apenas a
ela e esquecer do resto da turma”. Pode-se perceber que o que contribui para que o
professor tenha essa percepção é justamente a falta de formação profissional e o
conhecimento necessário para realizar as adaptações das atividades às
necessidades dos alunos. Ferreira (2003) alerta para a necessidade de
Uma pedagogia centrada na criança, baseada nas suas habilidades, e não na suas deficiências, e que incorpore conceitos, como interdisciplinaridade, individualização, colaboração e conscientização, sensibilização, facilitando assim, a inserção dos alunos que apresentam necessidades especiais na escola, fazendo dessa “inclusão” uma experiência positiva para todos (p.119).
Portanto, trabalhar com essa clientela é possível, e se torna urgente uma
mudança de postura e conduta profissional, pois aumenta a cada dia o numero de
crianças com necessidades especiais que são inseridas na escola regular. Para
Mantoan (1997, p.148) é preciso, pois, tratar dessa questão desde a formação
mínima do magistério até o curso de pedagogia, para que os professores sejam
capazes de oferecer à criança com deficiência uma vivência que reforce o caráter
democrático da escola e da sociedade que o abriga. O professor deve estar apto a
desenvolver um trabalho que equalize as oportunidades educacionais entre normais
e deficientes, sem prejuízo para ambos.
Esta educadora ainda afirma que é na escola inclusiva que professores e
alunos aprendem uma lição de vida: respeitar as diferenças. E ressalta que a
inclusão é a nossa capacidade de reconhecer o outro e ter o privilégio de conviver
com pessoas diferentes. Porém saber o que significa a educação inclusiva não
significa que os professores saibam o que fazer em sala de aula com as crianças
com deficiência. Em contra partida muitos pais também não aceitam que seu filho
possua alguma limitação ou transtorno. As professoras enfatizaram bem essa
questão:
- Os pais ao serem questionados sobre a limitação de seu filho mudam de assunto e muitas vezes nem deixam a gente terminar de falar. Quase não aparecem nas reuniões deixando o profissional numa situação difícil, pois essa conversa poderia ajudar e muito no nosso dia a dia com a criança (Professora G)
- Muitas vezes chamamos os pais ou responsáveis para ter uma conversa, tentar falar sobre o assunto, saber como essa criança é
tratada em casa, eles simplesmente fazem de conta que não é com eles ou que o filho deles não tem nenhum problema. Esse distanciamento dificulta nosso trabalho (Professora H).
- os pais não aceitam de forma nenhuma e muitos deles não sabem nem os direitos que seu filho tem. É difícil desenvolver um trabalho onde você tem que ao mesmo tempo cuidar de todos e lidar com a ignorância de certos pais (Professora I)
Pelos depoimentos das professoras percebe-se que elas não entendem que
muitas vezes é difícil para os pais aceitarem a deficiência dos filhos e eles também
precisam de ajuda, pois se sentem sozinhos e muitas vezes não sabem como agir.
E, como a Professora I afirmou que muitas vezes esses pais não conhecem nem os
direitos que seus filhos têm.
Mas os pais também querem o melhor que a escola puder oferecer para seus
filhos visto que “Retorno, cuidado e total atenção” são algumas das exigências dos
pais segundo 70% das educadoras entrevistadas. No entanto, elas afirmam que ao
mesmo tempo em que exigem da escola eles não participam, deixando a desejar no
acompanhamento dos educandos. As outras 20% declararam que “os pais não
estão nem aí”. Elas relatam que eles apenas levam e pegam seus filhos no final da
aula, muitos pais, segundo elas têm o desejo de que o filho fique na instituição o dia
todo, segundo a professora E “é como se quisesse se livrar do menino”.
A escola busca a parceria e ajuda dos pais, mas muitas vezes, não tem o
retorno desejado. Conversando com a professora I na sala dos professores ela
desabafou dizendo que tem horas que a situação fica insustentável chegando a
acontecer visitas na casa dos familiares dessas crianças. A Professora J que
também estava na sala, indignada nos revela:
Fui lá e a mãe é só descaso com os filhos. Ela tem dois aqui na instituição. Saiu de casa pra morar com o namorado, deixando as duas crianças sozinhas. E fui bem clara ao dizer: “vocês não estão preocupados então fiquem com eles”. Achei aquilo um absurdo mais não pude fazer muita coisa. As crianças ficam na escola apenas um turno depois vão pra casa delas ficando sozinhas, a mãe não se preocupa de jeito nenhum com eles.
A professora contou que a diretora da escola tentou conversar com essa
família várias vezes, conversar com a mãe dos meninos, tentando conscientizá-la de
que os filhos têm problemas e que não podem ficar sozinhos, mas não adiantou
muito. A mãe dos meninos sai freqüentemente de casa deixando-os, sozinhos.
Com vistas a chamar os pais e travar uma parceria, a escola sempre promove
reuniões tendo como pauta a inclusão, no entanto os pais não comparecem como
afirma a Professora E: “Se os pais participassem, até mesmo no simples fazer do
dever de casa seria muito bom pra esses meninos, eles se sentiriam motivado. Mais
eles querem que a gente faça tudo”.
A partir do exposto acima afirmamos que para a efetivação da inclusão de
pessoas com necessidades especiais no âmbito escolar são necessários
investimentos na formação continuada dos professores, na disponibilização de
recursos pedagógicos e físicos e uma melhor remuneração. Além disso, se faz
necessário uma mudança na visão em relação à criança com deficiência, e um
acompanhamento e apoio psicológico aos pais na difícil tarefa de cuidar e educar os
filhos com deficiência.
O que se percebeu também é que os professores ainda têm resistência no
que diz respeito ao processo de inclusão, alguns chegaram a dizer que a mesma é
impossível. Daí a necessidade da escola se preparar para atender essas crianças e
dar significado à inclusão, e não apenas aceitá-las no seu interior. Mudando
atitudes, sendo diferente, solidária, democrática, pois é a escola que deve se ajustar
a essas crianças e não elas a escola. Para Schneider (2003, s/p):
A política da inclusão dos alunos na rede regular de ensino que apresentam necessidades educacionais especiais, não consiste apenas na permanência física desses alunos, mas o propósito de rever concepções e paradigmas, respeitando e valorizando a diversidade desses alunos, exigindo assim que a escola defina a responsabilidade criando espaço inclusivo. Dessa forma, a inclusão significa que não é o aluno que se molda ou se adapta à escola, mas a escola consciente de sua função coloca-se a disposição do aluno.
Não basta apenas receber, a escola necessita de profissionais que priorizem
um ensino para todos, respeitando as necessidades especificas desses alunos
numa moldura educativa que defenda principalmente seus direitos de aprender e se
desenvolver dentro das suas possibilidades e ritmos. Para Vygotsky (1997, P.23) é
de suma importância que a educação proposta para as crianças com necessidades
especiais seja marcada pela promoção variada e rica de suas vivências sociais em
especial no espaço escolar, em que possibilitará a criança construir estruturas
cognitivas e também lingüísticas cada vez mais complexas.
A escola precisa estar preparada para dar respostas à heterogeneidade,
tendo como base uma multiplicidade de serviços e de apoio adequados,
proporcionando aos educandos a possibilidade de maximizar seus potenciais.
Correia (1993) nos diz que por exibirem determinadas condições especificas esses
alunos podem necessitar de apoio de serviços durante todo ou parte do seu
percurso escolar, de forma que esse facilite o seu desenvolvimento acadêmico,
pessoal e sócio emocional.
Portanto é necessário que todos se sintam atendidos da mesma forma,
permitindo dar respostas às necessidades dos alunos, implementando estratégias
para que os familiares das crianças com necessidades especiais possam participar
da vida escolar dos seus filhos.
Na concepção dos professores quando questionados sobre as expectativas e
participação dos pais no processo de escolarização dos filhos com necessidades
especiais, eles acreditam que a maioria dos pais delega à escola não apenas a
formação do seu filho, mas também a responsabilidade sobre ele. Segundo uma
das professoras “A mãe quer que a criança freqüente a escola pela manhã, tarde e
noite. Ela diz que o lugar do filho é na escola, pois em casa ele não presta pra
nada”.
4.1.5 O que exigem os pais no processo de escolarização dos filhos com
necessidades especiais.
Antes de discutirmos sobre a relação dos pais com a escola se faz necessário
compreendermos os sentimentos vivenciados pelos pais dessas crianças ao
descobrirem sobre a deficiência de seus filhos. Pois ao esperar um bebê a família
cria expectativas quanto a essa criança, e ao saber que seu filho possui alguma
limitação a família passa por um processo de luto e de perda de suas expectativas,
pois de repente se deparam com uma situação completamente inesperada. A partir
daí analisaremos as exigências dos pais quanto ao processo de escolarização dos
seus filhos.
Os resultados da pesquisa de Kortmann (1997) apontam as dificuldades dos
familiares quanto à aceitação da criança que nasce diferente. Em um primeiro
momento (momento do choque) quando as famílias recebem a notícia cada um dos
elementos da família reage de forma diferente, havendo muitas vezes, dificuldades
no desempenho dos papéis, isto porque além de aprender a ser mãe/pai, os pais
tem que ser pai/mãe de uma criança diferente que não esperavam. Portanto, há um
sentimento de perda muito grande, perda do filho sadio, perda do filho sonhado,
perda do sonho.
Ao analisarmos a entrevista realizada com os pais, podemos perceber em
suas respostas quando questionados sobre qual sua relação e dos demais membros
da casa com essa criança para percebermos que quase todos têm dificuldades em
lidar com essa realidade, embora o depoimento da Mãe 3 seja um pouco mais
positivo que os demais:
Quando me separei ele era pequeno. Minha mulher foi embora deixando ele pra trás. Ela o abandonou porque não o aceitava. Eu faço o que posso para acompanhá-lo, pois trabalho e não tenho muito tempo. Pai 1
No início eu não acreditava que ele tinha nascido assim. Afinal de contas esperei ansiosa pelo seu nascimento. Tive que aceitar, pois foi Deus que quis. Sem falar que meu marido me abandonou depois que ele nasceu. Mãe 1.
Acho que fiz alguma coisa pra acontecer isso comigo. Demorei pra acostumar com a idéia mais é muito difícil. Ela tem irmãos e eles não tem muita paciência com ela. Mãe 2.
Somos unidos ele participa de tudo lá em casa. Adaptamos algumas coisas por conta da cadeira de rodas mais ele leva uma vida “normal”. No começo foi difícil mais depois acostumamos. Mãe 3.
É importante salientar depois desses depoimentos “que os pais devem
receber ajuda a fim de compreender seus próprios sentimentos em relação à
deficiência dos seus filhos”. (BUSCAGLIA, 2002, p.38). Este autor ainda enfatiza que
um dos mais dolorosos problemas que os pais deverão enfrentar é o isolamento
social causado pela debilitação, pois a maioria das pessoas hesita em tratar as
pessoas com deficiências do mesmo modo que tratam os outros. Podemos perceber
isto no depoimento de uma das mães:
Não sei o que faço, às vezes acho que ele não tem mais jeito. Não posso tá acompanhando sempre, mais sempre que dá eu vou na escola saber como ele tá se comportando pois ele é muito agressivo. Às vezes não sei o que fazer. Mãe 1
Essa declaração da Mãe 1 reforça o que a professora E nos disse quando
questionada se recebe apoio dos pais para desenvolver seu trabalho “(...) às vezes
alguns pais acompanham, mas muito pouco. Acho que é por falta de conhecimento
na área ou por falta de aceitação”.
Por se tratar de deficiência mental a mãe relata que muitas vezes ele muda
de humor repentinamente e diz que as professores devem tratar ele com paciência e
atenção.
Quando questionados sobre o que esperam quanto ao atendimento escolar
para com seu filho, 100% disseram que gostaria que seu filho fosse bem recebido na
escola como podemos perceber na afirmativa da mãe 2 disse:
Quero que minha filha seja atendida na escola igual os outros alunos, afinal de contas ela é gente como eles. Minha mãe faz questão que ela venha pra cá. Como aqui na cidade não tem outro lugar pra atendê-la é na escola que ele deve ficar. Mas as atividades que ela faz não são as que os outros fazem.
A avó dessa criança ao ser entrevistada conta que a mesma só freqüenta a
escola por causa dela. “Faço questão de vir trazer todos os dias ela não pode deixar
de ir pra escola de jeito nenhum, apesar de não ter crianças na sala dela com
deficiência é muito importante pra ela vim pra escola”.
Ela conta que a Síndrome de Down que é a deficiência de sua neta, não
impede que ela freqüente a escola e que às vezes ela consegue responder as
atividades. No entanto, segundo ela, as professoras colocam mais tarefas de pintar
e ela queria fazer era o que os outros estavam fazendo.
Nas declarações acima percebemos que para os pais a escola ainda não
recebe esse aluno de maneira adequada, existindo distinção entre os ditos “normais”
e aqueles que possuem alguma limitação aparente no âmbito escolar.
Por estarmos falando de pais de classe menos favorecida economicamente
um dos fatores segundo eles, que causa entrave para lutarem por uma vida digna
para seus filhos é a falta de conhecimento, principalmente no que diz respeito às leis
que regulamentam a inclusão. Ao mesmo tempo em que querem que seus filhos
sejam atendidos na escola regular, “já que é o único lugar que eles tem para ir” (Mãe
2), eles desejam que seus filhos tivessem um local especialmente destinado para
trabalharem suas limitações, eles demonstram que queriam locais específicos para o
atendimento das dificuldades dos seus filhos e que lá mesmo eles tivesses
atendimento escolar. Assim segundo eles os filhos se sentiriam mais seguros e se
relacionariam melhor com os demais colegas, já que todos estariam envolvidos num
mesmo ambiente. A mãe 1 ao pegar seu filho na escola nos revela:
Se meu filho tivesse um lugar onde as outras crianças fossem como ele, seria mais fácil. É muito difícil ele ficar aqui vendo todo mundo fazer a tarefa, brincar no recreio. Queria que tivesse lugar de atendimento só pra esse tipo de criança. acho que ele se sentiria melhor e ficaria mais calmo.
Nesse depoimento percebemos que os pais ao mesmo tempo em que
buscam a inclusão de seus filhos na escola acham que a mesma é muito difícil de
acontecer. A conscientização de que seu filho pode e deve viver socialmente é
fundamental, pois as crianças com necessidades especiais observam, sentem e tem
as mesmas necessidades das outras crianças, e é no convívio com elas que eles
podem interagir e cada vez mais melhorar sua condição de vida.
A inclusão da criança com necessidades especiais parte inicialmente dos
pais. Eles são os primeiros responsáveis pela socialização dessas crianças e devem
ser os primeiros a desejarem que seus filhos freqüentem espaços onde possam
interagir com as demais crianças. E eles revelam através da entrevista:
Quero que meu filho aprenda alguma coisa. Não de matérias como português e matemática. Quero que ele brinque com os alunos, que participe do recreio. Que aprenda a viver com as pessoas. Não importa se ele vai passar de ano ou não. Só em ele sair de casa e vim pra cá ele já se sente útil. E isso faz muito bem pra ele. Pai 1.
Eu sei que meu filho é muito difícil. O que ele fazer aqui na escola tá bom. Ele é muitas vezes agressivo, de vez em quando me chamam aqui pra reclamar. Queria que ele tivesse num lugar com mais pessoas iguais as ele. Mãe 1
Sei que é difícil a adaptação dela aqui na escola. Mais ela gosta de vim. Eu não tenho tempo e é minha mãe traz todos os dias. Diz que ela tem que acostumar com os outros meninos. Mãe 2
A escola tem que adaptar as tarefas e brincadeiras fazendo com que essas crianças participem com as outras. Eu não vejo isso. Sempre pergunto por que meu filho não faz as atividades que os outros fazem. Acho que se elas colocassem pra ele fazer, ele faria. Ele é um menino esperto e em casa colocamos pra fazer algumas coisas que muitos igual a ele não fazem, e ele consegue fazer. Mãe 3.
Portanto, os pais ao matricularem seus filhos na escola regular, querem que
os mesmos acompanhem as atividades normais da escola, e que seus filhos
participem de todos os momentos e atividades da escola, assim como os demais
alunos que a freqüentam. A Mãe 3 ao falar sobre isso não admite seu filho ficar
apenas pintando enquanto os outros fazem contas, lêem livros. Ela diz que o filho
possui uma limitação física e que muitos na escola o deixam de lado por causa
disso. E ela afirma:
Os professores deveriam ter mais cuidado com essas crianças, eles simplesmente recebem eles na sala, mais não fazem com que eles interajam com os demais colegas. Às vezes sinto que meu filho não está bem, todos fazendo atividades e ele não.
Podemos afirmar diante dessas declarações que os alunos necessitam de
mais prática, não de estratégias diferentes das utilizadas com os outros alunos. A
partir do momento que todos interajam em sala de aula participando das atividades,
as crianças com necessidades estarão se integrando a turma, começando assim um
processo de socialização e participação de todos.
4.6 A relação entre as expectativas e participação dos pais no processo de
escolarização dos seus filhos.
Para que a inclusão realmente aconteça é necessário que a relação entre a
escola e a família seja estreita. Ao serem observados e questionados sobre o que
esperam e como participam do processo de escolarização dos seus filhos com
necessidades especiais percebemos que falta ainda uma participação maior dos
pais nesse processo. Quando perguntamos como é a sua participação no cotidiano
escolar as respostas foram essas:
Não tenho tempo de acompanhá-la, pois trabalho o dia todo. Minha mãe leva ela pra escola e fica com ela a tarde. Às vezes ela faz o dever que a professora manda, às vezes não tem paciência, pois ela é birrenta. Não tenho como ir às reuniões, pois sempre é no horário que estou trabalhando e minha mãe também não vai muito porque cuida da casa. Mãe 2.
Trabalho mais sempre que posso vou levar ou buscar na escola e aproveito esse tempo para conversar com a professora. Ele ta melhorando segundo ela, mais é um processo demorado, espero que freqüentando a escola regularmente ele consiga progresso. Pai 1.
Gosto quando ele chega de lá mais calmo. Assim também como tem dias que chega mais irritado. Eu espero que ele possa se integrar com os meninos, pois ele gosta de ir pra escola. Não posso ir nas reuniões pois trabalho, às vezes mando minha filha. Mãe 1.
Espero que ele sempre possa conviver e aprender com os meninos. É importante pra ele essa convivência. Sempre pergunto a
professora como ele está e se melhorou de comportamento, pois no inicio ele era muito agressivo. Faço as tarefas com ele e muitas vezes peço para que a professora coloque mais desafios pra ele. Mãe 3.
Devemos enfatizar a fala da mãe 3 que apesar do seu grau de escolaridade
ser baixo ela tem uma bagagem enorme sobre o que diz respeito ao processo de
inclusão. Além de fazer exigências para seu filho podemos perceber durante as
observações que ela conversa com os demais pais incentivando-os para que não se
desanimem e que possam lutar para que seus filhos tenham seus direitos atendidos.
Ela diz: “nossos filhos nascerem e devem crescer de maneira igual as outras
crianças, eles tem os mesmos direitos que elas”.
Podemos dizer que essa mãe percebe assim como nós, que muitos pais não
participam do cotidiano escolar dos seus filhos. Diante do que foi visto durante essa
pesquisa, essa participação não acontece muitas vezes porque os pais realizam
outras tarefas do dia a dia, e que sempre que podem, segundo eles participam as
escolarização dos seus filhos, seja perguntando sobre seu filho, seja ajudando ele
em casa.
No entanto os pais assim como os professores sentem falta de apoio. A mãe
1 disse: “Antes quando eu tinha mais tempo, levava ele pra Salvador. Lá ele tinha
acompanhamento e a gente percebia os progressos, como eu não pude ir mais ele
regrediu e infelizmente não deu pra continuar o tratamento”.
Podemos dizer que os pais além da escola desejam um lugar que seus filhos
tivessem um acompanhamento mais especifico para suas limitações. Infelizmente
aqui no Município isso não acontece. O que revela a Mãe 3
Minha vizinha vai toda semana para APAE em Juazeiro infelizmente não tenho condições de ir, se tivesse eu iria sim, é importante pra eles o contato com essas crianças. A filha dela é bem esperta e é de fácil socialização, pois já tem essa experiência, de se relacionar de igual pra igual com os demais colegas.
Percebemos que o filho da mãe 3 é mais desenvolvido do que as demais
crianças. Tanto nas atividades na sala de aula, quanto nas brincadeiras no intervalo,
ele interage mais com os colegas. Se os demais pais começarem a participar do
processo de ensino e aprendizagem dos seus filhos, eles também conseguirão
progressos com os seus filhos. O estímulo é fundamental. Isso nos leva a concordar
com Rappaport (1978, p. 48) de que as “diferenças nas expectativas das mães
podem refletir estilos cognitivos diferentes”. Portanto, quanto mais se estimula as
crianças com necessidades especiais, mais elas terão avanços em relação a suas
limitações. E esses estímulos além de começar em casa devem continuar na escola,
tanto nas atividades quanto no convívio com os outros alunos, pois é um local onde
elas podem interagir com um grande número de crianças cada uma com suas
especificidades, contribuindo assim para que através desse convívio, elas possam
avançar significativamente.
Apesar de por muitas vezes os pais questionarem o porquê de ter um filho
com necessidades especiais, eles “deve incentivá-los para evitar acrescentar aos já
inúmeros problemas que ele tem, mais um, grave, o isolamento”. Camargo (1995).
Isto significa também que os pais precisam perceber a importância dos diversos
estímulos para que seu filho possa se desenvolver.
Fazendo uma análise no nosso diário de bordo dos pais que tem as duas
crianças com Síndrome de Down, notamos a preocupação do Pai 1 quando afirma
para a Professora B: “Meu filho precisa de ajuda”. A fala desse pai traz a importância
da parceria escola e família. Os pais devem procurar ajuda e para que junto com a
escola possam encaminhar seus filhos para profissionais que poderão ajudar essas
crianças. Portanto, ter essa consciência é indispensável para que o processo de
ensino e aprendizagem se dê de forma que todas as crianças sejam inseridas no
espaço escolar e a partir daí facilitar a socialização dessas crianças na sociedade.
Conversando com esse pai percebemos o quanto ele se preocupa com o
filho. Durante as conversas ele fala o tempo todo de que essas crianças precisam
mais de atenção e de respeito. Para ele se seu filho tivesse oportunidades ele se
desenvolveria e poderia ter uma vida diferente.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa sobre a educação inclusiva e a relação entre as
expectativas e participação dos pais na escolarização dos filhos com necessidades
especiais em escolas regulares que investigou os pais, a instituição escolar e seus
atores nos fez perceber que, para que esta educação inclusiva se efetive tanto a
escola como seus professores devem estar preparados no sentido de compreender
as expectativas dos pais e procurar atendê-las. Mas para isso se faz necessário um
conjunto de medidas que vai desde mudança na estrutura física das escolas para
tornarem-se mais acessíveis à uma formação continuada de professores e todos
que trabalham direta ou indiretamente com as crianças.
As expectativas dos pais e o que eles desejam para seus filhos foram
descritas nos relatos e dizem respeito a uma escola com melhor preparo para
receber essas crianças. Nesse sentido a escola deve tentar encontrar uma forma de
trazer os pais para tornarem-se parceiros dela nessa difícil tarefa de escolarização
das crianças com deficiência e convidá-los para uma melhor participação no
processo educacional, dada a grande importância dos cuidados e necessidades de
seus filhos no que se refere ao desenvolvimento sociocultural, emocional, cognitivo e
motor.
Precisamos atentar para a realidade destas crianças que passam a maior
parte de suas vidas no convívio com suas famílias ou responsáveis,
conseqüentemente tendo como referência maior, primeiramente as posturas de seus
pais, sendo estas, muitas vezes, de superproteção ou ainda de abandono. Ao pais
questionam o tempo todo se seus filhos estão sendo bem aceitos no âmbito escolar,
mas por outro lado a participação destes familiares, descrita nos relatos, é carregada
de sentimentos, expressões de recusa, rejeição e transferência de
responsabilidades. Percebemos que os pais se sentem despreparados
emocionalmente e muitas vezes eles próprios precisam de uma ajuda psicológica
para entender e aceitar o seu filho com deficiência.
Nos relatos aqui apresentados, observamos que além dos problemas de
ordem social e de conjuntura familiar, verificamos posturas equivocadas tanto por
parte dos educadores quanto por parte dos familiares. As exigências apresentadas
pelos pais revelaram expectativas acima daquilo que o espaço escolar pode oferecer
e por vezes até mesmo além do que é a função da escola.
No relato dos professores percebemos uma necessidade de melhor
capacitação para receber estas crianças sem espanto, receio ou até mesmo
sentimentos de fragilidade. A compreensão sobre o processo educativo inclusivo se
dá na prática do contexto de sala de aula e é lá que as dúvidas, as inseguranças e
dificuldades dos professores aparecem, por isso eles necessitam de maior formação
e acompanhamento para realizarem seu trabalho.
As leis e documentos que fundamentam esta modalidade de educação
servem para nortear os educadores e pais apontando o caminho para
implementação de políticas públicas. Entretanto, é na experiência do professor e dos
pais destas crianças que estarão desenhados os verdadeiros contornos de um
paradigma educacional que conceda a inserção do aluno com deficiência no espaço
escolar.
As pesquisas e discussões sobre educação inclusiva, as associações de pais
de deficientes e as atitudes dos próprios deficientes têm gerado diversos resultados
ao que se refere a avanços nas publicações sejam através de artigos, monografias,
dissertações, teses e também por meio de leis e documentos oficiais. Porém, ao que
se refere ao contexto em sala de aula, ainda verificamos como nos resultados aqui
descritos uma pouca eficiência nos instrumentos disponibilizados para a
concretização da educação inclusiva.
Constatamos que itens como formação do professor, currículo, avaliação,
espaço físico da escola, dentre outras questões, quando não voltadas para uma
educação inclusiva, tornam-se barreiras para se obter uma educação satisfatória, e
que principalmente a falta de acompanhamento dos pais ou responsáveis contribui
para que o processo de ensino e aprendizagem não se concretize.
Portanto, esta pesquisa serviu para revelar nas falas dos principais envolvidos
nesta discussão da educação inclusiva, os pais e professores o quanto precisamos
caminhar para alcançar a prática inclusiva no espaço escolar. Pois podemos dizer
diante das discussões aqui apresentadas, que a lei garante, porém a prática nega.
No entanto, esperamos que os dados aqui apresentados sejam momentâneos e que
no futuro a educação inclusiva possa acontecer em todos as classes regulares,
principalmente em nossa região ainda carente de uma estrutura capaz de promover
a educação inclusiva de verdade.
No que se refere aos pais acreditamos que uma melhor participação
contribuiria para modificar a realidade aqui descrita. No relato da mãe 3 constatamos
um melhor desempenho do educando, haja vista sua melhor interação com seus
familiares e o seu esforço para que seu filho seja aceito e respeitado por todos. Os
questionamentos e preocupações relatados por esta mãe, referentes as atividades
desenvolvidas de seu filho em sala de aula, contribui para melhor reflexão da
professora diante da inquietação desta mãe com o desempenho do seu filho, e não
somente isto, mas a dedicação da mesma para tornar a vida de seu filho interativa
dentro e fora do espaço escolar contribui para um maior estimulo e reflexão da
professora sobre a sua prática, do corpo escolar e também dos seus familiares.
Podemos dizer que a realização deste trabalho foi fundamental para
compreender os processos educativos dentro do contexto de uma sala de aula num
município do interior. Esperamos que este estudo possa servir de referencial teórico
para pesquisas e publicações que venham acrescentar as discussões deste
universo tão importante para o crescimento sociocultural e político na educação
nacional.
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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
SENHOR DO BONFIM
Sou graduanda do curso de pedagogia da UNEB e essa entrevista faz parte da
pesquisa monográfica cujo tema é A Relação entre expectativas e participação dos
pais no processo de escolarização dos filhos com necessidades especiais que
freqüentam essa instituição. Este questionário será utilizado como instrumento de
coleta de dados, e para fazer a relação entre expectativa e participação dos pais, os
professores não podem deixar de serem questionados tanto pela sua prática como
pelo acompanhamento da escola e da família desses alunos.
1. Você já trabalhou com alunos especiais ou é sua primeira experiência?
2. Você recebe apoio do corpo escolar e dos pais para desenvolver o seu
trabalho?
3. Quais os fatores que dificultam o seu trabalho pedagógico?
4. Há alguma exigência por parte dos pais no processo de ensino e
aprendizagem dessas crianças?
5. Para você os pais de alunos com necessidades especiais participam
efetivamente no processo de escolarização dos filhos?
6. A Rede Municipal disponibiliza cursos de capacitação para os professores
trabalharem com os alunos especiais nas classes comuns?
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
SENHOR DO BONFIM
Estudo na UNEB - Universidade do Estado da Bahia, e para realizar um trabalho de
conclusão de curso é indispensável que os pais e responsáveis pelas crianças com
necessidades especiais que freqüentam a escola participem respondendo as
questões abaixo. O tema do trabalho é A relação entre expectativas e participação
dos pais no processo de escolarização dos filhos com necessidades especiais.
Precisamos discutir como a família e a escola participação no processo de ensino e
aprendizagem dessas crianças.
1. Qual a sua relação e a relação dos demais familiares com a criança especial
que convivem?
2. Ao matricular seu filho na escola o que você espera?
3. Que dificuldades você enfrenta no cotidiano escolar com seu filho? Ele
freqüenta a escola diariamente?
4. De que maneira a escola recebe seu filho?
5. Qual sua participação no cotidiano escolar?
6. Costuma questionar com a professora sobre o comportamento, atividades e
progressos?
7. Você auxilia nas atividades enviadas para casa?
8. Costuma ir às reuniões escolares?
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
SENHOR DO BONFIM
Precisamos traçar o perfil dos envolvidos na pesquisa, para isso pedimos que
responda este questionário. A sua identidade será mantida em sigilo. Muito obrigada
pela colaboração.
1. Sexo:
( ) feminino ( ) masculino
2. Qual a sua idade?
( ) 18 – 23 ( ) 24 – 29 ( ) 30 – 35 ( )36 – 40 ( ) 41 - 46
3. Qual seu nível de escolaridade?
( ) 2º Grau completo ( ) Superior Incompleto ( ) Superior Completo ( ) Pós graduando ( ) Pós graduado
4. Ano de Conclusão:
( ) 1999 – 1995 ( ) 1996 – 2001 ( ) 2002 – 2007
5. Carga horária de trabalho:
( ) 20 horas ( ) 40 horas ( ) 60 horas
6. Renda familiar:
( ) 1 a 2 Salários mínimos ( ) 3 a 5 Salários mínimos ( ) 5 a 7 Salários mínimos
UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB
DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII
SENHOR DO BONFIM
Precisamos traçar o perfil dos envolvidos na pesquisa, para isso pedimos que
responda este questionário. A sua identidade será mantida em sigilo. Muito obrigada
pela colaboração.
1. Sexo:
( ) feminino ( ) masculino
2. Qual a sua idade?
( ) 18 – 23 ( ) 24 – 29 ( ) 30 – 35 ( ) 36 – 41 ( ) 42 – 47 ( ) 48 – 53
3. Qual seu nível de escolaridade?
( ) analfabeto ( ) Ensino Fundamental I ( ) Ensino Fundamental II ( ) Ensino Médio ( ) Superior Incompleto ( ) Superior Completo
4. Carga horária de trabalho:
( ) 20 horas ( ) 40 horas ( ) 60 horas
5. Renda familiar:
( ) até 1 salário mínimo ( ) 1 a 2 Salários mínimos ( ) 2 a 4 Salários mínimos