Matriz de Insumo-produto de Arapongas
Transcript of Matriz de Insumo-produto de Arapongas
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
1/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos138
MATRIZ DE INSUMO-PRODUTO DE ARAPONGAS/PR:
PERSPECTIVAS DE UMA NOVA FERRAMENTA PARA O
DESENVOLVIMENTO LOCAL
Paulo Rogrio Alves BreneProfessor do Departamento de Economia UENP/Cornlio Procpio e Doutorando
em Desenvolvimento Econmico no PPGDE/UFPRE-mail: [email protected]
Umberto Antonio Sesso Filho
Professor do Departamento de Economia da UELE-mail: [email protected]
Rossana Lott RodriguesProfessora do Departamento de Economia da UEL
E-mail: [email protected]
Armando Joo Dalla CostaProfessor do Departamento de Economia da UFPR
E-mail: [email protected]
RESUMOO objetivo do estudo estimar a matriz de insumo-produto do Municpiode Arapongas/PR para o ano de 2007, identicando os setores-chaves para o desen-volvimento econmico e social. Foi utilizada a metodologia de Guilhoto e Sesso Filho(2005a ou b) para o ano de 2007, com base nos dados do IBGE e RAIS, sendo, pre-liminarmente apresentada uma viso do setor de mveis. Como resultado, observou--se que, o setor de madeira e mveis importante em produo e emprego globais,
porm, no aparece como maior gerador das variveis analisadas (multiplicador deproduo, renda e emprego). No obstante, as simulaes realizadas evidenciaramque os setores madeira e mveis e comercio devem ser alvo de polticas pblicas pelopotencial de crescimento e interligao que demonstraram possuir.
Cdigo JEL:C67, R15
Palavras-chave:Matriz Insumo-Produto, desenvolvimento econmico, economia re-gional e urbana, poltica pblica
ABSTRACT The objective is to estimate the input-output matrix of Arapongas/PR
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
2/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 139
for 2007, identifying key sectors for economic and social development. Methodologywas applied to Guilhoto and Sesso Filho (2005 a ou b) for the year 2007, based on datafrom the IBGE and RAIS, being presented a preliminary view of the furniture sector.
As a result, it was observed that the wood and furniture sector is important in globalproduction and employment, however, does not appear as the largest generator ofvariables (multiplier of production, income and employment). Nevertheless, the simu-lations showed that the wood and furniture sector and commerce should be the targetof public policies for growth potential and interconnection that have demonstrated.
Key words: Input-Output, economic development, regional and urban economics,public politics
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
3/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos140
1. Introduo
Os recentes debates sobre os limites e possibilidades do atual modelo de cres-cimento brasileiro, aparentemente, tm desconsiderado o interesse pela questo de suaabrangncia e sua capacidade de inuenciar estruturas produtivas locais, o que, sem dvi-da, traz tona o receio do agravamento das desigualdades, inclusive em termos regionais.
Alm disso, o debate em curso, em certo sentido, valoriza (e o faz de formaexcessiva) a relevncia do setor privado para a reestruturao produtiva, minimizan-do a importncia ou efeito da reduzida ao atual do poder pblico na conformaoespacial das atividades econmicas.
Seja como for, essa estratgia de crescimento, independente de seus erros ouacertos, sem dvida, alterar signicativamente a posio competitiva das diferentes
regies e, principalmente, sua capacidade de atrao de novos investimentos produtivos.Em tal conjuntura, de importantes alteraes nos processos produtivos e departicipao governamental, relevante realizar estudos, mesmo que elaboradoscomo meros exerccios, sobre a capacidade de algumas localidades, ou, se preferir,reas de concentrao espacial, estabelecer condies mnimas para elevao de pro-dutividade, adequao dos custos da mo-de-obra, lucratividade empresarial e, prin-cipalmente, manuteno da qualidade de vida dos residentes da regio, notadamenteem reas que j apresentam trajetria de esvaziamento ou estagnao.
Nesse sentido, o trabalho que agora apresentado tem o objetivo de efetuar aanlise de uma regio, elencando uma localidade para estudo e, a partir da interpretao
de sua realidade e dos resultados da matriz insumo-produto municipal, propor uma es-tratgia alternativa de atuao da esfera pblica municipal no sentido de potencializaros recursos locais existentes e promover a sinergia entre os interesses governamentais(no que tange aos aspectos sociais) e privados (em termos de lucratividade e ecincia).
Embora diversas localidades pudessem ser escolhidas para tal exame, a anliserecaiu sobre o Municpio de Arapongas, na regio Norte do Paran. Trs motivos le-varam a esta escolha. Em primeiro lugar, Arapongas bastante representativa no setormoveleiro nacional. Por seguinte, mesmo assim, caracterizada por ser uma cidadede pequeno porte e, por m, dependente de municpios maiores (Londrina e Maring).
De toda sorte, independente da localidade escolhida para exame, o problemade pesquisa, que integra um estudo mais amplo, ainda no concludo, : Qual a viabi-lidade do uso da matriz insumo-produto na orientao e implementao de polticaspblicas municipais para o desenvolvimento local, representado pela gerao de em-prego e renda? Especicamente, pretende-se: a) estimar a matriz de insumo-produtopara o Municpio de Arapongas, a partir da matriz de insumo-produto do Brasil, es-timada para o ano de 2007 (metodologia de Guilhoto e Sesso Filho, 2005a ou b), edados bsicos municipais; b) calcular os geradores de produo, emprego e renda eseus valores de transbordamento para os setores do municpio e restante do Brasil;c) identicar os setores-chave no tocante aos multiplicadores de produo, emprego
e renda; e, nalmente d) simular alteraes na estrutura produtiva como exemplo deinterferncia/orientao do setor pblico.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
4/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 141
Destaca-se que, as matrizes de insumo-produto inter-regionais permitem umaanlise detalhada do sistema econmico, este dividido em duas ou mais regies e seusuxos de bens e servios. Estas podem ser estimadas ou construdas. Porm, como os
sistemas construdos demandam considervel volume de dados e tempo de trabalhoenquanto as matrizes estimadas necessitam de uma base de dados menor, para nsdeste trabalho ser utilizada esta ltima. Salienta-se, ainda, que existe um limitadonmero de estudos sobre matrizes de insumo-produto municipais, considerando aconstruo e estimativa de sistemas estaduais e nacionais.
Assim, para responder as questes postas, este artigo est dividido em cincoseces incluindo esta introduo. O referencial terico utilizado na anlise quantita-tiva do estudo e estimativa da matriz insumo-produto inter-regional e seus mtodosde anlise esto na segunda seco. J na terceira, so apresentados e analisados osresultados da pesquisa, na seqncia quarta seco - sero discutidas as simulaes(anlise heterodoxa ou normativa) e na ltima, as principais concluses.
2. Anlise Passo a Passo do Modelo
Os indicadores econmicos baseados em matrizes de insumo-produto podem ser de-compostos em efeitos locais e inter-regionais. Desse modo, seria possvel estimar impactosde polticas pblicas de estmulo aos setores sobre produo, emprego e renda, incluindo apossibilidade de mensurar o impacto de novas empresas para a regio estudada, assim como,a identicao de setores-chave para o desenvolvimento econmico e social local.
Como j mencionado anteriormente, as matrizes de insumo-produto podem ser estima-das ou construdas. Contudo, como os sistemas construdos demandam considervel volumede dados, enquanto os estimados necessitam de uma base de dados menor, para ns destetrabalho ser utilizada esta ltima. No intuito de criar uma organizao metodolgica para o tra-balho, analisar-se-, nesta etapa, a trajetria e procedimento de construo da matriz municipal.
2.1 Fonte dos dados
A matriz de insumo-produto inter-regional Municpio-Restante do Brasil parao ano de 2007 pode ser construda baseando-se na estimativa da matriz nacional apartir da metodologia denida em Guilhoto e Sesso Filho (2005a). Estes autores apre-sentam a metodologia para estimativa da matriz de insumo-produto do Brasil a partirde dados preliminares das contas nacionais. A construo do sistema inter-regionalfoi baseada na metodologia descrita em Guilhoto e Sesso Filho (2005b) e a fonte dosdados foi o Instituto Brasileiro de Geograa e Estatstica.
Em relao a este procedimento, observa-se que os setores que compem a partedo sistema econmico (matriz estimada do Brasil - dados IBGE) a ser analisado esta-riam representados por 42 categorias (ou atividades econmicas) e 80 bens e servios,o que permitiria grande detalhamento da estrutura produtiva da localidade em anlise.
Contudo, para a estimao/aproximao da produo municipal, utilizou-se osdados da RAIS - Relao Anual de Informaes Sociais de 2007. Os mesmos esto
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
5/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos142
padronizados conforme a CNAE - Classicao Nacional de Atividades Econmicas,em at 87 setores. Duas observaes so importantes a partir desta anlise. A primei-ra diz respeito aos geradores/multiplicadores que, considerando a base de dados da
RAIS, se referem aos empregos formais e massa salarial dos mesmos. Assim, todoresultado girar em torno desses indicadores. E, por questes metodologias (evitandoa presena de zeros na matriz), foi realizada uma adequao entre os 42 setores doIBGE e os 87 da RAIS, o que resultou na relao de 27 setores, conforme Tabela 1.
Tabela 1Setores do sistema inter-regional de Arapongas, Brasil, 2007
N SETORESMASSA SALARIAL
ANUAL (R$ Milhes) %
N DEEMPREGADOS
%
1 AGROPECURIA 7,70 2,6% 908 3,1%
2 EXTRATIVA, PETRLEO E GS 0,21 0,1% 20 0,1%
3 SIDERURGIA E METALRGICOS 3,47 1,2% 400 1,4%
4 MQUINAS E TRATORES 1,35 0,5% 160 0,5%
5 MATERIAL ELTRICO 0,09 0,0% 12 0,0%
6 EQUIPAMENTOS E ELETRNICOS 0,02 0,0% 1 0,0%
7 INDSTRIA AUTOMOTIVA, PEAS E OUTROS 0,16 0,1% 18 0,1%
8 MADEIRA E MOBILIRIO 93,96 32,3% 10.066 34,0%
9 CELULOSE, PAPEL E GRFICA 2,62 0,9% 290 1,0%
10 INDSTRIA DA BORRACHA E ARTIGOS PLSTICOS 4,22 1,5% 512 1,7%
11 ELEMENTOS QUMICOS, FARMACUTICA E VETERINRIA 18,79 6,5% 524 1,8%
12 INDSTRIA TEXTIAL 0,40 0,1% 53 0,2%
13 ARTIGOS DO VESTURIO 1,15 0,4% 172 0,6%
14 FABRICAO DE CALADOS 1,46 0,5% 183 0,6%
15 INDSTRIA ALIMENTCIA 30,29 10,4% 3.004 10,1%
16 INDSTRIAS DIVERSAS 0,26 0,1% 44 0,1%
17 S.I.U.P. 0,11 0,0% 12 0,0%
18 CONSTRUO CIVIL 5,24 1,8% 651 2,2%
19 COMRCIO 46,78 16,1% 5.575 18,8%
20 TRANSPORTES 5,95 2,0% 566 1,9%
21 COMUNICAES 0,46 0,2% 69 0,2%
22 INSTITUIES FINANCEIRAS 7,21 2,5% 229 0,8%
23 SERVIOS PRESTADOS FAMLIA 10,40 3,6% 1.315 4,4%
24 SERVIOS PRESTADOS EMPRESA 8,46 2,9% 1.062 3,6%
25 ALUGUEL DE IMVEIS 1,05 0,4% 109 0,4%
26 ADMINISTRAO PBLICA 28,16 9,7% 2.463 8,3%
27 SERVIOS PRIVADOS NO MERCANTIS 10,93 3,8% 1.180 4,0%
TOTAL 290,92 100% 29.598 100%
Fonte: Elaborao dos autores com base em RAIS (2007).
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
6/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 143
Com vistas a dar uma maior objetividade ao estudo, foram escolhidos, da lista-gem da Tabela 1, nove setores que melhor representam o municpio em anlise, sendoestes responsveis por 87% e 88% da massa salarial anual e nmero de empregados,
respectivamente, como apresentado na Tabela 2.
Tabela 2Setores a serem analisados no sistema inter-regional de Arapongas, Brasil
N SETORESMASSA SALARIAL
ANUAL (R$ Milhes) %
N DEEMPREGADOS
%
1 AGROPECURIA 7,70 2,6% 908 3,1%
8 MADEIRA E MOBILIRIO 93,96 32,3% 10.066 34,0%
11 ELEMENTOS QUMICOS, FARMACUTICA E VETERINRIA 18,79 6,5% 524 1,8%
12 INDSTRIA TEXTIAL 0,40 0,1% 53 0,2%
15 INDSTRIA ALIMENTCIA 30,29 10,4% 3.004 10,1%
19 COMRCIO 46,78 16,1% 5.575 18,8%
23 SERVIOS PRESTADOS FAMLIA 10,40 3,6% 1.315 4,4%
24 SERVIOS PRESTADOS EMPRESA 8,46 2,9% 1.062 3,6%
26 ADMINISTRAO PBLICA 28,16 9,7% 2.463 8,3%
27 SERVIOS PRIVADOS NO MERCANTIS 10,93 3,8% 1.180 4,0%
TOTAL 255,48 87,8% 26.097 88,2%
Fonte: Elaborada pelos autores com base e, RAIS (2007).
2.2Matriz de insumo-produto inter-regional
O modelo inter-regional de insumo-produto, tambm chamado de modeloIsard, devido aplicao de Isard (1951), requer uma grande massa de dados, re-ais ou estimados, principalmente quanto s informaes sobre uxos intersetoriais einter-regionais.
O Quadro 1 apresenta, de forma esquemtica, as relaes dentro de um siste-
ma de insumo-produto inter-regional com duas regies. Complementando o sistemaregional, no sistema inter-regional h uma troca de relaes entre as regies, expor-taes e importaes, que so expressas por meio do uxo de bens que se destinamtanto ao consumo intermedirio quanto demanda nal.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
7/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos144
Quadro 1Relaes de Insumo-Produto num sistema inter-regional
Setores - Municpio L Setores Restante doBrasil M DemandaFinal Y
Setores -Municpio L
Insumos IntermediriosLL
Insumos IntermediriosLM
LL LMProduo
Total L
Setores-Restante do
Brasil M
Insumos IntermediriosML
Insumos IntermediriosMM
ML MMProduoTotal M
Importao RestoMundo (M)
Importao Resto Mundo(M)
M- L
M -M
M
Impostos Ind. Liq. (IIL) Impostos Ind. Liq. (IIL)IIL- L
IIL -M
IIL
Valor Adicionado Valor Adicionado
Produo Total Regio L Produo Total Regio M
Fonte: Adaptado de Moretto (2000).
De forma sinttica, pode-se apresentar o modelo, a partir do exemplo hipot-tico dos uxos inter-setoriais e inter-regionais de bens para as regies L e M, com 2setores, como se segue:ZLLij - uxo monetrio do setoripara o setorjda regio L,
ZMLij
- uxo monetrio do setor i da regio M, para o setorjda regio L. Na forma dematriz, esses uxos seriam representados por:
(1)
em queZLLeZMM, representam matrizes dos uxos monetrios intra-regionais, e ZLM
e ZML, representam matrizes dos uxos monetrios inter-regionais. Considerando aequao de Leontief (1951 e 1986)
(2)em que,X
iindica o total da produo do setor i, Z
in o uxo monetrio do setor ipara
o setor n e Yia demanda nal por produtos do setor i, possvel aplic-la conforme,
(3)
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
8/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 145
em queX Ll o total do bem 1produzido na regioL.
Considerando os coecientes de insumo regional para L e M, obtm-se os coecientesintra-regionais:
(4)
em que, pode-se denir os aLLij
como coecientes tcnicos de produo que represen-tam quanto o setorjda regio L compra do setor ida regio L e
(5)
em que, pode-se denir os aMM
ijcomo coecientes tcnicos de produo, que repre-
sentam a quantidade que o setorjda regio M compra do setor ida regio M. E, porltimo, os coecientes inter-regionais:
(6)
podendo-se denir os aMLij
como coecientes tcnicos de produo que representamquanto o setorjda regio L compra do setor ida regio M e
(7)
em que os aLM
ijcorrespondem aos coecientes tcnicos de produo que representam a
quantidade que o setorjda regio M compra do setor ida regio L.
Estes coecientes podem ser substitudos em (3), obtendo:
(8)
As produes para os demais setores so obtidas de forma similar. Isolando, Y Ll
ecolocando em evidnciaX L
l, tem-se:
(9)
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
9/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos146
As demais demandas nais podem ser obtidas similarmente. Portanto, de acor-do comALL= ZLL(XL)-1, constri-se a matrizALL , para os 2 setores, em queALL repre-senta a matriz de coecientes tcnicos intra-regionais de produo. Saliente-se que
esta mesma formulao valeria paraALM,AMM, AML .
Denem-se agora as seguintes matrizes:
(10)
(11)
(12)
O sistema inter-regional completo de insumo-produto representado por:
(13)
e as matrizes podem ser dispostas da seguinte forma:
(14)
Efetuando estas operaes, obtm-se os modelos bsicos necessrios anlise in-ter-regional proposta por Isard, resultando no sistema de Leontief inter-regional da forma:
(15)
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
10/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 147
2.3. Mtodo do quociente locacional
O mtodo do quociente locacional constitui uma tcnica bastante empregada
em Economia Regional, quando se deseja obter uma primeira aproximao do valorde determinadas variveis para uma regio qualquer, a partir do valor das mesmasvariveis obtidas por dados censitrios em nvel nacional. Segundo Souza (1997), autilizao dessa tcnica supe que a economia da regiojmantm a mesma estruturada economia nacional em relao indstria i. Assim, o quociente locacional simplespara o setor ina regioR, conforme Miller e Blair (2009), denido como:
(16)
em queX Ri
eX Rdenotam, respectivamente, os valores da produo do setor ie da pro-duo total na regioR;X N
ieX Ndenotam, respectivamente, os valores da produo
do setor ie da produo total nacional.Quando os dados de produo de uma indstria, em uma dada regio, no esto
disponveis, pode-se utilizar outras medidas ou variveis por setor, dentre as quais sedestacam o emprego, a renda pessoal recebida, o valor adicionado, a demanda nal,etc. (Miller e Blair, 2009 e Round, 1983).
O presente mtodo consiste em comparar a proporo do produto total da re-
gio Rque devida ao setor icom a proporo do produto total nacional advindodo setor i em nvel nacional. O quociente locacional simples pode ser visto comouma medida da habilidade da indstria regional ipara atender demanda de outrasindstrias e demanda nal da regio. Se o valor do quociente for menor do que um,a indstria i menos concentrada na regio do que em nvel nacional. Se for maiordo que um, a indstria i mais concentrada na regio do que e nvel nacional. Assim,para a linha ide uma tabela regional estimada, tem-se:
(17)
em que:
aRRij
o coeciente de insumo regional;
aNij
o coeciente tcnico nacional.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
11/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos148
2.4 Geradores
A partir dos coecientes diretos e da matriz inversa de Leontief possvel
estimar, para cada setor da economia, o quanto gerado direta e indiretamente deemprego, importaes, impostos, salrios, valor adicionado ou outra varivel de in-teresse para cada unidade monetria produzida para a demanda nal (Miller e Blair,2009) ou seja:
(18)
em que GVj o impacto total, direto e indireto, sobre a varivel em questo, bij oij-simoelemento da matriz inversa de Leontief e i o coeciente direto da varivel
em questo.Quando o efeito de multiplicao se restringe somente demanda de insu-
mos intermedirios, estes multiplicadores so chamados de multiplicadores do tipoI. Porm, quando a demanda das famlias endogenizada no sistema, levando-se emconsiderao o efeito induzido, estes multiplicadores recebem a denominao de mul-tiplicadores do tipo II.
3. Argumento Positivo do Sistema Econmico de Arapongas
Como j mencionado em outros estudos (GORINI, 1998 e 2000; BNDES,2002a e 2002b), existe uma tendncia concentrao dos plos moveleiros nasregies do Sul e Sudeste do pas, mais precisamente nos estados do Rio Grande doSul, Santa Catarina, Paran, So Paulo e Minas Gerais o que pode ser observadona Tabela 3.
No tocante ao valor total da produo, destacam-se, em ordem de importncia,os estados de So Paulo, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, onde s os dois primei-ros somariam, no incio desta dcada, 60% do faturamento do setor (BRASIL, 2002).
Contudo, no que se refere ao desempenho no mercado externo, este rankingse invertee, de acordo com dados referentes a 2009 do Secex/MDIC (Centro Internacional...,2009), de um montante de US$828.426.479,00 (FOB), s Santa Catarina seria respon-svel por 31,4%, Rio Grande do Sul por 29,0% e So Paulo por 21,7%. Mais uma vez,utilizando a Tabela 3, ca identicado - no caso de Santa Catarina - os Municpiosde Rio Negrinho e So Bento do Sul como plos responsveis por esse desempenho.
A importncia do plo moveleiro de Arapongas, no s no mbito do Estado,mas, tambm, no contexto nacional, ca evidente, atravs dos dados, apresentados emconjunto com outras localidades, na tabela anterior. O Municpio, de pouco mais de 80
mil habitantes (Censo 2000), foi responsvel por 2,3% do nmero de empregados noBrasil e por, aproximadamente, um quarto no Paran (RAIS 2007).
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
12/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 149
Tabela 3Principais plos moveleiros no incio do Sculo XXI e sua participao no Brasil
UF*No. de
empresas e
% do BR
*Empregos e
% do BR
**Principais
mercados**Plo moveleiro **Principais produtos
MG2.126
13,20%24.71711,98%
MG, SP, RJ E BAUb, Bom Despachoe Martinho Campos
Cadeiras, dormitrios, salas, estantes emveis sob encomenda
ES313
1,94%5.4022,62%
SP, ES e BA Linhares e ColatinaMveis retilneos (dormitrios e salas) e
mveis sobre encomenda
PR2.133
13,25%29.07914,09%
Todos os estados ArapongasMveis retilneos, estofados, de
escritrio e tubulares
SP3.754
23,31%48.46223,49%
Todos os estados
Votuporanga,Mirassol, Jaci,
Blsamo, NevesPaulista e Tup
Cadeiras, armrios, racks, estantes,mesas, dormitrios, estofados e mveis
sob encomenda de madeira macia
SC2.020
12,54%32.27315,64%
Exportao PR,SC e SP
So Bento do Sul eRio Negrinho
Mveis de pinus, sofs, cozinhas edormitrios
RS2.443
15,17%33.47916,22%
ExportaoTodos os estados
Bento Gonalves eLagoa Vermelha
Dormitrios, salas, mveis de pinus,estantes , estofados, mveis retilneos,
e metlicos (tubulares)
Fonte: *RAIS, 2004 e **Gorini (2000).
Ostatusdo setor, como fonte de boa parte do dinamismo econmico do Mu-nicpio, se destaca ainda mais quando observadas as anlises do Arranjo ProdutivoLocal nesta atividade, onde Arapongas destaca-se como o maior plo moveleirodo Paran e o terceiro maior do Brasil, formado por cerca de 150 empresas, com
faturamento no ano de 2004 em torno de R$ 812 milhes (...).(Plano de Desenvol-vimento..., 2006, p. 11)
Assim, pelo exposto, pode-se vericar fato notrio sobre o municpio em ques-
to. Contudo, o problema de pesquisa agora levantado diz respeito capacidade doplo moveleiro consolidado, o principal setor da economia da regio, transbordar estedinamismo para alm dos seus limites. Nesse sentido, torna-se objeto de estudo naprxima sub-seo a anlise dos indicadores da matriz insumo-produto municipal.
3.1 Anlise dos resultados
As Figuras 1, 2 e 3 mostram a gerao de produo, emprego e renda dossetores em anlise do Municpio de Arapongas. Os resultados esto decompostos em
impacto direto em Arapongas, impacto indireto no municpio e impacto indireto noRestante do Brasil. O impacto direto ocorre dentro do prprio setor que tem que aten-
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
13/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos150
der ao aumento da demanda nal, neste caso, no municpio. J o impacto indireto,inuencia os setores da prpria cidade onde se encontra a atividade analisada e, os se-tores fora do municpio so inuenciados pelo impacto indireto no restante do Brasil.
Os setores-chave para a gerao de produo (Figura 1), considerando os efei-tos direto e indireto locais foram: 1 - agropecuria; 8 - madeira e mobilirio; 11 - ele-mentos qumicos, farmacutica e veterinria; 15 - indstria alimentcia e 23 - serviosprestados famlia. Estes setores apresentaram valores de gerao de produo entreR$1.700,00 e R$2.350,00 por mil Reais de aumento da demanda nal. importantelembrar que a anlise de equilbrio geral leva em considerao o efeito multiplicadorsobre toda a economia. Assim, o efeito indireto sobre os setores do Brasil foi estimadocomo transbordamento e analisado posteriori. De forma negativa, destaca-se o setorde Comrcio (19) que, entre os nove setores analisados, apresentou o menor valor degerao produo, algo em torno de R$1.400,00.
Figura 1Gerao de produo dos setores do Municpio de Arapongas
para a variao de cada Real na demanda fnal, 2007
Fonte: Elaborada pelos autores.
Observando a Figura 2, pode-se identicar os setores-chave para a gerao deempregos formais (com carteira assinada) no Municpio de Arapongas. Considerandoos efeitos locais (direto e indireto), destacam-se: 19 comrcio; 23 - servios prestados
famlia; 24 - servios prestados empresa; 26 - administrao pblica e 27 - servios
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
14/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 151
privados no mercantis. Estas atividades apresentam capacidade de gerao de empre-gos formais entre 23 e 41 por variao de um milho de Reais da demanda nal. Oscinco setores citados pertencem ao macrossetor tercirio, no qual se sobressai o setor
24, com 41 empregos por milho no municpio.Ainda, no que tange a gerao de emprego, cabe a ressalva que dos setores, ao
menos dois (24-servios prestados empresa e 26-administrao pblica), podem serconsiderados setores de proviso indireta do ncleo moveleiro, denotando, neste caso,certa sinergia na cadeia produtiva local.
Figura 2Gerao de empregos formais (com carteira assinada) dos setores do Municpio de
Arapongas para a variao de um milho de Reais da demanda fnal, 2007
Fonte: Elaborada pelos autores.
Em relao capacidade de gerao de massa salarial, a Figura 3 resume osresultados para os setores do municpio analisado. Tem-se os setores mais importantessomando os efeitos locais: 24-servios prestados empresa e 26-administrao pbli-ca, com valores de R$330,00 e R$410,00 por um mil Reais de aumento da demandanal do setor, respectivamente contra uma mdia de R$199,00 dos demais.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
15/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos152
Figura 3Gerao de renda dos setores do Municpio de Arapongas
para a variao de mil Reais da demanda fnal, 2007
Fonte: Elaborada pelos autores.
Outro aspecto importante a ser apreciado diz respeito ao efeito transbordamen-to para o resto do Brasil (Figura 4). Uma primeira questo a se considerar o efeito daproduo (Figura 4A), em que, na maioria, os setores esto contidos entre os limitesinferior e superior de 10% a 50%. Predomina nessa anlise o setor 11 - elementosqumicos, farmacutica e veterinria que, pelos dados do transbordamento de salrio(Figura 4C) e emprego (Figura 4B), transfere mais de 40% da massa salarial e 50%dos empregos gerados.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
16/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 153
Figura 4Transbordamento da gerao de produo,
emprego e renda dos setores de Arapongas, 2007
Fonte: Elaborada pelos autores.
Como apontaram os dados da matriz, o setor madeira e mveis um dos maisimportantes em produo. Porm, no aparece como maior gerador (efeito multiplica-dor) das demais variveis analisadas. Nesse sentido, torna-se objeto de estudo, na pr-
xima seo, a anlise das possibilidades de polticas de estmulo direcionas a setoreschave da economia de Arapongas ou, em outras palavras, do potencial do municpioencontrar alternativas autctones de crescimento econmico e social, a partir dessarealidade.
4. Observaes Heterodoxas ou Normativas
O Brasil vem se caracterizando por uma srie de transformaes em sua eco-nomia, aparentemente impulsionadas por tendncias mundiais. De forma geral, essas
modicaes esto relacionadas globalizao que, para alguns autores, um cursonatural e para outros uma poltica, mas que, de toda forma, tem por caracterstica
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
17/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos154
a (...) interao de trs processos distintos: a expanso extraordinria dos uxosinternacionais de bens, servios e capitais; o acirramento da concorrncia nos mer-
cados mundiais e a maior integrao entre os sistemas econmicos nacionais (...)
(GONALVES e PELEGRINO, 1999), tudo isso potencializado pelo avano das tec-nologias de informao (TI).
Com a implementao do Plano Real em 1994, marco dessa nova fase no pas,o Governo Federal assume uma postura de passividade frente implementao oufomento de qualquer tipo de Poltica Industrial.A ao do Estado volta-se, exclusi-vamente, para a manuteno da estabilidade dos preos (combate inao), lgicaque, em algum sentido, mantida at hoje. Assim, a responsabilidade sobre o nvelde investimento ca intimamente ligada s expectativas dos agentes econmicos pri-vados que, quando muito, so auxiliados por esforos isolados de instncias do setorpblico, como Governo de Estado e Prefeituras.
Inserido nesse contexto, o economista Andr Urani nos ensina que (...) a ex-perincia brasileira da ltima dcada mostra que no mbito local, mais que no
nacional, que se podem elaborar e implementar polticas capazes de melhorar a qua-
lidade de vida dos cidados(URANI e REIS, 2004, p. 4).Para tanto, de acordo com Celso Furtado, o primeiro passo a ser dado seria na
direo de polticas orientadas para a melhoria da qualidade de vida da populao, ou,nas palavras do autor, para a Homogeneizao Social, em que, (...) o conceito dehomogeneizao social no se refere uniformizao dos padres de vida, e sim a
que os membros de uma sociedade satisfazem de forma apropriada as necessidades
de alimentao, vesturio, moradia, acesso educao e ao lazer e a um mnimo debens culturais(grifo nosso). (FURTADO, 1992. p. 52)Ao aceitar sem ressalvas o ensinamento de Furtado, considera-se, ento, a pri-
meira condio necessria para potencializar o quadro que hoje se apresenta emArapongas, a qual seria dinamizar o setor de comrcio (19). Tal simulao teve porbase um aumento de 20% no Produto Total do setor (bens intermedirios e/ou nais),mais 10% sobre o nmero de empregados e 20% da massa salarial. Este diferencialentre salrio e emprego representa maior qualicao desses servios e, consequente-mente, da mo-de-obra.
Assim, com base nas novas matrizes, os resultados da primeira simulao in-
dicaram que o estmulo do setor comrcio dinamizaria todos os demais dentro domunicpio, em especial os setores 6 - equipamentos eletrnicos e 13 - artigos do ves-turio, que tem seus geradores de produo ampliados em quase 6,5% (Figuras 5),demonstrando uma proximidade com a prpria atividade comrcio.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
18/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 155
Figura 5Alterao nos geradores de Produo do sistema econmico
de Arapongas resultantes de Polticas de Estmulo ao Comrcio, 2007
Fonte: Elaborada pelos autores.
Outro apontamento, com base nos resultados da Figura 5, diz respeito re-duo do Impacto Indireto no Restante do Brasil. O mesmo poderia ser explicadopelo aumento no atendimento da demanda interna pelo prprio comrcio local, comdestaque para trs setores importantes para o municpio, em nmero de empregos esalrios: 1 agropecuria, 8 - madeira e mobilirio e 23 servios prestados famlia.
Em relao aos geradores de emprego e salrio (Figuras 6 e 7), estes seguema mesma tendncia observada nos de produo. Contudo, deve-se atentar para a am-
plitude do aumento dos multiplicadores de salrio 5,5% em mdia, frente a 2,5% doemprego deve-se lembrar que a simulao levava em conta um diferencial positivoentre salrio e o emprego, insinuando uma maior qualicao do fator trabalho, o queexplicaria o maior impacto em salrio.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
19/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos156
Figura 6Alterao nos geradores de Emprego do sistema econmico
de Arapongas resultantes de Polticas de Estmulo ao Comrcio, 2007
Fonte: Elaborada pelos autores.
Outra questo, agora ligada ao comportamento do gerador de emprego do setorestimulado (19 comrcio), est ligada reduo de seu dinamismo, em que o impac-to direto no municpio reduziu-se em mais de 7% e os indiretos (local e no restante doBrasil) em torno de 3%, um comportamento prximo a um rendimento decrescenteem relao aos estmulos diretos.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
20/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 157
Figura 7Alterao nos geradores de Salrio do sistema econmico
de Arapongas resultantes de Polticas de Estmulo ao Comrcio, 2007
Fonte: Elaborada pelos autores.
Paralelo a esse conjunto de resultados a nova matriz demonstrou uma reduonos impactos no restante do Brasil (Efeito Transbordamento Tabela 4), diminuindoa exportao de produo, emprego e salrio, exclusive no caso do setor 19 (comr-cio). Em relao a este ltimo, especicamente no gerador de emprego, o transborda-mento para o restante do Brasil aumenta em 4,7%, contrariando os demais.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
21/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos158
Tabela 4Efeito sobre o transbordamento para o restante do Brasil
por setor e tipo de gerador, 2007
SETORES 1 2 3 4 5 6 7
Transbordamento da Produo para o Brasil -2,6% -0,7% -0,6% -0,7% -0,9% -1,7% -0,9%
Transbordamento da Emprego para o Brasil -8,1% -1,8% -1,6% -1,9% -2,4% -3,5% -2,1%
Transbordamento da Salrio para o Brasil -6,4% -1,4% -1,1% -1,4% -1,9% -3,9% -2,0%
SETORES 8 9 10 11 12 13 14
Transbordamento da Produo para o Brasil -3,0% -1,3% -1,6% -0,9% -1,3% -1,7% -2,0%
Transbordamento da Emprego para o Brasil -7,7% -3,9% -4,5% -2,2% -3,1% -3,5% -4,2%
Transbordamento da Salrio para o Brasil -5,9% -3,3% -3,3% -2,7% -3,0% -3,6% -4,3%
SETORES 15 16 17 18 19 20 21
Transbordamento da Produo para o Brasil -1,5% -1,5% -0,4% -1,6% -1,3% -1,4% -0,2%
Transbordamento da Emprego para o Brasil -5,7% -4,3% -1,0% -4,4% 4,7% -3,0% -0,6%
Transbordamento da Salrio para o Brasil -5,2% -3,1% -0,8% -3,3% -1,9% -2,5% -0,6%
SETORES 22 23 24 25 26 27 Mdia
Transbordamento da Produo para o Brasil -0,1% -2,2% -0,5% -0,3% -0,6% -1,2% -0,9%
Transbordamento da Emprego para o Brasil -0,4% -4,7% -1,7% -0,4% -1,6% -3,1% -2,0%
Transbordamento da Salrio para o Brasil -0,3% -3,6% -1,1% -0,7% -1,0% -2,3% -1,9%
Fonte: Elaborada pelos autores.
Todavia, ressalta-se que as (...) experincias referidas nos ensinam que a ho-mogeneizao social condio necessria mas no sufciente para superar o sub-
desenvolvimento. Segunda condio necessria a criao de um sistema produtivo
efcaz (...)(FURTADO, 1992. p. 52). Assim, preciso agregar valor aos produtos doArranjo Produtivo de Arapongas, o setor moveleiro (8), o que poderia ser feito atravsde novas simulaes, como a insero de novas tecnologias, design e/ou a conquistade novos mercados internacionais.
Independente de novos estudos, o exerccio aqui apresentado para o municpiode Arapongas teve por objetivo revitalizar a discusso sobre a retomada da autonomiaeconmica e melhora social para sua populao. Dito isso, de considerar que a es-tratgia alternativa, colocada como sugesto, no a mais vivel ou mesmo trivial,contudo imperativo que novas propostas como estas sejam apresentadas.
Por m, deve-se levar em considerao as realidades histrico-econmicas esociais do municpio, aliadas ao modelo, o que se coloca como extremamente so-sticado e complexo. Contudo, para auxiliar nessa reexo, so colocadas ao naldeste trabalho algumas concluses sobre a anlise realizada em relao ao municpio.
Espera-se que tais concluses sirvam de apoio para futuros debates, de importnciampar para a economia regional e o desenvolvimento econmico e social.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
22/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 159
5. Concluses
Parafraseando Ignacy Sachs (1993), o desenvolvimento poderia ser denido
como um processo criativo de transformao que, com a ajuda de tcnicas, conce-bido em funo das potencialidades existentes e de seu emprego na satisfao das ne-cessidades de todos os membros da sociedade. Nestes termos, importante considerarque as estratgias de desenvolvimento so mltiplas e somente podem ser implanta-das a partir de uma dada realidade local. Assim, ainda segundo Sachs, promover o de-senvolvimento , essencialmente, ajudar as populaes envolvidas a se organizarem ese educarem, para que repensem seus problemas, identiquem suas necessidades e osrecursos potenciais para arquitetar e realizar um futuro digno de ser vivido, conformeos postulados de justia social.
Isso dito, o trabalho observou que o setor de madeira e mveis do municpio deArapongas importante em produo, porm, no aparece como maior gerador (efei-to multiplicador) de emprego e renda. preciso agregar valor (o que poderia ser feitoatravs da insero de novas tecnologias e/ou design) aos produtos e internalizar parteda cadeia produtiva para diminuir os impactos de transbordamento fora do municpio.
De outra forma, muito embora os setores-chave para a gerao de produo,emprego e renda no sejam coincidentes, h indcios de inter-relacionamento da ca-deia produtiva local que, portanto, pode ser dinamizada pelo aprofundamento do Ar-ranjo Produtivo Local (APL) Moveleiro. Tal questo, no anula o fato de existirdinamismo prprio em cada um dos setores citados, muito menos a existncia de
setores que no integram o complexo produtivo moveleiro. Sendo assim, Arapongasdeve escolher os setores a serem estimulados para cada objetivo, otimizando recursos.
Identicou-se, ainda, grande relevncia do setor comrcio para o desenvolvi-mento local dada sua importncia na gerao de empregos e salrios, assim como pro-vedor dos demais setores como visto na anlise heterodoxa da simulao. Os mul-tiplicadores apurados induzem reexo de que o municpio, a par de aprimorar seuparque tercirio (tornando-se competitivo frente aos centros maiores, notadamenteLondrina e Maring), pode se transformar num plo gerador de servios para a regio,vez que, ao se agrupar os setores Servios privados no-mercantis, Comunicaes eservios prestados s empresas e Servios prestados s famlias em um nico setor, oqual poderia se chamar Servios qualicados, identicou-se um ncleo potencial denova cadeia produtiva, alm do tradicional comrcio.
De toda forma, importante calcular o efeito transbordamento interno de talsetor potencial (tarefa a qual este trabalho no se incumbiu) para no superestimar oefeito local do impacto do aumento da demanda nal do setor em anlise.
Vale ressaltar que este trabalho teve por objetivo, apenas, fazer um exerccioanaltico sobre os limites e resultados da utilizao da matriz insumo-produto (es-timada) municipal. Desta forma, reconhecido, a priori, que, antes de esgotar aspossibilidades da ferramenta, o presente trabalho, que como j mencionado, integra
uma pesquisa mais ampla, abre mais portas do que fecha, dando temtica novasabordagens e tratamento.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
23/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos160
De qualquer forma deve estar claro, ento, que esta sugesto no, necessaria-mente, seria a nica opo e nem mesmo a melhor opo para a localidade, sendoque apenas apresentada como demonstrao de uma das maneira pelas quais se
pode realizar a identicao de oportunidades de ao. Em outras palavras, o trabalhodemonstrou que alternativas existem e, independentemente da ao de outras esferasda gesto pblica, podem ser desenvolvidas com autonomia pelo prprio municpio.
Finalmente, destaca-se o fato de ter sido evitado, com o mximo rigor, qual-quer espcie de interpretao de cunho poltico ou de crticas gesto pblica local.Contudo, a despeito da iseno de interpretaes de carter poltico, no se pode dei-xar de idealizar que os esforos coletivos sejam capazes de elevar a ecincia pro-dutiva e trazer, como externalidade, a qualidade de vida. Assim, citado o professorCarlos Lessa que, em um artigo sobre a cidade do Rio de Janeiro, alerta o leitor de queA alma brasileira foi parcialmente quebrada quando se cancelou a idia de futuro,
quando se cancelou o sonho(LESSA, 1998, p. 29). De fato, imperativo acreditarque, partindo de qualquer local, o sonho ainda pode ser sonhado.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
24/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos 161
Referncias Bibliogrcas
Abimvel (2002) Panorama do Setor Moveleiro no Brasil. Atualizao at abril 2002.BNDES (2002a) Painis de Madeira Reconstituda. rea de Setores Produtivos 1 SP1. BNDES Setorial, Rio de Janeiro.
BNDES (2002b) Os Novos Desaos para a Indstria Moveleira no Brasil. BNDESSetorial, Rio de Janeiro, n.15, p.83-96.
BRASIL (2002) Programa Brasileiro de Prospectiva Tecnolgica Industrial.Technology Foresight for Latin America. Prospectiva Tecnolgica da CadeiaProdutiva de Madeira e Mveis. So Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnolgicas.Diviso de Produtos Florestais, abril 2002. Coordenao: Oswaldo Poffo Ferreira.
IBGE (2009) Censo 2000 - Populao e Domiclios, com Diviso Territorial 2001. IBGE
Cidades. Disponvel em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/ topwindow.htm?1Centro Internacional de Negcios/FIEC (2009) Disponvel em: http://www.ec.org.
br/portalv2/sites/cinv2/les/les/12_Moveis-Dez2009.pdf.Furtado, C. (1992) Brasil: A construo Interrompida. 3. ed. Editora Paz e Terra. Rio
de Janeiro: 1992. p. 38.Gonalves, R., Pelegrino, A. I. de C. (1999) Globalizao, Neoliberalismo e Excluso
Social. Revista Archtypon, Rio de Janeiro, ano 7, n. 19.Gorini, A. P. F. (2000) A indstria de mveis no Brasil. So Paulo: Associao
Brasileira das Indstrias do Mobilirio Abimvel. 80p._____________. (1998) Panorama do setor moveleiro no Brasil, com nfase na
competitividade externa a partir do desenvolvimento da cadeia industrial deprodutos slidos de madeira. Rio de Janeiro: BNDES.
Governana do APL de Mveis da Regio de Arapongas/PR e Rede APL Paran(2006) Plano de Desenvolvimento do Arranjo Produtivo Local de Mveis daRegio de Arapongas Paran. Disponvel em: http://www.mdic.gov.br/ arquivos/dwnl_1248271275.pdf
Guilhoto, J.J.M.; Sesso Filho, U.A. (2005a) Estimao da Matriz Insumo-Produto aPartir de Dados Preliminares das Contas Nacionais. Economia Aplicada. Vol. 9.N. 2. pp. 277-299.
Guilhoto, J.J.M.; Sesso Filho, U.A. (2005b) Estrutura produtiva da Amaznia: umaanlise de insumo-produto. Belm: Banco da Amaznia.
Isard, W. (1951) Interregional and regional input-output analysis: a model of a space-economy.Review of Economics and Statistics, n.33, p.319-328.
Leontief, W. (1986) Input-Output Economics. 2a ed. New York: Oxford UniversityPress, p. 241-260, 1986.
Leontief, W. (1951) The Structure of the American Economy. Segunda EdioAmpliada. New York: Oxford University Press. 264p.
Lessa, C. (1998) Um Rio de Sonhos: Uma realidade para o Rio de Janeiro. RevistaArchtypon, Rio de Janeiro, ano 6, n. 16, p. 29.
Miller, R. E., Blair, P. D. (2009) Input-output analysis: foundations and extensions.Cambridge: Cambridge University Press, 2009. 750 p.
-
7/25/2019 Matriz de Insumo-produto de Arapongas
25/25
Associao Brasileira de Estudos Regionais e Urbanos162
Moretto, A. C. (2009) Relaes intersetoriais e inter-regionais na economiaparanaense em 1995.Piracicaba, 2000. 161p. Tese (Doutorado) Escola Superiorde Agronomia Luiz de Queiroz, Universidade de So Paulo.
RAIS/CAGED Bases Estatsticas para os anos de 2007 e 2004. Acesso Online: http://sgt.caged.gov.br/index.asp
Round, J. I. (1983) Non survey techniques: a critical review of the theory and theevidence.International Regional Science Review, v. 8, n. 3, p. 189-121.
Sachs, I. (1993)Estratgias de transio para o sculo XXI.So Paulo: Studio Nobel,Fundao do Desenvolvimento Administrativo.
Souza, N. de J. (1997) Metodologia de obteno das matrizes de insumo-produto dosestados da regio sul, 1985 e 1995. Porto Alegre: UFRGS. (Texto para discusso,97/14).
Urani, A. & Reis, J. G. A. dos (2004)Desenvolvimento com justia social: uma agendapara Municpios. IETS, Policy paper n. 4. Rio de Janeiro, janeiro de 2004. p. 4.