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Mensagens Curtas
Para Meditação Diária
Silvio Dutra
Set/2016
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A474 Alves, Silvio Dutra Mensagens curtas./ Silvio Dutra Alves. – Rio de Janeiro, 2016. 182.; 14,8x21cm 1. Teologia. 2. Graça 3. Fé. I. Título. CDD 230
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Sumário
Boa Notícia de Alegria......................................
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Consciência...........................................................
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Buscar, Bater e Pedir.........................................
15
Como a Verdade de Deus é Autenticada? ........................................................
18
Quando o Clamor se Faz Mais Necessário.............................................................
21
Quebrantou-me o Senhor e Fiquei
Aliviado....................................................................
24
A Quem Devemos Perdoar? ..........................
26
A Grande Prova do Amor................................
29
Casamento é Coisa Muito Séria..................
32
Ainda Bem que o Nosso Modelo é Deus..
34
Não se Cobre o Mal com o Bem...................
36
Conivência em Vez de Compreensão......
39
Como Pode Haver a Fé Verdadeira Quando Não se Crê na Verdade?.................
41
4
Derramar de Coração....................................... 45
Resistindo a Tudo que Possa nos Afastar de Deus....................................................................
48
Estamos Vivendo o Cumprimento de
Miquéias 7..............................................................
53
Deus Julgará a Impiedade das Nações.....
62
Continuamente Mau.......................................
66
Ai de nós que Vivemos numa Geração
Ímpia! .......................................................................
70
Porque Devemos Perdoar...............................
72
O Caráter da Bênção da Liberdade do Cristão......................................................................
74
Não Podemos Medir Nossa Ira Pela de
Deus...........................................................................
80
A Obra de Deus É Dirigida por Ele...............
82
Guardando Todo o Coração..........................
85
Nosso Grande Trabalho é Guardar o Coração...................................................................
87
O Modo de Concessão da Graça.................. 94
5
O Bom Efeito da Tribulação...........................
96
Uma Aliança Firmada em Graça.................
103
O Amor Verdadeiro é um Paradoxo Aparente.................................................................
109
Uma Segurança Firme e Inabalável.........
111
Não Injuriemos Quem nos Injuria............
115
Socorro na Tribulação - SALMO 116.........
118
O Natural se Torna Anacrônico, Mas Não o Espiritual...................................................
121
Uma Consagração Parcial Não Dá..............
123
Guardados do Maligno mas Não de
Conflitos e Sofrimentos..................................
125
A Bênção Sacerdotal.........................................
129
A Bênção da Generosidade...........................
131
Uma Cura do Corpo e do Espírito................
134
Precisamos da Graça Para Andar na Verdade...................................................................
140
Por Que o Justo é Afligido?............................ 143
6
O Sacrifício de Jesus Não Dispensa a Obediência aos Mandamentos....................
155
Uma Justiça Ofertada para Injustos...........
159
Sem Obediência a Deus e à Sua Palavra
Não Há Vitória......................................................
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Boa Notícia de Alegria
O evangelho é a boa nova de alegria para a nossa
salvação, mas ele não deixa de apontar para o juízo eterno de Deus sobre o pecado, caso não
sejamos justificados pela fé em Cristo. Assim, o evangelho é apenas boa nova para os
que se convertem por meio da graça e mediante a fé, quando se arrependem do pecado. A graça evangélica que seria manifestada por Jesus sempre está associada à fé e ao
arrependimento, e a um caminhar condigno com a santidade de Deus.
Então é por isso que não vemos nenhuma das
epístolas escritas pelos apóstolos desobrigando os crentes de um viver santo e piedoso, sob a
alegação de não estarem mais debaixo da Lei e sim da graça do evangelho; porque sabiam que a
graça é daqueles que amam a vontade de Deus, que detestam o pecado e que amam a santidade. Foi para salvar estes que se arrependem que Cristo se manifestou. Ele morreu por todos os
pecadores, mas apenas aqueles que creem nEle e se arrependem podem ser beneficiados pela
Sua morte e desfrutar das bênçãos prometidas por Deus para o Seu povo.
Nós podemos ver estas verdades no capítulo 29
de Isaías, no qual Jerusalém é chamada pelo codinome de Ariel. E o capitulo é introduzido
pela expressão interjetiva “Ah!” como um
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suspiro, porque é relativa à cidade onde Davi acampou, isto é, onde ele estabeleceu a sua casa,
porque Jerusalém era chamada de a cidade de Davi.
Mas eles não andaram nos caminhos de Davi.
Não imitaram a sua devoção e piedade. Então é proferido o que o Senhor lhe faria.
São proferidas as assolações que lhes sobreviriam da parte de Babilônia, que a sitiaria
e a abateria (v.3,4), e eles se sentiriam como mortos que descem ao pó.
Muitos inimigos prevaleceriam contra Judá,
porque os babilônios viriam coligados a outros povos contra Judá, como por exemplo os
moabitas e amonitas (v. 5).
E como todos os juízos do Senhor, isto viria
repentinamente, como o ladrão, tal como nos dias de Noé, em Sodoma e Gomorra, e como
também será no tempo do fim, conforme Jesus afirmou.
Não é afirmado, portanto, na profecia, como
também não é no evangelho, que Deus está esperando bons frutos de árvores más.
Antes é dito que estas árvores más serão cortadas. Que as pérolas do evangelho não
devem ser lançadas a porcos. Que não se deve
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pregar a paz a uma sociedade corrompida, senão que há um juízo aguardando por aqueles que
não temem a Deus.
Deus deixa entregues a si mesmos aqueles que amam as trevas e não a luz. Aqueles que amam a
mentira e não dão ouvidos à verdade. Ele deixa os que resistem continuamente à Sua vontade,
entregues ao próprio endurecimento deles. Ele não lhes concede graça para que achem
arrependimento. E nem toca a trombeta de alerta para eles para que despertem do sono de
morte em que se encontram, como vemos afirmado nos versos 10 a 12.
Eles eram religiosos só de aparência. Eram
falsos piedosos em suas obras externas, mas não tinham o poder da piedade operando pela graça
em seus corações. Então a devoção deles não era em espírito e em verdade, mas uma adoração
falsa. Como se costuma dizer: da boca para fora, mas não de fato e de verdade.
Com isso o Senhor prometeu que faria,
portanto, uma obra maravilhosa com aquele povo hipócrita, com aqueles judeus que eram
apenas no nome, mas não no coração, não que consistisse em sinais e maravilhas externos,
mas em fazer com que a sabedoria dos seus sábios perecesse diante da glória sobre-
excelente do evangelho.
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O entendimento dos entendidos a seus próprios olhos nos assuntos da religião ficaria
obscurecido pela grande luz do evangelho, porque pelo Espírito Santo derramado no
coração dos crentes, eles discerniriam que a doutrina dos líderes de Israel não passava de
fumaça e de mandamentos de homens (v. 14).
Deus não se revelaria, portanto, aos sábios e
entendidos a seus próprios olhos, mas aos pequeninos, a saber, aos mansos (submissos à
Sua vontade), aos pobres de espírito, e por isso Jesus afirma que são estes os que são bem-
aventurados porque são aqueles a quem Deus se dará a conhecer, como também a Sua vontade.
Assim estes pequeninos que se converteriam ao evangelho não se alegrariam e não se gloriariam
em si mesmos e no seu conhecimento, mas unicamente no Senhor (v. 19).
Enquanto isto, os opressores, os arrogantes,
seriam reduzidos a nada, e todos os escarnecedores da verdade e todos os que se dão
à iniquidade, serão desarraigados, porque não serão eles que herdarão a terra, senão somente
aqueles que se deixam instruir por Deus, porque são mansos e pobres de espírito (v. 20).
11
Consciência
A consciência é uma das faculdades do espírito
humano – o tribunal instalado por Deus em todas as pessoas de modo a aprovarem o que é correto, e reprovarem o que é errado.
A consciência, entretanto, em razão do pecado
original, foi corrompida como todas as demais faculdades do espirito e da alma.
Em razão desta corrupção, em vez de ser naturalmente uma boa consciência, ela tende a
ser má, por funcionar aprovando o mal e reprovando o bem, e isto tanto mais, conforme a
influência do meio em que se vive, e dos valores inculcados pela família, pela cultura e pela
sociedade que são contrários à vontade divina.
Esta corrupção pode evoluir até o ponto de a consciência se tornar cauterizada, ou seja, insensível ou inexistente naqueles que
perderam o sentido dos valores e padrões morais e espirituais bíblicos.
Mas, uma consciência, segundo Deus, de modo geral, foi perdida por todos por causa do pecado,
e somente pela restauração em Jesus Cristo pode ser formada uma boa consciência que atue
em nós conforme o padrão da Palavra de Deus.
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Daí a importância da conversão e da meditação diária da Bíblia, e o progresso no conhecimento
de Jesus e da Palavra, porque quanto maior for este progresso, mais condizente se tornará a
nossa consciência com o caráter de Deus.
Literalmente, consciência significa conhecer juntamente, perceber juntamente, e no caso do nosso assunto significa um conhecimento
conjunto com Deus, ou seja, entender como Deus entende, perceber como Deus percebe.
E o propósito da consciência se cumpre quando este conhecimento se reflete nos nossos pensamentos e ações.
De nada vale ter uma boa consciência que reprove o mal, e aprove o bem, e que no entanto, o seu possuidor não age de acordo com a própria
consciência, agindo em sentido contrário daquilo que aprova ou reprova.
Agora, quando a Bíblia se refere a uma boa consciência o que está em foco é sobretudo a firme certeza e convicção da fé que se possui em
Cristo, notadamente no fato de que já não há mais nenhuma condenação para todo aquele
que nEle crê, e também a plena certeza e convicção da sua aceitação por Deus como filhos
amados.
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Daí a necessidade e importância de que o crente seja confirmado na fé e na Palavra imediata e
posteriormente à sua conversão, e esta era a razão de o apóstolo Paulo revisitar as igrejas que
fundara em suas viagens missionárias com o citado propósito, quanto a nunca duvidarem do
cuidado e da provisão de Deus para com eles.
Um crente que esteja confirmado na fé e na Palavra também terá um viver vitorioso sobre o pecado, o diabo e o mundo – o que é mais um
fator concorrente para que se tenha uma boa consciência.
Além de boa, tal consciência é tranquila e
confiante porque os terrores da condenação eterna e o medo de uma possível separação de
Deus são completamente extintos quando se possui uma firme confiança em Jesus Cristo e na obra que realizou em nosso favor.
Mas, como permanecem em nós os resquícios da natureza pecaminosa, enquanto aqui vivermos, convém que sempre façamos um
exame diário de nossa consciência, a saber, um autoexame para que possamos saber se estamos
sendo guiados na vereda da justiça divina ou não. Paulo fala em I Coríntios sobre o dever de
cada crente examinar a si mesmo.
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Para tanto, necessitamos de uma consciência sensível ao Espírito Santo, de modo a evitarmos
o que é mau e a escolher o que é bom.
Uma consciência endurecida ou cauterizada
não pode ser de qualquer ajuda para que façamos progresso em crescimento espiritual,
rumo ao amadurecimento que nos permitirá frutificar para Deus.
Assim, bem-aventurado é aquele que é humilde de espírito, ou seja, que está consciente do seu real estado – de ser possuidor de uma natureza
decaída no pecado, e da sua completa necessidade e dependência da graça de Cristo
para elevar-se do monturo de pó em que se encontra para os montes elevados do
conhecimento do que é espiritual, celestial e divino.
Quanto maior fica a nossa consciência da eternidade maior se torna o nosso interesse
pelas coisas relacionadas ao reino de Deus e a sua justiça; e o consequente desmame das
coisas deste mundo que são visíveis e passageiras.
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Buscar, Bater e Pedir
Em sentido bíblico geral estes três verbos
equivalem a procurar por Deus com insistência e fervor.
Deus não será achado se não for procurado.
Se não lhe pedirmos o Espírito Santo não o receberemos, nem tampouco veremos o
crescimento de nossas graças se não as buscarmos nele.
Pedir, bater, buscar são leis fixas do reino de
Deus para serem cumpridas pelos crentes.
Deus e suas bênçãos devem ser buscados em conformidade com os motivos corretos que Ele tem estabelecido em Sua Palavra.
Não seria de se esperar que fôssemos atendidos
ao pedir-lhe ou procurar por coisas que sejam condenadas por Ele ou que não estejam em conformidade com a sua santa e justa vontade
revelada na Bíblia.
Então ao dizer que encontraremos o que buscarmos, e que receberemos o que pedirmos
com fé, subentende-se que isto seja feito com uma fé pura e verdadeira, a saber, que seja
consoante o conteúdo e o tom das Escrituras.
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Deus jamais incentivará o nosso egoísmo e cobiça. Ele jamais atenderá aquilo que
buscamos por motivo caprichoso ou interesseiro. Ele somente nos dará o que for útil
para nós e para o progresso do evangelho.
Não somente nós pedimos a Deus, Ele também pede o nosso coração, a nossa consagração e
pede que sejamos responsáveis perante Ele dando-lhe conta de tudo o que pensamos ou
fazemos.
Esta é portanto uma via de mão dupla onde o que é solicitado e o que é recebido deve ser
inteiramente santo, justo e verdadeiro.
Daí o cuidado que deveríamos ter sobretudo nas
petições de nossas orações, de forma que estejam em conformidade com a mente do
Senhor, pois nos será pedido conta se orarmos negligente e irreverentemente, multiplicando
palavras que sejam uma abominação aos ouvidos de Deus.
Mesmo conhecendo de antemão o que se encontra em nosso coração o que proferiremos com os nosso lábios, Deus nos impõe o dever de
pedir-lhe o que desejamos para que seja conhecido por nós mesmos que é
voluntariamente que o fazemos, pois deve haver um consentimento mútuo, uma concordância
entre a nossa vontade e a de Deus.
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Ele nunca arromba a porta do nosso coração, por isso bate suavemente para que a abramos
voluntariamente para que Ele possa entrar.
Buscar o reino de Deus prioritariamente é muito
mais do que ter um simples intento ou desejo, pois isto demanda de nós grande esforço e
diligência em aprender e cumprir tudo o que nos é ordenado na Palavra de Deus. Esta busca
deve ser manifestada por conseguinte em atitudes bem definidas e em atos reais, e não somente em pensamento ou na imaginação.
Todavia, devemos buscar o próprio Senhor porque Ele nos criou para o propósito de ser
buscado e nos buscar para o estabelecimento de uma união íntima em amor. Vemos assim que
este é o grande motivo da busca, e não apenas para sermos justificados do pecado, e para a
solução de problemas cotidianos.
Uma relação amistosa e duradoura não pode ser mantida quando uma das partes deixa de procurar a outra. Da sua parte, Deus sempre está
nos buscando – busca adoradores que o adorem em espírito e em verdade, mas somos dados a
nos desgarrar e por isso deveríamos atentar para a petição do salmista: “Desgarrei-me como
a ovelha perdida; busca o teu servo, pois não me esqueci dos teus mandamentos.” (Salmo
119.176)
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Como a Verdade de Deus é Autenticada?
A verdade de Deus está revelada em Sua Palavra
escrita, ou seja, na Bíblia.
A prova da sua autenticação é realizada na vida de todos aqueles que creem nesta verdade
revelada, uma vez que tudo o que nela se afirma e se promete é cumprido e visto na vida dos que
creem. E tal cumprimento, particularmente no que se refere à santificação, se vê em maiores
graus naqueles que possuem um maior conhecimento e fé na Palavra divina.
Isto sucede em razão do que foi afirmado pelo
próprio Senhor Jesus Cristo: "As palavras que eu vos disse são espírito e são vida, (João 6.63), o que
confirma que de fato a palavra de Cristo é primeiro espírito e, em seguida vida – vida em abundância, a vida espiritual, celestial, divina e
eterna que procede dele mesmo para todo aquele que nele crê.
Os que creem chegam a conhecer que sem que haja uma atração de Deus Pai que nos conduza a ver com os olhos da fé a Jesus Cristo, jamais
poderiam ter dado a sua confiança e assentimento no coração à aceitação da Palavra
revelada como sendo verdadeira. Isto é feito, portanto, por uma operação poderosa espiritual
realizada pelo Espírito Santo para que possamos
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crer e sermos tomados pela vida espiritual que se encontra na pessoa de Jesus Cristo
Por saber que tal conhecimento espiritual
somente seria possível por esta forma retrocitada, nosso Senhor afirmou
expressamente que sua doutrina (ensino) não fora inventada por ele como sendo um mero homem, conforme era visto pelos escribas e
fariseus, mas que a mesma era de procedência divina, e que esta somente poderia ser
conhecida quanto à sua procedência por aqueles que efetivamente cressem nela como
sendo verdadeira e procedente de Deus, porque veriam o seu cumprimento em suas próprias
vidas.
E devemos destacar que a doutrina de nosso Senhor consiste principalmente na fé nele para
a nossa justificação, regeneração, santificação e glorificação, pela graça. E isto será visto na vida
dos que creem, confirmando a verdade da Sua Palavra.
Daí nosso Senhor ter afirmado o seguinte:
“Se alguém quiser fazer a vontade dele, pela mesma doutrina conhecerá se ela é de Deus, ou se eu falo de mim mesmo.” (João 7.17)
Concluímos, portanto, que Deus designou a Sua Palavra para ser o instrumento da nossa
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salvação, conquanto esta deve ser pela fé, e não seria fé se não fosse simplesmente por se
confiar naquilo que se ouve relativamente ao que não se vê, e conforme está escrito na Bíblia.
“De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus.” (Romanos 10.17)
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Quando o Clamor se Faz Mais Necessário
Nós vemos o salmista clamando a Deus por
libertação das profundezas em que se encontrava, no Salmo 130.
Tais profundezas eram certamente da alma, traduzidas em depressão, ansiedade, angústia, inquietação, ou qualquer outra causa que
conduza a alma a uma condição de extremo abatimento.
Caso ele não clamasse seria de se esperar que a sua situação se agravasse ainda mais, porque
em questões relativas ao espírito, um abismo chama outro abismo enquanto não recorremos
ao socorro divino.
Uma das principais razões para esta necessidade de se clamar a Deus prende-se ao fato de que Ele
não pode operar nas situações que impliquem a transformação de nosso caráter e conduta, a não
ser pelo nosso consentimento voluntário.
Se assim não fora, Deus poderia transformar
todos os ímpios e pecadores em santos, independentemente do concurso da vontade deles.
Além disso, a condição para a bênção do livramento e paz de nossas almas, consiste no
atendimento de pré-requisitos, notadamente
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aqueles que estão relacionados ao cumprimento dos mandamentos de Deus – da
busca de se fazer a Sua vontade – e isto não nos vem a não ser por uma operação direta do
Espírito Santo em harmonia com o nosso próprio espírito.
No campo de livramentos externos e físicos,
Deus pode e tem agido em todo o tempo, até mesmo no caso de ímpios, e de ausência de fé, e
independentemente da nossa vontade, porque, neste caso, não há o concurso da necessidade de
qualquer transformação interior.
Por exemplo, quando o apóstolo Pedro estava afundando nas águas do mar revolto e clamou
por socorro ao Senhor Jesus, cremos que ele teria sido ajudado, no sentido de ser livrado do
afogamento, ainda que por qualquer razão não tivesse podido clamar por socorro; pois se
tratava, como já nos referimos antes, de um livramento físico e não espiritual.
Agora, os temores, os pecados, a incredulidade
e toda e qualquer fraqueza de caráter de Pedro, somente poderiam ser tratados por uma busca
espiritual do apóstolo das graças espirituais que nos curam dos nossos males interiores.
Agora, quer em se tratando de livramentos físicos ou espirituais, faremos bem em sempre
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clamar a Deus, como fizera o apóstolo Pedro quando afundava no mar.
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Quebrantou-me o Senhor e Fiquei Aliviado
Quanto o nosso coração se dilata, e de lágrimas aquecidas de amor se nos enchem os olhos,
quando somos quebrantados pelo Espírito do Senhor, que nos revela quanto amado somos
por Deus, ainda que cheios de pecados.
Sim, de fato ama os pecadores... pobres... enfermos... injustos, que se dobram diante da
Sua majestade e santidade, reconhecendo a própria miséria e fraqueza.
Por isso, no anseio de alcançarmos a imagem do
que é divino, jamais nos esqueçamos do quanto somos humanos e imperfeitos, em nada diferentes do nosso próximo.
A mão divina está estendida e eu a beijo ainda quando por ela sou disciplinado.
Venha o Senhor e seja exaltado entre os pobres de espírito e que choram buscando ser
consolados.
Choremos sempre a nossa grande insuficiência porque por maiores que sejam nossas obras elas
são como nada e pequenas, e de fato o são, na presença da Santa Majestade do céu que tudo
com perfeição governa.
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Assim como os braços de Cristo se estendem para acolher o ladrão e a prostituta
arrependidos, e que a nenhum pecador condena nesta dispensação da graça, que assim
também todos os Seus servos estejam com seus corações abertos para receber a qualquer que
esteja debaixo da cruel servidão ao pecado.
Alegrias espirituais indescritíveis esperam por todos aqueles que usarem de misericórdia para
com o seu próximo, e que o conduza às veredas de justiça do coração do próprio Cristo, onde
achará paz, descanso, amor e bondade.
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A Quem Devemos Perdoar?
O exercício do perdão conforme ensinado e
demandado por nosso Senhor Jesus Cristo pode parecer, por uma interpretação precipitada,
algo que ultrapasse o racional e aceitável, especialmente por ter dito que devemos
perdoar não sete vezes, mas setenta vezes sete.
Evidentemente, tal princípio não foi estabelecido por Ele para o caso de
transgressores contumazes e que se deleitam na prática do mal. Até mesmo porque não haveria
qualquer sentido lógico em se perdoar quem pouco ou nada está interessado em ser
perdoado – e que, ao contrário... sua meta é ofender, destruir, inquietar, matar, e achar
nisto tudo um bom motivo de prazer sem que nada lhe incomode a consciência má e
cauterizada.
Por isso, nosso Senhor interpôs a necessidade de arrependimento sincero para a concessão do
perdão.
Ele disse:
“Acautelai-vos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.
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Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo, dizendo: Estou
arrependido, perdoa-lhe.” (Lucas 17.3,4)
Porque o “acautelai-vos”? Justamente para não sermos achados em falta diante de Deus por não
perdoarmos quem deveria ser perdoado.
Veja que, segundo o ensino de nosso Senhor, o faltoso deve ser repreendido. Ele deve sr conscientizado do mal que praticou – se a nós ou
a outros.
Caso manifeste sincero arrependimento, ou seja, se mudou o seu comportamento,
confessando-se arrependido, então temos o dever de perdoá-lo, uma vez que nós mesmos
necessitamos ser perdoados por outros e por Deus, não poucas vezes, pelos erros que
cometemos.
Num mundo de pecadores, o perdão sincero e de coração é necessário, especialmente para
uma boa continuidade do relacionamento em amor entre aqueles que amam a justiça e não a
impiedade.
Portanto, perdoe seu irmão, seu filho, seu cônjuge, seu amigo, seu próximo, por algum
mal que tenha praticado, quando se encontrava sob circunstâncias de pressões internas
(sistema nervoso abalado etc) ou externas
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(ataque de demônios, provocações ímpias e desagradáveis etc).
O caráter de uma pessoa não deve ser medido por estes atos falhos que nos acompanham - e em uns mais do que em outros, variando na
escala dos setenta vezes sete. Não importa o nível da frequência. O que importa é a real
estrutura do caráter e o desejo de buscar a paz que é filha da verdade e da justiça, e que tem em
vista o amor não fingido.
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A Grande Prova do Amor
Uma das grandes provas da existência de Deus e do Seu grande amor e poder, é o fato de que
pessoas tão fracas, incapazes, que mal conseguem se ocupar dos seus próprios
problemas e necessidades, se dediquem de modo tão diligente e incansável em buscar a
salvação das almas e o bem eterno de seus semelhantes; empenhando nisto todo o seu
tempo e vida.
Esquecidos de si mesmos são impulsionados
pelo poder de Deus e pelo infinito amor que Ele derrama nos seus corações pela presença e ação
do Espírito Santo - gastam-se inteiramente como velas que queimam para o único propósito de servirem de luz, da luz de Jesus que neles
brilha, para tirarem os seus semelhantes das trevas e da escravidão ao pecado.
Bendito seja Deus pelo Seu inefável amor.
Bendito seja Deus que dá sentido às nossas pobres vidas, enriquecendo-as com a Sua graça para que cumpramos o Seu propósito de amar a
humanidade através de instrumentos tão fracos e imperfeitos como nós.
A maior prova desse amor nos foi dada por Jesus, ao derramar a Sua vida por nós na morte de cruz,
carregando sobre Si todos os nossos pecados, e
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para que pudéssemos continuar recebendo esta vida celestial e divina que alimenta e vivifica o
nosso espírito, para que possamos ter comunhão em amor com Deus e com todos
aqueles que o amam.
É de fato muito comprobatório da existência do Seu amor, o fato de que morreu por pecadores,
sem que houvesse um único justo - alguém que fosse dotado de uma natureza que não o
inclinasse continuamente para o mal e que não fosse seduzido pelas paixões carnais que
guerreiam contra a alma.
Nisto se comprova o amor, pois morreu por nós, encontrando-nos na condição de pecadores, de
modo que pudéssemos viver pela Sua própria vida e graça santificadora.
Em nenhuma religião e em nenhum outro Nome será achada esta provisão de graça divina
que faz morrer a nossa velha natureza e que nos dota de uma nova natureza, para que por esta
possamos viver de maneira vitoriosa sobre o pecado, o diabo e o mundo de trevas.
Quando me sinto enfraquecido e inclinado a viver segundo a carne e não segundo o Espírito, eu clamo ao Senhor, pois sei que posso contar
com a assistência da sua poderosa graça, de modo que digo juntamente com o salmista ao
concluir o Salmo 119:
31
"Ando errante como ovelha desgarrada; procura o teu servo, pois não me esqueço dos teus
mandamentos." (Salmo 119.176)
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Casamento é Coisa Muito Séria
O principal momento do chamado casamento
religioso é quando os nubentes fazem o voto de fidelidade sobretudo perante Deus, que é o instituidor, protetor e condutor do matrimônio.
Como tudo o mais em nossa vida, o casamento é
também para a exclusiva honra e glória de Deus.
Daí ser, primeiro e principalmente com o próprio Deus, o compromisso que temos como cônjuges quanto à perseverança em
permanecermos juntos até que a morte nos separe, esforçando-nos para o cumprimento
adequado de todos os nossos deveres conjugais, especialmente dos que se encontram na Bíblia.
Ser fiel na doença, na pobreza, nas dificuldades de toda ordem, servindo, amando e cuidando
um do outro, preservando o vínculo do matrimônio, na unidade requerida pelo Senhor,
para a honra do Seu nome, e para o próprio bem dos cônjuges, dos filhos, e da sociedade.
Deus odeia o divórcio, porque ele é, antes de tudo, uma quebra do voto de fidelidade que
fizemos para com Ele, de fazermos do casamento um sinal da união indissolúvel que
há entre Cristo e a Igreja.
33
Não importam os motivos alegados para a separação (exceto no caso de relações sexuais
ilícitas por parte de um dos cônjuges, que pode quebrar o vínculo matrimonial)... o que deve
prevalecer é manter a união por amor a Deus, ao cônjuge, aos filhos.
Assim, o casamento é muito mais do que assumir responsabilidade civil na sociedade perante os homens, porque, é antes de tudo uma
grande responsabilidade que temos para com Deus, a quem teremos que prestar contas um
dia, de todos os nossos pensamentos, ações e omissões, no Tribunal de Cristo.
34
Ainda Bem que o Nosso Modelo é Deus
O apóstolo Paulo exorta os crentes em sua epístola aos Efésios a serem imitadores de Deus
como filhos amados.
Pois é somente Ele o modelo que nos é dado para que moldemos o nosso comportamento
segundo o Seu caráter justo, santo e amoroso.
Se fôssemos olhar para o exemplo dos líderes deste mundo, que com o passar do tempo mais
se corrompem, quer nas esferas dos poderes executivo, legislativo e judiciário, quer sejam os
pais, os professores, os policiais, enfim, em todos aqueles que deveriam ser exemplo de
liderança e autoridade, acharíamos algum motivo para também nos corrompermos.
Todavia, como devemos nos comparar com Deus e com Ele somente, porque será a Ele que prestaremos contas de tudo o que fomos e que
fizemos enquanto no mundo, então somos incentivados a melhorar sempre o nosso
testemunho de vida, embora tudo esteja ruindo ao nosso redor em grande corrupção moral.
Lembremos que nosso Senhor Jesus Cristo profetizou que nos últimos dias o amor de muitos esfriaria em razão da multiplicação da
iniquidade em todo a Terra.
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Podemos ser tentados a permitir que o nosso amor esfrie em razão de não considerarmos
dignos de nossa afeição aqueles que vivem na prática do mal. Entretanto, importa que não seja
assim, porque é pela longanimidade e paciência que muitos deles serão alcançados por Cristo,
pelo testemunho de amor e santidade que virem em nossas próprias vidas.
Que a graça de Jesus nos capacite a isto!
36
Não se Cobre o Mal com o Bem
Uma grande e importante verdade que poucos conhecem é que a justiça de Deus exige de nós,
para que possamos ser aceitos por Ele e participarmos da Sua vida, conformidade
absoluta com a Sua perfeita santidade por todos os dias e segundos de nossas vidas, desde o
nascimento até a morte.
O mal deve ser punido e o bem deve ser
recompensado. Um não pode ser tomado pelo outro. Um não pode apagar o outro.
Disto se depreende que a justiça divina não pode ser satisfeita, portanto, por nossas obras de caridade, ou por quaisquer outros atos que
julguemos bons, para cobrir nossos erros e falhas.
Deve ser lembrado também, na consideração do que é absolutamente justo, que Deus não leva
em conta somente nossas ações, mas também nossas atitudes, intenções, pensamentos,
palavras e omissões.
Vemos assim que se Jesus não nos fosse dado para ser a nossa JUSTIÇA, ao pagar a dívida de todos os nossos pecados morrendo em nosso
lugar na cruz, carregando sobre Si mesmo toda a nossa culpa, estaríamos irremediavelmente
perdidos para sempre.
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A justiça que pode agradar a Deus, segundo os homens, entende somente a retribuição do mal
com castigos, ou a compensação do mal com boas obras; e a recompensa do bem – a
propósito, é nisto que se funda a teoria da reencarnação; mas Deus vê a justiça de outra
forma quanto a poder se relacionar conosco: Ele nos dá Jesus Cristo – pois pune todo o nosso pecado nEle - para que recebamos dEle a graça
que nos justifica, somente mediante a fé, e para que estejamos unidos a Ele em espírito, pois Ele
fez tudo o que era necessário para que pudéssemos ser aceitos por Deus apesar de
sermos pecadores – nisto, Deus não nos está dando nenhuma compensação pelo mal que
praticamos, mas exercendo o livre favor de Sua soberania e bondade, perdoando-nos todas as
nossas dívidas e nos recebendo como filhos amados para sempre – é justo que assim o faça
porque castigou todos os nossos pecados em Jesus, quando morreu em nosso lugar.
Glórias a Deus por Seu grande amor e Sua grande bondade e misericórdia, pelos quais
preparou para nós um Caminho para que pudéssemos voltar para Ele, sem precisarmos
contar com a nossa própria justiça, pois vivemos pela Justiça de um outro, a saber, a de nosso
Senhor Jesus Cristo.
E uma vez tendo entrado neste Caminho estreito, começamos a ter um real interesse por
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um viver verdadeiramente justo e santo, e isto nos é concedido pela santificação que é operada
pela Palavra de Deus sendo aplicada em nós pelo poder do Espírito Santo.
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Conivência em Vez de Compreensão
Nosso Senhor Jesus Cristo transitou livremente
sem qualquer preconceito entre prostitutas e ladrões, mas não para exaltar a prostituição ou o
furto, aos quais ele condenava como a qualquer outro tipo de pecado ou comportamento imoral.
Não se deve confundir portanto, como é costumeiro ocorrer, amor e respeito ao pecador, com consentimento com o pecado que
ele pratica.
Ao perdoar pecadores Jesus costumava lhes dizer que não se entregassem mais a um viver
pecaminoso dali por diante, para que não lhes sucedesse coisas piores, especialmente no dia
do grande juízo de Deus quando os homens prestarão contas até mesmo de uma palavra
ociosa que tiverem proferido, quanto mais de práticas pecaminosas que Deus abomina,
conforme Ele se expressa em relação às mesmas na Bíblia.
Não há nada portanto de falta de preconceito ou discriminação naqueles que não cometendo determinados pecados, aprovam aqueles que os
praticam, e até mesmo se orgulham em fazê-lo, pensando que são muito bondosos e
compreensivos. Ao contrário, são coniventes com o mal, e incentivam a continuidade e
aumento deste, para a própria condenação e
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também a daqueles que encorajados pelo seu apoio e aprovação, não se arrependem e não
procuram viver virtuosamente, conforme Deus requer de todos nós.
“Não aborrecerás teu irmão no teu íntimo; mas repreenderás o teu próximo e, por causa dele, não levarás sobre ti pecado.” (Levítico 19.17)
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Como Pode Haver a Fé Verdadeira Quando Não se Crê na Verdade?
Alguém quando criança, ou então até que tivesse chegado à idade do entendimento,
costumava ouvir, na igreja que costumava frequentar, que o evangelho consistia em que os
homens não se dirigissem aos cultos sem usar terno, e que as mulheres não usassem vestidos
modernos ou usassem batom, maquiagem, enfim, que não se adornassem, porque isto é um
grave pecado diante de Deus.
Dizemos, com apoio nas Escrituras que isto, e todo tipo de recomendação de igual teor, não é
pecado e nem mesmo Evangelho.
O grande problema é que muitos ficam escandalizados, como não poderia ser de modo
diferente, com tal tipo de ensino que nada tem a ver com o ensino de Jesus e dos apóstolos, e
acabam tendo aversão ao que não chegaram a conhecer de fato, a saber, a genuína mensagem
do evangelho e em que consiste a verdadeira vida cristã.
É preciso que cada um, de per si, faça um exame acurado, com espírito reverente, de tudo o que está contido nas Escrituras, e especialmente no
Novo Testamento, para que, por meio da instrução do Espírito Santo, uma vez tendo
nascido de novo, obtendo uma nova natureza
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celestial e divina, possa conhecer e viver o que é de fato o Evangelho de Jesus Cristo.
Outro grande impedimento para o acesso à verdadeira fé por parte de muitos, é que deram crédito à grande mentira de que a Bíblia foi
inventada pela imaginação dos homens, e que portanto, sendo de autoria humana, está cheia
de erros e não corresponde à verdade em relação às coisas que são efetivamente de Deus.
A isto respondemos em primeiro lugar com o próprio Pentateuco, ou seja, os cinco primeiros
livros da Bíblia (de Gênesis a Deuteronômio) que foram escritos por Moisés, e cuja autoria foi
atestada pelo próprio Jesus Cristo, conforme vemos no Evangelho. E quem era este Moisés?
Ele foi o escolhido de Deus para conduzir a nação de Israel do Egito para a terra de Canaã, e
foi o instrumento ao qual revelou a Sua vontade e a história da criação da humanidade desde o primeiro homem, a queda no pecado, e a forma
pela qual o pecador seria resgatado da condenação eterna decorrente do pecado.
Quando nos voltamos para o Novo Testamento, no qual o Velho tem o seu significado e razão,
encontramos o próprio Deus, na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo, revelando-nos que Ele viera a
este mundo para que pudéssemos ser livrados pela fé nEle, da condenação do pecado e do
diabo, bem como para sermos santificados pelo
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Espírito Santo e pela Palavra revelada que seria registrada no Novo Testamento, como o temos
ainda hoje há cerca de dois mil anos.
E o Novo Testamento foi escrito pelos apóstolos do Senhor, e estes registraram os Seus atos e
palavras, e foram diretamente instruídos por Ele acerca do significado do Evangelho que
deveriam pregar e ensinar para que os pecadores fossem salvos.
Ora, se rejeitamos portanto, este único ensino que corresponde à exata revelação de Deus, quer através de Moisés, dos profetas que
falaram das coisas que se cumpririam em Cristo, e ainda, do próprio Deus Filho, em
pessoa, quando esteve na Terra, encarnando a Verdade e a Graça, que foram comunicadas aos
apóstolos por palavras e pelo ensino do Espírito Santo, como poderemos ser salvos?
E ainda, que sentido Jesus faria para alguém que não crê que Ele veio ao mundo para que sejamos
justificados, regenerados e santificados, por pensar que não há vida depois da morte, ou
mesmo que voltará a reencarnar em outra pessoa no futuro para continuar sendo aperfeiçoado através de sucessivas
reencarnações?
Ele veio para remover a nossa culpa no aqui e agora e para sempre. Ele veio para que
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comecemos a ser santificados desde o momento em que nos convertemos a Ele. Por isso morreu
na cruz no nosso lugar e está se oferecendo a si mesmo para ser a nossa JUSTIÇA, para que
sejamos justificados diante da santidade absoluta de Deus. É portanto, somente nEle que
podemos achar a remissão e o perdão de todos os nossos pecados, e sermos feitos filhos e herdeiros de Deus.
Todos nós estaríamos em grandes trevas eternas, se o próprio Senhor Jesus não nos atraísse a Si, e removesse o nosso
endurecimento e cegueira, para que possamos ver e participar das coisas espirituais que são
relativas ao Reino de Deus. Graças eternas portanto, ao Seu grande Nome.
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Derramar de Coração
Ah Senhor amado de minha alma...
Que eu não tenha inveja dos homens malignos, nem queira estar com eles,
porque o seu coração maquina violência, e os seus lábios falam o mal.
Tenho aprendido contigo que mais poder tem o sábio do que o forte, e o homem de conhecimento, mais do que o violento.
Sei que se me mostrar fraco no dia da angústia, a minha força será pequena, porque é preciso
honrar-te mantendo firme a esperança de que serás a minha força na minha fraqueza.
Livra Senhor... os que estão sendo levados para a morte e salva os que sequer sabem que estamos
todos mortos em espírito na tua presença, quando não temos a vida de Jesus Cristo
habitando em nós.
Como poderia esconder de ti as minhas faltas, pois pesas corações e tudo sabes, antes mesmo
que eu formule qualquer pensamento.
Dá-me pois sabedoria espiritual para que possa vigiar meu coração e mente, e confessar-te
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todas as minhas transgressões, de modo que não me sejam ocultas.
Confio inteiramente na tua graça e misericórdia para com os pecadores, dos quais eu sou o
principal.
Torna a alegrar-me com a tua alegria, para que te cante louvores de todo o meu coração.
Pois tenho andado em humildade na tua presença, e tenho perdoado a todos os meus
ofensores, e intercedo pelo bem dos que me injuriam.
Tu sabes que não me alegro com a ruína de qualquer pessoa, e que o meu coração se
compadece dos que andam vencidos pelo pecado.
Não busco coisas elevadas para mim, não me interesso por riquezas terrenas ou fama. Minha
alma abomina a lisonja, pois sei muito bem que nada sou. Tu és o meu tudo, a minha única
herança e esperança.
Fortalece-me então Senhor, para que eu glorifique o teu santo nome na Terra, pelo testemunho da operação tua graça em minha
vida.
Outro bem não espero a não ser que possa ser em tuas mãos uma bênção para o meu próximo.
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Faze prevalecer o amor e o bem em cada coração que nesta hora faz juntamente comigo esta
oração.
Abençoa nossas vidas, nossos lares, nossos amados e até mesmo os nossos inimigos, para que se saiba que em ti há somente o bem, e
nenhuma treva ou mal.
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Resistindo a Tudo que Possa nos Afastar de Deus
Em dias de tantos falsos profetas, pastores,
mestres e cristos que se apresentam com propostas para “melhorarem” as condições de
vida da sociedade em que vivemos, devemos ter muito bom senso e discernimento espiritual
para não cairmos nas armadilhas destes traficantes de promessas que oferecem
liberdade, paz e prosperidade, quando eles próprios se encontram em completa prisão,
tormenta e ruína espiritual diante de Deus.
Devemos vigiar e nos acautelar deles para que não sejamos achados desviados da presença do
Senhor e dos Seus mandamentos.
O que a sociedade pós-moderna chama de cultura e liberdade, Deus chama de
abominação. Sexo livre, funk, uso abusivo de drogas, adultérios, fornicações, baladas,
luxúrias, glutonarias, bebedeiras, jogatinas, e coisas como estas podem ser classificadas de
expressões de liberdade?
A Terra está cheia de violência, assassinatos, furtos, roubos, corrupção, desmando de
autoridades, enganos, traições, rebeliões, guerras, e poder-se-ia chamar a isto de dias de
prosperidade e de paz?
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Como pode a boca daquele que não conhece a paz de Cristo oferecer a paz? Como podem
aqueles cuja soberba lhes acusa abertamente, serem humildes diante do Senhor?
Que os crentes não se deixem portanto, enganar por estes que lhes acenam com promessas com o intuito de lhes afastar dos
caminhos do Senhor.
Estes apelos nos vêm de todas as formas, especialmente através de meios virtuais com mensagens diretas ou subliminares. O encanto
dos diversos sedutores que estão a serviço de Satanás, conscientemente ou não, se apresenta
em todo o mundo para atrair almas inconstantes e incautas. É tempo então de orar e
vigiar em todo o tempo conforme o Senhor nos ordena em Sua Palavra, para que sejamos
achados de pé perante Ele.
O sétimo capítulo do livro do profeta Oséias revela a grande influência que têm as capitais das nações, e os centros onde se concentra o
poder político, porque quando o Senhor se dispunha a fazer uma cura em Israel,
especialmente no meio rural, este era contaminado por toda a iniquidade da principal
tribo de Israel onde se encontrava a capital de Samaria, onde a falsidade e a maldade,
especialmente encontradas na corte junto aos
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príncipes, fazia com que a iniquidade se espalhasse por toda a nação.
Grandes centros chamados culturais são usados estrategicamente pelo diabo para contaminar
regiões e nações inteiras.
Quando a iniquidade se multiplica a este nível, Deus e a própria ideia sobre um Deus que julga são lançados para longe do coração e mente das
pessoas.
Elas passam a cogitar que Ele não se importa com a maldade delas, porque não se veem juízos sendo aplicados imediatamente a cada falta
cometida.
A alegria carnal da corte de Samaria, regada a vinho, com a qual os príncipes e o rei se alegravam constantemente, era uma inspiração
para que praticassem a maldade, especialmente para multiplicar os adultérios dos cortesãos; e
de igual modo o mau exemplo dado pelos governantes de nossos dias é um incentivo para
o desregramento da sociedade como um todo.
O vinho os aquecia em suas luxúrias carnais como alguém que acende um forno, e que atiça as suas chamas até que o pão seja colocado nele
para assar.
Efraim havia se misturado a tal ponto aos costumes das nações pagãs, que não mais se
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podia distinguir em Israel nada do que fosse diferente delas.
Se guardavam algo do culto devido ao Senhor, isto era apenas por uma parte, sendo que a outra
de seus corações estava ligada aos costumes de tais nações.
Então é dito deles que era como um bolo que não foi virado, ou seja, estava cozido apenas de um dos lados, sendo impróprio para ser usado por
Deus.
Eles haviam misturado o culto do Senhor com o de Baal, dos sidônios.
E nunca mais foram livrados disto em seus corações, a par de todas as reformas que foram tentadas para livrá-los desta idolatria.
Esta mistura com os costumes estrangeiros lhe havia roubado a força espiritual que tinham no
Senhor.
Estavam endurecidos em sua soberba carnal, e com isto se recusavam em reconhecer a necessidade de voltarem para o Senhor, porque
estavam debaixo de uma aliança com Ele que previa castigos em caso de desobediência, tanto
quanto bênçãos em caso de obediência.
Em vez de colocarem sua confiança no Senhor, procuravam se fortalecer política e
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militarmente fazendo alianças com nações estrangeiras, como a Assíria e o Egito, mas eram
como uma pomba enganada, que não sabia reconhecer qual era o seu verdadeiro lugar de
repouso.
Todavia, o Senhor não lhes permitiria que
consumassem o seu engano, porque lhes apanharia com a sua rede, como se apanham as aves do céu, e os faria descer para serem
castigados por Ele, conforme os juízos que proferiu contra eles através dos Seus profetas.
Como haviam voltado suas costas para Deus e fugido dEle e do cumprimento da Sua vontade,
se rebelando contra Ele, seriam destruídos, porque se tivessem buscado ao Senhor seriam
libertados por Ele, mas preferiram continuar falando mentiras contra Deus.
Não Lhe clamavam de coração, mas davam uivos em suas camas, isto é, por causa de suas
aflições, somente para verem atendidas suas necessidades imediatas e cobiças de seus
corações carnais. Choravam por suas perdas e não pelos seus pecados.
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Estamos Vivendo o Cumprimento de Miquéias 7
Nosso Senhor Jesus Cristo profetizou que nos últimos dias, por se multiplicar a iniquidade na
Terra, o amor se esfriaria de quase todos (Mt 24.12).
A palavra iniquidade no referido texto de Mateus é no original grego anomia, ou seja,
violação da lei de Deus – literalmente significa “a (sem), nomos (lei)”. De modo que esta
multiplicação da iniquidade se refere ao comportamento da sociedade que não condiz
com os valores morais e espirituais da Palavra de Deus, notadamente com os mandamentos de
Cristo.
Nós tivemos vários exemplos desta condição que temos vivido em nossos dias, na história da nação de Israel no período do Velho
Testamento, notadamente no período dos Juízes e dos Reis. E mesmo quando o Senhor lhes
proveu de reis piedosos, justos e santos como Ezequias e Josias, por exemplo, a iniquidade
havia se espalhado de tal forma na nação, que nenhuma das medidas por eles tomadas para
conduzir o povo a um proceder reto se mostrou eficaz, porque o pecado e o desejo de transgredir
os mandamentos de Deus estavam arraigados em seus corações. Se homens de Deus que eram
verdadeiramente piedosos não puderam trazer
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de volta o povo a um proceder justo, quanto mais isto não nos virá da parte de governantes ímpios,
que é o caso presente em todas as nações do mundo, inclusive em Israel.
O aumento da iniquidade dos israelitas chegou
a tal ponto, especialmente nos dias dos últimos reis, que não continuariam somente sendo entregues pelo Senhor à opressão de nações
inimigas, como também lhes expulsaria da terra que lhes havia prometido por herança. Nisto
temos evidenciado o que ocorrerá ao mundo, por causa desta multiplicação de iniquidade que
temos testemunhado em nossos dias, pois Deus desarraigará o ímpio da Terra por ocasião da
segunda vinda de Jesus.
O profeta Miquéias descreve no início do sétimo capítulo do seu livro, a que ponto cresceria a
iniquidade em Israel e em Judá, quando fossem levados para o cativeiro.
Toda a vontade de Deus seria subvertida, de modo que o que se veria em Israel e em Judá, seria justamente o oposto de tudo aquilo que é
ordenado em Seus mandamentos.
Não haveria homens piedosos e retos no povo do Senhor, senão somente a prática do mal,
especialmente pelos próprios líderes da nação.
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A tal ponto chegaria a iniquidade, que ninguém poderia crer num amigo ou confiar num
companheiro, de forma que a prudência de se manter a boca fechada, seria recomendada
mesmo diante daqueles que fossem mais íntimos, tal seria a predisposição deles para
serem dirigidos pelo mal.
Quando a iniquidade se multiplica Satanás governa os corações e os conduz conforme seu
próprio querer, independentemente do grau de parentesco ou de amizade, produzindo
infâmias, traições, maledicência, e até mesmo a prática da violência, contra pessoas que antes
eram amadas e estimadas.
“2 Pereceu da terra o piedoso, e não há entre os homens um que seja reto; todos espreitam para
derramarem sangue; cada um caça a seu irmão com rede.
3 As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus
desejos de sua alma, e, assim, todos eles juntamente urdem a trama.
4 O melhor deles é como um espinheiro; o mais reto é pior do que uma sebe de espinhos. É chegado o dia anunciado por tuas sentinelas, o
dia do teu castigo; aí está a confusão deles.
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5 Não creiais no amigo, nem confieis no companheiro. Guarda a porta de tua boca àquela
que reclina sobre o teu peito.
6 Porque o filho despreza o pai, a filha se levanta contra a mãe, a nora, contra a sogra; os inimigos
do homem são os da sua própria casa.” (Miq 7.2-6).
Veja se não é exatamente isto o que temos vivido presentemente?
O que fazer então? Dar de ombros? Fechar os olhos? Cruzar os braços? Não. De modo algum. Entretanto não devemos nos iludir com a
melhora deste quadro nestes últimos dias da grande apostasia que antecedem a
manifestação do Anticristo. Os que são santos, continuem a se santificar e sendo cidadãos
exemplares num real testemunho de vida reta e honesta, sustentando a pregação do evangelho,
pois aqueles que são injustos se tornarão cada vez mais injustos (Apo 22.11).
Assim, o profeta Miquéias aponta o caminho para aqueles, que tal como Ele, perseverassem em seguir ao Senhor.
Deveriam olhar para Ele e esperar no Deus da salvação deles, porque Ele os ouviria, e ainda que viessem a cair, o Senhor não daria motivo
para que seus inimigos se alegrassem a respeito
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deles, pois o Senhor os levantaria, e os tiraria das trevas para a Sua luz.
Desde que houvesse arrependimento sincero,
com confissão do pecado a Deus, Ele julgaria a causa destes que se voltassem para Ele, e
executaria o seu direito, de modo que os tiraria das trevas para a luz, para verem a Sua justiça.
Esta justiça graciosa e misericordiosa que está disponível no Senhor confunde os inimigos do
Seu povo, que não podem entendê-la.
Eles permanecem debaixo dos seus pecados, porque não confiam na justiça de Deus com a
qual somos justificados, a saber, a justiça do próprio Cristo.
É preciso ter muito cuidado na condição de ministros do evangelho, para não tentarmos conduzir as pessoas que nos ouvem a uma
justificação que não seja a de Cristo, que é somente por fé, e que é instantânea.
Ao contrário, não devemos conduzi-las a uma justificação falsa, que não ocorrerá, e que seja decorrente de nossos discursos moralistas, que
apontam o pecado; não para efeito de produzir arrependimento e a busca de Deus, mas
somente a condenação dos outros para que nos sintamos melhores e superiores a eles, julgando
possuir de nós mesmos uma justiça maior do
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que a deles, quando na verdade não a possuímos, ou então, que esteja sendo aplicada
contrariamente ao propósito de Deus de salvar os pecadores.
Assim, quando a misericórdia de Deus fosse
manifestada em toda a Sua plenitude, quando o remanescente de Israel fosse achado reinando em glória juntamente com o Messias no
milênio, as nações ficariam ainda mais estupefatas do que antes, porque na sua justiça
legalista, baseada no mérito humano, jamais poderão compreender a justiça de Deus, que
está baseada na Sua misericórdia, e exclusivamente nos méritos de Cristo, e não nos
nossos.
Jerusalém de odiada que foi e será, especialmente nos dias do Anticristo,
manifestará uma glória ainda maior do que a que tivera antes.
Seus muros serão reedificados, e suas fronteiras aumentadas.
O mundo de pecado será julgado por causa de suas más obras, quando da vinda do Senhor, mas
o Seu retorno, para Israel, significará livramento e restauração (v. 11 a 13).
O Senhor apascentará o Seu povo, fazendo maravilhas para livrá-lo das assolações do
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Anticristo, tal como havia feito nos dias de Moisés quando os livrou do Egito.
De fraco, perseguido e oprimido que era, Israel virá a ser forte no Seu Deus; e honrado por Ele,
será motivo de temor para as nações inimigas, que ficarão caladas e pasmadas, em face de todo
o bem e poder que o Senhor tiver concedido ao Seu povo.
“7 Eu, porém, olharei para o SENHOR e esperarei no Deus da minha salvação; o meu
Deus me ouvirá.
8 Ó inimiga minha, não te alegres a meu
respeito; ainda que eu tenha caído, levantar-me-ei; se morar nas trevas, o SENHOR será a minha
luz.
9 Sofrerei a ira do SENHOR, porque pequei contra ele, até que julgue a minha causa e execute o meu direito; ele me tirará para a luz, e
eu verei a sua justiça.
10 A minha inimiga verá isso, e a ela cobrirá a vergonha, a ela que me diz: Onde está o SENHOR, teu Deus? Os meus olhos a
contemplarão; agora, será pisada aos pés como a lama das ruas.
11 No dia da reedificação dos teus muros, nesse dia, serão os teus limites removidos para mais
longe.
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12 Nesse dia, virão a ti, desde a Assíria até às cidades do Egito, e do Egito até ao rio Eufrates, e
do mar até ao mar, e da montanha até à montanha.
13 Todavia, a terra será posta em desolação, por causa dos seus moradores, por causa do fruto
das suas obras.
14 Apascenta o teu povo com o teu bordão, o rebanho da tua herança, que mora a sós no bosque, no meio da terra fértil; apascentem-se
em Basã e Gileade, como nos dias de outrora.
15 Eu lhe mostrarei maravilhas, como nos dias da tua saída da terra do Egito.
16 As nações verão isso e se envergonharão de todo o seu poder; porão a mão sobre a boca, e os
seus ouvidos ficarão surdos.
17 Lamberão o pó como serpentes; como répteis da terra, tremendo, sairão dos seus esconderijos
e, tremendo, virão ao SENHOR, nosso Deus; e terão medo de ti.
18 Quem, ó Deus, é semelhante a ti, que perdoas a iniquidade e te esqueces da transgressão do
restante da tua herança? O SENHOR não retém a sua ira para sempre, porque tem prazer na
misericórdia.
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19 Tornará a ter compaixão de nós; pisará aos pés as nossas iniquidades e lançará todos os
nossos pecados nas profundezas do mar.
20 Mostrarás a Jacó a fidelidade e a Abraão, a misericórdia, as quais juraste a nossos pais, desde os dias antigos.” (Miq 7.7-20)
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Deus Julgará a Impiedade das Nações
Um só é o Juiz e Senhor de Toda a Terra.
Quando a medida da iniquidade das nações de
nossos dias estiver completa, o Senhor trará os juízos que estão determinados por Ele em várias
passagens da Bíblia, e dos quais, o que fora profetizado e cumprido sobre a Assíria, através
do profeta Naum é um grande alerta para as nações que se enriquecem à custa das suas
pilhagens, enganos e violência, ainda que o façam não tanto mais pela força das armas, mas
através de expedientes modernos de manipulação financeira e política.
O Senhor tem um juízo contra essas nações, tal como tivera contra Nínive no passado.
Por isso tem determinado um dia em que as reunirá no vale de Megido, sob o Anticristo, para que tanto ele, quanto elas, recebam a devida
paga pelas suas iniquidades.
Está determinado pelo Senhor que o homem não prevalecerá pela força ou pelo engano, de
modo que todo povo ou nação que tiver buscado se engrandecer por este caminho, virá a
sucumbir perante Ele, tal como fizera no passado em relação a muitas nações poderosas,
para que servissem de ilustração, do exemplo
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que não deve ser seguido pelas nações que desejem de fato prosperar e serem abençoadas.
Nós podemos ver no 3º capitulo de Naum que a iniquidade de Tebas era menor do que a de Nínive, e no entanto, ela havia sido submetida a
um juízo do Senhor, quanto mais então a Assíria não poderia dar como certo o dia da visitação da
Sua iniquidade? Como poderia então o Senhor deixar impune toda a impiedade que é praticada
por muitas nações de nossos dias?
Foi pronunciada uma aflição (ai!) contra a cidade ensanguentada de Nínive, isto é, que
havia se fortificado com o derramamento de sangue de muitos povos conquistados.
Eles haviam feito montões de cadáveres e se regozijavam nisto, gloriando-se das enormes pilhas de ossos daqueles que haviam sido
assassinados por eles.
E estes que haviam sido mortos por eles, foram vendidos pelos oráculos de feiticeiras e
meretrizes, que indicavam aos reis assírios, sendo usadas pelo diabo, quais as nações que
deveriam ser subjugadas e a forma de crueldade que deveriam usar contra elas, para rapiná-las,
e tudo isto fizeram para aumentarem a própria riqueza e prestígio delas junto aos príncipes de
Nínive.
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Então, a sentença do Senhor contra eles não poderia ser outra senão a que lemos nos versos
5 a 7:
“5 Eis que eu estou contra ti, diz o Senhor dos exércitos; e levantarei as tuas fraldas sobre a tua
face; e às nações mostrarei a tua nudez, e seus reinos a tua vergonha.
6 Lançarei sobre ti imundícias e te tratarei com desprezo, e te porei como espetáculo.
7 E há de ser todos os que te virem fugirão de ti, e dirão: Nínive esta destruída; quem terá
compaixão dela? Donde te buscarei consoladores?”
Nínive buscaria se refugiar do inimigo quando este viesse contra ela, mas não poderia achá-lo,
porque seria sitiada, de maneira que é aconselhada na profecia a juntar água no
interior de suas portas para poder resistir ao tempo do cerco que seria levantado contra ela.
Suas tropas ficariam atemorizadas e retidas no interior da cidade sem poderem resistir à invasão de Babilônia, que queimaria todas as
portas de Nínive.
Os príncipes fugiriam para as campinas, bem como os assírios seriam espalhados pelos montes, sem poderem se organizar em ordem
de batalha, porque os líderes procurariam, cada
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um de per si, salvar a própria pele deles, ao perceberem que seria vã qualquer tentativa de
resistência ao poder do inimigo.
A ferida que lhes seria feita, da parte do Senhor, seria incurável, de modo que todos os que haviam sido oprimidos pelos assírios, ao
ouvirem o que lhes havia sucedido, se regozijariam batendo palmas sobre a ruína
deles, porque reconheceriam nisto um justo castigo por toda a maldade que eles haviam
praticado.
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Continuamente Mau
“Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era
continuamente mau todo desígnio do seu coração;” (Gênesis 6.5)
Nossa natureza terrena corrompida pelo pecado nos acompanhará até o dia da nossa morte – esta
natureza está sempre disposta e inclinada para o mal – por isso não fazemos continuamente o
bem que queremos, e fazemos continuamente o mal que não queremos – continuamente, não
como sendo ininterrupto, mas como algo que sempre se manifestará de modo intermitente em todas as pessoas, ainda que mais em alguns
do que em outros.
Esta continuidade é definida pela nossa incapacidade absoluta de permanecer na prática do bem em todo o tempo, por todos os
dias de nossas vidas, porque assim como a força da gravidade puxa todas as coisas naturalmente
para baixo, nossa natureza corrompida pelo pecado é dotada de hábitos, desejos, inclinações
e disposições que sempre nos puxam para baixo, e é impossível, portanto, permanecer
praticando, pensando, imaginando, sentindo e desejando somente aquilo que esteja de acordo
com a vontade de Deus e seus mandamentos. E isto se aplica também a cristãos, que são
renascidos do Espírito Santo, e que são dotados
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portanto de uma nova natureza espiritual, celestial e divina.
É comum se pensar que as pessoas que são
muito espirituais e que são notórias em sua santificação cotidiana, estão livres dessa
condição de miséria da natureza terrena da qual todos somos dotados. Ao contrário, quanto mais
santificado alguém for, mais conhecerá a profundidade da malignidade da natureza terrena, em seu próprio coração, e saberá o
quanto Jesus é o seu tudo para tudo, o único salvador e libertador da condenação eterna,
pois por mais santos que sejamos estamos sempre carregados de pecados – pecados que
são até mesmo involuntários porque a natureza terrena pulsa involuntariamente assim como o
nosso coração de carne – não estando portanto sujeita até mesmo ao exercício da nossa vontade
para não produzir o que seja pecaminoso, pois tal natureza possui as suas peculiares e
inerentes inclinações, disposições e hábitos, que são sempre contrários à Lei de Deus e à sua
vontade – em suma, em nós mesmos estamos perdidos, carregados de pecados diários e
contínuos – esta é uma fonte amarga que pode ser interrompida pela fonte da nova natureza
divina recebida na conversão, mas é impossível parar de todo o seu fluxo, de modo que sempre
se verá na nossa água cristalina da nova natureza espiritual algo da insalubridade da
fonte da natureza terrena – enquanto na
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comunhão com Cristo o coração está purificado de todo pecado e injustiça – mas qualquer
brecha na comunhão e logo a velha natureza se levanta e nos conduz àquele estado ruim de
alma que nos incapacita a viver de modo agradável a Deus – é fácil então concluir porque
é a Cristo que deve ser dada toda a glória, honra e louvor.
“20 E dizia: O que sai do homem, isso é o que o contamina.
21 Porque de dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a
prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios,
22 a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a inveja, a blasfêmia, a soberba, a loucura.
23 Ora, todos estes males vêm de dentro e contaminam o homem.” (Marcos 7.20-23)
“Sem mim nada podeis fazer”, o Senhor Jesus
afirma de forma incisiva e clara a nossa completa dependência dEle para sermos
justificados, perdoados, regenerados, santificados e por fim glorificados, pois não há
quem não peque, como temos demonstrado em razão da natureza que carregamos e que nos leva
a clamar juntamente com o apóstolo Paulo: “miserável homem que sou, quem me livrará do
corpo dessa morte?”. E respondemos também
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imediatamente com ele: “Graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo”.
À luz destas considerações somos levados a
concluir que quando nosso Senhor dizia a algumas pessoas logo depois que as salvava por
causa da fé nele – “vai e não peques mais” - o significado deste “não peques mais”
corresponde a dizer em outras palavras: “tenha por alvo não dar acolhida ao pecado e não ceder
à tentação, daqui por diante. Mantenha-se em guarda, seja vigilante e ore incessantemente”;
pois, mesmo depois de salvo, nenhum cristão possui em si mesmo o poder de jamais voltar a
pecar, e daí dizer o apóstolo João que se dissermos que não temos pecado, mentimos. Mas o mesmo apóstolo nos ordena, segundo é a
vontade de Cristo, a não vivermos mais pecando, ao contrário, devemos lutar contra os
nossos pecados e confessá-los a Deus para sermos perdoados e purificados. Ou seja, não
devemos ter uma atitude de impassibilidade diante da fraqueza da nossa natureza terrena
(que Jesus chamou de carne fraca), mas devemos mortificá-la por um constante andar
no Espírito, sabendo que há em nós esta inclinação natural que é continuamente má, e
que pode ser subjugada somente pela nova inclinação espiritual recebida na conversão a
Cristo.
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Ai de nós que Vivemos numa Geração Ímpia!
O homem é produto do meio em que ele vive. Somos influenciados pelo chamado instinto
gregário pela nossa condição de ser social. A sociedade em que vivemos exerce uma
influência poderosa sobre o nosso modo de pensar e agir.
Nossas crenças, valores e comportamento são moldados espontaneamente pelo que vemos,
ouvimos, e por aqueles com os quais convivemos. Então, ai de nós!
Vivemos num mundo onde especialmente a
música, os filmes e programação de TV, a literatura, seja de livros, periódicos e jornais,
encontra-se eivada de toda forma de comportamentos obscenos, violentos, impuros
etc, em que é plenamente justificado o uso da vingança, da traição, da “esperteza”, da
malandragem, e tudo o mais que é condenável pela própria natureza.
Isto é tão sutil que tem penetrado até mesmo a vida daqueles que se dizem religiosos, uma vez
que quando tal estado de coisas prevalece, até mesmo o ensino religioso ou apoia estes
procedimentos iníquos ou silencia acerca deles, por ter a consciência ficado embotada a tal
ponto, que se desconhece o que é devido à
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obediência verdadeira a Deus, notadamente quanto ao que se refere à gentileza, ao perdão,
ao amor ao próximo, inclusive aos inimigos, à paciência sob injúria e perseguição, na prática
do bem a todos sem qualquer distinção. Quão difícil tem sido viver de modo piedoso e
reto, conforme profetizado na Bíblia quanto aos dias da multiplicação da iniquidade em todo o mundo!
De quanta vigilância, oração e meditação na Palavra de Deus necessitamos, para não sermos
participantes desta falta de amor santo e piedoso que tem se espalhado por toda parte
numa velocidade espantosa.
“1 Sabe, porém, isto: nos últimos dias, sobrevirão tempos difíceis,
2 pois os homens serão egoístas, avarentos,
jactanciosos, arrogantes, blasfemadores,
desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, 3 desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem
domínio de si, cruéis, inimigos do bem,
4 traidores, atrevidos, enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus,
5 tendo forma de piedade, negando-lhe,
entretanto, o poder. Foge também destes.” (II Timóteo 3.1-5)
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Porque Devemos Perdoar
Com a chamada parábola do credor
incompassivo Jesus ensinou que Ele perdoa dívidas, ainda que sejam de dez mil talentos, e
que não seremos abençoados por Deus, e na verdade seremos sujeitados ao juízo de sermos
corrigidos e disciplinados até que nos disponhamos a ser longânimos e
perdoadores, ainda que a dívida que tenhamos que perdoar de alguém seja pequena como a do
homem da parábola, que mandou prender quem lhe devia apenas cem denários (18.23-35).
Veja que não se fala de perdão barato na Bíblia, apesar de ser sempre pela graça, porque
sempre está implícita a necessidade de arrependimento do ofensor. Na falta deste
arrependimento não há qualquer sentido no perdão.
Jesus pagou por nós a nossa dívida de dez mil
talentos, e é por isso que somos isentados por Deus de pagá-la, se temos crido em Seu Filho
como sendo o nosso fiel Fiador.
Assim como fomos perdoados tão extensamente, se exige de nós, em nossa
própria esfera limitada, perdoar as pequenas dívidas e ofensas que alguns dos nossos
semelhantes têm para conosco. Deus em Sua perfeita majestade e santidade é
ofendido por todos e por muitas vezes, e ainda
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assim sempre se mostra perdoador e misericordioso para com todos os que se
arrependem.
Assim, a sua esfera para o perdão não é limitada como a nossa, ao contrário, é de dimensão infinita. Todavia, se mostra sempre favorável ao
exercício do perdão. Na condição de que sejamos seus imitadores, se requer de nós que o
sejamos sobretudo nesta parte, pois se refere à proposta principal do evangelho que está
relacionada ao perdão dos pecadores para a sua reconciliação com Deus. Assim, como
poderíamos anunciar o evangelho sem uma completa disposição para perdoarmos os nossos
ofensores?
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O Caráter da Bênção da Liberdade do Cristão
É somente pela permanência na vida espiritual que é operada pela fé, e que cresce na provação
da fé, que se pode ser mais do que vencedor na prática da vida cristã diária, e não apenas por
mero conhecimento doutrinário.
A doutrina verdadeira deve ser praticada, senão as graças que existem em nós, estão prestes a
morrer (desaparecer), tal como havia ocorrido com a Igreja de Sardes (Apo 3.1,2).
Contudo quem é suficiente para estas coisas? Então eles perderam também de vista a
necessidade de se estar debaixo da influência do Espírito Santo, praticando a Palavra de Deus
(andar no Espírito) para que então, estas coisas ordenadas pelo Senhor possam ser cumpridas e
vividas.
A liberdade cristã não é liberdade para a carne, mas liberdade para a nova criatura.
A carne deve ser mortificada, e por isso foi crucificada juntamente com Cristo quando Ele
morreu na cruz do Calvário (v. 24).
A nova criatura, esta sim, é livre, ela é celestial e não terrena.
Ela é responsável e perfeitamente santa. É a
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semente da vida eterna que foi semeada no coração do cristão.
É a nova vida do céu que foi implantada nele, e
que está destinada a crescer e a vencer a antiga natureza, assim como a Nova Aliança revogou e
substituiu a Antiga.
Ela é o odre novo no qual o Senhor está
colocando o seu vinho celestial da verdadeira alegria.
É por viver e andar no Espírito, no crescimento
progressivo da nova natureza, que os cristãos são habilitados e capacitados a viverem em
unidade, sendo um só corpo em Cristo, unidos pelo vinculo do amor.
Somente assim se cumpre o propósito de Deus
em relação a eles.
Porém, quando se deixam governar pela carne, e negligenciam os deveres que lhes são
ordenados na Palavra, quando deixam de ser diligentes no hábito da santificação,
esquecendo de purificar seus corações pela Palavra, pelo poder do Espírito, e de
permanecerem continuamente nisto por todos os dias das suas vidas, então o que se verá são
todas as manifestações que são designadas por obras da carne (dissensões, iras etc) e não o
fruto do EspÍrito, que é amor, paz etc.
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Os que andam na carne jamais cumprirão a Lei, e se iludirão se pensarem que a estão
cumprindo.
Ora, se Deus sentenciou à morte a carne com suas paixões e cobiças na cruz, como podem os
cristãos viverem, debaixo desta influência, em vez de se despojarem de tudo isto, uma vez que a
vontade de Deus é que este corpo de morte de pecado não seja apenas morto, mas também
lançado fora?
A nós é dado o dever de fazermos este trabalho de despojamento pelo Espírito Santo, em vez de
hospedarmos o velho homem que já foi morto desde o dia que nos convertemos a Cristo e
passamos a pertencer a Ele.
Deste modo quanto mais uma igreja se torna carnal mais ela estará sujeita à influência das
falsas doutrinas.
Elas serão recepcionadas com muito maior
facilidade, porque é somente sendo espirituais que podemos discernir não somente estas
coisas, porque o homem espiritual discerne todas as coisas, principalmente as coisas que são do Espírito, porque elas se discernem
espiritualmente.
Portanto é nosso dever nos interessarmos por
esta luta do Espírito contra a carne, para
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apoiarmos a parte que deve ser apoiada, e destruir a que deve ser despojada.
Paulo fala disto como sendo o dever não somente dos gálatas, mas de todos os cristãos.
Se é por um andar no Espírito que se vence a cobiça da carne, então devemos nos empenhar
firmemente em não apenas aprender o significado disto, como também o modo correto
de praticá-lo.
A vida cristã não é uma vida contemplativa, não
é uma mera devoção mística, porque é possível ser isto e estar completamente distante da
verdade revelada.
Antes é uma vida que deve ser aprendida. É uma
prática, é um hábito, é um constante crescimento na graça e no conhecimento de
Jesus.
Por isso, para dissuadir os gálatas das suas falsas convicções, Paulo argumentou fortemente com
eles dizendo que se é pelos pecados, que os praticantes deles que os amam e não pretendem
deixá-los, serão deixados do lado de fora do céu, como podem os cristãos, que ganharam o céu
por Jesus Cristo, permanecerem na prática destas mesmas obras pecaminosas?
É portanto, dever de todos eles purificarem seus
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corações pela Palavra, mediante o poder do Espírito.
É somente na Palavra revelada que os cristãos
podem portanto achar segurança para ficarem livres dos erros satânicos, e de juízos errados
relativos à verdade.
Veja o que o apóstolo nos ensina sobre a luta que existe permanentemente entre a carne e o
Espírito, e vice- versa:
"Porque a carne luta contra o Espírito, e o
Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis." (Gál
5.17).
Observe que ele afirma que a carne e o Espírito se opõem mutuamente para que não façamos o
que seja do nosso querer. O que ele quis dizer com isto?
É que na verdade tanto a carne quanto o Espírito
lutam contra a lei natural da nossa mente, e contra as disposições da nossa alma. Isto é, tanto
um quanto o outro, pretendem ter o domínio da nossa vontade e de todo o nosso ser.
A carne pretende nos levar a pecar ainda que
não o queiramos; e o Espírito Santo pretende
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nos santificar e levar-nos a viver não pelo que é propriamente da nossa vontade, mas por aquilo
que é da vontade de Deus.
Então o Espírito não luta contra a carne para que seja feito o que seja do nosso querer, mas para
que a vontade de Deus possa se cumprir em nós. O Espírito procurará nos levar portanto à cruz
para que a carne possa ser crucificada com as suas paixões e desejos (Gál 5.24).
Jesus diz que as Suas palavras são espírito e
vida (João 6.63). Isto é, elas não são mera letra, e não devem ser captadas, apenas pela mente
como tal, mas deve ser buscada a realidade para a qual elas apontam.
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Não Podemos Medir Nossa Ira Pela de Deus
Não podemos medir a nossa ira pela ira de Deus,
porque a ira do Senhor é perfeitamente justa e santa, e é Ele que tem o poder de julgar
as consciências humanas e executar uma sentença de condenação sobre elas. A nós, não
foi dada tal autoridade, ao contrário, somos ordenados a não passar este tipo de juízo
condenatório definitivo nos outros, para que não sejamos julgados com a mesma medida que
julgamos. E quão difícil e delicado é viver isto. Por isso devemos examinar este assunto nas
Escrituras, para podermos aplicar em nossas vidas a vontade de Deus quanto à diferença que
há entre uma ira justificada e santa, e uma ira não justificada e não santa.
Lembremos que Moisés não estava em rebelião contra Deus, mas o povo de Israel sim, e
murmuraram contra Ele. Mas quando Moisés descarregou a sua ira contra eles em
Refidim, quem foi julgado por Deus naquela ocasião foi o próprio Moisés, e não eles. A
Moisés, o ter se irado contra eles e batido na rocha, custou ser proibido de entrar em Canaã,
ainda que tivesse insistido com o Senhor para entrar na terra prometida. Moisés não foi
julgado pelo Senhor porque se irou contra o pecado dos israelitas, porque a sua ira era
justificada e santa, mas porque não conteve a
81
sua ira, quando Deus não estava exercendo nenhum juízo sobre eles, e portanto cabia-lhe
seguir o exemplo do Senhor naquela situação.
Se tivesse de passar algum juízo, ele deveria passar o juízo determinado por Deus, e não agir
pela própria conta. Há um grande ensino para nós naquele incidente. O que faltou a Moisés foi
longanimidade. Veja que problema é isto quando ela falta aos líderes da Igreja de Cristo. Se nós formos perder a nossa tranquilidade de
mente por causa do pecado de alguns crentes da nossa Igreja ou de outras, nós nunca poderemos
ter paz com Deus, porque o diabo sempre usará isto contra nós. É preciso pois ser sempre
longânimos, porque sempre haverá o joio entre nós.
É preciso pois aprender do mesmo exemplo de longanimidade de Cristo e dos apóstolos,
especialmente os líderes do povo de Deus, para que não venhamos a destruir a obra que Ele nos
tem designado para dirigir, por causa de um destemperamento que não nos permita sermos
longânimos para com todos, conforme é necessário, para que em meio a todas as
dificuldades que venhamos a encontrar no caminho no nosso relacionamento com as
pessoas que Deus tem colocado debaixo do nosso cuidado, especialmente para que aquelas
dificuldades criadas por Satanás, não venham a pôr a obra do Senhor a perder, por falta da
nossa longanimidade.
82
A Obra de Deus É Dirigida por Ele
Uma obra que é genuinamente de Deus será conduzida e governada por Ele próprio, e nós
seremos apenas Seus instrumentos. Enquanto fazemos muitos planos e procuramos
prevalecer em muitas frentes que não foram planejados e abertos pelo Senhor, ainda
estamos fazendo a nossa obra e não a dEle.
A obra de Deus é dirigida por Ele, e somente por Ele. Josué é general mas deve se submeter ao
Príncipe dos exércitos do Senhor. Ao generalíssimo dos Seus exércitos tanto do céu,
quanto da terra. E Jericó deve ser subjugada pelos planos de guerra que recebermos de Suas
mãos em inteira submissão a Ele, tal como fizera Josué.
Assim é todo aquele que guarda o seu coração
porque será diligente no trabalho de Deus, porque o terá recebido dEle próprio. Não estará
fazendo a sua própria obra, mas aquela da qual foi encarregado pelo Senhor a fazer, tal como a
que Neemias fez em Judá.
Esta pessoa não será confundida pela falta de pensamentos, e a sua língua não estará presa
pela falta de palavras. Deus dará abundantemente ministrações àqueles que
andam humildemente na Sua presença,
83
guardando o coração deles incontaminado do mal.
O desejo desta pessoa nunca será pregar a si mesmo, seu próprio conhecimento, suas
virtudes, senão somente a Cristo, pois sabe de quantas corrupções o seu coração tem sido
livrado e limpo por Ele. Sabe que não há nada para gloriar-se em si mesmo, senão somente em
Cristo. E todo o desejo do seu coração é portanto o de exaltá-lo, com a mais profunda gratidão.
Estes ministros brilham com a luz de Cristo, mas sabem que são estrelas seguras nas Suas mãos. Que estão a serviço dEle e debaixo do Seu
domínio. E temem e tremem em falar e agir de modo diferente do que Ele lhes tenha ensinado
e revelado.
Guarde seu coração fielmente e você estará
preparado para qualquer situação à qual você for chamado. Você estará contente em Deus em
toda e qualquer circunstância. Seja na prosperidade, seja na adversidade, porque o
poder do Senhor e a Sua graça estarão com você e isto lhe será mais do que suficiente para
mantê-lo completamente contente na Sua presença, e até mesmo exultante e gloriando-se
nas próprias tribulações, porque verá que em vez de afastá-lo do Senhor elas o trouxeram para
mais perto dEle.
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Quem tem experimentado isto já não está mais preocupado com os seus próprios interesses,
senão com os de Deus, e conhecerá que este interesse divino é o de ganhar almas e edificá-
las na verdade, e assim, este será todo o negócio das vidas daqueles que têm se separado para o
Senhor nesta verdadeira santidade.
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Guardando Todo o Coração
Muitos pensam erroneamente que é possível
ser fiel a Deus sem se guardar cem por cento o coração. E sem ter um coração dividido e
conquistado por afetos por muitas coisas dentre as quais Deus é apenas mais um simples item a
ser considerado.
Há quem pense que estabelecer prioridades
corretamente é dedicar uma terça parte do seu tempo ao trabalho, uma outra terça parte à
família, e a terça parte final a Deus. Isto significa que não há na verdade nenhuma
adoração verdadeira e serviço a Deus neste caso, porque Ele não deve ter uma terça parte do
nosso tempo, atenção e devoção, mas todo o nosso coração. Cem por cento ou nada. Em tudo
que fizermos Deus deve estar presente, e tudo deve ser feito não como para homens ou para
nós mesmos, senão pra Ele. Este é o modo correto de se estabelecer as prioridades
conforme nos ensina a Bíblia, pois ela afirma claramente que tudo deve ser feito para a glória
de Deus e que Ele deve ser adorado com toda a nossa força, mente, coração e alma. Toda é toda,
e não parte, muito menos terça parte. Toda é cem por cento. E é cem por cento porque Ele não
aceita um coração que lhe é devotado parcialmente, senão que aceita somente a
oferta de todo o nosso coração.
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Tente reservar partes de sua atenção para outras coisas quando adora a Deus, e veja se
haverá alguma verdadeira adoração? Porque Deus não nos enche com o espírito de louvor
pelo Seu Espírito quando assim procedemos? A resposta é fácil: é porque não lhe devotamos
todo o nosso coração e atenção.
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Nosso Grande Trabalho é Guardar o Coração
Guardar o coração é o grande trabalho de um
crente porque a vida cristã não pode ser vivida sem isto. E sem guardar o coração todos os
deveres são de nenhum valor à vista de Deus. Muitos serviços esplêndidos foram executados
por homens que Deus rejeitará totalmente, porque eles não deram qualquer atenção à
necessidade de guardarem seus corações em Deus. Cristo será uma rocha de ofensa na qual
muitos mestres da religião irão colidir e se arruinarão eternamente. Estes mestres nunca
derramaram uma só lágrima pela dureza, incredulidade e mundanismo de seus corações.
Como poderão entrar no céu pela porta larga e pelo caminho espaçoso em que viveram? Como
pessoas com tais corações poderão suportar a vinda do Senhor e estarem de pé diante dEle?
Como poderão afirmar ter amado a Cristo se os seus corações nunca estiveram com Ele?
Lembremos que controvérsias infrutíferas iniciadas por Satanás têm o propósito de nos
afastar da piedade prática e a confundir nossas cabeças quanto à verdade que devemos viver e
praticar.
E este afastamento da piedade será a realidade
da vida por mais ativistas que sejamos em nossas Igrejas, porque a carne sempre
prevalecerá sobre nossas atitudes exteriores.
88
Por mais duro que possa parecer a afirmação que vamos fazer, ela é a pura expressão da
realidade, a saber, que as manifestações de poder e consoladoras do Espírito não são para
serem experimentadas ocasionalmente nas nossas reuniões públicas de adoração (cultos),
enquanto se abriga no coração ódios, ressentimentos, mágoas, iras, impurezas, ciúmes, invejas, de maneira que tudo isto seja o
fruto de uma aplicação diária e constante em se guardar o coração puro de todas estas obras da
carne.
O Espírito Santo quer abençoar com paz, com amor, com alegria, longanimidade, unidade,
comunhão, mas como poderá fazê-lo num coração que não busca pela Sua ajuda em oração
de gemidos inexprimíveis que superam nossas fraquezas e pecados? Mas como o teremos se
não o buscamos com toda a força e sinceridade de nossa alma? Por isso é possível alguém
acrescentar o seu amém a verdades ouvidas na pregação, enquanto sente um grande fardo em
sua alma, que pode até mesmo estar sendo produzido por espíritos opressores. Qual a razão
disto senão a de se estar debaixo da pregação sem se buscar um coração puro no Espírito?
Que possamos aprender então a conduzir nossas congregações livres deste grande erro de
tentar usar o Espírito como uma espécie de pílula para resolver o problema de nossa dor de
cabeça, sem remover a sua verdadeira causa,
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que é um coração que não é governado pela santidade de Deus.
Pessoas podem experimentar bênçãos
ocasionais do Espírito sem ter um estado de paz de alma permanente, que tudo vence, tal qual os
crentes da Igreja Primitiva, porque andavam na verdade, andavam no Espírito, e buscavam por
isto em todos os momentos de suas vidas, e Deus respondia esta fidelidade com paz na tribulação,
alegria na adversidade, força na fraqueza, e autoridade para até mesmo serem duramente
martirizados, sem que se visse neles qualquer desespero.
É certo que cuidados mundanos e dificuldades podem aumentar grandemente a negligência
de nossos corações. As cabeças e corações das multidões estão cheios de uma multidão de
barulhos de negócios mundanos que excluiu da vida deles o amor, o zelo, e o prazer que eles tinham em Deus.
Quão miseravelmente somos propensos a nos emaranharmos neste deserto de ninharias! Os
brinquedinhos que Satanás apresenta para nosso entretenimento são considerados por
muitos adultos em idade avançada como coisas essenciais à vida, quando na verdade, não
passam sequer de superfluidades, pois são apenas objetos que têm o objetivo de distrair e
afastar nossa atenção de Deus e dos deveres que
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Ele nos tem incumbido para a nossa felicidade e daqueles que tem colocado debaixo da nossa
influência.
E quando nos tornamos imprestáveis para o uso de Deus, para quem mais poderemos ser
verdadeiramente úteis nas coisas relativas ao Seu reino?
Quantas oportunidades preciosas perdemos por causa disso? Quantas advertências do Espírito
ignoramos voluntariamente?
Com que frequência chamamos a Deus quando nossos pensamentos mundanos nos impediram
de ouvi-lO?
Se perdemos nossa visão dEle por causa de nossos muitos cuidados, como esperaremos
triunfar sobre todas as tribulações e ataques do inimigo tendo nossos corações guardados na
paz e vencendo pela fé a todas as oposições da carne, do diabo e do mundo?
Se guardar o coração é o grande trabalho de todo
crente, quantos veremos então prevalecendo realmente com Deus em oração, tendo prazer
em estar na Sua presença e servi-lo mesmo que seja em circunstâncias adversas? Quantos serão
como os crentes da Igreja Primitiva que tinham prazer em sofrer por amor a Cristo porque eram
fortalecidos por Ele na fidelidade deles?
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O real prazer espiritual diante de Deus é algo contínuo e cada vez mais crescente. Não é um
fardo. Não é uma obrigação desgastante, senão um grande prazer e alegria. Mas quem é que
pode experimentar isto? Somente aquele que tem guardado continuamente o seu coração do
mal. E não segundo os seus próprios critérios do que considere mal, mas segundo os critérios de Deus revelados em Sua Palavra. Estes são bem-
aventurados porque os tais são os de coração puro conforme afirmado por Jesus no Sermão
do Monte. São estes que veem a Deus, tanto neste mundo quanto no mundo por vir,
conforme a promessa de Jesus na mesma bem-aventurança.
Até quando os crentes deixarão que o ciúme, a
inveja e o orgulho, estas três serpentes venenosas, sejam abrigados em seus corações
para impedimento da unidade, comunhão do corpo de Cristo, e do progresso do Seu reino na
terra? Até quando um justo não poderá se regozijar na fidelidade de um outro justo, para
não ofender a consciência fraca e carnal, ciumenta e invejosa de um outro crente que não
permite ser santificado pelo Espírito, de modo a ser livrado destes sentimentos que não somente
não fazem parte do amor, porque ele não é invejoso, ciumento, orgulhoso e egoísta, como
também impedem a manifestação do amor na Igreja, sabendo nós, que ela não pode existir e
sobreviver sem isto?
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Reconciliemo-nos depressa com nossos irmãos antes de virmos entregar nossas ofertas de
louvor e adoração no altar de Deus. De outro modo elas não serão recebidas. Não tentemos
fazer fácil a vida cristã, ou então desconsiderar a vontade revelada de Deus. Ele não muda e
jamais mudará. A Sua bênção está disponível mas há condição para ser recebida. E temos que nos humilhar, renunciar ao nosso ego para fazer
a Sua vontade, aí então, teremos atendido as condições de recebê-las.
Sem esta disposição prática de aplicar-se a obedecer a Deus em tudo que nos tem
ordenado, pouco vale ouvir belos sermões, porque não teremos permitido a Deus a
transformação de nossas vidas, e é nisto que ele está vivamente interessado. O grande alvo dEle
não é tanto o de nos dar conforto e paz, mas aquela condição de coração puro que traz tal
conforto e paz. O fim portanto não é a bênção, mas o coração puro que Deus quer produzir em
nós e que Lhe é agradável. As bênçãos são como que uma recompensa pela nossa obediência. O
fim é a nossa obediência e não a alegria, poder, unção ou seja o que for, que estivermos
sentindo. O galardão será dado a quem for fiel.
Mas, o grande alvo de Deus não é o galardão senão a nossa fidelidade, pela qual seremos
recompensados com o galardão. Não devemos assim errar o alvo, isto é, buscar o galardão em
vez da fidelidade. Na verdade, aqueles que não
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são interesseiros, e que servem a Deus pelo puro prazer de servi-Lo e amá-lo, estes receberão
uma maior recompensa, porque não visaram aos bens do Seu Pai, senão ao próprio Pai.
94
O Modo de Concessão da Graça
Nenhum crente pode de si mesmo exercer o princípio, ou poder, de uma vida espiritual, em
qualquer instância, interna ou externa, em relação a Deus ou aos homens, de modo que isto
deve ser um ato de santidade procedente do Espírito Santo.
O crente não pode fazê-lo de si mesmo, em virtude de qualquer poder habitualmente
inerente a ele. Não é comunicada a nós neste mundo qualquer capacidade espiritual que seja
independente da ação direta do Espírito Santo; porque é ele o gerador de todos os atos santos de
nossas mentes, vontades e afetos, na execução dos deveres espirituais.
Acrescente-se que necessitamos de graças renovadas pelo Espírito, todos os dias, ou seja,
não recebemos uma provisão de poder para ser estocada. A graça é concedida pelo Espírito à
medida que se faz necessária e no tempo apropriado da sua necessidade.
É aplicado em nossa vida espiritual, quanto à concessão da graça, o mesmo princípio que
regula a providência divina em nossas necessidades naturais.
Como ramos da Videira Verdadeira
necessitamos receber a seiva (graça)
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vivificadora diretamente da raiz, que é Cristo. Assim, recebemos a graça, e não somos nós, de
maneira alguma, quem a produz e distribui. Daí dizer o apóstolo:
“E é por intermédio de Cristo que temos tal
confiança em Deus; não que, por nós mesmos, sejamos capazes de pensar alguma coisa, como
se partisse de nós; pelo contrário, a nossa suficiência vem de Deus,” (2 Cor 3.4,5).
De si mesmo, o crente nada pode realizar porque toda santidade ou qualquer coisa
espiritualmente boa é sempre efeito da graça e é operado em nós pelo Espírito Santo que é o
autor de todas as operações divinas.
96
O Bom Efeito da Tribulação
Antes de ter sido afligido, Jó era um bom conselheiro, mas depois do seu sofrimento ele
seria transformado por Deus não apenas num conselheiro excelente, como também num
intercessor poderoso em favor dos que sofrem.
Ele já estava demonstrando as lições que estava aprendendo nestas palavras de grande
humildade que lemos no 16º capitulo. Via agora quão fácil é consolar ineficazmente a outros
quando não se passou pelas provas que eles estão experimentando.
Quão difícil é o caminho da consolação por mera
palavras, porque viu que no seu próprio caso, não seriam palavras que lhe trariam alívio, nem mesmo o fato dele permanecer calado.
Quando somos atribulados em grandes angústias, pela permissão de Deus, do muito
que aprenderemos, talvez a lição mais importante seja esta de que consolaremos a
outros não com nossas palavras exortativas, mas com o próprio testemunho de que passamos por
vales profundos tal como eles, e de que o Senhor não nos desamparou ainda que parecesse estar
distante enquanto caminhávamos solitariamente tendo por companhia apenas a
nossa própria dor.
É a isto que Paulo se refere em II Cor 1.3-7:
97
“3 Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai das misericórdias e Deus de
toda a consolação,
4 que nos consola em toda a nossa tribulação,
para que também possamos consolar os que estiverem em alguma tribulação, pela
consolação com que nós mesmos somos consolados por Deus.
5 Porque, como as aflições de Cristo transbordam para conosco, assim também por
meio de Cristo transborda a nossa consolação.
6 Mas, se somos atribulados, é para vossa consolação e salvação; ou, se somos consolados, para vossa consolação é a qual se opera
suportando com paciência as mesmas aflições que nós também padecemos;
7 e a nossa esperança acerca de vós é firme,
sabendo que, como sois participantes das aflições, assim o sereis também da consolação.”
Deus permitiu que Paulo chegasse ao extremo do desespero, conforme afirma no verso 8:
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos sobreveio na Ásia, pois que
fomos sobremaneira oprimidos acima das nossas forças, de modo tal que até da vida
desesperamos;”
98
Todavia, o permitira para que aprendesse que Ele nunca nos desampara, mesmo quando
parece que fomos desamparados por Ele, tal como Jó estava se sentindo.
E é isto que temos para compartilhar com outros que estão sofrendo as mesmas tribulações, tal
como nós, para que sejam consolados, ao saberem, que por mais demorado que Deus
possa parecer, Ele nos livrará de todas as nossas tribulações, conforme nos tem prometido,
ainda que seja pela morte física, em paz, se isto estiver no conselho da Sua santa vontade.
Por isso o apóstolo afirma ainda nesta mesma epístola o seguinte:
“9 portanto já em nós mesmos tínhamos a sentença de morte, para que não confiássemos
em nós, mas em Deus, que ressuscita os mortos;
10 o qual nos livrou de tão horrível morte, e livrará; em quem esperamos que também ainda
nos livrará,”
E também em II Cor 4.8-11:
“8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desesperados;
9 perseguidos, mas não desamparados;
abatidos, mas não destruídos;
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10 trazendo sempre no corpo o morrer de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste
em nossos corpos;
11 pois nós, que vivemos, estamos sempre
entregues à morte por amor de Jesus, para que também a vida de Jesus se manifeste em nossa carne mortal.”
Aí está declarado de forma sucinta o propósito divino nos sofrimentos de Jó, e que ele não podia
entender até que a perseverança tivesse a sua obra completa, de maneira que pudesse
aprender de Deus, como estava sendo aperfeiçoado para consolar a outros e a
interceder por eles, conforme havia feito pelos seus próprios amigos, para que fossem livrados
da ira de Deus, conforme vemos no final do seu livro.
Jó estava chegando no ponto que Deus desejava. Até então ele estava lutando vigorosamente
contra as palavras injustas de seus amigos. Mas agora, ele declara que Deus havia
conseguido deixá-lo exausto, e que a penúria física havia avançado de tal forma que ele ficou
muito magro, e isto testemunhava contra ele, que havia sido enfraquecido pelo Senhor, então
não haveria nenhum proveito em querer se mostrar forte, quando o propósito de Deus era
justamente o de enfraquecê-lo.
100
Ele o faz porque enquanto somos fortes por nós mesmos não podemos experimentar o poder da
Sua graça, que se mostra forte somente naqueles que são enfraquecidos por Ele de tal
forma, de maneira que vejam toda a sua insuficiência, e que confiem somente na
suficiência que Ele supre, tal como Paulo havia aprendido e o declara no décimo segundo capitulo de II aos Coríntios.
A ruína veio violentamente sobre Jó quando ele
se encontrava num ato de devoção oferecendo sacrifícios a Deus por cada um de seus filhos. Quando ele estava com sua alma descansada e
em plena comunhão com o Senhor. Não foi quando cometeu algum pecado que isto
lhe sobreveio, mas quando estava santificado.
Deus o faz geralmente para que não associemos o motivo de nossas aflições a algum castigo por
pecados que tenhamos praticado.
Ele o faz para que saibamos que é a hora da
disciplina do Espírito. É a hora da provação da fé, para que seja aumentada ainda mais.
O sentimento que temos é o mesmo de Jó,
porque da paz espiritual e alegria em que nos encontrávamos somos sobressaltados como
que se o Senhor nos agarrasse pelo pescoço e nos quebrantasse, despedaçando-nos e
colocando-nos como um tipo de alvo no qual
101
ordenará que os seus flecheiros lancem sobre nós as suas flechas (v. 12, 13).
Além disso, não nos sinaliza com nenhuma
palavra consoladora ou de misericórdia. Deixa que pensemos que o quadro se agravará ainda
mais, e que não seremos poupados. E somos quebrantados em nosso espírito com
golpe sobre golpe, como quem sofre o ataque da parte de um guerreiro.
O resultado destes ataques é o de que toda
exaltação e glória pessoal são reduzidas a pó. Deixamos de nos ter até mesmo em pouca
estima. Nos sentimos como o pano com o qual se limpa o chão. Perdemos a vergonha de chorar
publicamente. De admitirmos que somos menos do que nada a nossos próprios olhos.
Pode parecer estranho a muitos esta forma de
tratamento usado por Deus. Não parece as ações de um Pai bondoso, senão cruel. No entanto, não
há outro modo de sermos livrados de nossa vaidade e endurecimento. Portanto, trata-se da
mais elevada exibição da Sua misericórdia e amor para com aqueles aos quais Ele ama.
Todo verdadeiro santo deve estar preparado em seu espírito para receber este tratamento, ao
menos num determinado período de sua vida, se aspira de fato crescer na graça e no
conhecimento de Jesus Cristo, e tornar-se
102
alguém do qual se possa dizer o mesmo que o Pai disse de nosso Senhor: “Este é meu filho amado
em quem me comprazo.”. Não há outro modo para aprendermos humildade e mansidão, a
submissão verdadeira que deve existir em todos aqueles que têm sido tornados semelhantes a
Cristo.
É um erro portanto, dizer que as experiências de
Jó foram exclusivas para ele, e que configuram uma exceção à regra geral de Deus.
Jó estava aprendendo a chorar somente diante de Deus, porque viu que os nossos amigos na
verdade, zombam de nós, em nossas misérias, e que somente Deus pode defender o direito que
o justo tem perante Ele (v. 20, 21) Ele prosseguiria se defendendo das acusações
injustas que estava recebendo da parte dos seus amigos, como veremos adiante, mas já não
dando muita importância a elas, porque estava aprendendo que não há verdadeiro consolo e
sabedoria nos homens, se eles não os recebem diretamente de Deus, por tê-lo aprendido numa
experiência real e prática com Ele.
103
Uma Aliança Firmada em Graça
Em Isaías 55 vemos que o evangelho é para os que têm fome e sede de justiça.
A mesa do banquete está pronta e tudo o que de nós se exige é apetite. É tudo de graça.
Por isso o convite da salvação é dirigido a todos os que têm sede para que venham às águas da
salvação, e que poderão adquirir (comprar) o vinho espiritual da alegria, e o leite racional que
nos alimenta que é a graça de Cristo, que acompanha o evangelho, para sermos
alimentados por ela, sem dinheiro e sem preço (Is 55.1).
Diz-se portanto que todo esforço e gasto de dinheiro para obter a salvação é vão, porque a
salvação verdadeira que Deus está operando pelo Filho, é completamente gratuita.
A boa comida espiritual, e o tutano divino são
achados somente na mesa de Cristo, e não nas mãos dos que fazem da religião ocasião de
comércio (Is 55.2).
A mensagem do evangelho deve ser ouvida
atentamente, pela voz dos ungidos do Senhor, através dos quais Cristo fala, para que pessoas se
convertam a Ele, para entrarem na aliança eterna, que Ele havia prometido como sendo
firmes beneficências a Davi (v. 3).
104
Estas firmes beneficências a Davi são citadas também em passagens do Novo Testamento,
como em At 13.34.
“Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei
uma aliança perpétua, dando-vos as fiéis misericórdias prometidas a Davi.” (Is 55.3).
É maravilhoso saber que as últimas palavras que Davi falou pelo Espírito, apontaram para esta
aliança segura e eterna.
Deus fez uma aliança conosco em Jesus Cristo, e nós aprendemos das Suas palavras pela boca de
Davi que é uma aliança perpétua.
Perpétua em si mesma e na forma do seu caráter, manutenção, continuação e
confirmação. Deus diz também pela boca de Davi que é bem ordenada e segura (v. 5).
Esta aliança está bem ordenada por Deus em todas as coisas que dizem respeito a ela.
Esta ordenação perfeita trabalhará em meio às imperfeições dos cristãos e os aperfeiçoará
progressivamente, para a glória de Deus, de modo que se a obra não for completada na terra,
ele o será no céu.
E para isso a aliança possui um Mediador e um Consolador para promover a santidade e o
conforto dos cristãos.
105
Está ordenado também QUE TODA TRANSGRESSÃO NA ALIANÇA NÃO LANÇARÁ
FORA A QUALQUER DOS ALIANÇADOS.
Por isso Jesus afirma que na lançará fora de
modo nenhum, a qualquer que vier a Ele. Assim, a segurança da salvação não é colocada
nas mãos dos cristãos, mas nas mãos do Mediador.
E se diz que a aliança é segura porque está assim bem ordenada por Deus.
Ela foi planejada de tal modo a poder conduzir
pecadores ao céu.
Ela está tão bem estruturada que qualquer um
deles pode ter a certeza de que estará sendo aperfeiçoado na terra e a conclusão desta obra
de aperfeiçoamento será concluída no céu.
E uma das razões para que o aperfeiçoamento
não seja concluído na terra, é para que se saiba que a aliança é de fato para pecadores, e não
para quem se considera perfeitamente justo, embora todos os aliançados sejam chamados
agora a se empenharem na prática da justiça. As misericórdias prometidas aos aliançados é
segura, e operarão de acordo com as condições estabelecidas em relação à necessidade de
arrependimento e fé.
106
A aplicação particular destas misericórdias para santificar os cristãos é segura.
É segura porque é suficiente.
Nada mais do que isto nos salvará, porque a base
da salvação repousa na fidelidade de Deus em cumprir a promessa que Ele fez à casa de Davi, a
todo aquele que for encontrado nela, por causa da sua fé no descendente, no Filho de Davi que é
Cristo.
É somente disto que a nossa salvação depende.
Muitos podem pensar que quando se conclama,
na profecia de Isaías, ao ímpio a deixar o seu caminho e o homem maligno os seus
pensamentos para se voltar para o Senhor, para achar misericórdia e perdão, porque se diz que
Deus é rico em perdoar, que isto não se aplique às pessoas perversas.
No entanto, é um convite a todas as pessoas
porque não há quem não peque, e Cristo veio salvar e justificar ímpios (Rom 4.5), de forma
que aquele que se julgar justo e bom a seus próprios olhos jamais poderá ser salvo por
Cristo, porque Ele salva aqueles que se reconhecem pecadores.
Para esclarecer este ponto, para que ninguém
fizesse uma avaliação errada relativa à sua real
107
condição diante de Deus, Ele declarou que os seus pensamentos não são os nossos
pensamentos, nem os nossos caminhos os seus caminhos (Is 55.8).
Se nos compararmos com outras pessoas é
possível que nos achemos bons e justos. Mas se contemplarmos os que estão no céu,
especialmente ao próprio Deus em sua perfeita santidade e glória, nós veremos quão
imperfeitos somos.
E clamaremos tal como Isaías fizera no capítulo sexto, quando viu a santidade e glória com que
os serafins louvavam ao Senhor no Seu trono de glória.
Por isso se ordena que olhemos para Cristo para
que sejamos salvos, porque somente quando contemplamos a majestade da sua santidade, é
que podemos enxergar qual é o nosso real quadro de miséria e de necessidade que temos
de sermos salvos por Ele.
Então esta salvação não será achada em nós mesmos. Porque ela nos vem inteiramente
destes caminhos e pensamentos elevados de Deus que procedem do céu e não da terra.
É do alto que a graça e o Espírito são derramados, e por isso somos conclamados a
olhar para o alto, para Cristo, para o tesouro do
108
céu e não para o que é terreno, quando o assunto se refere à nossa salvação.
Esta salvação vem do alto, mas a Palavra que
salva foi revelada por Cristo na terra, e está não apenas na Bíblia, mas junto da nossa boca e
coração, para que façamos a confissão da fé no Seu nome e senhorio, para que sejamos salvos.
Deus pôs esta autoridade para nos salvar na Sua Palavra. A palavra do evangelho é a semente que
contém a vida eterna.
De maneira que todo o que crê na Palavra da verdade será salvo, porque esta Palavra gerará
em seu coração a fé pela qual Deus o salvará. Por isso Ele afirma o que se lê em Is 55.10,11.
Estes que crerem no evangelho e forem salvos sairiam dando testemunho por todas as partes
com a alegria e a paz com que seriam guiados pelo Espírito Santo, e por onde passarem
anunciando as boas novas, a maldição será transformada em bênção porque se diz que em vez de espinheiros e sarças, cresceriam a faia e
a murta que são plantas ornamentais. E isto seria para o Senhor um nome e um sinal eterno
que nunca se apagará (v. 12, 13).
109
O Amor Verdadeiro é um Paradoxo Aparente
Eis a razão de muitos não chegarem a compreender qual seja a natureza do verdadeiro
amor.
Ele contém em si mesmo este aparente
paradoxo entre proteger e expor; entre recompensar e castigar; entre louvar e
repreender etc.
O amor verdadeiro sempre manterá tal caráter que chamamos de paradoxal, ou antagônico.
Mas afirmamos que é aparente porque tudo aquilo que parece contradizer o amor, é
justamente o que o confirma na presente condição em que nos encontramos.
Se não houvesse a entrada do pecado no mundo, nenhuma correção por meios aflitivos seria
vista no mundo. Nenhuma catástrofe. Nenhuma adversidade. Nada que pudesse abater o nosso corpo, alma e espírito.
Mas como carregamos conosco uma natureza decaída e pecaminosa, Deus interpôs, pelo Seu
amor, estas coisas que consideramos contrariedades, porque é por meio delas que o
nosso ego carnal é conduzido à humildade que abre todas as portas que se encontram no
coração de Deus.
110
A Terra foi amaldiçoada por Deus porque o pecado se enraizou no coração humano, e dali
somente pode ser retirado por meio das tribulações. Então, até mesmo este ato de
maldição foi um ato de amor por nós, pois visa ao nosso próprio bem, ou seja, para sermos
resgatados da condição que conduz à morte espiritual e eterna - esta de se encontrar em escravidão ao pecado.
Todavia, sem o ato supremo do amor – Jesus morrendo na cruz em nosso lugar – jamais
poderíamos ser resgatados da referida escravidão. Temos então o amor de Deus manifestado em nos ter dado o Seu próprio
Filho, para que fôssemos resgatados da morte, e vivêssemos nEle e por meio dEle.
Assim, pais que corrigem seus filhos são aqueles que os amam de fato, porque
necessitam disto, uma vez que não vivemos em nenhum mundo de perfeição moral e espiritual.
111
Uma Segurança Firme e Inabalável
“Porque nos temos tornado participantes de Cristo, se de fato guardarmos firme até ao fim a
confiança que desde o princípio tivemos” (Heb 3.14)
Em nós mesmos somos inseguros em relação a
muitas coisas, especialmente aquelas que nos atemorizam e desafiam, e isto, desde a nossa
infância.
Entretanto, podemos estar certos de que a
confiança que depositamos em Jesus Cristo está livre de qualquer tipo de insegurança.
Na comunhão com Ele não temos qualquer
temor que possa prevalecer sobre nós, porque o Seu amor lança fora o medo, a incerteza, a
dúvida, a desconfiança.
Jesus não nos chamou simplesmente para nos
livrar da condenação eterna no fogo do inferno, mas para efetuarmos conquistas sobre o reino
das trevas, sobretudo resgatando almas das garras do diabo.
Provamos para nós mesmos que somos de fato pertencentes a Cristo e participantes da
Sua natureza divina, por permanecermos firmes na fé até ao fim da nossa jornada neste
mundo.
112
É por isso que se diz que confirmamos que somos participantes da vida ressurrecta de
Cristo, pela ação do Seu poder e graça em nossas vidas, todos os dias, até o fim, e desde o início da
confiança que depositamos nEle desde o dia da nossa conversão.
Se a justificação é a base e a causa da salvação, a santificação é a evidência da mesma.
É por isso que lemos em Hb 6.1-3, uma exortação para a busca do amadurecimento espiritual,
rumo à perfeição, porque a tendência natural da maioria dos cristãos é a de se acomodarem, depois de terem sido salvos.
Mas a vida cristã é uma caminhada, no caminho
da perseverança e da santificação. A vida cristã é uma carreira, e não uma mera
expectativa contemplativa do cumprimento da promessa da glória do céu.
Não é suficiente, conforme a vontade de Deus, sabermos que Cristo é nosso Salvador e que por
meio dEle fomos justificados, é necessário ter permanente e vital união com Ele, conforme o
próprio Jesus nos ordenou dizendo que deveríamos permanecer nEle e na Sua Palavra.
O verbo “cair” empregado no texto de Heb 6.6,
corresponde no original grego à palavra “parapipto”, que significa “desviar-se”
ou “apostatar”.
113
É o mesmo verbo usado em Heb 3.12, onde está traduzido como “afastar-se”. E este afastamento
referido, é o afastamento de Deus.
A Palavra afirma em Pv 24.16, que “sete vezes cairá o justo, e se levantará”.
A experiência tem revelado esta verdade;
porque muitos são os que se desviam, mas se reconciliam posteriormente com o Senhor,
porque a bondade e misericórdia do Senhor, vão em busca da ovelha desgarrada e perdida, para
trazê-la de volta ao aprisco.
Quando os ossos do cristão são quebrados, o Senhor os restaura novamente.
Um cristão verdadeiro pode cair, mas não numa queda definitiva, que seja para a perda da vida
eterna, que recebeu pela graça.
O próprio Noé, campeão da justiça, depois que se embriagou, arrependeu-se certamente, e
permaneceu salvo pela soberana graça. Noé caiu, mas não numa queda final para a
morte eterna, que ocorrerá somente com aqueles que não têm a Cristo, no dia do grande
juízo de Deus.
Daí o convite que seu autor faz aos hebreus para se aproximarem, com confiança, do trono da
graça, para acharem misericórdia em ocasião
114
oportuna, e para entrarem no Santo dos Santos, depois de terem se purificado de toda má
consciência. Ele os chama a se santificarem, porque sem isto, não é possível estar
efetivamente em comunhão com Deus no Santo dos Santos celestial.
Desta forma, está claro que, se um cristão não
pode perder a salvação, no entanto, pode se desviar do caminho da verdade.
O fato de Deus tolerar e suportar que o erro
caminhe ao lado da verdade, que o joio cresça ao lado do trigo, não significa de modo algum que
Ele seja indiferente ao erro. Muito ao contrário, tem determinado um dia em que cada um dará
contas de Si mesmo perante Ele.
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Não Injuriemos Quem nos Injuria
Não devemos injuriar aqueles que nos injuriam, tal como Cristo e os apóstolo fizeram no
passado.
Não devemos tentar justificar a nossa própria honra e dignidade perante aqueles que nos
caluniam, não somente porque não poderão entender nossos argumentos, em face da
carnalidade deles, como também por sermos chamados a defender não a nossa honra mas a do Senhor.
O coração deve ser guardado pelo consolo que o
Espírito Santo nos dá quando nos armamos do pensamento de suportar sofrimentos por amor
a Cristo. E que grandes consolações elas serão!
A causa do evangelho e não a nossa é que deve
avançar. Muitas almas devem ser salvas para Cristo e não para nós mesmos. E devem ser
edificadas no testemunho da verdade quanto ao modo como devem caminhar neste mundo pelo
exemplo que acharem em nossas próprias vidas, de perdão, amor, misericórdia, bondade, paz e
todas as demais virtudes que estão em Cristo, e que também serão achadas em nós à proporção
da nossa submissão a Ele.
E guardemos também nossos corações por
saber que estes sofrimentos não podem ser
116
comparados com a gloria futura a ser revelada em nós, quando recebermos do Senhor o louvor
pela nossa fidelidade a Ele e à Sua Palavra.
Não somos chamados a vencer debates teológicos, mas a vencer o pecado e o diabo. Não
somos chamados a impor nossa visão a outros, mas conduzir as pessoas a Cristo e ao Seu
evangelho. Não é a nossa importância que está em questão, mas a glória e a honra do Senhor.
Quanto a nós, convém de fato que diminuamos
cada vez mais, e que o nome do Senhor seja cada vez mais elevado e exaltado através da nossa
própria humilhação perante Ele. Daí que estas perseguições e injustiças não são contra nós,
mas a nosso favor, porque nos ajudam a estarmos sempre pequenos e humildes diante
de Deus, a quem de fato pertencem a grandeza, a majestade e o poder.
Somos apenas vasos de barro que contém a excelência do poder de Deus. Não é
propriamente nosso este poder, mas sempre será dAquele, diante do qual convém estarmos
sempre com nossos joelhos dobrados diante dEle em humilde adoração.
Afinal todos não estarão diante dEle nAquele dia
confessando que Ele é o Senhor para a glória de Deus Pai? Como poderíamos andar então
inchados aqui neste mundo seja por causa do
117
nosso conhecimento ou do que for, se tudo o que temos, é porque recebemos dEle!
118
Socorro na Tribulação - SALMO 116
O início deste salmo é muito parecido com o Salmo 18, de maneira que é possível que seja
também de autoria de Davi.
O salmista declara o seu amor pelo Senhor
porque Ele ouve a sua voz e súplicas, inclinando os Seus ouvidos para atendê-lo, motivo porque
estava determinado a invocá-lO enquanto vivesse.
Mesmo com os laços de morte que lhe haviam
cercado em grandes perigos, e as angústias do inferno que se apoderaram da sua alma,
fazendo-o cair em tribulação e tristeza. Ele invocou o nome do Senhor pedindo-Lhe que
livrasse a sua alma.
Ele sabia que Deus é justo, mas também
compassivo e misericordioso, e por isso tinha sempre bom ânimo em Lhe dirigir clamores. Sabia também que o Senhor vela pelos que são
pobres de espírito, como ele, o próprio salmista, de modo que achando-se prostrado, foi salvo da
sua angústia pelo Senhor.
Quando Deus opera na alma ela volta ao seu
sossego, que é a condição em que deve se encontrar, conforme o propósito de Deus na
criação do homem.
119
Assim, em sua confiança no Senhor, o salmista foi livrado da morte que sentia em sua alma, das
suas lágrimas, e da queda na tentação e na ruína. Como sua segurança estava em andar na
presença do Senhor, então estava determinado a fazê-lo durante todo o tempo da sua
peregrinação neste mundo.
Ele mantinha a fé, mesmo quando dizia que
estava sobremodo aflito.
Enquanto esteve perturbado em sua paz de mente e espírito, disse que todo homem é
mentiroso.
Todavia o Senhor quebrou todas as cadeias que acorrentavam a sua alma, e o libertou
completamente, de modo que se dispôs a ofertar ao Senhor, pelos benefícios que havia recebido
dEle, e percebeu que não havia maior oferta do que tomar o cálice da salvação e invocar o nome
do Senhor.
Por isso cumpriria todos os seus votos feitos ao Senhor na presença de todo o Seu povo, para que
lhes servisse de testemunho da sua consagração.
A citação do verso 15 de que “Preciosa é aos
olhos do Senhor a morte dos seus santos.”, merece uma reflexão especial quanto ao seu
significado, porque à vista do Senhor a morte
120
dos Seus santos é tão preciosa, que não satisfará aos desejos ímpios de um Saul, de um Absalão,
nem de quaisquer inimigos de Davi, para que triunfassem sobre ele, lhe tirando a vida.
Davi sabia, pelo Espírito Santo, que morreria em ditosa velhice, em seu leito, para que o nome do
Senhor fosse glorificado, por tê-lo poupado de tantos perigos de morte, revelando assim o Seu poder para preservar os Seus santos.
Se a alguns deles permite saírem deste mundo pelo martírio, é pelo mesmo motivo de ser
glorificado neles, pela total falta de temor que eles demonstram em face da morte, porque são
assistidos pelo Seu poder.
Mas nenhum santo, morrerá sem que isto seja do desígnio de Deus.
Então esta citação de ser preciosa a morte dos
santos aos olhos de Deus, deve ser entendida no contexto bíblico em que se afirma que é preciosa
para Ele a vida deles (II Rs 1.13), bem como o seu sangue (Sl 72.14).
121
O Natural se Torna Anacrônico, Mas Não o Espiritual
Em relação à ciência natural, aquele que quiser fazer avanços em seu conhecimento, deve se
aplicar às descobertas recentes e mais profundas de cada área pesquisada.
Agora, quanto à verdade espiritual faremos bem
em voltar aos antigos fundamentos porque esta foi revelada de uma vez para sempre nas Escrituras.
Porventura, tornar-se-ia velho, anacrônico, o
texto do Novo Testamento, que foi escrito há cerca de dois milênios atrás?
Por que razão também rejeitaríamos o
testemunho dos antigos que se aplicaram à verdade das Escrituras e rejeitaram toda forma de modismo que pudesse adulterar a verdade
revelada?
Seria sábio não ler um Lutero, um Calvino, um John Owen, um George Whitefield, um Jônatas
Edwards, um Charles Haddon Spurgeon, por terem sido homens que viveram entre os
séculos XVI e XIX?
Seriam estes mais velhos do que aqueles que
nos deram as Escrituras?
122
O fato é que a verdade da Palavra de Deus não
envelhece, e é a única que permanecerá depois que tiver passado todo este universo material e
visível.
Temos um espírito imaterial e faríamos bem em
alimentá-lo e preservá-lo com a verdade do Evangelho.
Quando deixarmos este corpo pela morte, nada
levaremos conosco juntamente com o nosso espírito senão as verdades da Palavra que nele
foram implantadas pelo poder de Deus.
123
Uma Consagração Parcial Não Dá
Não dá para manter a nossa santificação e comunhão com Deus com uma consagração
parcial.
Meia consagração ou noventa por cento de
consagração não é suficiente para nos manter de pé, sem que fiquemos enfraquecidos às
tentações e prejudicados em nossa comunhão com o Senhor, com um espírito reto.
Todos podemos falar por experiência própria que caso não atendamos à ordem que Jesus nos
deu para vigiarmos e orarmos em todo o tempo, é certo que cairemos porque a carne, ou seja, a
nossa natureza terrena é fraca e dada a se desviar com facilidade da presença de Deus.
Assim, em vez de culparmos as circunstâncias
que nos cercam, ou ficarmos lamentando ou murmurando pensando que a graça de Jesus
não é tão poderosa quanto deveria para nos sustentar e preservar do mal, sejamos sinceros
e digamos juntamente com o salmista: “isto é fraqueza minha”, por não cuidarmos o tanto
quanto deveríamos da nossa real consagração ao Senhor.
Permitamos uma pequena concessão ao mundo, a qualquer tentação que desperte em
nós algum desejo pecaminoso, e a nossa queda
124
será consequência inevitável da nossa falta de vigilância.
É assim que sucede, e ainda que não seja bem conhecido por nós, é completamente conhecido
por Deus e por isso usa de longanimidade e misericórdia para nos levantar quantas vezes
sejam necessárias, sempre que nos arrependermos e nos voltarmos para Ele em
busca de socorro para as nossas almas.
125
Guardados do Maligno mas Não de Conflitos e Sofrimentos
Jeremias mais uma vez havia se queixado ao Senhor das tribulações que estava sofrendo por
causa das mensagens que Ele lhe estava dando para serem proferidas contra Judá.
Acabara de ser preso num tronco e de ser escarnecido pelos judeus.
O Senhor disse que o livraria dos seus
adversários quando lhe chamou para ser Seu profeta, e no entanto, estava se tornando não
somente objeto do escárnio deles, como até mesmo Deus estava permitindo que ele fosse
preso.
De fato Deus guarda os que estão a seu serviço,
empenhados nas coisas concernentes ao Seu Reino, mas isto não significa que serão livrados
de provações e angústias nas lutas que terão que travar contra o mal.
Jeremias não estava ainda inteirado tanto
quanto o apóstolo Paulo, por exemplo, sobre o conselho eterno de Deus de que a Sua obra deve
avançar no mundo no meio de resistências e perseguições, que são levantadas por Satanás,
para tentar deter a perda de pessoas sob o seu domínio, em razão da pregação da verdade do
evangelho.
126
Todavia, tal como Paulo, Jeremias, a par de todos os sofrimentos e tribulações que estivesse
padecendo, não conseguia deixar de proclamar a Palavra do Senhor, que apesar de fazer dele um
objeto de escárnio e vergonha para os seus perseguidores, era como um fogo que queimava
de forma ardente no seu coração, e como estivesse apegado aos seus ossos, e estava cansado em contê-lo, de maneira que só acharia
descanso para a sua alma quando liberasse a Palavra que lhe fosse dada por Deus.
Então, ele começou a amadurecer quanto ao
desígnio de Deus, e a aceitá-lo, porque apesar de ouvir que muitos estavam conspirando contra a
sua vida, podia afirmar agora que o Senhor estava com ele como um guerreiro valente, e por isso os seus perseguidores é que
tropeçariam e não poderiam prevalecer contra ele, porque ficariam confundidos, de forma que
não poderiam ter êxito, de modo que entregou a sua causa nas mãos do Senhor, para que fosse o
Seu vingador contra aqueles que intentavam o mal contra a sua vida, quando estava buscando
somente o bem para eles.
Então pôde entoar no Espírito o seguinte cântico
de louvor e livramento, porque como o Senhor lhe havia dito, caso fosse paciente na tribulação,
e separasse o precioso do vil, se convertendo a Ele, seria a Sua própria boca:
127
“Cantai ao Senhor, louvai ao Senhor; pois livrou a alma do necessitado da mão dos malfeitores.”
(v. 13)
Todavia ainda se achava muito desconfortado pelas tribulações e angústias que estava
sofrendo, e não conseguiu abafar a queixa que havia no seu peito.
Só que agora não mais murmurava porque não
estava se queixando de Deus, mas a Deus, considerando que maldito tinha sido o dia em
que ele havia nascido, e que não fosse portanto, bendito o dia em que sua mãe lho dera à luz.
E considerou também maldito quem havia dado as novas do seu nascimento a seu pai, se alegrando grandemente com isto, porque não
sabia, todo o sofrimento que lhe estava reservado para experimentar em sua vida como
profeta do Senhor.
Tal era a angústia do profeta quando proferiu
estas palavras que alegou preferir ter morrido como um aborto no ventre de sua mãe.
O fato de ter sido dado à luz só serviu para que
experimentasse trabalho e tristeza e para que se consumissem na vergonha os seus dias.
Desta vez o Senhor não repreendeu Jeremias e
permaneceu em silêncio diante do desabafo de
128
sua alma, porque era a sinceridade daquilo que estava realmente sentindo, e não atribuiu ao
Senhor nenhuma falta ou injustiça, por tudo o que estava sofrendo. Ele estava sendo experimentado nos sofrimentos que aperfeiçoam a fé.
E à medida que esta aumentasse ele aprenderia
tal como Paulo a se regozijar na tribulação. Com isto aprendemos que experiências são
intransferíveis, e cada um levará o seu próprio fardo diante do Senhor, e aprenderá dEle, a seu
próprio tempo, o que for necessário ao seu crescimento espiritual.
129
A Bênção Sacerdotal Em Números 6.24 a 26 nós temos a fórmula com
a qual os sacerdotes deveriam abençoar os israelitas, conforme ordem dada pelo Senhor a Moisés:
“O Senhor te abençoe e te guarde; o Senhor faça
resplandecer o seu rosto sobre ti, e tenha misericórdia de ti; o Senhor levante sobre ti o
seu rosto, e te dê a paz.”
Os sacerdotes haviam sido separados por Deus para também abençoarem o Seu povo em Seu
nome (Dt 21.5).
Esta bênção era um prenúncio da bênção que é dada pelo Sumo Sacerdote da nossa fé, Jesus (At
3.26), pois é somente nEle e por meio dEle que podemos ter paz com Deus, e viver de modo
abençoado.
O nome Jeová (traduzido por Senhor) é proferido
três vezes na bênção sacerdotal.
O nome sagrado do Deus da aliança com Israel é o que é usado aqui (YHWH), como forma de
demonstração que a bênção não seria propriamente do sacerdote, mas do Senhor.
Deus definiu o resultado de sua bênção em nossas vidas como proteção (guardar), como
alegria e agrado relativos ao nosso viver, como
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misericórdia para perdão dos nossos pecados e livramento do mal, como aprovação dEle por
estarmos diante da Sua face e como paz espiritual em nossas almas, e na relação com o
nosso próximo.
Certamente, não se tratava de uma fórmula mística que uma vez proferida pelo sacerdote de
Israel sobre o povo, lhes traria a bênção de Deus. Mas, era algo para Israel lembrar que a bênção e
o sermos guardar do mal, especialmente de pecar, é algo que procede do Senhor, e quando
nos determinamos em viver de modo abençoado, fazendo a Sua vontade, o resultado é
que podemos contar com a Sua misericórdia, agrado e concessão da Sua paz.
Não podemos esquecer que na atitude decidida
de obedecermos a Deus e os Seus mandamentos deve ser considerada a Sua longanimidade,
misericórdia e perdão para com as nossas faltas, porque nossa obediência sempre será pontuada
por estas falhas, pois somos pecadores.
A obediência evangélica está condicionada
portanto, ao sacrifício de Jesus, pelo qual nossos pecados são perdoados e apagados, quando nós os confessamos a Deus, na certeza de fé que Ele
é bom e misericordioso, e que o sangue de Jesus é de fato eficaz para nos perdoar os pecados e
nos purificar de toda injustiça.
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A Bênção da Generosidade
Nenhuma oferta deve ser feita com tristeza no coração, ou por sentimento de obrigação,
porque a oferta que é aceita e agradável a Deus é aquela que é feita com alegria, porque será aos
tais que Ele demonstrará o Seu amor.
No entanto é o próprio Deus quem nos dispõe a tal generosidade. Não habita na nossa natureza
terrena decaída no pecado nenhum verdadeiro altruísmo, uma vez que aquele que se vê no
mundo, não é desinteressado, mas por motivo de orgulho, ainda quando se pretexta
humildade, o motivo que os move é o orgulho de se sentirem humildes e generosos, mas não o
amor que procede de Deus aos nossos corações e que nos leva primeiro a nos doarmos a Ele, e
depois ao atendimento das necessidades do próximo.
Então é o próprio Senhor que nos faz ter abundância em toda a graça, de modo que
sempre tendo tudo e toda suficiência pela Sua graça, possamos também ser abundantes em
toda a boa obra, que demandará de nós o uso em favor de outrem dos recursos que Deus nos
esteja concedendo para tal propósito.
Ninguém é enriquecido para entesourar para si mesmo, senão para manifestar a glória do amor
de Deus contribuindo desinteressadamente
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com aqueles que Ele mantém em algum tipo de necessidade, exatamente para que haja esta
demonstração prática do amor de uns para com os outros.
E aquele que é despojado, liberal no dar, e que dá
com alegria aos pobres, tem, conforme a promessa de Deus, um reconhecimento eterno
deste ato de justiça, para a justa recompensa que Ele lhes dará no porvir, e mais do que isto, pelo
reconhecimento eterno dEle pela bondade e amor que demonstraram para com seus irmãos
necessitados; porque é próprio da natureza do amor cristão, que permanece e é eterno, esta
atitude de se doar em favor dos outros.
Assim é o Senhor mesmo que nos dá a semente que semeamos, e também nos dá o pão que nos
sustenta, e que multiplica a nossa sementeira, de forma que possam ser aumentados os frutos
da nossa prática da justiça (2 Cor 9.10); de modo que em vez de sermos empobrecidos pelo gesto
de dar a outros, nós somos enriquecidos pelo Senhor, exatamente para que usemos de toda a
beneficência, para que por meio dela sejam dadas graças a Deus tanto por aqueles que são
alvo dela, quanto pelos que doam pelo privilégio e honra de fazê-lo, que lhes é concedido pelo
Senhor (2 Cor 9.11, 12).
Os que recebem glorificam a Deus pelo
testemunho da submissão real à Sua vontade,
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por parte dos que dão, porque é uma forma de confissão prática e real quanto à obediência e
participação do evangelho de Cristo (v. 13). É pelo dom de Deus, do amor, que são possíveis
todas estas graças, de forma que aqueles que recebem intercedem pelos que dão, tanto por
gratidão, quanto para que Deus continue abençoando as suas vidas.
E isto aproxima os corações, quando se vê a excelência da graça de Deus operando nos Seus
filhos.
Portanto, é a Ele que se deve dar graças por tudo,
porque tudo provém dEle, e sem o Seu amor impulsionando os nossos corações, e suprindo
as necessidades tanto dos que dão, quanto dos que recebem, nada disto seria possível.
Lembramos que o profeta Elias foi enviado à casa da viúva para ser assistido por ela, e no final
das contas quem abençoou quem? Ambos foram abençoados pelo Senhor e se
abençoaram mutuamente, por terem aberto seus corações para cumprirem a Sua vontade.
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Uma Cura do Corpo e do Espírito
“1 E entrando Jesus num barco, passou para o
outro lado, e chegou à sua própria cidade.
2 E eis que lhe trouxeram um paralítico deitado num leito. Jesus, pois, vendo-lhes a fé, disse ao
paralítico: Tem ânimo, filho; perdoados são os teus pecados.
3 E alguns dos escribas disseram consigo: Este
homem blasfema.
4 Mas Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Por que pensais o mal em vossos
corações?
5 Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?
6 Ora, para que saibais que o Filho do homem
tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados (disse então ao paralítico): Levanta-te,
toma o teu leito, e vai para tua casa.
7 E este, levantando-se, foi para sua casa.
8 E as multidões, vendo isso, temeram, e glorificaram a Deus, que dera tal autoridade aos
homens.” (Mateus 9.1-8)
Jesus retornou de Gadara, que ficava no lado
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oriental do Jordão, e retornou para a cidade onde fora residir depois de ter sido batizado por
João, a saber, em Cafarnaum, onde Pedro também residia.
As passagens paralelas a esta narrativa se encontram em Marcos 2.1-12, e em Lucas 5.17-
26. Nestes textos paralelos é informado que o paralítico foi introduzido através do telhado, na
casa em que Jesus se encontrava, provavelmente a casa de Pedro, porque o
Senhor dissera que não tinha sequer onde reclinar a cabeça, isto é, uma residência própria
e fixa.
Todos os eventos narrados neste capítulo
aconteceram em Cafarnaum. E a primeira ocorrência naquela cidade foi a salvação e a cura
de um paralítico.
Era de tal ordem a paralisia deste homem que teve que ser carregado em sua cama por alguns amigos até a presença de Jesus. E nosso Senhor
viu não somente a fé do paralítico como também daqueles que lho haviam trazido até Ele, pois é
dito no verso 2: “Jesus, pois, vendo-lhes a fé...”
Deus opera de muitos modos para atrair as pessoas a Cristo, para que sejam salvas. A uns pela busca de cura do corpo, a outros pela busca de cura da alma, e pelos mais variados
motivos – tudo usa, todas as circunstâncias,
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conforme o conhecimento perfeito que possui do interior de cada pessoa, para conduzi-las à
salvação.
Até mesmo aqueles que não podem tomar qualquer iniciativa para virem a Cristo, como foi
por exemplo o caso dos dois endemoninhados gadarenos, livrará dos laços do diabo, pelo Seu próprio poder, àqueles que tem determinado
manifestar a Sua misericórdia, para que sejam salvos.
Não importa se podemos caminhar por nossos
próprios meios ou se outros têm que nos conduzir ao Senhor, uma coisa é certa, Ele não
perderá a nenhum daqueles que Lhe foram dados pelo Pai.
Como aquela paralisia, naquele caso, foi o meio usado para que houvesse a busca de nosso
Senhor pelo paralítico, Ele não concentrou Sua atenção na enfermidade, mas na transformação
do paralítico em filho de Deus, perdoando-lhe todos os seus pecados (v. 2).
Ele poderia até mesmo permanecer com a
paralisia, como tantos outros em toda a história da humanidade, porque aquilo que é realmente
de importância, a única coisa que nos é necessária, já havia sido feita em relação ao
destino eterno do seu espírito.
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O que deu ocasião à cura da paralisia foi a murmuração de alguns escribas, que disseram
consigo mesmos que Jesus estava blasfemando ao dizer que os pecados do paralítico haviam
sido perdoados.
Ninguém ao redor ouviu o que eles diziam em seus corações, com exceção do Senhor, que tem
o poder de conhecer os nossos pensamentos, e por isso lhes disse: “Por que pensais o mal em
vossos corações?”.
Ele não precisaria fazer nenhuma outra coisa
para provar-lhes a Sua divindade, quando lhes demonstrou a Sua onisciência, e capacidade de
ler pensamentos.
Todavia, Deus não tem o dever de provar coisa
nenhuma a qualquer pessoa, e por isso nosso Senhor curaria o paralítico, não por ter sido
provocado por aqueles escribas, mas para manifestar a Sua misericórdia, que é a causa de
sermos perdoados por Ele, e não por qualquer bondade própria ou mérito que haja em nós.
Quem pode mais pode menos. É mais fácil curar um enfermidade física do que
justificar um pecador, perdoando todos os seus pecados.
O trabalho de salvação de uma alma é muito
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maior e de duração eterna, do que a cura do corpo.
No entanto, para a percepção humana, limitada e falha, incapaz de perceber os poderes que
operam salvando o espírito, justificando e dando um novo nascimento espiritual ao salvo, e que
considera portanto, ser uma evidência de poder muito maior ver uma cura física sendo efetuada,
Jesus disse o que lemos no verso 5:
“Pois qual é mais fácil? dizer: Perdoados são os teus pecados, ou dizer: Levanta-te e anda?”
Realmente, é mais fácil dizer perdoados são os teus pecados, do que levanta-te e anda, segundo
a avaliação humana, à qual nos referimos anteriormente.
Por isso nosso Senhor disse que levantaria o paralítico, para que os circunstantes soubessem
que Ele tem autoridade sobre a terra para perdoar pecados (v. 6).
O efeito da cura foi que as multidões temeram e glorificaram a Deus.
Quão cega é a natureza humana!
Tão incapaz de ver o mundo espiritual, e
necessitada de ver sinais para poder crer no
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poder de Cristo, dando a devida honra à Sua divindade.
Convém que seja diferente disso, ao menos quanto aos que foram libertados da escravidão
ao pecado. Convém crescer na fé, e ter os olhos espirituais cada vez mais abertos, para discernir
o mundo espiritual, dando honra e glória ao Senhor, em espírito, sem que haja necessidade de qualquer manifestação visível da Sua glória e
poder, porque somos chamados a caminhar por fé e não por vista.
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Precisamos da Graça Para Andar na Verdade
"João 1:16 Porque todos nós temos recebido da
sua plenitude e graça sobre graça. João 1:17 Porque a lei foi dada por intermédio de
Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus
Cristo”
Deus não nos enviou somente a verdade por meio de Jesus Cristo, mas também a sua
plenitude e graça sobre graça, porque se Deus exigisse de nós um caminhar na verdade, sem o
auxílio da Sua graça, isto seria algo terrível e brutal que jamais poderíamos cumprir.
Por natureza, somos fracos e imperfeitos, dados a nos inclinar para o mal, e por isso
necessitamos do poder da graça para que possamos viver de modo agradável a Deus.
Assim, ao nos enviar Jesus para nos perdoar dos nossos pecados, Deus enviou juntamente com
Ele a Sua graça para que pudéssemos vencer o pecado.
Através de Moisés foi feita uma aliança, ou seja,
um pacto, onde a bênção divina estava condicionada às obras, ou seja, ao que os
homens pudessem cumprir da Lei que lhes fora dada por Deus, por meio de Moisés.
Na graça, ou seja, na nova aliança que foi feita
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através de Jesus Cristo, com aqueles que têm fé nEle, tudo é feito por pura misericórdia, e
concedido por graça, exclusivamente por meio da fé.
Deus então, aprovaria agora o pecado, ou não se importa com o fato de pecarmos, já que a base
do novo pacto é graça e misericórdia? Não.
Não é isto que significa a graça imerecida, porque Ele sempre odiará o pecado, mas decidiu
usar neste período chamado de dispensação da graça, de longanimidade para com todos.
Além disso, pode usar de misericórdia
perdoadora para com todos os que crerem em Jesus, porque Ele fez tudo o que era necessário
para que a dívida de seus pecados fosse paga, e para que pudessem ser aceitos por Deus
como Seus filhos amados, numa aliança de graça que durará para sempre, independentemente de qualquer transgressão
que eles possam vir a cometer. Deus os corrigirá como um Pai corrige a seus
filhos, mas jamais os lançara fora ou os abandonará.
Assim, apesar de Deus continuar detestando
qualquer pecado que seja praticado, no entanto, Ele usa deste imenso favor imerecido, chamado
graça, que Ele nos dá, por causa de Jesus Cristo,
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independentemente de sermos pecadores. Porque a Sua morte na cruz carregando os
nossos pecados, satisfez completamente à justiça divina, que determina a morte espiritual
eterna para todo aquele que não tiver a sua dívida de pecados quitada.
Como foi nosso Senhor Jesus Cristo que pagou
completamente esta dívida, ninguém pode ser absolvido da condenação, caso não esteja ligado
a Ele pela fé.
Ninguém poderá ser perdoado permanecendo
na condição de inimigo de Jesus. E isto é algo óbvio.
Por isso a graça é somente eficaz na vida
daqueles que o amam e que guardam os seus mandamentos.
E esta obediência se comprova por uma verdadeira busca de santificação de nossas
vidas.
Porque aquele que não quiser ser santo, jamais se aproximará da luz de Jesus para ser purificado
de todos os seus pecados.
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Por Que o Justo é Afligido?
Esta é uma indagação que permeia a mente e o coração de muitos, e não poucos chegam à
conclusão temerária de que não vale a pena viver de modo justo, porque afinal, tanto o justo
quanto o injusto são igualmente afligidos neste mundo.
Meu pai se tornou alcoólatra quando viu, há muitos anos atrás, um menino numa cadeira de
rodas.
Lembro-me como se ainda fosse hoje, quando
chegou embriagado em casa, e muito revoltado perguntava à minha mãe, que Deus era esse que
permitia algo como aquilo.
Ele não sabia, e eu também não sabia à época, que a resposta para estas indagações da alma já
haviam sido dadas por Deus há séculos, através das Escrituras, especialmente, no primeiro livro
da Bíblia cuja escrita foi inspirada por Ele, a saber o livro de Jó. Temos todas as respostas
neste único livro, mas gostaria de focar neste momento, apenas o que se pode aprender da
narrativa dos seus capítulos 3º e 4º.
Enquanto Jó permaneceu calado remoendo-se
apenas de dores, e provavelmente delirando em estado de semiconsciência, em razão da grande
febre que deveria ter-lhe acometido como
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consequência da grave infecção que tomara conta de todo o seu corpo, não pôde expressar o
seu lamento, como estava fazendo agora, depois de ter permanecido calado juntamente com
seus três amigos, por sete dias e noites seguidos.
Todavia, tão logo expressou em termos
veementes o seu grande lamento pela condição em que se encontrava, aquilo foi forte demais
para os seus amigos tolerarem, porque Elifaz passou a acusá-lo de ser precipitado em suas
palavras, e de hipócrita, porque Jó havia sido o conselheiro de muitos para que ficassem fortes
e firmes em suas aflições, no entanto, não estava dando tal exemplo de fortaleza e ânimo, quando
ele próprio foi atingido pelo sofrimento.
É deveras impressionante, como procuramos tirar daqueles que estão afligidos, um direito
que o próprio Deus não lhes tira, a saber, o de se queixarem de suas dores. Jó não estava se
queixando contra Deus, mas queixando-se da sua condição, e não há nada de pecaminoso
nisto. O pecado de murmuração é mostrar insatisfação para com Deus, mas não por si
mesmo, e pelas aflições que sofremos. Deus as projetou para o grande propósito de nos
preservar do mal, e do pior deles, que é o de dar as costas para Ele, o nosso amado e bondoso
Criador.
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Porque espera que recorramos a Ele em nossas provações para a busca de auxílio em ocasião
oportuna, não meramente para sermos livrados da tribulação, mas sobretudo para recebermos a
força da Sua graça para poder suportá-las.
Seria antinatural, ou seja, algo contrário à
natureza normal, que não se lute pela manutenção da nossa vida, em face do instinto
de sobrevivência que o próprio Deus colocou em nós para a nossa preservação; e de igual modo
que não se fuja de toda forma de mal que possa nos causar algum tipo de sofrimento ou dano.
Na verdade, era isto o que as palavras do lamento de Jó expressavam. Ele considerava que
seria melhor não existir do que estar passando por tudo aquilo que lhe sobreviera
repentinamente, e sem que houvesse qualquer promessa ou sinal de esperança, de que aquele
quadro fosse revertido.
Não é exatamente isto que sentimos, caso não
sejamos assistidos e fortalecidos pela graça de Deus, a lhe dar glória em meio às aflições que
nos atingem?
Se a graça estiver presente e atuando, somos fortalecidos e triunfamos sobre a dor. Nossa fé
no Senhor é aperfeiçoada pelo recebimento da Sua companhia e consolo, e também nosso
caráter é igualmente aperfeiçoado, porque ao
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suportarmos dores e sofrimentos por amor a Cristo, não apenas nos identificamos com Ele
em seus sofrimentos, como também, por este meio, somos livrados do nosso egoísmo latente,
que não pode ser vencido por outro meio senão o da paciência em meio às tribulações.
Todavia, se para fins específicos, Deus nos deixa
à mercê de nossas próprias forças e capacidades limitadas, sucumbimos, e o quadro normal de
ser visto é o de que seremos achados desalentados e deprimidos, ainda que não
abandonemos nossa confiança no Senhor, não Lhe voltemos as costas, e que continuemos nos
sujeitando quietamente à Sua vontade, debaixo da Sua potente mão, tal como sucedera no caso
de Jó.
Qual foi a reação do próprio Senhor Jesus Cristo, quando em Sua agonia no Getsêmani?
Ele chegou a pedir ao Pai que se fosse possível,
que passasse dEle aquele cálice de sofrimentos.
Todavia, Ele permaneceu perfeitamente sujeito à vontade do Pai em todo o tempo. Agora, seria de se esperar que alguém lhe dissesse naquela hora de extrema aflição que rejubilasse, saltando de alegria, a pretexto de
que seria possível fazê-lo pelo fortalecimento da graça que Lhe seria concedida pelo Pai?
Quando a alma está angustiada até a morte,
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como se achava a de nosso Senhor no Getsêmani, o que se manifestará é a tristeza e
não a alegria.
Se houvesse um sorriso na face de Jesus naquela hora, poder-se-ia dizer que seria um sorriso
falso. E como pode ter parte com a falsidade Aquele que é em tudo verdadeiro?
O mundo gosta da dissimulação. Não pode suportar expressões de abatimento e de tristeza,
que fazem também parte desta vida. Há uma falsa ideia de que a vida só tem sentido
quando não há provações, tribulações e aflições, e crer desta forma, é portanto se agarrar a uma
utopia.
Por isso o mundo procura disfarçar suas tristezas debaixo de máscaras de uma suposta
alegria.
Para este propósito os homens se drogam, se embebedam, e fazem um sem número de coisas
para se mostrarem alegres, quando na verdade estão angustiados ou entristecidos, bem lá no
fundo de suas almas.
Então não havia nada reprovável na atitude de Jó, ao manifestar a sua tristeza. Ao contrário, ele
estava sendo absolutamente sincero e verdadeiro, e por isso continuava justo e
aprovado aos olhos do Senhor.
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Jó pôs em contraste a alegria das novas do dia do seu nascimento, com a intensa dor e tristeza que
estava sentindo naqueles dias de sofrimento, que lhe pareciam que não teriam fim até o dia da
sua morte.
Como ele não conhecia ainda de maneira plena o propósito de Deus nas aflições, pareceu-lhe
muito estranho tudo aquilo que estava sofrendo.
O argumento lógico em sua mente era o seguinte: “Por que Deus o trouxera à vida, e o
inspirara a viver em completa retidão perante Ele, se no final, seria colocado como um
opróbrio à vista de todos, não como um testemunho de alguém que foi abençoado por
Deus, mas ao contrário, que foi amaldiçoado por Ele?”
E mais: “Quem se sentiria inspirado a permanecer na prática da justiça, se o prêmio
que Deus tinha reservado para os justos era aquele pelo qual ele estava passando?”.
Como qualquer outro, Jó era um refém de sua própria época, em que se costumava avaliar o favor e o amor de Deus pelos homens, na
medida proporcional dos bens e saúde que eles possuíam e desfrutavam.
À medida que a revelação de Deus, do Seu
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caráter e vontade foi progredindo, à medida que o tempo passava, até culminar com a revelação
final que nos foi feita por Seu Filho Jesus Cristo, sabemos que há um bom propósito nas aflições
que sofremos, e que sair deste mundo pelo martírio, é um privilégio, e não uma desonra.
Mas, devemos considerar que este
conhecimento não estava disponível nos dias de Jó, e este foi um dos motivos de Deus tê-lo
provado de tal forma, para que começasse a revelar ao mundo qual é o Seu propósito nas
tribulações.
Todavia, apesar de toda a revelação que temos
da parte de Deus na Sua Palavra, há ainda muitos Elifazes por aí fazendo um diagnóstico incorreto
relativo ao problema do mal que sofremos. Eles colocam tudo na avaliação comum de que
se há sofrimentos e aflições, é porque pecamos, ou porque não temos exercido a nossa fé. Nem
uma e nem outra coisa se aplicavam ao caso de Jó.
Contudo, Elifaz diagnosticou a aflição de Jó como sendo causa da iniquidade que ele havia
semeado. É verdade que há uma lei da colheita segundo a semeadura, mas não era este o caso
do sofrimento de Jó, porque não estava colhendo algum fruto mau de uma semente má
que houvesse semeado.
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O “doutor” de almas Elifaz havia portanto, errado em seu diagnóstico.
E, não satisfeito, com isto, colocou em dúvida a
sinceridade da confiança de Jó no temor do Seu Deus, e a sua esperança na integridade dos seus
caminhos.
Segundo ele, se Jó fosse realmente sincero nisto, não teria recebido todo aquele mal que lhe
sobreviera repentinamente.
Em sua teologia estreita não havia lugar para sofrimento de justos.
É fato que a ira de Deus haverá de consumir o ímpio, mas Elifaz não sabia que Deus também é
longânimo, isto é, tardio em se irar, e que por isso não executa logo o juízo, porque dá tempo
ao homem para que se arrependa de seus pecados e viva, lançando todas as transgressões
passadas no mar do esquecimento, além de apagar toda e qualquer culpa.
Todavia, Elifaz considerava que Jó estava sendo
atingido por uma rajada da ira de Deus para ser consumido na sua iniquidade.
Quão errado e equivocado ele estava, apesar de
ter dito certas verdades que se aplicam a muitos, mas não eram aplicáveis ao caso de Jó, e de
tantos servos fiéis de Deus que sofreram, ou que
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ainda sofrem por amor a Ele, neste mundo. Elifaz firmou a sua teologia sobre o sofrimento
do homem e o castigo divino, de uma visão que lhe fora dada, e de uma voz que lhe dissera o
seguinte:
“Pode o homem mortal ser justo diante de
Deus? Pode o varão ser puro diante do seu Criador?”
Isto é uma verdade, porque não há nenhum
justo, nenhum sequer, diante de Deus, pela sua própria justiça, e todos os que são justos perante
Ele, o são, porque têm sido justificados pela fé em Cristo, e por terem sido redimidos no Seu
sangue.
Só que em vez de Elifaz, reconhecer que o
homem não pode de si mesmo ser justo diante de Deus, no entanto há graça, misericórdia e
poder no próprio Deus para torná-lo justo perante Ele.
Então Elifaz se precipitou elaborando uma teologia conclusiva, em cima desta visão que
recebera, na qual atribuiu consequentemente desconfiança da parte de Deus em todos os seus
servos no céu, e até mesmo o fato de atribuir loucura a todos os seus anjos, inclusive aos
eleitos, e segundo ele, de quão maior desconfiança da parte de Deus não gozam todos
os homens que habitam na terra.
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Que teologia desastrada foi esta a que Elifaz elaborou em cima de uma visão relativa à
verdade que havia recebido! É assim que são formadas grandes heresias. Elas partem
geralmente de um entendimento ou interpretação incorretos de uma verdade
bíblica.
É importante, pois, se não desejamos ser achados como Elifaz, que confiramos verdades
bíblicas com verdades bíblicas, coisas espirituais com espirituais, e que não sejamos
precipitados em nossas conclusões sobre o modo de agir de Deus, generalizando todas as
suas ações a partir de uma única declaração relativa ao Seu caráter ou atributos.
Satanás procura por todos os modos atacar o
caráter de Deus. Se não ataca o Senhor diretamente perante os homens acusando-O de
injustiça por permitir que sofram males, ele procura sutilmente, distorcer as verdades
divinas, dando-lhes uma interpretação diferente do seu verdadeiro significado, para
que em vez de os homens serem justos em suas avaliações relativas aos atos de Deus, lhe
atribuam juízos e castigos por ações, que não são de Deus, mas que o próprio diabo usa para afligir
os homens, tal como estava ocorrendo no caso de Jó, e Elifaz estava atribuindo tudo aquilo a um
castigo de Deus porque, segundo Elifaz, Ele não
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podia confiar em Jó, como em qualquer ser na terra ou no céu.
Certamente Deus não se pode confiar à natureza
terrena do homem que é decaída no pecado, mas daí, dizer que não pode confiar em nenhum
dos Seus servos, vai uma distância muito grande, porque estes não possuem neste mundo apenas a natureza terrena, mas a própria
natureza divina da qual foram feitos coparticipantes por meio da fé em Jesus.
E cabe dizer que no céu, nenhum cristão que para lá tenha ido, se encontra sob a influência da
natureza terrena, assim como os anjos eleitos, de modo, que o Senhor pode confiar perfeita e
plenamente neles, porque já não podem ser vencidos por qualquer tipo de mal.
Devemos nos acautelar, portanto, para não
sermos achados como um tipo de Elizaz, que procurando consolar alguém que está sofrendo,
acabe lançando sal e vinagre sobre as feridas que estiverem abertas, em nosso zelo pela
defesa da justiça e santidade de Deus, condenando como malfeitor, quem está sofrendo por causa do Seu amor e fidelidade a
Deus.
É muito fácil dizer para alguém que está
sofrendo de modo terrível: “Você não terá
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cometido algum pecado oculto ou não confessado?”
No entanto, isto somente pode servir para
agravar ainda mais o sofrimento de uma consciência fraca de alguém que esteja
sofrendo por amor a Cristo e ao evangelho, e não necessariamente por algum pecado que tenha
cometido.
É necessário ter cuidado na aplicação de aconselhamentos em tais casos, e insinuações
relativas a pecados devem ser feitas somente por revelação do Espírito ao nosso espírito, e não
por uma ruim suspeita, ou por um princípio de aconselhamento generalizante a que estejamos
acostumados a usar.
Devemos ter cuidado para não vazar os olhos de nossos irmãos quando nos dispomos a tirar o
pequeno cisco que há neles, quando temos a nossa visão prejudicada por alguma trave em
nossos próprios olhos, que nos impeça de enxergar a verdade, tal como sucedera no caso
de Elifaz em relação a Jó.
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O Sacrifício de Jesus Não Dispensa a Obediência aos Mandamentos
Os primeiros vinte e nove versículos do 15º
capítulo de Números são repetições de leis constantes especialmente de Levítico, relativas
à apresentação de ofertas e sacrifícios. Deus havia perdoado o povo de ser exterminado
pela Sua ira, mas Ele lhes recorda que deveriam apresentar sacrifícios, porque era com base
nestes que poderiam ser perdoados.
Todo e qualquer pecado que seja perdoado, no
sentido de sermos livrados dos juízos de Deus, sempre o serão com base no sacrifício de Jesus
pelos pecadores, do qual, aqueles sacrifícios de animais eram apenas uma figura.
É pela exclusiva graça de Deus, que opera com
base no sacrifício, que somos perdoados, e não por nenhum ato de penitência da nossa parte,
por nenhuma boa obra que façamos para compensar a má obra que tenhamos feito.
Nossas ofensas da santidade devida a Deus são tão imensas que nada que fizéssemos por mais
caro e trabalhoso que fosse, poderia apagá-las. Somente o precioso sangue de Cristo pode fazê-
lo, quando nos apropriamos dos seus benefícios, simplesmente pela fé, confiando que Deus
determinou fazê-lo unicamente pela Sua graça. Entendemos então, no 15º capítulo de Números,
que Deus não estava esperando perfeição
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absoluta dos israelitas neste mundo, mas fé e arrependimento.
Ele não esperava que eles se aperfeiçoassem em
seus talentos naturais para a guerra, de modo que se superassem, senão apenas confiança no
Seu poder e graça, e especialmente fé na Sua fidelidade, em cumprir as Suas promessas.
Se Ele havia prometido aos patriarcas, que daria a terra de Canaã à sua descendência, não cabia
aos israelitas outra opção senão a de crerem na fidelidade de Deus, pois Ele lhes havia dado
inúmeros exemplos de quão fiel era em cumprir todas as Suas promessas.
Todavia, a partir do trigésimo versículo do 15º
capítulo, o Senhor declarou expressamente que a cobertura do pecado, pelo sacrifício, não
anulava a responsabilidade de se guardar Seus mandamentos; de modo que aqueles que
pecassem deliberadamente, isto é, que confrontassem abertamente a Sua autoridade,
estariam blasfemando o Seu santo nome, e portanto, deveriam ser excluídos da
comunidade de Israel, por terem desprezado a Palavra de Deus, quebrando o seu mandamento,
e neste caso, responderiam pela sua iniquidade (v. 30,31).
Isto é um princípio divino importantíssimo para ser aprendido pelos crentes na Igreja de Cristo,
especialmente por aqueles que pensam
157
erroneamente que por estarem debaixo do sangue do Sacrifício do Senhor, que por estarem
debaixo da graça, têm permissão para viver na prática do pecado.
Para ilustrar como deveria então ser aplicada a
lei, é registrado logo em seguida ao verso 31, o caso de um homem que apanhou lenha num dia
de sábado, e sendo trazido a Moisés e a Arão, e a toda a congregação, foi colocado na prisão, e o
Senhor disse a Moisés que tal homem deveria ser morto por toda a congregação, através de
apedrejamento fora do arraial (v. 32-36).
Para o propósito de os israelitas lembrarem do
seu dever de guardarem os mandamentos do Senhor, e para que não se deixassem arrastar à
infidelidade pelos afetos carnais de seus corações, e pela cobiça de suas vistas, de modo
que fossem santos para com o Seu Deus, este ordenou a Moisés que lhes dissesse que
usassem em todas as suas gerações, franjas nas borlas das suas vestes, e que nestas colocassem
um cordão azul, para tal propósito de se lembrarem de todos os mandamentos.
Mais uma vez o Senhor lhes lembrou que lhes havia tirado do Egito, para ser o Deus deles (v. 37-41).
Com o cumprimento deste mandamento, através de suas vestes, eles testemunhariam
que eram diferentes das demais nações, e que
158
não estavam envergonhados do Seu Deus e da Sua lei.
Os fariseus ampliavam estas franjas das vestes, com a motivação errada, de modo a fazê-las
maiores do que as dos demais judeus, de forma a mostrarem que eram mais santos do que eles
(Mt 23.5).
Assim, não faziam um uso sincero e santo, senão hipócrita e para se ostentarem.
159
Uma Justiça Ofertada para Injustos
A justiça de Deus que é revelada por meio do
evangelho foi testemunhada nas Escrituras do Velho Testamento, antes que ela se
manifestasse na pessoa do próprio Senhor Jesus Cristo (Rom 3.21).
Foram inúmeros os registros cerimoniais e as
profecias do Antigo Testamento acerca da dispensação do evangelho, do ministério da
justiça e do Espírito (II Cor 3.8,9).
Cerca de setecentos anos do cumprimento das profecias relativas à justiça do evangelho, Deus
falou acerca dessa justiça pela qual somos salvos, através do profeta Isaías, como podemos
ver por exemplo em Is 46.13.
“Faço chegar a minha justiça; e ela não está
longe, e a minha salvação não tardará; mas estabelecerei a salvação em Sião, e em Israel a
minha glória.”
Esta promessa foi feita para os que são duros de
coração e que estão longe da justiça, a saber a todos os pecadores (Is 46.12).
Não é uma promessa para pessoas justas mas
para injustas, ou seja, para pecadores, que é a
160
condição de todo homem perante Deus. Daí ter nosso Senhor Jesus Cristo declarado que
não veio a este mundo para justos, mas para injustos, não para sãos, e sim para enfermos. Veio para injustos para torná-los justos, e para enfermos, para curá-los.
Quanto a esta salvação pela graça, que é
mediante a justiça de Cristo, que nos é atribuída na justificação, Deus disse que a levaria
completamente a termo, porque Judá sairia do cativeiro em Babilônia, sendo livrado por Ciro,
rei da Média, de modo que o Seu conselho eterno se cumprisse no futuro conforme as boas
promessas de salvação que foram feitas a Israel (Is 46.10).
Por causa do que seria feito por Ciro é dito que Babilônia seria encurvada e os seus ídolos
seriam colocados sobre animais de carga, para serem levados para fora de Babilônia, e seriam
um peso para estes animais assim como eram para os babilônios, porque não somente não
poderiam lhes livrar, como também os conduziriam àquela ruína.
Mas quanto a Israel, em vez de ser uma carga para eles, Deus lhes vinha carregando no seu
colo, desde que lhes havia formado no ventre, e até a sua velhice continuaria sendo o mesmo
para eles, porque os levaria, carregaria e
161
livraria, porque era um pai para o Seu povo (Is 46.3, 4).
A quem então poderia Deus ser comparado? Com os ídolos? Com estes que são uma carga
para os homens, em vez de carregá-los, para acharem alívio e paz?
Que não podem responder e livrar alguém da sua tribulação? (v. 7)
Os transgressores de Israel foram portanto
convocados por Deus a considerarem esta verdade e trazê-la sempre à memória (v. 8).
A recordarem sempre as coisas passadas desde a antiguidade, trazendo à memória os grandes
feitos do Senhor em relação a Israel, e certamente isto se referia ao que fizera com eles
desde os patriarcas até os seus dias; para que reconhecessem que não há outro Deus, senão
somente Ele, e que não há ninguém que possa ser comparado com Ele (v. 9) - o único que pode
nos justificar e salvar da escravidão ao pecado.
162
Sem Obediência a Deus e à Sua Palavra Não Há Vitória
O que havia ocorrido com o povo de Israel no
período dos Juízes é o mesmo que ocorre com a Igreja dos nossos dias, que tem apostatado da fé
genuína do evangelho, sobretudo em razão da sua grande mistura com as práticas que são do mundo (Tiago 4.4; I João 2.15).
Podemos aprender muito com a narrativa do 2º
capítulo de Juízes no qual se declara expressamente que a ruína de Israel era devida
à sua assimilação das práticas pagãs dos habitantes da terra de Canaã.
Este capítulo segundo é uma síntese de tudo o
que é narrado no livro de Juízes. Ele é uma preparação para tudo o que será dito
dali em diante.
Ele cita o que aconteceu, e estes fatos serão
narrados detalhadamente nos capítulos posteriores, com exceção dos cinco últimos
capítulos que se referem a um período anterior ao dos juízes.
A narrativa se inicia com o anjo do Senhor
repreendendo duramente os israelitas, pelo fato de não terem conquistado os territórios que lhes
foram designados por sortes, nos dias de Josué,
163
e pelo fato de terem se acomodado e se misturado aos cananeus.
Nos versos 11 a 13 é citado que a geração que se
seguiu à de Josué não conhecia ao Senhor, e fez o que era mau aos seus olhos, misturando-se aos
cananeus e fazendo as mesmas práticas abomináveis deles.
A condição de todo o período coberto pela
narrativa do livro de Juízes, o qual durou aproximadamente trezentos anos, está
declarada de forma resumida nos versos 14 a 23.
Nestes versos está revelado claramente que o motivo de estarmos enfraquecidos diante de
nossos inimigos espirituais e sujeitados a sermos pisados pelos homens, como sal que
perdeu o sabor, está relacionado ao abandono do Senhor, e da prática da Sua Palavra.
A comunhão com Deus, garantida por um andar
no Espírito Santo, fazendo aquilo que Ele nos tem ordenado na Bíblia e em relação à Sua
vontade específica, no que se relaciona ao viver diário, especialmente o que diz respeito às
coisas pertinentes ao ministério, que recebemos dEle para cumprir, é o modo de se
ter uma vida verdadeiramente próspera e sermos mais do que vencedores, por meio de
Jesus, sobre a carne, o mundo e o diabo.
164
Quando nos desviamos dos caminhos do Senhor ficamos sujeitados à disciplina da aliança, que
temos com Ele, por iniciativa e autoridade dEle próprio, que nos deixa à mercê da opressão dos
nossos inimigos, para que seja produzido em nós o devido arrependimento.
Quando este arrependimento ocorre e
clamamos pelo livramento de Deus, Ele se apressa em socorrer-nos, voltando a nos
conceder a Sua graça e poder, para sermos fortalecidos e podermos voltar a andar na Sua
presença.
Deus é santo, e sem a santidade que Ele mesmo
nos confere, por meio do Espírito Santo, é impossível estar em comunhão com Ele.
Por isso necessitamos da Sua graça, para que operando em nós, de forma a nos conceder um
coração segundo o Seu coração, possamos retornar à comunhão.
Então nós vemos declarado na Palavra de Deus
que era Ele próprio que entregava Israel nas mãos dos seus inimigos, e que também, por Sua
própria deliberação, decidiu que não desapossaria mais aquelas nações da presença
de Israel, para que por meio delas pudesse provar a fidelidade do Seu povo, em não se
deixar levar pelas suas práticas abomináveis, e permanecerem fiéis, na guarda dos Seus
mandamentos.
165
Por meio da permanência de muitas daquelas nações seria provado até que ponto Israel
buscaria uma vida autêntica de fé e obediência, de modo que se pudesse provar através disso
que estavam de fato fazendo a vontade de Deus, pois não havia outra maneira de terem sucesso
sobre os seus inimigos.
Isto ensina claramente que não se vence o diabo com religiosidade desprovida de verdadeira
comunhão com Deus, porque é se sujeitando a Ele e à Sua vontade, que vencemos o diabo e
todas as suas hostes.
Em outras palavras: a vitória sobre as forças do inimigo decorre de um caminhar na presença
do Senhor.
É sujeitando-se a Deus, mediante prática da Sua
Palavra, que o diabo foge de nós. Mas não era isto o que se via nas sucessivas
gerações de Israel.
Deus havia formado um povo exclusivamente seu a partir de Abraão, para o propósito de
preservar a vida do homem na Terra. Porque pelo modo santo com que deveriam viver
revelariam que a prática da justiça divina preserva e traz prosperidade, mas a prática do
mal, não somente destrói pessoas e nações, como também atrai os juízos condenatórios do
Senhor.
166
E isto estava sendo observado de modo prático nos dias do Velho Testamento, através das
assolações que Deus estava trazendo sobre as nações pagãs, como sobre o próprio povo de
Israel, quando este também se encontrava debaixo das mesmas práticas abomináveis
daquelas nações.
Em vez de serem distintos das nações de Canaã, pelo cumprimento de tudo que lhes foi
ordenado na Lei de Moisés, se misturavam às práticas daquelas nações, e perdiam a sua
identidade distintiva de povo do Senhor, porque quando se mistura água com vinho, o resultado
é uma mistura homogênea, e não dá mais para se distinguir quem é a água e quem é o vinho.
Mas quando se mistura água com azeite, o azeite há de ficar por cima da água e não se misturará
a ela.
É pois somente estando cheios do azeite que simboliza o Espírito Santo, e andando nEle, que
apesar de estarmos no mundo e termos que nos relacionar com as pessoas que são dele, com
vistas a lhes conduzir à bênção do Senhor, por nosso bom testemunho de vida, não nos
misturaremos jamais às coisas deste mundo e ao pecado, como diz o apóstolo Paulo em Gál
5.16: “Andai no Espírito e jamais satisfareis aos desejos da carne.”.
Assim, nós podemos concluir que a razão da
167
repreensão que o anjo do Senhor dirigiu aos israelitas se prendeu muito mais à falta de fé, e a
esta mistura com as práticas dos povos de Canaã, do que propriamente à falta de iniciativa
em combater os cananeus, para se apossarem das terras que lhes foram designadas por sortes.
O anjo do Senhor vinha lhes acompanhando desde a saída do Egito, e declara isto nas palavras dos versos 1 a 3, e que estava sendo fiel ao pacto
que haviam feito com Deus, de guardarem todos os Seus mandamentos, pois lhes estava
ajudando a cumprirem tudo que lhes havia sido ordenado, especialmente no que se referia a
prevalecerem contra os seus inimigos, mas manifestou o Seu desagrado diante do
seu recuo em fazerem a vontade de Deus, com as seguintes palavras:
“1 O anjo do Senhor subiu de Gilgal a Boquim, e disse: Do Egito vos fiz subir, e vos trouxe para a
terra que, com juramento, prometi a vossos pais, e vos disse: Nunca violarei e meu pacto
convosco;
2 e, quanto a vós, não fareis pacto com os
habitantes desta terra, antes derrubareis os seus altares. Mas vós não obedecestes à minha
voz. Por que fizestes isso?
3 Pelo que também eu disse: Não os expulsarei
de diante de vós; antes estarão quais espinhos
168
nas vossas ilhargas, e os seus deuses vos serão por laço.”.
Nós lembramos nisto, das palavras de Paulo
dirigidas aos Gálatas:
“Estou admirado de que tão depressa estejais desertando daquele que vos chamou na graça de Cristo, para outro evangelho,” (Gál 1.6). E ainda
em Gál 5.7: “Corríeis bem; quem vos impediu de obedecer à verdade?”.
A síntese de todo o conteúdo do livro de Juízes, que é feita neste segundo capítulo, revela que o
propósito principal da escrita deste livro foi o de ensinar que a mistura do povo de Deus com as
práticas abomináveis do mundo o torna impotente para conhecer e fazer a vontade do
Senhor.
Ensina também que a falta de fé e determinação para cumprir tudo aquilo que Deus nos tem
ordenado expressamente, como no caso dos israelitas, a indiferença em realizar a conquista
total de Canaã, acaba por conduzir o povo de Deus a perder o seu caráter único e santo, e em
decorrência disto, não terá poder e autoridade que procedem do Senhor para poder conhecer e
fazer a Sua vontade, deixando portanto, de ser bênção para as nações.
O mundo espiritual é discernido
espiritualmente, pelo Espírito Santo, e este
169
jamais se moverá naqueles que não estiverem se movendo em direção à obediência à Palavra de
Deus, pela busca de comunhão com Ele, em vidas verdadeiramente santas.
Em linhas gerais, foi este o propósito principal
do Espírito Santo ao ter inspirado a escrita do livro de Juízes.
Aprendemos também neste livro de Juízes que
períodos de arrependimento e de retorno à comunhão com o Senhor, podem ser seguidos
por períodos de apostasia, se não cuidarmos diligentemente em prosseguir adiante na
aplicação em nossos deveres para com Deus e com o próximo.
Vitórias alcançadas jamais devem ser motivo para descansarmos e não incentivarmos as
gerações seguintes à mesma fidelidade com que estivermos nos empenhando em agradar ao
Senhor.
O livro de Juízes dá um claro testemunho e palavra de alerta à Igreja para que não descuide
em avançar na comissão que lhe foi ordenada por Jesus de ir por todo o mundo e pregar o
evangelho a toda criatura, pois quando a Igreja se desvia deste grande alvo, perdendo o ardor
evangelístico e missionário, a consequência será o apostatar dos caminhos do Senhor,
porque Ele não se deixará achar e não expulsará
170
o Inimigo para que almas sejam conquistadas à fé, porque Ele faz isto, concedendo graça,
somente quando há uma verdadeira disposição e empenho em se obedecer à Sua grande
comissão.
A grande repreensão do anjo do Senhor aos israelitas, exibida nas palavras do verso 2: “Mas
vós não obedecestes à minha voz. Por que fizestes isso comigo?”, bem demonstra a grande
indignação que Jesus sente ao nos ver de braços cruzados em relação à ordem que deu à Igreja de
fazer discípulos em todas as nações. Isto é um dever real que impôs à Igreja até que
Ele volte.
E nós sabemos, pelo testemunho da história,
quantas derrotas o povo de Deus teve que amargar em relação aos seus inimigos
espirituais, e o pouco ou quase nenhum avanço que fez em determinadas épocas da história, pelo mesmo motivo que levou o anjo a se
indignar em relação aos israelitas no passado: falta de empenho em cumprir a Sua ordem de
avançar e conquistar para Deus tudo aquilo que Ele nos tem ordenado.
Os israelitas choraram por causa da repreensão do anjo (v 4), mas isto não é suficiente.
Não basta estarmos dispostos a mudar nossas atitudes, e mesmo lamentar o nosso estado
espiritual, se isto não for acompanhado por
171
ações de fé reais na direção do cumprimento daquilo que Jesus nos ordenou quanto à
evangelização mundial.
Planos, reuniões, congressos, concílios, e quaisquer outras iniciativas serão de nenhum
valor se não forem acompanhados por ações concretas visando à conversão de almas para
Cristo.
Se o Espírito Santo não for conosco, assim como o anjo acompanhava, dirigia, instruía e fazia as
conquistas para os israelitas, de modo algum poderemos pensar que estamos agradando a
Deus, se fugiu de nós o desejo e o empenho direcionados à salvação dos perdidos.
Esta tarefa de conduzir o rebanho à obra de evangelização é uma das principais missões de
qualquer pastor, pois são chamados de anjos das Igrejas, pelo Senhor Jesus, no livro de
Apocalipse.
Foi a eles que se dirigiu cobrando o seu empenho em conduzir o rebanho segundo a Sua
vontade, sob o risco de terem o seu candeeiro removido em caso de descumprimento daquilo
de que foram encarregados pelo Senhor da Igreja.
Estes pastores, que são designados por anjos das Igrejas, aparecem em Apocalipse como estrelas
nas mãos de Jesus.
172
Isto indica que assim como o Anjo da aliança apareceu a Josué, como príncipe do exército de
Jeová, e conduziu tanto a Moisés, quanto a Josué, e todos os líderes verdadeiros de Israel, que
foram levantados por Deus para conduzir o seu povo, de igual modo, Jesus é o mesmo Anjo na
Nova Aliança, que tem toda a primazia sobre os pastores que Ele mesmo chama e constitui sobre o Seu povo, para que façam toda a Sua
vontade.
O lugar onde o anjo falou aos israelitas ficou
sendo conhecido por Boquim (v. 1 e 5), porque no hebraico, esta palavra significa chorões, porque
que a palavra se encontra no plural, indicando que foram muitos os que prantearam em razão
da repreensão do anjo do Senhor.
Quem dera, ao menos a Igreja chorasse a sua
atual condição de quase completo desinteresse e imobilização quanto a buscar um real
compromisso e consagração ao Senhor, para que no poder do Espírito Santo se entregue à
obra de evangelização mundial, não somente em palavras, mas no poder do Espírito Santo,
através do testemunho pessoal de vidas transformadas e santificadas.
Mas, quando tão poucos se interessam pela
salvação da própria alma, como estarão realmente interessados na salvação de outros?
Os israelitas ao menos lamentaram e choraram
173
pela condição de desobediência à ordem de avançar e conquistar Canaã.
Sequer isto se vê na maior parte das Igrejas de
nossos dias, apesar de haver, certamente, uma repreensão do Senhor pelo fato de não terem
um maior empenho em prol da salvação dos perdidos em todo o mundo.
Os países da Ásia e de grande parte do Oriente, continuam com suas portas fechadas para o
evangelho, mas importa que este seja pregado também a eles, para que Cristo volte.
Quando a Igreja despertará do seu sono e começará a trabalhar com todo o empenho na
direção do cumprimento do Ide de Jesus? Jesus disse que o evangelho será pregado em
todo o mundo antes da Sua vinda, e o que nós estamos fazendo para que isto se cumpra?
O Senhor garantiu a posse de todo o território de Canaã aos israelitas, e o que eles fizeram em relação a isto?
O livro de Juízes revela o quadro, e este não é muito diferente do que tem ocorrido com a
história da Igreja ao longo destes dois mil anos, em que o evangelho tem sido pregado no
mundo. Da parte do Senhor, a aliança que Ele fez
conosco, nunca será quebrada, porque é fiel àquilo que prometeu, mas não se pode dizer o
mesmo em relação a nós.
174
Devemos portanto, ser diligentes em todo o tempo e ter todo o cuidado necessário para que
não nos desviemos do alvo que devemos atingir. Gostando ou não, querendo ou não, temendo ou
não, devemos nos lançar de corpo e alma à missão da qual fomos encarregados, e o Senhor
será conosco e nos fará prosperar em nossos empreendimentos, porque Ele fez a promessa de não deixar e desamparar àqueles que Lhe
obedecem e Lhe são fiéis.
Deste modo, os israelitas foram repreendidos,
não somente por terem se desviado da missão de conquistar Canaã, como também por terem
se misturado aos cananeus, que deixaram na terra, em vez de expulsá-los, e vieram a praticar
as mesmas abominações que eles praticavam. Não é de se estranhar portanto, que quando
deixamos de ter este interesse em dar testemunho de Cristo às pessoas, que sejamos
também encontrados em disposições de mundano proceder.
O pecado de Israel trouxe como consequência, o fato de Deus ter determinado que não
expulsaria mais os cananeus.
De igual modo, quando deixamos de cumprir o Ide e passamos a nos misturar com as coisas que
são do mundo, Deus também deixa de nos usar para conquistar as almas que são preciosas para
Ele.
175
Outros o farão no nosso lugar, e teremos que lamentar uma vida vazia e sem frutos, porque o
Senhor não dará jamais a honra de o indolente se gloriar em ter sido usado eficazmente por Ele.
Se não recebemos graça da parte de Deus, para realizar o trabalho que Ele nos designou, não
teremos outra alternativa senão a de enterrar o talento que nos deu para fazer a Sua obra. Aqueles que favorecem e são complacentes
com as suas luxúrias e corrupções, que deveriam mortificar, perdem a graça de Deus, e
esta é justamente retirada deles (ainda que não percam a salvação caso sejam crentes genuínos
justificados e regenerados pelo Espírito Santo).
Se nós não resistirmos ao diabo, não devemos
esperar que Deus o coloque debaixo dos nossos pés. O que se fará ao sal caso vier a perder o seu
sabor e função de salgar este mundo de trevas, para que a corrupção não prevaleça? Por isso, aos infiéis, em vez de promessas de bênçãos, Deus promete dificuldades, assim
como disse aos israelitas sobre o que deveriam esperar da parte daqueles aos quais haviam se
associado em suas más obras.
Seriam como espinhos e laço para eles, e isto
indicava dificuldades e opressões.
Pois em vez de dominar as nações, Israel seria dominado por elas.
Deus os entregaria nas mãos dos seus inimigos
por causa do seu pecado.
176
Ele afirmou que os venderia aos seus inimigos, assim como quem é vendido por causa de uma
grande dívida que não pode liquidar. A dívida dos israelitas seria cobrada na forma de
opressões dos seus inimigos, que seriam determinadas pelo próprio Deus.
Porém, sendo benigno e misericordioso, o
Senhor prometeu livrá-los das mãos dos seus opressores caso se arrependessem dos seus
pecados.
Ele suscitaria libertadores para este propósito, e nós vemos esta promessa sendo cumprida em
diversas ocasiões na narrativa do livro de Juízes, revelando-se assim o caráter fiel do Senhor, em
cumprir as Suas promessas, e a sua infinita misericórdia para conosco.
Entretanto, em razão do Seu atributo de justiça, apesar de ser tardio em se irar, o Senhor não
pode ser, de modo algum, conivente com o pecado e permanecer insensível às apostasias
do Seu povo, e por isso sempre torna a exercer os Seus juízos, a par de toda a misericórdia
exibida anteriormente.
Por causa de Sua longanimidade, pode até suportar, tolerar por muito tempo todos os
nossos pecados, mas certamente não nos deixará sem a devida correção no tempo
apropriado.
177
Isto aprendemos não somente na revelação que fez no livro de Juízes, como também em toda a
Bíblia.
A história da Igreja, tal como a narrada em
Juízes, tem revelado o modo como Deus tem levantado pessoas que qualificou e capacitou
extraordinariamente, pela Sua graça, para redirecionar o Seu povo à prática da justiça e da
santidade, e isto nos faz lembrar de Lutero, Calvino, Jonathan Edwards, Spurgeon, e muitos
outros, que em suas próprias épocas, foram instrumentos nas mãos do Senhor para o
referido propósito.
É notável também, que sempre segue a um período de grande reforma e retorno à
santidade, períodos de apostasias.
Tal como se deu com Israel, ocorre com a Igreja,
e por isso, cada época testemunhará acerca daqueles que Deus levantou e continuará
levantando para avivar o Seu povo. Isto indica que o ideal seria que a Igreja
permanecesse permanentemente avivada e fiel à vontade de Deus.
Mas como o evangelho opera entre pecadores, e
por serem estes dados a se desviarem da vontade do Senhor, sempre será necessário
manter uma postura de reforma, de modo a não se experimentar apostasias, que sempre virão,
sem falta, se deixamos esfriar este espírito de
178
manter as pessoas ocupadas em serem fiéis à vontade de Deus.
Veja o caso de Israel, que enquanto vivia Josué e os anciãos da sua geração, o povo andou
obedientemente cumprindo a vontade do Senhor, especialmente no que se refere à
ocupação e conquista de Canaã. Mas, quando uma nova liderança se levantou, e que não tinha o mesmo empenho em conduzir o
povo nos caminhos de Deus, o resultado é o que encontramos no livro de Juízes, que afirma o
seguinte nos versos 16 a 19: “16 Mas o Senhor suscitou juízes, que os livraram da mão dos que
os espojavam. 17 Contudo, não deram ouvidos nem aos seus juízes, pois se prostituíram após
outros deuses, e os adoraram; depressa se desviaram do caminho, por onde andaram seus
pais em obediência aos mandamentos do Senhor; não fizeram como eles. 18 Quando o
Senhor lhes suscitava juízes, ele era com o juiz, e os livrava da mão dos seus inimigos todos os
dias daquele juiz; porquanto o Senhor se compadecia deles em razão do seu gemido por
causa dos que os oprimiam e afligiam. 19 Mas depois da morte do juiz, reincidiam e se
corrompiam mais do que seus pais, andando após outros deuses, servindo-os e adorando-os;
não abandonavam nenhuma das suas práticas, nem a sua obstinação.”
E tal é esta obstinação da natureza terrena, do
179
coração carnal, que se diz que o povo não deu ouvido aos juízes e se prostituiu após outros
deuses (v. 17).
A advertência bíblica para que nos empenhemos com toda diligência em
confirmar a nossa vocação e eleição, não é de pouca importância, porque se refere a uma luta
titânica contra um inimigo poderoso que é a nossa natureza pecaminosa, que pode ser
mortificada somente pelo Espírito Santo, mas este trabalho não poderá ser realizado se não
cooperarmos com a Sua vontade, por não nos tornarmos verdadeiramente submissos ao
Senhor, e por não crermos e não nos dispormos a colocar em prática, todas as coisas que nos tem
ordenado em Sua Palavra, e especificamente em nossa caminhada diária.
Assim, os cananeus não seriam expulsos por
Deus, para que por meio deles, provasse a fidelidade de Israel.
De igual modo o diabo e todos os seus demônios permanecem no mundo, não por que isto seja
agradável ao Senhor, mas para que por meio desta presença, a nossa fidelidade possa ser
provada, de maneira a permanecermos firmes em fazer a vontade de Deus, em meio a todas as
tentações que o inferno possa realizar. E parece que a missão da Igreja de ser sal e luz
do mundo se deteriora cada vez mais,
180
permitindo que a luz do evangelho não brilhe em todo o seu fulgor e que o sal perca o seu
poder de salgar e preservar.
Isto decorre do pecado de os cristãos em serem mundanos, ignorando a ordenança bíblica de
serem um povo distinto e de não amarem o mundo e não tomarem a forma dele, como nos
exortam especialmente os apóstolos João e Paulo, respectivamente.
Muitos cristãos não querem ser diferentes do
mundo. Ao contrário, querem trazer para suas vidas e para dentro da Igreja aquilo que não é de
Cristo, mas do mundo.
Pensam erroneamente, que esta será a melhor
forma de trazer outros à conversão. Estamos empenhados numa batalha espiritual
de vida ou de morte. Na qual operam principados e potestades com toda a fúria
inimaginável, para permanecerem na posse das almas humanas, as quais, para serem resgatadas
demandam que primeiro seja amarrado o valente que as aprisiona, e este é um trabalho
único e exclusivo para o Senhor Jesus e o Espírito Santo de Deus, sob a atração exercida por Deus Pai para trazer os pecadores em
submissão a Seu Filho.
E como isto poderá ocorrer quando os cristãos
se tornam mundanos?
181
Deus usaria Israel caso eles evitassem o pecado de se misturar com o pecado das nações pagãs.
E não é portanto para se admirar que tantas exortações sejam feitas na Sua Palavra neste
sentido.
E para o propósito de desencorajar o Seu povo à mistura com as nações de Canaã, Deus
acrescentou variadas e grandes ameaças de maldições e castigos para os israelitas no caso
de serem desobedientes a tal ordenança específica.
Muitas aflições viriam sobre eles, da parte do próprio Deus, caso se misturassem com as
práticas abomináveis daquelas nações. O que acontece com a Igreja de Cristo em nossos
dias não é muito diferente disso. Muitas bênçãos não são alcançadas, e muita
correção da parte do Senhor sobrevém à Igreja, exatamente por causa deste pecado de se assumir a forma do mundo.
Se, conforme dizer do apóstolo é necessário não
se conformar ao mundo para que se possa conhecer a boa, agradável e perfeita vontade de
Deus, então não é difícil de se entender que quando se toma a forma do mundo não somente
ficamos impossibilitados de fazer a vontade de Deus, como até mesmo de conhecê-la,
conforme se afirma em Rom 12.2. Deus quer um povo santo, puro e separado, e o
segundo capítulo de Juízes nos revela isto de
182
forma muito direta e clara, e este povo, é formado na dispensação da graça, por pessoas
que se convertem das trevas do mundo para a luz de Jesus.
Tudo o que estiver misturado com o mundo,
passará debaixo do juízo ou da correção do Senhor, porque nada que provém do mundo
pode ser um canal apropriado para trazer a nós a presença real e santa de Jesus.
Assim, todo ministério mundano não prevalecerá, e ficará destituído da graça de
Deus.
Os pastores mundanos não terão qualquer mensagem recebida da parte de Deus para ser
pregada com poder ao Seu povo. Porque o Espírito Santo não se detém onde mora o
orgulho e disposições de mundano proceder. Aquele que não separa o que é vil do que é
precioso, não pode ser a boca de Deus. Deste modo, todos os cristãos que se deixarem
seduzir pelos prazeres deste mundo estarão áridos, vazios e confusos.
Serão como o povo de Israel, depois de ter fabricado o bezerro de ouro.
A presença da nuvem de glória entre eles se
retirará e o Senhor não caminhará mais com eles, até que se arrependam e voltem a viver em
verdadeira santidade.