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MEMÓRIA E HISTÓRIA: ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE UMA ESCOLA
PÚBLICA DA CIDADE DE UBERLÂNDIA-MG
Janaína Ferreira Silva1
RESUMO
A apresentação dessa comunicação tem como objetivo expor algumas primeiras reflexões
sobre uma memória na cidade de Uberlândia-MG, que envolve uma escola pública da cidade.
O trabalho como professora de História em escolas públicas em diferentes territorialidades
naquela cidade me colocou enfrentamentos políticos e sociais que provocaram grande
incômodo, que levaram a construção de um projeto de pesquisa que visa à construção de uma
Tese. O processo que envolve escolas públicas e o letramento sob o ponto de vista da luta de
classes despontou de maneira intensa quando cheguei como professora de história na Escola
Estadual de Uberlândia, conhecida popularmente como ‘Museu’. Ao decorrer do tempo fui
percebendo que os enfrentamentos vividos na Escola Estadual de Uberlândia – Museu- foram
lançados para instâncias mais conflituosas e complexas do processo histórico, por envolver
um passado da escola que está ligado, por sua vez, há um determinado passado da cidade.
Nesse primeiro momento, a investigação histórica tem como proposta problematizar os
sentidos atribuídos a essa escola pública na cidade, quando no processo de disputas de
interesses de classes alguns elementos do passado, dessa escola em específico, são
valorizados em uma conjuntura histórica de práticas sociais, onde o ensino público gratuito e
de qualidade sofre com as pressões das novas formas de expropriação das relações
capitalistas. Nesse sentido, o campo de diálogo tem sido construído com o materialismo
histórico dialético, buscando inspirações nos estudos desenvolvidos pelo historiador E.P.
Thompson e o também pesquisador Raymond Willians, entre outros.
Palavras-chave: memória; escola pública; cidade, Uberlândia-MG; educação.
A pesquisa que venho desenvolvendo, para o doutoramento em História Social, trata
em termos amplos das relações sociais construídas em Uberlândia-MG, mais especificamente,
em torno de uma escola pública, que é conhecida na cidade como “Museu”, cujo nome oficial
é Escola Estadual de Uberlândia2. As problemáticas dessa pesquisa surgiram de maneira
intensa quando cheguei como professora de história na escola.
1 Doutoranda em História Social pelo Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de
Uberlândia. Bolsista CAPES. Trabalho vinculado a Linha Trabalho e Movimentos Sociais e ao Núcleo de
Pesquisas em História, Cidades e Trabalho. 2 Essa instituição escolar da cidade funciona em um prédio que se diferencia das outras escolas da cidade pela
sua arquitetura. Consta em algumas produções bibliográficas, que por sua vez, consultaram obras de alguns
memorialistas da cidade como Tito Teixeira e Jerônimo Arantes, que o prédio começou a ser construída em 1917
e terminada somente em 1921, com recursos particulares de pessoas que se uniram através da Sociedade
Progresso de Uberabinha para dar novas instalações a escola secundária Gymnásio de Uberabinha, que
funcionava desde 1912. No novo prédio funcionava em regime internato e externato, tornando-se uma instituição
pública somente em 1929. Por todo esse tempo de existência, ela já teve a sua denominação modificada várias
vezes: quando pública passou a Gymnásio Mineiro de Uberlândia até 1943, quando acontece a mudança
ortográfica para Ginásio Mineiro de Uberlândia. Em 1944, quando passa a oferecer além do Ginásio, o ensino
científico e humano, a instituição torna-se Colégio Estadual de Uberlândia. Em 1973, com a Reforma
Educacional da Ditadura Militar, a denominação passa a ser Escolas de 1º e 2º graus, logo temos Escola Estadual
de 1º e 2º graus de Uberlândia. “Museu” é apenas um apelido, como já teve a escola também outro “CÉU”, por
ser a sigla de Colégio Estadual de Uberlândia.
2
Elaborar as questões de pesquisa a partir condições vividas é um elemento crucial na
minha perspectiva de trabalho, por compartilhar da visão e concepção da historiadora Déa
Fenelon que defende a inversão da relação passado/presente para presente/passado por
permitir a elaboração de um olhar crítico, uma forma de compreender as relações humanas ao
longo do tempo, onde:
(...) não perpetuamos visões de um passado mistificado, com acontecimentos cristalizados, com
periodizações que pouco tem a ver com as perspectivas que queremos desvendar, há que
definir uma concepção de presente, que nos permita atribuir significado ao passado, e
mais, que nos oriente em direção ao futuro que queremos construir, ou estaríamos traduzindo
em conservadorismo social culto pelo passado (...) 3
Com essa forma de operacionalizar o conhecimento sobre o passado, situamos o nosso
presente e os seus embates, e acima de tudo nos colocamos sujeitos nesse processo, apontando
nossas posições políticas em uma realidade que nada mais é que um produto complexo das
relações construídas ao longo do tempo. São por esses pressupostos que sustento as origens
dessa pesquisa, que estão na minha prática social vivida enquanto professora da Escola
Estadual de Uberlândia, o “Museu”.
A escola fica muita próxima do principal centro comercial da cidade, mais
precisamente em um bairro chamado Fundinho, local onde teria iniciado a vida urbana
daquela que se tornaria mais tarde a cidade que conhecemos como Uberlândia. Caminhar
pelas proximidades da escola é perceber as marcas de relações sociais de um passado que nos
dão mostras que mudanças aconteceram nos costumes e hábitos.4
Remeter-se há esses elementos tem uma razão. Em meio a esse espaço social em que
observamos impressões do passado, sendo algumas delas eleitas como importantes para uma
história da cidade, encontramos o prédio onde funciona a Escola Estadual de Uberlândia.5
3 FENELON, Déa Ribeiro. Historiador e a Cultura Popular: História de Classe ou História do Povo?In: História
& Perspectivas. Uberlândia. N.º 40. Jan-Jun. 2009. Pág. 27-51. 4 A apreensão dessas mudanças acontece por um simples caminhar pelas ruas estreitas, onde a maioria das
moradias tem as suas portas e janelas dispostas para a via pública. São pequenos detalhes que marcam o bairro e
deixam nítido que o tempo passou e os modos de vida mudaram. Essa percepção se aguça quando ainda
comparamos com outras experiências espaciais de bairros relativamente mais novos em relação ao Fundinho,
com ruas largas e extensas avenidas, as moradias muitas de conjuntos habitacionais, outras de autoconstrução,
algumas com muros altos e grandes portões que isolam a casa da rua e vice e versa. 5 Nesse bairro estão alguns prédios que foram considerados patrimônios históricos e culturais da cidade entre
eles os mais conhecidos são: a Casa da Cultura, o prédio onde funciona a Oficina Cultural e o Palácio dos Leões.
Entre os patrimônios culturais e históricos menos conhecidos podemos citar a Igreja Nossa Senhora das Dores
que faz parte do complexo de prédios do atual Colégio Nossa Senhora da Ressurreição que existe na cidade
desde a década de 1930, mas que mudou de mantenedora nos últimos anos. Para demais informações sobre bens
tombados no Fundinho ver: GOULART, Maurício Guimarães. Apenas uma fotografia na parede: caminhos de
preservação em Uberlândia. Universidade de Brasília. 2006. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e
Urbanismo.
3
O ano era 2008 quando cheguei à escola com turmas de sexto ano (antiga 5ª série) no
turno da tarde, as expectativas em torno da escola não eram diferentes em relação às outras
escolas da cidade que havia trabalhado em anos anteriores. Um trabalho em que se coloca
acirrados embates políticos e sociais a cada dia e a cada aula, ainda mais por se tratar da rede
pública de ensino. As responsabilidades e disputas, enquanto professora de história,
aparentavam em um primeiro momento serem iguais as que enfrentavam em outras escolas
públicas da cidade.
Ao decorrer do tempo fui percebendo que os enfrentamentos vividos na Escola
Estadual de Uberlândia – Museu- foram lançados para instâncias mais conflituosas e
complexas do processo histórico, por envolver um passado da escola que está ligado, por sua
vez, há um determinado passado da cidade.
Nesse primeiro momento, a investigação histórica tem como proposta problematizar
os sentidos atribuídos à essa escola pública na cidade, quando no processo de disputas de
interesses de classes alguns elementos do passado, dessa escola em específico, são
valorizados em uma conjuntura histórica de práticas sociais, onde o ensino público gratuito e
de qualidade sofre com as pressões das novas formas de expropriação das relações
capitalistas.
Nesse sentido lanço as seguintes problemáticas a serem discutidas nesse texto: qual
memória tem dominado o campo social que faz referência à escola pública e a educação na
cidade? Quais elementos de um passado são referenciados nessa memória? Como a questão
do tombamento é vivenciada?
Uma memória dominante sobre Escola Estadual de Uberlândia não aparece desligada
de um ideário de cidade desenvolvida que gera personalidades e autoridades que se tornaram
destaques quase que por terem estudado na escola. Esse espaço social seria um dos elementos
geradores do desenvolvimento da cidade e conseqüentemente de sua marcha ‘evolutiva’, cuja
função era prover a educação dos agentes desse processo.
Essa versão criada sobre a história, que relaciona a escola com a cidade, na década de
2000 foi intensamente fortalecida pelo fato da escola ter sido tombada como um dos
Patrimônios Históricos Culturais da cidade, mais precisamente em 2005.6
6 Uma Dissertação de Mestrado que dirigiu suas pesquisas no mesmo campo teórico-metodológico e linha de
pesquisa foi a LIMA, Soene Ozana de. Visões e Concepções sobre Patrimônio Histórico em Uberlândia
(1950-1988). Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em História. Universidade Federal de
Uberlândia. 2007. Essa pesquisa acompanhou a questão do patrimônio para além dos tramites institucionais,
buscando sujeitos sociais e suas relações com as estruturas que compõem o espaço urbano. Que são bem
diferentes da concepção de bem histórico que aprecem na imprensa, que fez inclusive uma campanha, para a
4
Há um rol de evidências que surgem em um mesmo momento histórico: o Dossiê de
Tombamento em 2004 e a notícia que o Jornal Correio de Uberlândia construiu para divulgar
aos leitores sobre o tombamento. São práticas dentro de um processo histórico que atuam em
um campo de forças onde a escola pública está implicitamente no centro das relações sociais,
mas que na realidade vivida assume outras dimensões. Essa relação, no entanto, aparece no
passado como uma instituição que assumiu um papel importante na formação daquilo que
seria a Uberlândia, uma ‘potência em termos de desenvolvimento’.
Essa construção sobre o passado que envolve essa escola na história da cidade é
colocada no Dossiê de Tombamento da Escola Estadual de Uberlândia. Essa documentação
que protege e preserva a escola sob o inscrito da lei torna-se uma evidência do processo
histórico que envolve os sentidos, os significados e os conflitos quando as escolas públicas
estão no centro das tensões, não é o objetivo dessa pesquisa discutir tombamentos históricos
na cidade, políticas públicas e nem entrar em debates em que se avaliam o que deve ou não
ser tombado. O ato de tombamento emerge como uma medida política do poder que vem
apenas evidenciar um processo de embate mais amplo que acontece no campo da memória
dessa cidade.
O Dossiê de Tombamento é uma evidência de expressão de alguns sentidos e
significados sobre a escola que aparecem de maneira muito próxima da idéia de cidade
desenvolvida, como pólo urbano de elevado patamar econômico em uma atmosfera
harmônica, sem interferências para a acumulação de capital. Essa documentação nada mais é
que uma evidência que traz a construção de significações sobre escolas públicas, o letramento
e a cidade, e esse registro social acaba por ser um veículo que consagrou práticas existentes
nas relações travadas entre as classes sociais em Uberlândia.
O caminho é então desconstruir significados e sentidos que valorizam a escola pública
e o letramento como meios de promoção da cidade enquanto detentora de um desenvolvido
sistema econômico e político, ou seja, de um aprimorado local urbano com relações
capitalistas altamente eficientes na geração do capital.
destruição daquilo que era considerado antigo e construção de novas estruturas com vistas à fuga das marcas de
um passado rural. A historiadora também analisou as narrativas de sujeitos sociais que estiveram envolvidos nos
processos de tombamentos na cidade, mas que não deixaram de expressar pareceres sem apoiarem em suas
próprias lembranças e vivências. A pesquisadora acompanhou também como aconteceu o movimento de
tombamentos na cidade, que ganhou forças na década de 1980, tratando da criação da Comissão Municipal de
Patrimônio Histórico Cultural em 1985. Para Soene Lima a maioria dos processos de tombamentos são alheios
aos anseios da população e isso é um grande problema, pois acaba por serem selecionados bens que se
relacionam com o poder público ou com personalidade política importante para a época. O trabalho torna-se uma
referência importante por abordar a questão patrimonial de uma maneira que não acompanha tendências em alta
que classificam obras arquitetônicas de outros tempos pela beleza e arranjos estruturais, que acabam por
incentivar o mercado de turismo cultural, explorador desses espaços sociais das cidades.
5
O Dossiê de Tombamento nada mais é que um veículo que institui e é instituído de
uma noção de história da escola e da cidade totalmente evolutiva, e até com aspectos
harmônicos que se apóiam nos grandes homens como responsáveis por todo aquele desenrolar
dos acontecimentos geradores das benesses da cidade. Não podemos ignorar que é uma
documentação que foi elaborada para atender e cumprir normas burocráticas, logo esses
Dossiês de Tombamentos tornam-se paradoxais no sentido de atenderem critérios e exigências
do Instituto de Patrimônio Histórico de Minas Gerais (IPEHA-MG), ao mesmo tempo em que
constroem uma versão histórica do passado que atende não apenas os anseios do órgão
estadual, mas se expande em outras instâncias do social.7
Considerando-o como uma evidência e refletindo sobre a forma como são elaborados,
esses Dossiês mostram que possuem suas propriedades determinadas. A primeira que se
apresenta é o fato de que sua criação veio atender as exigências de um órgão do Estado que
cuida de assuntos de preservação histórica. Nos tópicos que tratam do Município e da escola,
a ação dos responsáveis - que não são citados - pelo Dossiê foi de fazer um compilado de
obras e pesquisas que já tratavam daqueles elementos dentro de uma abordagem muito
próxima aos critérios do órgão estadual. 8
A existência desse Dossiê vem a constatar que esses órgãos do Estado, que pensam
questões relacionadas ao patrimônio histórico e cultural, atribuem crédito, sustentabilidade e
força à determinadas versões do conhecimento histórico que pouco nos diz sobre as relações
históricas humanas, que se constituem nas tensões e conflitos de classe, ou seja, em nada
produzem para o acumulo humano do conhecimento em particular do campo da História, pois
suas intenções não levam em consideração as condições materiais de existência em que se dão
a vida dos diferentes sujeitos sociais.
Ao identificar os critérios exigidos para a formulação de um Dossiê de Tombamento
cabe então colocá-lo no processo de interrogação dialógica para a produção de algum
7 Os Dossiês de Tombamento são elaborados e planejados seguindo as normas e exigências do Instituto Estadual
de Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IPHEA-MG, sendo uma documentação necessária para o
processo de afirmação de determinado elemento em Patrimônio Histórico – Cultural. Os municípios interessados
em algum tombamento quase que preenchem um formulário com tópicos históricos e com outros tópicos
técnicos. Ao trazerem essas informações o Dossiê vai sendo pontuado por analistas do Instituto, quando atinge
determinados números o bem passa a ser considerado então Patrimônio Histórico do Município, e com isso passa
a receber um investimento de fundo público normalmente por um curto período. O Dossiê de Tombamento da
Escola Estadual de Uberlândia encontra-se no Arquivo Público Municipal de Uberlândia para livre consulta.. 8 Além de algumas produções acadêmicas, são utilizadas algumas obras de memorialistas conhecidas por
historiadores e pesquisadores que pesquisam temas com relação à cidade tais como: TEIXERA, Tito.
Bandeirantes e Pioneiros do Brasil Central. Uberlândia. Uberlândia Gráfica. 1970. Volume 1; PEZZUTTI,
Pedro. Município de Uberabinha: história, administração, finanças, economia. Uberlândia: Livraria Kosmos,
1922.
6
conhecimento histórico? Entendo que toda e qualquer relação humana deixa marcas que
podem abrir meios para alguma compreensão sobre o passado. A partir desse olhar, a
condição de interrogada cabe dentro de um processo de desconstrução da elaboração que esse
Dossiê faz da escola com uma instituição importante para a formação da cidade progressista.
A cidade e a escola são elementos imbricados e que se constituem em um constante fazer-se,
como é perceptível na linguagem do Dossiê.
“(...) A origem da Cidade de Uberlândia remonta ao início do século XIX (1830) numa região
denominada ‘Sertão da Farinha Podre’ em ma faixa de terra compreendida entre os rios
Paranaíba e Grande, objeto de exploração dos bandeirantes que passaram com o destino às
regiões mineradoras do Centro-Oeste. Inicialmente a região não interessava aos
expedicionários que a utilizavam apenas como rota de passagem indispensável para alcançar os
núcleos de mineração e permaneceu fornecedora marginal de metais e ponto dos núcleos
mineradores do Centro-Oeste. (...)” 9
Como vimos no Dossiê, a evocação do desenvolvimento da cidade inicia-se pela
localização geográfica e elementos naturais que tornaram se necessários para a cidade crescer
de maneira ‘próspera’, com características de uma verdadeira metrópole, que ao final do
documento é reverenciado: “(...) Atualmente, Uberlândia conta com uma população de
500.000 mil habitantes (...)” O número é um dado que fala por si só, e referenda todo o
processo evocado no Dossiê. 10
Segundo o Dossiê, os problemas sociais não têm origens no capitalismo, ou seja, nas
relações construídas dentro do modo de produção e sim na quantidade de pessoas que venham
a ocupar um mesmo espaço aliado a falta de planejamento por parte dos governos. Quando a
reestruturação do espaço urbano acontece se faz de maneira equivocada, sem compromisso, o
que pode acarretar ainda mais problemas. Esses teriam como principal causa a
descaracterização de estruturas físicas, devido ao fato de uma maior circulação de pessoas
pelo espaço urbano, que quase significava um ‘pisotear’ sobre lugares que, segundo o Dossiê,
são a identidade da cidade.
O Dossiê constrói a idéia de que a cidade e o seu crescimento se fez pelo senso de
oportunidade que a região, a cidade, provocou naqueles sujeitos que tinham maiores
propensões à liderança e a esperteza para perceber as oportunidades de crescer
economicamente na cidade e com a cidade.
9 DOSSIÊ DE TOMBAMENTO DA ESCOLA ESTADUAL DE UBERLÂNDIA. Uberlândia. Abril de 2005.
Pág. 4. 10Dentro da construção dessa versão há um erro perceptível, até mesmo para os mais leigos, não se menciona que
na região viviam tribos indígenas, antes mesmo dos bandeirantes fazerem do local um lugar de passagem que
considero um erro grave para pensar origens de uma cidade e sua população, há literalmente uma omissão.
7
Quando lemos o Histórico da Escola, a formulação que se pode realizar é que a
importância da escola na cidade se faz primeiro pelo fato dela existir a muitos anos, segundo
por ter sido o seu prédio resultado da mais legítima ação visionista do progresso por agentes
de gerações posteriores, mas com o mesmo ímpeto e espírito dos que os precederam por terem
investido, e com isso acreditado na cidade, ao realizarem uma construção requintada que
registrasse a ação do crer na cidade, acionando assim o processo do crescimento mútuo entre
agentes e a cidade:
“(...) A história da Escola Estadual de Uberlândia teve início em 1912, com a criação do
Ginásio Uberabinha, instituição particular sob a direção Antônio Luis Silveira, funcionando em
condições precárias e em local inadequado. Algumas pessoas de grande influência na cidade
tais como Arlindo Teixeira, José Nonato Ribeiro, Antônio Resende, Custódio Pereira, Carmo
Gifone e Clarimundo Carneiro uniram-se para criar a Sociedade Progresso de Uberabinha, com
o objetivo de construir um prédio novo para a escola. A obra foi realizada pelo construtor
Hemenegildo Ribas, entre 1818 e 1921, não há confirmação se a autoria do projeto é sua. O
colégio funcionou até 1929 em regime particular nessa data o prédio foi doado ao Estado de
Minas Gerais, sem ônus para o governo, para a instalação do Ginásio Mineiro de Uberabinha
(...) O Ginásio Mineiro de Uberabinha oferecia internato para 120 odesta e talunos além dos
externos. A instalação se deu em 30 de março de 1930. Ainda em 1930, durante a Revolução
Constitucionalista do Triângulo Mineiro. Em 1944, a escola passou a se chamar Colégio
Estadual de Uberlândia e finalmente em 1973, depois de uma grande reforma perdeu o nome
atual, Escola Estadual de Uberlândia. Seu primeiro diretor, no regime estadual, foi Mário
Guimarães Porto, seguido por Luis da Rocha e Silva, Aniceto Maccheroni e João Siqueira,
Osvaldo Vieira Gonçalves (Prof.º Vadico), Sanit-Clair Netto, Celso Corrêa dos Santos, Gláucia
Santos Monteiro, Sâmia Mameri Ferreira, Arlete Lopes Buiatti, Dilma de Paula Segatto e
Yolanda de Leva Bernardes. Em 1999, foi comemorada a data de 70 anos de funcionamento da
escola uma grande festa que atraiu a atenção da cidade para o evento visto sua importância
cultural e histórica.”11
Constrói-se a noção de que a escola desenvolveu-se juntamente com a cidade,
caracterizando a origem modesta e tímida enquanto instituição, mas eis que surgem os
homens não só de poderes econômicos, mas também de visão e vontade que inclusive
escolhem um nome extremamente propício para a união de seus esforços: “Sociedade
Progresso de Uberabinha”. Há nos dois históricos, do município e o da escola, que compõem
o Dossiê uma mesma linha de exposição e visão histórica: parte-se do passado traçando uma
linha evolutiva dirigida por alguns que chega a um presente, onde se reverência condições
sociais, políticas e econômicas
A visão eleita pelo Dossiê como sendo a história da escola tem os marcos que se liga
com o poder político e os feitos dos ‘grandes homens’, não se diferenciando do histórico
construído sobre a cidade. Os conflitos e as tensões não aparecem em nenhum momento, a
11 DOSSIÊ DE TOMBAMENTO DA ESCOLA ESTADUAL DE UBERLÂNDIA. Uberlândia. Abril de 2005.
Pág. 14.
8
não ser no aspecto já destacado, a degradação de alguma forma do imóvel a qual está pedindo
o tombamento histórico-cultural.
Gera-se o incômodo por parte de algum setor da cidade a possível violação que possa
ter o foi se construído ao longo de um processo não homogêneo, mas sim marcado pelas
diferenças acirradas de interesses entre classes sociais. Mas que significado é esse que não
pode ser ‘depredado’ junto com o prédio? O qual o Dossiê quer ‘patrimonializar’ por acreditar
que contribuiu com uma versão da história da cidade?
Uma cidade tida como ‘próspera’ tal como é construída no histórico do município no
Dossiê não podia deixar de ter instituições que de alguma forma contribuíssem com aquela
condição. Logo em termos de educação foi atribuída a essa escola aquela missão. Uma das
poucas escolas na Uberabinha que oferecia o Curso Ginasial, e que por isso ganhou o
empenho de forças classistas dominantes para a construção de um prédio, não condizia o
funcionamento em condições precárias de uma instituição de saber e conhecimento para
estudantes que haviam ultrapassado a quarta série primária, a linha do horizonte em termos de
estudos para a maioria da população, principalmente trabalhadora.
Nesse processo em que observamos essa escola pública tornar-se patrimônio histórico-
cultural da cidade, o jornal Correio de Uberlândia, que circula interruptamente na cidade
desde 1938, constrói uma extensa reportagem em uma de suas edições daquele mês de junho
de 2005, para noticiar aos seus leitores e interessados sobre o ato de tombamento da escola.
Na minha percepção, a reportagem teceu maiores laços de intersecção da escola com a cidade
até maiores do que o próprio Dossiê, ação que nos permite adentrar na construção do
significado e sentido que almeja predominar-se nas relações sociais em torno escola pública.
O tombamento da escola foi reportagem de primeira página na edição de quarta-feira
no dia 22 de junho, alguns dias depois da finalização do processo. A reportagem ganhou no
interior do jornal a primeira página no Caderno Revista com o seguinte título: “De ‘Museu’ a
patrimônio cultural”.
“Reconhecida em seu estilo arquitetônico eclético, o prédio da Escola Estadual de Uberlândia,
popularmente chamada de Museu, passa a ser um patrimônio histórico-cultural do município
(...) que começou a ser seguida em setembro de 1919, obteve uma ratificação da sua
importância real para o desenvolvimento e a transformação do distrito de Uberabinha à
Uberlândia atual. A construção de 5 mil metros quadrados tem um valor histórico para a cidade
só equiparado ao dos Palácios dos Leões na Praça Clarimundo Carneiro. Foi a Praça Adolfo
Fonseca região que nas primeiras décadas do século 20 concentrou maior número de pessoas,
mercadorias e comércio, o palco de todas as atividades políticas e culturais e sobretudo
educacionais que se desenrolaram para a criação do Colégio Estadual de Uberlândia (...) A
chamada Sociedade para o Progresso da Uberabinha acendeu a luz do conhecimento
difundindo no Ginásio da Uberabinha, com suas aulas de línguas estrangeiras (inclusive latim)
9
e música erudita de um piano que se encontra até hoje na biblioteca do Museu. Até aquele
momento esta era uma iniciativa sem ligação governamental, mas havia necessidade de uma
escola que formasse os jovens uberlandenses de forma compatível com suas aspirações. (...)
Em 1943, o educador e diretor da escola, Osvaldo Vieira Gonçalves, conhecido por Vadico, foi
até ao Rio de Janeiro solicitar a criação dos Cursos Científico e Clássico com o ensino do
segundo ciclo (similar no Ensino Médio). Em 9 de março de 1944, o presidente Getúlio Vargas
oficializou a alteração. O Museu passava de Ginásio Estadual para Colégio Estadual de
Uberlândia. ‘Morávamos dentro do próprio prédio da escola. Meu pai deu credibilidade do
corpo colegial que passou de cerca de 100 alunos para mais de 400. Existiam as olimpíadas (...)
A história da escola se confunde com a da própria cidade e também e também com a vida de
muitos desses personagens (...) Moacir Franco faz questão de dar crédito à sua bagagem
artística e cultural aos anos em que esteve sentados em cadeira do Museu’. Para mim que vinha
da roça era mesma coisa que entrar Havard’, brinca o artista (...) ‘O processo de tombamento
no Museu começo há um ano e tivemos que obter uma autorização da Secretaria de Estado da
Educação que a proprietária do prédio’ informa a secretaria de cultura. A partir de agora o
edifício não poderá ser demolido ou conjunto arquitetônico descaracterizando. Em paralelo
integrantes da Secretaria de Cultura vão organizar oficinas na escola conscientizar os alunos
sobre a memória do prédio desenhado pelo arquiteto J. Schate e da importância do
tombamento. As oficinas com os estudantes vão servir para a difusão de conceitos de educação
patrimonial. ‘Esta é uma ação pertinente para dar valor as raízes históricas do Museu. Como é a
1º escola a ser tombada em Uberlândia aproveitamos para envolver a juventude. ‘Esta é uma
garantia da preservação das características do prédio, não só arquitetônica mas também de
valor histórico de um dos maiores símbolos de Uberlândia’, a presidente do Conselho
Municipal de Patrimônio Histórico Arqueológico, Artístico e Cultural de Uberlândia
(COMPACH) Maria de Lourdes Pereira Fonseca. Uma das fundadoras das Associação de Ex-
alunos da Escola Estadual de Uberlândia, Isolina Guimarães Salles, credita ao ex-ministro Adib
Jatene, a iniciativa de criar o grupo para manter viva a memória do espaço tombado na primeira
quinzena deste mês. ‘Foi uma surpresa para mim o tombamento. Só lamento que a associação
criada em 1996 foi completamente abandonada’, revela. Ela precisamos de gente mais nova
com vibração para defender esta idéia de preservar a história do Colégio’, observa. A diretora
da escola Iolanda de Leva Bernardes, anseia que o tombamento sirva para uma melhora nas
condições do Museu. ‘Espero que a sociedade uberlandense volte sua atenção para a
restauração do prédio. A fachada é maravilhosa e precisa ser preservada’, elogia. Os estudantes
de hoje também tem a mesma opinião. ‘É preciso uma reforma e novas carteiras’ reivindica o
estudante do primeiro ano do ensino médio Bruno Danny da Silva. O aluno do terceiro ano
Rafael Maradel conta que seu pai também estudou no Museu. ‘Este tombamento é um
diferencial porque a escola é uma referência para a cidade’, define. ”12
A reportagem do Jornal Correio13 expressa de certa maneira a complexidade da
relação entre essa escola e a cidade de Uberlândia discutindo implicitamente a educação
pública, proporcionando a ela um sentido e valor no passado da cidade.
O jornalista do Correio, Arthur Fernandes, tem como intenção na longa reportagem,
que ocupou toda a 1º página do Caderno Revista, mostrar e informar o leitor porque a escola
foi tombada como patrimônio histórico-cultural do Município. A primeira razão que aparece
na reportagem estaria ligada a forma como foi construído o prédio, podendo ser identificado
por qualquer leigo, que foram elaborados detalhes de ornamentos aparentemente difíceis de
serem executados, ou seja, que exigia um saber qualificado por parte do arquiteto e dos
12 FERNANDES, Arthur. De ‘Museu’ a patrimônio cultural. Jornal Correio. Uberlândia, 22 de junho de 2005. 13 A utilização da imprensa nesta investigação é realizada, mas colocando-a em um lugar que a compete que não
é a da centralidade para o entendimento e compreensão da história, pois ela é apenas um mero registro marcado
por posições políticas assumidas em um social, que de tamanha complexidade ela não teria condições lógicas de
se aproximar de versões representativas de todo um processo histórico.
10
construtores e que conseqüentemente expressa uma posição política no social que está
pensando educação, escola e para que o grupo da sociedade deviam ser endereçadas.
Quando se entende que a escola através de um prédio com uma construção elaborada,
por tanto diferenciada merece receber cuidados e medias de preservação, sendo assim
considerada patrimônio histórico e cultural do município, é preciso se valer da seguinte
colocação: para qual história e cultura na cidade a escola exerceu suas funções a ponto de não
merecer ser esquecida? Ou seja, para qual cultura e história na cidade ela precisa ser
lembrada? E por quê?
A intenção não é entrar no campo de discussões sobre patrimônio, mas é entender o
fato da escola ter sido tombada naquela conjuntura, entende-lo como uma evidência histórica
que nos permite problematizar sentidos e significados dessa escola nas relações de classe na
constituição complexa da cidade.
A partir dessas problematizações iniciais que surgem no diálogo com a reportagem é
possível dimensionar com maior concretude os caminhos que os enfretamentos políticos e
sociais foram se colocando para uma professora de história que acreditava que as questões em
torno da escola e da educação pública tinham limites na sua complexidade dentro da luta de
classes na cidade.
A relação entre cidade e escola pública é construída na reportagem, o próprio órgão de
imprensa não isola a Instituição Escolar no espaço urbano, aliás, é com muita propriedade que
consegue entrelaçar os pontos de intersecção e buscar no passado uma relação de interesse das
classes dominantes sobre a escola em consonância com determinado projeto de cidade. Dessa
maneira, em que se coloca o distrito de Uberabinha, que por sua vez, transformou-se em
Uberlândia, dá força a um processo de desenvolvimento em que essa escola teria sido
importante, e assim construindo mais uma razão para ser considerado patrimônio histórico
cultural do município. A concepção do ‘desenvolvimento’ que se transfigura às vezes em
crescimento são termos que fazem referência as relações capitalistas que foram assumindo
novas faces e diferentes formas, onde se instalou a exploração e conseqüentemente atribuindo
uma materialidade na vida urbana antes nunca experimentada.
A imprensa, através do jornal Correio de Uberlândia, sabe se colocar em meio às
relações sociais como um agente e reconhece os elementos que estão no campo dos conflitos,
quando se posiciona afirmando e valorizando a cidade burguesa aparentemente harmoniosa.
Nessa investigação, o órgão de notícias é colocado no diálogo, identificando a sua posição
política no social, e que mesmo nestas circunstâncias essa reportagem torna-se evidência que
11
expressa a intensidade das forças no campo de conflito das relações históricas, quando o
assunto é o passado da cidade e conseqüentemente a configuração que ela assume no presente.
A escola na reportagem é associada a uma versão da história da cidade, onde as
iniciativas de algumas pessoas são interpretadas como pioneiras, dando a entender que seriam
características próprias de moradores que faziam a ‘história’ da cidade e estavam preocupados
com o seu desenvolvimento e se sentiam responsáveis por sua evolução que na reportagem
são identificados como ‘sábios idealistas’. Implicitamente essa história da cidade que se refere
à educação não está desvinculada à dos ‘grandes homens da história’, aquela abordagem
tradicionalista, conservadora e reacionária que gerações anteriores de historiadores,
principalmente da década de 80 posicionaram-se e agiram firmemente para sua desconstrução.
Contudo, podemos perceber que ainda permeia as práticas nos campos das disputas entre as
classes.
Dessa maneira, é que observamos a construção de uma versão do passado da cidade
que envolve escolas públicas e o letramento, onde desaparece o conflito e negligencia-se uma
realidade onde distinção social passa pelos ‘bancos’ dessa escola pública. Ainda nessa versão
é apontado certo ‘brilhantismo’ da cidade gerado em parte por essa instituição escolar que
formou algumas pessoas que se tornariam naturalmente responsáveis pela história da cidade.
Ao torná-la patrimônio do município um dos principais objetivos foi deixar escrito por
lei os espaços públicos que não mereciam ser esquecidos, principalmente, para aqueles que
estão lá, e que segundo o jornal, não valorizam a cidade e à sua história.
Todavia um dos estudantes na própria reportagem entende que a escola precisa de uma
reforma e de carteiras, e se o tombamento trouxesse essas vantagens o decreto então poderia
ser uma ação importante e que de alguma forma contribuiria com a realidade vivida na escola
por estudantes e professores de terem condições básicas como lugares para se sentarem
durante as aulas. Essa colocação do estudante é um elemento que destoa do conjunto da
reportagem abrindo dimensões de uma realidade mais complexa do que o fato de valorizar ou
não a escola e a história da cidade.
Nessa última parte da reportagem que ocupou toda uma página, uma colocação que a
compõem sua construção problematizadora são os dizeres de Maria de Lourdes Pereira da
Fonseca, que naquele momento era professora do Curso de Arquitetura da Universidade
Federal de Uberlândia e presidente da COMPACH, que afirma: “Esta é uma garantia da
preservação das características do prédio, não só arquitetônica, mas também do valor
12
histórico de um dos maiores símbolos de Uberlândia.” 14 O quê simboliza o prédio? Para qual
Cidade ela está se referindo? A colocação da presidente do Conselho colabora na construção
histórica social que o jornal traz para as suas páginas da edição daquele dia.15
A participação da presidente do COMPACH ficou resumida a essa única frase, porém
não se torna impossível a construção de possíveis respostas aquelas questões.
Por ser uma arquiteta, a presidente quis expor a sua percepção de que não só pela
estrutura se tomba um prédio. Existem ações humanas nesse processo e acima de tudo valores
que se expandem para além de tijolos e concreto. Para a arquiteta essa ação humana mostra-se
mais importante de ser preservada, existe na sua posição, como em todas as práticas humanas,
um cunho político que dá vazão a determinados valores que dizem respeito à uma única classe
social na cidade, não deixando espaço na sua fala dentro desse veículo de notícias, a
complexidade das relações históricas construídas pelos sujeitos sociais.
Na perspectiva do jornal e da reportagem, tudo indica que também da presidente da
COMPACH, não entendem que essa estrutura arquitetônica, erguida no bairro Fundinho
próxima ao Palácio dos Leões, que foi tombada como patrimônio histórico seja uma das
marcas das desigualdades sociais na cidade. Pelo ao contrário, ser um dos maiores símbolos
de Uberlândia em se tratando de uma escola significa que o fato da cidade ser o que é no
presente, ‘progressista’ e ‘desenvolvida’ como aparece no Dossiê, tem relação com a
formação adquirida naquele local pelos agentes responsáveis por tal empreendimento.
A partir desse caminho de análise sobre essa evidência que carrega vários aspectos de
uma dimensão do social, cabe ainda debruçarmos um pouco mais sobre a relação que parte do
passado para se chegar ao presente, construída no texto que acaba por expressar um valor que
se coloca no campo dos conflitos e disputas sobre as escolas públicas.
O movimento construído na reportagem que parte do passado com destaque a alguns
aspectos como não sendo cabíveis de serem esquecidos, acaba por ser uma ação política que
14 FERNANDES, Arthur. De ‘Museu’ a patrimônio cultural. Jornal Correio. Uberlândia, 22 de junho de 2005 15 O Conselho Municipal do Patrimônio Histórico Artístico e Cultural de Uberlândia (COMPACH) foi criado em
forma de lei em 1985, a autora do projeto foi a vereadora Olga Helena da Costa. A Comissão quando foi criada
tinha apenas a função de indicar, aconselhar ou apontar bens a serem tombados pelo Poder Executivo. Segundo
Goulart, o Conselho atuou com rigorosidade e debates até 1989. De 1989 a 1993, ele não encontrou suas Atas.
De 1993 a 2000, o Conselho foi desativado. Em 2000, o Conselho retomou as suas atividades para a viabilização
do Plano Diretor da cidade e com o anúncio de possíveis investimentos por parte do governo o Estado de Minas
Gerais. Nesse momento, foi elaborado um novo Estatuto, passando o Conselho a ter poder deliberativo, o que
antes ficava a encargo somente do Poder Executivo. Para mais informações: GOULART, Maurício Guimarães.
Apenas uma fotografia na parede: caminhos de preservação em Uberlândia. Universidade de Brasília. 2006.
Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. E também: LIMA, Soene Ozana. Visões e
Concepções sobre Patrimônio Histórico em Uberlândia-MG (1950-1988). Dissertação de Mestrado e
História. Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Uberlândia. 2007. Uberlândia.
13
emite valores sobre o presente vivido e seus sujeitos históricos. A operação que se faz prega o
sentido de que esses elementos que são lembrados perderam sua força ativa ao longo do
tempo, enquanto eles existiram produziram benesses que de alguma forma, segundo aquela
visão contribuíram para a formação das condições atuais, sendo um legado que não
deveríamos esquecer.
Ao adentrar nesse campo, identificando aquelas práticas sociais que expressam
valores, é possível apresentar com propriedade a relação passado-presente eleita pelas forças
dominantes ao tratar de escola pública e sua ligação com a cidade. A reportagem e o seu
sentido do passado expressa em sua ‘máscara inovadora’ que as escolas públicas não são tão
úteis à formação da cidade como essa foi no passado.
Nem ao menos ensinam mais latim e muito menos piano, que se tornou apenas um
artefato de museu no interior da Escola Estadual de Uberlândia, ocupando uma sala para
lembrar que havia a preocupação com certo refinamento cultural por parte de uma escola
pública na cidade.
A Escola Estadual de Uberlândia é colocada, nessa expressão de valores e práticas, o
elo e modelo de escola pública de um passado, e que serve para afirmar que as escolas
públicas não formam mais jovens que tenham concepções compatíveis com os ideários da
cidade.
Outro ponto lembrado na reportagem foi o fato da escola ter cedido seu espaço físico
para tropas pró-getulistas envolvidas nos conflitos dos anos 30, tornando-se quartel general na
cidade. Elemento que caracteriza que a instituição esteve envolvida em embates políticos até
em níveis nacionais que compuseram inclusive a história do país, porém o jornalista lamenta
que essa escola, que representa o público em um sentido mais amplo, não consegue nem ao
menos organizar um Grêmio Estudantil. Ao explicitar essas questões, significa retirar toda a
credibilidade da escola pública hoje.
O ato de tombar, através do Dossiê, e a imprensa como agente na cidade que se coloca
vangloriar essa escola pública, enquanto uma instituição produtora no passado de autoridades
políticas e personalidades artísticas, implica em uma prática que constitui valores no social
sobre o público que tenta agir diretamente sobre esse espaço social que significa o direito ao
letramento e aos conhecimentos humanos acumulados.
Ao pensar em direitos sociais um campo vasto de elementos vem á tona, mostrando
que a negação a eles é algo constantemente vivido por grande parte da sociedade. A moradia,
à saúde, à educação e tantos outros são um conjunto que formam o Direito à Cidadania que a
14
filósofa Marilena Chauí vem a discutir no livro: “Cidadania Cultural: o Direito à Cultura.”
16A leitura da obra de Chauí vem a elucidar um caminho de embates trilhados em nossa
sociedade e ao mesmo tempo expor que há ainda outros tantos em curso nos processos
históricos vividos.
A filósofa traz uma análise importante sobre a nossa conjuntura social ao discutir
‘Cultura’, conceito que mostra sinais de ter sido alvo de muitos estudos, debates e discussões.
A autora, no entanto, mostra que ele não foi esgotado, pelo contrário, há muito ainda a ser
pesquisado, sendo necessário conhecer com propriedade a suposição que utilizamos em
nossas investigações.
Ao escolher à noção de Cultura que vem a fundamentar nossas análises,
inevitavelmente assumimos uma posição política que muito reflete na concepção de sociedade
e humano que defendemos e conseqüentemente projetamos no social com nossas pesquisas.
Inúmeros esclarecimentos se constituíram: pensar uma sociedade de fato democrática
não significa lembrar e com isso valorizar no passado uma escola pública que produzia a
seletividade por meio do conhecimento na cidade. Esse grupo seleto que havia sido estudante
daquela escola pública, e só se tornou seleto por lá ter estudado, tornaram-se segundo essa
memória, responsáveis pelo crescimento econômico da cidade e seu reconhecimento nacional.
O Jornal Correio de Uberlândia na reportagem ‘De Museu à Patrimônio Histórico’ e o
Dossiê de Tombamento da Escola Estadual de Uberlândia são algumas das evidências de uma
conjuntura que implicitamente emitem valores sobre a função da escola pública no presente,
ao trazer do passado determinados aspectos e circunstâncias e práticas sociais.
Na nossa conjuntura remeter-se daquela forma à essa escola pública significa negar
Direitos Sociais e agir em prol da noção de privilégios, não como um lugar público, ou seja,
deixa-se um número considerável de pessoas sem a chance de compartilhar do conhecimento
socialmente produzido do qual a escola pública é uma das principais difusoras. Valorizar esse
tipo de passado assinalando como sendo a história, colabora com o aumento das diferenças
entre as classes sociais, utilizando-se de um aparato com grande força política, econômica e
social: o conhecimento letrado.17
16CHAUÍ, Marilena. Cidadania Cultural: o Direito á Cultura. 1º Ed. São Paulo: Editora Fundação Perseu
Abramo, 2006. Esse livro reúne alguns textos produzidos em diferentes momentos que tentam desmistificar e
explicar o conceito de Cultura e suas infinitas conceituações, além de expor experiências à frente da Secretaria
Municipal de Cultura de São Paulo e elucidar o pensamento Gramsciano no uso do termo Cultura e suas relações
com o Nacional e o Popular. 17 O conhecimento letrado não é entendido nessa pesquisa como ‘melhor’ do que o conhecimento de mundo.
Entendo que este se produz na vida e na experiência com o mundo material, ao contrário do primeiro, cuja escola
torna-se a principal instituição social difusora. Por conhecimento letrado entendo os saberes produzidos e
15
Falar em excelência de educação, escola, estudantes e professores em um passado
dessa cidade, significam nessa conjuntura quase que exclusivamente se remeter à Escola
Estadual de Uberlândia. Porém esse passado em ‘excelência’ que se relaciona a uma versão de
cidade desenvolvida e progressista deve ser problematizado no intuito de desconstruí-lo.
Todavia, essas versões sobre a cidade e a escola não estão apenas no Dossiê e na reportagem
do Jornal Correio de Uberlândia que dá vazão ao tombamento. Quando a documentação
oficial fundamenta o tombamento e a imprensa divulga o acontecido, eles se constituem em
práticas que vieram apenas a consagrar uma movimentação que estava ocorrendo no meio
social.
O caminho da análise tem mostrado que essa memória de brilhantismo e excelência de
uma escola pública da cidade ganhou força nessa conjuntura, que diz respeito aos primeiros
anos da década de 2000, culminando no seu tombamento como patrimônio histórico em 2004.
No entanto, a entrevista oral realizada com a professora de história Jerônima de Paula
Menezes aponta outros sentidos para a escola e para o próprio tombamento histórico da
escola.18
O Tombamento da escola como patrimônio histórico na elaboração de Jerônima não
trouxe significativas melhoras para professores e estudantes, entendendo-o mais como um
empecilho para o cumprimento das atividades escolares:
“A princípio foi muito bom! Recebermos o tombamento! A escola ser tombada! Mais
apresentou, logo mais apresentou um, vários problemas, porque por exemplo: vc não pode
fazer reformas, modificações... A quadra, aquela quadra vc trabalhou lá, vc sabe, aquela quadra
descoberta, chegou a muito tempo a verba do Estado pra cobrir. E a Yolanda, diretora, ela teve
acumulados há várias gerações, que mostram a grandeza da inteligência humana nos mais diversos campos de
estudos, e que acredito que todos deviam ter o direito de compartilhar, conhecer e poder escolher, de acordo com
suas tendências pessoais um conjunto de conhecimentos para aprofundar e contribuir com a produção de
conhecimento social. O conhecimento letrado, no entanto, é utilizado pela classe dominante na sua manutenção
de privilégios e no status quo, tornou-se um instrumento que age em prol da acumulação do capital. Nesse
campo de discussão há as análises do pensador uruguaio Angel Rama no livro “A Cidade das Letras” que se
deteve a refletir Cidade com a perspectiva das várias Cidades que agem na constituição de um todo. Rama
construiu suas análises a partir da forma como se foi colonizando a América Latina, as cidades antes de ser
formarem com ruas, bairros, praças e outros, elas emergem completas através das normas que as traçavam em
teoria. A primeira norma que foi instalada pelos colonizadores na vasta região selvagem foi a educação das
letras. O autor afirma que a equipe intelectual facilitava a formação da hierarquização e concentração de poder,
protegendo assim a ordem da cidade, essas análises colaboram para refletir os usos que se fazem determinados
grupos da sociedade sobre o conhecimento letrado. 18 A entrevista com a professora de história Jerônima de Paula Menezes foi realizada no dia 23 de outubro de
2013. Jerônima aposentou-se naquele mesmo ano, e no momento da entrevista trabalhava na Prefeitura
Municipal de Uberlândia, como assessora da Secretaria Municipal de Educação Gercina Santana Novais.
Jerônima começou a trabalhar na Escola Estadual de Uberlândia em 1976, éramos colegas de trabalho durante o
momento em que estive também como professora da escola, só que apenas através da pesquisa na imprensa que
soube que Jerônima esteve à frente do Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, além
de comandos de greves ao longo da década de 80.
16
um trabalho muito grande pra convencer o pessoal que não ia mudar a estrutura da escola que
não ia prejudicar o prédio nem nada cobrindo a quadra, entendeu? Então quer dizer, outra coisa
a escola, hoje precisa de modificações estruturais, por que por exemplo, quando ela foi
construída até a década de 70, não existia tanta inclusão, os pais mesmos dos meninos que anda
em cadeira de roda com alguma deficiência procurava uma escola que não tivesse escada,
tivesse um projeto de acessibilidade, então num tem! Os bombeiros já foram lá na escola e
falaram que precisa de uma saída de emergência que servia de 2º andar, desce aquela
meninada. Vc já pensou aquela meninada toda com uma escola pegando fogo como é que
faria? Aquela escada muito estreita pra muito menino! Então seria necessário uma série de
mudanças, rampa sabe tudo... Então isso é prejudicado pela questão do tombamento.
Entendeu? Na minha opinião, a opinião da Jerônima, a escola poderia, fazer outra escola, que
levava a meninada e lá ficaria um Museu Mesmo! Certo! Um museu, sei lá de alguma coisa,
mas que não tivesse menino porque onde tem aluno são necessários reparos frequentes. São é
claro que são!”19
A professora aposentada parte do ponto que a escola passa a não ter condições para
atender as necessidades dos vários estudantes de diferentes turnos, como simples fato de
cobrir ou não uma quadra de esportes. Ao acompanhar a fala da Jerônima fica a dúvida como
pode um lugar com uma intensa movimentação de pessoas, como uma escola, tornar-se algo
que precisa, segundo legislação, ser preservado, não podendo sofrer quaisquer modificações?
É de fato algo que não condiz com a concepção de preservação dos órgãos governamentais,
pois como toda e qualquer instituição escolar é preciso intervir na sua estrutura e arquitetura
com o passar do tempo, como lembrou Jerônima sobre as melhorias na quadra de esportes da
escola.
O Tombamento da escola não considerou as necessidades das pessoas que freqüentam
o local, tanto que os aspectos da segurança e acessibilidade foram destacados pela professora
aposentada, que de acordo, com sua avaliação precisavam ser modificados. Podemos afirmar
que nesse ponto da narrativa que Jerônima acredita não caber o funcionamento de uma escola
naquele prédio, pois ele não apresenta qualquer relação de proximidade com as
transformações que passaram a educação e a escola pública na nossa sociedade.
Há pelo menos dois aspectos que aparecem na elaboração da Jerônima como
indicadores dessa realidade; primeiro a quantidade de estudantes que a escola pública passou
a atender e segundo as diferentes e diversas necessidades desses estudantes que essas
instituições passaram a ter que suprir, como por exemplo, a construção de rampas ao invés de
escadas, que possibilitem a livre circulação de estudantes ou professores cadeirantes. Como
funcionar uma escola pública que tem uma proposta diferente em uma estrutura construída,
entre os anos de 1918 a 1921, que tinha outras finalidades como ser uma instituição particular
que ainda oferecia a opção de internato para os seus estudantes?
19 Entrevista com a professora Jerônima Augusta de Paula Menezes, realizada no dia 28-10-2013. Aposentada,
trabalhou na Escola Estadual de Uberlândia de 1976 até os primeiros meses de 2013.
17
Acredito que narrativa da professora aposentada levanta essa problemática colocada a
nós no social, mas que não está sendo refletida e questionada. Nesse sentido não estaria esse
prédio de alguma forma dando maior força de ação e solidificação à posição política que vem
a negar o direito social à escola pública? A narrativa de Jerônima vem a mostrar que isso é
experimentado na realidade vivida, por isso o tombamento foi sendo identificado ao longo do
tempo como algo que não faz sentido quando se trata de uma escola.
Por outro lado, nessa conjuntura complexa pela suas contradições, essa escola pública
ser tombada foi uma ação no campo de forças sociais que fez todo sentido para determinados
setores, sendo por tanto algo importante por consagrar a memória da escola brilhante e
excelência, que contribuía para a diferenciação entre as pessoas.A narrativa da professora
aposentada Jerônima traz elementos que retratam um lugar social diferente das evidências
anteriores. Esse lugar na sociedade do qual ela fala é do dia-a-dia de trabalho em uma escola
pública que passou por transformações ao longo de sua existência na cidade, pois a Escola
Estadual de Uberlândia ‘já foi várias’, isso quer dizer que seu espaço físico acompanhou
diferentes práticas sociais que produziam modos e sentidos de escola pública na cidade. A
narrativa da professora Jerônima expressa todo um vivido em uma temporalidade de tensos
embates em torno de direitos sociais que marcaram a década de 80 na cidade.
A realidade vivida na escola, por vários anos enquanto professora, se relaciona de
maneira tensa frente ao tombamento, por este projetar na cidade uma memória de excelência e
brilhantismo que não corresponde com os tempos de intensas lutas pela escola pública e
valorização dos trabalhadores em educação, a qual Jerônima afirma ter participado ativamente
das primeiras greves no final da década de 70, colaborando até mesmo na criação em 1990 do
Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação (SINDUTE) na cidade, que foi criada em
1979, mas como União dos Trabalhadores em Educação. É, então, desse lugar social que a
professora aposentada elabora seus sentidos para o tombamento e o que ele vem a constituir
no social com aquela memória.
A partir disso justifica-se um apontamento exposto no início desse texto de que
trabalhar na Escola Estadual de Uberlândia abriu-se uma dimensão maior nos embates
políticos, que vão além da luta pela valorização do professor e da educação pública de
qualidade, que nos acabamos por depararmos em qualquer instituição escolar pública.
Trabalhar nessa escola foi encontrar uma versão que tenta construir a história das escolas
públicas na cidade, tendo como instituição representativa a Escola Estadual de Uberlândia.
18
A memória dominante no social sobre essa escola foi algo que arrebatou às bases de
sustentação de qualquer valorização dos trabalhos desenvolvidos naquela instituição escolar,
foi perceber a minha condição enquanto profissional, e dos colegas, como irrelevantes e sem
qualquer efeito social, já que o passado é a referência em termos de qualidade, de excelência e
práticas que expressavam o brilhantismo de professores e estudantes, que até colaboraram na
‘modernização’ e ‘desenvolvimento’ da cidade.
A imprensa e o Dossiê de Tombamento nos levam para um mesmo passado, que nada
mais é do que uma versão que eles constroem se enlaçando, se complementando e se
sustentando em seus aspectos que almejam se instaurar como a verdade no nosso meio social.
Os valores impregnados nessas evidências rejeitam as escolas públicas como um lugar social
comum e de direito social. Mas é preciso apontar a memória e o valor de sustentação que
todos esses registros sociais se ancoram, aquilo em que baseiam os seus status de verdade
sobre o passado, que emitem valores no social, próprios dos embates de uma sociedade de
classes, onde as tensões e os conflitos estão colocados nos processos históricos.
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