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Universidade de Ribeirão Preto UNAERP Curso de Psicologia MARCELLA BIANCA NEVES NAYARA BENEDITTINI HABILIDADES SOCIAIS PARENTAIS NA EDUCAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS RIBEIRÃO PRETO 2011

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Universidade de Ribeirão Preto

UNAERP

Curso de Psicologia

MARCELLA BIANCA NEVES

NAYARA BENEDITTINI

HABILIDADES SOCIAIS PARENTAIS NA EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS

RIBEIRÃO PRETO

2011

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MARCELLA BIANCA NEVES

NAYARA BENEDITTINI

HABILIDADES SOCIAIS PARENTAIS NA EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS

Monografia apresentada à Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia. Área de concentração: Saúde. Orientadora: Profa. Dra. Teresinha Pavanello Godoy Costa

RIBEIRÃO PRETO

2011

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Ficha catalográfica preparada pelo Centro de Processamento Técnico da Biblioteca Central da UNAERP

- Universidade de Ribeirão Preto -

Neves, Marcella Bianca, 1989 -.

N518h Habilidades sociais parentais na educação e desenvolvimento de crianças / Marcella Bianca Neves, Nayara Benedittini. - - Ribeirão Preto, 2011.

83f. : il. color.

Orientadora: Profª. Drª. Teresinha Pavanello Godoy Costa.

Monografia (graduação) - Universidade de Ribeirão Preto, UNAERP, Psicologia. Ribeirão Preto, 2011.

I. Benedittini, Nayara, 1990-. 1. Psicologia. 2. Desenvolvimento

Infantil. 3. Educação. 4. Estilos parentais. II. Título.

                                                                                                   

                                                                                                                                                                                 CDD:  150                                                                                                                                          

 

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MARCELLA BIANCA NEVES

NAYARA BENEDITTINI

HABILIDADES SOCIAIS PARENTAIS NA EDUCAÇÃO E

DESENVOLVIMENTO DE CRIANÇAS

Monografia apresentada à Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP, como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Psicologia.

Área de concentração: Saúde.

Data de defesa: 14 de dezembro de 2011.

Resultado:

BANCA EXAMINADORA

Profa. Dra. Teresinha Pavanello Godoy Costa Universidade de Ribeirão Preto ___________________________________________________________________________

Profa. Me. Maria Helena Câmara Pinheiro Universidade de Ribeirão Preto ___________________________________________________________________________

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Este trabalho é dedicado a todos que estiveram presentes ou que

de alguma forma contribuíram para a sua realização.

Obrigada!

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AGRADECIMENTOS

À nossa orientadora Profa. Teresinha, que com muita dedicação possibilitou a

realização deste trabalho, nos abrindo caminhos e mostrando sempre a importância do

pensamento reflexivo e crítico da realidade.

À Profa Maria Helena por sua atenção, orientação e incentivo, acreditando na

importância deste trabalho.

À coordenadora do curso de Psicologia Profa. Dra. Mariana Araujo Noce, por toda

sua atenção, incentivo, carinho e respeito.

Aos meus pais e irmão por terem participado de todas as lutas e conquistas, em

especial o meu namorado.

Marcella Bianca Neves

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente aos meus pais, por me possibilitarem estudo, e por toda a dedicação

durante todos esses anos de vida. Por estarem sempre ao meu lado, durante minhas lutas e

conquistas.

A nossa orientadora Teresinha Pavanello Godoy Costa, por toda sua dedicação e

empenho para a realização deste trabalho, e por sempre disponibilizar sua ajuda quando

necessário.

A coordenadora do curso Dra. Mariana Araújo Noce, por toda sua orientação,

dedicação e carinho para conosco e ao trabalho.

A Profa. Ms. Maria Helena Câmara Pinheiro, por ter aceitado o nosso convite em ser

banca de nosso trabalho, pela sua dedicação, atenção e carinho.

Nayara Benedittini

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“Você não pode ensinar a criança a cuidar de si mesma, a

não ser que a deixe tentar por si. Ela cometerá erros e a

partir desses erros brotará sua sabedoria.”

Henry Ward Beecher

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RESUMO

A família proporciona medidas e estratégias de comunicação e interação entre pais e filhos fundamentais para o estabelecimento de relações educativas que promovem o desenvolvimento social dos filhos. Este estudo objetivou conhecer as habilidades sociais parentais de acordo com a percepção dos filhos. A pesquisa é do tipo exploratória descritiva com aplicação do Inventário de Estilos Parentais (IEP), e contou com a participação de dez crianças com idades entre nove a doze anos incompletos, sendo cinco do sexo feminino e cinco do sexo masculino de famílias do tipo nuclear (pai, mãe e filho), realizado na clínica de Psicologia da Universidade de Ribeirão Preto, com intuito de avaliar habilidades sociais e indicadores de problemas de comportamento., Os resultados demonstraram igualmente a prevalência de práticas negativas de pais e mães, concluindo que, embora a literatura aponte a necessidade de práticas parentais positivas para uma boa educação e desenvolvimento infantil dos filhos, evidenciou-se uma grande tendência de que isso não ocorre habitualmente, pois o estilo parental de risco foi o que mais prevaleceu. Diante dessa verificação, o estudo sugere a importância do envolvimento positivo dos pais sobre o desenvolvimento sócio-emocional dos filhos e a necessidade de intervenções nesta área.

Palavras-chave: Habilidades Sociais Parentais. Desenvolvimento Infantil. Educação. Estilos

Parentais.

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ABSTRACT

The family provides methods and strategies of communication and interaction between parents and children, which are fundamental for the establishment of educational relationships that promote the social development of children. This article focuses on parental social skills according to the perception of children. The research is an exploratory descriptive type with application of Inventory of Parental Styles (IPS), and with the participation of ten children aged nine to twelve years incomplete, five of them female and five male, all of them from nuclear type families (father, mother and son), held in the Clinical Psychology at the University of Ribeirão Preto, in order to evaluate indicators of social skills and behavior problems. Results showed the prevalence of negative practices of fathers and mothers, concluding that although the literature indicates the need for positive parenting practices for a good education and development of children, there was a big evidence that this does not usually occur because the risk parenting style was the most prevalent. Given this verification, the study suggests the importance of positive involvement of fathers on the socio- emotional development of children and the need for interventions in this area. Keywords: Parental Social Skills. Child Development. Education. Parental Styles.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 Resultados referente à mãe da criança L. de 9 anos.........................................59

Tabela 2 Resultados referente ao pai da criança L. de 9 anos.........................................59

Tabela 3 Resultados referente à mãe da criança G. de 11 anos.......................................60

Tabela 4 Resultados referente ao pai da criança G. de 11 anos.......................................60

Tabela 5 Resultados referente à mãe da criança E. de 9 anos.........................................60

Tabela 6 Resultados referente ao pai da criança E. de 9 anos.........................................61

Tabela 7 Resultados referente à mãe da criança M. de 11 anos......................................61

Tabela 8 Resultados referente ao pai da criança M. de 11 anos......................................61

Tabela 9 Resultados referente à mãe da criança L.G. de 9 anos.....................................62

Tabela 10 Resultados referente ao pai da criança L.G de 9 anos....................................62

Tabela 11 Resultados referente à mãe da criança G. de 10 anos.....................................62

Tabela 12 Resultados referente ao pai da criança G. de 10 anos.....................................63

Tabela 13 Resultados referente à mãe da criança J.P. de 10 anos...................................63

Tabela 14 Resultados referente ao pai da criança J.P. de 10 anos...................................63

Tabela 15 Resultados referente à mãe da criança T. de 10 anos.....................................63

Tabela 16 Resultados referente ao pai da criança T. de 10 anos.....................................64

Tabela 17 Resultados referente à mãe da criança M.C. de 11 anos................................64

Tabela 18 Resultados referente ao pai da criança M.C. de 11 anos................................64

Tabela 19 Resultados referente à mãe da criança M.L. de 9 anos...................................65

Tabela 20 Resultados referente ao pai da criança M.L. de 9 anos..................................65

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Gráfico referente aos estilos parentais maternos........................................................66

Figura 2 Gráfico referente aos estilos parentais paternos.........................................................66

Figura 3 Gráfico referente à comparação de estilos parentais maternos com

paternos.....................................................................................................................................67

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A.F. - Abuso Físico

C.M. - Comportamento Moral

D.R. - Disciplina Relaxada

I.E.P. - Inventário de Estilos Parentais

M.N. - Monitoria Negativa

M.P. - Monitoria Positiva

N. - Negligência

P.I. - Punição Inconsciente

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 15

2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 17

2.1 OBJETIVO GERAL ..................................................................................................... 17

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...................................................................................... 17

3.1 FAMÍLIA ....................................................................................................................... 18

3.2 RELAÇÃO FAMILIAR ............................................................................................... 21

3.4 EDUCAÇÃO DOS FILHOS E ESTILOS PARENTAIS .......................................... 28

3.5 HABILIDADES SOCIAIS E PARENTAIS ............................................................... 48

3.6 LEIS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) ................. 51

4 METODOLOGIA ................................................................................................................ 54

4.1 SUJEITOS ..................................................................................................................... 54

4.2 INSTRUMENTOS ........................................................................................................ 54

4.3 LOCAL .......................................................................................................................... 55

4.4 PROCEDIMENTOS ..................................................................................................... 56

4.5 ANÁLISE DE DADOS ................................................................................................. 56

4.6 ASPECTOS ÉTICOS ................................................................................................. 56

5 RESULTADOS .................................................................................................................... 58

6 DISCUSSÃO ........................................................................................................................ 68

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 78

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 80

ANEXOS .................................................................................................................................. 83

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1 INTRODUÇÃO

O termo Treinamento de Habilidades Sociais (THS) designa um conjunto de

procedimentos aplicáveis à superação de déficits comportamentais e busca de um lado,

minimizar dificuldades interpessoais e do outro, maximizar comportamentos socialmente

competentes (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999).

A interação entre o indivíduo e o comportamento social está na base da construção

das relações sociais, portanto, pessoas socialmente habilidosas são capazes de promover

interações sociais mais satisfatórias (CABALLO, 1996 apud CIA et al, 2006).

As situações sociais podem ocorrer em diversos contextos, como, por exemplo, no

espaço familiar, de lazer, escolar e profissional. Em cada contexto espera-se que ocorram

determinados desempenhos, que, por sua vez, exigem um amplo repertório de habilidades

sociais do individuo. A infância é um período decisivo para o aprendizado de habilidades

sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999 apud CIA et al, 2006), e por isso o contexto

familiar, o envolvimento e o desempenho dos pais são fundamentais para o estabelecimento

de relações educativas que efetivamente promovam o desenvolvimento social dos filhos (CIA

et al, 2006).

Uma criança em seu período de desenvolvimento necessita de um ambiente familiar

estabilizado, que possa proporcionar novos caminhos para o seu desenvolvimento e

aprendizado. A literatura confirma que as habilidades sociais parentais são de extrema

importância para a vida de uma criança, ou seja, para o seu desenvolvimento tanto psíquico

quanto físico.

A mãe em especial, possui o papel primordial de amar. É em torno deste amor

materno que as relações serão cristalizadas, primeiro com a mãe, em seguida com os outros

elementos da família. O amor materno é ao mesmo tempo benevolência, ternura e

compreensão, ou seja, amor de intuição, de manifestação e de aceitação (GERSEN, 1961). O

autor continua afirmando que o desenvolvimento psíquico e físico de uma criança começa a

ser desenvolvido desde os primeiros contatos que a criança possui com as pessoas mais

importantes de seu convívio, em especial com a mãe, cujo contato ocorre desde o período de

gravidez. O filho não é um corpo estranho subitamente instalado ao lado de uma mulher ou de

um casal. Antes de nascer, não se encontra apenas dentro da mãe, ele é sua mãe da maneira

mais material possível.

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Porém, a criança necessita de um ambiente familiar estável, ou seja, onde ambos, o

pai e a mãe desempenhem seus papéis, compartilhando as funções necessárias que um bebê

ou uma criança necessitam.

Nos dias atuais não se pode relatar como sendo principal uma família formada por

pai e mãe, pois hoje, esta dinâmica está muito diferente, podendo a família ser formada por

diferentes pessoas designadas parentes, como avós, tios, ou até mesmo por apenas um dos

membros paternais que seria o pai ou a mãe. Para isso, é preciso que se entenda como

funciona a dinâmica da família analisada para compreender se entender como funcionam os

meios utilizados para o desenvolvimento da criança, ou seja, como estas pessoas demonstram

o mundo e como criam maneiras para demonstrar o “certo e errado” à criança.

A família é considerada o principal e mais importante meio que a criança possui para

descobrir o mundo interno, como desejos e vontades, e o mundo externo, ou seja, nas

vivências e interações que a criança desempenha com as outras pessoas. A família é a

instituição que proporcionará meios que demonstre a educação, o respeito, a convivência

social, os limites, as regras que uma criança deve ter no período de desenvolvimento e,

conseqüentemente, durante toda a vida.

Enfim, a família é um importante laço de ternura e afetividade para o

desenvolvimento das pessoas, é ela quem proporcionará medidas e estratégias de

comunicação e interação entre pais e filhos. São os criadores que desempenham questões de

habilidades sociais e parentais com seus filhos para o envolvimento e desenrolar de questões

referentes ao desenvolvimento psíquico e físico, como também a educação.

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2 OBJETIVOS

2.1 OBJETIVO GERAL

Conhecer e identificar as habilidades sociais parentais de acordo com a percepção

dos filhos.

2.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Compreender os meios de educação, limites e regras que os pais proporcionam aos

seus filhos, de acordo com a percepção das crianças.

Conhecimento da projeção dos grupos familiares para a vinda de uma criança,

segundo a percepção dos filhos.

Analisar os papéis de trabalho dos pais para o desenvolvimento físico e psíquico da

criança, segundo a percepção dos filhos.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

3.1 FAMÍLIA

O conceito de família vai além das definições livrescas. Pode ser designada como um

grupo de pessoas que são aparentadas, e que geralmente vivem em uma mesma casa. A

família vem se transformando no decorrer do tempo, acompanhando as transformações

religiosas, econômicas e socioculturais do contexto em que se encontram inseridas.

O termo família origina-se do latim famulus que significa o conjunto de servos e

dependentes (esposa e filhos) de um chefe ou senhor. A respeito da instituição familiar pode-

se reiterar que de modo universal há uma afirmação crescente da família nuclear, notando-se

que o número de famílias nucleares é cada vez maior, fato este percebido principalmente nos

grandes centros urbanos em evolução. (PRADO, 1986).

A palavra família, no sentido popular e nos dicionários, significa pessoas aparentadas que vivem em geral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos. Ou ainda, pessoas de mesmo sangue, ascendência, linhagem, estirpe ou admitidos por adoção. (PRADO, 1986, p.7).

 

No dicionário Aurélio, o termo significa: ...o pai, a mãe e os filhos; pessoas do mesmo sangue; (...) comunidade formada por um homem e uma mulher, unidos por um laço matrimonial, e pelos filhos nascido dessa união. (DIAS, 1992, p.10).

 

A partir deste conceito, considera-se uma família, a partir do nascimento do primeiro

filho de uma união matrimonial, pois até então, esse casal considera família a sua de origem.

A família realiza, na sua esfera, a socialização primária, processo através do qual o padrão, os valores e as normas de conduta são transmitidos às gerações mais novas e assimilados por elas, ou seja, nele se defrontam e se compõem as forças da subjetividade e do social, construindo um indivíduo inserido no grupo, participante de sua cultura, afinado com o momento em que vive. (BIASOLI-ALVES, 1995, apud SIMIONATO-TOZO, 1998).

 

A família vem sendo transformada através de muitas variáveis que abrangem o

contexto social, a cultura e o momento histórico em que está inserida; sendo assim, é

modificada e devolve ao social um produto novo, que por sua vez o altera. Atualmente, a

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família é vista de acordo com o papel que cada membro apresenta diante a sociedade, não

sendo somente conceituada.

Diante todos os momentos de crise e evolução, as famílias manifestam até hoje uma

grande capacidade de sobrevivência e também de adaptação.

A família brasileira em meio às discussões sobre a sua desagregação e enfraquecimento, está presente e permanece enquanto espaço privilegiado de socialização, de prática, de tolerância e divisão de responsabilidades, de busca coletiva de estratégias de sobrevivência e lugar inicial para o exercício da cidadania sob o parâmetro da igualdade, do respeito e dos direitos humanos. A família é o espaço indispensável para a garantia da sobrevivência de desenvolvimento e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo os materiais necessários para o desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. (KALOUSTIAN; FERRARI, 2002, p. 11 - 12).

 

O conceito de família se modifica conforme o tipo de sociedade, o tempo e sua

estrutura social, na medida em que sofre as influências dos acontecimentos sociais. Três

desses significados são diferenciados por Vidal (2002 apud WEBER, 2008): 1) a família

feudal era numerosa, composta por muitas pessoas e abundante de bens materiais; 2) a família

burguesa: tinha sua segurança garantida pela legislação civil e pelo controle social; 3) a

família nuclear era menor, composta por pai, mãe e menos filhos – o homem continua como

autoridade máxima e a mulher era tida como a ‘rainha do lar’, onde a unidade do casal com

seus filhos deveriam ser mantidos.

Os tipos de família variam muito, embora a forma mais conhecida e valorizada de

nossos dias seja a família “nuclear” ou “normal”, sendo composta de pai, mãe e filhos.

“Apesar de todos os seus momentos de crise e evolução, manifestam até hoje uma grande

capacidade de sobrevivência e também de adaptação, uma vez que ela subsiste sob múltiplas

formas” (PRADO, 1986, p. 8). Este tipo é veiculado por determinada cultura, coexistindo com

várias famílias que por fatores sócio-econômicos apresentam grande variedade em sua

estrutura. Mas há também outros tipos, como monogâmica, patriarcal, sociológica,

poligâmica, exogâmica e endogâmica.

A noção de família nuclear surgiu a partir da Revolução Industrial, pois a partir das

transformações nos setores de produção, fez com que houvesse uma diminuição na

convivência com a comunidade e restringiu na unidade pai, mãe e filhos, o que compôs uma

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unidade econômica. Esse fechamento dentro da família nuclear acabou propiciando um

confronto emocional maior entre pais e filhos e também foi onde restringiu a responsabilidade

sobre a educação, que anteriormente era realizado pelos aspectos comunitário.

(...) a atmosfera familiar, as atitudes, os valores e os relacionamentos na família nuclear são o meio crítico inicial pelo qual a personalidade da criança toma forma; é esse ambiente que lhe dá condições para elaborar uma imagem a respeito de si mesma, dos outros e do mundo; é ele que lhe permite moldar valores e provê o arcabouço necessário para pertencimento e significado; é nele que estarão dimensionadas as práticas de educação; nesse ambiente em que a criança vive os primeiros anos estarão estabelecidas as formas e os limites para as relações e interações entre as gerações. (BIASOLI-ALVES, 2001 apud WEBER, 2008, P. 24 - 25).

No momento em que a crianças sente-se amparada, cuidada, e acompanhada de perto,

isso estimulará o seu desenvolvimento global e que acabará propiciando maior abertura e

adaptabilidade ao convívio com o seu meio, criando uma atmosfera agradável nas relações

com os próprios membros da família e com a comunidade em que ela está se formando

(WEBER, 2008).

A família não é um simples fenômeno natural, mas sim, o alicerce para cada

membro. Isso só ocorre quando há interação destes membros que possibilita a comunicação

para haver a construção do próprio indivíduo, citado anteriormente.

A família, no entanto, é “única” em seu papel determinante no desenvolvimento da

sociabilidade, da afetividade e do bem-estar físico dos indivíduos, sobretudo durante o

período da infância e da adolescência (PRADO, 1986, p. 13 - 14).

É a família, um organismo notável pela sua universalidade. Qualquer que seja seu

tipo sociológico, poligâmico ou monogâmico, exo ou endogâmico, a família existe na espécie

humana. Sociedades e religiões sempre intervieram para sancionar-lhe a existência, para

manter-lhe a coesão, demonstrando assim seu papel de instituição fundamental (POROT,

1961).

A família, em seu papel, tem como importância a proteção, o carinho, a educação, a

formação do equilíbrio social, afetivo e seu desenvolvimento físico e social. Tem como

função o bem estar entre todos os membros, portanto, é preciso que as pessoas sejam

companheiras umas das outras, que convivam juntas e tenham fortes laços de afeto. Observa-

se que nem sempre isto ocorre, pois em famílias que mesmo não tendo seus principais

membros morando juntos, estes ainda se encontram e possuem certa convivência, mesmo esta

sendo mínima.

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As funções de cada família dependem em grande parte da faixa em que cada qual

ocupa na organização social e na economia do país ao qual pertencem. Essas funções são

inúmeras, sendo que algumas recebem apoio e interferência de instituições sociais, enquanto

outras assumem funções com exclusividade, como por exemplo, a socialização das crianças é

dividida pela família e pelas instituições educacionais. (PRADO, 1986, p. 35 - 36).

Prado (1986, p. 35-36) resume as funções exclusivamente familiares em quatro

prioridades: reprodução, identificação social, socialização e econômica, das quais foram se

transformando e se restringindo, e hoje podem indicar como ainda prioritárias.

A família, no entanto, é “única” em seu papel determinante no desenvolvimento da

sociabilidade, da afetividade e do bem-estar físico dos indivíduos, sobretudo durante o

período da infância e da adolescência (PRADO, 1986, p. 13 - 14).

Em muitas pesquisas realizadas foram demonstradas baixos percentuais da figura

paterna trabalhando, e em contrapartida, a figura materna está se tornando responsável pelo

sustento da família, aparecendo mais marcadamente, a família governada por mulheres

(OLIVEIRA; BASTOS, 2000; AMAZONAS et al., 2003 apud WEBER, 2008).

Romanelli; Nogueira e Zago (2000 apud WEBER, 2008) também afirmam que o fato

da mulher contribuir no orçamento familiar, lhe confere uma nova posição na família, o que

acaba alterando os vínculos com o cônjuge e com os filhos.

“Em cada maneira concebível, a família é um elo ao nosso passado, ponte ao nosso

futuro” (HALEY, 1976 apud WEBER, 2008, p. 9).

3.2 RELAÇÃO FAMILIAR  

 

As relações se constituem através das orientações e transmissões culturais da

sociedade para a participação na vida social. A natureza dessas relações dentro de uma família

vai se modificando através do tempo. A cada geração é transmitido o conhecimento e a

aprendizagem à nova geração, através de um convívio familiar, escolar e social e até mesmo

de forma indireta, através de mediação simbólica e modelos culturais.

 

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As relações entre gerações estão vinculadas ao modo pelo qual a experiência estratificada dos adultos configura um modo de ordenar a existência, gerando ruptura e continuidade entre as gerações. A continuidade, essencial para a reprodução da sociedade, depende do diálogo entre jovens e adultos, que pode ser sedimentado por um patrimônio de experiências e de valores em parte comuns e, em parte, distintos. Ao mesmo tempo, a intrusão de novas formas de sociabilidade e de modelos culturais alternativos cria ruptura entre as gerações. É na singularidade do diálogo estabelecido entre sujeitos com experiências distintas que se localiza o núcleo crítico do problema das gerações e do conflito entre elas (FORACCHI, 1972 apud ROMANELLI, 1998).

 

A principal instituição socializadora e da unidade de reprodução social é a família,

que se constitui como um grupo mediador do coletivo e da individualidade. Em análise, as

relações entre gerações de famílias específicas é um recurso para se examinar como os pais

pensam o seu futuro, o dos filhos e o da família como um todo. No entanto, cabe aos pais a

grande parcela de poder de decisão sobre seus filhos, como o direito a educação, manutenção

e participação em seus bens e proventos.

Responsabilidades histórica, cultural e funções biológicas, emocionais e sociais estão

relacionadas com a família. Cada etapa do desenvolvimento familiar, requer uma função

diferente, como a união e manutenção do casal, a aquisição de bens, o nascimento dos filhos e

aumento da família, os pais desenvolvendo papéis de educadores, orientadores e

posteriormente, desenvolvendo papel de amigos, funcionando como apoio para os filhos. Por

fim, a etapa conhecida como “ninho vazio”, momento em que os filhos já saíram de casa e os

pais sentem-se sozinhos (WEIL, 1971)

A dimensão afetiva do comportamento parental traduz-se num conjunto de comportamentos que visam o prazer, o bem-estar e a satisfação da criança ou a eliminação de qualquer situação geradora de desconforto. Tais comportamentos envolvem a proteção, o cuidado físico e outras manifestações de afeto e de apoio (KHALEQUE; ROHNER, 2002 apud CUSTODIO; CRUZ, 2008).

 

Weil (1971) afirma que é dever da mãe ensinar ao filho tomar cuidado consigo

mesmo e a evitar desastres, mas as atitudes devem ser ajustadas à idade da criança, ao

contrário, pode criar revolta ou extrema passividade nos filhos.

Os psicólogos costumam distinguir nove fases de acordo com relações humanas

parentais de cada idade.

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Segundo Weil (1971, p. 203-204) a primeira etapa, chamada de ‘A gestação’, já

comprova a existência de relações entre pais e filhos, mesmo no ventre da mãe, que pode

sofrer influência no desenvolvimento futuro da criança. Nessa época, a gestante deve manter-

se bastante calma, e o seu marido evitar-lhe qualquer aborrecimento, pois o sistema nervoso

do feto é muito sensível às reações nervosas da mãe. Na fase ‘O recém-nascido’, que ocorre

logo após o primeiro dia de nascimento da criança, é importante que o bebê tenha as suas

horas de mamar e suas horas de dormir, pois quando há hábitos bem regrados, diminui a

tendência de dificuldades numa posterior educação. Vale lembrar, que neste momento, se a

criança chora, é porque há algo de errado, e o melhor é ir verificar logo, mas se nada estiver

ocorrendo, é bom deixar a criança chorar, pois é considerado um excelente exercício

respiratório.

‘A primeira infância’, que se estende do segundo mês até os dezoito meses, a criança

começa a demonstrar o primeiro sinal de relações humanas entre a mãe e o filho, por meio do

sorriso. Neste período há uma grande necessidade do bebê ter uma hora de relações humanas,

considerada, por Weil (1971), hora social, através de mimos e carinhos, pois nesta idade

começa a ser sensível a isso, mas não devem ser dados em excesso. O bebê começa a gostar

das brincadeiras com os pais e mostra-se mais exigente nas suas relações com os pais,

chorando com facilidade, quando estes se afastam.

Neste momento, é necessário que o bebê tenha suas horas de brincar sozinha. Deve-

se evitar chupetas e momentos de impaciência por parte dos pais, principalmente por ser a

fase do surgimento dos primeiros dentes, onde o bebê mostra-se mais difícil de trato. Após o

primeiro ano de idade, deve ocorrer o desmame, não devendo ser realizado de maneira brusca.

Também é importante ensinar o urinol para a criança, a partir dos oito meses, nas horas que a

criança costuma fazer suas necessidades. Vale ressaltar, que deve-se evitar ralhar a criança

quando esta não consegue controlar-se no surgimento de suas necessidades fecais, pois isto

provoca complexos que podem prejudicá-la a vida inteira (WEIL, 1971).

Conforme Weil (1971) dos dezoito meses até os seis anos de idade, há duas fases, ‘a

idade de falar’ e ‘a idade do não’. A primeira fase ocorre quando a linguagem da criança

passa a ser falada nas relações com os adultos, a criança começa a sentir o valor das palavras e

o seu poder sobre os adultos, por isso é muito importante que os pais tenham muita paciência

e firmeza no que dizem. Na segunda fase, ocorre o período do espírito de contradição, onde o

não deve ser interpretado como sendo um exercício da vontade própria da criança, ou como

uma espécie de ensaio para ver até onde pode ir. Os pais devem ser pacientes, compreensivos,

mas firmes nas suas atitudes, pois a criança começa a desenvolver a sua sociabilidade diante

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de outras crianças e deve-se evitar comparações, tanto com os colegas como com os próprios

irmãos, se os tiverem, pois as crianças nessa fase são sensíveis ao ciúme. Colocar a criança no

jardim de infância, aos três anos de idade, faz com que esta aprenda a conviver com outras

crianças, que é muito importante para a sociabilidade futura.

A fase mais destacada é ‘a idade da razão’, período que se inicia aos sete anos e

estende-se até os onze anos incompletos. Nesta fase, a criança começa a perguntar a razão de

tudo, e os pais devem responder a todas as perguntas, em linguagem simples, dando muitos

exemplos. A partir dos sete anos, não é necessário dar tantas ordens ou fazer interdições

quando há perigo para a criança, basta mostrar-lhe a razão pela qual não deve fazer isto ou

aquilo para que ela própria conclua que está errada, ou seja, deve-se ensinar o perigo e ao

mesmo tempo como evitá-lo. Neste tempo, inicia-se o primeiro ano de escola, onde a criança

deixa de passar o tempo que ficava com os pais anteriormente. É nesta oportunidade que estes

devem interagir com os assuntos escolares e incentivar a criança a reestudar o que foi

aprendido em aula, sendo importante, que a criança aprenda desde pequena que é necessário

que haja um momento do dia para os estudos, mas este horário não deve ser logo após a

escola, pois é necessário também um momento para o lazer, refeições e descanso.

Dos sete aos nove anos de idade, as crianças estão ainda muito presas aos pais, pois

gostam de trocar idéias e, sobretudo há também as que gostam de fazer perguntas, pois sentem

em seus pais os seus protetores, e a quem vão pedir auxílio quando se sentem ameaçadas.

Aos nove anos, a criança se preocupa, cada vez mais, consigo mesma e tornam-se

mais independentes, procuram muito menos os seus pais e tendem a fazer amigos íntimos, ou

seja, acabam sendo extremamente sociáveis. O grande segredo da educação é a imitação, que

explica em parte porque muitas crianças agem como seus pais (WEIL, 1971).

Silva (2000) afirma que a consistência conjugal, isto é, o casal conversar para decidir

como se comportar em relação aos filhos e agir contingentemente, previne o surgimento de

problemas de comportamento dos mesmos (apud BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2002).

Enfim, nota-se que no decorrer da vida de uma criança, a relação com os pais

diminui com o passar dos anos, fazendo com que cada vez mais se tornem mais

independentes, surgindo assim suas relações interpessoais próprias.

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3.3 DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O desenvolvimento é compreendido como um processo contínuo de aprendizagem

que resulta de interações recíprocas entre o ambiente e o indivíduo. Tais interações estão

sempre se modificando, o que implica uma contínua reorganização do sistema indivíduo-

ambiente, sendo assim, pode-se refletir em três aspectos importantes do desenvolvimento. De

acordo com Bijou e Baer (1961, 1978 apud WEBER, 2008): 1) o foco é na mudança das

interações; 2) essas mudanças são progressivas e 3) essas mudanças ocorrem ao longo do

tempo e ao longo da vida de uma pessoa.

As características comuns entre o desenvolvimento humano e outros sistemas

dinâmicos são: 1) o desenvolvimento que envolve a relação entre comportamento e ambiente,

2) o ambiente afeta o indivíduo, como também o contrário, 3) a relação entre os elementos

estão em constante mudança, 4) existem múltiplas influências ou múltiplos determinantes

operando ao mesmo tempo, 5) múltiplas interações que se influenciam mutuamente, 6) pode

haver mudanças súbitas na sua taxa ou forma, sendo um desenvolvimento emergente e 6)

mudanças no comportamento podem ocasionar novos caminhos para o desenvolvimento

(NOVAK; PELÁEZ, 2004 apud WEBER, 2008).

O desenvolvimento humano não ocorre somente com o passar do tempo, mas sim,

com múltiplos fatores que afetam o comportamento, onde este desenvolvimento não é reflexo

da idade, mas possibilitado por ela, fazendo com que as relações funcionais presentes na

história de vida de cada pessoa é o que importam para o seu desenvolvimento (WEBER,

2008).

O nascimento é a chegada de um ser humano que, quarenta semanas antes, não

passava de uma única célula. Esse ser parece desamparado, e muitos dos seus atos dão a

impressão de não ter objetivo, mas, em breve seus movimentos estarão configurados em

numerosas habilidades. Dentro de semanas, ou mesmo de horas, esse ser mostrará

características que o identificam como uma personalidade ímpar, diferente de todas as demais.

Em um ou dois anos, estará apto a falar, e como ser social, não tardará a ficar profundamente

envolvido nos destinos de seus semelhantes. Ainda enquanto criancinha sentirá o influxo da

maior parte das emoções que repassam a vida de um adulto (JERSILD, 1977).

A idéia que temos hoje sobre a infância e os estilos de relação que temos com as

crianças são fenômenos relativamente novos. Durante séculos, as crianças estiveram longe de

ter a consideração social e os direitos que têm hoje (COLL e cols., 2008).

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A criança no decorrer de sua infância era vista apenas como mais um ser humano,

onde está não tinha o direito de estar entre as pessoas e ter um convívio social aceito.

Nos primeiros dois anos de idade o bebê estabelece o desenvolvimento da

inteligência chamado sensório-motora, um tipo de inteligência baseada na percepção da

realidade e na ação motora sobre ela, assim como para estabelecer uma nítida fronteira entre a

inteligência simbólica posterior (baseada na representação mental e na linguagem) e a

inteligência pré-simbólica dos bebês. Durante os quatro primeiros meses de vida, a atividade

do bebê gira em torno de seu próprio corpo, sem aparente interesse ou capacidade para se

relacionar com os objetos do entorno, razão pela qual Piaget citou o egocentrismo do recém-

nascido. Dos quatro aos oito meses de vida, é marcado o início do que poderíamos denominar

de extroversão cognitiva do bebê, isto é, a superação do egocentrismo inicial: a criança

começa a perceber que suas ações provocam conseqüências interessantes, mas acredita-se que

condutas realizadas nesta fase sejam semi-intencionais, pois muitos atos que o bebê apresenta

não pertencem ao repertório inato, mas foram construídos em interação com os objetos. Neste

período o bebê passa a sentar-se.

Dos oito aos doze meses, originam-se condutas crescentemente complexas,

consideradas condutas intencionais, o bebê estabelece relação com o meio em que vive, e tem

progresso nas imitações. Dos doze aos dezoito meses, a serviço da vocação de conseguir

equilíbrios cada vez mais complexos com o entorno, ocorre uma experimentação ativa,

imitações precisas de modelos que são presentes. A criança começa a caminhar. Entre os

dezoito e vinte e quatro meses, ela corre livremente. Ocorre uma fronteira entre o período

sensório-motor e o simbólico, (COLL e cols., 2004).

Segundo Weiten (2002), no desenvolvimento cognitivo, a permanência do objeto

desenvolve-se por volta dos dois anos, onde os bebês são capazes de ter um pensamento

simbólico. Apresenta respostas de orientação e atenção a novos estímulos, habituação a

estímulos repetitivos. O balbucio se apresenta cada vez mais com a linguagem falada. Já no

desenvolvimento social e da personalidade, a individualidade temporal é estabelecida até os

dois ou três meses, o vínculo com as pessoas que cuidam do bebê é evidente por volta dos seis

aos oito meses.

Na primeira infância, estipulada dos dois aos seis anos, as conexões entre neurônios

continuam a aumentar, o controle da bexiga e dos intestinos se estabelece e a preferência por

determinada mão ocorre por volta de três a quatro anos, a coordenação vai se aperfeiçoando e

as crianças passam a se vestirem sozinhas. O pensamento caracteriza-se pelo egocentrismo,

sendo também assinalado pela centração e irreversibilidade. O vocabulário aumenta

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dramaticamente e a memória de curto prazo dobra dos dois aos seis ou sete anos de idade. A

criança aprende os papéis de gêneros, onde seu comportamento social é influenciado pela

aprendizagem observacional, resultando de imitações. O mundo social é expandido para além

da família, formam-se também as primeiras amizades (WEITEN, 2002).

As crianças menores de seis anos adquirem uma série de novas habilidades

cognitivas que lhes permite entender e organizar o mundo de uma maneira muito mais ampla

e precisa do que os bebês. Apesar desses avanços, a competência cognitiva dessas crianças de

dois a seis anos apresenta algumas limitações se comparada com a das crianças do ensino

fundamental (COLL e cols., 2004).

A média infância, ocorre dos seis aos doze anos. Para Coll e cols. (2004) as crianças

nesta etapa possuem mais recursos para planejar e utilizar de forma eficiente, suas aptidões

quando se deparam com um problema, quando devem se lembrar de informações ou quando

devem ampliar seu nível de conhecimento sobre um tema específico. Durante esses anos, as

crianças adquirem maior consciência de seus pontos intelectuais fortes e fracos.

As crianças de seis a doze anos captam em quê consiste pensar e que diferença há

entre pensar bem e pensar mal (FLAVELL, 1993 apud COLL e cols., 2004), o que é uma

conquista cognitiva importantíssima.

Crianças nesta etapa desenvolvem conhecimentos amplos e organizados em

diferentes domínios específicos (domínio físico, numérico, biológico, psicológico, social).

Neste período é dado maior ênfase pela escola para aquisição e organização de diferentes

conhecimentos (lingüísticos, matemáticos, geográficos, físicos, sociais).

As crianças nesta fase desenvolvem descentração e reversibilidade, a consciência

metalingüística também é bem emergente e a memória de longo prazo melhora com o uso de

estratégias codificadas de ensaio e organização. No desenvolvimento social e da

personalidade, ocorre um aumento de habilidades sociais, e o desenvolvimento de

compreensão dos sentimentos dos outros, geralmente o mundo social é dominado por relações

de amizade do mesmo sexo (WEITEN, 2002).

Portanto, na medida em que as fases de desenvolvimento ocorrem diferentes

episódios e conseqüentemente evoluções, pois no início, os bebês, na sua grande maioria

convivem apenas com seus familiares. Na primeira infância, as crianças tendem a aumentar

seu círculo social, pois além dos familiares passam a ter convívio com coleguinhas da escola.

Na média infância, os estabelecimentos de experiências sociais tornam-se mais enriquecidos,

as novas informações acabam influenciando o modo de vida e gerando diversas mudanças.

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Sendo assim, não restam mais dúvidas para a ciência psicológica de que as práticas

educativas parentais influenciam o desenvolvimento dos filhos (WEBER, 2008).

3.4 EDUCAÇÃO DOS FILHOS E ESTILOS PARENTAIS

A educação é uma das mais importantes etapas e virtudes da vida de um ser humano,

onde cabe a família em primeiro lugar, apresentá-la e colocá-la à disposição dos princípios

necessários para o melhor desenvolvimento dos seus filhos, para que possa ser disponibilizada

da melhor maneira, ou seja, condizente para a sociedade e para sua sobrevivência.

Questões de disciplina também estão contidas no contexto de educação. Para

compreendermos o significado de disciplina, é necessário analisar a raiz latina da palavra:

discipulus ou discípulo. Essa palavra expressa melhor à relação ideal entre pais e filhos. O pai

ou a mãe age como mestre ou modelo, ajudando o filho a desenvolver o autocontrole, o

caráter, a conduta regular, o senso de valores, o bom senso, a empatia pelos seres humanos e

outras criaturas e, acima de tudo, a autodisciplina (BALTER; SHREVE, 1995).

Esses fatores citados acima podem ser considerados como objetivos parentais, sendo

importantes para o desenvolvimento do caráter psíquico e social de uma pessoa.

Disciplinar não significa apenas punir, forçar a submissão ou apontar maus

comportamentos; contudo tem relação com ensinar condutas adequadas; preocupar-se com o

outro, controlar e priorizar os desejos do outro antes dos próprios quando a ocasião assim o

exigir. Esses conceitos são melhor apreendidos quando se estabelece uma atmosfera de

mutualidade na família (BALTER; SHREVE, 1995).

Segundo estes autores, o respeitar mutuamente significa que a disciplina ocorrerá

num contexto de empatia, de amor, de proteção e de orientação, e que ela proverá a base sobre

o qual a criança poderá se situar para caminhar rumo a seu objetivo futuro a autodisciplina.

Balter e Shreve (1995) descrevem que a disciplina é um processo contínuo, e ocorre

durante uma série de momentos críticos em que as necessidades e os desejos dos filhos entram

em conflito com seus objetivos imediatos ou futuros.

Assim que nasce um filho, os pais costumam ficar totalmente fascinados: afinal,

deram a vida a um ser humano! Mas, na verdade, o bebê não é, ainda, um ser humano.

Digamos que ele seja um filhote de raça humana. Essa analogia com os animais é intencional:

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o bebê está muito mais próximo da natureza do que da cultura, das reações instintivas e

reflexas do que da vida em grupo, com suas leis e regras (SAYÃO, 2003).

A criança tem diversas necessidades, em especial nos primeiros dias ou meses de

vida, ela necessita de uma presença afetiva e efetiva dos pais na vida e na formação dos

primeiros hábitos.

Pois é justamente na relação com os pais, com a família e, principalmente, pela

educação que recebe, que esse bebê vai se tornar um ser humano; uma pessoa. O papel dos

pais é, portanto, ensinar essa criança a se tornar uma pessoa com virtudes - cada família

prioriza as suas - a saber, esperar e conviver, a enfrentar as vicissitudes da vida sem sucumbir

a elas, a ser corajoso a seguir em frente, a querer aprender, a ser cuidadoso com os que cercam

e a valorizar a vida (SAYÃO, 2003).

Ensinar tudo isso, é ao mesmo tempo, cuidar, proteger quando necessário, soltar

quando preciso, e isso só é possível se os pais assumirem seu papel de adultos responsáveis e

comprometidos com sua função, e de autoridade na educação dos filhos (SAYÃO, 2003).

Os pais sempre se preocupam com a questão do estabelecimento de regras para os

filhos. Mesmo no período de maior abertura dos últimos tempos, os pais, apesar de todas as

tentativas de proporcionar aos filhos liberdade de expressão e incentivar sua individualidade,

demonstram preocupação com o fato de poderem estar ou não estar estragando seus rebentos

(BALTER; SHREVE, 1995).

Cabe à família ser capaz de se reavaliar servindo como filtro para ver quais os

valores que devem ser mantidos, mesmo que seja preciso mudar a sua roupagem, pois os

valores são imutáveis (LOPES, 1987).

Os pais devem atuar diretamente sobre os filhos, a fim de atender às suas

necessidades básicas, oferecendo-lhes uma educação que irá desenvolver essas necessidades e

as potencialidades de cada um, preparando-os inclusive para viver, no futuro próximo, a sua

entrada na sociedade incorporando os valores que a sociedade lhe impõe, e sabendo escolhê-

los (LOPES, 1987).

Sayão (2003) considera que educar os filhos já é muito difícil, e educar

democraticamente é mais difícil ainda. Mas não há democracia sem proibição, sem repressão.

Claro que não se trata dessas repressões truculentas e policiais a que estamos, infelizmente,

acostumados a associar a palavra, mas da repressão que susta, que dosa, que modera, que

retém, que refreia, que inibe. A criança aprende aos poucos controlar seus impulsos, que na

maior parte das vezes são agressivos, quando estes são proibidos ou reprimidos. A repressão,

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a contenção os limites são necessários para uma convivência harmoniosa entre os entes da

família e perante a sociedade.

Os pais precisam lembrar que não é proibido proibir quando se educa. Além disso,

educar é agir no presente, pensando no futuro (SAYÃO, 2003). Essa educação começa dentro

do próprio lar em que se vive, é preciso ensinar e aprender entre os membros do núcleo

familiar, para que conseqüentemente esses aprendizados e ensinamentos sejam transmitidos

externamente, ou seja, dentro do convívio social.

O lar cuja palavra vem de lareira, aquecimento, calor humano, deve ser um

laboratório ou oficina, onde os filhos fazem suas experiências, treinando sua criatividade e sua

participação. Para isso, é necessário que o lar tenha segurança para que se sintam capazes,

amados e donos de seu espaço. O ambiente familiar, ou seja, o lar em que se vive, deve ter um

clima de educação e afeto entre seus moradores. O clima do lar educa tanto os pais quanto os

filhos. O clima formado com amor entre os pais, pode ser transmitido aos outros membros.

Com isso, enfatizar a comunicação, ou seja, o relacionamento familiar, pais-filhos,

ocorre por diversas formas, sendo estas caracterizadas como formadores da personalidade.

Como afirma Maldonado (1988), as diversas formas encontradas de comunicação são: ordens,

a ameaça, lição de moral, sugestões, o persuadir, negação da percepção, consolar, distrair e

conseqüentemente a fuga do problema, crítica e a ofensa, ridicularizar, o elogiar, as perguntas

e as mensagens contraditórias.

Há uma extensa revisão de literatura acerca da relação entre práticas educativas e

estilos parentais e diferentes aspectos do desenvolvimento dos filhos, tais como auto-estima,

autoconceito, competência social, depressão, ansiedade, comportamentos anti-sociais e de

risco.

Devido a estas diversas formas de comunicação, é possível notar como existem

diferentes de comunicação entre pais e filhos, ou seja, os seus estilos parentais, e, através da

escolha de convívio é possível notar como ocorre o desenrolar da família e seus membros.

Os papéis parentais têm uma imensa influência sobre o comportamento dos filhos,

entendendo o desenvolvimento como um processo dinâmico e funcional. Pais e filhos têm

capacidades para iniciar comportamentos e escolher estrategicamente métodos para

influenciar o comportamento uns dos outros, resistir a demandas que ameacem sua autonomia

ou bloquear objetivos (WEBER, 2008).

Segundo Del Prette e Del Prette (2007), existem diferentes dimensões de estilos

parentais que apontam os caminhos que levariam os pais a um relacionamento harmonioso e

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efetivo com seus filhos, assim como práticas parentais que produzem comportamentos anti-

sociais.

Oito variáveis foram selecionadas pelos autores acima para o estudo referente aos

estilos parentais, sendo que seis delas estão vinculadas ao desenvolvimento do

comportamento anti-social. São elas: negligência, abuso físico e psicológico, disciplina

relaxada, punição inconsciente e monitoria negativa e duas que promovem comportamento

pró-social: monitoria positiva e comportamento moral (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Com base nos trabalhos de Del Prette e Del Prette (2007), existem oito práticas

educativas descritas a seguir.

A Monitoria Parental, segundo Dishion e McMahon (1998 apud DEL PRETTE; DEL

PRETTE, 2007), é um conjunto de comportamentos parentais que envolvem a atenção para a

localização de seus filhos, para suas atividades e formas de adaptação. Essa definição é

similar a de um dicionário em que o verbo monitorar significa manter a guarda ou checar

como um meio de controle.

Snyder e Patterson (1987 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), sugerem que

os pais devem proporcionar às crianças um conjunto de regras sobre onde devem ir, com

quem podem associar-se, e quando devem ir para casa e ainda, “garantir o seguimento

obediente de tais regras e, além disso, ter uma ação disciplinar efetiva quando as regras são

violadas” (p. 226). Sendo assim, os pais devem utilizar uma disciplina consistente e controlar

ativamente os comportamentos de seus filhos e de suas companhias. Modelos teóricos sobre

práticas parentais demonstram que a monitoria inadequada se inicia quando o comportamento

disruptivo aparece na infância, e que se os pais não forem orientados, esse déficit em

supervisão conduzirá o adolescente à associação com pares desviantes, resultado provável

para o desenvolvimento de comportamento anti-social (REID et al., 1987 apud DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

O termo controle parental tem sido utilizado para descrever tanto os comportamentos

parentais quanto os estilos parentais. A regulamentação comportamental parental –

operacionalizada através da monitoria e da supervisão parental – e o uso do controle

psicológico parental são duas formas de controle que têm sido freqüentemente combinadas

para descrever diversos estilos parentais. A tipologia de Baumrind (1967, 1989 apud DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007) descreve: pais autoritativos, como aqueles caracterizados

pela ação calorosa e compreensiva, geralmente promovendo a autonomia psicológica e, ainda,

são firmes no estabelecimento de diretrizes comportamentais; em contraste com os pais

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autoritários que são caracterizados pela exigência acompanhada de baixos níveis de calor

(carinho) e autonomia psicológica.

Wright e Cullen (2001 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), afirmam que

práticas positivas como supervisão, estabelecimento de limites, posicionamentos claros em

relação às regras e relacionamento estreito entre os membros da família podem reduzir a

possibilidade de engajamento em comportamentos de risco. Embora o controle seja uma

importante variável a ser considerada diante de comportamentos anti-sociais, os autores

ressaltam também a necessidade de incluir o suporte ou apoio. Segundo eles, embora sejam

variáveis distintas, apoio e suporte estão correlacionados e seriam algumas das características

de pais autoritativos.

Stattin e Kerr (2000 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) recomendam o

controle ativo e alertam para que a vigilância seja “razoável”. Contudo, o termo monitoria,

refere-se à medidas que representam os esforços parentais para localizar e vigiar, ou seja,

avaliam o conhecimento parental.

De fato, os pais deveriam ter conhecimento sobre as atividades de suas crianças pelo

menos de três modos concebíveis. Primeiro, as crianças deveriam falar e contar aos pais

espontaneamente, sem qualquer persuasão (revelação infantil). Segundo, os pais deveriam

obter informações de suas crianças e de seus amigos através de solicitações. E terceiro, os pais

deveriam impor regras e restrições sobre as atividades infantis e sobre as companhias da

criança, controlando assim a quantidade de liberdade que a criança tem para fazer coisas sem

contar aos pais (controle parental) (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

As descobertas científicas sugerem que a comunicação parental é mais benéfica que

a vigilância e o controle. O apego é um importante fornecedor de segurança emocional e

inibidor de comportamentos agressivos. Mães hábeis em perceber e interpretar corretamente

os sinais emitidos pela criança e fornecer respostas imediatas, contingentes e apropriadas, têm

maior probabilidade de desenvolver em seus filhos a concepção de si mesmos como agentes

em termos de controlabilidade e previsibilidade nas situações que enfrentará. O apego (ou

falta de) também tem sido mostrado como uma das medidas preditoras de delinqüência

(BRENDA, WHITESIDE, 1995; SOKOL et al., 1997 apud DEL PRETTE, DEL PRETTE,

2007). O apego pode ser uma terceira variável que faz com que a criança queira contar aos

pais sobre suas vidas e é importante porque previne o envolvimento em problemas.

Segundo Stattin e Kerr (2000 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), a

monitoria tem sido relacionada a baixos índices de delinqüência, hábitos de fumar, usar

drogas e ter comportamentos infratores e altos níveis de revelação por parte do jovem, e

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foram relacionados com baixos níveis de comportamentos infratores, independentes da

solicitação e do controle parental. Com relação à solicitação parental, encontrou-se que

quanto mais os pais perguntam sobre as atividades de seus filhos, mais os mesmos apresentam

comportamentos infratores. Os achados sugerem que a relação entre monitoria e

comportamento anti-social existe não porque a vigilância reduz o comportamento anti-social

como tem sido proposto, mas porque a revelação do jovem é representada pela “monitoria”,

então, quando o jovem fala abertamente com seus pais tende a cometer menos atos anti-

sociais.

Os estudos de Pettit e Bates (1989 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007)

indicaram que o afeto somado a uma atitude educativa e positiva da mãe, estariam

consistentemente relacionados à ausência de problemas de comportamento, enquanto as

estratégias coercitivas e a ausência de um envolvimento positivo da mãe foram preditoras de

comportamento anti-social na infância.

O comportamento moral, apresentado por Del Prette e Del Prette (2007), demonstra

que dilemas humanos envolvendo honestidade, generosidade, justiça, compaixão, e outros

estiveram presentes em todos os tempos e culturas, e são inerentes à vida em comunidade.

Esta prática educativa parental procura investigar qual o efeito da transmissão desses valores

para a inibição do comportamento anti-social.

Para Piaget (1932 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), até cerca de sete a oito

anos, predominam para as crianças as noções de justiça como subordinada à autoridade

adulta. As etapas nas concepções de justiça revelam a existência de duas tendências morais

antagônicas que marcam todo o desenvolvimento moral da criança: a heteronomia ou moral

do dever e da obediência, e a autonomia ou moral do bem, do respeito mútuo. Estas por sua

vez, são praticamente determinadas pelas relações sociais que vivem as crianças. Se

predominarem relações de respeito unilateral, de coação do mais forte ao mais fraco, o moral

possível é o da obediência. Ao contrário, se a criança puder viver relações entre iguais,

relações de cooperação, pode surgir o moral da autonomia.

Outros trabalhos encontraram correlação positiva entre comportamento pró-social de

crianças e práticas maternas de educação voltadas para o desenvolvimento de empatia

(ZAHN-WAXLER; RADKE-YARROW; KING, 1979; EISENBERG et al., 1993 apud DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007). Outros estudos relacionam positivamente o comportamento

pró-social da criança com estilos parentais autoritativos (JANSENS; DEKOVIC, 1997 apud

DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), menor vulnerabilidade ao uso de drogas em

adolescentes apegados à figura paterna, lar cujo ambiente é saudável, aceitação de crenças

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sobre o bom comportamento e desaprovação paterna específica a certos comportamentos

(NURCO; LERNER, 1996 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

A literatura tem apontado a presença do sentimento de culpa, vergonha, empatia,

ações honestas, justas, ações generosas, crenças positivas sobre o trabalho e ausência de

práticas anti-sociais, como importantes determinantes do comportamento moral (DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Referente ao conceito de justiça existe a necessidade de aproximar o estudo dessas

concepções às próprias instituições de justiça da sociedade a que pertencem os sujeitos, é

necessário verificar como a própria justiça e concepções sobre ela são apresentadas aos

sujeitos no seu meio cultural, na forma de práticas ou de regras, leis ou princípios. Acredita-se

que noções como as de justiça não podem ser estudadas em abstrato, mas sempre referidas a

conteúdos levantados ou não pelo próprio sujeito, que descrevem sistemas de justiça vividos

no seu meio social (MENIN, 2000 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

A influência da escola no julgamento moral também tem sido evidenciada por

trabalhos como o de Menin (1985) e Araújo (1996 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE,

2007). Estes revelam que, no geral, que práticas autoritárias mantêm heteronomia moral na

criança, resultando em julgamentos por responsabilidade objetiva, realismo e rigidez moral,

concepções de justiça ancoradas na autoridade mais do que na eqüidade.

Loos; Ferreira e Vasconcelos (1999 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007),

defendem igualmente o papel da família como fundamental, sugerindo o fato de que após

haver uma transgressão por parte da criança e os pais terem apresentado as conseqüências do

seu ato, ela estaria mais propícia precocemente a ter sentimentos antecipados de culpa após

transgressões; isso seria um indicador do desenvolvimento de comportamento moral.

Schlinger (1995 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) afirma que pela vertente

teórica da análise do comportamento, a moralidade é uma especificidade comportamental

evocada nas pessoas, pelos contextos sociais, dependendo das contingências e reforçamento e

punição. Nessa perspectiva, a questão mais importante sobre comportamento moral não é “o

quê” ou “quando” acontece, mas sim, “como” ele ocorre e que variáveis o determinam. A

idéia é oferecer uma abordagem unitária, sem especulações ou inferências de eventos e

processos não observáveis.

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Como prática parental positiva, Kellerman (2002) descreve:

O aprendizado da moralidade não funcionará a menos que seja realizado numa atmosfera de genuíno calor humano e afetividade, primeiro, porque todas as crianças precisam ser ouvidas e avaliadas; segundo, porque uma das maneiras mais eficazes de ensinar é por meio de exemplo. Se quisermos transformar crianças de alto risco em seres humanos empáticos e solidários, elas precisam estar na extremidade receptora de empatia e solidariedade (KELLERMAN, 2002 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007, p. 31).

Em relação às ‘práticas educativas negativas’, Del Prette e Del Prette (2007)

apresentam um conjunto de seis práticas.

A primeira a ser apresentada é o abuso físico, onde o conceito de maus-tratos infantis

inclui o abuso físico, psicológico, sexual e a negligência. Gershoff (2002 apud DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007) apresentou cinco subitens para classificar maus-tratos: abuso

físico, abuso sexual, negligência física (falha em fornecer cuidados básicos e ausência de

supervisão), maus-tratos emocionais e morais, legais e educacionais. O subitem de

negligência pode incluir ainda negligência física, emocional, médica, de saúde mental e

educacional.

Gershoff (2002 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) apresenta uma distinção

entre punição corporal e abuso físico e define a punição corporal como,

(...) o uso de uma força física com a intenção de fazer uma criança sentir dor, mas não ser machucada, com o propósito de corrigir ou controlar o comportamento da mesma”; já o abuso físico “é o resultado potencial da punição corporal, caracterizado pelo socar, espancar, chutar, morder, queimar, sacudir ou por simplesmente machucar a criança (p. 32).

Comportamentos que não machucam fisicamente (como palmada e tapa) são

considerados punição corporal e são normalmente administrados em criança até cinco anos,

com freqüência de uma ou duas vezes ao mês (GERSHOFF, 2002 apud DEL PRETTE; DEL

PRETTE, 2007)

Para Haapasotoa e Pokelaa (1999 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007),

práticas parentais violentas têm sido consideradas como fatores etiológicos de problemas

sociais e psicológicos como comportamentos criminosos e distúrbios psiquiátricos em adultos.

Espancamentos, atitudes autoritárias, disciplina severa, rejeição, falta de monitoria e

supervisão, separação, divórcios, instabilidade, conflitos conjugais e características parentais

de comportamentos desviantes tais como a criminalidade, abuso de substâncias psicoativas.

Isso demonstra que embora a violência seja causada por múltiplos fatores, sua trajetória

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normalmente é cíclica. Strauss (1994 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) acredita que

a violência em uma esfera da vida de uma pessoa pode desencadear violência em outras

esferas, confirmando o que já foi postulado pelo senso comum: violência gera violência,

muitas vezes em proporções crescentes. É a chamada transmissão intergeracional de

violência.

A punição corporal e o abuso físico são dois pontos em contínuo, de modo que, se a

punição for administrada muito severa ou freqüentemente, ela ultrapassa a linha do abuso

físico. Os pesquisadores associaram os fatores como estresse, falta de apoio/sustento e

hostilidade como catalisadores para a passagem da punição ao abuso. Pais que administram

punição corporal tendem a ser abusivos verbalmente com seus filhos, através de insultos,

xingamentos e ameaças. Essa combinação pode promover o desenvolvimento de agressão,

delinqüência e comportamento anti-social nas crianças.

Gershoff (2002 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) classifica a punição em

dois tipos: quando ela é planejada, controlada, e não acompanhada de emoções fortes por

parte dos pais, é considerada Instrumental e quando é derivada do momento, acompanhada de

sentimentos de raiva e possivelmente fora do controle é chamada de Impulsiva. O primeiro

caso geralmente faz parte do repertório disciplinar da criança, e é um procedimento capaz de

deixá-la mais obediente; enquanto o segundo caso representa o último recurso disciplinar dos

pais, sendo, na maioria das vezes, esporádico e passível de deixar a criança com medo ou

brava com seus pais. O uso contínuo da Punição Impulsiva está correlacionado com o

desenvolvimento de comportamento anti-sociais em crianças e adolescentes.

Para pais e mães, a punição corporal mostra uma associação com comportamento

opositor/desafiador e uma relação inversa com práticas de controle caloroso. Del Prette e Del

Prette (2007) esclarecem que mães com baixo nível de controle caloroso usam mais

freqüentemente punição corporal e têm crianças com maior freqüência de condutas problema;

e o oposto é verdadeiro para mães com alto nível de controle caloroso. Para qualquer nível de

punição corporal usada pelos pais (homens) com alto controle a caloroso, os níveis de

delinqüência são menores que para os pais com baixo controle amoroso.

O abuso psicológico, considerado na literatura por abuso infantil, alguns autores

consideram que o abuso de poder e a falta de afeto são percebidos pelas crianças como se

estivessem em perigo, ou como se não fossem amadas. O abuso de poder através da punição

física (dar palmadas, bater), segundo Strauss (1994 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE,

2007), enquadra-se em abuso físico, enquanto a falta de afeto se encaixa melhor nos domínios

do abuso psicológico ou emocional. Este domínio, juntamente com a negligência, aparece na

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literatura com menos freqüência que os abusos físicos e sexuais, por ser mais sutil e de difícil

mensuração. Porém, na prática, o abuso emocional pode ser o mais freqüente dos tipos de

abuso infantil, e as conseqüências negativas dessa prática variam entre dificuldade no

desenvolvimento da autonomia e bons relacionamentos, baixa auto-estima e idealizações

suicidas.

Gershoff (2002 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), elencou vários tipos de

práticas disciplinares que representam o conceito de abuso psicológico em crianças. São elas:

confinamento de uma criança em um espaço pequeno, humilhação em público, “síndrome da

Cinderela”, ou seja, abuso verbal, coação de uma criança a cometer atos delinqüentes,

ameaças, negar tratamento psicológico, não permitir crescimento social e emocional e a não

promoção de uma atmosfera agradável e amorosa.

Por outro lado, a disciplina relaxada, é uma prática educativa que é caracterizada

pelo não cumprimento de regras estabelecidas. Os pais estabelecem as regras, ameaçam e

quando se confrontam com os comportamentos opositores e agressivos dos filhos, abrem mão

de seu papel educativo, retirando-se do embate (GOMIDE, 2003 apud DEL PRETTE; DEL

PRETTE, 2007).

Alguns estudos amplamente aceitos em criminalidade tem afirmado que os

problemas de conduta infantis são preditores de subseqüente envolvimento em

comportamento anti-social. Os resultados apontam que crianças que são agressivas e

desobedientes durante o início da escolaridade estão sob o risco de delinqüência durante a

adolescência (PATTERSON; REID; DISHION, 1992 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE,

2007). Devido a essas evidencias a mais recente revisão do DSM-IV afirma que o

comportamento opositor e desafiador durante a infância é um antecedente do

desenvolvimento de condutas de desordem durante a adolescência.

As propensões anti-sociais primeiramente emergem durante a infância e permanecem

estáveis durante o curso da vida. Tendências comportamentais como agressividade,

impulsividade e hiperatividade conduzem a comportamentos desafiadores e opositores na

infância, delinqüência na adolescência e comportamentos criminosos na idade adulta (DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

A perspectiva de traços latentes mostra que o comportamento parental é uma

importante causa da tendência anti-social da criança, de tal forma que o efeito da monitoria

parental tem sido em grande parte, limitado aos anos de infância. De acordo com Del Prette e

Del Prette (2007) para os adolescentes, as tendências anti-sociais do indivíduo são

supostamente estáveis e imunes às mudanças advindas das práticas parentais. Ambos,

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comportamento desafiador e opositor na infância e delinqüência na adolescência, são

considerados expressões de um traço latente anti-social e, o controle da qualidade da

monitoria parental durante a infância e adolescência deve ter pouco efeito sobre a associação

entre comportamento anti-social na infância e comportamento desviante durante a

adolescência.

Diante destas ocorrências, vale ressaltar o papel da família como o responsável pelo

estabelecimento dos padrões comportamentais infantis, pois, as crianças que possuem

comportamentos de agressividade e de oposição estão em situação de risco para o posterior

desenvolvimento de comportamentos delinqüentes durante a adolescência porque

freqüentemente são criadas em um ambiente em que as práticas parentais são inadequadas

(DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Vale lembrar que, a interação pais-criança é um processo recíproco. A inefetividade

parental aumenta a probabilidade da criança vir a ter problemas de conduta, mas o

comportamento de hostilidade na criança é freqüentemente seguido por uma redução do

esforço parental em monitorar e disciplinar seus filhos (PATTERSON; COLS, 1992 apud

DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007). Assim, as características pessoais dos pais e os

comportamentos inadequados das crianças se assemelham, aumentando as chances de uma

criança opositora\desafiadora estar exposta a práticas parentais ineficazes.

Dogde e cols. (1994 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), propõem que a falta

de disciplinamento a falta de monitoramento dos pais podem ser um meio de se encorajar os

filhos a perceberem a agressão e a violência como aceitáveis, ou como uma maneira

apropriada de atingir seus objetivos. Sendo assim, os altos índices de monitoramento parental

podem reduzir o risco de desenvolvimento futuro de comportamentos violentos em situações

de delinqüência e relacionamento íntimos.

As pesquisas de Kupersmidt; Coie e Dodge (1995 apud DEL PRETTE; DEL

PRETTE, 2007), sugerem que a delinqüência e a criminalidade no adulto são previstas por

modelos comportamentais infantis caracterizados como: agressivo, problemático e anti-social,

marcado por violações das regras escolares e das normas dos grupos em que estão inseridos.

Tais características estão correlacionadas com a rejeição social na infância, encontrados

estudos que retratam que a impopularidade na infância provavelmente será a base para uma

delinqüência futura.

Segundo Cavell (2000 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), falhas por parte

dos pais em estabelecer práticas de disciplina e monitoria podem levar ao comportamento

anti-social, assim como a disciplina demasiadamente severa.

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Com relação à monitoria negativa, convencionada de Supervisão Estressante

(GOMIDE, 2003 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), esta se caracteriza pela

fiscalização e ordens excessivas impostas aos filhos que em sua maioria não são obedecidas e

que geram uma relação pais-filhos baseada na hostilidade, insegurança e dissimulações.

Em contraste com a monitoria positiva e a regulamentação comportamental, o

controle psicológico refere-se às tentativas de controle que o inibem ou interferem no

desenvolvimento de independência e autodirecionamento da criança, a fim de manter a

dependência emocional aos pais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Assim, o uso extensivo do controle psicológico comportamental (indução de culpa,

retirada de amor) impede a emergência da autonomia psicológica (BARBER, 1996 apud DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Em continuidade a essa idéia, o uso do controle psicológico pelos pais, de acordo

com Barber e Harmon (no prelo apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), não traz

socialização normativa parental sobre metas e crenças, mas distúrbios intrapsiquicos, como os

originários da história de desenvolvimento de seus pais, em que estes precisam proteger seu

poder psicológico na relação pai-criança. Esse controle é realizado através de manipulação

emocional e limitações psicológicas entre a criança e os pais que se esforçam para impedir ou

deter a emergência da autonomia e o desenvolvimento do ego infantil.

O controle psicológico tem levado a um “impedimento” para a autonomia e para a

autoconfiança, o que acaba contribuindo para o aparecimento de sentimentos de angústia e

inadequação (BARBER, 1996 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007). É necessário que

se investigue os efeitos sobre a ansiedade e a depressão, além de se buscar as possíveis

correlações com a delinqüência e comportamentos anti-sociais.

A maioria dos modelos de monitoria “estressante” acarretam efeitos para os

adolescentes como, por exemplo, tendência a se unirem a pares anti-sociais o que

concomitante, aumenta o risco para a delinqüência (PATTERSON e cols., 1992 apud DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Pettit e cols. (2001 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), promoveram duas

predições com relação aos antecedentes do controle psicológico ou monitoria negativa.

Primeiramente, esse procedimento pode estar associado à utilização antecipada de práticas

educativas severas, e segundo, pode estar relacionado a relatos maternos de problemas de

comportamentos externalizantes precoces.

Mães que utilizam a severidade e a disciplina punitiva desde o início da infância dos

filhos estão mais propensas a serem psicologicamente intrusivas e manipuladoras durante os

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anos iniciais da adolescência de seus filhos. Conforme o argumento de Barber e Harmon (no

prelo apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) em algumas famílias há uma duradoura

hostilidade e falta de respeito com relação à autonomia desde o início da infância até a

passagem para a adolescência. Não está claro se os estilos parentais severos e restritivos

contribuem para posteriores conflitos sobre a autonomia do adolescente ou se os atributos que

acompanham a disciplina severa como a rejeição ou controle inefetivo e coercitivo são os

causadores de conflitos posteriores (BAUMRIND, 1989; PATTERSON e cols., 1992 apud

DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Existem duas possibilidades que podem explicar a relação entre disciplina severa, os

problemas externalizantes e o posterior uso de controle parental e ansiedade\depressão

(DODGE; COLS, 1994; PETTIT, COLS, 2001 apud DEL PRETTE, DEL PRETTE, 2007). A

primeira considera que pais que utilizam disciplina severa precocemente pretendem controlar

não somente o comportamento, mas controlar também a autonomia de seus filhos. Como

conseqüência, a disciplina severa parental pode transformar-se, posteriormente, em controle

psicológico parental. A possibilidade relacionada à esta situação, é que a hostilidade possa

estar presente em ambas: disciplina severa e controle psicológico podem ter diferentes

impactos sobre o ajustamento da criança dependendo da idade. Desde o início da infância,

quando a exigência de obediência é suprema, o provável resultado é de muita hostilidade que

pode ser: a não obediência, a resistência e outros tipos de comportamentos externalizados

(PATTERSON cols., 1992 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Barber e cols. (1994 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), propunham que o

uso parental de controle psicológico e de estratégias manipuladoras pode minar o

desenvolvimento da autonomia e do “senso de eu” dos adolescentes, além de contribuir para

o desenvolvimento de comportamentos ansiosos, medos excessivo, de insegurança e diversos

tipos de comportamentos ansiosos. Alternadamente, a ansiedade infantil pode aumentar de

acordo com a tendência de aumento das críticas parentais.

As atitudes de desconfiança para Matthews e cols. (1996 apud DEL PRETTE; DEL

PRETTE, 2007) parecem ser afetadas fortemente pela dinâmica negativa da família estão

associadas, por exemplo, com a percepção de pais punitivos ou de mães que não são firmes na

educação, ao ambiente familiar e amigos que não dão suporte. Os estilos de hostilidade e

expressão de raiva são desenvolvidos desde a infância, em parte como conseqüência das

interações negativas entre pais e filhos. Porém ainda não possível predizer se é a atitude do

pai em relação ao filho, ou a de ambos que prediz a hostilidade.

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Ao considerarmos a negligência, como um estilo parental negativo, podemos

perceber que a negligência causa um impacto no desenvolvimento infantil e pode ser

compreendida se as interações precoces entre pais negligentes e seus filhos forem examinadas

(KAIRYS et al., 2002 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Crittenden (1985 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), descreve os pais

negligentes como não responsivos e que se retiram das situações difíceis, as mães não aceitam

suas responsabilidades e são limitadas em competência. Eles ignoram a maioria dos

comportamentos da criança e respondem muito pouco às iniciativas de comunicação das

crianças. Estas, em geral, são muito passivas na infância e sofrem com déficits

comportamentais.

O comportamento reativo agressivo é suposto como sendo promovido pelo

comportamento parental em que há pobre apego no relacionamento por parte dos pais com a

criança, por exemplo: falta de calor e carinho na interação com a criança pode desencadear

sentimentos de insegurança, vulnerabilidade e eventual hostilidade e agressão em

relacionamentos sociais (DODGE, COLS, 1994 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Assim, a experiência de carinho por parte dos pais no relacionamento para com seus filhos

deve diminuir o risco do desenvolvimento futuro de violência nos relacionamentos íntimos

dos mesmos.

Bögels e cols. (2001 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) sugerem que fatores

como a falta de coesão familiar e do envolvimento da família em atividades sociais, podem

envolver três práticas parentais que podem levar ao medo social: a preocupação dos pais em

relação à opinião dos outros, o isolamento da criança por parte dos pais e a falta de

sociabilidade familiar. Para estes autores, existem comportamentos que podem acarretar no

desenvolvimento de ansiedade social como a falta de calor emocional e a superproteção. O

primeiro se caracteriza pela aceitação\aprovação física e verbal e à disponibilidade física e

mental dos pais, o que leva ao aumento da auto-estima e à diminuição da ansiedade social. O

segundo ocorre quando os pais impedem o desenvolvimento da autonomia de seus filhos ou

os isolam de experiências ambientais. Isso pode resultar em ansiedade social por vários

caminhos: a criança pode não ser capaz de desenvolver habilidades sociais porque sua própria

iniciativa é desencorajada ou por ser isolada de experiências sociais, ou então a criança

associa independência com vergonha porque os pais reagem com superproteção ou rejeição às

atitudes autônomas da mesma.

A ligação entre a carência afetiva e o crime, assertiva esta baseada na proposição de

que a carência prejudica fortemente a capacidade para constituir relações afetivas com os

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outros, ao desenvolvimento de comportamento infrator futuro, ou seja, o jovem que viveu em

ambiente com carência ou ausência de relações afetivas consistentes poderá prejudicar o outro

(a vítima) sem remorsos (FELDMAN, 1977 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007). A

vítima em potencial é o indivíduo que representa o algoz do adolescente ou que, simplesmente

nada significa. Isso porque os vínculos afetivos que sequer foram desenvolvidos com os pais

não poderão, portanto, ser generalizados para estranhos.

Por último, Gomide (1998 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), descrevem

que a punição inconsciente ou não contingente interfere, sobretudo na percepção do

indivíduo, prejudicando a sua avaliação no que se refere a efeitos que suas ações têm sobre os

outros e sobre o meio.

Como exemplo, o autor escreve que se a mãe pune a criança algumas vezes e outras

não, pelo mesmo comportamento, provavelmente o que está determinando sua conduta não é

a ação da criança, mas sim o estado emocional da mãe – mais ou menos calma. Neste caso,

não há interiorização de valores morais, ou seja, a criança não aprende o que é certo ou

errado, mas aprende a discriminar quando a mãe está nervosa. Em outro exemplo, Um pai ao

chegar em casa raivoso bate em seu filho, independentemente do que o filho esteja fazendo,

poderá conseguir desencadear na criança um sentimento de rejeição, e estará fazendo com que

a punição perca seu poder educativo, pois estará associada à falta de afeto e amor. Assim, a

criança aprende a discriminar o humor da mãe ou do pai e não o ato praticado, se bom ou

ruim, se adequado ou inadequado.

A baixa autoestima causada por esta prática educativa – onde a criança é punida por

algo independente de sua conduta – permite que ela seja mais facilmente conduzida a cometer

atos criminosos, por estar fragilizada (FELDMAN, 1977 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE,

2007).

Segundo Ol Dershaw; Walters e Hall (1986 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE,

2007), a socialização da criança torna-se comprometida quando os pais agem de forma

inconsciente, isto é, reagem positivamente tanto a comportamentos pró-sociais quanto anti-

sociais de seu filho. Da mesma forma, quando a punição exercida pelos pais perante

comportamentos aversivos das crianças apresenta-se de forma variável, observa-se a

permanência do comportamento indesejado. Estes autores encontraram que existe uma alta

correlação entre punição inconsciente e abuso físico. Isso ocorre porque os pais não fornecem

parâmetros efetivos, claros e permanentes acerca da adequação ou não de um comportamento

emitido pelo filho e, como conseqüência, perdem o controle sobre as atitudes dos mesmos,

utilizando-se da punição física como última tentativa de controlar a criança ou adolescente.

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Portanto, segundo Carvalho (2003 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), o

adequado pareamento entre o comportamento emitido pela criança e a ocorrência da punição

pelos pais e o acompanhamento do respectivo afeto envolvido, mostra o aspecto interacionista

dessa relação, pois a partir das configurações desta situação é que a criança vai assimilando o

significado e o valor de suas atitudes, guiando-se para determinadas respostas em situações

específicas. Se o pareamento for inconsistente e dependente do estado de humor momentâneo

dos pais, haverá dificuldade para que a criança adquira parâmetros para suas ações, agindo

futuramente de forma inadequada, gerando novamente diferentes emoções nos pais.

Outros autores como Baumrid (1971 apud FELDMAN, 2007) considera quatro

estilos de criação parental que resultam em quatro tipos de comportamentos dos filhos

conforme cada estilo. Pais autoritários são considerados rígidos e punidores, valorizam a

obediência sem permitir o questionamento de seus filhos. Eles possuem padrões estritos e

desincentivam manifestações de desacordo; então os comportamentos das crianças tendem a

não demonstrar sociabilidade, são inamistosas e relativamente distantes.

Os pais permissivos dão a seus filhos orientação indulgente ou inconsciente e,

embora carinhosos, exigem pouco deles. O comportamento dessas crianças acaba sendo

imaturo, melancólico, dependente e com pouco autocontrole. Por outro lado, os pais

disciplinados são firmes, determinam limites bem definidos, dialogam com seus filhos e lhes

fornecem explicações, fazendo com que essas crianças apresentem boas aptidões sociais,

simpatia, autoconfiança, independência (BAUMRID, 1971 apud FELDMAN, 2007).

Por fim, os pais que não se envolvem, demonstram pouco interesse por seus filhos e

são emocionalmente desvinculados, proporcionando apenas alimentação, vestuário e um lar

para as crianças, estarão contribuindo para que essas crianças se encontrem em pior situação

do que as de outros modelos, pois elas não se sentem amadas, são distantes emocionalmente e

seu desenvolvimento físico e cognitivo está comprometido.

Diante dessas explicações foi percebido que os diversos tipos de pais podem

influenciar na dinâmica familiar e conseqüentemente no comportamento social de uma

família.

Baumrind (1966 apud SALVADOR; WEBER, 2008) publicou outros trabalhos

discutindo os diferentes tipos de controle parental, que destacam três protótipos de estilos

parentais: 1) autoritativo: incentiva o diálogo e exerce firme controle reconhecendo os

interesses da criança; 2) autoritário: valoriza a obediência e usa medidas punitivas para

controle de comportamento; 3) permissivo: comporta-se de forma não-punitiva e apresenta-se

como fonte de realização dos desejos da criança. Neste trabalho a autora fala sobre os efeitos

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de cada tipo de controle sobre o desenvolvimento dos filhos, no qual o estilo autoritativo é o

que produz mais efeitos positivos para os filhos, com maior assertividade, maturidade,

conduta independente e responsabilidade social.

Karavasilis; Doyle e Markiewicz (2003 apud SALVADOR; WEBER, 2008)

demonstraram uma associação positiva entre os estilos parentais e o estilo de apego em

crianças e adolescentes. Foi verificado que o estilo autoritativo está associado ao apego

seguro relacionado a um maior nível de comportamento assertivo e de autoestima dos filhos,

enquanto os filhos de pais negligentes apresentam apego evitante e evitante-receoso

(SAKIYAMA; WEBER, 2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008).

As práticas parentais são comumente relacionadas à autoestima das crianças

(WEBER; STASIAK; BRANDENBURG, 2003; WEBER; TUCUNDUVA; PERÓN, 2006

apud SALVADOR; WEBER, 2008). O trabalho desses autores demonstrou que filhos com

elevada autoestima têm pais com maiores índices de envolvimento e afeto, uso de

reforçamento positivo e abertura ao diálogo, diferente dos filhos com baixa autoestima que

possuem pais que utilizam punições inadequadas e comunicação negativa com maior

freqüência.

Na pesquisa realizada por Rudy e Frusec (2006 apud SALVADOR; WEBER, 2008)

verificou-se a relação do afeto com a autoestima dos filhos, no qual o afeto negativo da mãe

esteve relacionado com baixa autoestima em crianças de famílias com origens culturais

diferentes, enquanto que os maiores índices de auto-estima estiveram associados a expressão

de afeto positivo.

Parish e McCluskey (1992 apud SALVADOR; WEBER, 2008) explicam em seu

trabalho a relação do autoconceito e auto-eficácia que também são fatores influenciados pelas

práticas parentais, concluindo que as atitudes autoritárias das mães podem influenciar

negativamente na autoeficácia dos filhos.

Izidoro et al. (2004 apud SALVADOR; WEBER, 2008) verificaram que práticas

parentais como afeto, envolvimento, reforçamento positivo, comunicação positiva e

apresentação de regras estão associadas positivamente com a auto-eficácia dos filhos,

enquanto o uso de punição inadequada está associada negativamente com os índices de

autoeficácia.

Outros autores relacionam as práticas parentais ao uso de estratégias de

enfrentamento (coping)1 da criança, em que a prática para facilitar estratégias de

                                                                                                                         1 O termo coping, original do inglês, é bastante utilizado pela comunidade científica brasileira, sendo que “seu significado se aproxima das expressões ‘lidar com’ou ‘enfrentamento’, ou seja, habilidades para lidar com ou

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enfrentamento mais adaptativas o monitoramento e apresentação de limites pelos pais, sendo

que no desenvolvimento de estratégias de enfrentamento ativas são apresentadas por

evidências da influência da afetividade (warmth)2 dos pais, como também dos estilos

parentais autoritativo e permissivo (CLARK; NOVAK; DUPREE, 2002; WOLFRADT;

HEMPEL; MILES, 2003; MEESTERS; MURIS, 2004 apud SALVADOR; WEBER, 2008).

Estudos mais recentes têm revelado os resultados da interação familiar relacionados

aos efeitos que podem ser gerados aos filhos.

As pesquisas discorrem sobre a interação familiar e depressão dos filhos, que,

conforme os resultados pode-se perceber que tanto o ambiente familiar, quanto a relação dos

pais, é de fundamental importância para a saúde mental e bem-estar dos filhos, sendo que no

estilo parental autoritário (DALING, 1999 apud SALVADOR; WEBER, 2008), práticas

coercitivas (MENEGATTI, 2002 apud SALVADOR; WEBER, 2008) e conflitos familiares

(SALLINEN e cols., 2004; SANDER; MCCARTY, 2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008)

podem gerar sintomas depressivos na infância e na adolescência (DARLING, 1999;

HEAVEN e cols., 2004; LIU, 2003; MENEGATTI, 2002; WEBER e cols., 2004 apud

SALVADOR; WEBER, 2008) e que também podem estar associados à falta de atenção

positiva dos pais. Sendo assim, o ambiente familiar não interfere somente na ocorrência de

sintomas depressivos, mas também na ansiedade.

De outro modo, foram realizados estudos sobre a interação familiar e ansiedade dos

filhos, concluindo que o autoritarismo dos pais (PACHECO e cols., 1999; WOLFRADT e

cols., 2003 apud SALVADOR; WEBER, 2008) e superproteção (MARKUS e cols., 2003;

TURNER e cols., 2003 apud SALVADOR; WEBER, 2008) são os fatores familiares que

estão mais associados à ansiedade dos filhos. Pode haver uma transmissão intergeracional da

ansiedade quando há ansiedade dos pais e dos filhos, sendo que não só as práticas parentais,

mas diferentes comportamentos dos pais podem exercer algum tipo de influência sobre os

filhos.

Nos estudos sobre interação familiar e problemas de internalização, externalização e

de ajustamento dos filhos, problemas de externalização estão comumente associados à falta de

monitoramento dos pais (AUNOLA; NURMI, 2005; BARBER e cols., 1994; CASAS e cols.,

2006; FERREIRA; MARTURANO, 2000; IRVINE e cols., 1999; LAMBORN e cols., 1991;

SALVO e cols., 2005; STEINBERG e cols., 1994 apud SALVADOR; WEBER, 2008), ao                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            enfrentar situações de estresse” (SAVÓIA; SANTANA; MIJIAS, 1996, p. 183 apud SALVADOR; WEBER, 2008) 2 Apresenta o próprio sentido da palavra, que em português é entendido por calor, quente, entusiasmo, cordialidade.

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uso de controle psicológico (AUNOLA; NURMI, 2005; CASAS e cols., 2006;

FINKENAUER e cols., 2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008) e ao uso de disciplina

inconsistente (GRANT e cols., 2006; LENGUA; KOVACS, 2005 apud SALVADOR;

WEBER, 2008). No entanto, os problemas de internalização foram mais associados ao uso de

controle psicológico (AUNOLA; NURMI, 2005; BARBER e cols., 1994; FINKENAUER e

cols., 2005; RENK e cols., 2006 apud SALVADOR; WEBER, 2008) e ao uso de práticas

coercitivas (INVINE e cols., 1999; OLIVEIRA e cols., 2002; RENK e cols., 2006; VITOLA e

cols., 2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008).

A interação familiar e os problemas de comportamento mais graves também são

temas importantes, porque dentre vários resultados encontrados, pode-se observar que houve

uma convergência dos dados citados anteriormente, referentes à interação familiar e aos

problemas de internalização, externalização e de ajustamento dos filhos, ressaltando que os

problemas de externalização também estão freqüentemente associados à falta de

monitoramento dos pais. A literatura ainda traz a associação de tais comportamentos dos

filhos com o uso de disciplina coercitiva por parte dos pais (HILL-SMITH e cols., 2002;

PATTERSON e cols., 1989; PATTERSON e cols., 1992; VERLAAN; SCWARTZMAN,

2002 apud SALVADOR; WEBER, 2008).

Trabalhos referentes à interação familiar e outros efeitos sobre os filhos, têm

revelado que as práticas parentais atuam em todo o processo de desenvolvimento de um

indivíduo, influenciando principalmente no desenvolvimento de seus valores (TEIXEIRA;

LOPES, 2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008), na maturidade psicossocial

(MANTZICOPOULOS; OH-HWANG, 1998 apud SALVADOR; WEBER, 2008) e

comportamentos como perfeccionismo (KAWAMURA e cols., 2002 apud SALVADOR;

WEBER, 2008) e procrastinação (FERRARI; OLIVETTE, 1994; WANT; KLEITMAN, 2006

apud SALVADOR; WEBER, 2008).

Acabam adquirindo maior destaque e preocupação por parte da comunidade

científica para os problemas de externalização e para os comportamentos antisociais ou de

risco, pois podem levar a um grande prejuízo à sociedade, à família e até mesmo ao próprio

indivíduo. Ao contrário, a promoção de comportamentos pró-sociais e saudáveis é resultado

de uma interação positiva dos filhos com os pais, incluindo afetividade, responsividade,

envolvimento e uso de contingentes de reforçadores positivos (SALVADOR; WEBER, 2008).

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O ambiente familiar e as práticas parentais podem tanto promover o desenvolvimento de comportamentos socialmente adequados, como também oferecer o surgimento de comportamentos-problema. O caminho a ser traçado dependerá de quais práticas são utilizadas e de que forma são utilizadas. Pesquisas, (...) demonstram que a ciência está trazendo indicativos fortes e consistentes sobre as melhores formas de ensinar e socializar as crianças, para que elas se tornem adultos felizes (BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2002 apud SALVADOR; WEBER, 2008).

 

Para que o ambiente familiar e as práticas parentais sejam favoráveis ao

desenvolvimento dos filhos, é necessário que os pais utilizem o reforço positivo3, pois

segundo Sidman (2001 apud SALVADOR; WEBER, 2008), esse reforçamento é uma fonte

fundamental para o controle de comportamentos que fortalece ações desejáveis que podem

substituir as ‘indesejáveis’. A utilização do reforçamento positivo aumenta a autoestima e o

otimismo dos filhos, fazendo com que se sintam mais competentes e capazes, diminuindo a

ocorrência de comportamentos inadequados que surgem para chamar a atenção dos pais

(WEBER, 2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008). “As famílias que praticam reforçamento

positivo desfrutam de um benefício adicional: raramente surgem motivos para punição”

(SIDMAN, 2001 pág. 251 apud SALVADOR e WEBER, 2008 pág. 72).

São considerados reforçadores positivos o cuidado, a atenção, a afeição e o carinho,

que devem ser mantidos e disponibilizados mesmo quando os filhos não conseguem enfrentar

uma eventualidade com êxito (SIDMAN, 2001 apud SALVADOR; WEBER, 2008). “Quando

o filho se sente amado pelos seus pais, torna-se muito mais fácil discipliná-lo” (SEVERE,

2000; WEBER, 2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008). Isso explica que pais afetivos

conseguem acompanhar melhoras as atividades realizadas pelos seus filhos.

Se os filhos se sentem à vontade para conversar com os pais é sinal de que o relacionamento está pautado essencialmente em contingências reforçadoras positivas e, como um resultado positivo, supõe-se que os pais podem oferecer ajuda e dar conselhos, com grande chave de serem ouvidos (...) a demonstração de afeto dos pais pode fazer com que a crianças se sinta amada, contribuindo para o desenvolvimento de maior auto-estima (BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2006 pág. 92 apud SALVADOR; WEBER, 2008 pág. 72).

                                                                                                                         3 Reforço positivo: produz sentimentos de satisfação e não de alívio, pois proporciona às pessoas algo que elas desejam (SIDMAN , 2001 apud SALVADOR; WEBER, 2008).

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48  

3.5 HABILIDADES SOCIAIS E PARENTAIS

Praticamente todas as teorias de desenvolvimento abordam a questão da socialização

e da importância das interações e relações sociais enquanto fatores de saúde mental e

desenvolvimento.

Atualmente vivemos em uma sociedade que se modifica rapidamente. A cada dia nos

deparamos com novas situações que exigem novos conhecimentos, com isso, a infância se

torna um período de extrema importância para o aprendizado de novos conhecimentos, para

que ocorra um ajustamento psicossocial adequado e de perspectivas que sejam positivas para

o desenvolvimento, ou seja, competências sociais que sejam necessárias para o momento

presente da vida da criança como em um momento futuro.

Para tal conceito, são encontradas inúmeras definições sobre o que constitui um

comportamento socialmente hábil verdadeiramente claro. O desenvolvimento social do

indivíduo inicia-se no nascimento e há evidências de que o repertório de habilidades sociais se

torna progressivamente mais elaborado ao longo da infância (HOPS, 1983).

O estudo do campo teórico-prático do Treinamento de Habilidades Sociais (THS) é

importante, pois segundo Caballo (1997), os seres humanos passam a maior parte de seu

tempo engajados em alguma forma de comunicação interpessoal e, ao serem socialmente

habilidosos, são capazes de promover interações sociais satisfatórias. Embora não haja

consenso quanto à definição de habilidades sociais (HS), o termo HS geralmente é usado para

designar um conjunto de capacidades comportamentais aprendidas que envolvem interações

sociais (CABALLO, 1995; DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999).

Para Del Prette e Del Prette (1999), as habilidades sociais abrangem relações

interpessoais, incluindo a assertividade (expressão apropriada de sentimentos negativos e

defesa dos próprios direitos) e as habilidades de comunicação, de resolução de problemas

interpessoais, de cooperação e de desempenhos interpessoais nas atividades profissionais.

A habilidade social deve ser considerada dentro de um contexto cultural

determinado, e os padrões de comunicação variam de forma ampla entre culturas ou dentro de

uma mesma cultura, dependendo dos fatores como idade, sexo, classe social e educação.

O termo Habilidades Sociais, muitas vezes, é considerado erroneamente como

sinônimo de assertividade, pois, segundo Del Prette e Del Prette (1999), o campo do THS é

mais amplo e promovem resoluções de problemas e habilidades de comunicação, além de

expressão de sentimentos negativos e defesa dos próprios direitos. Porém, apesar desta

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distinção, os termos são comumente utilizados como sinônimos (CABALLO, 1996; DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 1999; FALCONE, 1998).

O desempenho social refere-se a qualquer tipo de comportamento emitido na relação

com outras pessoas. Ele inclui tanto os desempenhos que favorecem como os que interferem

na qualidade dos relacionamentos (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009).

O termo habilidades sociais, geralmente é utilizado no plural, aplica-se às diferentes

classes de comportamentos sociais do repertório de um indivíduo, que contribuem

para a competência social, favorecendo um relacionamento saudável e produtivo

com as demais pessoas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009).

O desempenho das habilidades sociais tem alta probabilidade de obter conseqüências

reforçadoras imediatas no ambiente social. As características específicas de um desempenho

social, que o tornam indicativo de uma habilidade social, dependem de fatores da situação, da

pessoa e da cultura. Esses fatores podem influenciar tanto a topografia (forma) como no

funcionamento (efetividade) do desempenho social e, ainda, a decisão pelo enfrentamento ou

pela fuga\esquiva da situação interpessoal (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009).

Comportamento socialmente habilidoso ou mais adequado refere-se à expressão,

pelo indivíduo, de atitudes, sentimentos (positivos e negativos), opiniões, desejos, respeito a

si próprio e aos outros, existindo, em geral, resolução dos problemas imediatos da situação e

diminuição da probabilidade de problemas futuros (CABALLO, 1996). O comportamento

socialmente habilidoso implica nas seguintes capacidades: iniciação e manutenção de

conversações; falar em grupo; expressar amor, afeto e agrado; defender os próprios direitos;

solicitar favores; recusar pedidos; fazer e aceitar cumprimentos; expressar as próprias

opiniões, mesmo os desacordos; expressar-se justificadamente quando se sentir molestado,

enfadado, desagradado; saber se desculpar ou admitir falta de conhecimento; pedir mudança

de comportamento do outro e saber enfrentar as críticas recebidas (CABALLO, 1996). As

situações em que estas respostas podem ocorrer são muitas e variadas, como, por exemplo,

ambientes familiares, de trabalho, de consumo, de lazer, de transporte público, de formalidade

etc. É comum, em THS, o esclarecimento quanto às formas de se comportar, analisando as

conseqüências para a resolução de problemas e relacionamento interpessoal.

Quanto ao ambiente familiar, pode-se dizer que tanto pode promover

comportamentos socialmente adequados, como favorecer o surgimento e/ou manutenção de

comportamentos inadequados.

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50  

Para Del Prette e Del Prette (1999), a infância é um período crítico para a

aprendizagem de HS, à medida que os pais tanto modelam quanto fornecem instruções

específicas para tais comportamentos. Falhas na aprendizagem do comportamento social, para

os autores acima, podem ocorrer devido à vários fatores, entre eles: a) relações familiares

pobres, com pais agressivos ou pouco empáticos, fornecendo modelos inadequados de

interações; b) práticas educativas que favorecem dependência e obediência, ao mesmo tempo

que restringem ou punem iniciativas de comportamentos sociais da criança. O conhecimento

do campo do THS ajuda a compreender vários aspectos da relação pais-filhos e das práticas

educativas, entre eles: a) a relação entre desempenho interpessoal e cognições; b) a

interferência da forma de compreensão dos próprios papéis na manutenção de relações

positivas entre pais e filhos; c) a importância da assertividade para a manutenção de diálogos

e resolução de problemas de forma positiva e efetiva; d) a auto-observação dos modelos de

interação e as relações estabelecidas entre os membros da família; e) a aprendizagem da

leitura do ambiente social no favorecimento de percepção adequada do mesmo e f) a

identificação da expressão de sentimentos positivos na formação de autoconceito satisfatório

da criança (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999).

As situações interpessoais podem ocorrer em diversos contextos, como, por exemplo,

o familiar, o de lazer, o escolar e o profissional. Em cada contexto esperam-se determinados

desempenhos, que, por sua vez, exigem um amplo repertório de habilidades sociais do

indivíduo. A infância é um período decisivo para o aprendizado de habilidades sociais (DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 1999), e por isso o contexto familiar, o envolvimento e o

desempenho dos pais são fundamentais para o estabelecimento de relações educativas que

efetivamente promovam o desenvolvimento social dos filhos.

A interação entre indivíduo e ambiente social está na base da construção das relações

sociais; portanto, pessoas socialmente habilidosas são capazes de promover interações sociais

mais satisfatórias (CABALLO, 1996).

Em relação ao aspecto de competência social dos filhos, os trabalhos têm apontado

que pais mais sensíveis promovem maior segurança emocional e competência social em seus

filhos (BELSKY, 1984; BASTOS et al., 1999; DARLING, 1999; KRENICHYN; SAEGERT;

EVANS, 2001; LOHR, 2003; WEBER et al., 2004 apud SALVADOR; WEBER, 2008),

verificaram que o desenvolvimento de competências está relacionado aos fatores familiares:

responsividade emocional e verbal da mãe, envolvimento materno com a criança, ausência de

punição e restrição e variedade de estimulação com recursos físicos. Filhos de pais

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autoritativos e indulgentes desenvolvem melhores habilidades sociais, sendo que o mesmo

não ocorre com filhos de pais autoritários.

É possível concluir que a figura dos pais e as práticas parentais utilizadas exercem

grande influência para o desenvolvimento de habilidades sociais da criança, sendo que Weber

e cols. Observaram que práticas parentais de reforçamento positivo, apresentação de regras e

comunicação familiar positiva está associado às habilidades sociais dos filhos.

3.6 LEIS DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA)

Art. 1º Esta lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.

A proteção integral tem como fundamento a concepção de que crianças e

adolescentes são sujeitos de direitos, frente à família, à sociedade e ao Estado. Rompe com a

idéia de que sejam simples objetos de intervenção no mundo adulto, colocando-os como

titulares de direitos comuns a toda e qualquer pessoa, bem como de direitos especiais

decorrentes da condição peculiar de pessoas em processo de desenvolvimento.

Art. 2º Considera-se crianças, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de

idade incompletos e adolescentes aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à

pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes,

por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o

desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e

dignidade.

Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público

assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à

alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao

respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária.

Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de

negligencia, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da

lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Art. 15 A criança e o adolescente tem direito a liberdade, ao respeito e à dignidade

como pessoas humanas em processo de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis,

humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis.

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Art. 18 É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a

salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

2. As práticas mencionadas no final deste artigo atentam contra a honra e

respeitabilidade da criança ou adolescente, podendo comprometer o desejado

desenvolvimento sadio e harmonioso (art. 7º), nos seus aspectos físico, mental, moral,

espiritual e social (art. 3º).

Art. 19 Toda criança ou adolescente tem direito a ser criado e educado no seio da sua

família natural e, excepcionalmente, em família substituta, assegurada a convivência familiar

e comunitária, em ambiente livre da presença de pessoas dependentes de substâncias

entorpecentes.

Art. 22 Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e educação dos filhos menores,

cabendo-lhes, ainda, no interesse destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as

determinações judiciais.

1. Prescreve a CSDC que a educação, da qual os pais participam juntamente com a

escola, “deverá estar orientada no sentido de: a) desenvolver a personalidade, as aptidões e a

capacidade mental e física da criança em todo o seu potencial; b) incumbir na criança o

respeito aos seus pais, à sua própria identidade cultural, ao seu idioma e aos seus valores, aos

valores nacionais do país de origem e ao das civilizações diferentes da sua; d) preparar a

criança para assumir uma vida responsável numa sociedade livre, com espírito de

compreensão, paz, tolerância, igualdade de sexos e amizade entre todos os povos, grupos

étnicos, nacionais e religiosos e pessoas de origem indígena; e) imbuir na criança o respeito

ao meio ambiente”.

Art. 25 Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer

deles e seus descendentes.

1. Família biológica, consangüínea, na qual a criança ou adolescente tem o direito

de ser criado e educado (art. 19)

Art. 53 A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o

trabalho, assegurando-lhes:

I. Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II. Direito de ser respeitado por seus educadores;

III. Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias

escolares superiores;

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IV. Direito de organização e participação em entidades estudantis;

V. Acesso a escola pública e gratuita próxima de sua residência;

Parágrafo único: É direito dos pais ou responsáveis ter ciência do processo

pedagógico, bem como participar da definição das propostas educacionais.

Art. 71 A criança e o adolescente tem direito a informação, cultura, lazer, esportes,

diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa

em desenvolvimento.

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4 METODOLOGIA

O presente trabalho busca alcançar seus objetivos através da aplicação de uma

pesquisa exploratória do tipo descritiva. Segundo Selltiz (1967 apud GIL, 2002), a pesquisa

do tipo exploratória descritiva tem como função proporcionar maior familiaridade com o

problema, buscando torná-lo mais explícito ou a criar hipóteses, podendo ser bastante flexível

com o caso a ser estudado.

Procura-se comparar o problema estabelecido com pesquisas bibliográficas e o

Inventário de Estilos Parentais (I.E.P.), sob autoria de Gomide (2006). Com isso, foi

necessário entrar em contato com familiares responsáveis para a autorização da aplicação do

instrumento e com crianças para responder a respeito da relação familiar e, em seguida

correlacionar os resultados obtidos com a literatura a respeito deste tema.

Deste modo, foi possível identificar as características dos estilos parentais, as

dinâmicas na educação dos filhos, e os princípios determinantes para a convivência familiar.

4.1 SUJEITOS

Para a participação desta pesquisa foram necessários dez participantes, de ambos os

sexos, com idade entre nove e doze anos incompletos, sendo cinco do sexo feminino e cinco

do sexo feminino. Todos foram contactados a partir do convívio pessoal e social dos

pesquisadores através do conhecimento prévio da constituição família, sendo que para esta

pesquisa foram enquadradas famílias do tipo nuclear.

4.2 INSTRUMENTOS

Para a tomada das informações do presente trabalho, foi utilizado o Inventário de

Estilos Parentais - IEP (GOMIDE, 2006), que tem por objetivo estudar o estilo utilizado pelos

pais na educação de seus filhos, na percepção deles próprios. O inventário é composto de 42

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questões que correspondem às sete práticas educativas do modelo. Para cada pratica

educativa, foram elaboradas seis questões distribuídas espaçadamente ao longo do inventário.

São duas práticas educativas positivas: (A) monitoria positiva e (B) comportamento moral, e

cinco práticas educativas negativas: (C) punição inconsciente, (D) negligência, (E) disciplina

relaxada, (F) monitoria negativa e (G) abuso físico.

O IEP utilizado para este trabalho foi do tipo em que os filhos respondem sobre as

práticas educativas utilizadas por seus pais. Neste caso, são dois inventários, sendo, o

primeiro quando o filho responde sobre as práticas educativas paternas, Práticas parentais

paternas, e o segundo conforme as práticas educativas maternas, denominada como Práticas

parentais maternas. As questões são basicamente as mesmas e adaptadas de acordo com o

tipo de respondente.

As questões deveriam ser respondidas de acordo com alguns critérios, tais como:

nunca, às vezes e sempre, que estão relacionados com a freqüência de ação dos pais em

determinadas situações.

Este inventário não está anexado ao presente estudo, uma vez em que é de uso

exclusivo do psicólogo, como condiz na lei CPF No 010/05 que regulamenta a profissão do

psicólogo

Art. 18 – O psicólogo não divulgará, ensinará, cederá, emprestará ou venderá a leigos instrumentos e técnicas psicológicas que permitam ou facilitem o exercício ilegal da profissão.

Como instrumentos de pesquisa, também foram utilizados livros, artigos científicos,

documentos eletrônicos.

4.3 LOCAL

A coleta de dados foi realizada nas dependências da clínica de Psicologia da

Universidade de Ribeirão Preto - UNAERP, que contém salas para atendimento individuais

que preservam a privacidade dos participantes.

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56  

4.4 PROCEDIMENTOS

Após a seleção dos participantes, realizada pelas pesquisadoras, foram agendadas

datas e horários para a aplicação do Inventário de Estilos Parentais (I.E.P.), explicitando os

objetivos do presente trabalho, apresentando o TCLE (Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido), a ser assinado pelos responsáveis, e posteriormente explicitando os objetivos do

presente trabalho em casa encontro.

Durante a aplicação do I.E.P estiveram presentes na sala destinada para este fim,

apenas os pesquisadores e a criança participante.

 

4.5 ANÁLISE DE DADOS

A tabulação dos dados obtidos por meio do IEP foi feita utilizando a folha de

respostas que contém sete práticas educativas que estão presentes no instrumento. Cada

resposta possui diferentes valores, sendo que, nunca recebe o valor de 0, às vezes recebe o

valor de 1 e sempre recebe valor de 2. Cada prática educativa receberá o valor máximo de 12

pontos e o mínimo de 0 pontos.

Os dados obtidos após a aplicação do Inventário de Estilos Parentais, e no decorrer

deste estudo, foram analisados e avaliados qualitativamente. Os dados qualitativos foram

interpretados através da exploração do material e pela interpretação dos resultados, a fim de

que possa ser elaborada uma interlocução entre os dados obtidos e junto com a teoria baseada

no mesmo tema, traçar um paralelo entre estes dados e obter uma perspectiva ampla e

detalhada do tema.

4.6 ASPECTOS ÉTICOS

Os aspectos éticos serão considerados por meio da obtenção dos termos de

consentimento assinados, a fim de obter a autorização dos responsáveis para a participação

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neste estudo. Através desde termo, será resguardado o direito à privacidade dos indivíduos

envolvidos, estando garantidos o sigilo e o anonimato das informações, sendo os dados

divulgados apenas para fins de pesquisa.

Será explicado aos participantes que poderão receber esclarecimentos sobre este

estudo antes, durante ou após sua realização, e também será esclarecido que os eventuais

participantes poderão vir a recusar ou interromper sua participação a qualquer momento dessa

pesquisa. Além disso, o trabalho não apresenta risco de qualquer natureza, seja física ou

psicológica.

As atividades práticas deste projeto serão pautadas segundo as normas éticas

estipuladas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisas com seres

humanos.

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58  

5 RESULTADOS

 

 

O presente estudo buscou investigar, com base no Inventário de Estilos Parentais –

I.E.P (GOMIDE, 2006) respondidos por dez crianças de nove a doze anos incompletos, de

ambos os sexos, de maneira que são percebidos as práticas educativas parentais utilizadas por

seus pais para sua educação.

O Inventário de Estilos Parentais é composto por quarenta e duas questões

correspondentes às sete práticas educativas que são pertencentes a este modelo. Dentre estas

práticas, duas são consideradas como sendo práticas educativas positivas (monitoria positiva e

comportamento moral) e as outras cinco como práticas educativas negativas (punição

inconsciente, negligência, disciplina relaxada, monitoria negativa e abuso físico).

A cada prática respondida, o máximo obtido por pontuação é de doze pontos e o

mínimo de zero ponto. Seguindo o critério de que a cada dez episódios, a mãe ou pai agiu

daquela forma entre 0 ou 2 vezes, considerar 0 (nunca); entre 3 e 7 vezes, respondendo 1 (às

vezes); entre 8 a 10 episódios, considerar 2 (sempre). Após o cálculo de soma de cada prática

educativa, faz-se um cálculo onde se subtrai as práticas negativas (P.I. + N. + D.R. + M.N. +

AF) das práticas positivas (M.P. + C.M.), para a obtenção do Índice de Estilo Parental (iep).

A interpretação dos resultados foi feita, através do estilo parental que mais se

sobressaiu, considerando-se o índice mais predominante, ou seja, os de práticas parentais

negativas se referem às práticas educativas consideradas negativas ou os de práticas parentais

positivas que se referem às práticas educativas consideradas positivas. O iep pode variar de -

60, onde há a ausência de práticas positivas e presença total de práticas negativas, a de +24,

aponta a ausência de práticas negativas e a presença total de práticas positivas.

Foram levantados os resultados sobre o estilo utilizados pelos pais, de acordo com a

opinião dos filhos, considerando o pai e a mãe. A seguir, seguem as abreviaturas das sete

práticas educativas existentes no Inventário de Estilo Parentais e as tabelas com os resultados

obtidos pelas respostas das crianças a partir da correção dos mesmos.

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59  

Abreviações M.P.: Monitoria Positiva C.M.: Comportamento Moral P.I.: Punição Inconsciente N.: Negligência D.R.: Disciplina Relaxada M.N.: Monitoria Negativa A.F.: Abuso Físico

TABELAS: Representação abaixo dos resultados obtidos através da aplicação em crianças do

Inventário de Estilos Parentais (I. E. P). A pontuação máxima obtida em cada prática

educativa é de 12 pontos e a pontuação mínima é de zero pontos. O percentil apresentado em

porcentagem refere-se ao estilo parental, descrito de maneira corrida em que o estilo parental

dos pais se encontram.

Tabela 1:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

L. 9 anos 12 10 3 2 2 10 2 45% / IEP: 3

Na tabela 1, o percentil apresentado diz respeito a um Estilo Parental Regular, porém

considerado abaixo da média. Esta mãe, diante da visão do filho, demonstra ter mais práticas

parentais positivas (22 pontos) do que negativas (19 pontos), mas demonstra ambivalência

pelo fato da maior pontuação positiva ser na monitoria positiva (M.P.) e a maior pontuação

negativa ser na monitoria negativa (M.N.). Por isso considera-se o percentil próximo de 50%,

pois varia o estilo de acordo com determinadas situações.

Tabela 2:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.      C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

L. 9 anos 8 11 2 3 2 4 3 55% / IEP: 5

A tabela 2 também apresenta um percentil referente a um Estilo Parental Regular,

porém acima da média. A visão do filho perante as práticas educativas do pai demonstra ter

mais práticas parentais positivas (19 pontos) do que negativas (14 pontos). Nota-se que não há

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60  

um valor considerado alto nas práticas negativas, sobressaindo o comportamento moral

(C.M.) como prática positiva.

Tabela 3:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.      C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

G. 11 anos 12 10 6 3 1 6 2 50% / IEP: 4

Os resultados da tabela 3 demonstram um Estilo Parental Regular, porém abaixo da

média, com maior relevância às práticas educativas positivas (22 pontos) do que negativas (18

pontos). Nota-se um maior uso de práticas positivas, sendo as práticas negativas de maior

pontuação a punição inconsciente (P. I).

Tabela 4:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.      C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

G. 11 anos 10 10 6 2 1 3 2 60% / IEP: 6

A tabela 4 também apresenta um percentil de Estilo Parental Regular, acima da

média, sendo que na visão do filho, o pai apresenta mais práticas positivas (20 pontos) do que

negativas (14 pontos). Pode-se perceber que a monitoria positiva (M.P.) e o comportamento

moral (C.M.) se sobressaem como práticas positivas, sendo a punição inconsciente (P.I.) a que

apresenta maior pontuação nas práticas negativas.

Tabela 5:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.      C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

E. 9 anos 11 12 5 1 5 9 2 35% / IEP: 1

Na tabela 5, o percentil apresentado é referente a um Estilo Parental Regular, abaixo

da média. Segundo o filho, a mãe apresenta mais práticas positivas (23 pontos) do que

negativas (22 pontos). Nota-se que há muita proximidade de ambas as práticas, mesmo

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considerando que há uma pontuação muito alta de práticas positivas. A pontuação de práticas

negativas também acompanha, o que acaba levando ao baixo percentil do IEP.

Tabela 6:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.      C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

E. 9 anos 10 9 4 2 6 8 4 20% / IEP: -5

Já neste caso, a tabela 6 aponta um Estilo Parental de Risco, apresentando, segundo a

visão do filho sobre o pai, mais práticas educativas negativas (24 pontos) do que positivas (19

pontos), devido à pontuação de monitoria negativa (M.N.).

Tabela 7:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

M. 11 anos 9 9 3 5 2 8 3 20% / IEP: -3

Na tabela 7, o percentil apresentado também diz respeito a um Estilo Parental de

Risco. A visão do filho sobre a mãe apresenta mais práticas educativas negativas (21 pontos)

do que positivas (18 pontos). Devido a pontuação da monitoria negativa (M. N.).

Tabela 8:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

M. 11 anos 9 10 1 2 4 8 4 35% / IEP: 0

Na tabela 8, o percentil apresentado diz respeito a um Estilo Parental Regular, abaixo

da média, demonstrando haver mais práticas positivas (19 pontos) e negativas (19 pontos). O

percentil encontra-se baixo e abaixo da média, pois há maior incidência de abuso físico

(M.N.).

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Tabela 9:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

L.G. 9 anos 12 10 2 0 2 2 0 95% / IEP: 16

Este caso, na tabela 9, foi caracterizado como Estilo Parental Ótimo. Esta mãe

apresenta como práticas positivas (22 pontos) do que negativas (6 pontos), na opinião do

filho. Com essa divergência entre as práticas, nota-se que o que não ocorre em nenhuma

situação é a negligência (N.E.) e o abuso físico (A.F.).

Tabela 10:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.        C.M.              P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

L.G. 9 anos 12 8 2 0 1 1 1 95% / IEP: 15

A tabela 10, relacionada à mesma criança da tabela 9, também apontou um percentil

caracterizado como Estilo Parental Ótimo em relação ao pai, demonstrando o maior uso de

práticas educativas positivas (20 pontos) do que negativas (5 pontos). Neste caso foi

encontrado apenas um ponto em abuso físico, que pode ser considerado pouco, pois está bem

próximo ao nulo.

Tabela 11:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

G. 10 anos 12 4 4 7 2 4 0 25% / IEP: -1

O estilo parental da tabela 11 foi caracterizado mais precário, sendo também

caracterizado como Estilo Parental de Risco. Segundo a visão do filho, a mãe apresenta mais

práticas educativas negativas (17 pontos) do que positivas (16 pontos). Mesmo a pontuação

sendo baixa, é considerada de risco, pois há alto índice de negligência (N.).

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Tabela 12:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

G. 10 anos 12 3 2 9 4 4 3 15% / IEP: -7

A tabela 12, como na tabela 11, também demonstra um percentil de Estilo Parental

de Risco. Onde o pai, apresenta mais práticas educativas negativas (22 pontos) às práticas

positivas (15 pontos). Demonstrando alto índice de negligência (N.).

Tabela 13:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

M.E. 10 anos 12 3 0 11 3 6 0 15% / IEP: -6

Na tabela 13, o percentil é caracterizado como Estilo Parental de Risco. Esta mãe,

perante a visão do filho, apresenta mais práticas educativas negativas (20 pontos) do que

práticas positivas (15 pontos), apresentando alta pontuação de negligência (N).

Tabela 14:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

M.E. 10 anos 12 3 2 10 3 6 3 15% / IEP: -9

A tabela 14 demonstra um percentil que diz respeito ao Estilo Parental de Risco. Este

pai apresenta mais práticas educativas negativas (24 pontos) do que práticas educativas

positivas (15 pontos), havendo muita negligência (N.), segundo a visão do filho.

Tabela 15:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

T. 10 anos 11 3 0 12 3 7 0 10% / IEP: -8

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Na tabela 15, o percentil apresentado diz respeito a um Estilo Parental de Risco. Esta

mãe, sob o olhar do filho, apresenta mais práticas educativas negativas (22 pontos) do que

práticas positivas (14 pontos), sendo maior pontuação de negligência (N.).

Tabela 16:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

T. 10 anos 11 3 1 12 1 8 2 10% / IEP: -10

A tabela 16 demonstra um percentil caracterizado por Estilo Parental de Risco.

Segundo, a visão do filho, perante as práticas educativas de seu pai, este demonstra o uso

maior de práticas educativas negativas (24 pontos) do que práticas positivas (14 pontos),

havendo maior pontuação no quesito negligência (N.).

 

 

Tabela 17:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

M.C. 11 anos 12 12 3 0 3 7 2 75% / IEP: 9

O percentil apresentado na tabela 17 pode ser caracterizado como Estilo Parental

Regular, porém acima da média. Esta mãe evidencia maior pontuação no uso de práticas

educativas positivas (24 pontos) do que negativas (15 pontos), diante da opinião do filho, não

havendo nenhum episódio de negligência (N.).

Tabela 18:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

M.C. 11 anos 11 12 5 0 3 6 0 75% / IEP: 9

Estilo Parental Regular acima da média foi o percentil apresentado na tabela 18. Diz

respeito a um maior uso práticas educativas positivas do que práticas negativas sob as práticas

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utilizadas pelo pai desta criança, não ocorrendo nenhuma situação de negligência (N.) nem

abuso físico (A.F.).

Tabela 19:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (mãe) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

M.L. 9 anos 12 3 0 11 3 4 0 25% / IEP: -3

Na tabela 19, o percentil apresentado é caracterizado como Estilo Parental de Risco.

Segundo, a visão do filho, a mãe apresenta um maior uso de práticas educativas negativas (18

pontos) do que práticas educativas positivas (15 pontos). Mesmo a pontuação, das práticas,

sendo próximas, o que determina ser de risco é o alto índice de negligência (N.).

Tabela 20:

Criança Pontuação referente às práticas educativas (pai) Percentuais do IEP M.P.        C.M.        P.I.        N.        D.R.      M.N.        A.F.  

M.L. 9 anos 12 4 0 10 3 6 0 25% / IEP: -3

Observa-se que o pai da criança M. L. demonstra um percentil caracterizado por

Estilo Parental de Risco. Este pai, segundo a opinião do filho, demonstra um maior uso de

práticas educativas negativas (19 pontos) do que práticas educativas positivas (16 pontos),

apresentando alta pontuação de negligência (N.).

Enfim, entre os dez participantes (crianças de ambos os sexos), que responderam

questões referentes aos estilos parentais (20 pais, ou seja, 10 pais e 10 mães) responderam

que, cinco pais e cinco mães classificam-se com um percentil classificado em estilo parental

de risco (1 a 25%); três mães e um pai foram designados com um estilo parental regular

abaixo da média (30 a 50%), uma mãe e três pais foram classificados como estilo parental

regular acima da média (55 a 75%), e apenas um pai e uma mãe foram denominados no estilo

parental ótimo (80 a 99%). Nesta classificação, foram envolvidos pais (mãe e pai) de

diferentes crianças, para a classificação dos diferentes estilos parentais.

Nos gráficos a seguir pode-se observar claramente os resultados dos estilos de

práticas parentais encontrados nesta pesquisa.

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66  

Figura 1:

Figura 2:

Concluindo, nota-se a semelhança no resultado total dos estilos parentais

encontrados, como ilustrado na figura abaixo, quando comparados entre mães e pais, mesmo

não sendo, necessariamente, a mãe e o pai de uma criança com o mesmo estilo parental.

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Figura 3:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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6 DISCUSSÃO

A palavra família pode ser conceitualizada no sentido popular e nos dicionários

como pessoas aparentadas que vivem em geral na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e

os filhos. Ou ainda pessoas de mesmo sangue ascendência, linhagem, estirpe ou admitidos por

adoção (PRADO, 1986). O conceito de família pode ser modificado tanto pelo tipo de

sociedade, como pelo tempo e pela estrutura social em que a pessoa encontra-se inserida.

É por este fato que é possível considerar que a família não é um simples fenômeno

natural, mas sim, um grande alicerce para cada membro existente. Mas isso apenas ocorre

quando há uma interação entre os membros que possibilita a comunicação, como forma de

construção do próprio eu, ou seja, uma individualidade.

A família, no entanto, é “única” em seu papel determinante no desenvolvimento da

sociabilidade, da afetividade e do bem-estar físico dos indivíduos, sobretudo durante o

período da infância e da adolescência (PRADO, 1986, p. 13 - 14).

Vivemos hoje em uma sociedade que se modifica muito rapidamente. A cada dia nos

deparamos com situações que exigem a aprendizagem de novos conhecimentos para

responder às necessidades da infância e adolescência. As crianças vivem em situações

complexas: são pressionadas por diversos tipos de grupos, percebem regras sociais

contraditórias na escola e na família, convivem com diferentes valores, e defrontam-se com

uma realidade violenta exibida diariamente pelos meios de comunicação. De um lado, vivem

sob constantes cobranças e, de outro, identificam uma permissividade que as deixa perplexas

(DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009). Para lidar com os desafios e demandas atuais, a

criança e seus pais precisam desenvolver um repertório cada vez mais elaborado de

habilidades sociais, e os pais especialmente, de habilidades parentais.

No convívio diário, os pais procuram direcionar o comportamento dos filhos no

sentido de seguir certos princípios morais e adquirir uma ampla gama de comportamentos que

garantam independência, autonomia e responsabilidade, para que mais tarde possam expressar

adequadamente seu papel social. Por outro lado, também se esforçam para suprir ou reduzir

comportamentos que sejam considerados socialmente inadequados ou desfavoráveis. Para

cumprir o papel de agentes de socialização dos filhos, os pais utilizam de diversas estratégias

e técnicas para orientar os comportamentos dos filhos. Essas estratégias de socialização

utilizadas pelos pais são denominadas por alguns autores de práticas educativas parentais.

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A introdução da disciplina na vida da criança envolve um contexto de interação entre

pais e filhos em que a criança começa a ser confrontada com as regras e padrões morais da

sociedade através das práticas educativas parentais (HOFFMAN, 1960). Para Del Prette e Del

Prette (2009), devem ser utilizadas as práticas de habilidades sociais, que contribuem para a

competência social, favorecendo um relacionamento saudável e produtivo com as demais

pessoas.

De acordo com a importância que uma família exerce para a plena formação psíquica

e social de uma pessoa, em especial de uma criança, pois será essa quem estará em contato

com seus membros desde o nascimento. O objetivo principal deste estudo, foi conhecer como

são desempenhadas as habilidades sociais parentais exercidas pelos genitores, sob o olhar de

seus filhos, podendo conhecer os meios de educação, limites, regras que os pais proporcionam

a estes. Além disso, conhecer a projeção dos grupos familiares para a vinda de uma criança; e

conhecer os papéis de trabalho dos pais para o desenvolvimento físico e psíquico da criança.

Com isso, este trabalho teve como foco, buscar a importância das habilidades sociais

e parentais para a educação e desenvolvimento de uma criança, sem se esquecer que a família

é o mais importante meio para estes aprendizados e socialização. A partir disso, foram

realizadas em dez crianças de nove a doze anos incompletos, de ambos os sexos, a aplicação

do Inventário de Estilos Parentais (I. E. P), com o intuito de se comparar o estilo parental

apresentado tanto pelo pai quanto pela mãe das crianças participantes e assim realizar uma

interpretação a partir destes resultados, observando os pontos que podem ser considerados

como positivos e os considerados negativos para a educação e desenvolvimento de uma

criança.

Para cada criança participante da aplicação do Inventário de Estilos Parentais (I. E.

P), obteve-se diferentes resultados tanto para a perspectiva do pai quanto a da mãe, houve

algumas exceções em que a porcentagem de resultados apresentada foi diferente para ambos

os pais, mas estes titulados pelo mesmo tipo de percentil apresentado pelo instrumento de

avaliação.

Diante dos resultados obtidos, foi possível realizar uma comparação entre os itens

referentes ao estilo parental do pai e ao estilo parental da mãe de cada criança, podendo ser

feito uma relação com os demais participantes da pesquisa.

Como já descrito nos resultados, os vinte pais, ou seja, o pai e a mãe das dez crianças

que responderam o Inventário de Estilos Parentais apresentaram diferentes resultados, sendo a

metade dos pais dos entrevistados classificados como pertencentes ao Estilo Parental de Risco

(1 a 25%). Gomide (2006, p.57), relata que pais com dificuldades em práticas educativas nas

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quais possam ser enfocadas as conseqüências de uso de práticas negativas em detrimento das

positivas. Os pais classificados com Estilo Parental Regular abaixo da média (30 a 50%), ou

seja, três mães e um pai. Foi possível identificar o uso de práticas negativas, mas com um

aumento do uso de práticas positivas. Os pais classificados no Estilo Parental Regular acima

da média (55 a 75%), que são três pais e uma mãe, apresentaram uma maior prática positiva,

ou seja, esta torna-se superior ao uso de práticas negativas.

Apenas dois pais, uma mãe e um pai, do total participativo foram classificados com

Estilo Parental Ótimo, o que caracteriza a presença marcante das práticas parentais positivas e

ausência das práticas negativas. Neste caso, isso sugere que as práticas educativas positivas

são superiores às negativas, porque demonstram que os pais (pai e mãe) se envolvem melhor

na vida dos filhos, porque dialogam com eles e interagem no seu cotidiano de modo positivo.

O estudo demonstrou que as práticas parentais que fazem uso da monitoria positiva

parece envolver de modo mais ajustado o uso da atenção, a distribuição de contínua e segura

do afeto, o acompanhamento e supervisão das atividades escolares e de lazer. O

comportamento moral implica em promover condições favoráveis para o desenvolvimento das

virtudes, tais como, empatia, senso de justiça, responsabilidade, trabalho, generosidade,

conhecimento do certo e do errado, quanto ao uso de drogas e álcool e sexo seguro sempre

seguido do exemplo dos pais.

Através da análise obtida pelos participantes, foi possível perceber a ampla

variedade de práticas educativas em que os pais (pai e mãe) se encaixam.

Em relação à monitoria positiva, foi observado um alto número de pais que exercem

está prática, sendo nove mães (das crianças L, G, LG, ME, T, MC, ML, G’, M) e sete pais

(crianças G, E, LG, ME, T, ML, G’), totalizando dezesseis pais.

Os pais desenvolvem a atenção para com seus filhos, nas atividades escolares ou de

lazer, transmitem regras de supervisão que devem ser aprendidas e utilizadas não apenas na

infância, mas por todo o decorrer da vida. Eles devem utilizar disciplinas consistentes e

controlar ativamente os comportamentos dos filhos e suas companhias (GOMIDE, 2006).

Wright e Cullen (2001 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), afirmam que

práticas positivas como supervisão, estabelecimento de limites, posicionamentos claros em

relação às regras e relacionamento estreito entre os membros da família podem reduzir a

possibilidade de engajamento em comportamentos de risco. Embora o controle seja uma

importante variável a ser considerado diante de comportamentos anti-sociais, os autores

ressaltam também a necessidade de incluir o suporte ou apoio. Segundo eles, embora sejam

variáveis distintas, apoio e suporte estão correlacionados e seriam algumas das características

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de pais autoritativos (ou seja, pais caracterizados pela ação calorosa e compreensiva, que

geralmente promovem autonomia psicológica e são firmes no estabelecimento de diretrizes

comportamentais).

A comunicação parental é mais benéfica que a vigilância e o controle, por isso, faz-

se necessário a comunicação entre pais-filhos, o relato de ações que ocorrem no dia-a-dia, o

saber sobre o tipo de companhia em que os filhos têm amizade, o contar de fatos que

envolveram tanto a criança como seus amigos. A comunicação se torna mais importante, pois

um relato dito com sinceridade acaba envolvendo questões referentes à vigilância ao meio

social em que vive, o que acaba por gerar maior controle social, físico e psicológico para com

seus filhos.

O apego (ou a falta de) também têm sido mostrado como uma das medidas preditoras

de delinqüência, que pode ser uma variável motivadora para a criança contar a seus pais sobre

sua vida prevenindo o envolvimento em problemas (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

A monitoria positiva tem sido considerada como uma prática importante, pois é

quando os pais apresentam o que é “certo” e “errado” para os filhos, como, o uso de drogas e

de bebidas alcoólicas.

Os estudos de Pettit e Bates (1989 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007)

indicam que o afeto somado a uma atitude educativa e positiva da mãe estaria

consistentemente relacionado à ausência de problemas de comportamento, enquanto as

estratégias coercitivas e a ausência de um envolvimento positivo da mãe foram preditoras de

comportamento anti-social na infância.

Os reforçadores positivos como o cuidado, atenção, afeição e carinho, os quais

devem ser mantidos e disponibilizados mesmo quando os filhos não conseguem enfrentar uma

eventualidade com êxito (SIDMAN, 2001 apud SALVADOR; WEBER, 2008). “Quando o

filho se sente amado pelos seus pais, torna-se muito mais fácil discipliná-lo” (SEVERE, 2000;

WEBER, 2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008). Isso explica que pais afetivos conseguem

acompanhar melhoras as atividades realizadas pelos seus filhos.

Se os filhos se sentem à vontade para conversar com os pais é sinal de que o relacionamento está pautado essencialmente em contingências reforçadoras positivas e, como um resultado positivo, supõe-se que os pais podem oferecer ajuda e dar conselhos, com grande chance de serem ouvidos (...) a demonstração de afeto dos pais pode fazer com que a crianças se sinta amada, contribuindo para o desenvolvimento de maior auto-estima (BOLSONI-SILVA; MARTURANO, 2006 pág. 92 apud SALVADOR; WEBER, 2008 p. 72).

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Ao analisar outra prática parental positiva, chamada comportamento moral, observa-

se que sete pais fazem uso desta prática, sendo três mães (crianças E, MC, M – na informação

desta criança, a mãe aparece com resultados iguais nas duas práticas positivas) e quatro pais

(crianças L, E, MC, G’).

As concepções de justiça, na qual o comportamento moral apresenta, revelam a

existência de duas tendências morais antagônicas que marcam todo o desenvolvimento moral

da criança: a heteronomia, ou moral do dever e da obediência, e a autonomia ou moral do

bem, do respeito mútuo, estas são determinadas pelas relações sociais em que as crianças

vivem.

Hoffman (1994 apud GOMIDE, 2006), acredita que o apoio fornecido pelos pais faz

a criança se sentir segura em relação ao seu bem-estar, o que proporciona oportunidades de

considerar as necessidades e o bem-estar dos outros.

Loos; Ferreira e Vasconcelos (1999 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007)

defendem igualmente o papel da família como fundamental, sugerindo que após haver uma

transgressão por parte da criança e os pais terem apresentado a ela a conseqüência de seu ato,

a criança estaria desde pequena mais propícia a ter sentimentos antecipados de culpa após

transgressões, isto seria um indicador do desenvolvimento do comportamento moral.

Schlinger (1995 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) afirma que pela

vertente teórica da análise do comportamento, a moralidade é uma especificidade

comportamental evocada nas pessoas, pelos contextos sociais, dependendo das contingências

e reforçamento e punição. Nessa perspectiva, a questão mais importante sobre comportamento

moral não é “o quê” ou “quando” acontece, mas sim, “como” ele ocorre e que variáveis o

determinam.

Conforme Burlerson (1985 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2009) crianças com

um comportamento moral precisa saber ouvir e serem ouvidas, para que possam tornar-se

seres humanos empáticos (representa e comunica um dos mais belos recursos do indivíduo

para uma vida social complexa e gratificante. Pessoas que exercitam a empatia são vistas

como sensíveis, calorosas e amigáveis, produzindo resultados positivos na relação com as

demais) e solidários, com os demais que convivem ao seu redor.

Após a análise das práticas parentais positivas, as práticas educativas referenciadas

como negativas, que mais se sobressaíram estão apresentadas abaixo.

A monitoria negativa foi utilizada por dez pais, sendo seis mães (crianças L, G’, E,

M, LG, MC) e por quatro pais (crianças L, E, M, MC), caracterizando-se pelo excesso de

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instrução independente de seu cumprimento e, conseqüentemente, pela geração de um

ambiente de convivência hostil.

A monitoria negativa também chamada de supervisão estressante (GOMIDE, 2004

apud GOMIDE, 2006), caracteriza-se pela fiscalização e ordens excessivas, que em sua

maioria, não são obedecidas e que geram uma relação pais-filhos baseada na hostilidade,

insegurança e dissimulações.

O controle psicológico refere-se às tentativas de controle que inibem ou interferem

no desenvolvimento de independência e autodirecionamento da criança de manter uma

dependência emocional dos pais. É necessário que se tenha “espaço” suficiente para afirmar

questões de independência e senso de identidade, mas sempre tendo conexões com os pais. O

uso extensivo do controle psicológico comportamental (indução de culpa, retirada de amor)

impede a emergência da autonomia psicológica (BARBER, 1996 apud GOMIDE, 2006).

A monitoria negativa ou controle psicológico pode estar associado ao uso desde cedo

de práticas educativas severas, no entanto, mães que utilizam a severidade e a disciplina

punitiva desde o início da infância de seus filhos estão mais propensas a serem

psicologicamente intrusivas e manipuladoras durante os anos iniciais da adolescência de seus

filhos.

A hostilidade pode estar presente tanto na disciplina severa como no controle

psicológico, pois podem ter diferentes impactos sobre o ajustamento da criança dependendo

da sua idade. Desde o início da infância, quando a exigência de obediência é suprema, o

provável resultado de muita hostilidade pode ser a não obediência, a resistência e outros tipos

de comportamentos externalizados (PATTERSON et al., 1992 apud GOMIDE, 2006).

No contexto atual, pode-se propor que as interações negativas entre pais e filhos

conduzem as crianças a desconfiarem do outro, o que por sua vez conduz a comportamentos

hostis que resultam em rejeição dos pares, isolamento e ainda em mais hostilidade.

Segundo as respostas dadas pelas crianças, foi percebido alguns pais se sobressaíram

dentre as práticas educativas negativas, na chamada negligência, totalizando oito pais, sendo,

quatro mães (crianças ME, T, ML, G), e quatro pais (crianças ME, T, ML, G). É interessante

perceber que neste ponto, ou seja, na negligência, os mesmos pais (pai e mãe) se destacaram

neste ponto, isso significa que estes pais utilizam em maior proporção a prática negativa, ou

seja, o uso da negligência (ausência de atenção e afeto).

Ao perceber a coincidência entre pais da mesma família apresentar o ponto de

negligência como relevante, gera um impacto no desenvolvimento infantil, pois podem

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ocorrer interações precoces entre pais negligentes e seus filhos (KAIRYS et al., 2002 apud

DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Crittenden (1985 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007) descreve os pais

negligentes como não responsivos e que se retiram das situações difíceis, as mães não aceitam

suas responsabilidades e são limitadas em competência. Eles ignoram a maioria dos

comportamentos da criança e respondem muito pouco às iniciativas de comunicação das

crianças. Estas, em geral, são muito passivas na infância e sofrem com déficits

comportamentais.

Supõe-se que o comportamento reativo agressivo seja promovido pelo

comportamento parental em que há pobre apego no relacionamento por parte dos pais com a

criança, por exemplo: falta de calor e carinho na interação com a criança pode desencadear

sentimentos de insegurança, vulnerabilidade e eventual hostilidade e agressão em

relacionamentos sociais (DODGE; COLS, 1994 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

A carência afetiva prejudica fortemente a capacidade para construir relações afetivas

com os outros, e, segundo Feldman (1977 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007), leva ao

desenvolvimento de comportamento infrator futuro, ou seja, o jovem\criança que viveu em

um ambiente com carência ou ausência de relações afetivas consistentes poderá prejudicar o

outro (a vítima) sem remorsos.

Outro ponto a ser destacado nos resultados de práticas negativas, foi a punição

inconsciente. Três pais apresentaram esta prática, sendo uma mãe (criança LG) e dois pais

(criança G, LG). Estes se orientam por seu humor na hora de punir ou reforçar e não pelo ato

praticado.

A baixa auto-estima causada por esta prática educativa – na qual a criança é punida

por algo independentemente de sua conduta – permite que ela seja mais facilmente conduzida

a cometer atos criminosos por estar fragilizada (FELDMAN, 1977 apud DEL PRETTE; DEL

PRETTE, 2007). Essa prática educativa é também denominada de humor instável (GOMIDE,

2004 apud GOMIDE, 2006).

Geralmente a punição inconsciente fica conhecida para a criança como um

desencadeador de rejeição, pois a punição perde o seu poder educativo e acaba sendo

associada à falta de afeto e amor. A criança aprende a discriminar o humor da mãe e do pai e

não o ato praticado, se bom ou ruim, se adequado ou inadequado.

Segundo os relatos sobre o uso da punição inconsciente, é interessante perceber que

os pais da única criança (LG) obtiveram o resultado de Estilo Parental Ótimo, e apresentaram

a punição inconsciente como uma prática utilizada.

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Segundo Ol Dershaw; Walters e Hall (1986 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE,

2007), a socialização da criança torna-se comprometida quando os pais agem de forma

inconsciente, isto é, reagem positivamente tanto a comportamentos pró-sociais quanto anti-

sociais de seu filho. Da mesma forma, quando a punição exercida pelos pais perante

comportamentos aversivos das crianças apresenta-se de forma variável, observa-se a

permanência do comportamento indesejado. Estes autores encontraram que existe uma alta

correlação entre punição inconsciente e abuso físico. Isso devido os pais não fornecerem

parâmetros efetivos, claros e permanentes acerca da adequação ou não de um comportamento

emitido pelo filho e, como conseqüência, perdem o controle sobre as atitudes dos mesmos,

utilizando-se da punição física como última tentativa de controlar a criança ou adolescente.

Os trabalhos de Ol Dershaw; Walters e Hall (1986 apud DEL PRETTE; DEL

PRETTE, 2007) apresentam uma alta correlação entre a punição inconsciente e o abuso físico,

mas vale ressaltar que os pais (pai e mãe) que apresentaram punição inconsciente não

apresentaram abuso físico como destaque de prática negativa exercida. Não houve nenhum

pai que apresentasse para com seus filhos, dentre as práticas negativas, um elevado uso de

abuso físico.

Waxler e Yarrow (1979 apud GOMIDE, 2006) demonstraram como a consciência de

reações maternas frente aos comportamentos da criança podem ser facilitadoras de atitudes

pró-sociais.

O último ponto de destaque entre as práticas educativas negativas apresentadas, foi a

disciplina relaxada, revelada somente pela mãe de LG. Vale lembrar que a mãe desta criança

apresentou outros pontos que já foram destacados anteriormente. Lembrando que, a disciplina

relaxada compreende o relaxamento de regras que são estabelecidas.

Os pais estabelecem as regras, ameaçam e, quando se confrontam com

comportamentos opositores e agressivos dos filhos, abrem mão, de seu papel educativo,

retirando-se do embate (GOMIDE, 2003; 2004).

A influência social é importante para um comportamento anti-social (PATTERSON;

COLS, 1992; SIMON; COLS, 2001 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

A família é o primeiro contexto de socialização da criança enfatizam o controle

social e os processos de aprendizagem social como responsáveis pelo estabelecimento dos

padrões comportamentais infantis. Crianças que possuem comportamentos de agressividade e

de oposição estão em situação de risco para o posterior desenvolvimento de comportamentos

delinqüentes durante a adolescência, porque freqüentemente são criadas em um ambiente em

que as práticas parentais são inadequadas.

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A interação pais-criança é um processo recíproco. A inefetividade parental aumenta a

probabilidade da criança vir a ter problemas de conduta; comportamento de hostilidade na

criança é freqüentemente seguido por uma redução do esforço parental em monitorar e

disciplinar seus filhos (PATTERSON; COLS, 1992 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE,

2007). Assim, as características pessoais dos pais e os comportamentos inadequados das

crianças se assemelham, aumentado as chances de uma criança opositora\desafiadora estar

exposta às práticas parentais ineficazes.

Enfim, foi possível perceber, neste trabalho a ampla variedade de informações, o que

torna interessante a multiplicidade de práticas educativas utilizadas pelos pais das crianças em

que o teste foi aplicado.

Vale ressaltar como é importante para a educação de crianças, ou dos filhos, que os

pais se encaixem na modalidade de pais autoritativos, pois incentivam o diálogo e exercem

firme controle reconhecendo os interesses da criança.

Karavasilis; Doyle e Markiewicz (2003 apud SALVADOR; WEBER, 2008)

demonstraram uma associação positiva entre estilos parentais e estilo de apego em crianças e

adolescentes, e verificaram que o estilo autoritativo está associado ao apego seguro -

relacionado a um maior nível de comportamento assertivo e de auto-estima (Sakiyama e

Weber (2005 apud SALVADOR; WEBER, 2008).

Práticas parentais estão comumente relacionadas à auto-estima das crianças,

afirmativa esta encontrada na pesquisa realizada por pesquisa realizada por Weber; Stasiak e

Brandenburg (2003), e na de Weber; Tucunduva e Perón, (2006 apud SALVADOR;

WEBER, 2008) que demonstraram que filhos com elevada auto-estima tinham pais com

maiores índices de envolvimento e afeto, uso de reforçamento positivo e abertura ao diálogo,

diferenciando-se dos filhos com baixa auto-estima que possuem pais que utilizam punições

inadequadas e comunicação negativa com maior freqüência.

Izidoro et al. (2004 apud SALVADOR; WEBER, 2008) verificaram que práticas

parentais como afeto, envolvimento, reforçamento positivo, comunicação positiva e

apresentação de regras estão associadas positivamente com a auto-eficácia dos filhos,

enquanto o uso de punição inadequada está associado negativamente com os índices de auto-

eficácia.

É importante lembrar que o uso de habilidades parentais acaba por intervir na

utilização e no desenvolvimento de habilidades sociais, que envolve o uso verbal e não-verbal

de competências sociais, onde também há o uso da assertividade, que consiste na habilidade

de afirmação e defesa de seus próprios direitos, através de expressões de pensamentos,

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sentimentos e crenças, de forma direta e honesta, sem desrespeitar o direito dos outros

(LANGE; JAKUBOWSKI, 1976 apud DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Além disso, a habilidade social é um desempenho desenvolvido que apresenta

características de especificidade situacional, o que pressupõe uma avaliação a partir de

variados tipos de dimensões situacionais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999 apud DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 2007).

Enfim, a família pode ser considerada uma das mais importantes constituições que

uma pessoa possui em sua vida, pois é com ela e a partir dela que se descobre o mundo

interno, ou seja, desejos, medos, conquistas e o mundo externo, que são as interações e

experiências vivenciadas no decorrer de toda a vida. É a partir da constituição de uma família,

que se mostrará aos membros pertencentes à mesma, a importância da proteção, do carinho, a

educação, socialização, respeito, limite, a formação do equilíbrio social, afetivo, e seu

desenvolvimento físico, psíquico e social necessários para todo o decorrer da vida.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A proposta inicial durante a elaboração deste estudo foi o conhecimento das

habilidades sociais parentais de acordo com a percepção dos filhos através dos meios de

educação, limites e regras que os pais proporcionam a estes, como também os papéis de

trabalho dos pais para o desenvolvimento físico e psíquico da criança, na percepção da

mesma.

Nesta pesquisa, foram aplicados questionários com dez crianças de ambos os sexos,

com idade entre nove a doze anos incompletos, sendo de família nuclear, composta por filho,

pai e mãe que moram juntos, de conhecimento das pesquisadoras. Foram encontradas um

pouco de dificuldade em contatar participantes com as características acima propostas para se

constituírem os casos da pesquisa, por fim, foi possível alcançar os dez participantes

propostos.

Durante a elaboração das análises das categorias referente aos vinte questionários

respondidos, sendo que cada criança respondeu dois questionários (um relacionado à mãe e

outro ao pai), foi percebido diferenças entre as ideias dos dez participantes no que se refere ao

estilo parental do pai ou da mãe correspondentes.

Cabe ressaltar que no material bibliográfico encontrado para servir de suporte teórico

da análise, embora se fale sobre a necessidade de práticas parentais positivas para uma boa

educação e desenvolvimento infantil dos filhos, evidenciou-se uma grande tendência de que

isso não ocorre.

No geral, o estudo demonstrou a prevalência do estilo parental de risco. Portanto, é

aconselhado a participação dos pais em programas de intervenção terapêutica, em grupo, de

casal ou individualmente, especialmente desenvolvidos para pais com dificuldades em

práticas educativas nas quais possam ser enfocadas as consequências do uso de práticas

negativas em detrimento das positivas

Concluindo, as análises trazem informações que possibilitam uma reflexão acerca de

como é a realidade vivida de uma criança no contexto familiar. Por ter sido uma pesquisa do

tipo exploratória descritiva que tem como função propiciar uma maior familiaridade com o

problema, buscando torna-lo mais explícito ou a criar hipóteses, podendo ser bastante flexível

com os casos estudados, os participantes puderam responder voluntariamente aos

questionários e poder perceber.

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O tema estudado é de grande relevância na área da Psicologia e através dos

resultados pode-se predizer que os pais tem apresentado um estilo de educação que favoreça o

desenvolvimento emocional de seus filhos. Existe a necessidade de maior divulgação dos

resultados encontrados neste estudo e em outros referentes ao mesmo tema, para que os pais

possam perceber seus filhos e de certa forma corrigirem seus estilos.

A divulgação dos resultados e outras pesquisas em muito poderá contribuir para uma

educação mais adaptada e conseqüentemente refletir em um trabalho de prevenção e

promoção de saúde mental de crianças que futuramente serão adultos e estarão no comando

de novos familiares e da sociedade de um modo geral.

Durante a elaboração deste estudo, principalmente durante a análise dos resultados

dos questionários, verificou-se que o tema desta pesquisa não tem sido muito explorado na

literatura, fazendo-se necessário outras pesquisas que possam aprofundar questões relativas

aos diferentes estilos parentais na educação dos filhos.

Na sociedade contemporânea, a forma como os pais educam seus filhos para que

possam se tornar adultos responsáveis, de caráter, éticos, ou seja, pessoas funcionais, que é

algo extremamente importante para que o mundo possa dar continuidade, são poucos os

trabalhos que estão sendo feitos.

Assim sendo, sugere-se que outros estudos exploratórios ou de natureza quantitativa

sejam elaborados para que se possa melhor orientar os pais nesse processo educacional.

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SIMIONATO-TOZO, S. M. P.; BIASOLI-ALVES, Z. M. M. O cotidiano e as relações familiares em duas gerações. Paidéia (Ribeirão Preto), Ribeirão Preto,v.8,n.14-15, ago. 1998. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-863X1998000100011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 16/09/2010. WEBER, L. N. D. Interações entre família e desenvolvimento. Família e desenvolvimento: Visões interdisciplinares. Curitiba: Juruá, 2008 WEIL, P. Relações humanas na família e no trabalho. Petrópolis: Vozes, 1a ed, 1971.

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ANEXOS

O Inventário de Estilos Parentais (GOMIDE, 2006) não poderá ser anexado neste

trabalho, pois é um instrumento de uso exclusivo do psicólogo.

Este instrumento contém 42 questões, havendo a possibilidade de três tipos de

respostas, como, nunca, às vezes, sempre. Existem dois tipos de aplicação para o Inventário

de Estilos Parentais, sendo que em um os pais respondem sobre suas práticas educativas, e em

outro, os filhos respondem sobre as práticas de seus pais.

Para o presente trabalho foi utilizado o tipo em que os filhos respondem sobre as

práticas de seus pais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Eu,_____________________________________________________________,portador do RG n º_____________________________, através desse documento, autorizo meu filho a participar desta pesquisa titulada “Habilidades sociais parentais na educação e desenvolvimento de crianças”, realizado pelas pesquisadoras Marcella Bianca Neves, Nayara Benedittini, sob orientação da Profa Dra. Teresinha Pavanelo G. Costa . Fui informado(a) que trata-se de uma pesquisa que busca entrar em contato com familiares e crianças a respeito da relação familiar e comparar os resultados obtidos nas entrevistas com a literatura a respeito do assunto. Sendo assim, serão estabelecidas características de como são as famílias, como estas se constituem, quais são os principais determinantes para a convivência familiar. Essa aproximação permitirá levantar hipóteses e conhecer um pouco mais a respeito do tema.

Inicialmente serão explicitados os objetivos do presente trabalho, depois de concordarem em participar serão agendados horários, de acordo com a disponibilidade dos participantes. Deverão ler e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) que preserva o sigilo dos participantes e em seguida responderem o “Inventário de Estilos Parentais”. O qual será aplicado individualmente sem que haja a presença dos demais participantes, nas instalações da Clínica de Psicologia da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) ou onde o participante desejar.

Não haverá riscos e prejuízos previsíveis o que descarta a possibilidade de indenização e também não haverá o ressarcimento de despesas por serem sujeitos voluntários. Se o sujeito sentir algum desconforto diante do inventário, o mesmo poderá se manifestar ou até mesmo desistir de participar da pesquisa.

Essa pesquisa contribuirá para um maior conhecimento do tema perante a sociedade, não havendo nenhum benefício direto ao participante na pesquisa. A participação será apenas para responder o inventário. A partir do término, os pesquisadores garantirão o sigilo do participante, que tem o direito de retirar o consentimento a qualquer tempo. Ribeirão Preto, _____ de ____________ de 2011.

Assinatura do Participante:

Teresinha P. G. Costa (orientadora de pesquisa) Nayara Benedittini (aluna-pesquisadora) RG: 44.621.525-9 RG: 46.309.833-X Fone: (16) 9298-6603 Fone: (16) 9168-4772

Marcella Bianca Neves (aluna-pesquisadora) RG: 46.279.115-4 Fone: (16) 8111-3800

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