Mobilidade Social.trabalho.andré Da Costa

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Geografia Sociologia da Educação Trabalho: Mobilidade Social Aluno: André Paulo Ferreira da Costa Mobilidade Social no Brasil: Uma breve análise de caso Inicialmente, para tratarmos do assunto mobilidade social no Brasil, cabem tecermos algumas breves reflexões históricas, haja vista que uma discussão apreciável do tema deve balizar-se, dentre vários aspectos, em muitos fatos históricos. O Brasil, um país de história documentada tão breve, faz parte do grupo de países onde o processo da industrialização se sucedeu tardiamente. Após aporte português nas terras tupiniquins de “Vera-Cruz”, atual território brasileiro, seguiram-se três séculos de explorações dos recursos naturais brasileiros por parte da metrópole portuguesa e seus coligados políticos. De forma que o Brasil, assim como as terras da América Espanhola e as terras Norte-Americanas, sustentou a ascensão e a consolidação da primeira fase do capitalismo, conhecida como a fase mercantil. Durante esses referidos três primeiros séculos de colonização, a estratificação da sociedade brasileira se dava de forma simples ao compararmos com a estratificação contemporânea, porém transcendia a bipolaridade “senhor-escravo” transmitida pelo senso comum. Trabalhos livres, escravos e os nativos ocupavam a base da pirâmide social e, excetuando-se os nativos, funcionavam como sustentáculo de toda produção agrícola

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Universidade do Estado do Rio de Janeiro Instituto de Geografia Sociologia da Educao Trabalho: Mobilidade Social Aluno: Andr Paulo Ferreira da Costa

Mobilidade Social no Brasil: Uma breve anlise de caso

Inicialmente, para tratarmos do assunto mobilidade social no Brasil, cabem tecermos algumas breves reflexes histricas, haja vista que uma discusso aprecivel do tema deve balizar-se, dentre vrios aspectos, em muitos fatos histricos. O Brasil, um pas de histria documentada to breve, faz parte do grupo de pases onde o processo da industrializao se sucedeu tardiamente. Aps aporte portugus nas terras tupiniquins de Vera-Cruz, atual territrio brasileiro, seguiram-se trs sculos de exploraes dos recursos naturais brasileiros por parte da metrpole portuguesa e seus coligados polticos. De forma que o Brasil, assim como as terras da Amrica Espanhola e as terras Norte-Americanas, sustentou a ascenso e a consolidao da primeira fase do capitalismo, conhecida como a fase mercantil. Durante esses referidos trs primeiros sculos de colonizao, a estratificao da sociedade brasileira se dava de forma simples ao compararmos com a estratificao contempornea, porm transcendia a bipolaridade senhor-escravo transmitida pelo senso comum. Trabalhos livres, escravos e os nativos ocupavam a base da pirmide social e, excetuando-se os nativos, funcionavam como sustentculo de toda produo agrcola e mineral brasileira. Por outro lado, no seguimento superior da sociedade, dispondo de maior prestgio por conta de suas origens, riquezas ou funes encontravam-se os proprietrios rurais, os grandes mercadores do litoral, mineradores ricos e funcionrios da alta burocracia ligados a Coroa portuguesa. Nesse panorama, falar de qualquer tipo de ascenso social parece, em um primeiro momento, impossvel. Porm, ainda com tamanhas disparidades sociais, a mobilidade social no Brasil era muito mais fluda do que nas metrpoles Europeias, de forma o Brasil era um centro atrativo para muitos Europeus que buscavam investir no novo mundo (VAZ, 2006).Somente no sculo XIX, com a fuga da Famlia Real portuguesa para o Brasil em 1808, ocorreram significativas e aceleradas modificaes na estrutura social brasileira. O Brasil havia se tornado a residncia da corte portuguesa e haveria de se adaptar a essa nova composio. A cidade do Rio de Janeiro, por exemplo, a qual figurava como capital da colnia desde 1763, foi alvo de extensivas obras de infraestrutura que vislumbravam melhorar a mobilidade urbana, a expanso da cidade para as zonas perifricas, facilitar a chegada de produtos a regio central da cidade e garantir um ambiente propcio para a instalao e desenvolvimento de atividades industriais (ABREU, 2006). Durante todo o restante do sculo, de colnia a Reino Unido, depois, a Imprio e, por fim, a Repblica, a incipiente atividade industrial brasileira se desenvolveu, levando o espao a assumir novas funes e repercutindo na estratificao social. Alm disso, outro fato que merece meno a abolio da legitimidade do sistema escravocrata em 1888, o qual assomado a todos os eventos histricos sumariamente tratados at aqui contribui de forma proeminente para as mudanas nos estratos scias brasileiros.Partindo dessas conjecturas, ser apresentado daqui em diante alguns dados de uma famlia brasileira, sobre os quais sero feitas algumas consideraes sob a tica da mobilidade social. Sero apresentados sintetizados na forma de diagrama: Os nomes, a escolaridade, anos de nascimento e falecimento (quando for o caso), idade de entrada no mercado de trabalho, primeira ocupao profissional e ltima/atual ocupao profissional de trs geraes dessa famlia. Em concomitncia ser feita discusso a cerca da movimentao dos indivduos dessa famlia pelos estratos da sociedade brasileira, levando em considerao alguns eventos histricos que influenciaram contundentemente a fluidez social no Brasil. Diagrama 1: rvore genealgica da famlia analisada.

Aldir Pereira da Costa (1935 1993) Neide Santos (1939) Joo Baptista Ferreira (1925 -2005) Rosa Maria (30)Aos 12 anos, Auxiliar de Servios Servios domsticos 11 anos, Entregador de quentinhas BabChefe do setor de marcao de contas Do lar (pensionista) Auxiliar de servios gerais Do lar (pensionista)Secundrio completo Primrio comp. Secundrio inferior completo Primrio comp.

Mauro Santos da Costa (1967) + 2 irmos 18 anos, Servio militar (FAB)* Sonia Maria Ferreira (1963) Agente de segurana + 2 irmos 17 anos, Vendedora Secundrio completo + 5 irms Vigia Secundrio completo

Andr da Costa (1992) Paula da Costa (1993) 20 anos, Biotecnlogo 21 anos, Professora de Francs Estudante Estudante*(FBA): Fora Area Brasileira Superior incompleto Superior incompletoA observao a partir do diagrama construdo acima nos permite apreender, portanto, algumas informaes. Percebemos que o av paterno dos irmos Andr e Paula, o senhor Aldir Pereira da Costa, nascido em 1935 e falecido em 1993, iniciou sua vida profissional muito cedo, como era comum poca, segundo empiria lgica. Da mesma forma, o av materno dos referidos irmos, o senhor Joo Baptista Ferreira, nascido em 1925 e falecido em 2005, teve sua primeira experincia profissional aos 11 anos de idade. O primeiro trabalhava auxiliando os servios em uma venda e o segundo entregando quentinhas, ocupaes que no demandam de elevada qualificao profissional e, consequentemente, conferem baixas remuneraes, as quais, muito provavelmente, serviam para a complementao da renda familiar. Tal constatao corrobora com as inferncias de Pastore e Valle Silva quando esses afirmam que os indivduos entre 40 e 50 anos no ano de 1973, provavelmente, teriam comeado a trabalhar nas dcadas de 1930 e 40. De fato, o senhor Aldir P. da Costa, embora somente com 38 anos em 1973, comeou sua vida profissional em 1947. Da mesma forma, o senhor Joo B. Ferreira, o qual j ostentava seus 48 anos em 1973, iniciou sua vida profissional em 1936.Por outro lado, no que diz respeito escolaridade dos patriarcas da famlia aqui retratada, observamos algo bastante interessante. Ambos avanaram sua educao, atingindo formao no ensino secundrio inferior, no caso do senhor Joo, e ensino secundrio completo, no caso do senhor Aldir. O senhor Joo teve educao de vis religioso, enquanto o senhor Aldir cursou escolas de educao regular. De toda a forma, os feitos educacionais de ambos so extremamente apreciveis, uma vez que ingressaram na educao primria antes mesmo da Reforma Capanema em 1942 e, como mostra Ribeiro em seu estudo Desigualdades de oportunidades educacionais no Brasil: Raa, classe e gnero, o acesso educao no era democratizado e a progresso na escola era desacreditada. Somente aps as reformas de 1942, 1961, 1971 e 1982 na educao brasileira, ocorreu ampliao do sistema educacional primrio, secundrio, a reformulao desse ltimo, e maior carga de investimentos destinados ao ensino superior e programas de ps-graduao. O bom aproveitamento escolar dos patriarcas da famlia j denuncia uma acumulao valiosa de capital cultural, o qual seria inevitavelmente passado aos seus filhos e netos. De fato, como analisaremos mais a frente, a transmisso de tal capital cultural, juntamente com as reformas educacionais supracitadas, parece ter sido essencial para a progresso da vida escolar dos membros das geraes posteriores.Analisando, por fim, a movimentao dos patriarcas pelos estratos sociais, percebemos a principal diferena entre eles. Enquanto o senhor Joo, permaneceu cumprindo funes de ocupaes pouco qualificadas e mal remuneradas durante a sua vida, terminando sua jornada trabalhista como auxiliar de servios gerais, o senhor Aldir parece ter seguido uma jornada profissional mais proveitosa logrando posio de chefia na instituio distribuidora de energia eltrica, Light S.A. Sendo assim, nos embasando pela classificao de estratos sociais utilizada por Pastore e Valle Silva em O significado da mobilidade social, podemos inferir que enquanto o primeiro, o senhor Joo, permaneceu relativamente imvel no estrato social baixo-superior, dividindo sua modesta renda por oito filhos e sua esposa, o segundo, o senhor Aldir, movimentou-se alguns estratos, partindo do baixo-superior, chegando ao mdio-mdio e dividindo sua renda mediana com trs filhos e sua esposa.Quando desviamos o foco de nossa anlise para as matriarcas da famlia, as senhoras Neide Santos e Rosa Maria, percebemos, fazendo uso do mesmo empirismo lgico utilizado nas anlises anteriores, que se encaixam no padro de sua poca. Isto , de uma forma geral, comungam de traos educacionais e profissionais muito similares entre si e as demais mulheres de sua poca. Suas respectivas vidas profissionais foram extremamente rarefeitas, desempenhavam funes domsticas, intercaladas as suas atividades do lar. A senhora Rosa Maria, por sua vez, embora dependesse das mesmas atividades rarefeitas, foi mais atuante, frente a evidente necessidade de complementao da renda familiar, enquanto a senhora Neide dedicou-se mais as atividades do lar. Tal configurao corrobora com a realidade vivenciada pela grande massa de mulheres que viveram em idade economicamente ativa na mesma poca que as matriarcas da famlia. O mercado de trabalho era extremamente desigual quando analisado sob a tica da questo de gnero, alm disso, as oportunidades educacionais repercutiam desigualdade similarmente elevadas quando se considerava a questo do gnero. Inclusive, por esse motivo, durante muitas dcadas os estudos sociolgicos a cerca da mobilidade social brasileira restringiam-se na anlise de dados para homens, como ressalta Ribeiro em Quatro dcadas de mobilidade social no Brasil. Atualmente, o quantum consideravelmente mais elevado e os nveis de qualificao excepcionais atingidos pelas mulheres no mercado de trabalho, quebraram esse paradigma e no faz sentido em exclu-las das anlises sociolgicos referentes mobilidade.No que diz respeito escolaridade de ambas as senhoras, a anlise muito simples. Ambas atingiram o mesmo nvel de escolaridade, completando o ensino primrio. Em comparao com seus maridos, estudaram somente metade do tempo. Fato tristemente comum s mulheres da poca, o qual s foi equalizado e revertido no decorrer do sculo XX. No obstante, a senhora Rosa ainda ostenta com orgulho um diploma de formao em costura, que lhe conferiu certo prestgio ao pleitear vagas em ocupaes domsticas. As desigualdades das oportunidades educacionais por gnero, classe e raa eram enormes quando ingressaram na escola e quaisquer ideias ligadas a emancipao feminina eram rechaadas pela sociedade, onde dogmas de cunho machista e patriarcal preponderavam e, ainda hoje, se fazem presentes na moral do brasileiro. Embora seja vlida a ressalva de que tais dogmas esto sob constante reviso social e mostram uma tendncia de diminuio em detrimento da elevao das ideias de liberdade feminina.Adentrando mais profundamente na anlise, iremos estudar agora um pouco sobre o indivduo Mauro Santos da Costa, pai do casal de irmos Andr e Paula e um dos trs filhos homens do casal Aldir e Neide. Alvo de recepo direta do capital cultural acumulado por seu pai Aldir e da dedicao de sua me Neide ao cri-lo. O primeiro ponto de meno relevante a idade na qual o senhor Mauro iniciou sua vida profissional. Aos 18 anos de idade, alistou-se compulsoriamente nas foras armadas e optou por cumprir o servio na Fora Area Brasileira na condio de infante. Em seu primeiro ano como recruta, fez parte do corpo da Polcia da Aeronutica (PA) e nos quatro anos seguintes cumpriu servio junto ao Grupamento de Apoio do Rio de Janeiro (GAP-RJ). Transcorridos esses cincos anos, em 1991 iniciou sua vida no servio de segurana privada como vigilante. Atualmente exerce funo de agente de segurana, relativamente mais qualificada e melhor remunerada j que requer a realizao de alguns cursos na rea de segurana privada. De forma que durante sua vida profissional manteve-se em ocupaes de qualificao e remunerao muito similares. No entanto, a sua atual remunerao e relativa qualificao profissional lhe garantem posicionar-se no estrato mdio-inferior possibilitando-o permanecer no mesmo estrato social no qual se encontrava quando era economicamente dependente de seu pai, o qual, nessa poca, ainda era marcador de energia da distribuidora Light S.A. Tal estagnao social vivenciada pelo senhor Mauro historicamente justificvel, pois, como mostraram Pastore e Silva em O significado da mobilidade social e Ribeiro em Quatro dcadas de mobilidade social no Brasil, ele e os jovens de sua gerao encontraram um Brasil combalido economicamente e com galopante desemprego, aquele Brasil da dcada de 1980, a dcada perdida que diminuiu a fluidez social dificultando a movimentao dos indivduos pelos estratos sociais agravando a desigualdade social j existente. A posterior dcada de 1990 foi marcada pela redemocratizao no Brasil e eleies de uma srie de governos neoliberais que buscaram resgatar a economia brasileira, os quais, de certa forma, conseguiram cumprir bem essa rdua misso, principalmente atravs da implantao do Plano Real em 1994 durante o primeiro mandato FHC. No entanto, como, em geral, do feitio de governos neoliberais, no houve preocupao com a distribuio da renda e, embora a recuperao econmica seja fato irrefutvel, a taxa de desempregados ainda crescia. Ou seja, grosso modo, a economia havia melhorado somente para alguns, os mais abastados, e o estiramento nos estratos sociais acentuou-se ainda mais.Ao que tange o nvel educacional do senhor Mauro, observamos que logrou xito em igualar o mesmo nvel educacional de seu pai e, muito provavelmente, o fez com maior facilidade e produtividade, uma vez que ao decorrer de sua vida estudantil foi beneficiado pelas mais importantes reformas educacionais brasileiras. O senhor Mauro ingressou em 1974 no ensino primrio, momento no qual as vagas nas instituies pblicas vinham seguindo uma tendncia de crescimento desde a reforma de 1961 e o ensino secundrio inferior havia se tornado compulsrio para todas as crianas a partir da reforma de 1971. De forma que cerca de 50-60% das crianas brasileiras de 5 a 14 anos estavam matriculadas em instituies pblicas de ensino primrio e secundrio inferior, segundo Ribeiro. A consequncia direta disso foi aumento do aporte de alunos no segundo segmento do ensino secundrio, onde, no ano de 1985, cerca de 10-20% dos jovens entre 15-19 anos estavam matriculados em instituies pblicas e cerca de 5-10% em instituies privadas. Tal expanso do ensino secundrio superior no foi, entretanto, acompanhada de aumento do ensino superior, criando-se um gargalo que resultou em aumento das desigualdades de oportunidades educacionais no Brasil. Apenas os indivduos das classes mais prestigiadas conseguiam se sobressair a enorme concorrncia e adentrar no ensino superior. Infelizmente, o senhor Mauro, como muitos brasileiros de sua poca, no conseguiu vencer essa ltima transio educacional, o cenrio desigual o impossibilitou.De forma similar, a senhora Sonia Maria, companheira e me dos filhos do senhor Mauro, vivenciou as mesmas transformaes nos cenrios educacional e econmico brasileiro. De forma que os mesmos fatos histricos respaldaro as justificativas expostas na argumentao a cerca de sua movimentao nos estratos sociais e no que diz respeito as suas conquistas educacionais. Dona Sonia terminou sua jornada estudantil no segundo segmento do ensino secundrio tambm na dcada perdida, 1980, encontrando o mesmo gargalo que o senhor Mauro na transio para o ensino superior. Seu estrato social de origem, seu nvel educacional pouco competitivo frente ao vestibular e a necessidade de complementar a renda de seus pais, venceram-na e impossibilitaram-na de ingressar no ensino superior. Iniciou sua vida profissional como vendedora, aos 17 anos, em concomitncia ao ensino secundrio. Atualmente desempenha a funo de vigia, funo essa que demanda menor qualificao e significativamente mais mal remunerada em comparao a sua ocupao inicial. A primeira vista, analisando-a individualmente, poderia parecer, portanto, que caiu nos estratos sociais. No entanto, recordando-nos da ocupao de seu pai e o nvel de renda da sua famlia de 8 filhos, percebemos que ascendeu minimamente at o estrato mdio-inferior, ostentando um nvel de vida substancialmente superior a de seus pais.O ponto de ressalto realmente interessante diz respeito diferena dos nveis educacionais entre as mulheres da primeira gerao da famlia analisada e a senhora Sonia. Como havamos discutido anteriormente, as oportunidades educacionais no Brasil da metade inicial do sculo XX eram extremamente desiguais, sobretudo levando-se em considerao o fator gnero. Conferimos tal disparidade de oportunidades quando analisamos comparativamente os nveis educacionais dos patriarcas e matriarcas da famlia e, estudando agora o caso da senhora Sonia, percebemos a equalizao dessa disparidade aps todas as reformas educacionais brasileiras do sculo XX, como havia sustentado Ribeiro em Desigualdades de oportunidades educacionais no Brasil: Raa, classe e gnero. A senhora Sonia conseguiu lograr o mesmo patamar educacional de seu companheiro e ultrapassar em muito os anos de estudo de sua me e, em menor proporo, ao seu pai. Seu feito assoma-se ao feito da maior parte das brasileiras da sua gerao e nos informam um panorama de evoluo, o qual nos traz esperanas quanto o futuro do Brasil.A partir da unio do casal Sonia e Mauro foram gerados dois filhos, Andr da Costa e Paula da Costa, 1992 e 1993 respectivamente. Ambos cresceram em uma realidade bastante distinta a de seus avs e pais, nasceram na dcada de 1990, a qual representou emblematicamente o momento de redemocratizao do Brasil e de recuperao econmica do pas. A pequena diferena de idades entre os dois irmos levou-os a comungar todas as variaes nas polticas econmicas, educacionais e sociais at o presente momento, de forma que os causos histricos que justificam a jornada de um, serviro tambm para justificar a jornada do outro.Os dois irmos so dois jovens brasileiros com participao ainda incipiente no mercado de trabalho. O rapaz, Andr da Costa, aos 21 anos j completou o ensino mdio tcnico profissionalizante na rea de biotecnologia, j tendo atuado como tcnico em laboratrios de pesquisa, anlises clnicas e armazenamento de sangue de cordo umbilical e placentrio durante cerca de 2 anos. Atualmente, se encontra fora do mercado de trabalho, cursando o primeiro ano da graduao em Geografia pela Faculdade do Estado do Rio de Janeiro, segundo curso de graduao cursado pelo rapaz. Anteriormente, havia se matriculado no curso de Farmcia na Universidade Federal do Rio de Janeiro, cumprindo somente trs perodos do curso. Em contraponto, a moa Paula da Costa optou por seguir o ensino mdio regular, onde teve contato com a lngua Francesa e recebeu a oportunidade de realizar atividades extracurriculares para aprofundamento dos conhecimentos da lngua, realizou, com os conhecimentos acumulados, testes de proficincia em Francs, os quais lhe garantiram alguns certificados. Atualmente, Paula encontra-se inserida no mercado de trabalho dando aulas particulares da lngua francesa e lecionando no curso de lnguas Wizard. Em concomitncia, cursa a graduao de Letras, modalidade Portugus-Francs, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro. De modo que ambos j ostentam qualificaes profissionais relativamente especficas, mostrando, em comparao a seus pais e avs, um nvel de qualificao superior. Alm disso, foram os primeiros na famlia a romperem a ltima transio educacional, do ensino mdio para o ensino superior, dando pistas de que, embora ainda jovens, trilham caminho em busca de maior qualificao profissional e patamar educacional mais elevado.O sucesso profissional e estudantil dos irmos deve-se, muito provavelmente, a estabilidade econmica vivenciada no Brasil durante a ltima dcada, progressivos investimentos e programas de incentivo a educao em todas as suas instncias, sobretudo ao ensino superior, alm do legado deixado pelas reformas educacionais realizadas no decorrer do sculo XX. Durante todo o perodo na condio de estudantes, alis, condio esta atual de ambos, os irmos se beneficiaram por diversos programas financiadores da educao pblica tais como o FUNDEF, transformado posteriormente em FUNDEB, a implementao do sistema de cotas por renda, o PRONATEC, o PROUNI, dentre outros. Os esforos para a ampliao e democratizao dos ensinos primrio e secundrio que possibilitaram aos seus pais, Mauro e Sonia, completarem o ensino secundrio haviam se transformado em esforos para o alargamento do gargalo que restringia as oportunidades de acesso ao ensino superior. Circunstncias essas que, assomadas ao nvel de vida prpria do estrato mdio-baixo, em que vivem fornecem justificativas suficientes para o sucesso educacional que atingiram. Partindo dessas perspectivas, h grandes possibilidades de ascenso social para os irmos, uma vez que nveis educacionais mais elevados esto atrelados a nveis de vida tambm mais elevados. Embora valha a ressalva feita por Ribeiro em Quatro dcadas de mobilidade social no Brasil de que os retornos educacionais esto seguindo uma tendncia de diminuio. De qualquer forma, ao que se referem os tempos vindouros, no podemos explicitar nenhuma certeza.

- Referncias bibliogrficas:

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- RIBEIRO, C. A. C. Quatro dcadas de mobilidade social no Brasil. DADOS-Revista Cincias Sociais, Rio de Janeiro, v. 55, n. 3, 2012, pp. 642-679.

- RIBEIRO, C. A. C. Desigualdades de oportunidades educacionais no Brasil: Raa, classe e gnero. Educao on-Line (PUCRJ), v. 8, p.1, 2011.

- VAZ, N. M. B. A SOCIEDADE COLONIAL BRASILEIRA E SUA ORGANIZAO SOCIAL. Disponvel em http://historiadosdireitoshumanos.blogspot.com.br/2006/05/1-sociedade-colonial-brasileira-e-sua.html, Acessado em 17/10/2014. 9