Material Silvicultura

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SILVICULTURA

Entende-se por silvicultura, o ato de criar e desenvolver povoamentosflorestais, satisfazendo as necessidades de mercado.

A silvicultura brasileira pode ser considerada uma das mais ricas em todoo planeta, tendo em vista a biodiversidade encontrada, as variações dosfatores edafo-climáticos e a boa adaptação de materiais genéticosintroduzidos. Entretanto, todas estas vantagens podem também semanifestar como verdadeiras armadilhas, quando o conjunto destesfatores não são devidamente analisados na tomada de decisão.

Num país de extensões territoriais como as do Brasil, onde a variaçãoclimática é muito grande, uma das tarefas mais difíceis é exatamente aescolha do gênero e da espécie a serem cultivados.

Tomando como exemplo o gênero Eucalyptus, tem-se observado umagrande variação de espécies: ao sul predominam espécies de maiortolerância ao frio, como E. dunnii e nitens; já na região leste e centrooeste, a predominância ocorre com o E. grandis, saligna e urophylla, ouhíbridos destas espécies.

O sucesso de um empreendimento florestal depende estritamente de umbom planejamento de projeto, levando-se em consideração os fatoresacima mencionados.

Fases do projeto:

• Elaboração de mapas

• Elaboração do projeto

Elaboração de Mapas

A elaboração de mapas do projeto florestal é o primeiro passo a serseguido, devendo conter a área total do projeto, área útil de plantio,locações de reservas legais, aceiros e estradas, entre outros.

A locação de estradas e carreadores é de fundamental importância, umavez que estes influenciarão nos custos de implantação, colheita, índice deaproveitamento de área e custos de conservação de solos, quetranscorrem por todo o período do projeto.

Esta etapa exige dos técnicos um acompanhamento minucioso emcampo, para adequações em termos de obstáculos naturais, declividade do terreno e outras variáveis que podem influenciar nos custos daimplantação florestal.

Elaboração do Projeto

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A elaboração de um projeto florestal merece a participação de técnicos deformações multidisciplinares, para contemplar todos os aspectos cujasinfluências definirão o sucesso do empreendimento.

Um projeto bem elaborado deve contemplar o início e o término doestabelecimento do plantio, as definições das operações a seremexecutadas, material genético e, por fim, um cronograma de atividadese orçamento bem definido.

Definição do Material Genético

Este é o fator de maior importância em todo o projeto florestal, tendocomo base a complexidade dos fatores ambientais, descritosanteriormente e que devem ser contemplados. Uma falha nesta fase podecomprometer todo o sucesso do empreendimento e o futuroabastecimento de matéria-prima, que, por sua vez, poderá comprometera performance e talvez a sobrevivência da própria indústria.

A eleição do gênero e da espécie no projeto devem estar completamentealinhados às necessidades, características e qualidade da matéria-primada indústria.Neste aspecto, fatores como a procedência, grau de melhoramentogenético e método de produção das mudas terão pesos significativos noscustos de formação florestal e no resultado da produtividade futura dafloresta.

Melhoramento Florestal

Produção de Mudas

Nas últimas décadas, a produção de mudas tem passado por profundas esignificativas evoluções. Há pouco tempo, a formação de mudas eraessencialmente realizada através de sementes e em recipientes desacos plásticos ou outros de qualidade ainda inferiores a este . Maisprecisamente na década de oitenta, foram introduzidas alternativas consideradas até então revolucionárias no sistema de produção de mudas,principalmente as de eucalipto.

As principais inovações foram ocasionadas através de uma série deautomações nos viveiros florestais brasileiros, entre elas, a produção demudas em série através de viveiros modulados e compartimentalizados,em que cada fase do crescimento ficou bem definida.

A automação dos viveiros possibilitou também a utilização de outrosrecipientes, como os tubetes, resultando numa expressiva redução decustos, rendimentos operacionais, além da grande melhoria na qualidadedas mudas, principalmente sob o aspecto de formação do sistemaradicular e aspectos fitossanitários, por possibilitar suas disposições a

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níveis mais elevados em relação ao solo.Também na década de oitenta,sementes com alto grau de melhoramento genético, como as gerações F2e híbridas, tiveram suas contribuições no aumento da qualidade dospovoamentos florestais. Ainda neste período, o processo da propagaçãovegetativa, micropropagação e cultura de tecidos foram os destaquesentre os fatores que mais contribuíram para o incremento daprodutividade.

A definição de um ou outro sistema de produção de mudas e a escolha domaterial genético mais ou menos evoluído afetarão substancialmente oscustos do projeto.

Melhoramento Floresta

Preparo da Área

O início das operações de implantação de um projeto florestal apresentainúmeras variáveis, dependendo da espécie a ser cultivada eprincipalmente das condições do relevo, solo e clima.

A abertura de carreadores e estradas normalmente é o início do processo,vindo em seguida o desmatamento (ou limpeza da vegetação), o qualpode ser representado pela vegetação nativa ou restos da cultura vegetalda própria espécie em cultivo.

A execução desta atividade requer máquinas pesadas, roçadasmecânicas, manuais ou químicas, dependendo do grau de infestação davegetação ou do grau de mecanização que se pretende adotar.

Controle de Formigas

As formigas cortadeiras são as principais pragas no estabelecimento deum povoamento florestal, com potencialidade de danos significativosinclusive durante os anos de crescimento da floresta.

Após a limpeza de vegetação, enleiramento, roçadas ou trituração deresíduos florestais, recomenda-se a espera de aproximadamente 30 diaspara que o combate às formigas seja iniciado, tempo suficiente para queos formigueiros se restabeleçam e retornem às suas atividades normais.

Normalmente nas áreas propensas às infestações de formigas, ocorremdiversas espécies e até gêneros diferentes, o que exige diferentesmétodos, processos e produtos para seu eficiente controle.

As formigas consideradas potencialmente mais críticas em termos dedanos à silvicultura brasileira, e que ocorrem em quase todos os estados,são as do gênero Atta, comumente conhecidas como saúvas, e as Acromyrmex.

Vários métodos e produtos para o controle são normalmente utilizados,

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muito embora os controles manuais com inseticidas granulados,atualmente à base de sulfluramidas, são os mais empregados erecomendados, devido ao menor dano ao meio ambiente e pela maiordisponibilidade no mercado, o que os tornam mais competitivos emtermos de custos e porque sua distribuição no campo torna-se bastanteprática e com alto rendimento operacional, fazendo com que seu custoseja viabilizado.

Outros produtos como os termonebulizáveis, são também empregados emlarga escala e com bastante sucesso em algumas regiões, principalmenteonde a infestação com espécies de saúva é muito elevada. Os custos, rendimento e eficiência do controle, são largamente variáveis em funçãodo grau de infestação, sistema operacional e produto utilizado; por isso éfundamental um bom planejamento técnico florestal.

Preparo do Solo

Nesta operação incidem o preparo do solo propriamente dito e asoperações de sua conservação. O preparo tem por objetivo potencializaras condições ambientais para o máximo aproveitamento de todos osrecursos disponíveis ao crescimento das mudas.

O preparo do solo com ênfase à conservação é feito com intuito dapreservação contra erosões, perda de nutrientes e retenção da água ematéria orgânica, fundamentais e indispensáveis para a perpetuação daprodutividade florestal. Nesse caso, tanto o preparo quanto o plantiodeverão ser efetuados preferencialmente em curvas de nível.

Uma ampla variedade de máquinas e equipamentos é utilizada naefetivação desta operação, normalmente máquinas mais pesadas são aspreferidas em solos mais argilosos e agregados, e máquinas mais levesou de menor potência para solos arenosos e com baixa estruturação.

Os custos desta operação são dependentes diretos do tipo de máquina aser usada e do grau de preparo necessário. Preparos manuais tambémpodem ser executados em situações nas quais a viabilização de máquinasfica comprometida.

Adubação

A primeira adubação, também chamada de adubação de plantio,normalmente é realizada concomitantemente ao preparo do solo ousulcamento. No passado, as adubações em eucalipto com os elementos N, P e K e formulações próximas de 10:20:10 eram quase queunanimidades nas empresas florestais, mesmo sabendo que muitas delaseram localizadas em condições completamente distintas. Contudo, com opassar dos anos e a introdução de materiais clonais com comportamentoe necessidades nutriciais diferenciados, mais ou menos responsivos àsadubações, houve a necessidade de definição de novas formulações,combinações e dosagens, considerando as inter-relações entre ambiente ematerial genético.

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Para a contemplação destas inter-relações, tem-se utilizado um conceitobastante moderno, denominado de unidades de manejo químico(U.M.Q.).

Atualmente, na maioria das empresas florestais, as unidades de U.M.Q.contemplam não somente as adubações à base dos nutrientes N, P, K, Cae Mg, como também leva em consideração as necessidades de diferentesmicronutrientes, como B, Zn, Cu e Mn, principalmente.

Outras adubações também empregadas são as denominadas deadubações orgânicas, através do uso de resíduos industriais, como cinzade caldeiras de biomassa , resíduos de clarificadores, e, em casospeculiares, resíduos do tratamento de lixo urbano.

Tratos Culturais

São todas as operações florestais com ação de eliminação daconcorrência da cultura em questão com outras plantas, classificadascomo ervas daninhas. O período de maior atenção com tratos culturais éaquele que corresponde à fase de estabelecimento e adaptação dasmudas às novas condições do campo.

Tipos de Tratos Culturais:

• Coroamento: deve-se fazer logo após ao plantio: ao redor da muda,faz-se a limpeza.

• Capina: raspa-se a parte superficial do solo (plantas rasteiras sãoeliminadas).

• Roçadas: corta-se a vegetação mais alta.

• Gradeação: faz-se entre as linhas de plantio; é uma limpeza superficial.

•Herbicidas: o controle das ervas daninhas é normalmente executadocom utilização de herbicidas, podendo ser de pré ou pós emergência. Osde pós emergência mais usados são à base de gliphosate e os de pré sãoos conhecidos como oxifluorfen. Também outros meios são amplamenteadotados nesta operação, como as roçadas, gradagens e limpezasmanuais.

Conservação do Solo

Tratos Silvicuturais

Visam uma melhoria das condições de crescimento de indivíduos isoladosou alterações das condições ambientais em povoamentos para melhorar aestabilidade biológica.

São funções dos Tratos Silviculturais:

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•Proteção: evitar o ataque de insetos e danos físicos e proteção atemperaturas extremas.

•Seleção: eliminar fenótipos desfavoráveis; selecionam-se as melhoresárvores em crescimento e desenvolvimento.

•Educação:controla o ambiente com intervenções rigorosas e criteriosas:retirada de galhos, controle de densidade.

•Acessórias: melhoria visual do povoamento, melhoria do sítio.

Tipos de Tratos Silviculturais:

•Poda (desrama): é a retirada de galhos de uma árvore item porobjetivo a produção da madeira de melhor qualidade, a melhoria noacesso à floresta e a redução de risco de incêndios.

• Desbaste: são cortes parciais feitos em povoamentos imaturos, comobjetivo de estimular o crescimento das árvores remanescentes eaumentar a produção de madeira utilizável.

a) Proteção FlorestalDois aspectos na proteção são vitais no desenvolvimento de um projetoflorestal:

• o controle de pragas

• o controle de incêndios florestais

Recuperação de Matas Ciliares

O processo de ocupação do Brasil caracterizou-se pela falta deplanejamento e conseqüente destruição dos recursos naturais,particularmente das florestas. Ao longo da história do País, a coberturaflorestal nativa, representada pelos diferentes biomas, foi sendofragmentada, cedendo espaço para as culturas agrícolas, as pastagens eas cidades.

A noção de recursos naturais inesgotáveis, dadas as dimensõescontinentais do País, estimulou e ainda estimula a expansão da fronteiraagrícola sem a preocupação com o aumento ou, pelo menos, com umamanutenção da produtividade das áreas já cultivadas. Assim, o processode fragmentação florestal é intenso nas regiões economicamente maisdesenvolvidas, ou seja, o Sudeste e o Sul, e avança rapidamente para oCentro-Oeste e Norte, ficando a vegetação arbórea nativa representada,principalmente, por florestas secundárias, em variado estado dedegradação, salvo algumas reservas de florestas bem conservadas. Esteprocesso de eliminação das florestas resultou num conjunto de problemasambientais, como a extinção de várias espécies da fauna e da flora, asmudanças climáticas locais, a erosão dos solos e o assoreamento doscursos d'água.

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Neste panorama, as matas ciliares não escaparam da destruição; pelocontrário, foram alvo de todo o tipo de degradação. Basta considerar quemuitas cidades foram formadas às margens de rios, eliminando-se todotipo de vegetação ciliar; e muitas acabam pagando um preço alto por isto,através de inundações constantes.

Além do processo de urbanização, as matas ciliares sofrem pressãoantrópica por uma série de fatores: são as áreas diretamente maisafetadas na construção de hidrelétricas; nas regiões com topografiaacidentada, são as áreas preferenciais para a abertura de estradas, para aimplantação de culturas agrícolas e de pastagens; para os pecuaristas,representam obstáculos de acesso do gado ao curso d'água etc.

Este processo de degradação das formações ciliares, além dedesrespeitar a legislação, que torna obrigatória a preservação dasmesmas, resulta em vários problemas ambientais. As matas ciliaresfuncionam como filtros, retendo defensivos agrícolas, poluentes esedimentos que seriam transportados para os cursos d'água, afetandodiretamente a quantidade e a qualidade da água e conseqüentemente afauna aquática e a população humana. São importantes também comocorredores ecológicos, ligando fragmentos florestais e, portanto,facilitando o deslocamento da fauna e o fluxo gênico entre as populaçõesde espécies animais e vegetais. Em regiões com topografia acidentada,exercem a proteção do solo contra os processos erosivos.

Apesar da reconhecida importância ecológica, ainda mais evidente nestavirada de século e de milênio, em que a água vem sendo considerada orecurso natural mais importante para a humanidade, as florestas ciliarescontinuam sendo eliminadas cedendo lugar para a especulação imobiliária,para a agricultura e a pecuária e, na maioria dos casos, sendotransformadas apenas em áreas degradadas, sem qualquer tipo deprodução.

É necessário que as autoridades responsáveis pela conservação ambientaladotem uma postura rígida no sentido de preservarem as florestas ciliaresque ainda restam, e que os produtores rurais e a população em geral sejaconscientizada sobre a importância da conservação desta vegetação. Alémdas técnicas de recuperação propostas neste trabalho, é fundamental aintensificação de ações na área da educação ambiental, visandoconscientizar tanto as crianças quanto os adultos sobre os benefícios daconservação das áreas ciliares.

A definição de modelos de recuperação de matas ciliares, cada vez maisaprimorados, e de outras áreas degradadas que possibilitam, em muitoscasos, a restauração realativamente rápida da cobertura florestal e aproteção dos recursos edáficos e hídricos, não implica que novas áreaspossam ser degradadas, já que poderiam ser recuperadas. Pelo contrário,o ideal é que todo tipo de atividade antrópica seja bem planejada, e queprincipalmente a vegetação ciliar seja poupada de qualquer forma dedegradação.

As matas ciliares exercem importante papel na proteção dos cursos

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d'água contra o assoreamento e a contaminação com defensivosagrícolas, além de, em muitos casos, se constituírem nos únicosremanescentes florestais das propriedades rurais sendo, portanto,essenciais para a conservação da fauna. Estas peculiaridades conferem àsmatas ciliares um grande aparato de leis, decretos e resoluções visandosua preservação.

O novo Código Florestal (Lei n.° 4.777/65) desde 1965 inclui as matasciliares na categoria de áreas de preservação permanente. Assim toda avegetação natural (arbórea ou não) presente ao longo das margens dosrios e ao redor de nascentes e de resevatórios deve ser preservada.

De acordo com o artigo 2° desta lei, a largura da faixa de mata ciliar a serpreservada está relacionada com a largura do curso d'água. A tabelaapresenta as dimensões das faixas de mata ciliar em relação à largura dosrios, lagos, etc.

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Largura Mínima da FaixaSituação

30 m em cada margem Rios com menos de 10 m de largura

50 m em cada margemRios com 10 a 50 m de largura

100 m em cada margemRios com 50 a 200 m de largura

200 m em cada margemRios com 200 a 600 m de largura

500 m em cada margemRios com largura superior a 600 m

Raio de 50 mNascentes

30 m ao redor do espelho d'água Lagos ou resevatórios em áreas urbanas

50 m ao redor do espelho d'água Lagos ou reservatórios em zona rural, com área menorque 20 ha

100 m ao redor do espelho d'águaLagos ou reservatórios em zona rural, com área igualou superior a 20 ha

100 m ao redor do espelho d'águaRepresas de hidrelétricas

Um ecossistema torna-se degradado quando perde sua capacidade derecuperação natural após distúrbios, ou seja, perde sua resiliência.Dependendo da intensidade do distúrbio, fatores essenciais para amanutenção da resiliência como, banco de plântulas e de sementes nosolo, capacidade de rebrota das espécies, chuva de sementes, dentreoutros, podem ser perdidos, dificultando o processo de regeneraçãonatural ou tornando-o extremamente lento.

Uma floresta ciliar está sujeita a distúrbios naturais como queda deárvores, deslizamentos de terra, raios etc., que resultam em clareiras, ouseja, aberturas no dossel, que são cicatrizadas através da colonização porespécies pioneiras seguidas de espécies secundárias.

Distúrbios provocados por atividades humanas têm, na maioria das vezes,

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maior intensidade do que os naturais, comprometendo a sucessãosecundária na área afetada. As principais causas de degradação dasmatas ciliares são o desmatamento para extensão da área cultivada naspropriedades rurais, para expansão de áreas urbanas e para obtenção demadeira, os incêndios, a extração de areia nos rios, os empreendimentosturísticos mal planejados etc.

Em muitas áreas ciliares, o processo de degradação é antigo, tendoiniciado com o desmatamento para transformação da área em campo decultivo ou em pastagem. Com o passar do tempo e, dependendo daintensidade de uso, a degradação pode ser agravada através da reduçãoda fertilidade do solo pela exportação de nutrientes pelas culturas e, ou,pela prática da queima de restos vegetais e de pastagens, dacompactação e da erosão do solo pelo pisoteio do gado e pelo trânsito demáquinas agrícolas.

O conhecimento dos aspectos hidrológicos da área é de suma importânciana elaboração de um projeto de recuperação de mata ciliar. A menorunidade de estudo a ser adotada é a microbacia hidrográfica, definidacomo aquela cuja área é tão pequena que a sensibilidade a chuvas de altaintensidade e às diferenças de uso do solo não seja suprimida pelascaracterísticas da rede de drenagem. Em nível de microbacia hidrográficaé possível identificar a extensão das áreas que são inundadasperiodicamente pelo regime de cheias dos rios e a duração do período deinundação.

Estas informações são extremamente importantes na seleção das espéciesa serem plantadas, já que muitas espécies não se adaptam a condições desolo encharcado, ao passo que outras só sobrevivem nestas condições.

Técnicas de Recuperação de Matas Ciliares

1. Regeneração Natural:

Através da regeneração natural, as florestas apresentam capacidade de serecuperarem de distúrbios naturais ou antrópicos. Quando umadeterminada área de floresta sofre um distúrbio como a abertura naturalde uma clareira, um desmatamento ou um incêndio, a sucessãosecundária se encarrega de promover a colonização da área aberta econduzir a vegetação através de uma série de estádios sucessionais,caracterizados por grupos de plantas quer vão se substituindo ao longo dotempo, modificando as condições ecológicas locais até chegar a umacomunidade bem estruturada e mais estável.

A sucessão secundária depende de uma série de fatores como a presençade vegetação remanescente, o banco de sementes no solo, a rebrota deespécies arbustivo-arbóreas, a proximidade de fontes de sementes e aintensidade e a duração do distúrbio. Assim, cada área degradadaapresentará uma dinâmica sucessional específica. Em áreas onde adegradação não foi intensa, e o banco de sementes próximas, aregeneração natural pode ser suficiente para a restauração florestal.

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Nestes casos, torna-se imprescindível eliminar o fator de degradação, ouseja, isolar a área e não praticar qualquer atividade de cultivo.

Em alguns casos, a ocorrência de espécies invasoras, principalmentegramíneas exóticas como o capim-gordura (Melinis minutiflora) etrepadeiras, pode inibir a regeneração natural das espécies arbóreas,mesmo que estejam presentes no banco de sementes ou que cheguem naárea, via dispersão. Nestas situações, é recomendado uma intervenção nosentido de controlar as populações de invasoras agressivas e estimular aregeneração natural.

A regeneração natural tende a ser a forma de restauração de mata ciliarde mais baixo custo, entretanto, é normalmente um processo lento. Se oobjetivo é formar uma floresta em área ciliar, num tempo relativamentecurto, visando a proteção do solo e do curso d'água, determina astécnicas que acelerem a sucessão devem ser adotadas.

2. Seleção de Espécies:

As matas ciliares apresentam uma heterogeneidade florística elevada porocuparem diferentes ambientes ao longo das margens dos rios. A grandevariação de fatores ecológicos nas margens dos cursos d'água resultamem uma vegetação arbustivo-arbórea adaptada a tais variações. Via deregra, recomenda-se adotar os seguintes critérios básicos na seleção deespécies para recuperação de matas ciliares:

• plantar espécies nativas com ocorrência em matas ciliares da região;

• plantar o maior número possível de espécies para gerar alta diversidade;

• utilizar combinações de espécies pioneiras de rápido crescimento juntocom espécies não pioneiras (secundárias tardias e climáticas);

• plantar espécies atrativas à fauna;

• respeitar a tolerância das espécies à umidade do solo, isto é, plantarespécies adaptadas a cada condição de umidade do solo.

Na escolha de espécies a serem plantadas em áreas ciliares éimprescindível levar em consideração a variação de umidade do solo nasmargens dos cursos d'água. Para as áreas permanentementeencharcadas, recomenda-se espécies adaptadas a estes ambientes, comoaquelas típicas de florestas de brejo. Para os diques, são indicadasespécies com capacidade de sobrevivência em condições de inundaçõestemporárias. Já para as áreas livres de inundação, como as mais altas doterreno e as marginais ao curso d'água, porém compondo barrancoselevados, recomenda-se espécies adaptadas a solos bem drenados.

A escolha de espécies nativas regionais é importante porque tais espéciesjá estão adaptadas às condições ecológicas locais. Por exemplo, o plantiode uma espécie típica de matas ciliares do norte do País em uma áreaciliar do sul, pode ser um fracasso por causa de problemas de adaptaçãoclimática. Além disso, no planejamento da recuperação deve-seconsiderar também a relação da vegetação com a fauna, que atuará comodispersora de sementes, contribuindo com a própria regeneração natural.

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Espécies regionais, com frutos comestíveis pela fauna, ajudarão arecuperar as funções ecológicas da floresta, inclusive na alimentação depeixes.

Recomenda-se utilizar um grande número de espécies para gerardiversidade florística, imitando, assim, uma floresta ciliar nativa. Florestascom maior diversidade apresentam maior capacidade de recuperação depossíveis distúrbios, melhor ciclagem de nutrientes, maior atratividade àfauna, maior proteção ao solo de processos erosivos e maior resistência àpragas e doenças.

Em áreas ciliares proximas a outras florestas nativas, e quando não setem disponibilidade de mudas de muitas espécies, plantios maishomogêneos podem ser realizados. Nestas situações, deve ocorrer umenriquecimento natural da área recuperada, pela entrada de sementesvindas das florestas próximas. Entretanto, salienta-se que o aumento dadiversidade nestes plantios homogêneos tende a ser muito lento, podendoser necessários posteriores plantios de enriquecimento ou até aintrodução de sementes.

A combinação de espécies de diferentes grupos ecológicos ou categoriassucessionais é extremamente importante nos projetos de recuperação. Asflorestas são formadas através do processo denominado de sucessãosecundária, onde grupos de espécies adaptadas a condições de maiorluminosidade colonizam as áreas abertas, e crescem rapidamente,fornecendo o sombreamento necessário para o estabelecimento deespécies mais tardias na sucessão. Várias classificações das espécies emgrupos ecológicos têm sido propostas na literatura especializada, sendomais empregada a classificação em quatro grupos distintos: pioneiras,secundárias iniciais, secundárias tardias e climáticas. A tolerância dasespécies ao sobreamento aumenta das pioneiras e climáticas. Parafacilitar o entendimento das exigências das espécies quanto aos níveis deluz, adotou-se apenas dois grupos: pioneiras e não-pioneiras. O grupo daspioneiras é representado por espécies pioneiras e secundárias iniciais, quedevem ser plantadas de maneira a fornecer sombra para as espécies nãopioneiras, ou seja, as secundárias tardias e as climáticas.

Tabela I - Características de espécies arbóreas nativas do Brasil, que compõem os diferentes grupos ecológicos.

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Grupo Ecológico

CaracterísticasPioneirasSecundárias IniciaisSecundárias TardiasClimáticas

Crescimentomuito rápidorápidomédiolento ou muito lento

Madeiramuito levelevemediamente duradura e pesada

Tolerância à sombramuito intoleranteintolerantetolerante no estágio juveniltolerante

Altura das árvores (m)4 a 102020 a 30 (alguns até 50)30 a 45 (alguns até 60)

Regeneraçãobanco de sementesbanco de plântulasbanco de plântulasbanco de plântulas

Dispersão de sementesampla (zoocoria: alta diversidade de animais); pelovento, a grande distânciarestrita (gravidade); ampla (zoocoria: poucas espéciesde animais); pelo vento, a grande distânciaprincipalmente pelo ventoampla (zoocoria: grandes animais); restrita(gravidade)

Tamanhos de frutos e sementespequenomédiopequeno à médio mas sempre leve

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Na tabela II são apresentadas as espécies nativas indicadas para arecuperação de matas ciliares, com os respectivos nomes vulgares, ogrupo ecológico a que pertencem e a tolerância à umidade do solo. Foramincluídas na lista aquelas espécies que aparecem em destaque na maioriados estudos fitossociológicos em matas ciliares, e as que aexperimentação científica tem comprovado sua capacidade para recuperarestas áreas. Espécies arbustivo-arbóreas, recomendadas pararecuperação de matas ciliares G.E. = grupo ecológico: P = pioneira; NP =não pioneira; Si = secundária inicial. Quanto a indicação: A = áreasencharcadas permanentemente; B = áreas com inundação temporária; C= áreas bem drenadas, não alagáveis.

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Nome CientíficoNome VulgarG.E.Indicação

Acacia polyphylla DC.angico-brancoPB, C

Acrocomia aculeata Lodd. ex Martmacaúba, macaúvaPB, C

Aegiplila sellowiana Cham.tamanqueira, papagaioPC

Albizzia hassleri (Chod.) Burkartfarinha secaP (Si)C

Albizzia glandulosa Poepp & Endl.tapiáPB, C

Alchornea triplinervia (Spr.) Muell. Arg.tapiá mirimPA, B

Allophylus edulis (A. ST. HIL.) JusslixeiraPC

Amaioua guianensis Aubletcafé do mato, marmeladaNPC

Anadenanthera macrocarpa (Benth.) Brenanangico vermelhoP (Si)C

Aniba fimula Mez

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Indicadores de Recuperação

O sucesso de um projeto de recuperação de mata ciliar deve ser avaliadopor meio de indicadores de recuperação. Através destes indicadores, épossível definir se o projeto necessita sofrer novas interferências ou atémesmo ser redirecionado, visando acelerar o processo de sucessão e derestauração das funções da mata ciliar, bem como determinar o momentoem que a floresta plantada passa a ser auto-sustentável, dispensandointervenções antrópicas.

A avaliação da recuperação, através de indicadores, é função das metas edos objetivos pretendidos com ela. Não se pode cobrar uma elevadadiversidade biológica em um projeto cujo objetivo tenha sido o deproteger o solo e o curso d'água dos efeitos negativos da erosão do solode uma área extremamente degradada. Neste aspecto, modelos derecuperação mais complexos, envolvendo uma diversidade inicial maior deespécies, tendem a promover uma recuperação mais rápida dabiodiversidade e da funcionalidade do ecossistema. Vários estudos têmproposto um conjunto de indicadores de avaliação da recuperação e dasustentabilidade dos projetos de restauração e, ou, manejo das florestas.

Os insetos têm sido considerados bons indicadores ecológicos darecuperação, principalmente as formigas, os cupins, as vespas, as abelhase os besouros. Em nível de solo nas áreas em processos de recuperação,há uma sucessão de organismos da meso e macrofauna que estãopresentes em cada etapa da recuperação destas áreas, sugerindo quepossam ser encontrados bioindicadores de cada uma destas etapas.Outros indicadores vegetativos podem ser medidos como: chuva desementes, banco de sementes, a produção de serapilheira e silvigênese.Estes indicadores apresentam a vantagem de serem de quantificaçãorelativamente fácil, quando comparados com outros indicadoresbiológicos.

1 - Regeneração Natural:

O monitoramento da comunidade jovem, do ponto de vista estruturalestático e dinâmico, possibilita a identificação do estágio seral e aevolução da mesma. Assim, as análises da regeneração natural sãoessenciais para se avaliar o sucesso da recuperação. A regeneraçãonatural é analisada através de medições de diâmetro, no nível do solo, eda altura das plântulas e plantas jovens, presentes em pequenas parcelasamostrais, lançadas na floresta. Uma estratificação vertical auxilia oentendimento da dinâmica da regeneração natural. Estudos maisdetalhados determinam categorias de tamanho para a análise daregeneração. A quantificação da regeneração, quando associada com aclassificação sucessional das espécies (pioneiras, secundárias iniciais,secundárias tardias e climáticas), compõe um indicador extremamenteútil das condições de recuperação e de sustentabilidade da floresta ciliar.Quando, na regeneração natural, espécies típicas dos estágios iniciais da

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sucessão (pioneiras e secundárias iniciais) predominam em número deespécie e, ou, de indivíduos, percebe-se indicativo de que a sucessão estámuito lenta na área e que as espécies tardias não estão conseguindochegar até o local ou, embora estejam chegando, por algum motivo nãoestão conseguindo se estabelecer. Neste caso é necessário algum tipo deintervenção. É claro que a análise deve levar em consideração o tempoem que a floresta foi implantada.

2 - Banco de Sementes:

O banco de sementes compreende as semenetes viáveis presentes nacamada superficial do solo. Através de uma moldura de 05 X 0,5 cm,lançada na superfície do solo, coleta-se toda a serapilheira e o solo, numaprofundidade de 0-5 cm, que retém a maior parte das sementes.Transferindo para a casa de vegetação e livre de contaminações externas,são forcecidas condições de luz e de umidade necessárias para agerminação das sementes. Após um determinado tempo, as sementesgerminadas são contadas e as plântulas identificadas. É importantedestacar que o banco de sementes é formado, principalmente, porespécies pioneiras que, normalmente, apresentam dispersão a longadistância e, portanto, não estão, necessariamente, presentes navegetação arbórea local. Em condições de boa cobertura vegetal e combom sombreamento do solo, espera-se que estas espécies pioneiraspresentes no banco não encontrem condições favoráveis à germinação eao estabelecimento, a menos que ocorra um distúrbio. Contudo, esteaspecto não diminui a importância do banco de sementes como indicadorde recuperação e de sustentabilidade, uma vez que são as espéciespioneiras que irão desencadear o processo de colonização de uma área,após um distúrbio. O importante é determinar a riqueza de espécies dobanco de sementes e a proporção entre espécies nativas e invasoras. Umbanco rico em sementes de espécies invasoras ou ruderais sugere que,frente a um distúrbio natural, como a abertura de clareiras, estas espéciespoderão vir a colonizar a área, podendo competir com as espécies nativas,afetando a sustentabilidade da floresta ciliar.

3 - Produção de Serapilheira e Chuva de Sementes:

A serapilheira compreende, principalmente, o material de origem vegetal(folhas, flores, rasos, casas, frutos e sementes) e, em menor proporção, ode origem animal (restos animais e material fecal) depositado nasuperfície do solo de uma floresta. Atua como um sistema de entrada esaída, recebendo entradas via vegetação e, por sua vez, decompondo-see suprindo o solo e as raízes com nutrientes e com matéria orgânica. Esteprocesso é particularmente importante na restauração da fertilidade dosolo nas áreas em início de sucessão ecológica.

Em comunidades sucessionais, o acúmulo de serapilheira e o tempo desua remoção podem produzir mudança radical na estrutura, afetando asubstituição de espécies dominantes, bem como a riqueza e a diversidade.A quantificação da serapilheira, ao longo do ano, permite estimar aprodução anual por hectare. Em uma área ciliar em recuperação, estainformação é muito importante, pois possibilita a comparação com outros

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estudos realizados em áreas ciliares. Se a produção de serapilheira daárea em avaliação está muito baixa em comparação com outrascomunidades ciliares pode estar ocorrendo problemas, em nível deciclagem de nutrientes.

A ausência ou a baixa densidade de sementes de espécies não pioneirasna chuva de sementes significa que estas espécies terão dificuldades deregeneração na área em recuperação. Como as espécies pioneiras sãomais importantes na definição da estrutura da floresta, devem sertomadas medidas visando estimular sua chegada na área.

4 - Abertura do Dossel:

O dossel da floresta, ou seja a cobertura superior da floresta formadapelas copas das árvores, em termos ecológicos apresenta uma grandeinfluência na regeneração das espécies arbustivo-arbóreas, além de atuarcomo barreira física às gotas de chuva, protegendo o solo da erosão. Emflorestas secundárias jovens, o dossel normalmente encontra-se maisaberto, com grandes espaços entre as copas das árvores, permitindomaior passagem de luz e, assim, inibindo a regeneração de espécies nãopioneiras, especialmente as climácicas. Nas florestas maduras, o dossel émais fechado, causando maior sombreamento no sub-bosque efavorecendo a regeneração das espécies tardias, formadoras de bancos deplântulas.

Numa área ciliar em processo de restauração, espera-se que o dosseltone-se cada vez mais fechado, à medida em que as árvores cresçam eque suas copas se encontrem. Contudo, em áreas em que ocorreumortalidade elevada de mudas, sem posterior replantio, o dosselapresentará muitas falhas, e a regeneração natural de espécies nãopioneiras poderá ser prejudicada. Desta maneira, o nível de abertura dodossel pode ser um bom indicador da recuperação de uma mata ciliar.Porém, cabe ressaltar que este indicador deve ser combinado com outrosprincipalmente com a regeneração natural, pois é posível se obter umdossel muito fechado, com bom sombreamenteo e boa cobertura do soloem reflorestamentos homogêneos, e que, apesar da proteção ao solo, nãosão considerados auto-sustentáveis e são pouco eficientes na recuperaçãoda biodiversidade.

Existem vários métodos para se estimar a abertura do dossel, sendo autilização de fotografias hemisféricas o método mais prático e preciso. Aabertura do dossel também pode ser estimada através da projeção dascopas das árvores, determinando-se a proporção entre as áreas cobertase as abertas. É um método subjetivo, mas que possibilita uma visão geraldo estado de recuperação de uma floresta, em nível de cobertura do solo.

Fonte resumida: Recuperação de matas ciliares. SebastiãoVenâncio Martins. Editora Aprenda Fácil. Viçosa - MG, 2001.

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