Manual de Segurança Contra Incendio e Panico Protecao Passiva
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ANDR TELLES CAMPOS ANDR LUIZ SANTANA DA CONCEIO
MANUAL DE SEGURANA CONTRA INCNDIO E
PNICO
PROTEO PASSIVA
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MANUAL DE SEGURANA CONTRA INCNDIO E PNICO
PROTEO PASSIVA
Andr Telles Campos 1 Ten. QOBM/Comb. Formado em Engenharia de Segurana contra Incndio e Pnico pela Academia de
Bombeiro Militar de Braslia. Ps-graduado em Engenharia de Segurana do Trabalho pela Universidade de Braslia.
Oficial vistoriador da Diretoria de Servios Tcnicos do CBMDF e instrutor do Curso de Especializao em Preveno de Incndio.
Andr Luiz Santana da Conceio 2 Ten. QOBM/Comb.
Formado em Engenharia de Segurana contra Incndio e Pnico pela Academia de Bombeiro Militar de Braslia.
Oficial vistoriador da Diretoria de Servios Tcnicos do CBMDF e especialista em Preveno de Incndio.
Braslia-DF 2006.
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2006 CBMDF Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal Os autores cedem os direitos de reproduo ao CBMDF. Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.
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AGRADECIMENTOS
A Deus por ter nos concedido a vida. nossa famlia por ter compreendido os momentos de ausncia e ter nos
incentivado a persistir nesta tarefa de compartilhar o conhecimento. A todos aqueles que colaboraram disponibilizando material, alm daqueles que
leram, aplicaram e comentaram o texto para enriquec-lo.
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SUMRIO
Assunto PginaIntroduo 15 1- Sistema de Engenharia de Segurana contra Incndio e Pnico......... 17 1.1- Engenharia de Segurana contra Incndio e Pnico................................ 17 1.2- Base legal ............................................................................................... 17 1.3- Aspectos funcionais................................................................................. 20 1.4- Referncias bibliogrficas......................................................................... 24 2- Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico.......................... 25 2.1- Princpios da segurana contra incndio.................................................. 25 2.2- Elementos essenciais do fogo................................................................. 28 2.3- Desenvolvimento do incndio................................................................... 32 2.4- Transferncia de calor.............................................................................. 36 2.5- Produtos do incndio................................................................................ 38 2.6- Classificao dos incndios...................................................................... 45 2.7- Mtodos de extino de incndio............................................................. 48 2.8- Preveno de incndio.............................................................................. 49 2.9- Referncias bibliogrficas......................................................................... 50 3- Medidas de Proteo contra Incndio e Pnico...................................... 51 3.1- Classificao das medidas de proteo................................................... 51 3.2- Sistemas de proteo contra incndio e pnico....................................... 53 3.3- Classificao de risco das edificaes.................................................... 61 3.4- Referncias bibliogrficas......................................................................... 68 4- As Estruturas em Situao de Incndio................................................... 69 4.1- Resistncia ao fogo.................................................................................. 69 4.2- Modelamento do incndio......................................................................... 69 4.3- Caractersticas dos materiais frente ao fogo.......................................... 71 4.4- Verificao das estruturas em situao de incndio................................ 77 4.5- Proteo contra a fumaa........................................................................ 81 4.6- Referncias bibliogrficas......................................................................... 83 5- Sadas de Emergncia............................................................................... 85 5.1- Introduo................................................................................................. 85 5.2- Componentes das sadas de emergncia................................................ 85 5.3- Acessos..................................................................................................... 86 5.4- Rotas de sada verticais........................................................................... 88 5.5- Rampas..................................................................................................... 109 5.6- Elevadores de emergncia....................................................................... 110 5.7- rea de refgio........................................................................................ 111 5.8- Descarga................................................................................................... 111 5.9- Dimensionamento das sadas de emergncia......................................... 113 5.10- Referncias bibliogrficas....................................................................... 123 6- Sinalizao de Segurana......................................................................... 125 6.1- Introduo................................................................................................. 125 6.2- Tipos de sinalizao................................................................................. 125 6.3- Orientao e salvamento.......................................................................... 126 6.4- Equipamento e emergncia...................................................................... 128 6.5- Comando................................................................................................... 131 6.6- Proibio................................................................................................... 132 6.7- Alerta......................................................................................................... 133
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6.8- Complementar........................................................................................... 134 6.9- Dimensionamento..................................................................................... 135 6.10- Aplicao final........................................................................................ 137 6.11- Referncias bibliogrficas....................................................................... 137 7- Iluminao de Emergncia........................................................................ 139 7.1- Fundamentao legal............................................................................... 139 7.2- Tipos de sistema....................................................................................... 140 7.3- Fontes de energia e luminrias............................................................... 142 7.4- Circuitos de alimentao........................................................................... 144 7.5- Operacionalizao do sistema.................................................................. 146 7.6- Manuteno do sistema............................................................................ 150 7.7- Aplicao final.......................................................................................... 151 7.8- Tabelas de dimensionamento................................................................... 151 7.9- Referncias bibliogrficas......................................................................... 152 8- Sistema de Proteo contra Descargas Atmosfricas.......................... 153 8.1- Histrico.................................................................................................... 153 8.2- Formao de cargas nas nuvens............................................................. 154 8.3- Formao dos raios................................................................................. 156 8.4- Efeitos das descargas atmosfricas sobre os seres vivos...................... 158 8.5- Determinao da necessidade de um SPDA........................................... 160 8.6- Definies.................................................................................................. 160 8.7- Condies gerais...................................................................................... 165 8.8- Captao da descarga atmosfrica.......................................................... 165 8.9- Condutores de descida............................................................................. 170 8.10- Subsistema de aterramento.................................................................... 173 8.11- Caractersticas dos materiais do SPDA.................................................. 174 8.12- Equalizao de potenciais...................................................................... 176 8.13- Referncias bibliogrficas....................................................................... 178 9- Instalaes Eltricas.................................................................................. 179 9.1- A eletricidade no Brasil............................................................................. 179 9.2- Definies.................................................................................................. 179 9.3- Contatos diretos........................................................................................ 183 9.4- Contatos indiretos..................................................................................... 184 9.5- Efeitos trmicos........................................................................................ 187 9.6- Sobrecorrentes.......................................................................................... 188 9.7- Sobretenses............................................................................................ 188 9.8- Relao de custo dos acessrios............................................................ 189 9.9- Eletrodutos................................................................................................ 192 9.10- Vistoria.................................................................................................... 193 9.11- Aplicao final........................................................................................ 197 9.12- Referncias bibliogrficas....................................................................... 197 10- Instalaes Prediais de GLP................................................................... 199 10.1- Gs Liquefeito de Petrleo...................................................................... 199 10.2- Vantagens do GLP.................................................................................. 200 10.3- Armazenamento de GLP......................................................................... 200 10.4- Centrais de GLP...................................................................................... 203 10.5- Afastamentos de segurana.................................................................... 206 10.6- Canalizao............................................................................................. 208 10.7- Medidores de consumo.......................................................................... 212 10.8- Sinalizao.............................................................................................. 213
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10.9- Extintores................................................................................................ 214 10.10- Obrigatoriedade do uso de centrais de GLP........................................ 214 10.11- Documentos.......................................................................................... 215 10.12- Aplicao final...................................................................................... 217 10.13- Referncias bibliogrficas..................................................................... 217
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PREFCIO
Este manual uma fonte de consulta tcnica para profissionais da rea de
segurana contra incndio e pnico (bombeiros militares, engenheiros, arquitetos e
tcnicos). O texto baseado nas normas tcnicas do Corpo de Bombeiros Militar do
Distrito Federal, nas normas brasileiras da Associao Brasileira de Normas
Tcnicas e nas normas regulamentadoras do Ministrio do Trabalho.
A obra aborda, no captulo 1, aspectos legais e funcionais do sistema de
engenharia de segurana contra incndio e pnico quanto ao projeto e execuo de
edificaes seguras e fiscalizao dos diversos rgos relacionados. No captulo 2,
so apresentadas as caractersticas do incndio. O pleno domnio sobre a dinmica
do incndio pr-requisito para a efetividade das medidas de segurana contra
incndio e pnico estudadas no captulo 3. Outro pilar da segurana contra incndio
o conhecimento do comportamento das estruturas em situao de incndio, que
abordado no captulo 4. Os captulos 5 a 10 tratam, detalhadamente, dos critrios
normativos das sadas de emergncia, da sinalizao de segurana, da iluminao
de emergncia, da proteo contra descargas atmosfricas, da segurana nas
instalaes eltricas e do uso de gs liquefeito de petrleo (GLP).
Para melhor comprometimento com a profisso e zelo pela segurana, o
leitor deve aprofundar esses conhecimentos e demais especificaes das
legislaes citadas e outras pertinentes ao assunto. Para tanto, ao fim de cada
captulo so citadas importantes referncias bibliogrficas que serviram de base
para a elaborao desta obra.
Andr Telles Campos
Andr Luiz Santana da Conceio
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INTRODUO
A engenharia de proteo (ou segurana) contra incndios1 o campo da engenharia que
trabalha na salvaguarda da vida e do patrimnio, bem como na atenuao de eventuais perdas
devidas ao fogo e exploses e outros danos decorrentes do sinistro. Os objetivos fundamentais da
segurana contra incndio e pnico so minimizar o risco vida e a perda patrimonial.
A atividade de segurana contra incndio e pnico relaciona diversos atores sociais:
usurios, rgos pblicos de fiscalizao, seguradoras, empresas fabricantes, empresas de
instalao e de manuteno, profissionais de projeto e construtoras, alm de entidades e laboratrios
de pesquisa. A viso empregada neste texto a do agente fiscalizador do Corpo de Bombeiros Militar
do Distrito Federal, sem perder de foco os demais entes relacionados.
As medidas de proteo contra incndio e pnico podem ser englobadas em duas
categorias: medidas de proteo passiva e medidas de proteo ativa.
Proteo passiva, de acordo com a NBR n 14.432 da Associao Brasileira de Normas
Tcnicas (ABNT), o
conjunto de medidas incorporado ao sistema construtivo do edifcio, sendo funcional durante o uso normal da edificao e que reage passivamente ao desenvolvimento do incndio, no estabelecendo condies propcias ao seu crescimento e propagao, garantindo a resistncia ao fogo, facilitando a fuga dos usurios e a aproximao e o ingresso no edifcio para o desenvolvimento das aes de combate.
Ainda de acordo com a NBR n 14.432, proteo ativa o tipo de proteo contra incndio
que ativada manual ou automaticamente em resposta aos estmulos provocados pelo fogo,
composta basicamente das instalaes prediais de proteo contra incndio.
O objetivo deste manual no discutir academicamente tais conceitos2, mas, sim, estudar
os parmetros normativos dos sistemas de proteo passiva, de acordo com o ordenamento jurdico
vigente no Distrito Federal.
Um sistema de proteo contra incndio e pnico consiste em um conjunto de medidas
ativas e passivas. Esses sistemas, atuando em conjunto, tm como principais objetivos dificultar o
surgimento e a propagao do incndio, facilitar a fuga das pessoas da edificao no caso de
ocorrncia de um sinistro, garantindo a integridade fsica das vtimas e, simultaneamente, facilitar as
aes de salvamento e combate das corporaes de bombeiros, tornando-as rpidas, eficientes e
seguras.
Neste manual, os parmetros tcnico-legais dos sistemas de sadas de emergncia,
sinalizao de segurana, iluminao de emergncia, proteo contra descargas atmosfricas, 1 No Brasil no existe graduao especfica na rea. De acordo com a Resoluo n 359/91 do Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia as atribuies de proteo contra incndio so destinadas ao engenheiro de segurana do trabalho, sem interferncia nas competncias legais e tcnicas estabelecidas para as diversas modalidades da engenharia, arquitetura e agronomia. 2 Vide captulo 3.
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segurana das instalaes eltricas e instalaes prediais de gs liquefeito de petrleo so
abordados. No se pretende esgotar o assunto, muito pelo contrrio. O objetivo esclarecer os itens
normativos, comentando-os e mostrando aplicaes prticas. Desse modo, haver maior clareza na
aplicao da legislao de segurana contra incndio e pnico e, conseqentemente, maior interesse
pela pesquisa na rea, ou seja, o presente texto no um ponto de chegada, mas, sim, um ponto de
partida.
Conhecer bem o incndio conduzir proposio de medidas de proteo contra incndio e
pnico eficientes e adequadas aos propsitos de proteo vida e ao patrimnio. A seleo dos
sistemas de proteo adequados edificao deve ser feita tendo por base os riscos de incio de um
incndio, de sua propagao e de suas conseqncias. necessrio tambm identificar a extenso
do dano que pode ser considerado tolervel. Entender o comportamento do incndio numa edificao
, certamente, o primeiro passo para a efetivao da segurana contra incndio e pnico. Apesar da
importncia do tema, foge ao escopo desta obra embrenhar-se no conhecimento dessa rea. So
comentados alguns pontos fundamentais no captulo 2, mas o aprofundamento necessrio deve ser
obtido em outras referncias bibliogrficas especficas para tal fim.
Alm do conhecimento tcnico sobre os sistemas de proteo contra incndio e pnico, faz-
se necessria uma abordagem legalista do assunto. O desenvolvimento do texto iniciado
justamente pela fundamentao legal da atividade de segurana contra incndio e pnico. Percorre-
se desde a lei maior, a Constituio, at as legislaes mais especficas, as normas tcnicas.
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SISTEMA DE ENGENHARIA DE SEGURANA CONTRA INCNDIO E
PNICO
1 1.1 ENGENHARIA DE SEGURANA CONTRA INCNDIO E PNICO Pouco a pouco a segurana tem se convertido numa cincia completa e multidisciplinar. No
passado, os profissionais de segurana exerciam suas funes empiricamente, utilizando apenas
treinamentos bsicos adquiridos em suas ocupaes. Atualmente, os diversos ramos da segurana
(pessoal, patrimonial, do trabalho, contra incndio) usam em larga escala recursos profundamente
tecnolgicos.
A engenharia de proteo contra incndios o campo da engenharia que trabalha na
salvaguarda da vida e do patrimnio, minimizando eventuais perdas devidas ao fogo e exploses e
outros danos decorrentes do sinistro. Na proteo contra incndios, o engenheiro de proteo contra
incndios utiliza mtodos cientficos e matemticos na anlise do fogo e no projeto de instalaes
seguras. Porm, o engenheiro de proteo contra incndios no s se preocupa com isso, mas
tambm com a segurana da vida humana. por isso que muitos se referem profisso como a
segurana contra incndio e pnico, unindo, assim, a segurana da vida humana em ocorrncias
relacionadas ao fogo ou ao pnico com a proteo patrimonial contra incndios.
A segurana contra incndio e pnico uma rea bastante dinmica uma vez que est
intimamente relacionada evoluo dos conhecimentos tcnico-cientficos. Mas, sua dinamicidade
no est (nem pode estar) restrita ao conhecimento tecnolgico, ela deve levar em considerao a
forte inter-relao com os demais ramos do conhecimento. A segurana contra incndio e pnico,
portanto, resulta da interao positiva dos diversos ramos da engenharia (civil, eltrica, mecnica
etc.) com as reas fsico-qumica, econmico-administrativas e comportamentais, ou seja, a
consecuo da segurana contra incndio e pnico deve ponderar aspectos tcnico-materiais com
aspectos scio-econmicos na dualidade homem-meio.
A atividade de segurana contra incndio e pnico relaciona diversos atores sociais:
usurios, rgos pblicos de fiscalizao, seguradoras, empresas fabricantes, empresas de
instalao e de manuteno, profissionais de projeto e construtoras, alm de entidades e laboratrios
pesquisadores. Cada um desses setores da sociedade tem interesses especficos, que, por vezes,
entram em conflito. Esses interesses conflitantes muitas vezes so totalmente legtimos, logo,
preciso que os interesses de cada setor sejam equilibrados e respeitados. Nesse sentido est a
atuao dos rgos de fiscalizao, em particular do Corpo de Bombeiros Militar. Portanto, a viso
empregada neste texto a do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal, enquanto rbitro vido
de conhecimento para poder bem julgar e, em ltima anlise, fazer garantir a segurana da
populao.
1.2 BASE LEGAL O Corpo de Bombeiros Militar rgo integrante da segurana pblica. De acordo com a
Carta Magna, em seu artigo 144, a segurana pblica dever do Estado e direito e responsabilidade
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
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de todos, sendo exercida por meio de alguns rgos para a preservao da ordem pblica e da
incolumidade das pessoas e do patrimnio. Aos corpos de bombeiros militares cabe as funes de
defesa civil e outras especificadas em lei. No caso do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal
(CBMDF), a lei que define suas competncias a 8.255 (LOB Lei de Organizao Bsica), de 20 de
novembro de 1991, regulamentada pelo Decreto n 16.036 (RLOB Regulamento da Lei de
Organizao Bsica), de 4 de novembro de 1994.
A LOB e o RLOB definem as diversas competncias do CBMDF. Neste texto interessa,
particularmente, aquelas que dizem respeito segurana contra incndio e pnico. Dentre elas
destacam-se:
realizar servios de preveno e extino de incndios; efetuar percias de incndios; promover pesquisas tcnico-cientficas com vistas obteno de produtos e
processos que permitam o desenvolvimento de sistemas de segurana contra
incndio e pnico;
realizar atividades de segurana contra incndio e pnico com vistas proteo das pessoas e dos bens pblicos e privados;
fiscalizar o cumprimento da legislao referente preveno contra incndio e pnico; e
desenvolver na comunidade a conscincia para os problemas relacionados com a segurana contra incndio e pnico.
A segurana contra incndio e pnico envolve a preveno, o combate (conseqentemente
a extino) e a percia de incndios. No entanto, cabe impor restries ao mbito do presente
trabalho. Em primeiro lugar deixam de ser abordados os incndios florestais. Trataremos apenas dos
incndios urbanos, mais especificamente dos incndios em edificaes. Outra delimitao imposta
ser o tratamento mais aprofundado da preveno, enquanto que o combate e a percia sero
trabalhados perifericamente, dando suporte ao entendimento da segurana contra incndio em
edificaes.
Para dar cabal cumprimento s competncias relacionadas com a segurana contra
incndio e pnico, o CBMDF dispe de um sistema de engenharia de segurana contra incndio e
pnico composto pela Diretoria de Servios Tcnicos, pela 7 Seo do Estado-Maior-Geral e pelos
Grupos e Sees de Servios Tcnicos das Unidades Operacionais.
O Estado-Maior-Geral (EMG) o rgo de direo geral responsvel pelo estudo,
planejamento, coordenao, fiscalizao e controle de todas as atividades da Corporao. O EMG
encarregado da elaborao de diretrizes e ordens do Comando, acionando os demais rgos (de
direo setorial, de apoio e de execuo) no cumprimento de suas atividades. Sua principal interface
com o sistema de engenharia de segurana contra incndio e pnico d-se por meio da 7 Seo,
que a responsvel pelo assessoramento em questes relativas legislao tcnica, pesquisa
tecnolgica, percias e prevenes.
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Captulo 1 - Sistema de Engenharia de Segurana contra Incndio e Pnico
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A Diretoria de Servios Tcnicos (DST) o rgo de direo setorial do sistema de
engenharia de segurana contra incndio e pnico. Incumbe-se de estudar, analisar, planejar,
controlar e fiscalizar as atividades atinentes segurana contra incndio e pnico no Distrito Federal.
Entre suas competncias orgnicas esto:
realizar contatos com rgos externos Corporao; elaborar normas de segurana contra incndio e pnico e implementar programas
relativos a sua rea de atribuio;
propor o aperfeioamento da poltica, da administrao, da legislao e das normas vigentes;
promover estudos, anlises e pesquisas, tendo em vista o aprimoramento e a racionalizao das atividades relacionadas com segurana contra incndio e
pnico;
planejar, orientar, coordenar, controlar e fiscalizar as atividades do servio de hidrantes da Corporao; e
expedir pareceres tcnicos sobre segurana contra incndio e pnico.
As unidades operacionais so rgos setoriais de execuo responsveis pelo
planejamento estratgico, coordenao, controle, fiscalizao e execuo de atividades operacionais
e administrativas dentro de sua rea de atuao. Dentre suas atribuies esto:
a manuteno de registro estatstico das ocorrncias verificadas em sua rea de atuao;
o planejamento, a coordenao e a fiscalizao da atuao e do cumprimento da legislao referente segurana contra incndio e pnico; e
o apoio DST em suas competncias com pessoal treinado para a realizao de vistorias.
O sistema de engenharia de segurana contra incndio e pnico do CBMDF cumpre uma
importante funo: fazer a conexo entre os segmentos de combate a incndios1 da Corporao.
Trabalhando de forma desarticulada, a funo original do corpo de bombeiros, o combate a incndios,
carece de eficincia. Torna-se imperativo fazer a articulao desse setor operacional com a parte de
preveno e de percia num processo cclico virtuoso. Desse modo, obtm-se uma atuao eficiente,
integrada e de qualidade nos diversos ramos da segurana contra incndio e pnico da Instituio.
1 Fala-se em rea de combate a incndios em sentido amplo, envolvendo a preveno, o combate propriamente dito e a percia de incndios. Formando um todo, um sistema completo.
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
Figura 1.1 Integrao da preveno, do combate e da percia de incndios. Fonte: CBMDF.
Mas, qual a legislao tcnica que d suporte a esta estrutura de segurana contra
incndio e pnico do CBMDF? At o ano de 2000 era o Decreto n 11.258, de 16 de setembro de
1988, o qual foi substitudo pelo Decreto n 21.361, de 20 de julho de 2000. A grande vantagem do
atual regulamento de segurana contra incndio e pnico (RSIP) tratar apenas de aspectos gerais,
deixando a regulamentao especfica de sistemas de proteo contra incndio e pnico para as
normas tcnicas (NT). Essas NTs so editadas mediante portaria do Comandante-Geral da
Corporao, o que permite que as normas acompanhem passo a passo as evolues tecnolgicas
dos sistemas de proteo. Na falta de NT do CBMDF sobre algum sistema, devero ser adotadas as
normas dos rgos oficiais ou as normas da Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), por
exemplo. E, no caso de inexistncia de normas nacionais atinentes a determinado assunto, podero
ser utilizadas normas internacionais, desde que aprovadas pelo CBMDF.
1.3 ASPECTOS FUNCIONAIS Legalmente est bem definido o campo de trabalho do Corpo de Bombeiros Militar na rea
de segurana contra incndio e pnico. Mas, como realmente funciona essa estrutura? Nesta seo
ser apresentada a estrutura bsica de trs setores: anlise de projetos, vistorias tcnicas e
credenciamento de empresas. Evidencia-se no s a estrutura interna, mas tambm sua relao com
rgos externos e internos Corporao.
A segurana contra incndio e pnico inicia-se no planejamento de uma cidade, bairro ou
quadra, isto , no planejamento urbanstico. Nessa fase, deve ser pensada a localizao dos
hidrantes urbanos e do quartel de atendimento a emergncias, conjuntamente com a definio dos
critrios de parcelamento territorial (taxa de ocupao dos lotes, afastamentos, vias de acesso), de
destinao dos imveis (comerciais, residenciais, industriais) e de porte das edificaes (altas,
baixas).
No entanto, a participao de profissionais especializados em segurana contra incndio e
pnico na fase de urbanismo ainda muito incipiente no Pas. Uma atuao um pouco mais
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Captulo 1 - Sistema de Engenharia de Segurana contra Incndio e Pnico
representativa (porm, ainda tmida) ocorre na fase do planejamento arquitetnico e estrutural. Isso
porque o incndio afeta e afetado por critrios de distribuio de espaos, de circulaes
horizontais e verticais e pelos aspectos de ventilao e de resistncia estrutural, entre outros. Porm,
efetivamente, a proteo contra incndio pensada na fase do projeto de instalaes. O projeto de
instalaes contra incndio e pnico (ou simplesmente projeto de incndio) o planejamento de
como os sistemas de proteo contra incndio e pnico cumpriro sua funo no prdio,
determinando critrios de aquisio, instalao, funcionamento e manuteno dos sistemas.
A anlise de projetos do CBMDF fiscaliza os projetos de arquitetura e de incndio.
O projeto de arquitetura submetido aprovao do CBMDF em consulta prvia com
relao a sistemas de proteo contra incndio que possam afetar a estrutura da edificao e a
ocupao do terreno. Atualmente, so verificados aspectos gerais de sadas de emergncia, de
locao de central de GLP (gs liquefeito de petrleo) e definio da quantidade de gua disponvel
para a reserva tcnica de incndio (RTI). Na fase de consulta prvia, engenheiros e arquitetos podem
sanar dvidas com os analistas e definirem, da melhor forma, o projeto arquitetnico, garantindo,
simultaneamente, funcionalidade, esttica e segurana com minimizao de custos.
Edificao planejada garante segurana, funcionalidade e beleza com minimizao de
custos.
O projeto de incndio , ento, analisado pelo CBMDF aps a arquitetura ter sido
definitivamente aprovada pela Administrao Regional2 (ou prefeitura em outras unidades da
federao). A anlise do projeto de incndio fiscaliza os critrios mnimos de segurana impostos pela
legislao. Verifica se os sistemas projetados so os exigidos pela norma e se esto em
conformidade com as normas especficas de cada sistema.
O projeto um planejamento da obra, mas nem sempre esta (a obra) sucede aquele (o
projeto). A inverso da ordem projetoobra causa transtornos e aumento de custos. Aprovados todos
os projetos, de arquitetura e de instalaes, o executor est apto a solicitar o alvar de construo3.
Finalizada a obra, para que a edificao possa ser ocupada, deve ser obtido o documento
de habite-se. A emisso da carta de habite-se leva em conta o parecer de vistoria tcnica do
CBMDF, dentre outros rgos. A vistoria do CBMDF para habite-se confere a adequao dos
sistemas de proteo contra incndio e pnico executados ao respectivo projeto de incndio que foi
aprovado anteriormente. Na fase de construo, em geral, ocorrem imprevistos que impedem que a
execuo seja fiel ao projeto. Conseqentemente, o vistoriador deve ter slidos conhecimentos de
segurana contra incndio e pnico para poder identificar os desvios e no permitir transgresses s
normas de segurana.
Aps a vistoria para habite-se, as edificaes, em geral, necessitam ser aprovadas em
vistoria tcnica do CBMDF para receberem o alvar de funcionamento4 e desenvolverem
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2 No DF, a aprovao do projeto de arquitetura pode envolver outros rgos alm da Administrao Regional e o CBMDF. Por exemplo: Secretaria de Sade, no caso de hospitais, e Secretaria de Educao, no caso de escolas. 3 O cdigo de edificaes do DF estabelece os critrios e prazos de obteno do alvar de construo, nos referimos aqui necessidade terica de finalizar os projetos (planejamento) antes de se iniciar a construo.
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
determinada atividade comercial ou industrial. Na vistoria para alvar de funcionamento verificada a
adequao dos sistemas instalados com a atividade a ser desempenhada no local. importante
ressaltar que existem dois tipos de alvars de funcionamento concedidos pela Administrao
Regional: o permanente (ou definitivo) e o precrio (ou temporrio). A vistoria tcnica do CBMDF
independe dessa subdiviso.
Existe ainda o alvar de funcionamento para atividades eventuais. Os shows, festas,
encontros, feiras etc. que ocorram fortuitamente em edificaes ou outras reas tambm necessitam
da chancela dos rgos de fiscalizao, entre eles o CBMDF. Dessa maneira, surge um outro tipo de
vistoria tcnica, a vistoria para atividades eventuais (ou vistoria para alvar de funcionamento
eventual). Essa vistoria pode estar atrelada vistoria para queima de fogos. Nesses dois tipos de
vistoria tcnica verifica-se a adequao dos sistemas instalados (inclusive afastamentos) com a
atividade a ser desenvolvida, tal qual na vistoria para alvar de funcionamento. Contudo, deve-se
atentar para a particularidade de se tratar de atividades que estimulem a concentrao de pblico e
dar enfoque especial aos sistemas que auxiliem a fuga das pessoas em caso de sinistro.
Vistoria para habite-se confere a adequao dos sistemas executados ao projeto. Vistoria para alvar de funcionamento verifica a adequao dos sistemas atividade.
Este o roteiro bsico para que uma edificao seja regularizada com relao segurana
contra incndio e pnico pelo CBMDF. No entanto, a fiscalizao do CBMDF no se limita a estas
etapas. A Corporao realiza ainda vistorias tcnicas ocasionais motivadas por denncias ou por
pedidos ou, ainda, por demanda prpria. As primeiras so denominadas vistorias por denncia e
visam dar resposta a relatos de obras, edificaes ou outras reas em desacordo com as normas de
segurana. A vistoria a pedido realizada quando h a solicitao de verificao das condies de
segurana contra incndio e pnico de determinado local e pode ser restrita a um determinado
sistema de proteo. O terceiro tipo de vistoria tcnica ocasional a vistoria inopinada. Esta
realizada quando h demanda interna, pode ser gerada, por exemplo, por levantamento estatstico,
ocorrncias graves em locais similares, determinao do Comando etc.
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4 A emisso do alvar de funcionamento regida por legislao prpria, que no se vincula necessariamente com a emisso prvia do habite-se.
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Captulo 1 - Sistema de Engenharia de Segurana contra Incndio e Pnico
Projeto Urbanstico Projeto Arquitetnico Projeto de Incndio
Consulta Prvia
Obra
Vistoria Habite-se Vistoria Alvar Funcionamento
Edificao Construda Edificao Funcionando
Anlise
Vistorias Inopinadas, por Denncia e a Pedido.
Edificao Regularizada
Figura 1.2 Fases de regularizao das edificaes. Fonte: CBMDF.
As empresas e profissionais que prestam servio na rea de segurana contra incndio e
pnico tambm devem ter sua atuao fiscalizada pelos rgos pblicos. O intuito garantir ao
consumidor um nvel mnimo de segurana na prestao do servio. O CBMDF, com base no RSIP e
na lei de multa (Lei n 2.747, de 20 de julho de 2001, regulamentada pelo Decreto n 23.154, de 9 de
agosto de 2002), adota critrios de controle s empresas do setor. Basicamente, so trs os setores
credenciados pelo CBMDF para desempenho de suas atividades: empresas de formao e prestao
de servios de brigada contra incndio; empresas de comercializao, fabricao e manuteno de
extintores de incndio; e empresas de comercializao, instalao e manuteno de sistemas de
proteo contra incndio e pnico.
A fiscalizao do CBMDF, portanto, opera tanto no prestador do servio quanto no seu
produto (projeto, edifcio, equipamento), visando garantir a qualidade e o nvel mnimo de segurana
populao. Essas fiscalizaes encontram interface com diversos outros setores da sociedade. A
Corporao deve trabalhar em estreita ligao com Administraes Regionais, Secretaria de Estado
de Coordenao das Administraes Regionais (SUCAR), Secretaria de Estado de Fiscalizao das
Atividades Urbanas (SEFAU), Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), Instituto Nacional
de Metrologia, Normalizao e Qualidade Industrial (INMETRO), Conselho Regional de Engenharia e
Arquitetura (CREA), Conselho Federal de Engenharia e Arquitetura (CONFEA), Agncia Nacional do
Petrleo (ANP), Instituto de Pesquisas Tecnolgicas (IPT), Sindicato da Indstria da Construo Civil
(SINDUSCON) e empresas de equipamentos de segurana e pnico. Dessa maneira, consegue-se
obter resultados mais efetivos.
Diante da diversidade dos setores da sociedade envolvidos e da dinamicidade dos
conhecimentos aplicados segurana contra incndio e pnico, espera-se um determinado perfil
profissional dos analistas de projetos e vistoriadores tcnicos. Esses profissionais devem manter-se
continuamente atualizados e eticamente compromissados com a qualidade dos servios de
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
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fiscalizao. Este trabalho visa dar embasamento tcnico aplicao da legislao de segurana
contra incndio e pnico, fornecendo conhecimentos tericos e prticos das medidas de proteo
contra incndio e pnico. No obstante, o profissional deve ir alm e buscar a excelncia no
atendimento.
1.4 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS BRASIL. Constituio da Repblica Federativa do Brasil. 1988. BRASIL. Lei de Organizao Bsica. Lei n 8.255, de 20 de novembro de 1991. BRASIL. Regulamento da Lei de Organizao Bsica. Decreto n 16.036, de 4 de novembro de 1994. BRASIL. Estatuto do CBMDF. Lei n 7.479, de 2 de junho de 1986. DISTRITO FEDERAL. Cdigo de Edificaes do DF. Lei n 2.105, de 8 de outubro de 1998. DISTRITO FEDERAL. Regulamento do Cdigo de Edificaes do DF. Decreto n 19.915, de 17 de dezembro de 1998, e suas alteraes. DISTRITO FEDERAL. Regulamento de Segurana contra Incndio e Pnico. Decreto n 21.361, de 20 de julho de 2000. DISTRITO FEDERAL. Lei de Multa. Lei n 2.747, de 20 de julho de 2001. DISTRITO FEDERAL. Regulamentao da Lei de Multa. Decreto n 23.154, de 9 de agosto de 2002.
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FUNDAMENTOS DA SEGURANA CONTRA INCNDIO E PNICO
2.1 PRINCPIOS DA SEGURANA CONTRA INCNDIO
2 O objetivo fundamental da segurana contra incndio e pnico minimizar o risco vida e a
perda patrimonial. Entende-se como risco vida a exposio severa dos usurios da edificao e das
populaes adjacentes ao incndio e seus efeitos (fumaa, calor e pnico). Entende-se como perda
patrimonial a destruio parcial ou total da edificao, dos estoques, dos documentos, dos
equipamentos ou dos acabamentos do edifcio sinistrado ou da vizinhana, alm dos prejuzos
ambientais e dos danos indiretos decorrentes da interrupo das atividades desenvolvidas na
edificao sinistrada.
Uma forma de minimizar os riscos vida e s perdas patrimoniais evitar que um incndio,
caso iniciado, torne-se incontrolvel, posto que, nessa situao, certamente ocorrero perdas
significativas. E, mais que isso, deve-se tentar impedir que o incndio ocorra. Esse objetivo pode ser
alcanado por meio de alguns princpios:
controle da natureza e da quantidade dos materiais combustveis constituintes e contidos no edifcio;
compartimentao horizontal e vertical dos edifcios; dimensionamento da proteo e resistncia estrutural ao fogo; isolamento dos riscos (limitar a propagao entre edificaes); dimensionamento dos sistemas de deteco, alarme e extino de incndio; criao de rotas de fuga sinalizadas, iluminadas e livres da fumaa e do calor; criao de acesso s equipes de combate a incndio; treino da populao para combater princpios de incndio e realizao do abandono
seguro do edifcio; e
manuteno dos sistemas de proteo contra incndio instalados.
O incndio inicia-se, em geral, a partir de materiais combustveis depositados na edificao.
Mas, medida que as chamas se espalham sobre a superfcie do primeiro objeto ignificado e, talvez,
para outros objetos contguos, o processo de combusto torna-se mais fortemente influenciado por
fatores caractersticos do ambiente. Caso haja ventilao suficiente para sustentar o incndio, a
temperatura do ambiente ir se elevar, transportando camadas de gases quentes para a parte
superior do compartimento e originando intensos fluxos de energia trmica radiante.
Conseqentemente, os materiais combustveis ali presentes emitiro gases inflamveis que se
incendiaro, dando incio generalizao do incndio, momento em que todo o ambiente ficar
envolvido pelo fogo.
No intuito de dificultar a ocorrncia do incndio (mais propriamente de sua inflamao
generalizada), limitar a sua propagao e reduzir a produo de gases txicos na fumaa de
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
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incndio, importante no s controlar a quantidade e a natureza de material combustvel depositado
na edificao (carga de incndio temporal), como tambm controlar a quantidade e a natureza de
materiais combustveis incorporados aos elementos construtivos (carga de incndio incorporada).
Essa ao est relacionada com a reao ao fogo dos materiais, que a contribuio para o
desenvolvimento do fogo, ao sustentar a combusto e possibilitar a propagao superficial das
chamas.
Ainda com vistas limitao da produo e propagao de fumaa e calor no interior da
edificao, a principal medida a ser adotada consiste na compartimentao horizontal e vertical, a
qual visa dividir o edifcio em clulas capacitadas a suportar a queima dos materiais combustveis
nelas contidos. Essa medida deve ser acompanhada de cuidados como a ventilao do ambiente de
modo a controlar a severidade do incndio e a extrao de fumaa.
A capacidade dos elementos construtivos de suportar a ao do incndio denomina-se
resistncia ao fogo e refere-se ao tempo durante o qual conservam suas caractersticas funcionais de
vedao e/ou estabilidade estrutural. O correto dimensionamento da resistncia ao fogo dos
elementos estruturais proporciona uma fuga segura aos ocupantes da edificao, garante um tempo
mnimo de ao para as equipes de socorro e minimiza danos prpria edificao, vizinhana,
infra-estrutura pblica e ao meio ambiente.
Mesmo que um prdio se incendeie oportuno evitar a propagao do incndio desse para
os adjacentes. O isolamento entre riscos permite restringir o incndio, fazendo com que as
edificaes prximas no sofram os efeitos do sinistro. O isolamento de risco pode ser obtido por
meio de afastamento horizontal entre fachadas ou por barreiras (paredes corta-fogo).
A edificao deve dispor de sistemas de proteo contra incndio1. A probabilidade de o
incndio sair de controle em edificaes dotadas desses sistemas menor, se comparadas com
outras que no os possuam. A tabela 2.1 relaciona alguns meios de deteco e extino de incndio
com a probabilidade do seu controle.
Tabela 2.1 - Efeito da extino e deteco automticas do incndio. Meio de Proteo Probabilidade do incndio sair de controle
Corpo de Bombeiros 1:10 Chuveiros Automticos 2:100 Corpo de Bombeiros de alto padro combinado com sistema de alarme
entre 1:100 e 1:1000
Corpo de Bombeiros de alto padro combinado com chuveiro automtico
1:10000
Fonte: Plank, 1996. apud Vargas e Pignatta, 2003.
De pouco adiantar se os sistemas de proteo forem instalados, porm no forem
manutenidos. A manuteno peridica confere confiabilidade ao sistema e segurana edificao e
seus ocupantes.
Outra medida essencial da segurana contra incndio a educao com vistas insero
de uma cultura prevencionista na populao. A cultura prevencionista pode ser disseminada pelos
1 Entendidos aqui em sentido restrito. Seriam os sistemas de combate manuais e automticos e de deteco e alarme de incndio e de sadas, sinalizao e iluminao de emergncia.
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Captulo 2 - Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico
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bombeiros, pelos brigadistas, pelos professores, pelos lojistas, enfim, por diversas pessoas
capacitadas para tal fim. E pode ser feita por meio de palestras, cartilhas, treinamentos prticos,
visitas etc. Esta talvez seja a medida mais eficaz na obteno do grau de excelncia na segurana
contra incndio e pnico.
A probabilidade de ocorrncia de incndios com morte comparativamente baixa.
Acidentes fatais no trnsito so trinta vezes mais provveis que num incndio (Plank, 1996. apud
Vargas e Pignatta, 2003). Apesar disso, a segurana contra incndio deve tratar prioritariamente dos
fatores que influenciam a segurana da vida, os quais esto intimamente relacionados s medidas de
proteo que visem evacuao das pessoas da edificao sinistrada.
O tempo de evacuao de uma edificao em situao de incndio funo da estrutura da
edificao (altura, rea, sadas etc.), da quantidade de pessoas e de sua mobilidade (idade, estado
de sade etc.). As medidas de segurana necessrias so diferentes quando aplicadas a edifcios
altos em relao a edifcios trreos; a edifcios com alta densidade de pessoas (escritrios, hotis,
lojas e teatros), em relao queles com poucas pessoas (depsitos); a edifcios concebidos para
habitao de pessoas de mobilidade limitada (hospitais, asilos) e queles com ocupantes saudveis
(complexos esportivos).
A morte em incndio geralmente provocada pela fumaa ou pelo calor, conforme pode ser
observado na tabela 2.2. O risco de morte ou ferimentos graves pode ser avaliado em termos do
tempo necessrio para alcanar nveis perigosos de fumaa ou gases txicos e temperatura,
comparado ao tempo de escape dos ocupantes da rea ameaada. Isso significa que uma rota de
fuga adequada, bem iluminada, bem sinalizada, desobstruda e estruturalmente segura essencial
na proteo da vida em casos de incndio.
Devem ser tomados os devidos cuidados para limitar a propagao da fumaa e do fogo,
que podem afetar a segurana das pessoas em reas distantes da origem do incndio ou mesmo
entre edifcios vizinhos.
Tabela 2.2 Causa de mortes em incndios de edifcios. Pas Calor e fumaa Outras causas
Frana 95% 5% Alemanha 74% 26% Pases Baixos 90% 10% Reino Unido 97% 3% Sua 99% 1%
Fonte: Plank, 1996. apud Vargas e Pignatta, 2003.
Para que a atividade de segurana contra incndio e pnico possa ser satisfatoriamente
levada a cabo deve-se conhecer bem o incndio. Nas sees seguintes definiremos fogo e incndio,
estudaremos suas caractersticas e condies de deflagrao, desenvolvimento e propagao. A
partir da, podemos identificar claramente os riscos e os meios de extino de incndio, o que
conduzir adoo de medidas de proteo contra incndio e pnico eficientes e adequadas aos
propsitos de proteo vida e ao patrimnio. Entender o comportamento do incndio numa
edificao certamente o primeiro passo para a efetivao da segurana contra incndio e pnico.
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
2.2 ELEMENTOS ESSENCIAIS DO FOGO O fogo uma necessidade da vida moderna, como sempre foi aos nossos antepassados.
Sob controle, o fogo sempre de extrema necessidade, no entanto, quando foge ao controle do
homem transforma-se num agente de grande poder destruidor: o incndio.
O fogo pode ser definido como um fenmeno fsico-qumico no qual se tem lugar uma
reao de oxidao com emisso de luz e calor. J o incndio o fogo que foge ao controle do
homem, queimando tudo aquilo que a ele no destinado queimar, sendo capaz de produzir danos
ao patrimnio e vida por ao das chamas, do calor e da fumaa.
Devem coexistir quatro elementos para que o fenmeno do fogo ocorra e se mantenha:
1) combustvel;
Tetraedro do fogo
2) comburente (oxignio);
3) agente gneo (calor); e
4) reao em cadeia.
Combustvel O combustvel pode ser definido como qualquer substncia capaz de produzir calor por
meio da reao qumica. toda substncia capaz de queimar e alimentar a combusto. o elemento
que serve de campo de propagao do fogo.
O fogo manifesta-se diferentemente em funo da composio qumica do combustvel,
mas, por outro lado, um mesmo material pode queimar de modo diferente em funo da sua
superfcie especfica, das condies de exposio ao calor, da oxigenao e da umidade contida.
Os combustveis podem ser slidos, lquidos ou gasosos. A maioria precisa passar para o
estado gasoso para, ento combinar-se com o oxignio e ignificar-se.
Os combustveis slidos possuem forma e volume definidos e queimam em superfcie e em
profundidade. Quanto maior a superfcie exposta, mais rpido ser o aquecimento do material e,
conseqentemente, o processo de combusto. Exemplo: uma barra de ao exigir muito calor para
queimar, mas, se transformada em palha de ao, queimar com facilidade.
A maioria dos slidos combustveis possui um mecanismo seqencial para sua ignio. O
slido precisa ser aquecido, quando desenvolve vapores combustveis que se misturam com o
oxignio, formando a mistura inflamvel (explosiva), a qual, na presena de uma pequena chama
(fagulha ou centelha) ou em contato com uma superfcie aquecida, ignifica-se; aparece ento a
chama na superfcie do slido, que fornece mais calor, aquecendo mais materiais e assim
sucessivamente.
Nos materiais slidos, a rea especfica um fator importante para determinar sua razo de
queima, ou seja, a quantidade do material queimado na unidade de tempo, que est associada
quantidade de calor gerado e, portanto, elevao da temperatura do ambiente. Um material slido
com igual massa e com reas especficas diferentes, por exemplo, de 1m2 e 10m2, queima em
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Captulo 2 - Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico
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tempos inversamente proporcionais, porm, libera a mesma quantidade de calor. No entanto, a
temperatura atingida no segundo caso ser bem maior.
Por outro lado, no se pode afirmar que isso sempre verdade, no caso da madeira,
observa-se que, quando apresentada em forma de serragem, ou seja, com reas especficas
grandes, no se queima com grande rapidez. Comparativamente, a madeira em forma de p pode
formar uma mistura explosiva com o ar, comportando-se, dessa maneira, como um gs que possui
velocidade de queima muito grande.
No mecanismo de queima dos materiais slidos, temos a oxigenao como um outro fator
de grande importncia. Quando a concentrao, em volume, de oxignio no ambiente cai para
valores abaixo de 15%, a maioria dos materiais combustveis existentes no local no mantm a
chama na sua superfcie.
Os lquidos inflamveis e combustveis possuem mecanismos semelhantes, ou seja, o
lquido, ao ser aquecido, vaporiza-se e mistura-se com o oxignio, formando a "mistura inflamvel"
(explosiva) que, na presena de uma pequena chama (fagulha ou centelha) ou em contato com
superfcie aquecida, ignifica-se e aparece ento a chama na superfcie do lquido, a qual aumenta a
vaporizao e a chama. A quantidade de chama fica limitada capacidade de vaporizao do lquido.
Os combustveis lquidos alm de queimarem somente na superfcie tm algumas
propriedades fsicas que dificultam a extino do calor, aumentando o perigo para os bombeiros. Os
lquidos assumem a forma do recipiente que os contm. Se derramados, fluem pelo piso e acumulam-
se nas partes mais baixas.
Tomando como base o peso da gua, cujo litro pesa um quilograma, classificamos os
demais lquidos como mais ou menos densos. importante notar que a maioria dos lquidos
inflamveis menos denso que a gua e, portanto, flutuam sobre esta.
Outra propriedade a ser considerada a solubilidade do lquido, ou seja, sua capacidade de
misturar-se gua. Os lquidos derivados do petrleo (conhecidos como hidrocarbonetos) tm pouca
solubilidade, ao passo que lquidos como lcool, acetona (os solventes polares) tm grande
solubilidade, isto , podem ser diludos at o ponto em que a mistura (solvente polar + gua) no seja
inflamvel.
A volatilidade, que a facilidade com que os lquidos liberam vapores, tambm de grande
importncia, porque quanto mais voltil for o lquido, maior a possibilidade de haver fogo ou mesmo
exploso; chamamos de volteis os lquidos que liberam vapores a temperatura menor que 20C.
Os lquidos tambm so classificados pelo seu ponto de fulgor, ou seja, pela menor
temperatura na qual liberam uma quantidade de vapor suficiente para formar uma mistura inflamvel
com o ar na presena de uma chama piloto.
Existe, entretanto, uma outra classe de lquidos, denominados instveis ou reativos, cuja
caracterstica de se polimerizar, decompor ou condensar violentamente ou ainda de se tornar auto-
reativo sob condies de choque, presso ou temperatura, podendo desenvolver grande quantidade
de calor.
A mistura inflamvel vapor/ar (gs/ar) possui uma faixa ideal de concentrao para se tornar
inflamvel ou explosiva, e os limites dessa faixa so denominados limite inferior de inflamabilidade e
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
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limite superior de inflamabilidade, expressos em porcentagem e volume. Estando a mistura fora
desses limites no ocorrer a ignio.
Para entendermos melhor a tabela 2.3, vamos considerar um combustvel sendo aquecido
lentamente dentro de um frasco, medida que o aquecemos, os gases inflamveis vo se
desprendendo, definindo trs temperaturas ou faixas de temperatura, chamadas de:
ponto de fulgor (flashpoint), que a temperatura na qual os vapores liberados pelo material combustvel slido ou lquido entram em ignio ao contato com uma fonte externa de calor,
porm ao retir-la, as chamas no se mantm. No entanto, a combusto no prossegue, porque
nessa temperatura a quantidade de vapor ainda insuficiente para isso.
ponto de ignio (firepoint)2: a temperatura na qual os vapores do combustvel queimam ao contato de uma chama e continuam a queimar na ausncia dessa, pois a vaporizao se
d em quantidade suficiente para alimentar a combusto. Para os combustveis lquidos, os pontos de
fulgor e de combusto so valores muito prximos.
auto-ignio definida como a temperatura em que o combustvel queima, mesmo sem a presena de chama, ao entrar em contato com o oxignio do ar. Essa temperatura est muito acima
dos pontos de fulgor e combusto.
Tabela 2.3 Pontos de fulgor, ignio e limites de explosividade de alguns combustveis. Limite de explosividade (% em
volume) Substncia Ponto de fulgor
(C) Ponto de
ignio(C) Inferior Superior
Acetona -17,7 538 3 13 cido actico 40 426 4 17 lcool 11 a 12 371 a 426 3 19 Benzina -17,7 - 1,2 6 ter -45 180 1,17 48 Gasolina -42 257 1,3 6 Querosene 38 a 74 254 1,16 6 Acetileno - 335 2,5 80 Gasognio - 648 5,3 31 Gs natural - - 4,8 13,5 Hidrognio - 584,5 4,1 74,2 Monxido de carbono
- 650 1,25 74
Fonte: Gomes, 1998.
Os gases no tm volume definido, tendendo rapidamente a ocupar todo o recipiente (ou
ambiente) em que esto contidos. Se a densidade do gs menor que a do ar, o gs tende a subir e
dissipar-se. Mas, se a densidade do gs maior que a do ar, o gs permanece prximo ao solo e
migra na direo do vento, obedecendo aos contornos do terreno.
Para o gs queimar, h a necessidade de que esteja em uma mistura ideal com o ar
atmosfrico, e, portanto, se estiver numa concentrao fora de determinados limites, no queimar.
Cada gs, ou vapor, tem seus limites prprios, por exemplo, se em um ambiente h menos de 1,3%
ou mais de 6% de vapor de gasolina, no haver combusto, pois a concentrao de vapor de 2 Existem fontes nacionais que traduzem o termo firepoint como ponto de combusto, mas, como o manual de combate a incndio do CBMDF adota a nomenclatura de ponto de ignio esse texto tambm est seguindo esse padro.
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Captulo 2 - Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico
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gasolina nesse local est fora do que se chama de mistura ideal, ou limites inflamveis, isto , a
concentrao desse vapor ou inferior ou superior aos limites de inflamabilidade.
Comburente Comburente o elemento que possibilita vida s chamas e intensifica a combusto. a
substncia s custas da qual se d a combusto. No caso do incndio, o mais comum que o
oxignio desempenhe esse papel.
O ar seco tem, na sua composio, 20,99% de oxignio, os demais componentes so o
nitrognio com 78,03% e outros gases (CO2, Ar, H2, He, Ne, Kr) com 0,98%.
Em ambientes com a composio normal do ar, a queima desenvolve-se de maneira
completa. Notam-se chamas. Contudo, a combusto consome o oxignio do ar num processo
contnuo. Quando a porcentagem do oxignio do ar do ambiente passa de 21% para a faixa
compreendida entre 15% e 8%, a queima torna-se mais lenta, notam-se brasas e no mais chamas.
Quando o oxignio contido no ar do ambiente atinge concentrao menor que 8%, no h
combusto.
Calor O calor definido como uma forma de energia que se transfere de um sistema para outro
em virtude de uma diferena de temperatura, que se distingue das outras formas de energia porque,
como o trabalho, s se manifesta num processo de transformao. o elemento que inicia a
combusto.
O calor, por sua vez, pode ter como fonte o cigarro aceso, os queimadores a gs ou mesmo
a concentrao da luz solar atravs de uma lente, ou seja, o calor gerado pela transformao de
outras formas de energia, quais sejam:
energia qumica quantidade de calor gerado pelo processo de combusto; energia eltrica o calor gerado pela passagem de eletricidade atravs de um condutor,
como um fio eltrico ou um aparelho eletrodomstico;
energia mecnica o calor gerado pelo atrito de dois corpos; e energia nuclear o calor gerado pela quebra de ou fuso de tomos.
Reao em cadeia A reao em cadeia torna a queima auto-sustentvel. O calor irradiado das chamas atinge o
combustvel e esse decomposto em partculas menores, que se combinam com o oxignio e
queimam, irradiando outra vez calor para o combustvel, formando um ciclo.
A cadeia de reaes criada durante a combusto propicia a formao de produtos
intermedirios instveis, principalmente radicais livres. Esses radicais livres decompem outras
molculas, que tambm geram outros radicais livres, transformando energia qumica em energia
trmica. Dessa maneira, processa-se a propagao do fogo numa reao em cadeia.
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
2.3 DESENVOLVIMENTO DO INCNDIO O incndio pode ser melhor compreendido se estudarmos seus estgios de
desenvolvimento.
A evoluo do incndio num local pode ser caracterizada por uma curva com quatro fases:
1) fase inicial;
2) fase crescente;
3) fase totalmente desenvolvida; e
4) fase final.
Fase Inicial
Fase Crescente
Fase Totalmente Desenvolvida
Fase Final
Fases do Incndio
Tempo (min)
Tem
pera
tura
(C
)
Figura 2.1 Curva temperatura-tempo de um incndio real. Fonte: CBMDF.
Fase inicial Na primeira fase, o oxignio contido no ar no est significativamente reduzido e o fogo est
produzindo vapor dgua, dixido de carbono (CO2), monxido de carbono (CO) e outros gases.
Grande parte do calor est sendo consumido no aquecimento dos combustveis e a temperatura
ambiente, nesse estgio, ainda est pouco acima da normal. O calor est sendo gerado e evoluir
com o aumento do fogo. A primeira fase caracteriza-se por grandes variaes de temperatura de
ponto a ponto no ambiente, ocasionadas pela inflamao sucessiva dos objetos existentes no recinto,
de acordo com a alimentao de ar.
Normalmente os materiais combustveis e uma variedade de fontes de calor coexistem no
interior de uma edificao. A manipulao acidental desses elementos , potencialmente, capaz de
criar uma situao de perigo.
Os focos de incndio, desse modo, originam-se em locais onde fontes de calor e materiais
combustveis so encontrados juntos, de tal forma que, ocorrendo a decomposio do material pelo
calor, so desprendidos gases que podem se inflamar.
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Captulo 2 - Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico
Considerando-se que diferentes materiais combustveis necessitam receber diferentes
nveis de energia trmica para que ocorra a ignio necessrio que as perdas de calor sejam
menores que a soma de calor proveniente da fonte externa e do calor gerado no processo de
combusto. Nesse sentido, se a fonte de calor for pequena, ou a massa do material a ser ignificado
for grande, ou, ainda, a sua temperatura de ignio for muito alta, somente iro ocorrer danos locais,
sem a evoluo do incndio.
Na fase inicial, o fogo est restrito ao objeto inicialmente em queima e s suas
proximidades.
Fase crescente Se a ignio definitiva for alcanada, o material continuar a queimar desenvolvendo calor e
produtos de decomposio, passando-se fase de aquecimento. A temperatura subir
exponencialmente de 50C at cerca de 800C, acarretando o acmulo de fumaa e outros gases e
vapores no teto.
H, nesse caso, a possibilidade de o material envolvido no foco do incndio queimar
totalmente sem proporcionar o envolvimento do resto dos materiais contidos no ambiente ou dos
materiais constituintes dos elementos da edificao. De outro modo, se houver caminhos para a
propagao do fogo, por meio de conveco ou radiao, em direo aos materiais presentes nas
proximidades, ocorrer simultaneamente a elevao da temperatura do recinto e o desenvolvimento
de fumaa e gases inflamveis.
Os gases aquecidos que se formam no foco inicial determinaro a transmisso de calor, que
poder ocorrer por conduo, radiao ou conveco, conforme veremos frente. A transmisso de
calor implica no aquecimento gradual de todo o ambiente.
A maior quantidade de calor transferida ao ambiente por conveco, cerca de 90%, sendo
os 10% restantes transmitidos por radiao e conduo. Por essa razo, se for assegurada uma
sada eficiente dos gases que se formam no incndio, ele ser mais facilmente extinto.
Figura 2.2 Fase anterior ao flashover - grande desenvolvimento de fumaa e gases,
acumulando-se no nvel do teto. Fonte: IT-02 CBPMSP.
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
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Durante a fase crescente, o ar rico em oxignio arrastado para dentro do ambiente pelo
efeito da conveco, isto , o ar quente sobe e sai do ambiente, forando a entrada de ar fresco pelas
aberturas nos pontos mais baixos do ambiente.
Os gases aquecidos espalham-se preenchendo o ambiente e, de cima para baixo, foram o
ar frio a permanecer junto ao solo; eventualmente causam a ignio dos combustveis em nveis mais
altos do ambiente. Esse ar aquecido uma das razes pelas quais o bombeiro deve se manter
abaixado e usar o equipamento de proteo respiratria. A inspirao desse ar superaquecido pode
queimar os pulmes. A temperatura pode chegar a 800C no nvel do teto.
Pela radiao emitida por forros, paredes e pela prpria massa de gases aquecidos, os
materiais combustveis que ainda no queimaram, so pr-aquecidos prximo sua temperatura de
ignio. Os materiais que esto prximos s chamas so pr-aquecidos, as chamas so bem visveis
no local.
Com a evoluo do incndio e a oxigenao do ambiente, atravs de aberturas no recinto, o
incndio ganhar mpeto, os materiais passaro a ser aquecidos por conveco e radiao, at
determinados materiais combustveis atingirem seu ponto de ignio simultaneamente, ocasio em
que haver uma queima instantnea e generalizada desses produtos, ficando toda a rea envolvida
em chamas. Esse fenmeno denominado de generalizao do incndio (ou flashover). Na
generalizao do incndio observa-se o envolvimento total do ambiente pelo fogo e a emisso de
gases inflamveis atravs de portas e janelas, que se queimam no exterior do edifcio (as lnguas de
fogo). Nesse momento, torna-se impossvel a sobrevivncia no interior do ambiente.
O tempo gasto para o incndio alcanar o ponto de generalizao do incndio3
relativamente curto e depende dos revestimentos e acabamentos utilizados no ambiente de origem,
das circunstncias em que o fogo comea a se desenvolver e da geometria do ambiente.
Fase totalmente desenvolvida A transio entre a fase crescente e esta pode ocorrer quando o suprimento de combustvel
ou oxignio comea a ser limitado. A partir da, o incndio ir se propagar para outros
compartimentos da edificao seja por conveco de gases quentes no interior do edifcio ou pelo
exterior, na medida em que as chamas que saem pelas aberturas (portas e janelas) podem transferir
o fogo para o pavimento superior, quando esse existir, principalmente atravs das janelas superiores.
A fumaa, que j na fase anterior pode ter se espalhado no interior da edificao, se
intensifica e se movimenta perigosamente no sentido ascendente, estabelecendo, em instantes,
condies crticas para a sobrevivncia na edificao.
Caso a proximidade entre as fachadas da edificao incendiada e as adjacentes possibilite
a incidncia de intensidades crticas de radiao, o incndio poder se propagar por radiao para
outras habitaes, configurando uma conflagrao.
A influncia da ventilao demonstrada pelo seguinte exemplo: a durao do fogo
limitada pela quantidade de ar e do material combustvel no local, o volume de ar existente numa sala
3 importante salientar que o incndio pode continuar a se desenvolver mesmo sem a ocorrncia do flashover (generalizao do incndio).
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Captulo 2 - Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico
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de 30m2 ir queimar 7,5kg de madeira, portanto, o ar necessrio para a alimentao do fogo
depender das aberturas existentes na sala.
Ocorre uma constante troca entre o ambiente interno e externo, com a sada dos gases
quentes e da fumaa e a entrada de ar.
Em um incndio, acontecem dois casos tpicos que esto relacionados com a ventilao e
com a quantidade de combustvel em chama.
No primeiro caso, a vazo de ar que adentra ao interior da edificao incendiada superior
necessidade da combusto dos materiais, temos um fogo aberto, aproximando-se a uma queima de
combustvel ao ar livre, cuja caracterstica ser de uma combusto rpida.
No segundo caso, a entrada de ar controlada ou deficiente em decorrncia de pequenas
aberturas externas, temos um incndio com durao mais demorada, cuja queima controlada pela
quantidade de combustvel, ou seja, pela carga de incndio, na qual a estrutura da edificao estar
sujeita a temperaturas elevadas por um tempo maior de exposio, at que ocorra a queima total do
contedo do edifcio. Esse o caso que ocorre geralmente nos incndios em edificaes, objeto de
nosso estudo.
Em resumo, a taxa de combusto de um incndio pode ser determinada pela velocidade do
suprimento de ar, estando implicitamente relacionada com a quantidade de combustvel e sua
disposio, da rea do ambiente em chamas e das dimenses das aberturas. Desse conceito decorre
a importncia da forma e quantidade de aberturas em uma fachada.
A proximidade ainda maior entre habitaes pode estabelecer uma situao ainda mais
crtica para a ocorrncia da conflagrao na medida em que o incndio se alastre muito rapidamente
por contato direto de chama entre fachadas.
No caso de estabelecimentos agrupados em bloco, a propagao do incndio, entre
unidades, poder se dar por conduo de calor via paredes e forros, por destruio dessas barreiras
ou, ainda, por meio da conveco de gases quentes que venham a penetrar por aberturas existentes.
Fase final A fase final tem incio quando o incndio j consumiu a maior parte do oxignio e do
combustvel presente no ambiente, ocorrendo uma diminuio linear da temperatura, ou seja, o
ambiente resfriado lentamente.
Como nas fases anteriores, o fogo continuar a consumir oxignio at atingir um ponto no
qual o comburente insuficiente para sustentar a combusto. Nessa fase (de resfriamento), as
chamas podem deixar de existir se no houver ar suficiente para mant-las (abaixo de 15% de
oxignio). O fogo normalmente reduzido a brasas, o local torna-se completamente ocupado por
fumaa densa e os gases se expandem. Devido presso interna ser maior do que a externa ao
ambiente, os gases saem por todas as fendas. Esse calor intenso reduz os combustveis a seus
componentes bsicos, liberando vapores combustveis.
Nessa fase, a combusto incompleta porque no h oxignio suficiente para sustentar o
fogo, contudo o calor da queima livre (fase de aquecimento) permanece e as partculas de carbono
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
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no queimadas bem como outros gases inflamveis esto prontos para incendiar-se rapidamente
assim que o oxignio for suficiente.
A ventilao adequada permite que a fumaa e os gases combustveis superaquecidos
sejam retirados do ambiente. Ventilao inadequada suprir abundante e perigosamente o local com
o elemento que faltava (oxignio), provocando uma exploso. A exploso que se segue entrada de
comburente no ambiente chamamos de backdraft ou exploso de fumaa.
As condies a seguir podem indicar um backdraft:
fumaa sob presso, em ambiente fechado; fumaa escura, tornando-se densa e saindo do ambiente em forma de lufadas; calor excessivo (nota-se pela temperatura da porta); pequenas chamas ou inexistncia dessas; resduos da fumaa impregnando o vidro das janelas; movimento de ar para o interior do ambiente quando alguma abertura feita (em alguns
casos, ouve-se o ar assoviando ao passar pelas frestas).
Com o consumo do combustvel existente no local ou decorrente da falta de oxignio, o fogo
pode diminuir de intensidade e, conseqentemente, extinguir-se.
Tabela 2.4 - Fases do Incndio.
Fase Inicial Fase Crescente Fase Totalmente Desenvolvida Fase Final
chamas restritas ao foco inicial;
combustvel ilimitado;
oxignio em abundncia;
temperatura ambiente;
durao varivel.
chamas se propagando para os materiais prximos;
combustvel ainda em abundncia;
diminuio da quantidade de oxignio;
aumento exponencial da temperatura;
ascenso da massa gasosa por ao da conveco.
combustvel limitado;
oxignio restrito e diminuindo;
grandes diferenas de temperatura entre o teto e o piso;
calor irradiado do teto em direo ao piso.
diminuio ou extino das chamas;
baixa concentrao de oxignio;
temperatura muito alta, diminuindo lentamente;
presena de muita fumaa e incandescncia;
risco de ignio da fumaa se injetado ar no ambiente.
Fonte: Adaptado do Manual Bsico de Combate a Incndio do CBMDF,.
2.4 TRANSFERNCIA DE CALOR A probabilidade de um foco de incndio extinguir-se ou evoluir para um grande incndio
depende de diversos fatores, tais como: tipo, quantidade, volume, localizao e espaamento dos
materiais combustveis na edificao, fontes de ignio, rea e locao das aberturas para ventilao,
velocidade e direo do vento, caractersticas construtivas do recinto (material de construo, forma e
dimenso), existncia de medidas de proteo passiva e ativa na edificao, entre outros.
Por exemplo, o risco de um grande incndio em um depsito de tintas maior que em uma
indstria de processamento de papel. Um edifcio trreo com grande rea de piso, sem
compartimentao, pode representar um risco maior de incndio do que um edifcio, com diversos
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Captulo 2 - Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico
andares, de mesma atividade, subdividido em muitos compartimentos, que confinaro o incndio.
Quanto mais isolantes forem os materiais constituintes das paredes e do teto, menor ser a
propagao do fogo para outros ambientes, mas mais severo ser o incndio no compartimento. A
probabilidade de incio e propagao de um incndio reduzida em edifcios onde existam detectores
de incndio, chuveiros automticos, brigada contra incndio, compartimentao adequada etc.
Por sua vez, esses fatores esto relacionados com a transferncia de calor, que ocorre de
trs formas fundamentais: por conduo, por conveco e por radiao. Num incndio, as trs formas
geralmente so concomitantes, embora em determinado momento uma delas seja predominante.
O calor propaga-se de sistemas com temperaturas mais altas para aqueles com
temperaturas mais baixas. O mais frio de dois objetos absorver calor at que esseja com a mesma
temperatura do outro.
Figura 2.3 Formas de transferncia de calor: conduo, conveco e radiao.
Conduo Quando existe uma diferena de temperatura em um meio estacionrio, que pode ser slido
ou fluido, usamos o termo conduo para nos referirmos transferncia de calor que ir ocorrer
nesse meio. Nesse processo, a transferncia de calor d-se por meio da transferncia de energia (de
vibrao) de partculas mais energticas para partculas menos energticas devido s interaes
entre elas. Colocando-se, por exemplo, a extremidade de uma barra de ferro prxima a uma fonte de
calor, as molculas dessa extremidade absorvero calor, vibraro mais vigorosamente e se chocaro
com as molculas vizinhas, transferindo-lhes calor. Essas molculas vizinhas, por sua vez, passaro
adiante a energia recebida, de modo que a energia trmica ser conduzida ao longo da barra para a
extremidade fria. Na conduo, o calor passa de partcula a partcula, mas nenhuma delas
transportada com o calor. Quando dois ou mais corpos esto em contato, o calor conduzido por
meio deles como se fossem um s.
Conduo
Conveco
Radiao
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
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Conveco O termo conveco refere-se transferncia de calor que ir ocorrer, por exemplo, entre
uma superfcie e um fluido em movimento quando eles se encontram em temperaturas diferentes.
Devido ao movimento de massas de fluidos (gases, vapores ou lquidos), na presena de um
gradiente de temperatura, ocorre a conveco.
Quando a gua aquecida num recipiente de vidro, pode-se observar um movimento,
dentro do prprio lquido, de baixo para cima. medida que a gua aquecida, ela se expande e fica
menos densa provocando um movimento para cima. Da mesma forma o ar aquecido se expande e
tende a subir para as partes mais altas do ambiente, enquanto o ar frio toma os nveis mais baixos.
Em um incndio, essa a principal forma de propagao de calor para andares superiores. Os gases
aquecidos encontram caminho pelas aberturas como escadas, dutos de ventilao, poos de
ventiladores etc. e atingem outros ambientes, que podem vir a incendiar-se, dependendo dos
materiais neles contidos.
Radiao O terceiro modo de transmisso de calor conhecido por radiao trmica. Todas as
superfcies a uma temperatura finita emitem energia na forma de ondas eletromagnticas. Assim, na
ausncia de um meio que se interponha entre duas superfcies a diferentes temperaturas, existe
transferncia de calor por radiao. As emisses podem ocorrer a partir de superfcies slidas, mas
tambm de lquidos e gases. As ondas eletromagnticas propagam-se em todas as direes e a
intensidade com que os corpos so atingidos aumenta ou diminui fortemente na medida em que
esto mais prximos ou mais afastados da fonte de calor.
Enquanto a transferncia de calor por conduo ou conveco requer a presena de um
meio material, a radiao no necessita dele. Na verdade, a radiao ocorre de forma mais eficiente
no vcuo.
O bombeiro deve estar atento aos materiais ao redor de uma fonte que irradie calor para
proteg-los, a fim de que no ocorram novos incndios. Para se proteger, o bombeiro deve utilizar
equipamentos de proteo individual (roupas apropriadas, culos de proteo, mscara).
2.5 PRODUTOS DO INCNDIO A combusto uma reao qumica de oxidao-reduo na qual necessariamente temos a
presena de um combustvel e de um comburente, geralmente o oxignio. Essa reao sempre libera
energia calorfica e luminosa no espectro visvel ou no.
Com base na velocidade em que se processa a reao, podemos classificar as combustes
em lenta e viva:
lenta: so as combustes em que o processo de reao se d muito lentamente e no h produo de chama. A incandescncia (smoldering) um processo de combusto relativamente
lento que ocorre entre o oxignio e um slido combustvel, comumente chamado de brasa.
Incandescncias podem ser o incio ou o fim de uma chama, ou seja, de uma combusto viva. A
luminescncia indicativa de temperaturas acima de 1000 C. Geralmente, h presena de
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Captulo 2 - Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico
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incandescncia na fase final dos incndios. Ela pode tornar-se uma combusto viva se houver um
aumento do fluxo de ar sobre o combustvel, semelhantemente ao efeito que se deseja obter ao
acender uma churrasqueira. A velocidade da reao da combusto lenta depende de muitos fatores,
mas geralmente da ordem de 10-2 a 10-3 cm/s ou aproximadamente 1 a 5 mm/minuto.
viva: o fogo caracterizado pela presena de chama. O tamanho da chama no um fator relevante para classificar a reao como combusto viva. Para que isso ocorra necessrio que
uma quantidade suficientemente perceptvel de energia seja liberada, ou seja, a relao entre a
energia de ativao e a unidade de volume de uma reao qumica que determina se a reao fogo
ou no. No comeo da combusto, esse nvel de energia pode ser em torno de 1.000 (103) kW/m3,
que suficiente para aquecer 1 grama de gua em 1 C por segundo. Reaes sustentveis de
incndio podem atingir densidades muito maiores algo em torno de 1010 kW/m3. A temperatura
nessa zona de reao pode atingir 2000 C em combustveis lquidos e 1000 C em combustveis
slidos (incandescncia).
Interessa tambm apresentar uma outra classificao para as combustes, relacionada aos
produtos da reao. Quando todas as molculas do combustvel possveis de se combinarem com o
oxignio reagirem com ele, no restando produtos instveis, dizemos que a combusto completa.
Por outro lado, quando a quantidade de oxignio que entra na combusto menor que a necessria,
teoricamente, aparecem, nos produtos da combusto, combustveis, tais como: CO, H2 e, em casos
de grande escassez de oxignio, at hidrocarbonetos de carvo em p (fuligem, negro fumo). Nesse
caso, dizemos que a combusto incompleta. A combusto incompleta a combusto que libera
resduos que no foram totalmente consumidos durante o processo de queima, provenientes da
reao em cadeia e capazes de continuar reagindo com o ar.
Os materiais combustveis ao entrarem em combusto viva, em geral, tm como resultados
os seguintes produtos: fumaa, calor, vapor dgua, carvo e cinza. Sem dvida alguma que, do
ponto de vista da segurana contra incndio, os produtos mais significativos so fumaa e calor. Mais
especificamente quanto segurana das pessoas, entre os fatores determinantes de uma situao
de risco associados ao incndio (calor, fumaa e insuficincia de oxignio), a fumaa
indubitavelmente causa danos mais graves e, portanto, deve ser o fator mais importante. A fumaa
um problema srio a ser considerado nos casos de incndio.
Fumaa A fumaa pode ser definida como uma mistura complexa de slidos em suspenso, vapores
e gases, desenvolvida quando um material sofre o processo de pirlise (decomposio por efeito do
calor) ou combusto.
Os fatores que afetam a formao da fumaa podem ser tidos como a composio qumica
do material, a temperatura do meio ambiente, a quantidade de oxignio, a radiao incidente no
material, a distribuio do material, os materiais nas proximidades do fogo, o tipo de queima (com ou
sem chama), a massa do material, a durao do incndio e a forma do material (espuma, folheado,
placa etc).
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
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difcil determinar com preciso o produto da fumaa responsvel pelo efeito nocivo. Os
componentes dessa mistura, associados ou no, influem diferentemente sobre as pessoas,
ocasionando os seguintes efeitos:
diminuio da visibilidade devido atenuao luminosa do local; lacrimejamento e irritaes nos olhos; modificao da atividade orgnica pela acelerao da respirao e batidas cardacas,
vmitos e tosse;
medo; desorientao; e intoxicao e asfixia. A reduo da visibilidade do local impede a locomoo das pessoas fazendo com que
fiquem expostas por tempo maior aos gases e vapores txicos. Esses, por sua vez, causam a morte
se estiverem presentes em quantidade suficiente e se as pessoas ficarem expostas durante o tempo
que acarreta essa ao.
Alguns produtos podem ser irritantes, tais como o gs clordrico e a amnia que atacam o
aparelho respiratrio e os olhos. Os produtos txicos responsveis por mortes nos incndios so
pouco conhecidos, porm podemos destacar alguns:
monxido de carbono (CO): produzido pela combusto incompleta, reage quimicamente com as molculas da corrente sangnea formando carboxihemoglobina.
gs ciandrico e outros compostos ciangenos: bloqueiam todas as atividades de formas e materiais vivos (exerce uma atividade inibidora nas clulas vivas na pele do corpo).
cido clordrico (HCl): produzido pelos materiais sintticos que possuem cloro na sua estrutura (p. ex. PVC). Causa asfixia e morte.
dixido de nitrognio (NO2): muito txico e pode ser obtido da queima de nitrato de celulose; irritante da mucosa, causa leses no aparelho respiratrio ao reagir com a umidade para
formar cidos nitroso e ntrico.
Da decorre a importncia de se entender o comportamento, teoria de movimentao, da
fumaa em uma edificao.
Como resultado da combusto, a fumaa gerada possui uma temperatura maior do que a
temperatura ambiente e, portanto, uma fora de flutuao a faz propagar-se dentro do edifcio. Devido
a essa fora, a velocidade de propagao da fumaa no sentido vertical maior do que no sentido
horizontal e quanto maior for a diferena de temperatura, maior ser a velocidade de propagao.
Assim, a fumaa penetra nos corredores diminuindo ou atrapalhando a visibilidade das
pessoas, limitando suas atividades e expondo-as a gases txicos por mais tempo.
A propagao da fumaa est diretamente relacionada com a taxa de elevao da
temperatura, logo, a fumaa desprendida por qualquer material, desde que exposta mesma taxa de
elevao da temperatura, gerar igual propagao.
Se conseguirmos determinar os valores de densidade ptica da fumaa e da toxicidade na
sada de um ambiente sinistrado, poderemos estudar o movimento do fluxo de ar quente e, ento,
ser possvel determinar o tempo e a rea do edifcio que se tornar perigosa devido propagao
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Captulo 2 - Fundamentos da Segurana contra Incndio e Pnico
da fumaa. A fumaa gerada por uma fonte de calor (material em combusto) flui no sentido
ascendente com formato de cone invertido, denominado de plume.
Figura 2.4 Plume de fumaa numa sala.
Fonte: IT-02 CBPMSP.
A movimentao da fumaa atravs de corredores e escadas depender, sobretudo, das
aberturas existentes e da velocidade do ar nesses locais, porm, se o mecanismo de locomoo for
considerado em relao s caractersticas do plume, pode-se, ento, estabelecer uma correlao
com o fluxo de gua. Em casos onde exista um exaustor de seo quadrada menor que a largura do
corredor e, se a fumaa vier fluindo em sua direo, parte dessa fumaa ser exaurida e grande parte
passar direto e continuar fluindo para o outro lado. No entanto, se o fluxo de fumaa exaurir-se
atravs de uma abertura que possua largura igual do corredor, a fumaa ser retirada totalmente.
Foi verificado que quanto mais a fumaa se alastrar, menor ser a espessura de sua
camada, e que a velocidade de propagao da fumaa na direo horizontal, no caso dos corredores,
est em torno de 1m/s, e na direo vertical, no caso das escadas, est entre 2m/s e 3m/s.
O processo de controle de fumaa necessrio em cada edifcio para garantir a segurana de
seus ocupantes contra o fogo e a fumaa baseado nos princpios de engenharia. O processo deve
ter a flexibilidade e a liberdade de seleo de mtodo e da estrutura do sistema de segurana para
promover os requisitos num nvel de segurana que se deseja.
Em outras palavras, o objetivo do projeto de proteo ao fogo (fumaa) obter um sistema
que satisfaa s convenincias das atividades dirias, devendo ser econmico e garantir a segurana
necessria sem estar limitado por mtodo ou estruturas especiais prefixados.
Existem vrios meios para controlar o movimento da fumaa, e todos levando em conta as
caractersticas de cada edifcio.
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Manual de Segurana contra Incndio e Pnico - Proteo Passiva
Figura 2.5 extrao de fumaa de atrium.
Fonte: IT-02 CBPMSP.
Como condies que tm grande efeito sobre o movimento da fumaa no edifcio, pode-se
citar:
poca do ano da ocorrncia do incndio; condies meteorolgicas (direo e velocidade do vento, temperatura do ar e
coeficiente de presso do vento);
localizao do incio do fogo; resistncia das portas, janelas, dutos e chamins ao fluxo do ar; e distribuio da temperatura no edifcio (ambiente onde est ocorrendo o fogo,
compartimentos em geral, caixa de escada, dutos e chamins).
Devem-se estabelecer os padres para cada uma dessas condies.
Entende-se como momento de ocorrncia do incndio a poca do ano (vero/inverno) em
que isto possa ocorrer, pois, para o clculo, deve-se levar em conta a diferena de temperatura
existente entre o ambiente interno e o externo ao edifcio. Essa diferena ser grande, caso sejam
utilizados aquecedores ou ar condicionado no edifcio.
As condies meteorol