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MEMÓRIAS DE DOCENTES E DISCENTES: VIVENDO A E NA ESCOLA
Silvânia Santana Costa1 (PUCRS/UNIT)
Cultura material escolar; História da Educação; memórias
Le Goff (1990, p. 535), classifica os elementos constitutivos da memória em
monumentos e documentos. O primeiro corresponde a herança do passado que
involuntariamente ou voluntariamente está veiculado ao poder de perpetuação. O segundo
está ligado à escolha do historiador, visto que a análise, seleção obedecem às ideias
preconcebidas.
De acordo com Rusen (2001), somente pelas fontes fica impossível reconhecer o
passado e são as conjunturas conjecturais e interrogativas que possibilitam a interpretação de
uma história. Assim, os interesses e as ideias são fatores do pensamento histórico. Ele elenca
os 5 fatores para os fundamentos da ciência histórica: 1º a matriz disciplinar: as carências
fundamentais de orientação da prática humana na vida no tempo; 2º as ideias que
transformam as carências em interesses; 3º os métodos da pesquisa que possibilita a produção
fundamentada; 4º a historiografia que consiste nas formas de apresentação; 5º orientação
existencial. Os cinco fatores articulados é o que faz a diferença entre o pensamento histórico
cientifico e o comum. “Sem tais perspectivas determinantes do que queremos propriamente
saber, ao pesquisar as fontes do passado, estas em nada podem ajudar quanto ao que é ou foi a
história que tencionamos fazer ou emergir delas.” (RUSEN, 2001, p. 32).
Assim, a narrativa histórica segue padrões de ciência exigidos para dar
legitimidade ao discurso de reconstrução do passado. Esta construída dentro da ótica do
pesquisador, seguindo as preleções, as seleções, as críticas e as próprias definições assumidas.
Dessa forma, o conceito de História como “um saber universalmente aceitável,
“científico”, sendo a memória “conduzida pelas exigências das comunidades para as quais a
presença do passado no presente é um elemento essencial da construção de seu ser coletivo.”
(CHARTIER, 2009, p. 21). É justamente por meio desses lugares de memória que o
1 Coordenadora de Estágio dos cursos a distância da Universidade Tiradentes (UNIT/NEAD). Possui graduação
em História pela Universidade Federal de Sergipe (UFS). Especialização em Magistério Superior pela
Universidade Tiradentes (UNIT). Mestre em Educação pelo Núcleo de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Federal de Sergipe (UFS). Doutoranda em Educação pela PUCRS. É líder do grupo de pesquisa
Educação, Sociedade e Direito, membro do grupo de Pesquisa em História da Educação: intelectuais da
educação, instituições educacionais e práticas escolares (UFS). E também membro como pesquisadora do Grupo
de Pesquisa Sociedade, Educação, História e Memória – UNIT e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História,
Cultura e Identidade – UNIT. E-mail: [email protected].
historiador busca registrar e evidenciar as informações selecionadas. Assim de acordo com
Chartier, 2009, p. 24,
sem dúvida, entre história e memória as relações são claras. O saber
histórico pode contribuir para dissipar as ilusões ou os desconhecimentos
que durante longo tempo desorientaram as memórias coletivas. E, ao
contrário, as cerimônias de rememoração e a institucionalização dos lugares
da memória deram origem repetidas vezes a pesquisas históricas.
Diante disso, é fundamental pensar sobre os diversos objetos que compõe as
possibilidades de estudos, que precisam ser rememorados e evidenciados. Dentre tantos
outros: o discurso vigente, as práticas cotidianas da escola, o processo de escolarização
abordado por Faria Filho (2007, p. 198), pelo qual os sujeitos submetidos à organização dos
programas e das políticas educacionais se articulam construindo sentido a partir de suas
experiências e de sua interação com outros espaços e tempo que não se configuram com o da
escola, mas que estão associados.
Essa interação entre os diversos agentes escolares possibilita a construção da
cultura escolar que não é formada a partir de leis e programas de ensino. São as experiências,
as ações e as apropriações que constituem um campo fértil para o desenvolvimento educativo.
Assim, a cultura material toma corpo a partir das experiências empreendidas e trocadas pelos
diversos sujeitos. Tomando a perspectiva de cultura escolar definida por Julia (2001, p. 10)
como:
um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e condutas a
inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão desses
conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e práticas
coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (finalidades
religiosas, sociopolíticas ou simplesmente de socialização).
Ela permite visualizar a escola além dos aspectos legislativos e das reformas
educacionais. Uma vez concebida de forma hegemônica, limita o entender das práticas sociais
dentro e fora de seu âmbito, visto que é formada por sujeitos integrantes de um grupo
heterogêneo que apresentam características próprias decorrentes das relações estabelecidas
com seu meio.
A perspectiva da cultura escolar é fundamental por observar diversos elementos
do contexto escolar como forma de conhecer social e historicamente a incorporação do
habitus, esse reconhecido como “sistema de esquemas adquiridos que funciona no nível
prático como categorias de percepção e apreciação, ou como princípios de classificação e
simultaneamente como principal organizadores da ação” (BOURDIEU, 1990, p. 26).
O objeto deste estudo será a cultura material escolar do Instituto de Educação Rui
Barbosa (IERB) no período de 1971 a 1996, antiga Escola Normal Rui Barbosa. A escolha
pela temática foi despertada no período de Mestrado, ao estudar a atuação docente de José
Calasans Brandão da Silva nas instituições de ensino em Sergipe. Ele lecionou no Instituto de
Educação Rui Barbosa (IERB), antiga Escola Normal.
Ao fazer pesquisa no acervo dessa instituição me deparei com um acervo
documental disposto em um local insalubre, sem condições de pesquisa, como medida,
resolvemos criar um projeto de extensão universitária/UNIT com o intuito de organizar os
documentos, para posteriormente a Secretaria de Educação do Estado criar um arquivo para
preservação da memória escolar.
O marco histórico pretendido neste estudo (1971 a 1996) consiste em dois
momentos de reconfiguração legal para o ensino normal: 1971, ano no qual a Lei 5.692/71
estabeleceu as habilitações específicas de grau superior e de 2º Grau para exercer a docência;
E 1996, quando a Lei 9.394/96 instituiu que a condição mínima para o exercício do
magistério seria possuir nível médio na modalidade normal, priorizando a formação em nível
superior. São momentos de mudanças ocasionadas por definições legais, que é fundamental
perceber como elas foram vivenciadas, apropriadas e executadas por todos envolvidos no
funcionamento do Instituto de Educação Rui Barbosa, neste período. Esse trabalho consiste na
proposta de pesquisa que está sendo desenvolvida como aluna do Doutorado em Educação da
PUCRS.
Com o intuito de situar a pesquisa no cenário de estudos acerca da cultura material
escolar foi realizada consultas no site da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Educação (ANPED) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), a análise nesses dois espaços de difusão das pesquisas auxiliou na seleção de
trabalhos que serviram de subsídios para a narrativa. Partindo do seguinte questionamento:
Como a abordagem da cultura material escolar está sendo discutida nos grupos de trabalhos e
estudos promovidos pelos programas de pós-graduação?
A produção científica na área da História da Educação assumiu dimensões
maiores a partir da difusão dos conhecimentos produzidos pelas universidades, nos cursos de
pós-graduação Stricto Sensu e pelos grupos de pesquisas. De acordo com Morosini (2012) “o
cenário nacional, refletor do cenário globalizado, é marcado pela expansão acentuada do
sistema de educação superior e também de sua função pesquisa [...].” Essa atribuição constitui
em um dos pilares da universidade encarregada de promover o ensino, a extensão e a
pesquisa.
Na perspectiva de incentivo a pesquisa, as instituições são obrigadas a mostrar
produtividade, a fim de ser reconhecida por instituições nacionais e internacionais. Esse
reconhecimento, marca a disputa das áreas do conhecimento a fim de garantir sua
continuidade no campo. A área do conhecimento que mais se expandiu foi a das humanas, na
qual a educação está inserida.
Bourdieu (1976) faz uma análise de como a disputa no campo científico se
processa, no jogo para reconhecimento, permanência e manutenção é necessária à aceitação
pelos seus pares concorrentes. Produzir para esses atores obtendo deles a aceitabilidade da
produção é um dos pontos cruciais para a expansão da pesquisa nas diversas áreas do
conhecimento. Podemos verificar que Bourdieu (1976, p. 10) afirma que:
O reconhecimento, marcado e garantido socialmente por todo um conjunto
de sinais específicos de consagração que os pares-concorrentes concedem a
cada um de seus membros, é função do valor distintivo de seus produtos e da
originalidade (no sentido da teoria da informação) que se reconhece
coletivamente à contribuição que ele traz aos recursos científicos já
acumulados [...].
Nessa ótica, podemos pensar sobre outros elementos essenciais também para o
crescimento e expansão da pesquisa, analisando seus pontos positivos e negativos. Visto que,
a Nova História possibilitou: a ampliação gradual das diversas abordagens; a incorporação
pelos historiadores da Educação de um leque de objetos de estudos; a expansão dos conceitos
de análises; os quais permitem analisar todos os aspectos nos quais a escola está envolvida.
Essa visão mais ampla possibilitou verificar os espaços da escola sob outras dimensões
incorporando elementos que também constituem o viver escolar.
A inserção da cultura escolar como categoria de análise e campo de pesquisa para
os historiadores da educação é recente, dentre outros fatores, ocorreu da necessidade de
ampliar o campo de pesquisa e analisar outras dimensões do espaço escolar, limitadas a
legislação ou a reformas educacionais. Portanto, ao verificar as produções que tratam da
cultura material escolar nos grupos de trabalho e estudos da pós-graduação constatou-se que
os grupos de trabalhos da ANPED são constituídos por vinte e três áreas de estudo: História
da Educação, Movimentos Sociais e Educação, Didática, Estado e Política Educacional,
Educação Popular, Educação de crianças de 0 a 6 anos, Formação de Professores, Trabalho
e Educação, Alfabetização, Leitura e Escrita, Política de Educação Superior, Currículo,
Educação Fundamental, Sociologia da Educação, Educação Especial, Educação e
Comunicação, Filosofia da Educação, Educação de Pessoas Jovens e Adultas, Educação
Matemática, Psicologia da Educação, Afro-Brasileiros e Educação, Educação Ambiental,
Gênero, Sexualidade e Educação, Educação e Arte2.
Dentre os GTs elencados acima, foram destacados os seguintes grupos: História
da Educação; Formação de professores e currículo. Como critério para a seleção dos trabalhos
nesses grupos foi inicialmente verificado o título, o resumo, as palavras-chave, a instituição
que o autor estava vinculado e a instituição financiadora. A leitura do texto teve a intensão de
identificar se o autor (a) utilizou a cultura escolar como categoria de análise, identificando as
fontes consultadas e o aporte teórico utilizado na compreensão do objeto escolhido. No
quadro a seguir foram listados os trabalhos pesquisados e apresentados por: ano de realização
da Reunião anual da ANPED; grupo de trabalho (GT) identificado por nome e número; o
título do trabalho e as palavras-chave apresentadas no resumo; o nome do (s) autor (es); a
instituição de vínculo do (s) autor (es) e a agência financiadora.
Quadro 1. Trabalhos encontrados nas reuniões anuais da ANPED
Ano
Grupo de Trabalho
(Gt) Título do trabalho / palavras-chave Autor
(es)
Instituição /
agência
financiadora Nome/Número
2007
História da
Educação/GT 02 -
3441
Culturas da escola: as festas escolares
em São Paulo (1890-1930) / sem
palavras-chave
Renata
Marcílio
Cândido
USP / CAPES
História da
Educação/GT 02 -
3693
Movimento de inserção da ginástica
como constitutiva da cultura escolar
do ginásio mineiro (internato e
externato) – 1890-1916 / sem
palavras-chave
Aleluia
Heringer
Teixeira
Lisboa Fundação
Helena Antipoff
/Sem
Financiamento
2008 Currículo/GT-12 -
4497
Uniformes entre imagens do
pensamento e narrativas dos meus
cotidianos / Uniforme; Currículo;
Superfície e Sociabilidade
Marcio
Romeu
Ribas de
Oliveira
UERJ / CAPES
2009
História da
Educação/GT 02 -
5110
Cultura escolar: prescrevendo regras
de bom comportamento / Gênero;
Cultura Escolar; História da Educação
Claricia
Otto UFSC / CNPq
História da
Educação/GT02 -
5430
Propagandas das instituições de ensino
de Pelotas-Rs: visibilidade ao espaço
escolar (1875-1910) / História da
Educação; Cultura Material Escolar;
Propaganda; Arquitetura Escolar
Helena
de
Araujo
Neves
UFPel /
CAPES
2010
Formação de
professores/ Gt 08 -
6095
Representações da profissão docente
no compêndio de pedagogia escolar do
Dr. Feliciano Pinheiro Bittencourt /
sem palavras-chave
Tatiane
Tanaka
Perez
USP /Sem
Financiamento
Fonte: ANPED3: reuniões anuais
2 Nos anos de 2007 e 2008 correspondentes a 30ª e 31ª reunião anual, o GT 24 aparecia separado com a sigla
GE. A partir de 2009 consta na lista dos demais GTs.
A trigésima reunião anual da ANPED intitulada ANPED: 30 anos de pesquisa e
compromisso social foi realizada de 07 a 10 de outubro de 2007 em Caxambu, Minas Gerais.
Analisando os trabalhos selecionados constata-se que dois estudos inseridos no GT: História
da Educação abordam a cultura escolar e a utilizam como categoria de análise, o de Cândido
(2007) e o de Teixeira. Cândido (2007) estuda as festas escolas em São Paulo, no período de
1890 a 1930 como elemento da cultura, com o objetivo de verificar como elas contribuíram
para a formação de uma ideia de escola e de república. O trabalho é em nível de Mestrado e
financiado pela CAPES. A autora utiliza o conceito de cultura escolar de Dominique Julia
(2001), embora na referência cite Vinão Frago (1996) não o utiliza no texto, também cita o
estudo de Vidal (2005). Como aporte teórico se fundamenta no discurso da História Cultural
fazendo referencia a Chartieu (1990). Como fontes para obtenção das informações foram
utilizadas os periódicos, os relatórios, os anuários, a legislação e as fotografias. Ela evidencia
que as festas não foram incorporadas pelas escolas da mesma forma, havia um sentido próprio
dado pela instituição de ensino.
Já Teixeira (2007) evidencia como a ginástica consistia em um elemento
constituinte da cultura escolar. O estudo tem como local de pesquisa o Ginásio Mineiro no
período de 1890 a 1916. O conceito de cultura escolar empregado é o de Frago (2000). Como
fonte de pesquisa documental utilizou os relatórios, a legislação, as Atas da Congregação. O
aporte teórico foi o da História Cultural com o uso da obra de Chartieu (1990).
A trigésima primeira reunião aconteceu de 19 a 22 de outubro de 2008 em Minas
Gerais, na cidade de Caxambu, denominada de Constituição Brasileira Direitos Humanos e
educação. Dentre os trabalhos vistos foi selecionado o texto de Oliveira (2008), o título
chamou a atenção por mencionar o uniforme, um elemento da cultura material escolar.
Entretanto, ele não emprega a categoria cultura escolar para analisar o uso cotidiano do
uniforme no Colégio Estadual Regente Feijó. O autor o aborda como parte do âmbito da
escola e apresenta significados tanto dentro como fora dos muros da instituição. O aporte
teórico da Nova História é usado para analisar o cotidiano trazendo referência a Certeau
(1994).
Com o tema Sociedade, cultura e educação: novas regulações? a trigésima
segunda reunião aconteceu em Minas Gerais, Caxambu Nesta, foram selecionados os
trabalhos de Otto (2009) e Araujo (2009). Otto (2009) analisa a cartilha A menina italiana na
escola, um instrumento da cultura escolar com a função disciplinadora, civilizatória e de
3 Quadro elaborado a partir da seleção dos trabalhos das reuniões anuais da ANPED: 30ª (2007); 31ª (2008); 32ª
(2009); 33ª (2010); 34ª (2011).
reafirmar a cultura italiana. Na capa havia a indicação de que era feita para escolas italianas
no exterior. O marco temporal consiste no final do século XIX e as três primeiras décadas do
século XX. Como suporte teórico para o conceito de cultura escolar utiliza Frago (2000) e
Forquin (1993). O referencial teórico da História Cultural está presente com os estudos de
Chartier (1990) e Ginsburg (2001).
Araujo (2009) estuda os espaços físicos das instituições de ensino de Pelotas no
Rio Grande do Sul tendo como marco temporal a segunda metade do XIX e início do século
XX. Utiliza o referencial teórico da História cultural e a categoria de análise da cultura escolar
são apontados Chartier (1990); Frago (1995). As fontes consultadas consistiram em
propagandas nos periódicos.
Educação no Brasil: o balanço de uma década foi o tema da trigésima terceira
reunião da ANPED realizada no ano de 2010. Perez (2010) apresentou um estudo sobre o
Compêndio de Pedagogia Escolar – precedido d’um resumo de Psychologia aplicada à
educação, escrito em 1908, por Dr. Feliciano Pinheiro Bittencourt e adotado no programa da
Escola Normal a fim de perceber como a imagem do professor era representada no manual
utilizado no curso de formação de professores primários. Utilizando o conceito de cultura
escolar de Julia (2001) e do aporte da História Cultural de Chartier (1991); Certeau (1982;
1994).
Outro local de pesquisa foi o banco de teses da CAPES, como critério para
seleção foram instituídos os anos de 2007 a 2011 e escolhido os trabalhos em nível de
Doutorado. A pesquisa no site foi norteada pelas seguintes palavras: Cultura escolar; Cultura
material escolar; Escola Normal; Memórias; Instituto de Educação; Currículo. O site da
CAPES não possui um sistema integrado com bibliotecas, o que dificulta na consulta da obra
completa, pois muitos resumos não dão conta de informar a abrangência do tema, dificultando
o leitor na seleção. No caso dos resumos bem elaborados facilita o leitor, pois apresenta o
todo do trabalho: objeto, objetivos, justificativa, metodologia, categorias de análise,
referencial teórico, entre outros elementos esclarecedores da pesquisa. O resultado da consulta
foi listado em um quadro informando o ano e a temática pesquisada, o autor, o título da tese e
a instituição formadora.
Quadro 2. Resultado da consulta ao site da CAPES
Ano Temática Autor Título Instituição
2010
Cultura
material
escolar
Alessandra
Aparecida de
Souza Gibello
Rastros da civilização escolar:
cultura e práticas da escola
primária paulista (1960-1980)
Universidade Estadual
Paulista Júlio de
Mesquita Filho
2007
Cultura
escolar
Alessandra
Cristina
Furtado
Por uma história das práticas de
formação docente: um estudo
comparado entre duas escolas
normais de Ribeirão Preto - SP
(1944-1964)
Universidade de São
Paulo
Daiane
Antunes Vieira
Pincinato
Homens e masculinidades na
cultura do magistério: uma
escolha pelo possível, um lugar
para brilhar (São Paulo, 1950 -
1989)
Universidade de São
Paulo
2008 Beatriz Gomes
Nadal
Cultura escolar: um olhar sobre a
vida na escola
Pontifícia
Universidade Católica
de São Paulo
2010 Nivia Gordo
História da Escola de Aplicação
da FEUSP (1976-1986): a
contribuição de José Mário Pires
Azanha para a cultura escolar
Universidade de São
Paulo
2007
Escola
Normal
Luciene
Chaves de
Aquino
De Escola Normal de Natal a
Instituto de Educação Presidente
Kennedy (1950-1965):
configurações, limites e
possibilidades da formação
docente
Universidade Federal
do Rio Grande do
Norte
2009 Jane Bezerra
de Sousa.
Ser e fazer-se professora no Piauí
no século XX: a história de vida
de Nevinha Santos
Universidade Federal
de Uberlândia
2011
Eunice Maria
Ferreira Silva
Escola Normal de formação de
professoras na baixada
Fluminense: Práticas Político-
Pedagógicas Cotidianas
Universidade Federal
Fluminense
Sandra
Herszkowicz
Frankfurt.
Da Escola Normal à habilitação
específica para o magistério em 2°
grau: práticas e apropriações
(1961-1981)
Pontifícia
Universidade Católica
de São Paulo
2007
Memórias
Gilson de
Almeida
Pereira
No fio da História: Uma análise
da (re) construção identitária dos
professores, entrecruzando
tempos, memórias e espaços
Pontifícia
Universidade Católica
do Rio Grande do Sul
2009
José Roberto
Gomes
Rodrigues
Formas de escolarização
secundária e sócio-gênese de uma
instituição escolar: o Ginásio Ruy
Barbosa em Juazeiro
Universidade de São
Paulo
2010 Charles
Moreira Cunha
Memórias de professores:
convocações do presente
Universidade Federal
de Minas Gerais
2007 Currículo Eduardo
Arriada
A Educação Secundária na
Província de São Pedro do Rio
Grande do Sul: a desoficialização
do ensino público
Pontifícia
Universidade Católica
do Rio Grande do Sul
Fonte: Elaborada a partir do banco de tese da CAPES
Como pode ser verificado no quadro 2, as temáticas que serviram como norte para
esse trabalho aparecem mais presente em São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Rio de
Janeiro. No nordeste, aparece a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Os resultados
apresentam uma maior incorporação das temáticas na área sul e sudeste, entretanto, outras
pesquisas poderão completar essa análise a fim de apresentar um quadro mais abrangente da
inserção em outros espaços e tempos.
Sendo assim, servindo como proposta para pesquisas posteriores, outros pontos a
serem considerados são: como é a abordagem em nível de Mestrados em Educação? Quais os
programas Stricto Sensu em nível de Doutorado em Educação existentes no Brasil? Quais as
temáticas e abordagem utilizadas em suas pesquisas? Por exemplo, o programa de Doutorado
em Sergipe foi implantado 2008 alguns trabalhos já foram defendidos até o momento da
escrita deste artigo. A tese de Simone Silveira Amorin intitulada Configuração do trabalho
docente e a instrução primária em Sergipe no século XIX (1827-1880) foi defendida em
março de 2012, orientada pela Dr. Anamaria Goncalves Bueno de Freitas apresenta como
conceitos de análise o aporte teórico da História Cultural de Bourdieu, Roger Chartier e o
conceito de civilização de Norbert Elias.
Pensando sobre a perspectiva da Nova História podemos compreender como a
História Cultural assumiu presença nas pesquisas e como os historiadores da educação
incorporaram a cultura escolar em suas análises. No ano de 2004, pesquisadores da
Universidade Federal de Minas Gerais, Luciano Mendes de Faria Filho, Irlen Antônio
Gonçalves e da Universidade de São Paulo, Diana Gonçalves Vidal, André Luiz Paulilo
publicaram na Revista Educação e Pesquisa um estudo intitulado A cultura escolar como
categoria de análise e como campo de investigação da educação brasileira, pelo qual eles
apresentam como a cultura escolar passou a se incorporar no campo da História da Educação
como “categoria de análise e campo de investigação” sendo apontados Dominique Julia,
André Chervel, Jean-Claude Forquin e António Vinão Frago. Farias Filho; Gonçalves; Vidal;
Paulilo (2004) afirmaram que:
Não por acaso a emergência e consolidação do tema cultura escolar nas
pesquisas em história da educação se dá ao mesmo tempo em que se amplia
o diálogo com a chamada história cultural francesa. Uma das explicações
para isso é que tanto a temática — a cultura escolar — quanto a abordagem
— a história cultural — contribuam para a criação de lugar confortável para
a educação no terreno da cultura, não mais ancorado nos estudos
sociológicos, mas historiográficos.
Desta forma, analisando as teses elencadas no quadro dos treze trabalhos
selecionados estão mais presentes nas pesquisas os estudos sobre a cultura escolar (5),
memória (3), Escola Normal (3) currículo (1) e Instituto de Educação (1). A categoria de
análise cultura escolar de Dominique Julia (2001) e Vinão Frago (1993; 1995; 2001; 2008);
Forquim (1992, 1993); Chervel (1992, 1990, 1998) presentes nos textos são usadas para
compreender o contexto educacional e as práticas existentes. O aporte teórico recorrente nos
textos é o da História Cultural com os estudos de Chartier (1988; 1990; 1991; 2001; 2002;
2007), Bloch (s/d), Burke (1992; 2002; 2005), Certeau (1982,2000 ), Le Goff (1995; 1992;
1990), Ginzburg (2002).
Portanto, se percebe ao analisar os trabalhos apresentados nas reuniões da
ANPED e nas teses selecionadas no portal da CAPES, que a temática cultura escolar foi
incorporada as pesquisas na área de educação recentemente, sendo ainda um campo fértil para
os pesquisadores. Pode afirmar que isso ocorreu em virtude da difusão das ideias da Nova
História que possibilitou a ampliação das fontes e objetos de estudos, sendo incorporadas as
propostas de análise ao campo de pesquisa em educação, principalmente sob a perspectiva da
História Cultural. Acredito que outros trabalhos em nível de mestrado, apresentados em
outros eventos científicos também possam contribuir para perceber essa expansão nos
trabalhos ficando para estudos posteriores. Assim, a seleção e a análise inicial dos GTs da
ANPED e do banco de dados de teses da CAPES contribuiu para a escrita desse artigo, a
partir do momento que permitiu entrar o contato com estudos que se delinearam nas propostas
de análise da categoria cultura escolar dentro dos conceitos e abordagens da História Cultural.
Em cada contexto histórico a representação da escola é construída a partir dos
sujeitos envolvidos, tanto no processo de ensino e aprendizagem, quanto da imagem social,
funcionando como um espaço legitimado, capaz de formar indivíduos e integrá-los na
sociedade. Nessa conjuntura, podemos inferir as Escolas Normais que foram responsáveis
pela formação de vários profissionais que atuaram no magistério primário.
A Lei 5692 de 11 de agosto de 1971 fixou as “diretrizes e bases para o ensino de
1º e 2º graus” estabelecendo em seu artigo 30 as exigências de formação para o magistério.
Poderiam lecionar no ensino de 1º grau, correspondente as 1ª à 4ª séries as pessoas com
habilitação de 2º grau, podendo lecionar de 5ª a 6ª série os que possuírem estudos adicionais.
Seria obrigatória para a docência de 1ª à 8ª séries a formação superior em licenciatura de curta
duração. Para o ensino de 1º e 2º graus deveria apresentar formação em cursos de licenciatura
plena.
Em Sergipe, nesse período, tínhamos a formação de professores pelos cursos da
Universidade Federal de Sergipe e pelos cursos normais. Analisando o impresso Gazeta de
Sergipe, jornal de circulação local do estado de Sergipe, verificou-se a situação da educação,
há registros de reivindicação salarial por parte dos professores, denúncias das péssimas
condições do ensino primário, o atraso do pagamento de salários, a acusação de que os cursos
de formação de professores não estavam preparando para o exercício do magistério dentro dos
padrões exigidos no período.
Apontava também que, os jovens não estavam preparados para o ingresso no
vestibular, isso em virtude do despreparo e da falta de integração desde o ensino primário até
o curso secundário. Quanto a prática de ensino afirmou que as aulas não exigiam pesquisa e
priorizava a memorização. “Feitas essas observações deveria se exigir maior preparo do
pessoal docente dando oportunidade aos mais capazes de especialização”. (GAZETA DE
SERGIPE, 1971).
Enfatizava a necessidade de investir no ensino primário a partir da formação para
o exercício do magistério, pois a estrutura não possibilitava o preparo para a profissão. “A
problemática educacional em matéria de ensino primário em Aracaju é simplesmente
alarmante. Isto porque há um círculo vicioso difícil de ser quebrado. A estudantesinha de hoje
é a professôra de amanhã”. Práticas como castigos físicos eram aplicados nas crianças
evidenciando que os procedimentos didáticos estariam distantes das discussões da Psicologia
escolar e das Práticas Pedagógicas. Faz menção a escolinha dinâmica instalada como modelo
no Rio de Janeiro “em que toda a aprendizagem é feita em grupos, a liberdade da criança
respeitada e o espírito de cooperação incentivado” (GAZETA DE SERGIPE, 1971).
No ano de 1972, foi autorizado o ingresso de rapazes no curso normal do Instituto
de Educação Rui Barbosa. Para atender a essa nova realizada foi mudado o fardamento, sendo
adotada uma vestimenta unissex: calça brim e camisa de malha. O secretario de Educação de
Cultura, Marcos Pinheiro concedeu a abertura em virtude da dificuldade de deslocamento dos
professores para o interior sergipano.
Para incentivar os professores no deslocamento para o interior, era concedida uma
gratificação pelo raio de ação, essa era proveniente de um convênio entre o MEC e o governo
estadual. Era contemplado com esse benefício, os docentes que lecionavam distante da capital
a partir de 5 km, essa gratificação era progressiva à medida que a distância aumentava
chegavam a 25%, 50%, 80%, 110% dos vencimentos.
Como parte integrante do programa para atender as exigências da legislação e da
deficiência na formação de professores, foram adotadas medidas como os Cursos de Didática
Geral ministrada por Giselda Morais e Didática Especial por Maria Cecília, em 1971, que
ocorreram no Colégio Estadual Atheneu Sergipense, promovidos pela Inspetoria Seccional do
Ensino Secundário de Aracaju, financiado pelo Departamento do Ensino Fundamental do
Ministério da Educação e Cultura, tendo o professor José Silvério Leite Fontes como
coordenador. A professora Celina Oliveira Lima informou que os professores da capital e do
interior participariam. O curso durou dez dias, como exigência para participar, os docentes
deveriam possuir registro no MEC e na Inspetoria Seccional do Ensino Secundário.
Outro curso, de Especialização de professores para surdos, realizado no Instituto
Educacional da Guanabara, para a participação, foram abertas duas bolsas de estudos. No
Ninota Garcia existia o ensino para surdos e o número de professores era reduzido. Os
professores interessados, ao terminarem o curso deveriam prestar serviços no Centro de
Reabilitação da Capital.
O estudo em andamento, por se constituir em parte da pesquisa que será realizada
durante o ano de doutoramento pela PUCRS, permitirá, a partir das memórias dos docentes e
discentes, dos documentos oficiais, dos impressos compreender a dinâmica cotidiana da
instituição; as práticas desenvolvidas; os aspectos legais; as mudanças nas exigências de
formação; os reflexos da promulgação da implantação da Lei 5692/71 em plena Ditadura
Militar, e a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96, enfim, todos os
elementos que constituíram a escola, bem como a formação para o magistério no período
assinalado.
REFERÊNCIAS
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