Monografia: A Imagem do Herói no Mangá - Parte 1
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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROJETOS EXPERIMENTAIS EM JORNALISMO
A IMAGEM DO HERÓI NO MANGÁ
Ivan de Souza Cardoso
Rio de Janeiro
Junho / 2011
i
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ
A IMAGEM DO HERÓI NO MANGÁ
Ivan de Souza Cardoso
Projeto apresentado em cumprimento às
exigências da disciplina Projetos
Experimentais II em Jornalismo.
ORIENTADORA: Profa. Ms Isabel Spagnolo.
Rio de Janeiro
Junho/2011
ii
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO.........................p.04
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .........................................................................p.07
METODOLOGIA....................................................................................................p.10
BIBLIOGRAFIA.....................................................................................................p.11
PROPOSTA DE SUMÁRIO DA MONOGRAFIA.............................................p.12
iii
APRESENTAÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO OBJETO
Mangá é a palavra que define as histórias em quadrinhos ou gibis japoneses que se
tornou um verdadeiro fenômeno editorial conquistando cada vez mais leitores não
apenas do Japão, mas do mundo inteiro.
A palavra cujo significado pode ser traduzido como “desenho divertido” foi usada pela
primeira vez pelo artista Katsushika Hokusai no século XIX. Nascido em 1760 e
falecido em 1849, Hokusai produziu uma série de xilogravuras entre os anos de 1814 e
1834. Apesar de ter como trabalho mais conhecido mundialmente o desenho “Vagalhão
de Kanagawa”, uma onda gigante que ele retratou com muito estilo, sua marca
registrada eram as charges e desenhos caricatos que já faziam parte da tradição japonesa
desde o século XII.
O Período Heian (794 - 1185 d.C.) foi marcado por ilustrações feitas em pergaminhos
em que animais como coelhos, macacos, raposas e sapos eram humanizados,
normalmente representando sacerdotes. Os rolos de papel tinham cerca de 6 metros de
comprimento e eram colocados em seqüência para narrar lendas, batalhas e eventos da
vida cotidiana. Um deles chamado Chojugiga (“Desenhos engraçados de animais”)
criado pelo artista e sacerdote Toba (1053 – 1140) ainda existe em bom estado de
conservação e pode ser encontrado no Museu Internacional do Mangá localizado na
cidade de Kyoto no Japão.
Influenciados por Toba, os artistas que vieram depois seguiam o mesmo estilo de
desenhar por meio de linhas delicadas, muito humor visual e pouquíssimo texto,
características que ainda podem ser encontrada nos mangás dos dias de hoje.
A primeira historinha japonesa com personagens fixos foi publicada em 1901 e se
chamava Tagosaku to Mokube no Tokyo Kenbutsu (“A viagem a Tokyo de Tagosaku e
Mokube”). Seu autor, Rakuten Kitazawa, foi influenciado pelas primeiras tiras
procedentes dos Estados Unidos e também pela revista mensal Japan Punch, uma
adaptação do semanário britânico Punch publicado em 1862 idealizada pelo oficial do
exército britânico Charles Wirgman e destinada aos estrangeiros que viviam na cidade
de Yokohama no Japão.
Portanto, é correto dizer que o mangá nasceu do encontro do Oriente com o Ocidente,
do velho com o novo ou, como diziam os próprios japoneses, foi um caso de wakon
yosai (“espírito japonês, aprendizado ocidental”).
A influência americana se faz presente também no traço de Osamu Tezuka (1928 –
1989) devido à similaridade estética de seus personagens com os das animações da
Disney.
Considerado o “Deus do Mangá”, Tezuka é visto pelos japoneses como o responsável
pela popularização dos quadrinhos em seu país. Afinal, sua carreira que teve início em
iv
1946 e terminou em 1989 contou com 150 mil páginas de quadrinhos, 600 títulos de
mangá e 60 trabalhos de animação. Apesar da abrangência de gêneros e temas que
abordou, todas as histórias eram dotadas de planos ricos em movimento e uma história
envolvente que pregava a paz e o respeito por todas as formas de vida, além de abordar
sem medo as questões humanas mais básicas: identidade, perda, morte e injustiça.
No entanto, o marco maior de Tezuka ficou conhecido por seu traço mais expressivo no
desenho e cinematográfico no enquadramento. Isso se deve a paixão que ele tinha pela
sétima arte graças a seu pai que era um ardiloso colecionador e também produtor de
filmes. Assim, Tezuka aplicou aos mangás, que no início do século XX ainda
apresentavam pouco movimento e personagens vistos sempre de um mesmo ponto fixo,
mais dinamismo e emoção.
Seu primeiro trabalho foi Shin-Takarajima (“A Nova Ilha do Tesouro”) publicado em
1947 e que se tornou um verdadeiro sucesso com 400 mil exemplares vendidos. A cada
quadro, Tezuka alterava constantemente o ponto de vista do leitor, imitando os
movimentos de uma câmera para gerar a sensação de ação incansável. Linhas de
movimento, distorções de velocidade, efeitos sonoros, gotas de suor e mais um vasto
arsenal de símbolos servia para incrementar a experiência.
O sucesso fez com que Tezuka se mudasse de Osaka, a cidade onde nasceu, para Tóquio
onde as grandes publicações de mangá começavam a crescer. E foi em 1952 na revista
Shonen, voltada para o público jovem, que ele publicou um de seus maiores sucessos:
Tetsuzan Atomu, conhecido no ocidente por Astro Boy.
Sua repercussão influenciou os demais mangakas (assim são chamados os desenhistas
de mangá) que passaram a fazer trabalhos de igual dinamismo e traço adotando como
característica principal os olhos grandes dos personagens. Isso se deve ao fato de
Tezuka ter sido fã de um teatro tradicional japonês chamado Takarazuka que é
interpretado somente por mulheres que usam maquiagem forte para realçar os olhos e
também por adorar as animações da Disney, em especial o Bambi cujos olhos verticais e
cheios de brilho expressam com clareza os sentimentos do personagem. E
expressividade é uma característica essencial no mangá.
Shotaro Ishinomori (1938 – 2000) foi um dos percussores desse movimento dando
início a suas publicações em 1955 também na revista Shonen e tendo produzido 770
títulos de mangá.
Muito embora os desenhistas de mangá costumem produzir quase 80 páginas por mês, o
que já é uma marca impressionante, Ishinomori e sua equipe chegaram a atender uma
demanda que exigia produzir cerca de 300 páginas num único mês.
Seus trabalhos mais conhecidos são Kamen Rider e Cybgorg 009 que seguem a linha de
super heróis.
v
PROBLEMATIZAÇÃO
Muito embora os mangás sejam, hoje em dia, produzidos para todo e qualquer tipo de
público, desde crianças em idade pré-escolar até aposentados, os mangás estilo shonen
voltados para os jovens são os líderes de vendas no Japão e no mundo.
Seus personagens costumam ter a mesma idade do público-alvo de leitores, em torno de
12 a 24 anos. Alguns são boxeadores como Joe de Ashita no Joe, outros são esportistas
como Tsubasa de Captain Tsubasa ou ainda médicos como Black Jack, protagonista do
mangá de mesmo nome. Mas, os que mais de destacam dentro desse gênero são os
heróis. Mas, por que justo eles são os que mais fazem sucesso?
Hiroki Goto, editor da Shonen Jumo, revista semanal de 400 páginas que reúne várias
histórias de mangá e que já teve pico de vendas de mais de 5 milhões de exemplares por
edição, diz: “se você trabalhar duro, pode conseguir qualquer coisa. Isso é o que nossas
histórias dizem”.
Esse conceito é definido no mito do herói que conquista seus méritos após vencer
grandes desafios. Por isso o arquétipo heróico se faz tão presente nos quadrinhos
japoneses desde 1956 na série Tetsujin 28 em que o primeiro robô gigante da história
dos mangás era o membro de um batalhão de guerreiros metálicos desenvolvidos para
defender o Japão durante a Segunda Guerra.
A partir daí o gênero de robôs gigantes se tornou presente até os dias de hoje assim
como histórias envolvendo avanços tecnológicos e a relação homem-máquina. E a
popularidade do herói no mangá se desenvolve a partir deste ponto quando começam a
surgir heróis ciborgues que lutam para proteger o mundo como Kamen Rider e Cyborg
009 antes mencionados.
Fazendo jus a premissa da união do velho e novo presentes nos mangás, os corpos e
armamentos desses heróis lembravam capacetes, armaduras e espadas de samurais. É
nesse cenário que surge Hokuto no Ken, mangá de 1983 que introduziu aos quadrinhos
uma forte influência de ação típica de filmes como Mad Max.
E foi assim que surgiram nos mangás personagens se adentram ao conceito de super
herói por ser um combatente, guardião, defensor, que nasceu pra servir e que ainda
possui super poderes. Tais como Seiya de Saint Seiya de 1985 que consegue romper a
terra num só golpe ou Goku de Dragon Ball Z de 1989 cuja força é capaz de destruir até
mesmo um planeta.
Essa garra e perseverança existente nos heróis de mangá se tornaram então outra marca
registrada e presente até hoje em títulos mais recentes como Naruto de 1997. É também
ela a responsável por conquistar não somente o público jovem, mas de todas as idades.
vi
METODOLOGIA
Seleção de três mangás em que é possível identificar o conceito mitológico do herói. Os
escolhidos foram Dragon Ball de Akira Toriyama publicado em 1984, Saint Seiya de
Masami Kurumada publicado em 1985 e Kamen Rider Spirits de Kenichi Muraeda
baseado na obra original de Shotaro Ishinomori publicado em 2006.
Em Dragon Ball temos a história de Son Goku que veio de um planeta distante e foi
encontrado por um senhor que mora numa casa humilde no meio da floresta e o adota
como neto. Ele, no entanto, morre e Goku tem de viver sozinho. No entanto, esta não é
uma tarefa difícil devido a sua grande força. Visando encontrar as sete esferas do dragão
que podem realizar qualquer desejo a quem as encontrar, ele inicia sua viagem pelo
mundo e enfrenta vários desafios. Após receber o treinamento de seu Mestre Kame,
torna-se mais forte, adquire grandes conquistas e, por fim, casa-se com a princesa
Chichi.
Podemos ver nesta passagem o trágico início que tem todo herói de acordo com o
conceito de Otto Rank: ele foi abandonado por seu povo, acolhido por uma pessoa
humilde e, após a infância, ao atingir os 12 anos, idade em que, segundo Júlio Pólux, o
menino escapa da vigilância materna, começa a demonstrar traços de sua natureza
superior.
Em Saint Seiya temos como protagonista Seiya, um jovem japonês que lidera os
Cavaleiros de Bronze, um grupo de guerreiros dotados de armaduras e poderes sobre-
humanos. Cada um dos Cavaleiros é protegido por uma constelação que leva o nome de
sua armadura. Seiya, por exemplo, é o Cavaleiro de Pégaso e recebeu esse título após
receber de sua mestra Marin o treinamento no Santuário na Grécia, lugar onde surgiram
os Cavaleiros.
Seiya, por ser órfão, também tem uma iniciação trágica conforme o conceito de Otto
Rank e precisou passar por um treinamento duro para obter o título de Cavaleiro. Um
treinamento similar ao que Quirão, o centauro, dava a seus discípulos que eram heróis
da mitologia grega.
Em Kamen Rider temos como personagem principal Hongo Takeshi, um homem que foi
raptado por uma organização maligna e transformado num ciborgue. Porém, antes que a
operação pudesse ser completada e sua mente alterada, ele escapa e decide lutar contra
essa organização.
Podemos ver neste exemplo, mais uma vez, a iniciação trágica do herói. Embora não
tenha sido em seu nascimento, ela ocorre a partir do momento em que ele se torna
Kamen Rider cuja natureza é maligna e cuja aparência se assemelha a um monstro, o
que nos traz a tona o conceito de E. Rohde em que os heróis estariam diretamente
ligados aos demônios.
x
BIBLIOGRAFIA
Apocalípticos e Integrados – Umberto Eco
Cultura de Massa no século XX – Edgar Morin
Mundialização e Cultura – Renato Ortiz
Mitologia Grega Volume 3 – Junito Brandão
Psicologia do Inconsciente – Carl Jung
Carnavais, Malandros e Heróis – Roberto Damatta
Cultura Pop Japonesa, histórias e curiosidades – Alexandre Nagado
Coleção 75 anos DC Comics – Levi Trindade
Mangá: como o Japão reinventou os quadrinhos – Paul Gravett
O grande livro dos mangás – Alfons Moliné
xi
PROPOSTA DE SUMÁRIO DA MONOGRAFIA
Capítulo l – A história dos heróis de mangá
1.1) Histórico dos mangás no Japão e no mundo.
1.2) Histórico dos mangás voltados ao público jovem que tenham super-heróis como
personagens.
Capítulo lll – Mangás e o mito dos heróis
3.1) Histórico dos mangás Saint Seiya, Dragon Ball e Kamen Rider.
3.2) Seleção e análise de histórias de cada um que tragam referências ao mito dos
heróis.
xii