MANUAL DE ORIENTAÇÃO E PREVENÇÃO PARA UM ENVELHECIMENTO MAIS SAUDÁVEL
description
Transcript of MANUAL DE ORIENTAÇÃO E PREVENÇÃO PARA UM ENVELHECIMENTO MAIS SAUDÁVEL
1
MANUAL DE ORIENTAÇÃO E PREVENÇÃO
PARA UM ENVELHECIMENTO
MAIS SAUDÁVEL
Compilação e Reprodução Eletrônica:
Luiz Edgar de Carvalho
“Nem todos podem estar na flor da idade, é claro!
Mas cada um está na flor da sua idade. . .”
Mário Quintana
Lumensana
Publicações Eletrônicas
Para Ler e Pensar
2
Apresentação
“Somos homens vazios
Somos homens empalhados
Uns nos outros apoiados
Cabeça cheia de palha, ai!
Forma sem efeito, sombras sem cor
Paralisada força, gestos em ação!”
T.S. Eliot
Talvez muitos de nós estejamos conjecturando que esse vazio de que
fala o poeta, essa incapacidade para saber o que sente ou deseja são devidos
ao fato de vivermos numa época de incertezas, de transformações econômi-
cas e tecnológicas. Assim sendo, não é de admirar que a pessoa que não
saiba se atualizar, planejar sua velhice, mais adiante vá se sentir inútil.
Este manual, compilado com informações de diversas fontes que se
dedicam ao problema da Terceira Idade, deseja que nós possamos viver
esta fase da existência de forma prazerosa e saudável.
Para isso, ele foi elaborado com bastante cuidado para que os seus
conteúdos sejam suficientemente claros, simples e objetivos.
Que estas informações encorajem os idosos a assumir o seu papel na
sociedade e ajudem no processo de autoconhecimento, como também me-
lhorarem a qualidade de vida da população da Terceira Idade.
Que assim seja!
Os Editores
3
População Idosa Brasileira
A expectativa de vida dos brasileiros tem aumentado com regulari-
dade nos últimos tempos. Como resultado, aumentou também o número de
idosos e sua porcentagem total. Em 1990, as pessoas com mais de 65 anos
representavam somente 4% da população total. Isto se devia a uma alta taxa
de natalidade, além de uma expectativa de vida muito baixa.
Muito deste aumento da expectativa de vida deve-se à medicina pre-
ventiva e ao acesso das pessoas às informações na área da educação e saú-
de, como também a vacinas para tratamento de doenças e aos antibióticos.
Como resultado, a expectativa de vida das pessoas com 60 anos mudou
consideravelmente nas últimas décadas.
O Brasil está mudando: éramos um país jovem; hoje, somos aproxi-
madamente 15 milhões de pessoas da terceira idade.
Acredita-se que no ano de 2025 seremos, aproximadamente, cerca de
40 milhões de idosos no Brasil. A esperança renascerá todos os dias em
nossos corações. Enquanto existirem instituições e associações comunitá-
rias, grupos se organizando, se comprometendo e trabalhando de forma so-
lidária e fraterna, certamente isso contribuirá para melhorar a qualidade de
vida de modo geral dos brasileiros e, principalmente, da Terceira Idade.
“Não choremos, amigo, a mocidade; Envelheçamos rindo, envelheçamos;
Como as árvores fortes envelhecem.” (Olavo Bilac)
A velhice não é doença. Ocorrem certos tipos de enfermidades e ve-
rificam-se danos com maior frequência entre os idosos.
Na essência, os últimos anos de vida de uma pessoa envolvem uma
perda progressiva de muitas coisas que se tornam significativas: saúde, be-
leza, carreira, segurança financeira, status, auto-estimativa e auto-imagem,
medo da morte. A maioria dos indivíduos suporta estas perdas e adapta-se
criativamente a essas mudanças inevitáveis.
No oriente, a velhice é vista com admiração, já que ela traz paz inte-
rior, experiência e conhecimento das coisas da vida. A China foi o país on-
de mais se valorizou e cultuou a Terceira Idade, o idoso era líder natural e
seu ponto de vista e suas posições eram de grande importância nas deci-
sões. Também o Japão e a Índia atribuíam ao idoso uma imagem de sabe-
doria, respeito e consideração.
A lei mosaica reservou uma tarefa muito importante para o idoso pa-
triarca. Abraão, Isaac, Jacó, Moisés, e tantos outros personagens bíblicos
são exemplos dessa importância representada por sua idade. Uma mulher,
Rute também deu exemplo ouvindo os conselhos de sua idosa sogra Noe-
mi. Para os judeus, vida longa significava bênção de Deus e, para alcançá-
la, era preciso ser justo, virtuoso e estar a serviço das causas do povo.
4
Segredos Para Uma Vida Saudável O professor Yokio Moriguchi, titular do Instituto de Geriatria da PUC de
Porto Alegre, com a sabedoria dos seus mais de 40 anos de geriatria, nos
mostra alguns segredos para um envelhecimento harmonioso.
1. Procure hábitos saudáveis no dia-a-dia (combatendo vícios como o
tabagismo e o álcool).
2. Manter-se sempre ativo, tendo interesse e gostos amplos (manter-se
atualizado, procurar saber o que está ocorrendo no seu mundo).
3. Ter um hobby (ter algo que goste de fazer).
4. Interagir e se relacionar com várias pessoas.
5. Ter um esporte ou praticar constantemente exercícios físicos.
6. Cuidar da alimentação, fazer uso de dieta balanceada.
7. Fazer prevenção ou controle de doenças, como hipertensão arterial,
diabetes, osteoporose e dislipidemias.
8. Evitar quedas, prevenindo-se contra fraturas.
9. Preservar as funções sensitivas, através de exames periódicos. Uso
de próteses auditivas, óculos e prótese dentária, quando necessárias.
10. Assumir responsabilidade, sentir-se útil, ter atividades (rentáveis ou
voluntárias).;
11. Não fazer uso de medicamentos desnecessariamente (evitar a auto-
medicação).
12. Evitar o stress. Dar sentido à vida.
5
Tenha Tempo para Tudo
Dr. Assuero Luiz Saldanha, Geriatra
♥. Reserve tempo para rir, é esta a música da alma.
♥. Reserve tempo para ler, é esta a base para a sabedoria.
♥. Reserve tempo para pensar, é esta a fonte do poder.
♥. Reserve tempo para trabalhar, é este o preço do êxito.
♥. Reserve tempo para divertir-se, é este o segredo da juventude eterna.
♥. Reserve tempo para ser amigo, é este o caminho da felicidade.
♥. Reserve tempo para sonhar, é este o meio de ligar a uma estrela o carro
em que viaja na Terra.
♥. Reserve tempo para amar e ser amado, é este o privilégio dos deuses.
♥. Reserve tempo para ser útil aos outros, esta vida é demasiadamente curta
para que sejamos egoístas.
6
Como Envelhecer com Saúde Dr. Luiz Bodachne, Geriatra
Não existe remédio para o envelhecimento. Desde que o homem e-
xiste sempre houve a preocupação com a sua longevidade. A ideia de ser
eternamente jovem sempre despertou grande interesse no ser humano. Se-
gundo Mark Twain (escritor americano) nossa vida seria bem mais feliz se
pudéssemos nascer aos 80 anos e gradativamente nos aproximar dos 18.
Morrer jovem e o mais tarde possível já era um pensamento dos anti-
gos gregos.
A procura pela Fonte da Eterna Juventude é tão antiga quanto a pró-
pria humanidade. Provavelmente a mais velha citação seja a lenda da árvo-
re da vida e o seu fruto que conferia imortalidade aos que o comessem. Na
Idade Média, era a citação da fonte da juventude que conferia saúde e bele-
za aos que nela se banhassem.
Há mais de 100 anos, os alemães já chamavam a atenção para a im-
portância do exercício físico para prolongar a vida com saúde. Inúmeros
têm sido os meios pelos quais o homem procura prolongar a juventude
mantendo a sua beleza e vitalidade, evitando e afastando as doenças.
Substâncias como ginseng, extratos de órgãos, vitaminas, hormônios
e outras, são largamente utilizadas. Atualmente está ganhando grande im-
portância o uso de substâncias antioxidantes. Substâncias como as vitami-
nas A, C, E e oligoelementos como o selênio, magnésio, cobre e o zinco
neutralizam os efeito dos radicais livres. Radicais livres são moléculas de
constituição irregular produzidas em grande quantidade pelo nossos orga-
nismo em certas substâncias que exercem efeito maléfico sobre o organis-
mo reduzindo a existência útil das células.
Nos dias de hoje, a cosmetologia encontra-se em grande evidência e
os recursos da cirurgia plástica são também bastante utilizados no sentido
de conferir um aspecto jovial às pessoas que dela fazem uso.
Em síntese, a ciência ainda não descobriu o tão procurado ―Elixir da
Longa Vida‖.
Um aforismo muito usado pelos gerontólogos diz que ―Envelhece-se
como se Vive‖, donde a grande importância da prevenção a nível primário.
O envelhecimento e a duração da vida são determinados pela forma como
nós escolhemos viver.
Em seguida, são dados alguns conselhos úteis para que se possa a-
crescentar mais vida aos seus anos e permanecer com saúde enquanto vi-
ver.
7
Mantenha seu peso em níveis normais evitando a obesidade.
Não use sal em excesso. O ideal é ao redor de 2 gramas e meio ao
dia. Evite colocar o saleiro na mesa. Cozinhe com pouco sal, evi-
tando produtos enlatados. Faça o mesmo em relação ao açúcar e à
farinha.
Beba água em abundância, de 6 a 8 copos ao dia.
Evite alimentos gordurosos, principalmente oriundos de gordura
animal, devido ao alto teor de colesterol. Conta o que você gosta,
mas com moderação. Faça uso de legumes e verduras em abun-
dância.
Não fume. Já foram isoladas perto de quatro mil substâncias do
cigarro, muitas delas nocivas para nosso organismo como o mo-
nóxido de carbono e a nicotina. Evite também ambientes poluídos
e insalubres.
Fala exercícios regularmente. Fundamental é o condicionamento.
Infelizmente mais de 60% dos brasileiros são adeptos do sedenta-
rismo. Evite competições e a fadiga se não estiver habilitado.
Trabalhos científicos demonstram que caminhar 30 minutos diari-
amente sustenta a longevidade.
Evite o stress, não levando nada a ―ponta de faca‖, aprendendo
em muitas circunstâncias ser compreensivo, tolerante e paciente.
Um casamento harmonioso também ajuda a prolongar a vida.
Procure ter diante de si novos projetos e ilusões, Planeje o seu fu-
turo, não vivendo apenas do seu passado.
Mantenha uma constante atividade mental.
Assegure horas suficientes de sono noturno (8 horas em média),
bem como o repouso depois da principal do dia (30 minutos no
máximo).
Controle o consumo de bebidas, o excesso é prejudicial.
No caso de precisar tomar medicamentos siga as orientações do
seu médico, evitando a auto-medicação. Lembrar que mesmo os
remédios caseiros não estão livres dos efeitos colaterais.
Faça exames médicos periódicos visando principalmente o diag-
nóstico precoce das doenças que evoluem de uma maneira silen-
ciosa como a hipertensão arterial e os tumores malignos.
Esteja de bem com a vida, procurando realizar as atividades que
mais lhe convém. Crie atividades de lazer e recreação planejando
melhor a sua vida. Suas férias devem ser obrigatórias.
Evite má postura nas atividades diárias prevenindo com isto pro-
blemas futuros ao nível de coluna vertebral. (escoliose, cifose e
lordose).
8
Ame e deixe amar. Está provado que casais que vivem em har-
monia passaram a ter longevidade maior e melhor.
Evite exposição exagerado ao sol, principalmente se tiver pele
clara (das 10 às 16 horas). Use protetores solar e hidratantes, pre-
venindo desta maneira o foto envelhecimento e os tumores de pe-
le.
Cuide de sua saúde bucal consultando periodicamente o dentista.
Previna-se contra a AIDS.
Concluindo, poderíamos dizer que as características das pessoas que
querem viver muitos anos são as seguintes: ser magro, comer pouco, não
ser fumante, praticar exercícios físicos regularmente e ter uma vida pro-
gramada, livre de stress.
Com medidas simples poderemos viver mais anos e com boa quali-
dade de vida.
9
Envelhecemos como vivemos “Se a vida é uma dádiva de Deus,
ela tem sua razão de ser em cada uma de suas etapas.”
É muito importante sabermos que cada fase da nossa vida influi na
seguinte. Nós vamos fazendo uma caminhada que começa no nascimento,
continua na adolescência e na maturidade até chegar à terceira idade.
À semelhança do sol, percorremos as 4 estações do ano durante a
nossa vida.
Infância – A criança aprende a agir conforme o que lhe ensinam.
Adolescência – Fase de questionamentos.
Adulto – Fase de conscientização profissional e sexual.
Terceira Idade – A pessoa se transforma em um ser único e singu-
lar, fase de individualização.
A vida na Terceira Idade não termina, ela é resultado de um desen-
volvimento harmonioso ou não da pessoa, desde a sua infância, adolescên-
cia e juventude.
O ser humano precisa adquirir uma visão holística, ter uma consciên-
cia plena a cada momento de todos os fatores envolvidos em cada situação
ou evento de uma existência, produzindo, assim, decisão certa no momento
exato com sabedoria e amor.
Com a idade vamos adquirindo características próprias, e nesta nossa
individualidade há sempre possibilidade de melhora, em qualquer aspecto.
A) Estilo de Vida – O estilo de vida é responsável, atualmente, pela longevi-
dade. Poder chegar à terceira idade é uma graça, uma dádiva. Ela pode ser
um período de crescimento e desenvolvimento, cheio de riquezas espiritu-
ais e possibilidades de realizações, quando alcançamos, com alegria, a cria-
tividade e não nos esquecemos de cuidar da nossa parte física e espiritual.
B) Prevenção e ação – Para que o organismo envelhecido resista às agressões
do tempo, é necessário que haja prevenção vários anos antes. A prevenção
se converte num ato racional de previsão e defesa do organismo.
Os exames médicos anuais devem fazer parte de uma rotina da vida. Os
exames de vista: cataratas e glaucomas. Este último cega 3.500 indivíduos
por ano. Exame de sangue para ver a taxa de colesterol e ver se estão nor-
mais as hemácias, triglicérides etc.
Esses exames anuais detectam muitas doenças, enquanto o tratamento ain-
da for possível, pouco dispendioso e simples, antes que se instalem os da-
nos a longo prazo e irrecuperáveis.
10
A ação preventiva se desenvolve não só evitando hábitos patogênicos (co-
mo consumo de fumo e álcool, número elevado de horas de trabalho, expo-
sições excessivas a tensões), mas também em torno de uma ação positiva.
Para conseguir mudar os hábitos e convertê-los em hábitos saudáveis, é ne-
cessário, em primeiro lugar, a vontade da pessoa e depois, informações de
como proceder.
Coração Saudável
Sem colesterol, você não sobrevive, mas o excesso é prejudicial à
saúde. A partir dos 40 anos é importante dosar os níveis de colesterol no
sangue, repetindo o exame de acordo com a orientação do seu médico.
O ideal é ter no sangue as seguintes quantidades: colesterol total in-
ferior a 200mg por decilitro (dl); LDL (colesterol ―mau‖) menor que
130mg/dl; HDL (colesterol ―bom‖) superior a 35mg/dl. O nível de triglicé-
rides deve ser inferior a 250mg por decilitro. Já foi provado que as pessoas
que apresentam esses níveis têm menor risco de doenças cardíacas.
Há vários tipos de gordura que circulam no sangue – o colesterol é
uma delas. Desempenha importantes funções no organismo: constitui um
dos ingredientes da membrana das células, entra na fabricação de ácidos
biliares, hormônios sexuais, cortisona e vitamina D, estoca energia, sem ele
o ser humano não sobreviveria mais.
Quando o nível ultrapassa as necessidades orgânicas, o excesso tende
a acumular-se nas paredes das artérias, formando placas de gordura – os
asteromas. E daí, o perigo, eles podem, pouco a pouco, ―entupir‖ as arté-
rias, levando a complicações cardiovasculares, às vezes, fatais. 70% a 80%
do colesterol circulante no sangue é produzido pelo fígado, o restante pro-
vém da alimentação.
O colesterol fabricado pelo fígado não dá para controlar sem o auxí-
lio médico, mas na alimentação é perfeitamente regulável e todos podem e
devem fazer o controle.
O ideal é elevar o ―bom‖ colesterol e, ao mesmo tempo, baixar o
―mau‖. Como? Com a prática de exercícios físicos e controle alimentar.
Você pode diminuir o risco de angina, infarto e outras doenças do
coração, reduzindo o nível de colesterol e gorduras saturadas da alimenta-
ção.
11
Nutrição Saudável
Para uma nutrição saudável a palavra de ordem é moderação. Se a-
prender a comer tudo sem exagero, não passará vontade, nem ficará com
desejos insatisfeitos. Bastará consultar a pirâmide alimentar e a tabela a
seguir para aprender a controlar o consumo diário de colesterol e de gordu-
ras saturadas.
A pirâmide alimentar é um guia geral para que você possa escolher
uma dieta diária mais saudável. Um cardápio balanceado deve conter, dia-
riamente, cerca de 55% de carboidratos, 30% de lipídeos e 15% de proteí-
na, além das vitaminas, sais minerais e fibras.
12
13
Informação nutricional
A base da pirâmide é composta por alimentos ricos em carboidratos.
Os carboidratos, sob a forma de glicose, frutose, sacarose, maltose, lactose,
amido, entre outras, são a maior fonte de energia para o organismo. A gli-
cose é indispensável para manter a integridade funcional do tecido nervoso
e, sob circunstâncias normais, é a única fonte de energia para o cérebro. A
presença de carboidratos é necessária ao metabolismo normal das gorduras.
Legumes e verduras são ricos em vitaminas, sais minerais e fibras.
Possuem nutrientes essenciais a diversas funções do organismo, como por
exemplo as suas reações metabólicas. Prefira as folhas verdes escuras (bró-
colis, mostarda, couve) e legumes amarelo-alaranjados (cenoura, abóbora,
beterraba).
Frutas são boas fontes de vitaminas, sais minerais e fibras, princi-
palmente quando consumidas ao natural. Possuem nutrientes essenciais a
diversas funções do organismo, como por exemplo as suas reações metabó-
licas.
Carnes, ovos e leguminosas como feijão, lentilha, ervilha, grão de bi-
co e soja, além de nozes e castanhas. São os alimentos construtores. São
necessários para a construção e manutenção dos tecidos orgânicos, forma-
ção de enzimas, hormônios e vários líquidos e secreções corpóreas e pre-
servação do sistema de defesa. São alimentos ricos em proteínas, vitamina
B12 e minerais como zinco e ferro.
Leite e derivados são os maiores fornecedores de cálcio, mineral en-
volvido na formação dos ossos e dentes, contração muscular e na ação do
sistema nervoso. Também são fontes de proteína de boa qualidade.
Os lipídeos (óleos e gorduras) constituem fonte de energia mais con-
centrada que a dos carboidratos e das proteínas. Além disso, uma vez trans-
formados em tecidos adiposo, são uma forma de armazenamento de energi-
a. Os lipídeos são veículos de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K) e podem
ser encontrados no creme de leite, manteiga, toucinho, óleos etc. Estão no
topo da pirâmide e devem ser consumidos com moderação.
Ressalte-se que o número de porções a serem consumidas dependem
de fatores como idade e atividade física. Em função das porções consumi-
das, o número de calorias pode variar de 1.600 a 2.400 calorias.
14
Vivendo a Sexualidade
“Pois tinham vivido juntos o suficiente para perceber
que o amor era amor em qualquer tempo e em qualquer parte.”
Gabriel García Márquez
em O Amor nos Tempos do Cólera.
Amor, carinho e afeto, bate-papo, abraço, aconchego, intimidade, re-
lações sexuais, tudo isso dá prazer. Sexualidade é energia, é vida e a gente
vivencia desde que nasce até o último dia. Com o correr dos anos nossa se-
xualidade vai mudando, mas isto não significa que ela seja interrompida.
Algumas mulheres acreditam que a menopausa acaba com a vida se-
xual. A menopausa não tem efeito direto no desejo sexual, quando isto a-
contece, tem outras causas. Por exemplos, a falta de lubrificação vaginal
decorrente da diminuição dos hormônios femininos ou por falta de interes-
sa de um dos cônjuges.
As pessoas passam por um período de vida chamado climatério. O
climatério nas mulheres é caracterizado pela queda de produção de dois
hormônios: estrogênio e progesterona, que devem ser repostos; a falta pode
ser causa de alteração da pele, na vagina, nos ossos, no corpo todo e até no
gênio, podendo ficar irritada e nervosa, ondas de calor, calafrios, insônias,
fadigas e alterações menstruais. Nestas situações é bom procurar o gineco-
logista e outros profissionais, que podem ajudar e resolver estes problemas.
(O climatério inicia-se aos 40 anos e a menopausa aos 48 e 50 anos).
Quanto ao homem, as primeiras dificuldades no orgasmo deixam o
homem em pânico e sentem-se inferiorizados.
O que acontece com o correr dos anos é que o ciclo erótico vai au-
mentando de duração e profundidade, diminuindo de frequência. O pro-
blema pode estar mais na cabeça do que nos órgãos genitais.
É sempre aconselhável procurar o urologista, pois 60% dos homens
com mais de 60 anos de idade têm problemas de próstata. A partir dos 45
anos a próstata pode começar a aumentar de tamanho e ir apertando a uretra
ou canal da urina e até pode ter influência na sexualidade. Este e outros fa-
tores podem diminuir a potência sexual, como o álcool em excesso, o fumo,
alguns medicamentos para baixar a pressão, os psicotrópicos da mesma
forma, a diabetes, neuropatia, doenças vasculares e depressões e medo do
insucesso.
A sexualidade amadurece com o tempo e pode ser aprendida se con-
quistamos liberdade de amar e de se expressar, de dizer sempre o que pen-
samos e o que queremos. Importante manter a motivação e procurar novas
e diferentes maneiras de ter e de dar prazer.
15
A individualização na Terceira Idade Por Maria José Guimarães Hilkner
Psicóloga
“Eu faço as minhas coisas, você faz as suas. Não estou no mundo para
viver de acordo com suas expectativas. E você não está neste mundo para
viver de acordo com as minhas expectativas. Você é você, eu sou eu.
Se por acaso nos encontrarmos, é lindo. Se não, nada há a fazer.”
Frederich D. Perls
A velhice não é doença, nem fim de linha, nós implantamos em nos-
sa mente a crença de que velhice é doença. Esta imagem é formada desde a
infância, a partir de atitudes e comportamentos dos adultos na presença das
crianças, na convivência com os avós.
Como há forte ligação corpo-mente, nossas idéias vão criando uma
programação para obedecer. Desde o útero materno ouvimos demandas, de
como seremos, das expectativas dos nossos pais a nosso respeito. Na pri-
meira metade de nossa vida, somos denominados através das pessoas, dos
acontecimentos que nos rodeiam.
Nos roteiros da vida de cada ser humano, os papéis são aprendidos,
ensaiados, representados, desde o nascimento. As instruções são programa-
das através de mensagens, adjetivos que nos qualificam. Passamos a repre-
sentar papéis como: herói, vilão, vítima, perseguidor e salvador.
Existem também na família roteiros ligados à cultura, tradições,
crenças de família, que são passados de uma geração para outra. Existe
também uma expectativa para cada membro da família. Ex.: é esperado dos
filhos mais velhos um comportamento modelo para os menores.
Quando um membro da família não segue o roteiro é considerado
"ovelha negra". Assim como na família, a comunidade também tem neces-
sidade de roteiros, de papéis a serem desempenhados, de bode expiatório.
Para que haja uma convivência saudável e para evitar bodes expiató-
rios, é necessário que o grupo esteja unido por um compromisso de fideli-
dade ao carisma e à filosofia do grupo e que os membros estejam dispostos
a crescer juntos.
Só através de uma boa comunicação é possível estabelecer vínculos
saudáveis e amadurecer as relações interpessoais. Se estabelecermos em
nossas relações com o outro um bom vínculo, estaremos contribuindo para
nosso crescimento pessoal e ajudando o outro a crescer como ser humano,
contribuindo assim, para a execução dos objetivos comunitários. Nesse tipo
de relacionamento pressupõe-se uma consciência de individualidade e se-
16
paração. Numa comunidade que esteja aberta para crescimento, para elabo-
ração de vínculos sadios, podem surgir conflitos, mas, apesar das diversi-
dades, subsistirá a unidade afetiva.
Num relacionamento onde se estabelece um vínculo neurótico, os
membros não terão capacidade para separar o que é próprio e o que é do
outro, projetando no outro, ou no grupo, os problemas pessoais, de família.
O processo de amadurecimento individual caminha normalmente u-
nido com a formação e a transformação. A comunidade deve ser um ins-
trumento de facilitação para crescimento de seus membros.
O indivíduo saudável é capaz de detectar mudanças necessárias para
si e procurar entender e colaborar para as mudanças do grupo, sendo capaz
de valorizar e utilizar o seu potencial em beneficio próprio e comunitário.
É muito importante não ter medo de renascer, de nascer novamente
para uma vida nova. Estar aberto às mudanças de comportamento, à cons-
cientização dos valores e interesses pessoais, leva a um processo de desen-
volvimento e maior intimidade consigo mesmo e com os outros.
Tomar consciência de ser adulto é aumentar a capacidade de pensar,
dar a permissão de ser si mesmo, de ser feliz, de alegrar-se com pequenas
coisas, é acreditar em si mesmo.
Pensando positivamente, superamos as dificuldades e os desafios que
a vida apresenta e os vemos como oportunidade de crescimento.
As dificuldades, as crises, têm um lado positivo, porque nos levam a
parar para refletir. Se soubermos lidar com as crises, será uma crise em ní-
vel satisfatório e nos levará ao crescimento pessoal. Caso nos deixarmos
abater pela crise, ela nos levará a sentimentos de insegurança, ansiedade e
conseqüentemente à depressão e à uma série de doenças.
Freud falava dos sentimentos de prazer e desprazer. À medida que
nos deixamos conduzir para o desprazer, chegamos à depressão, às crises
como a do "ninho vazio", que é muito comum na Terceira Idade, que coin-
cide geralmente com a saída dos filhos, com a perda dos parentes, a apo-
sentadoria, que nos leva a nos sentirmos inúteis. Como em toda crise, nosso
organismo acaba entrando em desequilíbrio, surge a falta de motivação, o
desajustamento, acompanhado de sentimentos de agressão e ambivalência,
queremos amor e damos um "tapa", reclamamos do abandono e usamos de
mecanismos compensatórios. Acabamos ficando rígidos, às vezes, nem te-
mos consciência do que nos falta.
Nesse período de transição é momento de consultar a nossa fonte cri-
ativa, procurar uma saída, é momento de darmos uma parada para refletir,
avaliar, nos conscientizarmos de que nossa auto-estima está baixa, que não
nos amamos mais, não nos interessamos mais por nós mesmos, não nos ar-
17
rumamos, perdemos a confiança em nós mesmos, não lutamos mais para
uma auto-realização com medo de enfrentar a vida, nos tornarmos depen-
dentes, há quebra de nossa liberdade.
É hora de dar uma reviravolta, ir em busca da satisfação, do prazer.
A crise será benéfica, nos levará a maior conscientização da nossa psique,
da alma, e integração com o corpo, entraremos em maior intimidade com
nossos sentimentos e mais livres para expressá-los.
A pessoa consciente é mais autônoma e preocupa-se mais com o ser.
Permite que sua capacidade se expanda e estimula os outros a fazer o mes-
mo. Projeta sua capacidade no futuro com objetivos realistas que dão alvo e
significação à sua vida.
O vencedor vai à luta e enfrenta as dificuldades psicológicas, físicas
e espirituais, o compromisso para a segunda parte de nossa vida, para nossa
viagem nas profundezas do inconsciente. O eu que existe dentro de nós,
que muitas vezes esteve reprimido, em razão dos papéis que tivemos que
desempenhar, devido os roteiros familiares, profissionais, agora conscien-
temente poderá determinar o curso de nossa vida e transformar nossa ma-
neira de viver, descobrir o que nos dá prazer, as nossas sombras.
Cada um de nós tem ainda dentro de si tantos potenciais, inúmeros
recursos a serem explorados, "sombras", coisas que gostaríamos de ter feito
e não tivemos oportunidade. Agora livres, somos chamados a ser o indiví-
duo único que cada um de nós é, aceitando as limitações e ter coragem de
colocar para fora a sabedoria, toda experiência que adquirimos com o pas-
sar dos anos. Esse movimento deve nos impulsionar para frente, para satis-
fação de nossas necessidades, processo interno que envolve elementos ex-
ternos, cuja implicação mais importante é a gratificação.
A capacidade de discernimento e a flexibilidade emocional e mental
são muito importantes nessa fase.
Flexibilidade - Saber decidir, usar suas experiências para resolver
problemas.
Flexibilidade Emocional - Capacidade de transferir investimentos
emocionais de uma pessoa para outra, no sentido de buscar outros afetos,
outras amizades, há os que sofrem de empobrecimento progressivo da vida
emocional à medida que vão aparecendo as perdas.
É o momento de fazer novas amizades, estar aberto para aceitar o ou-
tro, aceitar as diferenças. Quando buscamos estar com alguém, geralmente
elegemos a pessoa que corresponde ao nosso referencial de valores, senti-
mentos e comportamentos.
Não é porque aceito o outro com outros valores que vou mudar meus
valores.
18
Se nossos referenciais estão dentro de nós, vamos nos sentir confian-
tes, seguros, tranqüilos, à vontade para nos divertirmos, amarmos, embora
estejamos juntos, somos independentes. Desta forma, estaremos prontos
para encontrar amigos e amigas, um grupo, estruturar uma relação saudá-
vel.
O mesmo não acontece com quem coloca os pontos referenciais fora
de si, fica vulnerável às relações dos outros. Só vai sentir-se bem quando
alguém, em quem depositou confiança, fica por perto, só na presença do
outro. Assim, o bom humor dessa pessoa fica na dependência do outro, das
respostas do outro, a cada movimento do outro se sente ameaçado, para es-
tar bem, sufoca o outro e geralmente faz papel de vítima.
Quando nosso referencial está dentro de nós mesmos, podemos en-
trar em contato com qualquer pessoa, mesmo com outros valores, que não
nos sentiremos ameaçados.
Se temos um amigo, nosso ponto referencial vai nos ajudar a amá-lo
e apreciá-lo como ele é, estabelecendo assim outro ponto referencial exter-
no, e se esta relação se rompe, perde-se este referencial externo, mas o in-
terno vai nos levar a procurar outra pessoa.
Diante das perdas, não vamos ficar chorando a vida toda, vamos cho-
rar enquanto durar a tristeza, a dor, depois de um tempo retornaremos aos
pontos referenciais e recomeçaremos tudo de novo.
Devemos nos transformar em indivíduos e pessoas que despendem
energia sobre o desabrochar de cada estágio da vida, até o final. Esse pro-
cesso de autoconhecimento, de interiorização, nos levará a melhorar a auto-
estrutura, a integração e a transcendência do ego.
Quando estamos conscientes de nosso si mesmo e temos plena acei-
tação de nossa humanidade, aceitação da força do bem e do mal que existe
dentro de nós, podemos dizer como Paulo: "Em minha fraqueza está a mi-
nha força".
Agora não é mais o meio exterior nem as pessoas, nem os aconteci-
mentos que nos comandam, agora é o momento em que livremente fazemos
nossas escolhas, optamos e nos amamos.
Se alguém amar a si próprio, saberá amar a outro:
"Amará o outro como a si mesmo."
BIBLIOGRAFIA:
* Gerontologia Social- Ricardo Droragas
* Psicologia Geriatra - T. L. Bruk
* Meia Idade e Vida - Ane Brennam e Janice Brewi
19
A Socialização na Terceira Idade Maria Lucia Correa – Assistente Social
Focalizando o idoso numa visão integral, como ser humano que é, e
integrante de uma população, temos de vê-lo desde a demografia até seu
comportamento social, político, a estrutura familiar, sua integração na mar-
ginalização na sociedade contemporânea.
A socialização é o termo mais amplo para enfatizá-la, desde o nasci-
mento sujeito às influências da sociedade, da qual faz parte e ajudou a
construir.
"STATUS E PAPEL"
Os status estão classificados em inatos e adquiridos. Os inatos per-
tencem à pessoa, sem seu esforço desde o nascimento: idade, sexo, classe
social de origem, dotação genérica. Os adquiridos são obtidos pelo esforço
do indivíduo, classe social atingida, posição social conquistada. Cada pes-
soa tem tantos status, quantas foram suas manifestações ou intenções.
Cada status de uma pessoa corresponde a um papel que ela represen-
ta. Através de vários papéis em diferentes espaços e tempos se difere a po-
sição individual, direitos e obrigações que configuram seu comportamento
social.
São fatos que marcam o começo e o fim no desempenho de um pa-
pel, posição ou status na sociedade. Por exemplo, a aposentadoria requer
uma aprendizagem para um novo estado passivo numa sociedade ativa. Os
acontecimentos são determinantes, já que constituem a chave da futura vi-
da, a sociologia e a psicologia enfatizam a importância de analisar certas
decisões e preparar para novos papéis.
A sociedade é dinâmica e obriga as pessoas a mudanças. O idoso que
mantém uma postura rígida em face a mudanças da sociedade, defendendo
a estabilidade de seus valores a todo custo, como mecanismo de defesa para
não se sentir inseguro, tenderá a ser excluído dos grupos que convive e sen-
tirá de perto a solidão.
No final da vida fala-se em ressocialização, processo em que repensa
as relações de desempenho de papéis estabelecidos como de esposos, pais,
trabalhadores e também aprendizagem de novos papéis como de avós, apo-
sentados, viúvo(a).
Status de adultos maiores e etapa de ressocialização
A aceitação - consiste em interiorizar os valores de outras pessoas ou
grupo, reconhecendo sua existência, embora subjetivamente não se consi-
20
dere próprios. Esses valores são aceitos porque existem e servem para ou-
tras pessoas. Ex.: aceitar socialmente e tratar como normais, sem julgamen-
tos rígidos a união de casais jovens fora do casamento formal (civil e/ou
religioso).
Para gerações mais idosas às vezes é difícil outras condutas sociais,
políticas, econômicas, sexuais opostas a seus valores.
Entretanto, o fato de os idosos terem seus valores diferentes não im-
plica não aceitar o valor do mais jovem. Apesar das diferenças tem-se visto
relações satisfatórias entre velhos e jovens.
O conflito de gerações não é tão grande como tentam apresentar al-
guns meios de comunicação. Diferenças sempre existiram. Filhos sempre
terão várias opiniões diferentes da dos pais. Isto é lógico e saudável para a
sociedade, que seria afetada negativamente se as gerações precedentes não
tivessem iniciativas, inovações e não experienciassem a vida.
As diferenças são mais externas e formais para essência muitos jo-
vens têm muitos dos valores dos pais, avós, mas a trajetória da vida ainda
não lhes exigiu que assumissem e exteriorizassem.
Acomodação - Assim como o organismo se acomoda às condições
ambientais diferentes, na acomodação social também a pessoa ajusta, par-
cialmente, sua conduta à do grupo social com o qual se relaciona.
Um idoso que se propõe a participar das reuniões de família, pelo
prazer de participar aprenderá a se adaptar e acomodar a algumas circuns-
tâncias para ter uma relação satisfatória com os outros membros.
Adaptação vai além da acomodação, implica ajuste a realidades ex-
ternas, exigindo uma conduta individual. Quanto mais flexibilidade pesso-
al, maior será a adaptação e assimilação dos valores em mutação.
O contato com os outros membros e com pessoas com diferentes va-
lores será frutífero, pois levará a ser mais flexível, menos rígido e mais par-
ticipante. À medida que este comportamento se repete, o idoso desejará
manter relações sociais satisfatórias com os outros grupos sociais, amplian-
do assim seu círculo de amizades.
Papéis familiares:
A família, instituição básica, possui uma diversidade de papéis soci-
ais - filho, pai, avô, que vamos ocupando ao longo da vida.
Os papéis de pai e mãe são os mais importantes em poder, responsa-
bilidade e exigências sociais. O papel de avós vem experimentando grandes
mudanças nos últimos anos. As avós do presente não têm que se preocupar
com a educação dos netos, mas cada dia mais, ficam nos bastidores; na fal-
ta ou na ausência das mães executivas, são solicitadas a assumir, e os avôs
a paternidade, que a cada década se torna menos responsável.
21
O importante é que os avós não esqueçam de viver as suas próprias
vidas, não interfiram em demasia na dinâmica da família dos filhos e resis-
tam a aceitar estereótipos de velhos, assexuados, passivos e sem interesses
pessoais.
Quanto aos preconceitos em relação ao idoso, a rotulagem a
repetição de atitudes negativas conduz à estigmatização social, processo
que impõe à pessoa resultado negativo em qualquer de seus papéis sociais.
Assim como a falta de papéis sociais relevantes, poderíamos até usar a ex-
pressão que algumas vezes o idoso tem um "papel sem papel", isto implica
dizer que algumas vezes seu papel fica carente de sentido para os valores
atuais.
Por um lado, ficam liberados das obrigações, por outro, privados de
status sociais e economicamente dependentes.
APOSENTADORIA
A solução para os problemas dos aposentados contemporâneos con-
siste em transformar esse "papel sem papel" em um "papel com papel" que
lhes atribua responsabilidade, status e prestígio social.
A aposentadoria afeta as relações familiares de muitas maneiras, em
especial, a vida do casal, cujo ritmo vital é diferente. A presença mais assí-
dua do marido no lar, às vezes, incomoda a esposa. O replanejamento do
trabalho doméstico, a maior participação do marido pode ser a solução. Ou-
tra alternativa é procurar, fora do lar, outros afazeres durante as horas que
eram ocupadas com trabalho profissional, como trabalhos comunitários,
esportes, etc.
A sociedade coloca o idoso em alguns aspectos como um ser privile-
giado, pela quantidade de cartões: transporte, espetáculos teatrais, centros
culturais, etc., e por outro, lhes oferece uma aposentadoria não justa e não
compensatória pelos anos que ajudou na construção da sociedade.
Agora é hora de poder realmente ser livre para desfrutar os prazeres
da vida sem preocupações financeiras, mas nem todos têm esse privilégio;
alguns precisam ainda trabalhar para poder sobreviver, outros ficam na de-
pendência dos familiares.
Nessa sociedade tecnológica, onde se julgam as pessoas em função
de sua eficiência, o idoso deve testemunhar que existem domínios da vida
que não podem ser medidos pelo dinheiro, como valores humanos e cultu-
rais, morais e sociais. É graças a esses valores que alguém se torna uma
pessoa e não uma máquina.
A pessoa idosa é capaz de dar testemunho de vida e transmitir toda a
sabedoria que adquiriu durante sua experiência no mundo do trabalho.
22
O Corpo em Movimento Maria Lucia Correa, Professora de Yoga
Em um documentário sobre os índios norte-americanos shawnees, cujo
chefe era um ancião de 101 anos, perguntaram-lhe se ainda realizava algum
trabalho na tribo, ele disse que ensinava:
— O que o senhor ensina?
— Quatro coisas.
— Quais são essas quatro coisas?
— Bom, primeiro: ensino a escutar.
— Segundo: que tudo está relacionado.
— Terceiro: que tudo está em movimento.
— Quarto: que a gente é da terra, a terra não é da gente.
“Nós pensamos com todo nosso corpo
e o corpo transmite os segredos da alma.” Parece haver uma força dentro de cada indivíduo que luta continua-
mente para uma completa auto-realização. Essa força pode ser caracteriza-
da como uma dinâmica interna que nos leva a buscar sempre a satisfação e
a alegria de encontrar a resposta para nossas ansiedades e em seguida um
novo recomeçar para novas buscas.
A vida, desde o início, ainda no útero materno, é um processo de
busca e mudança em espiral, relativo e dinâmico. Quando iniciamos nossa
caminhada, o mundo parece-nos cor-de-rosa, começamos a caminhada can-
tando, brincando, como águia voando em bando.
O lúdico é meio natural de auto-espressão e é indispensável em todas
as fases da vida. Liberamos a magia, a criança que existe dentro de nós. As
emoções autênticas estão no estado do ego-criança, nascemos com potenci-
al para sentir e expressar todas nossas emoções e aos poucos vamos nos
fechando.
Quando vivenciamos a voz, o corpo juntos temos uma noção de tota-
lidade, da holística. Cantando, brincando e jogando podemos traduzir sen-
sações tão agradáveis que afetam nossa mente e distraem nossos pensamen-
tos ansiosos.
A arte do movimento é a consciência dos princípios universais da a-
ção e movimento humanos, no tempo e no espaço e a consciência de sua
integração. A consciência e o respeito ao próprio ritmo e do outro, ajudará
na percepção de possibilidades e limites dentro de nosso papel.
23
É através das atividades lúdicas, musicais, físicas, de jogos e exercí-
cios que nós descarregamos nossas tensões e libertamos sentimentos e pre-
ocupações, além de exercitar algumas funções especiais como a coordena-
ção motora, colocando em atividade nosso corpo, estimulando o sistema
nervoso, conservando assim o equilíbrio físico e mental.
As experiências mudam a perspectiva e o foco do indivíduo. O indi-
víduo da terceira idade traz consigo um cabedal maravilhoso de cultura.
Mas, é importante saber transferir conhecimentos e emoções de uma pessoa
para outra. À medida que o idoso adquirir esse comportamento, ele abre a
porta para o elemento esperança e para uma maneira positiva de ver a vida.
Só uma vida vivida dentro de um espírito alegre, descontraído, de
aceitação e confiança em si mesmo e em interação com os outros, é digna
de ser vivida.
Os Exercícios Físicos
Quando praticamos exercícios físicos estamos estimulando nosso co-
ração, estamos queimando gorduras tanto do sangue como do organismo,
fazendo com que nossa taxa de colesterol diminua. Com esta prática redu-
zimos a chance de infartos, mas, temos que seguir alguns princípios básicos
para exercitar o nosso corpo.
Se possível, fazer exercícios com a supervisão de um profissional
habilitado; respeitar os nossos limites; o exercício não pode ser intenso,
porém, deve durar entre 30 e 60 minutos; o exercício deve ser objeto de
prazer. Praticando os exercícios regularmente, o trabalho dos músculos
aumenta a utilização das substâncias nutritivas, queimando calorias e, prin-
cipalmente, aumentando a resistência das células.
Todos nós temos nossos limites. E esses limites variam de acordo
com a idade, compleição física, o preparo e a aptidão psicológica de cada
indivíduo. Nunca comece ou modifique seu programa de exercícios físicos
sem antes ser avaliado por um médico, seguindo suas orientações.
Nas páginas seguintes são apresentados alguns simples exercícios fí-
sicos que podem ser praticados no recesso de seu lar. Independem de aca-
demias e ginásios, ou de equipamentos especiais Não implicam em movi-
mentação cansativa e estafante e nem consomem demasiada energia. Ao
contrário, acumulam energia. A prática desses exercícios não é enfadonha
nem cansativa, ao contrário, é bem agradável e não constitui tarefa impin-
gida ou um dever imposto. Muito bons são os seus resultados, que, em
pouco tempo, passam a ser uma espécie de necessidade a ponto de ficarmos
desejando que chegue a hora de praticá-los. Enfim, a palavra de ordem para
se praticar exercícios físicos é a persistência e seguir em frente.
Vamos a eles.
24
25
26
27
28
29
30
31
32
Bibliografia:
Saúde na Terceira Idade – Prof. José Hermógenes
33
A Arte de Envelhecer Sorrindo
Irmã Maria Luisa Nogueira
Gerontóloga e Educadora Sanitária
Saber envelhecer é uma arte. E como todas as artes, pede aprendiza-
do. Devemos cultivá-la, seguindo uma série de ensinamentos que nos dá a
psicologia do otimismo.
OTIMISMO é uma escola que todos nós devemos frequentar, como
as crianças que vão para o colégio para aprender a ler e escrever.
Marden, talvez o maior dentre os maiores mestres da ―Arte de Vi-
ver”, autor de uma obra imorredoura porque é uma obra de consciência e
de verdade, como tão bem definiu um de seus tradutores. Disse que nos co-
légios e nas escolas ensinam mil coisas, muitas das quais sem aplicação
alguma na vida prática, e se esquecem, talvez das mais importantes de to-
das: ―A ARTE DE VIVER”.
Quem diz otimismo, diz felicidade. Toda criatura humana foi criada
para ser feliz. Entretanto, o homem destrói, a todo momento, esse ardor que
existe dentro da alma, procurando a felicidade fora, quando ela reside em
nosso ser.
A Bíblia nos ensina que o reino do céu está dentro de nós. Quem diz
céu, diz paz, amor, tranqüilidade, perdão, serenidade e otimismo.
Falando em rejuvenescimento, vemos que todos os cientistas que se
dedicaram a esse assunto, foram procurar no mundo exterior os meios de
rejuvenescer.
Simbolicamente a fonte da juventude era sonhada por Ponce de Le-
on, que pretendia encontrá-la, esquecendo que nossa fonte está dentro de
seu mundo interior. Já disse alguém que o espírito é o escultor do corpo e
que uma fisionomia não pode iludir os olhos sem que o espírito o permita.
Fazemos renascer o nosso corpo, renascendo os nossos pensamentos.
Jorge Meredith disse ao completar 74 anos: ―Não me sinto envelhe-
cer, quer de coração, quer de espírito. Ainda contemplo a vida com olhos
de um jovem.‖
Quais as regras que uma pessoa deve adotar para aprender a ―Arte de
envelhecer?‖ Há mil e uma formas. Todas, entretanto, podem se resumir
numa só: CULTIVAR O OTIMISMO.
O otimismo é o mestre da alegria de viver. Os idosos que encaram a
vida com otimismo são alegres, altruístas e solidários. Já não são idosos e
sim jovens de espírito.
34
O elixir da mocidade que os alquimistas procuram em vão, está em
nós mesmos. O equilíbrio mental significa harmonia; e harmonia prolonga
a vida. Tudo aquilo que perturba a nossa paz de espírito ou destrói o equilí-
brio, causa atrito que provoca o desgaste rápido do delicado maquinismo da
vida. São palavras desse floricultor da alma humana, Jorge Meredith, que
estamos falando.
Se procuramos em vão rejuvenescer através de enxertos glandulares
ou de processos químicos, o mesmo não acontece quando apelamos para o
espírito.
Marden chama de auto–rejuvenescimento a faculdade de podermos
rejuvenescer por nós mesmos; com as nossas próprias forças espirituais,
quase sempre desprezadas ou reprimidas.
“Em Cristo eu sou uma nova criatura‖, disse São Paulo Apóstolo.
De fato, é comum o ser humano procurar na cirurgia plástica, corrigir as
rugas ou modificar a aparência física para melhor, na enganosa esperança
de remoçar, continuando, porém, o espírito a envelhecer, os mesmo hábi-
tos, as mesmas atitudes condenáveis, a mesma linguagem de ódio e de ran-
cor. Com a cirurgia plástica as rugas da pele desaparecem, aparecendo, por-
tanto, na alma.
Certo escritor disse ser fácil conhecer a idade de uma mulher, e por
que não a de um homem? Pelas músicas que eles cantarolam... Sempre digo
aos meus amigos idosos: é preferível cantar fora do tom, do que chorar no
tom.
Ainda devemos saber sacudir a poeira e dar a volta por cima.
Gostei de assistir um filme que foi bastante apreciado pela Terceira
Idade: “Dançando na Chuva‖.
Conta-se que uma senhora idosa procurou certo dia um fotógrafo
êra ser fotografada. Ao colocar-se diante da câmara ele notou que o sem-
blante dela estava sombrio, duro e desagradável. Pediu-lhe que sorrisse, a
fim de ficar com uma expressão mais alegre. Ela tentou obedecer, mas não
conseguiu. O fotógrafo insistiu, advertindo-a num tom carinhoso: ―Dê mais
suavidade à sua fisionomia, madame.‖ Ela replicou com aspereza: ―Que
está pensando, senhor? Julga que uma velha possa ter vivacidade no olhar?
Além disso, quem está de mau humor não se mostra alegre. O senhor não
conhece nada da natureza humana.‖
Sem perder a calma, o profissional a advertiu, dizendo que se ela
quisesse, poderia encontrar em si melhor disposição de espírito. Depois,
num tom suave disse: ―Talvez por isso agora a senhora deu ao seu olhar um
ar mais doce e animado.‖ Foi quando o fotógrafo aproveitando o momento,
bateu a chapa.
35
Antes de se despedir, ele disse: ―Fique sabendo, madame, que a se-
nhora remoçou 20 anos!‖ Ao regressar à sua casa, ela se sentiu mais jovem
com as palavras do fotógrafo, pois produziram o efeito desejado.
Ela disse que desde a morte de seu marido, ninguém havia sido tão
delicado com ela, como fora o fotógrafo...
Quando recebeu a fotografia exultou de alegria, pois seu rosto mos-
trou o fulgor da juventude. Emocionada contemplou o retrato várias vezes e
pensou que poderia sempre conseguir aquele milagre. Dali por diante dei-
xou de ser aquela mulher de semblante rígido para se tornar uma criatura
atraente. Nela houve como que uma cirurgia plástica, uma transformação.
Você não sente mais prazer em viver?
O que deverá fazer então?
Apenas duas coisas:
1 – Sorria sempre. Assobie ou cante uma canção.
2 – Mentalize a frase de Ataulfo Alves: ―Eu era feliz e não sabia.‖
O sorriso nada custa e cria muito. Este preceito é uma das mais
ê ciosas artes: ―ENVELHECER SORRINDO‖. Não perca o interesse
pela vida. Interesse-se por tudo que a vida pode nos oferecer de bom e de
belo, de atraente e de fascinante.
Sendo você aposentado ou aposentada, por que não cria novas ami-
zades participando dos clubes da terceira idade? Faça exercícios físicos,
caminhe, artesanato, trabalhe como voluntário ou voluntária em creches,
escolas. Cultive flores, hortas, participe de trabalho comunitário. Aprenda
ou faça tricô ou crochê. Por que não aceitar ―erros‖? Por que sofrer de
ê atofobia, ou seja, medo da morte, em lugar de cultivar amor pela vida?
Contemple o céu numa noite estrelada, um dia claro de primavera e
de sol. Admire urna flor, pela qual Deus se revela a quem sabe senti-Lo.
Olhe o mar no seu infinito mistério, ouça a música silenciosa da brisa; ob-
serve o sorriso de urna criança e por que não a lágrima de um velho em fa-
se terminal que se prepara para o grande encontro com Deus?
A arte de envelhecer é viver cada dia um novo dia, sem se sentir
êlho. Os anos se contam pelo calendário da alegria de viver. Cultive a fé,
a esperança e a caridade. A morte não existe, é apenas urna passagem para
a vida eterna, a verdadeira vida começa depois da morte e só existe um dia
eterno de que ela é aurora...
Nascemos todos os dias e cada dia para nós é um novo viver, uma
nova roupagem, um vinho novo.
36
Olhemos este hoje, este agora com OTIMISMO. Tomemos cuidado
com os pensamentos. Cada pensamento negativo é energia gasta. Precisa-
mos saber tirar de cada momento de nossa vida o delicioso néctar da felici-
dade nele contido.
Transcrevemos aqui a mensagem da senhora Haidée Paraguassú, re-
sidente da Casa de Repouso Mila, em Cotia, com 100 anos, poetisa e escri-
tora: ―CULTIVE A ORAÇÃO. ELA OXIGENA A ALMA E NOS MOTI-
VA PARA VIDA! ―
Já dizia o poeta Olavo Bilac: ―ENVELHEÇAMOS RINDO COMO AS
ÁRVORES FORTES ENVELHECEM”.
Cora Coralina, caminheira de uma longa estrada, com quase 100 a-
nos foi um exemplo na palavra generosa e na brasilidade do seu canto. Em
cada verso, a lucidez da juventude de um espírito comovente em seu liris-
mo e na busca da verdade.
Aprendamos com ela a
ARTE DE SABER ENVELHECER SORRINDO...
37
Cora Coralina
Cora Coralina, pseudônimo de Ana Lins dos Guimarães Peixoto
Bretas, (Cidade de Goiás, 20 de agosto de 1889 — Goiânia, 10 de abril de
1985), é a grande poetisa do Estado de Goiás. Em 1903 já escrevia poemas
sobre seu cotidiano, tendo criado, juntamente com duas amigas, em 1908, o
jornal de poemas femininos ―A Rosa‖. Em 1910, seu primeiro conto, ―Tra-
gédia na Roça‖, é publicado no ―Anuário Histórico e Geográfico do Estado
de Goiás‖, já com o pseudônimo de Cora Coralina.
Em 1911 conhece o advogado divorciado Cantídio Tolentino Brêtas,
com quem foge. Vai para Jaboticabal (SP), onde nascem seus seis filhos:
Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacintha, Ísis e Vicência. Seu marido a proíbe
de integrar-se à Semana de Arte Moderna, a convite de Monteiro Lobato,
em 1922. Em 1928 muda-se para São Paulo (SP).
Em 1934, torna-se vendedora de livros da editora José Olimpio que,
em 1965, lança seu primeiro livro, ―O Poema dos Becos de Goiás e Estó-
rias Mais‖. Em 1976, é lançado ―Meu Livro de Cordel‖, pela editora Cultu-
ra Goiana. Em 1980, Carlos Drummond de Andrade, como era de seu feiti-
o, após ler alguns escritos da autora, manda-lhe uma carta elogiando seu
trabalho, a qual, ao ser divulgada, desperta o interesse do público leitor e a
faz ficar conhecida em todo o Brasil.
Sintam a admiração do poeta, manifestada em carta dirigida a Cora
em 1983:
―Minha querida amiga Cora Coralina: Seu ―Vintém de Cobre‖ é, pa-
ra mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mer-
cado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado.
Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que liris-
mo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É
patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (...).‖
Cora Coralina revela em seus versos a força vital da natureza. Sua
poesia fala do cotidiano, recria a esperança.
38
ESTAS MÃOS
Cora Coralina
Olho para estas mãos de mulher roceira,
esforçadas mãos cavouqueiras.
Pesadas, de falanges curtas,
sem trato e sem carinho.
Ossudas e grosseiras.
Mãos que varreram e cozinharam.
Lavaram e estenderam
roupas nos varais.
Pouparam e remendaram.
Mãos domésticas e remendonas.
Íntimas da economia,
do arroz e do feijão
de sua casa.
Do tacho de cobre.
Da acha de lenha.
Da cinza da fornalha.
Que encestavam o velho barreleiro
e faziam sabão.
Minhas mãos doceiras...
Jamais ociosas.
Fecundas. Imensas e ocupadas.
Mãos laboriosas.
Abertas sempre para dar,
ajudar, unir e abençoar.
Mãos de semeador. . .
Afeitas à sementeira do trabalho.
Semeando sempre.
Jamais para elas
os júbilos da colheita.
Mãos tenazes e obtusas,
feridas na remoção de pedras e tropeços,
quebrando as arestas da vida.
Mãos alavancas
na escava de construções inconclusas.
Mãos pequenas e curtas de mulher
que nunca encontrou nada na vida.
Caminheira de uma longa estrada.
Sempre a caminhar.
Sozinha a procurar,
o ângulo prometido,
a pedra rejeitada.
39
A Hora do Soufflé
Rubem Alves
Hoje o nosso assunto é culinária. Escolhi, como tópico gastronômico,
o soufflé.
Soufflés podem ser feitos praticamente de tudo. Há soufflés de
aspargos, de queijo, de chuchu, de camarão, de banana, de chocolate,
de salmão, de morango, de presunto, de cenoura etc. Esta variedade
de soufflés deve-se ao fato de que o que caracteriza o soufflé não é a
coisa de que ele é feito, mas uma substância etérea, pneumática, que
entra na composição de todos eles.
Estranhei, portanto, que tal substância, alma dos soufflés, não
apareça sequer mencionada em qualquer dos livros de receita em por-
tuguês e inglês que consultei. Fui ao famoso The New York Times cook
book para ver o que ele diz sobre a alma dos soufflés. Leio a receita do
"Soufflé de queijo". Estão lá listados os ingredientes necessários: man-
teiga, farinha, leite, sal, molho inglês, pimenta-da-jamaica, queijo
ralado, ovos. E só. Mas a alma do soufflé, sem a qual ele não pode ser
feito, não é mencionada. O livro de Dona Benta não se sai melhor.
Veja a receita do "Soufflé de bacalhau": bacalhau, batatas, leite, ovos,
queijo parmesão, manteiga, passas sem caroço e azeitonas. De novo o
silêncio sobre a alma do soufflé é total.
O nome soufflé, se é que vocês não sabem, vem do francês. Souf-
flé quer dizer "sopro". A alma do soufflé é o ar: daí as suas qualidades
pneumáticas, espirituais, pois sopro, vento e espírito, etimologica-
mente, são a mesma coisa. Não fosse essa mania esnobe de achar que
o nome francês é mais elegante, se o soufflé tivesse sido inventado lá
em Minas, é certo que o seu nome seria "assoprado": "Assoprado de
chuchu", "Assoprado de camarão", "Assoprado de aspargos" etc. O
que não é de causar espanto pois que, segundo o testemunho do Fogão
de lenha, que registra 300 anos de cozinha mineira, existiu outrora um
doce chamado "Assoprinhos de moça", que se fazia com claras bati-
das, três libras de açúcar, uma onça de água-de-flor, um pouco de
carmim em pó. Se houve os "Assoprinhos de moça" é natural que
possa haver os "assoprados" da dona da casa.
Se você não está convencido, lembro-lhe que um elemento es-
sencial na produção do soufflé são as claras dos ovos, batidas até fica-
rem bem duras. Mas qual é a função das claras? É óbvia e simples: as
claras são redes de pegar ar. O movimento circular-rotatório do garfo
batendo as claras é igual ao movimento do pescador que joga a tarrafa
para pegar o peixe. Só que, aqui, o que se quer pegar é o ar, e tanto é
assim que ao final, quando as claras estão batidas, elas, que no início
40
tinham a consistência de goma-arábica, transformam-se em espuma:
milhares de pequenas bolhas transparentes, cada uma delas com um
tantinho de ar preso lá dentro.
Dessa qualidade espiritual e pneumática do soufflé vem sua ca-
racterística essencial: o soufflé é fffofffo. Não é possível falar fffofffo
sem soprar. O próprio dicionário Webster define o soufflé como a
fluffy baked dish - "prato assado fffofffinho", sendo que o fluffy, no in-
glês, preserva o mesmo poder onomatopaico do fffofffo em portu-
guês: quem fala fffofffo sopra.
Essa característica pneumática do soufflé, que é a sua glória, in-
felizmente é também a sua fraqueza. Porque tudo o que é -cheio de ar,
como bolas e bexigas, fica murcho e vazio tão logo apareça um mi-
núsculo furinho. É o que acontece com o pobre soufflé. Tem de ser
comido logo que sai do forno, porque sua ereção é precária. Se ele se
esfriar ou tomar um sopro de vento frio, ele sofre uma convulsão: a
princípio, um ligeiro tremor, seguido de movimentos verticais e hori-
zontais – escala Richter grau 6,5 –, há um grito de socorro, e a corada
superfície mergulha repentinamente para o fundo da fôrma.
Lembro-me de que isso aconteceu uma vez na minha casa. Eu
era menino. Haveria visitas para o jantar. A Astolfina, nossa cozinhei-
ra, preparou um maravilhoso soufflé. Mas ele tomou um jato de vento
frio e murchou. A Astolfina ficou desesperada. Resolveu valer-se de
recursos heróicos. Foi no quintal e cortou um canudinho de mamão,
que cuidadosamente enfiou no soufflé, do jeito mesmo como se enfia o
bico da bomba na bola, e pôs-se a soprar cuidadosamente. O soufflé
pareceu ressuscitar: foi enchendo de novo, ficando bonito como tinha
sido. Mas foi só tirar o canudinho para que ele voltasse a ser o que
era. Não há jeito de consertar soufflé afundado.
Pois uma paciente, meditando um dia sobre o destino das mu-
lheres, disse: ―É como o soufflé. Os médicos dizem que é climatério,
menopausa. Eu digo que é ‗a hora do soufflé’... Até ali as carnes se
haviam comportado com relativa elegância: os poderes do ar lhes da-
vam leveza e faziam-nas levitar. Mas, repentinamente, as forças telú-
ricas ficam mais fortes, e ‗tudo o que no ar flutuava começa a pesar‘.
E cai. Nem é preciso dizer o nome das partes que caem nem descrever
o seu estado flácido e murcho.‖
Tive que me curvar diante da poderosa metáfora. Mas pensei
contigo mesmo: ―E os homens: não existe uma ‗hora do soufflé’ para
eles também?‖
A hora do soufflé é a hora do pânico generalizado, igual ao da
Astolfina, cada qual tentando levantar o que caiu com um canudinho
de mamão. Dietas, cremes de algas marinhas, sabonetes de tartaruga,
41
tinturas de cabelo, limpezas de pele, academias de ginástica, cirurgias
plásticas, cintas, acupuntura, próteses...
Tudo inútil. Não há maneiras de reencher soufflé que afundou. O
canudinho fracassa sempre. O jeito é dar risada quando ele arria. E é
bom que se saiba que soufflé arriado, mesmo não sendo tão bonito
quanto o outro, se servido com temperos de humor e risada, é muito
gostoso de se comer...
(Em Sobre o Tempo e a EternaIdade, Papirus Editora).
Rubem Alves
Rubem Alves nasceu em Boa Esperança (MG), em 1933. De Minas
para Campinas, depois para Lavras, onde serviu como pastor numa comu-
nidade presbiteriana. Sua trajetória profissional e intelectual teve início
com o estudo da Teologia. Em Princeton (Estados Unidos) realizou seu
doutorado.
Rubem Alves pedagogo, poeta, cronista, contador de histórias, ensa-
ísta, teólogo, acadêmico e psicanalista, é um dos escritores mais famosos
do Brasil. É também membro da Academia Campineira de Letras, profes-
sor emérito da Unicamp e cidadão honorário de Campinas.
Sua luta e sua alegria, hoje em dia, associaram-se definitivamente à
palavra. É autor de vários artigos e livros publicados, muitos com obras de
destaque.
“Os Saberes do Corpo ou ―Tornei-me discípulo do corpo‖.
“E o fim de todas as nossas explorações será chegar ao lugar de onde
saímos e conhecê-lo então pela primeira vez.” T.S.Eliot
A velhice deu a Barthes a coragem para dizer aquilo que ele sempre
soubera: que os saberes, frequentemente, são as sepulturas da sabedoria.
Sabedoria não é aquilo que se obtém pela adição de saberes. O sábio que
escreveu o Tao-Te-Ching, há séculos, já tinha percebido isso: ―Os que têm
saber não são sábios; os que são sábios não têm saber‖. As universidades
estão cheias de eruditos tolos. Por outro lado, conheço pessoas sem diplo-
ma que são sábias. A diferença entre elas?
As pessoas que têm saberes, cientistas e similares, têm conhecimento
do mundo e têm poder para agir sobre ele, porque saber é poder. São muito
importantes. Para se cozinhar é preciso que exista a ciência dos fogos, dos
utensílios, dos ingredientes, das panelas. Os conhecimentos nos dão meios
para viver. ―A sabedoria nos dá razões para viver.‖
(Rubem Alves, em Variações sobre o Prazer, Editora Planeta).
42
Conclusão Universo Holístico
As pessoas da terceira idade, particularmente, cada vez mais se cons-
cientizam sobre a importância física, mental, emocional, social, espiritual e
em seu ambiente.
A partir do princípio de que a doença é um desequilíbrio energético,
de cuja conseqüência temos um sintoma localizado, podemos afirmar que
ela está diretamente ligada aos nossos pensamentos. Quanto mais positivos
nossos pensamentos, melhor será a harmonização de nosso campo energé-
tico e a intimidade com nossa essência.
A maior revolução de nossos tempos é a descoberta de que, ao mudar
as atitudes internas de sua mente, os seres humanos podem mudar os aspec-
tos externos de suas vidas.
Durante o tempo da Terceira Idade é que aflora mais intensamente a
nossa relação com Deus, desenvolvendo em nós o desejo de uma espiritua-
lidade que venha a selar o nosso relacionamento com Deus e com o próxi-
mo.
Este manual foi preparado com temas multidisciplinares com a fina-
lidade de enfocar um pouco de cada área, visando atingir assim o ser total.
Que ele tenha sido do seu agrado, proporcionando-lhe uma melhoria
constante de sua qualidade de vida. E que ele continue sendo uma convoca-
ção, um roteiro, um instrumento para o seu bem-viver.
Assim sendo, nos damos por plenamente realizados e felizes.
Créditos:
O conteúdo deste Manual contou com a colaboração das seguintes pessoas:
— Irmã Maria Luisa Nogueira, Gerontóloga e Educadora Sanitária.
Coordenadora da Pastoral da Terceira Idade da Arquidiocese de São Paulo.
— Maria Lúcia Correa, Assistente Social e Professora de Yoga.
— Maria José Guimarães Hilkner, Psicóloga
Produção gráfica e editorial, compilação, digitalização
e reprodução eletrônica: Luiz Edgar de Carvalho
Edição especial: Lumensana, Publicações Eletrônicas
Para Ler e Pensar – Outubro, 2012