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HISTÓRIA AMBIENTAL E PATRIMÔNIO NATURAL: MATA DOS GODOY MARIA ELENA DA SILVA [email protected] Professora PDE - Área de História Resumo: Este artigo tem por objetivo discutir o projeto História Ambiental e Patrimônio Natural: Mata dos Godoy, sob o formato de Folhas, que é uma metodologia específica de produção de material didático. Foi desenvolvido como parte de um programa de Capacitação de professores aplicado em uma escola de EJA, com alunos de Ensino Médio e a concepção teórica de construção do saber histórico em sala de aula. Pretende-se refletir os resultados das atividades que foram desenvolvidas, priorizando a produção da narrativa histórica a partir de pesquisas realizadas utilizando como fontes documentais os recortes de jornais e a prática interdisciplinar, através de aula-oficina. Pretende-se apresentar também algumas considerações sobre propostas metodológicas de ensino da História. Palavras Chaves: ensino da História, narrativa histórica, fonte documentais, saber histórico escolar; Patrimônio Natural. “Aprendi a gostar de ler, coisa que antes para mim isso era impossível”. Nilcéia dos Santos (aluna EJA) 1 INTRODUÇÃO Os debates acadêmicos, nas universidades e nos cursos de capacitação docente sobre os programas curriculares, metodologias e práticas em sala de aula, giram, na sua grande maioria, em torno de objetivos e metas bem definidos: como por exemplo, tornar os educandos sujeitos históricos atuantes e participativos, produtores de seus conhecimentos com autonomia intelectual e pensamento crítico. Essas reflexões, no Brasil, desenvolveram-se a partir do processo de abertura política, na década de 1980, e das revisões curriculares, quando os historiadores passaram, a partir daí, a discutir o ensino da disciplina de História no Fundamental e Médio. Conforme afirma Schmidt e Cainelli (2004),

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HISTÓRIA AMBIENTAL E PATRIMÔNIO NATURAL : MATA DOS GODOY

MARIA ELENA DA SILVA [email protected]

Professora PDE - Área de História

Resumo : Este artigo tem por objetivo discutir o projeto História Ambiental e Patrimônio Natural: Mata dos Godoy, sob o formato de Folhas, que é uma metodologia específica de produção de material didático. Foi desenvolvido como parte de um programa de Capacitação de professores aplicado em uma escola de EJA, com alunos de Ensino Médio e a concepção teórica de construção do saber histórico em sala de aula. Pretende-se refletir os resultados das atividades que foram desenvolvidas, priorizando a produção da narrativa histórica a partir de pesquisas realizadas utilizando como fontes documentais os recortes de jornais e a prática interdisciplinar, através de aula-oficina. Pretende-se apresentar também algumas considerações sobre propostas metodológicas de ensino da História.

Palavras Chaves : ensino da História, narrativa histórica, fonte documentais, saber histórico escolar; Patrimônio Natural.

“Aprendi a gostar de ler, coisa que antes para mim isso era impossível”. Nilcéia dos Santos (aluna EJA)

1 INTRODUÇÃO

Os debates acadêmicos, nas universidades e nos cursos de

capacitação docente sobre os programas curriculares, metodologias e

práticas em sala de aula, giram, na sua grande maioria, em torno de

objetivos e metas bem definidos: como por exemplo, tornar os educandos

sujeitos históricos atuantes e participativos, produtores de seus

conhecimentos com autonomia intelectual e pensamento crítico. Essas

reflexões, no Brasil, desenvolveram-se a partir do processo de abertura

política, na década de 1980, e das revisões curriculares, quando os

historiadores passaram, a partir daí, a discutir o ensino da disciplina de

História no Fundamental e Médio. Conforme afirma Schmidt e Cainelli

(2004),

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Assim a década de 80 foi marcada pelos debates acerca de questões sobre a retomada da disciplina da história como espaço para um ensino crítico, centrado em discussões temáticas relacionadas com o cotidiano do aluno, seu trabalho e sua historicidade. O objetivo era recuperar o aluno como sujeito produtor da História, e não como mero espectador de uma história já determinada, produzida pelos heróicos personagens dos livros didáticos. (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.12)

Posteriormente, na segunda metade da década de 1980 e início de

1990, no Paraná, o currículo básico, tanto para o Fundamental como Médio,

passou a ser fundamentado na pedagogia histórico - crítica dos conteúdos.

Apresentava ainda a linearidade dos modos de produção, capacidade

revolucionária das classes trabalhadoras e as lutas de classes na linha

marxista.

Com essas reformulações, pretendia-se que tanto os alunos como

os professores fossem sujeitos da História ensinada.

Apesar do significativo avanço, os documentos curriculares não

superaram a linearidade e a cronologia, o que dificultava uma abordagem

mais cultural no tratamento dos conteúdos.

A partir de 1997, ocorreu uma renovação na busca de novas

temáticas, mais cultural, mais social, voltada para as camadas mais

populares, excluídas até então do ensino da disciplina. A principal

justificativa para a mudança, através dos PCNs (Parâmetros Curriculares

Nacionais) era de superar a cronologia e a linearidade do ensino da História,

presente nos documentos curriculares. Buscou-se também, novas

metodologias de ensino, conforme afirmam Schmidt e Cainelli,

Propunha-se também a incorporação de novas perspectivas historiográficas como metodologia de ensino (por exemplo, o trabalho com linguagens culturais – cinema, música e fotografia, entre outras; além do trabalho com documentos escritos). As mudanças propostas pelos PCNs, passaram a exigir especialmente do ensino de História uma formação para cidadania com vistas à formação de sujeitos críticos e conscientes, capazes de interpretar e transformar a realidade em que vivem, de valorizar o patrimônio sócio - cultural,

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respeitando as diversidades culturais. (SCHMIDT E CAINELLI, 2004, p.14.)

Esse momento exigiu mudanças e transformações de mentalidades

e das convicções tradicionais, por parte dos docentes que atuavam tanto nas

academias como nos ensinos Médio e Fundamental. Foi um momento de

muitos debates e muitas críticas por parte de representantes das Instituições

de Ensino Superior, principalmente pela Associação Nacional de História

(ANPUH), pois a proposta com base nos conteúdos conceituais, atitudinais e

procedimentais distanciou a disciplina da História do seu objeto de estudo e

da abordagem crítica dos conteúdos historiográficos.

A falta de um maior aprofundamento no estudo da proposta

provocou um esvaziamento dos conteúdos. Essa realidade começou a ser

modificada, no Paraná, em 2003, com a elaboração das Diretrizes

Curriculares para o Ensino de História, a qual privilegiou os conteúdos

estruturantes, como saberes que aproximam e organizam os campos da

História e seus objetos à luz da Nova Esquerda Inglesa e da Nova História

Cultural. (DCE, 2006, p.21).

Mesmo com todas essas mudanças, muitos professores continuam

alicerçados no ensino tradicional, seja ele positivista ou marxista, contudo,

lembramos que em determinados momentos faz-se necessário buscar apoio

em outras correntes teóricas, seja ela a Nova Esquerda Inglesa ou na Nova

História Cultural. Por exemplo, quando abordamos a história local lançamos

mão da Nova História Cultural, pois esta valoriza a diversificação de

documentos na construção do conhecimento histórico e nas relações

interdisciplinares com outras áreas do conhecimento.

Nós, professores da Rede Pública de Ensino do Paraná com o

Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que vem a ser um

programa de Formação Continuada para os professores da rede pública

deste Estado, contamos com participação acadêmica e comprometida das

Instituições de Ensino Superior. Fomos estimulados e preparados para

desenvolvermos projetos voltados para o trabalho com o ensino da História

utilizando diferentes documentos históricos e diferentes metodologias

enriquecendo assim nossas práticas em sala de aula. O ensino da História

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foi discutido exaustivamente durante o desenvolvimento do PDE e nos

apontou possibilidades de superação sobre as nossas práticas e uso de

novas metodologias de ensino da História, que permitissem uma relação de

ensino-aprendizagem mais significativa tanto para nós, docente da área de

História, como para os nossos alunos.

As Diretrizes Curriculares do Paraná de 2006, para a disciplina de

História, no ensino Médio, nos dão a possibilidade de elegermos recortes

temáticos e selecionarmos os objetos históricos a serem trabalhados. A

partir daí, desenvolvemos o projeto que privilegiou a história local e a

constituição de seu Patrimônio Natural, como tema gerador para o

reconhecimento de diversas relações e identidades, especialmente as

relações dos seres humanos com o meio ambiente.

Para Schmidt e Cainelli, um dos objetivos do ensino de História

seria,

[...] contribuir para que o aluno conheça e aprenda a valorizar o patrimônio histórico de sua localidade, de seu país e do mundo [...]. Em 1972, a Unesco consolidou a existência da designação Patrimônio Mundial, Cultural e Natural para se referir ao conjunto de monumentos, agrupamentos arquitetônicos, sítios naturais e bens culturais móveis que possuíssem valor local, nacional e universal. (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.114)

O conceito de Patrimônio vem se expandindo e ao mesmo tempo

tornando-se objeto de estudo de pesquisadores das IES, o qual tem

possibilitado um aprofundamento teórico sobre essa temática.

Os estudos e pesquisas sobre Patrimônio Natural e Educação

Ambiental deixaram de ser exclusividade das áreas das ciências naturais e

geográfica. Problemáticas e temas relativos ao meio ambiente são familiares

às ciências humanas, quando relacionam sociedade e meio natural.

Muitos autores vêm desenvolvendo pesquisas relativas ao meio

ambiente e ao Patrimônio Natural em uma perspectiva histórica. Entre eles

podemos apontar Donald Worster, que segundo Circe Bittencourt (2003), foi

o primeiro historiador a utilizar o termo História Ambiental. A referida autora

afirma que

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A denominação História Ambiental, ou do meio ambiente, passou a ser utilizada por alguns historiadores engajados nos movimentos ambientalistas de seus países, notadamente os norte-americanos. Um nome de destaque desse grupo de historiadores, Donald Worster, informa que a partir dos anos 70, o tom político característico dos primeiros escritos de história e meio ambiente se associou a investigações mais rigorosas no ponto de vista teórico-metodológico, levando tais pesquisadores a se aproximarem de biólogos, botânicos, geógrafos e demais cientistas com maior tradição na área. E, inversamente, ocorreu o mesmo movimento. Cientistas de formações diversas passaram a se dedicar a estudos das relações entre o homem e a natureza em uma perspectiva histórica ampliando a pesquisa. (BITTENCOURT, 2003, p.46).

Essa abordagem sobre Patrimônio Natural é uma tendência cada

vez mais forte entre os historiadores. Podemos citar ainda como exemplo, na

Universidade Estadual de Londrina, autores como Dr. Gilmar Arruda que

estuda a questão da natureza enquanto patrimônio histórico, e o Dr. Jozimar

Paes de Almeida que trabalhou com as questões ambientais nos livros

didáticos de história em seu pós-doutorado. Ambos possuem inúmeras

publicações relacionando natureza e História.

Esses autores muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso

projeto.O recorte temático trabalhado permitiu aplicação de metodologias,

de análises documentais e produção de narrativas históricas em sala de

aula, e também a aplicação de aula-oficina (BARCA, 2004), com a inclusão

de outras disciplinas, através da interdisciplinaridade.

Como ponto de partida para a implementação do projeto, foi

organizado um curso coletivo de História de 129 horas-aula para alunos do

ensino Médio e elaborado um cronograma para o curso, inserindo o referido

projeto aos conteúdos a serem trabalhados de acordo com o material

fornecido pela SEED (Secretaria de Estado da Educação) aos educandos do

CEEBJA - Londrina.

Os professores das disciplinas de relação interdisciplinar das áreas

de Língua Portuguesa e de Geografia receberam antecipadamente uma

cópia do referido cronograma, bem como a Direção e a Equipe de Ensino,

além dos educandos matriculados no curso.

Para que o projeto pudesse ser aplicado contamos com apoio

irrestrito da direção, da supervisão de ensino e do corpo docente da escola.

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Demos início ao curso no dia 1º de abril de 2008, com aulas de 4 horas

ministradas nas terças e quintas-feiras, e o mesmo foi concluído em 14 de

agosto de 2008.

Neste texto serão apresentados as atividades aplicadas e seus

respectivos resultados, bem como os elementos teórico–metodológicos que

fundamentaram esse trabalho, o qual culminou com a investigação em

fontes jornalísticas para a produção da narrativa histórica sobre a história da

Reserva Estadual Mata dos Godoy antes e depois de se tornar área de

proteção ambiental.

2 IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO

Ao iniciarmos a aplicação do projeto, levantamos os conhecimentos

prévios dos alunos sobre os conceitos de Patrimônio Histórico e Cultural,

tombamento, Patrimônio material, imaterial e suas abrangências, enfocando

principalmente o conceito de Patrimônio Natural.

Para tanto, seguimos as teorias de Peter Lee (2001), sobre os

conceitos de segunda ordem, que para o referido autor são de natureza da

história, explicação, (narrativa e relato) e que podem ser modificados, caso

estejam errados ou ampliá-los no processo do ensino de história.

Esses conceitos foram colocados em discussão constituindo o ponto

de partida para implementação do projeto.

Para analisarmos as atividades desenvolvidas e seus respectivos

resultados fez-se necessário reportarmo-nos às dificuldades inerentes à

própria sistemática de uma escola de EJA. Nossa clientela é constituída de

alunos trabalhadores e com pouco tempo disponível para levantamento das

fontes documentais e visitas,assim todas as atividades extraclasse foram

realizadas em horários que todos os alunos pudessem participar, geralmente

aos sábados à tarde.

Como a Secretaria de Cultura, funciona em horário comercial,

obtivemos junto a essa Secretaria uma quantidade de material razoável para

que pesquisas fossem realizadas em sala de aula. Também contamos com o

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acervo da Biblioteca Pública de Londrina na montagem do arquivo

jornalístico e do Jornal Folha de Londrina bem como da direção do CEEBJA

- Londrina que disponibilizou-nos a sala de informática destinada aos

professores, para que os alunos realizassem as atividades previstas pelo

cronograma de implementação do projeto, descritas nas seguintes ações:

1. Avaliação do conhecimento prévio;

2. Introdução do projeto com os alunos do curso;

3. Elaboração de trabalho sobre o IPHAN;

4. Relação interdisciplinar com a área de Língua Portuguesa – aula-

oficina: Mario de Andrade e o Antropofagismo de 1922. Pesquisa: Semana

da Arte Moderna;

5. Relação interdisciplinar com a área de Geografia – aula oficina:

Comparação dos mapas de vegetação paranaense original e atual (site do

Ipardes); exibição do Filme:‘Exuberância da vegetação Paranaense”(criado

por Claudia Ponciano de Paula;

6. Resolução de atividades de Pesquisa nos documentos fornecidos

pela Secretaria de Cultura: Patrimônios artísticos, arquitetônicos,

urbanísticos, naturais e paisagísticos do Município de Londrina;

7. Montagem de painel com os trabalhos realizados pelos

educandos;

8. Aula-oficina: Música Canção da Terra trabalhada com Língua

Portuguesa;

9. Produção de textos: a) História de Londrina; b) Cidadania e

preservação do meio ambiente;

10. Produção e construção de narrativa histórica sobre a Mata dos

Godoy, utilizando recortes de jornais e outras fontes documentais;

11. Visita ao Parque Estadual Mata dos Godoy;

12. Exposição de fotos e dos textos produzidos pelos alunos.

A História se apresenta como uma ferramenta poderosa que propõe

atividades de desafio cognitivo, ou seja, ensinar o aluno a pensar, a

trabalhar com as informações que já possui e a enriquecê-las através de

novas pesquisas e novas abordagens sobre um mesmo tema.

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Partimos dessa idéia buscando em Peter Lee, a fundamentação

teórica para o desenvolvimento dessa primeira atividade que foi

desenvolvida durante todo o mês de abril/2008. Questões foram lançadas

sobre a noção do conceito de Patrimônio Histórico e Cultural. Os educandos

escreveram livremente sobre o tema: o que você sabe sobre Patrimônio

Histórico e Cultural? O que você entende por Patrimônio? Tombamento?

Qual a relação entre esses termos?

Escreva sobre patrimônio material e imaterial, dê exemplos. Você

conhece os bens tombados de Londrina? É capaz de enumerá-los? Os

alunos puderam trocar idéias, informações e posteriormente produziram

textos pequenos a respeito dos questionamentos relacionados, os quais

foram cruzados e discutidos em sala de aula. As análises e discussões dos

resultados desta primeira atividade foram realizadas a partir da organização

das respostas dos alunos em categorias ou níveis de idéias. Nesse

momento, os alunos puderam observar as diferentes maneiras de expressar

idéias sobre o mesmo conteúdo e identificar-se nas respostas apresentadas.

Percebemos que para a maioria dos alunos, o conceito de

patrimônio restringia-se ao aspecto jurídico, aos bens materiais de um grupo

ou de uma família e que tombamento é sinônimo de caído, derrubado; que a

noção de Patrimônio Cultural está relacionada às cantigas de roda e festas

populares. Alguns alunos fizeram referência ao Marco Zero como

monumento, o Museu Histórico e a antiga rodoviária como Patrimônio do

nosso município.

É preciso salientar que esses alunos do ensino Médio não tiveram

aulas sobre história patrimonial e tampouco história local.

Durante todo mês de abril, foi trabalhado esses conceitos utilizando

o livro doado ao projeto pela Secretaria de Cultura, ”Reconhecendo o

Patrimônio Cultural em Londrina”. Recebemos seis exemplares, o que

possibilitou um livro para cada três alunos trabalharem. Utilizamos também

documentos fotográficos e jornalísticos trazidos pelos educandos e foram

realizadas consultas, nos sites da Prefeitura, do Estado e do IPHAN. Essa

atividade 1 foi agrupada a 3, 6 e a 7 também relacionadas aos conceitos

estudados.

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As produções de textos e a confecção de um Painel deram a

culminância a esse grupo de atividades.

Percebemos o interesse dos alunos pelo trabalho no depoimento

das alunas, A.S.P., que afirmou: “[...] eu que tinha muita dificuldade de

interpretar textos, e com o decorrer do curso eu passei a entender e

escrever e aprendi os conceitos sobre patrimônio público, natural e

preservação ambiental […]”, e também a aluna L.S.M., observou que, “[…]

hoje tenho uma outra visão sobre a disciplina de história, aprendi a dar mais

valor aos patrimônios históricos [...]”.

Nesta etapa do trabalho, voltamos para a análise do material

elaborado sob o formato Folhas, e para a compreensão da origem da

legislação de proteção ao Patrimônio Cultural. Partimos do período pós -

revolucionário francês, segunda metade do século XVIII, quando foram

inventariados e nacionalizados os bens da Coroa, dos nobres da Igreja e dos

monumentos nacionais, na França. Surgiu a partir daí, a necessidade de

criação de um Patrimônio coletivo, interesse e identidade de uma história

coletiva.

No final do século XIX, surgiu uma nova adjetivação atribuída ao

monumento histórico, o de Patrimônio Natural. Nesse período, aparecem as

primeiras legislações federais de proteção à natureza, na França, Suíça,

Japão e no Brasil.

No Brasil, foi no século XX, pela Constituição de 1934, que a

proteção dos bens culturais, naturais foram garantidos. O anteprojeto dessa

lei de proteção foi elaborado por Mario de Andrade. Ainda por esforço desse

modernista foi criado o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico

Nacional, hoje IPHAN).

Trabalhamos o texto Folhas, durante o mês de maio, priorizando os

conteúdos referentes às transformações e modernizações da década de

1920. Demos um enfoque maior à Semana de Arte Moderna, à obra de

Mário de Andrade e ao Antropofagismo. Quem foi Mario de Andrade e qual a

sua relação com o IPHAN? Quais os objetivos e atribuições desse órgão? O

que havia de novo na arte modernista brasileira? Por que o ano de 1922 foi

um ano de ruptura nas artes e na política brasileira? Que significou o

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antropofagismo? Mário de Andrade subverteu a ordem pensando na

grandeza do povo brasileiro ou não?

Seguindo os questionamentos foram realizadas consultas, pela

Internet, em sites previamente indicados, e análise de documentos

propostos no livro História em Documento–Imagem e Texto, Joelza Ester

Rodrigues (2002).

É necessário afirmarmos que foi possível trabalhar os conteúdos em

História, a partir do tema inicial de nosso projeto. Os alunos foram motivados

e não houve rupturas, nem fragmentação dos conteúdos historiográficos de

ensino Médio. Foi perfeitamente possível a inserção do projeto aos

conteúdos propostos pelas Diretrizes Curriculares do Paraná.

Nesse momento realizamos um trabalho interdisciplinar com a área

de Língua Portuguesa. Por interdisciplinaridade entende-se ir além da

disciplina para manter a unidade do conhecimento, além do conteúdo, para

desenvolver a sensibilidade e aproximação através da atividade lúdica como

a utilizada nesta aula-oficina com a produção do banner.

Durante a execução dessa atividade, os educandos puderam falar

livremente e ficarem mais próximos de uma maneira bem informal.

Segundo Tavares (1993), o caminho interdisciplinar é amplo no seu

contexto e nos revela um quadro que precisa ser redefinido e ampliado. Tal

constatação induz-nos a refletir sobre a necessidade de professores e

alunos trabalharem unidos, se conhecerem e se entrosarem para, juntos,

vivenciarem uma ação educativa mais produtiva.

Foi a Semana de Arte Moderna, conteúdo base que casou

perfeitamente o conhecimento histórico com a Literatura, na prática

interdisciplinar.

Para a disciplina de História e de Língua Portuguesa foi o caminho

para aproximar os professores das duas áreas de conhecimento desde o

planejamento da aula-oficina de Literatura preparada e aplicada pela

professora” Maria Aparecida Batista Ferreira”.

A professora seguiu o cronograma do curso, aplicando a oficina de

Literatura no dia previsto. Tudo foi preparado com antecedência: textos,

imagens, músicas, atividades, revistas para recortes, tesouras e colas.

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Foram disponibilizadas quatro aulas para a professora trabalhar com

o tema.

Foi proposto que os alunos pensassem sobre o que foi significativo

nesta apresentação e escolhessem imagens e palavras nas revistas que

tivessem relação com os conteúdos desenvolvidos para a montagem de um

banner. Durante o desenvolvimento dessa atividade foram realizadas

observações, e anotações sobre as colocações dos alunos. Percebemos

que eles conseguiram captar a valorização da diversidade étnica na

formação do povo brasileiro e na obra de Mário de Andrade, da natureza e

do ufanismo presente no idealismo romântico, que antecedeu o modernismo.

Eles identificaram as continuidades e as rupturas entre o idealismo

romântico e o modernismo.

Na aula seguinte os alunos produziram um texto “A Semana de Arte

Moderna e a valorização do povo brasileiro”.

A professora encerrou realizando uma confraternização com

docinhos e músicas tipicamente brasileiras. Na simplicidade das atividades

propostas e aplicadas pela professora de Literatura, no entrosamento das

áreas de conhecimento e dos professores com os alunos, descobrimos

como podemos despertar em nossos alunos o desejo de buscar novas

leituras e novo olhar sobre os conhecimentos que traziam consigo e

modificá-los, quando necessário e isso ficou muito claro na afirmação da

aluna C.O.,“[...] quando assisti o filme Macunaíma, achei muito feio porque

não entendi, agora vou ler o livro e assistir o filme de novo. Quero conhecer

melhor as coisas do Brasil e esse herói que tem as qualidades e os defeitos

de um brasileiro comum”.

Constatamos que através de atividades conjuntas com outras

disciplinas é possível criar novos interesses e novas experiências tanto para

os alunos como nós, professores. De acordo com Bittencourt,

Trata-se de oportunidade especial de construção de relações diferenciadas entre todos os participantes. É preciso estar sempre atento ao trabalho integrador inerente ao estudo, o qual ocorre em vários níveis: professor-professor, professor-aluno, aluno-aluno. BITTENCOURT, 2004.

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Nessa perspectiva demos continuidade às atividades 2 (a) e (b)

propostas no projeto utilizando ainda as práticas interdisciplinares com a

professora Claudia Ponciano de Paula, da área de Geografia.

Planejamos juntas pensando nas problemáticas comuns propostas

no Folhas, e trabalhamos a história local, o processo de ocupação de nossa

cidade e o desmatamento da região de Londrina e do Paraná.

Aqui é importante abrir um parêntese, pois nos fundamentamos

tomando como referência a colocação de, Schmidt e Cainelli,

Como elemento constitutivo de transposição didática do saber histórico para o saber escolar, a história local pode ser vista como estratégia pedagógica. Trata-se de uma forma de abordar a aprendizagem, a construção e a compreensão do conhecimento histórico com proposições que podem ser articuladas com os interesses dos alunos, suas aproximações cognitivas, suas experiências culturais e com a possibilidade de desenvolver atividades diretamente vinculadas a vida cotidiana. (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.113)

Acreditamos que a estratégia pedagógica através do estudo da

história local, em documentos, constitui-se numa das melhores formas de

desenvolver em nossos alunos a capacidade de ler, classificar e produzir

conhecimento.

Eles puderam relacionar o desmatamento durante o processo de

ocupação do território paranaense com os interesses econômicos e com a

visão de progresso e de modernidade na concepção capitalista e ainda

estabelecer conexões com questões atuais, tais como destruição da

Camada de Ozônio, desmatamento da Amazônia, biodiesel e outros tantos

problemas pertinentes ao tema.

A disciplina de Geografia teve uma contribuição específica e

importante quando trabalhamos conteúdos relativos à categorização das

florestas e dos ecossistemas de nosso estado,com interpretação de imagens

comparando mapas de vegetação paranaense original e atual. Essas

análises foram realizadas através do site do IPARDES e para tanto

utilizamos a sala de informática da escola destinada aos professores e

novamente contamos com a colaboração da direção e da equipe de ensino.

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A professora de Geografia preparou, no pen drive, um documentário sobre o

patrimônio natural de Londrina: Parque Estadual Mata dos Godoy, Daisaku

Ikeda, Parque Arthur Thomas e Salto Apucaraninha. Os alunos produziram

um pequeno texto baseado nas análises feitas com os mapas e com os

documentários.

Fomos os precursores na utilização da TV pen drive em nossa

escola e isto provocou interesse de professores de outras áreas em

acompanhar o nosso trabalho.

A tecnologia a serviço da educação foi muito importante, pois

despertou nos educandos o interesse pelo computador. As inovações

tecnológicas, que foram empregadas para tornar as práticas

interdisciplinares mais interessantes, mostraram que a tecnologia pode ser

mais do que um simples recurso, mais que um processo, é uma maneira de

estar na educação e isso é irreversível.

Observando os educandos frente aos computadores foi possível

captar a satisfação da experiência em cada fala, cada comentário, em cada

questionamento.

O aluno J A T nunca havia estado à frente de um computador. A

vice-diretora, Marlene, nos ajudou sendo preciso colocar a sua mão sobre a

mão desse senhor para ensiná-lo a mover o mouse. No dia seguinte, ele nos

contou que havia comprado um computador, pois com ele poderia conhecer

melhor, buscando mais informações, sobre os assuntos abordados pelo

projeto. Segundo esse aluno, ”Aqui eu nasci de novo, já tinha perdido a

esperança, mais aqui encontrei a verdadeira felicidade, era um homem sem

conhecimento. Hoje eu sei o que é vida”.

Continuamos utilizando a prática interdisciplinar, na execução da

atividade 3 do projeto que contou com a professora Maria Aparecida, de

Língua Portuguesa, novamente.

Nessa atividade trabalhamos os conceitos de meio ambiente ou

Patrimônio Natural e cidadania e partimos da composição musical de

Sebastião Dias e Fagner: ”Canção da Floresta” utilizando o site Som Brasil,

ouvimos a música, junto com os educandos e copiamos a letra, que foi

explorada como documento histórico com seus significados e testemunhos.

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O que fizemos foi explorar a música em suas possibilidades. Que

leitura fazer dessa música em que o compositor dá voz à floresta, que chora

a cada árvore que tomba? Como podemos utilizá-la no processo de

conscientização e de protesto contra a degradação ambiental?

Esse trecho selecionado, reflete a consciência ambiental dos autores

e propõe a todos irem à luta, usar as mãos, exercerem a cidadania na

defesa do meio ambiente.

“Use as mãos, mude uma planta

Regue o chão, faça um pomar

Ouça a voz do passarinho

A floresta quer chorar

Quando os cedros vão tombando

Dão até a impressão

Que os estalos são gemidos

Implorando compaixão

As mãos do homem malvado

Desmatou sem precisão.“

Os alunos receberam recortes de revistas e passaram a relacioná-lo

aos versos da música, em seguida montaram um painel com os trabalhos

realizados. Assim como o compositor deu voz à floresta, os alunos deram

voz aos recortes de revistas.

Através dessas atividades puderam expressar suas próprias

opiniões, dialogar consigo mesmo e com os outros. É preciso lembrar que

toda atividade lúdica, mesmo entre adultos, traz aproximação entre os

participantes e mais interesse pelo conteúdo trabalhado.

A essa atividade, juntamos a atividade 9 (a) e (b) na qual

exploramos a narrativa do senhor Olavo Godoy, ao jornalista Geraldo

Teixeira com o título: “A história de um menino com uma floresta no bolso”.

Esse texto serviu de inspiração para a questão inicial do projeto:Como

alguém pode carregar uma floresta no bolso?

Esse texto foi extraído do jornal Folha de Londrina, 1983 e nos

revela o amor do pioneiro Olavo Godoy pela natureza.

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A História do menino com uma floresta nos bolsos,

É contagiante o entusiasmo que o fazendeiro Olavo Godoy manifesta quando fala sobre a natureza e, especialmente, quando se refere à mata virgem que ajudou a preservar [...] - De onde vem este amor à sua mata, “seo” Olavo? [...] - Quando eu estudava, a professora muitas vezes implicava comigo porque eu vivia com os bolsos cheios de sementes. Onde eu encontrava uma semente de qualquer planta que fosse, guardava. E, chegando em casa, manifestava à minha mãe, o desejo de plantar. Aí, eu arranjava problemas para mim e para minha mãe. O único lugar disponível para plantar minhas sementes era o jardim da casa que era pequeno e minha mãe queria ver ocupado por roseiras e não por mangueiras, como era o meu desejo. Eu brigava com ela. E às vezes acabávamos os dois chorando. [...] Entre as pessoas que freqüentavam nossa casa, nesta época, tinha uma mulher chamada Sebastiana, proprietária de uma pequena fazenda. Esta senhora sabia ler a mão das pessoas e um dia minha mãe me chamou e pediu que dona Sebastiana lesse a minha. Ela pegou minha mão e disse a minha mãe que eu não gostava de estudar e que um dia seria um grande fazendeiro [...]. (FOLHA DE LONDRINA, 1983, p. 5)

Questões sobre o texto foram levantadas e discutidas: Você

carregaria uma floresta no bolso? Como será o nosso planeta em 2030 se

não cuidarmos das nossas riquezas naturais? Comente o texto com seus

colegas e depois escreva um texto relacionando cidadania e preservação do

meio ambiente. Os alunos discutiram sobre o que é ser cidadão. Qual a

diferença entre cidadão e citadino? Qual é a importância do nosso papel na

sociedade em que vivemos?

Um dos alunos, L.G.N. comentou que para preservar é preciso

exercer a cidadania, conhecer seus direitos e deveres em relação ao meio

ambiente, segundo o aluno, “[...] isso depende de todo um conjunto de

fatores que vai desde o empenho governamental até a mudança dos hábitos

das pessoas [...]. Para poder preservar o meio ambiente é preciso exercer a

cidadania, saber seus direitos e deveres, saber que a natureza precisa ser

protegida”.

Desta forma, observamos que os alunos já conseguiam se soltar

mais e escrever sem problemas. Aquela insegurança natural, pedindo o

nosso parecer a todo instante foi aos poucos ficando cada vez mais raro.

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Entendemos, nesse momento que os alunos estavam mais seguros, que

poderíamos iniciar a atividade 10, para nós a mais importante do projeto.

Como podemos constatar na afirmação do aluno P.C.P., “estudar história me

trouxe muitos benefícios, um deles é o que estou executando, escrever.”

Pensamos que, ao se sentirem mais seguros para se expressar

através da escrita, nossos alunos já poderiam selecionar e organizar os

documentos jornalísticos para realizarem a atividade de produção da

narrativa sobre a Mata dos Godoy, antes e depois do tombamento, como

parque estadual. Tema este que foi muito discutido entre os anos de 1982 a

1995, pela comunidade londrinense através da imprensa local, estadual e

até pela mídia com dois documentários realizados pela TV. Sobre a questão

da Mata, constatamos que não havia nada escrito, além dos documentos

jornalísticos, para conhecermos como se deu o processo de tombamento, ou

da sensibilização do governo paranaense da época para que a área se

tornasse patrimônio público. Optamos por utilizar apenas os recortes da

Folha de Londrina, que foram previamente garimpados na Biblioteca Pública

e no arquivo do referido jornal.

Selecionamos, reproduzimos,esses documentos e montamos várias

pastas, pois o material organizado previamente evitou atrasos e

contratempos na aplicação da atividade 10 proposta no projeto, portanto os

itens 1 e 2 do roteiro de trabalho foram realizados antes da implementação

do projeto.

Optamos pelo trabalho em equipe composta de três alunos para

cada grupo, para que assim trocassem idéias entre si e todos pudessem

contribuir com o trabalho.

Elaboramos um roteiro adaptado de Schmidt e Cainelli (p.108), para

os alunos desenvolverem a produção da narrativa histórica:

1. Levantamentos das fontes documentais recortes de jornais sobre

o fato a ser estudado;

2. Formação de uma hemeroteca, para estudo da temática

escolhida;

3. Ler os recortes de jornais e classificar o tipo de fonte que eles

representam;

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4. Decompor os elementos dos recortes de jornais:

a) Identificar as palavras cujo significado pareça difícil, pesquisar o

significado no dicionário;

b) Identificar os nomes próprios e as alusões feitas a eles e aos

acontecimentos;

c) Resumir as idéias essenciais de cada frase ou parágrafo;

d) Analisar o documento: quando, onde, quem fala e de quem;

e) Relacionar o conteúdo do texto com os conhecimentos adquiridos;

f) Fichar os pontos essenciais: idéias principais e as secundárias do

texto;

5. Debater as idéias selecionadas e fichadas com os colegas do

grupo;

6. Produzir uma narrativa histórica sobre a criação do Parque

Estadual Mata dos Godoy;

7. Organizar um Mural com os textos finais;

Todo novo conhecimento se origina a partir de conhecimentos

anteriores. Os conhecimentos que os alunos já traziam de suas experiências

anteriores, na produção de texto, na capacidade de debater e tirar

conclusões foram se ampliando e enriquecendo na produção da narrativa

histórica, atividade final desse projeto.

Quando iniciamos esta atividade levantamos os conhecimentos

prévios dos alunos sobre as fontes históricas. O que são? Tipos de fontes

que vocês conhecem? Dê exemplos de fontes primárias e secundárias.

Constatamos que o conhecimento sobre o assunto se restringia a

documentos escritos, cartas, livros, constituição e os não escritos se

limitavam aos vestígios e pinturas.

Trabalhamos na identificação das fontes primárias e secundárias,

pois sobre essa classificação os educandos não souberam exemplificar.

Procuramos esclarecer as dúvidas a respeito dos tipos de fontes,

principalmente as primárias e secundárias.

As fontes primárias são aquelas temporalmente ligadas ao assunto a

ser estudado, dão testemunho do passado e podem ser de vários tipos:

materiais, escritas, orais e visuais. Para Schmidt e Cainelli,

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As fontes primárias são testemunhas do passado que se caracterizam por serem de primeira mão ou contemporâneas dos fatos históricos a que se referem. Podem ser de vários tipos: Fontes materiais: utensílios, mobiliários, roupas, ornamentos (pessoais coletivos, armas, símbolos, instrumentos de trabalho, construções (templos, casas, sepulturas, esculturas, moedas, restos de pessoas ou animais mortos) toponímia, entre outros. Fontes escritas: documentos jurídicos (constituições, códigos, leis, decretos) sentenças, testamentos, inventários, discursos escritos, cartas, livros de contabilidade livros de história, autobiografias, diários, biografias, crônicas, poemas, novelas, romances, lendas, mitos, textos de imprensa, censos, estatísticas, mapas gráficos e registros paroquiais, por exemplo. Fontes visuais: pinturas, caricaturas, fotografias, gravuras, filmes, vídeos e programas de televisão entre outros. Fontes orais: entrevistas, gravações (de entrevistas, por exemplo), lendas contadas ou registradas de relato de viva-voz, programa de rádio e fitas cassete, por exemplo. As fontes secundárias são as fontes produzidas por diferentes pessoas para a reconstrução do passado, e que não são contemporâneas dos fatos históricos ocorridos. Exemplo, os livros de história utilizados em sala de aula. (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.96)

Dentro deste contexto os alunos puderam realizar o 3º item do

roteiro descrito, registraram no caderno o tipo de fonte histórica que iriam

utilizar em seus trabalhos, ou seja, que os textos jornalísticos se constituem

em importante fonte documental primária. A partir daí, seguimos o roteiro

elaborado previamente para determinar a origem do documento, o qual foi

feita uma reprodução dos arquivos da Biblioteca Pública e do Jornal a Folha

de Londrina,e que tais documentos caracterizam-se por serem de natureza

que exprimem opiniões mas também fatos realmente acontecidos e

documentados.

Durante a realização desse trabalho os alunos foram percebendo

que as datas, por exemplo, da promulgação do decreto de criação do parque

eram iguais em todos os recortes que noticiaram o fato. Mesmo aqueles que

mencionaram o ocorrido, tempos depois, ainda que em diferentes

momentos, contudo, quando se tratava de opiniões de membros da

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sociedade londrinense, que se pronunciaram a respeito do processo, essas

sim, tinham argumentações variadas, diferentes.

Essa etapa do trabalho foi muito complicada e gerou muitas

discussões, sobre a veracidade das datas a respeito da vinda dos irmãos

Godoy para nossa região, na fala de diferentes pioneiros como os Godoy e o

Senhor Clemente Soares, responsável pela viagem dos referidos pioneiros

de Campinas até aqui. Nesse momento foi preciso abrir um parênteses, para

consultarmos outras fontes a respeito da história da ocupação de Londrina.

A busca de respostas para as dúvidas foi motivando e prolongando essa

etapa do nosso trabalho. Aos poucos eles foram encontrando as respostas

para as dúvidas inicias. Com quais objetivos foi produzido esse documento?

Quais as intenções que ele revela? Que palavras explicam melhor e levam a

compreensão do documento? A estratégia que utilizamos para a explicação

do documento foi dirigida por nós determinando como esses documentos

seriam explorados para confirmar ou abrir novos caminhos para a

exploração dos documentos e do texto Folhas, que apresentamos e

trabalhamos durante todo o processo de implementação.

Uma de nossas alunas, C. O., ao comentar em casa a respeito

desse trabalho sobre a Mata dos Godoy e como os irmãos Álvaro e Olavo

lutaram pela preservação dos 675 hectares de mata nativa, área essa que

hoje corresponde ao Parque Estadual Mata dos Godoy. A referida aluna

ficou sabendo que sua mãe, uma senhora de quase cem anos, havia

trabalhado na Fazenda Santa Helena de propriedade dos irmãos Godoy e

contou à filha muitas histórias sobre a vida dela na fazenda ,trabalhando nos

cafezais, e também fez comentários de como o Sr. Olavo se relacionava

com os empregados e com a mata e que essas relações eram bem

diferentes.

Como a aluna não registrou por escrito o relato oral de sua mãe,

optamos por não fazer referências ao que ouvimos em sala. Contudo, foi

importante para que eles percebessem que a história de um pioneiro tem

diversas versões dependendo do olhar e do ângulo de quem conta e que

cada um tem uma experiência de vida que pode ser relatado oralmente,

enriquecendo com dados importantes a história local.

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A cada etapa desenvolvida sentíamos os alunos motivados à novas

leituras e debates sobre as informações obtidas através desses documentos.

Atesta isso a afirmação do aluno L.G.N., ”para mim, estudar história foi um

aprendizado muito bom, e que me mostrou como pesquisar e me motivou a

querer sempre mais a estudar e ler mais”.

Uma das alunas V. A. O., comentou que a partir da sua participação

nesse projeto ela começou a olhar Londrina como coisa sua, até o painel

Café e Etnia, da Caixa Econômica Federal, banco 104, agência, 0394, ela

passou a olhar com outros olhos, pois antes era apenas uma decoração na

parede, bem na entrada desse banco.

O ensino da história local a partir de seu Patrimônio Histórico e

Cultural despertou nos alunos a consciência de pertencimento, de identidade

e de participação política como podemos constatar pela conclusão do texto

produzido pela aluna A. S. P.,: ”Eu achei muito bonito a atitude dos irmãos

Godoy em lutarem por um patrimônio histórico e natural em benefício da

população londrinense e foi importante também a mobilização da

comunidade, pois sem ela os poderes constituídos não teriam se

preocupado coma compra dessa área de floresta nativa, patrimônio de todos

nós”.

Outro aluno, R. A. S., estabeleceu as continuidades e diferenças,

conflitos e permanências através desse projeto. Segundo o aluno, “Assim

como na época que toda a comunidade londrinense discutia a importância

da Mata se tornar um patrimônio público, pessoas afirmavam que Londrina

não cuidava de seus monumentos, hoje também não cuida, só ver o jornal

que denunciou a derrubada da casa dos anões”.

A história local produziu a inserção dos alunos na comunidade da

qual fazem parte, bem como ajudou-os a perceberem que alguns problemas

debatidos na época, como a dificuldade em preservar os nossos Patrimônios

Históricos e Culturais, ainda persistem até hoje. São as continuidades. O

aluno A.F.S., detectou quando viu no jornal a derrubada da casa dos anões

da Avenida Higienópolis e relacionou-a com a fala de Antonio Fernandes

Sobrinho, numa reportagem da Folha de Londrina de 23/07/1982, quando o

ex-prefeito afirmou que ”Londrina não cultua muito seus monumentos, tanto

que demoliu obras como a antiga prefeitura, o Instituto Filadélfia, o Hotel

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Luxemburgo, a casa que pertenceu a Arthur Thomas, agora tem chance de

preservar um monumento vivo”.

Os alunos se apropriaram das ferramentas que foram

disponibilizadas e com as quais puderam criar e se perceberem capazes de

construir seus próprios conhecimentos. Confrontando os conteúdos

encontrados no texto do projeto, com os outros conhecimentos adquiridos

através das fontes documentais e com os seus conhecimentos prévios eles

desenvolveram a produção dos textos históricos.

Aprendemos muito durante a execução dessa última atividade. Os

alunos puderam organizar suas idéias através do debate e da descoberta de

que podem ser produtores de conhecimento.

Os textos dos alunos foram lidos para que todos conhecessem o que

os colegas produziram. Foram interessantes as colocações feitas por eles,

de que a história pode ser contada de diversas maneiras . O fato histórico

não se modificou, mas o enfoque dado por eles teve influência cultural,

social e política de cada um.

Cada item foi desenvolvido independente das dificuldades e dos

percalços apresentados.

Agendamos para o dia 24 de agosto de 2008, num domingo, a nossa

visita ao Parque Estadual da Mata dos Godoy. Contamos com a colaboração

das professoras Claudia Ponciano de Paula e Rosangela Naldos para nos

ajudar com o transporte dos alunos.

Tudo foi documentado com fotos e posteriormente montamos um

painel na escola com os textos dos alunos e as fotos da visita ao Parque.

Todos os alunos do CEEBJA - Londrina puderam conhecer um

pouco mais sobre a nossa cidade.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos constatar que através da interação entre as diferentes

disciplinas, entre questões da História, da Literatura, de Geografia, da

cidadania e a conscientização da importância de se estudar, figurou como

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‘elo de ligação’ e de crescimento para os nossos educandos. Fomos

contagiadas pelo entusiasmo deles e penso que o nosso entusiasmo com o

projeto também os contagiou. A despeito de todos os tropeços no decorrer

da aplicação desse projeto, houve um movimento de aprendizado recíproco

e de ampliação das experiências individuais tanto dos alunos como dos

professores envolvidos. Esse tipo de trabalho tornou os alunos mais

autônomos. Ainda que as respostas e os textos produzidos, a princípio,

necessitassem de inúmeras correções. Insistimos para que os alunos

procurassem elaborar, refletir e discutir mais consigos mesmo, com os

colegas e com os professores e, que aos poucos iriam perceber as

mudanças acontecendo.

Nos depoimentos finais pudemos constatar que é possível tornar o

espaço da sala de aula num local onde estabelecemos relações e onde a

transposição didática pode se realizar. Nesse sentido aprendemos muito,

pois não foi muito fácil sairmos das nossas práticas tradicionais para nos

tornarmos orientadores dos nossos alunos, ajudando-os a levantarem

problemas e transformar, em cada dia de aplicação desse projeto essas

problemáticas em conhecimento, em narrativas históricas.

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