Mobilidad de Pesquisadores Brasileños

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    Mobilidade de

    pesquisadores brasileiros

    é baixa ao longo

    da carreira, indica estudo

    RECURSOS HUMANOS y

    Bruno de Pierro

    Circulaçãolimitada

    500-1.01.000-2.000 km2.000-5.000 km5.000-10.000 km10.000 km

    Estudo realizado por um grupo da Univer-sidade Federal de Minas Gerais (UFMG)mostra que pesquisadores brasileirostendem a trabalhar e a fazer carreira em

    regiões muito próximas às instituições em quecursaram a graduação, sugerindo uma baixa mo-

     bilidade dentro do país. Os autores, do Depar-tamento de Ciência da Computação da UFMG,analisaram a distribuição geográfica de apro-ximadamente 6 mil pesquisadores vinculados a101 Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia(INCTs), redes de colaboração científica criadaspelo Conselho Nacional de DesenvolvimentoCientífico e Tecnológico (CNPq) e pelas funda-ções estaduais de amparo à pesquisa. Observou--se que apenas 20% dos pesquisadores trabalhama mais de 500 quilômetros (km) de distância dainstituição onde começaram a trajetória acadê-mica. A maioria fixou-se em empregos a menos

    de 100 km da universidade em que iniciaram acarreira. O fenômeno também foi percebido entreos pesquisadores que realizaram pós-doutoradono exterior: 81% retornaram ao Brasil e se esta- beleceram nas regiões de origem.

    O artigo, publicado em outubro na revista PLoS

    One, confirma um padrão de carreira segundo oqual a maioria dos pesquisadores faz doutora-do no país e só nos estágios de pós-doutoradoestreita colaborações com grupos externos. “Astrajetórias observadas em nosso estudo mostram atendência do brasileiro de permanecer na mesmainstituição ou região ao longo de toda a carreira”,observou Clodoveu Augusto Davis Junior, um dosautores do trabalho, cujo autor principal é seualuno de mestrado Caio Alves. O estudo é partede um esforço dos pesquisadores da UFMG emutilizar dados da Plataforma Lattes, que reúne4 milhões de currículos acadêmicos, para estu-

    36 z  JANEIRO DE 2016

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    PESQUISA FAPESP 239 z  37 

          I      L      U      S      T      R      A      Ç       Ã      O     A

        L    L  -    S    I    L    H    O    U    E    T    T    E    S .    C

        O    M

    > 10 km10-100 km100-200 km200-500 km

    Trajetórias mapeadasDistância entre as instituições onde pesquisadores de 101 INCTs cursaram a

    graduação e onde atualmente trabalham. De 6 mil pesquisadores, quase metade fezcarreira na mesma instituição ou região onde se graduou

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    exterior é pequeno. Tais característicascontrastam com o cenário global. Um es-tudo publicado em 2010 por Linda AnaCarine Van Bouwel, da Universidade deLeuven, na Bélgica, mostra que metadedos estudantes europeus que foram pa-ra os Estados Unidos fazer doutoradoem economia entre 1950 e 2006 acabouarrumando emprego naquele país. Do

    restante, a maior parte foi trabalhar emoutros países da Europa e apenas umaminoria voltou para os países de origem.

     A baixa mobilidade de pesquisado-res no Brasil é explicada por peculiari-dades do sistema universitário. “O es-tudo da UFMG confirma o esperado”,diz o sociólogo Simon Schwartzman,pesquisador do Instituto de Estudos doTrabalho e Sociedade. “Nas universi-dades públicas brasileiras, é difícil ospesquisadores mudarem de instituição,

    tendo em vista as regras de contrataçãodo serviço público”, explica. Nesse mo-delo, o pesquisador é contratado comoservidor público, o que favorece a fixaçãonuma instituição muito cedo. No casodas universidades federais e em algumasestaduais, o ingresso de um novo docen-te ocorre obrigatoriamente no nível deprofessor auxiliar, independentementeda titulação, e a progressão entre umnível e outro da carreira pode exigir ointervalo de 24 meses. Isso desestimulapesquisadores com carreira consolidada

    a trocar de instituição.“Se uma universidade deseja criar um

    centro de estudos sobre a China, porexemplo, não vai procurar algum es-pecialista consagrado nessa área, comoacontece em instituições dos EstadosUnidos e da Europa. O costume aqui noBrasil é buscar algum interessado entreos professores em início de carreira eformá-lo no assunto”, explica ElizabethBalbachevsky, professora da Universi-dade de São Paulo (USP). No caso do

    sistema universitário norte-americano,a mobilidade é maior, em parte porqueas instituições negociam condições es-pecíficas de contratos, quando estãointeressadas em atrair determinadoprofissional.

    Edgar Zanotto, professor da Univer-sidade Federal de São Carlos (UFSCar),ressalta que, nos Estados Unidos, é co-mum que pesquisadores recebam ofer-tas de trabalho, já que o sistema segue alógica de mercado. “Ter os profissionaismais qualificados implica oferecer bons

    dar fenômenos e tendências da ciência brasileira ( ver Pesquisa FAPESP nº 233 ).Por meio de técnicas de geoinformática,as informações extraídas dos currículostransformaram-se em mapas que revelampercursos de carreira dos pesquisadores.

    Ocaso do paranaense Fabio Ribeirode Camargo ilustra essa situação.

    Graduado em engenharia civilpela Universidade Federal do Paraná em1985, ele deixou o país em 2009 para fa-zer doutorado em engenharia mecâni-ca na Universidade de Leeds, no ReinoUnido. Ao longo de mais de cinco anosem que ficou fora do Brasil, Camargocolaborou com grupos de pesquisa deoutros países e passou curtas tempora-das na Austrália, Japão e África do Sul.“ A mobilidade permitiu com que eu meenvolvesse com várias linhas de pesqui-

    sa e abriu oportunidades para que meutrabalho se tornasse conhecido lá fora”,conta Camargo.

    Em 2014, ele passou férias no Brasilcom a família. Durante a visita, foi con- vidado pela prefeitura de Curitiba paraassumir o cargo de diretor de iluminaçãopública. O desafio era modernizar a ges-tão da iluminação da cidade, por meio doconceito de smart city, redes inteligentesque integram fontes de energia e dadosde multisserviços, a fim de automatizarsistemas urbanos e evitar desperdícios.

    “Aceitei a proposta por se tratar de umnovo desafio para minha carreira”, dizCamargo.

    O estudo da UFMG revela que apenas32% dos pesquisadores ligados a INCTsrealizaram algum tipo de estudo avança-

    do, como o pós-doutorado, em estadosdiferentes dos de sua origem ou fora doBrasil. O comportamento, porém, variade acordo com a região. Por exemplo,São Paulo e os demais estados do Sudes-te, analisados separadamente no artigo,são localidades onde a maioria dos pes-quisadores é oriunda da própria região.Já Norte, Nordeste, Centro-Oeste e Sulapresentam um padrão migratório tem-porário. Isso significa que uma fração

    expressiva de pesquisadores deixa essasregiões para fazer graduação, mestradoou doutorado em outros lugares e, de-pois, retorna para trabalhar.

    O artigo também indica que o con-tingente de brasileiros que se fixam no

    “O brasileiro

    tende a

    permanecer

    na mesmainstituição

    ou região ao

    longo da

    carreira”, diz

    Clodoveu Junior 

    Formação de doutoresPorcentagem de títulos obtidos no Brasil e no exterior por pesquisadoresligados a 101 INCTs em cada área do conhecimento

    n  Exterior n  Brasil

    18

    82

    25

    75

    31

    69

    29

    71

    30

    70

    18

    82

    22

    78

    25

    75

    Agricultura Energia Engenharia

    & TI

    Meio

    ambiente

    Exatas Saúde e

    medicina

    Humanidades Nanotecnologia

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    posso levá-los comigo caso decida mudarde instituição”, observa.

    Para o físico Ronaldo Mota, reitor daUniversidade Estácio de Sá, do Rio, eespecialista em política científica e edu-cacional, a ideia de que o pesquisadorprecisa ter um laboratório próprio e, paraisso, tenha que se fixar em um local, está

    mudando no país. “Hoje em dia existemcada vez mais as chamadas facilities, la- boratórios compartilhados que garantemacesso a equipamentos modernos paramúltiplos usuários”, afirma Mota.

    Acirculação de pesquisadores podecontribuir para oxigenar a produ-ção científica dentro das institui-

    ções. Simon Schwartzman alerta que a baixa mobilidade pode favorecer a endo-genia na universidade, quando professo-

    res dão preferência para contratar seusex-alunos. “Isso não é saudável, porquenão traz outras perspectivas e visões demundo para dentro de um departamen-to”, diz. Uma maneira eficaz de as insti-tuições se renovarem e inovarem é trazerpessoas de outros lugares. “A mobilidadeajuda a diversificar as culturas e as ma-neiras de pensar criticamente”, afirma.Uma saída encontrada por muitos pesqui-sadores para superar os limites da mobi-lidade é estabelecer redes de colaboraçãocom pesquisadores de outras instituições.

    salários”, diz Zanotto, que é professorda UFSCar há 39 anos. Segundo ele, nasuniversidades brasileiras os salários sãosimilares. “Todos os professores de umamesma categoria recebem aproximada-mente o mesmo valor.”

    O pesquisador reconhece que se en-quadra no perfil apresentado pelo estudo

    da UFMG: durante a década de 1970, fezgraduação em engenharia de materiaisna UFSCar, onde foi contratado em 1976como professor auxiliar. Entre 1979 e1982 morou na Inglaterra, onde fez odoutorado na Universidade de Sheffield,e logo depois retornou à UFSCar comoprofessor adjunto. Mesmo assim, buscouinternacionalizar a carreira por meio decolaborações com grupos do exterior epassando períodos como professor vi-sitante em instituições da Itália e dos

    Estados Unidos. Zanotto explica quea principal razão para permanecer pormais de três décadas numa mesma ins-tituição foram os laboratórios de mate-riais vítreos que montou. Segundo ele, énatural que nas áreas de ciências exatase biológicas, em que há a necessidade deequipamentos e infraestrutura laborato-rial, o pesquisador procure estabelecer vínculo institucional. “Levei anos paramontar essa estrutura. Juntos, os labo-ratórios têm 900 metros quadrados eabrigam equipamentos sofisticados. Não

    O número de colaborações tem avan-çado no Brasil. Um estudo publicadoem 2014 revela que, entre 2008 e 2010,ocorreu quase 1 milhão de colaboraçõescientíficas entre pesquisadores brasi-leiros, em contraste com as cerca de 63mil observadas entre 1990 e 1992 ( verPesquisa FAPESP nº 218 ). “Quando pre-

    cisamos de um pesquisador qualifica-do, criamos uma rede de colaboração”,relata Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro,coordenador do INCT de Observatóriodas Metrópoles. Hoje, a equipe coorde-nada por ele envolve pessoas de Belém,Goiânia e Brasília, entre outros, sem que,para isso, fosse necessário contratá-las.

    Já as interações entre brasileiros eestrangeiros são menos numerosas.Em tese de doutorado defendida em2010, Samile Vanz, professora da Uni-

     versidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS), mostrou que os artigos depesquisadores brasileiros escritos emparceria com estrangeiros estacionaramna casa dos 30% e vêm crescendo, emnúmeros absolutos, num ritmo menordo que as colaborações internas. “Ho- je, os pesquisadores daqui interagemmais com grupos internacionais do queno passado. Mas ainda é pouco, quan-do comparamos com outros países da América Latina, como Chile e México”,avalia Ronaldo Mota. n      I      L      U

          S      T      R      A      Ç       Ã      O     V

        E    C    T    O    R    O    P    E    N

        S    T    O    C    K

    Concentração regionalDistribuição do número de programas de doutorado pelopaís por área do conhecimento

    100

    200

    300

    400

    500

    600

    700

    800

    900

    0

    Agricultura Energia Engenharia& TI

    Meio ambiente Exatas Saúde emedicina

    Humanidades Nanotecnologia

    n  São Paulo

    n  Sudeste (exceto São Paulo)n  Sul

    n  Nordeste

    n  Centro

    n  Norte