Manual de Poesia e Textos

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MANUAL DE POESIA E TEXTOS “ESCREVER É UMA FORMA LÚDICA DE SER” JOSÉ GERALDO DE FARIA - 2014 Algo a dizer Manual de Poesia e Textos é o resultado de uma relação pessoal entre a escrita técnica e a literária. Ambas necessárias, mas diferentes na forma e aplicação. Enquanto a escrita técnica prima pela informação e objetividade, a literária permite maior liberdade de expressão do pensamento e sentimento, mas ambas devem obedecer à correta ortografia e a um padrão ordenado de idéias, daquilo que se deseja exprimir. Escrever, portanto, é um ato concreto de materializar o pensamento, seja técnico ou literário, conduzindo o leitor aos caminhos do fazer ou do prazer. Afinal, o registro das criações humanas é uma das mais antigas e necessárias formas de se preservar a memória e a cultura de um povo. José Geraldo de Faria

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Manual de Poesia e Textos é o resultado de uma relação pessoal entre a escrita técnica e a literária. Ambas necessárias, mas diferentes na forma e na aplicação.

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MANUAL DE POESIA

E

TEXTOS

“ESCREVER É UMA FORMA LÚDICA DE SER”

JOSÉ GERALDO DE FARIA - 2014

Algo a dizer Manual de Poesia e Textos é o resultado de uma relação pessoal entre a escrita técnica e a literária. Ambas necessárias, mas diferentes na forma e aplicação. Enquanto a escrita técnica prima pela informação e objetividade, a literária permite maior liberdade de expressão do pensamento e sentimento, mas ambas devem obedecer à correta ortografia e a um padrão ordenado de idéias, daquilo que se deseja exprimir. Escrever, portanto, é um ato concreto de materializar o pensamento, seja técnico ou literário, conduzindo o leitor aos caminhos do fazer ou do prazer. Afinal, o registro das criações humanas é uma das mais antigas e necessárias formas de se preservar a memória e a cultura de um povo.

José Geraldo de Faria

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Sumário

Algo a dizer

O que é escrever

Poema técnico

Tarde Calma de Domingo

O melhor sistema

A Res Pública

O julgamento dos anjos

Rebeldia branca

Amor

Eu tento

Amor e Dúvidas

Amores e Desencontros

Outono

Vento Triste

As Pedras Rolam

Flores

Se fosse fácil

Melancolia

To de Regime

Minha casa não tem quintal A Estação

A ficha caiu Elos e laços do Ser Ciclo Crítico As rosas do meu jardim Sobre o autor

Seção I – Escrever 1.1 - O que é Escrever Escrever é uma forma lúdica de Ser, É formar idéias, transcender, É expressar o que se sente, Revelar-se, soltar a mente, Pode ser um sinal de timidez, Na ausência da fala, faz se a vez, Deve ser dom de poeta nato, Ensaios da vida, rascunho de fatos, anonimato, Também pode ser um sinal de coragem, Às vezes produz beleza, outras, só bobagem, Escrever deve ser um tipo de vidência, Somos nós ou é fruto da providência, Pode ser fruto de uma aguçada intelectualidade, Mas como consigo escrever, nunca cursei faculdade, Também não é coisa pra qualquer ignorante, Tem que saber dizer, convencer, parecer dominante, É coisa para poucos, mas deveriam ser muitos, Generosos que compartilham seus mais íntimos assuntos, Escrever é tudo isso e, com certeza, muito mais, Encerremos esta seção! Publique-se, registre-se e arquive-se nos anais.

Figura 1.1 – Pena de quem não gosta de ler.

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Seção I - Escrever

1.2 - Poema Técnico Andava a pé a procura de um táxi. Sintaxe! Vagando pela rua por um termo fixo. Prolixo! Uma árvore sinistra sondava a minha idéia. Prosopopéia! Que marasmo, que chatice, esse tédio. Pleonasmo! Todos aqui somos poetas! Alguém disse silepse? Linguagem fútil, rude, torta, farta de gradação, versos em vão, feitos a mão, então? Aliteração! Que coisa louca, que coisa pouca, que coisa atônita. Que coisa anáfora! Essa rima está enjoativa. Enjoativa como glicose. Anadiplose! Vou parar por aqui ou a gente se irrita ou a gente se cansa: Da assonância? Ma sei que você me diria, até que o texto não é tão ruim assim! Ironia?

Figura 1.2 – Escrever requer sabedoria e saber.

Seção I – Escrever

1.3 – Tarde Calma de Domingo Tarde calma de domingo e me peguei sorrindo, Após o prato fiz um trato sobre a mesa sobre mesa, Nasce a letra tinta preta folha branca frase franca, Com o sentido consentido sobre a vida sobre vida, Qualquer canto qualquer ato qualquer conto qualquer fato, Só desejo um poema outro lema um bom tema, Vespertino vou parindo esse filho inspirado, Na lembrança da infância da criança que adormece, Sobre o trecho inacabado sobre o berço desarrumado, E o poema quase vindo visto em sonho verso lindo, Tarde calma de domingo não é que acabei dormindo.

Figura 1.3 – Escrever também cansa.

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Seção II – Ser Político

2.1 – O melhor sistema O pior sistema político é a Ditadura: Porque cala com a morte. Em seguida o Militar: Porque faz uso da força. Logo atrás vem o Religioso: Porque faz uso do medo. Depois o Comunista: Porque faz uso da apropriação alheia. E por último o Democrático: Porque sorrateiro, faz uso do engodo.

Figura 2.1 – Podem lhe dizer o que fazer, mas cabe a você decidir.

Seção II – Ser Político

2.2 – A Res Pública A “Res Pública” vive seu nível mais alto. Palácio do Planalto! É a causa operária travada com muita luta e dor. Palácio do Trabalhador! É o grito democrático nascido e gerado na fria madrugada. Palácio da Alvorada! Ou seria uma Monarquia que se alterna? É a política moderna! Poderia ser uma modesta Casa Branca, Casa Rosada. Que nada! O poder está sedento de grandeza. Vossas Altezas! Passarão os Homens e ficarão os Palácios. Sempre plácidos!

Figura 2.2 – Palácios de Cristal.

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Seção II – Ser Político

2.3 – O julgamento dos anjos Os anjos estão em julgamento, no divino parlamento, O paraíso verde e amarelo está abalado, frágil momento, As potências examinam os argumentos da defesa, A justiça debate e se debate diante de tanta clareza. Os anjos clamam por piedade, pobres e sem vaidade, Inocentes, questionam a dureza da verdade, As potências examinam as frias profundezas, Na fonte da justiça paira um mar de incertezas. Os anjos agora caídos pleiteiam a sua nobreza, Proclamam sua nobre missão e sua natureza, As riquezas dos seres ainda desaparecida, Em algum lugar no orbe dos anjos, por eles estabelecida. Os mortais não conhecem o céu, Desprovidos de ciência não enxergam além do véu, Seguem a crer na remissão dos anjos caídos, Sem saber que desde o inicio já estão absolvidos.

Figura 2.3 – Cidade dos Anjos.

Seção II – Ser Político

2.4 – Rebeldia branca Às vezes eu penso que bom seria, Que o organismo brasileiro sofresse um colapso, Sim, assim, por um lapso, Um tipo coletivo de histeria. Reação popular instantânea e fria, Ao menos um fato novo na história, Curar nossa fraca memória, Um apagão branco de cidadania. Um veto, nada secreto de rebeldia, Contra a mesmice desses dias, De um Judiciário desalentado, De um Legislativo contaminado, De um Executivo incompetente. Queria ver nossa gente, Fazer um país diferente, Voto branco bem pensado, O país certamente seria abalado, E quem sabe, assim, seria mais decente.

Figura 2.4 – Liberdade de escolha.

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Seção III – Coisas do Amor

3.1 – Amor O mar, amora, amar, Te dar amora, amor, o mar, Amor, amora, o mar, Só amor te dar. Levar, louvor, lavar, Limpar, lavar, teu par, Louvor, levar, vagar, Só por ti sonhar. Querer te ver, perecer, Sem par, sem cor, viver, De ser, a dor, de amor, Fenecer, sem ter, a flor.

Figura 3.1 – O amor é alimento.

Seção III – Coisas do Amor

3.2 – Eu tento Eu tento há tanto tempo, E não faço pronto passo, Repenso tenso refaço, Tento outra vez fracasso, Respiro fundo viro e recomeço, Medito rezo ao santo e peço, Me inspiro dou motivo tiro até foto, Volto de novo e nada me revolto, Repenso a fala analiso repasso, Empenho-me tanto aperto o passo, Descanso o senso e torço, Retomo o ímpeto do meu esforço, Recuo de medo sinto até frio, A coragem míngua fica por um fio, Então respiro fundo me aproximo e digo, Oi, quer namorar comigo?

Figura 3.2 – Uma flor para uma flor.

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Seção III – Coisas do Amor 3.3 – Amor e Dúvidas

Se me perguntas se te amo, Responder-te-ei que sim, Mas se me perguntas o quanto te amo, Responder-te-ei até o fim. Se me perguntas o que é o fim, Responder-te-ei é a morte, Mas se me perguntas quando será o fim, Responder-te-ei a mercê da sorte. Se me perguntas se jogo contigo, Responder-te-ei nem pensar, Mas se me perguntas o que quero contigo, Responder-te-ei te ganhar. Se me perguntas o teu valor, Responder-te-ei és a jóia de ouro e prata polida, Mas se me perguntas quanto é o teu valor, Responder-te-ei és a razão da minha vida. Figura 3.3 – O jogo do amor.

Seção III – Coisas do Amor 3.4 – Amores e Desencontros Eu amo você, Tu amas José, Ele ama Carol, Ela ama Jessé, Nós amamos alguém, Vós amastes também, Eles não amaram ninguém. Eu esperei por você, Tu esperaste o que? Ele te esperou a mercê, Ela esperou merecer, Nós esperamos alguém, Vós esperastes também, Eles não encontraram ninguém. Eu fiquei muito só, Tu ficaste com dó, Ele ficou feliz, Ela também, mas não diz, Nós ficamos sem par, Vós ficastes sem amar, Eles foram para nunca mais voltar. Figura 3.4 – E o coração partido, comigo tomou partido, que havias partido.

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Seção III – Coisas do Amor 3.5 – União de nós

Família minha, família tua, nós, São pontos de encontro, interseção, Tudo isso, nós, são, Vida, destino, amarração, um só coração, Tudo isso, nós, somos, Encontros misteriosos pondo fim a solidão.

Figura 3.5 – O acaso foi a razão.

Seção III – Coisas do Amor 3.5 – Amor por onde tu andas?

Nem sempre o amor por si basta, que dilema, Seguiste o teu cainho, me deixaste, não valeu a pena? Este que vazio e perdendo a forma, se conforma, Ganhaste o mundo, conquistas e vitórias, mas e agora? Fiquei a tua espera, sim eu quis, fincado em nós como raiz, Atordoado que ainda espera esperança que me faz feliz, Teu retorno para nós é pura expectativa, meus anseios? Que de novo em teus braços, repousar em teus seios, Enfim, apenas despertar de um sonho ruim, Estancar essa sangria de amor que não tem mais fim, Acordo de manhã e te procuro, Mas você não está junto e então me pergunto, Amor por onde tu andas?

Figura 3.6 – O amor às vezes voa.

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Seção IV – A natureza e o Tempo 4.1 – Outono Outono sono meio tom, Cálido pálido ameno bom, Romântico tênue um tanto simpático, Sereno apático ser parassimpático. Equinócio ócio por um descanso, Preguiça mansa cansa forma ranço, Estação plástica tácita um tanto módica, Bucólica fleumática lívida insólita. Manhãs cálidas tardes frescas noites frias, Nuvens baixas nevoeiro todos os dias, Doces frutos os teus beijos bem colhidos, Alimentando a alma dos meus dias preferidos.

Figura 4.1 – A estação passa, mas eu não.

Seção IV – A natureza e o Tempo

4.2 – Vento Triste Se pudesse eu queria ser o vento, Passageiro, mensageiro do advento, Viajante pelo mundo vendo tudo, Visitando, revivendo, relembrando. Mas de fato ser o vento é muito triste, Passa rápido devorando o que assiste, Não para, não se prende não descansa, Afasta-se sorrateiro bem ligeiro em brisa mansa. Se eu pudesse ser o vento eu queria, Te encontrar, te abraçar só por um dia, Declamar o meu amor abrir meus selos, Entrelaçando-me com os fios dos teus cabelos. Mas de fato ser o vento é muito triste, Quando passa vê que nem tudo mais existe, Como tudo muda o rumo sem destino, Desencontros de um ente peregrino.

Figura 4.2 – Escovando teus cabelos.

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Seção IV – A natureza e o Tempo 4.3 – As Pedras Rolam Dizem que as pedras não andam, Mas eu vi uma rolar, Ela desceu o morro abaixo, Para outra encontrar. Ficaram bem encostadinhas, Pareciam conversar, Encaixaram-se direitinho, E eu fiquei a imaginar. Mesmo as pedras que não tem vida, E não podem caminhar, O destino da um jeitinho, De tudo se encontrar. Esse fato foi realmente incrível, Fez minha esperança voltar, Seria uma pedra se fosse possível, Só pra de novo te encontrar. Figura 4.3 – Te procuro neste mundo deserto.

Seção IV – A natureza e o Tempo 4.4 – Flores Flores, para que flores, Depois delas alegrias e dores, Ficam os odores que delas exalam, Marcando a memória daqueles que inalam. Flores, para que elas servem, Definham em vão se perdem, Murcham como a minha alegria, Morrem como uma promessa fria. Flores, voz sois alegria e também tristeza, Um duplo sentido, mas uma só beleza, Expressão perfeita da suprema felicidade, Mas também o desencanto da mais dura verdade. Flores, cada um de nós vive as suas, Fonte de emoção inspirações puras, São lindas, confortam, fomentam amores, Flores, sempre presentes alegrias e dores.

Figura 4.4 – O sangue não corre mais, em teus vasos, apenas flores.

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Seção V – Coisas da Vida 5.1 – Se fosse fácil Se fosse fácil todo mundo faria, Arte má criação uma estripulia, Matar aula e fugir da escola, Mostrar a língua fazer uma cola, Da montanha um salto, O meliante um assalto, Promessa urgente a Virgem Maria, Com a cruz nas costas em romaria, Roubar um beijo contra a vontade, Apanhar goiaba no quintal do Padre, Pedir perdão quando se erra, Reconhecer que perdeu a guerra, Falar de Deus aos seus amigos, Dar seu perdão aos inimigos, Cobiçar o alheio a mulher do outro, Pagar o preço do ato torto, Brigar com a mãe e fugir do lar, Depois reconhecer que quer voltar, Fazer besteira na hora errada, Rir de si mesmo e fazer piada, Amar de verdade sem ser correspondido, Aceitar o amor de volta sem ficar ofendido, Ouvir aquela verdade que machuca a alma, Aceitar a ofensa alheia sem perder a calma, Cair de porre e na graça do povo, Muito bonito, bebeu de novo!

Figura 5.1 – Que atire a primeira pedra.

Seção V – Coisas da Vida 5.2 – Melancolia Ó saudade sem saber o motivo, Amanheci angustiado, calado, ressentido, Sentimento de alguma falta que não sei o que é, Se perdi, se desisti, se errei na dose, na fé, Então eu pensei nos velhos amigos, Lembrei-me dos amores, dos dramas vividos, Pensei nos lugares que fui e voltei, No pesar e nas perdas que um dia chorei, São somente dias melancólicos que vem e vão, Momentos da vida que um tanto vagos, parecem em vão, Então pensei, são apenas memórias um dia esquecidas, Mas acho mesmo que são as paixões, aquelas mal resolvidas.

Figura 5.2 – Saudades de algo que não sei o que é.

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Seção V – Coisas da Vida 5.3 – To de Regime Hoje eu olhei pra barriga, Achei meio grande, caída, La vem a culpa assumida, Parei com a comida! Não vou ingerir mais nada, Só na base da limonada, Bolachinha água e sal que tal? Corridinha e ginástica no quintal, Dez minutos e já me cansei, Volto pra dentro. Sentei! Liguei pra contar pro meu amigo: - É, to firme no regime. É o que eu digo! Desligo o telefone e ligo a TV de novo, Deito no sofá, ai que gostoso! Estico a mão no frigobar e pego a cerveja, - Espero que ninguém me veja! Amendoim, castanha e pipoca, Pareço um urso hibernando na toca, Mas amanhã eu pego firme no "regimão", Mas na dúvida, vou marcar a lipoaspiração.

Figura 5.3 – Quem tem amigo gordo tem mais amigo pra abraçar.

Seção V – Coisas da Vida 5.4 – Minha casa não tem quintal Minha casa não tem quintal, Tem jardim com piscina, Tem sauna, salão de festas, oficinas, “Play ground”. Meu quintal não é de terra batida, É de cimento com porcelanato, Não tem goiabeira, galinhas nem pato, Qualidade de vida. Meu quintal tem limites e horário, Tem bastante conforto, Um lindo aquário, gourmet e um horto, Orquidário. Meu quintal nunca tem vizinho, Fazem judô, Balé, recital, Inglês, pintura, escultura, voleibol, Sempre o vazio. Mas minha casa é muito bacana, Pena que não tem quintal, O que será que tem de tão mal, Pisar no chão e chupar cana.

Figura 5.4 – Qualidade de vida.

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Seção V – Coisas da Vida 5.5 – A Estação Todos verão, Noite quente, abafada, Daquelas bem suadas, Água na mão. A estação lotada, movimentada, Saídas, partidas, chegadas, Despedidas despidas pela emoção, Molhadas, escapam-me suas mãos. Na partida a alma geme ferida, Lágrimas escorrem junto ao trilho do trem, que vem, Antagônicos, trilhos paralelos que se vão, em cada vão, Infinitamente separados, medidos, calculados, não voltarão. Noite quente de verão, Aceno para ti com a minha mão, A saudade embargada, engasgada, Embarcada em cada vagão. Toca o apito, bate o peito, aflito, Da composição que se vai e a que escrevi, Hora danada, de quem não tem mais nada, Como é triste o despedir.

Figura 5.5 – A saudade vai embarcada em cada vagão.

Seção V – Coisas da Vida 5.6 – A ficha caiu Hoje eu me lembrei de ti, Foi teu perfume que em outra senti, Não, não te trai meu bem, Foi só uma moça que entrou no trem, Ela passou e deixou teu rastro, Abalou minha estrutura fiquei sem lastro, Perdi o trem perdi o rumo, Por que lembrei? Perdi o prumo, Mas a realidade não e de toda ruim, Boas lembranças brotaram em mim, Afinal foram momentos de felicidade, Folhas ao vento flores da idade, Ouço o próximo trem que vem chegando, E eu disperso em você pensando, Como o trem sempre atrasado, Passei nosso ponto e o leite foi derramado, E esse perfume que não sai de mim, Esse remorso que não tem mais fim, A “ficha caiu” então entendi, Que neste trem da vida, sem volta, te perdi.

Figura 5.6 – As relações podem ser passagens só de ida.

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Seção VI – Reflexões da Alma 6.1 – Elos e Laços do Ser Nada dura para sempre, Sempre é muito tempo, Tempo e aquele que consome e não para nunca, Nunca é o frio algoz da esperança, Esperança é querer o que está bem longe, Longe é um lugar que não existe no horizonte, Horizonte é onde deveríamos estar ontem, Ontem é marca do caminho percorrido hoje, Hoje é a única oportunidade de se fazer o amanhã, Amanhã é momento plástico da ação e da mente, Mente é o foco idealizado da nossa vontade, Vontade é o ímpeto indomável da alma, Alma é a sublime presença de Deus em nós, Nós são elos, interseções ligando a humanidade, Humanidade é a criatura em seu estado perfeito, Perfeito é o eterno Ser, cuja vida, perdura para todo o sempre.

Figura 6.1 – Sei que vou acabar, mas o Ser, continuar.

Seção VI – Reflexões da Alma 6.2 – Ciclo Crítico O ponto moveu, girou, torceu ao redor de si, Criou o seu laço, traço, rastro, um campo sem fim, Mas foi seduzido, de volta atraído, por reflexão, Ao ponto de origem, com certa vertigem, espirando na imensidão, Vórtice em cruz, girando em hélice, moinhos de luz, É o avanço do SER, com profundo olhar de espanto e saber, Que esgotada a razão, por intuição, o Universo é assim, Redondo, cíclico, fractal, intrínseco, sem começo nem fim.

Figura 6.2 – Tudo é redondo, vai e volta.

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Seção VI – Reflexões da Alma 6.3 – As Rosas do meu Jardim Ao cair da tarde, contemplando um lindo por do sol percebi. Eu sou em Deus! Isso mesmo. Sou o eterno Ser dentro de mim e dentro dos limites e arbítrios que me permiti perceber e sentir. Sou a beleza e a perfeição por onde passo. Tudo me foi concedido como luz, vida e amor, manifestação da graça sobre graça de existir conscientemente. Mesmo como criatura, posso perceber que a vida em mim nunca é em vão. A natureza, os animais, as flores, o engenho humano até mesmo os erros que cometo e o mal por mim personificados, contrapeso dual da consciência, tudo, tudo faz parte do plano que concebi. A continuidade do SER e da vida eu fiz perpétuos, eternos em mim e comigo. A expansão do meu amor, infinito, gerando Universos e estados da consciência, cada alma, que para mim retorna é como respirar o perfume de uma rosa desabrochada e pronta para ser colhida. Plantei o meu jardim e colherei as minhas rosas e, aquelas que por ventura murcharem, eu as plantarei de novo e serão adubadas pelos dons do Espírito e regadas pelas águas da fonte da vida, em novos campos, gerando novas e infinitas safras. Assim eu me vi. Coexistindo com o Ser e despertando para o viver consciente. A cada respirar um novo nascimento e a cada novo olhar, uma nova e misteriosa descoberta.

Figura 6.3 – Ó rosa mística floresce no meu madeiro.

Sobre o Autor Aquariano de 1966 e natural de Taubaté/SP, trabalhou 20 anos como Redator Técnico e Instrutor de Treinamento. Como de praxe, aproveitava as horas de folga e lazer para ariscar-se a escrever sobre as coisas da vida e do espírito humano. Com o passar do tempo, percebe que escrever é uma forma lúdica de Ser e existir. A expressão do pensamento e do sentimento através da escrita. Escrever então passa a ser uma necessidade humana, mesmo que seja nas redes sociais. Afinal, escrever é como que dizer ao mundo “eu existo e estou aqui”. Uma forma de desabafo, um escape mental e emocional do turbilhão de coisas que estão rodopiando dentro nós.

José Geraldo de Faria