MARIA ELENA DA SILVA Professora PDE - Área de História · de Língua Portuguesa e de Geografia...
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HISTÓRIA AMBIENTAL E PATRIMÔNIO NATURAL : MATA DOS GODOY
MARIA ELENA DA SILVA [email protected]
Professora PDE - Área de História
Resumo : Este artigo tem por objetivo discutir o projeto História Ambiental e Patrimônio Natural: Mata dos Godoy, sob o formato de Folhas, que é uma metodologia específica de produção de material didático. Foi desenvolvido como parte de um programa de Capacitação de professores aplicado em uma escola de EJA, com alunos de Ensino Médio e a concepção teórica de construção do saber histórico em sala de aula. Pretende-se refletir os resultados das atividades que foram desenvolvidas, priorizando a produção da narrativa histórica a partir de pesquisas realizadas utilizando como fontes documentais os recortes de jornais e a prática interdisciplinar, através de aula-oficina. Pretende-se apresentar também algumas considerações sobre propostas metodológicas de ensino da História.
Palavras Chaves : ensino da História, narrativa histórica, fonte documentais, saber histórico escolar; Patrimônio Natural.
“Aprendi a gostar de ler, coisa que antes para mim isso era impossível”. Nilcéia dos Santos (aluna EJA)
1 INTRODUÇÃO
Os debates acadêmicos, nas universidades e nos cursos de
capacitação docente sobre os programas curriculares, metodologias e
práticas em sala de aula, giram, na sua grande maioria, em torno de
objetivos e metas bem definidos: como por exemplo, tornar os educandos
sujeitos históricos atuantes e participativos, produtores de seus
conhecimentos com autonomia intelectual e pensamento crítico. Essas
reflexões, no Brasil, desenvolveram-se a partir do processo de abertura
política, na década de 1980, e das revisões curriculares, quando os
historiadores passaram, a partir daí, a discutir o ensino da disciplina de
História no Fundamental e Médio. Conforme afirma Schmidt e Cainelli
(2004),
2
Assim a década de 80 foi marcada pelos debates acerca de questões sobre a retomada da disciplina da história como espaço para um ensino crítico, centrado em discussões temáticas relacionadas com o cotidiano do aluno, seu trabalho e sua historicidade. O objetivo era recuperar o aluno como sujeito produtor da História, e não como mero espectador de uma história já determinada, produzida pelos heróicos personagens dos livros didáticos. (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.12)
Posteriormente, na segunda metade da década de 1980 e início de
1990, no Paraná, o currículo básico, tanto para o Fundamental como Médio,
passou a ser fundamentado na pedagogia histórico - crítica dos conteúdos.
Apresentava ainda a linearidade dos modos de produção, capacidade
revolucionária das classes trabalhadoras e as lutas de classes na linha
marxista.
Com essas reformulações, pretendia-se que tanto os alunos como
os professores fossem sujeitos da História ensinada.
Apesar do significativo avanço, os documentos curriculares não
superaram a linearidade e a cronologia, o que dificultava uma abordagem
mais cultural no tratamento dos conteúdos.
A partir de 1997, ocorreu uma renovação na busca de novas
temáticas, mais cultural, mais social, voltada para as camadas mais
populares, excluídas até então do ensino da disciplina. A principal
justificativa para a mudança, através dos PCNs (Parâmetros Curriculares
Nacionais) era de superar a cronologia e a linearidade do ensino da História,
presente nos documentos curriculares. Buscou-se também, novas
metodologias de ensino, conforme afirmam Schmidt e Cainelli,
Propunha-se também a incorporação de novas perspectivas historiográficas como metodologia de ensino (por exemplo, o trabalho com linguagens culturais – cinema, música e fotografia, entre outras; além do trabalho com documentos escritos). As mudanças propostas pelos PCNs, passaram a exigir especialmente do ensino de História uma formação para cidadania com vistas à formação de sujeitos críticos e conscientes, capazes de interpretar e transformar a realidade em que vivem, de valorizar o patrimônio sócio - cultural,
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respeitando as diversidades culturais. (SCHMIDT E CAINELLI, 2004, p.14.)
Esse momento exigiu mudanças e transformações de mentalidades
e das convicções tradicionais, por parte dos docentes que atuavam tanto nas
academias como nos ensinos Médio e Fundamental. Foi um momento de
muitos debates e muitas críticas por parte de representantes das Instituições
de Ensino Superior, principalmente pela Associação Nacional de História
(ANPUH), pois a proposta com base nos conteúdos conceituais, atitudinais e
procedimentais distanciou a disciplina da História do seu objeto de estudo e
da abordagem crítica dos conteúdos historiográficos.
A falta de um maior aprofundamento no estudo da proposta
provocou um esvaziamento dos conteúdos. Essa realidade começou a ser
modificada, no Paraná, em 2003, com a elaboração das Diretrizes
Curriculares para o Ensino de História, a qual privilegiou os conteúdos
estruturantes, como saberes que aproximam e organizam os campos da
História e seus objetos à luz da Nova Esquerda Inglesa e da Nova História
Cultural. (DCE, 2006, p.21).
Mesmo com todas essas mudanças, muitos professores continuam
alicerçados no ensino tradicional, seja ele positivista ou marxista, contudo,
lembramos que em determinados momentos faz-se necessário buscar apoio
em outras correntes teóricas, seja ela a Nova Esquerda Inglesa ou na Nova
História Cultural. Por exemplo, quando abordamos a história local lançamos
mão da Nova História Cultural, pois esta valoriza a diversificação de
documentos na construção do conhecimento histórico e nas relações
interdisciplinares com outras áreas do conhecimento.
Nós, professores da Rede Pública de Ensino do Paraná com o
Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), que vem a ser um
programa de Formação Continuada para os professores da rede pública
deste Estado, contamos com participação acadêmica e comprometida das
Instituições de Ensino Superior. Fomos estimulados e preparados para
desenvolvermos projetos voltados para o trabalho com o ensino da História
utilizando diferentes documentos históricos e diferentes metodologias
enriquecendo assim nossas práticas em sala de aula. O ensino da História
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foi discutido exaustivamente durante o desenvolvimento do PDE e nos
apontou possibilidades de superação sobre as nossas práticas e uso de
novas metodologias de ensino da História, que permitissem uma relação de
ensino-aprendizagem mais significativa tanto para nós, docente da área de
História, como para os nossos alunos.
As Diretrizes Curriculares do Paraná de 2006, para a disciplina de
História, no ensino Médio, nos dão a possibilidade de elegermos recortes
temáticos e selecionarmos os objetos históricos a serem trabalhados. A
partir daí, desenvolvemos o projeto que privilegiou a história local e a
constituição de seu Patrimônio Natural, como tema gerador para o
reconhecimento de diversas relações e identidades, especialmente as
relações dos seres humanos com o meio ambiente.
Para Schmidt e Cainelli, um dos objetivos do ensino de História
seria,
[...] contribuir para que o aluno conheça e aprenda a valorizar o patrimônio histórico de sua localidade, de seu país e do mundo [...]. Em 1972, a Unesco consolidou a existência da designação Patrimônio Mundial, Cultural e Natural para se referir ao conjunto de monumentos, agrupamentos arquitetônicos, sítios naturais e bens culturais móveis que possuíssem valor local, nacional e universal. (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.114)
O conceito de Patrimônio vem se expandindo e ao mesmo tempo
tornando-se objeto de estudo de pesquisadores das IES, o qual tem
possibilitado um aprofundamento teórico sobre essa temática.
Os estudos e pesquisas sobre Patrimônio Natural e Educação
Ambiental deixaram de ser exclusividade das áreas das ciências naturais e
geográfica. Problemáticas e temas relativos ao meio ambiente são familiares
às ciências humanas, quando relacionam sociedade e meio natural.
Muitos autores vêm desenvolvendo pesquisas relativas ao meio
ambiente e ao Patrimônio Natural em uma perspectiva histórica. Entre eles
podemos apontar Donald Worster, que segundo Circe Bittencourt (2003), foi
o primeiro historiador a utilizar o termo História Ambiental. A referida autora
afirma que
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A denominação História Ambiental, ou do meio ambiente, passou a ser utilizada por alguns historiadores engajados nos movimentos ambientalistas de seus países, notadamente os norte-americanos. Um nome de destaque desse grupo de historiadores, Donald Worster, informa que a partir dos anos 70, o tom político característico dos primeiros escritos de história e meio ambiente se associou a investigações mais rigorosas no ponto de vista teórico-metodológico, levando tais pesquisadores a se aproximarem de biólogos, botânicos, geógrafos e demais cientistas com maior tradição na área. E, inversamente, ocorreu o mesmo movimento. Cientistas de formações diversas passaram a se dedicar a estudos das relações entre o homem e a natureza em uma perspectiva histórica ampliando a pesquisa. (BITTENCOURT, 2003, p.46).
Essa abordagem sobre Patrimônio Natural é uma tendência cada
vez mais forte entre os historiadores. Podemos citar ainda como exemplo, na
Universidade Estadual de Londrina, autores como Dr. Gilmar Arruda que
estuda a questão da natureza enquanto patrimônio histórico, e o Dr. Jozimar
Paes de Almeida que trabalhou com as questões ambientais nos livros
didáticos de história em seu pós-doutorado. Ambos possuem inúmeras
publicações relacionando natureza e História.
Esses autores muito contribuíram para o desenvolvimento do nosso
projeto.O recorte temático trabalhado permitiu aplicação de metodologias,
de análises documentais e produção de narrativas históricas em sala de
aula, e também a aplicação de aula-oficina (BARCA, 2004), com a inclusão
de outras disciplinas, através da interdisciplinaridade.
Como ponto de partida para a implementação do projeto, foi
organizado um curso coletivo de História de 129 horas-aula para alunos do
ensino Médio e elaborado um cronograma para o curso, inserindo o referido
projeto aos conteúdos a serem trabalhados de acordo com o material
fornecido pela SEED (Secretaria de Estado da Educação) aos educandos do
CEEBJA - Londrina.
Os professores das disciplinas de relação interdisciplinar das áreas
de Língua Portuguesa e de Geografia receberam antecipadamente uma
cópia do referido cronograma, bem como a Direção e a Equipe de Ensino,
além dos educandos matriculados no curso.
Para que o projeto pudesse ser aplicado contamos com apoio
irrestrito da direção, da supervisão de ensino e do corpo docente da escola.
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Demos início ao curso no dia 1º de abril de 2008, com aulas de 4 horas
ministradas nas terças e quintas-feiras, e o mesmo foi concluído em 14 de
agosto de 2008.
Neste texto serão apresentados as atividades aplicadas e seus
respectivos resultados, bem como os elementos teórico–metodológicos que
fundamentaram esse trabalho, o qual culminou com a investigação em
fontes jornalísticas para a produção da narrativa histórica sobre a história da
Reserva Estadual Mata dos Godoy antes e depois de se tornar área de
proteção ambiental.
2 IMPLEMENTAÇÃO DO PROJETO
Ao iniciarmos a aplicação do projeto, levantamos os conhecimentos
prévios dos alunos sobre os conceitos de Patrimônio Histórico e Cultural,
tombamento, Patrimônio material, imaterial e suas abrangências, enfocando
principalmente o conceito de Patrimônio Natural.
Para tanto, seguimos as teorias de Peter Lee (2001), sobre os
conceitos de segunda ordem, que para o referido autor são de natureza da
história, explicação, (narrativa e relato) e que podem ser modificados, caso
estejam errados ou ampliá-los no processo do ensino de história.
Esses conceitos foram colocados em discussão constituindo o ponto
de partida para implementação do projeto.
Para analisarmos as atividades desenvolvidas e seus respectivos
resultados fez-se necessário reportarmo-nos às dificuldades inerentes à
própria sistemática de uma escola de EJA. Nossa clientela é constituída de
alunos trabalhadores e com pouco tempo disponível para levantamento das
fontes documentais e visitas,assim todas as atividades extraclasse foram
realizadas em horários que todos os alunos pudessem participar, geralmente
aos sábados à tarde.
Como a Secretaria de Cultura, funciona em horário comercial,
obtivemos junto a essa Secretaria uma quantidade de material razoável para
que pesquisas fossem realizadas em sala de aula. Também contamos com o
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acervo da Biblioteca Pública de Londrina na montagem do arquivo
jornalístico e do Jornal Folha de Londrina bem como da direção do CEEBJA
- Londrina que disponibilizou-nos a sala de informática destinada aos
professores, para que os alunos realizassem as atividades previstas pelo
cronograma de implementação do projeto, descritas nas seguintes ações:
1. Avaliação do conhecimento prévio;
2. Introdução do projeto com os alunos do curso;
3. Elaboração de trabalho sobre o IPHAN;
4. Relação interdisciplinar com a área de Língua Portuguesa – aula-
oficina: Mario de Andrade e o Antropofagismo de 1922. Pesquisa: Semana
da Arte Moderna;
5. Relação interdisciplinar com a área de Geografia – aula oficina:
Comparação dos mapas de vegetação paranaense original e atual (site do
Ipardes); exibição do Filme:‘Exuberância da vegetação Paranaense”(criado
por Claudia Ponciano de Paula;
6. Resolução de atividades de Pesquisa nos documentos fornecidos
pela Secretaria de Cultura: Patrimônios artísticos, arquitetônicos,
urbanísticos, naturais e paisagísticos do Município de Londrina;
7. Montagem de painel com os trabalhos realizados pelos
educandos;
8. Aula-oficina: Música Canção da Terra trabalhada com Língua
Portuguesa;
9. Produção de textos: a) História de Londrina; b) Cidadania e
preservação do meio ambiente;
10. Produção e construção de narrativa histórica sobre a Mata dos
Godoy, utilizando recortes de jornais e outras fontes documentais;
11. Visita ao Parque Estadual Mata dos Godoy;
12. Exposição de fotos e dos textos produzidos pelos alunos.
A História se apresenta como uma ferramenta poderosa que propõe
atividades de desafio cognitivo, ou seja, ensinar o aluno a pensar, a
trabalhar com as informações que já possui e a enriquecê-las através de
novas pesquisas e novas abordagens sobre um mesmo tema.
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Partimos dessa idéia buscando em Peter Lee, a fundamentação
teórica para o desenvolvimento dessa primeira atividade que foi
desenvolvida durante todo o mês de abril/2008. Questões foram lançadas
sobre a noção do conceito de Patrimônio Histórico e Cultural. Os educandos
escreveram livremente sobre o tema: o que você sabe sobre Patrimônio
Histórico e Cultural? O que você entende por Patrimônio? Tombamento?
Qual a relação entre esses termos?
Escreva sobre patrimônio material e imaterial, dê exemplos. Você
conhece os bens tombados de Londrina? É capaz de enumerá-los? Os
alunos puderam trocar idéias, informações e posteriormente produziram
textos pequenos a respeito dos questionamentos relacionados, os quais
foram cruzados e discutidos em sala de aula. As análises e discussões dos
resultados desta primeira atividade foram realizadas a partir da organização
das respostas dos alunos em categorias ou níveis de idéias. Nesse
momento, os alunos puderam observar as diferentes maneiras de expressar
idéias sobre o mesmo conteúdo e identificar-se nas respostas apresentadas.
Percebemos que para a maioria dos alunos, o conceito de
patrimônio restringia-se ao aspecto jurídico, aos bens materiais de um grupo
ou de uma família e que tombamento é sinônimo de caído, derrubado; que a
noção de Patrimônio Cultural está relacionada às cantigas de roda e festas
populares. Alguns alunos fizeram referência ao Marco Zero como
monumento, o Museu Histórico e a antiga rodoviária como Patrimônio do
nosso município.
É preciso salientar que esses alunos do ensino Médio não tiveram
aulas sobre história patrimonial e tampouco história local.
Durante todo mês de abril, foi trabalhado esses conceitos utilizando
o livro doado ao projeto pela Secretaria de Cultura, ”Reconhecendo o
Patrimônio Cultural em Londrina”. Recebemos seis exemplares, o que
possibilitou um livro para cada três alunos trabalharem. Utilizamos também
documentos fotográficos e jornalísticos trazidos pelos educandos e foram
realizadas consultas, nos sites da Prefeitura, do Estado e do IPHAN. Essa
atividade 1 foi agrupada a 3, 6 e a 7 também relacionadas aos conceitos
estudados.
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As produções de textos e a confecção de um Painel deram a
culminância a esse grupo de atividades.
Percebemos o interesse dos alunos pelo trabalho no depoimento
das alunas, A.S.P., que afirmou: “[...] eu que tinha muita dificuldade de
interpretar textos, e com o decorrer do curso eu passei a entender e
escrever e aprendi os conceitos sobre patrimônio público, natural e
preservação ambiental […]”, e também a aluna L.S.M., observou que, “[…]
hoje tenho uma outra visão sobre a disciplina de história, aprendi a dar mais
valor aos patrimônios históricos [...]”.
Nesta etapa do trabalho, voltamos para a análise do material
elaborado sob o formato Folhas, e para a compreensão da origem da
legislação de proteção ao Patrimônio Cultural. Partimos do período pós -
revolucionário francês, segunda metade do século XVIII, quando foram
inventariados e nacionalizados os bens da Coroa, dos nobres da Igreja e dos
monumentos nacionais, na França. Surgiu a partir daí, a necessidade de
criação de um Patrimônio coletivo, interesse e identidade de uma história
coletiva.
No final do século XIX, surgiu uma nova adjetivação atribuída ao
monumento histórico, o de Patrimônio Natural. Nesse período, aparecem as
primeiras legislações federais de proteção à natureza, na França, Suíça,
Japão e no Brasil.
No Brasil, foi no século XX, pela Constituição de 1934, que a
proteção dos bens culturais, naturais foram garantidos. O anteprojeto dessa
lei de proteção foi elaborado por Mario de Andrade. Ainda por esforço desse
modernista foi criado o SPHAN (Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, hoje IPHAN).
Trabalhamos o texto Folhas, durante o mês de maio, priorizando os
conteúdos referentes às transformações e modernizações da década de
1920. Demos um enfoque maior à Semana de Arte Moderna, à obra de
Mário de Andrade e ao Antropofagismo. Quem foi Mario de Andrade e qual a
sua relação com o IPHAN? Quais os objetivos e atribuições desse órgão? O
que havia de novo na arte modernista brasileira? Por que o ano de 1922 foi
um ano de ruptura nas artes e na política brasileira? Que significou o
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antropofagismo? Mário de Andrade subverteu a ordem pensando na
grandeza do povo brasileiro ou não?
Seguindo os questionamentos foram realizadas consultas, pela
Internet, em sites previamente indicados, e análise de documentos
propostos no livro História em Documento–Imagem e Texto, Joelza Ester
Rodrigues (2002).
É necessário afirmarmos que foi possível trabalhar os conteúdos em
História, a partir do tema inicial de nosso projeto. Os alunos foram motivados
e não houve rupturas, nem fragmentação dos conteúdos historiográficos de
ensino Médio. Foi perfeitamente possível a inserção do projeto aos
conteúdos propostos pelas Diretrizes Curriculares do Paraná.
Nesse momento realizamos um trabalho interdisciplinar com a área
de Língua Portuguesa. Por interdisciplinaridade entende-se ir além da
disciplina para manter a unidade do conhecimento, além do conteúdo, para
desenvolver a sensibilidade e aproximação através da atividade lúdica como
a utilizada nesta aula-oficina com a produção do banner.
Durante a execução dessa atividade, os educandos puderam falar
livremente e ficarem mais próximos de uma maneira bem informal.
Segundo Tavares (1993), o caminho interdisciplinar é amplo no seu
contexto e nos revela um quadro que precisa ser redefinido e ampliado. Tal
constatação induz-nos a refletir sobre a necessidade de professores e
alunos trabalharem unidos, se conhecerem e se entrosarem para, juntos,
vivenciarem uma ação educativa mais produtiva.
Foi a Semana de Arte Moderna, conteúdo base que casou
perfeitamente o conhecimento histórico com a Literatura, na prática
interdisciplinar.
Para a disciplina de História e de Língua Portuguesa foi o caminho
para aproximar os professores das duas áreas de conhecimento desde o
planejamento da aula-oficina de Literatura preparada e aplicada pela
professora” Maria Aparecida Batista Ferreira”.
A professora seguiu o cronograma do curso, aplicando a oficina de
Literatura no dia previsto. Tudo foi preparado com antecedência: textos,
imagens, músicas, atividades, revistas para recortes, tesouras e colas.
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Foram disponibilizadas quatro aulas para a professora trabalhar com
o tema.
Foi proposto que os alunos pensassem sobre o que foi significativo
nesta apresentação e escolhessem imagens e palavras nas revistas que
tivessem relação com os conteúdos desenvolvidos para a montagem de um
banner. Durante o desenvolvimento dessa atividade foram realizadas
observações, e anotações sobre as colocações dos alunos. Percebemos
que eles conseguiram captar a valorização da diversidade étnica na
formação do povo brasileiro e na obra de Mário de Andrade, da natureza e
do ufanismo presente no idealismo romântico, que antecedeu o modernismo.
Eles identificaram as continuidades e as rupturas entre o idealismo
romântico e o modernismo.
Na aula seguinte os alunos produziram um texto “A Semana de Arte
Moderna e a valorização do povo brasileiro”.
A professora encerrou realizando uma confraternização com
docinhos e músicas tipicamente brasileiras. Na simplicidade das atividades
propostas e aplicadas pela professora de Literatura, no entrosamento das
áreas de conhecimento e dos professores com os alunos, descobrimos
como podemos despertar em nossos alunos o desejo de buscar novas
leituras e novo olhar sobre os conhecimentos que traziam consigo e
modificá-los, quando necessário e isso ficou muito claro na afirmação da
aluna C.O.,“[...] quando assisti o filme Macunaíma, achei muito feio porque
não entendi, agora vou ler o livro e assistir o filme de novo. Quero conhecer
melhor as coisas do Brasil e esse herói que tem as qualidades e os defeitos
de um brasileiro comum”.
Constatamos que através de atividades conjuntas com outras
disciplinas é possível criar novos interesses e novas experiências tanto para
os alunos como nós, professores. De acordo com Bittencourt,
Trata-se de oportunidade especial de construção de relações diferenciadas entre todos os participantes. É preciso estar sempre atento ao trabalho integrador inerente ao estudo, o qual ocorre em vários níveis: professor-professor, professor-aluno, aluno-aluno. BITTENCOURT, 2004.
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Nessa perspectiva demos continuidade às atividades 2 (a) e (b)
propostas no projeto utilizando ainda as práticas interdisciplinares com a
professora Claudia Ponciano de Paula, da área de Geografia.
Planejamos juntas pensando nas problemáticas comuns propostas
no Folhas, e trabalhamos a história local, o processo de ocupação de nossa
cidade e o desmatamento da região de Londrina e do Paraná.
Aqui é importante abrir um parêntese, pois nos fundamentamos
tomando como referência a colocação de, Schmidt e Cainelli,
Como elemento constitutivo de transposição didática do saber histórico para o saber escolar, a história local pode ser vista como estratégia pedagógica. Trata-se de uma forma de abordar a aprendizagem, a construção e a compreensão do conhecimento histórico com proposições que podem ser articuladas com os interesses dos alunos, suas aproximações cognitivas, suas experiências culturais e com a possibilidade de desenvolver atividades diretamente vinculadas a vida cotidiana. (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.113)
Acreditamos que a estratégia pedagógica através do estudo da
história local, em documentos, constitui-se numa das melhores formas de
desenvolver em nossos alunos a capacidade de ler, classificar e produzir
conhecimento.
Eles puderam relacionar o desmatamento durante o processo de
ocupação do território paranaense com os interesses econômicos e com a
visão de progresso e de modernidade na concepção capitalista e ainda
estabelecer conexões com questões atuais, tais como destruição da
Camada de Ozônio, desmatamento da Amazônia, biodiesel e outros tantos
problemas pertinentes ao tema.
A disciplina de Geografia teve uma contribuição específica e
importante quando trabalhamos conteúdos relativos à categorização das
florestas e dos ecossistemas de nosso estado,com interpretação de imagens
comparando mapas de vegetação paranaense original e atual. Essas
análises foram realizadas através do site do IPARDES e para tanto
utilizamos a sala de informática da escola destinada aos professores e
novamente contamos com a colaboração da direção e da equipe de ensino.
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A professora de Geografia preparou, no pen drive, um documentário sobre o
patrimônio natural de Londrina: Parque Estadual Mata dos Godoy, Daisaku
Ikeda, Parque Arthur Thomas e Salto Apucaraninha. Os alunos produziram
um pequeno texto baseado nas análises feitas com os mapas e com os
documentários.
Fomos os precursores na utilização da TV pen drive em nossa
escola e isto provocou interesse de professores de outras áreas em
acompanhar o nosso trabalho.
A tecnologia a serviço da educação foi muito importante, pois
despertou nos educandos o interesse pelo computador. As inovações
tecnológicas, que foram empregadas para tornar as práticas
interdisciplinares mais interessantes, mostraram que a tecnologia pode ser
mais do que um simples recurso, mais que um processo, é uma maneira de
estar na educação e isso é irreversível.
Observando os educandos frente aos computadores foi possível
captar a satisfação da experiência em cada fala, cada comentário, em cada
questionamento.
O aluno J A T nunca havia estado à frente de um computador. A
vice-diretora, Marlene, nos ajudou sendo preciso colocar a sua mão sobre a
mão desse senhor para ensiná-lo a mover o mouse. No dia seguinte, ele nos
contou que havia comprado um computador, pois com ele poderia conhecer
melhor, buscando mais informações, sobre os assuntos abordados pelo
projeto. Segundo esse aluno, ”Aqui eu nasci de novo, já tinha perdido a
esperança, mais aqui encontrei a verdadeira felicidade, era um homem sem
conhecimento. Hoje eu sei o que é vida”.
Continuamos utilizando a prática interdisciplinar, na execução da
atividade 3 do projeto que contou com a professora Maria Aparecida, de
Língua Portuguesa, novamente.
Nessa atividade trabalhamos os conceitos de meio ambiente ou
Patrimônio Natural e cidadania e partimos da composição musical de
Sebastião Dias e Fagner: ”Canção da Floresta” utilizando o site Som Brasil,
ouvimos a música, junto com os educandos e copiamos a letra, que foi
explorada como documento histórico com seus significados e testemunhos.
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O que fizemos foi explorar a música em suas possibilidades. Que
leitura fazer dessa música em que o compositor dá voz à floresta, que chora
a cada árvore que tomba? Como podemos utilizá-la no processo de
conscientização e de protesto contra a degradação ambiental?
Esse trecho selecionado, reflete a consciência ambiental dos autores
e propõe a todos irem à luta, usar as mãos, exercerem a cidadania na
defesa do meio ambiente.
“Use as mãos, mude uma planta
Regue o chão, faça um pomar
Ouça a voz do passarinho
A floresta quer chorar
Quando os cedros vão tombando
Dão até a impressão
Que os estalos são gemidos
Implorando compaixão
As mãos do homem malvado
Desmatou sem precisão.“
Os alunos receberam recortes de revistas e passaram a relacioná-lo
aos versos da música, em seguida montaram um painel com os trabalhos
realizados. Assim como o compositor deu voz à floresta, os alunos deram
voz aos recortes de revistas.
Através dessas atividades puderam expressar suas próprias
opiniões, dialogar consigo mesmo e com os outros. É preciso lembrar que
toda atividade lúdica, mesmo entre adultos, traz aproximação entre os
participantes e mais interesse pelo conteúdo trabalhado.
A essa atividade, juntamos a atividade 9 (a) e (b) na qual
exploramos a narrativa do senhor Olavo Godoy, ao jornalista Geraldo
Teixeira com o título: “A história de um menino com uma floresta no bolso”.
Esse texto serviu de inspiração para a questão inicial do projeto:Como
alguém pode carregar uma floresta no bolso?
Esse texto foi extraído do jornal Folha de Londrina, 1983 e nos
revela o amor do pioneiro Olavo Godoy pela natureza.
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A História do menino com uma floresta nos bolsos,
É contagiante o entusiasmo que o fazendeiro Olavo Godoy manifesta quando fala sobre a natureza e, especialmente, quando se refere à mata virgem que ajudou a preservar [...] - De onde vem este amor à sua mata, “seo” Olavo? [...] - Quando eu estudava, a professora muitas vezes implicava comigo porque eu vivia com os bolsos cheios de sementes. Onde eu encontrava uma semente de qualquer planta que fosse, guardava. E, chegando em casa, manifestava à minha mãe, o desejo de plantar. Aí, eu arranjava problemas para mim e para minha mãe. O único lugar disponível para plantar minhas sementes era o jardim da casa que era pequeno e minha mãe queria ver ocupado por roseiras e não por mangueiras, como era o meu desejo. Eu brigava com ela. E às vezes acabávamos os dois chorando. [...] Entre as pessoas que freqüentavam nossa casa, nesta época, tinha uma mulher chamada Sebastiana, proprietária de uma pequena fazenda. Esta senhora sabia ler a mão das pessoas e um dia minha mãe me chamou e pediu que dona Sebastiana lesse a minha. Ela pegou minha mão e disse a minha mãe que eu não gostava de estudar e que um dia seria um grande fazendeiro [...]. (FOLHA DE LONDRINA, 1983, p. 5)
Questões sobre o texto foram levantadas e discutidas: Você
carregaria uma floresta no bolso? Como será o nosso planeta em 2030 se
não cuidarmos das nossas riquezas naturais? Comente o texto com seus
colegas e depois escreva um texto relacionando cidadania e preservação do
meio ambiente. Os alunos discutiram sobre o que é ser cidadão. Qual a
diferença entre cidadão e citadino? Qual é a importância do nosso papel na
sociedade em que vivemos?
Um dos alunos, L.G.N. comentou que para preservar é preciso
exercer a cidadania, conhecer seus direitos e deveres em relação ao meio
ambiente, segundo o aluno, “[...] isso depende de todo um conjunto de
fatores que vai desde o empenho governamental até a mudança dos hábitos
das pessoas [...]. Para poder preservar o meio ambiente é preciso exercer a
cidadania, saber seus direitos e deveres, saber que a natureza precisa ser
protegida”.
Desta forma, observamos que os alunos já conseguiam se soltar
mais e escrever sem problemas. Aquela insegurança natural, pedindo o
nosso parecer a todo instante foi aos poucos ficando cada vez mais raro.
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Entendemos, nesse momento que os alunos estavam mais seguros, que
poderíamos iniciar a atividade 10, para nós a mais importante do projeto.
Como podemos constatar na afirmação do aluno P.C.P., “estudar história me
trouxe muitos benefícios, um deles é o que estou executando, escrever.”
Pensamos que, ao se sentirem mais seguros para se expressar
através da escrita, nossos alunos já poderiam selecionar e organizar os
documentos jornalísticos para realizarem a atividade de produção da
narrativa sobre a Mata dos Godoy, antes e depois do tombamento, como
parque estadual. Tema este que foi muito discutido entre os anos de 1982 a
1995, pela comunidade londrinense através da imprensa local, estadual e
até pela mídia com dois documentários realizados pela TV. Sobre a questão
da Mata, constatamos que não havia nada escrito, além dos documentos
jornalísticos, para conhecermos como se deu o processo de tombamento, ou
da sensibilização do governo paranaense da época para que a área se
tornasse patrimônio público. Optamos por utilizar apenas os recortes da
Folha de Londrina, que foram previamente garimpados na Biblioteca Pública
e no arquivo do referido jornal.
Selecionamos, reproduzimos,esses documentos e montamos várias
pastas, pois o material organizado previamente evitou atrasos e
contratempos na aplicação da atividade 10 proposta no projeto, portanto os
itens 1 e 2 do roteiro de trabalho foram realizados antes da implementação
do projeto.
Optamos pelo trabalho em equipe composta de três alunos para
cada grupo, para que assim trocassem idéias entre si e todos pudessem
contribuir com o trabalho.
Elaboramos um roteiro adaptado de Schmidt e Cainelli (p.108), para
os alunos desenvolverem a produção da narrativa histórica:
1. Levantamentos das fontes documentais recortes de jornais sobre
o fato a ser estudado;
2. Formação de uma hemeroteca, para estudo da temática
escolhida;
3. Ler os recortes de jornais e classificar o tipo de fonte que eles
representam;
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4. Decompor os elementos dos recortes de jornais:
a) Identificar as palavras cujo significado pareça difícil, pesquisar o
significado no dicionário;
b) Identificar os nomes próprios e as alusões feitas a eles e aos
acontecimentos;
c) Resumir as idéias essenciais de cada frase ou parágrafo;
d) Analisar o documento: quando, onde, quem fala e de quem;
e) Relacionar o conteúdo do texto com os conhecimentos adquiridos;
f) Fichar os pontos essenciais: idéias principais e as secundárias do
texto;
5. Debater as idéias selecionadas e fichadas com os colegas do
grupo;
6. Produzir uma narrativa histórica sobre a criação do Parque
Estadual Mata dos Godoy;
7. Organizar um Mural com os textos finais;
Todo novo conhecimento se origina a partir de conhecimentos
anteriores. Os conhecimentos que os alunos já traziam de suas experiências
anteriores, na produção de texto, na capacidade de debater e tirar
conclusões foram se ampliando e enriquecendo na produção da narrativa
histórica, atividade final desse projeto.
Quando iniciamos esta atividade levantamos os conhecimentos
prévios dos alunos sobre as fontes históricas. O que são? Tipos de fontes
que vocês conhecem? Dê exemplos de fontes primárias e secundárias.
Constatamos que o conhecimento sobre o assunto se restringia a
documentos escritos, cartas, livros, constituição e os não escritos se
limitavam aos vestígios e pinturas.
Trabalhamos na identificação das fontes primárias e secundárias,
pois sobre essa classificação os educandos não souberam exemplificar.
Procuramos esclarecer as dúvidas a respeito dos tipos de fontes,
principalmente as primárias e secundárias.
As fontes primárias são aquelas temporalmente ligadas ao assunto a
ser estudado, dão testemunho do passado e podem ser de vários tipos:
materiais, escritas, orais e visuais. Para Schmidt e Cainelli,
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As fontes primárias são testemunhas do passado que se caracterizam por serem de primeira mão ou contemporâneas dos fatos históricos a que se referem. Podem ser de vários tipos: Fontes materiais: utensílios, mobiliários, roupas, ornamentos (pessoais coletivos, armas, símbolos, instrumentos de trabalho, construções (templos, casas, sepulturas, esculturas, moedas, restos de pessoas ou animais mortos) toponímia, entre outros. Fontes escritas: documentos jurídicos (constituições, códigos, leis, decretos) sentenças, testamentos, inventários, discursos escritos, cartas, livros de contabilidade livros de história, autobiografias, diários, biografias, crônicas, poemas, novelas, romances, lendas, mitos, textos de imprensa, censos, estatísticas, mapas gráficos e registros paroquiais, por exemplo. Fontes visuais: pinturas, caricaturas, fotografias, gravuras, filmes, vídeos e programas de televisão entre outros. Fontes orais: entrevistas, gravações (de entrevistas, por exemplo), lendas contadas ou registradas de relato de viva-voz, programa de rádio e fitas cassete, por exemplo. As fontes secundárias são as fontes produzidas por diferentes pessoas para a reconstrução do passado, e que não são contemporâneas dos fatos históricos ocorridos. Exemplo, os livros de história utilizados em sala de aula. (SCHMIDT; CAINELLI, 2004, p.96)
Dentro deste contexto os alunos puderam realizar o 3º item do
roteiro descrito, registraram no caderno o tipo de fonte histórica que iriam
utilizar em seus trabalhos, ou seja, que os textos jornalísticos se constituem
em importante fonte documental primária. A partir daí, seguimos o roteiro
elaborado previamente para determinar a origem do documento, o qual foi
feita uma reprodução dos arquivos da Biblioteca Pública e do Jornal a Folha
de Londrina,e que tais documentos caracterizam-se por serem de natureza
que exprimem opiniões mas também fatos realmente acontecidos e
documentados.
Durante a realização desse trabalho os alunos foram percebendo
que as datas, por exemplo, da promulgação do decreto de criação do parque
eram iguais em todos os recortes que noticiaram o fato. Mesmo aqueles que
mencionaram o ocorrido, tempos depois, ainda que em diferentes
momentos, contudo, quando se tratava de opiniões de membros da
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sociedade londrinense, que se pronunciaram a respeito do processo, essas
sim, tinham argumentações variadas, diferentes.
Essa etapa do trabalho foi muito complicada e gerou muitas
discussões, sobre a veracidade das datas a respeito da vinda dos irmãos
Godoy para nossa região, na fala de diferentes pioneiros como os Godoy e o
Senhor Clemente Soares, responsável pela viagem dos referidos pioneiros
de Campinas até aqui. Nesse momento foi preciso abrir um parênteses, para
consultarmos outras fontes a respeito da história da ocupação de Londrina.
A busca de respostas para as dúvidas foi motivando e prolongando essa
etapa do nosso trabalho. Aos poucos eles foram encontrando as respostas
para as dúvidas inicias. Com quais objetivos foi produzido esse documento?
Quais as intenções que ele revela? Que palavras explicam melhor e levam a
compreensão do documento? A estratégia que utilizamos para a explicação
do documento foi dirigida por nós determinando como esses documentos
seriam explorados para confirmar ou abrir novos caminhos para a
exploração dos documentos e do texto Folhas, que apresentamos e
trabalhamos durante todo o processo de implementação.
Uma de nossas alunas, C. O., ao comentar em casa a respeito
desse trabalho sobre a Mata dos Godoy e como os irmãos Álvaro e Olavo
lutaram pela preservação dos 675 hectares de mata nativa, área essa que
hoje corresponde ao Parque Estadual Mata dos Godoy. A referida aluna
ficou sabendo que sua mãe, uma senhora de quase cem anos, havia
trabalhado na Fazenda Santa Helena de propriedade dos irmãos Godoy e
contou à filha muitas histórias sobre a vida dela na fazenda ,trabalhando nos
cafezais, e também fez comentários de como o Sr. Olavo se relacionava
com os empregados e com a mata e que essas relações eram bem
diferentes.
Como a aluna não registrou por escrito o relato oral de sua mãe,
optamos por não fazer referências ao que ouvimos em sala. Contudo, foi
importante para que eles percebessem que a história de um pioneiro tem
diversas versões dependendo do olhar e do ângulo de quem conta e que
cada um tem uma experiência de vida que pode ser relatado oralmente,
enriquecendo com dados importantes a história local.
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A cada etapa desenvolvida sentíamos os alunos motivados à novas
leituras e debates sobre as informações obtidas através desses documentos.
Atesta isso a afirmação do aluno L.G.N., ”para mim, estudar história foi um
aprendizado muito bom, e que me mostrou como pesquisar e me motivou a
querer sempre mais a estudar e ler mais”.
Uma das alunas V. A. O., comentou que a partir da sua participação
nesse projeto ela começou a olhar Londrina como coisa sua, até o painel
Café e Etnia, da Caixa Econômica Federal, banco 104, agência, 0394, ela
passou a olhar com outros olhos, pois antes era apenas uma decoração na
parede, bem na entrada desse banco.
O ensino da história local a partir de seu Patrimônio Histórico e
Cultural despertou nos alunos a consciência de pertencimento, de identidade
e de participação política como podemos constatar pela conclusão do texto
produzido pela aluna A. S. P.,: ”Eu achei muito bonito a atitude dos irmãos
Godoy em lutarem por um patrimônio histórico e natural em benefício da
população londrinense e foi importante também a mobilização da
comunidade, pois sem ela os poderes constituídos não teriam se
preocupado coma compra dessa área de floresta nativa, patrimônio de todos
nós”.
Outro aluno, R. A. S., estabeleceu as continuidades e diferenças,
conflitos e permanências através desse projeto. Segundo o aluno, “Assim
como na época que toda a comunidade londrinense discutia a importância
da Mata se tornar um patrimônio público, pessoas afirmavam que Londrina
não cuidava de seus monumentos, hoje também não cuida, só ver o jornal
que denunciou a derrubada da casa dos anões”.
A história local produziu a inserção dos alunos na comunidade da
qual fazem parte, bem como ajudou-os a perceberem que alguns problemas
debatidos na época, como a dificuldade em preservar os nossos Patrimônios
Históricos e Culturais, ainda persistem até hoje. São as continuidades. O
aluno A.F.S., detectou quando viu no jornal a derrubada da casa dos anões
da Avenida Higienópolis e relacionou-a com a fala de Antonio Fernandes
Sobrinho, numa reportagem da Folha de Londrina de 23/07/1982, quando o
ex-prefeito afirmou que ”Londrina não cultua muito seus monumentos, tanto
que demoliu obras como a antiga prefeitura, o Instituto Filadélfia, o Hotel
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Luxemburgo, a casa que pertenceu a Arthur Thomas, agora tem chance de
preservar um monumento vivo”.
Os alunos se apropriaram das ferramentas que foram
disponibilizadas e com as quais puderam criar e se perceberem capazes de
construir seus próprios conhecimentos. Confrontando os conteúdos
encontrados no texto do projeto, com os outros conhecimentos adquiridos
através das fontes documentais e com os seus conhecimentos prévios eles
desenvolveram a produção dos textos históricos.
Aprendemos muito durante a execução dessa última atividade. Os
alunos puderam organizar suas idéias através do debate e da descoberta de
que podem ser produtores de conhecimento.
Os textos dos alunos foram lidos para que todos conhecessem o que
os colegas produziram. Foram interessantes as colocações feitas por eles,
de que a história pode ser contada de diversas maneiras . O fato histórico
não se modificou, mas o enfoque dado por eles teve influência cultural,
social e política de cada um.
Cada item foi desenvolvido independente das dificuldades e dos
percalços apresentados.
Agendamos para o dia 24 de agosto de 2008, num domingo, a nossa
visita ao Parque Estadual da Mata dos Godoy. Contamos com a colaboração
das professoras Claudia Ponciano de Paula e Rosangela Naldos para nos
ajudar com o transporte dos alunos.
Tudo foi documentado com fotos e posteriormente montamos um
painel na escola com os textos dos alunos e as fotos da visita ao Parque.
Todos os alunos do CEEBJA - Londrina puderam conhecer um
pouco mais sobre a nossa cidade.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Podemos constatar que através da interação entre as diferentes
disciplinas, entre questões da História, da Literatura, de Geografia, da
cidadania e a conscientização da importância de se estudar, figurou como
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‘elo de ligação’ e de crescimento para os nossos educandos. Fomos
contagiadas pelo entusiasmo deles e penso que o nosso entusiasmo com o
projeto também os contagiou. A despeito de todos os tropeços no decorrer
da aplicação desse projeto, houve um movimento de aprendizado recíproco
e de ampliação das experiências individuais tanto dos alunos como dos
professores envolvidos. Esse tipo de trabalho tornou os alunos mais
autônomos. Ainda que as respostas e os textos produzidos, a princípio,
necessitassem de inúmeras correções. Insistimos para que os alunos
procurassem elaborar, refletir e discutir mais consigos mesmo, com os
colegas e com os professores e, que aos poucos iriam perceber as
mudanças acontecendo.
Nos depoimentos finais pudemos constatar que é possível tornar o
espaço da sala de aula num local onde estabelecemos relações e onde a
transposição didática pode se realizar. Nesse sentido aprendemos muito,
pois não foi muito fácil sairmos das nossas práticas tradicionais para nos
tornarmos orientadores dos nossos alunos, ajudando-os a levantarem
problemas e transformar, em cada dia de aplicação desse projeto essas
problemáticas em conhecimento, em narrativas históricas.
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