Miguel Torga

15
Trabalho realizado por: José Marques nº 11 Tiago Pinto nº 24

description

 

Transcript of Miguel Torga

Page 1: Miguel Torga

Trabalho realizado por:José Marques nº 11Tiago Pinto nº 24

Page 2: Miguel Torga

�� EscritorEscritor portuguêsportuguês natural,natural, dede SãoSão MartinhoMartinhodede Anta,Anta, VilaVila RealReal.. ProvenienteProveniente dede umauma famíliafamíliahumildehumilde..ApósApós umauma brevebreve passagempassagem pelopelo seminárioseminário dede�� ApósApós umauma brevebreve passagempassagem pelopelo seminárioseminário dedeLamego,Lamego, emigrouemigrou comcom 1313 anosanos parapara oo BrasilBrasil..

�� DeDe regressoregresso aa Portugal,Portugal, emem 19251925,, concluiuconcluiu ooensinoensino licealliceal ee frequentoufrequentou emem CoimbraCoimbra oo cursocursodede Medicina,Medicina, queque terminouterminou emem 19331933..

Page 3: Miguel Torga

�� Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em Exerceu a profissão de médico em São Martinho de Anta e em outras localidades do país, fixandooutras localidades do país, fixando--se definitivamente em se definitivamente em Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941. Coimbra, como otorrinolaringologista, em 1941.

Ligado inicialmente ao grupo da revista Presença, dele se desligou Ligado inicialmente ao grupo da revista Presença, dele se desligou em 1930, fundando nesse mesmo ano, com Branquinho da Fonseca em 1930, fundando nesse mesmo ano, com Branquinho da Fonseca (outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em (outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em (outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em (outro dissidente), a Sinal, de que sairia apenas um número. Em 1936, lançou outra revista, Manifesto, também de duração breve. 1936, lançou outra revista, Manifesto, também de duração breve.

A sua saída da Presença reflecte uma característica fundamental A sua saída da Presença reflecte uma característica fundamental da sua personalidade literária, uma individualidade veemente e da sua personalidade literária, uma individualidade veemente e intransigente, que o manteve afastado, por toda a vida, de intransigente, que o manteve afastado, por toda a vida, de escolas literárias e mesmo do contacto com os círculos culturais escolas literárias e mesmo do contacto com os círculos culturais do meio portuguêsdo meio português

Page 4: Miguel Torga

�� A esta intensa consciência individual aliouA esta intensa consciência individual aliou--se, no entanto, se, no entanto, uma profunda afirmação da sua pertença à natureza uma profunda afirmação da sua pertença à natureza humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças humana, com que se solidariza na oposição a todas as forças que oprimam a energia viva e a dignidade do homem, sejam que oprimam a energia viva e a dignidade do homem, sejam elas as tiranias políticas ou o próprio Deus. Miguel Torga, elas as tiranias políticas ou o próprio Deus. Miguel Torga, tendo como homem a experiência dos sofrimentos da tendo como homem a experiência dos sofrimentos da emigração e da vida rural, do contacto com as misérias e emigração e da vida rural, do contacto com as misérias e emigração e da vida rural, do contacto com as misérias e emigração e da vida rural, do contacto com as misérias e com a morte, tornoucom a morte, tornou--se o poeta do mundo rural, das forças se o poeta do mundo rural, das forças telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na sua telúricas, ancestrais, que animam o instinto humano na sua luta dramática contra as leis que o aprisionam. Nessa luta dramática contra as leis que o aprisionam. Nessa revolta consiste a missão do poeta, que se afirma tanto na revolta consiste a missão do poeta, que se afirma tanto na violência com que acusa a tirania divina e terrestre, como violência com que acusa a tirania divina e terrestre, como na ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a na ternura franciscana que estende, de forma vibrante, a todas as criaturas no seu sofrimento. todas as criaturas no seu sofrimento.

Page 5: Miguel Torga

�� Mas essa revolta, por outro lado, não corresponde a uma Mas essa revolta, por outro lado, não corresponde a uma arreligiosidade ou recusa da transcendência. arreligiosidade ou recusa da transcendência. A sua obra, recheada de simbologia bíblica, encontraA sua obra, recheada de simbologia bíblica, encontra--se, antes, se, antes, imersa num sentido divino que transfigura a natureza e dignifica imersa num sentido divino que transfigura a natureza e dignifica o homem no seu desafio ou no seu desprezo face ao divino. A o homem no seu desafio ou no seu desprezo face ao divino. A ligação à terra, à região natal, a Portugal, à própria Península ligação à terra, à região natal, a Portugal, à própria Península Ibérica e às suas gentes, é outra constante dos textos do autor. Ibérica e às suas gentes, é outra constante dos textos do autor. Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Portugal e de Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, Portugal e de Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Ela justifica o profundo conhecimento que Torga procurou ter de Portugal e de Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, Portugal e de Espanha, unidos no conceito de uma Ibéria comum, pela rudeza e pobreza dos seus meios naturais, pelo movimento pela rudeza e pobreza dos seus meios naturais, pelo movimento de expansão e opressões da história, e por certas características de expansão e opressões da história, e por certas características humanas definidoras da sua personalidade. A intervenção cívica humanas definidoras da sua personalidade. A intervenção cívica de Miguel Torga, na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos de Miguel Torga, na oposição ao Estado Novo e na denúncia dos crimes da guerra civil espanhola e de Franco, valeucrimes da guerra civil espanhola e de Franco, valeu--lhe a lhe a apreensão de algumas das suas obras pela censura e, mesmo, a apreensão de algumas das suas obras pela censura e, mesmo, a prisão pela polícia política portuguesa. prisão pela polícia política portuguesa.

Page 6: Miguel Torga

�� Contista exímio, romancista, ensaísta, dramaturgo, autor de mais de 50 Contista exímio, romancista, ensaísta, dramaturgo, autor de mais de 50 obras publicadas desde os 21 anos, estreouobras publicadas desde os 21 anos, estreou--se em 1928 com o volume de se em 1928 com o volume de poesia Ansiedade. Também em poesia, publicou, entre outras obras, poesia Ansiedade. Também em poesia, publicou, entre outras obras, Rampa (1930), O Outro Livro de Job (1936), Lamentação (1943), Rampa (1930), O Outro Livro de Job (1936), Lamentação (1943), NihilNihilSibiSibi (1948), Cântico do Homem (1950), Alguns Poemas Ibéricos (1952), (1948), Cântico do Homem (1950), Alguns Poemas Ibéricos (1952), Penas do Purgatório (1954) e Orfeu Rebelde (1958). Na ficção em prosa, Penas do Purgatório (1954) e Orfeu Rebelde (1958). Na ficção em prosa, escreveu Pão Ázimo (1931), Criação do Mundo. Os Dois Primeiros Dias escreveu Pão Ázimo (1931), Criação do Mundo. Os Dois Primeiros Dias escreveu Pão Ázimo (1931), Criação do Mundo. Os Dois Primeiros Dias escreveu Pão Ázimo (1931), Criação do Mundo. Os Dois Primeiros Dias (1937, obra de fundo autobiográfico, continuada em O Terceiro Dia da (1937, obra de fundo autobiográfico, continuada em O Terceiro Dia da Criação do Mundo, 1938, O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939, O Criação do Mundo, 1938, O Quarto Dia da Criação do Mundo, 1939, O Quinto Dia da Criação do Mundo, 1974, e O Sexto Dia da Criação do Quinto Dia da Criação do Mundo, 1974, e O Sexto Dia da Criação do Mundo, 1981), Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), O Senhor Mundo, 1981), Bichos (1940), Contos da Montanha (1941), O Senhor Ventura (1943, romance), Novos Contos da Montanha (1944), Vindima Ventura (1943, romance), Novos Contos da Montanha (1944), Vindima (1945) e Fogo Preso (1976). (1945) e Fogo Preso (1976).

É ainda autor de peças de teatro (Terra Firme e Mar, 1941; O Paraíso, É ainda autor de peças de teatro (Terra Firme e Mar, 1941; O Paraíso, 1949; e Sinfonia, poema dramático, 1947) de volumes de impressões de 1949; e Sinfonia, poema dramático, 1947) de volumes de impressões de viagens (Portugal, 1950; Traço de União, 1955) e de um Diário em viagens (Portugal, 1950; Traço de União, 1955) e de um Diário em dezasseis volumes, publicado entre 1941 e 1994. dezasseis volumes, publicado entre 1941 e 1994.

Page 7: Miguel Torga

�� Notável pela sua técnica narrativa no conto, pela expressividade Notável pela sua técnica narrativa no conto, pela expressividade da sua linguagem, frequentemente de cunho popular, mas de uma da sua linguagem, frequentemente de cunho popular, mas de uma força clássica, fruto de um trabalho intenso da palavra, conseguiu força clássica, fruto de um trabalho intenso da palavra, conseguiu conferir aos seus textos um ritmo vigoroso e original, a que conferir aos seus textos um ritmo vigoroso e original, a que associa uma imagística extremamente sugestiva e viva. associa uma imagística extremamente sugestiva e viva.

Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foramVárias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram--lhe lhe Várias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foramVárias vezes premiado, nacional e internacionalmente, foram--lhe lhe atribuídos, entre outros, o prémio Diário de Notícias (1969), o atribuídos, entre outros, o prémio Diário de Notícias (1969), o Prémio Internacional de Poesia (1977), o prémio Montaigne Prémio Internacional de Poesia (1977), o prémio Montaigne (1981), o prémio Camões (1989), o Prémio Vida Literária da (1981), o prémio Camões (1989), o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1992) e o Prémio da Crítica, consagrando a sua obra (1993). Crítica, consagrando a sua obra (1993). Em 2000, é publicado Poesia Completa Em 2000, é publicado Poesia Completa

�� Em 17 de Janeiro morreu o poeta Miguel Torga. Repousa, sob uma Em 17 de Janeiro morreu o poeta Miguel Torga. Repousa, sob uma única laje, em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta. única laje, em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta.

Page 8: Miguel Torga

�� Em poesia, publicou, entre outras obras:Em poesia, publicou, entre outras obras:� Rampa (1930)

� O Outro Livro de Job (1936)

� Lamentação (1943)

Nihil Sibi (1948)� Nihil Sibi (1948)

� Cântico do Homem (1950)

� Alguns Poemas Ibéricos (1952)

� Penas do Purgatório (1954)

� Orfeu Rebelde (1958).

Page 9: Miguel Torga

Sei Sei um ninho. um ninho. E o ninho tem um ovo. E o ninho tem um ovo. E o ovo, redondinho, E o ovo, redondinho, Tem lá dentro um passarinho Tem lá dentro um passarinho Novo. Novo.

Mas escusam de me atentar: Mas escusam de me atentar: Mas escusam de me atentar: Mas escusam de me atentar: Nem o tiro, nem o ensino. Nem o tiro, nem o ensino. Quero ser um bom menino Quero ser um bom menino E guardar E guardar Este segredo comigo. Este segredo comigo. E ter depois um amigo E ter depois um amigo Que faça o pino Que faça o pino A voar... A voar...

Page 10: Miguel Torga

�� Há muito tempo já que não escrevo um poema Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor. De amor. E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! E é o que eu sei fazer com mais delicadeza! A nossa natureza A nossa natureza Lusitana Lusitana Tem essa humana Tem essa humana Graça Graça Feiticeira Feiticeira De tornar de cristal De tornar de cristal De tornar de cristal De tornar de cristal A mais sentimental A mais sentimental E baça E baça Bebedeira. Bebedeira.

Mas ou seja que vou envelhecendo Mas ou seja que vou envelhecendo E ninguém me deseje apaixonado, E ninguém me deseje apaixonado, Ou que a antiga paixão Ou que a antiga paixão Me mantenha calado Me mantenha calado O coração O coração Num íntimo pudor, Num íntimo pudor, ------ Há muito tempo já que não escrevo um poema Há muito tempo já que não escrevo um poema De amor De amor

Page 11: Miguel Torga

�� Não são pepitas de oiro que procuro. Não são pepitas de oiro que procuro. Oiro dentro de mim, terra singela! Oiro dentro de mim, terra singela! Busco apenas aquela Busco apenas aquela Universal riqueza Universal riqueza Do homem que revolve a solidão: Do homem que revolve a solidão: O tesoiro sagrado O tesoiro sagrado De nenhuma certeza, De nenhuma certeza, Soterrado Soterrado Por mil certezas de aluvião. Por mil certezas de aluvião. Por mil certezas de aluvião. Por mil certezas de aluvião. Cavo, Cavo, Lavo, Lavo, Peneiro, Peneiro, Mas só quero a fortuna Mas só quero a fortuna De me encontrar. De me encontrar. Poeta antes dos versos Poeta antes dos versos E sede antes da fonte. E sede antes da fonte. Puro como um deserto. Puro como um deserto. Inteiramente nu e descoberto.Inteiramente nu e descoberto.

Page 12: Miguel Torga

�� O que é bonito neste mundo, e anima, O que é bonito neste mundo, e anima, É ver que na vindima É ver que na vindima De cada sonho De cada sonho Fica a cepa a sonhar outra aventura... Fica a cepa a sonhar outra aventura... E que a doçura E que a doçura Que se não prova Que se não prova Que se não prova Que se não prova Se transfigura Se transfigura Numa doçura Numa doçura Muito mais pura Muito mais pura E muito mais nova... E muito mais nova...

Page 13: Miguel Torga

�� ArianeAriane é um navio. é um navio. Tem mastros, velas e bandeira à proa, Tem mastros, velas e bandeira à proa, E chegou num dia branco, frio, E chegou num dia branco, frio, A este rio Tejo de Lisboa. A este rio Tejo de Lisboa.

Carregado de Sonho, fundeou Carregado de Sonho, fundeou Dentro da claridade destas grades... Dentro da claridade destas grades... Cisne de todos, que se foi, voltou Cisne de todos, que se foi, voltou Só para os olhos de quem tem saudades... Só para os olhos de quem tem saudades... Só para os olhos de quem tem saudades... Só para os olhos de quem tem saudades...

Foram duas fragatas ver quem era Foram duas fragatas ver quem era Um tal milagre assim: era um navio Um tal milagre assim: era um navio Que se balança ali à minha espera Que se balança ali à minha espera Entre as gaivotas que se dão no rio. Entre as gaivotas que se dão no rio.

Mas eu é que não pude ainda por meus passos Mas eu é que não pude ainda por meus passos Sair desta prisão em corpo inteiro, Sair desta prisão em corpo inteiro, E levantar âncora, e cair nos braços E levantar âncora, e cair nos braços De De ArianeAriane, o veleiro. , o veleiro.

Page 14: Miguel Torga

�� Deixem Deixem passar quem vai na sua estrada. passar quem vai na sua estrada. Deixem passar Deixem passar Quem vai cheio de noite e de luar. Quem vai cheio de noite e de luar. Deixem passar e não lhe digam nada Deixem passar e não lhe digam nada

Deixem, que vai apenas Deixem, que vai apenas Beber água de sonho a qualquer fonte; Beber água de sonho a qualquer fonte; Ou colher açucenas Ou colher açucenas A um jardim que ele lá sabe, ali defronte. A um jardim que ele lá sabe, ali defronte. A um jardim que ele lá sabe, ali defronte. A um jardim que ele lá sabe, ali defronte.

Vem da terra de todos, onde mora Vem da terra de todos, onde mora E onde volta depois de amanhecer. E onde volta depois de amanhecer. DeixemDeixem--no pois passar, agora no pois passar, agora

Que vai cheio de noite e solidão Que vai cheio de noite e solidão Que vai ser uma estrela no chão. Que vai ser uma estrela no chão.

Page 15: Miguel Torga