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MONITORIA, MARCAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE TARTARUGAS MARINHAS EM MOÇAMBIQUE: RELATÓRIO ANUAL 2017/18 Compilado e editado por: Raquel S. Fernandes, Jessica L. Williams, Sara Gonzalez-Valladolid, Lara Muaves & Marcos A. M. Pereira Maputo, Novembro 2018

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MONITORIA, MARCAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE TARTARUGAS MARINHAS EM

MOÇAMBIQUE: RELATÓRIO ANUAL 2017/18

Compilado e editado por:

Raquel S. Fernandes, Jessica L. Williams, Sara Gonzalez-Valladolid,

Lara Muaves & Marcos A. M. Pereira

Maputo, Novembro 2018

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MONITORIA, MARCAÇÃO E CONSERVAÇÃO DE TARTARUGAS MARINHAS

EM MOÇAMBIQUE: RELATÓRIO ANUAL 2016/17

Compilado e editado por:

Raquel S. Fernandes1*, Jessica L. Williams2, Sara Gonzalez-Valladolid3, Lara Muaves4

& Marcos A. M. Pereira1

1Centro Terra Viva – Estudos e Advocacia Ambiental, Maputo

2Tartarugas para o amanhã, Tofo – Inhambane

3&beyond, Ilha de Vamizi

4 Fundo Mundial para a Natureza

*Autor para correspondência. E-mail: [email protected]

Traduzido por: Raquel S. Fernandes

Sugestão de citação:

Fernandes, R. S., J. L. Williams, S. G. Valladolid, Muaves L.& M. A. M. Pereira (2018). Monitoria,

marcação e conservação de tartarugas marinhas em Moçambique: Relatório anual 2017/18. 37 pp.

Maputo, CTV.

Fotografias de capa:

1 – Cria de tartaruga cabeçuda (Caretta caretta) na RMPPO (Fotografia: Miguel Gonçalves).

2 – Carapaças e ossos de tartarugas cabeçudas (C. caretta) no PNQ (Fotografia: Lara Muaves).

3 – Salvamento de tartaruga verde (Chelonia mydas) próximo à Barreira Vermelha (Fotografia:

Cortesia da RMPPO).

4 – Tartaruga coriácea (Dermochelys coriacea) a nidificar na RMPPO (Fotografia: Miguel

Gonçalves).

As opiniões, posições e pontos de vista expressos neste documento, reflectem apenas as dos

autores e não necessariamente aquelas de instituições governamentais, sector privado ou da

sociedade civil que contribuíram para a elaboração deste relatório.

Maputo, Novembro 2018

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SUMÁRIO

O décimo primeiro relatório anual sobre monitora, marcação e conservação de tartarugas marinhas em

Moçambique apresenta os resultados da época 2017/18. Estes resultados baseiam-se na compilação de

dados de nidificação de fêmeas, rastos, ninhos e crias, arrojamentos, emaranhamentos e mortalidades,

incluindo avistamentos esporádicos, dos diferentes programas de monitora e conservação, que ocorrem

dentro e fora das áreas de conservação marinhas (ACMs) ao longo da costa. O relatório também destaca

os trabalhos de investigação em curso e estudos publicados, treinos e palestras de consciencialização,

bem como as prioridades de monitoria e investigação.

A época de monitoria 2017/18 decorreu de Junho de 2017 a Maio de 2018 na secção norte do país, na

Ilha Vamizi (Arquipélago das Quirimbas) e, de Setembro de 2017 a Março de 2018 na secção sul,

estendendo-se do Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto (PNAB) à Reserva Marinha Parcial da

Ponta do Ouro (RMPPO). Rastos e ninhos de tartarugas cabeçudas (Caretta caretta) e tartarugas coriáceas

(Dermochelys coriacea) foram registados ao longo da faixa costeira entre a Zona de Proteção Total do

Cabo de São Sebastião (ZPT-CSS, também conhecida como Santuário de Fauna Bravia de Vilanculos) e a

RMPPO; tartarugas verdes (Chelonia mydas) foram registadas nas Ilhas de Vamizi, Bazaruto e Benguérua e

algumas tartarugas bico-de-falcão (Eretmochelys imbricata) foram observadas na Ilha de Bazaruto.

No total foram registados 2 133 rastos e 976 ninhos de tartarugas marinhas. As espécies mais abundantes

foram as tartarugas cabeçudas (1 935 rastos; 823 ninhos) e as tartarugas verdes (120 rastos; 93 ninhos),

seguidas pelas tartarugas coriáceas (66 rastos; 47 ninhos), tartarugas bico-de-falcão (4 rastos; 4 ninhos) e

espécies não-identificadas (8 rastos; 3 ninhos). Na presente época não foram registadas tartarugas

oliváceas.

A RMPPO continua a ser uma importante área de nidificação tanto para as tartarugas cabeçudas (98.6% e

99.7% do total de rastos e ninhos registados, respectivamente) como para tartarugas coriáceas (94.3% e

95.6% do total de rastos e ninhos registados, respectivamente). Aproximadamente metade dos rastos

foram registados em Dezembro para ambas as espécies. Os rastos e os ninhos foram mais abundantes

entre a Ponta Malongane e a Ponta Dobela (68.9% do total de rastos e 76.8% do total de ninhos da

RMPPO). Esta secção de praia é também a área onde é feita a maioria das marcações (79.0% das 167

tartarugas marcadas na RMPPO).

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Actualmente, os programas da RMPPO e Ilha de Vamizi são os únicos onde é feita a marcação de

tartarugas marinhas de forma contínua. No PNAB, a marcação ocorre esporadicamente e é

principalmente feita em tartarugas marinhas verdes forrageiras, capturadas acidentalmente em redes de

pesca. Na RMPPO foram registadas 248 tartarugas cabeçudas e 13 tartarugas coriáceas com marcadores

distintos (novas marcações e recapturas), cujos rastos correspondem a apenas 17.7% e 30.0% do total de

rastos para as respectivas espécies. Estes resultados mostram uma diminuição de tartarugas marinhas

marcadas quando comparados com os da época 2016/17 (308 tartarugas cabeçudas e 19 tartarugas

coriáceas) e mais do que foi registado para a época 2015/16 (229 cabeçudas e 12 tartarugas coriáceas).

Na Ilha de Vamizi foram marcadas 27 tartarugas verdes e recapturadas oito tartarugas verdes entre

Janeiro a Maio. Apenas uma tartaruga foi marcada no PNAB.

No Parque Nacional das Quirimbas (PNQ), foram registados 125 avistamentos de tartarugas marinhas

vivas e de 25 mortas entre Junho de 2017 a Maio de 2018 nas ilhas Ibo, Matemo e Quirimba. A maioria

das tartarugas identificadas eram tartarugas cabeçudas e tartarugas verdes. Na Ilha de Mefunvo, secção

central do PNQ, foi identificado um “local de abate de tartarugas marinhas”. A nível provincial e distrital,

o Procurador-Geral da República, com o apoio do Fundo Mundial para a Natureza (WWF), tem

prosseguido e promovido programas específicos de educação ambiental nesta área em colaboração com

várias partes interessadas.

Ao longo da costa de Moçambique foi registado um total de 86 casos de mortalidade de tartarugas

marinhas. Destes, 81.4% são resultantes de causas antropogénicas, 15.1% de causas não-identificadas e

3.5% de causas naturais. É importante ressaltar, que este número não reflete o actual nível de

mortalidade de tartarugas marinhas no país. Embora as tartarugas marinhas sejam espécies protegidas

em Moçambique desde 1965, estes resultados, demonstram que estas espécies marinhas migratórias

estão sob grande pressão e medidas urgentes são necessárias para proteger indivíduos, habitats e

corredores de migração. Estas medidas, entre outras, devem continuar a ser rigorosamente aplicadas e

penalizadas, assim como a promoção de adopção de práticas sustentáveis, especialmente no sector das

pescas.

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AGRADECIMENTOS

A equipa de autores gostaria de agradecer a todos os indivíduos e instituições que permitiram a

elaboração do décimo primeiro relatório anual de tartarugas marinhas, através da sua colaboração

na colecta e partilha de dados, bem como pelo apoio financeiro e material. Mais precisamente:

Programa MozBio: Madyo Couto, Agostinho Nazaré e Moshin Sidi

Administração Nacional das Áreas de Conservação – ANAC

Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável – FNDS

Biofund: Alexandra Jorge

Centro Terra Viva (CTV): Cristina Louro, Tânia Pereira, Carlos Litulo e Elise da Fontoura

Programa Agir e We Effect

Parque Nacional das Quirimbas (PNQ)

Agentes Comunitários do Sistema de Monitoria para fins de Gestão (ASMOG)

Intriga Ali, Coordenadora ASMOG

Naungi Ntave, Vice –Director do PNQ

Paulo Malenga, Chefe de Fiscalização do PNQ

Hassane Mussa, Cheia Ali, Momade Ali, Abdala Banaquenda, Selemane Banaquenda, Selemane Tagire, fiscais

Egídio Gobo, Oficial Marinho do WWF

Fundo Mundial para a Natureza (WWF)

Ilha de Vamizi:

Cardoso Lopes, Momade Issa, Raufo Mijai e Wakate Daudo, monitores comunitários de tartarugas marinhas

Isabel Marques da Silva, Universidade Unilúrio

Projecto Comunitário de Conservação de Vamizi

Parque Nacional do Arquipelago do Bazaruto (PNAB)

Albasine João Húo, Alberto Chicoo Húo, Augusto Pezissane Zivane, João Armando Matsinhe, José Duzenta Zivane, Manuel Alberto Zivane, Roque Madivage Buene e Tomé Daúdo, monitores comunitários de tartarugas marinhas

Tomás Manasse Chibale, Chefe de Fiscalização do PNAB

Bento João Panguissa, Domingos Caetano Mugarrimbe Gustavo Zivane e José Panguissa Boene, fiscais do PNAB

Ricardina Matusse, Antiga administradora do PNAB

Zona de Protecção Total do Cabo de São Sebastião (ZPTCSS)

Afonso Baloi, Aurélio Camba Chicuinine, Jose Vilanculos, Jeremias Maswanganhe, José Timbe e Ricardo Machave, monitores comunitários de tartarugas marinhas

Dr. Scotty Kyle e Dr. George Hughes, Consultores especialistas

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Reserva Nacional do Pomene (RNP)

Pedro Pereira, Administrador da RNP

Odilão Macamo, Chefe de Fiscalização da RNP

Palmira Alberto Majengue, Aquiles Nhangave, Cornélio Nquatosiso, Jorge Sampaio, Odilão Florêncio, Fernando Fernando, Ivone Covane, fiscais da RNP

Francisco Satane e outros membros do Comité de Co-Gestão de Recursos Naturais

Mareika Botha Krugel e Eduardo Videira pela partilha de informação casual

Província de Inhambane

Katie Reeve-Arnold e volunteers, All Out Africa

Blue footprints Eco-lodge, Praia do Tofo

Nakia Cullain, Závora Marine Lab

Yara Tibiriçá, Alex Polleau, Thomas Brunneau, Dunas de Dovela

Love the Oceans, Baía de Guinjata Bay

Associação Marine Megafauna

Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO)

Miguel Gonçalves Administrador da RMPPO

Vicente Matsimbe, Chefe de Fiscalização da RMPPO

Filimone Javane, Álvaro Machaieie, Moisés Marcelino, António Ulaia, Manuel Zituta, Eusébio Lapissone, Issufo Tiago, Augusto Deixa, Paulo Nhonguane, Eduardo Nhacula e Valentim Aluxar, fiscais da RMPPO

Angie Gullan, Dolphin Encountours;

Pierre, Stephan, Yvone e Werner Lombard;

Mark Strydom, Bongani Mabuswane e Ramiro dos Reis, Machangulo Group;

Lourenço Paco, White Pearl Resort;

Acácio Bernardo Banze, Agostinho Adriano Matusse, Alberto Elias Nyethe, Alberto Vicente Maússe, Alice Chiluvane, Alson Fiosse Mingane, António Chivoco, António Joane Machavene, António Munguambe, Artimiza Paulo Chale, Assalina Gemisse Mapanga, Chihaeco Tlabane, Cumbulane M.Mingane, David Mpaco, Domingos Mateus Nhaca, Donaldo Eduardo Ngomache, Dumissane Mingane, Ecina Gomba Singa, Elfasse Tlabane, Elias Vasco Nhomguane, Ema Massinga, Ernesto Fabião, Fatima Zefanias Maquele, Fernando Jeremias Mabica, Fernando Muanoriba Taberela, João Muete, Joel Alberto Tembe, Lazaro M. Maquele, Lessa Maphanga, Madalena Elias Nhonguane, Matusse Massinga, Meri Tobi Libilo, Naftal Alfredo Novela. Noa Gimiasse Mapanga, Rasse Alberto Come, Romão Jasse Munguambe, Salomão Feliciano Zandamela, Salomão N.Maphanga, Seti Jeremias Tembe, Sibucisso Mabica, Sibucisso Mabuswane, Simone Jonas Mafumu, Simone Mabuswane, Syabonga Tembe, Temba Mate, Thembi Mingane, Thocozane Hlavane, Thulane Sele, Tomé M. Maguele, Vanencia Carlos Nhaca, monitores comunitários de tartarugas marinhas;

Júnior Carlos e António Dinis, Marinha de Guerra;

Peace Parks Foundation;

Prince Albert II Foundation;

Biofund

InterAuto

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ÍNDICE

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 1

OBJECTIVOS ........................................................................................................................................... 3

METODOLOGIA ..................................................................................................................................... 3

RESULTADOS DE MONITORIA ............................................................................................................. 11

ACTIVIDADES DE INVESTIGAÇÃO ........................................................................................................ 28

CRIAÇÃO DE CAPACIDADES DE FISCAIS E MONITORES COMUNITÁRIOS E OUTRAS ACTIVIDADES ... 30

EDUCAÇÃO E CONSCIENCIALIZAÇÃO AMBIENTAL .............................................................................. 31

DESAFIOS & RECOMENDAÇÕES .......................................................................................................... 32

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................................... 35

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INTRODUÇÃO

Desde o final dos anos 80, que os programas de monitoria de tartarugas marinhas foram

gradualmente estabelecidos ao longo da costa moçambicana (Videira et al., 2008). O primeiro e

mais antigo programa foi estabelecido na Ilha da Inhaca em 1988, seguido pelos programas no

Parque Nacional do Bazaruto (actualmente designado por Parque Nacional do Arquipélago do

Bazaruto - PNAB) e entre a Ponta Dobela e a Ponta Malongane (actualmente parte da Reserva

Marinha Parcial da Ponta do Ouro - RMPPO) em 1994. Em 2004, com o início do extinto Grupo de

Trabalho de Tartarugas Marinhas de Moçambique (GTT) e com o interesse do sector privado, foram

estabelecidos vários programas de monitoria e marcação. A título de exemplo, em 2005, foram

iniciados, e ainda em curso, os programas de Cabo de São Sebastião e Ilha de Vamizi (Videira et al.,

2008). Antes da época 2007/08, foram estabelecidos outros programas de monitoria, mas devido à

falta de recursos e por não terem sido consideradas áreas prioritárias de nidificação de tartarugas

marinhas (números baixos registados), estes programas, infelizmente, foram cancelados (Louro &

Fernandes, 2012).

Actualmente existem oito programas de monitora de tartarugas marinhas em curso (Tabela 1). No

entanto, o esforço de monitora não tem sido consistente e existem lacunas na sequência de dados

ao longo das épocas (Tabela 1). Outro aspecto importante a considerar, é que alguns programas,

como o da Ilha da Inhaca, continuam em curso, mas por necessidade de estabelecimento de um

acordo de colaboração, os dados colectados não são partilhados para inclusão nos relatórios anuais

de conservação, monitoria e marcação de tartarugas marinhas (Fernandes et al., 2017; 2016;

2015a,b; 2014; Louro & Fernandes, 2013; Louro & Fernandes, 2012).

Em termos de composição específica, fêmeas nidificantes de tartarugas marinhas apresentam

dominância de tartarugas verdes (Chelonia mydas) na região norte (por exemplo, na Ilha de Vamizi

e Parque Nacional das Quirimbas). Na região sul, como por exemplo na Reserva Marinha Parcial da

Ponta do Ouro - RMPPO, predominam as tartarugas cabeçudas (Caretta caretta) e coriáceas

(Dermochelys coriacea) (Anastácio, 2014; Fernandes et al., 2014; 2015a,b; 2016; Fernandes, 2015;

Louro et al., 2012; Louro e Fernandes, 2013; Pereira et al., 2009; Trindade, 2012; Videira et al.,

2008; 2010; 2011). A Zona de Protecção Total do Cabo de São Sebastião (ZPTCSS) e o Parque

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Nacional do Arquipélago de Bazaruto (PNAB) são duas áreas consideradas de elevada riqueza de

espécies, com potencial para a nidificação das cinco espécies que ocorrem nas águas de

Moçambique. No entanto, nos últimos anos, os registos de nidificação das tartarugas bico-de-falcão

(Eretmochelys imbricata) e tartarugas oliváceas (Lepidochelys olivacea) são escassos (Fernandes et

al., 2014; 2015; 2016; Fernandes, 2015a,b; Louro et al., 2012; Louro & Fernandes, 2013; Pereira et

al., 2009; Trindade, 2012; Videira et al., 2008; 2010; 2011).

Tabela 1. Contribuição dos dados históricos dos programas de monitoria de tartarugas marinhas (Verde - programa estabelecido com dados publicados nos relatórios anuais; Azul - programa estabelecido com dados possivelmente publicados em outras fontes; Amarelo - patrulhas ocasionais com dados publicados nos relatórios anuais; Branco - sem programa). Parque Nacional do Arquipélago do BANP – Bazaruto; Parque Nacional NP; RMPPO - Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro; TPZ – Zona de Proteção Total. * = Julien et al. (2017)

Programa de Monitoria 1

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Ilha de Vamizi

PN das Quirimbas

Primeiras e Segundas

PNAB

RN Pomene

ZPT Cabo de São Sebastião

Tofo

Závora

Zavala

Xai-Xai

Bilene

Manhiça

Macaneta

Ilha da Inhaca, RMPPO * * *

P. Mucombo - P. Santa Maria, RMPPO

P. Dobela – P. Mucombo, RMPPO

P. Malongane - P. Dobela, RMPPO

P.Ouro - P. Malongane, RMPPO

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OBJECTIVOS

O objectivo geral do relatório anual de monitoria, marcação e conservação de tartarugas marinhas

de Moçambique é de compilar dados relevantes recolhidos pelos vários programas de monitoria e

conservação de tartarugas marinhas em Moçambique, bem como de ocorrências pontuais fora das

áreas de actuação destes programas, de Junho de 2017 a Maio de 2018. Mais especificamente, os

objectivos do relatório são:

(1) Determinar a composição específica de fêmeas nidificantes;

(2) Determinar o número de rastos com e sem ninhos por espécie e por área;

(3) Determinar o número de ninhos, ovos e crias por espécie e por área;

(4) Determinar o número de avistamentos em áreas de alimentação e/ou corredores de migração; e

(5) Determinar o número de casos de mortalidade e arrojamentos por espécie por área.

METODOLOGIA

No presente relatório foram consideradas sete áreas de monitoria de tartarugas marinhas,

nomeadamente: (1) Ilha de Vamizi; (2) Parque Nacional das Quirimbas (QNP); (3) Parque Nacional

do Arquipélago de Bazaruto (PNAB); (4) Zona de Proteção Total do Cabo de São Sebastião (ZPTCSS);

(5) Reserva Nacional de Pomene (RNP); (6) Província de Inhambane (Massinga, Tofo – Paindane e

Závora – praia de Manhame); e (7) Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO).

Durante a época de 2017/18, a extensão total das praias patrulhadas nas sete áreas de monitoria

foi de aproximadamente 288 km (~ 10.4% da costa do país; Tabela 1 e Figura 3). O período de

monitoria variou entre as seções de monitoria. Na parte sul, a época de nidificação decorreu de 1

de Outubro de 2017 a 31 de Março de 2018 e na seção norte de 1 de Junho de 2017 a 31 de Maio

de 2018.

O esforço de monitoria e metodologia aplicada está resumida na Tabela 2 (ie, tipo de patrulha,

número de monitores comunitários e fiscais, bem como o período de monitoria). Reconhece-se que

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os dados compilados, baseados em dados extraídos de informações disponibilizadas pelos

diferentes programas de monitoria, podem conter lacunas e erros que estão para além do controlo

dos autores. Assim, aconselha-se a proceder com cautela aquando da realização de análises

adicionais tendo como base estes dados. As análises do número de rastos e ninhos por dia foram

feitas apenas para a RMPPO e Ilha de Vamizi porque o esforço de monitoria nestas áreas é

consistente e o conjunto de dados é mais robusto.

Tabela 2. Esforço de monitoria por área de monitoria durante a época 2017/18. (P – Patrulhas a pé; PB – Patrulhas de bicicleta e PC – Patrulhas de carro). PN= Parque Nacional; RN= Reserva Nacional; RMP= Reserva Marinha Parcial; ZPT = Zona de Protecção Total. * = Patrulhas ocasionais, ** =Número total de dias com patrulhas na praia não registados (os números apresentados foram inferidos matematicamente através da relação da extensão de praia patrulhada e o total de km registados).

Áreas de monitoria

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1. Ilha de Vamizi PF 4 12 ≈4380 01Jun17 – 31Mai18 365

2. PN das Quirimbas Ilha Matemo PB 4 ≈24 ≈2823 01Jun17 – 31Mai18 **118 Ilha Ibo PB 14 ≈17 ≈5940 01Jun17 – 31Mai18 **349 Ilha Quirimba PB 4 ≈16 ≈3042 01Jun17 – 31Mai18 **190 3. PN do Arquipélago do Bazaruto Ilha Bazaruto PF

37 ≈40 ≈1400

01Out17 – 31Out18 35

Ilha Benguérua PF ≈10 ≈100 10 4. ZPT Cabo São Sebastião PF 9 25 / 01Set17 – 31Mar18 120

5. RN do Pomene PF 13 10/30 ≈1146 01Out 17 – 30Mar17 52

6. Inhambane Casual Sites Praia de Massinga PF 1 * / 01Fev18 – 30 Jun 18 * Tofo – Paindane PF 1 * / 01Out17 – 30 Abr 18 * Závora (praia de Manhame) PF 1 10* / 01Out17– 30 Abr 18 * 7. RMP Ponta do Ouro P. Mucombo - Santa Maria PF 20 ≈20 ≈3640 01Out17 – 31Mar18 182 P. Chemucane - Mucombo PF 3 ≈11 ≈2002 01Out17 – 31Mar18 182 P. Milibangalala - Chemucane PF 3 ≈12 ≈2184 01Out17 – 31Mar18 182 P Dobela - Milibangalala PF 3 ≈7 ≈1274 01Out17 – 31Mar18 182 Monte Mutondo – P. Dobela PF 3 ≈10 ≈1820 01Out17 – 31Mar18 182 P. Techobanine – Mutondo PF 3 ≈10 ≈1820 01Out17 – 31Mar18 182 P. Maderjanine - Techobabine PF 3 ≈6 ≈1092 01Out17 – 31Mar18 182 P. Malongane - Maderjanine PF 3 ≈6 ≈1092 01Oct17 – 31Mar18 182 P. Malongane – Mutondo PC 1 32 1248 01Dez17 – 08Jan18 39 P. Ouro – Malongane PF 3 ≈8 ≈1456 01Out17 – 31Mar18 182

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Áreas de monitoria

1. Ilha de Vamizi

As patrulhas são realizadas diariamente e no início da manhã para registar novas actividades de

nidificação, marcar os ninhos novos e verificar os ninhos mais antigos (Tabela 2; Figura 1). A

exumação do ninho é realizada após o período máximo de incubação ter sido ultrapassado, para a

colecta de dados sobre o número de ovos (eclodidos e não eclodidos) e o número de crias (vivas e

mortas).

Figura 1. Ilha de Vamizi e locais de referência de praias da monitoria de tartarugas marinhas (Adaptado de

Google Earth).

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2. Parque Nacional das Quirimbas (PNQ)

O PNQ, proclamado em Junho de 2002 (Decreto 14/2002 de 6 de Junho), tem uma área total de 9

130 km2, dos quais 1 185 km2 englobam o meio marinho (Pereira, em impressão). No PNQ as

patrulhas de monitoria são conduzidas diariamente pelos 22 monitores comunitários do Sistema de

Monitoria Orientado para fins de Gestão (SMOG) em três ilhas: Matemo, Ibo e Quirimba (Tabela 2;

Figura 2). O módulo de monitoria de tartarugas marinhas está integrado no programa do SMOG

estabelecido pelo Fundo Mundia para a Natureza (WWF). A monitoria consiste em identificar rastos

e/ou ninhos, registar os avistamentos no mar e incidentes de mortalidade. Infelizmente, os

monitores não estão a implementar o protocolo de tartarugas marinhas para a colecta de dados,

aplicado por outros programas, e portanto negligenciam, por exemplo, o esforço de monitoria e os

dados biométricos.

Figura 2. Parque Nacional das Quirimbas (Ilhas Matemo, Ibo e Quirimba) com os principais locais onde

ocorre a monitoria das tartarugas marinhas (Adaptado de Google Earth).

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7

3. Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto (PNAB)

O PNAB foi criado em 1971, mas os limites actuais foram extendidos e aprovados em 2001 (Decreto

39/2001, de 21 de Novembro), para uma área de aproximadamente 1 430 km2, dos quais 1 295 km2

abrangem o meio marinho. Dois grupos de fiscais e monitores comunitários de tartarugas marinhas

realizam patrulhas diárias. Um grupo realiza a patrulha à noite e o outro de manhã. As fichas do

esforço de monitoria não foram disponibilizadas na íntegra, com apenas um total de 35 e 10 dias de

registos na Ilha de Bazaruto e na Ilha de Benguérua, respectivamente (Tabela 2; Figura 3). No

entanto, com o estabelecimento do SMOG, os fiscais têm coletado dados usando as fichas de dados

do SMOG, que são organizadas em três módulos, fichas diárias, livros de resumos mensais e anuais.

No final da época de nidificação, os dados das fichas de patrulhas diárias do SMOG são transferidos

para as fichas de dados de monitoria de tartarugas marinhas.

Figure 3. Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto e locais de referência da monitoria de tartarugas marinhas (Adaptado de Google Earth).

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8

4. Zona de protecção Total do Cabo de São Sebastião (ZPTCSS)

A sul do PNAB, a ZPTCSS foi estabelecida em 2003 (Decreto 18/2003, 29 de Abril) e abrange uma

área de aproximadamente 439.3 km2, dos quais 230 km2 compreendem o meio marinho. Os

monitores comunitários de tartarugas marinhas realizam patrulhas de monitoria matinais e

nocturnas para identificar e registar fêmeas a nidificar ou rastos (Tabela 2; Figura 4). Actualmente,

o programa está aplicar o protocolo de monitoria nacional.

Figura 4. Zona de Protecção Total do Cabo de São Sebastião e principais locais de referência da monitoria de tartarugas marinhas (Adaptado de Google Earth).

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9

5. Reserva Nacional de Pomene (RNP)

A RNP foi criada em 1972 através do Decreto 109/72 de 16 de Novembro e abrange uma área de 50

km2. Actualmente está em curso o processo de discussão e aprovação da nova proposta para

estender os limites da reserva de modo a incluir ecossistemas costeiros e marinhos. As patrulhas na

RNP começaram em 1 Outubro de 2017 e terminaram a 30 Março de 2018, com um total de 52

patrulhas cobrindo diferentes distâncias por patrulha e esforço por mês (Tabela 2; Figura 5). O

programa de monitoria de tartarugas da RNP está a aplicar o protocolo de monitoria nacional.

Figura 5. Reserva Nacional do Pomene e principais locais de referência da monitoria de tartarugas marinhas (Adaptado de Google Earth).

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10

6. Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO)

A RMPPO foi proclamada em Agosto de 2009 (Decreto 42/2009 de 21 de Agosto) e possui uma

extensão de 678 km2. Os monitores comunitários de tartarugas marinhas da RMPPO (44) foram

subdivididos em nove seções entre a Ponta do Ouro e Santa Maria (Tabela 2; Figura 5). No entanto,

para manter a consistência dentro da base de dados, os dados foram organizados de acordo com as

suas coordenadas geográficas nas seguintes secções: 1) Ponta do Ouro até Ponta Malongane; 2)

Ponta Malongane até Ponta Dobela; 3) Ponta Dobela até Ponta do Mucombo e 4) Ponta do

Mucombo até Santa Maria. O programa está actualmente a aplicar o protocolo de monitoria

nacional.

Figura 6. Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro e principais locais de referência para a monitoria de

tartarugas marinhas (Adaptado de Google Earth).

7. Locais com registos casuais

As patrulhas casuais de tartarugas marinhas ocorrem na Província de Inhambane, fora das áreas de

conservação marinhas, mais especificamente na praia de Massinga, Tofo - Paindane e Závora (praia

de Manhame). Estas patrulhas não são feitas diariamente, sendo feitas visitas de campo

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11

oportunistas para validar eventos de nidificação, rastos, captura ilegal, arrojamentos ou

emaranhamentos em artes de pesca.

Uma visita de campo à Província de Nampula, entre 16 a 19 de Outubro de 2017, incluiu entrevistas

com três pequenos comerciantes do mercado de Wamualo, um empregado do Hotel Napela

(Nacala-Velha), bem como cinco pescadores das praias de Nachiropa e Nantaca (Memba). Os dados

colectados em Nacala-Velha e Memba foram apenas referentes à mortalidade de tartarugas

marinhas.

RESULTADOS DE MONITORIA

Rastos de fêmeas

Durante a época de nidificação de 2017/18, foram registadas 2 133 rastos (Tabela 3). Os rastos

foram registados na Ilha de Vamizi (5.4%), PNAB (1.3%), CSSTPZ (0.9%), Tofo-Paindane (<0.5%),

Závora (praia de Manhame) (<0.5%) e RMPPO (92.4%). Nenhum rasto foi registado no PNQ. No

entanto, foram registados 125 avistamentos de tartarugas vivas nas águas do PNQ, principalmente

de tartarugas cabeçudas, verdes e espécies não-identificadas.

Na RMPPO foram reportadas 1 969 rastos, das quais 1 909 eram de tartarugas cabeçudas (97.0%) e

60 de tartarugas coriáceas (3.0%; Tabela 3). Os primeiros registos de rastos de tartarugas

cabeçudas ocorreram a 19 de Setembro de 2017 e os últimos a 2 de Março de 2018, com o pico da

actividade de nidificação (978 rastos, 51.2%) em Dezembro (Figuras 7 e 8). A actividade de

nidificação foi intensa em Janeiro (468 rastos, 24.5%), o que constitui um padrão diferente do

observado na época 2016/17, cuja actividade de nidificação foi maior em Novembro e Dezembro.

Os rastos de tartarugas coriáceas na RMPPO foram primeiramente observados entre 29 de Outubro

de 2017 e o último a 27 de Fevereiro. O primeiro pico de número de rastos foi observado em

Dezembro (31 rastos, 52.5%) e o segundo pico em Novembro (15 rastos, 25.4%; Figuras 7 e 9). Na

Ilha de Vamizi, foram registados 116 rastos de tartarugas verdes, com maior actividade entre Maio

e Julho (Figura 7).

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12

Tabela 3. Rastos de tartarugas marinhas por espécie e por área (Cc–Caretta caretta; Cm–Chelonia mydas;

Dc–Dermochelys coriacea; Ei–Eretmochelys imbricata e Lo–Lepidochelys olivacea, NI–Não identificado;

PNAB-Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto; ZPT – Zona de Protecção Total, RNP – Reserva Nacional

do Pomene; RMPPO-Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro), durante a época 2017/18 * = patrulhas

ocasionais

Área de monitoria Cc Cm Dc Ei Lo NI Total

1. Ilha de Vamizi 116 116

2. Parque Nacional das Quirimbas 0

3. PNAB 11 4 4 8 27 Ilha de Bazaruto 9 3 4 2 18 Ilha de Benguérua 2 1 6 9 4. ZPT Cabo de São Sebastião 14 5 19 5. RNP 0 6. Registos Casuais em Inhambane 1 1 2 Massinga 0 Tofo - Paindane* 1 1 2

Závora (praia de Manhame)* 0

0

7. RMPPO 1909 60 1969

Ponta Mucombo – Santa Maria 186 4 190

Ponta Dobela – Ponta Mucombo 362 8 370

Ponta Malongane - Ponta Dobela 1316 41 1357

Ponta do Ouro – Ponta Malongane 45 7 52

Total 1935 120 66 4 0 8 2133

Figura 7. Número total de rastos por espécie, agrupados em grupos de 10 dias durante a época de 2017/18 na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (Cc – Caretta caretta – eixo esquerdo e Dc – Dermochelys coriacea – eixo direito) e na Ilha Vamizi (Cm – Chelonia mydas –eixo direito).

0

2

4

6

8

10

12

14

16

0

50

100

150

200

250

300

350

400

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0]

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0]

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0]

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0]

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0]

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-20

]

[21

-31

]

Jun Jul Aug Sep Oct Nov Dec Jan Feb Mar Apr May

Nr

de

ras

tos

de

Dc

e C

m

Nr

de

ras

tos

de

Cc

Cc Dc Cm RMPPO Ilha de Vamizi

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13

Figura 8. Número médio de rastos por dia de tartarugas cabeçudas (Caretta caretta) em desova na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro agrupados em grupos de 10 dias, durante a época 2017/18. Barras = Desvio Padrão.

Figura 9. Número médio de rastos por dia de tartarugas coriáceas (Dermochelys coriacea) em desova na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro agrupados em grupos de 10 dias, durante a época 2017/18. Barras = Desvio Padrão.

0

10

20

30

40

50

60

[1-1

0]

[11

-20

]

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-31

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-20

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0]

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[21

-31

]

Sep Oct Nov Dec Jan Feb Mar

Ras

tos

po

r d

ia d

e C

c

Cc

Set Out Nov Dez Jan Fev Mar

0.0

0.5

1.0

1.5

2.0

2.5

3.0

3.5

4.0

[1-1

0]

[11

-20

]

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-31

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[1-1

0]

[11

-20

]

[21

-31

]

Oct Nov Dec Jan Feb Mar

Ras

tos

po

r d

ia d

e D

c

Dc

Out Nov Dez Jan Fev Mar

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Ninhos

Do total de rastos registados (Tabela 3), 976 rastos foram associados a ninhos confirmados (Tabela

4), 15 foram de emergências sem ninhos e 1 138 de emergências sem confirmação de ninhos

(Tabela 5). A maioria dos ninhos foi registada na RMPPO (87.7%), seguidos pela Ilha de Vamizi

(9.2%), PNAB (2.2%), ZPTCSS (0.9%) e em menor número provenientes do Tofo-Paindane (<0.5%),

Závora (praia de Manhame; <0.5%; Tabela 4).

Tabela 4. Número de ninhos colocados por espécie e por área (Cc–Caretta caretta, Cm–Chelonia mydas, Dc–Dermochelys coriacea, Ei–Eretmochelys imbricata, Lo–Lepidochelys olivacea; NI/ Não identificado; PNAB–Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto; RMPPO–Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro; ZPT–Zona de Protecção Total) durante a época de 2017/18. * = Patrulhas ocasionais.

Área de monitoria Cc Cm Dc Ei Lo NI Total

1. Ilha de Vamizi 89 89

2. Parque Nacional das Quirimbas 0

3. PNAB 11 4 4 3 22

Ilha de Bazaruto 9 3 4 2 17

Ilha de Benguérua 2 1 1 5

4. ZPT do Cabo de São Sebastião 9 5 14

5. PNR 0

6. Registos Casuais em Inhambane 1

Massinga 0

Tofo–Paindane* 1 1

Závora (praia de Manhame)* 0 0

7. RMPPO 803 0 47 0 0 0 850

P. Mucombo – Santa Maria 86 3 89

P. Dobela – P. Mucombo 94 5 99

P. Malongane – P. Dobela 616 36 652

P. do Ouro – P. Malongane 7 3 10

Total 824 93 52 4 0 3 976

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Tabela 5. Número de rastos sem ninhos (RSN), rastos sem confirmação de ninhos (RSCN) por espécie e por área, durante a época 2017/18. Cc–Caretta caretta, Cm–Chelonia mydas, Dc–Dermochelys coriacea, Ei–Eretmochelys imbricata, Lo–Lepidochelys olivacea e NI–não identificado; ZPT – Zona de Protecção Total; RMPPO – Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro. * = patrulhas ocasionais.

Área de monitoria

Cc Cm Dc Ei Lo NI Total

RSN RSCN RSN RSCN RSN RSCN RSN RSCN RSN RSCN RSN RSCN

1. Ilha de Vamizi

27 27

2. PNQ 3. PNAB Ilha de Benguérua

5 5

4. ZPT do Cabo de São Sebastião

0

5. RNP 0 6. Registos Casuais em Inhambane

Massinga 0 Tofo–Paindane* 1 1 2 7. RMPPO 13 1093 0 0 1 12 0 0 0 0 0 0 1119 P. do Ouro – P. Malongane, RMPPO

1 37 4 42

P. Malongane - P. Dobela

10 690 1 4 705

P. Dobela – P. Mucombo

268 3 271

P. Mucombo – Santa Maria

2 98 1 101

Total 13 1093 0 27 2 13 0 0 0 0 0 5 1153

Os ninhos de tartarugas cabeçudas na RMPPO foram avistados pela primeira vez a 11 de Outubro

de 2017, e o último ninho confirmado a 30 de Janeiro de 2018, com pico de actividade de desova

em Dezembro (419 ninhos confirmados, 52.2% do total de ninhos; Tabela 6). A actividade de

desova também foi elevada em Janeiro (228 ninhos confirmados, 28.4%). No PNAB, todos os 11

ninhos de tartaruga cabeçuda foram exumados, e dos estimados 1 789 ovos postos 942 não

eclodiram (Tabela 7). Na Ilha do Bazaruto foi registada uma cria de tartaruga cabeçuda anormal

com 6 escudos na carapaça, e que inicialmente pensou-se tratar de uma cria de tartaruga olivácea.

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Posteriormente foi obtida a confirmação pelo Dr. Colin Limpus da Universidade de Queensland,

Brisbane, Austrália.

Tabela 6. Tartaruga cabeçuda (Caretta caretta): número de ninhos postos confirmados por área e por mês, durante a época de 2017/18. ZPT/ Zona de Protecção Total; RMPPO – Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro. * = Patrulhas ocasionais.

Área de monitoria Set Out Nov Dez Jan Feb Mar 3. PNAB 4 3 4 Ilha de Bazaruto, PNAB 2 3 4 Ilha de Benguérua, PNAB 2

4. ZPT do Cabo de São Sebastião 1 4 2 1 1

6. Registos Casuais em Inhambane Tofo/Paindane* 1 7. RMPPO 9 147 419 228 Ponta Mucombo – Santa Maria 26 28 32 Ponta Dobela – Ponta Mucombo 1 17 9 37 Ponta Malongane - Ponta Dobela 8 101 349 158 Ponta do Ouro – Ponta Malongane 3 3 1 Total 0 10 155 424 233 1 0

Tabela 7. Tartaruga cabeçuda (Caretta caretta): número de crias e ovos por área, durante a época de 2017/18. ESE= Estimativa do sucesso de eclosão. Note que os ninhos completamente destruídos não foram incluídos na tabela. * = Ninhos com informação sobre o número de ovos postos e número de ovos não eclodidos, ** =Ninhos com informação sobre eclosões de crias vivas ou mortas.

Número Área

Ninhos* Ninhos Postos

Ninhos não/eclodidos

ESE (%) Ninhos** Crias vivas Crias mortas

3. PNAB Ilha de Bazaruto 9 1331 729 45.2% 9 586 45 Ilha de Benguérua

2 458 213 53.5% 2 212 1

Figura 10. Cria de tartaruga cabeçuda com número anormal de escudos (Fotografia: Tomás Manasse).

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As tartarugas verdes nidificam ao longo do ano no norte de Moçambique, com um pico de

nidificação de Março a Junho na Ilha de Vamizi, enquanto na parte sul do país a nidificação segue a

tendência sazonal de outras espécies (i.e, de Outubro a Fevereiro). Os ninhos de tartarugas verdes

não foram abundantes na região de Inhambane, com apenas quatro ninhos registados no PNAB em

Dezembro e Janeiro (Tabela 8). Todos os ninhos de tartaruga verde foram exumados na Ilha de

Vamizi (89 ninhos) e no PNAB (4 ninhos; Tabela 9). Os resultados mostram um sucesso maior de

eclosões na Ilha de Vamizi, o que justifica a necessidade de uma investigação mais aprofundada.

Tabela 8. Tartaruga verde (Chelonia mydas): número de ninhos postos por área e por mês, durante a época 2017/18.PNAB - Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto.

Área de monitoria Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai

1. Ilha de Vamizi 12 13 3 3 3 3 2 2 5 14 12 17 3. PNAB 3 3 Ilha de Bazaruto 2 1 Ilha de Benguérua 1 Total 12 13 3 3 3 3 5 3 5 14 12 17

Tabela 9. Tartarugas verde (Chelonia mydas): número de crias e ovos por área, durante a época de 2017/18. ESE= Estimativa do sucesso de eclosão. Note que os ninhos completamente destruídos não foram incluídos na tabela. * = Ninhos com informação sobre o número de ovos postos e número de ovos não eclodidos, ** = Ninhos com informação sobre eclosões de crias vivas ou mortas.

Número Área

Ninhos* Ninhos Postos

Ninhos não/eclodidos

ESE (%)

Ninhos** Crias vivas

Crias mortas

1. Ilha de Vamizi Island

89 6581 348 94.7 89 6233 NI 3. PNAB Ilha de Bazaruto 3 574 274 52.3 3 294 45

Ilha de Benguérua 1 223 108 51.6 1 106 2

Os ninhos de tartarugas coriáceas na RMPPO foram observados pela primeira vez a 6 de Novembro

de 2017 e o último ninho a 27 de Fevereiro. A maior actividade foi observada em Dezembro (26

ninhos confirmados, 56.5%) e Novembro (13 ninhos confirmados, 28.3%; Tabela 10).

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Tabela 10. Tartaruga coriácea (Dermochelys coriacea): número de ninhos postos por área e por mês, durante a época 2017/18. RMPPO – Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, ZPT – Zona de Protecção Total. * = Patrulhas ocasionais.

Área de Monitoria Out Nov Dez Jan Fev Mar 4. ZPT Cabo de São Sebastião 3 2 7. RMPPO 0 13 26 8 0 0 Ponta Mucombo – Santa Maria 2 1 Ponta Dobela – Ponta Mucombo 3 2 Ponta Malongane / Ponta Dobela 7 26 3 Ponta do Ouro – Ponta Malongane 1 2 Total 0 16 28 8 0 0

Os ninhos de tartaruga bico-de-falcão foram escassos (4 ninhos) e só foram reportados na ilha do

Bazaruto, PNAB (Tabela 11), com indicação de um bom sucesso de eclosão (Tabela 12).

Tabela 11. Tartaruga bico-de-falcão (Eretmochelys imbricata): número de ninhos postos por área e por mês, durante a época 2017/18. PNAB - Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto.

Área de Monitoria Set Out Nov Dez Jan Fev Mar 3. PNAB Ilha de Bazaruto, PNAB 2 1 1 Total 2 1 1

Tabela 12. Tartaruga bico-de-falcão (Eretmochelys imbricata): número de crias e ovos por área, durante a época de 2017/18. ESE= Estimativa do sucesso de eclosão. Note que os ninhos completamente destruídos não foram incluídos na tabela. *Ninhos com informação sobre o número de ovos postos e número de ovos não eclodidos; **Ninhos com informação sobre eclosões de crias vivas ou mortas.

Número Área

Ninhos* Ninhos Postos

Ninhos não/eclodidos

ESE (%) Ninhos** Crias vivas Crias mortas

3. PNAB

Ilha de Bazaruto 4 467 99 78.2% 4 352 16

A Tabela 13 mostra o número de ninhos destruídos por causas naturais e antropogénicas nas

RMPPO e Ilha de Vamizi. Os ninhos invadidos por porcos-do-mato (e provavelmente outros animais,

como cães) na RMPPO parecem estar a aumentar e deve ser considerada uma prioridade de

gestão, dado que o número de ninhos destruídos representa 16.4% dos ninhos confirmados

reportados nesta reserva.

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Tabela 13. Número de ninhos destruídos por causas naturais e antropogénicas por área, durante a época 2017/18. Cc – Caretta caretta, Cm – Chelonia mydas, Dc – Dermochelys coriacea, Ei – Eretmochelys imbricata, Lo – Lepidochleys olivacea; NI - não identificado; RMPPO - Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro.

Área de monitoria

Espécies Causas Naturais Causas Antropogénicas

Total

1. Ilha de Vamizi Cm 1 ninho

inundado

1

7. RMPPO

Ponta Mamoli- Ponta Dobela Ni Ninhos invadidos 139 (16.4% dos ninhos confirmados)

Mortalidades, arrojamentos e emaranhamentos

No total foram reportados 86 casos de mortalidade de tartarugas marinhas. A maioria dos casos

(81.4%) se deve a causas antropogénicas, como a captura de fêmeas a nidificar ou associadas à

pesca, 15.1% de causas não identificadas e 3.5% potencialmente por causas naturais (Tabela 14). O

único caso de emaranhamento registado foi de uma tartaruga verde numa rede de pesca de

emalhar de fundo perto do recife de coral da Barreira Vermelha, na Ilha da Inhaca, libertada

posteriormente com sucesso (Tabela 15).

Tabela 14. Registos de ameaças às tartarugas marinhas por causas naturais (CN), causas antropogénicas (CA) ou causas não identificadas (NI), que levaram à mortalidade de tartarugas marinhas, por área e espécie (Cc - Caretta caretta, Cm - Chelonia mydas, Dc - Dermochelys coriacea, Ei - Eretmochelys imbricata, Lo - Lepidochleys olivacea e NI - não identificadas, CCC - comprimento curvo da carapaça).

Área de monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

Península de Afungi até ao Farol, Distrito de Palma, Província de Cabo Delgado

30 eventos separados de mortalidade (ossos da carapaça, crânios e plastrões) foram reportados durante um censo realizado ao longo de 40 km de costa.

Testemunhado por Jessica L. Williams 30

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20

Área de monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

Pemba, Província de Cabo Delgado

Ossos da carapaça encontrados na praia do Wimbi (30/08/2018)

Fotografia: Jessica L. Williams

1

Ilha do Ibo, PNQ, Província de Cabo Delgado

Cc encontrada morta com ferimentos na Duna Careca (Março, 2018)

Testemunhado por Lara Muaves & Momade (Agente SMOG) 2

Carapaças e tecido visceral de Cm encontrado na Duna Careca (Janeiro, 2018) (Julho, 2018)

Testemunhado por Lara Muaves & Momade (Agente SMOG) 2

Carapaças e tecido visceral (Junho, Julho, Agosto e Setembro, 2017 e Janeiro, 2018)

Testemunhado por Lara Muaves & Momade (Agente SMOG) 4 3

Ilha Matemo, PNQ, Província de Cabo Delgado

Cc encontradas mortas em frente ao Lodge Matemo (Dezembro, 2017 e Janeiro, 2018)

Testemunhado por Lara Muaves & Momade (Agente SMOG) 2

Cm encontrada morta em frente ao Lodge Matemo

Testemunhado por Lara Muaves & Momade (Agente SMOG) 2

Carapaças e tecido visceral Duas tartarugas mortas emaranhadas numa rede de pesca

Testemunhado por Lara Muaves & Momade (Agente SMOG) 5 2

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21

Área de monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

Ilha Quirimba, PNQ, Província de Cabo Delgado

Cm encontradas mortas (23 Outubro e Agosto, 2017)

Fotografias: Lara Muaves & Momade (Agente

SMOG)

2

Carapaça (Janeiro, 2018)

Testemunhado por Lara Muaves & Momade (Agente SMOG) 1

Nacala/Velha, Província de Nampula

Pessoas no mercado Wamualo na pose de carapaças Cm (CCC = 39 cm).

Carne de Cm à venda ao preço de 100.00 a 150.00 Meticais por quilo (USD 1.67–2.5; Fernandes et al., 2018).

Testemunhado por Carlos Litulo 3

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22

Área de monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

Carapaça Cm no Bairro 25 de Setembro (CCC = 41 cm) (19 Outubro, 2017)

Fotografia: cortesia de Carlos Litulo

1

Memba, Província de Nampula

Carapaça Cm encontrada na floresta de mangal da praia de Nachiropa (CCC = 44 cm) (19 Outubro, 2017). De acordo com um representante do Conselho Comunitário de Pesca de Memba, os pescadores de artesanal com arpão capturam tartarugas, e as pessoas também abatem fêmeas em nidificação e apanham ovos à noite entre as praias de Mukombo e Nantaca

Fotografia: cortesia de Carlos Litulo

1

São Sebastião, Província de Inhambane

Arrojamento de tartarugas mortas. Os animais não apresentavam sinais de ferimentos e a causa mais provável de morte foi associada a alguma forma de

Testemunhado pelos fiscais da Zona Total de

Protecção do Cabo de São Sebastião 4

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23

Área de monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

pesca fora das águas da Zona de Protecção Total do Cabo de São Sebastião.

Pomene, Província de Inhambane

Ossos encontrados na praia de Pomene (S 22o54.455’ e E 35o34.359’). (27 Outubro, 2017)

Fotografia: Marcos A. M. Pereira

1

Arrojamento de uma Cm com uma corda presa nos buracos orbitais (Junho, 2018)

Fotografia: cortesia de Mareika B. Krugel

1

Praia Backdoor, Tofinho, Província de Inhambane

Plastrão recém/queimado de uma tartaruga adulta (17 Abril, 2017)

Fotografia: Jessica L. Williams

1

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Área de monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

Tofo, Província de Inhambane

Ei juvenil encontrada morta na Baía do Tofo (8 Outubro 2017).

Fotografia: Jessica L. Williams

1

Linga-Linga, Província de Inhambane

Fêmea Dc chacinada pela comunidade local antes de esta nidificar em Guinjata. Não é evidente se a captura foi feita nas águas costeiras ou aquando da emergência para a desova (29 Outubro 2017).

Fotografia: courtesia de Love the Oceans

1

RMPPO, Província de Maputo

Cm encontrada morta entre a Ponta Mucombo e Santa Maria CCC= 98 cm (3 Julho, 2017)

Testemunhado por Vicente Matsimbe 1

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25

Área de monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

Cm encontrada morta entre a Ponta Dobela to Ponta Mucombo CCC=82 cm (28 Julho, 2017)

Fotografia: cortesia de Filimone Javane

1

Cc encontrada morta entre a Ponta Mucombo e Santa Maria CCL= 104 cm (29/07/2017)

Fotgrafia: cortesia de Vicente Matsimbe

1

Carapaças e ossos encontrados no acampamento de pesca artesanal próximo da Estação de Biologia Marítima: / 11 Cm (CCC médio = 35.5 cm ± 8.4) /2 Cc (médio CCL = 77.5 cm ± 4.9). O principal culpado foi identificado e multado em 72,000.00 Meticais (~1,200 USD) de acordo com a Lei de Conservação (Lei 5/2017 de 11 de

13

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26

Área de monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

Maio; Miguel Gonçalves Administrador da RMPPO, comm. Pess.).

Fotografias: cortesia da RMPPO

Total 3 70 13

Tabele 15. Registo de emaranhamentos e arrojamentos de tartarugas marinhas por causas naturais (CN), antropogénicas (CA) ou causas não identificadas (NI) por área e espécies (Cc – Caretta caretta, Cm – Chelonia mydas, Dc – Dermochelys coriacea, Ei – Eretmochelys imbricata e Lo – Lepidochleys olivacea; CCC Comprimento curvo da carapaça).

Área de Monitoria

Descrição Evidência Fotográfica CN CA NI

RMPPO, Província de Maputo

Os fiscais da RMPPO encontraram uma tartaruga verde juvenil emaranhada numa rede de emalhar de fundo perto do Santuário da Barreira Vermelha. A Tartaruga marinha foi libertada viva com sucesso vivo (15 Novembro, 2017)

Fotografias: cortesia da RMPPO

1

Total 1

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27

Marcação e recaptura

No total foram aplicados 168 marcadores da série MZ2187 a MZ2362 na RMPPO,27 marcadores da

série MZ0295 a MZ898 na Ilha de Vamizi e um marcador no PNAB (MZ2009; Tabela 16). Os

números de tartarugas recapturadas por área de monitoria que foram marcadas pela primeira vez

em épocas anteriores ou em outras áreas são apresentados na Tabela 17.

Na RMPPO a aplicação de novos marcadores foi maioritariamente feita em tartarugas cabeçudas

(95.8%) e em menor número em tartarugas coriáceas (4.2%). Os rastos de tartarugas cabeçudas

marcadas (339 rastos) representam apenas 17.7% do total de rastos registado para esta espécie.

Enquanto os rastos de tartarugas coriáceas marcadas (18 rastos) representam 30.0% do total de

rastos desta espécie.

Na Ilha de Vamizi foram identificadas um total de 35 tartarugas verdes, incluindo sete recapturas

de tartarugas marcadas em épocas anteriores (2008/09, 2009/10).

Tabela 16. Número de tartarugas marcadas pela primeira vez durante a época 2017/18 na Ilha de Vamizi, Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto e Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO), por espécie. Note que a aplicação de novos marcadores para substituir marcadores antigos não foi contabilizada.

Área de Monitoria C. caretta D. coriacea C. mydas 1. Ilha de Vamizi 27

3. PNAB 1

7. RMPPO 161 7 P. Mucombo - Santa Maria 9 0 P. Dobela – P. Mucombo 19 2 P. Malongane – P. Dobela 128 4 P. Ouro – P. Malongane 5 1 Total 161 7 28

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Tabela 17. Número de tartarugas marinhas recapturadas na época 2017/2018 na Ilha de Vamizi e na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro (RMPPO), por espécie. Note esta tabela inclui apenas os marcadores que foram aplicados em outras épocas de nidificação ou em outras áreas fora da área de monitora* O total de indivíduos recapturados na RMPPO não é a soma dos números reportados por cada secção, pois o indivíduo (mesmo número de identificação) pode ser visto em diferentes secções de praia. O total RMPPO refere-se ao número de indivíduos recapturados com marcadores que foram aplicados em épocas anteriores ou em outras áreas, por exemplo, na África do Sul.

Área de Monitoria C. caretta D. coriacea C. mydas

1. Ilha de Vamizi 7

7. RMPPO* 87* 6* P. Mucombo – Santa Maria 1 0 P. Dobela – P. Mucombo 23 2 P. Malongane – P. Dobela 72 6 P. do Ouro – P. Malongane 6 0

ACTIVIDADES DE INVESTIGAÇÃO

Publicações recentes relevantes para Moçambique (publicadas entre Agosto de

2017 a Junho de 2018)

Fernandes, R. S., C. Litulo, M. A. M. Pereira & C. M. M. Louro (2018). Artisanal fisheries

still represent a significant threat to marine turtles in Mozambique. African Sea Turtle

Newsletter, 9: 11/15.

Harris, L. R., R. Nel, H. Oosthuizen, M. Meyer, D. Kotze, D. Anders, S. McCue & S.

Bachoo (2017). Managing conflicts between economic activities e threatened migratory

marine species toward creating a multi objective blue economy. Conservation Biology,

32 (2): 411/423.

Louro, C. M. M., M. A. M Pereira, R. S. Fernandes, C. Litulo, G. Aparício & M. Carrilho

(2018). Investigação e monitoria de espécies e ecossistemas nas áreas de conservação

marinhas em Moçambique: Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto 2017, 31 pp.

Maputo, Centro Terra Viva.

Louro, C. M. M., M. A. M Pereira, C. Litulo, R. S. Fernandes & T. I. F. C. Pereira (2018).

Investigação e monitoria de espécies e ecossistemas nas áreas de conservação

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29

marinhas em Moçambique: Parque Nacional das Quirimbas 2017, 38 pp. Maputo,

Centro Terra Viva.

Louro, C. M. M., M. A. M. Pereira, C. Litulo, M.H. Schleyer, R. S. Fernandes & T. I. F. C.

Pereira (2018). Investigação e monitoria de espécies e ecossistemas nas áreas de

conservação marinhas em Moçambique: Reserva Nacional do Pomene, 29 pp. Maputo,

Centro Terra Viva.

Apresentações em conferências

Williams, J. L., S. J. Pierce, M. M. B. P. Fuentes & M. Hamann (2018). Bycatch or illegal

take? Understanding artisanal fisheries e their impacts on sea turtles in Mozambique.

Oral Presentation at 38th International sea turtle symposium, Kobe, Japan 18th/23rd

February.

Estudos em curso

Pilcher N.J. & J. Williams (in prep.). Assessment of the status, scope e trends of the legal e

illegal international trade in marine turtles, its conservation impacts, management options e

mitigation priorities in Mozambique. Report to the CITES Secretariat Project S/527.

SSFA/2018/DKA.

Prioridades para futuras investigações

Análise das emergências de fêmeas na RMPPO (entre a Ponta do Ouro e Santa Maria) de

1994 até à actual época de nidificação. Esta análise incluirá extrapolação de rastos com base

em dados históricos da praia de referência (Malongane) para o período entre 1994/95 e

2007/08. Essa prioridade foi identificada no relatório de 2016/17, mas sem nenhum

progresso devido à necessidade de reexaminar todos os dados brutos.

A identificação e quantificação da extensão dos impactos antropogénicos (e.g., mortalidade

relacionada com as pescas, prospecção de petróleo e gás e da construção e operação de um

porto de águas profundas na RMPPO) às tartarugas marinhas e seus habitats em

Moçambique e na região. No que diz respeito à mortalidade de tartarugas marinhas

relacionada com a pesca, ao longo da costa diferentes intervenientes (por exemplo,

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operadores de turismo e sociedade civil) estão a reportar casos de mortalidade de

tartarugas marinhas mas sem seguir um protocolo específico para quantificar as capturas

acidentais e intencionais da pesca artesanal. Dados de capturas acidentais das pescarias

semi/industriais e industriais também não estão a ser reportados regularmente. Esforços

devem ser feitos para colaborar com as instituições pesqueiras nestes assuntos, incluindo a

implementação de dispositivos de exclusão de tartarugas (DETs).

Melhorar as estimativas dos tamanhos populacionais de tartarugas marinhas.

CRIAÇÃO DE CAPACIDADES DE FISCAIS E MONITORES COMUNITÁRIOS E

OUTRAS ACTIVIDADES

O Centro Terra Viva, dentro dos objetivos do Memorando de Entendimento com a ANAC, Mozbio e

FNDS (assinado em Julho de 2017), está a desenvolver actividades relacionadas com a disseminação

de resultados em áreas de conservação marinha, nomeadamente PNQ, PNAB, RNP e RMPPO.

As actividades incluem debates com as partes interessadas (por exemplo, monitores, fiscais,

administradores e operadores de turismo) nas áreas de conservação, nomeadamente na Ilha do

Ibo e em Biaque / PNQ (4 e 9 de Outubro de 2017, respectivamente), Pomene / RNP (30 de

Outubro de 2017), Ilha de Bazaruto / PNAB (16 de novembro de 2017) e na Ponta do Ouro / RMPPO

(31 de Mai de 2018). Um seminário intitulado “Resultados de investigação, monitoria e aspectos

operacionais nas áreas de conservação em Moçambique” foi realizado na cidade de Maputo (4 a 5

de Setembro de 2018). Um dos principais objetivos do seminário foi fortalecer as sinergias e trocar

experiências, entre áreas de conservação marinha e áreas de gestão comunitária, com base em

protocolos e resultados de investigação e monitora. Um dos tópicos abordados foi sobre tartarugas

marinhas, em especifico os protocolos de monitoria, áreas que requerem monitoria (por exemplo,

Primeiras e Segundas), partilha de dados e bases de dados, incluindo distribuição de marcadores,

sequência do número de marcadores e dados de marcação. Com relação à sequência de

marcadores esta foi discutida porque atualmente existe uma sequência de número de marcadores

(MZ 001 / MZ 3150) para todo o país. O problema surge do facto da RMPPO, uma das áreas de

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31

monitora com o principal programa de marcação no país, requerer uma sequência única e contínua.

Todavia, a solução ainda está em debate.

EDUCAÇÃO E CONSCIENCIALIZAÇÃO AMBIENTAL

Parque Nacional das Quirimbas

No PNQ foram realizadas sessões de educação ambiental para a conservação de tartarugas

marinhas nas ilhas Ibo, Matemo, Quirimba, Mefunvo e na aldeia de Quissanga com as

comunidades locais, em especial pescadores. Cerca de 15 sessões de consciencialização

foram conduzidas conjuntamente pelo Procurador Geral (incluindo promotores dos distritos

de Ibo, Quissanga e Pemba), ONGs locais (OIKOS, Fundação Ibo e WWF) e autoridades locais

do governo e do Parque.

Os agentes do SMOG também desempenharam um papel importante em actividades de

educação e consciencialização ambiental em torno das ilhas Ibo, Matemo e Quirimba. Para

além de registar os avistamentos de tartarugas marinhas vivas e mortas e de denunciar as

atividades ilegais às autoridades do Parque, os agentes do SMOG também realizam

campanhas “porta a porta”, sensibilizando as comunidades pesqueiras sobre a importância

ecológica das tartarugas marinhas e sobre as Leis moçambicanas contra a matança

intencional de tartarugas e outras atividades ilegais. Anunciado pelo procurador do Distrito

de Ibo, Fátima Karina, o número de processos ilegais reduziu de dez (10) para dois (2)

durante o período de Janeiro de 2017 a Junho de 2018, dos dez relatórios, sete (7) foram

relacionados com a captura intencional de tartarugas marinhas nas ilhas de Matemo e Ibo.

Ademais, algumas actividades específicas sobre “gestão de resíduos” foram implementadas

recentemente pela OIKOS, e foi discutida a integração da limpeza do “cemitério de

tartarugas marinhas” e a coleta de todos os ossos e restos de tartarugas marinhas. Durante

o seminário sobre divulgação e discussão dos resultados do SMOG, realizado em Junho de

2018 com diferentes partes interessadas, o Secretário Permanente e o promotor do Distrito

de Quissanga anunciaram que o “cemitério de tartarugas marinhas” da aldeia de Quissanga

já havia sido limpo, e que todos os ossos foram retirados, como resultado de intensas

campanhas de consciencialização levantadas ao longo do ano e lideradas pelo governo local.

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32

Província de Inhambane

CTV fez uma apresentação sobre tartarugas marinhas no evento do Biofund “A

Biodiversidade de Moçambique – a cultura da conservação e o desenvolvimento

sustentável: harmonizando o desenvolvimento económico e a conservação da

biodiversidade” para aproximadamente 50 crianças de diferentes escolas em Agosto de

2018.

DESAFIOS & RECOMENDAÇÕES

No geral, e com base nas recomendações passadas e presentes, as seguintes recomendações

devem ser consideradas (consulte a Tabela 18 para fazer corresponder as recomendações à

respectiva área):

1. Melhorar o esforço de monitoria. Se os programas de monitoria não têm a capacidade de

patrulhar as praias diariamente durante a época de nidificação, deve ser aplicado maior esforço de

monitoria durante os picos de actividades de nidificação.

2. Melhorar o registo do esforço de monitoria. Mais concretamente, deve-se registar a distância e a

duração de todas as patrulhas feitas. As fichas de controlo do esforço por área de monitoria (digital

ou impressa) devem ser partilhadas com o CTV para evitar o erro de se considerar falsos dias sem

observação.

3. Adoptar o actual protocolo de monitoria para colectar todos os dados relacionados com as

emergências de fêmeas (por exemplo, rastos, ninhos e biometria);

4. Adoptar o actual protocolo de monitoria para colectar todos os dados relacionados com os

ninhos (por exemplo, número de ovos, e crias vivas e mortas);

5. Rever o protocolo de monitoria actual para quantificar o número de ovos eclodidos. Sempre que

possível, o número de ovos postos e o número de ovos não-eclodidos devem ser contados. Deve

ficar claro quando é feita apenas a contagem de “cascas quebradas” de ovos, dado o elevado erro

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associado que pode levar a uma inferência irreal do número potencial de crias que chegam a mar

(em vez de ser feita a subtração de ovos postos pelo número de ovos não-eclodidos). Contagem

adicional de "ovos falsos" deve ser feita;

6. Realizar um estudo específico sobre densidade de ninhos e principais ameaças durante a fase de

incubação (relacionado ao número de ovos não-eclodidos) e o sucesso de emergência das crias

para apoiar a decisão sobre a translocação de ninhos no futuro ou de outras acções relacionados

com a invasão de ninhos ou ameaças antropogénicas.

7. Estabelecer um MdE para colaboração e protocolo de monitoria com o sector das pescas para

coletar dados relacionados à mortalidade de tartarugas marinhas.

8. Dar atenção à categorização das variáveis relacionadas com os marcadores. Um marcador novo

só deve ser considerado “novo” quando aplicado numa tartaruga marinha sem marcadores. Uma

segunda emergência da mencionada tartaruga marcada, ou de tartarugas marcadas durante as

épocas anteriores, devem ser consideradas como recapturas.

9. Foram encontrados desafios devido à presença de réplicas nos dados coletados durante a época

de nidificação de 2017/18 na RMPPO: tendo sido encontrado um total de 372 réplicas. Isto pode ser

um resultado da inserção duplicada de dados devido à fonte separada de dados em tabelas, uma

para rastos e a outra para tartarugas marcadas e avistadas, do sistema actual usado nos relatórios

de monitora da secção de praia entre a Ponta Malongane e a Ponta Dobela, mas também devido ao

erro humano durante a inserção de dados.

10. Continuar a promover o treino e supervisão dos monitores no que diz respeito à metodologia

de coleta de dados, em particular o registo do esforço de monitoria, identificação de espécies e

medição de carapaças. Esta é uma grande prioridade para os monitores do PNQ, tal como

verificado através do cruzamento de fotos e dados brutos, que permitiram a detecção de várias

falhas de identificação de espécies, principalmente entre tartarugas cabeçudas e verdes, falta de

informação sobre tamanho da carapaça em todas as folhas de dados e, em alguns casos, sem

localização geográfica precisa.

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11. Melhorar a base de dados de marcadores, incluindo a padronização da nomenclatura dos

marcadores e adição de referências sempre que possível para “marcadores perdidos”, “marcadores

futuros” (entradas de dados relacionadas com tartarugas remarcadas) e “marcadores estrangeiros”.

Cada indivíduo deve possuir um código de identificação único.

12. Melhorar e actualizar continuamente a base de dados de tartarugas marinhas. Os dados brutos

da RMPPO, RNP, PNAB e PNQ são atualmente acolhidos pelo CTV. Enquanto os programas da Ilha

de Vamizi e CSSTPZ mantêm suas próprias bases de dados. Destes últimos programas apenas são

enviados os dados compilados.

13. Envidar esforços para a elaboração de um MdE com a Estação de Biologia da Ilha da Inhaca e

formalização de colaboração com os demais programas em curso para garantir a padronização dos

protocolos de monitoria, treinamento e acomodação de toda a informação referente a monitoria,

marcação e conservação de tartarugas marinhas em Moçambique.

Tabela 18. Recomendações de prioridades por área de monitoria. PNQ - Parque Nacional das Quirimbas; PNAB - Parque Nacional do Arquipélago do Bazaruto; ZPTCSS - Zona de Proteção Total do Cabo de São Sebastião; RNP - Reserva Nacional do Pomene; RMPPO - Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro.

Área de Monitoria Recomendações

1 2 3 4 5 6 7 8 10 11

Ilha de Vamizi X X X X X PNQ X X X X X X

PNAB X X X X X X X X X

ZPTCSS X X X X X X RNP X X X Tofo–Paindane* X X X Závora (praia de Manhame)* X X X

POPMR X X X X X X

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REFERÊNCIAS

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Reproductive biology e genetic diversity of the green turtle (Chelonia mydas) in Vamizi

island, Mozambique. SpringerPlus, 3: 540

Fernandes, R. S. (2015). Estrutura da população nidificante de tartarugas cabeçudas (Caretta

caretta) na Reserva Marinha Parcial da Ponta do Ouro, sul de Moçambique. Tese de

Mestrado, 156 pp. Universidade Eduardo Mondlane.

Fernandes, R. S., J. Williams, C. M. M. Louro & M. A. M. Pereira (2014). Monitoring, tagging e

conservation of marine turtles in Mozambique: annual report 2013/14. 6 pp. Maputo, CTV.

Fernandes, R. S., J. Williams, J. Trindade & M. A. M. Pereira (2015a). Marine turtles in Mozambique:

results from the 2014/15 nesting season. African Sea Turtle Newsletter, 4: 35/37.

Fernandes, R. S., J. Williams, J. Trindade & M. A. M. Pereira (2015b). Monitoring, tagging e

conservation of marine turtles in Mozambique: annual report 2014/15. 21 pp. Maputo, CTV

Fernandes, R. S., Williams J. L. & J. Trindade (2016). Monitoring, tagging e conservation of marine

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Fernandes, R. S., J. L. Williams, S. G. Valladolid, Muaves L., C. M. M. Louro & M. A. M. Pereira

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Julien, V. C. d. M., A. T. Guissamulo, A. F. da Silva e A. A. M. Júnior (2017). Temporal Nesting

Variation of Sea Turtles Species at the Eastern Coast of Inhaca Island. Advances in Ecological

e Environmental Research: 43/55.

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Adress: Praia do Tofo, Inhambane, Mozambique. Skype: mozturtles Website: www.mozturtles.com Email: [email protected] &Beyond Vamizi Island – Conservation e Community

Cellphone:+258 82 1310379 Website: http://www.andbeyond.com/vamizi-island/conservation-community.htm Email:[email protected] WWF - Fundo Mundial para a Natureza Adress: Av. Kenneth Kaunda, nº1174 P.O.Box: 4560 Maputo-Mozambique Cellphone: +258 82 3122250 Website: http://www.wwf.org.mz Email: [email protected]

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