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ALEXANDRE ALVISI COSTA
CONDIES PARA IMPLANTAO DO CONTRATO FUTURO DE
ARROZ NO BRASIL
Dissertao apresentada Universidade Federal de Viosa, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Economia Aplicada, para obteno do ttulo de Magister Scientiae.
VIOSA MINAS GERAIS BRASIL
2008
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Ficha catalogrfica preparada pela Seo de Catalogao e Classificao da Biblioteca Central da UFV
T Costa, Alexandre Alvisi, 1984- C837c Condies para implantao do contrato futuro de arroz 2008 no Brasil / Alexandre Alvisi Costa. Viosa, MG, 2008. xv, 117f.: il. (algumas col.) ; 29cm. Inclui anexos. Orientador: Alexandre Bragana Coelho. Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Viosa. Referncias bibliogrficas: f. 105-111. 1. Mercado futuro - Brasil. 2. Negociao de futuros - Brasil. 3. Arroz - Produo - Aspectos econmicos - Brasil. 4. Arroz - Comrcio - Brasil. I. Universidade Federal de Viosa. II.Ttulo. CDD 22.ed. 332.6450981
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ALEXANDRE ALVISI COSTA CONDIES PARA IMPLANTAO DO CONTRATO FUTURO DE
ARROZ NO BRASIL Dissertao apresentada
Universidade Federal de Viosa, como parte das exigncias do Programa de Ps-Graduao em Economia Aplicada, para obteno do ttulo de Magister Scientiae.
APROVADA: 06 de agosto de 2008.
Prof. Joo Eustquio de Lima Prof. Marlia Fernandes Maciel Gomes
Prof. Elaine Aparecida Fernandes Prof. Slvia Helena Galvo de Miranda
(Co-orientadora)
Prof. Alexandre Bragana Coelho
(Orientador)
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A Deus, pelas graas recebidas. Aos meus avs, pelo exemplo.
Aos meus pais, pela dedicao e carinho. A Tati, pelo amor, pelo carinho, por tudo.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo primeiramente a Deus, razo do meu existir, por todas as graas
e conquistas alcanadas e pela f que me fez chegar at aqui. Por dar provas,
diariamente, de sua existncia e misericrdia em minha vida.
Aos meus queridos avs, exemplos de vida, em quem tanto me espelhei ao
longo de minha vida. V Paulo, por ser nico. V Neide, por ser maravilhosa.
V Z, pelo seu trabalho. V Dolores, pela sua perseverana.
Aos meus pais por tudo. Pelo homem em que me tornei e por poder
estarmos juntos hoje em mais essa conquista, to importante. Vocs sempre me
apoiaram em minhas decises e nunca mediram esforos para que eu pudesse
alcanar meus sonhos. Foram nos momentos de dificuldade que eu tive a certeza
de ter pais maravilhosos e que fazem tudo por mim.
As minhas irms lindas. Sempre companheiras e amigas. A L por nossas
conversas e pela nossa amizade. A Mandinha pelo seu carinho e preocupao.
A todos meus familiares que sempre estiveram ao meu lado. Famlia
maravilhosa e unida. Agradeo tambm a famlia da Tati por sempre me receber
muito bem e pelo grande apoio que me deram durante todo esse percurso.
Aos meus amigos de Mestrado, em especial ao Marcelo, Marlon, Dnis e
Luciany. Sempre juntos nos exerccios! Sempre ajudando um ao outro. Turma
tima! Aos meus amigos de Repblica, de Viosa, Poos e So Paulo. Um
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iv
agradecimento especial aos meus amigos Boi, Chiclete, Corujito, Pazzini, Ravel,
Alusio, Tch, Matraca e Alan.
Ao meu professor, orientador e amigo Alexandre. Extremamente
importante e fundamental para que pudesse terminar este trabalho. Uma pessoa
por quem terei sempre uma grande estima e certamente um professor
fundamental para que o departamento continue a ter excelncia no ensino e
tima reputao. Sou eternamente grato a voc, Alexandre. As minhas co-
orientadoras Prof. Silvia e Prof. Viviane, sempre muito simpticas e
atenciosas. Tambm foram fundamentais para o trmino do meu trabalho. Aos
membros da banca examinadora, Prof. Joo Eustquio, Prof. Marlia e Prof.
Elaine pelas sugestes e crticas, que muito me ajudaram a trilhar o caminho que
me trouxe at aqui.
A todos professores, estudantes e funcionrios do DER, principalmente a
Luiza, Carminha, Cida, Helena, Tedinha, Prof. Maurinho e Prof. Marcelo.
Universidade Federal de Viosa, pela excelncia em ensino e pela
competncia de seus profissionais.
Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior
(CAPES) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
(CNPq), pelo apoio financeiro.
Por ltimo, um agradecimento especial minha amada, minha
companheira, minha vida, Tati. Sempre lutando pelo nosso amor. Sempre me
apoiando. Sempre me ajudando. Sempre presente. No teria conseguido
conquistar este sonho sem a sua ajuda e perseverana. S ela sabe o tanto que
foi difcil conseguir terminar este trabalho. Amo voc, minha Vida.
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BIOGRAFIA
ALEXANDRE ALVISI COSTA, filho de Jos Ludgero Neto e Marineide
Alvisi Costa, nasceu em Poos de Caldas, Minas Gerais, em 12 de fevereiro de
1984.
Em maio de 2002, iniciou o curso de Cincias Econmicas pela
Universidade Federal de Viosa, em Minas Gerais, graduando-se em outubro de
2006.
Tambm em outubro de 2006, ingressou no Programa de Ps-Graduao
em Economia Aplicada da Universidade Federal de Viosa, concluindo os
requisitos necessrios para obteno do titulo de Magister Scientiae em agosto
de 2008.
Atualmente trabalha no setor de Pessoa Jurdica do Banco do Brasil.
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vi
SUMRIO
LISTA DE FIGURAS........................................................................................viii
LISTA DE TABELAS.........................................................................................ix
RESUMO............................................................................................................xii
ABSTRACT.......................................................................................................xiii
1. INTRODUO................................................................................................1
1.1. O setor orizicultor brasileiro......................................................................1 1.2. Problema e sua importncia.......................................................................8 1.3. Hiptese...................................................................................................12 1.4. Objetivos..................................................................................................12
2. FUNDAMENTOS DOS MERCADOS FUTUROS AGROPECURIOS.....13
2.1. Histria dos Mercados Futuros................................................................13 2.2. Caractersticas do Mercado Futuro..........................................................17 2.3. Participantes do Mercado Futuro Agropecurio......................................21
3. REFERENCIAL TERICO...........................................................................24
3.1. Teoria do Sucesso e Fracasso de Contratos Futuros................................24 3.1.1. Abordagem Macro............................................................................26 3.1.2. Abordagem Micro.............................................................................32
3.2. Lei do Preo nico e Integrao Espacial de Mercados.........................33
4. REFERENCIAL ANALTICO.......................................................................37
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vii
4.1. Abordagem Macro...................................................................................37 4.2. Abordagem Micro....................................................................................41 4.3. Integrao de Mercado.............................................................................42
4.3.1. Estacionariedade das Sries Temporais............................................43 4.3.2. Teste de Co-integrao Mtodo de Johansen.................................45 4.3.3. Vetor de Correo de Erros...............................................................47 4.3.4. Causalidade de Granger....................................................................48
4.4. Design do Contrato..................................................................................44 4.5. Fonte de Dados........................................................................................51
5. RESULTADOS E DISCUSSO....................................................................52
5.1. Abordagem macro....................................................................................52 5.1.1. Perecibilidade e possibilidade de estocagem....................................52 5.1.2. Homogeneidade e capacidade de mensurao..................................55 5.1.3. Volatilidade dos Preos.....................................................................58 5.1.4. Tamanho do Mercado Fsico............................................................61 5.1.5. Grau de Concentrao no Mercado...................................................67 5.1.6. Interveno Governamental..............................................................71 5.1.7. Formas de comercializao e contratos a termo...............................76 5.1.8. Integrao Vertical............................................................................78 5.1.9. Competio com outros mercados....................................................78 5.1.10. Viabilidade do contrato futuro de arroz no Brasil..........................79
5.2. Abordagem micro....................................................................................80 5.2.1. Produtores.........................................................................................81 5.2.2. Beneficiadores...................................................................................87
5.3. Anlise de Integrao entre os Mercados Irrigado e de Sequeiro............92 5.3.1. Teste de Raiz Unitria.......................................................................92 5.3.2. Teste de Co-integrao.....................................................................93 5.3.3. Direo de Transmisso de Preos...................................................96
5.4. Design do contrato..................................................................................98
6. RESUMO E CONCLUSES........................................................................100
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .........................................................105
ANEXO 1..........................................................................................................112
ANEXO 2..........................................................................................................115
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viii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Localizao dos sistemas produtivos e destino final da produo.......3
Figura 2 Preos reais, saca de 50 kg, deflacionado pelo IGP-DI, base agosto/
07=100, nas regies de Uruguaiana RS e Sinop MT, no perodo de julho de
2004 a agosto de 2007.........................................................................................10
Figura 3 Evoluo dos contratos futuros agropecurios na BM&F, entre 1997
e 2007..................................................................................................................17
Figura 4 Estrutura de Negociao nos Mercados Futuros................................22
Figura 5 Preo do arroz nos estados do Rio Grande do Sul, Mato Grosso,
Gois e So Paulo, no perodo entre janeiro de 1997 e julho de 2006................61
Figura 6 Evoluo da produo, rea e produtividade de arroz no Brasil, no
perodo entre 1976 e 2007...................................................................................63
Figura 7 - Satisfao financeira dos produtores...............................................82
Figura 8 Conhecimento do Mercado Futuro....................................................83
Figura 9 Interesse em participar do mercado futuro........................................84
Figura 10 Nvel de escolaridade dos produtores..............................................85
Figura 11 Tempo de atividade na cultura de arroz...........................................86
Figura 12 Satisfao financeira dos beneficiadores.........................................87
Figura 13 Freqncia de compras pelos beneficiadores...................................88
Figura 14 Quantidade de sacas beneficiadas por ano.......................................90
Figura 15 Direes de Transmisso do preo do arroz Causalidade.............97
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ix
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Quantidade de arroz produzido nos maiores estados produtores, no
ano de 2006, em toneladas....................................................................................4
Tabela 2 Os 10 maiores produtores de arroz do mundo, no perodo de 2002 a
2006, em mil toneladas..........................................................................................6
Tabela 3 Importaes brasileiras de arroz, no perodo de 2004 a 2006, em
toneladas................................................................................................................7
Tabela 4 Dez maiores bolsas futuras no mundo, em volume negociado, no
incluindo contratos de opo...............................................................................15
Tabela 5 Volume negociado dos contratos agropecurios na BM&F, no
perodo de 2002 a 2007.......................................................................................16
Tabela 6 Diferenas entre os mercados a termo e futuro.................................20
Tabela 7 Correlao esperada entre as caractersticas do mercado e sucesso de
contratos futuros..................................................................................................41
Tabela 8 Classes do arroz e suas dimenses....................................................56
Tabela 9 Limites mximos de tolerncia de defeitos do arroz em casa natural
para cada tipo, em percentagem do peso.............................................................57
Tabela 10 Volatilidade do arroz para os estados do Rio Grande do Sul, Mato
Grosso, Gois e So Paulo, no perodo entre janeiro de 1997 e julho de
2006.....................................................................................................................59
Tabela 11 Volatilidade das commodities negociadas na BM&F......................60
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x
Tabela 12 Produo por estado, em mil toneladas, no perodo entre 2003 e
2007.................................................................................................................... 62
Tabela 13 Porcentagem da produo por estado, em mil toneladas, no perodo
entre 2003 e 2007................................................................................................64
Tabela 14 Os 10 maiores produtores de arroz do mundo, no perodo de 2002 a
2006, em mil toneladas........................................................................................65
Tabela 15 Porcentagem dos 10 maiores produtores de arroz do mundo, no
perodo de 2002 a 2006, em mil toneladas..........................................................65
Tabela 16 Produo, exportao, importao, consumo e estoque final do
Brasil, entre as safras de 1999/00 a 2005/06, em mil toneladas..........................66
Tabela 17 Valor bruto da Produo (VBP) dos seis maiores produtos agrcolas
brasileiros, nos anos 2006 e 2007, (em mil reais)...............................................67
Tabela 18 10 maiores municpios produtores de arroz no Brasil, no ano de
2006.....................................................................................................................68
Tabela 19 Nmero de beneficiadores no estado do Rio Grande do Sul, entre os
anos de 2000 e 2004............................................................................................70
Tabela 20 Crdito Rural, em milhes de reais, para produtores e cooperativas
de arroz, 2002 a 2007..........................................................................................72
Tabela 21 Aquisies do Governo Federal, em toneladas, entre 2002 e
2006.....................................................................................................................73
Tabela 22 Nmero de contratos de PROP ofertados e vendidos, em 2006......74
Tabela 23 Toneladas de arroz ofertadas e negociadas por PEP, 2004 a
2006.....................................................................................................................75
Tabela 24 Aquisies do Governo Federal pela Agricultura Familiar, 2005 e
2006, em toneladas..............................................................................................75
Tabela 25 Sinais encontrados para cada varivel que influencia no sucesso do
contrato futuro.....................................................................................................79
Tabela 26 - Meios de comunicao utilizados pelos produtores.........................86
Tabela 27 - Meios de comunicao utilizados pelos beneficiadores..................91
Tabela 28 Resultados do Teste de Dickey-Fuller aumentado nas sries mensais
dos preos, no perodo de janeiro de 1997 a dezembro de 2006.........................92
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xi
Tabela 29 Teste de Johansen para identificao do nmero de relaes de co-
integrao entre as sries de preos.....................................................................93
Tabela 30 Vetores de co-integrao (s)........................................................94
Tabela 31 Coeficientes de ajustamento do VEC (s).....................................95
Tabela 32 Resultados do Teste de Causalidade de Granger para as sries
mensais de preos em primeira diferena, no perodo de janeiro de 1997 a
dezembro de 2006, utilizando duas defasagens..................................................96
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xii
RESUMO
COSTA, Alexandre Alvisi, M.Sc., Universidade Federal de Viosa, agosto de 2008. Condies para implantao do contrato futuro de arroz no Brasil. Orientador: Alexandre Bragana Coelho. Co-orientadores: Silvia Helena Galvo de Miranda e Viviani Silva Lrio.
Este trabalho teve como objetivo estudar o mercado de arroz brasileiro,
com o intuito de avaliar a viabilidade da implantao de um mercado futuro para
este produto, como alternativa para minimizar as incertezas associadas s
variaes nos preos. Alm de analisar a viabilidade do contrato futuro do arroz,
foi realizada uma anlise de co-integrao dos preos entre os mercados de arroz
irrigado e de sequeiro, com o objetivo de identificar a relao de longo prazo
entre eles e analisar a implicao em relao ao funcionamento do contrato
futuro de arroz. A metodologia utilizada baseou-se na Teoria do Sucesso e
Fracasso de Contratos Futuros, que analisa as principais variveis
influenciadoras do sucesso de um contrato futuro. Esta anlise conhecida
como abordagem macro. Em complemento a esta teoria, foi includa uma
anlise dos determinantes do processo de deciso dos potenciais participantes do
mercado, ou seja, foi aplicado um questionrio com os agentes do setor orizcola
brasileiro. Esta parte conhecida como abordagem micro. Para a anlise de co-
integrao, foi utilizado o mtodo de Johansen, que objetivou identificar a
existncia de co-integrao entre as sries de preo de arroz nos mercados
irrigado e de sequeiro. Os resultados da abordagem macro mostraram que h
falhas nas variveis tamanho do mercado fsico, grau de concentrao de
-
xiii
mercado e interveno governamental. Estas variveis so importantes para o
sucesso de um contrato, uma vez que influenciam a formao do preo do
produto. Em relao abordagem micro, esta se mostrou favorvel
implantao do contrato futuro, pois tanto os produtores quanto os
beneficiadores entrevistados mostraram-se interessados em participar de um
possvel contrato futuro. A concluso para a abordagem sugere que o mercado
orizcola brasileiro deveria ter contato com outro tipo de mecanismo de risco
antes de se ter o mercado futuro do produto. A abordagem micro d a entender
que o contrato futuro poderia obter sucesso se implantado na BM&F. Em
relao co-integrao, os resultados apresentados mostraram que um contrato
futuro de arroz no pas deveria ter como referncia os preos do Rio Grande do
Sul. Alm disso, a anlise de co-integrao mostrou que os preos do arroz so
integrados no longo prazo, mesmo para qualidades diferentes (arroz irrigado e
arroz de sequeiro). Este fato importante para o sucesso de um contrato futuro
de arroz, pois agentes que produzem e comercializam qualquer um dos tipos
podem utilizar o contrato futuro como forma de diminuir seu risco de preos.
Isso permite um aumento de liquidez na negociao do contrato, contribuindo
para seu sucesso.
-
xiv
ABSTRACT
COSTA, Alexandre Alvisi, M.Sc., Universidade Federal de Viosa, August, 2008. Conditions to implement a rice future contract in Brazil Adviser: Alexandre. Co-advisers: Silva Helena Galvo de Miranda and Viviani Silva Lrio.
This paper aimed to study the Brazilian rice market in order to evaluate the
feasibility of implementing a future market for this product, as an alternative to
minimize the uncertainties associated with fluctuations in prices. In addition to
examining the feasibility of a rice future contract, a price co-integration analysis
between the irrigated and dry rice markets was carried out, with the objective to
identify the long-term relationship between them and examine the implications
related to the rice future contract operation. The methodology used was based
on the Theory of Success and Failure in Futures Contracts, which analyzes the
key variables that influence the success of a future contract. This analysis is
known as macro approach. In addition to this theory, it was included an analysis
of the potential market participants decision-making determinants, ie, a
questionnaire was applied with the Brazilian rice industry agents. This part is
known as micro approach. For the co-integration analysis, it was used the
Johansen method, which aimed to identify the co-integration existence between
the rice price series in irrigated and dry markets. The results of the macro
approach showed that there are flaws in the variables: market physical size,
market concentration degree and government intervention. These variables are
-
xv
important for the contract success, once they influence the product price
formation. Regarding micro approach, this showed to be favorable to the future
contract implementation, as both rice and rice benefited producers that were
interviewed showed interest in participating in a possible future contract. The
conclusion to this approach suggests that the Brazilian rice market should have
contact with another type of risk mechanism before the implementation of the
rice future market. The micro approach suggests that the future contract could
succeed if implemented in BM&F. Regarding the co-integration analysis, the
results presented showed that a rice future contract in Brazil should consider the
prices of Rio Grande do Sul state. Furthermore, the co-integration analysis
showed that rice prices are integrated into long term, even for different grades
(irrigated and dry rice). This is an important fact for a rice future contract
success, so that the agents that produce and trade any of the rice types can use
the future contracts as a way to reduce their price risk. This allows a liquidity
increase in the contract negotiation, contributing to its success.
-
1
1. INTRODUO
1.1. O setor orizicultor brasileiro
O arroz um cereal que faz parte da alimentao de quase a metade da
populao mundial, sendo uma importante fonte de nutrientes e um dos
alimentos com melhor balanceamento nutricional. Alm disso, segundo Cantrell
(2002), sua produo cobre mais de 11% da terra arvel no planeta. No Brasil,
o principal item da cesta bsica da populao, com consumo per capita anual, em
2006, de aproximadamente 69,6 kg/hab (AGRIANUAL, 2007).
A cultura de arroz uma das mais importantes da agricultura brasileira,
tendo movimentado em 2006, R$ 4,3 bilhes em receita bruta, reunindo cerca de
930.000 produtores (IBGE, 2007). No perodo de 2002 a 2006, a produo de
arroz correspondeu, em mdia, a 6,25% da renda agrcola total, sendo o quinto
produto em renda, ficando atrs apenas da soja, cana-de-acar, milho e caf,
respectivamente.
A presena do cereal no Brasil remonta poca do descobrimento,
constando no cardpio dos descobridores. Como relata Buarque de Holanda
(1975), o arroz foi trazido para o Brasil de Cabo Verde, pelos portugueses e,
antes de 1587, j era cultivado na Bahia. Foi o primeiro cereal a ser exportado
para Portugal e chegou a ser, entre os anos de 1768 e 1777, o nico cereal
exportado pelo pas. At a metade do sculo XIX, as principais plantaes
estavam concentradas no Nordeste, principalmente no Maranho. As tcnicas de
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2
cultivo utilizadas eram as mais primitivas, como toda a agricultura brasileira na
poca.
A partir do incio do sculo XX, a orizicultura brasileira comeou a se
modernizar. Durante todo este sculo, a cadeia orizcola1 enfrentou momentos de
forte crescimento e outros de grandes dificuldades, sendo que o incio do sculo
foi marcado pela expanso das lavouras irrigadas no Rio Grande do Sul. A partir
dos anos 1930, com o deslocamento da economia agrcola para a indstria, o
arroz tornou-se um dos itens mais importantes na alimentao da populao
brasileira.
No Brasil, h dois sistemas produtivos na cultura do arroz: o sistema de
produo irrigado e o sistema de sequeiro. O sistema irrigado consiste no cultivo
do arroz em vrzeas sistematizadas com controle da lmina de gua, sendo
predominante nos estados do sul do pas. O sistema de sequeiro caracteriza-se
pela forte dependncia de gua das chuvas e produzido em solos com boas
caractersticas fsicas, mas que possuem baixa fertilidade natural; tambm
produzido no restante do pas, principalmente na regio central (PEREIRA,
2002). A Figura 1 apresenta a localizao dos sistemas produtivos e os principais
fluxos de comercializao e consumo, que est concentrado na regio Sudeste,
principalmente no estado de So Paulo.
1 Os atores da cadeia orizcola so todos os agentes tomadores de deciso que podem interferir na coordenao da cadeia. Neste caso, tem-se o governo, produtores, beneficiadores, distribuidores e consumidores.
-
3
Figura 1 Localizao dos sistemas produtivos e destino final da produo Fonte: Ferreira e Wander (2005).
Pela Figura 1 percebe-se que h um fluxo da regio Sul para as demais
regies do pas, pois todas as outras, com exceo dos estados do Centro-Oeste,
apresentam dficit de produo.
A produtividade do sistema irrigado no pas de aproximadamente 5.500
kg/ha. No sistema de sequeiro, a produtividade diminui para cerca de 3.500
kg/ha. O sistema irrigado tido como de menor variabilidade em termos de
qualidade, sendo, portanto, mais fcil de ser padronizado e comercializado em
bolsas futuras, que exigem grande padronizao do produto comercializado
(ALONO et al., 2007).
At a dcada de 1960, o arroz proveniente de cultivos de sequeiro era o
mais aceito pelos consumidores e, por esse motivo, era o mais produzido no pas.
Mas a partir dos anos 1970, segundo Ferreira et al. (2005), o arroz irrigado
passou a ter maior preferncia por parte do consumidor. Essa mudana provocou
o aumento da rea plantada desse tipo de arroz, resultando na sua liderana em
termos de produo e rea plantada na dcada de 1980. Em 2006, como mostrado
na Tabela 1, cerca de 70% da produo nacional foi proveniente do sistema
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4
irrigado, cujo maior produtor, o estado do Rio Grande do Sul, detinha quase 60%
da produo nacional.
Tabela 1 Quantidade de arroz produzido nos maiores estados produtores, no
ano de 2006, em toneladas
Quantidade Produzida Rio Grande do Sul (irrigado) 6.784.236 Santa Catarina (irrigado) 1.071.559 Mato Grosso (sequeiro) 720.834 Maranho (sequeiro) 699.875 Par (irrigado e sequeiro) 398.620 Demais Estados 1.849.310 Total 11.524.434
Fonte: IBGE (2006).
Apesar da sua importncia, na dcada de 1990, com as profundas mudanas
ocorridas na economia brasileira, principalmente pela predominncia dos
preceitos da globalizao e da competitividade, o arroz passou a ser considerado
por alguns gestores de polticas pblicas como uma cultura sem perspectiva,
ficando em segundo plano na preferncia do mercado e do governo (ADAMI,
2006). Porm, apesar dessas mudanas, o arroz visto pelo Governo Federal
como um importante item para a segurana alimentar2. Como ressalta Silva
(2004), com o objetivo de suprir a necessidade de abastecimento, o setor
orizicultor submetido, com freqncia, a intervenes governamentais que se
do atravs de polticas de preos mnimos, aquisies do governo, entre outras.
Em relao aos subsdios concedidos, um estudo da OCDE (2005) conclui que o
arroz, em 2003, obteve o maior nvel de subsdios entre todos os produtos
agrcolas produzidos no Brasil, correspondendo a 7 % da renda total, enquanto a
mdia para os demais produtos foi de 3%.
2 A Poltica Nacional de Alimentao e Nutrio (PNAN), define segurana alimentar como a garantia que as famlias possuem de acesso fsico e econmico, regular e permanente a um conjunto bsico de alimentos em quantidade e qualidade significantes para atender s suas necessidades nutricionais bsicas (Ministrio da Sade, 2003).
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5
O Governo Federal, at o final da dcada de 1980, intervinha no mercado de
arroz atravs da aquisio do produto pelo seu preo mnimo em anos de grandes
safras, enxugando, assim, o mercado e formando os estoques. Em perodos de
safras menores, estes estoques eram colocados no mercado, garantindo o
abastecimento e evitando grandes elevaes de preo. Em anos de maior crise,
quando no havia uma produo suficiente para abastecer o mercado interno, o
Estado utilizava outros mecanismos para suprir esta falta, como a importao do
produto e, principalmente, o tabelamento dos preos.
A partir do incio da dcada de 1990, com a liberalizao da economia e a
crise fiscal do governo, o Estado mudou seu papel, deixando de intervir no
mercado com a mesma freqncia de antes. Estes fatos contriburam para a
reduo dos recursos destinados ao financiamento e comercializao do
produto, e foi neste contexto, como ressalta Alono et al. (2007), que alguns
instrumentos anteriormente utilizados pelo governo deixaram de existir e a
poltica de aquisio da produo de arroz tornou-se menos assdua. O governo
optou por repassar parte da sua responsabilidade para o setor privado, implicando
em mudanas na cadeia produtiva.
No cenrio externo, o Brasil, como pode visto na Tabela 2, o nono maior
produtor de arroz, produzindo 11,6 milhes de toneladas de arroz em casca em
2006, o que corresponde a cerca de 2,2% da produo mundial. Os principais
pases consumidores e produtores esto na sia, produzindo mais de 90% do
arroz no mundo, tendo como principal produtor e consumidor a China, seguida
da ndia e Indonsia.
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Tabela 2 Os 10 maiores produtores de arroz do mundo, no perodo de 2002 a
2006, em mil toneladas
Pas 2002 2003 2004 2005 2006 China 176.342,20 162.304,28 186.730,00 182.100,00 182.200,00 ndia 108.900,00 130.400,00 124.400,00 137.700,00 136.600,00 Indonsia 51.489,70 52.078,83 53.100,10 54.200,00 54.400,00 Bangladesh 37.593,00 39.090,00 37.910,00 39.800,00 39.200,00 Vietn 34.447,20 34.518,60 35.500,00 35.800,00 35.800,00 Tailndia 26.057,00 27.241,00 25.200,00 30.300,00 29.400,00 Mianmar 22.780,00 24.640,00 23.000,00 25.100,00 25.200,00 Filipinas 13.270,65 14.031,00 14.200,00 15.100,00 15.400,00 Brasil 10.457,10 10.319,90 13.356,30 13.200,00 11.520,00 Japo 11.111,00 9.740,00 11.400,00 11.300,00 10.700,00 Total mundial 571.075,82 586.248,41 608.496,28 632.900,00 628.700,00 Fonte: FAO (2007).
O Brasil ainda se destaca como o maior produtor fora do continente
asitico. No pas, o arroz produzido em todos os estados e, em 2002, foi
cultivado em cerca de 70% dos municpios brasileiros, no sendo, porm, auto-
suficiente na sua produo (FERREIRA et al., 2005). O pas importa, em mdia,
8% do consumo interno e um dos maiores importadores lquidos no mundo,
pois encontra dificuldades de manuteno da produo interna, alm de competir
com os pases do Mercosul, que possuem custos de produo e preos menores
comparados aos encontrados no Brasil. Deste modo, percebe-se pela Tabela 3,
que mais de 90% das importaes brasileiras se originam da Argentina e
Uruguai. Em anos de maior escassez, importa-se o produto dos Estados Unidos e
mesmo da sia (CONAB, 2006). Quanto s exportaes brasileiras, estas so de
baixa qualidade, ou seja, com alto ndice de arroz quebrado, e destinam-se a
pases com menor grau de desenvolvimento, como Senegal, Peru e Haiti.
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Tabela 3 Importaes brasileiras de arroz, no perodo de 2004 a 2006, em
toneladas
Pas 2004 2005 2006
Argentina 261.617 228.803 294.644
Uruguai 422.563 260.155 305.774
Paraguai 15.435 41.444 48.577
Estados Unidos 62.218 315 256
Tailndia 130.378 146 188
Outros 34.547 1.645 3.486
Total 926.758 532.508 652.925 Fonte: SECEX (2007).
O comrcio mundial do setor orizicultor bastante restrito se comparado
aos outros produtos agropecurios. Enquanto somente 6% da produo mundial
so transacionados no comrcio internacional, a soja e o trigo transacionam no
comrcio mundial 25% e 20% da produo global, respectivamente. Alm deste
fato, o continente asitico concentra 75% das exportaes e 40% das
importaes, o que acaba influenciando os preos nos demais mercados ao redor
do mundo (FERREIRA et al., 2005).
No Brasil as condies de oferta interna e dos estoques de arroz, somado s
condies climticas e intervenes governamentais, so fatores que acabam
afetando os preos internos, tornando-os bastante volteis, o que dificulta o
planejamento e gerenciamento por parte dos agentes da cadeia produtiva de
arroz.
Para se defender dessas oscilaes, os produtores e os demais agentes da
cadeia, como os beneficiadores, necessitam buscar diferentes formas para se
protegerem. Um instrumento bastante utilizado em diversos pases no mundo, e
que no Brasil utilizado por produtores de caf e soja, por exemplo, o mercado
futuro de commodities agropecurias.
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1.2. Problema e sua importncia
O mercado atual tem se mostrado bastante instvel em relao ao
comportamento dos preos das commodities agropecurias. Santos (2001)
ressalta que, alm do risco de preo com o qual a produo agropecuria se
depara, existe o risco de produo, que a possibilidade do volume de produo
esperada no ocorrer devido a fatores relacionados ao clima e doenas na
lavoura. Este risco pode ser minimizado pela utilizao de seguros agrcolas;
porm, esse mecanismo pouco desenvolvido no pas. J os riscos associados
aos preos, alm de causarem instabilidade sua prpria atividade, podem
provocar instabilidade em todos os membros da cadeia agroindustrial.
Para minimizar os riscos envolvidos com a volatilidade dos preos, os
agentes da cadeia podem gerenciar seus riscos atravs do mercado futuro. Esse
mercado permite um melhor planejamento, diminuio dos custos de transao e
aumento na competitividade das cadeias (MARQUES e MELLO, 1999). O
mercado futuro tambm promove a transferncia de risco de preos entre os
participantes da negociao, proporcionando, assim, a sua reduo, alm de ter
maior transparncia na determinao dos preos, favorecendo o processo de
disseminao de informaes.
Para atender aos seus objetivos, os mercados futuros negociam contratos
com vencimento em data futura. Ao desenvolver um novo contrato, a bolsa deve
especificar as caractersticas principais do ativo a ser negociado: definio da
qualidade da mercadoria, tamanho do contrato, procedimentos de entrega, meses
de entrega, cotaes de preo, limites dirios de oscilao de preo e limites de
posies (HULL, 2005). Em relao aos produtos negociados no mercado futuro,
estes devem apresentar algumas caractersticas para que sejam bem sucedidos.
Entre as caractersticas, destacam-se a homogeneidade do produto, alta
volatilidade de preos, mercado fsico relevante, grau de concentrao, ausncia
de integrao vertical, entre outras.
No Brasil, contratos futuros so negociados na Bolsa de Mercadorias e
Futuros (BM&F), fundada em 1991 na cidade de So Paulo. A BM&F tem como
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objetivo principal desenvolver um centro de liquidez de contratos derivativos,
voltados essencialmente para as necessidades de cobertura de risco (BM&F,
2004). Em 2007, a BM&F negociou contratos futuros agropecurios de acar,
lcool, algodo, bezerro, boi gordo, caf, milho, soja e etanol, sendo que os
derivativos mais negociados foram o caf e o boi gordo.
Os agentes envolvidos no mercado orizcola esto buscando diversas fontes
para minimizar os riscos das variaes nos preos. No mundo, a Chicago Board
of Trade (CBOT) e a Agricultural Futures Exchanges of Thailand (AFET) j
comercializam o arroz no mercado futuro, enquanto a Bolsa chinesa Zhengzhou
Commodity Exchange lanar nos prximos anos a plataforma para negociao
de arroz no mercado futuro (PEROZZI, 2007).
No Brasil, o Governo Federal, atravs da Companhia Nacional de
Abastecimento (CONAB), vem atuando no mercado de arroz a fim de formular
polticas de comercializao do produto. Os instrumentos utilizados pelo governo
so: a Aquisio do Governo Federal (AGF), que adquire o produto ao valor do
preo mnimo de garantia, quando o preo de mercado fica abaixo do preo
mnimo; o Prmio de Escoamento de Produto (PEP), que garante ao produtor o
preo mnimo, sem que haja necessidade do governo adquirir o produto. Este
instrumento garante o deslocamento do produto de uma regio para outra; Prmio
de Risco para a Aquisio de Arroz em Casca Oriundo de Contrato Privado de
Opo de Venda, ttulo negociado pelo governo que assume o compromisso de
adquirir de produtores e cooperativas rurais quantidade de produto vinculado ao
contrato de opo, no seu vencimento e a um determinado preo. Em 2007
tambm foi bastante utilizado o leilo de contrato de opes de venda pblica.
Esses instrumentos so importantes formas de melhorar a renda do produtor
e controlar inflao, mas garantem somente a compra do produto ao preo
mnimo nos momentos em que o mercado est atuando abaixo desse valor. Outra
desvantagem da atuao do governo est relacionada com a baixa previsibilidade
da oferta dos instrumentos descritos acima, alm de estar sujeito a presses
oramentrias.
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H, ainda, a Bolsa Brasileira de Mercadorias, mas que s negocia vista e a
termo, no sendo um instrumento eficaz para reduzir o risco do produtor. O setor
orizcola brasileiro tambm se caracteriza pela negociao entre produtores e
beneficiadores ser feita sob o conceito de mercado spot, ou seja, so realizados
com pagamento vista e pronta entrega, dificultando o planejamento e,
conseqentemente, aumentando as incertezas quanto ao preo pago e recebido
pelo arroz.
Dessa forma, os preos tornam-se instveis, como pode ser visto pela Figura
2, que apresenta o comportamento dos preos reais nas regies de Uruguaiana
RS e Sinop MT, grandes centros produtores de arroz no pas.
0,005,00
10,0015,0020,0025,0030,0035,0040,00
jul/04
out/0
4jan
/05ab
r/05
jul/05
out/0
5jan
/06ab
r/06
jul/06
out/0
6jan
/07ab
r/07
jul/07
Uruguaiana Sinop
Figura 2 Preos reais, saca de 50 kg, deflacionado pelo IGP-DI, base agosto/07=100, nas regies de Uruguaiana RS e Sinop MT, no perodo de julho de 2004 a agosto de 2007.
Fonte: Arroz (2007).
Analisando a Figura 2, percebe-se, em uma primeira anlise, que h uma
grande volatilidade nos preos do arroz, tanto na regio de Uruguaiana, que
produz no sistema irrigado, quanto na regio de Sinop, que produz no sistema de
sequeiro. No perodo analisado, o preo oscilou entre o preo mximo de R$
32,39 e o preo mnimo de R$ 15,60. Essa grande oscilao deve-se s diferenas
sazonais na oferta do produto nos perodos de safra e entressafra. Como citado,
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as condies climticas e de oferta interna do produto e as intervenes
governamentais tambm influenciam na determinao do preo do arroz e
justificam a volatilidade demonstrada pela Figura 2.
Diante do exposto, este trabalho pretende estudar o mercado de arroz
brasileiro, com o intuito de avaliar a viabilidade da implantao de um mercado
futuro para este produto, como alternativa para minimizar as incertezas
associadas s variaes nos preos.
Segundo Suebpongsang e Oppen (2003), a introduo do contrato futuro de
arroz ajudaria a estabilizar o movimento de preos no mercado fsico e serviria
como alternativa para os produtores no momento de decidir sobre o cultivo, alm
de afetar direta e indiretamente a produo, o consumo e a deciso de
armazenagem por parte do produtor.
No Brasil, h alguns trabalhos relacionados viabilidade de contratos
futuros. Entre os mais importantes, esto os de Santos (2001), Siqueira (2003) e
Gomes (2006). Neste trabalho, alm de analisar a viabilidade do contrato futuro
do arroz, foi feita uma anlise de co-integrao dos preos entre os mercados de
arroz irrigado e de sequeiro, com o objetivo de identificar a relao de longo
prazo entre eles e analisar a implicao em relao ao funcionamento do contrato
futuro de arroz. Para o mercado de arroz, este trabalho servir como base para
futuras pesquisas, pois o primeiro a abordar a possibilidade de utilizao de
novos mecanismos de gerenciamento de risco. Esses so os principais
diferenciais deste trabalho em relao aos j realizados.
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1.3. Hiptese
A hiptese a ser testada neste trabalho a de que o mercado de arroz em
casca, irrigado, possui as caractersticas bsicas para ser bem sucedido em um
possvel contrato futuro.
1.4. Objetivos
O objetivo geral do trabalho verificar se a implantao do mercado futuro
de arroz no Brasil vivel. Especificamente, pretende-se:
a) identificar as condies necessrias implantao de um contrato futuro
do produto;
b) avaliar os principais entraves ao desenvolvimento do contrato futuro no
mercado brasileiro;
c) determinar as caractersticas de um possvel contrato futuro de arroz no
Brasil;
d) analisar a integrao existente entre os mercados irrigado e de sequeiro; e
e) detectar o sentido da causalidade entre os preos dos mercados irrigado e
de sequeiro no estudo da integrao espacial.
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2. FUNDAMENTOS DOS MERCADOS FUTUROS AGROPECURIOS
2.1. Histria dos Mercados Futuros
A histria dos mercados futuros no mundo tem seu incio na Idade Mdia.
Na poca, a participao neste tipo de mercado objetivava satisfazer as
necessidades de produtores e comerciantes de reduzirem seus riscos com a
produo agrcola. Apesar de no haver um consenso sobre a sua real origem,
tm-se informaes de que no Japo, no perodo compreendido entre o final do
sculo XII e incio do sculo XIII, a negociao a futuro de arroz foi a primeira a
ser realizada (CARTER, 2003). Outros autores, como Pennings e Leuthold
(1999) destacam que os contratos de madeira na Espanha, em 1543, e de
negociaes de gros nos Pases Baixos, no sculo XVI, foram os primeiros
contratos futuros negociados.
Na era moderna, considera-se a fundao da Chicago Board of Trade
(CBOT), em 1848, como o incio das negociaes de contratos futuros
agropecurios organizados devido padronizao dos produtos (HULL, 2005).
No incio, seu principal objetivo era padronizar as quantidades e qualidades dos
gros negociados.
No Brasil, um grupo de empresrios paulistas ligados exportao,
agricultura e ao comrcio fundaram, no ano de 1917, a Bolsa de Mercadorias de
So Paulo (BMSP), que foi a primeira bolsa brasileira a introduzir operaes a
termo e futuro neste mercado. Ao longo se sua histria, a BMSP destacou-se por
negociar diversos produtos agropecurios, principalmente caf, boi gordo e
algodo.
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Em 1983 e 1985, as Bolsas de Valores do Rio de Janeiro e So Paulo
lanaram projetos para a criao da Bolsa Brasileira de Futuros (BBF) e a Bolsa
Mercantil & Futuros (BM&F), respectivamente, sendo ambas voltadas para o
desenvolvimento de derivativos financeiros. O primeiro contrato negociado na
BM&F foi o ouro, em 1986, seguido pelo ndice de Aes da Bovespa. Ao longo
de 1987, a BM&F lanou contratos de frango, suno e boi gordo.
A BM&F, em 1991, passou pela primeira fuso com a BMSP,
consolidando-se, assim, nos mercados agropecurios e passando a ser
denominada Bolsa de Mercadorias & Futuros. A segunda fuso da BM&F
ocorreu em 1997 com a BBF, adquirindo, desta maneira, o controle total de suas
operaes (BM&F, 2004).
No ano de 2000, a BM&F tornou-se membro da aliana Globex, uma
aliana formada pelas bolsas de Chicago, Cingapura, Madri e Montreal, que,
alm de servir como plataforma para acordos entre as bolsas associadas,
objetivava satisfazer as condies para que, no futuro, seja possvel a integrao
destes mercados. Com isso, pretendia-se promover a internacionalizao dos
mercados negociados na BM&F, permitindo que investidores estrangeiros
atuassem no mercado de derivativos brasileiro.
Em 2002, a BM&F inicia as atividades da Clearing3 de Cmbio, enquanto
no ano de 2004, iniciaram-se as operaes da Clearing de Ativos. Com isso, a
BM&F ampliou a sua atuao e se transformou na principal clearing da Amrica
Latina.
Em 2002, foi lanada a Bolsa Brasileira de Mercadorias (BBM), como
conseqncia da unio das Bolsas de Mercadoria do Cear, Mato Grosso do Sul,
Minas Gerais, Paran, Rio Grande do Sul e Uberlndia, alm da prpria BM&F.
A sede est localizada no Distrito Federal e tem como proposta formar um
grande mercado nacional para as commodities agrcolas. A BBM negocia
diversas mercadorias, entre elas esto: arroz, milho, caf, feijo, soja, sorgo,
trigo, derivados de uva, farinha de trigo, alm de frete, ouro e ativos financeiros.
3 Uma clearing responsvel por fornecer aos seus participantes a certeza de que seus ganhos sero recebidos e de que suas operaes de compra e de venda sero liquidadas nas condies e prazos estabelecidos.
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Este mercado possui um mecanismo de formao de preos e um sistema
organizado de comercializao nas modalidades, vista, a prazo, a termo, opes
e de Cdulas do Produtor Rural (CPRs).
Atualmente, a BM&F consolidou-se como uma das maiores bolsas que
negociam contratos futuros no mundo, alm de abrir o seu capital na Bolsa de
Valores de So Paulo (BOVESPA) em 2007 e passar por uma fuso com a
mesma em 20084. A Tabela 4 apresenta o volume negociado das principais
bolsas futuras do mundo nos anos de 2005 e 2006, bem como a variao
percentual de um ano para outro.
Tabela 4 Dez maiores bolsas futuras no mundo, em volume negociado, no
incluindo contratos de opo
Volume 2005 Volume 2006 Variao
(%) Chicago Mercantile Exchange 883.118.526 1.101.712.533 24,75 Eurex 784.896.954 960.631.763 22,39 Chicago Board of Trade 561.145.938 678.262.052 20,87 Euronext Liffe 343.829.658 430.037.682 25,07 Mexican Derivatives Exchange 107.989.126 274.651.676 154,33 Bolsa de Mercados & Futuros 187.850.634 258.466.105 37,59 New York Mercantile Exchange 166.607.470 216.252.995 29,8 National Stock Exchange of India 116.286.968 170.571.964 46,68 Dalian Commodity Exchange (China) 99.174.714 117.681.038 18,66 ICE Futures (Reino Unido) 41.936.609 92.582.921 120,77
Fonte: Futures Industry Association (2007).
Como pode ser visto na Tabela 4, a BM&F ocupa a sexta posio no
ranking das bolsas futuras no mundo. Em 2006, cresceu 37,59% em relao a
2005, perdendo, em termos de crescimento, apenas para a Mexican Derivatives
Exchange, ICE Futures e National Stock Exchange of India.
Em relao aos contratos futuros agropecurios negociados na BM&F, a
Tabela 5 mostra que, apesar do crescimento do volume negociado entre 2002 e
4 Outro fato ocorrido foi a compra de 10% das aes da BM&F pelo CME Group, em outubro de 2007. O CME Group constitudo pela fuso da Chicado Mercantile Exchange e a Chicago Board of Trade.
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2007, esses contratos tm um pequeno nmero de transaes em relao ao total
negociado na bolsa.
Alm de ter volume baixo, os contratos agropecurios se concentram em
apenas dois produtos: caf e boi gordo. Esses dois contratos so responsveis por
quase 80% do volume de comrcio de produtos agropecurios, sendo que o
contrato de caf correspondeu, no perodo de 2002 a 2007, metade do
comrcio.
Tabela 5 Volume negociado dos contratos agropecurios na BM&F, no perodo
de 2002 a 2007
2002 2003 2004 2005 2006 2007 Tx. Cresc. 2002-2007 (%) Acar 48.326 40.257 47.347 63.385 69.351 45.112 -6,65 lcool 62.896 49.158 40.453 25.466 26.426 3.942 -93,73 Algodo 75 172 60 3.338 2.922 1.411 1781,33 Boi gordo 152.939 113.473 225.200 311.459 392.012 934.422 510,97 Bezerro 1.295 9.475 1.024 3.031 296 159 -87,72 Caf Arbica 446.115 478.544 620.997 485.902 528.462 724.319 62,36 Etanol - - - - - 17.234 0 Milho 16.472 43902 52.600 97.795 135.188 207.724 1161,07 Soja 624 2.917 7.225 47.360 98.112 188.279 30072,91 Total Agropecurio 728.742 737.898 994.906 1.037.736 1.252.769 1.478.639 102,90 Total BM&F 95.912.579 113.895.061 173.533.508 187.850.634 258.466.105 409.397.428 430,17
Fonte: BM&F (2008).
As possveis causas deste baixo volume, de acordo com Aguiar (2003), so:
o desconhecimento da operacionalizao do mercado futuro, por parte
principalmente do produtor, que o maior interessado nesse mercado; falta de
recursos para assumir os gastos com margens ou prmios (pode ser resolvido
com a formao de cooperativas); falta de liquidez; inadequao dos contratos
em relao s necessidades do mercado; entre outras. No entanto, a Figura 3
apresenta que, entre 1997 e 2007, o volume negociado dos produtos
agropecurios cresceu a taxas elevadas. O crescimento dos contratos
agropecurios, nesse perodo, foi de 326,84%.
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0200.000400.000600.000800.000
1.000.0001.200.0001.400.0001.600.000
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
*
Volume
Figura 3 Evoluo dos contratos futuros agropecurios na BM&F, entre 1997 e
2007 Fonte: BM&F (2008).
Apesar do crescimento elevado, os contratos agropecurios participam com
menos de 1% do volume total de negcios da Bolsa, enquanto no mundo,
segundo Mendes (2003) esse ndice fica entre 10% e 15%. Tal fato, aliado com a
internacionalizao da bolsa, cria uma expectativa otimista de crescimento para
os prximos anos, podendo, assim, aumentar a liquidez e eficcia desse
mecanismo de gesto de risco no Brasil.
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2.2 Caractersticas do Mercado Futuro
Como visto, o mercado futuro moderno teve o seu incio com a fundao da
CBOT em 1848. Porm, antes do desenvolvimento deste mercado, um
instrumento de gesto de risco bastante utilizado e que at os dias atuais exerce
uma grande influncia no mercado agropecurio o contrato a termo, ou seja, um
contrato para entrega futura da mercadoria. Nesta modalidade de negociao, o
preo, as caractersticas e a quantidade do produto so definidos no momento do
fechamento do contrato, em comum acordo entre comprador e vendedor, que
tambm definem o momento e o local de entrega (SCHOUCHANA e MICELI,
2004). As negociaes a termo podem ser realizadas dentro ou fora da bolsa,
mas, no geral, so realizadas fora, j que, normalmente, so feitas entre duas
partes j conhecidas e que negociam entre si h muito tempo, possuindo certo
grau de confiana.
Apesar de ser uma forma de gesto de risco bastante utilizada pelos agentes
da cadeia agropecuria brasileira, o contrato a termo possui certas deficincias,
das quais, segundo Marques e Mello (1999), se destacam:
a) Falta de padronizao: no h a determinao de uma qualidade
mnima do que deve ser entregue, o que pode resultar em um custo
muito alto de transao;
b) Falta de transparncia na definio dos preos: como o contrato a
termo uma negociao privada, os demais participantes do mercado
no tm informaes sobre esse negcio, ou seja, no h divulgao
dos preos que so praticados.
c) Baixa liquidez: nenhuma das partes envolvidas consegue encerrar
sua posio antes da data de liquidao, dificultando a transferncia
de risco para outros agentes.
d) Risco de inadimplncia: diferentemente do mercado futuro, que
possui o sistema de garantia da Clearing, o mercado a termo no
possui um sistema de garantias adequado. Essa ausncia representa
um grande fator de desestmulo a esse tipo de negociao.
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Com o intuito de aprimorar os negcios para liquidao futura e extinguir os
problemas citados acima, surgiu o contrato futuro, com objetivos e
operacionalidade semelhantes ao contrato a termo, com a diferena de ser
negociado somente em bolsa. O mercado futuro tambm tem como objetivo
diminuir os riscos dos agentes da cadeia envolvida, realizando compra e venda de
ativos para liquidao em data futura. No entanto, diferentemente dos contratos a
termo, os contratos futuros apresentam a vantagem de no necessitarem da
entrega da mercadoria para liquidao da transao. No contrato a termo a
liquidao s feita atravs da liquidao fsica, mediante a entrega fsica da
mercadoria. J nos contratos futuros, o encerramento da operao pode ser feito
atravs da liquidao fsica, pela liquidao financeira ou pela liquidao por
diferena, que feita atravs de um acerto financeiro, pelo diferencial entre
compra e venda sem haver a necessidade de entrega da mercadoria. A liquidao
financeira exige que o desenho do contrato seja referenciado por um indicador de
preos, visando promover um mecanismo de administrao de risco que elimine
a possibilidade de entrega fsica da mercadoria. Com isso, participantes que no
possuem interesse na mercadoria podem negociar no mercado, como o caso dos
especuladores, integrantes do mercado que sero analisados mais adiante.
Outra vantagem do mercado futuro em relao ao mercado a termo est
relacionada com a padronizao do produto. No mercado futuro, os agentes
envolvidos conhecem os produtos que esto negociando, pois so referenciados
pela bolsa. Isso torna a negociao mais transparente, alm de reduzir os custos
de transao. O mercado futuro tambm possui ajuste dirio, que so os crditos
ou dbitos nas contas dos agentes resultantes da variao positiva ou negativa no
valor das posies por eles mantidas. Este ajuste permite que qualquer uma das
partes envolvidas na transao possa se desfazer da operao a qualquer
momento, repassando-a para uma terceira parte.
O processo de formao de preos no mercado futuro transparente, ao
contrrio do mercado a termo, que definido e conhecido apenas pelas partes
envolvidas. A formao de preos no mercado futuro feita pela lei da oferta e
demanda, sendo divulgada para todo o mercado.
-
20
Dessa forma, o mercado futuro aprimorou o mercado a termo no que diz
respeito a algumas caractersticas que o aproximam do modelo de competio
perfeita, como homogeneidade do produto, otimizao do mercado e informaes
transparentes, permitindo, assim, que os preos possam se ajustar conforme as
leis de oferta e demanda. A Tabela 6 resume as principais diferenas entre os
mercados a termo e futuro.
Tabela 6 Diferenas entre os mercados a termo e futuro
Mercado a Termo Mercado Futuro
Negociaes dentro ou fora da Bolsa Negociaes apenas em Bolsa
Entrega fsica Entrega fsica ou liquidao financeira
Ativos customizados Ativos padronizados
Impossibilidade de se encerrar a
posio antes da data de vencimento
Intercambialidade de posies
Ausncia de ajuste dirio Presena de ajuste dirio
Os riscos devem ser compartilhados
pelas partes envolvidas
Operaes garantidas pela bolsa
Ausncia de transparncia de
informaes na definio dos preos
Transparncia de informaes na
definio dos preos Fonte: BM&F (2004).
Com o mercado futuro, o produtor tem como avaliar a viabilidade de
investimento em determinada cultura, comparando o custo de produo
conhecido e o preo que ele pode assegurar com a venda do produto a futuro na
Bolsa. Com a ampla divulgao dos preos, possvel saber se os preos a serem
pagos no futuro so compensadores ou no, j que neste mercado existem
agentes fechando negcios com vencimento para seis a oito meses frente. Um
produtor de arroz, por exemplo, sabedor de seus custos de produo, poderia ter
conhecimento hoje do preo que receberia pelo seu produto no futuro, decidindo,
assim, se ser vivel ou no o plantio do arroz nesta safra. Isso ocorrer caso o
produto seja negociado no mercado futuro.
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21
Apesar de todas as vantagens do mercado futuro, Souza (1998) ressalta que
o produtor encontra certa dificuldade para assimilar seus mecanismos,
principalmente pela existncia do ajuste dirio, que requer disponibilidade de
recursos do produtor para se manter atualizado, podendo ser solicitado a cobrir
diferenas a qualquer momento. Porm, este problema poderia ser resolvido com
a formao de cooperativas, que diminuiria a necessidade do produtor ter grandes
somas de recursos financeiros.
2.3 Participantes do Mercado Futuro Agropecurio
Para participar do mercado futuro, basta que a pessoa interessada seja
cliente de uma corretora de mercadorias, que por sua vez deve ser membro da
bolsa de futuros. Uma corretora participa do prego da bolsa atravs de seus
operadores de prego e, alm de ser responsvel pela execuo das ordens de
seus clientes, acompanha tambm as suas contas e sua posio junto cmara de
compensao, que garante as posies da corretora perante a bolsa.
A bolsa de futuro tambm deve ser encarada como um participante, pois
ela que oferece a infra-estrutura adequada para o bom funcionamento do
mercado. Seu papel o de fornecer um local onde existem facilidades para a
efetivao dos negcios e zelar pela eficincia, continuidade e transparncia das
negociaes.
Os hedgers so os agentes que detm a commodity ou querem possu-la e
comercializam no mercado fsico e futuro, buscando obter proteo contra as
oscilaes de preos. Aguiar (2003) ressalta que o hedger no est preocupado
com a obteno do lucro, mas sim em garantir o preo de compra ou de venda de
uma determinada commodity em uma data futura e eliminar o risco de variaes
adversas de preo.
De forma geral, segundo Marques e Mello (1999), os seguintes participantes
se encaixam no conceito de hedger:
a) Produtor rural: busca proteo contra queda de preos dos produtos
j estocados ou em produo;
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b) Indstria beneficiadora: objetiva proteo contra aumento no preo
da matria-prima ou decrscimo da matria-prima j estocada;
c) Exportador: necessita de proteo contra o aumento no preo da
matria-prima, j que possuem contratos de exportao assinados;
d) Importador: deseja proteger-se da baixa de preos que j foram
contratados para entrega futura, mas que ainda no foram recebidos.
Outro participante do mercado futuro e que recebe, muitas vezes, conotao
pejorativa o especulador. Este tem como principal objetivo a obteno de lucro,
atravs da compra ou venda de contratos, no se interessando diretamente pela
mercadoria fsica. O especulador, segundo Oliveira (1989), fundamental para o
bom funcionamento do mercado, pois gera liquidez atravs da compra e/ou venda
de um contrato de forma rpida e fcil, assumindo riscos e permitindo que o
hedger entre ou saia do mercado quando achar necessrio.
Resumidamente, a Figura 4 apresenta a estrutura de negociao no mercado
futuro, alm de mostrar como os participantes se relacionam.
Bolsa Futura
Vendedor
Corretora 1
EspeculadorCorretora 2
Comprador
Figura 4 Estrutura de Negociao nos Mercados Futuros Fonte: Adaptado de Marques e Mello (1999).
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O vendedor na Figura 4 geralmente representado pelo produtor ou
cooperativa, que pretende vender sua mercadoria e obter um seguro contra uma
baixa de preo numa data futura. O comprador geralmente representado pelo
beneficiador ou exportador, que pretende obter a mercadoria e se proteger de
uma elevao no preo. Ambos, vendedor e comprador, so chamados de
hedgers e entram no mercado, atravs de uma corretora membro, vendendo ou
comprando contratos futuros da mercadoria. A posio vendida (short) ocorre
quando se est vendendo contratos e a posio comprada (long), quando se est
comprando contratos.
Entre o hedger e o especulador encontra-se o corretor, responsvel por fazer
a intermediao entre as partes para que o contrato possa ser fechado. O corretor
d a ordem ao operador que se encontra no prego da bolsa e fecha o contrato de
compra ou venda futura. Em relao ao especulador, este pode entrar no mercado
comprando ou vendendo contratos. A sua deciso depender da expectativa que
possui em relao aos preos futuros da mercadoria. Dessa forma, o especulador
aumenta a liquidez do mercado, vendendo e comprando um contrato de forma
rpida e fcil. Ressalta-se que, para participar do mercado, o especulador tambm
deve estar vinculado a uma corretora, para que esta possa executar as ordens
dadas.
Por fim, h na Figura 4 a bolsa futura, que fica responsvel por dar
transparncia e eficincia ao mercado, alm de fornecer o local para que as
transaes entre compradores e vendedores ocorram. De forma alguma ela
participa do processo de formao dos preos. Dessa forma, a existncia da
bolsa futura que faz com que compradores e vendedores atuem no mercado para
alcanar os objetivos, sejam eles a simples proteo contra oscilaes de preos,
que objetivo principal dos hedgers5, ou a possibilidade de lucros, que o
objetivo do especulador.
5 O objetivo do hedger tambm pode ser lucrar com os movimentos da base (WORKING, 1953). Entretanto, entende-se aqui que seu principal objetivo ainda a proteo contra movimentos adversos de preos.
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3. REFERENCIAL TERICO
3.1 Teoria do Sucesso e Fracasso de Contratos Futuros
Diversos contratos futuros de commodities agropecurias tm sido lanados
ao redor do mundo, mas a grande maioria no obtm sucesso e acaba fracassando
pouco tempo depois. Carlton (1984) mostra que este risco de fracasso
considervel. No perodo de 1994-1998, segundo Brorsen e Fofana (2001), um
total de 140 novos contratos de commodities foram lanados ao redor do mundo.
Deste total, 81 contratos fracassaram antes de completar trs anos,
correspondendo a 58% do total. Silber (1981) estimou que entre dois teros e trs
quartos dos novos contratos fracassam por no atrair um nvel sustentvel de
volume negociado. Estes dados mostram que a introduo de um contrato futuro
um processo difcil e que demanda certo perodo de tempo para o seu
desenvolvimento e lanamento.
As primeiras abordagens sobre o sucesso e fracasso de novos contratos
procuravam analisar as caractersticas particulares de commodities especficas e
seus mercados fsicos subjacentes. O principal objetivo destes trabalhos era
analisar os motivos que levavam uma determinada commodity, ento j
negociada no mercado futuro, a no obter xito nesta negociao. Estes estudos
mostram que os fatores indicativos de liquidez do mercado, ou seja, o volume de
transaes no mercado futuro, funcionam como bons indicadores de sucesso ou
fracasso destes contratos.
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A importncia do volume de transaes justificada por sua relao com a
composio dos custos de negociao de contratos em bolsas. medida que
aumenta o nmero de participantes no mercado, os custos associados
negociao tendem a cair, pois so diludos por um nmero maior de pessoas.
Alm disso, dado um volume significativo de participantes nas negociaes a
futuro, h um ganho de liquidez, pois os agentes podero entrar e sair do mercado
com maior facilidade e rapidez. Dentre os estudos importantes utilizando o
volume de transaes como mtodo para medir o sucesso de uma commodity no
mercado futuro, destacam-se os trabalhos de Powers (1967), Sandor (1973),
Silber (1981) e Martell e Wolf (1987).
A varivel volume de transaes, no entanto, no pode ser medida quando
a commodity ainda no negociada a futuro, o que faz com que a anlise de
viabilidade recaia sobre a Teoria do Sucesso e Fracasso de Contratos Futuros.
Essa abordagem, comeando pelo trabalho de Black (1986), inicia-se com a
anlise das caractersticas necessrias da commodity e do mercado para se ter um
contrato futuro bem sucedido. Pennings e Leuthold (1999) complementaram esta
anlise pela incluso dos determinantes do processo de deciso dos potenciais
participantes do mercado.
Neste contexto, Pennings e Leuthold (1999) classificaram os determinantes
da viabilidade dos contratos futuros em fatores macro e fatores micro. Na
abordagem macro so levantados os fatores no subjetivos ou conjunto de
atributos fsicos que a commodity deve ter para ser comercializada a futuro. Estes
atributos, que tambm so incorporados por Brorsen e Fofana (2001), so
basicamente os mesmos delineados na anlise das caractersticas do ativo-base
(commodity) desenvolvida por Black (1986).
Na abordagem micro, so levantados os fatores subjetivos relacionados
percepo de risco por parte dos tomadores de deciso, ou seja, relativos a como
os investidores agem diante do risco. Como ressalta Aguiar (2003), ambas as
abordagens atuam para determinar a demanda e oferta de contratos futuros e,
consequentemente, o volume de transaes. Dentre os trabalhos que utilizam a
metodologia da Teoria do Sucesso e Fracasso de Contratos Futuros, podem-se
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destacar os trabalhos de Santos (2001), Siqueira (2003) e Gomes (2006). No
presente estudo, este ser o enfoque adotado para analisar a viabilidade do
contrato futuro de arroz no Brasil.
3.1.1 Abordagem Macro
Na abordagem macro, as variveis tidas como relevantes para determinar o
sucesso de um novo contrato futuro so descritas abaixo:
1) A commodity no deve ser perecvel e deve possibilitar a estocagem
Nos primeiros trabalhos encontrados na literatura, como os de Gray (1987)
e Sandor (1973), acreditava-se que a commodity deveria ser durvel, permitindo
seu armazenamento. O motivo era o fato de a estocagem ser responsvel por
permitir a alocao intertemporal dos produtos, induzindo a negociao de
contratos desenhados. Assim, como ressalta Santos (2001), quando a produo
for maior que a demanda, em que os preos de mercado seriam
conseqentemente mais baixos, a capacidade de estocar permitiria carregar esses
estoques para perodos em que os preos estivessem melhores.
Atualmente, o avano das tcnicas de armazenagem fez com que essa
varivel no fosse mais determinstica para o sucesso de um contrato, pois j
possvel estocar produtos altamente perecveis e, tambm existe a possibilidade
de se trabalhar com a liquidao financeira ou por diferena.
No caso de produtos que no permitem a armazenagem, como o caso de
sunos e bovinos vivos, os preos futuros podem funcionar como estimativas de
preo para o mercado vista. Isto ocorre, segundo Aguiar (2002), porque nos
mercados futuros h uma maior disponibilidade de informaes sobre o mercado
que tendem a ser incorporadas produo e comercializao.
Desta forma, Lazzarini (1997) afirma que o problema de estocagem est
mais relacionado com os custos elevados de armazenamento do que com a
possibilidade de estocagem. Isto acontece porque, dependendo do custo de
armazenagem, o detentor da mercadoria pode decidir entre comercializ-lo agora
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ou no futuro. Se o custo de armazenagem for elevado e no puder ser coberto
pelos preos futuros, no haver interesse em participar do mercado futuro.
Outro motivo para caracterizar a perecibilidade e possibilidade de
estocagem como fatores que no constituem empecilhos para o sucesso de um
novo contrato futuro o fato de menos de 3% das negociaes envolvendo
commodities agrcolas serem encerradas com a entrega da mercadoria. Assim, a
maior parte das posies encerra-se atravs de liquidao por diferena ou
financeira, no envolvendo a mercadoria objeto da negociao.
2) A commodity deve ser mensurvel e homognea
A homogeneidade, para Brorsen e Fofana (2001), definida como a eficcia
do sistema de classificao. Um sistema de classificao efetivo se as medidas
explicam adequadamente as diferenas qualitativas de valor entre as variedades
de commodities. Alternativamente, se a commodity no homognea, torna-se
difcil estabelecer um padro de entrega.
A dificuldade de padronizao gera incerteza aos participantes do mercado,
na medida em que estes no sabero qual produto est sendo de fato
comercializado e que tipo de produto ser entregue. A partir deste fato, pode-se
concluir, como ressalta Santos (2001), que quanto menos homogneo for um
ativo, maior ser a dificuldade de comercializ-lo a futuro. Black (1986) d como
exemplo o tabaco, que uma commodity cuja variao de qualidade to alta
que o sucesso de um mercado futuro de tabaco seria improvvel. Outra questo
importante est relacionada ao grau de dificuldade em se utilizar uma medida
padro de mensurao. Uma commodity de difcil mensurao permite o aumento
dos erros de avaliao do seu valor, exigindo que as bolsas estabeleam medidas
de controle que incorrem em custos elevados.
Entretanto, todos os problemas com padronizao e homogeneizao do
produto podem ser minimizados atravs da liquidao financeira, que procura
evitar a entrega fsica da mercadoria. A liquidao financeira consiste na
utilizao de um indicador de preos, visando promover um mecanismo de
administrao de risco que elimine a possibilidade de entrega fsica da
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mercadoria. Dessa forma, os produtos de difcil padronizao e mensurao
podem ser negociados no mercado futuro.
O fato da produo do arroz no Brasil ser dividida em dois tipos de sistema
de produo irrigado e sequeiro - que possuem caractersticas e qualidades
diferentes torna a varivel homogeneizao muito importante para definir a
medida de mensurao do produto
3) Os preos no mercado fsico devem ser volteis
A volatilidade dos preos tida como uma das mais importantes
caractersticas na determinao do sucesso de um contrato futuro. Isto acontece
porque a volatilidade pode alterar a oferta e a demanda da commodity,
aumentando o grau de incerteza dos preos num momento futuro. Na verdade, o
mercado futuro foi criado justamente para proteger os produtores de oscilaes
adversas do preo.
Os preos no mercado fsico devem apresentar volatilidades elevadas. Com
isso, o grau de incerteza dos preos dos mercados fsico e futuro aumenta,
representando um estmulo ao hedger, que almeja reduzir o risco de preo e ao
especulador, que deseja obter lucro com as variaes de preos. Portanto, quanto
maior for a volatilidade de preos, mais atraente sero os contratos futuros para
os hedgers e especuladores.
Por outro lado, Aguiar (2003) ressalta que a estabilidade de preos atrai
poucos investidores e hedgers, j que, no caso de pouca variao nos preos, o
ganho torna-se menor, diminuindo, assim, o interesse destes agentes em procurar
mecanismos de gerenciamento de risco. Essa situao pode levar a um baixo
nvel de volume de negcios e, conseqentemente, ao fracasso do contrato.
4) O mercado fsico da commodity deve ser amplo
Quanto maior o volume de produo, estoques e demanda ou quanto maior
o tamanho do mercado disponvel (volume comercializado, por exemplo),
maiores as chances de um contrato futuro ser bem sucedido, pois, neste caso,
haver um grande nmero de firmas com atividade suficiente para atuar na bolsa
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de mercadorias (SIQUEIRA, 2003). Se uma commodity tiver um mercado fsico
pouco expressivo, menor ser o nmero de firmas que atuam no mercado e,
consequentemente, menores as condies dos agentes de operar no mercado
futuro desta commodity.
No h um tamanho especfico que torne o contrato futuro vivel, mas
Marques e Mello (1999), a partir de estudos de Colling (1996), ressaltam que, a
fim de viabilizar um novo contrato, um volume de dois bilhes de dlares anuais
seria um patamar mnimo para viabilizar um mercado futuro.
Para Black (1986), existem pelo menos trs razes que justificam a
necessidade de um amplo mercado fsico da commodity. A primeira razo est
relacionada ao fato de que, quanto maior a oferta do produto, menor a
possibilidade de existirem estruturas dominantes no mercado. A segunda razo
mostra que, num amplo mercado fsico, a commodity tem um grande interesse
comercial, o que pode atrair mais hedgers para o mercado futuro. Por fim, a
ltima razo estaria relacionada s foras de oferta e demanda, que tendem a
alcanar um ponto de equilbrio quando o mercado fsico amplo. Neste caso, a
manipulao do mercado, ou seja, o desvio no processo de formao de preos
do padro competitivo, torna-se mais difcil de ocorrer.
5) Grau de atividade do mercado fsico
Conforme Siqueira (2003), um mercado ativo quando nele ocorre grande
volume de transaes de compra e venda da commodity em questo. Desta forma,
o preo no mercado fsico deve apresentar maior volatilidade, favorecendo a
negociao no mercado futuro. Brorsen e Fofana (2001) argumentam que
commodities sem um mercado fsico ativo provavelmente no teriam contratos
futuros ativos. Portanto, haveria uma correlao positiva entre o grau de
atividade do mercado vista e o volume de negociao num possvel contrato
futuro.
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6) O mercado no deve ter influncias de foras externas
O mercado deve aproximar-se ao mximo da competio perfeita para que
no haja influncia de foras externas na formao dos preos da commodity. A
ocorrncia de cartis, monoplios ou a influncia do governo so fatores que
podem afetar tanto os preos quanto a oferta da commodity, o que no
desejvel.
A interveno governamental pode constituir uma barreira ao
desenvolvimento do mercado futuro de arroz no Brasil, na medida em que as
regras de estoques e comercializao poderiam ser repentinamente alteradas,
gerando insegurana aos participantes do mercado. O governo tambm pode
oferecer proteo aos produtores, atravs de subsdios, preos mnimos, crdito
subsidiado, entre outros, o que acabaria por desestimular a procura por outras
fontes de gerenciamento de risco de preo.
Com o monoplio, a firma a prpria indstria, ou seja, um produto sem
substitutos prximos ofertado por uma nica empresa, sem que haja a
iminncia de surgimento de novos concorrentes. No oligoplio, a oferta do
produto concentra-se nas mos de um nmero pequeno de grandes empresas ou
produtores que controlam a oferta do produto (SIQUEIRA, 2003). Existem ainda
os cartis, que so um grupo de produtores que explicitamente concordam em
agir em conjunto na ao de determinao de preos e nveis de produo. Estas
imperfeies de mercado podem controlar tanto a oferta quanto os preos,
prejudicando, assim, a implantao do mercado futuro.
7) Integrao Vertical
As atividades agrcolas normalmente envolvem produo e processamento,
passando pelo atacado e varejo antes de chegarem ao consumidor final. A
existncia de integrao vertical, ou seja, de dois ou mais estgios sucessivos da
cadeia produtiva controlados por uma mesma firma, est negativamente
correlacionada com o sucesso de um contrato futuro (AGUIAR, 2003). Isto
ocorre basicamente por duas razes: primeiro, porque a integrao reduz o nvel
de concorrncia no mercado vista, eliminando as trocas contratuais ou de
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mercado; e segundo, porque a integrao elimina o risco de preo para os agentes
integrados, reduzindo a demanda por outros instrumentos de gesto de risco.
8) Falhas na contratao a termo
Como j descrito, h outros mecanismos, alm do mercado futuro, que
tambm cumprem o papel de transferncia de riscos, como o caso do contrato a
termo. Deste modo, a contratao a futuro s teria sucesso se os custos de sua
utilizao no suplantassem os custos de utilizao do contrato a termo (TELSER
e HIGINBOTHAN, 1977).
O contrato a termo tem sido uma alternativa vivel desenvolvida para nveis
mais evoludos de alguns mercados. Porm, os contratos a termo no so
substitutos perfeitos dos contratos futuros, pois naquele h o risco de os
participantes do outro lado da transao no cumprirem o contrato, j que so
contratos especficos, feitos sem intermediao. Nos mercados futuros, os
contratos so padronizados a fim de atrair um maior nmero de participantes,
aumentando a liquidez e reduzindo os custos de transao. H, ainda, a clearing
house, que elimina os riscos de quebra contratual.
Apesar de ter mais liquidez e reduzir os custos dos participantes do
mercado, Siqueira (2003) mostra que a implantao do contrato futuro poderia
incentivar a contratao a termo, pois alguns agentes poderiam negociar a termo
e tomar posies opostas no mercado futuro. Assim, a implantao de um
mercado futuro poderia ser prejudicada se a contratao a termo fosse mais
eficiente. Segundo Souza (1998), o contrato a termo tambm pode ser mais
vantajoso se o contrato futuro apresentar especificaes que no atendam aos
interesses dos hedgers em relao s especificaes do produto, data e local de
entrega, quantidade a ser entregue e preo.
9) Competio com outros contratos
Para verificar a viabilidade de um novo contrato futuro, Black (1986)
argumenta que deve ser observada a possibilidade de sua ocorrncia entre
contratos negociados em uma mesma bolsa ou em bolsas diferentes.
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A existncia de um contrato alternativo que possa ser utilizado no lugar de
um novo contrato pode minimizar os custos que seriam gastos na implantao
deste novo contrato. Alm disto, um novo contrato poderia concorrer com os j
existentes, o que faria com que um deles fracassasse. Black (1986) explicita a
questo do cross-hedging6, afirmando que se um contrato futuro j serve aos
interesses dos hedgers da commodity, em termos de reduzir os riscos dos custos
advindos da baixa liquidez de um novo contrato, ento uma inovao desta
commodity poderia fracassar.
Um novo contrato apresenta, quase sempre, menor liquidez que um contrato
existente. Assim, o cross-hedging pode inviabilizar o novo contrato implantado.
Portanto, se um contrato j existe como um substituto prximo, a reduo do
risco residual originada de um novo contrato destinado ao prprio hedging
possivelmente ser menor e no cobrir os custos de transao devido sua
menor liquidez. o caso do fracasso do contrato futuro de cevada, nos Estados
Unidos, que estava relacionado com a existncia de contratos futuros de milho
que ofereciam cross-hedging a menor custo (TOMEK e GRAY, 1970). Outro
exemplo o fracasso do contrato de tabaco, tambm nos Estados Unidos, que
estava relacionado com a existncia de contrato de algodo (BLACK, 1986).
3.1.2 Abordagem Micro
A abordagem micro consiste em verificar o processo de tomada de deciso
por parte dos usurios do mercado futuro considerado, analisando o interesse que
os agentes do setor orizcola tm por novos mecanismos de gerenciamento de
risco de preos. Essa abordagem ganhou fora com o trabalho de Pennings e
Leuthold (1999). De acordo com estes autores, a outra abordagem, ou seja, a
macro, oferece uma viso bastante ampla sobre a viabilidade de um contrato
futuro, evidenciando, desta forma, as condies necessrias para que se tenham
negociaes a futuro. Mas de nada adianta a commodity ter os aspectos
fundamentais para obter sucesso no mercado futuro, se no houver o interesse 6 Cross-hedging ocorre quando se tenta fazer hedge com contratos futuros de outro produto que no o ativo base negociado vista.
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dos participantes em negociar a commodity com freqncia e volume suficientes
para dar um mnimo de liquidez ao mercado. Assim, como ressalta Siqueira
(2003), para se ter sucesso em novos contratos lanados, necessrio estudar o
comportamento dos potenciais participantes destes contratos, procurando
identificar o grau de interesse e de averso ao risco destes participantes. Dentre
os aspectos estudados, os principais so os que se referem ao grau de
escolaridade, a idade do proprietrio, experincia com o produto, as principais
fontes de risco, o tamanho da propriedade ou empresa, entre outros, (PAROUSH
E WOLF, 1992; PATRICK et al., 1998; PENNINGS E LEUTHOLD, 1999).
Com esses aspectos, o sucesso de implantao de um contrato futuro de
arroz passa pelos aspectos comportamentais dos agentes envolvidos na cadeia,
pois, sem a participao destes, o contrato certamente fracassar.
3.2 - Lei do Preo nico e Integrao Espacial de Mercados
O mercado de arroz irrigado no Brasil restrito regio sul do pas. Porm,
em outros estados brasileiros h um nmero significativo de produtores de arroz
de sequeiro, os quais tambm poderiam participar normalmente do mercado
futuro de arroz, caso ambos os mercados fossem integrados.
Desta forma, para que um possvel mercado futuro de arroz possa abranger
um nmero ainda mais significativo de participantes dispostos a se protegerem de
condies adversas de mercado, os mercados de arroz irrigado e de arroz de
sequeiro devem ser integrados. Na ocorrncia desta integrao, os agentes da
cadeia de arroz de sequeiro, mesmo que em outras regies, podero participar
normalmente do mercado futuro juntamente aos demais, aumentando a chance do
contrato futuro de arroz obter sucesso, j que h o aumento da liquidez e do
volume negociado no mercado.
O conceito de integrao de mercados deriva da proposio da Lei do Preo
nico (LPU), que diz que bens idnticos so vendidos por preos equivalentes
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em funo das operaes de arbitragem7, aps descontar os custos de transporte,
barreiras comerciais e outras restries. O que garante a verificao da LPU so
as operaes de arbitragem. Por isso, como ressaltam Costa e Ferreira Filho
(2000), a LPU uma relao que se cumpre no longo prazo, sem excluir a
possibilidade de ocorrer desajustes de preos no curto prazo.
Os arbitradores asseguram que os preos de bens homogneos8 de quaisquer
localidades diferem, no mximo, pelo custo de transporte entre as regies de
menor preo para as de maior preo, ou seja:
BAAB CPP (1) em que PA e PB representam, respectivamente, o preo da mercadoria nas regies
A e B; CBA representa os custos de transao da mercadoria da regio A para a
regio B. Se houver regularidade no comrcio direto entre as duas regies, esta
relao dever ocorrer. Tal relao conhecida como condio de arbitragem
espacial (FACKLER e GOODWIN, 2000).
Se os preos divergirem entre as regies, as aes dos arbitradores tendem a
mover os preos de tal forma que a diferena entre eles se iguale aos custos de
transferncia.
A integrao espacial de mercados tambm pode ocorrer por meio da
transmisso indireta de preos, ou seja, no necessrio que duas regies tenham
transaes diretas de comrcio para que exista alto grau de integrao entre elas.
Choques de preos podem ser transmitidos indiretamente atravs da rede de
comrcio via ligaes existentes entre regies conectadas nessa rede
(NOGUEIRA et al., 2005).
Na literatura, segundo Fackler e Goodwin (2000), h t